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Bioéticas. Todos os assuntos (1)

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BIOÉTICA EM SAÚDE 
INTRODUÇÃO 
A importância dos papéis representados pela Biossegurança e Bioética no contexto mundial da 
preservação da espécie é incontestável. Vale ressaltar que os recursos utilizados pela biotecnologia 
moderna são objeto de preocupação de ambas as disciplinas. Considerando-se que tanto os artefatos já 
produzidos, como os Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) e clones animais, quanto os ainda 
não produzidos, mas virtualmente possíveis, como os clones humanos, preocupa a população 
mundial que tenha um pouco mais de discernimento e conhecimento científico, pois, desde os primórdios 
da humanidade, toda nova descoberta científica é polemizada, até que se tenha a certeza da sua correta 
aplicação. Nesse aspecto, a Bioética e a Biossegurança podem ser consideradas indispensáveis para o 
desenvolvimento e aplicação de todo e qualquer novo invento. 
Na Medicina, Odontologia, Farmacologia, Biologia Celular ou qualquer outra área da saúde e 
bioengenharia não poderia ser diferente. Na medida em que os avanços tecnológicos se disponibilizam 
para a sua aplicação no mercado, mais conscientes dos riscos e benefícios devem estar os profissionais da 
saúde que os utilizam. 
A Biossegurança e a Bioética saem de uma visão meramente laboratorial e passam a se preocupar 
com a preservação das espécies do planeta. A Biossegurança é, portanto, o conjunto de ações voltadas 
para a prevenção, minimização ou eliminação de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, 
ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços. 
À medida que os recursos biotecnológicos vão se disponibilizando no mercado com a finalidade 
de melhorar a qualidade de vida das pessoas, mais conscientes devemos estar dos riscos e benefícios a 
que estamos sendo submetidos, tanto nós, profissionais da saúde quanto os pacientes. 
A Biossegurança e Bioética saíram de uma visão meramente laboratorial e se passaram a se 
preocupar com as consequências do desenvolvimento das novas tecnologias para o meio 
ambiente. Começaram a avaliar os riscos que podem comprometer a saúde do homem, dos animais, do 
meio ambiente ou e por consequencia, a qualidade dos trabalhos realizados. 
Em síntese, a Biossegurança, no sentido objetivo, possui seu foco voltado à segurança que deve 
estar associada à probabilidade aceitável do risco medido ou aferido. No sentido subjetivo, a 
Biossegurança deve estar associada ao sentimento (feeling) de bem-estar. Os dois sentidos, não devem 
ser dissociados, pois ambos são necessários para uma política de segurança legítima e eficaz. 
Em outras palavras, Bioética e Biossegurança se preocupam com a legitimidade, ou não, de se 
utilizar as novas tecnologias desenvolvidas pela bioengenharia para transformar a qualidade de vida das 
pessoas. Porém, estas disciplinas divergem entre si quanto à natureza e a qualidade de seus objetos de 
estudo. A Bioética preocupa-se com a análise imparcial dos argumentos morais em relação ao uso da 
Biotecnociência. A Biossegurança ocupa-se dos limites e da segurança em relação aos produtos e as 
técnicas biológicas empregadas, ou seja a Biossegurança se preocupa com a quantificação do risco que 
corremos enquanto estamos exercendo determinada atividade. Por outro lado, a Bioética se preocupa 
com os argumentos morais do uso de nova Biotecnologia. Sabemos, por exemplo, que com os avanços 
tecnológicos na medicina seria viável realizar uma inseminação artificial em uma senhora de 65 anos, 
porém será que esse procedimento pode ser considerado ético? Tecnicamente ele é viável, mas será 
ético? Aí entra o papel da Bioética que procura avaliar todos os aspectos do uso dessa tecnologia: 
aspectos psicológicos, aspecto social e antropológico, aspecto legal, religioso, científico e prático. A 
Bioética tem a finalidade procurar entender os costumes e a tradição do povo onde essa tecnologia está 
sendo aplicada, procurando analisar os aspectos religiosos envolvidos na questão, verificando a 
legitimidade do uso dessa tecnologia, e também a viabilidade científica de tal feito. Portanto a Bioética 
não possui uma determinação do que é certo ou errado. Ao contrário, ela se preocupa em adequar o uso 
da biotecnologia para preservação das espécies do planeta, respeitando a sua autonomia das pessoas, ou 
seja, o seu direito de fazer escolhas. Pois quanto mais conhecimentos o homem possui, maior a sua 
capacidade de discernimento e, portanto, maior é a sua capacidade de escolha, e por consequencia, 
maior a sua autonomia. A Bioética, enfim, se preocupa em preservar a autonomia do homem, esteja ele 
na condição de paciente ou de cidadão comum. Neste último caso, a Bioética está relacionada a Ética 
ambiental de preservação das espécies do planeta. 
Desde então, o conceito de risco tornou-se mais complexo e abrangente, graças, sobretudo, às 
análises epidemiológicas das doenças e das demais áreas da Saúde. Passou a ser concebido como uma 
verdadeira característica estrutural da sociedade pós-industrial. Esta transformação no conceito de risco 
afetou a concepção do papel da Biossegurança, que incorporou, inicialmente, a segurança contra os 
demais riscos presentes nas atividades de saúde, tais como riscos físicos, químicos, radioativos, 
ergonômicos, microbiológicos, entre outros. Em seguida, a Biossegurança integrou os riscos ambientais, o 
desenvolvimento sustentado, a preservação da biodiversidade e a avaliação dos prováveis impactos 
advindos da introdução de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) no meio ambiente. Pode-se 
assim dizer que, desde então, constituiu-se uma "nova lógica da Biossegurança que passou a ser uma das 
premissas que alicerçam os Programas de Gestão de Qualidade", razão pela qual "a Biossegurança saiu de 
uma discussão apenas no contexto laboratorial, onde medidas preventivas buscavam preservar a 
segurança do trabalhador e a qualidade do trabalho, para uma necessidade mais complexa de preservar 
as espécies do planeta ". 
Após a segunda guerra mundial, com a revolução industrial, os Riscos começaram a ser estudados 
mais profundamente. Passaram a ser quantificados classificados em riscos físicos, químicos, radioativos, 
ergonômicos, psicológicos (estresse), microbiológicos e ambientais. A Biossegurança passou a se 
preocupar com o desenvolvimento sustentado, com a biodiversidade e com o impacto dos organismos 
geneticamente modificados sobre o meio ambiente. E nessa época a Bioética surgiu como uma 
necessidade de se avaliar os argumentos morais do uso da biotecnologia, mesmo que a intenção fosse 
melhorar a qualidade de vida das pessoas. 
Em 1975, durante a Conferência de Asilomar (Califórnia), foi a primeira vez que se discutiu a 
legitimidade da utilização da tecnologia do DNA recombinante. Durante a Conferência, foi elaborada a 
primeira proposta de normas para este novo campo de atividades. Tal proposta se efetivou em 1976, 
quando o National Institute of Health (NIH) norte-americano promulgou as primeiras diretrizes de 
Biossegurança. Contudo, tais diretrizes referiam-se unicamente à segurança laboratorial e aos agentes 
patogênicos para seres humanos. Esta iniciativa norte-americana repercutiu em outros países como o 
Reino Unido, França, Alemanha e Japão20,21,22,23. Nessa época, a concepção sobre o papel da 
Biossegurança ainda era muito limitada, e basicamente restrita ao risco. Baseava-se apenas na 
implementação de normas e políticas de prevenção de riscos para os pesquisadores, além dos riscos para 
os sujeitos da pesquisa. 
Para entendermos o surgimento da Bioética precisamos conhecer a Ética. Ética é uma palavra de 
origem grega, com duas origens possíveis. Quando a palavra grega ETHOS é escrita com vogal curta (eta) 
que quer dizer morada do homem na Terra, casa, costumes tradicionais, busca do senso comum, 
conhecimento religioso, BUSCA DA SOBREVIVÊNCIA. 
 No ETHOS costume os valores são transmitidos de geraçãoem geração. A tradição procura a 
preservação ou continuidade da existência. No ETHOS costume, os valores são ‘dados’ estabelecidos 
como normas morais do grupo social , transmitidos de geração em geração. 
No latim o termo grego Ethicos foi traduzido por moralis (Moral). Mores significa “usos e 
costumes”. Porém isto não corresponde nem à nossa compreensão de ética, nem de moral. Iremos 
estudar mais adiante o que significa “Moral” 
Quando apalavra Ethos é escrita com epsylon (e longo) quer dizer caráter individual, índole 
individual, temperamento, conteúdo psicológico que molda estilo de vida, o agir moral, a consciencia 
ético. A busca do bem e do acabado. 
No ETHOS caráter, as características pessoais são representadas pelos sentimentos e atitudes 
individuais que levam a respeitar ou transgredir os valores da cidade (polis). 
A ética é o estudo geral do bem e do mau. Ela busca justificativas para as regras da Moral e do 
Direito, pois ela não estabelece regras. É a reflexão sobre a ação humana que as caracteriza. 
A palavra “Ethos” quando escrita com vogal curta (eta inicial) significa costume, tradição, senso 
comum, sabedoria dos velhos. Designa: morada do homem na terra (casa, abrigo protetor). Tem o sentido 
de Busca da sobrevivência. 
A Etica-costume é passada de geração em geração por meio dos rituais, principalmente os rituais 
religiosos, que prezam valores importantes para a boa convivência , portanto, para a sobrevivência. Ex. os 
valores religiosos passados na celebração do Natal (igreja católica). Esses valores morais são aprendidos 
com a tradição e com os rituais, sempre valorizando a sabedoria dos mais velhos. 
A palavra Ethos escrita com vogal longa (epsylon) significa caráter individual, qualidades pessoais 
para condutas e atitudes. Designa o senso do agir correto e benevolente. E possui o sentido da busca da 
perfeição, do bem e do acabado. 
A ética tem por objetivo facilitar a realização das pessoas. A ética se ocupa e pretende chegar à 
perfeição do ser humano. E ética existe em todas as sociedades humanas, e mesmo nos não-humanos 
mais próximos. 
A ética pode ser um conjunto de princípios e maneiras que guiam ou chamam para si a autoridade 
de guiar as ações de um grupo em particular. Ou pode ser entendida como o estudo sistemático da 
argumentação sobre como devemos agir. É extremamente importante saber diferenciar a Ética da Moral 
e do Direito. A ética é o estudo que se preocupa com o agir das pessoas, se o seu agir pode ser qualificado 
como “bom” ou “bem”, ou o seu oposto, como “mau” ou “mal”. Esse é o conteúdo da ética prática. 
Estas três áreas do conhecimento se distinguem, porém têm grandes vínculos e até mesmo 
sobreposições. Tanto a Moral como o Direito baseiam-se em regras que visam estabelecer uma certa 
previsibilidade para as ações humanas. Porém, ambas se diferenciam: 
A Moral estabelece regras que são assumidas pela pessoa como uma forma de garantir o seu 
bem-viver. É um conjunto de normas para o agir específico e concreto. Está contida nos Códigos que 
tendem a regular o agir das pessoas. Ex.: Código de Ética Médica. 
O Direito busca estabelecer o regramento de uma sociedade delimitada pelas fronteiras do 
Estado. As leis de uma base territorial valem apenas para aquela área geográfica, onde uma determinada 
população e seus delegados vivem. O Código Civil, que pe referencial utilizado no Brasil, baseia-se na lei 
escrita. 
Toda ação deve ser justificada pela ética, embasada nas códigos (moral) e alicerçada nas leis (Direito). 
 
 
 
BIOÉTICA E PESQUISA 
Experimentação científica com seres humanos trouxe vários avanços para a saúde da humanidade 
nos últimos séculos, porém tem sido fonte de preocupação àqueles que estão atentos à preservação dos 
interesses das pessoas (seres humanos). 
Com o crescimento econômico mundial, principalmente nos EUA no pós-guerra, o número de 
estudos biomédicos também cresceu enormemente. As notícias de sucesso desses estudos e as alegações 
de abusos também se multiplicaram. Essas pesquisas malsucedidas deram origem a vários escândalos 
públicos que indignaram a comunidade científica e a opinião pública do mundo inteiro. 
A Bioética surgiu para exaltar as questões humanísticas do esenvolvimento científico, 
promovendo um alicerce para o desenvolvimento e resguardo da vida. E por falar em pesquisa, A 
BIOÉTICA surgiu também para regulamentar a realização dessas pesquisas de forma digna para os sujeitos 
e também para os pesquisadores. 
Assim como toda ação deve ser justificada pela ética, embasada pela moral e respaldada pelas 
leis, as pesquisas também devem ser justificadas pela Ética. Nesse caso a Ética em pesquisa é 
representada pelo princípio de respeito à pessoa. 
A pesquisa deve se embasada pela Moral, que está contida nós códigos e normas desenvolvidas ao longos 
dos anos, após a segunda guerra mundial, como por exemplo a Declaração de Helsink, as Diretrizes 
Internacionais da Organização Mundial da Saúde, os Códigos Profissionais. 
As pesquisas devem também estar respaldadas pelas leis. Um exemplo de lei que regulamenta da 
realização de Pesquisas na Brasil é a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que dá todas as 
diretrizes para a realização de pesquisas com seres humanos.Assim como a Lei de Biossegurança CTNBio 
de 08/1997, que regulamenta das as pesquisas com OGM, por exemplo, ou pesquisas com DNA 
recombinante, ou com células tronco embrionárias, por exemplo. 
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939- 1945) foram cometidas muitas crueldades com prisioneiros de 
guerra em campos de concentração. Essas pessoas eram obrigadas a participar de experimentos que 
causavam sofrimento, dor extrema, deficiências físicas, problemas psicológicos e até a morte, 
demonstrando que os conflitos de interesse entre a ciência e a sociedade podem chegar a níveis 
insuportáveis, que ferem a dignidade humana. Com o fim da guerra, os países vencedores (Estados 
Unidos, Inglaterra, França e Rússia) criaram o Tribunal de Nüremberg, um Tribunal Militar Internacional, 
encarregado de julgar crimes contra a humanidade, cometidos durante o período de 1939 a 1945. Além 
de julgar vários criminosos de guerra, este tribunal elaborou também o Código de Nüremberg, o primeiro 
documento contendo diretrizes internacionais sobre a ética em pesquisa. Enfatiza a necessidade do 
consentimento voluntário e respeito à autonomia do participante da pesquisa. Este documento 
estabelece também que os participantes precisam ser informados acerca da pesquisa para terem o 
conhecimento necessário para sua decisão, e que esta deve ser livre de qualquer forma de coação. 
Neste código, foi a primeira vez que se falou em voluntariedade do sujeito em participar da 
pesquisa. Esta voluntariedade deveria ser expressada pelo Consentimento Informado.Falou-se também 
em respeito a autonomia, ou seja, o principio de respeito a pessoa, suas vontades deveriam se 
respeitadas, já que durante a 2ª guerra mundial, as pesquisas nos judeus foram feitas, independente de 
sua vontade. 
Esse código fala também da obrigatoriedade de revelação de informações, ou seja , o sujeito da 
pesquia tem o direito de saber dos riscos e benefícios a que está sendo submetido. E diante desta 
informação, poderá deliberar, ou seja fazer a sua escolha em participar ou não da pesquisa. 
O código de Nuremberg não era seguido pelos pesquisadores e cientistas da época. Este fato 
levou a Associação Médica Mundial (AMM) a elaborar, em sua 18ª Assembléia, realizada em Helsinque, 
Finlândia, onde foi descrita a Declaração de Helsinque, com o intuito de estabelecer critérios éticos para 
subsidiar as pesquisas na área médica. Apesar de voltado à área clínica, este documento traz aspectos 
comuns ao Código de Nüremberg, tais como a necessidade de qualificação profissional para o 
desenvolvimento de pesquisas, do esclarecimento do participanteem relação aos riscos e benefícios da 
pesquisa e da obtenção de seu livre consentimento. Frise-se que ao longo dos anos a Declaração de 
Helsinque tem sido Atualizada e encontra-se hoje em sua sexta versão, editada em 2008. Costa e Kottow 
chamam a atenção para o fato de que, desde 1999, têm ocorrido várias discussões com o intuito de 
modificar as diretrizes éticas deste documento e estabelecer o duplo padrão ético que consiste em 
permitir a realização em países periféricos (que não possuem normas específicas) de estudos com o uso 
de placebo em seres humanos, considerados eticamente inadmissíveis em países desenvolvidos. 
Com a versão de 2008, o uso do placebo passou a ser aceitável em situações em que o risco de 
dano não é considerado sério e também, o acesso dos sujeitos das pesquisas aos benefícios por elas 
gerados passaram a ser negociáveis. 
Embora não seja um documento internacional, o Relatório Belmont, elaborado entre 1974 e 1978 
pela Comissão Nacional para a Proteção de Sujeitos Humanos em Pesquisas Biomédicas e 
Comportamentais dos Estados Unidos, possui relevância mundial, pois contribuiu para a consolidação 
acadêmica da bioética e causou grande impacto ao revelar a persistência de situações eticamente 
questionáveis em pesquisas financiadas por órgãos governamentais daquele país. É importante lembrar 
que o documento trouxe três princípios que se tornaram clássicos para a bioética: autonomia ou respeito 
pelas pessoas, beneficência e a justiça. 
O princípio da autonomia significa respeitar o direito e a capacidade da pessoa de decidir, sem 
qualquer forma de coação, se deseja ou não participar da pesquisa, o que determina que o pesquisador 
tem a obrigação de informá-la em linguagem clara e de fácil entendimento em que consiste o estudo. 
Nesse sentido, Kottow alerta que não se pode confundir autonomia enquanto atributo antropológico 
universal com o exercício da autonomia, que depende de muitos fatores e relaciona-se à capacidade de 
discernimento e à condição de vulnerabilidade dos participantes da pesquisa. De acordo com Rivera, os 
princípios da beneficência e não maleficência são complementares, pois implicam na obrigatoriedade que 
a pesquisa tem de proporcionar o máximo de benefícios aos seus participantes, à sociedade e ao 
conhecimento científico com o mínimo de riscos possíveis. O princípio da justiça exige que os benefícios e 
os riscos da pesquisa sejam repartidos com equidade entre os participantes da pesquisa, tratando os 
indivíduos de acordo com as suas necessidades. 
 
A Resolução 196/96 possui relevância científica e social, uma vez que criou e normatizou um dos 
mais avançados sistemas de revisão e controle éticos de pesquisas envolvendo seres humanos da América 
Latina: o Sistema CEP/ Conep. Este sistema é constituído de instâncias regionais, os comitês de ética em 
pesquisa (CEP), e de uma instância federativa, a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), órgão 
nacional de controle de pesquisas envolvendo seres humanos. Além disso, esta resolução orienta quanto 
aos aspectos éticos que devem ser observados nos protocolos de pesquisa e determina que toda pesquisa 
que envolva seres humanos, independente da área do conhecimento, seja apreciada por um CEP. 
De acordo com a Resolução 196/96 18, a Conep é um órgão colegiado de natureza consultiva, 
deliberativa, educativa e independente, vinculado ao Conselho Nacional de Saúde e dotado de 
composição multi e transdisciplinar com pessoas de ambos os sexos. O Projeto de pesquisa deve em 
primeiro lugar gerar conhecimento, ou seja, o projeto de pesquisa deve trazer algo inovador tanto nos 
seus propósitos, quanto nos seus métodos de desenvolvimento. 
Esse novo conhecimento deve ter relevância científica, quer dizer, deve agregar valores ao 
conhecimento científico. Para que haja relevância científica, o projeto deve ser reprodutível em qualquer 
lugar do planeta, ou seja, o seu método deve estar muito bem discrimidanado para que qualquer outro 
pesquisador de qualquer lugar do mundo consiga reproduzir o evento. 
O projeto de pesquisa deve possuir exequibilidade, ou seja deve ser executável. E por fim o 
projeto de pesquisa deve, em toda instância, defender a vida. O projeto de pesquisa que ponha em risco a 
vida dos animais ou de qualquer de outro ser vivo não é aprovado pelos Comitês de Ética em Pesquisa.O 
princípio básico da pesquisa com seres humanos é princípio de respeito à pessoa 
É dever dos pesquisadores respeitar os sujeitos das pesquisas nos seus anseios, desejos e dúvidas, 
bem como na sua história de vida, nos seus valores e crenças, não realizando qualquer ato que lhe cause 
constrangimento estranheza. Respeitar as vontades dos sujeitos da pesquisa é um dos itens básicos para 
a sua realização. O sujeito da pesquisa deve receber todas as informações a respeito dos riscos e 
benefícios do seu desenvolvimento e estar ciente e apto para deliberar, ou seja, fazer a sua escolha 
voluntária, em participar ou não da pesquisa apesar dos riscos. O mesmo respeito deve ser atribuído aos 
animais e ao ecossistema. 
Pesquisas em animais não devem causar nenhum tipo de dor ou sofrimento e o número de 
animais utilizados na pesquisa deve ser calculado por métodos estatísticos para que seja usado o menor 
número possível para se obter uma rsposta ao questionamento realizado. 
Além do sujeito da pesquisa, o princípio de respeito à Pessoa estende-se ao pesquisador, à 
sociedade, e ao trabalhador. Enfim, a pesquisa deve respeitar os valores também do pesquisador, não 
deve colocá-lo em risco, assim como não deve colocar em risco a sociedade, ou o trabalhador (que são os 
técnicos envolvidos no processo de desenvolvimento da pesquisa). Portanto a pesquisa deve se 
preocupar também com a sociedade. Será que o produto da minha pesquisa traz algum risco à sociedade 
se for manipulada por pessoas não capacitadas? Será que o desenvolvimento desta pesquisa coloca em 
risco os trabalhadores nela envolvidos? 
 
Projeto de Pesquisa: Aspectos Éticos e Metodológicos 
(Por José Roberto Goldim) 
 
 O objetivo deste material é identificar os aspectos éticos e metodológicos envolvidos na elaboração 
ou avaliação de um projeto de pesquisa em saúde. O texto apresenta a estrutura básica de um projeto 
com as respectivas chamadas para as normas e diretrizes vigentes, especialmente, a Resolução 196/96 do 
Conselho Nacional de Saúde. 
 Todo projeto de pesquisa deve conter os seguintes elementos: 
 Identificação 
 Título 
 Autores 
 Locais de Origem e Realização 
 Introdução 
 Objetivos 
 Método 
 Cronograma 
 Orçamento 
 Referências 
 
Vale relembrar que um projeto de pesquisa não necessita ter um grande volume de páginas. A concisão 
na apresentação das idéias já é uma boa evidência de um planejamento adequado. O projeto não precisa 
ter uma capa ou folha de rosto, pode ser escrito como um texto único e sequancial, obviamente 
destacando os títulos e sub-títulos dos diferentes itens apresentados. O importante é que seja uma 
proposta clara e coerente. 
 
Identificação 
 O projeto sempre inicia com um bloco de informações de identificação, composto pelo Título, 
Autores e Locais de Origem e de Realização. 
Título 
 O Título deve ser claro, conciso e abrangente, permitindo uma compreensão inicial da sua finalidade. 
É a primeira forma de contato do leitor com o projeto, devendo ser considerado como um elemento 
importante na sua elaboração. Ao final da redação do projeto deve ser verificada a coerência entre o 
Título e os Objetivos. 
Autores 
 Todos os participantes que preencherem os critérios de autoria devem ser citados no projeto. Este é 
um procedimento eticamente adequado, baseado na fidelidade que deve existir entre os membros do 
grupo que realiza pesquisas em conjunto. Deve haver a clara indicação de quem éo pesquisador 
responsável pelo projeto. Vale relembrar que todos os autores devem ter qualificação acadêmica e 
científica compatível com a sua participação no projeto, assumindo a responsabilidade intelectual e 
científica pelo mesmo. 
Local de Origem e de Realização 
 A identificação do Local de Origem permite caracterizar a instituição, serviço, unidade, setor ou curso 
que avaliza o projeto, que o credencia para ser realizado. Quando o projeto for executado em outro local 
que não o de origem, deverá ser incluído, igualmente, o Local de Realização. O responsável pelo local de 
realização deve ser consultado previamente ao encaminhamento d projeto para análise por um Comitê 
de Ética em Pesquisa. Os projetos com patrocinadores ou planejados no exterior devem apresentar 
a aprovação por um comitê de ética no seu país de origem. 
Introdução 
 A Introdução situa o projeto no contexto do tema escolhido, deve permitir um nivelamento dos 
conhecimentos, possibilitando a compreensão do que vai ser apresentado ao longo do projeto. Pode 
conter um breve histórico sobre o tema a ser abordado, assim como as motivações que levaram os 
autores a proporem o presente projeto. 
 Alguns autores incluem neste item uma justificativa para a execução do projeto, podendo conter a 
descrição dos aspectos que caracterizem a relevância científica e social. A revisão bibliográfica contida na 
Introdução não necessita ser exaustiva, devendo, porém, conter as referências necessárias para o 
embasamento dos pressupostos do trabalho. A revisão deve permitir uma adequada compreensão do 
estado atual do conhecimento sobre o tema que será abordado. 
 Desde o ponto de vista da avaliação de aspectos éticos, a Introdução deve permitir caracterizar 
a importância do tema e a necessidade de realizar o presente projeto. A Introdução pode terminar com 
uma questão de pesquisa ou com a formulação de hipóteses. 
Objetivos 
 Os Objetivos caracterizam, de forma resumida, a finalidade do projeto. De acordo com a magnitude 
do projeto, os objetivos podem ser subdivididos em objetivo geral e objetivos específicos. 
 O Objetivo Geral define explicitamente o propósito do estudo. Os Objetivos Específicos caracterizam 
etapas ou fases do projeto, isto é, são um detalhamento do objetivo geral, e não a estratégia de análise 
dos dados. Desta forma, o conjunto dos objetivo específicos nunca deve ultrapassar a abrangência 
proposta no objetivo geral. Caso isto ocorra, todos os objetivos, geral e específicos, devem ser revistos e 
adequados uns aos outros. Nem todo projeto necessita o detalhamento de Objetivos Específicos. Muitas 
vezes basta apenas a caracterização de apenas um único Objetivo. 
 Os Objetivos devem ser redigidos utilizando verbos operacionais no infitivo, como forma de 
caracterizar diretamente as ações que são propostas pelo projeto. 
Método 
 Este item do projeto foi durante muito tempo chamado de Material e Métodos, Casuística e 
Métodos, ou ainda de Pacientes e Métodos. Estas denominações foram unificadas, com o objetivo de 
permitir o seu uso independentemente da fonte de dados que será utilizada. 
 O projeto deve apresentar o tipo de delineamento que será utilizado. Podem ser apresentados o 
fator em estudo e os desfechos previstos. 
 A caracterização da população a ser estudada e, quando for o caso, as técnicas de amostragem e os 
critérios de seleção, inclusão e exclusão utilizadas, devem constar de forma explícita. O cálculo do 
tamanho da amostra devem ser apresentados. Quando não for possível estabelece-lo, com base em 
estudos prévios, podem ser feitas estimativas de impacto ou efeito da intervenção ou de ocorrência do 
fator em estudo. No caso de estudos qualitativos devem ser apresentados os elementos necessários para 
caracterizar o volume de observações que serão realizadas. 
 Os aspectos éticos fundamentais neste item é a caracterização de que não haverá discriminação na 
seleção dos indivíduos nem a exposição a riscos desnecessáriosaos indivíduos. Quando forem 
pesquisados grupos de pessoas em estados ou condições especiais devem merecer cuidados 
diferenciados, tais como: gestantes, crianças e adolescentes, doentes 
mentais, prisioneiros, estudantes, militares, empregados de instituições de saúde, e membros de 
comunidades menos desenvolvidas. 
 Com relação ao método propriamente dito, devem ser descritas as técnicas, os procedimentos, os 
equipamentos e materiais necessários, a utilização de placebo, as variáveis consideradas, o tipo de 
coleta e interpretação de dados a ser empregado, e as formas de suspensão e interrupção do projeto. Os 
aspectos estatísticos, quando for o caso, tanto no que diz respeito a técnicas descritivas quanto 
aos testes a serem utilizados devem estar discriminados. Um modelo da ficha de coleta de dados a ser 
utilizada pode ser anexada ao final do projeto. A utilização de materiais biológicos deve ter cuidados 
especiais, mesmo quando se utilizam restos de materiais colhidos para fins assistenciais, que seriam 
habitualmente descartadas. 
 No item Método devem ser esclarecidos os aspectos éticos relatios ao projeto. Os essenciais são a 
adequada avaliação da relação risco-benefício, a obtenção do consentimento informado e a garantia da 
preservação da privacidade. A avaliação da relação risco-benefício deve ser feita utilizando dados 
internacionais e locais. Quando houver a utilização de grupos comparativos deve ser avaliada a existência 
de equipolência entre as diferentes intervenções. A forma de obtenção do Consentimento 
Informado deve ser descrita e o modelo do Termo de Consentimento que será utilizado deve ser anexado 
ao projeto. O autores também devem dar garantias depreservação dos dados, da confidencialidade e do 
anonimato dos indivíduos pesquisados. Quando o projeto utilizar dados secundários, como por exemplo, 
dados de prontuários de pacientes ou de bases de dados, os pesquisadores devem se comprometer 
formalmente com a garantia da privacidade destas informações. 
Cronograma 
 Todo projeto de pesquisa tem um prazo para ser realizado. O cronograma expressa a 
compatibilização das atividades propostas com o tempo previsto para a realização do projeto como um 
todo. Este pode ser subdividido em grandes etapas, tais como: planejamento, execução e divulgação. O 
cronograma permite aos autores avaliarem continuamente o andamento do projeto e a disponibilidade 
de tempo ainda existente. 
Orçamento 
 O orçamento relaciona os recursos financeiros a serem utilizados ao longo de todo o projeto. Os itens 
básicos, habitualmente descritos, são: material permanente, material de consumo, serviços de terceiros e 
recursos humanos, incluindo-se neste último as bolsas e eventual remuneração . A caracterização das 
fontes de financiamento - internas, externas: patrocínio privado, agencias de fomento, doações - da 
participação de diferentes parceiros, do eventual ressarcimento de despesas aos indivíduos pesquisados, 
desde que não caracterize uma indução à participação, e a remuneração para os próprios 
pesquisadores deve ser apresentada. Estas informações permitem esclarecer possíveis conflitos de 
interesses. 
Referências 
 A adequada citação do material bibliográfico utilizado é um dos pressupostos éticos da produção 
científica. As Referências permitem ao leitor do projeto verificar asfontes de informações usadas na 
elaboração do projeto, permitindo recuperar e confrontar dados. Independentemente do padrão de 
referência utilizado, o importante é que elas sejam apresentadas de forma completas e uniforme. 
O padrão Vancouver é o mais utilizado atualmente. As Referências devem ser lidas criticamente, devem 
ter confiabilidade e devem ser adequadamentedocumentadas. Um cuidado especial deve ser tomado 
com relação a fontes eletrônicas, especialmente as provenientes da Internet. Todas elas devem ser 
referidas com a data da consulta e impressas para documentação, pois são feitas muitas modificações 
neste tipo de meio. 
 
 
 
DISCUSSÕES ÉTICAS 
Houve uma época em que falar de ÉTICA era fora de moda. O legal era ser esperto, aplicar a lei de 
Gerson, ou seja, conseguir tirar vantagem em todas as suas atitudes, fossem elas comerciais , 
profissionais ou pessoais. Atualmente, cada vez mais as pessoas estão buscando a ÉTICA. Ouve-se falar 
em ética nos negócios, ética ambiental, ética nas relações, ética na política. Mas porque houve a 
necessidade premente de se buscar a ética? 
Porque estamos na era das comunicações, onde as informações são instantaneamente passadas 
de um continente a outro em segundos, nada mais fica encoberto. Portanto, há uma perplexidade diante 
das informações que entram nas nossas casas, por meio da televisão e da internet. Esses veículos de 
comunicação permitem que informações sobre corrupção e violência invadam nossos lares causando 
perplexidade nas pessoas, pois compartilham de atos e atitudes que vão contra os seus valores e 
princípios, causando uma indignação dos grupos humanos, levando-os a ter um posicionamento moral 
básico. 
 Portanto o retorno à Ética é uma reação mundial a essa invasão. Há uma resgate sobre a reflexão 
moral, com uma retomada da discussão ética sobre os acontecimentos que escandalizam o mundo em 
busca do reequilíbrio dos juízos e valores que são tão caros e indispensáveis à sobrevivência e a 
estabilidade dos povos e entre os povos. Como já vimos anteriormente, a ética é a busca da 
sobrevivência. Portanto, atos e atitudes ou situações que nos indignam fazem-nos ir em busca do que 
é correto, justo e acabado, como uma forma de ir em busca da sobrevivência. Portanto, o primeiro motivo 
do retorno à ética é um motivo reacional 
O segundo motivo de retorno à ética refere-se aos escândalos políticos que ocorreram no mundo 
inteiro, principalmente após a 2ª Grande Guerra Mundial, como, por exemplo, o caso Watergate no EUA. 
O caso Watergate é o mais conhecido escândalo político da história americana, e "Garganta Profunda" é a 
fonte anônima mais famosa do jornalismo. 
Foi um caso de espionagem nas eleições para presidente nos EUA, em 1972. Refere-se especificamente ao 
edifício Watergate, em Washington DC, que abriga um hotel e vários escritórios. Foi nesse prédio que 
cinco homens foram presos ao tentar colocar escuta nos escritórios do Comitê Nacional Democrata. Esses 
homens faziam parte do Comitê para Reeleger o Presidente Nixon. Bob Woodward e Carl Berntein, dois 
repórteres do Washington Post, começaram a investigar o então já chamado caso Watergate. Durante 
muitos meses, os dois repórteres estabeleceram as ligações entre a Casa Branca e o assalto ao edifício de 
Watergate. Eles foram informados por uma pessoa conhecida apenas por Garganta Profunda(Deep 
Throat) que revelou que o presidente sabia das operações ilegais. 
O terceiro motivo do retorno à Ética refere-se às consequências negativas da Liberalidade, 
advinda da revolução sexual dos anos 70, onde as pessoas só pensavam nos seus direitos e 
negligenciavam suas obrigações, desenvolvendo hábitos e costumes que determinaram a destruição do 
meio ambiente, a exclusão social dos pobres, a difusão internacional das drogas, a promiscuidade sexual 
e, por consequencia, a disseminação da AIDS. A geração hippie que viveu após a revolução dos anos 70, 
educou seus filhos com demasiada liberdade, tanto que chegavam a confundir liberdade com liberalidade 
e, portanto transformaram-se em adultos irresponsáveis, que não respeitam o meio ambiente, que 
excluem os pobres, que usam drogas, que são promíscuos e que por tudo isso ficaram mais propensos a 
desenvolver vários distúrbios de comportamento que, muitas vezes levaram ao desenvolvimento 
de doenças psiquiátricas, principalmente a depressão. 
Outra razão do retorno à Ética é a reação das pessoas aos contratos inaceitáveis, a chamada razão 
reacional, com um necessidade de resgatar os valores morais que vinham sendo bombardeados pela 
violência, pela corrupção, ou pelo autoritarismo e paternalismo na medicina. Enfim, a reação à opressão 
foi o estopim ao retorno à Ética. 
 A quarta razão é uma razão consequencial, ou seja, como consequência do desenvolvimento da 
biotecnologia. Neste caso o desenvolvimento tecnológico trouxe uma necessidade de se estabelecer 
parâmetros referencias aplicados às novas descobertas técnico-científicas que estão sendo desenvolvidas 
para melhorar a qualidade de vida das pessoas, tais como: 
 · A inseminação artificial; 
 · Os transplantes de órgãos e tecidos 
 · O patenteamento de seres vivos 
 · As pesquisas com seres humanos 
 · Os limites entre a vida e a morte. 
Como consequencia ao retorno à Ética, surgiu a BIOÉTICA. 
A BIOÉTICA surgiu da necessidade da população em contestar contratos inaceitáveis, ou situações 
que desagregam valores da população. Alguns autores começaram a definir o termo Bioética. O primeiro 
foi o cancerologista Van Potter. É fundamental notar que o importante para Potter é manter na Bioética 
as características fundamentais: ampla abrangência, pluralismo, interdisciplinaridade, abertura e 
incorporação crítica de novos conhecimentos. 
Portanto, podemos concluir que a Bioética não surgiu como uma nova disciplina que foi criada 
para resolver os dilemas do desenvolvimento da biotenologia, nem como uma disciplina dinamizadora da 
deontologia médica cujos currículos estão obsoletos e com códigos de ética ultrapassados. A bioética 
surgiu do reconhecimento da população sobre os seus direitos. Surgiu também como uma necessidade 
dos pacientes em rejeitar o poder da classe médica, imposta pelo seu paternalismo. Ou seja, a população 
por ter mais acesso à informação não aceita mais contratos precários, ao mesmo tempo que o paciente, 
também devido ao acesso à informação, ficou mais consciente dos seus direitos, da sua autonomia e não 
aceita mais a postura paternalista da classe médica. 
A confirmação prática desse retorno à Ética na saúde apresenta-se na multiplicação dos Comitês 
de Ética em níveis nacionais, intercontinentais, regionais, hospitalares. Houve também a criação dessa 
nova disciplina, Bioética, nas Universidades. A criação da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa 
(CONEP). Esse é um Órgão governamental, que regulamenta, inspeciona, atualiza e fiscaliza todos os 
Comitês de Ética em Pesquisa das Universidades e centros de pesquisa, em nível nacional. 
Existe uma rede eficaz de troca de informações entre os comitês de ética e a Comissão Nacional 
de Ética em Pesquisa (CONEP). Atualmente a CONEP é ligada ao Conselho Nacional de Saúde, porém, seus 
representantes não são funcionários de ministério e sim representantes da sociedade. 
As revistas científicas são uma confirmação do retorno da ética na saúde. Assim como o interesse 
do Governo e de Instituições Públicas e Privadas, Religiosas e Leigas em formar comitês de ética em 
pesquisa. 
Assim a necessidade de retorno à Ética deu origem à várias modadlidades de ética: 
 Ética nos Negócios 
 Ética Ambeintal 
 Bioética 
 
 
BIOÉTICA - Conceitos 
Uma definição mais atual do termo BIOÉTICA foi proposta pelo Programa Nacional de Bioética da 
Organização Pan-Americana de Saúde, em 2001, que diz assim: 
“A Bioética é o uso criativo do diálogo para formular, articular e na medida do possível, resolver os 
dilemas que são propostos pela investigação e pela intervenção sobre a vida, sobre a saúde e sobre 
o meio ambiente”. 
A visão do Programa Regional de Bioética da OrganizaçãoPanamericana de Saúde é ampla, 
pluralista, interdisciplinar, que propõe a solução de dilemas advindos da investigação científica na saúde e 
meio ambiente. 
Volnei Garafa, um cirurgião dentista, professor titular de Disciplina de Bioética da Universidade de 
Brasília, Vice-Presidente da Comissão Brasileira de Bioética, propõe o termo Bioética como: 
 "Uma resultante moral do conjunto de decisões e medidas políticas, sanitárias, individuais e 
coletivas que proporcionam o aumento da cidadania e a diminuição da exclusão social." 
Portanto, vários são os autores que tentam dar uma definição à Bioética. Chegam a um consenso: 
A Bioética é uma reflexão de caráter transdisciplinar, focalizada prioritariamente no fenômeno “vida 
humana”, ligada aos grandes avanços tecnológicos das ciências biomédicas, e do cuidado à saúde de 
todas as pessoas que dela precisam, independente de sua condição social. 
O pluralismo ético, ou a diversidade de valores morais dominantes, inclusive entre pessoas de um 
mesmo país, como o Brasil, é um exemplo típico de diversidade, tornando difícil a busca de soluções 
harmônicas no que se refere aos problemas atuais, tais como: a doação de órgãos; transplantes, aborto, 
formas dignas de morrer, etc. 
O pluralismo ético dominante, e a necessidade de uma solução prática dos conflitos de caráter 
ético fez desabrochar oPrincipialismo como ensinamento e método mais difundido e aceito para a 
solução de problemas éticos de caráter BIOMÈDICO, criado por Beuchamps e Childress.(Goldim, 2005) 
 O principialismo, de acordo com a versão mais conhecida de Beuchamp e Childress, em sua 
obra Principles of Biomedical Éthics, apresenta quatro princípios ou modelos básicos. 
· O princípio de respeito à pessoa, ou autonomia. 
· O Princípio de beneficência 
· O Princípio de não maleficência 
· O Princípio de Justiça 
 
 
 
BENEFICÊNCIA 
Convém lembrar que “o bem” e “o bom”, ou “o mal” e “o mau” são conceitos pivotais da prática 
médica. Além disso, agir bem, agir de forma correta ou usando as palavras de Aristoteles, “ser bom”, é 
tarefa da ética prática. 
Ser um bom profissional significa, antes de mais nada, saber interagir com o paciente, quer dizer, 
tratá-lo dignamente no seu corpo e respeitar os seus valores, crenças e desejos, o que torna o exercício 
profissional do cuidado a pessoa uma tarefa difícil e, as vezes, conflitante”. (Goldim, 2005) 
O profissional de saúde faz juízos terapêuticos e não pode também se eximir de fazer juízos morais. 
Os problemas humanos nunca são apenas e exclusivamente biológicos, mas também morais e espirituais. 
Joseph Butler, por exemplo, diz que existe no homem, de forma prioritária, um princípio natural de 
benevolência ou da procura e realização do bem aos outros, e que, do mesmo modo, temos propensão de 
cuidar da nossa própria vida, saúde e bens particulares. 
Esses autores criticam a teoria de Thomas Hobbes, que apresentava a natureza humana dominada 
por forças do egoísmo e da auto-conservação e da competição. 
Segundo alguns autores (Joseph Butler, Francis Hutcheson, David Hume e Jeremy Bentham), de uma 
forma geral a benevolência, forma mais generalizada da beneficência, tem as seguintes características: 
 · É uma disposição emotiva que tenta fazer o bem aos outros; 
 · É uma qualidade boa do caráter das pessoas, uma virtude; 
 · É uma disposição de agir de forma correta; 
 · De forma geral, todos os seres humanos normais a possuem. 
 
Porém, nem sempre “o bem” sob a ótica do profissional da saúde é “o bem” sob a ótica do paciente. 
Parte-se do pressuposto que “o bem” feito ao paciente deve ter uma relação risco/benefício positiva, 
ou seja, os benefícios devem superar os riscos em todas as ações terapêuticas propostas. Porém, sob a 
ótica do paciente, nem sempre uma proposta terapêutica proposta pela classe médica é boa, 
dependendo dos seus valores, de suas crenças, hábitos e costumes, do seu estilo de vida, religião, etc. 
Por exemplo, as testemunhas de Jeová não aceitam a transfusão de sangue. Se o médico estiver 
atuando em uma emergência, ele não precisa nem pedir autorização do paciente para salvar a sua vida, 
realizando a transfusão de sangue, por exemplo, porém se o procedimento for eletivo, a autorização do 
paciente é exigida e, portanto, o seu consentimento. 
Podemos citar, por exemplo, o uso do aparelho respirador para um paciente com insuficiência 
respiratória em fase terminal. Sob a ótica do profissional, poderia ser essa a melhor terapêutica para o 
paciente, ele passaria os últimos dias de sua vida em uma máquina de respiração, prolongando por alguns 
dias ou semanas a sua sobrevida. Mas será que sob a visão do paciente e seus familiares essa seria a 
melhor opção? 
Os mesmos questionamentos se aplicam às pesquisas realizadas em pacientes com AIDS. Não é 
porque a AIDS é uma doença sem cura que o paciente deve se submeter a qualquer tipo de pesquisa para 
ajudar encontrar uma solução para a doença. 
 
NÃO MALEFICÊNCIA 
 
O princípio de Não Maleficência é tradicional na prática médica, desde o período hipocrático já se 
determinava que o profissional deve usar de todo o seu conhecimento para não infringir um mal ao 
paciente. Hipócrates, já dizia, em 430 aC: “Tenha em mente duas coisas: socorra ou pelo menos não 
prejudique" 
A diferença entre a beneficência e não-maleficência é que na primeira há a obrigação de prevenir 
danos e na segunda a obrigação é de não causar danos”. 
Por outro lado, na medicina às vezes há necessidade de se causar “danos” para se evitar “danos 
maiores”. É o caso de uma amputação. A amputação não deixa de ser um dano, porém, com a finalidade 
de evitar um dano maior, que seria a morte do paciente. Um paciente com melanoma no braço precisa 
perder o braço para salvar a sua vida. Estes são casos típicos da denominação de Teoria Moral do Duplo-
Efeito. 
Na época de Hipócrates, já se falava dos critérios de beneficência e não-maleficência. O médico tinha 
o dever de fazer o bem ao seu paciente e o paciente tinha a obrigação de aceitar passivamente as 
decisões do médico e suas prescrições. Essa é a denominação de paternalismo, ou seja, é o resultado 
assimétrico da relação médico-paciente, caracterizada pela fragilidade do paciente e pela força 
e autoritarismo do médico. Nessa relação desproporcional, o cuidado prestado anula a pessoa que é o 
objeto do mesmo, dando-se uma passagem despercebida do saber ao poder. Pois o médico, por acreditar 
ter o saber, acha que deve ter o poder, o que nos dias de hoje é inaceitável, pois o poder de decisão entre 
as práticas médicas devem ser compartilhadas entre o profissional e o paciente. 
Se a pessoa está inclinada a fazer o que é bom e a promover o bem-estar dos outros, ela mesma 
deveria tentar garantir essa capacidade de agir corretamente. Fazer uma boa opção é reconhecer o que é 
certo, e depois, realizá-lo. Saber o que é certo e agir de acordo com esse princípio é um ideal para todo o 
ser humano. Ter essa disposição de saber o que é bom e levá-lo à prática é possuir a virtude que 
Aristoteles chamava de Phroenesis, que os autores latinos traduziram paraPrudência. 
A Phroenesis ou Prudência pauta o agir pelo princípio da busca do que é bom e pela recusa do que é 
mau. 
A aplicação eticamente correta do princípio da beneficência e não-maleficência é o resultado do 
exercício da Phroenesisou Prudência. 
JUSTIÇA 
John Rawls considera que somente será justa a sociedade se “ todos os valores sociais - liberdade 
e oportunidades, ingressos e riquezas, assim como as bases sociais e o respeito a si mesmo – forem 
distribuídos de maneira igual, a menos que uma distribuição desigual de algum ou de todos esses valores 
redunde em benefício para todos, em especialpara os mais necessitados. 
 O autor afirma ainda: 
“ A distribuição natural dos bens não é justa ou injusta; nem é injusto que os homens nasçam em 
algumas condições particulares dentro da sociedade. Estes são apenas fatos naturais. O que é justo ou 
injusto é o modo como as instituições sociais tratam desses fatos.” 
 
AUTONOMIA 
(Por Roberto Goldim, 2005) 
 
O Princípio do Respeito à Pessoa é central na Bioética. Tem algumas características que o compõe, 
tais como aprivacidade, a veracidade e a autonomia. Este princípio recebeu diferentes denominações, tais 
como Princípio do Respeito às Pessoas, Princípio do Consentimento ou Princípio da Autonomia, de 
acordo com diferentes autores em diferentes épocas. A utilização deste conceito básico assume 
diferentes perspectivas, desde as mais individualista até as que inserem o indivíduo no grupo social. 
Uma das bases teóricas utilizadas para o princípio da Autonomia é o pensamento de John Stuart 
Mill (1806-1883). Este autor propôs que 
Sobre si mesmo, sobre seu corpo e sua mente, o indivíduo é soberano. 
 
Em 1914, o Juiz Benjamim Cardozo, na sentença do caso Schloendorff, sobre uma cirurgia realizada com 
extensão superior à autorizada pela paciente, reforçou essa idéia. Na sua argumentação estabeleceu que: 
Todo ser humano de idade adulta e com plena consciência, tem o direito de decidir o que pode ser feito 
no seu próprio corpo. 
 
Kant, em sua obra Fundamentos da Metafísica dos Costumes, escrita em 1785, propôs o Imperativo 
Categórico. De acordo com esta proposta a autonomia não é incondicional, mas passa por um critério de 
universalidade. 
A autonomia da vontade é a constituição da vontade, pela qual ela é para si mesma uma lei - 
independentemente de como forem constituídos os objetos do querer. O princípio da autonomia é, pois, 
não escolher de outro modo, mas sim deste: que as máximas da escolha, no próprio querer, sejam ao 
mesmo tempo incluídas como lei universal. 
 
Para Emile Durkheim a Autonomia é a interiorização das normas. Jean Piaget caracterizava "Autonomia 
como a capacidade de coordenação de diferentes perspectivas sociais com o pressuposto do respeito 
recíproco". 
O Relatório Belmont, que estabeleceu às bases para a adequação ética da pesquisa nos Estados Unidos, 
denominava este princípio, Autonomia, como Princípio do Respeito às Pessoas. Nesta 
perspectiva propunha que a autonomia: 
Incorpora, pelo menos, duas convicções éticas: a primeira que os indivíduos devem ser tratados como 
agentes autônomos, e a segunda, que as pessoas com autonomia diminuída devem ser protegidas. 
Desta forma, divide-se em duas exigências morais separadas: a exigência do reconhecimento da 
autonomia e a exigência de proteger aqueles com autonomia reduzida. 
 
Uma pessoa autônoma é um indivíduo capaz de deliberar sobre seus objetivos pessoais e de agir na 
direção desta deliberação. Respeitar a autonomia é valorizar a consideração sobre as opiniões e escolhas, 
evitando, da mesma forma, a obstrução de suas ações, a menos que elas sejam claramente prejudiciais 
para outras pessoas. Demonstrar falta de respeito para com um agente autônomo é desconsiderar seus 
julgamentos, negar ao indivíduo a liberdade de agir com base em seus julgamentos, ou omitir 
informações necessárias para que possa ser feito um julgamento, quando não há razões convincentes 
para fazer isto. 
Nem todas as pessoas tem a capacidade de se auto-determinar. Esta capacidade matura durante a vida 
do indivíduo, e algumas pessoas perdem esta capacidade total ou parcialmente devido a doenças, 
distúrbios mentais ou circunstâncias que severamente restrinjam a liberdade. O respeito para com o 
imaturo e para com o incapaz pode requere sua proteção na medida que amadurecem ou enquanto 
estiverem incapazes." 
Beauchamp e Childress, reduziram o Princípio do Respeito à Pessoa para Autonomia. Estes autores 
admitem que a "autonomia tem diferentes significados, tão diversos como auto-determinação, direito de 
liberdade, privacidade, escolha individual, livre vontade, comportamento gerado pelo próprio indivíduo e 
ser propriamente uma pessoa". 
O conceito de Autonomia adquire especificidade no contexto de cada teoria. Virtualmente, todas as 
teorias concordam que duas condições são essenciais à autonomia: 
o liberdade (independência do controle de influências) e 
o ação (capacidade de ação intencional). 
Um indivíduo autônomo age livremente de acordo com um plano próprio, de forma análoga que um 
governo independente administra seu território e estabelece suas políticas. Uma pessoa com autonomia 
diminuída, de outra parte, é, pelo menos em algum aspecto, controlada por outros ou é incapaz de 
deliberar ou agir com base em seus desejos e planos. Por exemplo, pessoas institucionalizadas, tais como 
prisioneiros ou indivíduos mentalmente comprometidos tem autonomia reduzida. A incapacidade mental 
limita a autonomia assim como a institucionalização coercitiva dos prisioneiros, porém estes indivíduos 
continuam a merecer o respeito como pessoas. 
Charlesworth introduz uma perspectiva social para a autonomia do indivíduo, podendo conduzir à própria 
noção de cidadania. Este autor afirma que 
Ninguém está capacitado para desenvolver a liberdade pessoal e sentir-se autônomo se está 
angustiado pela pobreza, privado da educação básica ou se vive desprovido da ordem pública. Da 
mesma forma, a assistência à saúde básica é uma condição para o exercício da autonomia. 
Kamii também coloca a autonomia em uma perspectiva de vida em grupo. Para esta autora, que é fiilada 
à corrente piagetiana, a autonomia significa o indivíduo ser governado por si próprio. É o contrário de 
heteronomia, que significa ser governado pelos outros. A autonomia significa levar em consideração os 
fatores relevantes para decidir agir da melhor forma para todos. Não pode haver moralidade quando se 
considera apenas o próprio ponto de vista. 
Tristram Engelhardt propôs uma alteração da sua definição do princípio da autonomia, escrita em 1986, 
para uma nova forma denominada de Princípio do Consentimento, na sua segunda edição (1996). 
...rebatizei o "princípio da autonomia" como o "princípio do consentimento" para indicar melhor que o que 
está em jogo não é algum valor possuído pela autonomia ou pela liberdade, mas o reconhecimento de que 
a autoridade moral secular deriva do consentimento dos envolvidos em um empreendimento comum. O 
princípio do consentimento coloca em destaque a circunstância de que, quando Deus não é ouvido por 
todos do mesmo modo (ou não é de maneira alguma ouvido por ninguém), e quando nem todos 
pertencem a uma comunidade perfeitamente integrada e definida, e desde que a razão não descubra uma 
moralidade canônica concreta, então a autorização ou autoridade moral secularmente justificável não 
vem de Deua, nem da visão moral de uma comunidade particular, nem da razão, mas do consentimento 
dos indivíduos. Nessa surdez a Deus e no fracasso da razão os estranhos morais encontram-se como 
indivíduos. 
 
O Princípio da Autonomia não pode mais ser entendido apenas como sendo a auto-determinação de um 
individuo, esta é apenas uma de suas várias possíveis leituras. A inclusão do outro na questão da 
autonomia trouxe, desde o pensamento de Kant, uma nova perspectiva que alia a ação individual com o 
componente social. Desta perspectiva que surge a responsabilidade pelo respeito à pessoa, que talvez 
seja a melhor denominação para este princípio. 
Estes são os conceitos que norteiam a Bioética.Vamos estudar cada um deles e entender como 
eles são aplicados na prática biomédica, para o bom exercício profissional, para o resguardo dos direitos 
dos pacientes, e para a correta aplicação da Bioética na prática médica. 
 
Referências Bibliográficas 
 
Beauchamp TL, Childress JF. Principles of Bioemdical Ethics.4ed. New York: Oxford, 1994:260. 
Cardozo, Benjamin. 1914. Dissenting opinion in Schloendorff v. Society of New York Hospital. 211 N.Y. 
125, 105 N.E. 92. 
Charlesworth M. La bioética en una sociedad liberal. Cambridge: Cambridge, 1996:V,131. 
Engelhardt HT. Fundamentos de Bioética. São Paulo: Loyola, 1998:17. 
Kamii C. A criança e o número. Campinas: Papirus, 1985:103,108. 
Kant I. Fundamentos da metafísica dos costumes. Rio de Janeiro: Ediouro, sd:70-1,79. 
PERSPECTIVAS BIOÉTICAS EM SAÚDE 
Experimentação científica com seres humanos trouxe vários avanços para a saúde da humanidade 
nos últimos séculos, porém tem sido fonte de preocupação àqueles que estão atentos à preservação dos 
interesses das pessoas (seres humanos). 
Com o crescimento econômico mundial, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, o 
número de estudos biomédicos também cresceu enormemente. As notícias de sucesso desses estudos e 
as alegações de abusos também se multiplicaram. Essas pesquisas malsucedidas deram origem a vários 
escândalos públicos que indignaram a comunidade científica e a opinião pública do mundo inteiro. 
Portanto, embora os pesquisadores e médicos estivessem desenvolvendo nesta época, uma 
ciência adulta, apresentavam uma ética adolescente, pois apesar do crescimento científico estar presente 
no desenvolvimento da biotecnologia, a ética aplicada à ciência era insuficiente para dar sustentação a tal 
desenvolvimento. 
A Organização Panamericana de Saúde (OPS, 2001) afirmou que os médicos e pesquisadores, 
embora tenham competência em questões éticas, têm insuficiente formação ascética (formação do bom 
médico, do médico virtuoso) e insuficiente formação de etiqueta (normas de correção para exercer a 
medicina). É oportuno destacar que ao menos três casos excepcionais mobilizaram a opinião pública 
norte-americana e mundial para a questão do controle ético nas pesquisas envolvendo seres humanos: 
· Em 1963, três médicos, com aprovação do Diretor Clínico de um Hospital Judeu para enfermos com 
doenças crônicas (Nova Iorque -Brooklin), injetaram, por via subcutânea, células cancerosas vivas em 22 
pacientes debilitados, sem avisá-los, ou aos seus familiares, que tais células estavam sendo usadas a 
título de experimentação para mensurar a capacidade dos seus organismos rejeitarem células estranhas; 
· Entre 1950 e 1970, em outro hospital de Nova Iorque, médicos injetaram vírus da hepatite em crianças 
com deficiência mental, visando a estudar a sua infectividade e a fisiopatologia da enfermidade; 
· De 1940 a 1972, no Tuskegee Study, em Alabama, EUA, cerca de 400 negros, a maioria analfabeta, com 
sífilis foram seguidos sem qualquer tratamento, visando a estabelecer a história natural da sífilis, apesar 
do surgimento, em larga escala, da penicilina, em 1945. Esse fato só foi descoberto em 1972. 
Portanto, um dos princípios da Bioética é trazer um embasamento ético pertinente com a 
finalidade de dar sustentação às novas situações criadas com o desenvolvimento técnico-científico, 
resultante das pesquisas científicas. Outra finalidade básica da Bioética é controlar os efeitos adversos 
provenientes da abertura indiscriminada de faculdades na área da saúde, que podem até oferecer um 
bom conteúdo programático, porém pecam por não oferecer uma boa formação ética aos seus alunos. 
Daí a necessidade atual da obrigatoriedade da disciplina de Bioética na área da saúde. 
A aguda crise na qualidade e nos valores do setor público de saúde brasileiro também colaborou 
para o desenvolvimento da Bioética. Os médicos, bem como os demais profissionais da saúde, tais como 
biomédicos, enfermeiros, auxiliares, técnicos, precisavam trabalhar em vários empregos para compor a 
renda, devido aos salários ínfimos. Por outro lado, os hospitais públicos no Brasil não apresentam infra-
estrutura adequada para o exercício digno da medicina, sem falar na distribuição injusta de verbas 
públicas. As conseqüências deste panorama são refletidas na falta de condições mínimas de atendimento 
ao paciente, faltando-lhe o mínimo de dignidade. Observa-se nos hospitais públicos espalhados pelo país, 
ainda nos dias atuais, filas intermináveis, atendimento precário nos corredores, consultas rápidas e 
superficiais, falta de funcionários, desorganização e falta de manutenção de equipamentos e do próprio 
hospital. 
Para não perderem seus empregos e por não vislumbrarem novas perspectivas, os profissionais 
da saúde passam a exercer procedimentos que, a princípio, estão em desacordo com os seus valores e são 
contrárias às práticas aprendidas na graduação e às recomendações dos códigos 
profissionais, desagregando princípios e valores que eles próprios acham justos à convivência humana. 
Essa condição precária de saúde pública no Brasil, associada ao desenvolvimento de novos 
conhecimentos, culminou com a busca de novas discussões éticas, pois toda nova situação, quer seja ela 
cultural, social ou filosófica, ou todo novo invento científico, gera discussões. E essas discussões são as 
grandes responsáveis pelo retorno da Ética, subdividida em Ética Ambiental, Ètica nos Negócios e a 
Bioética . 
A Ética Ambiental se preocupa com a preservação das espécies do planeta e do próprio planeta. A 
Ética nos Negócios é uma bandeira levantada pela maioria das empresas idôneas que quer manter a 
competitividade nos seus negócios, e para isso, se mostra transparente e eticamente correta. As 
Empresas da atualidade demonstram não mais buscar lucros abusivos,manifestam maior preocupação 
com seus funcionários e com o impacto de seus produtos no meio ambiente. 
A BIOÈTICA surgiu para discutir assuntos polêmicos ligados à saúde, tais como a alocação de 
recursos na saúde pública, os transplantes de órgãos, a doação de órgãos, o aborto, a eutanásia, o 
patenteamento do genoma humano, a equidade no sistema único de saúde, entre outros. Ela procura a 
distribuição equânime de recursos alocados entre os diversos estabelecimentos de saúde, e discute 
assuntos que podem gerar conflitos de interesse. 
Portanto a BIOÉTICA é uma conceitualização em constante evolução. Deve estar atenta aos 
aspectos relacionados ao desenvolvimento da biotecnologia, que a princípio veio trazer melhoras na 
qualidade de vida das pessoas. A Bioética deve também se preocupar com as situações limítrofes do 
“nascer” e do “morrer”, bem como com os aspectos éticos das experimentações científicas. 
A BIOÉTICA não é uma disciplina que tem um saber universitário estanque, com definições e 
conteúdos cognitivos pré-determinados. A BIOÉTICA abre para discussões sobre questões humanas 
associadas aos valores, ao uso da biotecnologia, ao desenvolvimento da ciência aplicada. 
O ser humano, além de todas as formas de vida do planeta, é central na Bioética e, portanto, a 
sua formação, a sua história, a sua religião, e os seus valores devem ser preservados e respeitados. A 
finalidade primeira da BIOÉTICA é criar condições para que o respeito ao SER HUMANO seja preservado 
diante das diversas e atuais situações apresentadas pelo desenvolvimento científico. 
A BIOÉTICA veio para resgatar os valores perdidos pelos pacientes, que estavam sendo 
submetidos ao poder da classe médica, de forma paternalista. 
VOLNEI GARRAFA, um famoso bioeticista, cirurgião dentista, professor da Universidade Federal de 
Brasília, define assim a Bioética: 
“A Bioética apresenta-se como a procura de um comportamento responsável de parte daquelas pessoas 
que devem decidir tipos de tratamento e de pesquisa com relação à Humanidade...” 
Hoje, mais do que nunca, a medicina vem aceitando a religião como uma alavanca no processo de 
cura do paciente. A revista VEJA publicou uma reportagem sobre a importância de respeitar as crenças 
dos pacientes. Esta reportagem, postada em setembro de 2011, relata que médico americano Brian 
Berman, fundador do Centrode Medicina Integrativa da Universidade de Maryland, a primeira 
Universidade a abrir as portas para as terapias complementares, comanda um Centro de Pesquisas na 
Universidade, onde são atendidos anualmente cerca de 10.000 pessoas. As pesquisas realizadas têm a 
finalidade de comprovar a eficácia de Práticas Integrativas utilizadas como adjuvante ao tratamento 
convencional na medicina. 
Práticas Integrativas e Complementares são as técnicas que visam assistência e a saúde do 
indivíduo, seja na prevenção, tratamento ou cura, considerando-o como mente / corpo / espírito e não 
um conjunto de partes isoladas. Seu objetivo, portanto, é diferente daqueles da assistência alopática, 
também conhecida como medicina ocidental, em que a cura da doença deve ocorrer através da 
intervenção direta no órgão, ou parte doente. O uso das Práticas Integrativas e Complementares tem 
contribuído com o ganho em qualidade de vida de seus usuários. 
Na Universidade de Maryland a fila de espera é grande, pois os pacientes são respeitados na sua 
totalidade. Segundo o Dr Bermam, não se deve ter preconceitos. “É preciso atender o doente e não a 
doença”. Seus estudos comprovam que a fé tem efeitos positivos na saúde das pessoas. Uma pesquisa 
feita com ratos portadores de câncer foi realizada com a finalidade de avaliar a eficácia da prática 
integrativa (imposição das mãos - REIKE ou o JOHREI) na resposta imunológica destes. O estudo foi 
dividido em 3 grupos. No grupo A (controle) os ratos receberam a terapia convencional contra o câncer 
sem nenhuma intervenção integrativa. O Grupo B recebeu o tratamento convencional para o câncer 
mais a simulação da imposição das mãos, da seguinte forma: um par de luvas preenchidas com 
água morna era mantido na temperatura do corpo (37º ) por um tempo determinado, perto dos ratos em 
tratamento. No grupo C, os ratos recebiam a terapia convencional para o câncer mais a aplicação da 
imposição das mãos. Como resultado, a pesquisa mostrou que o grupo C apresentou uma resposta 
antitumoral 50% maior que os demais grupos provando, portanto, que a imposição das mãos é um 
importante adjuvante no tratamento de câncer. 
Agora, se considerarmos que o JOHREI, que é a imposição das mãos, tem um embasamento 
religioso e está associado à fé da pessoa no poder curativo da Luz que vem de Deus, temos que admitir 
que a fé, manifestada pelas práticas integrativas, é um poderoso adjuvante na cura do paciente. E a 
função da Bioética é exatamente aceitar as crenças dos pacientes, e validá-las junto à classe médica, 
validando o princípio da autonomia, central na Bioética. 
Portanto, a BIOÈTICA surgiu para exaltar as questões humanísticas do desenvolvimento 
científico, promovendo um alicerce para o desenvolvimento e resguardo da vida.

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