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Concepções de Educação Inclusiva no Ensino Superior AULA 01

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ENTENDENDO A EDUCAÇÃO ESPECIAL
Como você percebeu, atualmente, a educação especial é considerada como elemento integrado e distinto do sistema educacional, que perpassa todos os níveis de ensino.
Dessa forma, o projeto de ensino, a organização e a prática pedagógica que a envolvem devem respeitar as peculiaridades dos alunos com necessidades educacionais especiais, desde a educação infantil até o Ensino Superior.
Esses estudantes requerem recursos pedagógicos e metodologias específicas de ensino por apresentarem necessidades diferenciadas – de caráter provisório ou permanente – dos demais educandos para a aquisição da aprendizagem.
O objetivo é promover o desenvolvimento de seu potencial. Afinal: Quando lidamos com alunos portadores de necessidades educacionais especiais, não trabalhamos com dificuldades, e sim com possibilidades!
TIPOS DE DEFICIÊNCIAS
Vamos conhecer, agora, algumas deficiências com as quais os professores têm de lidar no âmbito educacional:
Deficiência física = Variedade de condições não sensoriais que afetam o indivíduo em termos de mobilidade, de coordenação motora geral ou de fala, em decorrência de lesões neurológicas, neuromusculares e ortopédicas ou, ainda, de má formação congênita ou adquirida.
Deficiência visual = Redução ou perda total da capacidade de ver. Após a melhor correção ótica, manifesta-se como cegueira ou visão reduzida.
Deficiência auditiva = Perda total ou parcial, congênita ou adquirida da capacidade de compreender a fala através do ouvido. Essa condição pode se manifestar como surdez leve ou moderada, severa ou profunda
Deficiência múltipla = Associação no mesmo indivíduo de duas ou mais deficiências primárias – mental, visual, auditiva ou física – com comprometimentos que acarretam atrasos no desenvolvimento global e na capacidade adaptativa.
Altas habilidades = Notável desempenho ou elevada potencialidade em qualquer um dos seguintes aspectos:
Capacidade intelectual geral;
Pensamento criativo e produtivo;
Capacidade de liderança;
Talento especial para artes;
Capacidade psicomotora.
CONTEXTO HISTÓRICO
O século XIX é considerado referência da trajetória histórica da educação especial no Brasil, não no sentido de sua inclusão nas instituições regulares de ensino, mas de atendimento educacional específico aos alunos deficientes visuais e auditivos.
Já no século XX, foram elaborados documentos legais de garantia dos direitos fundamentais da pessoa humana, em vários níveis e aspectos, especificamente no que se refere aos alunos com necessidades educacionais especiais.
Como consequência dessa linha de conduta mundial, há discursos que visam à promoção da educação especial no Brasil, principalmente no tocante à educação inclusiva.
Vejamos o que diz a legislação a respeito dessa especificidade da educação no País.
LEGISLAÇÃO
Diferente da Constituição brasileira de 1824, a atual Constituição Federal de 1988 prevê a questão da igualdade por meio do seguinte texto:
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.
Em relação à educação, a Carta Magna atual afirma:
“Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
- igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; [...]”.
Percebemos, então, a mudança de concepção no campo educacional, onde o princípio de igualdade de condições para o acesso à escola e a permanência na instituição de ensino norteia os documentos educacionais que se sucedem.
Um exemplo disso é o Plano Decenal de Educação Para Todos (1993), que aborda a necessidade de implementação de estratégias de ensino para atender às especificidades de aprendizagem de cada aluno, assegurando a todos uma educação de qualidade.
Dando sequência aos princípios da educação promulgados anteriormente, a atual Lei nº 9.394/96  – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) – considera a educação especial uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis educacionais, entre eles:
A educação infantil;
O Ensino Fundamental;
O Ensino Médio;
O Ensino Superior.
Em outras palavras, para que a aprendizagem do aluno com necessidades educacionais especiais se efetive, a educação especial exige maneiras específicas de atendimento a ele.
A LDB contemplou a Educação Especial em seu Capítulo V.
Estamos diante de avanços que fortalecem o processo de inclusão, que, até então, considerávamos como integração – princípio que surgiu na década de 1960.
De acordo com Martins ([s.d.], p. 7):
“A análise crítica dessa realidade passou, gradativamente, a considerar que, apesar da garantia legal do direito à normalização, permanecia, no processo de atenção à pessoa com deficiência, um importante hiato operativo, representado pela falta de ações afirmativas, na direção de modificar o contexto social, de forma que a pessoa com deficiência, independente do tipo de comprometimento apresentado, receba os suportes necessários para que possa funcionar no espaço comum da vida da comunidade (familiar, escolar, social mais amplo), com autonomia e dignidade”.
O atual momento da educação especial no Brasil representa, portanto, um movimento inclusivo que se fortalece com os documentos legais.
Conheça, a seguir, alguns deles.
DOCUMENTOS LEGAIS
No contexto contemporâneo, a educação especial aponta, no Brasil e no mundo, para a educação inclusiva. Há alguns documentos legais que comprovam essa afirmação. Vamos conhecê-los?
Declaração de Salamanca (1994) = A Declaração de Salamanca Sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área das Necessidades Educativas Especiais é um documento legal de orientação mundial para a educação especial.
De acordo com esse escrito, é responsabilidade do governo a inclusão das pessoas com algum tipo de deficiência no sistema educacional, conforme assinala o seguinte trecho da Declaração (BRASIL, 1994a, não paginado):
“3. Nós congregamos todos os governos e demandamos que eles:
Atribuam a mais alta prioridade política e financeira ao aprimoramento de seus sistemas educacionais no sentido de se tornarem aptos a incluírem todas as crianças, independentemente de suas diferenças ou dificuldades individuais;
Adotem o princípio de educação inclusiva em forma de lei ou de política, matriculando todas as crianças em escolas regulares, a menos que existam fortes razões para agir de outra forma; [...]”.
Convenção da Guatemala (2001) = Outro documento que norteia a educação especial em nível internacional é a Convenção da Guatemala – Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência –, promulgada pelo Decreto nº 3.956/01.
Para refletirmos sobre as questões atuais em relação à discriminação às pessoas portadoras de deficiência, vamos conferir o Artigo I dessa Convenção:
Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2007) = Aprovada pela Organização das Nações Unidas (ONU), da qual o Brasil é signatário, a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, promulgada pelo Decreto nº 6.949/09, estabelece que os Estados Partes devem assegurar um sistema de educação inclusiva em todos os níveis de ensino, em ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social compatível com a meta de inclusão plena.
De acordo com o Artigo 24 dessa Convenção, é responsabilidade dos Estados Partes a adoção de medidas que garantam que:
“2. [...]
a) As pessoas com deficiência não sejam excluídas do sistema educacional geral sob alegação de deficiência e que as crianças com deficiência não sejam excluídas do ensinoprimário gratuito e compulsório ou do ensino secundário, sob alegação de deficiência; 
b) As pessoas com deficiência possam ter acesso ao ensino primário inclusivo, de qualidade e gratuito, e ao ensino secundário, em igualdade de condições com as demais pessoas na comunidade em que vivem; [...]”.
“Para os efeitos desta Convenção, entende-se por:
1. Deficiência
O termo ‘deficiência’ significa uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social.
2. Discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência
a) o termo ‘discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência’ significa toda diferenciação, exclusão ou restrição baseada em deficiência, antecedente de deficiência, consequência de deficiência anterior ou percepção de deficiência presente ou passada, que tenha o efeito ou propósito de impedir ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício por parte das pessoas portadoras de deficiência de seus direitos humanos e suas liberdades fundamentais.
b) Não constitui discriminação a diferenciação ou preferência adotada pelo Estado Parte para promover a integração social ou o desenvolvimento pessoal dos portadores de deficiência, desde que a diferenciação ou preferência não limite em si mesma o direito à igualdade dessas pessoas e que elas não sejam obrigadas a aceitar tal diferenciação ou preferência. Nos casos em que a legislação interna preveja a declaração de interdição, quando for necessária e apropriada para o seu bem-estar, esta não constituirá discriminação”.
Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008) = Como o foco deste estudo é o ensino universitário, precisamos conhecer, também, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, que estabelece diretrizes com relação ao Nível Superior no Brasil.
De acordo com esse documento (BRASIL, 2008, não paginado):
“Na educação superior, a educação especial se efetiva por meio de ações que promovam o acesso, a permanência e a participação dos alunos. Essas ações envolvem o planejamento e a organização de recursos e serviços para a promoção da acessibilidade arquitetônica nas comunicações, nos sistemas de informação, nos materiais didáticos e pedagógicos, que devem ser disponibilizados nos processos seletivos e no desenvolvimento de todas as atividades que envolvem o ensino, a pesquisa e a extensão”.
APRENDENDO COM AS DIFERENÇAS
Aqui, você conheceu as principais legislações internacionais e nacionais relacionadas à educação especial na atualidade. Dessa forma, foi possível identificar os direitos das pessoas com deficiência – direitos esses que são de todos, independente de sua condição.
Para refletir sobre o assunto, assista a um trecho de um documentário cujo tema é a Síndrome de Down:
Como você percebeu, não é fácil lidar com alunos com necessidades educacionais especiais, pois esse trabalho é individual e requer que o docente não especializado na área busque ajuda para ministrar suas aulas.
Mas, com os recursos necessários, coragem e sensibilidade, é possível obter sucesso nesse processo educacional! Cabe ao professor se empenhar para isso.
Afinal, todos os profissionais da educação têm de estar preparados para as situações do cotidiano escolar ou acadêmico e para promover a aprendizagem de acordo com as especificidades dos alunos.
Esperamos que esta disciplina possa auxiliar, de alguma forma, os futuros educadores nesse sentido!

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