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Anais do X Simpósio Regional de História

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As crises da República e 
o ensino de História:
a democracia brasileira 
em questão
X Simpósio Regional de História 
Davison Hugo Rocha Alves
Thiago Broni de Mesquita
(Org.)
(Belém, 28 a 30 de novembro de 2016)
As crises da República e o ensino de História: 
a democracia brasileira em questão 
- X Simpósio Regional de História - 
Realização: ANPUH/SEÇÃO PARÁ 
(Belém, 28 a 30 de novembro de 2016) 
Davison Hugo Rocha Alves 
Thiago Broni de Mesquita 
(Org.) 
As crises da República e o ensino de História: 
a democracia brasileira em questão 
- X Simpósio Regional de História - 
Realização: ANPUH/SEÇÃO PARÁ 
(Belém, 28 a 30 de novembro de 2016) 
Belém- 2017 
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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
S621
 Simpósio Regional de História ANPUHA-Pará (10. : 2016 : Belém, PA) 
 Anais do X Simpósio de História Anpuha-seção Pará : as crises da
República e o ensino de história : a democracia brasileira em questão / organização
Davison Hugo Rocha Alves , Thiago Broni de Mesquita. - 1. ed. - Belém [PA] : Paka-
Tatu, 2017.
 recurso digital ; 8 MB 
 Formato: epdf
 Requisitos do sistema: adobe acrobat reader
 Modo de acesso: world wide web
 Inclui bibliografia
 ISBN 978-85-7803-370-5 (recurso eletrônico)
1. Democracia - Brasil - Congressos. 2. Livros eletrônicos. I. Alves, Davison Hugo
Rocha. II. Mesquita, Thiago Broni de. I. Alves, Davison Hugo Rocha. II. Mesquita,
Thiago Broni de. 
17-44977 CDD: 321.8
CDU: 321.7
27/09/2017 28/09/2017 
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO .......................................................................................................................... 13
FILIPPE PATRONI: INDEPENDENTISTA, ABOLICIONISTA 
E REPUBLICANO. HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA ........................................................... 15
José Alves de Souza Junior
Faculdade de História/UFPA
A “INVISIBILIZAÇÃO DOS CABOCLOS”: O PENSAMENTO PSEUDORRACISTA 
OITOCENTISTA E O PROJETO REPUBLICANO NA AMAZÔNIA .................................... 31
Karl Heinz Arenz
Faculdade de História/UFPA
ARTE XAMÂNICA NA AMAZÔNIA PRÉ-COLONIAL .......................................................... 45
Luis Paulo dos Santos de Castro (UEPA)
PRIMEIRA DENTIÇÃO OU ESTÔMAGO DE AVESTRUZ: 
NOTAS SOBRE O ECLETISMO POLÍTICO, IDEOLÓGICO E ESTÉTICO 
DA PRIMEIRA FASE DA REVISTA DE ANTROPOFAGIA .................................................... 57
Heraldo Márcio Galvão Júnior (Unifesspa)
HISTÓRIA ORAL E PATRIMÔNIO: A MEMÓRIA INSCRITA NAS RUAS, 
PRAÇAS E MONUMENTOS DE XINGUARA/PA .................................................................... 65
Heraldo Márcio Galvão Júnior (Unifesspa)
AMAS DE LEITE NOS JORNAIS DE BELÉM DO GRÃO-PARÁ DO 
SÉCULO XIX: ALIMENTAÇÃO, SAÚDE E LITERATURA MÉDICA ................................. 77
Damiana Valente Guimarães Gutierres (Universidade Federal do Pará)
 
PLANTAS, GÊNEROS E OBSTÁCULOS: RAZÕES SOCIAIS E 
RELIGIOSAS PARA O USO DE PLANTAS DE TERREIRO PELAS 
COMUNIDADES TRANS E TRAVESTI ..................................................................................... 89
Júlio Ferro Silva da Cunha Nascimento
O HOMEM (TRANS) COMO SUJEITO HISTORIOGRÁFICO: 
VIVÊNCIA, TRAJETÓRIA E LUTA ........................................................................................... 95
Júlio Ferro Silva da Cunha Nascimento
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A DESCRIÇÃO HISTÓRICA, GEOGRÁFICA E ETNOGRÁFICA 
DO RIO CAPIM FEITA POR JOÃO BARBOSA RODRIGUES .............................................. 105
HISTORICAL DESCRIPTION, GEOGRAPHIC AND ETHNOGRAPHIC 
THE CAPIM RIVER MADE BY JOÃO BARBOSA RODRIGUES
Cláudio Lísias Moreira Ximenes
Álvaro Augusto Queiroz Costa
Alan Watrin Coelho
A PAISAGEM DO ITACAIÚNAS EM DOIS TEMPOS: UMA ANÁLISE DOS 
DIÁRIOS DE VIAGEM DE CUNHA MATTOS E IGNÁCIO MOURA (1839-1910) .............. 123
Anna Carolina de Abreu Coelho
A IMPRENSA CATÓLICA: UMA ANÁLISE SOBRE A 
QUESTÃO RELIGIOSA NO JORNAL A BOA NOVA ............................................................... 135
THE CATHOLIC PRESS: AN ANALYSIS OF THE RELIGIOUS QUESTION 
IN THE BOA NOVA NEWSPAPER 
Raynara Cintia Coelho Ribeiro
ENTRE POLOS: O EMBATE IDEOLÓGICO ENTRE 
COLLOR E LULA NAS ELEIÇÕES DE 1989 ............................................................................. 149
Andrey Ferreira Bastos
JORNAL MARABÁ: FACES DO BARATISMO NO SUDESTE 
DO PARÁ (1945 E 1946) ................................................................................................................... 163
Aldair José Dias Carneiro
INCLUSÃO DE ALUNOS CEGOS EM AULA DE HISTÓRIA ................................................ 179
INCLUSION OF BLIND STUDENTS IN HISTORY CLASS 
Tiese Rodrigues Teixeira Júnior
FARQUHAR, O PORTO E A AVENIDA: UM BOULEVARD-CAIS ....................................... 187
Marcia Cristina Ribeiro Gonçalves Nunes (Universidade Federal do Pará – 
Programa de Pós Graduação de História – Doutoranda)
O BOULEVARD-CAIS NA REPÚBLICA: UMA NOVA RUA COMERCIANTE ................. 203
Marcia Cristina Ribeiro Gonçalves Nunes (Universidade Federal do Pará – 
Programa de Pós Graduação de História – Doutoranda)
ENTRE O NATURAL E O SOCIAL: O TRABALHO FEMININO ......................................... 217
ENTRE NATURAL Y SOCIAL: EL TRABAJO FEMENINO
BETWEEN THE NATURAL AND THE SOCIAL: THE FEMININE WORK
Gisély Damasceno Furtado
Francivaldo Alves Nunes
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O RECONHECIMENTO DA IDENTIDADE CULTURAL POR MEIO 
DA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA ................................ 233
THE RECOGNITION OF THE CULTURAL IDENTITY BY MEANS 
OF HERITAGE EDUCATION: A REPORT OF EXPERIENCE
Carlos Eduardo Miranda da Conceição
TOMÉ-AÇU: DO RURAL PARA O URBANO SOB UMA PERSPECTIVA 
ECONÔMICA E SOCIAL NAS DÉCADAS DE 1940-1980 ....................................................... 245
TOME-AÇU: RURAL TO URBAN IN AN ECONOMIC PERSPECTIVE AND 
SOCIAL IN DECADES OF 1940-1980 
Tatiane do Carmo
A VOZ E NOME: ESTRATÉGIA E IDENTIDADE DE TRABALHADORES 
E IMPACTADOS PELA UHE DE ESTREITO – MA/TO 2007-2012 ....................................... 261
THE VOICE AND NAME: STRATEGY AND IDENTITY OF WORKERS AND 
IMPACTED BY ESTREITO HYDROELECTRIC POWER PLANT - MA / TO 2007-2012
LA VOZ Y EL NOMBRE: LA ESTRATEGIA Y LA IDENTIDAD DE LOS TRABAJADORES 
Y IMPACTADOS POR UHE ESTREITO - MA / A 2007-2012
Cícero Pereira da Silva Júnior
CATALINEIROS: MILITARES DA AERONÁUTICA NA AMAZÔNIA (1960-1985) ........... 279
Carlos Eduardo dos Santos e Santos
CIRCUITOS DE FESTAS DE FÉ ................................................................................................... 293
FAITH FESTIVAL CIRCUITS
Decleoma Lobato Pereira
ENCONTROS ENTRE INFÂNCIA, MORAL E CIDADE NOS 
DISCURSOS DA IMPRENSA VIGIENSE NA DÉCADA DE 1920 .......................................... 307
MEETINGS BETWEEN CHILDHOOD, MORALITY AND CITY IN 
THE SPEECHES OF VIGIENSE PRESS IN THE 1920S
José Renato Carneiro do Nascimento
DALCÍDIO JURANDIR E O GRUPO MODERNISTA 
DA REVISTA TERRA IMATURA .................................................................................................. 313
DALCÍDIO JURANDIR AND THE MODERNIST GROUP 
OF “TERRA IMATURA” MAGAZINE
Maíra Maia
MUDANÇA CULTURAL/MUSICAL NA COMUNIDADE 
QUILOMBOLA DO MUMBUCA NO JALAPÃO, TO ............................................................ 327
CULTURAL / MUSICAL CHANGE IN THE QUILOMBOLA 
COMMUNITY OF MUMBUCA IN JALAPÃO, TO 
Marcus Facchin Bonilla (UFT/UFPA) 
Sonia Maria Moraes Chada (UFPA)
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AS RELAÇÕES ENTRE O CLERO E O ESTADO NA DÉCADA DE 1850: 
AS CONTRADIÇÕES DE UM ULTRAMONTANISMO NO PARÁ ....................................... 341
RELATIONS BETWEEN THE CLERGY AND THE STATE IN THE 1850: 
THE CONTRADICTIONS OF A ULTRAMONTANISM IN PARÁ
Kelly
Chaves Tavares
MEMÓRIA DA GUERRILHA DO ARAGUAIA: RELAÇÕES DE 
PODER NA COMUNIDADE INDÍGENA SURUÍ/AIKEWARA .............................................. 353
Paula Miranda Monteiro
POR UMA CIDADANIA MULTICULTURAL - A EXPERIÊNCIA 
MUTIDISCIPLINAR DE ENSINO, PESQUISA EXTENSÃO NA 
ESCOLA DE APLICAÇÃO DA UFPA, NO TRATO DAS RELAÇÕES 
ÉTNICO-RACIAIS ........................................................................................................................... 369
Antônia Maria Brioso Tavares (Escola de Aplicação da UFPA)
MEMÓRIA DE MESTRES DO MIRITI:
NATUREZA, TEMPO E TRABALHO NA AMAZÔNIA ........................................................... 381
Claudete do Socorro Quaresma da Silva (UFPA)
A CONTRIBUIÇÃO DA POSSE PARA O POVOAMENTO E 
FORMAÇÃO DAS GRANDES FAZENDAS NA FREGUESIA 
DE SÃO PEDRO DO FANADO DE MINAS NOVAS NO XIX ................................................. 391
THE CONTRIBUTION OF POSSESSION TO THE SETTLEMENT 
AND FORMATION OF LARGE FARMS IN THE PARISH OF SÃO 
PEDRO DO FANADO DE MINAS NOVAS IN THE XIX 
Juliana Pereira Ramalho
IMAGEM, ETNICIDADE E SABERES INDÍGENAS ............................................................... 405
Denise Machado Cardoso (Docente da Faculdade de Ciências Sociais – UFPA)
Letícia Cardoso Gonçalves (Graduanda em História - FIBRA/ Bolsista de Iniciação 
Científica – RENAS/MPEG)
Irana Bruna Calixto Lisboa (Mestranda em Antropologia - UFPA/PPGSA/GEPI)
UM TEMPO, UMA PAISAGEM: OCUPAÇÕES, PAISAGENS 
E USO DE RECURSOS NA SERRA LESTE DE CARAJÁS, PARÁ ....................................... 415
Tallyta Suenny Araujo da Silva
LUIZ BRAGA E MILTON HATOUM: FRONTEIRAS MÓVEIS ........................................... 427
Arcângelo da Silva Ferreira
O VALE TOCANTINO: OCUPAÇÃO E NAVEGAÇÃO NOS SETECENTOS .................... 439
Carlos Barbosa
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TRABALHO BANCÁRIO: REFLEXÕES SOBRE GÊNERO, CLASSE E RAÇA .............. 459
BANK WORK: REFLECTIONS ON GENDER, CLASS AND RACE
Luciana Carlos Geroleti
RESISTENCIAS, ALFORRIAS E NEGOCIOS DO MUNDO DA ESCRAVIDÃO 
NUMA FREGUESIA DO GRÃO-PARÁ OITOCENTISTA (1870-1882) ................................. 471
Roberta Conceição Tavares
DISCURSO, MEMÓRIA E NARRATIVA: O DESEJO DE CONSTRUÇÃO 
DE IDENTIDADE EM PARAGOMINAS-PA .............................................................................. 485
Rayana Nadyr Lucena Callou
HISTÓRIA, MEMÓRIA E POLICIA MILITAR: OS ESPORTES E 
A “VOLTA DA CIDADE CEL FONTOURA” EM BELÉM (1937-1975) ................................ 501
HISTORY, MEMORY AND MILITARY POLICE: THE SPORTS AND 
THE “CEL FONTOURA CITY TOUR” IN BELÉM (1937-1975)
Itamar Rogério Pereira Gaudêncio (Academia de Polícia Militar “Cel Fontoura” 
- Instituto de Ensino e Segurança do Pará)
1964: GOLPE OU REVOLUÇÃO? A DISPUTA PELA MEMÓRIA 
NAS PÁGINAS DO JORNAL O ESTADO DE S. PAULO ......................................................... 515
1964: COUP OR REVOLUTION? THE CONTEST FOR THE MEMORY
PAGES OF THE NEWSPAPER O ESTADO DE S. PAULO
Cássio Augusto Guilherme
CASCA DE CRAVO, ÓLEO DE COPAÍBA E RAIZ DE SALSAPARRILHA: 
ESPECIARIAS AMAZÔNICAS EM TRATADOS MÉDICO-BOTÂNICOS 
DA EUROPA (SÉC. XVII E XVIII) ................................................................................................ 529
Karl Heinz Arenz (UFPA)
GOVERNOS MILITARES E O PROJETO DE INTEGRAÇÃO 
NACIONAL: O MINISTÉRIO DAS COMUNICAÇÕES NAS PÁGINAS 
DO JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO (1967-1974) ................................................................. 543
Rafael Patrick Flores
Edvaldo Correa Sotana
TRABALHO E MODERNIZAÇÃO: BELÉM DA BORRACHA 
E A RESISTÊNCIA DOS TRABALHADORES, 1900-1907 ....................................................... 559
Sérgio da Silva do Nascimento
DAS NOVIDADES TÉCNICAS: BORRACHA, CIÊNCIA, POLÍTICA E 
A REPRESENTAÇÃO PARAENSE NA EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL 
DA INDÚSTRIA E DO TRABALHO EM TURIM (1911) .......................................................... 577
Anna Raquel de Matos Castro
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BARÃO NA ESTRADA DE NAZARÉ: O ESTUDO DE CASO DE 
UMA AÇÃO DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NA E.E.E.I.F. BARÃO 
DO RIO BRANCO – BELÉM PARÁ ............................................................................................. 595
Patrícia Carvalho Cavalcante
Raimundo Justiniano do Carmo Neto
“FOI NO BAIRRO DO JURUNAS”: ESTUDO DE CASO DE UMA 
AÇÃO DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E DE MAPEAMENTO 
CULTURAL NA E.E.M HONORATO FILGUEIRA – BELÉM, PA ........................................ 609
Ângela Sánchez Leão
Raimundo Justiniano do Carmo Neto
A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL NA IMPRENSA PARAENSE: 
CIDADE E COTIDIANO (1914-1918) ........................................................................................... 621
Aline Luiza Fernandes Gomes
“O MAIOR RIO DO ORBE”: O RIO AMAZONAS E A COLONIZAÇÃO 
AQUÁTICA DA AMAZÔNIA PORTUGUESA ........................................................................... 635
Elias Abner Coelho Ferreira
(IN)VISIBILIDADE RELIGIOSA: O USO DE IGREJAS 
EVANGÉLICAS COMO ESPAÇO DE SOCIABILIDADE 
POR HOMOSSEXUAIS NA CIDADE DE BELÉM-PA ............................................................. 651
Alan Silva de Aviz
Orientador: Prof. Dr. Fabiano de Souza Gontijo
REPRESENTAÇÕES DA AMAZÔNIA NA REVISTA INFANTIL O TICO TICO: 
ENSINO E PESQUISA EM HISTÓRIA, ENTRE TEXTOS E IMAGENS ............................. 665
Isadora Bastos de Moraes (Mestranda do programa de pós-graduação 
em História Social da Amazônia Universidade Federal do Pará)
UM SONHO DE LIBERDADE: ESCRAVIDÃO, RESISTÊNCIA E A 
FORMAÇÃO DE QUILOMBOS EM OURÉM DO GRÃO-PARÁ (1778-1823) ................... 675
A DREAM OF FREEDOM: SLAVERY, RESISTANCE AND THE FORMATION 
OF QUILOMBOS IN OURÉM DO GRÃO-PARÁ (1778-1823)
Rozemberg Ribeiro de Almeida
Universidade Federal do Pará
TRILHAS COTIDIANAS: ESCRAVIDÃO NEGRA EM SANTARÉM (1860-1888) ............ 691
Maria Elizabete Carmo da Silva (Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA)
A FORMAÇÃO DO CAMPESINATO CABOCLO 
NA AMAZÔNIA DOS OITOCENTOS .......................................................................................... 701
THE FORMATION OF CABOCLO PEASANTRY 
IN THE AMAZON OF THE EIGHT HUNDREDS
Rebeca S. Nunez Lopes
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ENTRE CARTAS E JORNAIS: O CONFLITO DE CANUDOS 
E A CONSTRUÇÃO DO MEDO .................................................................................................... 715
Daniel da Silva Costa (Centro Universitário AGES)
SEMEANDO A CIVILIZAÇÃO: DIVERGÊNCIAS EM TORNO 
DA INSTALAÇÃO DA ESTRADA DE FERRO DE BRAGANÇA 
NOS FINAIS DO SÉCULO XIX ..................................................................................................... 735
Franciane Gama Lacerda (UFPA)
OS RASTROS DEIXADOS PELO CRIME: UM ESTUDO DO PERFIL DAS 
MULHERES DEFLORADAS NA COMARCA DE SANTARÉM-PA (1880-1940) ................ 745
Andrecy Nancy (Universidade Federal do Oeste do Pará)
HISTÓRIAS DA EDUCAÇÃO NA AMAZÔNIA: 
O INSTITUTO SANTANA E AS IRMÃS VICENTINAS DA CARIDADE 
NO MUNICÍPIO DE IGARAPÉ-MIRI (PA) .................................................................................. 765
Ernane de Jesus Pantoja Neto (UFPA) 
Jadson Fernando Garcia Gonçalves (UFPA)
 “CRIMES CABANOS” NA REGIÃO DO BAIXO TAPAJÓS: 
ANÁLISE DE FONTES DOCUMENTAIS DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA 
DO ESTADO DO PARÁ – FÓRUM DE SANTARÉM (1835-1840) .......................................... 779
Fabíola Caroline Siqueira Araújo 
Universidade Federal do Oeste do Pará
OS TRILHOS E O DISCURSO DO PROGRESSO EM MANAUS (1889 a 1930) ................. 797
Wanderlene de Freitas Souza Barros (UFAM – Universidade Federal do Amazonas)
CAPITANIA DO GRÃO-PARÁ E AS CAPITANIAS DO BRASIL: 
CONEXÕES A PARTIR DE MOBILIZAÇÕES INDIGENAS E MILITARES 
PARA DEFESA NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XVIII ............................................. 813
Wania Alexandrino Viana (Instituto Federal do Pará-Campus/Breves)
PROFESSORES EM CONSTRUÇÃO - A IMPORTÂNCIA 
DO PIBID NA FORMAÇÃO DOCENTE EM HISTÓRIA ........................................................ 827
Leandro Tavares Furtado (UNAMA)
Sabrina Gomes de Oliveira (UNAMA)
Taynara Nacly Abenassiff Azevedo (UNAMA)
PIBID-HISTÓRIA-UFOPA: EXPERIÊNCIAS SOBRE O 
TRABALHO COM PATRIMÔNIO MATERIAL E IMATERIAL 
NO ENSINO FUNDAMENTAL EM SANTARÉM-PA ............................................................... 837
Gabriel Augusto Wanghan da Silva (UFOPA)
Verônica Lima da Silva (UFOPA)
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CONSCIÊNCIA NEGRA: UM OLHAR PARA AS MULHERES 
DO SÉCULO XIX AO XXI .............................................................................................................. 849
Otávio Vítor Vieira Ribeiro (UFPA)
Amanda Danniely Proença Gonçalves (UFPA)
A EXPERIÊNCIA DISCENTE NO ESTÁGIO SUPERVISIONADO III: 
NARRATIVAS DA REGÊNCIA NA ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO 
FUNDAMENTAL E MÉDIO PROFª. TEREZINHA DE JESUS RODRIGUES, 
SANTARÉM – PA .............................................................................................................................. 863
Andrecy Nancy
Fabíola Caroline Siqueira Araújo 
Universidade Federal do Oeste do Pará
A DISCIPLINA ESTUDOS AMAZÔNICOS: 
OS LIVROS DIDÁTICOS E O SABER ESCOLAR ................................................................... 881
Davison Hugo Rocha Alves
 
AVANÇOS E LIMITAÇÕES NO CAMPO DA EDUCAÇÃO NA 
LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL EM CONTEXTO DE DEMOCRACIA 
NO BRASIL: DO CAPÍTULO III DA CF/88 E LEI 9.394/96 AOS 
DESAFIOS NO ENSINO DE HISTÓRIA NO CENÁRIO ATUAL .......................................... 893
ADVANCES AND LIMITATIONS IN THE FIELD OF EDUCATION IN 
EDUCATIONAL LEGISLATION IN THE CONTEXT OF DEMOCRACY 
IN BRAZIL: FROM CHAPTER III OF CF / 88 AND LAW 9.394 / 96 TO THE 
CHALLENGES IN TEACHING HISTORY IN THE CURRENT SCENARIO.
Tullyo Robson Furtado Lobato (Universidade Federal do Pará - UFPA)
ENSINO DE HISTÓRIA E PATRIMÔNIO: BREVES REFLEXÕES 
SOBRE PATRIMÔNIO IMATERIAL EM SALA DE AULA .................................................... 907
Renato Miranda da Silva
Layane de Souza Santos
A AMAZÔNIA E A DITADURA MILITAR SOB OS OLHOS 
DA GRANDE IMPRENSA .............................................................................................................. 925
Camila Barbosa Monção Miranda (PPGH-UFAM)
REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA NA CIDADE DE BELÉM: 
HISTÓRICO, AVANÇOS E DESAFIOS ........................................................................................ 939
Edivania Santos Alves – Doutora em Sociologia (PPGSA/UFPA).
Secretaria Estadual de Educação (SEDUC) e Escola Superior Madre Celeste (ESMAC)
O RECONHECIMENTO DA IDENTIDADE CULTURAL POR MEIO 
DA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA ................................ 955
THE RECOGNITION OF THE CULTURAL IDENTITY BY MEANS 
OF HERITAGE EDUCATION: A REPORT OF EXPERIENCE
Carlos Eduardo Miranda da Conceição
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NATUREZA E ENSINO DE HISTÓRIA EM ANANINDEUA ............................................ 971
NATURE AND HISTORY TEACHING IN ANANINDEUA
Victória Emi Murakami Vidigal 
Wendell Presley Machado Cordovil 
Wesley Oliveira Kettle
OS MILITARES E A LEI DOS ARQUIVOS NA DÉCADA DE 1990 ................................... 983
Ronaldo Almeida Carneiro (UFPA, Mestrando)
A LUTA PELA POSSE DA TERRA NA AMAZÔNIA 
CONTEMPORÂNEA: RESISTÊNCIA DOS TRABALHADORES 
RURAIS DO BAIXO TOCANTINS E SEUS CONFLITOS COM 
O ESTADO E A LEGISLAÇÃO AGRÁRIA DO PARÁ (1961-1981) ..................................... 991
Adriane Dos Prazeres Silva
Apresentação 
 
 
 Apresentamos os anais do X Simpósio Regional de História da ANPUH-Pará 
que teve como tema “As crises da República e o ensino de História: a democracia 
brasileira em questão” e ocorreu em Belém no período de 28 a 30 de novembro de 
2016. Nesta edição pretendemos debater a construção de uma cultura política 
fragilizada, que caminha para uma polarização semelhante a que ocorreu no Brasil antes 
do golpe civil-militar de 1964. As conferências e mesas redondas discutiram a 
conjuntura política decorrente da crise institucional que se instalou no Brasil desde as 
manifestações de junho de 2013, quando diversos setores da sociedade começaram a 
reivindicar mais direitos, o combate sistemático da corrupção e colocaram em xeque a 
democracia representativa e o sistema presidencialista de coalizão brasileiro. Tais 
questões foram discutidas com foco na questão do ensino de História e suas relações 
com temas sensíveis e lugares de consciência no Brasil contemporâneo. 
Queremos com isso apresentar reflexões que os historiadores e professores de 
História podem fazer na sala de aula e fora dela sobre o recente processo traumático que 
foi a ditadura militar brasileira e suas leituras no século XXI, especificamente no que 
diz respeito às manifestações ocorridas entre março de 2013 a março de 2016. Esta é 
ainda uma oportunidade de levar professores, alunos da educação básica e historiadores 
a debaterem sobre os direitos humanos no Brasil. Essa reflexão norteou os trabalhos do 
X Simpósio Regional de História, promovido pela ANPUH-Pará, em parceria com a 
Universidade Federal do Pará (Campus Universitário do Guamá e o Campus 
Universitário de Ananindeua), Faculdade de História (FAHIS/Belém), Programa de 
Pós-graduação em História Social da Amazônia (PPHIST/UFPA), o mestrado 
profissional em Ensino de História (Prof. História-UFPA Ananindeua). O nosso evento 
contou com apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e 
Tecnológico (CNPq). 
O evento deveria ser realizado na Universidade Federal do Pará (Campus Guamá 
– Belém), mas em virtude da ocupação promovida pelos estudantes universitários a 
partir do dia 07 de novembro de 2016, destinada a protesta e tentar barrar a tramitação 
da PEC 55, e outras medidas do governo Michel Temer, foi realizado na Universidade 
da Amazônia (UNAMA – campus Senador Lemos). A diretoria da ANPUH seção Pará 
agradece à UNAMA pelo apoio ao evento, inclusive pela isenção de custos. 
Nessa edição foram apresentadas 33 propostas de Simpósios Temáticos, dos quais 70 
trabalhos completos foram aprovados neste livro e-book reunindo cerca de 290 
comunicações orais de profissionais da área de História e áreas afins, além de trabalhos 
de alunos da graduação e pós-graduação de História, o livro-ebook também tem 2 
trabalhos completos que foram apresentados em mesas redondas durante o 
evento. Contamos com o apoio de todas as universidades públicas do estado do Pará 
(Ufopa, Unifesspa, Uepa e da Ufpa-Bragança). O evento teve uma diversificada 
participação de trabalhos inscritos nos diversos simpósios, por exemplo, debates sobre 
aspectos específicos do ofício do historiador por meio de seus grupos de pesquisas, bem 
como a realização de debates ocorridos em torno da prática pedagógica do professor de 
História. O livro em formato e-book que apresentamos possui 72 trabalhos completos 
que foram apresentados nos simpósios temáticos e mesas redondas sobre diversos 
temas. 
 
Belém, 8 de agosto de 2017 
Profa. Dra. Edilza Joana Oliveira Fontes 
Presidente da ANPUH-Pará (2015-2016). 
Professora do PPHIST-UFPA. 
Coordenadora do ProfHistória-Ananindeua/UFPA. 
 
15 
Filippe Patroni: independentista, abolicionista e republicano. História e 
Historiografia 
José Alves de Souza Junior 
Faculdade de História/UFPA 
Resumo 
 Fillipe alberto Patroni Martins Maciel Parente, paraense, estudante de Direito na Universidade de 
Coimbra desde 1816, onde entrou em contato com o ideário libeal português, viu, quando da 
eclosão da Revolução Constitucionalista do Porto de 1820, a oportunidade de realizar o projeto de 
se tornar uma figura política importante no Grão-Pará, ou como deputado
extraordinário nas Cortes 
de Lisboa, ou como membro da Junta de Governo instalada após o Movimento de 1º de Janeiro de 
1821, que proclamou a adesão da província ao constitucionalismo português. Sua atuação política 
produziu uma memória que foi transformada em história por uma historiografia que remonta ao 
século XIX, chegando ao século XX. É sobre essa relação entre memória e história que este 
trabalho pretende tratar. 
Palavras-chave: Fillipe Patroni, memória, história, historiografia 
Filippe Patroni: independence, abolitionist and republican. History and 
Historiography 
Abstract 
 Fillipe Alberto Patroni Martins Maciel Parente, a student of Law at the University of Coimbra 
since 1816, where he came into contact with the portuguese liberal ideology, saw, at the outbreak of 
the Constitutionalist Revolution of the Port of 1820, the opportunity to carry out the project to 
become an important political figure in Grão-Pará, or as an extraordinary deputy in the Cortes of 
Lisbon, or as a member of the Government board after the January 1, 1821 Movement, which 
proclaimed the province's adherence to portuguese constitutionalism. Its political action produced a 
memory that was transformed into history by a historiography that goes back to century XIX, 
arriving at century XX. It is about this relationship between memory and history that this work 
intends to deal with. 
Key words: Fillipe Patroni, memory, history, historiography 
Filippe Patroni: independencia, abolicionista y republicano. 
 Historia e Historiografía 
Resume 
 Fillipe Alberto Patroni Martins Maciel Parente, Pará, un estudiante de derecho en la Universidad de 
Coimbra desde 1816, donde entró en contacto con las ideas libeal portugués vio cuando el estallido 
16 
 
 
de la Revolución Constitucionalista de Porto de 1820, la posibilidad de realizar el proyecto 
convertirse en una importante figura política en el Gran-Pará, o como adjunto extraordinario en las 
Cortes de Lisboa, o como miembro de la junta de gobierno instalado después de que el Movimiento 
del 1 de enero de 1821, que proclamó la adhesión de la provincia a constitucionalismo portugués. 
Su acción política produjo una memoria que se ha transformado en la historia por una historiografia 
que se remonta al siglo XIX, llegando hasta el siglo XX. Es esta relación entre la memoria y la 
historia que este trabajo va a tratar. 
 
Palabras clave: Fillipe Patroni, la memoria, la historia, la historiografía 
 
Apesar do reduzidíssimo tempo em que permaneceu no Pará, entre 1820 e 1823, Filippe 
Patroni foi consagrado pela historiografia amazônica, ora positiva ora negativamente em diferentes 
interpretações, como o principal protagonista e/ou mentor dos eventos lá ocorridos nesse período, 
os quais tiveram início com a proclamação do constitucionalismo português, a 1º de janeiro de 
1821. Visto como introdutor do ideário vintista na Capitania, teria sido responsável pela 
disseminação de ideais independentistas e abolicionistas, através de escritos publicados na imprensa 
portuguesa e no jornal “O Paraense”, por ele fundado em Belém, ou de panfletos e pasquins 
anônimos que circulavam pela cidade, cuja autoria lhe era atribuída. 
O primeiro trabalho historiográfico acerca de tais acontecimentos foi publicado em 1829, 
com o título “Compêndio das Eras da Província do Pará”, de autoria de Antonio Ladislau Monteiro 
Baena. Nele, Baena pretendeu narrar os fatos ocorridos no Pará, entre 1615 e 1823, com a intenção 
de perpetuar a obra colonizadora desenvolvida pelos portugueses no Norte do Brasil. Português de 
nascimento, chegou à Capitania em 1803, na qualidade de Ajudante de Campo do Governador e 
Capitão-General D. Marcos de Noronha, Conde dos Arcos. Embora não se encontrasse em Belém 
quando do Movimento de 1º de janeiro de 1821, Baena o descreveu como alguém que tivesse 
participado ativamente dele, registrando o seguinte comentário sobre Patroni: 
Patroni que sempre se moveu debaixo de maos principios reguladores das suas 
faculdades intellectuais, largou a votiva carreira dos seus estudos da Jurisprudência 
Civil para também figurar na melindrosa e arriscada scena política, que se havia 
aberto em Portugal: fallou e incumbio-se de estender por meios immoraes e 
insidiosos a insurreição nacional à Província do Pará, que vivia em seo socego 
usado sem embargo que lhe fossem odiosos os procedimentos illegaes e 
arbitrários do Governo Provisional, e sem disposição alguma na generalidade se 
seos habitantes para tomar parte em revoluçoens sediciosas: e conseguio unir um 
ranchinho de promotores do novo Systema Constitucional, os quaes logo cuidarão 
de alliciar e athrair ao seo intempestivo e perfido projecto João Pereira Villaça e 
Francisco Rodrigues Barata, ambos Coronéis Comandantes, um do Primeiro 
Regimento de Infantaria de Primeira Linha, e o outro do Segundo (1970, p. 319 e 
320). 
17 
 
 
O recurso a uma história e a um tempo sempre iguais possibilitou a Baena atribuir a Patroni 
um lugar privilegiado nos acontecimentos e uma forma repetitiva de atuação - “sempre se moveu 
debaixo de maos princípios reguladores das suas faculdades intellectuais”-, caracterizando-a como 
irresponsável, mal intencionada, efetivada por meios vis, o que confirmaria, segundo o autor, as 
dúvidas acerca de sua integridade mental. Vale ressaltar que o halo de loucura com o qual Baena 
envolveu a figura de Patroni, com a intenção de comprometer o valor dos seus escritos e da sua 
prática política, foi retirado de uma “denúncia” encaminhada a Junta Provisória do Governo do 
Grão-Pará por José Ribeiro Guimarães, em novembro de 1821, contra a agitação política que por 
ele teria sido promovida na Província. No texto da “denúncia” já são encontradas expressões do tipo 
“esquentada imaginação, que, tentando traduzir o seu inquieto comportamento, acabaram por 
colocar dúvidas sobre sua sanidade mental. 
Alicerçado na concepção da história dos personagens, considerados como promotores dos 
acontecimentos e de mudanças, Baena atribuiu à ação de Patroni um poder desestabilizador da 
ordem provincial, opondo-a à falta de disposição generalizada dos seus habitantes em tomar parte 
em revoluções sediciosas e à unidade de pensamento existente nas hostes militares, já que havia 
conseguido “alliciar e athrair ao seu intempestivo e perfido projecto” apenas alguns de seus 
membros. Baena enfatiza a ambição política de Patroni, que, não conseguindo convencer a Junta 
Provisória a nomeá-lo como deputado provincial extraordinário às Cortes de Lisboa, 
trata de ser menos largo em língua, de medir os termos e adoçar os comprimentos. 
Com reptil lisonja, complacencias e assiduidades solicita e obtém da mesma Junta 
ir com o Alferes Miliciano Domingos Simões da Cunha em commissão a Lisboa 
perante a Regencia de Portugal, e dar-se-lhe uma ajuda de custo (1970, p 323). 
Quando da prisão dos Irmãos Vasconcelos, ao chegarem em Belém provenientes de Lisboa, 
sob a acusação de propagarem idéias independentistas constantes em documentos anônimos 
trazidos de Portugal, Baena, ao narrar o fato, denunciou Patroni como o autor desses documentos, 
considerando-o “como o primeiro Cabeça ou Demagogo da revolução, a qual este filantropo de 
caráter nimiamente vivo, pouco reflexivo, e amante de novidades, pretendia actuar com o auxílio da 
escravatura” (BAENA, 1970, p. 328). Apropriando-se de termos utilizados pela Junta Provisória 
nos documentos em que fazia menção a Patroni, Baena o acusava de pretender utilizar a escravaria 
na revolução pela independência. 
Fundamentou tal denúncia na existência de uma pretensa circular encontrada com os Irmãos 
Vasconcelos que teria “na fronte por divisa duas mãos dadas uma branca e outra
preta” e onde 
Patroni recomendaria “que o esperassem porque brevemente vinha mudar a ordem das cousas”, e no 
nº 10 do Indagador Constitucional, jornal editado em Lisboa, também encontrado em poder dos 
referidos irmãos, Patroni havia publicado o seu plano para as eleições no Pará, propondo no artigo 
18 
 
 
10 que: “Um Deputado deverá corresponder a cada trinta mil almas, entrando neste número os 
escravos, os quaes mais que ninguem devem ter quem se compadeça delles, procurando-lhes uma 
sorte mais feliz, até que um dias se lhes restituão seus direitos”. 
Essas eram, segundo Baena, provas mais que suficientes da extrema periculosidade de 
Patroni, indivíduo cujas intenções malévolas dirigiam-se à desestabilização política da Província do 
Grão-Pará, com o intuito de mergulhá-la num caos revolucionário, com vistas a separá-la de 
Portugal. Para reforçar seus argumentos, Baena cita um trecho de um discurso dirigido por Patroni 
às Cortes, onde evoca o nome de Thomas Penn: “Delaware he o rio que banha a bella Província 
aonde o famoso Penn manteve os direitos da humanidade, não consentindo lá escravatura. Ah! 
Quem me dera ser o Penn do Pará” (1970, p. 328). 
 Domingos Antonio Raiol publicou, em 1865, o primeiro dos cinco volumes que viriam a 
constituir a obra “Motins Políticos ou História dos Principais Acontecimentos Políticos da 
Província do Pará Desde o Ano de 1821 até 1835”. Segundo o próprio autor, com essa obra se 
começaria “a dar publicidade à narração dos principais acontecimentos políticos da Província do 
Pará (no) período mais importante da história política da província (...), quando nela se tornaram 
mais freqüentes as convulsões populares, dirigidas quase sempre pelos agentes do poder público” 
(1970, p. 7). Paraense de nascimento, o autor buscou recuperar os acontecimentos que, no seu 
entender, faziam parte do processo de construção de uma identidade nacional no Pará e resgatar a 
importância da atuação política de determinados personagens, modeladora dessa identidade. O 
trabalho de Raiol enquadra-se dentro dos parâmetros historiográficos que nortearam as obras 
produzidas pelos historiadores ligados ao Instituto Histórico e Geográfico Paraense e Brasileiro, 
entre os quais o que atribuía ao historiador a tarefa fundamental de preservar a identidade nacional, 
pelo domínio que tinha do passado. 
Raiol dividiu sua obra em três partes: “a primeira compreende os sucessos ocorridos desde a 
convocação das Côrtes Gerais em Portugal até a proclamação da independência do Brasil. A 
segunda compreende os sucessos ocorridos desta época em diante até a abdicação de D. Pedro I. A 
terceira, enfim, compreende os sucessos que tiveram lugar desde a revolução de 7 de abril até os 
lutuosos dias de 1835” (1970, p. 07). Enfatizando seu desinteresse por glórias e recompensas, Raiol 
alegava que o incentivo que o levou a escrever tal obra “foi o desejo de evitar que o tempo apagasse 
a memória de acontecimentos tão graves como foram esses, que por muito tempo agitaram a 
sociedade paraense” (RAIOL, 1970, p. 7) e ressaltava ser esta a primeira a tratar de tais assuntos. 
Ao ressaltar o caráter pioneiro de sua obra, Raiol procurava apagar da memória a obra de Antonio 
Ladislau Monteiro Baena, por não concordar com a versão por ele construída sobre os 
acontecimentos. Apesar disso, e contraditoriamente, Raiol recorreu com freqüência à obra de 
19 
 
 
Baena, usando-a como banco de dados, por isso encontram-se inúmeras referências à ela em seu 
trabalho. 
É na primeira parte do texto, ao narrar os fatos relacionados à proclamação do Vintismo no 
Pará, que o autor se refere a Filippe Patroni. Nas poucas páginas que lhe dedicou, dividiu sua 
atuação política em duas fases: a primeira, iniciada com sua chegada a Belém a 10 de dezembro de 
1820, após abandonar seus estudos de Direito na Universidade de Coimbra, na qual Patroni teria se 
empenhado em divulgar os ideais vintistas na Província. Seu objetivo era o de levá-la a aderir ao 
constitucionalismo português, beneficiando-se do projeto da Regeneração, na esperança de que isto 
pudesse tirá-la da situação de obscurantismo e atraso secular em que se encontraria; a segunda, em 
que Patroni, percebendo as intenções hostis das Cortes em relação ao Brasil no período em que 
permaneceu em Lisboa como Procurador da Província do Pará, dedicar-se-ia a propagar ideais 
independentistas. Nas palavras de Raiol: 
Sempre que se convoca uma Assembléia Constituinte, apodera-se dos espíritos a 
fagueira esperança de melhoramentos; e homem há, que aplaudem de ordinário as 
inovações sem refletir muitas vezes nas suas conseqüências. 
Felipe Alberto Patroni pensou que as Cortes seriam favoráveis aos seu país natal, e 
deixando a Universidade de Coimbra, onde estudava, fêz-se de vela na mesma 
galera Nova Amazonas; e chegado ao Pará, constituiu-se defensor do novo sistema 
constitucional que a Metrópole pretendia estabelecer com o apoio dos portugueses, 
por parecer dar seguras garantias às liberdades pátrias” (1970, p. 14 e 15). 
Para o autor, o entusiasmo que tomou conta de Patroni quando da proclamação do 
constitucionalismo em Portugal, levou-o a acreditar que isso poderia também significar progresso e 
desenvolvimento para o Pará e a aderir irrefletidamente ao movimento, sem ter noção de suas 
conseqüências. Raiol não faz qualquer referência às acusações de Baena de que a ação de Patroni 
era movida por uma grande ambição política, que o levou a propor a Junta Provisória Provincial a 
eleição de um deputado extraordinário as Cortes de Lisboa e a se insinuar como a pessoa talhada 
para o cargo. Ao contrário, atribuiu a sua atuação à um sentimento eminentemente patriótico e 
desinteressado. Embora acuse Baena de tendenciosidade, Raiol repõe os seus juízos de valor sobre a 
ação de Patroni nos acontecimentos ocorridos no Pará, entre 1820 e 1823, mas dando-lhe um novo 
significado. 
Na opinião de Raiol, a desilusão com as intenções recolonizadoras das Cortes de Lisboa em 
relação ao Brasil teriam convencido Patroni “de que nada havia que esperar da metrópole” e a 
“começar a preparar os ânimos de seus conterrâneos para a grande obra da emancipação de sua 
pátria” (1970, p. 19). Através da circular presumivelmente encontrada em poder dos Irmãos 
Vasconcelos, cuja autoria Raiol não tem dúvida ser de Patroni, este concitava os paraenses a imitar 
o exemplo dado por Pernambuco, em 1817, e prometia para breve o seu regresso. Assinala o autor 
20 
 
 
que, de volta a Belém, em janeiro de 1822, Patroni iniciou a publicação de “O Paraense” - o 1º 
jornal editado na Província -, “no qual começou a fazer severa análise à administração dos negócios 
públicos, esforçando-se por desenvolver certas opiniões políticas entre os seus conterrâneos, 
opiniões por certo favoráveis ao regime livre dos povos, mas de alguma forma ameaçadoras do 
sistema até então seguido pelos agentes do poder” (1970, p. 23). 
Em “Adesão do Grão-Pará À Independência e Outros Ensaios”, publicado em 1922, João de 
Palma Muniz, engenheiro e 1º Secretário do Instituto Histórico e Geográfico Paraense, procurou 
resgatar a importância do processo de adesão do Pará à independência dentro do contexto nacional e 
recuperar a verdade histórica dos acontecimentos. Palma Muniz acreditava que o tempo confere ao 
historiador o domínio do passado, pois 
um século depois dos acontecimentos, já icineradas as paixões coevas, extintos 
também os interesses individuais, que sempre atuam para empanar o brilho da 
verdade histórica, pode fazer-se serena narrativa dos fatos e isento comentário 
sobre o que escreveram os autores contemporâneos; e à luz dos documentos 
deixados pelos que intervieram, com amor ou forçosamente,
nos acontecimentos, 
estudá-los com imparcialidade, concatená-los e dar ao futuro historiador dos fatos 
paraenses uma coletânea de documentos, que lhe permitam, sobre o período de 
1820-1823, fazer exposição certa e crítica eficiente (1973, p. 16). 
O autor propõe-se a privilegiar o “fato singular” ou “acontecimento”, pois considerava-o 
como irrepetível e individual, e como agente criador de mudanças. Desse modo, os documentos, 
considerados como espelhos da realidade, se transformam em prova inconteste dos fatos históricos, 
cabendo ao historiador recolhê-los - já que nos documentos tais fatos se encontram de forma 
transparente -, concatená-los numa cadeia linear de causalidade e efeito, para poder apresentá-los 
numa síntese. A “imparcialidade” ou “objetividade” deve se constituir numa postura indispensável 
do historiador, que quanto mais distante estiver dos acontecimentos, mais fiel será na sua narração. 
O estudo de Palma Muniz inicia pelo Movimento de 1º de janeiro de 1821, considerado 
como de fundamental importância no processo que culminou com a adesão do Pará à 
independência, já que teria lançado a semente dos ideais independentistas, despertando a Província 
de séculos de adormecimento. Segundo o autor: 
... não se pode pôr em dúvida que as idéias do sistema constitucional vieram 
desadormentar o povo do Grão-Pará, nas suas classes mais cultas, permitindo 
desenvolverem-se os primeiros sintomas do nativismo, que logo tendeu para a 
conquista dos postos da administração pública, pretendendo a exclusão do 
elemento reinol. 
A semente então lançada germinou e produziu o fruto das idéias de independência, 
em período relativamente curto, logo que a imprensa surgiu em conseqüência das 
primeiras concessões libertárias(1973, p. 29). 
21 
 
 
Na opinião de Palma Muniz, o Movimento de 1º de janeiro de 1821 trazia em si, 
potencialmente, o germe dos ideais emancipacionistas, na medida em que teria despertado a elite 
local para questões prementes, como a do monopólio português dos cargos públicos. O autor 
classifica os participantes do referido movimento em três espécies: os das idéias, os conspiradores e 
os executores. Filippe Patroni foi enquadrado na primeira espécie, pois, apesar de ter sido o 
principal propagador dos ideais vintistas no Pará, não teria tido participação ativa nos atos políticos 
que consumaram a proclamação do constitucionalismo português na Província. Ao se referir ao 
constitucionalismo difundido por Patroni no Pará, Palma Muniz afirma que, num primeiro 
momento, não apresenta teor independentista, pois o projeto de Regeneração por ele concebido para 
a Província estaria subjacente à permanência dos vínculos entre Brasil e Portugal, embora 
reivindicasse igualdade de direitos para os portugueses dos dois hemisférios: “um só rei, uma só 
Constituição para os reinos unidos do Brasil e Portugal” (1973, p. 18). 
Quanto a tão propalada ambição política de Patroni, o autor afirma não ter encontrado na 
documentação nenhuma prova “de haver esse patriota tentado fazer parte do governo interino da 
Província”. Mesmo assim, ao se referir a carta enviada por Patroni ao Senado da Câmara, onde 
sugeriu que “o Senado com a Junta Provisória convoquem as pessoas de caráter, e por uniforme 
vontade se elejam vinte ou trinta eleitores, os quais com madureza e pensada deliberação escolham 
um deputado, cujas qualidades devem ser “Ciência”, “Probidade”, “Religião” e mais de tudo Amor 
a Pátria” - carta que para alguns historiadores evidenciaria as pretensões políticas de seu autor -, 
Muniz não considera “que isso pudesse constituir um crime em um jovem talentoso, cheio de 
esperança e de patriotismo, como o ilustre paraense, muito embora o seu temperamento ardoroso, 
não refreado ainda pela experiência” (1973, p. 64 e 64). 
Observa Muniz que a nomeação de Patroni para a função de Procurador dos interesses do 
Pará junto as Cortes teria se constituído num fato decisivo para a evolução dos acontecimentos no 
sentido da independência. Argumenta que: 
a ida de Patroni para Lisboa concorreu para o apressamento da introdução da 
imprensa em Belém, deu azo ao patriota de verificar quais as idéias predominantes, 
em relação ao Brasil, nas Cortes Portuguesas, permitiu-lhe transformar as suas 
idéias de constitucionalismo subordinado a Portugal em idéias de emancipação 
política e independência; fê-lo regressar à sua pátria com tendências de realizar 
uma revolução separatista (1973, p. 73). 
É nesse sentido que, para Muniz, a atuação política de Patroni adquire relevância, já que 
abriu caminho para o processo que integraria o Pará ao Império Brasileiro. 
Depois de Palma Muniz, outros autores paraenses, sempre ligados ao Instituto Histórico e 
Geográfico Paraense, produziram obras sobre os acontecimentos ocorridos no Pará, entre 1821 e 
22 
 
 
1823, recorrendo a sua obra e as de Baena e Raiol como banco de dados. Embora se propusessem a 
reelaborar as interpretações dos três autores, na verdade repuseram-nas, cristalizando-as como 
verdades históricas. 
Em 1971, Vicente Salles publicou um estudo, intitulado “O Negro no Pará sob o regime da 
escravidão”, em que pretendeu analisar a sociedade escravocrata do Norte do Brasil, a partir da 
presença do negro “como força de trabalho, como fator étnico, como elemento plasmador da cultura 
amazônica; o negro agindo e interagindo neste contexto - suas lutas e vicissitudes”. Em um breve 
capítulo onde analisa a participação dos negros nas lutas sociais ocorridas na Província, Salles fez 
algumas referências à atuação política de Filippe Patroni, procurando demarcar a distância entre sua 
análise e as anteriores. Afirmou que a atuação política de Patroni, ao contrário da linearidade e 
coerência que lhe tem sido atribuída nos trabalhos que precederam o seu, caracterizou-se por 
inúmeras contradições, que acabaram por reduzir a sua importância nos acontecimentos históricos 
dos quais participou. Ao mesmo tempo em que reconhece ter sido Patroni o primeiro a formular os 
princípios ideológicos que nortearam a ação da facção nacionalista provincial, considera sua 
atuação política “desastrosa”, “inconseqüente”, “individualista”, resultado de um oportunismo 
político exacerbado, que o fazia separar o seu pensamento de sua ação. Observemos o que diz 
Salles: 
Patroni, na sua ação política, tinha qualquer coisa de caudilhesco, imperativo e 
arbitrário. A causa era superior à sua personalidade. Assim foi fácil multiplicar os 
sectários. Mas estes logo perceberam seu oportunismo e a liderança escapou do seu 
controle... 
Todavia, o jovem Patroni contribuiu com suas idéias para despertar, em outros, 
uma consciência de luta. Dois fatos, pelos menos, merecem destaque: a carta que 
enviou de Lisboa pelos Irmãos Vasconcelos, um documento realmente 
revolucionário, e a fundação da imprensa no Pará... (1970, p 248). 
A leitura do trabalho de Salles evidencia que sua proposta teórico-metodológica aponta para 
a tentativa de utilização das categorias do materialismo histórico, o que o levou a adotar em sua 
análise a perspectiva da luta de classes. No entanto, o tratamento esquemático dado pelo autor a 
estas categorias, levou-o a repor freqüentemente explicações já recorrentes, como as que dissociam 
idéia e ação, procedimento que transforma as idéias em entidades que, independentemente dos seus 
autores, interferem na realidade histórica. É partindo dessa premissa que Salles afirmou terem as 
idéias de Patroni contribuído para despertar, “em outros”, uma consciência de luta. 
Em “Poder e Independência no Grão-Pará. 1820-1823”, de 1975, Mário Barata retomou o 
tema da adesão do Pará à independência, “considerando que vários aspectos desse período 
permanecem
mal conhecidos, enquanto um impressionante acervo documental continua inédito nos 
arquivos” (1975, p. 13). Assinalou o autor que, escrevendo sobre o período após a publicação das 
23 
 
 
grandes obras de Raiol e Palma Muniz, só lhe resta oferecer à historiografia brasileira “várias novas 
contribuições, com o modesto mas possível passo a frente no conhecimento do passado, em relação 
às obras fundamentais das gerações de cem anos ou de meio século atrás” (1975, p. 14). Isto, na 
opinião do autor, se tornou possível pelo fato de ter, em suas pesquisas, encontrado “documentos 
inéditos importantes para a compreensão do processo histórico estudado ou para a ratificação de 
uma ou outra informação corrente na bibliografia existente ou para estabelecer a verdade entre 
assertivas divergentes, em autores importantes” (1975, p. 13 e 14). Barata justificou a ampla citação 
que faz de textos por ele compilados “diretamente de códices de arquivos”, afirmando que a 
reprodução dos documentos no seu trabalho constituía-se em fator de fundamental importância, 
porque “os documentos originais exprimem o fato histórico ao vivo” (1975, p. 16). 
Barata iniciou seu estudo a partir do marco histórico consagrado pela historiografia - o 
Movimento de 1º de janeiro de 1821. Ao analisar os antecedentes de tal movimento, o autor 
assinalou que antes da chegada de Patroni a Belém, já se tinha conhecimento da Revolução do Porto 
de 1820, sendo isso comprovado pelo Ofício nº 6, datado de 9 de novembro de 1820, do Governo 
de Sucessão que substituiu o Conde de Vila Flor, Capitão-General da Capitania, a Tomás Antonio 
Vilanova Portugal. No ofício, a Junta comunicava que “haverá um mês ou mais ou menos que se 
soube aqui da insurreição de Portugal: era natural fazer esta novidade alguma impressão; assim 
mesmo há algum sintoma que denote o poder ela alterar-se” (1975, p. 68). 
Ao mencionar esse documento, o autor pretendia retificar “tudo o que até hoje os 
historiadores da Independência e da Revolução Constitucionalista no Pará tem afirmado” (1975, p. 
67), pois os mesmos consideram ser Patroni o difusor da notícia. Citando as afirmações feitas por 
Raiol nos “Motins Políticos”, Barata confirmou a relevância do papel desempenhado por Patroni na 
proclamação do Vintismo no Pará, cuja atuação foi um “elemento catalítico” para o desfecho do 
movimento, mas acrescentou que a pregação ideológica feita por ele só produziu grande efeito 
porque já havia na Capitania, antes da sua chegada, “um consenso nas próprias classes dirigentes 
de que o fim do absolutismo e a mudança das instituições - mesmo moderada - se impunham para 
garantir os indispensáveis direitos humanos, tornados conquista das nações civilizadas, desde o 
século XVIII ao menos, e muito mais no albor do XIX” (1975, p. 70). Ao ver as coisas desse modo, 
Barata homogeneizou as “classes dirigentes”, atribuindo-lhes unidade ideológica e de interesses - 
contrárias ao absolutismo e imbuídas de ideais iluministas - esmaecendo possíveis divergências 
políticas internas a essas “classes dirigentes” e conferindo à ação polít ica de Patroni uma natural 
coerência, despojando-a de qualquer conflito ou contradição. O autor conservou a pecha de loucura 
lançada sobre Patroni por Baena, porém com uma leitura muito diversa daquela feita pelo mesmo, 
assinalando que sua atuação política no Pará ocorreu no período em que ele estava “no esplendor de 
24 
 
 
suas qualidades de inteligência, que pouco a pouco infelizmente declinariam pela perturbação 
mental” que o acometeria após 1835. 
Em “Cabanagem. A Revolução Popular da Amazônia”, de 1986, Pasquale Di Paolo se 
propôs a resgatar o sentido eminentemente popular do movimento, recorrendo, para isso, também às 
categorias analíticas do materialismo histórico. Nesse sentido, afirma o autor que: 
as inúmeras agitações urbanas ocorridas no Pará no século XIX, tiveram como 
epílogo a Cabanagem, que, muito mais que um simples motim político, constituiu-
se numa sangrenta luta de classes, já que o caboclo paraense identificou na luta 
armada um meio de reformulação das estruturas básicas da sociedade. A 
Cabanagem é revolução por ter sido um movimento histórico de conquista do 
poder pela base e pelo vértice-não-dominante, caracterizado pela ruptura com os 
padrões vigentes e pela abertura para novos horizontes políticos e sociais (1986, p. 
367). 
Torna-se evidente que o autor quer encontrar no Movimento Cabano os indícios de uma 
tentativa organizada de transformação da sociedade paraense pela base e, por isso, utiliza-se de 
categorias marxistas, como “revolução”, “classe”, deslocando-as no tempo, destruindo sua 
historicidade e procurando moldar a realidade estudada a elas. Desse modo, propõe-se Di Paolo a 
fazer a “história do povo”, rompendo com aqueles que reduzem a história “a relatos - 
excessivamente descritivos - que visam satisfazer a curiosidade ou homenagear determinados 
personagens” (1986, p. 15). Esse tipo de historiografia é elitista, “pois ignora a “outra história”, a 
história do povo” (1986, p. 15). 
Ao analisar as lutas pela independência política e social da Amazônia, Di Paolo se referiu à 
atuação política de Filippe Patroni, classificando-o de patriota idealista e assinalando que as 
“grandes causas políticas de sua vida pública foram: independência, abolição e república” (1986, p. 
89). Além de repor as imagens de independentista e abolicionista desenvolvidas pela historiografia 
por ele denominada descritiva, episódica e laudatória, o autor criou mais um traço para a figura 
histórica de Patroni: a de “republicano”. 
Ângela Maroja Silveira publicou, em 1986, os primeiros resultados de sua pesquisa sobre o 
ideário patroniano, num pequeno ensaio intitulado “O Pensamento Político de Filippe Patroni”, o 
qual tem como objetivo maior a tarefa de tirar o pensamento político de Patroni do ostracismo a que 
foi condenado pela historiografia das idéias políticas que constituíram o arcabouço ideológico 
conformador do Estado Imperial Brasileiro. O trabalho de Silveira pode ser visto como uma 
tentativa de desmontagem do discurso patroniano, procurando compreendê-lo por dentro, embora a 
autora tenha concentrado seu interesse nas obras produzidas por Patroni no período posterior ao que 
estamos tratando, e que contém idéias relacionadas à um outro contexto histórico, em que a 
independência brasileira já era um fato consumado. 
25 
 
 
A propósito do halo de loucura que envolve a figura de Patroni, Silveira atribuiu ao próprio 
personagem parte da responsabilidade, alegando ser ele resultado da utilização em seus discursos de 
simbologias extravagantes, como a do fogo presente num discurso proferido por ele ante as Cortes 
de Lisboa, em abril de 1821. Ao comentar o conteúdo ideológico desse discurso, a autora lhe 
confere “ressonâncias iluministas”, considerando-o como repetidor de “uma tendência da época que 
vemos aflorar no Discurso sobre as Ciências e as Artes de Rousseau ou nas Cartas Inglesas (Sobre 
Descartes e Newton) de Voltaire”, tendência essa relacionada ao exercício do poder político por 
aqueles “que falam em nome da “linguagem da razão” e da “voz da natureza” (1986, p. 06). 
Segundo a autora, a dúvida sobre a integridade mental de Patroni já constava da 
documentação oficial e constituía uma estratégia política das autoridades provinciais para 
desacreditá-lo perante a opinião pública local, a fim de neutralizar o incômodo impacto que suas 
idéias poderiam provocar. O interesse “do grupo que se instalou no poder após o Movimento de 1º 
de janeiro de 1821, de alijar Patroni da vida política na Província” (1986, p. 07), viabilizou-se 
através da sua nomeação para a função de Procurador dos interesses do Pará junto a Regência
do 
Reino, o que teria representado uma sutil deportação. 
Na opinião de Silveira, “não é surpreendente que a figura de Patroni tenha sofrido tantas 
deturpações e seu pensamento ficado tão esquecido. Não é novidade na história da crítica brasileira 
prestigiar-se pensadores que não põem em risco a noção de continuidade histórica. Essa tendência 
que entre nós tenta reduzir a história do Brasil a um processo pacífico, incruento, regado pelo 
espírito político da “conciliação” (que soube inventar na Constituição de 1824 o Poder Moderador), 
só poderia abafar um pensamento assistemático, contraditório e que já traz consigo um anarquismo 
lavar como o de Patroni” (1986, p. 09). 
“O Vintismo no Gão-Pará: Relações entre Imprensa e Poder (1820-1823)”, tese de 
doutorado apresentada na Universidade Nova de Lisboa, em 1986, por Geraldo Mártires Coelho e 
publicada em 1993, com o título Anarquistas, Demagogos e Dissidentes: a imprensa liberal no 
Pará de 1822, constitui-se no trabalho mais recente sobre os fatos políticos ocorridos no Pará, entre 
1820 e 1823. Conservando o Movimento de 1º de janeiro de 1821 como marco inicial do período, o 
autor aponta como proposta do se trabalho: 
o estabelecimento de algumas relações entre a processualidade inerente a esse fato, 
as condições concretas nascidas com as projeções do discurso liberal da 
Regeneração sobre a sociedade local, e o estabelecimento da imprensa no Grão-
Pará como materialização de um dos arquétipos dominantes nesse mesmo discurso 
(1987, p. 91). 
Na opinião do autor, a história da Amazônia, entre 1820 e 1850, insere-se num “processo 
social e político fundado na transição da antiga ordem colonial para as novas condições ditadas pela 
26 
 
 
emancipação política do Brasil, e pela formação do Estado Nacional brasileiro” (1987, p. 92), 
emancipação essa que teria representado uma mudança política, mas não estrutural, dada a 
sobrevivência do compromisso com o passado colonial. 
Foi nesse quadro que Coelho inseriu a atuação política de Filippe Patroni, procurando 
contextualizar suas idéias e evidenciar os fundamentos teóricos que à matizavam. Acrescentando ao 
arcabouço documental sobre o período documentos inéditos encontrados no Arquivo Ultramarino 
de Lisboa, o autor rejeitou as interpretações que atribuem a Patroni ideais independentistas e 
abolicionistas, e vê sua ação como produto da assimilação do discurso vintista e das contradições 
geradas pela tentativa de aplicação dessas idéias, por ele reelaboradas, numa situação colonial. Para 
Coelho, a adesão do Pará ao Vintismo português não resultou apenas do proselitismo político 
desenvolvido por Patroni, mas, também, da conjuntura econômica, política e mental provincial, que 
teria condicionado o reconhecimento pela pequena burguesia local do novo estado de 
constitucionalismo instaurado em Portugal pela Revolução do Porto de 1820. 
Essa conjuntura seria marcada pelo declínio econômico da Província - acelerado, a partir de 
1808, com a vinda da Corte para o Brasil - pela sucessão de governos corruptos e autoritários, e pela 
presença de uma “inteligentsia” conhecedora da ideologia iluminista, na sua expressão vintista. 
Segundo Coelho, “a inteligentsia provincial já tinha conhecimento das matrizes da retórica vintista 
(...) antes mesmo da Capitania reconhecer a instauração de um estado de constitucionalismo em 
Portugal” (1987, p. 102). Acrescentou que, para Patroni, a proclamação do Vintismo no Pará não 
representaria a quebra do vínculo entre a Província e a Metrópole, pois a transposição do projeto 
regenerador português para o Pará só se viabilizaria com a conservação de tal vínculo. 
Concluiu o autor que: 
o discurso que (se) desenvolveu nos meios da pequena burguesia local não 
comportava qualquer forma de “inconfidência” para com o poder metropolitano. 
Em outras palavras, a ação arquitetada por Patroni contribuiu para que o Vintismo 
fosse aceito pelos militantes políticos e pelos comandantes militares do Grão-Pará, 
como procedimento necessário para que a Capitania, integrada por identidade de 
objetivos com o constitucionalismo metropolitano, pudesse “regenerar-se” por 
meio de mudanças que as idéias estruturantes do Vintismo apontavam serem 
necessárias à economia e à sociedade (1987, p. 96). 
Desse modo, embora pontue a distância de seu trabalho em relação aos anteriores, 
considerando que o acesso a uma documentação inédita encontrada no Arquivo Ultramarino 
Português lhe possibilitou uma melhor compreensão dos fatos, Coelho repõe a visão unifacetada do 
processo político analisado, privilegiando uma das possibilidades por ele apontadas e um momento 
da luta político-ideológica, em que uma fração da elite dominante acreditava ser a Regeneração a 
solução para os problemas da Província do Pará. Em outras palavras, apesar de sua análise resgatar 
27 
 
 
a acirrada luta política pelo poder travada na Província, essa luta decorreria do fato de terem as 
frações da elite dominante feito leituras diferentes do discurso vintista. Ou seja, o autor contemplou, 
em sua análise, apenas um dos elementos do intrincado jogo político, no qual diversos projetos 
foram sendo construídos, apontando para múltiplas possibilidades de resultado do processo 
histórico. 
Coelho enfatizou a condição de Patroni de introdutor da imprensa no Pará, com a publicação 
do jornal “O Paraense” (1822), ressaltando que a instalação da imprensa na Província significava a 
transposição do principal arquétipo do discurso vintista - a liberdade de expressão. Na visão de 
Patroni e do próprio autor, a imprensa seria o componente que viabilizaria o seu projeto político de 
assumir o poder no Pará. Sua proposta era de um governo “voltado para a criação de uma 
administração esclarecida pelas “luzes” do tempo, razão pela qual a idéia de (levá-la) para o Grão-
Pará era inerente a esse projeto, e dizia respeito à necessidade de instrumentalizar a execução dessas 
mesmas “luzes”, haja vista a posição que os vintistas conferiam à imprensa como parte necessária 
da própria administração pública” (1987, p. 132 e 133). 
Acrescentou o autor que a introdução da imprensa no Pará também não representou uma 
simples “projeção mecânica do vintismo no norte do Brasil”, nem a “transposição linear das idéias 
de 1820 para aquela Província de Portugal no Brasil”, mas 
o produto organizado da forma pela qual Filippe Patroni assimilou as estruturas 
ideológicas do vintismo, e como buscou materializar essas estruturas através da 
síntese de sua própria processualidade - a palavra, veículo pelo qual a Regeneração 
organizou e conferiu substância ao ideário burguês do progresso, da ciência, da 
liberdade, da tolerância, em síntese, das “luzes” do século XVIII que 
fundamentavam a visão de mundo dos liberais vintistas (1987, p. 165). 
Na opinião de Coelho, o sentido eminentemente crítico imposto por Patroni à linha editorial 
de “O Paraense”, conferindo à imprensa o papel de porta-voz da opinião pública na defesa dos 
interesses da comunidade junto ao poder público, transformou o jornal em um espaço aberto à 
crítica da administração provincial. Isto fazia com que, freqüentemente, aparecessem matérias que 
questionavam a eficiência da gestão colonial na Província, fazendo com que as autoridades locais 
atribuíssem ao seu editor ideais independentistas, vinculando-o ao projeto emancipacionista que se 
desenvolvia nas províncias do Centro-Sul do Brasil. 
As abordagens feitas sobre a participação de Patroni no processo que culminou com a 
independência do Grão-Pará privilegiaram sua atuação à frente do Jornal O Paraense (entre março e 
junho de 1822). Todavia, o momento mais elucidativo de seu desempenho individual aconteceu 
antes, em 1821, quando
participou das Cortes Portuguesas como representante (não oficializado) da 
Junta Provisória de Governo, designada em janeiro de 1821, quando da proclamação da adesão da 
28 
 
 
Capitania ao vintismo. Ali Patroni demonstrou todas suas habilidades políticas, instrumentalizando 
os recursos do discurso liberal no sentido da realização de um ambicioso projeto próprio - o de 
tornar-se Governador do Pará. Foi nesse período que o impetuoso acadêmico descreveu, quando se 
deu conta que seus planos haviam se frustrado, um percurso estonteante: de fiel defensor do 
vintismo, foi, à medida que as Cortes também se tornavam mais conservadoras, com o retorno do 
Rei a Portugal e o afastamento dos grupos liberais mais radicais, admitindo a hipótese de, no limite, 
realizar a autonomia do Pará rompendo com Portugal, por meio de uma revolução da 
independência. 
Embora produzidas em tempos históricos diferentes, o que lhes atribui uma historicidade 
que reflete o contexto em que foram escritas, as obras analisadas criticamente neste trabalho 
repõem, de forma recorrente, a imagem produzida sobre Fillipe Patroni pelos documentos, cujos 
autores, no calor da luta política travada no Grão-Pará na primeira metade do século XIX, foram 
transformando Patroni num independentista, abolicionista e republicano. Essa memória foi 
apropriada pela historiografia aqui comentada e transformada em história. 
Apesar de se constituir no elemento a partir do qual o historiador constrói a sua explicação 
sobre o passado recente ou remoto estudado e de se constituir num campo de luta, em função de 
possibilitar múltiplas instrumentalizações políticas, a memória pode pregar peças aos historiadores, 
caso não estejam atentos ao que ela representa: reminiscências, rastros do passado, com os quais 
devemos estabelecer uma relação de estranhamento, já que foram produzidos em um tempo e em 
um espaço diferentes dos do historiador. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
1. BAENA, A. L. M. Compêndio das Eras do Pará. Belém: Editora da UFPa., 1970. 
2. RAIOL, Domingos A. Motins Políticos. Belém: Editora da UFPa., 1970. 
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Estadual de Cultura, 1973. 
4. SALLES, Vicente. O Negro no Pará. Belém/Rio de Janeiro: UFPA./Fundação Getúlio 
Vargas, 1971. 
5. BARATA, Mário. Poder e Independência no Grão-Pará. 1820-1823. Belém: Conselho 
Estadual de Cultura, 1975. 
6. PAOLO, Pasquale Di. Cabanagem. A Revolução Popular no Pará. Belém: Conselho 
Estadual de Cultura, 1986. 
29 
 
 
7. MAROJA, Ângela, O Pensamento Liberal de Filippe Patroni. Belém: Editora da UFPa., 
1986. 
8. COELHO, Geraldo Mártires. Anarquistas, Demagogos e Dissidentes: a imprensa liberal no 
Pará de 1822. Belém: Cejup, 1993. 
 
 
 
 
 
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A “invisibilização dos caboclos”: o pensamento pseudorracista oitocentista e o 
projeto republicano na Amazônia 
 
Karl Heinz Arenz 
 
Faculdade de História/UFPA 
 
Resumo 
 
 O projeto republicano, no intuito de levar a cabo a modernização do Brasil, com base na lógica 
racional do positivismo, negou aos povos indígenas e às populações rurais de matriz ameríndia uma 
participação ativa. Na Amazônia, região com a maior concentração de índio-descendentes, dentre os 
quais os chamados “caboclos”, mas também cenário de uma das mais extensas expansões 
econômicas no último quartel do século XIX, a marginalização desses últimos foi sistemática. O 
pensamento pseudorracista, então em voga, e a manutenção do princípio tutelar na política 
indigenista pela jovem República contribuíram para este processo de “invisibilização” que o 
presente artigo se propõe a analisar. 
 
Palavras-chave: caboclos, pseudorracismo, integração, República, Amazônia 
 
Abstract: The Republican project, in order to carry out the modernization of Brazil, based on the 
rational logic of positivism, denied the Indigenous peoples and the rural populations of Amerindian 
origin an active participation. In the Amazon, region with the highest concentration of Indian 
descendants, among them those known as Caboclos, but also scenario with one of the most 
extensive economic expansions in the last quarter of the nineteenth century, the marginalization of 
the latter was systematic. Pseudo-racist thought, then in vogue, and the maintenance of the tutelary 
principle in indigenous affairs by the young Republic contributed to this process of 
“invisibilization” that the present article intends to analyze. 
 
Key words: Caboclos, pseudo-racism, Integration, Republic, Amazon region 
 
Resumen: El proyecto republicano, con el fin de llevar a cabo la modernización de Brasil, basado 
en la lógica racional del positivismo, negó a los pueblos indígenas y a las poblaciones rurales de 
matriz amerindia una participación activa. La Amazonia, región con la mayor concentración de 
indio-descendientes, entre ellos los que son conocidos como caboclos, pero también área de una de 
las más largas expansiones económicas en el último cuarto del siglo XIX, la marginación de estos 
últimos fue sistemática. El pensamiento pseudo-racista, entonces muy difundido, y el 
mantenimiento del principio de tutela en la política indígena de la joven República contribuyeron a 
este proceso de “invisibilização” que este artículo tiene como objetivo de analizar. 
 
Palabras clave: caboclos, pseudo-racismo, integración, República Amazonía 
 
Introdução 
O projeto republicano que se articulou no Brasil, desde o início da década de 1870, não 
previu uma modificação ou revogação das medidas anteriores referentes às populações indígenas do 
país. Ao contrário, manteve-se uma política de confinamento, integração e assimilação, parecida 
àquela que já havia sido praticada nos tempos colonial e imperial. Como não bastasse, a lógica 
inerente à filosofia positivista, base teórica do projeto republicano, e a aplicação do evolucionismo 
32 
 
 
de Darwin ao pensamento social deram às teorias racistas, amplamente difundidas na segunda 
metade do século XIX, um status “científico”. A reflexão de muitos intelectuais e a fundação de 
novas instituições, como os museus de História Natural ou as escolas de Medicina e Direito, 
contribuíram, para divulgar estas ideias no Brasil (Schwarcz, 1993; Cunha, 1992). Assim, o 
pensamento pseudorracista do médico Raimundo Nina Rodrigues é produto desta conjuntura 
político-intelectual. Telmo Renato da Silva Araújo (2007, p. 110) observa a respeito: 
 
Com a proclamação da República (1889), no Brasil, nascem novos paradigmas para a construção da 
identidade nacional. Seus intelectuais tentaram forjar, desvendar e qualificar esses paradigmas. É 
nesse contexto que a influência de Nina Rodrigues se fez presente e que se concretizou na formação 
de uma “escola”, na qual se encontram aqueles que compartilharam a idéia de que o conhecimento 
do corpo humano e das formas que o constituem eram fundamentais para entender as “raças”. 
 
No que diz respeito aos indígenas e às populações tradicionais de matriz ameríndia daquele 
tempo, manteve-se a divisão em grupos e indivíduos, uns supostamente em vias de assimilação e 
outros tidos como incivilizáveis. O “grau de civilização” foi, portanto, o critério fundamental para 
medir a suposta capacidade de integração como sujeito dócil e útil na sociedade nacional. Na 
verdade, durante muitos anos, o fundadores e teóricos da República deram relativamente pouca 
atenção à “questão indígena”. Só
no contexto de novas expansões para os vastos interiores do país, 
como aquela impulsionada pela crescente produção da borracha na Amazônia, no final do século 
XIX, surgiram novas discussões acerca de uma política pública em relação aos povos nativos da 
terra. Os debates encontraram um certo fecho com a fundação do Serviço de Proteção ao Índio, em 
1910, mas a momento algum questionou-se o princípio do antigo regime tutelar (Lima, 1992, p. 
155-156). Este, implantado desde os primórdios da colonização, encontrou uma continuidade 
enquanto “paradoxo ideológico”, conjugando práticas protetivas com mecanismos de repressão e 
dominação (Oliveira, 2006, p. 117). A mesma ambiguidade marcou, embora não institucionalizada 
como no caso dos índios, a relação das autoridades e elites com as chamadas populações 
tradicionais, muitas vezes, compostas por mestiços. 
No que diz respeito à Amazônia, a região brasileira com a maior concentração de povos 
indígenas e grupos de matriz ameríndia, a questão da integração destas populações nativas ao 
projeto colonial e, posterior, nacional se colocou como uma questão vital. No entanto, a Cabanagem 
e as campanhas de retaliação que a seguiram (1835-1840) puseram fim aos esforços 
integracionistas, engendrando, antes, um crescente “estranhamento” entre a minoritária elite branca 
e a grande massa de índio-descendentes, além de outros grupos étnicos marginalizados. De fato, 
Magda Ricci (2010, p. 159) observa, referindo-se aos impactos do movimento revolucionário nos 
33 
 
 
interiores do Pará, que os cabanos “deixaram trás de si uma Amazônia cabocla que exaltava o poder 
das novas lideranças [populares]”. Anos após as lutas sangrentas, nem sequer uma nova conjuntura 
econômica – a do boom da borracha –, acompanhado pela chegada maciça da mão de obra 
nordestina, entre 1870 e 1910, conseguiu reaproximar as populações tradicionais que ficaram ainda 
mais marginalizadas. 
Com base nessas observações, visa-se, no presente artigo, analisar o processo de 
“invisibilização” da população ribeirinha de origem ameríndia, genericamente conhecida como 
“caboclos”. Em um primeiro momento, procura-se elucidar os diferentes termos que surgiram para 
designar os indígenas “atrelados”, durante os séculos XVII e XVIII, ao projeto colonial mediante 
uma rotina de catequese e trabalho compulsório. Em seguida, já referente ao século XIX, enfoca-se 
um texto de José Veríssimo sobre as populações indígenas e mestiças da Amazônia, redigido e 
publicado às vésperas da Proclamação da República, na perspectiva pseudorracista então corrente. 
Enfim, num terceiro momento, atenta-se para o desenvolvimento posterior da situação social dos 
ribeirinhos amazônicos, sistematizando as reflexões a seu respeito nas diferentes fases da história da 
República. 
 
Caboclos e índios cristãos no período colonial 
 
Antropólogos, sociólogos, linguistas e historiadores não fornecem uma definição consentida 
do termo “caboclo” enquanto etnônimo. Sobretudo, seu uso variado em contextos específicos, além 
do teor discriminatório, estereotipado ou meramente polêmico que lhe é inerente dificultam 
qualquer unanimidade. A mesma estende se também à etimologia do termo. O economista 
amazonense Samuel Isaac Benchimol (2009, p. 25) deriva-o, com referência ao geógrafo e 
historiador baiano Theodoro Fernandes Sampaio (1855-1937), do vocábulo tupi caa-boc, que 
significa “tirado ou proveniente do mato”, destacando, assim, o habitat supostamente natural como 
critério primordial para identificar o morador tradicional do interior da Amazônia. Não obstante, o 
emprego do termo suscita polêmicas, tanto entre as populações concernidas quanto entre os 
cientistas que as estudam. 
O antropólogo franco-brasileiro Florent Kohler (2009, p. 43-45) constata que, enquanto 
“caboclo” é corriqueiramente aplicado “na intimidade”, a expressão mais recente “ribeirinho” 
representa uma “designação cômoda”, por ser isenta de qualquer conotação depreciativa. Também 
sua colega brasileira Deborah de Magalhães Lima (1999, p. 29) sublinha que a denominação 
“caboclo” não condiz mais com as formas como “‘eles’ mesmos se apresentam/representam”, mas 
ela admite que termos novas, como “trabalhadores rurais”, “ribeirinhos” ou “pequenos 
agricultores”, também contêm “algumas incongruências”. 
34 
 
 
Mas, apesar da falta de marcadores de identidade claramente definidos e o uso de diversas 
alcunhas no decorrer da história, não se contesta o fato de que o termo “caboclo” está diretamente 
associado às populações ribeirinhas que tradicionalmente habitam as várzeas do rio Amazonas e de 
seus afluentes, embora, no decorrer das últimas décadas, um grande número de integrantes destas 
comunidades rurais tenha se instalado nas áreas periféricas das cidades. Esses deslocamentos 
recentes resultam da rápida urbanização e de seus impactos no mundo rural. Embora constituam, 
numericamente, uma população considerável, os ribeirinhos de matriz ameríndia encontram-se, nas 
estatísticas demográficas oficiais subsumidos na categoria “pardos”. Esta opacidade oficial se deve 
também ao fato que, durante muito tempo, eles foram percebidos pela sociedade circundante como 
indivíduos “incompletos”, tanto em termos étnicos, pois tidos como índios não genuínos, quanto 
políticos, porque vistos como pessoas deficitariamente “civilizadas” ou integradas. Na definição de 
seu status social, prevalecem até hoje fatores ecológico-culturais que os imaginam quase 
exclusivamente como moradores das beiradas e várzeas, vivendo em pequenos núcleos isolados e 
estagnados em decorrência de um sistema relacional endogâmico e um regime econômico de 
autarquia comunitária (Nugent, 1993; Harris, 1996). 
Historicamente, a termo “caboclo” é documentado desde meados do século XVIII. O jesuíta 
alemão Johannes Joseph Breuer, missionário residente na aldeia de Ibiapaba, escreve, em 9 de 
dezembro de 1747, isto é, na fase final dos aldeamentos religiosos, que os índios “brasilianos” 
poderiam ser divididos em duas categorias: “em os Cabocullos ou Tabajaras, o que significa: 
Senhores da Aldeia, e em Tapuyas, o que significa Bárbaros”. Na mesma missiva, o padre fornece 
um indício de que os dois grupos já se conceberam como diferentes, pois “se misturam raramente, 
exceto na minha missão” (apud Stöcklein et al., 1761, p. 30-31). Conforme esta informação, os 
próprios índios teriam incorporado a diferenciação entre índio “manso” e “bravo” estabelecida pelos 
colonizadores. 
Pouco depois, a introdução das reformas sociopolíticas e econômicas do Marquês de Pombal 
constitui um novo contexto no qual o termo é citado. O alvará régio de 4 de abril de 1755 o divulga, 
diferente da carta inaciana, no sentido de “mestiço”. Esta lei que decretou a igualdade de todos os 
indígenas do Estado do Grão-Pará e Maranhão em relação aos vassalos reinóis, proíbe que os filhos 
de pais brancos e mães índias, como também os seus descendentes, fossem chamados “com o nome 
de caboucolos, ou outro similhante” (apud Varnhagen, 1857 p. 243). A interdição categórica de 
termos depreciativos fez parte do esforço da Coroa de emancipar o grande contingente de 
trabalhadores indígenas amazônicos já incorporados no intuito de transformá-los progressivamente 
em colonos (Souza Jr., 1993). 
De fato, a rotina cotidiana de catequese rudimentar e trabalho compulsório que havia sido 
instaurada nos aldeamentos sob administração dos missionários (Arenz, 2014), não sofreu 
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modificações significativas com a aplicação do Diretório dos Índios, promulgado em 3 de maio de 
1757. No entanto, esta lei-quadro ordenou expressamente tirar dos índios aldeados a “lastimosa 
rusticidade, e ignorancia, [...], propondo-lhes não só os meios da

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