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INTERPRETAÇÃO E PRODUÇÃO DE TEXTOS
Módulo 1 - IMPORTÂNCIA DA LEITURA COMO FONTE DE CONHECIMENTO E PARTICIPAÇÃO NA SOCIEDADE
Caro(a) aluno(a) 
Gostaríamos de dar início ao nosso trabalho, convidando o(a) à leitura de um texto de Clarice Lispector. 
FELICIDADE CLANDESTINA
Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme, enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria. 
Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como “data natalícia” e “saudade”. 
Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia. 
IAté que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim um tortura chinesa. Como casualmente, informou me que possuía As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E, completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria. 
Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança de alegria: eu não vivia, nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam. 
No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez. 
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono da livraria era tranqüilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo. 
E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados. 
Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler! 
E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: “E você fica com o livro por quanto tempo quiser.” Entendem? Valia mais do que me dar o livro: “pelo tempo que eu quisesse” é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer. 
Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo. 
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre ia ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada. 
Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo. 
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante. 
Clarice Lispector. In: “Felicidade Clandestina” - Ed. Rocco - Rio de Janeiro, 1998 
1.1 IMPORTÂNCIA DA LEITURA COMO FONTE DE CONHECIMENTO E PARTICIPAÇÃO NA SOCIEDADE 
Ler significa aproximar-se de algo que acaba de ganhar existência. 
Ítalo Calvino 
O ato de ler é soberano. Implica desvendar e conhecer o mundo. É pela leitura que desenvolvemos o processo de atribuir sentido a tudo o que nos rodeia: lemos um olhar, um gesto, um sorriso, um mapa, uma obra de arte, as pegadas na areia, as nuvens carregadas no céu, o sinal de fumaça avistado ao longe e tantos outros sinais. Lemos até mesmo o silêncio! 
Nos dias de hoje, a comunicação, mesmo presencial, está mediada por uma infinidade de signos. Na era da comunicação interplanetária, estabelecemos infinitas conexões com pessoas de todos os cantos do mundo, o que nos obriga a decodificar um universo poderoso de mensagens e a nos adaptar a elas: comunidades virtuais do Orkut, conversas pelo MSN, compras e negócios fechados pela rede e, se essa informação foi dominantemente verbal até então, agora se torna também visual com a chegada do YouTube. Sabemos o quanto a força da imagem exerce fascínio e entendemos, definitivamente, que não há mais como sobreviver neste mundo sem que haja, de nossa parte, uma adaptação constante no que se refere ao acesso às diferentes linguagens disponíveis. 
É fundamental reconhecer que o sentido de todas as coisas nos vem, principalmente, por meio do olhar, da compreensão e interpretação desses múltiplos signos que enxergamos, desde os mais corriqueiros – nomes de ruas, por exemplo – até os mais complexos – uma poesia repleta de metáforas. O sentido das coisas nos vem, então, por meio da leitura, um ato individual de construção de significado num contexto que se configura mediante a interação autor/texto/leitor. 
A leitura é uma atividade que solicita intensa participação do leitor e exige muito mais que o simples conhecimento lingüístico compartilhado pelos interlocutores: o leitor é, necessariamente, levado a mobilizar uma sériede estratégias, com a finalidade de preencher as lacunas e participar, de forma ativa, da construção do sentido. Dessa forma, autor e leitor devem ser vistos como estrategistas na interação pela linguagem para que se construa o sentido do texto. É nesse intercâmbio de leituras que se refinam, se reajustam e redimensionam hipóteses de significado, ampliando constantemente a nossa compreensão dos outros, do mundo e de nós mesmos. 
O exercício pleno da cidadania passa necessariamente pela garantia de acesso aos conhecimentos construídos e acumulados e às informações disponíveis socialmente. E a leitura é a chave dessa conquista. Signo: entidade lingüística dotada de duas faces: o significante (imagem acústica) e o significado (conceito). 
Módulo 2 - AS DIFERENTES LINGUAGENS 
A linguagem é o instrumento com que o homem pensa e sente, forma estados de alma, aspirações, volições e ações, o instrumento com que influencia e é influenciado, o fundamento último e mais profundo da sociedade humana. 
L. Hjelmslev 
A linguagem nasce da necessidade humana de comunicação; nela e com ela, o homem interage com o mundo. Para tratarmos das diferentes linguagens de que dispomos, verbais e não verbais, precisamos, inicialmente, pensar que elas existem para que possamos estabelecer comunicação. Mas o que é, em si, comunicar? 
Se desdobrarmos a palavra comunicação, teremos: 
Comunicação: “comum” + “ação”, ou melhor, “ação em comum”.
De modo geral, todos os significados encontrados para a palavra comunicação revelam a idéia de relação. Observe: 
Comunicação: deriva do latim communicare, cujo significado seria “tornar comum”, “partilhar”, “repartir”, “trocar opiniões”, “estar em relação com”. Podemos assim afirmar que, historicamente, comunicação implica em participação, interação entre dois ou mais elementos, um emitindo informações, outro recebendo e reagindo. Para que a comunicação exista, então, é preciso que haja mais de um pólo: sem o “outro” não há partilha de sentimentos e idéias ou de comandos e respostas. 
Para que a comunicação seja eficiente, é necessário que haja um código comum aos interlocutores.
Tomemos, agora, o conceito apresentado por Bechara (1999:28) para fundamentar o conceito de linguagem: 
Entende-se por linguagem qualquer sistema de signos simbólicos empregados na intercomunicação social para expressar e comunicar idéias e sentimentos, isto é, conteúdos da consciência. 
A linguagem é, então, vista como um espaço em que tanto o sujeito quanto o outro que com ele interage são ativos. Por meio dela, o homem pode trocar informações e idéias, compartilhar conhecimentos, expressar idéias e emoções. Desse modo, reconhecemos a linguagem como um instrumento múltiplo e dinâmico, isso porque, considerados os sentidos que devem ser expressos e as condições de que dispomos em dada situação, valemo-nos de códigos diferentes, criados a partir de elementos como o som, a imagem, a cor, a forma, o movimento e tantos outros. 
Vale salientar a idéia de que o processo de significação só acontece verdadeiramente quando, ao apropriarmo-nos de um código, por meio dele nos fazemos entender. 
2.1 Linguagem verbal e linguagem não verbal 
Chamamos de linguagem a todo sistema de sinais convencionais que nos permite realizar atos de comunicação. Certamente, você já observou que o ser humano utiliza as mais diferentes linguagens: a da música, a da dança, a da pintura, a dos surdos-mudos, a dos sinais de trânsito, a da língua que você fala, entre outras. Como vemos, a linguagem é produto de práticas sociais de uma determinada cultura que a representa e a modifica, numa atividade predominantemente social. 
Considerando o sistema de sinais utilizados na comunicação humana, costumamos dividir a linguagem em verbal e não verbal. Assim, temos: 
a. Linguagem verbal: aquela que utiliza as palavras para estabelecer comunicação. A língua que você utiliza, por exemplo, é linguagem verbal. 
b. Linguagem não verbal: aquela que utiliza outros sinais que não as palavras para estabelecer comunicação. Os sinais utilizados pelos surdos-mudos, por exemplo, constituem um tipo de linguagem não verbal. 
2.2 Linguagem formal e informal 
Nossa língua apresenta uma imensa possibilidade de variantes lingüísticas, tanto na linguagem formal (padrão) quanto na linguagem informal (coloquial). Elas não são, assim, homogêneas. Especialmente no que se refere ao coloquial, as variações não se esgotam. Alguns fatores determinam essa variedade. São eles: 
• diferenças regionais: há características fonéticas próprias de cada região, um sotaque próprio que dá traços distintivos ao falante nativo. Por exemplo, a fala espontânea de um caipira difere da fala de um gaúcho em pronúncia e vocabulário; 
• nível social do falante e sua relação com a escrita: um operário, de modo geral, não fala da mesma maneira que um médico, por exemplo; 
• diferenças individuais. 
É importante salientar que cada variedade tem seu conjunto de situações específicas para seu uso e, de modo geral, não pode ser substituída por outra sem provocar, ao menos, estranheza durante a comunicação. O texto de Luis Fernando Veríssimo ilustra uma dessas situações inusitadas: 
Aí, Galera 
Jogadores de futebol podem ser vítimas de estereotipação. Por exemplo, você pode imaginar um jogador de futebol dizendo “estereotipação”? E, no entanto, por que não? 
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra galera. 
- Minha saudação aos aficionados do clube e aos demais esportistas, aqui presentes ou no recesso dos seus lares. 
- Como é? 
- Aí, galera. 
- Quais são as instruções do técnico? 
- Nosso treinador vaticinou que, com um trabalho de contenção coordenada, com energia otimizada, na zona de preparação, aumentam as probabilidades de, recuperado o esférico, concatenarmos um contra-golpe agudo com parcimônia de meios e extrema objetividade, valendo-nos da desestruturação momentânea do sistema oposto, surpreendido pela reversão inesperada do fluxo da ação. 
- Ahn? 
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra pegá eles sem calça. 
- Certo. Você quer dizer mais alguma coisa? 
- Posso dirigir uma mensagem de caráter sentimental, algo banal, talvez mesmo previsível e piegas, a uma pessoa à qual sou ligado por razões, inclusive, genéticas? 
- Pode. 
- Uma saudação para a minha progenitora. 
- Como é? 
- Alô, mamãe! 
- Estou vendo que você é um, um... 
- Um jogador que confunde o entrevistador, pois não corresponde à expectativa de que o atleta seja um ser algo primitivo com dificuldade de expressão e assim sabota a estereotipação? 
- Estereoquê? 
- Um chato? 
- Isso. 
Correio Braziliense, 13/05/1998. 
Podemos concluir daí que cada variedade tem seus domínios próprios e que não existe a variedade “certa” ou “errada”. Para cada situação comunicativa existe a variante “mais” ou “menos” adequada. É certo, no entanto, que é atribuída à variante padrão um valor social e histórico maior do que à coloquial. Cabe, assim, ao indivíduo – competente lingüisticamente - optar por uma ou outra variante em função da situação comunicativa da qual participa no momento. 
Por fim, citando Bechara (1999), a linguagem é sempre um estar no mundo com os outros, não como um indivíduo em particular, mas como parte do todo social, de uma comunidade. 
Módulo 3 - NOÇÕES DE TEXTO: UNIDADE DE SENTIDO 
A palavra “texto” é bastante familiar no âmbito escolar e fora dele, embora, de modo geral, não o reconheçamos em diversas de suas ocorrências. 
Os estudos mais avançados na área da Lingüística Textual, a partir da década de 60, detiveram-se em explicar as características próprias da linguagem escrita concretizada em forma de texto e não em forma de um mero amontoado de palavras e frases. 
Para a Lingüística Textual, a linguagem é o principal meio de comunicação social do ser humano e, portanto,seu produto concreto – o texto – também se reveste dessa importante característica, já que é por intermédio dele que um emissor transmite algo a um receptor, obedecendo a um sistema de signos/regras codificado. O texto constitui-se, assim, na unidade lingüística comunicativa básica. 
Inicialmente, faz-se necessário expor o conceito de “texto”, por ser ele o elemento fundamental de comunicação. Vejamos o conceito proposto por Bernárdez (1982):
Texto é a unidade lingüística comunicativa fundamental, produto da atividade verbal humana, que possui sempre caráter social: está caracterizado por seu estrato semântico e comunicativo, assim como por sua coerência profunda e superficial, devida à intenção (comunicativa) do falante de criar um texto íntegro, e à sua estruturação mediante dois conjuntos de regras: as próprias do nível textual e as do sistema da língua”. 
Alguns elementos nos parecem centrais nessa definição. São eles: 
Um texto não é um aglomerado de frases; o significado de suas partes resulta das correlações que elas mantêm entre si. Uma leitura não pode basear-se em fragmentos isolados do texto. Observe a seqüência: 
Marilene ainda não chegou. Comprei três melancias. O escritório de Sérgio encerrou o expediente por hoje. A densa floresta era assustadora. Ela colocou mais sal no feijão. O vaso partiu-se em pedacinhos. 
Essa seqüência apresenta um amontoado aleatório de frases, já que suas partes não se articulam entre si, não formam um todo coerente. Portanto, tal seqüência não constitui um texto.
Agora, observe: 
Circuito Fechado
Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo; pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maços de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, blocos de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras, cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro. 
(Ricardo Ramos) 
Em Circuito Fechado não há apenas uma série de palavras soltas; temos aqui um texto. E por quê? Apesar de haver palavras, aparentemente, sem relação umas com as outras, é possível reconhecer, depois de uma leitura atenta, que há uma articulação entre elas. A escolha dos substantivos e a seqüência em que são empregados revelam um significado implícito, algo que une e relaciona essas palavras, formando um texto. Podemos, assim, dizer que esse texto se refere a um dia na vida de um homem comum. 
Note que no início do texto há substantivos relacionados a hábitos rotineiros, como levantar, ir ao banheiro, lavar o rosto, escovar dentes, fazer barba tomar banho, vestir-se e tomar café da manhã. 
Chinelos, vaso, descarga. Pia. Sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos.
 Já no final do texto há o ritual que denota a volta para casa. Observe: 
Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras, cigarro e fósforos. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.
Descobrimos que a personagem é um homem também pela escolha dos substantivos. Parece que sua profissão pode estar relacionada à publicidade e o personagem é, também, um fumante, pois, por quatorze vezes, o narrador retoma a seqüência “cigarro, fósforo”. 
Creme de barbear, pincel, espuma, gilete [...] cueca, ca misa, abotoadura, calça, meia, sapatos, gravata, paletó [...] Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, blocos de notas, es pátula, pastas, caixas de entrada, de saída [...] Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, me morandos, bilhetes [...] Mesa, cavalete, cinzeiros, cadei ras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. 
Enfim, o texto Circuito Fechado é uma crônica - um texto narrativo curto -, cujo tema é o cotidiano e leva o leitor a refletir sobre a vida. Usando somente substantivos, o autor produziu um texto que termina onde começou. Essa estrutura circular tem relação com o título e com a rotina que aprisiona o homem nos dias atuais. 
O texto tem coerência de sentido e o sentido de qualquer passagem de um texto é dado pelo contexto. Se não levarmos em conta as relações entre as partes do texto, corremos o risco de atribuir a ele um sentido oposto àquele que efetivamente tem.
 Todo texto tem um caráter histórico, não no sentido de narrar fatos históricos, mas no de revelar as concepções e a cultura de um grupo social numa determinada época. 
http://www.propagandasantigas.blogger.com.br/ (acesso em 05/01/2007)
Módulo 4 TEXTOS ORAIS E TEXTOS ESCRITOS 
A interação pela linguagem materializa-se por meio de textos, sejam eles orais ou escritos. É relevante, no entanto, reconhecer que fala e escrita são duas modalidades de uso da língua que, embora se utilizem do mesmo sistema lingüístico, possuem características próprias. As duas não têm as mesmas formas, a mesma gramática, nem os mesmos recursos expressivos. Para a compreensão dos problemas da expressão e da comunicação verbais, é necessário evidenciar essa distinção. 
Para dar início às suas reflexões, leia o texto de Millôr Fernandes, a seguir. 
A vaguidão específica 
“As mulheres têm uma maneira de falar que eu chamo de vago específica.” 
Richard Gehman 
- Maria, ponha isso lá fora em qualquer parte. 
- Junto com as outras? 
- Não ponha junto com as outras, não. Senão pode vir alguém e querer fazer coisa com elas. Ponha no lugar do outro dia. 
- Sim senhora. Olha, o homem está aí. 
- Aquele de quando choveu? 
- Não, o que a senhora foi lá e falou com ele no domingo. 
- Que é que você disse a ele? 
- Eu disse pra ele continuar.
- Ele já começou? 
- Acho que já. Eu disse que podia principiar por onde quisesse. 
- É bom? 
- Mais ou menos. O outro parece mais capaz. 
- Vocêtrouxe tudo pra cima? 
- Não senhora, só trouxe as coisas. O resto não trouxe porque a senhora recomendou para deixar até a véspera. 
- Mas traga, traga. Na ocasião nós descemos tudo de novo. É melhor, senão atravanca a entrada e ele reclama como na outra noite. 
- Está bem, vou ver como. 
FERNANDES, Millôr. Trinta anos de mim mesmo. São Paulo, Círculo do Livro, 1976, p.77. 
No texto, o autor revela ironia ao atribuir às mulheres o falar de modo vago e por meio de elipses. No entanto, tais características são próprias do texto oral, em que a interação face-a-face permite que os interlocutores, situados no mesmo tempo e espaço, preencham as lacunas ali existentes, já que ambos, ancorados em dados do contexto e no conhecimento partilhado que possuem, são capazes de compreender e produzir sentido ao que se diz. 
Em nossa sociedade, fundamentalmente oral, convivemos muito mais com textos orais do que com textos escritos. Todos os povos, indistintamente, têm ou tiveram uma tradição oral e relativamente poucos tiveram ou têm uma tradição escrita. No entanto, isso não torna a oralidade mais importante que a escrita. Mesmo que a oralidade tenha uma primazia cronológica sobre a escrita, esta, por sua vez, adquire um valor social superior à oralidade.
 A escrita não pode ser tida como representação da fala. Em parte, porque a escrita não consegue reproduzir muitos dos fenômenos da oralidade, tais como a prosódia, a gestualidade, os movimentos do corpo e dos olhos, entre outros. Ela apresenta, ainda, elementos significativos próprios, ausentes na fala, tais como o tamanho e o tipo de letras, cores e formatos, sinais de pontuação e elementos pictóricos, que operam como gestos, mímica e prosódia graficamente representados. 
Observe a transcrição de um texto falado, retirado de uma aula de História Contemporânea, ministrada no Rio de Janeiro, no final de década de 70. Procure ler o texto como se você estivesse “ouvindo” a aula. 
... nós vimos que ela assinala... como disse o colega aí,,, a elevação da sociedade burguesa... e capitalista... ora... pode se já ver nisso... o que é uma revolução... uma revolução significa o quê? Uma mudança... de classe... em assumindo o poder... você vê por exemplo... a Revolução Francesa... o que ela significa? Nós vimos... você tem uma classe que sobe... e outra classe que desce... não é isso? A burguesia cresceu... ela ti/a burguesia possuía... o poder... econômico... mas ela não tem prestígio social... nem poder político... então... através desse poder econômico da burguesia... que controlava o comércio... que tinha nas mãos a economia da França... tava nas mãos da classe burguesa... que crescera... desde o século quinze... com a Revolução Comercial... nós temos o crescimento da classe burguesa... essa burguesia quer... quer... o poder...ela quer o poder político... ela que o prestígio social... ela quer entrar em Versalhes... então nós vamos ver que através... de uma Revolução...ela vai... de forma violenta... ela vai conseguir o poder... isso é uma revolução porque significa a ascensão de uma classe e a queda de outra... mas qual é a classe que cai? É a aristocracia... tanto que... o Rei teve a cabeça cortada... não é isso? 
Dinah Callou (org.). A linguagem falada culta na cidade do Rio de Janeiro – materiais para seu estudo. Elocuções formais. Rio de Janeiro, Fujb, 1991, p. 104-105 
É possível notar que o texto é bastante entrecortado e repetitivo, apresenta expressivas marcas de oralidade e progride apoiando-se em questões lançadas aos interlocutores, no caso, aos alunos. Isso não significa que o texto falado é, por sua natureza, absolutamente caótico e desestruturado. Ao contrário, ele tem uma estruturação que lhe é própria, ditada pelas circunstâncias sócio-cognitivas de sua produção. 
No entanto, tais características, próprias do texto oral, são consideradas inapropriadas para o texto escrito. E por quê? 
Para entender essa questão, inicialmente, faz-se necessário observar a distinção entre essas duas modalidades de uso da língua, proposta por Marcuschi (2001:25): 
• A fala seria uma forma de produção textual-discursiva para fins comunicativos na modalidade oral. Caracteriza-se pelo uso da língua na sua forma de sons sistematicamente articulados e significativo, bem como os aspectos prosódicos e recursos expressivos como a gestualidade, os movimentos do corpo e a mímica. 
• A escrita, por sua vez, seria um modo de produção textual-discursiva para fins comunicativos com certas especificidades materiais e se caracterizaria por sua constituição gráfica, embora envolva também recursos de ordem pictórica e outros. Pode manifestar-se, do ponto de vista de sua tecnologia, por unidades alfabéticas (escrita alfabética), ideogramas (escrita ideográfica) ou unidades iconográficas. Trata-se de uma modalidade de uso da língua complementar à fala. 
De modo geral, discute-se que ambas apresentam distinções porque diferem nos seus modos de aquisição, nas suas condições de produção, na transmissão e recepção, nos meios através dos quais os elementos de estrutura são organizados. 
Para Koch (1992), entre as características distintivas mais freqüentemente apontadas entre as modalidades falada e escrita estão as seguintes: 
	Fala
	Escrita
	1. Contextualizada.
	1. Contextualizada.
	2. Não-planejada.
	2. Planejada.
	3. Redundante.
	3. Condensada.
	4. Fragmentada.
	4. Não-fragmentada.
	5. Incompleta.
	5. Completa.
	6. Pouco elaborada.
	6. Elaborada.
	7. Predominância de frases curtas, simples ou coordenadas.
	7. Predominância de frases complexas, com subordinação abundante.
	8. Pouco uso de passivas
	8. Emprego freqüente de passivas.
	9. Pouca densidade informacional.
	9. Densidade informacional.
	10. Poucas nominalizações.
	10. Abundância de nominalizações.
	11. Menor densidade lexical.
	11. Maior densidade lexical.
Ocorre, porém, que essas diferenças nem sempre distinguem as duas modalidades. Isso porque se verifica, por exemplo, que há textos escritos muito próximos ao da fala conversacional (bilhetes, recados, cartas familiares, por exemplo), e textos falados que mais se aproximam da escrita formal (conferências, entrevistas profissionais, entre outros). Além disso, atualmente, pode-se conceber o texto oral e o escrito como atividades interativas e complementares no contexto das práticas culturais e sociais. 
Oralidade e escrita, assim, são práticas e usos da língua com características próprias, mas não suficientemente opostas para caracterizar dois sistemas lingüísticos distintos. Ambas permitem a construção de textos coesos e coerentes, ambas permitem a elaboração de raciocínios abstratos e exposições formais e informais, variações estilísticas, sociais e dialetais. 
Cabe lembrar, finalmente, que em situações de interação face a face, o locutor que detém a palavra não é o único responsável pelo seu discurso. Trata-se, como bem mostra Marcuschi (1986), de uma atividade de co-produção discursiva, visto que os interlocutores estão juntamente empenhados na produção do texto.
Módulo 5 - ESTILOS E GÊNEROS DISCURSIVOS 
Todos os dias, deparamo-nos com diferentes textos durante as mais diversas situações comunicativas das quais participamos socialmente: anúncios, relatórios, notícias, palestras, piadas, receitas etc. Veja, por exemplo, o que podemos fazer quando queremos: 
• escolher um filme para assistir no cinema. Podemos consultar a seção cultural de um dos jornais da cidade ou uma revista especializada, ler num outdoor sobre o lançamento de um filme que nos agrada ou, ainda, pedir a opinião de um amigo. 
• saber como chegar a um local desconhecido por nós. Podemos consultar um guia de ruas da cidade ou, ainda, perguntar a alguém que conheça o trajeto. Quem sabe até pedir que essa pessoa desenhe o caminho? 
• convidar um amigo para sua festa de aniversário. Podemos mandar um e-mail, um convite pelo correio, telefonarao colega, enviar um “torpedo” pelo celular. 
• entreter uma criança. Aqui as possibilidades são várias! Podemos ler histórias de fadas, lançar adivinhas, lembrar antigas canções, recitar quadrinhas e parlendas, propor jogos diversos, assistir a um desenho etc. 
Em todas as situações descritas acima, utilizamos textos em diferentes gêneros, isto é, para situações e/ou finalidades diversas, lançamos mão de um repertório diverso de gêneros textuais que circulam socialmente e se adaptam às diferentes situações de comunicação. Cada um desses gêneros exige, para sua compreensão ou produção, diferentes conhecimentos e capacidades. 
De modo geral, todos os gêneros textuais têm em comum, basicamente, três características: 
• o assunto: o que pode ser dito através daquele gênero; 
• o estilo: as palavras, expressões, frases selecionadas e o modo de organizá-las; 
• o formato: a estrutura em que cada agrupamento textual é apresentado. 
Os gêneros surgem, situam-se e integram-se funcionalmente nas culturas em que se desenvolvem. O conjunto dos gêneros é potencialmente infinito e mutável, materializado tanto na oralidade quanto na escrita. Eles são vinculados à vida cultural e social e contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do seu dia-a-dia. Assim, são exemplos de gêneros textuais: telefonema, carta, romance, bilhete, reportagem, lista de compras, piadas, receita culinária, contos de fadas etc. 
Para Bronckart (1999), a apropriação dos gêneros é um mecanismo fundamental de socialização, de inserção prática nas atividades comunicativas humanas. 
Módulo 6 - QUALIDADES DO TEXTO: COERÊNCIA, COESÃO, CLAREZA, CONCISÃO E CORREÇÃO GRAMATICAL 
Nesta unidade veremos alguns fatores importantes para a qualidade de um texto. Como você já viu, na Unidade anterior, o que é um texto, isto é, quais as características básicas que nos permitem considerar um texto como tal, passaremos aos itens relativos à qualidade textual, que compreendem: coesão e coerência; clareza e concisão e correção gramatical. 
6.1 Coesão e coerência 
Para entendermos a noção de coesão/coerência, primeiramente devemos considerar a hierarquia de valores que existe de uma palavra a um texto. É essa hierarquia que determina a coesão/coerência, tendo em vista ser o texto um “todo” de significado, ou seja, para considerarmos que um texto seja um “texto”, temos que levar em consideração sua organização sintático-semântica em primeiro lugar. 
Assim, a coesão equivale à relação entre as palavras, entre as orações, entre os períodos, enfim, entre as partes que compõem um texto. Quando chegamos ao “todo”, ao sentido global, temos a coerência do texto. Então, um fator depende do outro, isto é, a coerência pressupõe a coesão. 
Exemplificando: o falante de língua portuguesa não reconhece coesão e coerência em uma seqüência como: 
Dia é muito este especial vida minha em. 
No entanto, esse mesmo falante reconheceria como coerente (e coesa) a seqüência: 
Este dia é muito especial em minha vida. 
Houve organização sintático-semântica na segunda seqüência, o que não ocorreu na primeira. 
Segundo Koch (1998), “o conceito de coesão textual diz respeito a todos os processos de seqüencialização que asseguram (ou tornam recuperável) uma ligação lingüística significativa entre os elementos que ocorrem na superfície textual”. 
Essa coesão pode ser estabelecida por meio de mecanismos referenciais e/ou seqüenciais, segundo os estudos lingüísticos. Para entendermos melhor, vejamos a proposta didática dessas classificações, feita por Platão & Fiorin (1999). 
6.1.1 Coesão por retomada ou por antecipação (coesão referencial) 
Retomada ou antecipação por uma palavra gramatical 
São classes gramaticais (artigos, pronomes, numerais, advérbios, verbos) que funcionam, no texto, como elementos de retomada (anafóricos) ou de antecipação (catafóricos) de outros termos enunciados no texto. 
Estamos (a) reunidos para examinar o caso. Eu, a diretoria e vocês entendemos que não se trata de uma questão simples. Ela (b) deve ser analisada com muita cautela, por isso nós (c) nos encontramos aqui. 
Exemplo: 
No pequeno trecho, podemos observar as expressões destacadas e verificar que:
 (a) “Estamos” é o verbo que antecipa o sujeito “eu, a diretoria e vocês”. Na seqüência é um elemento catafórico. 
(b) “Ela” é um pronome que retoma “uma questão”, portanto um elemento anafórico. 
(c) “Nós” é pronome (elemento anafórico) que retoma o sujeito “eu, a diretoria e vocês”. 
É a isso que se denomina “retomada ou antecipação por uma palavra gramatical”. Podemos, então, encontrar, em um texto, vários elementos que estabelecem essa retomada ou antecipação. São eles que estabelecem as ligações no texto, ou seja, são esses termos que estabelecem o que se denomina coesão referencial. 
Algumas observações: 
O termo substituído e/ou retomado pode ser inferido pelo contexto. 
Exemplo: Estamos aqui para examinar o caso. 
Nesse caso, “aqui”, se não houver referência anterior explícita, leva à inferência de que se trata do local em que ocorre a situação comunicativa (que não precisa ser um lugar concretamente especificado). 
No uso de artigo, o definido tem a função de retomar um termo já enunciado, enquanto o indefinido geralmente introduz um termo novo.
 Exemplos: 
Encontrei a carta sobre a mesa. (pressupõe-se que se trata de uma carta já referida anteriormente). 
 (b) Uma carta foi deixada sobre a mesa. (“uma” introduz o termo carta, ou seja, o termo está sendo apresentado no texto) 
Os verbos “fazer” e “ser”, enquanto anafóricos, substituem, respectivamente, ações e estados.
 Exemplos: 
a) João e Maria estudaram muito para a prova, o que você não o fez. (=estudar)
b) Eduardo e o irmão ficaram muito emocionados com a homenagem, mas não foi (= ficarem emocionados) como esperávamos. 
Ambigüidade. 
Quando um elemento anafórico refere-se a dois antecedentes distintos, pode provocar ambigüidade. 
Exemplos:
Pronome possessivo: 
Minha amiga discutiu com a irmã por causa de sua resposta. (sua= da amiga ou da irmã?). 
Pronome relativo:
 Ela convidou o irmão do namorado, que chegou atrasado para a festa. (que= o irmão ou o namorado?) 
Retomada por palavra lexical (substantivos, verbos, adjetivos) 
Além das palavras gramaticais, há outra forma de se retomar as palavras no texto. É o mecanismo de substituição por sinônimos, por hiperônimo, por hipônimo ou uma antonomásia. 
No exemplo anterior, podemos observar um desses mecanismos. Em “... de uma questão simples”, o substantivo “questão” retoma “o caso” por um processo de substituição por sinônimos. 
A relação de hipônimo/hiperônimo corresponde à relação de “contém” / “está contido”. O primeiro está contido no segundo e vice-versa. Por exemplo, cachorro é hipônimo de mamíferos e vice-versa. 
Quanto à antonomásia, é o processo de substituição de um nome próprio por um comum ou de um comum por um próprio. Geralmente é utilizado para personalidades. 
Exemplo: A Rainha dos baixinhos estréia novo filme. (Em vez de Xuxa estréia novo filme). 
Dentre os mecanismos de coesão referencial, há também a elipse, quer dizer, o apagamento de palavras (que podem ser recuperadas pelo contexto) em uma seqüência, para que não haja repetição indevida. 
Exemplo: O Presidente da República anunciou novas medidas. Ø Baixou os juros, Ø elevou o salário mínimo e, ainda, Ø regulamentou a criação de novos empregos. 
Veja que o símbolo Ø representa o sujeito “O Presidente da República”, que foi omitido par evitar repetição na seqüência. Trata-se da elipse do sujeito. 
6.1.2 Coesão por encadeamento de segmentos textuais (coesão seqüencial) a. Coesão por conexão
Estabelecida por conectores (ou operadores discursivos), que fazem a relação entre segmentos do texto. Esses conectores, além de estabelecerrelação lógico-semântica entre as partes do texto (de causa, finalidade, conclusão etc.), têm função argumentativa, que segundo FIORIN & PLATÃO (1999) podem ser dos seguintes tipos: 
1) Os que marcam uma gradação numa série de argumentos orientada no sentido de uma determinada conclusão (até, mesmo, até mesmo, inclusive, ao menos, pelo menos, no mínimo, no máximo, quando muito). Ex.: Ele tem todas as qualidades para vencer o concurso: é alto, magro e até inteligente. 
2) Os que marcam uma relação de conjunção argumentativa (ligam argumentos em favor de uma conclusão, como: e, também, ainda, nem, não só... mas também, tanto...como, além de, além disso, a par de). Ex.: O cliente não recebeu o produto solicitado e, ficou, ainda, insatisfeito com o que recebera. 
3) Os que indicam uma relação de disjunção argumentativa (argumentos que levam a conclusões opostas, como: ou, ou então, quer...quer, seja...seja, caso contrário). Ex.: Todos os convocados pelas autoridades competentes devem apresentarse ou serão intimidados a fazê-lo. 
4) Os que marcam uma relação de conclusão (portanto, logo, por conseguinte, pois, quando não introduz a oração). Ex.: Ele foi classificado o melhor corredor. Recebera, pois, o maior prêmio. (Está implícito que quem fosse considerado o melhor corredor, receberia o melhor prêmio). 
5) Os que estabelecem uma comparação entre dois elementos, com vistas a uma conclusão (a favor ou contra). Ex.: Não sei se o trabalho ficará bom, mas esse pedreiro é tão eficiente quanto o outro.
6) Os que introduzem uma explicação ou justificativa (porque, já que, que, pois). Ex. É melhor não mexer no material, já que não tem a intenção de comprá-lo. 
7) Os que marcam uma relação de contrajunção (mas, porém, contudo, todavia, no entanto, entretanto, embora, ainda que, mesmo que, apesar de que). Ex.: O governo abriu financiamento de casas à classe média, porém há uma grande parte da população sem casa própria. 
8) Os que introduzem argumento decisivo, como um acréscimo à informação (alíás, além do mais, além de tudo, além disso, ademais). Ex.: Ela tirou tudo do armário, espalhou no quarto e não terminou a arrumação. Aliás, nem deveria ter começado. 
9) Os que indicam uma generalização ou uma amplificação da informação anterior (de fato, realmente, aliás, também, é verdade que). Ex.: Não bastasse estar atrasado, também esqueceu o ingresso no bolso da calça. 
10) Os que especificam ou exemplificam o que foi dito. Ex.: Todos ficaram insatisfeitos com a decisão da mãe. O filho mais velho deixou de falar com ela. 
11) Os que marcam uma relação de retificação, ou seja, uma correção, um esclarecimento, um desenvolvimento ou uma redefinição do conteúdo anterior. (ou melhor, de fato, pelo contrário, ao contrário, isto é, quer dizer, ou seja, em outras palavras). Ex.: O candidato não honrou seu compromisso, isto é, não cumpriu o que prometera em campanha eleitoral. 
12) Os que introduzem uma explicitação, uma confirmação ou uma ilustração do que foi informado. (assim, desse modo, dessa maneira).Ex.: Encontramo-nos em período de crise econômica. Assim, o comércio de produtos eletrônicos está em baixa. 
b. Coesão por justaposição 
Esse tipo de coesão pode ser estabelecido com ou sem elementos de ligação. Quando há conectores, estes podem ser: 
1) Os que marcam seqüência temporal. Ex.: A mulher abandonara o lar. Um ano depois, estava arrependida. 
2) Os que marcam uma ordenação espacial. Ex.: À direita fica o portão de entrada para o prédio. 
3) Os que especificam a ordem dos assuntos no texto. Ex.: Primeiramente, devo declarar que aceito a proposta. 
4) Os que introduzem um dado tema ou servem para mudar o assunto na conversação. Ex.: Devemos nos unir para uma decisão acertada. Por falar nisso, estamos todos no mesmo barco. 
Algumas observações: 
1- Quando não há conectores, eles podem ser inferidos pelo contexto. 
Ex.: Não assistirá à conferência. Está atrasada. (subentendese um conector que estabeleça relação de causa na segunda oração, como “porque”) 
2- Quanto à manutenção do tema no texto, trata-se da articulação tema (dado) e rema (novo), que se dá na perspectiva oracional ou contextual. 
Ex.: Vamos descrever, então, o interior da casa. A sala é ampla e se divide em dois ambientes. Os quartos são bem arejados. A cozinha comporta toda a família nos horários de refeição. 
6.2 Coerência e progressão textual 
Como já dissemos, a coerência é o todo de sentido em que resulta o texto. Para que ela se estabeleça, é preciso observar a não-contradição de sentidos entre partes do texto, o que se constrói pelos mecanismos de coesão já explicitados.
Além disso, de acordo com Fiorin & Platão (1999), há vários níveis que devem ser levados em conta, como o narrativo, o figurativo, o temporal, o argumentativo, o espacial e o de linguagem. Para todos eles, dois tipos de coerência são fundamentais: a coerência intra e extratextual. A primeira corresponde à organização e encadeamento das partes do texto, ao passo que a segunda pode estar relacionada tanto ao conhecimento de mundo como ao conhecimento lingüístico da falante. 
No entanto, há textos que podem ser incoerentes aparentemente. Para se verificar se o texto tem sentido, é preciso considerar vários fatores que podem levar à atribuição de significado ao texto. São eles: o contexto, a situação comunicativa, o gênero, o(s) intertexto(s). 
Esses fatores determinam as condições de produção e de recepção de um texto. É preciso ter conhecimento dessas condições para julgar coerente (ou não) um texto. Para exemplificar, um texto literário, por ser ficcional, admite o uso da linguagem figurada, ao passo que um texto científico não a admite. Portanto, se houver o uso de uma metáfora em um texto científico, por exemplo, este será julgado incoerente. 
Vejamos um texto para melhor ilustrar o que foi dito até aqui. 
O leão, o burro e o rato 
Um leão, um burro e um rato voltavam, afinal, da caçada que haviam empreendido juntos(1) e colocaram numa clareira tudo que tinham caçado: dois veados, algumas perdizes, três tatus, uma paca e muita caça menor. O leão sentou-se num tronco e, com voz tonitruante que procurava inutilmente suavizar, berrou:
 - Bem, agora que terminamos um magnífico dia de trabalho, descansemos aqui, camaradas, para a justa partilha do nosso esforço conjunto. Compadre burro, por favor, você, que é o sábio de nós três, com licença do compadre rato, você, compadre burro, vai fazer a partilha desta caça em três partes absolutamente iguais. Vamos, compadre rato, até o rio, beber um pouco de água, deixando nosso grande amigo burro em paz para deliberar. 
Os dois se afastaram, foram até o rio, beberam água(2) e ficaram um tempo. Voltaram e verificaram que o burro tinha feito um trabalho extremamente meticuloso, dividindo a caça em três partes absolutamente iguais. Assim que viu os dois voltando, o burro perguntou ao leão: 
- Pronto, compadre leão, aí está: que acha da partilha? 
O leão não disse uma palavra. Deu uma violenta patada na nuca do burro, prostando-o no chão, morto. 
Sorrindo, o leão voltou-se para o rato e disse: 
- Compadre rato, lamento muito, mas tenho a impressão de que concorda em que não podíamos suportar a presença de tamanha inaptidão e burrice. Desculpe eu ter perdido a paciência, mas não havia outra coisa a fazer. Há muito que eu não suportava mais o compadre burro. Me faça um favor agora – divida você o bolo da caça, incluindo, por favor, o corpo do compadre burro. Vou até o rio, novamente, deixando-lhe calma para uma deliberação sensata. 
Mal o leão se afastou, o rato não teve a menor dúvida. Dividiu o monte de caça em dois: de um lado, toda a caça, inclusive o corpo do burro. Do outro apenas um ratinho cinza (3) morto por acaso. O leão ainda não tinha chegado ao rio, quando o rato chamou: 
- Compadre leão, está pronta a partilha! 
O leão, vendo a caçadividida de maneira tão justa, não pôde deixar de cumprimentar o rato: 
- Maravilhoso, meu caro compadre, maravilhoso! Como você chegou tão depressa a uma partilha tão certa? 
E o rato respondeu: 
- Muito simples. Estabeleci uma relação matemática entre seu tamanho e o meu – é claro que você precisa comer muito mais. Tracei uma comparação entre a sua força e a minha – é claro que você precisa de muito maior volume de alimentação do que eu. Comparei, ponderadamente, sua posição na floresta com a minha – e, evidentemente, a partilha só podia ser esta. Além do que, sou um intelectual, sou todo espírito! 
- Inacreditável, inacreditável! Que compreensão! Que argúcia! – exclamou o leão, realmente admirado. – Olha, juro que nunca tinha notado, em você, essa cultura. Como você escondeu isso o tempo todo, e quem lhe ensinou tanta sabedoria? 
- Na verdade, leão, eu nunca soube nada. Se me perdoa um elogio fúnebre, se não se ofende, acabei de aprender tudo agora mesmo, com o burro morto. 
MORAL: SÓ UM BURRO TENTA FICAR COM A PARTE DO LEÃO. 
(1). A conjugação de esforços tão heterogêneos na destruição do meio ambiente é coisa muito comum. 
(2). Enquanto estavam bebendo água, o leão reparou que o rato estava sujando a água que ele bebia. Mas isso já é outra fábula. 
(3). Os ratos devem se contentar em se alimentar de ratos. Como diziam os latinos: Similia similibus curantur. (FERNANDES, Millôr)
 Ao analisarmos o texto, podemos verificar o seguinte: 
No texto, a coerência narrativa é estabelecida, primeiramente, pela seqüência de ações que se encadeiam: o leão propõe um desafio ao burro e ao rato, ambos aceitam, mas o burro não capta a verdadeira intenção do leão e acaba morto; o rato, por sua vez, ao ver o burro morto, entende a mensagem e, para preservar sua vida, faz a divisão do alimento considerada justa para o leão e, assim, obtém sucesso. 
Na seqüência temporal, a narrativa apresenta uma sucessão de fatos que estabelece a progressão temática do texto a respeito da exploração do homem pelo homem, ou da lei da sobrevivência em uma sociedade competitiva, tema(s) este(s) que é (são) figurativizado(s) pelos animais partilhando o alimento, em que se destaca a soberania do leão na cadeia alimentar. 
A fim de se concretizar a “verdade” do texto, há também a coerência espacial, visto que os animais encontram-se em uma floresta, ambiente que concretiza o cenário em que se desenvolve a história. Como se trata de um texto ficcional, a coerência é estabelecida pela criação desse mundo possível em que os personagens se inserem. 
Quanto à linguagem, é coerente ao tipo de texto, que permite o uso do coloquial, a fim de aproximar-se do interlocutor desse tipo de texto. Por isso, o vocabulário é acessível e há construções próximas à oralidade, como “Me façam um favor”, em que o pronome oblíquo inicia a oração, uma forma que a norma padrão rejeita. 
Há um “jogo” de pressupostos e subentendidos, que caracterizam o texto como literário e consiste em uma estratégia argumentativa para a defesa do ponto de vista implícito de que “vence o mais forte”. 
Dessa forma, podemos considerar este um texto coerente, pois observamos tanto a coerência interna, como a coerência externa dele. A primeira corresponde aos fatores ligados ao conhecimento lingüístico, já apresentados anteriormente, ao passo que a segunda relaciona-se às condições de produção e/ou recepção do texto, tais como o gênero, a situação comunicativa e as relações intertextuais. 
Nesse sentido, podemos verificar que, por se tratar de uma crônica, é um texto que trata de tema do cotidiano, em uma linguagem coloquial, mas que constrói opinião pelas estratégias argumentativas. Além disso, de modo subentendido, faz alusão a outros textos existentes, do tipo fábula, que pressupõem a existência de uma “moral”, recurso que se denomina intertextualidade. Pode-se notar que por esse recurso há construção de uma ironia em relação à moral, que é apresentada de uma maneira “subvertida”, isto é, de modo a levar o leitor à reflexão sobre a estupidez humana em suas relações sociais. 
6.3 Clareza e concisão 
A clareza e a concisão compreendem duas qualidades primordiais de um texto bem elaborado. A primeira diz respeito à organização coerente das idéias, de modo a não deixar dúvidas sobre o que foi proposto pelo texto, desde seu início até sua conclusão, enquanto a segunda está associada à não-prolixidade do texto, ou seja, uma está ligada à outra. 
Do ponto de vista da produção, de acordo com a intenção, deve-se selecionar a estrutura que sustentará o texto, levandose em consideração características peculiares a cada uma delas (narrativa, descritiva ou dissertativo-argumentativa), as quais serão apresentadas mais à frente. O fundamental é garantir que haja uma hierarquia de idéias e fatos na relação intratextual, a fim de se organizar um todo coeso e coerente. 
Nesse sentido, a organização dos parágrafos no interior do texto é de suma importância e constitui uma das dificuldades que deve ser vencida pelo produtor, pois quando não se tem domínio dessa habilidade, há duas tendências na construção dos parágrafos: ou o texto é um bloco único de informações ou confundem-se período e parágrafo. 
Para melhor compreensão, passemos a verificar essas duas etapas: da organização discursivo-textual e da elaboração dos parágrafos. 
6.3.1 Da organização discursivo-textual: 
Do ponto de vista de quem produz o texto, é preciso que haja conhecimento das condições de produção, ou seja, é preciso saber para que, para quem e por que o texto será produzido. Além dessas, o tipo de texto também é uma condição de produção, visto que o gênero determina as características de cada texto, o que pressupõe o conhecimento delas para a organização discursivo-textual adequada. 
Uma primeira preocupação deve ser com a pessoa do discurso, na cena enunciativa, tendo em vista que o uso da 3ª ou da 1ª pessoa produz efeito de objetividade ou subjetividade. Dizemos efeito porque este é resultado da intenção do locutor (para com o interlocutor) de “afastar-se” ou “aproximar-se” da enunciação quando faz a escolha. 
A partir desse primeiro posicionamento, o sujeito assume “a voz” que seja mais conveniente à produção do texto-discurso. Trata-se da relação entre enunciação e enunciado, ou ainda, “o que se diz” e “o que se quer dizer”. 
É dessa escolha enunciativa que se pode avaliar se o textodiscurso é objetivo ou subjetivo, se o sujeito aproxima-se ou distancia-se do ponto de vista que há no texto. Enfim, o modo de dizer, o que se pretende dizer depende dessas escolhas prévias. Após essa primeira seleção, torna-se necessário saber que tipo de texto pretende-se produzir, isto é, se o texto é descritivo, narrativo ou argumentativo. 
Nesse sentido, Emediato (2004:136) propõe o seguinte quadro: 
	MODOS DE ORGANIZAÇÃO
	FUNÇÃO DE BASE
	PRINCÍPIOS DE ORGANIZAÇÃO
	ENUNCIATIVO
	Relação de influência (EU - TU)
Ponto de vista situacional (EU - Contexto) 
Relato sobre o mundo (ELE)
	• Posição em relação ao interlocutor.
• Posição em relação ao que é dito.
• Posição em relação ao mundo e aos discursos dos outros.
	DESCRITIVO
	Identificar os seres, objetos do mundo de maneira objetiva ou subjetiva.
	• Organização da construção descritiva. (Nomear, Localizar, Qualificar e Quantificar).
	NARRATIVO
	Construir uma sucessão de ações de uma história no tempo em torno de uma busca e de um conflito, com actantes e personagens.
	• Organização da lógica narrativa (Actantes, processos e funções narrativas) 
• Qualificação da ação e estatuto do narrador.
	ARGUMENTATIVO
	Explicar uma verdade, numa visão racional, para influenciar o interlocutor: convencê-lo ( se argumentação demonstrativa) ou persuadi-lo (se argumentação retórica)
	• Organização da lógica argumentativa. (Relações lógicas, tipos de argumentos).
6.3.2 Texto descritivo 
O textodescritivo tem por base um sujeito observador, o qual descreve o mundo de maneira objetiva ou subjetiva. A primeira diz respeito a uma descrição da realidade tal como ela é, em que o sujeito tem como objetivo primeiro informar sobre objetos, pessoas ou lugares. Quanto à segunda, é a descrição em que o sujeito descreve a realidade como a sente, passando a exprimir a afetividade que tem em relação ao objeto, pessoa ou lugar descrito. 
A descrição opõe-se à narração pelo seu caráter estático, em que o tempo não tem tanta importância, pois não há transformação de estados e ações, o que compete ao texto narrativo. Desse modo, o ponto de vista do sujeito observador é fundamental e depende tanto de sua posição física (em relação ao que descreve) quanto de sua atitude afetiva (relativa ao objeto descrito). 
6.3.3 Texto narrativo 
O texto narrativo, ao contrário do descritivo, é dinâmico, pressupõe a transformação de estados e o encadeamento de ações. Para tanto, torna-se necessária a criação dos elementos fundamentais de uma narrativa: personagens, tempo e espaço. Há narração quando os personagens, por meio de ações, transformam-se no tempo e no espaço determinados no desenvolvimento do texto. Esse conjunto constitui o que se denomina enredo. 
Portanto, para que um texto seja narrativo, é preciso criar personagens (e apresentá-los), instaurar um problema que determinará o conflito central em torno do qual os personagens relacionam-se em busca da solução. Quando chega ao auge, tem-se o clímax e daí em diante torna-se necessário apresentar a resolução do problema, que constitui o desfecho. Normalmente, um texto narrativo, contém, ainda, uma moral, que corresponde a uma avaliação, a um juízo de valor implícito no texto. 
Além de todos esses elementos apresentados, é importante ressaltar que em um texto narrativo há um narrador, aquele que “conta a história”. Ele assume um ponto de vista, que é demonstrado pelo uso da 1ª ou da 3ª pessoa, revelando a primeira uma aproximação e a segunda um distanciamento, isto é, o narrador em 1ª pessoa está mais próximo dos fatos narrados e o narrador em 3ª pessoa mais distanciado, como se observasse “de longe” o que está acontecendo. 
6.3.4 Texto dissertativo-argumentativo 
Primeiramente, é preciso ficar claro que não acreditamos que haja texto dissertativo que não seja argumentativo, daí a classificação. A dissertação, a nosso ver, está mais relacionada à forma (que ao conteúdo) de um texto, que compreende as seguintes partes: introdução, desenvolvimento e conclusão. 
Já a argumentação está mais ligada ao conteúdo e pode apresentar-se em outras formas (como a narração ou a descrição). Esse é o tipo de texto que revela a intenção do sujeito de convencer e/ou persuadir “o outro” sobre a validade de uma tese, que compreende uma proposição (idéia proposta) a ser defendida no desenvolvimento do texto. 
Para tanto, Emediato (2004) sugere uma estrutura básica, que é constituída de: 
1) Afirmação (tese, proposição); 
2) posicionamento : que pode demonstrar concordância ou discordância com uma tese já existente; 
3) quadro de problematização: situa a argumentação em uma perspectiva (social, econômica, política, ideológica, religiosa,etc.), direcionando o discurso do sujeito; 
4) formulação de argumentos: provas, raciocínio lógico, justificativas ou explicações que dêem sustentação à tese; 
5) conclusão: resultado que se pretende com a defesa da tese pelos argumentos apresentados e sua pertinência e adequação ao quadro de problematização. 
Os argumentos podem ser divididos em dois grupos: os que são utilizados para persuadir e os que servem para convencer. O primeiro grupo corresponde ao que Emediato denomina argumentação retórica, que se apóia em valores, crenças e lugares comuns, ao passo que o segundo apóia-se em fatos e verdades e é denominado argumentação demonstrativa pelo autor. 
Um texto argumentativo normalmente é composto dos dois tipos de argumento, os quais o produtor do texto deve associálos na busca da defesa de sua tese, tornando seu texto coerente. 
No entanto, dependendo do tipo de texto a ser produzido, pode haver predominância de um tipo sobre o outro. Para essa relação, Emediato (2004, p. 169) propõe o seguinte quadro:
	ARGUMENTAÇÃO DEMONSTRATIVA
	ARGUMENTAÇÃO RETÓRICA
	Textos acadêmicos
	Textos publicitários e de marketing
	Textos científicos
	Textos político-eleitorais
	Textos jornalísticos informativos objetivos
	Textos religiosos e de intenção moral
	Textos técnicos
	Textos de opinião
Há uma variedade de tipos de argumentos que podem ser utilizados na organização discursivo-textual do texto argumentativo. Todavia, este não será objeto de estudo no momento, razão pela qual não nos deteremos no assunto específico. 
6.3.5 Da organização dos parágrafos. 
Embora um parágrafo seja definido pela extensão de uma margem em branco até um ponto final, devemos salientar que o mais importante é a garantia de uma unidade de sentido para cada parágrafo de um texto, o que não pode delimitar uma forma padrão. 
Primeiramente, ao se elaborar um texto, é preciso um planejamento, um roteiro que norteará a organização dele em parágrafos, de forma que haja um encadeamento lógico-semântico. Para tanto, faz-se necessário investigar o conhecimento prévio que se tem sobre o assunto, pois esse conhecimento permitirá um plano de organização do texto. 
Em seguida, deve-se fazer um esboço da estrutura do texto a ser produzido, partindo-se da idéia central, isto é, do tema escolhido. A partir dele, podem-se relacionar tópicos que possam ser desenvolvidos em núcleos temáticos no interior do texto, de modo a se organizarem orações, períodos e parágrafos. 
Para o planejamento dos parágrafos há sugestões de autores variados e uma delas, a qual é um consenso entre muitos deles, foi sintetizada por Emediato (2004, p. 92) da seguinte forma: 
A seleção de uma dessas formas direcionará a construção do texto, orientando a seqüência dos parágrafos de acordo com a ênfase dada no início. É ela que estabelecerá as relações intratextuais e a segmentação dos parágrafos.
É importante salientar, ainda, que não há uma fórmula mágica para a organização dos parágrafos em um texto. O importante é estabelecer uma seqüência lógica que o torne o claro. Para que se inicie bem um texto (e, conseqüentemente, haja uma seqüência coerente), Faraco e Tezza (1992: 178) sugerem as seguintes recomendações:
 1) Iniciar o texto familiarizando o leitor com o assunto que será tratado, de modo que a introdução do texto situe com clareza as coordenadas do texto(assunto, intenção, aspecto que se pretende abordar); 
2) evitar o início do texto com uma frase avulsa, a não ser que o tipo de texto o exija (como a linguagem publicitária, por exemplo), pois esse procedimento denota má estruturação; 
3) utilizar períodos mais curtos, uma vez que os períodos longos tornam o texto prolixo e podem desinteressar o leitor. 
Módulo 7 - COMPLEMENTO GRAMATICAL 
Na escrita, sabemos da necessidade de se respeitar a norma culta, a não ser que o tipo de texto não o exija. Por exemplo, um texto literário, no qual se reproduz a fala dos personagens, se estes estiverem no “papel” de pessoas comuns e o contexto permitir uma fala descontraída, então a norma padrão não precisa ser seguida à risca, com a finalidade de imprimir realidade ao texto. 
Todavia, em geral, precisamos cuidar da nossa linguagem e, principalmente, do uso da norma padrão em textos do dia a dia. Por isso, passemos a algumas dicas sobre dúvidas que surgem ao ter-se que utilizar esse português mais formal. 
a. O uso do que. 
O que, bastante utilizado como um elemento de coesão, pode simplesmente introduzir uma informação complementar, como pode retomar um termo anterior. Veja nos exemplos:(a) Ela me disse que não fará mais isso. 
(b) cão, que é fiel ao homem, jamais o trai. 
No exemplo (a), o que introduz a segunda oração “que não fará isso”, complementando o verbo “disse” ( Ela disse o quê?). Nesse caso, trata-se de uma conjunção integrante, pois esta é sua função, integrar o sentido da oração anterior. 
Já no exemplo (b), o que relaciona-se ao antecedente “cão”, por isso é um pronome relativo. Ele poderia até ser substituído por “o qual”. A informação principal encontra-se na oração “O cão jamais trai o homem”. A segunda oração foi intercalada na oração principal, acrescentado-lhe uma informação. 
Quando se usa o pronome relativo, ele pode introduzir uma informação complementar, mas de caráter genérico, e, nesse caso, a oração iniciada pelo pronome apresenta-se destacada entre vírgulas (ou travessões, ou parênteses). Esse tipo de pronome pode também restringir o termo a que se refere e, nesse caso, a oração introduzida por ele não fica destacada pela pontuação. Vejamos os exemplos: 
(c) O homem, que é sensato, não comete esse tipo de erro 
(d) O homem que é sensato não comete esse tipo de erro. 
No exemplo (c), entende-se que todos os homens (a humanidade) são sensatos, ao passo que no exemplo (d) entendese que há um grupo de homens que são sensatos e outro grupo dos que não o são. No primeiro exemplo há uma generalização, a informação apenas complementa a anterior; no segundo, o termo está sendo restrito. 
b. Uso de porque, por que, por quê e porquê. 
• POR QUE 
Pode ser utilizado em uma pergunta indireta (por que motivo) ou em substituição a “pelo(a) qual”. Vejamos os exemplos:
(a) Não entendo por que você age assim. (por que motivo) 
(b) A rua por que passei, estava congestionada. (pela qual) 
• PORQUE 
Este é geralmente usado em enunciados afirmativos. Veja o exemplo: 
Fiz isso porque queria irritá-lo. 
• POR QUÊ 
É usado em final de sentença interrogativa. Exemplo: 
Você fez isso, por quê? 
• PORQUÊ 
É um substantivo, sinônimo de motivo, razão e deve ser acompanhado de artigo. Vejamos o exemplo: 
Não entendo o porquê de tanta revolta. (o motivo) 
c. Uso da vírgula 
A vírgula é um sinal de pontuação utilizado para marcar, na escrita, uma pausa (da fala) menor entre várias informações existentes em um texto. Para sua utilização, há regras que devem ser seguidas. Vejamos. 
1) Não se separa o sujeito do predicado, independente da extensão do sujeito. Vejamos os exemplos. 
(a) O pai auxilia o filho em suas dificuldades. 
(b) O pai dedicado auxilia o filho em suas dificuldades. 
(c) O pai dedicado e atencioso auxilia o filho em suas dificuldades. 
Nos exemplos, temos os seguintes sujeitos: em (a) o pai; em (b) o pai dedicado; em (c) o pai dedicado e atencioso. Em todos os casos, não há vírgula. 
2) A informação principal pode ser separada da informação complementar pela vírgula. Exemplo: 
Sem notar a minha presença, ela entrou na sala à minha procura. (informação complementar) (informação principal) 
A menos que tenha outra sugestão, você pode seguir esse roteiro. (informação complementar) (informação principal) 
3) Termos acessórios, como o vocativo e o aposto, devem ser separados por vírgulas: 
(a) Crianças, não gritem! (vocativo) 
(b) Luís Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil, fez um pronunciamento na TV (aposto) 
4) As expressões explicativas devem ser separadas por vírgulas.
Ele disse tudo, ou seja, a verdade. 
5) Usa-se vírgula para isolar SIM ou NÃO que indicam respostas. 
Sim, eu aceito o convite. 
6) A vírgula pode indicar elipse (omissão de um termo).
Um disse a verdade, o outro, a mentira. (disse)
7) Quando o adjunto adverbial é antecipado, usa-se vírgula para destacá-lo. 
Na semana passada, todos foram à exposição. 
8) Em datas, a vírgula separa a expressão locativa. 
São Paulo, 01 de janeiro de 2007. 
9) Algumas conjunções, como as conclusivas e adversativas, são separadas por vírgulas, conforme os exemplos: 
(a) Procurei minhas chaves na sala toda, porém não a encontrei. 
(b) O aluno constatou, pois, sua aprovação no vestibular. 
(c) Não estudou o suficiente; portanto, não foi aprovado. 
10) A vírgula separa orações intercaladas. 
A verdade, eu sei, é impossível ficar calada. 
11) Usa-se vírgula para separar orações reduzidas (ou nas formas nominais: gerúndio, particípio ou infinitivo), como nos exemplos: 
(a) Chegando ao local, avise-me. 
(b) Concluída a tarefa, recebeu os honorários. 
(c) Ao sair, bateu a porta do carro. 
12) A vírgula é usada para separar orações subordinadas adverbiais. 
(a) Quando chegou ao prédio, comunicou-me. (Or. Sub. Adv. Temporal) 
(b) Embora quisesse muito, não foi à inauguração da loja. (Or. Sub. Adv. Concessiva) 
Bibliografia
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BERNÁRDEZ, E. Introducción a la lingüística testuale. Il Molino, Bologna, 1984.
BRONCKART, J-P. Atividade de linguagem, textos e discursos. São Paulo, EDUC,1999.
CHIAPPINI, L. (coord. geral), BRANDÃO, H. N.(coord.). Gêneros do discurso na escola. São Paulo, Cortez Editora, v. 5, 2000.
EMEDIATO, Wander. A Fórmula do Texto: redação, argumentação e leitura. São Paulo: Geração Editorial, 2004.
FARACO, C. A. & TEZZA, C. Prática de textos para estudantes universitários. Petrópolis, RJ, Vozes, 1992)
FIORIN & PLATÃO. Lições de texto: leitura e redação. 4 ed. São Paulo: Ática,1999.
KLEIMAN, Ângela. Oficina de leitura: teoria e prática. Campinas, SP, Pontes,1993.
KOCH, I. G. Villaça. A coesão textual. 10.ed. São Paulo, Contexto, 1998.
________________. A inter-ação pela linguagem. São Paulo, Contexto, 1992.
________________ & TRAVAGLIA, L. C. A coerência textual. São Paulo, Contexto, 1990.
MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo, Cortez Editora, 2001.
Histórico sobre o assunto, datas, origens, narrativa histórica. Quando?
TEMPO
Locais, situações no espaço, onde?
ESPAÇO
O que é? Definir, conceituar, explicar o significado de um conceito.
DEFINIÇÃO
Lista de características, funções, princípios,fatores, fases, etapas etc.
ENUMERAÇÃO
Estabelecer relações de semelhança e de diferença, contrastar
COMPARAÇÃO
Resultados, conseqüências, fatores causais.
CAUSA/EFEITOS
Fatos concretos, provas factuais.
EXEMPLIFICAÇÃO
Dedução geral sintetizando os dados e informações contidas nos parágrafos anteriores.
CONCLUSÃO/DEDUÇÃO
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