Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CAPÍTULO 1 A VOZ NA ESCURIDÁO A principio, eu nao conseguia ver absolutam ente nada. Estava ciente apenas de que estava sozinha em urna escuridáo táo absoluta que eu pensava que ia me sufocar. Entáo, como se fosse um a corda de salvam ento chegando de algum lugar além da profunda escuridáo da noite, uma voz fam iliar foi ao encontro dos meus ouvidos - um a voz confortadora, de alguém que eu havia am ado e confiado em minha infáncia. Era a voz de Segatashya, que, em R u anda, m inha térra natal na África, era conhecido como “o m enino que conheceu Jesús” . A voz suave de Segatashya dirigiu-se até mim através do escuro abism o, com o que flutuando sobre uma brisa calma. Aquela voz, indecifrável num prim eiro m om ento, lentamente foi tom ando form a em palavras, sussurrando delicadamente: “O Paraíso está esperando por todos nós quando chegar a nossa hora de partir deste m undo, mas apenas se nossos coragóes estiverem limpos e pu ros” . Repentinam ente, eu me dei conta de que estava dor- m indo e no meio de um sonho, porque Segatashya havia sido assassinado m uitos anos antes. Ele foi um a das mais de um m ilháo de vítimas inocentes que foram m assacra- das durante o horrível genocidio que ocorreu em R uanda em 1994. E aquela noite em que me deitei para dorm ir era em m eados de novem bro de 2010... Portanto , perce- bi que estava sonhando. M as eu tam bém percebi que, se aquilo era um sonho, ele era diferente de todos os outros que tive antes. O que eu estava sentindo era vivido, real e vital como qualquer coisa que eu já tinha experim entado ilurante m inhas horas de vigilia. A voz se dirigiu a mim novamente: “Jesús diz que de- vemos p reparar nossos cora^óes para o Fim dos Dias. l odos nós vamos m orrer um dia - nós nao devemos vi- ver nossas vidas com o se náo soubéssemos que o nosso O MENINO QUE CONHECEU JESUS tem po nesta Terra chegará ao fim. O próprio m undo irá acabar, e este dia está se aproxim ando rápidam ente. Nós devemos nos arrepender de todos os nossos pecados antes que seja tarde. N ós temos que pedir perdáo por nossas transgressóes e encontrar misericordia em nossos cora^óes para perdoar aqueles que nos ofenderam. Nós devemos purificar nossos cora^óes com o am or de Deus e limpar nossos espíritos vivendo uma vida repleta de am or e cari- dade. Nós devemos preparar nossas almas para o Dia do Julgam ento. O retorno de Cristo está próxim o e os por- tóes do Céu seráo abertos para nós somente se o Senhor nos considerar merecedores de entrar em seu R eino” . As palavras foram se to rnando cada vez mais e mais familiares a mim e eu me dei conta de que nao somente reconhecia aquela voz com o tam bém reconhecia aquela mensagem específica. Eu já tinha ouvido Segatashya p ro nunciar exatam ente as mesmas admoesta^óes quando era garota. Em meu sonho, eu estava flutuando sobre o chao com o se meu cora^áo me puxasse em dire^áo á voz, a qual me tirou da escuridáo e me levou para um círculo de luz dourada. Dezenas de pessoas estavam reunidas no centro daquele agrupam ento de luz, todas ouvindo aten tam ente a um adolescente que estava discursando para elas com intensidade e urgencia. O jovem estava senta do em um longo banco de m adeira, com sua audiencia am ontoando-se ao redor dele. Ele estava virado de costas para mim e, por isso, eu náo podia ver seu rosto, mas eu estava certa de que ele era Segatashya. A prim eira vez em que o ouvi falar eu tinha 12 anos de idade e nada no m undo irá apagar de m inha m em oria o rico tom de sua voz ou o conteúdo m iraculoso de suas mensagens. Em verdade, tenho certeza, sem a m enor dú- vida, de que qualquer pessoa que já tenha ouvido Sega tashya falar sente-se da mesma form a - uma vez que suas palavras tenham tocado o seu cora^áo, elas faráo parte dele para sempre. A VOZ NA ESCURIDAO Para aqueles que nao estao fam iliarizados com o meu mais recente livro, O ur Lady o f Kibeho: M ary Speaks to the W orld from the H eart o f A frica,r eu devo explicar que Segatashya era um m em bro de um grupo de jovens visionários que viram apari^óes da Virgem M aria - e, no caso de Segatashya, de Jesús Cristo - na distante aldeia de Kibeho, em Ruanda, durante a década de 1980. N aquela época, havia dezenas de visionários que afir- mavam ter visto apari^óes divinas, mas em O ur Lady o f Kibeho eu foquei naqueles oito que foram considerados os mais confiáveis pela Igreja Católica, bem com o pelos milhares de peregrinos que acorreram a Kibeho em busca de in sp ira d o espiritual. Essencialmente, os visionários transm itiram mensa- gens de amor, instruindo-nos sobre com o viver vidas me- Ihores fazendo a vontade de Deus. Eles disseram que se seguíssemos os inspiradores avisos daquelas mensagens o nosso m undo se to rnaria um lugar mais pacífico e nos- sas alm as poderiam estar mais bem preparadas para o dia em que, no fim de nossas vidas, encontrarem os Jesús e seremos cham ados a prestar contas pelo nosso tem po na Terra. As mensagens vindas do Céu entregues em Kibeho eram , como M aria e Jesús deixaram claro, de grande e ¡mediato interesse para todas as pessoas no m undo intei- ro. Elas continham avisos para Ruanda, para o nosso p la neta e para nossas almas individuáis - avisos sobre coisas terríveis que podem ocorrer conosco, com o individuos e como espécie, se nao abragarm os o puro e am oroso esti lo de vida que M aria e Jesús nos oferecem. Com o Jesús falou para Segatashya, o m undo está em péssimas condi- góes e dias terríveis nos aguardam - mas se nós rezarm os de cora^áo e sinceramente fizermos bons atos, nós encon trarem os paz neste m undo e no próxim o, nao im porta o quanto as coisas fiquem desesperadoras. ' “Nossa Senhora de Kibeho: M aria fala ao m undo a partir do coragao da África”; ainda sem pub licad o no Brasil. 21 O MENINO QUE CONHECEU JESUS Eu tinha 11 anos de idade quando come^aram a surgir as aparigóes em Kibeho. Os m aravilhosos e místicos en- contros experim entados pelos visionários e as mensagens milagrosas que eles receberam do Céu e transm itiram a nós m oldaram m inha vida de tantas formas que eu nao saberia dizer. E nenhum visionàrio foi mais influente para a m inha jovem mente, para a m inha florescente fé e meu crescimento espiritual a longo prazo, do que Segatashya. Sua historia pessoal única e sua incrível interagao com Jesus me cativaram quando era crianza e me m antiveram alegremente fascinada desde entáo. Tenho certeza de que se voce o conhecesse com o eu o conheci, vocé se sentiría exatam ente da mesma form a. Em bora as aparigóes de Kibeho ainda sejam bastante desconhecidas em m uitas partes do m undo (mas eu estou trabalhando duro para m udar isso), os eventos m ilagro sos que ocorreram lá irradiaram pelas fazendas, florestas e selvas de R uanda, eletrizando meu país natal com tan to poder e intensidade que os padres, bispos e arcebispos de lá foram forjados a se levantar e ficar a par do que ocor- ria. E como poderiam nao notar? Incontáveis ruandeses viajaram a pé por centenas de quilóm etros, m uitas vezes sem comida e desabrigados, apenas para ter um vislum bre dos visionários de Kibeho e tom ar parte dos milagres que aconteciam lá. Autoridades da Igreja Católica iniciaram urna rigorosa investigado a respeito da origem e da natureza das apa- rigòes, urna investigado que iria analisar e dissecar to dos os aspectos das vidas dos visionários. Urna Comissáo de Inquérito foi estabelecida e o Vaticano tom ou parte da investigado sobre os surpreendentes acontecim entos sobrenaturais que ocorreram em urna das mais obscuras regiòes da mais profunda Africa. A investigado , liderada por especialistas da Igreja - in- cluindo teólogos de renom e, cientistas, médicos epsiquia tras - , durou um total de duas décadas. E, tao m arcantes quanto as apari^òes da Virgem M aria e de Jesús em si 22 A VOZ NA ESCURÏDÂO mesmas, as conclusòes da Comissâo de Inquérito apôs 20 anos de análise foram quase igualmente milagrosas. Em novem bro de 2001, o Vaticano, em um decreto ex trem am ente raro , aprovou as apariçôes da Virgem M aria presenciadas por très visionárias de Kibeho entre 1981 e 1989. Essas très visionárias - Alphonsine, Anathalie e M arie-Claire - eram estudantes adolescentes do Colégio de Kibeho e foram as prim eiras a ver as apariçôes na re- giâo.2 A Igreja apoiou oficialmente o culto no “Santuàrio de Nossa Senhora das D ores” , to rnando Kibeho o único local de apariçôes aprovado em toda a África. O pequeño santuàrio da escola da aldeia está lenta mas gradualm en te se transform ando em um destino de peregrinaçâo favo rito dos fiéis de todas as partes do m undo. Eu estava mais que anim ada com os veredictos da Igreja. O fato de que as mensagens de M aria e seu Filho estavam chegando ao m undo, apesar de terem sido entregues em um país táo rem oto - e em um lugar ferido e corroído pela mais maligna form a de assassinatos em massa - , provaram a mim que nao existem fronteiras para o poder de Deus e que o seu am or irá passar por todos os obstáculos. O endosso do Vaticano ao Santuàrio de Nossa Senho ra me inspirou tan to que eu sentei e escrevi O ur Lady o f Kibeho, que foi publicado em 2008. Eu queria que todo o m undo conhecesse os visionários de Kibeho e suas m en sagens de amor, esperança e paz. Eu queria com partilhar 2Alphonsine M umureke, atualmente religiosa da Ordem de Santa Clara; Anathalie M ukam azim paka, vive atualmente junto ao Santuàrio de Kibeho; Marie-Claire M ukangango (1961-1994), assassinada durante o genocidio. Existiam outros visionários que ganharam destaque durante este período, mas cujas visoes nao foram aprovadas pelo Decreto Diocesano: Agnes Kamagaju, Stephanie M ukam urenzi, Emmanuel Segatashya e Vestine Saiima. O Decreto de 29 de junho de 2001 da diocese do Gikongoro, emitido após Consulta da Santa Sé e da Conferencia Episcopal dos Bispos de Ruanda, aprovou apenas as apari^òes da Santissima Virgem e nao as de Nosso Senhor Jesús Cristo em Kibeho. Estas estavam principalmente ligadas a Emmanuel Segatashya, que, segundo o documento da diocese de Gikongoro, pouco antes de sua morte, em 1994, chegou a sofrer de doencjas mentáis (cf. http://kibeho-sanctuary.com/ index.php/en/apparitions/approval). 23 O MENINO QUE CONHECEU JESUS com todo o m undo o meu am or pela Virgem M aria. E quería que todo o m undo viajasse para R uanda e visitas se o inesquecível santuàrio de Nossa Senhora, para que todos pudessem experim entar por si próprios, naquele lugar santo, o poder e a pureza do am or da M ae de Jesús. M eus desejos se tornaram realidade de m uitas formas. Até agora o meu livro já foi traduzido para mais de dez idiom as e, se Deus quiser, um dia será lido no m undo todo. Centenas de pessoas que o leram fizeram a trans form adora jornada para o Santuàrio de Kibeho. M uitos deles obtiveram curas milagrosas - com o a de um garo- tinho que eu conhe^o que foi curado de cáncer nos ossos após sua avó ter recitado o Rosàrio das Sete Dores na ca- pela em que a Virgem M aria apareceu algumas vezes para os visionários.’ Eu acom panhei pessoalmente dezenas de amigos em p e reg rin ad o dos Estados Unidos em d ire d o a R uanda e vi em prim eira m áo m uitas tra n s fo rm a re s de c o ra d o e alma ocorrendo no aben^oado solo onde a Virgem M aria e Jesús apareceram aos jovens visionários. Apesar disso, m isturado á minha grande alegria de ter dado ao m undo um vislumbre de Kibeho, urna introdu- d o aos visionários e urna am ostra das m uitas mensagens que foram reveladas por eles, havia um sentim ento de que eu nao tinha feito justi^a total a urna historia particular de Kibeho que, por variados motivos, era a que eu mais queria ter contado: a historia de Segatashya. 3 A Ordem dos Servos de M aria apresenta urna especial devogào às Dores de M aria Santissima. Esta oraijào tradicional é especialmente vinculada ao Santuàrio de Kibeho. Trata-se de urna Coroa, ou Rosàrio, de sete mistérios para cada Dor de M aria Santissima, cada um com sete Ave M arias. As Dores de M aria Santissima, conforme antiqiiissimo costume, sào: 1. A dor que sentiu o seu C orafào Virginal com a profecia de Simeào; 2. A angùstia que sentiu ao ter que fugir com Sao José e seu Menino-Deus para o Egito; 3. A aflifào que Eia sentiu quando perdeu por très dias o seu Tesouro: Jesus; 4. A tristeza mortal que Eia sofreu ao ver seu Filho carregando a Cruz por nossos pecados; 5. O martirio do seu Cora^ào generoso, assistindo à crucifixào do Salvador; 6. A ferida que sofreu seu C o ra n o , ao ver seu Filho deposto da Cruz; 7. O desconsolo e desamparo que Eia sofreu no sepultamento do Redentor. 24 A VOZ NA ESCURIDÀO Em bora eu tenha mencionado e descrito cada um dos oito principáis visionários de Kibeho (incluindo Segatashya) em O ur Lady o f Kibeho, meu foco principal nesse livro estava quase que totalmente voltado para as tres visionárias reco- nhecidas pela Igreja e para as aparigòes da Virgem M aria vistas por elas. Eu ten ho muito, muito respeito pela Igreja Católica e o Vaticano e nao queria causar problemas ou aborrecer os seus representantes em Ruanda, nem os seus representantes em Roma, entrando em detalhes a respeito das visòes e mensagens que a Igreja ainda nao aprovou ofi cialmente. O Vaticano é muito cauteloso quando se trata de reconhecer qualquer evento que é tido por alguns como milagroso. Qualquer tipo de evento remotamente conside rado sobrenatural é metodicamente analisado por especia listas da Igreja antes que um veredicto seja pronunciado a respeito de sua validade ou falsidade. Entre as principáis p re o c u p a re s e apreensóes do Va ticano envolvendo o tem a dos milagres e apari^óes, está o altam ente justificável receio de que fenómenos deste tipo possam ser obra de demonios ou do pròprio diabo - o que á prim eira vista poderia parecer um milagre santo seria, na verdade, um ardil satànico para levar pessoas ingenuas á escuridáo, ao pecado e á dana^áo.4 N a verdade, como as visòes de Segatashya nao ti- nham sido im ediatamente incluidas no reconhecimento oficial das apari^óes de Kibeho por parte da Igreja, em um prim eiro m om ento eu fiquei receosa de que alguém no Vaticano ou na hierarquia da Igreja ruandesa tivesse sus- peitas com relagáo a Segatashya e suas mensagens. Mas, louvado seja Deus, foi-me assegurado de que o completo oposto era verdadeiro. De fato, todo m em bro da Igreja que era familiarizado com as aparigóes de Kibeho tinha Segatashya na mais alta estima, tan to como pessoa quanto como visionàrio. Várias das autoridades do alto escaláo da Igreja em Ruanda me garantiram pessoalmente que to das as visòes e mensagens recebidas por Segatashya foram ■'Veja-se a apresenta^ao sobre as re v e la re s particulares na página 9. 25 O MENINO QUE CONHECEU JESUS minuciosamente investigadas e reinvestigadas. Ao firn, nin- guém tinha a menor dúvida a respeito tanto da sinceridade do garoto quanto da autenticidade dos seus encontros com Jesus ou Maria. Q uando eu expus m inhas p re o c u p a re s a um dos prin cipáis investigadores das apari^óes m andados pela Igreja, ele me disse: “ Immaculée, todo m undo na Comissáo de Inquérito que testem unhou as visóes de Segatashya, con- duziu testes médicos nele ou exam inou seu estado mental e m oral, estava absolutam ente convencido de que ele fa- lou tan to com Jesus quanto com M aria e que suas mensa- gens vinham diretam ente do Céu” . “M ais im portante” , ele continuou, “cadaurna das mensagens entregues por Segatashya e tudo o mais que ele disse durante sua missào de pregar a palavra de Deus apoiava e complementava as doutrinas de nossa fé e nunca contradisse qualquer coisa da Biblia. Essas sao condi^òes críticas que devem ser cumpridas quando a Igreja inves tiga acontecimentos sobrenaturais e considera reconhecer um visionàrio ou urna aparigào... E Segatashya cumpriu tais condirò es com louvor.”5 “ Se eie cumpriu todos os requisitos para obter reco- nhecim ento oficial da Igreja, entào por que eie nào està entre os visionários aprovados?” , perguntei. “Voce deve ter paciencia, m inba jovem ”, respondeu eie. “ Geralmente, leva séculos para a Igreja reconhecer um milagre. Os que estào no com ando da investigarlo sobre Kibeho estào come^ando a aprovar os prim eiros visioná rios que tiveram visòes da Virgem M aria... Isso dem orou apenas 20 anos, o que é um pequeño milagre em si mes- mo! A Igreja está ai há 2 mil anos e simplesmente nào se apressa em tirar conclusóes. Tenha paciencia, Immaculée - todas as evidencias que eu vi me dáo a certeza de que a Igreja vai acabar aprovando as visóes de Segatashya e as 'E ra verdade, alguns trechos contidos nos capítulos posteriores deixam m argem á dúvida, podendo levar a in te rp re ta res inoportunas. Tais trechos estao acom panhados por notas de rodapé que se reportam diretamente aos docum entos da Igreja referentes a cada um dos casos específicos. 26 A VOZ NA ESCURIDÀO mcnsagens de Jesus... E dentro de nào m uito tem po eie lumbém será oficialmente reconhecido como um verda- ilciro visionàrio pelo Vaticano.”6 Dito tudo isto, eu devo salientar, porém , que até agora as mensagens de Segatashya ainda nao foram aprovadas pela Igreja. M as eu estou escrevendo sobre suas incrí- veis visóes como um a testem unha ocular, um a verdadei- ra crente, e com um profundo sentim ento de obriga^áo pessoal em com partilhar a historia de Segatashya com a hum anidade. Ter conversado com tan tos representantes eminentes da Igreja me deixou mais confortável para passar adiante as mensagens dele, a fim de que os leitores possam form ar sua pròpria opiniào a respeito do assunto. Estou confian te de que um dia a Igreja irà aprovar as visòes de Sega tashya - e toda a sua historia e o conteúdo de suas m uitas mensagens iráo a público em sua totalidade. Este livro é um prim eiro passo nesta diregào, e saber que outras pes- soas logo estaráo lendo a historia de Segatashya faz com que meu coragào pule de alegria. Em m inhas viagens eu encontrei m uitas pessoas que leram e foram tocadas por O ur Lady o f Kibebo e fico tranqüila em saber que fiz a m inha parte em apresentar ao m undo os milagres e mensagens das aparigòes de Ki- beho. M as parecia que Segatashya nao estava tào con tente quanto eu... E, dois anos após a p u b lic a d o do meu livro, eie decidiu me visitar em sonho para me m ostrar como eXatamente eie estava se sentindo. N aquele sonho que tive há tan tos meses, eu via, à distancia, que Segatashya continuava a transm itir m en sagens de Jesus para um nùm ero crescente de especta dores que se juntava ao seu redor. Sua voz baixa e suave era robustecida por sua conhecida seriedade. Eie falava apressadam ente, com o se sua m ente estivesse a ponto de explodir por ter m uito a dizer em tào pouco tem po. 6 Par a Diocese de G ikongoro, o Decreto de 29 de junho de 2001 é definitivo, nao estando em questáo iniciar outros procedimentos esperando obter uma eventual aprovagao de outros videntes. O MENINO QUE CONHECEU JESUS Por um m om ento, eu perm anecí na borda do círculo de luz e silenciosamente fiquei ouvindo-o falar, com meu cora^áo contente por ouvir sua voz mais um a vez. Em seguida caminhei para dentro da luz e me movi em sua direm o, abrindo cam inho na m ultidào até chegar ao seu banco e me sentar ao seu lado. Eie ainda estava de costas para mim, mas eu sentía que eie estava ciente da m inha presenta. Nós havíam os nos encontrado m uitos anos antes e eu sabia que ele iria me reconhecer na hora em que percebesse que eu estava lá sentada. Eu tam bém sabia que, em bora ele estivesse m o rando no Céu há m uitos anos, ele devia estar nao só sa- bendo, mas tam bém contente por eu ter escrito um livro sobre Kibeho. C ontudo, por alguma razáo Segatashya se m antinha virado de costas para mim e nào fazia men^áo de se virar para me cumprimentar. Tive uma desagradável impressào de que ele nào quería olhar para mim. Finalm ente, nào consegui mais ficar esperando. Co- loquei m inha m ào em seu om bro e suavemente fiz com que ele se virasse. “Segatashya!” , gritei. “O que voce está fazendo aqui? Voce está m orto! Por que voce voltou para esta vida? Voce nào percebeu que nao pode conversar com essas pessoas? Q uando elas perceberem que voce está m orto, elas ficaráo aterrorizadas. Elas correrào para longe e ficaráo m uito assustadas para ouvir o que voce está falando!” M eu cora^ào gelou quando vi a expressáo em seu ros to. Este garoto que eu tan to amei - e o qual, quando es tava vivo, parecía ter sempre um sorriso nos lábios - nào parecía estar nem um pouco feliz em me ver. “Voce quer saber por que estou aqui?” , perguntou ele, aborrecido. “A razáo é simples: se ninguém está disposto a espalhar m inhas mensagens pelo m undo, eu devo achar um jeito de fazer isso eu mesmo.” Engoli em seco. M eu estóm ago em brulhou quando me dei conta de que Segatashya estava, de fato, com pleta mente ciente a respeito do livro que escrevi sobre Kibeho e que nao estava nem um pouco satisfeito com isso. A VOZ NA ESCURIDÁO Em seguida, sem pronunciar urna única palavra, ele olhou dentro do meu cora^áo e me perguntou: “ Imaculée, por que vocé esteve táo preocupada em saber se a Igreja vai dar ou nao reconhecim ento oficial ás visóes que eu tive enquanto estava na Terra? Vocé sabe como a hora já está tarde para a hum anidade. Vocé sabe que o fim está próxim o. C ontar a m inha historia nao é mais im portante do que esperar que alguém na Terra dé ás m inhas pala- vras um selo de aprovagáo? Fazer com que as pessoas conhegam as mensagens que Jesús deu a mim nao é a coisa mais im portante do m undo? O que pode ser mais crucial do que com partilhar as mensagens que Jesús quer com urgencia que as pessoas conhegam o quanto antes - mensagens que F’le quer que as pessoas conhe^am agora, antes que se ja tarde?” Segatashya, entáo, sorriu e disse: “ Sabe, algumas m en sagens sáo táo im portantes que elas devem ser com uni cadas im ediatam ente, náo im porta o que acóntela. Al gumas coisas sáo táo im portantes que simplesmente náo podem esperar para serem aprovadas!” Ele estendeu a m áo e tocou em meu bra^o. E eu acor- dei com um susto.7 Assim que abri meus olhos, entendí que este náo era um sonho comum. Era urna visita do Céu. Segatashya saiu do Paraíso e veio até mim com urna tarefa: contar sua historia e com partilhar suas mensagens com o m aior núm ero de pessoas que eu pudesse. Sem me preocupar em ligar o abajur ao lado da minha cama antes, peguei a cañeta e o caderno que guardo so bre m inha mesa de cabeceira. N a fraca luz do amanhecer, comecei a tom ar notas a respeito das imagens da visita de 70 livro é principalmente urna narrativa afetiva da autora, para quem o drama coletivo do genocidio em Ruanda foi tangível. Por isso, ela com eta mos trando ao leitor um sonho, realidade subjetiva e turvada. Em caso de apareces ou revela?6es, a aprova?ao da autoridade eclesiástica competente faz-se muito importante para averiguar, em primeiro lugar, o conteúdo doutrinal das “men sagens”, que náo podem contradizer a R evelado pública; depois, para evitar enganos de origem natural ou preternatural. 29 O MENINO QUE CONHECEU JESUSSegatashya que ainda estavam fervendo em m inha m en te... Urna visita que acabaria por tom ar conta do meu coragáo e que lentam ente desabrochou no livro que vocé está lendo agora. E, em bora as mensagens sobre as quais escrevi aqui talvez soem com o novas para m uitos de voces, elas, na verdade, existem desde a criagáo do universo. Sao mensagens que estiveram pululando pelo m undo em alto e bom tom por mais de dois mil anos... M ensagens que ecoaráo em nossas almas por toda a eternidade se nós abrirm os nossos cora^óes para elas. De fato, as mensagens de Segatashya podem ser en contradas ñas palavras de Jesús como elas foram escri tas na Biblia. M as ouvi-las do próprio Segatashya é, em vários sentidos, com o ouvir direto da boca de um dos discípulos do Senhor, um daqueles aben^oados Apóstolos que andaram com Cristo pela Terra Santa durante o seu m inistério. Eu digo isso porque sei que Segatashya, como os discípulos de antigam ente, verdadeiram ente é alguém que conversou com Jesús - alguém que foi escolhido por Jesús para conversar. E, da mesma form a com o ocorreu com os discípulos, Segatashya tam bém nao tinha a me nor idéia de quem era Cristo quando Ele apareceu pela prim eira vez em sua frente. Isso porque Segatashya era apenas um garoto camponés africano pobre e iletrado, que, além disso, tam bém era pagáo.8 Antes de Jesús aparecer para ele no veráo de 1982, o jovem Segatashya nunca tinha entrado em urna igreja, tam pouco tinha qualquer nogáo real de quem Jesús Cristo era. Em vários sentidos, a inocencia do garoto o tornou um candidato ideal para receber as mensagens de Nosso Senhor, pois ele fez as mesmas perguntas que eu ou vocé poderíamos ter feito caso repentinamente nos encontrásse- mos face a face com Jesús. Perguntas como: “Por que é táo im portante am ar a Deus, afinal?” e “Entre Deus, o Espirito Santo, Jesús e M aria, quem eu deveria am ar mais? A Biblia diz que eu devo am ar vocé, Jesús, mais do que amo meus “A pouca in s tru y o cultural e doutrinal de Segatashya deve ser tida em conta ao avaliar a sua vida interior. 30 A VOZ NA ESCURIDÂO pais ou qualquer outra pessoa... Como você pode estar fa- lando sèrio sobre isso, visto que acabei de conhecê-lo?” Segatashya foi até o ponto de perguntar a Jesus “por que eu deveria am ar meus inimigos, com o você diz para en fazer, um a vez que Deus nâo am a seu inimigo, que é Satanás?” A ingenuidade e a inocência quase infantil deste ga- io to ao fazer suas perguntas para Jesus sempre tocaram ineu coraçâo e freqüentem ente colocavam um sorriso em meus lábios. M as o mais im portante é que as respostas ilo Senhor para aquelas questôes se transform aram em uin m apa espiritual para mim, um m apa para o quai eu nie volto m uitas e m uitas vezes enquanto navego por este inundo turbulento. Sempre que eu enfrentava alguma dificuldade ou situa- çôes desafiadoras em m inha vida, situaçôes que pareciam completamente sem esperança - como, por exemplo, quan do eu estava trancada em um banheiro tentando salvar mi nha vida de assassinos com machados em punho, durante o genocidio de 1994 - , eu muitas vezes encontrei consolo nas palavras dos visionários de Kibeho, especialmente na- quelas proferidas por Segatashya. As mensagens que Jésus compartilhou conosco na Biblia, as quais foram novamen- te com partilhadas com Segatashya, podem curar nossos corpos e anim ar nossas almas. E elas podem nos fornecer coragem, conforto e força para superarmos até mesmo os nossos mais negros períodos de tristeza e desespero. Com o eu gostaria que aqueles que estào p rofunda mente atorm entados ou abatidos pela dor das dificulda- des diárias, em vez de desistirem da vida, abandonando a fé em Deus, se voltando para as drogas e o àlcool ou mesmo pensando em dar cabo da preciosa vida que Deus deu a eles, pudessem ouvir as palavras consoladoras que Jesús com partilhou com Segatashya quando ele pròprio estava passando por urna tragèdia pessoal! Com o disse o Senhor: M esm o que você esteja sofrendo assim agora, saiba que eu passei por sofrim entos m uito 31 O MENINO QUE CONHECEU JESUS piores do que esse antes de vocé... Anim e-se e nao perca a esperanza. Agarre-se a m im , confie em m im , apoie-se em m im e eu irei conduzi-lo por suas trevas... Agarre-se a verdade e eu irei ajudá-lo... Clame por m im e vocé nunca estará sozinho... Pega e eu irei ouvi-lo... Todas as vezes que leio mensagens como essa m inha vida faz mais sentido. E, ainda que eventualm ente eu me divertisse com o vai-e-volta das conversas de Segatashya com Jesús, tan to as perguntas quanto as respostas nunca falharam em me proporcionar um grande sentim ento de paz, uma paz que vem de saber que Deus está sempre á nossa disposigáo, que Ele nos ama sem m edida, que Ele irá nos socorrer a qualquer m om ento em que nós O cha- m arm os, e que Ele está esperando ansiosamente para nos encontrar no Céu... Desde que nossos cora^óes estejam prontos para o encontro quando esse dia chegar. E esta talvez seja a mensagem mais im portante que Se gatashya com partilhou conosco: a de que Jesús urgente mente deseja que nós nos preparem os para a outra vida e que tenham os certeza de que nossas almas estáo prontas para entrar no Céu.9 Ñ as próxim as páginas, vocé vai encontrar avisos so bre tempos perigosos que amea^am a hum anidade, sobre eventos calamitosos e terríveis que aguardam o m undo nos dias que viráo. E um tem po conhecido como “Fim dos Tem pos” - ou, como está escrito no livro da Revela^áo, o Apocalipse.10 M as tom ar conhecimento disto nao significa ’Para ir ao céu é preciso empreender o caminho da sa lv ad o , e este nao é outro senáo o caminho mesmo da santidade: no céu só haverá santos, seja que estes tenham lá entrado ¡mediatamente depois da sua morte, ou que havia tido antes a necessidade de serem purificados no purgatorio. Ninguém entra no céu se nao possuir aquela santidade que consiste em estar puro e limpo de toda fal ta [ ...]” (Fr. Garrigou-Lagrange, O. P.; Las Tres Edades de la Vida Interior, p. 3, 3* edi^áo - Ediciones Desclées, Buenos Aires, 1944). “ “Senhor do cosmos e da historia, Cabera da sua Igreja, Cristo glorificado permanece misteriosamente sobre a térra, onde o seu Reino já está presente como germe e inicio na Igreja. Ele um dia voltará em gloria, mas nao sabemos quando. Por isso, vivemos vigilantes, rezando: ‘Vem, Senhor’ (Ap 22,20)” (Compendio do cic, n. 133). 32 A VOZ NA ESCURIDÀO que teremos que viver com medo e desespero ou desenco rajados frente ao futuro. Jesus disse a Segatashya que nós nao devemos tem er o firn do m undo, mas, sim, estarmos preocupados sobre a form a como vivemos nossas vidas diárias, pois elas podem acabar a qualquer m omento. Com o o jovem visionàrio nos provou através do exem- plo, os tem pos em que vivemos sao tempos de enorm e opor- tunidade espiritual para cada um de nós. Por interm èdio das mensagens com partilhadas por ele, nós descobrimos como viver nossas vidas em p re p a ra d o para o dia em que iremos nos encontrar com nosso Criador. E, se aprovei- tarm os bem a gloriosa oportunidade que nos está sendo apresentada, nós iremos desfrutar da eternidade no Pa raíso. M as nao podemos deixar a oportunidade escapar. Com o Segatashya me disse no sonho, “algumas coisas sao táo im portantes que simplesmente náo podem esperar!” A historia de Segatashya é urna historia de júbilo, e as mensagens que ele com partilha conosco curam e re- dimem. Eu sei que elas transform aram o meu coragào e adicionaran! grande dose de beleza á form a com o eu vejo esta vida e a vida que virá. Eu espero, com a ajuda e o am or de Deus, que as mensagens que se encontram ñas páginas a seguir fa^am o mesmo por voce. Deixe-me comegarcontando-lhe quem eu sou e falar um pouco a respeito das prim eiras aparigóes da Virgem M aria e seu Filho em Kibeho. E depois será com gran de honra e prazer que irei apresentá-los a Segatashya, o m enino que conheceu Jesús. Estou certa de que voces se to rnaráo amigos por toda a vida. 33 CAPÍTULO 2 DESCOBRINDO SEGATASHYA A primeira vez que ouvi falar em Segatashya foi quando eu era urna jovem m enina crescendo na pequenina aldeia rural de M ataba, na m inha terra natal, Ruanda. A m aior parte das pessoas fora da África nunca tinham ouvido falar em R uanda - ou, se tinham , elas conheciam nosso país com o o lugar onde ocorreu, em m eados dos anos 90, um a das mais selvagens ondas de assassinato do m undo. O genocidio ruandès foi um banho de sangue e de bru- talidade sem precedentes que arrasou m inha terra natal na prim avera de 1994. M ais de um m ilháo de homens inocentes, mulheres e crianzas (incluindo a m aior parte de m inha familia e m uitos dos meus amigos) foram bru talmente assassinados em menos de 100 dias. Eu escrevi exaustivamente sobre as causas, o horro r e os resultados do genocidio - incluindo a edificante historia de como Deus milagrosamente poupou a m inha vida e salvou mi nha alma através do am or e da misericordia naqueles m o mentos negros - em meus dois prim eiros livros, L eft to Tell: Discovering G od A m idst the Rw andan H olocaust11 e Led By Faith: Rising from the Ashes o f the Rwandan Genocide,u Nestes dois livros eu relatei as mais queridas lem bran- gas de m inha infancia aben^oada. Eu cresci em um lar muito feliz, dentro do qual fui criada por pais am orosos, Leonard e Rose, e am ada enorm em ente por tres carinho- sos irm àos, Aimable (o mais velho), Damascene (mais ve lilo que eu, com diferencia de alguns anos) e Vianney (o bebe queridinho da familia). "Versâo brasileira: Ilibagiza, Immaculée. Sobreviví para contar - O poder da fé me salvou de um massacre, Rio de Janeiro, 2011, Editora Fontanar. nGuiada pela Fé: Renascendo das cinzas do genocidio mandes, idem. O MENINO QUE CONHECEU JESUS Meus pais eram católicos devotos e cristáos de co- ragáo aberto que viveram segundo a Regra de O uro de fazer aos outros somente aquilo que voce gostaria que fizessem com voce. Ambos eram professores e líderes da com unidade, e eram bem conhecidos e respeitados por toda a regiáo, grabas aos seus bons conselhos, generosi- dade e bons atos. Nós vivíamos defronte a um lago em urna área rural que, com o na m aior parte de Ruanda, era exuberante, agradável e de tirar o fólego de táo bonita. N ossa aldeia ficava a m uitas horas da cidade grande e nossos vizinhos eram simples e atenciosos, cuidavam uns dos outros e eram sempre gentis e amigáveis. Eu sempre me senti segura, protegida e cuidada, seja quando estava sozinha em casa, seja quando estava cami- nhando ao longo de quase 13 quilóm etros pelas estradas da floresta em diregáo á escola. Q uando era crianza, eu pensava que meu lar e m inha terra natal eram os lugares mais pacíficos e amáveis de todo o m undo. Eu náo fa- zia a m enor idéia de que as efervescentes tensóes étnicas que estavam ferm entando em meu país iriam explodir nos horríveis acontecim entos de 1994, nos quais vizinhos se virariam contra vizinhos e a m aioria tribal da nagáo (os H utus), estim ulados por um governo mau e corrupto , m ataria quase toda a m inoria tribal (os Tútsis, aos quais pertencia m inha familia) usando facóes e porretes. De fato, eu me sentia táo segura e feliz quando era crianza que urna das m inhas m aiores p re o c u p a re s era me certificar de que tinha feito ora^óes diárias o bastante e com parecido á missa com regularidade o suficiente para garantir que eu estaría apta a me to rnar freirá quando crescesse. Por alguma razáo, quando era crianza (e, para falar a verdade, até hoje!) eu era obcecada com tudo que era relacionado a Deus. A vida de Jesus, os Santos, a San tissima Virgem M aria e toda e qualquer coisa que tivesse a ver com o Céu era urna p reo c u p a d o constante para mim. M eu pequenino quarto era dom inado por meu p rò prio santuàrio im provisado, o qual consistía em urna pe queña tábua lotada com estátuas da Virgem M aria, velas 36 DESCOBRINDO SAGATASHYA votivas e livros de figuras dos Apóstolos e Santos. M eu passatempo predileto era rezar com m inha m elhor am i ga, Janet, ou ouvir historias religiosas - especialmente à noite, quando a m inha li^ào de casa jà estava feita, meus afazeres estavam finalizados e as lou^as do jantar jà es- tavam lavadas e guardadas. Era quando m inha familia se juntava na sala de estar para o que eu cham ava de “hora das h istorias” . A c o n ta d o de historias é urna grande parte de nos- sa cultura e urna das atividades mais im portantes da mi nha juventude. Com o na m aior parte de Ruanda, que é urna na^ào em sua m aioria rural e extrem am ente pobre, M ataba era totalm ente prim itiva quando as facilidades m odernas chegaram. Nós estávamos conectados ao resto do país por urna solitària estrada de terra e um emara- nhado de trilhas de gado. Nós nào tínham os água cor rente e a energia elétrica era praticam ente desconhecida. Por conta disso, obviam ente nào havia nenhum cinema ou shopping nos quais as crianzas pudessem passear e se divertir - meus irm àos e eu nào tínham os sequer visto urna televisào, a nào ser em fotos de revistas. Consequen- temente, havia pouquíssim as form as de nos entreterm os após o por do sol. Era tào escuro fora de casa quando o sol se punha que raram ente nos aventurávam os a sair ao ar livre à noite. Em verdade, só havia realm ente duas fontes de diver- sào para a familia depois que papai fechava a casa após o crepúsculo. A prim eira form a de entretenim ento era o artiquissim o costum e do Igitaramo. lgitaramo é o antigo ritual ruandès de se juntar, em familia ou tribo, após o jantar para falar sobre os acontecim entos do dia, contar noticias sobre parentes que m oram longe ou simplesmen- te contar boas e velhas historias a respeito de qualquer assunto, dos mitos locáis ao que está na Biblia. D ada a m inha propensào para historias relacionadas a Deus, sempre que nos juntávam os na sala de estar para mais urna sessào de Igitaramo meu tem a favorito de discus- sáo estava inevitavelmente ligado ao Céu ou, pelo menos, O MENINO QUE CONHECEU JESUS à re p e tid o de historias populares da Biblia. Porém, meus irm áos - pelo m enos Aimable e Damascene, que eram mais velhos que eu e nao tinham urna cabera táo religio sa quanto a m inha - apelavam a meu pai para que nao me desse ouvidos quando eu im plorava para ouvir (pela milionèsima vez) sobre com o o pequeño Davi derrubou o grande Golias pelas costas usando apenas um estilin- gue e algumas pedras. Freqüentem ente, meu pai ficava do lado dos garotos e abruptam ente m udava o assunto da discussào para acontecim entos recentes, com o os me- lhores m om entos de urna partida de futebol na qual meus irm áos haviam jogado ou sobre como estava progredindo um dos seus m uitos projetos de caridade. Nossa segunda opqáo de entretenim ento noturno era ouvir o nosso m altratado ràdio de batería. Se acontecía de escolhermos essa op^ào em urna noite em particular, nào havia a m enor dúvida sobre qual program a eu insis tiría para que todos ouvissem. Eu bradava e incom odava todo m undo até que o dial estivesse sintonizado no pro gram a da Ràdio R uanda que trazia as mensagens m ila grosas de um grupo de jovens visionários de Kibeho, que era urna aldeia ainda m enor e mais distante que a nossa, localizada a mais ou menos 160 quilóm etros ao sul de onde m orávam os. Com o eu já disse antes, e por mais incrível que isso p are ja , no com eto da década de 1980 aVirgem M aria e Jesús decidiram aparecer, em intervalos regulares, a um grupo de adolescentes do interior e os presentearam com mensagens do Céu que deviam ser com partilhadas com o m undo inteiro. As prim eiras mensagens foram todas da Virgem M aria, e elas brotaram do seu am or pelas crianzas da Terra. O conteúdo de tais mensagens era freqüentem en te educativo, apresentando in s tru y e s e dando o r ie n ta d o para homens e mulheres sobre com o viver vidas melhores e mais pacíficas, que iriam afastá-los do pecado e levá-los para a luz de Deus e para a vida eterna no Paraíso. As in s tru y e s dela para a hum anidade incluíam exorta^óes para que todo m undo rezasse o Rosàrio diariam ente, a 38 DESCOBRINDO SAGATASHYA firn de repelir o mal; e para que as pessoas de todos os lu gares abrissem seus cora^óes uns aos outros, abragassem a fé no Senhor, desenvolvessem um profundo relaciona- m ento com Deus através da oragào e de urna vida pura, se arrependessem dos pecados do passado e evitassem tenta^óes futuras. Algumas das mensagens de M aria tam bém continham assustadoras profecías sobre os dias negros que o m un do iría enfrentar nos próxim os anos. Eia deu aos jovens visionários terríveis vislumbres de um futuro no qual os cora^óes das pessoas estariam dom inados pelo òdio em vez do amor, e onde o planeta seria dilacerado por guer ras religiosas e desastres naturais. A Bem -Aventurada M ae predisse especificamente - 12 anos antes que isso devastasse o meu país - o geno cidio de 1994, com o qual, disse eia, um “rio de sangue” banharia toda R uanda a nao ser que meus com patrio tas parassem de nu trir òdio uns pelos outros e enchessem seus coragóes com o am or redentor de seu Filho, Jesús. Com esse amor, disse eia, o desastre im inente e a m atan za poderiam ser evitados. Através dos seus visionários, a Santissima M ae exortou a todos os ruandeses procura- rem sua ajuda para receber o am or e o perdáo de C ris to ... E disse que o m elhor jeito de obter isso era rezando o R osàrio todos os dias. M aria disse que o R osàrio era urna das mais poderosas ferram entas do m undo para nos defenderm os da ten ta^ào e do mal. Eia im plorou a todas as pessoas para que rezassem o R osàrio pelo menos urna vez por dia, nao im portando a qual religiào pertencessem, e prom eteu grandes recom pensas espiritu- ais aos que assim fizessem.13 13“Pode haver também quem tema que o Rosàrio possa revelar-se pouco ecumènico pelo seu caráter marcadamente mariano. N a verdade, situa-se no mais claro horizonte de um culto à M ae de Deus tal como o Concilio delineou: um culto orientado ao centro cristológico da fé crista, de forma que, “honrando a Mae, melhor se conhe^a, ame e glorifique o Filho”. Se adequadamente compreendido, o Rosàrio é certamente uma ajuda, nao um obstáculo, para o ecumenismo!” (Bem-aventurado Joáo Paulo U, Rosarium Virginis Marite, n. 4). 39 O MENINO QUE CONHECEU JESUS Infelizmente, poucos ruandeses ouviram o conselho de Nossa Senhora, e nosso país degenerou em loucura, desordem e assassinatos, exatam ente da form a com o eia predisse. Se nós simplesmente tivéssemos ouvido os avi sos da Virgem M aria quando eia apareceu em Kibeho, o genocidio nunca teria acontecido! Q uando era jovem, eu estava lam entavelm ente alheia as históricas tensòes tribais e odios que envenenaram os cora^óes de tantos ruandeses - um veneno que permitiu a Satanás se apoderar de suas almas e levá-los a cometer atos selvagens de to rtu ra , estupro e assassinato. Q uando crianza, eu escutava os visionários e tudo que ouvia era eles transm itindo a paz, o am or e o perdáo de Deus. As mensagens da Virgem M aria que ouvi sendo transm itidas pelo ràdio á noite, durante nossos encontros familiares para o Igitaramo, encheram-me de alegria e nunca, ja- mais me assustaram . Eu tinha 11 anos de idade quando M aria apareceu pela prim eira vez em Kibeho e rapidam ente fiquei fam i liarizada com os nomes e as historias das tres primeiras visionárias: Alphonsine, Anathalie e M arie-Claire. Isso foi m uitos meses antes de eu ouvir qualquer mengáo so bre a liga^áo de Segatashya com as apari^òes. Q uando eu finalmente ouvi seu nome (e sua voz), o im pacto em meu pequeño coragáo foi táo profundo que eu nunca mais se ria a mesma. Com o disse anteriorm ente, eu já escrevi m uito sobre a historia de Kibeho e das apari^óes as tres prim eiras vi sionárias em O ur Lady o f Kibeho. M as, para aqueles de voces que nao conhecem a historia, perm itam-m e reca pitu lar brevemente o que eu escrevi para que voces pos- sam ter urna idéia m elhor a respeito do que aconteceu em R uanda e em Kibeho nos meses anteriores á entrada de Segatashya em cena. A Virgem M aria apareceu pela prim eira vez em Ki beho no dia 28 de novem bro de 1981. A prim eira visio nària que foi visitada pela Santissima M áe foi Alphonsine 40 DESCOBRINDO SAGATASHYA M umereke, urna estudante de 16 anos habitante de urna aldeia que, com o disse, era tào pequeña e fora de m ào que pouquissim os ruandeses sabiam onde ficava. Alphonsine era nova no Colégio de Kibeho. Eia cres- ceu em urna isolada regiào de R uanda cham ada Kibungo, conhecida pela aguda pobreza e a dissem inada pràtica da bruxaria. Seu pai abandonou a familia antes de A lphon sine nascer e eia foi criada por sua màe, que era m uito batalhadora e católica devota. Em bora nào fosse parti cularm ente religiosa, Alphonsine am ava a Virgem M aria e rezava para eia sempre que se sentia am edrontada ou desanim ada. Apesar de ter crescido no meio da mais abjeta po breza, Alphonsine manteve sempre um estado de espiri to alegre e receptivo. Q uando eia ganhou urna bolsa de estudos para um colégio católico só para meninas com mais de 120 estudantes, sua natureza gregària e anim ada a ajudou a fazer amigos rapidam ente. M esm o assim, eia m uitas vezes sentia saudades de casa e estava com dificul- dades para m anter suas notas altas. Com o sempre fazia em tem pos de dificuldades, eia rezou para a Santissima Virgem pedindo ajuda. N o dia 28 de novem bro, um dia com um corno qual- quer ou tro em todos os aspectos, Alphonsine caiu no chào na hora do alino lo e entrou em um profundo tran se, dentro do qual a única coisa que eia conseguía ver era urna nuvem branca e brilhante que se form ava na sua trente de form a lenta e bruxuleante. M om entos depois, no meio daquela nuvem, a estudante, perplexa, contem- plou a mais bela senhora que eia jà tinha visto. Com o Alphonsine mais tarde recordaria, a senhora pa recía estar flutuando no ar, e em seguida comegou a desli zar em dire^ào a eia, banhada em intensa lum inosidade e m iraculosam ente pairando sobre o chào. Aquela m ulher magnífica vestia um vestido branco sem costura, e seu cábelo estava coberto por um véu do mais puro branco. Sua pele era perfeita e brilhante com o marfim poi ido, 41 O MENINO QUE CONHECEU JESUS em bora Alphonsine nao conseguisse dizer exatam ente se era urna pele branca ou negra. A senhora parecía estar em plena com unháo com o Céu enquanto os delicados dedos de suas máos esguias pressionavam-se juntos em um gesto de oragáo. O ndas de am or em anavam déla e envolviam a pequeña estudante, cujo coragáo estava re- bentando de alegría e felicidade enquanto aquela linda criatura flutuava próxim a a ela. Com urna voz bela demais para ser descrita com preci- sáo, a m ulher revelou a Alphonsine que era a Virgem M a ría, que no Céu ela tinha ouvido as suas ora^óes e tinha viajado do Reino de Deus até Kibeho para consolá-la. Ela disse para a garota dirigir-se a ela como a “M ae do V erbo” . Antes de ascender de volta aos céus em diregáo ao Paraíso, a Virgem pediu para Alphonsine transm itir urna mensagem: “Eu queroque seus amigos e colegas tenham a mesma fé que vocé. Eles nao tém fé suficiente” . Esta foi a prim eira mensagem que a Santíssima M ae entregou em Kibeho. Q uando Alphonsine recobrou a consciencia, ela esta va esparram ada no chao do refeitório e olhando para os rostos perplexos e preocupados de seus colegas de turm a. Q uando ela contou a eles o que aconteceu, foi ridicula- rizada, déla zom baram e acusaram -na de ser m entirosa e tola. Alguns até disseram que, por Alphonsine ser de Kibungo, ela estava praticando bruxaria ou possuída por espíritos sombríos. M as a Virgem M aria continuou a visitar Alphonsine, que caía em um transe táo profundo sempre que estava na presenta da M ae de Jesús que ela ficava com pleta mente alheia ao que existia ao seu redor. Um sacerdote local ficou táo irritado com as a f irm a re s de Alphonsine a respeito dessas visitas que chegou a recrutar outra es tudante do Colégio de Kibeho, M arie-Claire, para que esta atorm entasse Alphonsine na esperanza de que ela se retratasse sob a pressáo intensa dos colegas. 42 DESCOBRINDO SAGATASHYA N a escola, M arie-C laire tinha r e p u ta lo de ser extro vertida e franca a ponto de ser grosseira. Eia rezava para a Virgem M aria (a quem amava), mas nào era grande fre- qiientadora da igreja ou de grupos de ora^ào. Talvez por causa de sua profunda afeigào pela M ae de Jesus, M arie- Claire estava com prom etida e determ inada a expor o que considerava a “ofensiva falsidade” de Alphonsine, e preparou-se com grande intensidade para envergonhar e humilhar, em público, sua colega de turm a. M arie-Claire cham ou outras estudantes para unirem-se a eia em sua cam panha destinada a denunciar a “ falsa” visionària. Eia e sua gangue de colegas céticas planeja- ram rodear Alphonsine sempre que eia entrasse em um de seus transes estáticos. Depois, agrediriam fisicamente a visionària durante as apari^òes, puxando seus cábelos, entortando seus dedos para trás, beliscando sua pele o mais forte que conseguissem, gritando o mais alto que pudessem e arrem essando rosários em direm o a eia, de safiando Alphonsine a benzè-los. M as Alphonsine jamais piscou um olho ou fez qualquer m ovim ento com o corpo, nào im porta o que fizessem ou falassem para eia. Depois, em 12 de janeiro de 1982, a Virgem M aria apareceu para urna segunda estudante do Colégio de Ki- beho: Anathalie M ukam azim paka, de 17 anos. Ao contrà rio de Alphonsine, esta jovem era considerada um modelo de estudante e urna das mais devotas e piedosas garotas da escola. Anathalie vinha de um lar grande e firmemen te católico. Eia acordava e rezava toda m anhà o Rosàrio antes da aula e depois rezava novam ente todas as noites antes de dormir. Eia lia a Biblia nos intervalos das aulas e fazia parte de vários grupos de jovens católicos. Eia era m odesta, bem com portada e altam ente respeitada tanto pelos funcionários da escola quanto pelos estudantes. M as nada disso impediu M arie-Claire de atacar Anathalie tam - bém. M arie-Claire redobrou seus esforgos em desacreditar as “alegadas” visitas da Virgem na escola, ridicularizando publicamente ambas as jovens visionárias sempre que elas comegavam a ver apari^òes da Santissima Virgem. 43 O MENINO QUE CONHECEU JESUS Os ataques de M arie-Claire ás duas visionárias para- ram abruptam ente no dia 1 de margo de 1982, quando a Virgem apareceu tam bém para eia. A principio, M arie- Claire resistiu à visáo, certa de que estava sendo enganada de alguma form a pelas duas garotas que eia estava per- seguindo - e, se nào fosse isso, entào eia estava ficando louca ou possuida por demonios. C ontudo, a tranqiiilizadora voz da Virgem logo acal- mou e confortou M arie-Claire, que repentinam ente per- cebeu que a Santissima M àe havia abengoado de fato a sua escola com sua divina presenta. M arie-Claire ficou enorm emente envergonhada por ter atorm entado Al phonsine e Anathalie e fez votos de se to rnar a mais hu milde e determ inada serva de M aria, exatam ente com o as outras duas alunas tinham sido antes dela. Para o espanto dos funcionários da escola e dos alu- nos, todas as très garotas que M aria escolheu para se tor- narem visionárias logo estavam recebendo aparigóes da Bem-Aventurada M áe na capela da escola. Todas as vezes que urna délas caía em transe, ficava com pletam ente in consciente do am biente externo. O rosto de cada garota se ¡luminava com alegría sempre que elas se encontravam na presenta de Nossa Senhora. Elas falavam m uito am o rosam ente quando respondiam a perguntas da Virgem ou quando repetiam mensagens que M aria estava lhes entre gando para que fossem com partilhadas com os outros. N enhum a outra pessoa que estivesse naquela sala duran te as apari^òes poderia ver a Santissima M áe ou ouvir o que eia estava dizendo para as visionárias. M as aqueles que tiveram a sorte de testem unhar urna apari^ào sem pre ouviam atentam ente todas as palavras pronunciadas por um a das alunas enquanto eia estava no meio de um transe, dando-se conta de que simplesmente estavam bis- bilhotando um dos lados da conversa que urna visionària estava tendo com o Céu naquela hora. Com entários sobre as apari^óes rapidam ente se es- palharam para além dos confins do Colégio de Kibeho. Dezenas de m oradores come^aram a viajar pela estrada DESCOBRINDO SAGATASHYA de térra - mais urna trilha de cabras toda cheia de bu racos do que urna estrada, na verdade - que levava do interior em dire^ao á escola. Todos estavam esperanzosos de ter um vislumbre das c o m u n ic a re s milagrosas que estavam ocorrendo dentro dos seus m uros. Logo cente nas de curiosos estavam se m ovim entado em torno da escola tentando ouvir algum a coisa sobre as apari^oes. Eles se penduravam sobre a cerca de metal e quebravam as janelas da capela, enquanto subiam uns nos om bros dos outros e se acotovelavam para dar urna espiada ñas m eninas que tinham fam a de ter urna linha direta com a Virgem M aria. Por fim, visto que as centenas de curiosos se transform aram em milhares de peregrinos, a escola e a Igreja Católica local construíram um palco de m adeira para que as visionarias pudessem receber suas apari^óes em público, na frente de todos. Noticias a respeito das visionárias e do conteúdo de suas mensagens se espalharam como fogo, viajando por todas as dire^óes de Ruanda dentro de algumas sema nas. Repórteres em Kigali foram despachados da Rádio Ruanda e viajaram até Kibeho para fazer gravagóes das visionárias no m om ento em que elas estavam em comu- nháo com a Santíssima M ae - e, com o eu já mencionei, trechos dessas gravagóes se to rnaram atra^óes regulares na p ro g ra m a d o da rádio nacional. Isso foi quando meus irm áos e eu com etam os a dis cutir sobre o que deveríamos ouvir no rádio durante o Igitarat.io. Eu insistia em ouvir todas as palavras dos vi- sionários que foram transm itidas pelas ondas sonoras, mas meus dois irm áos mais velhos estavam a principio duvidosos e desdenhosos a respeito das apari^óes. Aima- ble e Damascene foram sempre am orosos e carinhosos comigo, mas eles tam bém me provocavam incansavel- mente por causa da m inha paixáo crescente pelo que eu continuam ente dizia ser “o milagre abso lu to” que estava acontecendo em Kibeho. “Elas náo passam de urnas alunas ridiculas que estáo tentando cham ar aten^áo porque náo há nenhum garoto 45 O MENINO QUE CONHECEU JESUS por perto”, zombava Aimable, enquanto importunava nos- so pai para que este sintonizasse o rádio em urna partida de futebol. Em Ruanda, na época em que eu estava crescendo (e, gragas a Deus, os tem pos estáo realmente m udando!), as m ulheres, em bora fossem reverenciadas e altam ente res p e ta d a s como máes, nao eramm uito respeitadas como seres hum anos independentes, inteligentes e sérios. Era urna sociedade bastante chauvinista, na qual direitos bá sicos, tais como de propriedade ou educa^áo superior, eram dom inados pelos homens. Por sorte, meu pai e mi- nha máe tinham pontos de vista progressistas e me pres- sionaram para ir táo longe quanto eu pudesse na escola, o que, ao final, me levaría á universidade. M as o m achismo era um com portam ento bem aceito e era algo que meus irm áos tinham grandes dificuldades para abandonar. Eles nunca perdiam urna oportunidade de fazer piadas sobre urna garota ou m ulher que fizesse qualquer coisa que um homem náo podia fazer - o que, naqueles tem pos, incluía até ter visóes da Virgem M aria! “Essas garotas em Kibeho estáo bébadas ou praticando vodu” , meu irmáo Damascene me provocava, com um risi- nho. “Vocé sabe o que é que acontece com essas garotas de escolas só para meninas, náo sabe? Elas estáo preocupadas porque náo conseguiráo um m arido após se formarem. Por isso, elas querem aprender urna magia que as ajudem a conseguir um homem antes que seja tarde demais!” Meu pai sempre m andava meus irm áos baixarem o tom e me deixava ouvir os relatos de Kibeho, m uito em bora ele fosse um hom em instruido e cauteloso que a principio estava hesitante em acreditar que as visionárias estivessem vendo aparigóes reais. M as ele tinha um p ro fundo am or e respeito pela Virgem M aria, e se qualquer pessoa dem onstrasse am or e afeigáo por Nossa Senhora, com o eu certam ente dem onstrava, papai apoiaria e enco rajaría plenam ente a sua devo^áo. “O tempo dirá se essas apari^óes sao reais ou náo”, pa pai dizia aos meninos. “M as se essas garotas estáo ajudando 46 a aum entar a fé das pessoas na Santissima Virgem, nós vamos deixar sua irmà ouvir o que elas tèm a dizer... E vocès dois vào ouvir junto com eia. Os seus resultados de partidas de futebol podem esperar.” M eus irm àos resm ungavam e viravam os olhos. Além disso, alegaram tam bém que logo o pequeño santuàrio em meu quarto estaria carregado com mais estátuas ain da da Virgem M aria. M as as suas queixas tiveram firn em um ensolarado dia de verào em 1982, quando nós ouvimos sobre um novo visionàrio que tinha chegado a Kibeho... Um m enino cham ado Segatashya, que estava recebendo visitas do pròprio Jesus Cristo. Para meus irm àos, o fato de um garoto ter se tornado um visionàrio repentinam ente tornou todas as milagrosas apari^òes que haviam ocorrido antes em Kibeho muito mais aceitáveis e criveis. Parecia tam bém que, por Sega tashya ter sido o primeiro visionàrio a presenciar apari- gòes de Jesus Cristo, meus irm àos, que se gabavam de ser difíceis de impressionar, foram conquistados. Ajudou tam bém o fato de Segatashya e Damascene terem a mesma idade. “Bem, se é um m enino que está falando com Jesus... Entào eu acho que pode haver alguma coisa reai nesse papo todo de visionários” , concordou Aimable, após ou vir Segatashya no ràdio. Q uanto a mim, eu jà tinha ouvido a voz de Segatashya alguns dias antes em urna fita que o Padre Apollinaire Rwagem a, nosso pároco local, havia tocado para as crianzas que tinham ido à missa semanal infantil. O Padre Rwagem a estava entre os prim eiros que acre- ditaram , e era um dos mais ardorosos devotos das es- tudantes visionárias. Ele foi tam bém a prim eira pessoa em M ataba a fazer urna longa p e re g r in a lo em d ire d o a Kibeho para ver os visionários com os próprios olhos. Ele fez grava^óes dos visionários durante as apari^óes e deixou as fitas disponíveis para qualquer pessoa da aldeia que quisesse ouvi-las. Eu teria ouvido centenas de horas de gravagóes ao lon go dos anos seguintes, mas urna g ra v a d o de Segatashya DESCOBRINDO SAGATASHYA 47 O MENINO QUE CONHECEU JESUS me m arcou para sempre desde a prim eira vez que a ouvi. Em O ur Lady o f Kibeho, contei como um arrepio subiu por m inha espinha quando ouvi a voz suave do garoto sair pelos alto-falantes estourados do velho tocador de fitas do Padre Rwagem a. A gravagáo era de urna conversa que Segatashya teve com Jesus em meio a urna aparigào de urna semana antes. O Padre Rwagem a nos disse que ele fez a g rav a rlo em um dia en sobrado , sob um brilhan- te céu azul sem nenhum a nuvem... Em seguida, ele nos convidou a ouvir mais de perto. As mais ou menos 200 crianzas com quem eu tinha me sentado no chao da capela de um único còm odo do Padre Rwagema estavam táo fascinadas com o que ouviam no tocador de fitas quanto eu. Prim eiramente nós ouvimos o canto de urna enorm e m ultidao - milhares de vozes su plicantes - que tinha se reunido em Kibeho para ouvir os visionários se com unicando com o Céu. A m ultidao gritava para Segatashya, dirigindo-se a ele pelo nome e pedindo para que pedisse um milagre... Um milagre que lhes dessem fé no que estavam testem unhando e que os ajudassem a crer verdadeiram ente ñas aparigóes. Eu nao sabia disto naquele m om ento, mas o que eu estava ouvindo era a única aparigáo na qual Jesús tinha perm itido ao garoto poder ver e interagir com as pessoas que tinham vindo para vé-lo. D urante todas as demais aparigòes, Segatashya ficava consciente apenas da presen ta do Senhor. Por cima do ruido e da balbúrdia da m ultidao, levan- tou-se a macia voz de tenor do jovem visionàrio enquan- to ele se dirigía a Jesús de form a reverente: “Sim, Senhor, eu disse a eles m uitas vezes”, pronunciou a voz. “N ao, Senhor, eles nao ouvem... Eles sempre me dizem que que- rem um milagre. Eles nao querem acreditar que voce está falando comigo, Jesús - nao sem antes verem um milagre ou um sinal.” Eu lem bro como meu coragào se dilatou quando ouvi Segatashya falar naquele dia e de como fiquei tocada pela sinceridade e pela ternura que reverberavam em sua voz 48 DESCOBRINDO SAGATASHYA sussurrante enquanto ele pacietem ente se dirigía á estri dente m ultidáo. Súbitamente, o estrondo de um trováo explodiu pelos alto-falantes do tocador de fita e as crianzas no cómodo pularam de susto juntas. Nós podíam os ouvir gritos as- sustados se espalhando por entre a gritaría da multidáo; em seguida, pudemos ouvir alguns gritos de “viva!” para o milagre que tinha acabado de acontecer. Logo a seguir, Segatashya calmamente exortou a todos para que náo se preocupassem com o trováo que tinha surgido no céu azul. “Jesús diz que voces náo devem ter medo. Ele nun ca faria nada para prejudicar os seus filhos” , insistiu o garoto. “N inguém aqui foi ferido, as m ulheres grávidas náo precisam se preocupar com seus bebés e aqueles que tém coragóes fracos ficaráo bem... Sim, Senhor, vou dizer a eles como vocé está me dizendo... Jesús está dizendo que deu-lhes esse trováo para que desta form a voces ou- vissem as mensagens dele e parassem de pedir milagres que náo tém sentido... Porque as suas vidas sáo milagres. Um verdadeiro milagre é um bebé no útero, o am or de urna máe é um milagre, um coragáo m isericordioso é um milagre. Suas vidas estáo repletas de milagres, mas voces estáo m uito distraídos com coisas m ateriais para vé-los.” “Jesús pede para voces abrirem seus ouvidos e ouvirem suas mensagens, e abrirem seus coragóes para receberem o seu amor. M uitas pessoas se perderam no cam inho e en veredaran! pela estrada fácil que leva para longe de Deus. Jesús diz para voces rezarem para a sua M áe e a Santíssi- ma Virgem M aria irá levá-los ao Deus Todo-Poderoso. O Senhor veio até voces com mensagens de am or e felicidade eterna... E voces ainda pedem milagres. Parem de olhar para o céu em busca de milagres. Abram o seu cora^áo a Deus, pois verdadeiros milagres ocorrem no coragáo.” Esta foi a prim eira mensagem divina que eu ouvi Sega tashya transm itir,e, com o eu disse, ela m udou m inha vida. Aquela mensagem abriu meu cora^áo para a esséncia de todas as mensagens que seriam entregues em Kibeho. A ingenua honestidade da voz do garoto instantáneam ente 49 O MENINO QUE CONHECEU JESUS fez com que ele se tornasse o meu favorito entre todos os visionários. M enos de urna semana depois que o Padre Rwagem a tocou a fita de Segatashya para nós, meu lar e toda a aldeia estavam agitados com as noticias da chegada de Segatashya a Kibeho. Desde que as tres prim eiras estudantes comegaram a ter visòes da Virgem M aria, por volta de oito meses antes, eu notei que urna profunda m udanza havia ocorrido em m uitos dos meus amigos, vizinhos e até mesmo estranhos que estavam de passagem pela aldeia. As pessoas anda- vam pela estrada com a cabera um pouco mais erguida e com mais energia e d e te rm in a lo . M ulheres que eram es- m agadas pelo peso de enormes cestos de com ida, roupas ou lenhas que elas carregavam em cima de suas caberas (dentro da tradicional m oda ruandesa) nào se incomo- davam em parar no meio da estrada para saber noticias sobre Kibeho, especialmente sobre Segatashya. Lembro-me de ouvir muitas conversas desse tipo da janela do meu quarto enquanto estava deitada lendo ou ajoelhada e rezando em frente ao meu santuàrio particular. “Eu ouvi dizer que este tal Segatashya nunca, jamais tinha sequer ouvido falar em Jesús antes que o Senhor o transform asse em um visionàrio” , disse um de nossos vizinhos. “Foi o que ouvi falar tam bém , que ele era um meni no pagáo. M as dizem que ele é um garoto m uito, muito doce... E bonito! M as eu me pergunto por que será que Jesús escolheu ele, um pagáo, sendo que existem tantos garotos católicos em R uanda?” “O Senhor age por caminhos misteriosos. Ninguém co- nhece a mente de Deus. M as o que eu sei é que a máe de Se gatashya deve estar m uito orgulhosa dele... Será que eia se tornou crista agora que Jesús está visitando o filho déla?” Eu pude ver que náo estava sozinha no favoritismo que eu sentía por Segatashya. Desde o inicio das aparigóes vistas por ele, o garoto conquistou um grande e devotado 50 DESCOBRINDO SAGATASHYA núm ero de seguidores. Ele se tornou urna estrela entre os visionários. N ao m uito tem po depois, o Padre Rwagem a estava or ganizando procissoes em d ire d o á cidade a fim de honrar as visitas que Jesús estava fazendo a Segatashya. O devo- tado sacerdote encorajou todos de sua cong reg ad o , e de todas as c o n g re g a re s que existiam na área, para que se juntassem a ele enquanto celebrava as aparigóes de Jesús. Eu nunca me esquecerei daqueles inspiradores desfi les pela fé que se estendiam ao longo da estrada de térra que levava para fora de nossa aldeia. Centenas de nossos vizinhos apareceram para as procissoes e form aram urna longa linha dupla atrás do padre enquanto esperavam o inicio das festividades. O Padre Rwagema esperava até que a assembléia se acalmasse e, quando ele sentia que a m ultidáo tinha chega- do a um nivel satisfatório de silencio e reveréncia, ele dava inicio aos procedimentos. Ele iniciava erguendo sobre sua cabera urna grande cruz de madeira e depois, com urna voz estrondosa, repetía urna das muitas mensagens de Je sús que foram entregues por Segatashya, mensagens que ele tinha se com prom etido em memorizar. Por exemplo: “Deus nunca negará sua misericordia se voces passa- rem por urna verdadeira conversáo em seus coragoes. Je sús está me falando para dizer-lhes que a vida na Terra dura apenas um m om ento, mas que a vida no Céu é eter na. Entáo, voces devem rezar. Lembrem-se de que aqueles que se dirigem de forma vá a Deus e clam am ‘Oh, Pai, me aben^oe!’ sem falar do fundo do c o ra d o ou sem se arrepender de suas transgressóes nao iráo para o Céu. Sáo aqueles que verdadeiramente am am a Deus e fazem a sua vontade praticando bons atos que seráo bem-vindos no Paraíso - náo os hipócritas e os impostores. Lembrem-se de rezar com sinceridade... O único cam inho para ir para o Céu é através de ora^óes que venham do c o ra d o .” Em seguida, a passos largos e confiantes, o Padre R w a gema partía em d ire d o aos confins da aldeia para ir ainda 51 O MENINO QUE CONHECEU JESUS mais longe, com a cruz erguida ao alto e seus lábios cons tantem ente se m ovendo enquanto entoava as mensagens de Segatashya quilóm etro após quilóm etro: “O am or de Cristo por seus filhos é grande e excelente. Deus nao abandona nenhum dos seus filhos. Ele está sem- pre esperando que vocé diga sim a Ele e deixe-O entrar em seu coragáo. N o Dia do Julgam ento, Deus irá m ostrar a todos as suas vidas inteiras e as pessoas entenderáo que sáo autoras do seu próprio destino. Deus irá m ostrar a elas todos os atos que praticaram durante a vida, e depois a pessoa irá para o lugar que merece. N ao pense que Deus náo vé os seus pecados; o Senhor ve toda a^áo e conhece todo pensamento. Arrependa-se; náo resta m uito tempo. Se vocé precisa de ajuda para abrir o seu cora^áo a Jesús, reze para que a sua M áe venha em seu socorro. Jesús quer que vocé ame e respeite a M áe Dele como se fosse sua própria máe. Ela intercede por todos os seus filhos e irá conceder a vocé muitas grabas e dons espirituais”, dizia o Padre Rwagema, repetindo a mais recente mensagem reve lada por Segatashya no palco dos visionários em Kibeho. Parecía a mim que poderíam os ter andado quase o dia todo atrás do Padre Rwagema, apesar do calor do sol de veráo que se abatía sobre nós. M uitas vezes fomos en volvidos por urna grossa cobertura de pó vermelho que levantava da estrada de cháo por causa de todos aqueles pés m achucados e cansados que m archavam juntos. M as, apesar disso, continuávam os a rezar e cantar até que fi- cássemos sedentos e nossas vozes ficassem roucas... Todo m undo na procissáo estava contente por estar lá. Após viajarm os por quase 20 quilóm etros, o grupo pa- rava por alguns m inutos para descansar e beber água. De pois, o Padre Rwagem a cantava conosco urna can^áo que Jesús ensinou a Segatashya, urna cangáo que todos nós conhecíamos pelo simples e apropriado nom e de “ Can- ^áo de Segatashya” : Deus, voce me encontrou na estrada, e me deu urna mensagem para com partilhar com o mundo. DESCOBRINDO SAGATASHYA Eu a levei para os seus filhos, mas os seus filhos nâo a ouviram. O que devo fazer, meu querido Deus? Por favor, me dê força e sabedoria para conduzir minha missâo, e ajude-me a levar sua mensagem para o seu povo. Centenas de vozes entoavam aquele simples refrâo conform e nos voltávam os e começàvamos a nossa longa cam inhada de volta a M ataba, com o Padre Rwagema recitando mensagens do Céu por todo o caminho. A paixâo que os m oradores da aldeia sentiam por to dos os visionários de Kibeho, e por Segatashya em parti cular, continuou a crescer. A fé de todo m undo estava pe gando fogo. N osso admirável sacerdote nos contava que, durante suas visitas a Kibeho, eie via Segatashya, que nâo tinha absolutam ente nenhum a escolaridade, conversando com padres e teólogos a respeito do significado e das vá- rias interpretaçôes da Biblia. “Este m enino nunca teve um único dia de ensino em sua vida” , explicava Padre Rwagem a, atónito . “Com o poderia ele discutir as Escrituras ou argum entar sobre o significado de passagens da Biblia com teólogos estuda- dos a nao ser que o pròprio Senhor estivesse pessoalmente instruindo-o nesses assuntos? H á um verdadeiro milagre e n andam ento aqui... Algo assim nunca tinha sido visto antes na Africa!” Táo grande era o zelo do Padre Rwagema por Kibeho e Segatashya que ele começou a conduzir grupos de pe regrinos pela longa e àrdua jornada até Kibeho para que eles próprios pudessem testem unharas apariçôes. Por nao haver estradas apropriadas de M ataba até Ki beho, e pelo fato de que a m aior parte das pessoas de nos sa aldeia nâo possuía sapatos, que dirá veículos, a pere- grinaçâo para lá tinha que ser feita a pé. Era urna jornada que durava m uitos dias, e m uitas vezes era preciso fazer perigosas travessias de rios, andar por entre m ontanhas e 53 O MENINO QUE. CONHECEU JESUS se em brenhar através da m ata fechada. Q uando eu tinha 12 anos, tudo isso soava incrivelmente divertido para a m inha im ag inado . Q uando meu pai anunciou que estava se juntando ao Padre Rwagema e a urna dúzia ou mais de nossos vizi- nhos em urna p e reg rin ad o para Kibeho, eu comecei urna constante cam panha de im p o rtu n a d o e súplicas na es peranza de que pudesse convencé-lo a me levar com ele. M eu pai recusava por com pleto os meus continuos pedidos, dizendo (com absoluta razáo) que eu era m uito jovem e que a jornada era m uito perigosa. Ele prom eteu que me levaria quando eu ficasse mais velha, mas, na rea- lidade, levaria m uitos anos até que eu finalmente fizesse urna viagem para Kibeho por m inha própria conta. E isso só foi acontecer por volta dos meus 20 anos, quando Se- gatashya há m uito já tinha deixado de receber apari^oes públicas em Kibeho. M as isso nao queria dizer que eu estava impedida de conhecer Segatashya, assim como nenhum m em bro de m inha familia estava. N a verdade, eu vim a conhecé-lo extrem am ente bem através das d escrib es que meu pai fazia de suas viagens a Kibeho, e por ouvir horas e horas das grava^óes que o Padre Rwagem a fez do garoto en- quanto ele estava no meio de urna aparigáo. Talvez mais do que por qualquer outro m otivo, o que fez Segatashya se destacar para mim era a com panhia na qual ele estava - a com panhia das outras extraordiná- rias visionárias de Kibeho, que foram escolhidas pelo Céu para espalhar mensagens que todos nós precisamos ouvir. E um grupo de garotas que todos nós devemos conhecer e amar. 54 CAPÍTULO 3 OS VISIONARIOS d e k i b e h o As vezes, quando estou ao ar livre, em um am bien te tranqüilo , com o gram ado fresco sob meus pés, urna suave brisa soprando em meus cábelos e o calor do sol tocando m inha face, eu consigo fechar meus olhos e ser transportada ¿mediatamente de volta ao tem po em que eu passava longas tardes no quintal de nossa familia, espe rando meu pai reto rnar de um a de suas p e re g r in a je s a Kibeho. A e x c ita d o e a ansiedade que tom avam conta do meu cora^áo pré-adolescente naquela época fazem meu pulso acelerar ainda hoje. A casa que meu pai construiu estava localizada na bei- ra de uma íngreme colina com vista para o Lago Kivu, um dos lugares mais espetacularm ente belos de toda a África. A vista de tirar o fólego que tínham os do lago em nosso quintal fascinava e encantava m inha ativa i m a g i n a d o . O Lago Kivu corre ao longo de toda a borda oriental de R u anda, e suas ampias e brilhantes águas funcionam como uma fronteira natural que separa Ruanda do seu vizinho mais próxim o, o Zaire (agora conhecido com o República Dem ocrática do Congo). O Zaire era m uito m aior que R uanda - e, para os meus jcvens olhos, vendo através daquele lindo espelho de água do ponto de vista privilegiado de nosso quintal, no topo do m orro, as densas florestas e escuras selvas ver des do país se estendiam infinitamente. E, se era num dia particularm ente claro, eu podia ver até mesmo o topo das m ontanhas atravessando as nuvens bem ao longe. Aque les picos cobertos de névoa subiam táo alto que eu pen- sava que eles estavam a meio cam inho do Céu. Eu imagi- nava que aqueles cumes elevados e isolados poderiam ser um local ideal para a Virgem M aria e Jesús repousarem enquanto viajavam entre o Reino de Deus e a aldeia de Kibeho para visitar os visionários. O MENINO QUE CONHECEU JESUS De vez em quando eu passava urna tarde inteira no quintal olhando para aquelas m ontanhas enquanto espe- rava papai retornar de mais urna pereg rin ad o a Kibeho. Poderia ficar sentada imóvel por horas, descansando em urna alm ofada de pelúcia feita de reiva selvagem, inalando o inebriante arom a que vinha do enorme jardim de flores de minha máe. Todo o tem po me perguntando se M aria e Jesús estavam realmente lá em cima - e, se realmente esta vam, eles estavam olhando para mim? E, se olhavam , eles ficariam felizes em saber que eu os amava tanto? Eu sempre esperava conseguir surpreender papai quan do ele voltava de sua jornada, correndo até ele e pulando em seus bracos antes que ele alcan^asse a porta da frente. M as, na m aior parte das vezes, era papai que, cam inhan- do pelo quintal, me surpreendia enquanto eu olhava as m ontanhas distantes, sonhando com Jesus e M aria em plena luz do dia. Ele lim paria sua garganta ou com etaria a assobiar urna c a n d o Para me fazer saber que estava em casa e que estava esperando por um abraco. Eu jogava meus bracos em volta dele para dar-lhe as boas-vindas e ele cam inhava comigo até a beira da colina e contem plava a vista que nós dois tanto am ávam os. Pa pai, entào, sempre dizia quando ficávamos a sós em nosso quintal e olhávam os juntos o Lago Kivu: “Immaculée, eu nào sei com o alguém poderia olhar para tan ta beleza e nao se com over com o encanto da obra de Deus. Voce sa bia que dizem que Deus passa o seu dia inspecionando a C r ia d o e à noite Ele retorna para Ruanda para descansar porque este é o lugar mais bonito que Ele criou? Lembre-se disso, Immaculée. Deus dorme em R uanda” . Eu apertava meus bracos ao redor dele o mais firme que podia e beijava-o na bochecha. M au pai era a única pessoa que eu conhecia que amava a Deus tanto quanto eu; por isso, eu o amava mais do que seria capaz de descrever. Depois de urna boa e longa olhada no lago, papai dizia que estava com fome e caminhava de volta para dentro de casa. Antes que ele tivesse a chance de entrar, porém , eu 56 OS VISIONARIOS d e k ib e h o implorava para que ele comegasse a dar detalhes sobre sua viagem e as incríveis coisas que ele tinha visto e ouvido em Kibeho. M as papai era metódico em tudo que fazia e nao diria urna palavra sobre suas p e re g r in a je s até que a familia tivesse term inado a refeigáo e depois se reunido na sala para o Igitaramo. Somente entáo ele com etaria a revelar-nos os acontecim entos verdadeiramente m ilagro sos que ele tinha presenciado em Kibeho. A prim eira coisa que eu sempre perguntava para pa pai era se ele tinha visto Segatashya. Inevitavelmente, sua resposta á m inha pergunta era insatisfatória, para dizer o mínimo. “Ah, sim, eu vi Segatashya” , ele dizia. “M as nao comece a correr para chegar á frente de si mesma, Imma- culée... Coisas boas vém para aqueles que esperam .” M eu pai nunca gostava de ser apressado por ninguém, especialmente quando contava urna historia. Para ele, as- sim como para m uitos ruandeses, historias eram urna das grandes ferram entas disponíveis para um educador, um líder tribal ou um pai poderem expressar mensagens e ensinam entos moráis aos jovens. A cultura e a historia de Ruanda foi sempre passada adiante através da tradi^ao oral da c o n ta d o de historias e em nosso lar essa tradi^áo estava bem viva. Q uando dava inicio as suas historias de p e re g r in a je s , papai invaríavelmente come^ava descreyendo a própria jornada, contando tudo o que tinha acontecido duran te os longos quilóm etros da exaustiva cam inhada. Para mim, aquelas historias, m uitas vezes repletas de relatos sobre dificuldades angustiantes, eram algumas das me- lhores já contadas. Papai nos contava com o o seu grupo de entre 200 e 300 peregrinos da aldeia ficou sem com ida no meio do percurso, foi perseguido por anim ais selvagens
Compartilhar