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BIOÉTICA EM SAÚDE INTRODUÇÃO A importância dos papéis representados pela Biossegurança e Bioética no contexto mundial da preservação da espécie é incontestável. Vale ressaltar que os recursos utilizados pela biotecnologia moderna são objeto de preocupação de ambas as disciplinas. Considerando-se que tanto os artefatos já produzidos, como os Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) e clones animais, quanto os ainda não produzidos, mas virtualmente possíveis, como os clones humanos, preocupa a população mundial que tenha um pouco mais de discernimento e conhecimento científico, pois, desde os primórdios da humanidade, toda nova descoberta científica é polemizada, até que se tenha a certeza da sua correta aplicação. Nesse aspecto, a Bioética e a Biossegurança podem ser consideradas indispensáveis para o desenvolvimento e aplicação de todo e qualquer novo invento. Na Medicina, Odontologia, Farmacologia, Biologia Celular ou qualquer outra área da saúde e bioengenharia não poderia ser diferente. Na medida em que os avanços tecnológicos se disponibilizam para a sua aplicação no mercado, mais conscientes dos riscos e benefícios devem estar os profissionais da saúde que os utilizam. A Biossegurança e a Bioética saem de uma visão meramente laboratorial e passam a se preocupar com a preservação das espécies do planeta. A Biossegurança é, portanto, o conjunto de ações voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços. À medida que os recursos biotecnológicos vão se disponibilizando no mercado com a finalidade de melhorar a qualidade de vida das pessoas, mais conscientes devemos estar dos riscos e benefícios a que estamos sendo submetidos, tanto nós, profissionais da saúde quanto os pacientes. A Biossegurança e Bioética saíram de uma visão meramente laboratorial e se passaram a se preocupar com as consequências do desenvolvimento das novas tecnologias para o meio ambiente. Começaram a avaliar os riscos que podem comprometer a saúde do homem, dos animais, do meio ambiente ou e por consequencia, a qualidade dos trabalhos realizados. Em síntese, a Biossegurança, no sentido objetivo, possui seu foco voltado à segurança que deve estar associada à probabilidade aceitável do risco medido ou aferido. No sentido subjetivo, a Biossegurança deve estar associada ao sentimento (feeling) de bem-estar. Os dois sentidos, não devem ser dissociados, pois ambos são necessários para uma política de segurança legítima e eficaz. Em outras palavras, Bioética e Biossegurança se preocupam com a legitimidade, ou não, de se utilizar as novas tecnologias desenvolvidas pela bioengenharia para transformar a qualidade de vida das pessoas. Porém, estas disciplinas divergem entre si quanto à natureza e a qualidade de seus objetos de estudo. A Bioética preocupa-se com a análise imparcial dos argumentos morais em relação ao uso da Biotecnociência. A Biossegurança ocupa-se dos limites e da segurança em relação aos produtos e as técnicas biológicas empregadas, ou seja a Biossegurança se preocupa com a quantificação do risco que corremos enquanto estamos exercendo determinada atividade. Por outro lado, a Bioética se preocupa com os argumentos morais do uso de nova Biotecnologia. Sabemos, por exemplo, que com os avanços tecnológicos na medicina seria viável realizar uma inseminação artificial em uma senhora de 65 anos, porém será que esse procedimento pode ser considerado ético? Tecnicamente ele é viável, mas será ético? Aí entra o papel da Bioética que procura avaliar todos os aspectos do uso dessa tecnologia: aspectos psicológicos, aspecto social e antropológico, aspecto legal, religioso, científico e prático. A Bioética tem a finalidade procurar entender os costumes e a tradição do povo onde essa tecnologia está sendo aplicada, procurando analisar os aspectos religiosos envolvidos na questão, verificando a legitimidade do uso dessa tecnologia, e também a viabilidade científica de tal feito. Portanto a Bioética não possui uma determinação do que é certo ou errado. Ao contrário, ela se preocupa em adequar o uso da biotecnologia para preservação das espécies do planeta, respeitando a sua autonomia das pessoas, ou seja, o seu direito de fazer escolhas. Pois quanto mais conhecimentos o homem possui, maior a sua capacidade de discernimento e, portanto, maior é a sua capacidade de escolha, e por consequencia, maior a sua autonomia. A Bioética, enfim, se preocupa em preservar a autonomia do homem, esteja ele na condição de paciente ou de cidadão comum. Neste último caso, a Bioética está relacionada a Ética ambiental de preservação das espécies do planeta. Desde então, o conceito de risco tornou-se mais complexo e abrangente, graças, sobretudo, às análises epidemiológicas das doenças e das demais áreas da Saúde. Passou a ser concebido como uma verdadeira característica estrutural da sociedade pós-industrial. Esta transformação no conceito de risco afetou a concepção do papel da Biossegurança, que incorporou, inicialmente, a segurança contra os demais riscos presentes nas atividades de saúde, tais como riscos físicos, químicos, radioativos, ergonômicos, microbiológicos, entre outros. Em seguida, a Biossegurança integrou os riscos ambientais, o desenvolvimento sustentado, a preservação da biodiversidade e a avaliação dos prováveis impactos advindos da introdução de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) no meio ambiente. Pode-se assim dizer que, desde então, constituiu-se uma "nova lógica da Biossegurança que passou a ser uma das premissas que alicerçam os Programas de Gestão de Qualidade", razão pela qual "a Biossegurança saiu de uma discussão apenas no contexto laboratorial, onde medidas preventivas buscavam preservar a segurança do trabalhador e a qualidade do trabalho, para uma necessidade mais complexa de preservar as espécies do planeta ". Após a segunda guerra mundial, com a revolução industrial, os Riscos começaram a ser estudados mais profundamente. Passaram a ser quantificados classificados em riscos físicos, químicos, radioativos, ergonômicos, psicológicos (estresse), microbiológicos e ambientais. A Biossegurança passou a se preocupar com o desenvolvimento sustentado, com a biodiversidade e com o impacto dos organismos geneticamente modificados sobre o meio ambiente. E nessa época a Bioética surgiu como uma necessidade de se avaliar os argumentos morais do uso da biotecnologia, mesmo que a intenção fosse melhorar a qualidade de vida das pessoas. Em 1975, durante a Conferência de Asilomar (Califórnia), foi a primeira vez que se discutiu a legitimidade da utilização da tecnologia do DNA recombinante. Durante a Conferência, foi elaborada a primeira proposta de normas para este novo campo de atividades. Tal proposta se efetivou em 1976, quando o National Institute of Health (NIH) norte-americano promulgou as primeiras diretrizes de Biossegurança. Contudo, tais diretrizes referiam-se unicamente à segurança laboratorial e aos agentes patogênicos para seres humanos. Esta iniciativa norte-americana repercutiu em outros países como o Reino Unido, França, Alemanha e Japão20,21,22,23. Nessa época, a concepção sobre o papel da Biossegurança ainda era muito limitada, e basicamente restrita ao risco. Baseava-se apenas na implementação de normas e políticas de prevenção de riscos para os pesquisadores, além dos riscos para os sujeitos da pesquisa. Para entendermos o surgimento da Bioética precisamos conhecer a Ética. Ética é uma palavra de origem grega, com duas origens possíveis. Quando a palavra grega ETHOS é escrita com vogal curta (eta) que quer dizer morada do homem na Terra, casa, costumes tradicionais, busca do senso comum, conhecimento religioso, BUSCA DA SOBREVIVÊNCIA. No ETHOS costume os valores são transmitidos de geraçãoem geração. A tradição procura a preservação ou continuidade da existência. No ETHOS costume, os valores são ‘dados’ estabelecidos como normas morais do grupo social , transmitidos de geração em geração. No latim o termo grego Ethicos foi traduzido por moralis (Moral). Mores significa “usos e costumes”. Porém isto não corresponde nem à nossa compreensão de ética, nem de moral. Iremos estudar mais adiante o que significa “Moral” Quando apalavra Ethos é escrita com epsylon (e longo) quer dizer caráter individual, índole individual, temperamento, conteúdo psicológico que molda estilo de vida, o agir moral, a consciencia ético. A busca do bem e do acabado. No ETHOS caráter, as características pessoais são representadas pelos sentimentos e atitudes individuais que levam a respeitar ou transgredir os valores da cidade (polis). A ética é o estudo geral do bem e do mau. Ela busca justificativas para as regras da Moral e do Direito, pois ela não estabelece regras. É a reflexão sobre a ação humana que as caracteriza. A palavra “Ethos” quando escrita com vogal curta (eta inicial) significa costume, tradição, senso comum, sabedoria dos velhos. Designa: morada do homem na terra (casa, abrigo protetor). Tem o sentido de Busca da sobrevivência. A Etica-costume é passada de geração em geração por meio dos rituais, principalmente os rituais religiosos, que prezam valores importantes para a boa convivência , portanto, para a sobrevivência. Ex. os valores religiosos passados na celebração do Natal (igreja católica). Esses valores morais são aprendidos com a tradição e com os rituais, sempre valorizando a sabedoria dos mais velhos. A palavra Ethos escrita com vogal longa (epsylon) significa caráter individual, qualidades pessoais para condutas e atitudes. Designa o senso do agir correto e benevolente. E possui o sentido da busca da perfeição, do bem e do acabado. A ética tem por objetivo facilitar a realização das pessoas. A ética se ocupa e pretende chegar à perfeição do ser humano. E ética existe em todas as sociedades humanas, e mesmo nos não-humanos mais próximos. A ética pode ser um conjunto de princípios e maneiras que guiam ou chamam para si a autoridade de guiar as ações de um grupo em particular. Ou pode ser entendida como o estudo sistemático da argumentação sobre como devemos agir. É extremamente importante saber diferenciar a Ética da Moral e do Direito. A ética é o estudo que se preocupa com o agir das pessoas, se o seu agir pode ser qualificado como “bom” ou “bem”, ou o seu oposto, como “mau” ou “mal”. Esse é o conteúdo da ética prática. Estas três áreas do conhecimento se distinguem, porém têm grandes vínculos e até mesmo sobreposições. Tanto a Moral como o Direito baseiam-se em regras que visam estabelecer uma certa previsibilidade para as ações humanas. Porém, ambas se diferenciam: A Moral estabelece regras que são assumidas pela pessoa como uma forma de garantir o seu bem-viver. É um conjunto de normas para o agir específico e concreto. Está contida nos Códigos que tendem a regular o agir das pessoas. Ex.: Código de Ética Médica. O Direito busca estabelecer o regramento de uma sociedade delimitada pelas fronteiras do Estado. As leis de uma base territorial valem apenas para aquela área geográfica, onde uma determinada população e seus delegados vivem. O Código Civil, que pe referencial utilizado no Brasil, baseia-se na lei escrita. Toda ação deve ser justificada pela ética, embasada nas códigos (moral) e alicerçada nas leis (Direito). BIOÉTICA E PESQUISA Experimentação científica com seres humanos trouxe vários avanços para a saúde da humanidade nos últimos séculos, porém tem sido fonte de preocupação àqueles que estão atentos à preservação dos interesses das pessoas (seres humanos). Com o crescimento econômico mundial, principalmente nos EUA no pós-guerra, o número de estudos biomédicos também cresceu enormemente. As notícias de sucesso desses estudos e as alegações de abusos também se multiplicaram. Essas pesquisas malsucedidas deram origem a vários escândalos públicos que indignaram a comunidade científica e a opinião pública do mundo inteiro. A Bioética surgiu para exaltar as questões humanísticas do esenvolvimento científico, promovendo um alicerce para o desenvolvimento e resguardo da vida. E por falar em pesquisa, A BIOÉTICA surgiu também para regulamentar a realização dessas pesquisas de forma digna para os sujeitos e também para os pesquisadores. Assim como toda ação deve ser justificada pela ética, embasada pela moral e respaldada pelas leis, as pesquisas também devem ser justificadas pela Ética. Nesse caso a Ética em pesquisa é representada pelo princípio de respeito à pessoa. A pesquisa deve se embasada pela Moral, que está contida nós códigos e normas desenvolvidas ao longos dos anos, após a segunda guerra mundial, como por exemplo a Declaração de Helsink, as Diretrizes Internacionais da Organização Mundial da Saúde, os Códigos Profissionais. As pesquisas devem também estar respaldadas pelas leis. Um exemplo de lei que regulamenta da realização de Pesquisas na Brasil é a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que dá todas as diretrizes para a realização de pesquisas com seres humanos.Assim como a Lei de Biossegurança CTNBio de 08/1997, que regulamenta das as pesquisas com OGM, por exemplo, ou pesquisas com DNA recombinante, ou com células tronco embrionárias, por exemplo. Durante a Segunda Guerra Mundial (1939- 1945) foram cometidas muitas crueldades com prisioneiros de guerra em campos de concentração. Essas pessoas eram obrigadas a participar de experimentos que causavam sofrimento, dor extrema, deficiências físicas, problemas psicológicos e até a morte, demonstrando que os conflitos de interesse entre a ciência e a sociedade podem chegar a níveis insuportáveis, que ferem a dignidade humana. Com o fim da guerra, os países vencedores (Estados Unidos, Inglaterra, França e Rússia) criaram o Tribunal de Nüremberg, um Tribunal Militar Internacional, encarregado de julgar crimes contra a humanidade, cometidos durante o período de 1939 a 1945. Além de julgar vários criminosos de guerra, este tribunal elaborou também o Código de Nüremberg, o primeiro documento contendo diretrizes internacionais sobre a ética em pesquisa. Enfatiza a necessidade do consentimento voluntário e respeito à autonomia do participante da pesquisa. Este documento estabelece também que os participantes precisam ser informados acerca da pesquisa para terem o conhecimento necessário para sua decisão, e que esta deve ser livre de qualquer forma de coação. Neste código, foi a primeira vez que se falou em voluntariedade do sujeito em participar da pesquisa. Esta voluntariedade deveria ser expressada pelo Consentimento Informado.Falou-se também em respeito a autonomia, ou seja, o principio de respeito a pessoa, suas vontades deveriam se respeitadas, já que durante a 2ª guerra mundial, as pesquisas nos judeus foram feitas, independente de sua vontade. Esse código fala também da obrigatoriedade de revelação de informações, ou seja , o sujeito da pesquia tem o direito de saber dos riscos e benefícios a que está sendo submetido. E diante desta informação, poderá deliberar, ou seja fazer a sua escolha em participar ou não da pesquisa. O código de Nuremberg não era seguido pelos pesquisadores e cientistas da época. Este fato levou a Associação Médica Mundial (AMM) a elaborar, em sua 18ª Assembléia, realizada em Helsinque, Finlândia, onde foi descrita a Declaração de Helsinque, com o intuito de estabelecer critérios éticos para subsidiar as pesquisas na área médica. Apesar de voltado à área clínica, este documento traz aspectos comuns ao Código de Nüremberg, tais como a necessidade de qualificação profissional para o desenvolvimento de pesquisas, do esclarecimento do participanteem relação aos riscos e benefícios da pesquisa e da obtenção de seu livre consentimento. Frise-se que ao longo dos anos a Declaração de Helsinque tem sido Atualizada e encontra-se hoje em sua sexta versão, editada em 2008. Costa e Kottow chamam a atenção para o fato de que, desde 1999, têm ocorrido várias discussões com o intuito de modificar as diretrizes éticas deste documento e estabelecer o duplo padrão ético que consiste em permitir a realização em países periféricos (que não possuem normas específicas) de estudos com o uso de placebo em seres humanos, considerados eticamente inadmissíveis em países desenvolvidos. Com a versão de 2008, o uso do placebo passou a ser aceitável em situações em que o risco de dano não é considerado sério e também, o acesso dos sujeitos das pesquisas aos benefícios por elas gerados passaram a ser negociáveis. Embora não seja um documento internacional, o Relatório Belmont, elaborado entre 1974 e 1978 pela Comissão Nacional para a Proteção de Sujeitos Humanos em Pesquisas Biomédicas e Comportamentais dos Estados Unidos, possui relevância mundial, pois contribuiu para a consolidação acadêmica da bioética e causou grande impacto ao revelar a persistência de situações eticamente questionáveis em pesquisas financiadas por órgãos governamentais daquele país. É importante lembrar que o documento trouxe três princípios que se tornaram clássicos para a bioética: autonomia ou respeito pelas pessoas, beneficência e a justiça. O princípio da autonomia significa respeitar o direito e a capacidade da pessoa de decidir, sem qualquer forma de coação, se deseja ou não participar da pesquisa, o que determina que o pesquisador tem a obrigação de informá-la em linguagem clara e de fácil entendimento em que consiste o estudo. Nesse sentido, Kottow alerta que não se pode confundir autonomia enquanto atributo antropológico universal com o exercício da autonomia, que depende de muitos fatores e relaciona-se à capacidade de discernimento e à condição de vulnerabilidade dos participantes da pesquisa. De acordo com Rivera, os princípios da beneficência e não maleficência são complementares, pois implicam na obrigatoriedade que a pesquisa tem de proporcionar o máximo de benefícios aos seus participantes, à sociedade e ao conhecimento científico com o mínimo de riscos possíveis. O princípio da justiça exige que os benefícios e os riscos da pesquisa sejam repartidos com equidade entre os participantes da pesquisa, tratando os indivíduos de acordo com as suas necessidades. A Resolução 196/96 possui relevância científica e social, uma vez que criou e normatizou um dos mais avançados sistemas de revisão e controle éticos de pesquisas envolvendo seres humanos da América Latina: o Sistema CEP/ Conep. Este sistema é constituído de instâncias regionais, os comitês de ética em pesquisa (CEP), e de uma instância federativa, a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), órgão nacional de controle de pesquisas envolvendo seres humanos. Além disso, esta resolução orienta quanto aos aspectos éticos que devem ser observados nos protocolos de pesquisa e determina que toda pesquisa que envolva seres humanos, independente da área do conhecimento, seja apreciada por um CEP. De acordo com a Resolução 196/96 18, a Conep é um órgão colegiado de natureza consultiva, deliberativa, educativa e independente, vinculado ao Conselho Nacional de Saúde e dotado de composição multi e transdisciplinar com pessoas de ambos os sexos. O Projeto de pesquisa deve em primeiro lugar gerar conhecimento, ou seja, o projeto de pesquisa deve trazer algo inovador tanto nos seus propósitos, quanto nos seus métodos de desenvolvimento. Esse novo conhecimento deve ter relevância científica, quer dizer, deve agregar valores ao conhecimento científico. Para que haja relevância científica, o projeto deve ser reprodutível em qualquer lugar do planeta, ou seja, o seu método deve estar muito bem discrimidanado para que qualquer outro pesquisador de qualquer lugar do mundo consiga reproduzir o evento. O projeto de pesquisa deve possuir exequibilidade, ou seja deve ser executável. E por fim o projeto de pesquisa deve, em toda instância, defender a vida. O projeto de pesquisa que ponha em risco a vida dos animais ou de qualquer de outro ser vivo não é aprovado pelos Comitês de Ética em Pesquisa.O princípio básico da pesquisa com seres humanos é princípio de respeito à pessoa É dever dos pesquisadores respeitar os sujeitos das pesquisas nos seus anseios, desejos e dúvidas, bem como na sua história de vida, nos seus valores e crenças, não realizando qualquer ato que lhe cause constrangimento estranheza. Respeitar as vontades dos sujeitos da pesquisa é um dos itens básicos para a sua realização. O sujeito da pesquisa deve receber todas as informações a respeito dos riscos e benefícios do seu desenvolvimento e estar ciente e apto para deliberar, ou seja, fazer a sua escolha voluntária, em participar ou não da pesquisa apesar dos riscos. O mesmo respeito deve ser atribuído aos animais e ao ecossistema. Pesquisas em animais não devem causar nenhum tipo de dor ou sofrimento e o número de animais utilizados na pesquisa deve ser calculado por métodos estatísticos para que seja usado o menor número possível para se obter uma rsposta ao questionamento realizado. Além do sujeito da pesquisa, o princípio de respeito à Pessoa estende-se ao pesquisador, à sociedade, e ao trabalhador. Enfim, a pesquisa deve respeitar os valores também do pesquisador, não deve colocá-lo em risco, assim como não deve colocar em risco a sociedade, ou o trabalhador (que são os técnicos envolvidos no processo de desenvolvimento da pesquisa). Portanto a pesquisa deve se preocupar também com a sociedade. Será que o produto da minha pesquisa traz algum risco à sociedade se for manipulada por pessoas não capacitadas? Será que o desenvolvimento desta pesquisa coloca em risco os trabalhadores nela envolvidos? Projeto de Pesquisa: Aspectos Éticos e Metodológicos (Por José Roberto Goldim) O objetivo deste material é identificar os aspectos éticos e metodológicos envolvidos na elaboração ou avaliação de um projeto de pesquisa em saúde. O texto apresenta a estrutura básica de um projeto com as respectivas chamadas para as normas e diretrizes vigentes, especialmente, a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Todo projeto de pesquisa deve conter os seguintes elementos: Identificação Título Autores Locais de Origem e Realização Introdução Objetivos Método Cronograma Orçamento Referências Vale relembrar que um projeto de pesquisa não necessita ter um grande volume de páginas. A concisão na apresentação das idéias já é uma boa evidência de um planejamento adequado. O projeto não precisa ter uma capa ou folha de rosto, pode ser escrito como um texto único e sequancial, obviamente destacando os títulos e sub-títulos dos diferentes itens apresentados. O importante é que seja uma proposta clara e coerente. Identificação O projeto sempre inicia com um bloco de informações de identificação, composto pelo Título, Autores e Locais de Origem e de Realização. Título O Título deve ser claro, conciso e abrangente, permitindo uma compreensão inicial da sua finalidade. É a primeira forma de contato do leitor com o projeto, devendo ser considerado como um elemento importante na sua elaboração. Ao final da redação do projeto deve ser verificada a coerência entre o Título e os Objetivos. Autores Todos os participantes que preencherem os critérios de autoria devem ser citados no projeto. Este é um procedimento eticamente adequado, baseado na fidelidade que deve existir entre os membros do grupo que realiza pesquisas em conjunto. Deve haver a clara indicação de quem éo pesquisador responsável pelo projeto. Vale relembrar que todos os autores devem ter qualificação acadêmica e científica compatível com a sua participação no projeto, assumindo a responsabilidade intelectual e científica pelo mesmo. Local de Origem e de Realização A identificação do Local de Origem permite caracterizar a instituição, serviço, unidade, setor ou curso que avaliza o projeto, que o credencia para ser realizado. Quando o projeto for executado em outro local que não o de origem, deverá ser incluído, igualmente, o Local de Realização. O responsável pelo local de realização deve ser consultado previamente ao encaminhamento d projeto para análise por um Comitê de Ética em Pesquisa. Os projetos com patrocinadores ou planejados no exterior devem apresentar a aprovação por um comitê de ética no seu país de origem. Introdução A Introdução situa o projeto no contexto do tema escolhido, deve permitir um nivelamento dos conhecimentos, possibilitando a compreensão do que vai ser apresentado ao longo do projeto. Pode conter um breve histórico sobre o tema a ser abordado, assim como as motivações que levaram os autores a proporem o presente projeto. Alguns autores incluem neste item uma justificativa para a execução do projeto, podendo conter a descrição dos aspectos que caracterizem a relevância científica e social. A revisão bibliográfica contida na Introdução não necessita ser exaustiva, devendo, porém, conter as referências necessárias para o embasamento dos pressupostos do trabalho. A revisão deve permitir uma adequada compreensão do estado atual do conhecimento sobre o tema que será abordado. Desde o ponto de vista da avaliação de aspectos éticos, a Introdução deve permitir caracterizar a importância do tema e a necessidade de realizar o presente projeto. A Introdução pode terminar com uma questão de pesquisa ou com a formulação de hipóteses. Objetivos Os Objetivos caracterizam, de forma resumida, a finalidade do projeto. De acordo com a magnitude do projeto, os objetivos podem ser subdivididos em objetivo geral e objetivos específicos. O Objetivo Geral define explicitamente o propósito do estudo. Os Objetivos Específicos caracterizam etapas ou fases do projeto, isto é, são um detalhamento do objetivo geral, e não a estratégia de análise dos dados. Desta forma, o conjunto dos objetivo específicos nunca deve ultrapassar a abrangência proposta no objetivo geral. Caso isto ocorra, todos os objetivos, geral e específicos, devem ser revistos e adequados uns aos outros. Nem todo projeto necessita o detalhamento de Objetivos Específicos. Muitas vezes basta apenas a caracterização de apenas um único Objetivo. Os Objetivos devem ser redigidos utilizando verbos operacionais no infitivo, como forma de caracterizar diretamente as ações que são propostas pelo projeto. Método Este item do projeto foi durante muito tempo chamado de Material e Métodos, Casuística e Métodos, ou ainda de Pacientes e Métodos. Estas denominações foram unificadas, com o objetivo de permitir o seu uso independentemente da fonte de dados que será utilizada. O projeto deve apresentar o tipo de delineamento que será utilizado. Podem ser apresentados o fator em estudo e os desfechos previstos. A caracterização da população a ser estudada e, quando for o caso, as técnicas de amostragem e os critérios de seleção, inclusão e exclusão utilizadas, devem constar de forma explícita. O cálculo do tamanho da amostra devem ser apresentados. Quando não for possível estabelece-lo, com base em estudos prévios, podem ser feitas estimativas de impacto ou efeito da intervenção ou de ocorrência do fator em estudo. No caso de estudos qualitativos devem ser apresentados os elementos necessários para caracterizar o volume de observações que serão realizadas. Os aspectos éticos fundamentais neste item é a caracterização de que não haverá discriminação na seleção dos indivíduos nem a exposição a riscos desnecessáriosaos indivíduos. Quando forem pesquisados grupos de pessoas em estados ou condições especiais devem merecer cuidados diferenciados, tais como: gestantes, crianças e adolescentes, doentes mentais, prisioneiros, estudantes, militares, empregados de instituições de saúde, e membros de comunidades menos desenvolvidas. Com relação ao método propriamente dito, devem ser descritas as técnicas, os procedimentos, os equipamentos e materiais necessários, a utilização de placebo, as variáveis consideradas, o tipo de coleta e interpretação de dados a ser empregado, e as formas de suspensão e interrupção do projeto. Os aspectos estatísticos, quando for o caso, tanto no que diz respeito a técnicas descritivas quanto aos testes a serem utilizados devem estar discriminados. Um modelo da ficha de coleta de dados a ser utilizada pode ser anexada ao final do projeto. A utilização de materiais biológicos deve ter cuidados especiais, mesmo quando se utilizam restos de materiais colhidos para fins assistenciais, que seriam habitualmente descartadas. No item Método devem ser esclarecidos os aspectos éticos relatios ao projeto. Os essenciais são a adequada avaliação da relação risco-benefício, a obtenção do consentimento informado e a garantia da preservação da privacidade. A avaliação da relação risco-benefício deve ser feita utilizando dados internacionais e locais. Quando houver a utilização de grupos comparativos deve ser avaliada a existência de equipolência entre as diferentes intervenções. A forma de obtenção do Consentimento Informado deve ser descrita e o modelo do Termo de Consentimento que será utilizado deve ser anexado ao projeto. O autores também devem dar garantias depreservação dos dados, da confidencialidade e do anonimato dos indivíduos pesquisados. Quando o projeto utilizar dados secundários, como por exemplo, dados de prontuários de pacientes ou de bases de dados, os pesquisadores devem se comprometer formalmente com a garantia da privacidade destas informações. Cronograma Todo projeto de pesquisa tem um prazo para ser realizado. O cronograma expressa a compatibilização das atividades propostas com o tempo previsto para a realização do projeto como um todo. Este pode ser subdividido em grandes etapas, tais como: planejamento, execução e divulgação. O cronograma permite aos autores avaliarem continuamente o andamento do projeto e a disponibilidade de tempo ainda existente. Orçamento O orçamento relaciona os recursos financeiros a serem utilizados ao longo de todo o projeto. Os itens básicos, habitualmente descritos, são: material permanente, material de consumo, serviços de terceiros e recursos humanos, incluindo-se neste último as bolsas e eventual remuneração . A caracterização das fontes de financiamento - internas, externas: patrocínio privado, agencias de fomento, doações - da participação de diferentes parceiros, do eventual ressarcimento de despesas aos indivíduos pesquisados, desde que não caracterize uma indução à participação, e a remuneração para os próprios pesquisadores deve ser apresentada. Estas informações permitem esclarecer possíveis conflitos de interesses. Referências A adequada citação do material bibliográfico utilizado é um dos pressupostos éticos da produção científica. As Referências permitem ao leitor do projeto verificar asfontes de informações usadas na elaboração do projeto, permitindo recuperar e confrontar dados. Independentemente do padrão de referência utilizado, o importante é que elas sejam apresentadas de forma completas e uniforme. O padrão Vancouver é o mais utilizado atualmente. As Referências devem ser lidas criticamente, devem ter confiabilidade e devem ser adequadamentedocumentadas. Um cuidado especial deve ser tomado com relação a fontes eletrônicas, especialmente as provenientes da Internet. Todas elas devem ser referidas com a data da consulta e impressas para documentação, pois são feitas muitas modificações neste tipo de meio. DISCUSSÕES ÉTICAS Houve uma época em que falar de ÉTICA era fora de moda. O legal era ser esperto, aplicar a lei de Gerson, ou seja, conseguir tirar vantagem em todas as suas atitudes, fossem elas comerciais , profissionais ou pessoais. Atualmente, cada vez mais as pessoas estão buscando a ÉTICA. Ouve-se falar em ética nos negócios, ética ambiental, ética nas relações, ética na política. Mas porque houve a necessidade premente de se buscar a ética? Porque estamos na era das comunicações, onde as informações são instantaneamente passadas de um continente a outro em segundos, nada mais fica encoberto. Portanto, há uma perplexidade diante das informações que entram nas nossas casas, por meio da televisão e da internet. Esses veículos de comunicação permitem que informações sobre corrupção e violência invadam nossos lares causando perplexidade nas pessoas, pois compartilham de atos e atitudes que vão contra os seus valores e princípios, causando uma indignação dos grupos humanos, levando-os a ter um posicionamento moral básico. Portanto o retorno à Ética é uma reação mundial a essa invasão. Há uma resgate sobre a reflexão moral, com uma retomada da discussão ética sobre os acontecimentos que escandalizam o mundo em busca do reequilíbrio dos juízos e valores que são tão caros e indispensáveis à sobrevivência e a estabilidade dos povos e entre os povos. Como já vimos anteriormente, a ética é a busca da sobrevivência. Portanto, atos e atitudes ou situações que nos indignam fazem-nos ir em busca do que é correto, justo e acabado, como uma forma de ir em busca da sobrevivência. Portanto, o primeiro motivo do retorno à ética é um motivo reacional O segundo motivo de retorno à ética refere-se aos escândalos políticos que ocorreram no mundo inteiro, principalmente após a 2ª Grande Guerra Mundial, como, por exemplo, o caso Watergate no EUA. O caso Watergate é o mais conhecido escândalo político da história americana, e "Garganta Profunda" é a fonte anônima mais famosa do jornalismo. Foi um caso de espionagem nas eleições para presidente nos EUA, em 1972. Refere-se especificamente ao edifício Watergate, em Washington DC, que abriga um hotel e vários escritórios. Foi nesse prédio que cinco homens foram presos ao tentar colocar escuta nos escritórios do Comitê Nacional Democrata. Esses homens faziam parte do Comitê para Reeleger o Presidente Nixon. Bob Woodward e Carl Berntein, dois repórteres do Washington Post, começaram a investigar o então já chamado caso Watergate. Durante muitos meses, os dois repórteres estabeleceram as ligações entre a Casa Branca e o assalto ao edifício de Watergate. Eles foram informados por uma pessoa conhecida apenas por Garganta Profunda(Deep Throat) que revelou que o presidente sabia das operações ilegais. O terceiro motivo do retorno à Ética refere-se às consequências negativas da Liberalidade, advinda da revolução sexual dos anos 70, onde as pessoas só pensavam nos seus direitos e negligenciavam suas obrigações, desenvolvendo hábitos e costumes que determinaram a destruição do meio ambiente, a exclusão social dos pobres, a difusão internacional das drogas, a promiscuidade sexual e, por consequencia, a disseminação da AIDS. A geração hippie que viveu após a revolução dos anos 70, educou seus filhos com demasiada liberdade, tanto que chegavam a confundir liberdade com liberalidade e, portanto transformaram-se em adultos irresponsáveis, que não respeitam o meio ambiente, que excluem os pobres, que usam drogas, que são promíscuos e que por tudo isso ficaram mais propensos a desenvolver vários distúrbios de comportamento que, muitas vezes levaram ao desenvolvimento de doenças psiquiátricas, principalmente a depressão. Outra razão do retorno à Ética é a reação das pessoas aos contratos inaceitáveis, a chamada razão reacional, com um necessidade de resgatar os valores morais que vinham sendo bombardeados pela violência, pela corrupção, ou pelo autoritarismo e paternalismo na medicina. Enfim, a reação à opressão foi o estopim ao retorno à Ética. A quarta razão é uma razão consequencial, ou seja, como consequência do desenvolvimento da biotecnologia. Neste caso o desenvolvimento tecnológico trouxe uma necessidade de se estabelecer parâmetros referencias aplicados às novas descobertas técnico-científicas que estão sendo desenvolvidas para melhorar a qualidade de vida das pessoas, tais como: · A inseminação artificial; · Os transplantes de órgãos e tecidos · O patenteamento de seres vivos · As pesquisas com seres humanos · Os limites entre a vida e a morte. Como consequencia ao retorno à Ética, surgiu a BIOÉTICA. A BIOÉTICA surgiu da necessidade da população em contestar contratos inaceitáveis, ou situações que desagregam valores da população. Alguns autores começaram a definir o termo Bioética. O primeiro foi o cancerologista Van Potter. É fundamental notar que o importante para Potter é manter na Bioética as características fundamentais: ampla abrangência, pluralismo, interdisciplinaridade, abertura e incorporação crítica de novos conhecimentos. Portanto, podemos concluir que a Bioética não surgiu como uma nova disciplina que foi criada para resolver os dilemas do desenvolvimento da biotenologia, nem como uma disciplina dinamizadora da deontologia médica cujos currículos estão obsoletos e com códigos de ética ultrapassados. A bioética surgiu do reconhecimento da população sobre os seus direitos. Surgiu também como uma necessidade dos pacientes em rejeitar o poder da classe médica, imposta pelo seu paternalismo. Ou seja, a população por ter mais acesso à informação não aceita mais contratos precários, ao mesmo tempo que o paciente, também devido ao acesso à informação, ficou mais consciente dos seus direitos, da sua autonomia e não aceita mais a postura paternalista da classe médica. A confirmação prática desse retorno à Ética na saúde apresenta-se na multiplicação dos Comitês de Ética em níveis nacionais, intercontinentais, regionais, hospitalares. Houve também a criação dessa nova disciplina, Bioética, nas Universidades. A criação da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). Esse é um Órgão governamental, que regulamenta, inspeciona, atualiza e fiscaliza todos os Comitês de Ética em Pesquisa das Universidades e centros de pesquisa, em nível nacional. Existe uma rede eficaz de troca de informações entre os comitês de ética e a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). Atualmente a CONEP é ligada ao Conselho Nacional de Saúde, porém, seus representantes não são funcionários de ministério e sim representantes da sociedade. As revistas científicas são uma confirmação do retorno da ética na saúde. Assim como o interesse do Governo e de Instituições Públicas e Privadas, Religiosas e Leigas em formar comitês de ética em pesquisa. Assim a necessidade de retorno à Ética deu origem à várias modadlidades de ética: Ética nos Negócios Ética Ambeintal Bioética BIOÉTICA - Conceitos Uma definição mais atual do termo BIOÉTICA foi proposta pelo Programa Nacional de Bioética da Organização Pan-Americana de Saúde, em 2001, que diz assim: “A Bioética é o uso criativo do diálogo para formular, articular e na medida do possível, resolver os dilemas que são propostos pela investigação e pela intervenção sobre a vida, sobre a saúde e sobre o meio ambiente”. A visão do Programa Regional de Bioética da OrganizaçãoPanamericana de Saúde é ampla, pluralista, interdisciplinar, que propõe a solução de dilemas advindos da investigação científica na saúde e meio ambiente. Volnei Garafa, um cirurgião dentista, professor titular de Disciplina de Bioética da Universidade de Brasília, Vice-Presidente da Comissão Brasileira de Bioética, propõe o termo Bioética como: "Uma resultante moral do conjunto de decisões e medidas políticas, sanitárias, individuais e coletivas que proporcionam o aumento da cidadania e a diminuição da exclusão social." Portanto, vários são os autores que tentam dar uma definição à Bioética. Chegam a um consenso: A Bioética é uma reflexão de caráter transdisciplinar, focalizada prioritariamente no fenômeno “vida humana”, ligada aos grandes avanços tecnológicos das ciências biomédicas, e do cuidado à saúde de todas as pessoas que dela precisam, independente de sua condição social. O pluralismo ético, ou a diversidade de valores morais dominantes, inclusive entre pessoas de um mesmo país, como o Brasil, é um exemplo típico de diversidade, tornando difícil a busca de soluções harmônicas no que se refere aos problemas atuais, tais como: a doação de órgãos; transplantes, aborto, formas dignas de morrer, etc. O pluralismo ético dominante, e a necessidade de uma solução prática dos conflitos de caráter ético fez desabrochar oPrincipialismo como ensinamento e método mais difundido e aceito para a solução de problemas éticos de caráter BIOMÈDICO, criado por Beuchamps e Childress.(Goldim, 2005) O principialismo, de acordo com a versão mais conhecida de Beuchamp e Childress, em sua obra Principles of Biomedical Éthics, apresenta quatro princípios ou modelos básicos. · O princípio de respeito à pessoa, ou autonomia. · O Princípio de beneficência · O Princípio de não maleficência · O Princípio de Justiça BENEFICÊNCIA Convém lembrar que “o bem” e “o bom”, ou “o mal” e “o mau” são conceitos pivotais da prática médica. Além disso, agir bem, agir de forma correta ou usando as palavras de Aristoteles, “ser bom”, é tarefa da ética prática. Ser um bom profissional significa, antes de mais nada, saber interagir com o paciente, quer dizer, tratá-lo dignamente no seu corpo e respeitar os seus valores, crenças e desejos, o que torna o exercício profissional do cuidado a pessoa uma tarefa difícil e, as vezes, conflitante”. (Goldim, 2005) O profissional de saúde faz juízos terapêuticos e não pode também se eximir de fazer juízos morais. Os problemas humanos nunca são apenas e exclusivamente biológicos, mas também morais e espirituais. Joseph Butler, por exemplo, diz que existe no homem, de forma prioritária, um princípio natural de benevolência ou da procura e realização do bem aos outros, e que, do mesmo modo, temos propensão de cuidar da nossa própria vida, saúde e bens particulares. Esses autores criticam a teoria de Thomas Hobbes, que apresentava a natureza humana dominada por forças do egoísmo e da auto-conservação e da competição. Segundo alguns autores (Joseph Butler, Francis Hutcheson, David Hume e Jeremy Bentham), de uma forma geral a benevolência, forma mais generalizada da beneficência, tem as seguintes características: · É uma disposição emotiva que tenta fazer o bem aos outros; · É uma qualidade boa do caráter das pessoas, uma virtude; · É uma disposição de agir de forma correta; · De forma geral, todos os seres humanos normais a possuem. Porém, nem sempre “o bem” sob a ótica do profissional da saúde é “o bem” sob a ótica do paciente. Parte-se do pressuposto que “o bem” feito ao paciente deve ter uma relação risco/benefício positiva, ou seja, os benefícios devem superar os riscos em todas as ações terapêuticas propostas. Porém, sob a ótica do paciente, nem sempre uma proposta terapêutica proposta pela classe médica é boa, dependendo dos seus valores, de suas crenças, hábitos e costumes, do seu estilo de vida, religião, etc. Por exemplo, as testemunhas de Jeová não aceitam a transfusão de sangue. Se o médico estiver atuando em uma emergência, ele não precisa nem pedir autorização do paciente para salvar a sua vida, realizando a transfusão de sangue, por exemplo, porém se o procedimento for eletivo, a autorização do paciente é exigida e, portanto, o seu consentimento. Podemos citar, por exemplo, o uso do aparelho respirador para um paciente com insuficiência respiratória em fase terminal. Sob a ótica do profissional, poderia ser essa a melhor terapêutica para o paciente, ele passaria os últimos dias de sua vida em uma máquina de respiração, prolongando por alguns dias ou semanas a sua sobrevida. Mas será que sob a visão do paciente e seus familiares essa seria a melhor opção? Os mesmos questionamentos se aplicam às pesquisas realizadas em pacientes com AIDS. Não é porque a AIDS é uma doença sem cura que o paciente deve se submeter a qualquer tipo de pesquisa para ajudar encontrar uma solução para a doença. NÃO MALEFICÊNCIA O princípio de Não Maleficência é tradicional na prática médica, desde o período hipocrático já se determinava que o profissional deve usar de todo o seu conhecimento para não infringir um mal ao paciente. Hipócrates, já dizia, em 430 aC: “Tenha em mente duas coisas: socorra ou pelo menos não prejudique" A diferença entre a beneficência e não-maleficência é que na primeira há a obrigação de prevenir danos e na segunda a obrigação é de não causar danos”. Por outro lado, na medicina às vezes há necessidade de se causar “danos” para se evitar “danos maiores”. É o caso de uma amputação. A amputação não deixa de ser um dano, porém, com a finalidade de evitar um dano maior, que seria a morte do paciente. Um paciente com melanoma no braço precisa perder o braço para salvar a sua vida. Estes são casos típicos da denominação de Teoria Moral do Duplo- Efeito. Na época de Hipócrates, já se falava dos critérios de beneficência e não-maleficência. O médico tinha o dever de fazer o bem ao seu paciente e o paciente tinha a obrigação de aceitar passivamente as decisões do médico e suas prescrições. Essa é a denominação de paternalismo, ou seja, é o resultado assimétrico da relação médico-paciente, caracterizada pela fragilidade do paciente e pela força e autoritarismo do médico. Nessa relação desproporcional, o cuidado prestado anula a pessoa que é o objeto do mesmo, dando-se uma passagem despercebida do saber ao poder. Pois o médico, por acreditar ter o saber, acha que deve ter o poder, o que nos dias de hoje é inaceitável, pois o poder de decisão entre as práticas médicas devem ser compartilhadas entre o profissional e o paciente. Se a pessoa está inclinada a fazer o que é bom e a promover o bem-estar dos outros, ela mesma deveria tentar garantir essa capacidade de agir corretamente. Fazer uma boa opção é reconhecer o que é certo, e depois, realizá-lo. Saber o que é certo e agir de acordo com esse princípio é um ideal para todo o ser humano. Ter essa disposição de saber o que é bom e levá-lo à prática é possuir a virtude que Aristoteles chamava de Phroenesis, que os autores latinos traduziram paraPrudência. A Phroenesis ou Prudência pauta o agir pelo princípio da busca do que é bom e pela recusa do que é mau. A aplicação eticamente correta do princípio da beneficência e não-maleficência é o resultado do exercício da Phroenesisou Prudência. JUSTIÇA John Rawls considera que somente será justa a sociedade se “ todos os valores sociais - liberdade e oportunidades, ingressos e riquezas, assim como as bases sociais e o respeito a si mesmo – forem distribuídos de maneira igual, a menos que uma distribuição desigual de algum ou de todos esses valores redunde em benefício para todos, em especialpara os mais necessitados. O autor afirma ainda: “ A distribuição natural dos bens não é justa ou injusta; nem é injusto que os homens nasçam em algumas condições particulares dentro da sociedade. Estes são apenas fatos naturais. O que é justo ou injusto é o modo como as instituições sociais tratam desses fatos.” AUTONOMIA (Por Roberto Goldim, 2005) O Princípio do Respeito à Pessoa é central na Bioética. Tem algumas características que o compõe, tais como aprivacidade, a veracidade e a autonomia. Este princípio recebeu diferentes denominações, tais como Princípio do Respeito às Pessoas, Princípio do Consentimento ou Princípio da Autonomia, de acordo com diferentes autores em diferentes épocas. A utilização deste conceito básico assume diferentes perspectivas, desde as mais individualista até as que inserem o indivíduo no grupo social. Uma das bases teóricas utilizadas para o princípio da Autonomia é o pensamento de John Stuart Mill (1806-1883). Este autor propôs que Sobre si mesmo, sobre seu corpo e sua mente, o indivíduo é soberano. Em 1914, o Juiz Benjamim Cardozo, na sentença do caso Schloendorff, sobre uma cirurgia realizada com extensão superior à autorizada pela paciente, reforçou essa idéia. Na sua argumentação estabeleceu que: Todo ser humano de idade adulta e com plena consciência, tem o direito de decidir o que pode ser feito no seu próprio corpo. Kant, em sua obra Fundamentos da Metafísica dos Costumes, escrita em 1785, propôs o Imperativo Categórico. De acordo com esta proposta a autonomia não é incondicional, mas passa por um critério de universalidade. A autonomia da vontade é a constituição da vontade, pela qual ela é para si mesma uma lei - independentemente de como forem constituídos os objetos do querer. O princípio da autonomia é, pois, não escolher de outro modo, mas sim deste: que as máximas da escolha, no próprio querer, sejam ao mesmo tempo incluídas como lei universal. Para Emile Durkheim a Autonomia é a interiorização das normas. Jean Piaget caracterizava "Autonomia como a capacidade de coordenação de diferentes perspectivas sociais com o pressuposto do respeito recíproco". O Relatório Belmont, que estabeleceu às bases para a adequação ética da pesquisa nos Estados Unidos, denominava este princípio, Autonomia, como Princípio do Respeito às Pessoas. Nesta perspectiva propunha que a autonomia: Incorpora, pelo menos, duas convicções éticas: a primeira que os indivíduos devem ser tratados como agentes autônomos, e a segunda, que as pessoas com autonomia diminuída devem ser protegidas. Desta forma, divide-se em duas exigências morais separadas: a exigência do reconhecimento da autonomia e a exigência de proteger aqueles com autonomia reduzida. Uma pessoa autônoma é um indivíduo capaz de deliberar sobre seus objetivos pessoais e de agir na direção desta deliberação. Respeitar a autonomia é valorizar a consideração sobre as opiniões e escolhas, evitando, da mesma forma, a obstrução de suas ações, a menos que elas sejam claramente prejudiciais para outras pessoas. Demonstrar falta de respeito para com um agente autônomo é desconsiderar seus julgamentos, negar ao indivíduo a liberdade de agir com base em seus julgamentos, ou omitir informações necessárias para que possa ser feito um julgamento, quando não há razões convincentes para fazer isto. Nem todas as pessoas tem a capacidade de se auto-determinar. Esta capacidade matura durante a vida do indivíduo, e algumas pessoas perdem esta capacidade total ou parcialmente devido a doenças, distúrbios mentais ou circunstâncias que severamente restrinjam a liberdade. O respeito para com o imaturo e para com o incapaz pode requere sua proteção na medida que amadurecem ou enquanto estiverem incapazes." Beauchamp e Childress, reduziram o Princípio do Respeito à Pessoa para Autonomia. Estes autores admitem que a "autonomia tem diferentes significados, tão diversos como auto-determinação, direito de liberdade, privacidade, escolha individual, livre vontade, comportamento gerado pelo próprio indivíduo e ser propriamente uma pessoa". O conceito de Autonomia adquire especificidade no contexto de cada teoria. Virtualmente, todas as teorias concordam que duas condições são essenciais à autonomia: o liberdade (independência do controle de influências) e o ação (capacidade de ação intencional). Um indivíduo autônomo age livremente de acordo com um plano próprio, de forma análoga que um governo independente administra seu território e estabelece suas políticas. Uma pessoa com autonomia diminuída, de outra parte, é, pelo menos em algum aspecto, controlada por outros ou é incapaz de deliberar ou agir com base em seus desejos e planos. Por exemplo, pessoas institucionalizadas, tais como prisioneiros ou indivíduos mentalmente comprometidos tem autonomia reduzida. A incapacidade mental limita a autonomia assim como a institucionalização coercitiva dos prisioneiros, porém estes indivíduos continuam a merecer o respeito como pessoas. Charlesworth introduz uma perspectiva social para a autonomia do indivíduo, podendo conduzir à própria noção de cidadania. Este autor afirma que Ninguém está capacitado para desenvolver a liberdade pessoal e sentir-se autônomo se está angustiado pela pobreza, privado da educação básica ou se vive desprovido da ordem pública. Da mesma forma, a assistência à saúde básica é uma condição para o exercício da autonomia. Kamii também coloca a autonomia em uma perspectiva de vida em grupo. Para esta autora, que é fiilada à corrente piagetiana, a autonomia significa o indivíduo ser governado por si próprio. É o contrário de heteronomia, que significa ser governado pelos outros. A autonomia significa levar em consideração os fatores relevantes para decidir agir da melhor forma para todos. Não pode haver moralidade quando se considera apenas o próprio ponto de vista. Tristram Engelhardt propôs uma alteração da sua definição do princípio da autonomia, escrita em 1986, para uma nova forma denominada de Princípio do Consentimento, na sua segunda edição (1996). ...rebatizei o "princípio da autonomia" como o "princípio do consentimento" para indicar melhor que o que está em jogo não é algum valor possuído pela autonomia ou pela liberdade, mas o reconhecimento de que a autoridade moral secular deriva do consentimento dos envolvidos em um empreendimento comum. O princípio do consentimento coloca em destaque a circunstância de que, quando Deus não é ouvido por todos do mesmo modo (ou não é de maneira alguma ouvido por ninguém), e quando nem todos pertencem a uma comunidade perfeitamente integrada e definida, e desde que a razão não descubra uma moralidade canônica concreta, então a autorização ou autoridade moral secularmente justificável não vem de Deua, nem da visão moral de uma comunidade particular, nem da razão, mas do consentimento dos indivíduos. Nessa surdez a Deus e no fracasso da razão os estranhos morais encontram-se como indivíduos. O Princípio da Autonomia não pode mais ser entendido apenas como sendo a auto-determinação de um individuo, esta é apenas uma de suas várias possíveis leituras. A inclusão do outro na questão da autonomia trouxe, desde o pensamento de Kant, uma nova perspectiva que alia a ação individual com o componente social. Desta perspectiva que surge a responsabilidade pelo respeito à pessoa, que talvez seja a melhor denominação para este princípio. Estes são os conceitos que norteiam a Bioética.Vamos estudar cada um deles e entender como eles são aplicados na prática biomédica, para o bom exercício profissional, para o resguardo dos direitos dos pacientes, e para a correta aplicação da Bioética na prática médica. Referências Bibliográficas Beauchamp TL, Childress JF. Principles of Bioemdical Ethics.4ed. New York: Oxford, 1994:260. Cardozo, Benjamin. 1914. Dissenting opinion in Schloendorff v. Society of New York Hospital. 211 N.Y. 125, 105 N.E. 92. Charlesworth M. La bioética en una sociedad liberal. Cambridge: Cambridge, 1996:V,131. Engelhardt HT. Fundamentos de Bioética. São Paulo: Loyola, 1998:17. Kamii C. A criança e o número. Campinas: Papirus, 1985:103,108. Kant I. Fundamentos da metafísica dos costumes. Rio de Janeiro: Ediouro, sd:70-1,79. PERSPECTIVAS BIOÉTICAS EM SAÚDE Experimentação científica com seres humanos trouxe vários avanços para a saúde da humanidade nos últimos séculos, porém tem sido fonte de preocupação àqueles que estão atentos à preservação dos interesses das pessoas (seres humanos). Com o crescimento econômico mundial, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, o número de estudos biomédicos também cresceu enormemente. As notícias de sucesso desses estudos e as alegações de abusos também se multiplicaram. Essas pesquisas malsucedidas deram origem a vários escândalos públicos que indignaram a comunidade científica e a opinião pública do mundo inteiro. Portanto, embora os pesquisadores e médicos estivessem desenvolvendo nesta época, uma ciência adulta, apresentavam uma ética adolescente, pois apesar do crescimento científico estar presente no desenvolvimento da biotecnologia, a ética aplicada à ciência era insuficiente para dar sustentação a tal desenvolvimento. A Organização Panamericana de Saúde (OPS, 2001) afirmou que os médicos e pesquisadores, embora tenham competência em questões éticas, têm insuficiente formação ascética (formação do bom médico, do médico virtuoso) e insuficiente formação de etiqueta (normas de correção para exercer a medicina). É oportuno destacar que ao menos três casos excepcionais mobilizaram a opinião pública norte-americana e mundial para a questão do controle ético nas pesquisas envolvendo seres humanos: · Em 1963, três médicos, com aprovação do Diretor Clínico de um Hospital Judeu para enfermos com doenças crônicas (Nova Iorque -Brooklin), injetaram, por via subcutânea, células cancerosas vivas em 22 pacientes debilitados, sem avisá-los, ou aos seus familiares, que tais células estavam sendo usadas a título de experimentação para mensurar a capacidade dos seus organismos rejeitarem células estranhas; · Entre 1950 e 1970, em outro hospital de Nova Iorque, médicos injetaram vírus da hepatite em crianças com deficiência mental, visando a estudar a sua infectividade e a fisiopatologia da enfermidade; · De 1940 a 1972, no Tuskegee Study, em Alabama, EUA, cerca de 400 negros, a maioria analfabeta, com sífilis foram seguidos sem qualquer tratamento, visando a estabelecer a história natural da sífilis, apesar do surgimento, em larga escala, da penicilina, em 1945. Esse fato só foi descoberto em 1972. Portanto, um dos princípios da Bioética é trazer um embasamento ético pertinente com a finalidade de dar sustentação às novas situações criadas com o desenvolvimento técnico-científico, resultante das pesquisas científicas. Outra finalidade básica da Bioética é controlar os efeitos adversos provenientes da abertura indiscriminada de faculdades na área da saúde, que podem até oferecer um bom conteúdo programático, porém pecam por não oferecer uma boa formação ética aos seus alunos. Daí a necessidade atual da obrigatoriedade da disciplina de Bioética na área da saúde. A aguda crise na qualidade e nos valores do setor público de saúde brasileiro também colaborou para o desenvolvimento da Bioética. Os médicos, bem como os demais profissionais da saúde, tais como biomédicos, enfermeiros, auxiliares, técnicos, precisavam trabalhar em vários empregos para compor a renda, devido aos salários ínfimos. Por outro lado, os hospitais públicos no Brasil não apresentam infra- estrutura adequada para o exercício digno da medicina, sem falar na distribuição injusta de verbas públicas. As conseqüências deste panorama são refletidas na falta de condições mínimas de atendimento ao paciente, faltando-lhe o mínimo de dignidade. Observa-se nos hospitais públicos espalhados pelo país, ainda nos dias atuais, filas intermináveis, atendimento precário nos corredores, consultas rápidas e superficiais, falta de funcionários, desorganização e falta de manutenção de equipamentos e do próprio hospital. Para não perderem seus empregos e por não vislumbrarem novas perspectivas, os profissionais da saúde passam a exercer procedimentos que, a princípio, estão em desacordo com os seus valores e são contrárias às práticas aprendidas na graduação e às recomendações dos códigos profissionais, desagregando princípios e valores que eles próprios acham justos à convivência humana. Essa condição precária de saúde pública no Brasil, associada ao desenvolvimento de novos conhecimentos, culminou com a busca de novas discussões éticas, pois toda nova situação, quer seja ela cultural, social ou filosófica, ou todo novo invento científico, gera discussões. E essas discussões são as grandes responsáveis pelo retorno da Ética, subdividida em Ética Ambiental, Ètica nos Negócios e a Bioética . A Ética Ambiental se preocupa com a preservação das espécies do planeta e do próprio planeta. A Ética nos Negócios é uma bandeira levantada pela maioria das empresas idôneas que quer manter a competitividade nos seus negócios, e para isso, se mostra transparente e eticamente correta. As Empresas da atualidade demonstram não mais buscar lucros abusivos,manifestam maior preocupação com seus funcionários e com o impacto de seus produtos no meio ambiente. A BIOÈTICA surgiu para discutir assuntos polêmicos ligados à saúde, tais como a alocação de recursos na saúde pública, os transplantes de órgãos, a doação de órgãos, o aborto, a eutanásia, o patenteamento do genoma humano, a equidade no sistema único de saúde, entre outros. Ela procura a distribuição equânime de recursos alocados entre os diversos estabelecimentos de saúde, e discute assuntos que podem gerar conflitos de interesse. Portanto a BIOÉTICA é uma conceitualização em constante evolução. Deve estar atenta aos aspectos relacionados ao desenvolvimento da biotecnologia, que a princípio veio trazer melhoras na qualidade de vida das pessoas. A Bioética deve também se preocupar com as situações limítrofes do “nascer” e do “morrer”, bem como com os aspectos éticos das experimentações científicas. A BIOÉTICA não é uma disciplina que tem um saber universitário estanque, com definições e conteúdos cognitivos pré-determinados. A BIOÉTICA abre para discussões sobre questões humanas associadas aos valores, ao uso da biotecnologia, ao desenvolvimento da ciência aplicada. O ser humano, além de todas as formas de vida do planeta, é central na Bioética e, portanto, a sua formação, a sua história, a sua religião, e os seus valores devem ser preservados e respeitados. A finalidade primeira da BIOÉTICA é criar condições para que o respeito ao SER HUMANO seja preservado diante das diversas e atuais situações apresentadas pelo desenvolvimento científico. A BIOÉTICA veio para resgatar os valores perdidos pelos pacientes, que estavam sendo submetidos ao poder da classe médica, de forma paternalista. VOLNEI GARRAFA, um famoso bioeticista, cirurgião dentista, professor da Universidade Federal de Brasília, define assim a Bioética: “A Bioética apresenta-se como a procura de um comportamento responsável de parte daquelas pessoas que devem decidir tipos de tratamento e de pesquisa com relação à Humanidade...” Hoje, mais do que nunca, a medicina vem aceitando a religião como uma alavanca no processo de cura do paciente. A revista VEJA publicou uma reportagem sobre a importância de respeitar as crenças dos pacientes. Esta reportagem, postada em setembro de 2011, relata que médico americano Brian Berman, fundador do Centrode Medicina Integrativa da Universidade de Maryland, a primeira Universidade a abrir as portas para as terapias complementares, comanda um Centro de Pesquisas na Universidade, onde são atendidos anualmente cerca de 10.000 pessoas. As pesquisas realizadas têm a finalidade de comprovar a eficácia de Práticas Integrativas utilizadas como adjuvante ao tratamento convencional na medicina. Práticas Integrativas e Complementares são as técnicas que visam assistência e a saúde do indivíduo, seja na prevenção, tratamento ou cura, considerando-o como mente / corpo / espírito e não um conjunto de partes isoladas. Seu objetivo, portanto, é diferente daqueles da assistência alopática, também conhecida como medicina ocidental, em que a cura da doença deve ocorrer através da intervenção direta no órgão, ou parte doente. O uso das Práticas Integrativas e Complementares tem contribuído com o ganho em qualidade de vida de seus usuários. Na Universidade de Maryland a fila de espera é grande, pois os pacientes são respeitados na sua totalidade. Segundo o Dr Bermam, não se deve ter preconceitos. “É preciso atender o doente e não a doença”. Seus estudos comprovam que a fé tem efeitos positivos na saúde das pessoas. Uma pesquisa feita com ratos portadores de câncer foi realizada com a finalidade de avaliar a eficácia da prática integrativa (imposição das mãos - REIKE ou o JOHREI) na resposta imunológica destes. O estudo foi dividido em 3 grupos. No grupo A (controle) os ratos receberam a terapia convencional contra o câncer sem nenhuma intervenção integrativa. O Grupo B recebeu o tratamento convencional para o câncer mais a simulação da imposição das mãos, da seguinte forma: um par de luvas preenchidas com água morna era mantido na temperatura do corpo (37º ) por um tempo determinado, perto dos ratos em tratamento. No grupo C, os ratos recebiam a terapia convencional para o câncer mais a aplicação da imposição das mãos. Como resultado, a pesquisa mostrou que o grupo C apresentou uma resposta antitumoral 50% maior que os demais grupos provando, portanto, que a imposição das mãos é um importante adjuvante no tratamento de câncer. Agora, se considerarmos que o JOHREI, que é a imposição das mãos, tem um embasamento religioso e está associado à fé da pessoa no poder curativo da Luz que vem de Deus, temos que admitir que a fé, manifestada pelas práticas integrativas, é um poderoso adjuvante na cura do paciente. E a função da Bioética é exatamente aceitar as crenças dos pacientes, e validá-las junto à classe médica, validando o princípio da autonomia, central na Bioética. Portanto, a BIOÈTICA surgiu para exaltar as questões humanísticas do desenvolvimento científico, promovendo um alicerce para o desenvolvimento e resguardo da vida.
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