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INTENSIVO	I	
Marcelo	Novelino	
Direito	Constitucional	
Aula	1	
	
	
ROTEIRO	DE	AULA	
	
	
Constitucionalismo	
	
1.	Definição	
	
I	–	Sentido	amplo	
	
O	constitucionalismo	em	sentido	amplo	está	ligado	à	ideia	de	existência	de	uma	Constituição	dentro	de	um	Estado.	
	
No	 entanto,	 como	 todo	 Estado,	 necessariamente,	 possui	 uma	 Constituição,	 ainda	 que	 não	 escrita,	 a	 definição	 de	
constitucionalismo	em	sentido	amplo	não	tem	muita	utilidade.	
	
II	–	Sentido	estrito	
	
Em	sentido	estrito,	o	constitucionalismo	está	ligado	a	duas	ideias	principais:		
	
• Garantia	de	direitos.	
• Limitação	do	poder.	
	
 
 
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O	constitucionalismo	está	 relacionado	à	busca	do	homem	político	pela	 limitação	do	poder	absoluto.	Nesse	sentido,	o	
constitucionalismo	se	contrapõe	ao	absolutismo,	o	qual	imperou	até	o	final	do	século	XVIII.	
	
Conforme	Karl	Loewenstein,	a	história	do	constitucionalismo	“não	é	senão	a	busca	pelo	homem	político	das	limitações	
do	poder	absoluto	exercido	pelos	detentores	do	poder,	assim	como	o	esforço	de	estabelecer	uma	justificação	espiritual,	
moral	ou	ética	da	autoridade,	em	vez	da	submissão	cega	à	facilidade	da	autoridade	existente”.	
	
2.	Evolução	histórica	
	
• Constitucionalismo	 antigo	 (Antiguidade	 até	 século	 XVIII):	 neste	 período,	 já	 existia	 uma	 preocupação	 com	 a	
limitação	 do	 poder,	 mas	 ainda	 não	 existiam	 as	 Constituições	 escritas,	 formais	 e	 rígidas	 como	 conhecemos	
atualmente.	
• Constitucionalismo	 moderno	 (século	 XIII	 até	 2ª	 Guerra	 Mundial):	 durante	 este	 período	 houve	 duas	 fases:	
constitucionalismo	liberal	e	Constituições	sociais.	
• Constitucionalismo	contemporâneo	(fim	da	2ª	Guerra	Mundial	em	diante).	
	
2.1.	Constitucionalismo	antigo	
	
Trata-se	de	uma	fase	embrionária.	Características:	
	
• O	 constitucionalismo	 antigo	 se	 caracteriza	 pela	 existência	 de	 constituições	 consuetudinárias	 ou	 costumeiras	
(constituições	 baseadas	 nos	 costumes	 e	 nos	 precedentes	 judiciais).	 Não	 havia	 surgido	 ainda	 Constituições	
escritas	 como	 conhecemos	 atualmente,	 embora	 em	 algumas	 experiências	 existissem	 também	 documentos	
escritos	(Inglaterra,	por	exemplo).	
• Supremacia	do	parlamento	(e	não	da	Constituição)	–	a	ideia	de	poder	constituinte	surge	posteriormente.	
• Forte	 influência	 da	 religião.	 Em	 determinados	 Estados	 são	 os	 dogmas	 religiosos	 que	 servem	 de	 limitação	 ao	
poder	soberano.	
	
2.1.1.	Estado	hebreu	
	
O	 Estado	 hebreu	 é	 considerado	 como	 precursor	 do	 constitucionalismo	 porque	 nele	 os	 dogmas	 religiosos	 (Estado	
teocrático)	limitavam	não	só	os	súditos,	como	costumava	ocorrer	em	outros	Estados,	mas	também	o	poder	do	soberano	
–	ideia	de	limitação	do	poder.	
	
	
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2.1.2.	Grécia	
	
Durante	 dois	 séculos	 a	 Grécia	 vivenciou	 um	 Estado	 político	 plenamente	 constitucional	 adotando-se	 a	 forma	 mais	
avançada	de	democracia	constitucional,	inclusive	com	a	participação	direta.	
	
2.1.3.	Roma	
	
Esta	experiência	foi	um	retrospecto	da	experiência	grega:	a	democracia	constitucional	existente	na	Grécia	acabou	sendo	
reproduzida	em	Roma,	além	de	vários	modelos	conceituais	importantes	terem	sido	criados	como,	por	exemplo,	a	ideia	
de	principado	e	de	“res	publica”.		
	
Conforme	Ihering,	nenhum	outro	direito	foi	capaz	de	conceber	a	ideia	de	liberdade,	de	um	modo	mais	digno	e	certo,	do	
que	o	direito	romano.	
	
2.1.4.	Inglaterra	
	
Embora	na	Inglaterra	não	existisse	uma	Constituição	escrita,	vários	documentos	escritos	importantes	foram	elaborados	
ao	longo	do	tempo:	
	
• “Magna	Charta”	 (1215):	outorgada	pelo	Rei	 João	sem	Terra	como	 fruto	de	um	acordo	 firmado	entre	ele	e	os	
súditos.	
• “Petition	of	Right”	(1628):	firmado	entre	o	Parlamento	e	o	Rei	Carlos	I.	
• “Habeas	Corpus	Act”	(1679).	
• “Bill	of	Rights”	(1689).	
• “Act	of	Settlement”	(1701).	
	
2.2.	Constitucionalismo	moderno	
	
Esta	 etapa	 do	 constitucionalismo,	 que	 se	 inicia	 no	 século	 XVIII	 e	 perdura	 até	 o	 fim	 da	 2ª	 Guerra	Mundial,	 pode	 ser	
dividida	em	duas	fases:	
	
2.2.1.	Primeira	fase	(constituições	liberais)	
	
2.2.1.1.	Experiência	estadunidense	
	
I	-	A	experiência	estadunidense	tem	duas	ideias	importantes:	RATEIO É LEGAL
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a)	Supremacia	constitucional.	
Durante	o	constitucionalismo	antigo	não	havia	 supremacia	constitucional,	mas	supremacia	do	Parlamento.	A	 ideia	de	
supremacia	constitucional	só	surge	com	o	constitucionalismo	moderno,	após	serem	criadas	as	primeiras	Constituições	
escritas,	 formais	e	 rígidas.	São	elas	que	 fazem	com	que	haja	uma	mudança	de	paradigma	a	ponto	de	se	 falar	em	um	
novo	constitucionalismo	para	diferenciar	o	moderno	do	antigo.	
	
Nos	Estados	Unidos,	além	de	ter	sido	criada	a	primeira	Constituição	escrita,	formal	e	rígida,	surgiu	também	a	ideia	de	
supremacia	da	Constituição	em	substituição	à	supremacia	do	Parlamento.	
	
A	Constituição	é	considerada	pelos	americanos	como	a	norma	suprema	por	uma	razão	lógica.	É	ela	a	responsável	por	
estabelecer	 as	 regras	 do	 jogo	político,	 definindo	quem	manda,	 como	manda	e	 quais	 são	os	 limites	 de	quem	manda.	
Portanto,	 se	 ela	 define	 as	 regras	 do	 jogo	 político	 e	 atribui	 as	 competências	 e	 os	 limites	 dos	 Poderes	 constituídos,	
logicamente	tem	que	estar	acima	deles	–	caso	estivesse	no	mesmo	patamar,	as	regras	do	jogo	não	seriam	observadas.	
	
b)	Garantia	da	Constituição	pelo	Poder	Judiciário	
	
O	Poder	 Judiciário	 é	 escolhido	 como	o	 responsável	 por	 assegurar	 a	 supremacia	da	Constituição	 através	da	 jurisdição	
constitucional.	
	
A	escolha	ocorre	em	razão	de	ser	o	 Judiciário	o	Poder	mais	neutro	do	ponto	de	vista	político.	Ele	 seria	o	Poder	mais	
indicado	para	exercer	este	papel	de	guardião	da	Constituição.	
	
II	–	Principais	contribuições:	
	
1	–	Primeira	constituição	escrita,	rígida	e	suprema.	
	
A	Constituição	norte-americana	foi	criada	em	1787	e	foi	a	primeira	Constituição	escrita	da	história	estando	em	vigor	até	
os	dias	atuais.	Trata-se	de	uma	Constituição	extremamente	concisa,	a	qual	trata	apenas	de	princípios	gerais,	não	sendo	
analítica	como	a	Constituição	brasileira	de	1988.		
	
Observações:	
	
• Por	se	tratar	de	uma	Constituição	que	trata	apenas	de	princípios	gerais	é	menos	suscetível	a	mudanças.	
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• Embora	 formalmente	 ela	 tenha	 sido	 pouco	modificada	 por	 emendas,	 informalmente	 há	 várias	mudanças	 de	
interpretação	 da	 Suprema	 Corte	 durante	 os	 mais	 de	 200	 anos	 de	 existência	 da	 Constituição	 (mutações	
constitucionais).	
	
2	–	Controle	de	constitucionalidade.	
	
O	controle	de	constitucionalidade	é	decorrência	da	 ideia	de	supremacia	da	Constituição:	se	a	Constituição	é	a	norma	
suprema	é	necessário	que	exista	um	instrumento	de	fiscalização	da	supremacia	constitucional.	
	
Os	norte-americanos	criaram	o	controle	difuso	de	constitucionalidade.	É	controle	que	pode	ser	exercido	não	apenas	por	
um	determinado	 órgão,	mas	 por	 qualquer	 juiz	 ou	 Tribunal.	O	 controle	 de	 difuso	 de	 constitucionalidade	 é	 conhecido	
como	 “sistema	 norte-americano”	 e	 foi	 criado	 não	 através	 de	 uma	 norma	 constitucional	 ou	 legal,	 mas	 através	 da	
jurisprudência.	 Em	 1803	 o	 juiz	 Marshall,	 ao	 julgar	 o	 caso	 “Marbury	 x	 Madison”,decidiu	 ser	 inconstitucional	 o	 ato	
normativo	que	permitia	ao	Poder	Judiciário	analisar	a	nomeação	de	certos	agentes	políticos.	
	
Embora	a	decisão	de	1803	seja	considerada	a	precursora	do	controle	de	constitucionalidade,	não	foi	a	primeira	vez	que	
o	controle	foi	exercido	nos	Estados	Unidos,	pois	antes	deste	precedente	existiram	outros	dois.	No	entanto,	na	decisão	
de	1803	foram	criadas	as	bases	teóricas	do	controle	de	constitucionalidade.		
	
3	–	Sistema	presidencialista	de	governo.	
	
Nos	 Estados	 Unidos	 não	 havia	 monarquia	 e	 para	 que	 fosse	 transplantado	 o	 sistema	 de	 separação	 de	 Poderes,	
desenvolvido	por	Montesquieu	com	base	em	uma	observação	do	Direito	inglês,	foi	substituída	a	figura	do	Rei	pela	do	
Presidente	da	República.	
	
Assim,	 o	 Presidente	 da	 República	 é	 uma	 figura	 criada	 nos	 Estados	 Unidos	 com	 o	 objetivo	 de	 substituir	 a	 figura	 do	
monarca.	
	
4	–	Forma	federativa	de	Estado.	
	
Os	Estados	naquela	época	eram,	em	regra,	Estados	unitários.	Como	os	Estados	Unidos	surgiram	através	de	uma	união	
de	várias	colônias	inglesas	que	se	tornaram	independentes,	optaram	por	formar	uma	Federação.	
	
2.2.1.2.	Experiência	francesa	
	
Embora	não	tenha	trazido	tantas	contribuições	inovadoras,	a	experiência	francesa	também	foi	muito	relevante.	RATEIO É LEGAL
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I	–	Constituição	prolixa.	
	
Dois	anos	após	a	Revolução	Francesa	foi	criada	a	primeira	Constituição	francesa	(1791)	que	era	extremamente	prolixa	–	
em	1793	foi	elaborada	uma	nova	Constituição	com	402	artigos.	
	
Neste	período,	não	havia	na	França	a	ideia	de	supremacia	da	Constituição.	Tradicionalmente,	a	supremacia	sempre	foi	
atribuída	 ao	Parlamento	 (e	 não	 à	Constituição)	 -	 a	 Constituição,	 até	o	 fim	da	2ª	Guerra	Mundial,	 era	 vista	 como	um	
documento	 eminentemente	 político,	 sobretudo	 as	 declarações	 de	 direitos,	 as	 quais	 não	 vinculavam	 o	 Parlamento	
(ausência	de	caráter	normativo).	
	
Observação	n.	1:	o	controle	de	constitucionalidade	repressivo	só	surge	no	direito	francês	em	março	de	2010.	
	
II	–	Distinção	entre	Poder	Constituinte	Originário	e	Derivado	(Emmanuel	Joseph	Sieyès).	
	
Sieyès	 foi	 o	 principal	 responsável	 pela	 formulação	 das	 bases	 teóricas	 do	 Poder	 Constituinte.	 Ele	 possui	 uma	 obra	
intitulada	de	“O	que	é	o	Terceiro	Estado?”	(Primeiro	Estado	=	nobreza;	Segundo	Estado	–	clero;	Terceiro	Estado	=	povo).	
Segundo	o	autor,	o	verdadeiro	titular	do	Poder	Constituinte	é	o	povo/nação,	ainda	que	muitas	vezes	o	exercício	acabe	
sendo	usurpado	por	uma	minoria.	
	
III	–	Separação	de	poderes.	
	
A	 limitação	 do	 poder	 é	 uma	 das	 ideias	 básicas	 do	 constitucionalismo	 em	 sentido	 estrito.	 Já	 a	 ideia	 de	 separação	 de	
poderes	só	é	implementada	a	partir	do	constitucionalismo	moderno	com	as	Constituições	francesa	e	norte-americana,	
embora	na	França	tenha	sido	adotado	sem	o	rigor	dos	Estados	Unidos.	
	
A	Declaração	dos	Direitos	do	Homem	e	do	Cidadão	de	1789	-	 incorporada	posteriormente	à	Constituição	 francesa	de	
1791	e	até	hoje	empregada	como	uma	declaração	de	direitos	que	faz	parte	do	bloco	de	constitucionalidade	francês	ao	
lado	 da	 Constituição	 propriamente	 dita	 –	 dispõe	 em	 seu	 artigo	 16	 que	 “toda	 sociedade	 na	 qual	 não	 é	 assegurada	 a	
garantia	de	direitos	e	nem	determinada	a	separação	de	poderes,	não	tem	uma	verdadeira	Constituição.”		
	
O	responsável	pela	criação	da	tripartição	de	poderes	foi	Aristóteles;	Montesquieu	apenas	a	desenvolveu.	Segundo	este	
autor,	todo	aquele	que	detém	o	poder	e	não	encontra	limites	tende	a	dele	abusar.	
	
	
	
	
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2.2.1.3.	Estado	de	Direito	(Estado	liberal)	
	
O	Estado	de	Direito	corresponde	ao	Estado	Liberal	de	Direito	que	surge	no	período	das	Revoluções	liberais.	Esse	modelo	
passou	por	várias	concretizações	ao	longo	do	tempo:	
	
• Inglaterra:	“Rule	of	Law”.	
• Prússia:	“Rechtsstaat”.	
• França:	“État	Légal”	–	é	diferente	do	Estado	surgido	posteriormente	que	é	o	“État	du	Droit”	(espécie	de	Estado	
constitucional)	e	corresponde	ao	“Verfassungsstaat”	alemão.	
	
Observações:	
	
I	 -	 Foi	 na	experiência	 francesa	que	ocorreu	a	primeira	 institucionalização	 coerente	e	 com	caráter	 geral	 do	Estado	de	
Direito.	
	
II	–	Características	do	Estado	Liberal:	
	
• Abstencionista:	 o	 Estado	 Liberal	 intervém	 o	mínimo	 possível	 nos	 domínios	 econômico	 e	 social,	 os	 quais	 são	
deixados	para	a	esfera	individual.	Trata-se	de	um	Estado	que	se	contrapõe	ao	Absolutista	(ou	Estado	de	Polícia)	
que	em	tudo	intervinha.	
• Os	direitos	 fundamentais	consagrados	nas	Constituições	dessa	época	correspondiam	basicamente	aos	direitos	
da	 burguesia	 -	 vida,	 liberdade	 e	 propriedade,	 por	 exemplo.	 Os	 direitos	 das	 classes	menos	 favorecidas	 eram	
assegurados	apenas	de	maneira	formal.	
• A	limitação	do	soberano	pelo	Direito	marca	a	mudança	do	Estado	Absolutista	para	o	Estado	de	Direito.	
• Princípio	da	legalidade	da	Administração	Pública.	
	
2.2.1.4.	Gerações	de	direitos	fundamentais	
	
Karel	 Vazak	 associou	 as	 gerações	 de	 direitos	 fundamentais	 ao	 lema	 da	 Revolução	 Francesa	 (liberdade,	 igualdade	 e	
fraternidade).	A	associação	popularizou-se	em	razão	da	obra	de	Norberto	Bobbio.	No	Brasil,	o	tema	tornou-se	bastante	
conhecido	pela	escrita	do	professor	Paulo	Bonavides.	
	
Críticas	às	gerações:	
	
• Não	há	um	surgimento	tão	preciso	quanto	pretende	Karel	Vazak.	
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• Toda	geração	substitui	a	anterior.	Nesse	sentido,	seria	um	equívoco	falar	em	gerações	de	direitos	fundamentais,	
pois	 todos	eles	coexistem.	Por	esse	motivo,	parcela	da	doutrina	emprega	a	expressão	“dimensões	de	direitos	
fundamentais”.	
• A	classificação	seria	vazia	e	não	auxilia	no	entendimento	desses	direitos.	
	
Direitos	fundamentais	de	1ª	geração	
I	–	Valor:	liberdade.	
	
As	Revoluções	 Liberais	 pretendiam	que	o	Estado	não	agisse	de	 forma	arbitrária.	 Portanto,	 diante	desta	demanda,	os	
primeiros	direitos	fundamentais	a	serem	consagrados	foram,	sobretudo,	os	direitos	de	liberdade	(religiosa,	locomoção,	
manifestação	do	pensamento),	além	da	propriedade,	vida	e	igualdade.	
	
II	–	Direitos:		
	
• Civis:	 direitos	 de	 defesa	 do	 indivíduo	 contra	 o	 Estado	 -	 status	 negativo:	 exigem,	 sobretudo,	 uma	 abstenção	
estatal.	
• Políticos:	direitos	de	participação	do	indivíduo	na	vida	política.	
	
2.2.2.	Segunda	fase	
	
A	 1ª	 Guerra	 Mundial	 agravou	 demasiadamente	 a	 crise	 econômica	 e	 social	 já	 existente	 no	 período.	 Diante	 disso,	 o	
próprio	liberalismo	entrou	em	crise,	por	ter	sido	incapaz	de	atender	as	demandas	sociais.		
	
Embora	os	direitos	políticos	 tivessem	sido	 satisfatoriamente	 implementados,	os	direitos	 sociais,	 econômicos	e	 sociais	
não	 tinham	 nenhum	 tipo	 de	 efetividade,	 sobretudo	 para	 os	 menos	 favorecidos.	 Assim,	 diante	 da	 incapacidade	 do	
liberalismo	de	 tratar	 daquelas	 questões	 de	 desigualdades	 existentes,	 acabou	 entrando	 em	 crise	 e	 aquele	modelo	 foi	
substituído	por	um	novo	modelo	de	Constituição	e	de	Estado.	
	
Os	 direitos	 sociais	 não	 surgem	 apenas	 nessa	 segunda	 fase.	 Na	 Constituição	 francesa	 de	 1791	 já	 havia	 uma	 aparição	
desses	 direitos,	 mas	 eles	 entram	 para	 a	 história	 do	 constitucionalismo	 com	 duas	 Constituições	 que	 surgiram	 nesse	
período:	
	
• Constituição	mexicana	(1917).	
• Constituição	de	Weimar	(1919).RATEIO É LEGAL
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2.2.2.1.	Estado	Social	
	
I	 -	 O	 Estado	 Social	 é	 o	 resultado	 de	 uma	 transformação	 do	 Estado	 Liberal.	 Ele	 busca	 superar	 a	 dicotomia	 entre	 a	
igualdade	política	conquistada	e	a	desigualdade	social	existente.	
	
II	-	A	principal	diferença	entre	o	Estado	Social	e	o	Estado	socialista	é	a	adesão	daquele	ao	capitalismo.	
	
III	–	Características	do	Estado	Social:	
• Intervencionista:	é	um	Estado	que	a	todo	momento	intervém	no	âmbito	social,	econômico	e	laboral.	O	Estado	
passa	a	ser	um	grande	prestador	de	serviços.	
• O	Estado	passa	a	ter	um	papel	decisivo	tanto	na	produção	quanto	na	distribuição	de	bens.	
• A	garantia	do	bem-estar	social	mínimo.	Exemplo:	benefício	de	prestação	continuada	(benefício	assistencial).	
	
IV	–	Direitos	fundamentais	de	2ª	geração:	
	
• Valor:	igualdade	material	(fática	ou	substancial):	exige	dos	Poderes	Públicos	não	um	tratamento	isonômico,	mas	
diferenciado	para	que	as	pessoas	que	estão	em	condição	de	 inferioridade	possam	ter	 igualdade	de	condições	
com	os	mais	favorecidos.	
• Direitos	 sociais,	 econômicos	 e	 culturais:	 possuem	 status	 positivo;	 a	maioria	 exige	 do	 Estado,	 sobretudo,	 uma	
atuação	positiva	(direitos	prestacionais).	
• Garantias	 institucionais:	garantias	conferidas	às	 instituições	 fundamentais	para	a	sociedade	 (família,	 imprensa	
livre,	funcionalismo	público,	autonomia	universitária).	
	
2.3.	Constitucionalismo	contemporâneo	
	
Após	o	fim	da	2ª	Guerra	Mundial	começaram	a	surgir	novas	Constituições	que	são	consubstanciam	um	amálgama	das	
experiências	 norte-americana	 e	 francesa	 –	 alguns	 autores	 denominam	 esta	 etapa	 do	 Constitucionalismo	 de	
“neoconstitucionalismo”.		
	
2.3.1.	Características	
	
a)	Força	normativa	da	Constituição	
	
Nos	 Estados	 Unidos	 a	 Constituição	 sempre	 foi	 vista	 como	 um	 conjunto	 de	 normas.	 A	 normatividade	 constitucional	
sempre	foi	reconhecida	de	forma	plena.	Todavia,	isso	não	acontecia	no	Direito	europeu:	as	declarações	de	direitos	não	
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eram	consideradas	vinculantes	 (normas	programáticas),	 sobretudo	para	o	 legislador	 -	o	 legislador	era	visto	 como	um	
amigo	dos	direitos	fundamentais	por	ser	o	responsável	pela	implementação	desses	direitos.	
	
Esta	visão	de	que	o	legislador	é	um	amigo	dos	direitos	fundamentais	mostrou-se	equivocada,	pois,	por	vezes,	as	maiores	
violações	de	direitos	fundamentais	vinham	do	Parlamento.		
	
Conforme	Konrad	Hesse,	a	Constituição,	embora	por	vezes	acabe	sucumbindo	à	realidade,	possui	uma	força	normativa	
capaz	de	conformar	a	realidade,	desde	que	haja	“vontade	de	Constituição”	(e	não	apenas	“vontade	de	poder”).	
	
b)	Rematerialização	dos	textos	constitucionais	
	
Significa	 que	 atualmente	 as	 Constituições	 se	 caracterizam	 não	 por	 serem	 concisas,	 mas	 prolixas,	 analíticas	 ou	
regulamentares.	
	
Após	os	períodos	 autoritários	ocorridos	na	 Europa	a	 reação	 imediata	 foi	 a	de	 consagrar	o	maior	número	possível	 de	
normas	 na	 Constituição	 para	 que	 houvesse	 a	 proteção	 contra	 o	 arbítrio	 do	 Estado.	 Nos	 Países	 da	 América	 Latina	
observou-se	o	mesmo	fenômeno.	
	
c)	Fortalecimento	do	Poder	Judiciário		
	
O	fortalecimento	do	Poder	Judiciário	acabou	dando	origem	a	um	fenômeno	denominado	de	judicialização	da	política	ou	
das	relações	sociais.	
	
d)	Dignidade	da	pessoa	humana	e	centralidade	da	Constituição	e	dos	direitos	fundamentais	
	
I	-	A	dignidade	da	pessoa	humana,	até	o	fim	da	2ª	Guerra	Mundial,	não	era	usualmente	consagrada	nas	Constituições.	
Foi	 a	 partir	 das	 experiências	 ocorridas	 durante	 o	 nazismo,	 principalmente,	 que	 houve	 uma	 preocupação	 dos	 textos	
constitucionais	com	essa	consagração.	
	
A	ideia	de	dignidade	surge	como	valor	supremo	e	núcleo	axiológico	da	Constituição	no	sentido	de	que	não	há	gradações	
ou	hierarquias	entre	os	seres	humanos,	pois	todos	são	dotados	da	mesma	dignidade.		
	
II	–	Há	atualmente	uma	centralidade	da	Constituição	e	dos	direitos	fundamentais.	Segundo	Paulo	Bonavides,	“Ontem	os	
Códigos;	hoje	as	Constituições”.		
	
Em	razão	da	centralidade	da	Constituição	e	dos	direitos	fundamentais	há	o	surgimento	de	um	fenômeno	denominado	
de	“constitucionalização	do	Direito”.	Três	aspectos:	
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• Consagração	constitucional	de	normas	de	outros	ramos	do	Direito	na	Constituição.	
• Interpretação	conforme	à	Constituição	 (“filtragem	constitucional”):	 interpretação	de	normas	de	outros	 ramos	
do	Direito	à	luz	dos	valores	consagrados	na	Constituição.	Em	outras	palavras,	deve-se	optar	pela	interpretação	
que	melhor	reflita	os	valores	constitucionalmente	consagrados.	
• Eficácia	horizontal	dos	direitos	 fundamentais:	 inicialmente,	os	direitos	 fundamentais	eram	oponíveis	apenas	e	
tão	somente	ao	Estado.	Com	o	passar	do	tempo	percebeu-se	que	a	opressão	e	a	violência	contra	os	indivíduos	
não	vinham	apenas	dos	Poderes	Públicos,	mas	também	de	outros	particulares.	Assim,	os	direitos	fundamentais	
passaram	 a	 ser	 aplicados	 não	 somente	 às	 relações	 verticais	 (entre	 o	 Estado	 e	 o	 particular),	mas	 também	 às	
horizontais	(entre	particulares).	
	
2.3.2.	Estado	Democrático	de	Direito/Estado	Constitucional	Democrático	
	
I	–	Razão	da	expressão	“Estado	Constitucional	Democrático”:	acentuar	uma	mudança	de	paradigma	de	“império	da	lei”	
para	“caráter	normativo	da	Constituição”.	
	
II	–	O	Estado	Democrático	de	Direito	sintetiza	as	conquistas	dos	modelos	anteriores	(Liberal	e	Social)	e	tenta	superar	as	
respectivas	deficiências.	
	
III	 -	O	nome	“democrático”	 surge	a	partir	da	 importância	 conferida	ao	princípio	da	 soberania	popular	 como	meio	de	
legitimação	do	Poder	-	o	Poder	só	é	legítimo	se	for	advindo	do	povo;	é	o	povo	que	detém	o	Poder	e	cabe	a	ele	escolher	
os	seus	representantes.	
	
IV	–	Características:	
	
• Preocupação	com	a	efetividade	dos	direitos	fundamentais	e	com	a	sua	dimensão	material:	a	preocupação	não	
está	relacionada	com	a	consagração	formal,	mas	com	a	efetividade	e	o	aspecto	substancial.	
• Limitação	 do	 Poder	 Legislativo	 pela	 Constituição:	 ates	 o	 controle	 era	 relacionado	 apenas	 ao	 aspecto	 da	
produção	das	leis	(constitucionalidade	formal).	Atualmente,	a	limitação	do	Poder	Legislativo	também	incide	no	
aspecto	 material,	 no	 sentido	 de	 que	 o	 conteúdo	 das	 leis	 deve	 ser	 compatível	 com	 o	 da	 Constituição	
(constitucionalidade	material).	Ademais,	 as	normas	de	caráter	prestacional	que	 impõem	deveres	aos	Poderes	
Públicos	exigem	deles	uma	atuação	positiva	que,	caso	não	ocorra,	gerará	uma	omissão	inconstitucional.	
	
V	–	Direitos	fundamentais	de	3ª	geração:	
	
• Valor:	fraternidade	ou	solidariedade.	RATEIO É LEGAL
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• Exemplos	(rol	exemplificativo):	direito	ao	desenvolvimento,	ao	meio	ambiente,	de	autodeterminação	dos	povos,	
sobre	o	patrimônio	comum	da	humanidade	e	de	comunicação	(cf.	Paulo	Bonavides).	
• Outros	exemplos:	consumidor,	crianças	e	idosos.	
	
VI	–	Direitos	fundamentais	de	4ª	geração.	
	
Segundo	Paulo	Bonavides:	Democracia,	informação	e	pluralismo.	
Observação	n.	1:	embora	bastante	antiga,	a	Democracia	consagrada	anteriormente	era	bem	mais	restrita	em	termos	de	
sufrágio	 do	 que	 é	 hoje	 –	 capacidade	 intelectual,	 capacidade	 econômica,	 sexo.	 Atualmente,	 subsiste	 um	 sufrágio	
universal,	adotadona	maioria	dos	Países,	onde	as	pessoas	participam	desde	que	sejam	nacionais,	se	alistem	e	tenham	a	
idade	mínima	exigida	(requisitos	formais).	Além	dessa	ampliação	do	sufrágio,	há	também	a	inserção	de	mecanismo	de	
participação	popular	direta	(plebiscito,	referendo	e	iniciativa	popular).	
	
Observação	n.	2:	o	direito	à	informação	–	que	é	distinto	ao	de	comunicação	–	abrange	o	direito	de	informar	(CF,	arts.	
220	a	224),	de	se	informar	(CF,	art.	5º,	XIV)	e	a	ser	informado	(CF,	art.	5º,	XXXIII	e	Lei	n.	12.527).	
	
Observação	n.	3:	o	pluralismo	está	consagrado	em	nossa	Constituição	como	um	fundamento	da	República	Federativa	do	
Brasil	 (CF,	 art.	 1º,	V).	 Embora	a	Constituição	 fale	em	pluralismo	político,	não	 significa	apenas	um	pluralismo	político-
partidário,	mas	também	religioso,	artístico,	de	ideias	entre	outros.		
	
Observação	 n.	 4	 (outros	 direitos):	 direitos	 relacionados	 à	 biotecnologia	 e	 à	 bioengenharia;	 identificação	 genética	 do	
indivíduo.	
	
	
		
	
	
	
	
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