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O menino que conheceu Jesus

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CAPÍTULO 1 
A VOZ NA ESCURIDÁO
A principio, eu nao conseguia ver absolutam ente 
nada. Estava ciente apenas de que estava sozinha em urna 
escuridáo táo absoluta que eu pensava que ia me sufocar. 
Entáo, como se fosse um a corda de salvam ento chegando 
de algum lugar além da profunda escuridáo da noite, uma 
voz fam iliar foi ao encontro dos meus ouvidos - um a voz 
confortadora, de alguém que eu havia am ado e confiado 
em minha infáncia. Era a voz de Segatashya, que, em R u­
anda, m inha térra natal na África, era conhecido como “o 
m enino que conheceu Jesús” .
A voz suave de Segatashya dirigiu-se até mim através 
do escuro abism o, com o que flutuando sobre uma brisa 
calma. Aquela voz, indecifrável num prim eiro m om ento, 
lentamente foi tom ando form a em palavras, sussurrando 
delicadamente: “O Paraíso está esperando por todos nós 
quando chegar a nossa hora de partir deste m undo, mas 
apenas se nossos coragóes estiverem limpos e pu ros” .
Repentinam ente, eu me dei conta de que estava dor- 
m indo e no meio de um sonho, porque Segatashya havia 
sido assassinado m uitos anos antes. Ele foi um a das mais 
de um m ilháo de vítimas inocentes que foram m assacra- 
das durante o horrível genocidio que ocorreu em R uanda 
em 1994. E aquela noite em que me deitei para dorm ir 
era em m eados de novem bro de 2010... Portanto , perce- 
bi que estava sonhando. M as eu tam bém percebi que, se 
aquilo era um sonho, ele era diferente de todos os outros 
que tive antes. O que eu estava sentindo era vivido, real e 
vital como qualquer coisa que eu já tinha experim entado 
ilurante m inhas horas de vigilia.
A voz se dirigiu a mim novamente: “Jesús diz que de- 
vemos p reparar nossos cora^óes para o Fim dos Dias.
l odos nós vamos m orrer um dia - nós nao devemos vi- 
ver nossas vidas com o se náo soubéssemos que o nosso
O MENINO QUE CONHECEU JESUS
tem po nesta Terra chegará ao fim. O próprio m undo irá 
acabar, e este dia está se aproxim ando rápidam ente. Nós 
devemos nos arrepender de todos os nossos pecados antes 
que seja tarde. N ós temos que pedir perdáo por nossas 
transgressóes e encontrar misericordia em nossos cora^óes 
para perdoar aqueles que nos ofenderam. Nós devemos 
purificar nossos cora^óes com o am or de Deus e limpar 
nossos espíritos vivendo uma vida repleta de am or e cari- 
dade. Nós devemos preparar nossas almas para o Dia do 
Julgam ento. O retorno de Cristo está próxim o e os por- 
tóes do Céu seráo abertos para nós somente se o Senhor 
nos considerar merecedores de entrar em seu R eino” .
As palavras foram se to rnando cada vez mais e mais 
familiares a mim e eu me dei conta de que nao somente 
reconhecia aquela voz com o tam bém reconhecia aquela 
mensagem específica. Eu já tinha ouvido Segatashya p ro ­
nunciar exatam ente as mesmas admoesta^óes quando era 
garota.
Em meu sonho, eu estava flutuando sobre o chao 
com o se meu cora^áo me puxasse em dire^áo á voz, a 
qual me tirou da escuridáo e me levou para um círculo 
de luz dourada. Dezenas de pessoas estavam reunidas no 
centro daquele agrupam ento de luz, todas ouvindo aten­
tam ente a um adolescente que estava discursando para 
elas com intensidade e urgencia. O jovem estava senta­
do em um longo banco de m adeira, com sua audiencia 
am ontoando-se ao redor dele. Ele estava virado de costas 
para mim e, por isso, eu náo podia ver seu rosto, mas eu 
estava certa de que ele era Segatashya.
A prim eira vez em que o ouvi falar eu tinha 12 anos 
de idade e nada no m undo irá apagar de m inha m em oria 
o rico tom de sua voz ou o conteúdo m iraculoso de suas 
mensagens. Em verdade, tenho certeza, sem a m enor dú- 
vida, de que qualquer pessoa que já tenha ouvido Sega­
tashya falar sente-se da mesma form a - uma vez que suas 
palavras tenham tocado o seu cora^áo, elas faráo parte 
dele para sempre.
A VOZ NA ESCURIDAO
Para aqueles que nao estao fam iliarizados com o meu 
mais recente livro, O ur Lady o f Kibeho: M ary Speaks to 
the W orld from the H eart o f A frica,r eu devo explicar 
que Segatashya era um m em bro de um grupo de jovens 
visionários que viram apari^óes da Virgem M aria - e, no 
caso de Segatashya, de Jesús Cristo - na distante aldeia de 
Kibeho, em Ruanda, durante a década de 1980.
N aquela época, havia dezenas de visionários que afir- 
mavam ter visto apari^óes divinas, mas em O ur Lady o f 
Kibeho eu foquei naqueles oito que foram considerados 
os mais confiáveis pela Igreja Católica, bem com o pelos 
milhares de peregrinos que acorreram a Kibeho em busca 
de in sp ira d o espiritual.
Essencialmente, os visionários transm itiram mensa- 
gens de amor, instruindo-nos sobre com o viver vidas me- 
Ihores fazendo a vontade de Deus. Eles disseram que se 
seguíssemos os inspiradores avisos daquelas mensagens 
o nosso m undo se to rnaria um lugar mais pacífico e nos- 
sas alm as poderiam estar mais bem preparadas para o 
dia em que, no fim de nossas vidas, encontrarem os Jesús 
e seremos cham ados a prestar contas pelo nosso tem po 
na Terra.
As mensagens vindas do Céu entregues em Kibeho 
eram , como M aria e Jesús deixaram claro, de grande e 
¡mediato interesse para todas as pessoas no m undo intei- 
ro. Elas continham avisos para Ruanda, para o nosso p la­
neta e para nossas almas individuáis - avisos sobre coisas 
terríveis que podem ocorrer conosco, com o individuos e 
como espécie, se nao abragarm os o puro e am oroso esti­
lo de vida que M aria e Jesús nos oferecem. Com o Jesús 
falou para Segatashya, o m undo está em péssimas condi- 
góes e dias terríveis nos aguardam - mas se nós rezarm os 
de cora^áo e sinceramente fizermos bons atos, nós encon­
trarem os paz neste m undo e no próxim o, nao im porta o 
quanto as coisas fiquem desesperadoras.
' “Nossa Senhora de Kibeho: M aria fala ao m undo a partir do coragao da 
África”; ainda sem pub licad o no Brasil.
21
O MENINO QUE CONHECEU JESUS
Eu tinha 11 anos de idade quando come^aram a surgir 
as aparigóes em Kibeho. Os m aravilhosos e místicos en- 
contros experim entados pelos visionários e as mensagens 
milagrosas que eles receberam do Céu e transm itiram a 
nós m oldaram m inha vida de tantas formas que eu nao 
saberia dizer. E nenhum visionàrio foi mais influente para 
a m inha jovem mente, para a m inha florescente fé e meu 
crescimento espiritual a longo prazo, do que Segatashya. 
Sua historia pessoal única e sua incrível interagao com 
Jesus me cativaram quando era crianza e me m antiveram 
alegremente fascinada desde entáo. Tenho certeza de que 
se voce o conhecesse com o eu o conheci, vocé se sentiría 
exatam ente da mesma form a.
Em bora as aparigóes de Kibeho ainda sejam bastante 
desconhecidas em m uitas partes do m undo (mas eu estou 
trabalhando duro para m udar isso), os eventos m ilagro­
sos que ocorreram lá irradiaram pelas fazendas, florestas 
e selvas de R uanda, eletrizando meu país natal com tan to 
poder e intensidade que os padres, bispos e arcebispos de 
lá foram forjados a se levantar e ficar a par do que ocor- 
ria. E como poderiam nao notar? Incontáveis ruandeses 
viajaram a pé por centenas de quilóm etros, m uitas vezes 
sem comida e desabrigados, apenas para ter um vislum­
bre dos visionários de Kibeho e tom ar parte dos milagres 
que aconteciam lá.
Autoridades da Igreja Católica iniciaram urna rigorosa 
investigado a respeito da origem e da natureza das apa- 
rigòes, urna investigado que iria analisar e dissecar to ­
dos os aspectos das vidas dos visionários. Urna Comissáo 
de Inquérito foi estabelecida e o Vaticano tom ou parte 
da investigado sobre os surpreendentes acontecim entos 
sobrenaturais que ocorreram em urna das mais obscuras 
regiòes da mais profunda Africa.
A investigado , liderada por especialistas da Igreja - in- 
cluindo teólogos de renom e, cientistas, médicos epsiquia­
tras - , durou um total de duas décadas. E, tao m arcantes 
quanto as apari^òes da Virgem M aria e de Jesús em si
22
A VOZ NA ESCURÏDÂO
mesmas, as conclusòes da Comissâo de Inquérito apôs 20 
anos de análise foram quase igualmente milagrosas.
Em novem bro de 2001, o Vaticano, em um decreto ex­
trem am ente raro , aprovou as apariçôes da Virgem M aria 
presenciadas por très visionárias de Kibeho entre 1981 
e 1989. Essas très visionárias - Alphonsine, Anathalie e 
M arie-Claire - eram estudantes adolescentes do Colégio 
de Kibeho e foram as prim eiras a ver as apariçôes na re- 
giâo.2 A Igreja apoiou oficialmente o culto no “Santuàrio 
de Nossa Senhora das D ores” , to rnando Kibeho o único 
local de apariçôes aprovado em toda a África. O pequeño 
santuàrio da escola da aldeia está lenta mas gradualm en­
te se transform ando em um destino de peregrinaçâo favo­
rito dos fiéis de todas as partes do m undo.
Eu estava mais que anim ada com os veredictos da 
Igreja. O fato de que as mensagens de M aria e seu Filho 
estavam chegando ao m undo, apesar de terem sido 
entregues em um país táo rem oto - e em um lugar ferido 
e corroído pela mais maligna form a de assassinatos em 
massa - , provaram a mim que nao existem fronteiras para 
o poder de Deus e que o seu am or irá passar por todos os 
obstáculos.
O endosso do Vaticano ao Santuàrio de Nossa Senho­
ra me inspirou tan to que eu sentei e escrevi O ur Lady o f 
Kibeho, que foi publicado em 2008. Eu queria que todo o 
m undo conhecesse os visionários de Kibeho e suas m en­
sagens de amor, esperança e paz. Eu queria com partilhar
2Alphonsine M umureke, atualmente religiosa da Ordem de Santa Clara; 
Anathalie M ukam azim paka, vive atualmente junto ao Santuàrio de Kibeho; 
Marie-Claire M ukangango (1961-1994), assassinada durante o genocidio. 
Existiam outros visionários que ganharam destaque durante este período, mas 
cujas visoes nao foram aprovadas pelo Decreto Diocesano: Agnes Kamagaju, 
Stephanie M ukam urenzi, Emmanuel Segatashya e Vestine Saiima. O Decreto 
de 29 de junho de 2001 da diocese do Gikongoro, emitido após Consulta da 
Santa Sé e da Conferencia Episcopal dos Bispos de Ruanda, aprovou apenas 
as apari^òes da Santissima Virgem e nao as de Nosso Senhor Jesús Cristo em 
Kibeho. Estas estavam principalmente ligadas a Emmanuel Segatashya, que, 
segundo o documento da diocese de Gikongoro, pouco antes de sua morte, 
em 1994, chegou a sofrer de doencjas mentáis (cf. http://kibeho-sanctuary.com/ 
index.php/en/apparitions/approval).
23
O MENINO QUE CONHECEU JESUS
com todo o m undo o meu am or pela Virgem M aria. E 
quería que todo o m undo viajasse para R uanda e visitas­
se o inesquecível santuàrio de Nossa Senhora, para que 
todos pudessem experim entar por si próprios, naquele 
lugar santo, o poder e a pureza do am or da M ae de Jesús.
M eus desejos se tornaram realidade de m uitas formas. 
Até agora o meu livro já foi traduzido para mais de dez 
idiom as e, se Deus quiser, um dia será lido no m undo 
todo. Centenas de pessoas que o leram fizeram a trans­
form adora jornada para o Santuàrio de Kibeho. M uitos 
deles obtiveram curas milagrosas - com o a de um garo- 
tinho que eu conhe^o que foi curado de cáncer nos ossos 
após sua avó ter recitado o Rosàrio das Sete Dores na ca- 
pela em que a Virgem M aria apareceu algumas vezes para 
os visionários.’ Eu acom panhei pessoalmente dezenas de 
amigos em p e reg rin ad o dos Estados Unidos em d ire d o 
a R uanda e vi em prim eira m áo m uitas tra n s fo rm a re s 
de c o ra d o e alma ocorrendo no aben^oado solo onde a 
Virgem M aria e Jesús apareceram aos jovens visionários.
Apesar disso, m isturado á minha grande alegria de ter 
dado ao m undo um vislumbre de Kibeho, urna introdu- 
d o aos visionários e urna am ostra das m uitas mensagens 
que foram reveladas por eles, havia um sentim ento de que 
eu nao tinha feito justi^a total a urna historia particular 
de Kibeho que, por variados motivos, era a que eu mais 
queria ter contado: a historia de Segatashya.
3 A Ordem dos Servos de M aria apresenta urna especial devogào às Dores 
de M aria Santissima. Esta oraijào tradicional é especialmente vinculada ao 
Santuàrio de Kibeho. Trata-se de urna Coroa, ou Rosàrio, de sete mistérios 
para cada Dor de M aria Santissima, cada um com sete Ave M arias. As Dores 
de M aria Santissima, conforme antiqiiissimo costume, sào: 1. A dor que sentiu 
o seu C orafào Virginal com a profecia de Simeào; 2. A angùstia que sentiu 
ao ter que fugir com Sao José e seu Menino-Deus para o Egito; 3. A aflifào 
que Eia sentiu quando perdeu por très dias o seu Tesouro: Jesus; 4. A tristeza 
mortal que Eia sofreu ao ver seu Filho carregando a Cruz por nossos pecados;
5. O martirio do seu Cora^ào generoso, assistindo à crucifixào do Salvador;
6. A ferida que sofreu seu C o ra n o , ao ver seu Filho deposto da Cruz; 7. O 
desconsolo e desamparo que Eia sofreu no sepultamento do Redentor.
24
A VOZ NA ESCURIDÀO
Em bora eu tenha mencionado e descrito cada um dos oito 
principáis visionários de Kibeho (incluindo Segatashya) em 
O ur Lady o f Kibeho, meu foco principal nesse livro estava 
quase que totalmente voltado para as tres visionárias reco- 
nhecidas pela Igreja e para as aparigòes da Virgem M aria 
vistas por elas. Eu ten ho muito, muito respeito pela Igreja 
Católica e o Vaticano e nao queria causar problemas ou 
aborrecer os seus representantes em Ruanda, nem os seus 
representantes em Roma, entrando em detalhes a respeito 
das visòes e mensagens que a Igreja ainda nao aprovou ofi­
cialmente. O Vaticano é muito cauteloso quando se trata 
de reconhecer qualquer evento que é tido por alguns como 
milagroso. Qualquer tipo de evento remotamente conside­
rado sobrenatural é metodicamente analisado por especia­
listas da Igreja antes que um veredicto seja pronunciado a 
respeito de sua validade ou falsidade.
Entre as principáis p re o c u p a re s e apreensóes do Va­
ticano envolvendo o tem a dos milagres e apari^óes, está o 
altam ente justificável receio de que fenómenos deste tipo 
possam ser obra de demonios ou do pròprio diabo - o 
que á prim eira vista poderia parecer um milagre santo 
seria, na verdade, um ardil satànico para levar pessoas 
ingenuas á escuridáo, ao pecado e á dana^áo.4
N a verdade, como as visòes de Segatashya nao ti- 
nham sido im ediatamente incluidas no reconhecimento 
oficial das apari^óes de Kibeho por parte da Igreja, em 
um prim eiro m om ento eu fiquei receosa de que alguém no 
Vaticano ou na hierarquia da Igreja ruandesa tivesse sus- 
peitas com relagáo a Segatashya e suas mensagens. Mas, 
louvado seja Deus, foi-me assegurado de que o completo 
oposto era verdadeiro. De fato, todo m em bro da Igreja 
que era familiarizado com as aparigóes de Kibeho tinha 
Segatashya na mais alta estima, tan to como pessoa quanto 
como visionàrio. Várias das autoridades do alto escaláo 
da Igreja em Ruanda me garantiram pessoalmente que to ­
das as visòes e mensagens recebidas por Segatashya foram
■'Veja-se a apresenta^ao sobre as re v e la re s particulares na página 9.
25
O MENINO QUE CONHECEU JESUS
minuciosamente investigadas e reinvestigadas. Ao firn, nin- 
guém tinha a menor dúvida a respeito tanto da sinceridade 
do garoto quanto da autenticidade dos seus encontros com 
Jesus ou Maria.
Q uando eu expus m inhas p re o c u p a re s a um dos prin­
cipáis investigadores das apari^óes m andados pela Igreja, 
ele me disse: “ Immaculée, todo m undo na Comissáo de 
Inquérito que testem unhou as visóes de Segatashya, con- 
duziu testes médicos nele ou exam inou seu estado mental 
e m oral, estava absolutam ente convencido de que ele fa- 
lou tan to com Jesus quanto com M aria e que suas mensa- 
gens vinham diretam ente do Céu” .
“M ais im portante” , ele continuou, “cadaurna das 
mensagens entregues por Segatashya e tudo o mais que 
ele disse durante sua missào de pregar a palavra de Deus 
apoiava e complementava as doutrinas de nossa fé e nunca 
contradisse qualquer coisa da Biblia. Essas sao condi^òes 
críticas que devem ser cumpridas quando a Igreja inves­
tiga acontecimentos sobrenaturais e considera reconhecer 
um visionàrio ou urna aparigào... E Segatashya cumpriu 
tais condirò es com louvor.”5
“ Se eie cumpriu todos os requisitos para obter reco- 
nhecim ento oficial da Igreja, entào por que eie nào està 
entre os visionários aprovados?” , perguntei.
“Voce deve ter paciencia, m inba jovem ”, respondeu 
eie. “ Geralmente, leva séculos para a Igreja reconhecer um 
milagre. Os que estào no com ando da investigarlo sobre 
Kibeho estào come^ando a aprovar os prim eiros visioná­
rios que tiveram visòes da Virgem M aria... Isso dem orou 
apenas 20 anos, o que é um pequeño milagre em si mes- 
mo! A Igreja está ai há 2 mil anos e simplesmente nào se 
apressa em tirar conclusóes. Tenha paciencia, Immaculée 
- todas as evidencias que eu vi me dáo a certeza de que a 
Igreja vai acabar aprovando as visóes de Segatashya e as
'E ra verdade, alguns trechos contidos nos capítulos posteriores deixam 
m argem á dúvida, podendo levar a in te rp re ta res inoportunas. Tais trechos 
estao acom panhados por notas de rodapé que se reportam diretamente aos 
docum entos da Igreja referentes a cada um dos casos específicos.
26
A VOZ NA ESCURIDÀO
mcnsagens de Jesus... E dentro de nào m uito tem po eie 
lumbém será oficialmente reconhecido como um verda- 
ilciro visionàrio pelo Vaticano.”6
Dito tudo isto, eu devo salientar, porém , que até agora 
as mensagens de Segatashya ainda nao foram aprovadas 
pela Igreja. M as eu estou escrevendo sobre suas incrí- 
veis visóes como um a testem unha ocular, um a verdadei- 
ra crente, e com um profundo sentim ento de obriga^áo 
pessoal em com partilhar a historia de Segatashya com a 
hum anidade.
Ter conversado com tan tos representantes eminentes 
da Igreja me deixou mais confortável para passar adiante 
as mensagens dele, a fim de que os leitores possam form ar 
sua pròpria opiniào a respeito do assunto. Estou confian­
te de que um dia a Igreja irà aprovar as visòes de Sega­
tashya - e toda a sua historia e o conteúdo de suas m uitas 
mensagens iráo a público em sua totalidade. Este livro é 
um prim eiro passo nesta diregào, e saber que outras pes- 
soas logo estaráo lendo a historia de Segatashya faz com 
que meu coragào pule de alegria.
Em m inhas viagens eu encontrei m uitas pessoas que 
leram e foram tocadas por O ur Lady o f Kibebo e fico 
tranqüila em saber que fiz a m inha parte em apresentar 
ao m undo os milagres e mensagens das aparigòes de Ki- 
beho. M as parecia que Segatashya nao estava tào con­
tente quanto eu... E, dois anos após a p u b lic a d o do meu 
livro, eie decidiu me visitar em sonho para me m ostrar 
como eXatamente eie estava se sentindo.
N aquele sonho que tive há tan tos meses, eu via, à 
distancia, que Segatashya continuava a transm itir m en­
sagens de Jesus para um nùm ero crescente de especta­
dores que se juntava ao seu redor. Sua voz baixa e suave 
era robustecida por sua conhecida seriedade. Eie falava 
apressadam ente, com o se sua m ente estivesse a ponto de 
explodir por ter m uito a dizer em tào pouco tem po.
6 Par a Diocese de G ikongoro, o Decreto de 29 de junho de 2001 é definitivo, 
nao estando em questáo iniciar outros procedimentos esperando obter uma 
eventual aprovagao de outros videntes.
O MENINO QUE CONHECEU JESUS
Por um m om ento, eu perm anecí na borda do círculo 
de luz e silenciosamente fiquei ouvindo-o falar, com meu 
cora^áo contente por ouvir sua voz mais um a vez. Em 
seguida caminhei para dentro da luz e me movi em sua 
direm o, abrindo cam inho na m ultidào até chegar ao seu 
banco e me sentar ao seu lado.
Eie ainda estava de costas para mim, mas eu sentía que 
eie estava ciente da m inha presenta. Nós havíam os nos 
encontrado m uitos anos antes e eu sabia que ele iria me 
reconhecer na hora em que percebesse que eu estava lá 
sentada. Eu tam bém sabia que, em bora ele estivesse m o­
rando no Céu há m uitos anos, ele devia estar nao só sa- 
bendo, mas tam bém contente por eu ter escrito um livro 
sobre Kibeho. C ontudo, por alguma razáo Segatashya se 
m antinha virado de costas para mim e nào fazia men^áo 
de se virar para me cumprimentar. Tive uma desagradável 
impressào de que ele nào quería olhar para mim.
Finalm ente, nào consegui mais ficar esperando. Co- 
loquei m inha m ào em seu om bro e suavemente fiz com 
que ele se virasse. “Segatashya!” , gritei. “O que voce está 
fazendo aqui? Voce está m orto! Por que voce voltou para 
esta vida? Voce nào percebeu que nao pode conversar 
com essas pessoas? Q uando elas perceberem que voce 
está m orto, elas ficaráo aterrorizadas. Elas correrào para 
longe e ficaráo m uito assustadas para ouvir o que voce 
está falando!”
M eu cora^ào gelou quando vi a expressáo em seu ros­
to. Este garoto que eu tan to amei - e o qual, quando es­
tava vivo, parecía ter sempre um sorriso nos lábios - nào 
parecía estar nem um pouco feliz em me ver.
“Voce quer saber por que estou aqui?” , perguntou ele, 
aborrecido. “A razáo é simples: se ninguém está disposto 
a espalhar m inhas mensagens pelo m undo, eu devo achar 
um jeito de fazer isso eu mesmo.”
Engoli em seco. M eu estóm ago em brulhou quando me 
dei conta de que Segatashya estava, de fato, com pleta­
mente ciente a respeito do livro que escrevi sobre Kibeho 
e que nao estava nem um pouco satisfeito com isso.
A VOZ NA ESCURIDÁO
Em seguida, sem pronunciar urna única palavra, ele 
olhou dentro do meu cora^áo e me perguntou: “ Imaculée, 
por que vocé esteve táo preocupada em saber se a Igreja 
vai dar ou nao reconhecim ento oficial ás visóes que eu 
tive enquanto estava na Terra? Vocé sabe como a hora já 
está tarde para a hum anidade. Vocé sabe que o fim está 
próxim o. C ontar a m inha historia nao é mais im portante 
do que esperar que alguém na Terra dé ás m inhas pala- 
vras um selo de aprovagáo? Fazer com que as pessoas 
conhegam as mensagens que Jesús deu a mim nao é a 
coisa mais im portante do m undo? O que pode ser mais 
crucial do que com partilhar as mensagens que Jesús quer 
com urgencia que as pessoas conhegam o quanto antes - 
mensagens que F’le quer que as pessoas conhe^am agora, 
antes que se ja tarde?”
Segatashya, entáo, sorriu e disse: “ Sabe, algumas m en­
sagens sáo táo im portantes que elas devem ser com uni­
cadas im ediatam ente, náo im porta o que acóntela. Al­
gumas coisas sáo táo im portantes que simplesmente náo 
podem esperar para serem aprovadas!”
Ele estendeu a m áo e tocou em meu bra^o. E eu acor- 
dei com um susto.7
Assim que abri meus olhos, entendí que este náo era 
um sonho comum. Era urna visita do Céu. Segatashya 
saiu do Paraíso e veio até mim com urna tarefa: contar 
sua historia e com partilhar suas mensagens com o m aior 
núm ero de pessoas que eu pudesse.
Sem me preocupar em ligar o abajur ao lado da minha 
cama antes, peguei a cañeta e o caderno que guardo so­
bre m inha mesa de cabeceira. N a fraca luz do amanhecer, 
comecei a tom ar notas a respeito das imagens da visita de
70 livro é principalmente urna narrativa afetiva da autora, para quem o 
drama coletivo do genocidio em Ruanda foi tangível. Por isso, ela com eta mos­
trando ao leitor um sonho, realidade subjetiva e turvada. Em caso de apareces 
ou revela?6es, a aprova?ao da autoridade eclesiástica competente faz-se muito 
importante para averiguar, em primeiro lugar, o conteúdo doutrinal das “men­
sagens”, que náo podem contradizer a R evelado pública; depois, para evitar 
enganos de origem natural ou preternatural.
29
O MENINO QUE CONHECEU JESUSSegatashya que ainda estavam fervendo em m inha m en­
te... Urna visita que acabaria por tom ar conta do meu 
coragáo e que lentam ente desabrochou no livro que vocé 
está lendo agora. E, em bora as mensagens sobre as quais 
escrevi aqui talvez soem com o novas para m uitos de voces, 
elas, na verdade, existem desde a criagáo do universo. Sao 
mensagens que estiveram pululando pelo m undo em alto 
e bom tom por mais de dois mil anos... M ensagens que 
ecoaráo em nossas almas por toda a eternidade se nós 
abrirm os nossos cora^óes para elas.
De fato, as mensagens de Segatashya podem ser en­
contradas ñas palavras de Jesús como elas foram escri­
tas na Biblia. M as ouvi-las do próprio Segatashya é, em 
vários sentidos, com o ouvir direto da boca de um dos 
discípulos do Senhor, um daqueles aben^oados Apóstolos 
que andaram com Cristo pela Terra Santa durante o seu 
m inistério. Eu digo isso porque sei que Segatashya, como 
os discípulos de antigam ente, verdadeiram ente é alguém 
que conversou com Jesús - alguém que foi escolhido por 
Jesús para conversar. E, da mesma form a com o ocorreu 
com os discípulos, Segatashya tam bém nao tinha a me­
nor idéia de quem era Cristo quando Ele apareceu pela 
prim eira vez em sua frente. Isso porque Segatashya era 
apenas um garoto camponés africano pobre e iletrado, 
que, além disso, tam bém era pagáo.8
Antes de Jesús aparecer para ele no veráo de 1982, o 
jovem Segatashya nunca tinha entrado em urna igreja, 
tam pouco tinha qualquer nogáo real de quem Jesús Cristo 
era. Em vários sentidos, a inocencia do garoto o tornou 
um candidato ideal para receber as mensagens de Nosso 
Senhor, pois ele fez as mesmas perguntas que eu ou vocé 
poderíamos ter feito caso repentinamente nos encontrásse- 
mos face a face com Jesús. Perguntas como: “Por que é táo 
im portante am ar a Deus, afinal?” e “Entre Deus, o Espirito 
Santo, Jesús e M aria, quem eu deveria am ar mais? A Biblia 
diz que eu devo am ar vocé, Jesús, mais do que amo meus
“A pouca in s tru y o cultural e doutrinal de Segatashya deve ser tida em 
conta ao avaliar a sua vida interior.
30
A VOZ NA ESCURIDÂO
pais ou qualquer outra pessoa... Como você pode estar fa- 
lando sèrio sobre isso, visto que acabei de conhecê-lo?”
Segatashya foi até o ponto de perguntar a Jesus “por 
que eu deveria am ar meus inimigos, com o você diz para 
en fazer, um a vez que Deus nâo am a seu inimigo, que é 
Satanás?”
A ingenuidade e a inocência quase infantil deste ga- 
io to ao fazer suas perguntas para Jesus sempre tocaram 
ineu coraçâo e freqüentem ente colocavam um sorriso em 
meus lábios. M as o mais im portante é que as respostas 
ilo Senhor para aquelas questôes se transform aram em 
uin m apa espiritual para mim, um m apa para o quai eu 
nie volto m uitas e m uitas vezes enquanto navego por este 
inundo turbulento.
Sempre que eu enfrentava alguma dificuldade ou situa- 
çôes desafiadoras em m inha vida, situaçôes que pareciam 
completamente sem esperança - como, por exemplo, quan­
do eu estava trancada em um banheiro tentando salvar mi­
nha vida de assassinos com machados em punho, durante 
o genocidio de 1994 - , eu muitas vezes encontrei consolo 
nas palavras dos visionários de Kibeho, especialmente na- 
quelas proferidas por Segatashya. As mensagens que Jésus 
compartilhou conosco na Biblia, as quais foram novamen- 
te com partilhadas com Segatashya, podem curar nossos 
corpos e anim ar nossas almas. E elas podem nos fornecer 
coragem, conforto e força para superarmos até mesmo os 
nossos mais negros períodos de tristeza e desespero.
Com o eu gostaria que aqueles que estào p rofunda­
mente atorm entados ou abatidos pela dor das dificulda- 
des diárias, em vez de desistirem da vida, abandonando 
a fé em Deus, se voltando para as drogas e o àlcool ou 
mesmo pensando em dar cabo da preciosa vida que Deus 
deu a eles, pudessem ouvir as palavras consoladoras que 
Jesús com partilhou com Segatashya quando ele pròprio 
estava passando por urna tragèdia pessoal!
Com o disse o Senhor: M esm o que você esteja sofrendo 
assim agora, saiba que eu passei por sofrim entos m uito
31
O MENINO QUE CONHECEU JESUS
piores do que esse antes de vocé... Anim e-se e nao perca 
a esperanza. Agarre-se a m im , confie em m im , apoie-se 
em m im e eu irei conduzi-lo por suas trevas... Agarre-se a 
verdade e eu irei ajudá-lo... Clame por m im e vocé nunca 
estará sozinho... Pega e eu irei ouvi-lo...
Todas as vezes que leio mensagens como essa m inha 
vida faz mais sentido. E, ainda que eventualm ente eu me 
divertisse com o vai-e-volta das conversas de Segatashya 
com Jesús, tan to as perguntas quanto as respostas nunca 
falharam em me proporcionar um grande sentim ento de 
paz, uma paz que vem de saber que Deus está sempre á 
nossa disposigáo, que Ele nos ama sem m edida, que Ele 
irá nos socorrer a qualquer m om ento em que nós O cha- 
m arm os, e que Ele está esperando ansiosamente para nos 
encontrar no Céu... Desde que nossos cora^óes estejam 
prontos para o encontro quando esse dia chegar.
E esta talvez seja a mensagem mais im portante que Se­
gatashya com partilhou conosco: a de que Jesús urgente­
mente deseja que nós nos preparem os para a outra vida e 
que tenham os certeza de que nossas almas estáo prontas 
para entrar no Céu.9
Ñ as próxim as páginas, vocé vai encontrar avisos so­
bre tempos perigosos que amea^am a hum anidade, sobre 
eventos calamitosos e terríveis que aguardam o m undo 
nos dias que viráo. E um tem po conhecido como “Fim dos 
Tem pos” - ou, como está escrito no livro da Revela^áo, o 
Apocalipse.10 M as tom ar conhecimento disto nao significa
’Para ir ao céu é preciso empreender o caminho da sa lv ad o , e este nao é 
outro senáo o caminho mesmo da santidade: no céu só haverá santos, seja que 
estes tenham lá entrado ¡mediatamente depois da sua morte, ou que havia tido 
antes a necessidade de serem purificados no purgatorio. Ninguém entra no céu 
se nao possuir aquela santidade que consiste em estar puro e limpo de toda fal­
ta [ ...]” (Fr. Garrigou-Lagrange, O. P.; Las Tres Edades de la Vida Interior, p. 3, 
3* edi^áo - Ediciones Desclées, Buenos Aires, 1944).
“ “Senhor do cosmos e da historia, Cabera da sua Igreja, Cristo glorificado 
permanece misteriosamente sobre a térra, onde o seu Reino já está presente 
como germe e inicio na Igreja. Ele um dia voltará em gloria, mas nao sabemos 
quando. Por isso, vivemos vigilantes, rezando: ‘Vem, Senhor’ (Ap 22,20)” 
(Compendio do cic, n. 133).
32
A VOZ NA ESCURIDÀO
que teremos que viver com medo e desespero ou desenco­
rajados frente ao futuro. Jesus disse a Segatashya que nós 
nao devemos tem er o firn do m undo, mas, sim, estarmos 
preocupados sobre a form a como vivemos nossas vidas 
diárias, pois elas podem acabar a qualquer m omento.
Com o o jovem visionàrio nos provou através do exem- 
plo, os tem pos em que vivemos sao tempos de enorm e opor- 
tunidade espiritual para cada um de nós. Por interm èdio 
das mensagens com partilhadas por ele, nós descobrimos 
como viver nossas vidas em p re p a ra d o para o dia em que 
iremos nos encontrar com nosso Criador. E, se aprovei- 
tarm os bem a gloriosa oportunidade que nos está sendo 
apresentada, nós iremos desfrutar da eternidade no Pa­
raíso. M as nao podemos deixar a oportunidade escapar. 
Com o Segatashya me disse no sonho, “algumas coisas sao 
táo im portantes que simplesmente náo podem esperar!”
A historia de Segatashya é urna historia de júbilo, e 
as mensagens que ele com partilha conosco curam e re- 
dimem. Eu sei que elas transform aram o meu coragào e 
adicionaran! grande dose de beleza á form a com o eu vejo 
esta vida e a vida que virá. Eu espero, com a ajuda e o 
am or de Deus, que as mensagens que se encontram ñas 
páginas a seguir fa^am o mesmo por voce.
Deixe-me comegarcontando-lhe quem eu sou e falar 
um pouco a respeito das prim eiras aparigóes da Virgem 
M aria e seu Filho em Kibeho. E depois será com gran­
de honra e prazer que irei apresentá-los a Segatashya, o 
m enino que conheceu Jesús. Estou certa de que voces se 
to rnaráo amigos por toda a vida.
33
CAPÍTULO 2 
DESCOBRINDO SEGATASHYA
A primeira vez que ouvi falar em Segatashya foi quando 
eu era urna jovem m enina crescendo na pequenina aldeia 
rural de M ataba, na m inha terra natal, Ruanda.
A m aior parte das pessoas fora da África nunca tinham 
ouvido falar em R uanda - ou, se tinham , elas conheciam 
nosso país com o o lugar onde ocorreu, em m eados dos 
anos 90, um a das mais selvagens ondas de assassinato do 
m undo.
O genocidio ruandès foi um banho de sangue e de bru- 
talidade sem precedentes que arrasou m inha terra natal 
na prim avera de 1994. M ais de um m ilháo de homens 
inocentes, mulheres e crianzas (incluindo a m aior parte 
de m inha familia e m uitos dos meus amigos) foram bru­
talmente assassinados em menos de 100 dias. Eu escrevi 
exaustivamente sobre as causas, o horro r e os resultados 
do genocidio - incluindo a edificante historia de como 
Deus milagrosamente poupou a m inha vida e salvou mi­
nha alma através do am or e da misericordia naqueles m o­
mentos negros - em meus dois prim eiros livros, L eft to 
Tell: Discovering G od A m idst the Rw andan H olocaust11 
e Led By Faith: Rising from the Ashes o f the Rwandan 
Genocide,u
Nestes dois livros eu relatei as mais queridas lem bran- 
gas de m inha infancia aben^oada. Eu cresci em um lar 
muito feliz, dentro do qual fui criada por pais am orosos, 
Leonard e Rose, e am ada enorm em ente por tres carinho- 
sos irm àos, Aimable (o mais velho), Damascene (mais ve­
lilo que eu, com diferencia de alguns anos) e Vianney (o 
bebe queridinho da familia).
"Versâo brasileira: Ilibagiza, Immaculée. Sobreviví para contar - O poder 
da fé me salvou de um massacre, Rio de Janeiro, 2011, Editora Fontanar.
nGuiada pela Fé: Renascendo das cinzas do genocidio mandes, idem.
O MENINO QUE CONHECEU JESUS
Meus pais eram católicos devotos e cristáos de co- 
ragáo aberto que viveram segundo a Regra de O uro de 
fazer aos outros somente aquilo que voce gostaria que 
fizessem com voce. Ambos eram professores e líderes da 
com unidade, e eram bem conhecidos e respeitados por 
toda a regiáo, grabas aos seus bons conselhos, generosi- 
dade e bons atos. Nós vivíamos defronte a um lago em 
urna área rural que, com o na m aior parte de Ruanda, era 
exuberante, agradável e de tirar o fólego de táo bonita. 
N ossa aldeia ficava a m uitas horas da cidade grande e 
nossos vizinhos eram simples e atenciosos, cuidavam uns 
dos outros e eram sempre gentis e amigáveis.
Eu sempre me senti segura, protegida e cuidada, seja 
quando estava sozinha em casa, seja quando estava cami- 
nhando ao longo de quase 13 quilóm etros pelas estradas 
da floresta em diregáo á escola. Q uando era crianza, eu 
pensava que meu lar e m inha terra natal eram os lugares 
mais pacíficos e amáveis de todo o m undo. Eu náo fa- 
zia a m enor idéia de que as efervescentes tensóes étnicas 
que estavam ferm entando em meu país iriam explodir 
nos horríveis acontecim entos de 1994, nos quais vizinhos 
se virariam contra vizinhos e a m aioria tribal da nagáo 
(os H utus), estim ulados por um governo mau e corrupto , 
m ataria quase toda a m inoria tribal (os Tútsis, aos quais 
pertencia m inha familia) usando facóes e porretes.
De fato, eu me sentia táo segura e feliz quando era 
crianza que urna das m inhas m aiores p re o c u p a re s era 
me certificar de que tinha feito ora^óes diárias o bastante 
e com parecido á missa com regularidade o suficiente para 
garantir que eu estaría apta a me to rnar freirá quando 
crescesse. Por alguma razáo, quando era crianza (e, para 
falar a verdade, até hoje!) eu era obcecada com tudo que 
era relacionado a Deus. A vida de Jesus, os Santos, a San­
tissima Virgem M aria e toda e qualquer coisa que tivesse 
a ver com o Céu era urna p reo c u p a d o constante para 
mim. M eu pequenino quarto era dom inado por meu p rò ­
prio santuàrio im provisado, o qual consistía em urna pe­
queña tábua lotada com estátuas da Virgem M aria, velas
36
DESCOBRINDO SAGATASHYA
votivas e livros de figuras dos Apóstolos e Santos. M eu 
passatempo predileto era rezar com m inha m elhor am i­
ga, Janet, ou ouvir historias religiosas - especialmente à 
noite, quando a m inha li^ào de casa jà estava feita, meus 
afazeres estavam finalizados e as lou^as do jantar jà es- 
tavam lavadas e guardadas. Era quando m inha familia se 
juntava na sala de estar para o que eu cham ava de “hora 
das h istorias” .
A c o n ta d o de historias é urna grande parte de nos- 
sa cultura e urna das atividades mais im portantes da mi­
nha juventude. Com o na m aior parte de Ruanda, que é 
urna na^ào em sua m aioria rural e extrem am ente pobre, 
M ataba era totalm ente prim itiva quando as facilidades 
m odernas chegaram. Nós estávamos conectados ao resto 
do país por urna solitària estrada de terra e um emara- 
nhado de trilhas de gado. Nós nào tínham os água cor­
rente e a energia elétrica era praticam ente desconhecida. 
Por conta disso, obviam ente nào havia nenhum cinema 
ou shopping nos quais as crianzas pudessem passear e 
se divertir - meus irm àos e eu nào tínham os sequer visto 
urna televisào, a nào ser em fotos de revistas. Consequen- 
temente, havia pouquíssim as form as de nos entreterm os 
após o por do sol. Era tào escuro fora de casa quando o 
sol se punha que raram ente nos aventurávam os a sair ao 
ar livre à noite.
Em verdade, só havia realm ente duas fontes de diver- 
sào para a familia depois que papai fechava a casa após 
o crepúsculo. A prim eira form a de entretenim ento era o 
artiquissim o costum e do Igitaramo. lgitaramo é o antigo 
ritual ruandès de se juntar, em familia ou tribo, após o 
jantar para falar sobre os acontecim entos do dia, contar 
noticias sobre parentes que m oram longe ou simplesmen- 
te contar boas e velhas historias a respeito de qualquer 
assunto, dos mitos locáis ao que está na Biblia.
D ada a m inha propensào para historias relacionadas 
a Deus, sempre que nos juntávam os na sala de estar para 
mais urna sessào de Igitaramo meu tem a favorito de discus- 
sáo estava inevitavelmente ligado ao Céu ou, pelo menos,
O MENINO QUE CONHECEU JESUS
à re p e tid o de historias populares da Biblia. Porém, meus 
irm áos - pelo m enos Aimable e Damascene, que eram 
mais velhos que eu e nao tinham urna cabera táo religio­
sa quanto a m inha - apelavam a meu pai para que nao 
me desse ouvidos quando eu im plorava para ouvir (pela 
milionèsima vez) sobre com o o pequeño Davi derrubou 
o grande Golias pelas costas usando apenas um estilin- 
gue e algumas pedras. Freqüentem ente, meu pai ficava 
do lado dos garotos e abruptam ente m udava o assunto 
da discussào para acontecim entos recentes, com o os me- 
lhores m om entos de urna partida de futebol na qual meus 
irm áos haviam jogado ou sobre como estava progredindo 
um dos seus m uitos projetos de caridade.
Nossa segunda opqáo de entretenim ento noturno era 
ouvir o nosso m altratado ràdio de batería. Se acontecía 
de escolhermos essa op^ào em urna noite em particular, 
nào havia a m enor dúvida sobre qual program a eu insis­
tiría para que todos ouvissem. Eu bradava e incom odava 
todo m undo até que o dial estivesse sintonizado no pro­
gram a da Ràdio R uanda que trazia as mensagens m ila­
grosas de um grupo de jovens visionários de Kibeho, que 
era urna aldeia ainda m enor e mais distante que a nossa, 
localizada a mais ou menos 160 quilóm etros ao sul de 
onde m orávam os.
Com o eu já disse antes, e por mais incrível que isso 
p are ja , no com eto da década de 1980 aVirgem M aria e 
Jesús decidiram aparecer, em intervalos regulares, a um 
grupo de adolescentes do interior e os presentearam com 
mensagens do Céu que deviam ser com partilhadas com o 
m undo inteiro. As prim eiras mensagens foram todas da 
Virgem M aria, e elas brotaram do seu am or pelas crianzas 
da Terra. O conteúdo de tais mensagens era freqüentem en­
te educativo, apresentando in s tru y e s e dando o r ie n ta d o 
para homens e mulheres sobre com o viver vidas melhores 
e mais pacíficas, que iriam afastá-los do pecado e levá-los 
para a luz de Deus e para a vida eterna no Paraíso. As 
in s tru y e s dela para a hum anidade incluíam exorta^óes 
para que todo m undo rezasse o Rosàrio diariam ente, a
38
DESCOBRINDO SAGATASHYA
firn de repelir o mal; e para que as pessoas de todos os lu­
gares abrissem seus cora^óes uns aos outros, abragassem 
a fé no Senhor, desenvolvessem um profundo relaciona- 
m ento com Deus através da oragào e de urna vida pura, 
se arrependessem dos pecados do passado e evitassem 
tenta^óes futuras.
Algumas das mensagens de M aria tam bém continham 
assustadoras profecías sobre os dias negros que o m un­
do iría enfrentar nos próxim os anos. Eia deu aos jovens 
visionários terríveis vislumbres de um futuro no qual os 
cora^óes das pessoas estariam dom inados pelo òdio em 
vez do amor, e onde o planeta seria dilacerado por guer­
ras religiosas e desastres naturais.
A Bem -Aventurada M ae predisse especificamente -
12 anos antes que isso devastasse o meu país - o geno­
cidio de 1994, com o qual, disse eia, um “rio de sangue” 
banharia toda R uanda a nao ser que meus com patrio tas 
parassem de nu trir òdio uns pelos outros e enchessem 
seus coragóes com o am or redentor de seu Filho, Jesús. 
Com esse amor, disse eia, o desastre im inente e a m atan ­
za poderiam ser evitados. Através dos seus visionários, a 
Santissima M ae exortou a todos os ruandeses procura- 
rem sua ajuda para receber o am or e o perdáo de C ris­
to ... E disse que o m elhor jeito de obter isso era rezando 
o R osàrio todos os dias. M aria disse que o R osàrio era 
urna das mais poderosas ferram entas do m undo para 
nos defenderm os da ten ta^ào e do mal. Eia im plorou 
a todas as pessoas para que rezassem o R osàrio pelo 
menos urna vez por dia, nao im portando a qual religiào 
pertencessem, e prom eteu grandes recom pensas espiritu- 
ais aos que assim fizessem.13
13“Pode haver também quem tema que o Rosàrio possa revelar-se pouco 
ecumènico pelo seu caráter marcadamente mariano. N a verdade, situa-se no 
mais claro horizonte de um culto à M ae de Deus tal como o Concilio delineou: 
um culto orientado ao centro cristológico da fé crista, de forma que, “honrando 
a Mae, melhor se conhe^a, ame e glorifique o Filho”. Se adequadamente 
compreendido, o Rosàrio é certamente uma ajuda, nao um obstáculo, para o 
ecumenismo!” (Bem-aventurado Joáo Paulo U, Rosarium Virginis Marite, n. 4).
39
O MENINO QUE CONHECEU JESUS
Infelizmente, poucos ruandeses ouviram o conselho 
de Nossa Senhora, e nosso país degenerou em loucura, 
desordem e assassinatos, exatam ente da form a com o eia 
predisse. Se nós simplesmente tivéssemos ouvido os avi­
sos da Virgem M aria quando eia apareceu em Kibeho, o 
genocidio nunca teria acontecido!
Q uando era jovem, eu estava lam entavelm ente alheia 
as históricas tensòes tribais e odios que envenenaram os 
cora^óes de tantos ruandeses - um veneno que permitiu 
a Satanás se apoderar de suas almas e levá-los a cometer 
atos selvagens de to rtu ra , estupro e assassinato. Q uando 
crianza, eu escutava os visionários e tudo que ouvia era 
eles transm itindo a paz, o am or e o perdáo de Deus. As 
mensagens da Virgem M aria que ouvi sendo transm itidas 
pelo ràdio á noite, durante nossos encontros familiares 
para o Igitaramo, encheram-me de alegria e nunca, ja- 
mais me assustaram .
Eu tinha 11 anos de idade quando M aria apareceu 
pela prim eira vez em Kibeho e rapidam ente fiquei fam i­
liarizada com os nomes e as historias das tres primeiras 
visionárias: Alphonsine, Anathalie e M arie-Claire. Isso 
foi m uitos meses antes de eu ouvir qualquer mengáo so­
bre a liga^áo de Segatashya com as apari^òes. Q uando eu 
finalmente ouvi seu nome (e sua voz), o im pacto em meu 
pequeño coragáo foi táo profundo que eu nunca mais se­
ria a mesma.
Com o disse anteriorm ente, eu já escrevi m uito sobre 
a historia de Kibeho e das apari^óes as tres prim eiras vi­
sionárias em O ur Lady o f Kibeho. M as, para aqueles de 
voces que nao conhecem a historia, perm itam-m e reca­
pitu lar brevemente o que eu escrevi para que voces pos- 
sam ter urna idéia m elhor a respeito do que aconteceu em 
R uanda e em Kibeho nos meses anteriores á entrada de 
Segatashya em cena.
A Virgem M aria apareceu pela prim eira vez em Ki­
beho no dia 28 de novem bro de 1981. A prim eira visio­
nària que foi visitada pela Santissima M áe foi Alphonsine
40
DESCOBRINDO SAGATASHYA
M umereke, urna estudante de 16 anos habitante de urna 
aldeia que, com o disse, era tào pequeña e fora de m ào 
que pouquissim os ruandeses sabiam onde ficava.
Alphonsine era nova no Colégio de Kibeho. Eia cres- 
ceu em urna isolada regiào de R uanda cham ada Kibungo, 
conhecida pela aguda pobreza e a dissem inada pràtica da 
bruxaria. Seu pai abandonou a familia antes de A lphon­
sine nascer e eia foi criada por sua màe, que era m uito 
batalhadora e católica devota. Em bora nào fosse parti­
cularm ente religiosa, Alphonsine am ava a Virgem M aria 
e rezava para eia sempre que se sentia am edrontada ou 
desanim ada.
Apesar de ter crescido no meio da mais abjeta po­
breza, Alphonsine manteve sempre um estado de espiri­
to alegre e receptivo. Q uando eia ganhou urna bolsa de 
estudos para um colégio católico só para meninas com 
mais de 120 estudantes, sua natureza gregària e anim ada 
a ajudou a fazer amigos rapidam ente. M esm o assim, eia 
m uitas vezes sentia saudades de casa e estava com dificul- 
dades para m anter suas notas altas. Com o sempre fazia 
em tem pos de dificuldades, eia rezou para a Santissima 
Virgem pedindo ajuda.
N o dia 28 de novem bro, um dia com um corno qual- 
quer ou tro em todos os aspectos, Alphonsine caiu no 
chào na hora do alino lo e entrou em um profundo tran ­
se, dentro do qual a única coisa que eia conseguía ver era 
urna nuvem branca e brilhante que se form ava na sua 
trente de form a lenta e bruxuleante. M om entos depois, 
no meio daquela nuvem, a estudante, perplexa, contem- 
plou a mais bela senhora que eia jà tinha visto.
Com o Alphonsine mais tarde recordaria, a senhora pa­
recía estar flutuando no ar, e em seguida comegou a desli­
zar em dire^ào a eia, banhada em intensa lum inosidade e 
m iraculosam ente pairando sobre o chào. Aquela m ulher 
magnífica vestia um vestido branco sem costura, e seu 
cábelo estava coberto por um véu do mais puro branco. 
Sua pele era perfeita e brilhante com o marfim poi ido,
41
O MENINO QUE CONHECEU JESUS
em bora Alphonsine nao conseguisse dizer exatam ente se 
era urna pele branca ou negra. A senhora parecía estar 
em plena com unháo com o Céu enquanto os delicados 
dedos de suas máos esguias pressionavam-se juntos em 
um gesto de oragáo. O ndas de am or em anavam déla e 
envolviam a pequeña estudante, cujo coragáo estava re- 
bentando de alegría e felicidade enquanto aquela linda 
criatura flutuava próxim a a ela.
Com urna voz bela demais para ser descrita com preci- 
sáo, a m ulher revelou a Alphonsine que era a Virgem M a­
ría, que no Céu ela tinha ouvido as suas ora^óes e tinha 
viajado do Reino de Deus até Kibeho para consolá-la. 
Ela disse para a garota dirigir-se a ela como a “M ae do 
V erbo” .
Antes de ascender de volta aos céus em diregáo ao 
Paraíso, a Virgem pediu para Alphonsine transm itir urna 
mensagem: “Eu queroque seus amigos e colegas tenham 
a mesma fé que vocé. Eles nao tém fé suficiente” .
Esta foi a prim eira mensagem que a Santíssima M ae 
entregou em Kibeho.
Q uando Alphonsine recobrou a consciencia, ela esta­
va esparram ada no chao do refeitório e olhando para os 
rostos perplexos e preocupados de seus colegas de turm a. 
Q uando ela contou a eles o que aconteceu, foi ridicula- 
rizada, déla zom baram e acusaram -na de ser m entirosa 
e tola. Alguns até disseram que, por Alphonsine ser de 
Kibungo, ela estava praticando bruxaria ou possuída por 
espíritos sombríos.
M as a Virgem M aria continuou a visitar Alphonsine, 
que caía em um transe táo profundo sempre que estava 
na presenta da M ae de Jesús que ela ficava com pleta­
mente alheia ao que existia ao seu redor. Um sacerdote 
local ficou táo irritado com as a f irm a re s de Alphonsine 
a respeito dessas visitas que chegou a recrutar outra es­
tudante do Colégio de Kibeho, M arie-Claire, para que 
esta atorm entasse Alphonsine na esperanza de que ela se 
retratasse sob a pressáo intensa dos colegas.
42
DESCOBRINDO SAGATASHYA
N a escola, M arie-C laire tinha r e p u ta lo de ser extro­
vertida e franca a ponto de ser grosseira. Eia rezava para 
a Virgem M aria (a quem amava), mas nào era grande fre- 
qiientadora da igreja ou de grupos de ora^ào. Talvez por 
causa de sua profunda afeigào pela M ae de Jesus, M arie- 
Claire estava com prom etida e determ inada a expor o 
que considerava a “ofensiva falsidade” de Alphonsine, e 
preparou-se com grande intensidade para envergonhar e 
humilhar, em público, sua colega de turm a.
M arie-Claire cham ou outras estudantes para unirem-se 
a eia em sua cam panha destinada a denunciar a “ falsa” 
visionària. Eia e sua gangue de colegas céticas planeja- 
ram rodear Alphonsine sempre que eia entrasse em um 
de seus transes estáticos. Depois, agrediriam fisicamente 
a visionària durante as apari^òes, puxando seus cábelos, 
entortando seus dedos para trás, beliscando sua pele o 
mais forte que conseguissem, gritando o mais alto que 
pudessem e arrem essando rosários em direm o a eia, de­
safiando Alphonsine a benzè-los. M as Alphonsine jamais 
piscou um olho ou fez qualquer m ovim ento com o corpo, 
nào im porta o que fizessem ou falassem para eia.
Depois, em 12 de janeiro de 1982, a Virgem M aria 
apareceu para urna segunda estudante do Colégio de Ki- 
beho: Anathalie M ukam azim paka, de 17 anos. Ao contrà­
rio de Alphonsine, esta jovem era considerada um modelo 
de estudante e urna das mais devotas e piedosas garotas 
da escola. Anathalie vinha de um lar grande e firmemen­
te católico. Eia acordava e rezava toda m anhà o Rosàrio 
antes da aula e depois rezava novam ente todas as noites 
antes de dormir. Eia lia a Biblia nos intervalos das aulas 
e fazia parte de vários grupos de jovens católicos. Eia era 
m odesta, bem com portada e altam ente respeitada tanto 
pelos funcionários da escola quanto pelos estudantes. M as 
nada disso impediu M arie-Claire de atacar Anathalie tam - 
bém. M arie-Claire redobrou seus esforgos em desacreditar 
as “alegadas” visitas da Virgem na escola, ridicularizando 
publicamente ambas as jovens visionárias sempre que elas 
comegavam a ver apari^òes da Santissima Virgem.
43
O MENINO QUE CONHECEU JESUS
Os ataques de M arie-Claire ás duas visionárias para- 
ram abruptam ente no dia 1 de margo de 1982, quando 
a Virgem apareceu tam bém para eia. A principio, M arie- 
Claire resistiu à visáo, certa de que estava sendo enganada 
de alguma form a pelas duas garotas que eia estava per- 
seguindo - e, se nào fosse isso, entào eia estava ficando 
louca ou possuida por demonios.
C ontudo, a tranqiiilizadora voz da Virgem logo acal- 
mou e confortou M arie-Claire, que repentinam ente per- 
cebeu que a Santissima M àe havia abengoado de fato a 
sua escola com sua divina presenta. M arie-Claire ficou 
enorm emente envergonhada por ter atorm entado Al­
phonsine e Anathalie e fez votos de se to rnar a mais hu­
milde e determ inada serva de M aria, exatam ente com o as 
outras duas alunas tinham sido antes dela.
Para o espanto dos funcionários da escola e dos alu- 
nos, todas as très garotas que M aria escolheu para se tor- 
narem visionárias logo estavam recebendo aparigóes da 
Bem-Aventurada M áe na capela da escola. Todas as vezes 
que urna délas caía em transe, ficava com pletam ente in­
consciente do am biente externo. O rosto de cada garota 
se ¡luminava com alegría sempre que elas se encontravam 
na presenta de Nossa Senhora. Elas falavam m uito am o­
rosam ente quando respondiam a perguntas da Virgem ou 
quando repetiam mensagens que M aria estava lhes entre­
gando para que fossem com partilhadas com os outros. 
N enhum a outra pessoa que estivesse naquela sala duran­
te as apari^òes poderia ver a Santissima M áe ou ouvir o 
que eia estava dizendo para as visionárias. M as aqueles 
que tiveram a sorte de testem unhar urna apari^ào sem­
pre ouviam atentam ente todas as palavras pronunciadas 
por um a das alunas enquanto eia estava no meio de um 
transe, dando-se conta de que simplesmente estavam bis- 
bilhotando um dos lados da conversa que urna visionària 
estava tendo com o Céu naquela hora.
Com entários sobre as apari^óes rapidam ente se es- 
palharam para além dos confins do Colégio de Kibeho. 
Dezenas de m oradores come^aram a viajar pela estrada
DESCOBRINDO SAGATASHYA
de térra - mais urna trilha de cabras toda cheia de bu­
racos do que urna estrada, na verdade - que levava do 
interior em dire^ao á escola. Todos estavam esperanzosos 
de ter um vislumbre das c o m u n ic a re s milagrosas que 
estavam ocorrendo dentro dos seus m uros. Logo cente­
nas de curiosos estavam se m ovim entado em torno da 
escola tentando ouvir algum a coisa sobre as apari^oes. 
Eles se penduravam sobre a cerca de metal e quebravam 
as janelas da capela, enquanto subiam uns nos om bros 
dos outros e se acotovelavam para dar urna espiada ñas 
m eninas que tinham fam a de ter urna linha direta com a 
Virgem M aria. Por fim, visto que as centenas de curiosos 
se transform aram em milhares de peregrinos, a escola e 
a Igreja Católica local construíram um palco de m adeira 
para que as visionarias pudessem receber suas apari^óes 
em público, na frente de todos.
Noticias a respeito das visionárias e do conteúdo de 
suas mensagens se espalharam como fogo, viajando por 
todas as dire^óes de Ruanda dentro de algumas sema­
nas. Repórteres em Kigali foram despachados da Rádio 
Ruanda e viajaram até Kibeho para fazer gravagóes das 
visionárias no m om ento em que elas estavam em comu- 
nháo com a Santíssima M ae - e, com o eu já mencionei, 
trechos dessas gravagóes se to rnaram atra^óes regulares 
na p ro g ra m a d o da rádio nacional.
Isso foi quando meus irm áos e eu com etam os a dis­
cutir sobre o que deveríamos ouvir no rádio durante o 
Igitarat.io. Eu insistia em ouvir todas as palavras dos vi- 
sionários que foram transm itidas pelas ondas sonoras, 
mas meus dois irm áos mais velhos estavam a principio 
duvidosos e desdenhosos a respeito das apari^óes. Aima- 
ble e Damascene foram sempre am orosos e carinhosos 
comigo, mas eles tam bém me provocavam incansavel- 
mente por causa da m inha paixáo crescente pelo que eu 
continuam ente dizia ser “o milagre abso lu to” que estava 
acontecendo em Kibeho.
“Elas náo passam de urnas alunas ridiculas que estáo 
tentando cham ar aten^áo porque náo há nenhum garoto
45
O MENINO QUE CONHECEU JESUS
por perto”, zombava Aimable, enquanto importunava nos- 
so pai para que este sintonizasse o rádio em urna partida de 
futebol.
Em Ruanda, na época em que eu estava crescendo (e, 
gragas a Deus, os tem pos estáo realmente m udando!), as 
m ulheres, em bora fossem reverenciadas e altam ente res­
p e ta d a s como máes, nao eramm uito respeitadas como 
seres hum anos independentes, inteligentes e sérios. Era 
urna sociedade bastante chauvinista, na qual direitos bá­
sicos, tais como de propriedade ou educa^áo superior, 
eram dom inados pelos homens. Por sorte, meu pai e mi- 
nha máe tinham pontos de vista progressistas e me pres- 
sionaram para ir táo longe quanto eu pudesse na escola, o 
que, ao final, me levaría á universidade. M as o m achismo 
era um com portam ento bem aceito e era algo que meus 
irm áos tinham grandes dificuldades para abandonar. Eles 
nunca perdiam urna oportunidade de fazer piadas sobre 
urna garota ou m ulher que fizesse qualquer coisa que um 
homem náo podia fazer - o que, naqueles tem pos, incluía 
até ter visóes da Virgem M aria!
“Essas garotas em Kibeho estáo bébadas ou praticando 
vodu” , meu irmáo Damascene me provocava, com um risi- 
nho. “Vocé sabe o que é que acontece com essas garotas de 
escolas só para meninas, náo sabe? Elas estáo preocupadas 
porque náo conseguiráo um m arido após se formarem. Por 
isso, elas querem aprender urna magia que as ajudem a 
conseguir um homem antes que seja tarde demais!”
Meu pai sempre m andava meus irm áos baixarem o 
tom e me deixava ouvir os relatos de Kibeho, m uito em­
bora ele fosse um hom em instruido e cauteloso que a 
principio estava hesitante em acreditar que as visionárias 
estivessem vendo aparigóes reais. M as ele tinha um p ro ­
fundo am or e respeito pela Virgem M aria, e se qualquer 
pessoa dem onstrasse am or e afeigáo por Nossa Senhora, 
com o eu certam ente dem onstrava, papai apoiaria e enco­
rajaría plenam ente a sua devo^áo.
“O tempo dirá se essas apari^óes sao reais ou náo”, pa­
pai dizia aos meninos. “M as se essas garotas estáo ajudando
46
a aum entar a fé das pessoas na Santissima Virgem, nós 
vamos deixar sua irmà ouvir o que elas tèm a dizer... E 
vocès dois vào ouvir junto com eia. Os seus resultados de 
partidas de futebol podem esperar.”
M eus irm àos resm ungavam e viravam os olhos. Além 
disso, alegaram tam bém que logo o pequeño santuàrio 
em meu quarto estaria carregado com mais estátuas ain­
da da Virgem M aria. M as as suas queixas tiveram firn 
em um ensolarado dia de verào em 1982, quando nós 
ouvimos sobre um novo visionàrio que tinha chegado a 
Kibeho... Um m enino cham ado Segatashya, que estava 
recebendo visitas do pròprio Jesus Cristo.
Para meus irm àos, o fato de um garoto ter se tornado 
um visionàrio repentinam ente tornou todas as milagrosas 
apari^òes que haviam ocorrido antes em Kibeho muito 
mais aceitáveis e criveis. Parecia tam bém que, por Sega­
tashya ter sido o primeiro visionàrio a presenciar apari- 
gòes de Jesus Cristo, meus irm àos, que se gabavam de ser 
difíceis de impressionar, foram conquistados. Ajudou tam ­
bém o fato de Segatashya e Damascene terem a mesma 
idade. “Bem, se é um m enino que está falando com Jesus... 
Entào eu acho que pode haver alguma coisa reai nesse 
papo todo de visionários” , concordou Aimable, após ou­
vir Segatashya no ràdio.
Q uanto a mim, eu jà tinha ouvido a voz de Segatashya 
alguns dias antes em urna fita que o Padre Apollinaire 
Rwagem a, nosso pároco local, havia tocado para as 
crianzas que tinham ido à missa semanal infantil.
O Padre Rwagem a estava entre os prim eiros que acre- 
ditaram , e era um dos mais ardorosos devotos das es- 
tudantes visionárias. Ele foi tam bém a prim eira pessoa 
em M ataba a fazer urna longa p e re g r in a lo em d ire d o 
a Kibeho para ver os visionários com os próprios olhos. 
Ele fez grava^óes dos visionários durante as apari^óes e 
deixou as fitas disponíveis para qualquer pessoa da aldeia 
que quisesse ouvi-las.
Eu teria ouvido centenas de horas de gravagóes ao lon­
go dos anos seguintes, mas urna g ra v a d o de Segatashya
DESCOBRINDO SAGATASHYA
47
O MENINO QUE CONHECEU JESUS
me m arcou para sempre desde a prim eira vez que a ouvi. 
Em O ur Lady o f Kibeho, contei como um arrepio subiu 
por m inha espinha quando ouvi a voz suave do garoto 
sair pelos alto-falantes estourados do velho tocador de 
fitas do Padre Rwagem a. A gravagáo era de urna conversa 
que Segatashya teve com Jesus em meio a urna aparigào 
de urna semana antes. O Padre Rwagem a nos disse que 
ele fez a g rav a rlo em um dia en sobrado , sob um brilhan- 
te céu azul sem nenhum a nuvem... Em seguida, ele nos 
convidou a ouvir mais de perto.
As mais ou menos 200 crianzas com quem eu tinha me 
sentado no chao da capela de um único còm odo do Padre 
Rwagema estavam táo fascinadas com o que ouviam no 
tocador de fitas quanto eu. Prim eiramente nós ouvimos o 
canto de urna enorm e m ultidao - milhares de vozes su­
plicantes - que tinha se reunido em Kibeho para ouvir 
os visionários se com unicando com o Céu. A m ultidao 
gritava para Segatashya, dirigindo-se a ele pelo nome e 
pedindo para que pedisse um milagre... Um milagre que 
lhes dessem fé no que estavam testem unhando e que os 
ajudassem a crer verdadeiram ente ñas aparigóes.
Eu nao sabia disto naquele m om ento, mas o que eu 
estava ouvindo era a única aparigáo na qual Jesús tinha 
perm itido ao garoto poder ver e interagir com as pessoas 
que tinham vindo para vé-lo. D urante todas as demais 
aparigòes, Segatashya ficava consciente apenas da presen­
ta do Senhor.
Por cima do ruido e da balbúrdia da m ultidao, levan- 
tou-se a macia voz de tenor do jovem visionàrio enquan- 
to ele se dirigía a Jesús de form a reverente: “Sim, Senhor, 
eu disse a eles m uitas vezes”, pronunciou a voz. “N ao, 
Senhor, eles nao ouvem... Eles sempre me dizem que que- 
rem um milagre. Eles nao querem acreditar que voce está 
falando comigo, Jesús - nao sem antes verem um milagre 
ou um sinal.”
Eu lem bro como meu coragào se dilatou quando ouvi 
Segatashya falar naquele dia e de como fiquei tocada pela 
sinceridade e pela ternura que reverberavam em sua voz
48
DESCOBRINDO SAGATASHYA
sussurrante enquanto ele pacietem ente se dirigía á estri­
dente m ultidáo.
Súbitamente, o estrondo de um trováo explodiu pelos 
alto-falantes do tocador de fita e as crianzas no cómodo 
pularam de susto juntas. Nós podíam os ouvir gritos as- 
sustados se espalhando por entre a gritaría da multidáo; 
em seguida, pudemos ouvir alguns gritos de “viva!” para 
o milagre que tinha acabado de acontecer. Logo a seguir, 
Segatashya calmamente exortou a todos para que náo se 
preocupassem com o trováo que tinha surgido no céu azul.
“Jesús diz que voces náo devem ter medo. Ele nun­
ca faria nada para prejudicar os seus filhos” , insistiu o 
garoto. “N inguém aqui foi ferido, as m ulheres grávidas 
náo precisam se preocupar com seus bebés e aqueles que 
tém coragóes fracos ficaráo bem... Sim, Senhor, vou dizer 
a eles como vocé está me dizendo... Jesús está dizendo 
que deu-lhes esse trováo para que desta form a voces ou- 
vissem as mensagens dele e parassem de pedir milagres 
que náo tém sentido... Porque as suas vidas sáo milagres. 
Um verdadeiro milagre é um bebé no útero, o am or de 
urna máe é um milagre, um coragáo m isericordioso é um 
milagre. Suas vidas estáo repletas de milagres, mas voces 
estáo m uito distraídos com coisas m ateriais para vé-los.”
“Jesús pede para voces abrirem seus ouvidos e ouvirem 
suas mensagens, e abrirem seus coragóes para receberem 
o seu amor. M uitas pessoas se perderam no cam inho e en­
veredaran! pela estrada fácil que leva para longe de Deus. 
Jesús diz para voces rezarem para a sua M áe e a Santíssi- 
ma Virgem M aria irá levá-los ao Deus Todo-Poderoso. O 
Senhor veio até voces com mensagens de am or e felicidade 
eterna... E voces ainda pedem milagres. Parem de olhar 
para o céu em busca de milagres. Abram o seu cora^áo a 
Deus, pois verdadeiros milagres ocorrem no coragáo.”
Esta foi a prim eira mensagem divina que eu ouvi Sega­
tashya transm itir,e, com o eu disse, ela m udou m inha vida. 
Aquela mensagem abriu meu cora^áo para a esséncia de 
todas as mensagens que seriam entregues em Kibeho. A 
ingenua honestidade da voz do garoto instantáneam ente
49
O MENINO QUE CONHECEU JESUS
fez com que ele se tornasse o meu favorito entre todos os 
visionários.
M enos de urna semana depois que o Padre Rwagem a 
tocou a fita de Segatashya para nós, meu lar e toda a 
aldeia estavam agitados com as noticias da chegada de 
Segatashya a Kibeho.
Desde que as tres prim eiras estudantes comegaram a 
ter visòes da Virgem M aria, por volta de oito meses antes, 
eu notei que urna profunda m udanza havia ocorrido em 
m uitos dos meus amigos, vizinhos e até mesmo estranhos 
que estavam de passagem pela aldeia. As pessoas anda- 
vam pela estrada com a cabera um pouco mais erguida e 
com mais energia e d e te rm in a lo . M ulheres que eram es- 
m agadas pelo peso de enormes cestos de com ida, roupas 
ou lenhas que elas carregavam em cima de suas caberas 
(dentro da tradicional m oda ruandesa) nào se incomo- 
davam em parar no meio da estrada para saber noticias 
sobre Kibeho, especialmente sobre Segatashya.
Lembro-me de ouvir muitas conversas desse tipo da 
janela do meu quarto enquanto estava deitada lendo ou 
ajoelhada e rezando em frente ao meu santuàrio particular.
“Eu ouvi dizer que este tal Segatashya nunca, jamais 
tinha sequer ouvido falar em Jesús antes que o Senhor 
o transform asse em um visionàrio” , disse um de nossos 
vizinhos.
“Foi o que ouvi falar tam bém , que ele era um meni­
no pagáo. M as dizem que ele é um garoto m uito, muito 
doce... E bonito! M as eu me pergunto por que será que 
Jesús escolheu ele, um pagáo, sendo que existem tantos 
garotos católicos em R uanda?”
“O Senhor age por caminhos misteriosos. Ninguém co- 
nhece a mente de Deus. M as o que eu sei é que a máe de Se­
gatashya deve estar m uito orgulhosa dele... Será que eia se 
tornou crista agora que Jesús está visitando o filho déla?”
Eu pude ver que náo estava sozinha no favoritismo 
que eu sentía por Segatashya. Desde o inicio das aparigóes 
vistas por ele, o garoto conquistou um grande e devotado
50
DESCOBRINDO SAGATASHYA
núm ero de seguidores. Ele se tornou urna estrela entre os 
visionários.
N ao m uito tem po depois, o Padre Rwagem a estava or­
ganizando procissoes em d ire d o á cidade a fim de honrar 
as visitas que Jesús estava fazendo a Segatashya. O devo- 
tado sacerdote encorajou todos de sua cong reg ad o , e de 
todas as c o n g re g a re s que existiam na área, para que se 
juntassem a ele enquanto celebrava as aparigóes de Jesús.
Eu nunca me esquecerei daqueles inspiradores desfi­
les pela fé que se estendiam ao longo da estrada de térra 
que levava para fora de nossa aldeia. Centenas de nossos 
vizinhos apareceram para as procissoes e form aram urna 
longa linha dupla atrás do padre enquanto esperavam o 
inicio das festividades.
O Padre Rwagema esperava até que a assembléia se 
acalmasse e, quando ele sentia que a m ultidáo tinha chega- 
do a um nivel satisfatório de silencio e reveréncia, ele dava 
inicio aos procedimentos. Ele iniciava erguendo sobre sua 
cabera urna grande cruz de madeira e depois, com urna 
voz estrondosa, repetía urna das muitas mensagens de Je­
sús que foram entregues por Segatashya, mensagens que 
ele tinha se com prom etido em memorizar. Por exemplo:
“Deus nunca negará sua misericordia se voces passa- 
rem por urna verdadeira conversáo em seus coragoes. Je­
sús está me falando para dizer-lhes que a vida na Terra 
dura apenas um m om ento, mas que a vida no Céu é eter­
na. Entáo, voces devem rezar. Lembrem-se de que aqueles 
que se dirigem de forma vá a Deus e clam am ‘Oh, Pai, 
me aben^oe!’ sem falar do fundo do c o ra d o ou sem se 
arrepender de suas transgressóes nao iráo para o Céu. Sáo 
aqueles que verdadeiramente am am a Deus e fazem a sua 
vontade praticando bons atos que seráo bem-vindos no 
Paraíso - náo os hipócritas e os impostores. Lembrem-se 
de rezar com sinceridade... O único cam inho para ir para 
o Céu é através de ora^óes que venham do c o ra d o .”
Em seguida, a passos largos e confiantes, o Padre R w a­
gema partía em d ire d o aos confins da aldeia para ir ainda
51
O MENINO QUE CONHECEU JESUS
mais longe, com a cruz erguida ao alto e seus lábios cons­
tantem ente se m ovendo enquanto entoava as mensagens 
de Segatashya quilóm etro após quilóm etro:
“O am or de Cristo por seus filhos é grande e excelente. 
Deus nao abandona nenhum dos seus filhos. Ele está sem- 
pre esperando que vocé diga sim a Ele e deixe-O entrar 
em seu coragáo. N o Dia do Julgam ento, Deus irá m ostrar 
a todos as suas vidas inteiras e as pessoas entenderáo que 
sáo autoras do seu próprio destino. Deus irá m ostrar a 
elas todos os atos que praticaram durante a vida, e depois 
a pessoa irá para o lugar que merece. N ao pense que Deus 
náo vé os seus pecados; o Senhor ve toda a^áo e conhece 
todo pensamento. Arrependa-se; náo resta m uito tempo. 
Se vocé precisa de ajuda para abrir o seu cora^áo a Jesús, 
reze para que a sua M áe venha em seu socorro. Jesús quer 
que vocé ame e respeite a M áe Dele como se fosse sua 
própria máe. Ela intercede por todos os seus filhos e irá 
conceder a vocé muitas grabas e dons espirituais”, dizia o 
Padre Rwagema, repetindo a mais recente mensagem reve­
lada por Segatashya no palco dos visionários em Kibeho.
Parecía a mim que poderíam os ter andado quase o dia 
todo atrás do Padre Rwagema, apesar do calor do sol de 
veráo que se abatía sobre nós. M uitas vezes fomos en­
volvidos por urna grossa cobertura de pó vermelho que 
levantava da estrada de cháo por causa de todos aqueles 
pés m achucados e cansados que m archavam juntos. M as, 
apesar disso, continuávam os a rezar e cantar até que fi- 
cássemos sedentos e nossas vozes ficassem roucas... Todo 
m undo na procissáo estava contente por estar lá.
Após viajarm os por quase 20 quilóm etros, o grupo pa- 
rava por alguns m inutos para descansar e beber água. De­
pois, o Padre Rwagem a cantava conosco urna can^áo que 
Jesús ensinou a Segatashya, urna cangáo que todos nós 
conhecíamos pelo simples e apropriado nom e de “ Can- 
^áo de Segatashya” :
Deus, voce me encontrou na estrada, 
e me deu urna mensagem 
para com partilhar com o mundo.
DESCOBRINDO SAGATASHYA
Eu a levei para os seus filhos, 
mas os seus filhos nâo a ouviram.
O que devo fazer, meu querido Deus?
Por favor, me dê força e sabedoria 
para conduzir minha missâo, 
e ajude-me a levar sua mensagem 
para o seu povo.
Centenas de vozes entoavam aquele simples refrâo 
conform e nos voltávam os e começàvamos a nossa longa 
cam inhada de volta a M ataba, com o Padre Rwagema 
recitando mensagens do Céu por todo o caminho.
A paixâo que os m oradores da aldeia sentiam por to ­
dos os visionários de Kibeho, e por Segatashya em parti­
cular, continuou a crescer. A fé de todo m undo estava pe­
gando fogo. N osso admirável sacerdote nos contava que, 
durante suas visitas a Kibeho, eie via Segatashya, que nâo 
tinha absolutam ente nenhum a escolaridade, conversando 
com padres e teólogos a respeito do significado e das vá- 
rias interpretaçôes da Biblia.
“Este m enino nunca teve um único dia de ensino em 
sua vida” , explicava Padre Rwagem a, atónito . “Com o 
poderia ele discutir as Escrituras ou argum entar sobre o 
significado de passagens da Biblia com teólogos estuda- 
dos a nao ser que o pròprio Senhor estivesse pessoalmente 
instruindo-o nesses assuntos? H á um verdadeiro milagre 
e n andam ento aqui... Algo assim nunca tinha sido visto 
antes na Africa!”
Táo grande era o zelo do Padre Rwagema por Kibeho 
e Segatashya que ele começou a conduzir grupos de pe­
regrinos pela longa e àrdua jornada até Kibeho para que 
eles próprios pudessem testem unharas apariçôes.
Por nao haver estradas apropriadas de M ataba até Ki­
beho, e pelo fato de que a m aior parte das pessoas de nos­
sa aldeia nâo possuía sapatos, que dirá veículos, a pere- 
grinaçâo para lá tinha que ser feita a pé. Era urna jornada 
que durava m uitos dias, e m uitas vezes era preciso fazer 
perigosas travessias de rios, andar por entre m ontanhas e
53
O MENINO QUE. CONHECEU JESUS
se em brenhar através da m ata fechada. Q uando eu tinha
12 anos, tudo isso soava incrivelmente divertido para a 
m inha im ag inado .
Q uando meu pai anunciou que estava se juntando ao 
Padre Rwagema e a urna dúzia ou mais de nossos vizi- 
nhos em urna p e reg rin ad o para Kibeho, eu comecei urna 
constante cam panha de im p o rtu n a d o e súplicas na es­
peranza de que pudesse convencé-lo a me levar com ele.
M eu pai recusava por com pleto os meus continuos 
pedidos, dizendo (com absoluta razáo) que eu era m uito 
jovem e que a jornada era m uito perigosa. Ele prom eteu 
que me levaria quando eu ficasse mais velha, mas, na rea- 
lidade, levaria m uitos anos até que eu finalmente fizesse 
urna viagem para Kibeho por m inha própria conta. E isso 
só foi acontecer por volta dos meus 20 anos, quando Se- 
gatashya há m uito já tinha deixado de receber apari^oes 
públicas em Kibeho.
M as isso nao queria dizer que eu estava impedida de 
conhecer Segatashya, assim como nenhum m em bro de 
m inha familia estava. N a verdade, eu vim a conhecé-lo 
extrem am ente bem através das d escrib es que meu pai 
fazia de suas viagens a Kibeho, e por ouvir horas e horas 
das grava^óes que o Padre Rwagem a fez do garoto en- 
quanto ele estava no meio de urna aparigáo.
Talvez mais do que por qualquer outro m otivo, o que 
fez Segatashya se destacar para mim era a com panhia na 
qual ele estava - a com panhia das outras extraordiná- 
rias visionárias de Kibeho, que foram escolhidas pelo Céu 
para espalhar mensagens que todos nós precisamos ouvir. 
E um grupo de garotas que todos nós devemos conhecer 
e amar.
54
CAPÍTULO 3
OS VISIONARIOS d e k i b e h o
As vezes, quando estou ao ar livre, em um am bien­
te tranqüilo , com o gram ado fresco sob meus pés, urna 
suave brisa soprando em meus cábelos e o calor do sol 
tocando m inha face, eu consigo fechar meus olhos e ser 
transportada ¿mediatamente de volta ao tem po em que eu 
passava longas tardes no quintal de nossa familia, espe­
rando meu pai reto rnar de um a de suas p e re g r in a je s a 
Kibeho. A e x c ita d o e a ansiedade que tom avam conta do 
meu cora^áo pré-adolescente naquela época fazem meu 
pulso acelerar ainda hoje.
A casa que meu pai construiu estava localizada na bei- 
ra de uma íngreme colina com vista para o Lago Kivu, um 
dos lugares mais espetacularm ente belos de toda a África. 
A vista de tirar o fólego que tínham os do lago em nosso 
quintal fascinava e encantava m inha ativa i m a g i n a d o . O 
Lago Kivu corre ao longo de toda a borda oriental de R u­
anda, e suas ampias e brilhantes águas funcionam como 
uma fronteira natural que separa Ruanda do seu vizinho 
mais próxim o, o Zaire (agora conhecido com o República 
Dem ocrática do Congo).
O Zaire era m uito m aior que R uanda - e, para os 
meus jcvens olhos, vendo através daquele lindo espelho 
de água do ponto de vista privilegiado de nosso quintal, 
no topo do m orro, as densas florestas e escuras selvas ver­
des do país se estendiam infinitamente. E, se era num dia 
particularm ente claro, eu podia ver até mesmo o topo das 
m ontanhas atravessando as nuvens bem ao longe. Aque­
les picos cobertos de névoa subiam táo alto que eu pen- 
sava que eles estavam a meio cam inho do Céu. Eu imagi- 
nava que aqueles cumes elevados e isolados poderiam ser 
um local ideal para a Virgem M aria e Jesús repousarem 
enquanto viajavam entre o Reino de Deus e a aldeia de 
Kibeho para visitar os visionários.
O MENINO QUE CONHECEU JESUS
De vez em quando eu passava urna tarde inteira no 
quintal olhando para aquelas m ontanhas enquanto espe- 
rava papai retornar de mais urna pereg rin ad o a Kibeho. 
Poderia ficar sentada imóvel por horas, descansando em 
urna alm ofada de pelúcia feita de reiva selvagem, inalando 
o inebriante arom a que vinha do enorme jardim de flores 
de minha máe. Todo o tem po me perguntando se M aria e 
Jesús estavam realmente lá em cima - e, se realmente esta­
vam, eles estavam olhando para mim? E, se olhavam , eles 
ficariam felizes em saber que eu os amava tanto?
Eu sempre esperava conseguir surpreender papai quan­
do ele voltava de sua jornada, correndo até ele e pulando 
em seus bracos antes que ele alcan^asse a porta da frente. 
M as, na m aior parte das vezes, era papai que, cam inhan- 
do pelo quintal, me surpreendia enquanto eu olhava as 
m ontanhas distantes, sonhando com Jesus e M aria em 
plena luz do dia. Ele lim paria sua garganta ou com etaria 
a assobiar urna c a n d o Para me fazer saber que estava em 
casa e que estava esperando por um abraco.
Eu jogava meus bracos em volta dele para dar-lhe as 
boas-vindas e ele cam inhava comigo até a beira da colina 
e contem plava a vista que nós dois tanto am ávam os. Pa­
pai, entào, sempre dizia quando ficávamos a sós em nosso 
quintal e olhávam os juntos o Lago Kivu: “Immaculée, eu 
nào sei com o alguém poderia olhar para tan ta beleza e 
nao se com over com o encanto da obra de Deus. Voce sa­
bia que dizem que Deus passa o seu dia inspecionando a 
C r ia d o e à noite Ele retorna para Ruanda para descansar 
porque este é o lugar mais bonito que Ele criou? Lembre-se 
disso, Immaculée. Deus dorme em R uanda” .
Eu apertava meus bracos ao redor dele o mais firme que 
podia e beijava-o na bochecha. M au pai era a única pessoa 
que eu conhecia que amava a Deus tanto quanto eu; por 
isso, eu o amava mais do que seria capaz de descrever.
Depois de urna boa e longa olhada no lago, papai dizia 
que estava com fome e caminhava de volta para dentro de 
casa. Antes que ele tivesse a chance de entrar, porém , eu
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OS VISIONARIOS d e k ib e h o
implorava para que ele comegasse a dar detalhes sobre sua 
viagem e as incríveis coisas que ele tinha visto e ouvido 
em Kibeho. M as papai era metódico em tudo que fazia e 
nao diria urna palavra sobre suas p e re g r in a je s até que 
a familia tivesse term inado a refeigáo e depois se reunido 
na sala para o Igitaramo. Somente entáo ele com etaria a 
revelar-nos os acontecim entos verdadeiramente m ilagro­
sos que ele tinha presenciado em Kibeho.
A prim eira coisa que eu sempre perguntava para pa­
pai era se ele tinha visto Segatashya. Inevitavelmente, sua 
resposta á m inha pergunta era insatisfatória, para dizer o 
mínimo. “Ah, sim, eu vi Segatashya” , ele dizia. “M as nao 
comece a correr para chegar á frente de si mesma, Imma- 
culée... Coisas boas vém para aqueles que esperam .”
M eu pai nunca gostava de ser apressado por ninguém, 
especialmente quando contava urna historia. Para ele, as- 
sim como para m uitos ruandeses, historias eram urna das 
grandes ferram entas disponíveis para um educador, um 
líder tribal ou um pai poderem expressar mensagens e 
ensinam entos moráis aos jovens. A cultura e a historia de 
Ruanda foi sempre passada adiante através da tradi^ao 
oral da c o n ta d o de historias e em nosso lar essa tradi^áo 
estava bem viva.
Q uando dava inicio as suas historias de p e re g r in a je s , 
papai invaríavelmente come^ava descreyendo a própria 
jornada, contando tudo o que tinha acontecido duran ­
te os longos quilóm etros da exaustiva cam inhada. Para 
mim, aquelas historias, m uitas vezes repletas de relatos 
sobre dificuldades angustiantes, eram algumas das me- 
lhores já contadas.
Papai nos contava com o o seu grupo de entre 200 e 
300 peregrinos da aldeia ficou sem com ida no meio do 
percurso, foi perseguido por anim ais selvagens

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