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Treinamento para Inspetores de Fabricação Folha: 1 de 80 TREINAMENTO ESPECIALIZADO WWW.ISQI.COM.BR Ensaios Não Destrutivos Patrocínio Rev. 0 Sumário 1 Introdução ........................................................................................................................ 4 1.1 Aumento da produtividade ........................................................................................ 4 1.2 Melhoria no emprego do material.............................................................................. 4 1.3 Segurança................................................................................................................. 4 1.4 Identificação .............................................................................................................. 4 2 Descontinuidades............................................................................................................. 7 2.1 Generalidades........................................................................................................... 7 2.2 Alguns defeitos estruturais ........................................................................................ 7 2.2.1 Preliminares ....................................................................................................... 7 2.2.2 Porosidade......................................................................................................... 8 2.2.3 Inclusões de escória ........................................................................................ 10 2.2.4 Mordeduras (undercut)..................................................................................... 10 2.2.5 Falta de fusão .................................................................................................. 11 2.2.6 Trincas ............................................................................................................. 12 2.3 Descontinuidades detectáveis................................................................................. 13 3 Ensaio visual .................................................................................................................. 14 3.1 Generalidades......................................................................................................... 14 3.2 Instrumentos auxiliares da inspeção visual ............................................................. 15 3.3 Inspeção de partes internas .................................................................................... 15 3.3.1 Método reprodutivo .......................................................................................... 16 3.3.2 Método subjetivo .............................................................................................. 16 3.4 O inspetor................................................................................................................ 16 3.5 O objeto................................................................................................................... 17 3.5.1 Distância da objetiva ........................................................................................ 17 3.5.2 Dimensão do objeto ......................................................................................... 17 3.5.3 Dimensão do defeito ........................................................................................ 17 3.5.4 Reflexibilidade.................................................................................................. 17 3.6 Normalização .......................................................................................................... 18 4 Ensaio por líquidos penetrantes ..................................................................................... 19 4.1 Generalidades......................................................................................................... 19 4.2 O princípio do método ............................................................................................. 19 4.2.1 Tensão superficial ............................................................................................ 20 4.2.2 Ascensão capilar.............................................................................................. 21 4.3 Técnica.................................................................................................................... 23 4.3.1 Limpeza da superfície ...................................................................................... 23 4.3.2 Aplicação do penetrante e tempo de penetração............................................. 24 4.3.3 Aplicação do revelador..................................................................................... 26 4.3.4 Inspeção e interpretação.................................................................................. 27 4.4 Qualificação de procedimento................................................................................. 27 4.5 Corpo de prova........................................................................................................ 28 4.6 Área de aplicação.................................................................................................... 28 4.7 Normalização .......................................................................................................... 29 5 Métodos magnéticos ...................................................................................................... 32 5.1 Noções básicas sobre magnetismo......................................................................... 32 5.2 Eletromagnetismo ................................................................................................... 32 5.3 Ensaio por partículas magnéticas ........................................................................... 33 5.3.1 Princípio do método ......................................................................................... 33 5.3.2 Método das partículas úmidas ......................................................................... 34 5.3.3 Método das partículas secas............................................................................ 35 5.3.4 Interpretação dos resultados............................................................................ 37 Treinamento para Inspetores de Fabricação Folha: 2 de 80 TREINAMENTO ESPECIALIZADO WWW.ISQI.COM.BR Ensaios Não Destrutivos Patrocínio Rev. 0 5.3.5 Área de aplicação ............................................................................................ 38 5.3.6 Normalização ................................................................................................... 39 5.4 Método das correntes parasitas ................................. Erro! Indicador não definido. 5.4.1 Introdução ........................................................... Erro! Indicador não definido. 5.4.2 Direção e distribuição das correntes parasitas nos materiaisErro! Indicador não definido. 5.4.3 Profundidade de penetração............................... Erro! Indicador não definido. 5.4.4 Considerações sobre o processo........................ Erro! Indicador não definido. 5.4.5 Processo "MAGNATEST" ................................... Erro! Indicador não definido. 5.4.6 Processo "SIGMATEST"..................................... Erro! Indicador não definido. 5.4.7 Normalização ...................................................... Erro! Indicador não definido. 6 Radiografia industrial...................................................................................................... 40 6.1 O Processo radiográfico.......................................................................................... 40 6.1.1 Natureza dos raios X........................................................................................ 40 6.1.2Natureza dos raios γ......................................................................................... 41 6.2 Radiografia.............................................................................................................. 41 6.3 Telas intensificadoras.............................................................................................. 42 6.4 Radiação dispersa................................................................................................... 42 6.5 Tipos de filme.......................................................................................................... 43 6.6 Fontes de raios X e raios γ ...................................................................................... 43 6.6.1 Produção de raios X......................................................................................... 43 6.6.2 Tubo de raios X................................................................................................ 43 6.6.3 Refrigeração..................................................................................................... 44 6.6.4 Tamanho do ponto focal .................................................................................. 44 6.6.5 Efeitos de tensão ............................................................................................. 44 6.6.6 Aplicação de vários tipos de aparelhos de raios X........................................... 44 6.6.7 Fontes de raios γ .............................................................................................. 45 6.6.8 Contenção dos isótopos radioativos ................................................................ 47 6.7 Princípios geométricos ............................................................................................ 47 6.7.1 Princípios gerais............................................................................................... 47 6.7.2 Sombras radiográficas ..................................................................................... 48 6.7.3 Aplicação à radiografia..................................................................................... 48 6.7.4 Penumbra geométrica...................................................................................... 49 6.7.5 Fatores essenciais na exposição ..................................................................... 49 6.8 Técnica multifilmes.................................................................................................. 51 6.9 Efeitos do processamento....................................................................................... 51 6.10 Qualidade das imagens radiográficas e visibilidade dos detalhes .......................... 52 6.10.1 Penetrômetros.................................................................................................. 53 6.10.2 Penetrômetros e visibilidade de descontinuidades .......................................... 55 6.11 Técnicas radiográficas mais utilizadas .................................................................... 55 6.11.1 Uniões planas (juntas de topo)......................................................................... 55 6.11.2 Uniões circulares com acesso interno.............................................................. 55 6.11.3 Uniões circulares sem acesso interno.............................................................. 56 6.11.4 Outros tipos de exposição................................................................................ 58 6.12 Comparação entre os ensaios de radiografia por raios X e γ .................................. 58 6.12.1 Vantagens e limitações da radiografia ............................................................. 59 6.12.2 Limitações........................................................................................................ 59 6.13 Interpretação de radiografias .................................................................................. 60 6.14 Proteção radiológica................................................................................................ 60 6.14.1 Cálculo de doses sem barreiras....................................................................... 61 Treinamento para Inspetores de Fabricação Folha: 3 de 81 TREINAMENTO ESPECIALIZADO WWW.ISQI.COM.BR Ensaios Não Destrutivos Patrocínio Rev. 0 6.14.2 Normas básicas de proteção radiológica ......................................................... 61 6.14.3 Limites derivado do trabalho ............................................................................ 62 6.14.4 Limitação no ensaio radiográfico devido ao aspecto de segurança................. 63 6.15 Normalização .......................................................................................................... 63 7 Ensaio por ultra-som ...................................................................................................... 64 7.1 Definição e princípios .............................................................................................. 64 7.2 Ondas ultra-sônicas e meios de propagação .......................................................... 64 7.2.1 Ondas longitudinais.......................................................................................... 65 7.2.2 Ondas transversais .......................................................................................... 65 7.2.3 Ondas superficiais ou ondas de rayleigh ......................................................... 65 7.3 Leis da reflexão e transmissão................................................................................ 66 7.3.1 Atenuação da energia sônica........................................................................... 68 7.4 Geração e recepção das ondas ultra-sônicas ......................................................... 68 7.4.1 Aparelho ultra-sônico de análise ...................................................................... 69 7.5 Técnicas de Ensaio de materiais por ultra-som ...................................................... 70 7.5.1 Técnica da transparência................................................................................. 70 7.5.2 Técnica de pulso-eco ....................................................................................... 71 7.6 Cabeçotes normais ................................................................................................. 72 7.6.1 Sensibilidade.................................................................................................... 72 7.6.2 Capacidade de resolução ................................................................................ 72 7.7 A Geometria do campo sônico ................................................................................ 73 7.7.1 A detectabilidade de defeitos ........................................................................... 73 7.7.2 Seleção de cabeçotes...................................................................................... 73 7.8 Feixe Incidente oblíquo ........................................................................................... 74 7.8.1 Transdutores Angulares................................................................................... 74 7.9 Ajuste do equipamento............................................................................................ 75 7.9.1 Blocos de calibração ........................................................................................ 75 7.9.2 Calibração da base de tempo utilizando-se o bloco de calibração V2 ............. 75 7.9.3 Calibração do ponto de emergência do feixe sônico utilizando-se o bloco de calibração V2.................................................................................................................. 77 7.9.4 Determinação do ângulo de emergência dostransdutores.............................. 77 7.10 Escolha do procedimento de ensaio em função do tipo e características do material 77 7.10.1 Escolha da freqüência...................................................................................... 77 7.10.2 Escolha do transdutor ultra-sônico................................................................... 77 8 Referências .................................................................................................................... 79 8.1 Normas.................................................................................................................... 79 8.2 Referências ............................................................................................................. 80 Treinamento para Inspetores de Fabricação Folha: 4 de 80 TREINAMENTO ESPECIALIZADO WWW.ISQI.COM.BR Ensaios Não Destrutivos Patrocínio Rev. 0 1 Introdução Os ensaios não destrutivos abrangem as técnicas de ensaio não se destrói a peça em exame, podendo o método de ensaio ser executado na peça acabada. Exemplos: a) Exame visual b) Líquidos penetrantes c) Processos magnéticos d) Radiografia e gamagrafia e) Ultra-som, etc. O objetivo fundamental da inspeção não destrutiva é avaliar a qualidade do material, verificando sua homogeneidade, sob o ponto de vista de aceitação ou rejeição. Através do uso das técnicas não destrutivas é possível diminuir o fator de ignorância acerca do material sem diminuir o fator de segurança em produtos acabados. A adoção destes tipos de ensaios pelas indústrias vem tendo um grande aumento, pois significa a obtenção de melhores produtos, redução do custo e aumento da produção e da produtividade. Aspectos benéficos A contribuição que os ensaios não destrutivos podem trazer à indústria pode ser classificada em quatro categorias: a) Aumento da produtividade b) Melhoria no emprego do material c) Segurança d) Melhora na identificação. 1.1 Aumento da produtividade a) Evitar desperdício de material; menor quantidade de cavaco e melhor uso da matéria- prima; b) Evitar perda de tempo de serviço; c) Evitar diferenças nos padrões da qualidade; melhoria e uniformidade na qualidade a um custo satisfatório; d) Diminuir os custos operacionais; e) Determinação da natureza e localização de anomalias; f) Maior eficiência no uso dos equipamentos. 1.2 Melhoria no emprego do material a) Localização de regiões sob tensão; b) Localização de falhas por fadiga; c) Evitar mau funcionamento do equipamento; d) Diminuição das avarias em equipamento. 1.3 Segurança a) Evitar acidentes; b) Aumentar a vida dos equipamentos. 1.4 Identificação a) Diferenças de composição química; b) Diferenças de tratamento térmico; Os vários tipos de ensaios não destrutivos apresentam diferenças fundamentais entre si, não só quanto aos princípios físicos e técnicas de cada um, mas principalmente quanto aos resultados que se pretende obter. Treinamento para Inspetores de Fabricação Folha: 5 de 80 TREINAMENTO ESPECIALIZADO WWW.ISQI.COM.BR Ensaios Não Destrutivos Patrocínio Rev. 0 A principal diretriz na escolha de um exame ou conjunto de exames será a definição clara das descontinuidades cuja presença se deseja detectar, bem como os locais onde podem ou não estar situadas, suas dimensões, etc. Além disso, deve-se levar em conta as limitações dos diversos métodos, as condições de aplicação, os equipamentos disponíveis e todas as condições que possam influir na execução, sensibilidade e confiabilidade dos resultados. A tabela 1 faz uma comparação genérica entre os diversos métodos de ensaios não destrutivos, e a tabela 2 fornece sugestões para a escolha do método não destrutivo adequado às diversas técnicas de inspeção não destrutiva. Tabela 1 – Comparação entre os métodos de inspeção não destrutiva Descontinuidades nos metais Geral Folhas e chapas Barras e tubos Fundidos Forjados Soldas Cl as sif ica çã o ge ra l d o s m ét o do s Té cn ica s Tr in ca s su pe rfi cia is Tr in ca s in te rn as Va zi os M ed id a de es pe ss u ra Va ria çõ es m et al úr gi ca s De la m in aç ão Va zi os , fu ro s e o rif íc io s Co st u ra s Po ro si da de s al o n ga da s In cl us õe s Tr in ca s Co n tra çõ es in te rn as Po ro si da de s De st ac am en to do m ac ho Do br as In cl us õe s Fa lh as in te rn as Tr in ca s Tr in ca s In cl us õe s Fa lta de fu sã o Fa lta de pe n et ra çã o Po ro si da de Raios X R R B P R I B P B R R B B B R R R R R B B B B Raios γ R R B P R I B I R R R B B B I I I R R B B B B Radiografia Fluoroscopia I P R I I I B P I R I R R R I I I I R R R R R Ondas longitudinais I B B B P B B I B R I R R R R R R P R P P P P Ondas transversais P B B I I R R R I R P R R I P R R R B B B B B Ultra-som Ondas superficiais B I I I I I I R I I I I I P I I I R B I I I I CA – Via úmida B I I I I R I B P R B I I I I R I B B I I I I CC – Via seca B I I I I R I B I I B I I I I R I B B I I I I CA – Via úmida B P I I I B I B P R B P I I R B R B B R I I I Partículas Magnéticas CC – Via seca B R P I I B I B I I B R P I R R R B B B I I R Luz visível B I I I I R I R R I B I R I I I I B B I I I I Líquidos Penetrantes Fluorescente B I I I I R I R R I B I R I R I I B B I I I I Legenda: B → Bom R → Regular P → Pobre I → Insuficiente Treinamento para Inspetores de Fabricação Folha: 6 de 80 TREINAMENTO ESPECIALIZADO WWW.ISQI.COM.BR Ensaios Não Destrutivos Patrocínio Rev. 0 Tabela 2 – Sugestão para a escolha dos métodos de inspeção não destrutiva Método Equipamentos requeridos Capacidade de detecção Principais vantagens Principais desvantagens Observações Vi su al Lentes de aumento, calibradores especiais, espelhos, projetores, câmeras de TV em circuito fechado, fibras ópticas. Descontinuidades grosseiras superficiais Baixo custo, podendo ser aplicado a todas as fases dos processos produtivos. Limitado a descontinuidades que afloram à superfície. Ensaio subjetivo, dependente quase que exclusivamente da experiência do inspetor. Registro permanente confiável difícil de ser obtido Deve ser sempre o primeiro ensaio a ser realizado. Padronização ainda dúbia, em desenvolvimento. Lí qu id o s Pe n et ra n te s Conjunto de três líquidos. Equipamento de aplicação do penetrante ou do revelador (compressor, aspersor, etc.). Fontes de raios ultravioleta para os penetrantes fluorescentes. Descontinuidades abertas à superfície Aplica-se aos materiais magnetizáveis ou não. Fácil aprendizado e utilização. Baixo custo. Detecta somente descontinuidades que afloram à superfície. Não pode ser utilizado em materiais porosos ou que estejam a alta ou baixa temperatura. Registro permanente difícil de ser conseguido. As condições superficiais das peças podem mascarar os resultados. Difícil qualificação de procedimento e de produto. Pa rtí cu la s M ag n ét ica s Equipamento de magnetização e desmagnetização. Limalha de ferro com granulometria controlada e pigmentação adequada. Luz fluorescente quando for o caso. Descontinuidadessuperficiais e sub- superficiais Descontinuidades superficiais e sub- superficiais Utilização simples. Em alguns casos é portátil. Permite controlar a sensibilidade. Na maioria dos casos apresenta baixo custo. Descontinuidades paralelas à direção das linhas de campo não são facilmente detectadas. Ul tra - so m Equipamento de geração de ultra-sons. Transdutores e cabos. Padrões de calibração e de referência. Descontinuidades superficiais, sub- superficiais e internas. Muito sensível, podendo ser utilizado em locais de difícil acesso. Requer do operador grande conhecimento teórico e experiência tanto para a calibração quanto para a interpretação dos resultados. Difícil aplicação em superfícies rugosas. Registro permanente difícil de ser conseguido. Muito utilizado para medida de espessura. Difícil confecção de blocos padrão de calibração com defeitos controlados e conhecidos. Ra di o gr af ia Equipamentos geradores de Raios X ou fontes de Raios γ. Descontinuidades internas Quando feito com filmes, é um registro permanente. Os Raios γ são versáteis, independendo de energia elétrica. Depende da técnica aplicada para a obtenção de bons resultados, inclusive quanto à interpretação. Requer cuidados especiais de segurança. É requerido na maioria dos códigos de construção de vasos de pressão. É muito utilizado na qualificação de soldadores. É um dos ensaios mais caros. Treinamento para Inspetores de Fabricação Folha: 7 de 80 TREINAMENTO ESPECIALIZADO WWW.ISQI.COM.BR Ensaios Não Destrutivos Patrocínio Rev. 0 2 Descontinuidades 2.1 Generalidades Denomina-se descontinuidade a toda falta de homogeneidade detectada por um meio qualquer. Essa descontinuidade encontrada numa peça mecânica, dependendo do local, tamanho, direção, profundidade, enfim, de diversas condições a serem registradas durante uma inspeção para posterior averiguação ou laudo, pode ser considerada um defeito desde que seja um "não-atendimento de um requisito de uso pretendido ou de uma expectativa razoável, inclusive quanto à segurança".1 Até o presente momento não existem critérios estabelecidos que nos permitam determinar uma correlação entre dimensões e quantidade de defeitos e a perda da resistência aos processos a que estão sujeitas as construções mecânicas, como por exemplo: • Ruptura sob tensão estática • Ruptura frágil • Fadiga • Corrosão e corrosão sob tensão • Fadiga associada à corrosão • Fragilização por hidrogênio • Fluência etc. Pelo contrário, os critérios de aceitação que são apresentados nas diversas normas em uso, foram fixados empiricamente de acordo com o que, na opinião de renomados especialistas, eram considerados níveis aceitáveis de defeitos. Há muito, instituições normativas e laboratórios de pesquisas vem se empenhando em trabalhos visando estabelecer critérios mais realistas para a avaliação da qualidade das dos produtos primários2 e juntas soldadas o que as tornaria mais econômicas e mais adequadas ao trabalho. Esta busca tem se baseado no estudo das influências dos diversos tipos de defeitos sobre as propriedades dos materiais. Os trabalhos experimentais têm se baseado tanto em defeitos naturais obtidos durante os processos de fabricação, quanto em defeitos artificiais introduzidos por meios mecânicos. Por outro lado, tais ensaios têm sido realizados tanto em corpos de prova padronizados quanto em modelos em escala reduzida de algumas construções, as quais são submetidas a solicitações semelhantes às de trabalho normal. Os poucos trabalhos apresentados são pouco conclusivos e os resultados nem sempre podem ser comparados. 2.2 Alguns defeitos estruturais 2.2.1 Preliminares Sem dúvida, para julgar-se a influência dos defeitos no comportamento dos produtos acabados, deve-se levar em conta antes de tudo a sensibilidade do tipo de material e seu processamento mecânico a tais defeitos, sua localização e orientação no campo de tensões e o estado das mesmas tensões, bem como as condições de operação. Nem sempre é possível o conhecimento completo de todas essas informações e o que se faz é tentar estabelecer critérios orientativos gerais para julgamento. • Descontinuidades alongadas, de perfil bem delineado são consideradas mais perigosas que descontinuidades arredondadas. Entende-se por descontinuidades arredondadas 1 Definição da ISO 8402 (2.11) 2 Laminados, forjados, fundidos, etc. Treinamento para Inspetores de Fabricação Folha: 8 de 80 TREINAMENTO ESPECIALIZADO WWW.ISQI.COM.BR Ensaios Não Destrutivos Patrocínio Rev. 0 aquelas cuja relação entre quaisquer medidas ortogonais tomadas em qualquer plano é menor que 33; �� �� �� ��� � � � ��� �� �� �� ���������� � ���� ��� Figura 1 – Efeito da porosidade sobre os valores dos ensaios de tração. • A orientação da descontinuidade é considerada mais perigosa se a tensão máxima de tração age na direção perpendicular a uma descontinuidade alongada, sendo, portanto, a orientação menos perigosa quando as tensões de tração agem na direção da descontinuidade. • A periculosidade das descontinuidades deve ser julgada tendo em vista as propriedades do material em questão principalmente sua resistência e ductilidade. Materiais de alta resistência e baixa ductilidade são, como regra geral, mais sensíveis aos defeitos. • Quanto ao tipo de carregamento, pode-se afirmar que o efeito das imperfeições é mínimo sob cargas estáticas, tornando-se mais acentuado se o carregamento se dá mediante um número limitado de ciclos. Sob carregamentos contínuos e repetidos o perigo aumenta significativamente. Ciclos simétricos tornam as imperfeições particularmente danosas, diminuindo a importância à medida que cresce e, concomitantemente, a assimetria aumenta. 2.2.2 Porosidade Constitui um dos problemas mais extensivamente estudados e um dos menos comprometedores e controvertidos. É um defeito característico de soldagem e fundição, podendo acontecer em produtos laminados. O parâmetro básico escolhido para avaliar o nível de porosidade é a porcentagem de perda de área da seção transversal resistente, valor esse que pode ser estimado através de radiografias. 2.2.2.1 Limite de resistência Os resultados variam dependendo da relação entre os valores do limite de resistência dos materiais da solda (material de adição) e de base. O gráfico apresentado na figura 1 sob cargas estáticas mostra o principal efeito da porosidade que consiste apenas na diminuição 3 A idéia é evitar-se a tendência da formação de trincas com a eventual união desse tipo de descontinuidade. Treinamento para Inspetores de Fabricação Folha: 9 de 80 TREINAMENTO ESPECIALIZADO WWW.ISQI.COM.BR Ensaios Não Destrutivos Patrocínio Rev. 0 da seção resistente e quanto mais elevada são suas propriedades de resistência, tanto menores serão as influências sob tensão estática. 2.2.2.2 Fratura frágil e resistência ao Impacto Para certos materiais o problema de fratura frágil é insignificante para um intervalo razoável de temperaturas e espessuras. Para outros materiais pode ser estabelecida uma relação entre os valores obtidos no ensaio de impacto (por exemplo, o ensaio Charpy), e o tamanho do entalhe que pode ser tolerado, por exemplo, num ensaio de fratura frágil em chapa larga4. Portanto esta correlação se estende ao tamanho do defeito que pode ser tolerado em aplicações práticas. Para valores elevados obtidos nos ensaios de impacto a dimensão do defeito tolerávelé tal que qualquer combinação de poros imaginável será muito menos severa. Se por outro lado, o tamanho crítico de defeito para início de fratura frágil for tão pequeno que a fratura possa ser iniciada em conseqüência de porosidade, então o material não pode ser utilizado, mesmo que não haja porosidade, uma vez que peque nos defeitos planos, difíceis de serem detectados por radiografia ou outro método não destrutivo, serão extremamente críticos. Embora existam alguns dados que indicam efeitos negativos para porosidade acima de 5%, no geral porosidades não constituem problemas para estas propriedades. Com regra geral pode-se afirmar que a porosidade diminui a resistência ao impacto. Esse defeito reduz a densidade do metal e torna menor sua ductilidade. Afirma-se ainda que grandes defeitos influenciam mais nessas propriedades do que maiores áreas de muitos poros de dimensões reduzidas. 2.2.2.3 Porosidade a altas temperaturas Os dados disponíveis nos indicam que a resistência à tração estática a quente não é afetada pela porosidade. Entretanto, a resistência à ruptura por fluência ("creep") em tempos longos pode ser seriamente afetada. Não são encontrados dados conclusivos na literatura a respeito de fadiga a quente. 2.2.2.4 Fadiga Sob cargas vibratórias o efeito dos poros é completamente diferente. Esse tipo de defeito diminui notavelmente o limite de fadiga de um componente mecânico, principalmente quando os mesmos estão arranjados em linha e/ou afloram à superfície. Note-se, entretanto que na maioria dos casos a concentração de tensões causada pelos reforços de um cordão de solda afeta mais o limite de fadiga que a porosidade interna. Os poros aparentes na superfície, como qualquer outro defeito superficial, afetam a resistência à fadiga e dados experimentais limitam de acordo com a aplicação dos produtos, as porcentagens máximas de porosidades admissíveis. 2.2.2.5 Conclusão Pode-se concluir que, na maioria dos casos os poros não são excessivamente injuriosos aos componentes mecânicos, devendo ser limitadas mais por mascarar outros defeitos mais graves do que pelo seu próprio efeito. 4 Os ensaios de fratura frágil são muito utilizados nas áreas de alto risco, como por exemplo, aeronáutica e nuclear. São exemplos desses ensaios: JIC e KIC. Treinamento para Inspetores de Fabricação Folha: 10 de 80 TREINAMENTO ESPECIALIZADO WWW.ISQI.COM.BR Ensaios Não Destrutivos Patrocínio Rev. 0 2.2.3 Inclusões de escória O que foi dito anteriormente a respeito da porosidade, pode-se aplicar ao caso das inclusões de escória, se considerarmos apenas o aspecto de redução da área da seção transversal resistente. Neste caso, entretanto, influenciam de forma considerável o efeito de entalhe de cada geometria das inclusões (geralmente alongadas) e da sua proximidade da superfície principalmente em cordões de solda. Por essa mesma razão é que a maioria das normas de aceitação tomam cuidados especiais quanto à distância entre dois defeitos adjacentes. 2.2.4 Mordeduras (undercut) É, antes de tudo, um defeito visualmente observável e típico de soldagens, mas nem sempre é fácil determinar sua profundidade com exatidão, sendo esta justamente a dimensão que mais interessa. Figura 2 – Mordeduras em soldas Algumas normas importantes são omissas a respeito deste assunto e às vezes é difícil o estabelecimento de critérios satisfatórios de aceitabilidade, havendo divergências de opiniões. Alguns exageram sua importância e outros chegam até a dizer que "a mordedura equivale a defeitos de chapas que são permitidos em certas normas em até 5% da espessura da chapa". Acredita-se não ser este exatamente o caso, pois a região em que a mordedura ocorre é critica. Tem-se descontinuidade metalúrgica (zona fundida e zona afetada pelo calor), tensões residuais e o próprio reforço do cordão de solda, que é outra descontinuidade geométrica. Ao analisar o problema da mordedura deve-se verificar antes de tudo se a fadiga é um processo destrutivo importante e em seguida qual a direção da mordedura em relação às tensões críticas principais. Em alguns casos de fadiga foram observados os seguintes resultados: Tabela 3 – Resistência à fadiga de produtos soldados. Profundidade (mm) Resistência a 2 x 106 ciclos (MPa) 0,0 190 0,6 140 0,9 99,8 Treinamento para Inspetores de Fabricação Folha: 11 de 80 TREINAMENTO ESPECIALIZADO WWW.ISQI.COM.BR Ensaios Não Destrutivos Patrocínio Rev. 0 Em aço de baixa liga e alta resistência foi observado que mordeduras de 0,53mm de profundidade reduziam a vida de um corpo de prova de 10 a 20% e profundidades de 1,27mm, a cerca de 30%. Ronald Claugh do Canadian Welding Bureau propôs os seguintes limites para construções soldadas, exclusive vasos de pressão. Tabela 4 – Tamanho possível de mordeduras em função do tipo de equipamento5 Carga Classe do produto Tipo Transversal Longitudinal 4 Estruturas leves, vigas e colunas 0,020 1/16" 5 Estruturas pesadas, tanques de armazenamento 0,015 3/64" 6 Guinchos, navios, equipamentos de terraplanagem, comportas 0,015 3/64" 7 Pontes e guinchos muito solicitados 0,010 1/32" 8 Produtos nucleares, balísticos Especiais Especiais Por outro lado a API 5L6, permite mordeduras com profundidade máxima de 0,79mm e comprimento igual à metade da espessura da chapa ou profundidade de 0,40mm em qualquer comprimento (Ilustração 1). Ilustração 1 – Fac-símile da API 5L Na prática, as situações são mais complexas e as solicitações à fadiga, por exemplo, em casos de vasos de pressão não são tão severas, ocorrendo ainda a possibilidade de outros processos destrutivos agirem primeiro. 2.2.5 Falta de fusão O principal efeito desse defeito nos cordões de solda em aços de baixo carbono sujeita à carga estática, é que eles diminuem a área útil da solda com resultante redução da resistência estática. Além disso, essas áreas serão seguramente pontos de acumulação de tensões e prováveis pontos de nucleação de trincas. Defeitos desse tipo são tanto mais 5 Os dados de ensaios aqui apresentados têm significado limitado servindo apenas para indicar uma tendência, sendo válidos apenas para as condições específicas dos ensaios. 6 API 5L – Specification for Line Pipe Treinamento para Inspetores de Fabricação Folha: 12 de 80 TREINAMENTO ESPECIALIZADO WWW.ISQI.COM.BR Ensaios Não Destrutivos Patrocínio Rev. 0 graves quanto mais próximos das bordas da junta, isto é, superfícies, zona termicamente afetada, etc. (Figura 3). Figura 3 – Fusão incompleta Embora muitas vezes o efeito de perda de área de seção transversal possa ser largamente compensado pelo reforço dos cordões de solda o efeito de entalhe e outros tipos de tensões internas introduzidas são responsáveis pela periculosidade desse tipo de defeito. 2.2.6 Trincas As trincas são os mais perigosos defeitos estruturais, uma vez que podem se propagar com muita facilidade provocando a ruína da estrutura ou equipamento. Aí não há dúvidas ou problemas a respeito dos critérios. Nenhuma trinca deve ser aceita. As trincas ou fissuras apesar de serem classificadas como defeitos estruturais ou de continuidade são basicamente originárias de defeitos classificados como de propriedades (em geral defeitos metalúrgicos). Normalmente estão associados a problemas como fragilidade devido à soldagem (tensões excessivas, hidrogênio, fragilidade a quente, etc.) ou o tratamento térmico (precipitações, velocidades de aquecimento ou de resfriamento elevadas). Figura 4 – Alguns tipos de trinca Treinamento para Inspetoresde Fabricação Folha: 13 de 80 TREINAMENTO ESPECIALIZADO WWW.ISQI.COM.BR Ensaios Não Destrutivos Patrocínio Rev. 0 O problema prático mais sério da inspeção é escolher os meios para detectar a existência de trinca ou do problema metalúrgico a ela associado, ou seja, a fragilidade. A radiografia que é uma das armas mais fortes da inspeção encontra aí um dos seus pontos fracos. Fissuras muito finas podem não aparecer muito claramente nas radiografias. Apesar de que neste caso as tensões residuais, os passes subseqüentes e o tratamento térmico trabalham geralmente a favor da inspeção acentuando as trincas. O ensaio com ultra-som se apresenta potencialmente como a melhor alternativa que se poderá dispor para a detecção de defeitos planos e estreitos; é necessário superar o problema de dependência do operador e da falta de registros. Entretanto, em trabalho de produção seriada e contínua, como na fabricação de tubos, o ultra-som automático e semi- automático (com monitorização) tem apresentado ótimos resultados. O ensaio com partículas magnéticas, onde possível, e o de líquido penetrante são muito sensíveis às fissuras superficiais. A detecção do problema metalúrgico depende do conhecimento que se tem dos materiais envolvidos e dos ensaios químicos, metalúrgicos e mecânicos, que se faz durante a fase de desenvolvimento dos procedimentos a serem utilizados. 2.3 Descontinuidades detectáveis Os principais tipos de descontinuidades que a inspeção não destrutiva pode revelar são: a) Descontinuidades inerentes – introduzidas durante a confecção da matéria-prima. a) Descontinuidades de processo – introduzidas durante os processos de fabricação. a) Descontinuidades de serviço – originadas pelas condições de trabalho da peça. Alguns tipos de descontinuidades ou variações estruturais podem ser classificadas conforme segue: Tabela 5 – Tipos de descontinuidades em função do processo de fabricação Grupo Tipos de descontinuidades Peças metálicas em geral Trincas e rachaduras superficiais Rachaduras internas Vazios internos Variações de espessuras das paredes Variações metalúrgicas Barras e Tubos Vazios e orifícios Trincas Inclusões Peças forjadas Dobras Inclusões Trincas Fendas Rasgos Processamento metálico Falta de ligação entre dois metais Rachaduras geradas no tratamento térmico Trincas devido retificação ou esmerilhamento Riscos de usinagem Chapas e placas Variações de espessura Delaminação (ou "dupla laminação") Furos Trincas Descontinuidades superficiais Treinamento para Inspetores de Fabricação Folha: 14 de 80 TREINAMENTO ESPECIALIZADO WWW.ISQI.COM.BR Ensaios Não Destrutivos Patrocínio Rev. 0 Tabela 5 – Tipos de descontinuidades em função do processo de fabricação Grupo Tipos de descontinuidades Peças fundidas Interrupção de vazamentos Gotas frias Trincas superficiais e de contração Rechupes Furos Bolhas Porosidades Inclusões de escória e de areia Soldas Trincas Inclusões de escória Falta de fusão e de penetração Porosidade Mordeduras Trabalho ou serviço da peça Trincas por fadiga ou ação do calor Corrosão sob tensão Esmagamento 3 Ensaio visual 3.1 Generalidades O Ensaio Visual é provavelmente o mais empregado de todos os ensaios não destrutivos. É um método simples, rápido e de baixo custo. Embora seja muito simples, o exame visual nunca deve ser ignorado, mesmo se a peça em exame for submetida a outros ensaios. Por exemplo o exame visual de um cordão de solda, por exemplo, feita por um inspetor experiente, pode revelar alguma informações acerca da qualidade da solda, tais como: presença ou ausência de trincas, orientação e posição das trincas, porosidade e a interface entre a solda e o metal base. Uma vez realizado o exame visual, o inspetor poderá lançar mão de outros exames, como por exemplo, o ensaio radiográfico, com o fim de examinar possíveis descontinuidades internas. Dev-se ter sempre em mente que um ensaio não destrutivo não é concorrente de outro; logo o ensaio visual tem larga faixa de aplicação, porém jamais se pode usá-lo em serviços de responsabilidade ou em substituição a outro. A inspeção visual dos metais tem grande importância na condução de outros ensaios, fornecendo-nos informações referentes ao prosseguimento dos ensaios destrutivos por outros métodos. Apesar da aplicabilidade do exame visual, este não dá crédito para concluir sobre o estado interno da peça. Treinamento para Inspetores de Fabricação Folha: 15 de 80 TREINAMENTO ESPECIALIZADO WWW.ISQI.COM.BR Ensaios Não Destrutivos Patrocínio Rev. 0 3.2 Instrumentos auxiliares da inspeção visual Além, é claro, do próprio olho humano dispomos de instrumentos óticos que auxiliam a inspeção visual. São eles: • lupas • espelhos • tuboscópios • borescópios • projetores e comparadores • câmeras de TV em circuito fechado O ângulo com o qual o objetivo é observado é chamado "ângulo de visão", e é uma medida aparente do tamanho do objeto. Na figura 5 é mostrado o ângulo "α" de visão. A fim de se examinar o objeto com maiores detalhes, é necessário, portanto, aproximar o objeto do olho, para diminuir o ângulo de visão, daí aumenta-se consequentemente a ampliação do detalhe do objeto em inspeção. No entanto não se pode aproximar muito o objeto do olho, pois tem de ser levado em conta também o problema de acomodação. A distância de 250 mm representa este ponto de acomodação do olho. Nestas condições a única maneira de aumentar o ângulo de visão é através da colocação de uma lente convergente na frente do olho, como mostra a figura 6. Objeto Lente d Imagem (virtual) Figura 6 – Ampliação utilizando-se lente convergente. Neste caso a ampliação (a) é dada por: f d a = onde: d → distância de visão distinta (250 mm) f → distância focal da lente, mm 3.3 Inspeção de partes internas Para a inspeção interna é a técnica visual com o uso de espelhos, tuboscópios e borescópios. Não existem ainda padrões reconhecidos nacionalmente para estes equipamentos ou métodos. A inspeção visual não é reconhecida oficialmente pela ASNT (American Society for Nondestructive Testing), no entanto esta sociedade estabeleceu recentemente um comitê para estudar o assunto. A inspeção visual não é formalmente reconhecida em primeiro lugar porque existe uma lacuna de padrões uniformes, especificações, procedimentos e inspetores qualificados. Olho Objeto Image m α Figura 5 – Imagem formada na retina Treinamento para Inspetores de Fabricação Folha: 16 de 80 TREINAMENTO ESPECIALIZADO WWW.ISQI.COM.BR Ensaios Não Destrutivos Patrocínio Rev. 0 Adicionalmente um dos critérios para a aceitação são resultados reproduzíveis em fotos ou gráficos. Embora tais sistemas sejam disponíveis há algum tempo, muitos usuários ainda confiam inteiramente na determinação individual subjetiva do inspetor, sem registro do que foi visto. Tendo em mente estas circunstâncias, convém estudarmos os vários aspectos técnicos da inspeção visual interna. Com o propósito de estabelecer padrões, é essencial verificar-se todos os elementos envolvidos no método. Os quatro elementos básicos são: • o inspetor • o objeto em si • o instrumento óptico e • a iluminação. Cada elemento está interligado ao outro e afeta o resultado final, que é uma decisão ou diagnóstico. A decisão final pode ser tomada através de dois métodos alternativos: 3.3.1 Método reprodutivo Produz um registro visual através de uma fotografia, videoteipe ou filme cinematográfico. Naturalmente isto tem diversasvantagens. Este método pode ser comparado a uma série de padrões 'normais' ou 'anormais'. Podem ser feitas comparações com registros de inspeções anteriores para determinar se houve crescimento da rachadura ou modificação progressiva. Diversas pessoas podem estudar os registros para obter uma opinião especializada. A fadiga visual é reduzida e correções por falha de visão tornam-se mais fáceis. Enfim, é uma decisão, que pode ser mais objetiva. 3.3.2 Método subjetivo Com este método o inspetor decide imediatamente, baseando-se somente no que vê. É semelhante ao juiz que deve decidir imediatamente sem o benefício do 'replay' instantâneo e confiar na memória para qualquer comparação. Infelizmente este é hoje o procedimento normalmente usado, tornando a padronização difícil, se não impossível. Somente a acuidade visual e a competência de um profissional são os elementos que determinam se a inspeção é válida. 3.4 O inspetor O primeiro dos quatro elementos básicos nos dois métodos. Obviamente o inspetor em qualquer método de END. deve ser competente. Não existe nenhuma razão para que o inspetor visual não deva ser qualificado da mesma maneira como os inspetores de radiografias ou ultra-som. Isto requer programas de treinamento formalizados e ensaios para receber um certificado de aprovação. Embora não seja praticável de imediato em todas as indústrias e situações, deverá permanecer como objetivo a longo prazo. A preocupação imediata deve ser a acuidade visual das pessoas designadas para a inspeção visual. Mas, de acordo com estatísticas recentes, cinqüenta por cento da população, maior de 20 anos de idade, requer lentes corretivas. Contudo, nos primeiros estágios de falha visual, muitas pessoas não se dão conta de que necessitam de óculos ou não os usam. Freqüentemente o uso de óculos é inconveniente para observar objetos através de um borescópio ou fibroscópio, pois é difícil colocar o olho à distância ideal da ocular do aparelho. A visão é distorcida pelo brilho e reflexos. A concha de borracha nas oculares dos fibroscópios, desenhada para evitar reflexos externos, não é eficiente para os que usam óculos. Por esta razão é essencial que cada instrumento tenha capacidade de permitir ao inspetor o ajuste dióptico na própria ocular. Treinamento para Inspetores de Fabricação Folha: 17 de 80 TREINAMENTO ESPECIALIZADO WWW.ISQI.COM.BR Ensaios Não Destrutivos Patrocínio Rev. 0 3.5 O objeto A peça ou o objeto a ser inspecionado é o segundo elemento importante. Suas características são determinantes à especificação do borescópio ou fibroscópio necessário. Na escolha do instrumento deverão ser considerados os seguintes fatores: 3.5.1 Distância da objetiva Este fator ajuda a determinar a fonte de iluminação necessária, a distância focal requerida para a máxima nitidez, o poder de resolução e aumento. 3.5.2 Dimensão do objeto Quando combinado com a distância, este fator determina qual o angulo da visão, lente ou campo de visão necessários para observar toda a superfície, em particular com o borescópio de visão lateral. 3.5.3 Dimensão do defeito A dimensão de alguns defeitos considerados significantes ou críticos (trincas ou rachaduras) determinam o aumento e a resolução necessários. 3.5.4 Reflexibilidade Superfícies que recebem luz, tais como as impregnadas com oxidação, necessitam de níveis de iluminação maiores. A preparação conveniente da superfície muitas vezes se torna necessária. Figura 7 – Fibroscópio Objet oImagem Figura 8 – Borescópio Treinamento para Inspetores de Fabricação Folha: 18 de 80 TREINAMENTO ESPECIALIZADO WWW.ISQI.COM.BR Ensaios Não Destrutivos Patrocínio Rev. 0 Figura 9 – Turbinas observadas com fibroscópio 3.6 Normalização Norma Título AWS B1.10 Guide for the non destructive examination of welds AWS B1.11 Guide for the visual examination of welds ISO-8501 Preparation of Steel Substrates before Application of Paints and Related Products - Visual Assessment of Surface Cleanliness - Part 1: Rust Grades and Preparation Grades of Uncoated Steel Substrates and Steel Substrates After Overall Removal of Previous Coatings MSS SP-55 Quality Standard for Steel Casting for Valves, Flanges and Fittings and Other Piping Components Alloy Casting Institute Standard for Alloy Inspection of Casting Surfaces Treinamento para Inspetores de Fabricação Folha: 19 de 80 TREINAMENTO ESPECIALIZADO WWW.ISQI.COM.BR Ensaios Não Destrutivos Patrocínio Rev. 0 4 Ensaio por líquidos penetrantes 4.1 Generalidades O método dos líquidos penetrantes usado para inspeção dos materiais, é hoje, sem dúvida um dos mais importantes métodos de ensaios não destrutivos devido à simplicidade de uso e interpretação. Chega mesmo, a se tornar indispensável, sem substitutos, quando olhado sob o ponto de vista da produção em massa. Este método é empregado para detectar descontinuidades que aflorem à superficiais em materiais sólidos e essencialmente não porosos, magnéticos ou não, a um custo relativamente baixo e pode ser considerado uma extensão da inspeção visual. O papel dos líquidos penetrantes é revelar as falhas que mesmo um inspetor bem treinado não poderia encontrar. O método independe do tamanho, configuração, estrutura interna e composição química da peça sendo inspecionada é ainda da orientação das descontinuidades. Esses líquidos fazem o delineamento das falhas superficiais, facilitando a sua observação. Isto torna o método mais adaptável a alta produção pois a rapidez da inspeção é aumentada. O método moderno dos líquidos penetrantes foi aperfeiçoado por Robert C. Switzer em 1941 (historicamente o método foi inventado provavelmente pelos árabes, durante as Cruzadas) e que constitui o desenvolvimento do método do óleo e giz usado para detectar rachaduras em eixos de vagões ferroviários antes de 1930, é padronizados pela ASTM E 165 – 80 (83). A maior desvantagem do método é que ele somente pode detectar descontinuidades superficiais que aflorem à superfície (algum outro método deve ser empregado para a detecção das descontinuidades sub-superficiais e internas) Outro fator que pode diminuir a efetividade do método é a alta rugosidade superficial do objeto sendo inspecionado (podendo ocorrer, dependendo da rugosidade superficial, indicações falsas, tanto quanto nos materiais porosos) Outras desvantagens do ensaio por líquidos penetrantes são: • a falta de limpeza inicial cuidadosa ou o excesso de limpeza na remoção do penetrante podem mascarar os resultados • os registros permanentes são duvidosos • não permite a determinação do tamanho da descontinuidade7 Como vantagens do método, citamos: • simplicidade • preço baixo • resultados imediatos • alta sensibilidade 4.2 O princípio do método Apesar de suas características e da facilidade de seu emprego, o ensaio não destrutivo por líquidos penetrantes apresenta um mecanismo complexo muitas vezes pouco conhecido ou mesmo entendido pelos técnicos, o que por vezes causa dúvidas e erros na utilização deste ensaio nas inspeções dos materiais. Observando-se uma camada de um líquido qualquer depositada sobre a superfície de um sólido, pode-se facilmente verificar a existência de três fases distintas quais sejam: a fase sólida representada pelo material, a fase líquida e a fase gasosa representada pelo ar que se sobrepõe ao líquido. 7 Referimo-nos às exatas dimensões das descontinuidades (comprimento, largura e profundidade). O método permite que se tenha idéia do comprimento através da avaliação da indicação Treinamento para Inspetores de Fabricação Folha: 20 de 80 TREINAMENTO ESPECIALIZADOWWW.ISQI.COM.BR Ensaios Não Destrutivos Patrocínio Rev. 0 Às superfícies de separação existentes entre duas destas fases que estejam em contato íntimo, chamam-se interfaces. Cada uma dessas fases possui características consideravelmente diferenciadas quanto às suas densidades ou concentrações moleculares, o que determina a existência das interfaces originadas pelas diversas forças que atuam entre as moléculas dos meios. Os principais fenômenos envolvidos no comportamento das interfaces sob o ponto de vista da aplicação de líquidos penetrantes são: 1. Tensão superficial do líquido 2. Capilaridade é capacidade de umedecimento pelo líquido das superfícies dos materiais. 4.2.1 Tensão superficial Sabe-se que todo e qualquer líquido é formado por moléculas que se ligam umas às outras por forças, chamadas de coesão e que são responsáveis pelo seu estado de equilíbrio amorfo ou seja, pelo seu estado material. Na superfície porém, cada molécula do líquido está sujeita não só às forças de coesão de outras moléculas do mesmo, que se situam lateralmente e abaixo, mas também à ação das forças de coesão das moléculas do ar externo (que possuem menor valor) de forma que a força resultante desta interação ar-líquido, está sempre dirigida ao interior do mesmo, tendendo a conter o líquido num certo volume, determinado exatamente pelas relações entre as forças de coesão existentes, a partir de sua superfície para sua parte mais interna. O resultado prático disto é a formação na superfície do líquido, de uma espécie de membrana elástica que se encontra em estado permanente de tensão e que se denomina Tensão Superficial do Líquido. (figura 10) Isto pode ser facilmente observado na água, cuja superfície plana, desdobra-se em uma superfície de conformação acentuadamente curva convexa, quando se encontra em pequenas quantidades ou gotas. Quando porém, depositamos uma pequena quantidade de um líquido sobre a superfície de um sólido, poder-se observar sua maior ou menor tendência de ficar retido em forma de uma pequena gota de formato curvo ou esférico ou de se espalhar. Este comportamento do líquido depende não só da sua tensão superficial mas também das forças de adesão com relação ao sólido, que surgem do fato de serem as forças de coesão das moléculas dos sólidos maiores que as existentes entre as moléculas do líquido, resultando numa tendência de adesão do líquido à superfície do sólido. As forças de adesão representam e configuram a capacidade que um líquido possui em umedecer a superfície dos sólidos, aderindo e se espalhando sobre a mesma. Assim, quanto maior for a superfície de contato de um líquido com uma superfície sólida, para uma mesma tensão superficial do líquido, maiores serão as forças de adesão líquido- sólido e maior será o poder do líquido de umedecer a superfície do sólido (figura 11). Ar Líquido Membrana de t ensão superficial Result ant e das forças de coesão Figura 10 – Tensão superficial de um líquido Treinamento para Inspetores de Fabricação Folha: 21 de 80 TREINAMENTO ESPECIALIZADO WWW.ISQI.COM.BR Ensaios Não Destrutivos Patrocínio Rev. 0 Figura 11 – Ângulo de contato entre o líquido e o sólido O ângulo θ formado pela tangente no ponto de contato líquido sólido é denominado ângulo de contato. Concluindo, pode-se dizer que a tensão superficial do líquido e as forças de adesão que determinam o ângulo de contato. Quanto menor o ângulo β mais o líquido umedece e se espalha pela superfície. Quando θ for igual ou maior que 90º, diz-se que o líquido possui um baixo poder de umedecimento. A tensão superficial de um líquido decresce com a temperatura. Para grande parte dos líquidos esta relação é linear. Se a área de uma interface ar-líquido for aumentada adiabaticamente por um desequilíbrio de pressão, a temperatura do líquido irá cair, aumentando a tensão superficial do mesmo e limitando a expansão da interface. Isto significa dizer que a tensão superficial do líquido e, portanto, seu poder de molhar a superfície de um sólido espalhando-se sobre o mesmo, depende diretamente do equilíbrio de temperaturas na interface líquido-sólido. 4.2.2 Ascensão capilar � Figura 12 – Mecanismo de ascensão capilar Denomina-se ascensão capilar a propriedade que um líquido possui de penetrar e se movimentar em pequenas cavidades tubulares quando as forças de adesão da interface líquido-parede do material superam as forças de coesão da interface ar-líquido. Para melhor compreensão do fenômeno observe-se a figura 12. No caso da figura 12A as pressões acima e abaixo da superfície do líquido são iguais a P1, aparentando um estado de equilíbrio que, em termos práticos, não existem pois as forças de adesão superam as de coesão. Em virtude disto, a superfície do líquido tende a posicionar-se paralelamente à parede da cavidade (figura 12B), tomando forma aproximadamente esférica. Isto corresponde à realização de certo trabalho e a pressão P2 na parte interna do líquido será dada por: Treinamento para Inspetores de Fabricação Folha: 22 de 80 TREINAMENTO ESPECIALIZADO WWW.ISQI.COM.BR Ensaios Não Destrutivos Patrocínio Rev. 0 P2 – P1 = ∆P R 2� �P = onde: R → raio de curvatura da superfície do líquido (raio do menisco), [m] σ → tensão superficial do líquido, [Pa] A pressão P1 é a atmosférica é, portanto: P2 < P1 Para que haja equilíbrio, é necessário que em todo plano horizontal, correspondente à superfície livre do líquido, a pressão seja a mesma, implicando que a situação esquematizada na figura 12B não é efetivamente de equilíbrio, que somente acontecerá quando a pressão tanto acima quanto abaixo do tubo for igual. Para que haja esta compensação deve-se compensar ∆P representado pelo peso do líquido dentro do tubo, o que vai acontecer quando o líquido ascender (figura 12C) dentro do tubo a uma altura h. Sob o ponto de vista hidrostático, a variação de pressão P será ∆p = ∆ρ ⋅ g ⋅ h onde: ∆p → diferença de densidade entre o líquido e o ar g → aceleração da gravidade Ora se R �2�P = e ∆p = ∆ρ ⋅ g ⋅ h e admitindo-se a densidade do ar como sendo desprezível temos que: hg� R �2 ⋅⋅= ⋅ o que permite, conhecendo h avaliar R e vice-versa. Na maioria dos casos, o formato da superfície do líquido não é hemisférico, mas aproximadamente esférico (calota esférica). Nessas condições o raio do menisco (Rm) ser Rm = R ⋅ cos θ e portando: θ = cos mRR onde concluímos que hg Rm ⋅⋅ρ=θ⋅σ⋅ cos2 Em termos práticos a medida da tensão superficial e da capilaridade requer instrumentos que possam avaliar com exatidão não só a altura "h" mas também o ângulo de contato "θ". Pode-se concluir que: 1. Um líquido penetrante para que possa cumprir da melhor maneira sua finalidade, deve possuir excelentes características de capilaridade. 2. Tais características dependem quase que exclusivamente da relação entre as forças de coesão do líquido (tensão superficial e sua densidade) com as paredes da descontinuidade (poder de umedecimento indicado pelo ângulo de contato). 3. Os melhores resultados serão obtidos por um compromisso adequado entre tensão superficial (σ) e poder de umedecimento (θ). 4. A adição de quaisquer componentes, de forma não controlada, aos líquidos penetrantes, pode reduzir drasticamente sua capacidade de penetração. Treinamento para Inspetores de Fabricação Folha: 23 de 80 TREINAMENTO ESPECIALIZADO WWW.ISQI.COM.BR Ensaios Não Destrutivos Patrocínio Rev. 0 5. A variação da temperatura do líquido ou da superfície, fora de limites aceitáveis, pode reduzir sua capacidade de ascensão capilar. 6. A adição de corantesa um líquido pode reduzir sua capilaridade, caso não seja devidamente compensada por elementos que ajustem a relação entre tensão superficial e capacidade de umedecimento. 7. Um mesmo líquido penetrante apresenta resultados diferentes em termos de sua capacidade capilar e de umedecimento da superfície de materiais diferentes em função da existência de relações particulares entre forças de coesão do líquido e de adesão à superfície de cada material. Por esses motivos, os tempos de penetração para cada material são diferentes entre si. 4.3 Técnica Para se conseguir bons resultados, deve-se seguir as seguintes etapas: 1. Limpeza da superfície da peça 2. Aplicação do penetrante 3. Tempo de penetração (dwell time) 4. Remoção do excesso de penetrante 5. Aplicação do revelador (talco) 6. Inspeção e interpretação 4.3.1 Limpeza da superfície É absolutamente essencial que as superfícies estejam isentas de qualquer tipo de sujeira como: óxidos, tintas, graxas, areias, etc. Qualquer destas substâncias no interior das descontinuidades superficiais prejudica o ensaio devido à possibilidade do penetrante ser impedido de ir para o interior das mesmas. Para limpeza das peças metálicas, vários processos são adotados, entre eles destacam-se: • detergentes • solventes • jato de vapor • banhos de decarepação • ultra-som O processo de limpeza não deve ser feito por meio de jato de areia, por lixamento, ou esmerilhamento, pois estes processos apresentam a tendência de fechar as descontinuidades superficiais. Além disso, os líquidos usados para limpeza não de vem ser corrosivos aos metais. Figura 13 – A aplicação do método dos líquidos penetrantes Treinamento para Inspetores de Fabricação Folha: 24 de 80 TREINAMENTO ESPECIALIZADO WWW.ISQI.COM.BR Ensaios Não Destrutivos Patrocínio Rev. 0 4.3.2 Aplicação do penetrante e tempo de penetração Uma vez que a superfície esteja limpa e seca, procede-se a aplicação do líquido penetrante, que pode ser feito por uma das seguintes maneiras: a) por imersão b) por jato de pistola c) por pincel Devido à baixa tensão superficial, o líquido penetra por capilaridade, no interior das fissuras que se encontram na superfície da peça. Se a superfície da peça estiver levemente aquecida, haverá maior facilidade de abrir fissuras muito finas, porém, é necessário se verificar sempre se o penetrante usado sofre influência da temperatura. A velocidade de penetração aumenta com a temperatura do líquido, porem, não se recomenda aquecê-lo devido ao seu baixo ponto de evaporação. O tempo de penetração para fissuras mínimas pode ser teoricamente calculado, usando-se a lei de Rideal: η⋅ θ⋅σ⋅ = 2 cos2 tl onde: l → profundidade atingida pelo líquido penetrante durante um tempo t . σ → tensão superficial do líquido penetrante. θ → ângulo de equilíbrio do líquido e a superfície da fissura µ → viscosidade do líquido penetrante. Chama-se coeficiente de penetração (PC) de um líquido do penetrante a expressão: n PC ⋅ σ = 2 Quanto maior o PC de um líquido, maior será sua velocidade de penetração. Um líquido penetrante de boa qualidade deve apresentar as seguintes características: • Facilidade de penetrar em aberturas finas • Não se evaporar rapidamente • Poder ser espalhado sobre a superfície do metal em camadas muito finas. • Ser inerte, isto é, não contaminar os metais nem provocar a corrosão dos mesmos. • Ser absorvido facilmente por uma camada fina de talco. Daí a razão pela qual os penetrantes são, em geral uma mistura de vários líquidos, uma vez que dificilmente um líquido apenas possui todas as propriedades acima enumeradas. Além disso, o penetrante não deve ser tóxico nem inflamável. A norma ASTM E-165, classifica os penetrantes pela maior ou menor facilidade de limpeza, e também pelo tipo de revelação: 1) Penetrante com corante fluorescente (visível sob a ação da luz ultravioleta) a) Removível em água b) Com emulsificação ulterior c) Removível com solvente especial 2) Penetrante com corante (visível à luz natural) a) Removível em água b) Penetrantes com emulsificação ulterior c) Removível com solvente especial Treinamento para Inspetores de Fabricação Folha: 25 de 80 TREINAMENTO ESPECIALIZADO WWW.ISQI.COM.BR Ensaios Não Destrutivos Patrocínio Rev. 0 Tabela 6 – Tempos de penetração (dwell time) e revelação8 Tempo de penetração (dwell time), em minutos, para os métodos A.1, A.2, A.3, B.1, B.2 e B.31,2 Material Forma Tipo esperado de descontinuidade Penetrante3 Revelador4 Fundidos (e soldas) Vazios, porosidade; falta de fusão; trincas (todos os tipos) 5 7 Alumínio, magnésio, aço, bronze, latão, titânio, ligas para alta temperatura Extrudados, forjados, laminados Dobras, trincas (todos os tipos) 10 7 Pastilhas de ferramentas todas as formas Trincas 5 7 Plásticos todas as formas Trincas 5 7 Vidro todas as formas Trincas 5 7 Cerâmicas todas as formas trincas, porosidades 5 7 Notas: 1. Para faixa de temperatura de 15 até 50ºC (60 até 125ºF) 2. Tempos considerados como mínimos 3. Tempo máximo de penetração: 60 minutos e em conformidade com a recomendação do fabricante 4. O tempo de revelação é contado imediatamente depois de aplicado o revelador seco e imediatamente após a volatilização de revelador úmido. Tempos recomendados como mínimos. Tabela 7 – Sugestão para a escolha da técnica de líquidos penetrantes8 Problema Técnica Sugerida Observações Produção de grande número de pequenas peças A-1 Utilização de cestos metálicos para a movimentação Produção de grande número de peças grandes A-2 ou B-1 Grandes forjados, extrudados Máxima sensibilidade A-2 Indicações claras e visíveis Descontinuidades pouco profundas, riscos A-2 O tempo de emulsificação deve ser estudado Peças com superfícies grosseiras A-1 A técnica de lavagem pós-penetração deve ser estudada Roscas, rasgos de chaveta, entalhes A-1 ou B-3 - Peças com superfícies semi-acabadas A-1 ou A-2 A escolha depende da quantidade de peças a ser inspecionada e da sensibilidade desejada Trincas em superfícies galvanizadas (anodização) A-1, A-2 ou B-2 – Ensaios onde não há disponibilidade de eletricidade e água B-3 – Ensaio de vazamento ou estanqueidade9 A-3 ou B-3 – 8 Tabela T-672 do Código ASME.. 9 O líquido penetrante é aplicado na parte externa de um recipiente e o revelador na parte externa, com tempo de penetração entre 12 e 24 h Treinamento para Inspetores de Fabricação Folha: 26 de 80 TREINAMENTO ESPECIALIZADO WWW.ISQI.COM.BR Ensaios Não Destrutivos Patrocínio Rev. 0 O assim denominado excesso de líquido penetrante pode ser removido com água ou solvente, aplicados sobre a peça, de acordo com a indicação do fabricante do penetrante. É uma operação delicada, que se for feita incorretamente, o ensaio fracassará. É claro que todos os traços de penetrantes devem ser limpos da superfície da peça, seja por meios mecânicos, como papel, rodo de borracha, seja por jatos d'água ou de solventes. O penetrante remanescente, originado pelo procedimento incorreto, poderá constituir uma fonte de indicações erradas (denominadas indicações irrelevantes). Figura 14 – Fases essenciais na inspeção por líquido penetrante lavável É interessante notar aqui quão importante é o estado e o acabamento de uma superfície, no que tange a esta operação de remoção do excesso de penetrante. Uma superfície rugosa (peças fundidas, por exemplo) exige uma operação de limpeza estudada, pois quanto maiores as irregularidades sobre a superfície do metal, maior dificuldadehaverá na limpeza. Nas peças usinadas e acabadas, ou retificadas, em geral a operação de limpeza não apresenta problemas. Figura 15 – Operações utilizada para a técnica "B", penetrante pós-emulsificável Figura 16 – Líquido penetrante removível por solvente 4.3.3 Aplicação do revelador Uma vez removido o excesso de penetrante e depois que a superfície da peça está completamente seca, aplica-se o revelador, que nada mais é do que um talco. A sua função é a de absorver o penetrante do interior das descontinuidades, pelas manchas de uma área do revelador pelo líquido penetrante colorido ou com pigmentos fluorescentes, permitir a inspeção das indicações e portanto, a interpretação do ensaio. O revelador realça a indicação e permite localizar a descontinuidade. Os reveladores podem ser: a) secos b) úmidos, em suspensão em líquidos voláteis Treinamento para Inspetores de Fabricação Folha: 27 de 80 TREINAMENTO ESPECIALIZADO WWW.ISQI.COM.BR Ensaios Não Destrutivos Patrocínio Rev. 0 Os reveladores secos consistem de um talco muito fino que é aplicado sobre a superfície da peça por meio de um pulverizador. Os reveladores úmidos consistem na suspensão de pó (talco) num líquido volátil ou de secagem rápida (álcool, éter, etc.). 4.3.4 Inspeção e interpretação A operação de interpretar os resultados obtidos é talvez a mais importante deste procedimento. As descontinuidades, cheias com o penetrante, pela absorção do talco vão se esvaziando, molhando e tingindo (com a cor do corante usado) o talco na superfície. Em geral, uma vez aplicado o revelador, alguns minutos depois se inicia esta absorção, que, no entanto, é lenta e assim, deve-se aguardar no mínimo 5 minutos para se iniciar qualquer inspeção. Se não aparecer manchas coloridas no talco, depois de algum tempo, a peça não contém fissuras (detectáveis por este método), ou outra qualquer descontinuidade superficial. Normalmente costuma-se esboçar um mapa com as descontinuidades detectadas após esses primeiros 5 minutos, fazendo-se um acompanhando do aumento (ou estabilização) das manchas, indicações das descontinuidades, até que o tempo total de revelação especificado tenha transcorrido. Os defeitos mais comuns que podem ser observados estão esquematizados na figura 17. Indicação linear Indicações alongadas Indicações de porosidades (geralmente t rincas) Figura 17 – Tipos de defeitos observados pela inspeção com líquidos penetrantes 4.3.4.1 Reinspeções Em situações onde seja necessária a aplicação do método mais de uma vez, deve-se tomar a precaução de eliminar todo e qualquer resíduo. O líquido penetrante ressecado no interior de uma fissura pode não se dissolver em contato com o novo, dificultando a penetração. 4.4 Qualificação de procedimento Para uma correta aplicação do método e comprovação da eficácia do particular produto adquirido e aplicado pelas empresas, diversas normas recomendam que se faça a qualificação do procedimento de aplicação. Normalmente os parâmetros fixados para a qualificação do procedimento de aplicação são: a) marca do fabricante e tipo de penetrante, removedor, emulsificador e revelador b) método detalhado de limpeza prévia e secagem c) método de aplicação do penetrante, tempo de penetração e temperatura da superfície d) método de remoção do excesso de penetrante e) método de aplicação do revelador e tempo de revelação f) método de registro das descontinuidades detectadas g) método de limpeza posterior Treinamento para Inspetores de Fabricação Folha: 28 de 80 TREINAMENTO ESPECIALIZADO WWW.ISQI.COM.BR Ensaios Não Destrutivos Patrocínio Rev. 0 4.5 Corpo de prova O ASME Boiler and Pressure Vessl Code, artigo 6, traz sugestão de corpo de prova para a qualificação de procedimento e também de produto (conjunto de produtos a serem utilizados no ensaio). Figura 18 – Corpo de prova para qualificação de procedimento de LP – fac-símile do código ASME 4.6 Área de aplicação O método dos líquidos penetrantes se aplica a todas as descontinuidades superficiais dos metais, tais como: trincas, furos, orifícios, porosidades, riscos, etc. A área de aplicação é razoavelmente grande, aplicando-se a todo o tipo de metal. Pode ser aplicado em outras áreas como a indústria de plásticos e cerâmicas industriais. Figura 19 – Estação de trabalho típica para o ensaio por líquidos penetrantes Treinamento para Inspetores de Fabricação Folha: 29 de 80 TREINAMENTO ESPECIALIZADO WWW.ISQI.COM.BR Ensaios Não Destrutivos Patrocínio Rev. 0 Tabela 8 – Vantagens e desvantagens da técnica A-18 Vantagens Desvantagens Indicações brilhantes, facilmente observáveis Descontinuidades rasas difíceis de serem detectadas Facilmente removível com água Sofre ação de ácidos e cromatos Adaptável a grandes quantidades de peças As superfícies metálicas anodizadas podem afetar a sensibilidade Aplicável a superfícies rugosas Quando de eventual reinspeção, pode sofrer decréscimo de sensibilidade Aplicável a roscas, rasgos de chaveta, etc. Susceptível a ser retirado do interior das descontinuidades se sofrer "super limpeza" Na inspeção, é necessário que esteja disponível local apropriado, escurecido e sob luz ultravioleta Ensaio muito barato Tempos de penetração relativamente longos Tabela 9 – Vantagens e desvantagens da técnica A-28 Vantagens Desvantagens Indicações mais brilhantes que os laváveis com água Operação de emulsificação é separada A fluorescência garante a visibilidade A emulsificação ulterior exige equipamento adicional Alta sensibilidade para descontinuidades pouco profundas Baixa sensibilidade quando aplicada a superfícies rugosas ou com entalhes Facilmente lavável após a emulsificação Materiais mais caros Alto rendimento, especialmente em peças grandes Tempos de penetração curtos Em geral, não são afetados por ácidos, cromatos e superfícies anodizadas As peças podem ser facilmente reinspecionadas Não são susceptíveis a operações de "super limpeza" Alguns materiais utilizados são inflamáveis Tabela 10 – Vantagens e desvantagens da técnica B-18 Vantagens Desvantagens Não há necessidade de luz ultravioleta Baixa sensibilidade para a detecção de descontinuidades muito fechadas ou pequenas Portátil As indicações têm visibilidade limitada, menor que as da técnicas "A" Aplicável a pequenas superfícies e em manutenção de equipamentos Alguns materiais são inflamáveis Pode-se acompanhar o reparo de peças à luz natural Tempos de penetração muito longos As peças podem ser reinspecionadas Sensibilidade relativamente baixa 4.7 Normalização Dentre as diversas normas aplicáveis ao ensaio por líquidos penetrantes, as mais importantes são: Norma Título ASME Boiler and pressure vessel code Section V, Article 6 – Liquid Penetrant Examination Treinamento para Inspetores de Fabricação Folha: 30 de 80 TREINAMENTO ESPECIALIZADO WWW.ISQI.COM.BR Ensaios Não Destrutivos Patrocínio Rev. 0 Norma Título MIL-I-25135 Inspection Materials, Penetrant MIL-I-25106 Inspection Unit, Fluorescent Penetrant, Type MA-3 MIL-I-25105 Inspection Unit, Fluorescent Penetrant, Type MA-2 MIL-I-9864 Inspection Penetrants, Nondestructive Method MIL-I-9445 General Specification for Inspection Unit, Fluorescent Penetrant MIL-I-6866 Inspection Penetrant Method MIL-STD-410 Nondestructive Testing Personnel Qualification and Certification MIL-STD-271 (Ships) Nondestructive Testing Requirements for Metals ASTM E 165 Standard Practice for Liquid Penetrant Inspection Method ASTM E 270 Standard Definition of Terms
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