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EDUCAÇÃO E A COMUNIDADE CIGANA
Fabiele Aparecida Silva Viera
Patricia Santana da Silva 
Polyane Alves da Silva Moura
Tállyta Dias Neves
Tutor Externo - Bruno Araújo Silva
Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI
Curso (PED 1429) – Prática do Módulo III
15/09/2016
RESUMO
Esse artigo busca o focar na importância da comunidade cigana, perante a escola e a sociedade. O objetivo é deixar claro como surgiu o projeto, nos que somou para os alunos e qual a importância desse projeto, demostrando como e se é possível promover a qualidade social, física, intelectual, psicológico nas escolas brasileiras. Discutiremos também o perfil do profissional para se trabalhar nesse projeto, como funciona, qual o papel do diretor perante o projeto em sua escola, como, qual a importância da família dos alunos diante do projeto. E também discutiremos a metodologia usada pelos professores para desenvolver suas aulas. Nesse projeto nota se uma forma trabalhada onde se cria várias oportunidades para o professor utilizar vários e diferentes métodos de ensino para a aprendizagem, se adequando a realidade de sua turma. É necessário a cada um dos profissionais que irá caminhar junto a esse projeto compreender a importância de cada passo que darão juntamente com seus alunos, é necessário a pesquisa diária e a vontade de fazer algo diferente, algo em que torne essas aulas agradáveis e que os alunos tenham gosto por ela. O professor terá que acompanhar também o processo de aprendizagem do aluno, como também conhecer sua história e contexto de vida fora da escola. 
Palavras-chave: Projeto. Escola. Família. Professor. Comunidade Cigana
 INTRODUÇÃO
 Educação e a Comunidade Cigana, a metodologia usada no nosso artigo foi através de pesquisas em livros, internet, revista, alguns artigos postados na internet e visitas realizadas em algumas instituições de ensino. O objetivo é abordar sobre o tema discutindo sobre as dificuldades encontradas para ambos os lados tanto docente como discente. Através de leituras, análises e pesquisas e vivencia sobre a Comunidade Cigana.
 O Projeto vem sendo uma realidade que é aprimorada com a participação de educadores e pessoas que se dedicam para garantir direitos de crianças e adolescentes de etnia cigana, para que a escola possa ser transformada em um lugar onde a cultura possa ser reconhecida, pois experiências educacionais podem ser adquiridas dentro e fora da escola, como foi ensinado por Paulo Freire “ a educação é um lugar de conflito, onde o diálogo precisa ser conquistado”.
A educação é transformada pelo conhecimento acumulado na relação pedagógica entre professores e alunos, a educação transformadora ambienta-se no espaço escolar, como projeção de experiências relacionais entre pais, alunos e educadores. A relevância desse artigo tem como visão despertar interesse dos alunos por meio de sensibilização, estimulação, apoio, projetos ou ações de pronunciação de políticas sociais e colocar em execução ações socioeducativas oferecidas sem custos para os alunos. É comum hoje em dia as escolas se preocuparem em preparar os alunos para constantes mudanças do dia a dia. Abolindo todo e qualquer preconceito sobre a cultura cigana.
 
 DESENVOLVIMENTO
Os ciganos são um povo nômade amante da música, das cores alegres e da magia, que foram expulsos por invasores árabes há quase 3 mil anos da região noroeste da Índia, onde hoje é o Paquistão. Depois de vagar pelas Terras do Oriente, os ciganos invadiram o Ocidente e espalharam-se por todo o mundo.
A família é a base da organização social dos ciganos, não havendo hierarquia rígida no interior dos grupos. O comando normalmente é exercido pelo homem mais capaz, uma vez que os ciganos respeitam acima de tudo a inteligência. A figura feminina tem sua importância e é comum haver lideranças femininas como as matriarcas e as tias-conselheiras, lembrando que nenhum cigano deixa de consultar as avós, mães e tias para resolver problemas importantes por meio da leitura da sorte. Os ciganos chegaram ao Brasil em 1574, após serem expulsos da Europa. Segundo relatos, Portugal e Espanha cortavam suas orelhas e os deportavam, porque eram considerados diabólicos. Há dois grandes grupos no país: os calom, de origem ibérica, e os rom, do Leste europeu. Atualmente, alguns se definem sedentários e fixam moradia, outros cumprem rotas dos povos itinerantes no Brasil.
O misticismo e a religiosidade fazem parte de todos os hábitos da vida cigana. A maior parte deles acredita em um único deus (Dou-la ou Bel) em eterna luta contra o demônio (Deng). Normalmente, assimilam as religiões do lugar onde se encontram, mas jamais deixam de lado o culto aos antepassados, o temor dos maus-olhados, a crença na reencarnação e na força do destino.
A sexualidade é outro ponto importante entre os ciganos. E, ao contrário do que se imagina, eles têm uma moral bastante conservadora. Mas o certo mesmo é que os ciganos se casam cedo, quase sempre seguindo acordos firmados entre as duas famílias. Não recebem nenhum tipo de iniciação sexual e ter filhos é a principal função do sexo. Descobrir os seios em público é comum e natural, mas nenhuma mulher pode mostrar as pernas, pois da cintura para baixo todas são impuras. Vem daí a imposição das saias compridas e rodadas para as mulheres, que também são proibidas de cortar os cabelos, e nunca sentam à mesma mesa que os homens. Ironicamente, como praticantes da magia e das artes divinatórias, são elas que cada vez mais assumem o controle econômico da família, pois a leitura da sorte é a principal fonte de renda para a maioria das tribos. O resultado é uma situação contraditória, em que o homem manda, mas é a mulher quem sustenta o grupo.
Quando se estuda a origem de um povo, sua formação e desenvolvimento como estrutura social, religiosa, econômica, este estudo se baseia fundamentalmente em documentos ou registros escritos, que ao lado de outros elementos como ruínas da arquitetura da época, pinturas, armas, túmulos, recintos que sugerem ter sido usados como sacros, objetos os mais diversos, especialmente de uso doméstico, recompõem toda a narrativa histórica de um conjunto de indivíduos que habitam a mesma região, ficando subordinados às mesmas leis e partilhando dos mesmos hábitos e costumes. A mais importante fonte de referência, é a narrativa escrita, encontrada em papéis (pergaminhos, papiros, folhas de papel de arroz), documentos, livros, poemas, mapas, inscrições em lugares santos, ou outros locais de devoção considerados sagrados, onde são encontradas marcas de rituais e altares de oferendas aos deuses.
Como o Povo Cigano, não tem até os dias atuais, uma linguagem escrita, fica quase impossível definir sua verdadeira origem. Portanto, tudo o que se disser sobre a origem do Povo Cigano, será baseado em conjecturas, similaridades ou suposições.
A hipótese mais aceita é que o Povo Cigano teve seu berço na civilização da Índia antiga, num tempo que também se supõe, como muito antigo, talvez dois ou três milênios antes de Cristo. Compara-se o sânscrito, que era escrito e falado na Índia (um dos mais antigos idiomas do mundo), com o idioma falado pelos ciganos e encontraram um sem-número de palavras com o mesmo significado.
Outros pontos também colaboram para que esta hipótese seja reforçada, como a tez morena comum aos hindus e ciganos, o gosto por roupas vistosas e coloridas, e princípios religiosos como a crença na reencarnação e na existência de um Deus Pai e Absoluto.
Tanto para os hindus como para os ciganos, a religiosidade é muito forte e norteia muito de seu comportamento, impondo normas e fundamentos importantes, que devem ser respeitados e obedecidos.
Outro fato que chama a atenção para a provável origem indiana do povo cigano, é a santa por quem nutrem o mais devotado amor e respeito, chamada Santa Sara Kali.
Kali é venerada pelo povo hindu como uma deusa, que consideram como a Mãe Universal,a Alma Mater, a Sombra da Morte. Sua pele é negra tal como Shiva, uma das pessoas da Trindade Divina para os indianos (Braman, Vishu e Shiva).
 O nômade experimenta o mais amplo sentido de liberdade. Não tem apego a nenhum lugar em especial, não deita raízes que não possam ser arrancadas quando o desejo de ganhar estrada acontecer. Daí que suas moradias, as tendas de tecidos permeáveis e resistentes, e seus pertences em geral, devem ser confortáveis, mas essenciais e leves. O nômade não se preocupa com o possuir, mas com o viver.
As populações ciganas são nômades por excelência, não têm pátria, são universais. Viajam em grupos de famílias, que possuem um profundo sentido de união, solidariedade e companheirismo. Formam núcleos comunitários compactos com normas e regras de convivência harmoniosas. Essas regras são levadas a sério, portanto respeitadas ao máximo, pois os ciganos sabem que são elas que garantem a união e a sobrevivência do próprio grupo e a defesa contra as difamações e perseguições oriundas das populações dos diversos países por onde passam.
Existe uma idéia geral de que as populações do mundo têm preconceitos contra os ciganos; porém, se observarmos com atenção, veremos que é só eles que têm preconceitos, que não querem se misturar, desaconselhando e combatendo severamente os relacionamentos entre ciganos e não-ciganos, especialmente as uniões pelo casamento.
Uma das maneiras de os ciganos se manterem unidos, vivos, com suas tradições preservadas é o idioma universalmente falado por eles, o romani ou rumanez, que é uma linguagem própria e exclusiva.
É expressamente proibido ensinar o romani para os não-ciganos; e os ciganos fieis às tradições, que prezam sua origem, seus irmãos de raça, que são verdadeiros ciganos, sabem disto. Portanto, quando alguém que se diz cigano quiser ensinar o romani, geralmente às custas de dinheiro, ou então passar segredos e as íntimas particularidades da vida cigana é bom ter cuidado, pois com certeza, ele ou ela não é um autêntico cigano, obediente aos preceitos e princípios de seu povo. Ele poderá ser até cigano de origem, mas não será mais um cigano de alma e coração capaz de manter a honradez de seus antepassados e contemporâneos autênticos.
O romani é uma língua ágrafa, ou seja, uma língua ou idioma sem forma escrita. Portanto, para sua perpetuação o romani conta somente com a transmissão oral de uma geração para outra, de pai para filho.
Não existem livros ensinando uma linguagem, que não tem sequer uma apresentação gráfica definida, pois se os ciganos tivessem se originado na Índia teríamos os caracteres sânscritos, mas como encontramos ciganos em quase todas as partes do mundo, o romani poderia ter os caracteres da escrita russa, ou egípcia, latina, grega, árabe ou outra qualquer.
Assim como o idioma, todos os demais ensinamentos e conhecimentos da cultura e tradição ciganas dependem exclusivamente da transmissão oral. Os mais velhos ensinam aos mais jovens e às crianças os conhecimentos do passado, o pensamento e a maneira de viver herdados dos ancestrais. O comando da família é exercido de maneira completa e responsável pelo homem. Ele é o líder e à ele competem a proteção, a segurança e o sustento da família. A mulher e os filhos o respeitam como máxima autoridade e lhe são inteiramente subordinados.
São os homens que resolvem as pendências, acertam o casamento dos filhos, decidem o destino da viagem e se reúnem em conselhos sobre assuntos abrangentes e comuns ao Clã.
As mulheres ciganas não trabalham fora do lar e quando vão às ruas para ler a sorte, esta tarefa é entendida como um cumprimento de tradições e não como parte do sustento da família, apesar de elas entregarem aos maridos todo o dinheiro conseguido.
Os ciganos formam casais legítimos unidos pelos laços do matrimônio, não fazendo parte de seus costumes viverem amasiados ou aceitarem o concubinato. Vivem juntos geralmente até a morte e raramente ocorrem entre eles separações ou divórcios, que somente acontecem se existir uma razão muitíssimo grave e com decisão do Tribunal reunido para julgar a questão. Os pares ciganos, marido e mulher, são muito reservados e discretos em público, não trocando nenhum tipo de carinho que possa ser entendido como intimidade, que é vivida somente em absoluta privacidade.
Enquanto o homem representa o esteio e o braço forte da família, a mulher significa o lado terno e de proteção espiritual dos lares ciganos. Cabe às mulheres cuidarem das tarefas do lar e as meninas ficam sempre ao redor da mãe, auxiliando nos trabalhos da casa, ajudando a cuidar dos irmãos menores e aprendendo as tradições e costumes como a execução da dança, a leitura das cartas e das mãos, a realização dos rituais e cerimônias, os preceitos religiosos. Se uma criança ou jovem cigano sai dos eixos, tem um comportamento inadequado ou procede mal, geralmente mulher é responsabilizada por tais feitos.
CIGANOS NA ESCOLA
A condição de itinerância tem afetado, sobremaneira, a matrícula e o percurso na Educação Básica de crianças, adolescentes e jovens pertencentes aos grupos sociais ligados aos ciganos, indígenas, trabalhadores itinerantes, acampados, artistas e demais trabalhadores em circos, parques de diversão e teatro mambembe. É necessário que se faça uma reflexão sobre as condições que os impedem de frequentar regularmente uma escola e a consequente descontinuidade na aprendizagem, levando-os ao abandono escolar, impedindo-lhes a garantia do direito à educação. As orientações e encaminhamentos dados pelas instituições escolares quanto à matrícula dos estudantes em situação de itinerância geralmente não são de conhecimento público, ficando, na maioria das vezes, à mercê da relação estabelecida entre a escola e a família em contextos específicos. Neste sentido, o Ministério da Educação, desde 2011, acolheu o Parecer CNE/CEB n° 14/2011 e a Resolução CNE/CEB nº 3, de 16 de maio de 2012, que define diretrizes para o atendimento de educação escolar para populações em situação de itinerância, anexos, na íntegra, neste Documento.
Caracterização da Escola
 A Escola Municipal Dom Velloso foi criada no ano de 1975, localizada na Avenida Santa Rita n º 815, CEP:75515510, bairro Santa Rita. Cidade Itumbiara, Estado Goiás Telefone (64) - 34044137. Acolhe crianças da Educação Infantil (Maternal, Pré I e Pré II) e Ensino Fundamental (1º, 2º e 3º ano). Componentes do Grupo Gestor: Diretora Pedagógica: Marcela Pereira Jabur Silva, Diretora Administrativa: Elaine, Secretária Geral: Laine Carmo Lima, Coordenadora Pedagógica: Sinara da Silva. Atualmente, são 24 alunos de comunidades ciganas da região que frequentam a escola, que tem 146 estudantes matriculados na series regulares, dando um total de 170 alunos matriculados. São cinco salas de aulas que funciona em dois períodos matutino e vespertino. Total de funcionários da escola (inclusive profissionais escolares em sala de aula): 20
Analise de Dados
 A escola tem, desde o início do ano letivo de 2010, uma sala de aula exclusiva para ciganos. Atualmente, são 24 alunos de comunidades ciganas da região que frequentam a escola.
 A iniciativa da escola indica que, ainda que timidamente, aos poucos as crianças ciganas vão sendo introduzidas no sistema educacional do país. O tema ainda é pouco debatido. Os ciganos reclamam de preconceito da sociedade, ao mesmo tempo em que não veem muito sentido na educação formal para seus filhos, uma vez que vivem em comunidades fechadas. Além disso, a vida itinerante de muitas comunidades dificulta para as crianças seguirem o calendário letivo tradicional.
 A grade curricular da sala específica para ciganos – que tem alunos entre 7 e 18 anos de idade - é a mesma das demais turmas. O que muda é a forma de abordagem do conteúdo. “Focamos na realidade deles. Recentemente, fizemos um trabalho, por exemplo, sobre as famílias e as moradias. Um grupo de ciganos montou umamaquete da casa onde eles vivem, ou seja, construíram um acampamento com várias tendas”, esclarece a coordenadora da escola, Tatiana Mortosa.
 Uma das maiores preocupações da Escola Municipal Dom Velloso é garantir a frequência dos alunos ciganos. Um dos motivos mais comuns para as faltas são as tradições culturais. A principal delas é o casamento, cuja comemoração dura de três a sete dias, período em que os estudantes não vão às aulas. Para assegurar que os alunos ciganos cumpram a carga horária, há um grande esforço dos educadores em evitar que se falte às aulas. "Isso não acontece aqui", ressalta a professora da turma Camilla. Sempre que necessário, os professores chegam até a aplicar provas nas próprias barracas dos ciganos, montadas com lonas, em vários lotes baldios da região. 
 
 Para entender essas e outras particularidades, a direção e professores da escola começaram a estudar os costumes do povo cigano. “Eles alegavam que não estudavam porque eram vítimas de discriminação. Vimos que não era apenas uma questão cultural, como acreditávamos. Com conversas, visitas à comunidade e muito estudo, fomos conquistando a confiança deles e conseguimos convencê-los da importância dos estudos”, lembra a diretora da escola, Marcela Jabur. Quando os primeiros ciganos se matricularam, há cinco anos, o rendimento escolar não era satisfatório, reconhece a diretora. “Nossa maior dificuldade era, além das faltas constantes, a diferença de faixa etária deles. A maioria começa a estudar mais tarde, no mínimo, aos sete anos de idade”, explica. Foi então que surgiu a ideia de montar uma sala específica para atendê-los. “Nós precisávamos nos adaptar a eles. Fomos até a Secretaria de Educação e levamos a proposta de uma turma separada, que foi aprovada pelo Conselho de Educação, e tem dado certo”, acredita Marcela Jabur.
 O objetivo dessa turma especial para ciganos é a alfabetização bem-feita, para evitar que os estudantes avancem nas séries escolares com deficiência de aprendizado de Educação de Itumbiara pois na mesma sala existem alunos de diferentes idades, mas que está no mesmo nível de aprendizado. No começo foi meio complicado devido a agressividade dos alunos da etnia, a questão de higiene eles seguem as normas da escola, mas não deixam de lado seus costumes.
 O convívio deles hoje com os alunos matriculados nas series regulares hoje é bem tranquilo os tratam com bastante respeito, a diferença da avaliação deles é que eles não são avaliados por serie e sim por nível, não trabalhamos com livros e sim com fichas planejadas. Eles hoje tomam o banho e vão limpos para a escola as meninas maquiadas perfumadas e com brinco pulseira todas lindas, chegam certinho no horário. Lembrando que o lanche deles tem que ser o primeiro a ser servido porque se não eles não comem achando que é resto coisas dos costumes. 
 
 Filha de João Amaro, a cigana Marlene Aparecida Fernandes, de 43 anos, foi a primeira a colocar o filho na escola. Ela já tinha vivido experiências ruins em outras escolas. Diz que os filhos não foram bem tratados. Mas que nessa escola os filhos foram bem tratados. Marlene, que é líder da comunidade, acha importante que as crianças ciganas frequentem as salas de aula e incentiva as amigas a matricularem seus filhos na escola. “Sem estudo, hoje, a pessoa não é nada. Tem que ter educação porque, sem isso, a gente não sabe nem pegar um ônibus", diz a cigana.
Depois que matriculou o filho Renes, de 12 anos, a cigana Marlene Aparecida se tornou a porta-voz entre sua comunidade e a instituição. Ela estudou pouco e arrisca a escrever apenas algumas palavras, como o próprio nome. Mas sonha com um futuro acadêmico “brilhante” para Renes, o primeiro aluno cigano da Escola Municipal D. Velloso. “Eu quero muito mais do que eu tive para o meu filho. Quero que ele seja um doutor, um juiz, um promotor”, afirma. A mãe conta que o adolescente começou a estudar há cinco anos e, mesmo morando em um acampamento cigano distante da escola, faz questão de levá-lo, de carroça, todos os dias para as aulas. “Ele só mata aula quando está muito doente ou quando a égua some”, afirma. Sem o animal, justifica, ela e o filho ficam sem meio de transporte.
Assim como Renis, o colega cigano Jean Carlo, de 10 anos, fala pouco, mas mostra-se à vontade na escola, brinca muito e arranca elogios de todos, principalmente, quando faz o que mais gosta: tocar sanfona. “Eu ajudei a fazer a maquete que mostra onde moramos”, orgulha-se, ao lado das colegas Keila, de 10 anos, e Taís, de 11, que também participaram da atividade. Única cigana da escola fora da sala exclusiva, Thaís Aparecida, de 11 anos, começou a estudar há cinco anos e agora está cursando o 3º ano do ensino fundamental. Ela sabe da importância em ter sido alfabetizada, mas lamenta não assistir às aulas na sala específica para ciganos. A garota explica que gosta de todos os colegas da escola, mas diz sentir saudades da sala anterior, onde a irmã, de 6 anos, estuda. “Achei muito fácil aprender a ler e escrever”, garante. Ao contrário de vários colegas, ela não vai à escola de carroça. Usa a bicicleta. Mas o uniforme da escola ganha um toque cigano, graças à maquiagem forte que faz questão de usar, aos acessórios, como pulseiras e brincos grandes, e às botas – calçado que os ciganos homens e mulheres costumam usar.
 Durreis Dias Machado, de 18 anos, é o aluno mais velho da Escola Municipal Dom Velloso. Tímido, ele se matriculou há dois meses porque, como outros jovens de sua idade, pretende se alfabetizar para tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). O motivo inicial, contudo, foi ampliado: “Já estou aprendendo a ler e a escrever. Para eu tirar a carteira, é importante reconhecer as placas de trânsito, mas eu sentia falta também de saber escrever meu próprio nome”.
A cigana Marli Aparecida Fernandes, de 38 anos, só estudou até o 2º ano do ensino fundamental, mas não mede esforços para que a filha Keila, de 10 anos, tenha uma educação formal. Todos os dias ela a leva de carroça até a escola e cuida para que a filha não falte às aulas. “Vejo que as pessoas da escola são carinhosas com a gente e com as crianças. Minha filha já está bem mais sabida depois que começou a estudar”, reconhece.
 Também cigana, Sirlene Alves, de 30 anos, tem a mesma opinião da amiga e matriculou as duas filhas, de 8 e 13 anos. A mais nova, Tauana, está sendo alfabetizada e já é motivo de orgulho para a mãe: “É a coisa melhor que aconteceu. Estudo é a maior riqueza que a gente ganha”. Na avaliação da diretora Marcela Jabur, o comportamento dos alunos ciganos é excelente. Para ela, o segredo do sucesso desse projeto está na adaptação cultural: “Nós aprendemos e respeitamos os costumes ciganos e eles também estão se adaptando aos nossos”. Marcela cita o cumprimento dos horários como um dos maiores avanços nesse trabalho.
 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A diversidade cultural deve ser voltada à realidade da sociedade. Conhecendo profundamente essa diversidade, haverá mais possibilidades de desenvolver uma consciência de que cada ser humano é único, que as dimensões sociais nos envolvem em cada momento e em cada espaço que frequentamos e que existem diferenças entre as pessoas na sociedade.
Precisamos desenvolver uma escola em que os alunos, além de aprenderem sobre as diferenças, saibam respeitá-las, o que é de fundamental importância para a formação, desde cedo, do seu papel como cidadão na sociedade. Como educadores, devemos incrementar nossas aulas organizando-as de maneira lúdica, com atividades de conversação, contação de histórias, construção física e diversificada de realidades culturais diferenciadas, principalmente as que nos cercam.
O avanço tecnológico e social impõe à sociedade culturas moldadas, muitas vezes, longe da nossa realidade. A mídia, por sua vez, socializa a cultura dominante, e nos perdemos nessa visão individualista cultural. E esse é ogrande desafio: respeitar os diferentes grupos e culturas que compõem a esfera étnica brasileira, desentrelaçando informações expostas a nós, e motivando o convívio dos grupos, enfocando o crescimento psicocultural. Por isso, não basta sermos agentes de transformação, mas sim exemplos a ser seguidos em uma sociedade onde as culturas estão se tornando escassas e a educação age com um papel de transformação na sociedade.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:
temas transversais terceiro e quarto ciclos. Brasília: MEC/SEF, 1998.
COTES, P. As escolas mais inovadoras. Época, São Paulo, ed. 403, set/2006. 
 
 Ciganos no Brasil - uma breve história, de Rodrigo Corrêa Teixeira.
Pesquisa Real na Escola Municipal Dom Veloso.

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