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PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO 1 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR Projeto Político-Pedagógico Um projeto é um esforço temporário empreendido cujo objetivo é criar um novo produto, serviço ou processo. O Projeto Político Pedagógico (PPP) é um instrumento que reflete a proposta educacional da escola. É através dele que a comunidade escolar pode desenvolver um trabalho coletivo, cujas responsabilidades pessoais e coletivas são assumidas para execução dos objetivos estabelecidos. A qualificação profissional, salários dignos, jornada de trabalho que inclua tempo livre para os estudos e a atuação dos professores em atividades extraclasses, são condições indispensáveis para se ter pessoas responsáveis e competentes na construção da proposta da escola. O PPP deve possibilitar aos membros da escola, uma tomada de consciência dos problemas e das possíveis soluções, estabelecendo as responsabilidades de todos. A presença do debate democrático possibilita a produção de critérios coletivos no seu processo de elaboração, assimilando significados comuns aos diferentes agentes educacionais e colaborando com a identificação desses com o trabalho desenvolvido na escola. É baseado na construção de parcerias com a comunidade que mostramos o êxito de qualquer projeto educacional que tem como meta o desenvolvimento da cidadania e a construção da identidade da escola. O PPP define a intencionalidade e as estratégias da escola. Porém, só poderá ser percebido dessa maneira, se assumir uma estratégia de gestão democrática, ou seja, se for baseado na coletividade. Ele será eficaz na medida em que gera o compromisso dos atores da escola com a proposta educacional e com o destino da instituição. O Projeto Político-Pedagógico é um mecanismo eficiente e capaz de proporcionar a escola condições de se planejar, buscar meios, e reunir pessoas e recursos para a efetivação desse projeto. Por isso é necessário a envolvimento das pessoas na sua construção e execução. É através dos princípios democráticos apontados pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996 que podemos encontrar o aporte legal da escola na elaboração da sua proposta pedagógica. De acordo com os artigos 12, 13 e 14 da LDB, a escola tem autonomia para elaborar e executar sua proposta pedagógica, porém, deve contar com a participação dos profissionais da educação e dos conselhos ou equivalentes na sua elaboração. Apesar das escolas se basearem em normas gerais da educação, as unidades escolares se diferenciam entre si, pois cada instituição tem suas necessidades e princípios específicos. Outro ponto que as diferem é a região em que cada escola se situa, bem como os desejos de cada membro envolvido na construção do projeto educativo. O Que É E O Que Deve Conter Um Projeto Político Pedagógico? Projeto Político Pedagógico Um projeto é um plano para realizar algo, que demanda planejamento para definir as estratégias e os caminhos a serem seguidos. No âmbito escolar não é diferente. Toda escola precisa ter clareza de seu projeto educacional que diz de sua responsabilidade e contribuição com o desenvolvimento integral e formação cidadã dos estudantes. Como Elaborar Uma Proposta Pedagógica Com Foco Em Educação Integral? Na perspectiva da educação integral, a proposta pedagógica é o grande alicerce para que a escola faça as conexões e articulações necessárias para compreender o sujeito em toda sua complexidade. Além de pactuado com a comunidade escolar – estudantes, professores, gestores e demais profissionais, além de familiares – o projeto político pedagógico (PPP) deve prever ações de médio, curto e longo prazo que deem conta de seus diversos desafios. Na prática, o projeto político pedagógico traduz a identidade escolar e se consolida no dia a dia a partir de ações práticas deste cotidiano. “Ter papel higiênico ou não, permitir que os alunos se sirvam da comida ou não, tudo isso é projeto político pedagógico”, afirmou a coordenadora executiva do Cedac, Roberta Panico, em entrevista cedida ao Centro de Referências em Educação Integral. PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO 2 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR Saiba + Projeto Político Pedagógico: reflexão constante e permanente Veja entrevista completa com Roberta Panico, onde ela comenta sobre o Projeto Político Pedagógico e a publicação temática feita pelo Cedac e direcionada a gestores: “Projeto Político Pedagógico: orientações para o gestor escolar entender, criar e revisar o PPP’“ Um desafio do PPP é dialogar com a realidade escolar, e isso aponta para a necessidade das instituições promoverem um diagnóstico prévio de seus atores para então traçar um perfil desta comunidade e elencar as expectativas que se tem com ela. O Papel Da Gestão A aplicação do PPP, ou seja, o seu desdobramento nas práticas pedagógicas, deve ser garantida pela gestão escolar – diretores e coordenadores – que deve buscar pautá-lo em meio a rotina como, por exemplo, na hora de trabalho pedagógico coletivo (HTPC). Também se espera que os gestores coloquem em prática uma gestão democrática, possibilitando a participação ativa dos demais atores escolares na formatação dessa política educacional. Nesse sentido, já no planejamento do PPP deve se garantir a entrada das instâncias participativas, bem como as devidas devolutivas das diversas representações envolvidas. Na Prática Centro de Ensino Fundamental 01 de Planaltina (CEF 01) – também conhecido como Centrinho – mostra como revisou o seu projeto político pedagógico em nome de um posicionamento da comunidade escolar a favor da diversidade. O “Diversidade na Escola” , que começou como um projeto na unidade, hoje integra as diretrizes pedagógicas da instituição. Ainda na visão de Roberta Panico, isso é uma questão do diretor se aproximar e discutir a gestão democrática a partir de sua operacionalização – como se faz uma gestão de outra forma? -, uma vez que os mecanismos legais nem sempre garantem processos mais democráticos e participativos. Outra questão fundamental é que o PPP não se configure como uma política local, de uma única escola e leve em consideração as orientações da rede, seja ela municipal ou estadual. E, da mesma maneira, busque refletir os pressupostos de outras diretrizes educacionais, como Plano Nacional de Educação, Base Nacional Comum Curricular, entre outros. O PPP deve levar em consideração, ao mesmo tempo, o micro e o macro, sempre em diálogo. Como Montar Um Projeto Político-Pedagógico Escolar? Documentar as ações e os projetos da escola em que você está inserido, contando com o apoio de professores, coordenadores, alunos e famílias: essa é uma das funções do projeto político- pedagógico. No texto de hoje vamos apresentar essa ferramenta muito útil, tanto para a comunidade escolar quanto para os pais, na hora de escolher a melhor escola para os filhos. Acompanhe. O Que É O Projeto Político-Pedagógico? O projeto político-pedagógico escolar é a síntese de todos os objetivos que uma instituição de ensino deseja alcançar, incluindo princípios, diretrizes, metas estabelecidas pela comunidade acadêmica, visando a qualidade do ensino e a aprendizagem de seus alunos. O ideal é que, a princípio, este documento seja elaborado a partir da coleta de informações junto à comunidade externa (fornecedores, vizinhos, parceiros etc.) e interna à escola (alunos, pais e funcionários). Como se vê, o projeto político-pedagógico envolve várias etapas do processo escolar: planejamento de atividades, execução do que foi previsto, avaliação e reavaliação mediante as mudanças. Quais Informações Essenciais Para O Projeto? É fundamental que o projeto político-pedagógico escolar contenha os seguintes quesitos:PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO 3 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR • missão da escola; • público-alvo; • informações sobre o andamento dos projetos de aprendizagem; • diretrizes pedagógicas; • o relacionamento com as famílias; • questões financeiro-administrativas etc. Além da escola e da comunidade, o projeto político-pedagógico também envolve órgãos do governo. O documento segue a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1996. Em seu 12º artigo, ela prevê, entre outras coisas, o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas, o acesso a meios para a recuperação de alunos com rendimento inferior, a articulação com famílias e comunidade, bem como a notificação ao conselho tutelar, ao juiz e ao Ministério Público acerca dos alunos faltantes que excederem 50% do percentual permitido em lei. Práticas Imprescindíveis Para Um Projeto Político-Pedagógico Efetivo 1. Envolver Toda A Comunidade Integrar os diversos personagens em torno de um objetivo comum. Este é um dos principais objetivos para a construção de um projeto efetivo. Com a participação de todos os envolvidos, é possível elaborar um projeto com identidade definida, e com toda a equipe participando das tomadas de decisão. Se cada uma das partes agir como multiplicador, ao final do processo serão vários colaboradores, que se somarão ao documento, com sugestões e opiniões. Críticas também devem ser bem-vindas, já que ajudam no processo de elaboração do projeto. 2. Cumprir Os Combinados E Estar Aberto A Cobranças Os coordenadores do projeto devem oficializar os combinados, agendar as etapas e arcar com os compromissos. Com uma agenda clara e transparente, os participantes perceberão a intenção do documento e a seriedade com que está sendo conduzido. Cobranças sempre existirão. Porém, com um projeto político-pedagógico organizado, aos poucos, as pessoas confiarão mais nos organizadores ao longo do processo. 3. Permitir Que O Documento Esteja Sempre Acessível A Todos Nada de engavetar o documento como se ele fosse propriedade de um pequeno grupo. O documento deve estar em um local onde as pessoas podem acessá-lo quando lhes convier. Assim, o processo torna-se mais democrático e fácil de lidar. O Projeto Político Pedagógico: Conceitos E Significados Na Democratizaçao Da Escola Introdução A gestão escolar, numa perspectiva democrática, tem características e exigências próprias. Para efetivá-las, é preciso observar procedimentos que promovam o envolvimento, o comprometimento e a participação das pessoas. É necessário exercer funções que fortalecem a presença e a atuação das pessoas envolvidas. O modo democrático de gestão abrange o exercício do poder, incluindo os processos de planejamento, a tomada de decisões e a avaliação dos resultados alcançados. Trata-se de fortalecer procedimentos de participação da comunidade escolar no governo da escola, descentralizando os processos de decisão e dividindo responsabilidades, com intuito de envolver todos os segmentos interessados na construção das propostas coletivas de educação para atingir um objetivo: promover uma educação de qualidade. PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO 4 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR O Projeto Político Pedagógico: Conceitos E Significados Na Democratizaçao Da Esola Planejar a escola é ter uma visão ampla, achar detalhes, encontrar soluções, entendendo o contexto de onde se vive. A ideia de Projeto Político Pedagógico do ponto de vista mais amplo é no sentido de planejar o que a escola precisa fazer, a partir do que é possível construir, o que ela pretende realizar com seus alunos, tendo em vista as necessidades dos mesmos, da comunidade e da sociedade. Este projeto nasce da necessidade de mudança, de correção de rumos. O Projeto Político Pedagógico ajuda a identificar o que é a escola e definir os caminhos que devem ser seguidos, ele acompanha a sociedade, a escola e suas finalidades culturais e sociais de formação profissional e humanística, sendo fundamental revê-lo a todo o momento, à sua própria condição e mudá-lo sempre que necessário para que se possa rever os ângulos, descobrir e redescobrir situações. Veiga (2001, P. 110) Define O Projeto Político Pedagógico Da Seguinte Forma: É um instrumento de trabalho que mostra o que vai ser feito quando, de que maneira, por quem, para chegar a que resultados. Além disso, harmoniza as diretrizes da educação nacional com a realidade da escola, traduzindo sua autonomia e definindo seu compromisso com a clientela. É a valorização da identidade da escola e um chamamento a responsabilidade dos agentes com as racionalidades interna e externa. Essa idéia implica a necessidade de uma relação contratual, isto é, o projeto deve ser aceito por todos os envolvidos, dá a importância de que seja elaborado participativa e democraticamente. Nessa ótica, a equipe gestora tem que estar organizada com cronogramas para que os momentos de discussão e estudos aconteçam, devendo existir clareza e uma parceria, pois o projeto precisa chegar às mãos de cada profissional. Não pode ficar restrito à direção da escola. Cada membro da comunidade escolar tem que ter clareza de seus objetivos, metas, das ações. É fundamental que todos se sintam sujeitos da construção do espaço escolar como espaço público de libertação e criação. É importante que as pessoas se sintam participantes desse processo. Muitas vezes, se questiona porque este projeto é chamado de político- pedagógico. Analisando com cuidado, entende- se que ele é político porque é uma concepção de público. A escola enquanto espaço que socializa saberes é pública, e essa afirmação da escola como espaço público foi decorrente de muitas lutas históricas. Primeiramente, porque os setores que estavam excluídos puderam estar na escola, não estar como sujeitos passivos, mas como sujeitos de direitos. Nessa estimativa é que é político, pois é uma afirmação da esfera dos direitos do que é devido a cada cidadão. E é pedagógico porque é uma concepção de educação de mundo que a escola deve elaborar, sistematizar e socializar. Assim, entende-se que, na verdade, o projeto político pedagógico é constitutivo, faz parte do “ser” da escola. Cada escola deve buscar a sua identidade, interagindo com todos os sujeitos envolvidos no processo democrático educacional. Quando todos se integram ao projeto político pedagógico tudo o que acontece na escola tem sentido, e quando todos os atores abraçam a ideia todas as ações da escola valem a pena. Nesse Sentido, Demo (1998, P. 248) Assim Se Refere: Existindo o projeto próprio torna-se bem mais fácil planejar o ano letivo, ou rever e aperfeiçoar a oferta curricular aprimorar, expedientes avaliativos, demonstrando a capacidade de evolução positiva crescente. É possível lançar desafios estratégicos como diminuir a repetência, introduzir índices crescentes de melhoria qualitativa, experimentar didáticas alternativas atingir posição de excelência. É importante entender e salientar que o Brasil foi colonizado a partir de uma visão eurocêntrica, que apagou diferenças, suprimiu identidades, e a escola deve buscar a alma do povo, deve buscar a identidade cultural, a língua, a forma de ver o mundo e reconhecer essa diversidade, integrando essas diferenças. A questão do Projeto Político Pedagógico, tal como vem sendo discutida atualmente, deve priorizar de forma intensa a busca das raízes e da identidade, justamente porque essa busca de identidade e da história (a dos povos indígenas, africanos...) faz parte da universalidade enquanto seres humanos. A escola tem o papel de resgatar tudo isto, através do PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO 5 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR projeto políticopedagógico, visto que é um espaço de criação, de liberdade, de afirmação do ser humano. É importante entender que o Projeto Político Pedagógico passa por conceitos diversos, em épocas diferentes, possui uma elasticidade, porém a formalização e a teorização da junção das palavras político/pedagógico se deu no embate dos Projetos Políticos dos revolucionários franceses no século XVIII, e foi neste embate, na origem do discurso liberal, que formalizou-se a política burguesa em que houve esta junção para um sistema político pedagógico. Então este vai tomando diversas faces, mas guarda a semelhança em relação às diretrizes da educação democrática que se desenha naquele momento, uma delas é a luta pela escola laica, pública, gratuita para todos, sendo esse projeto liberal. Neste aspecto, causa insatisfação, pois é um projeto inconcluso, devido às políticas públicas não tê-lo realizado em sua real plenitude. Cabe frisar que nesses quinhentos anos de Brasil, se teve lampejos de democracia, se pensar numa visão tradicional em que as secretarias, órgãos acadêmicos e organismos determinam o currículo, o que se deve ser ensinado e os tempos escolares. A escola sempre se viu como uma mera executora de políticas, propriamente determinadas por estâncias que lhes são externas. A construção da democracia de fato pressupõe que a escola crie a sua identidade, que ela seja semente de transformação de sua realidade circundante e da realidade do país e do mundo. O Projeto Político Pedagógico leva a vários movimentos, principalmente ao do processo de democratização, onde haja a participação de todos e que estes compreendam que a escola é uma instituição de Estado, que deve discutir um projeto juntamente com o sistema público de ensino e, assim, todas as escolas poderão ter um unitário de qualidade (não como uma linha de produção), mas que cada ser humano deve se apropriar de um conhecimento de qualidade, de saber pensar cientificamente, reconhecendo a sua história e sua identidade. Nesse sentido, afirmam Gadotti e Romão (1997) que a gestão democrática pode melhorar e é específica da escola, isto é o seu ensino. A participação na gestão da escola proporcionará um melhor conhecimento do funcionamento da escola e de todos os seus atores, proporcionará um contato permanente entre professores e alunos, o que leva ao conhecimento mútuo, e em consequência aproximará também as necessidades dos alunos dos conteúdos ensinados pelos professores. O Projeto Político Pedagógico da escola precisa de médio e longo prazo, e ainda de respaldo dos políticos, pois estes também são sujeitos da escola, juntamente com os pais, professores, alunos. Neste sentido, o problema não é somente construir o projeto, e sim a temporalidade e consolidação deste projeto. É necessário um longo prazo e não deve ser concebido em linha de euforia x desilusão e esse projeto têm múltiplos tempos, memórias e sujeitos, pois a memória tem um tempo descontínuo, não sendo controlada dentro de um critério político utilitário; é viva e afetiva e que quando se traz para o momento de construção e reflexão do projeto político pedagógico é riquíssima. Nesta perspectiva, o projeto tem que ser a materialização do futuro no presente. É preciso trabalhar o horizonte histórico de uma universalização da escola, da produção do conhecimento, da crítica ao colonialismo, construir a sociedade do futuro a partir do presente. Referindo se a essa ideia, exprime Gadotti (1992, p. 34): Todo o projeto supõe rupturas com o presente e promessas para o futuro. Projetar, significa tentar quebrar um estado confortável para arrisca-se atravessar um período de instabilidade em função da promessa que cada projeto contém de estado melhor que o presente. Um projeto educativo pode ser tomado como promessa frente a determinadas rupturas. As promessas tornam visíveis os campos de ação do possível, comprometendo seus atores e autores. A escola pública deve ser publicizada, afirmada como espaço público desde o presente. A educação é um ato político, já dizia Freire (1975). Uma escola que não se politiza de fato não está cumprindo o papel, lembrando que quanto mais conflituosas forem as ideias políticas dentro da escola, mais democrática ela será. O protagonismo de todos os atores que compõem a escola deve ter uma expressão comunitária de auto-organização e não uma organização de secretarias, visto que estas deveriam assegurar condições de livre produção de conhecimento, pois, muitas vezes, acabam realizando ações de controle, fiscalização e avaliações rígidas, que acabam formatando a prática democrática que PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO 6 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR prejudica a escola e esta acaba sendo não democrática. Muitas vezes, há resistência ao Projeto Político Pedagógico e isso tem a ver com a democracia, pois se o professor se sente protagonista, ator de fato daquela escola, os pontos de vista que são críticos ou que defendem a manutenção de certas práticas vão servir para enriquecer as ações. As resistências fazem parte de cada processo e permite a transformação. Isto faz com que a escola se torne um lugar onde se realizam e projetam utopias. As resistências, dessa maneira, não podem ser vistas como algo patológico dentro da escola, como algo doentio sendo que não desaparecem, são apenas substituídas por outros ideais, observando os caminhos a serem seguidos. Hoje, no Brasil, existe um projeto em busca da identidade das pessoas que se realiza basicamente dentro da escola, sendo este o lugar onde essa busca acontece de fato, através do projeto político pedagógico, que não pode ser visto como um mero documento, e sim como um canal democrático para a consolidação da cidadania. Veiga (2001, p. 33) afirma que: “É preciso entender o Projeto Político Pedagógico da escola como um reflexão do seu cotidiano”. Para tanto, ele precisa de um tempo razoável de reflexão-ação, pra ter um mínimo necessário à consolidação de sua proposta. A escola é uma instituição inseparável da sociedade, é distinta, porém ligada à sociedade brasileira como um todo. Enquanto instituição voltada à educação, tem um compromisso com o humano e com o mundo. Seu compromisso humano está contido na função social libertadora dos sujeitos: no reconhecimento do individual, da identidade da historicidade, desejos e outras marcas próprias de cada humano, mas transcendendo a capacidade de identificar marcas comuns entre ele e seu grupo, assumindo a idéia de pertencimento a uma rede de objetivos comuns. Este compromisso é complexo porque suas consequências estão no mundo, e a representação da escola enquanto espaço público possui em si uma ambivalência muito próxima: este espaço pode ser colocado a serviço de dominação ou da libertação, dependendo da postura do educador. Segundo Freire (2000, p. 58), assim a escola “[...] tanto pode estar a serviço da decisão, da transformação do mundo, da inserção crítica nele, quanto a serviço da imobilização, da permanência possível das estruturas injustas, da acomodação dos seres humanos à realidade tida como intocável.” Nesse sentido, portanto, destaca-se a importância da escola manifestar suas concepções políticas pedagógicas na prática para, assim, contribuir com o processo de libertação dos indivíduos. Não basta a escola ter um projeto político pedagógico se em sala de aula o professor não vivenciar com os alunos as concepções da escola, ou seja, a construção de um aluno crítico, reflexivo e capaz de atuar na sociedade, pois ele é o mediador de uma educação, que poderá ser para a manutenção ou para a transformação social, dependendo da prática pedagógica que adotar no exercício de sua profissão. Nessa perspectiva, é importante compreender que a escola não é uma ilha isolada, pois está inserida no interiorda sociedade. Interliga-se a muitas instituições diferentes, com propostas e objetivos os mais diversos, sofre todo o tipo de influências e impactos do mundo, atravessa as mais diversas relações de poder: democráticas, dominadoras, discriminatórias, hierárquicas e outras mais. Assim, uma teia de relações diversificadas liga a escola à comunidade, pois o mundo cotidiano da comunidade, da sociedade, penetra a escola de todos os lados, entra por todas as janelas e portas, entra pela experiência de vida dos alunos e dos professores. A televisão, os amores, a novela, o futebol, as mentes, os corações, o sexo, a violência, os corpos, o país, o universo tem assento na escola. Ainda, todos professores detêm algum conhecimento; os alunos também; a sociedade, a humanidade sabe muito mais e os lugares de aprendizagem são os mais diversos. O viver cotidiano é página do livro que se pensa e se escreve a todo o instante. Nesta ótica de pensamento, compreende-se que nenhuma escola está acabada, já que ela é constituída pela teia de relações que fazem o cotidiano da escola. Importa desafiar a todos para reflexão crítica na busca de uma qualidade cada vez maior do processo ensino/aprendizagem. PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO 7 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR A construção/reconstrução da escola, visando a superar as formas de dominação, de discriminação, de insuficiência do processo aprendizagem, visa uma gestão a cada dia mais democrática, por isso a escola é uma realidade feita de grupos sociais diferentes com interesses, objetivos experiências culturais distintas. Sendo assim, na escola existem grupos sociais diferenciados e não homogêneos. Daí porque a interlocução democrática se faz ainda mais necessária. Com a promulgação da Lei nº 10.693, de 2003, espera-se que a escola realmente assuma o seu papel social de valorização e de difusão da cultura e da pluralidade de formação ética. Gadotti (1992), educador brasileiro comprometido com a educação popular e comunitária, propõe uma educação multicultural, como estratégia de educação para todos capazes de reduzir os elevados índices de evasão e de repetência dos segmentos menos favorecidos da sociedade brasileira, na sua maioria constituída por pobres, negros, índios e mestiços. Considera ele que uma das tendências de mundo contemporâneo é o multiculturalismo, que deve se traduzir no respeito e valorização das diferenças socioculturais. O desafio é expor as diferenças, conflitar, para romper com a ideia imposta pelo sistema econômico de massificação: do trabalho, das pessoas..., libertando-se da ideia de igualdade homogênea, pois a diferença sempre estará presente, porque é do humano identificar-se enquanto diferente. O que se pretende é resgatar a historicidade de cada educando e ir além, informando, refletindo sobre a prática, pesquisando, com consciência da condição humana de inacabamento, estabelecendo vínculos que proporcionam o refletir sobre uma ética do humano. Já Freire (1996), mesmo considerando as proposições de Gadotti, propõe uma educação problematizadora, que desafia o educando a pensar criticamente a realidade social, política e histórica, com vistas à construção da cidadania e, consequentemente, à superação da realidade vigente. Segundo o autor, a luta por uma sociedade melhor, ou seja, pela boniteza do mundo, exige competência que acontece pela via do conhecimento. Nesse sentido, cabe ao professor aguçar a curiosidade do aluno para que ele se transforme em sujeito de produção de conhecimento. É preciso estimular a busca do conhecimento, onde ambos (professor e aluno) vão aprendendo numa relação dialógica e de interação. Nessa ótica, o autor adverte que é possível propor outra forma de abordar o conhecimento, não apenas pela transmissão, pois ensinar “não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção” (FREIRE, 1996, p. 22, grifo do autor). Assim, a escola contribui para a formação de sujeitos capazes de intervir e mudar a realidade social vigente. Na escola democrática/cidadã, o estudante, sujeito/educando/educador ocupa o centro da mesma, ou seja, a dinâmica da escola, como um todo, resultante de sua proposta pedagógico/administrativa, tem como sujeito o educando em processo de aprendizagem. Não basta, pois, assegurar o acesso e a permanecia na escola, mas capacitar o aluno/sujeito e educando/educador a ser capaz de aprender e criar a capacidade de seguir aprendendo sempre com autonomia intelectual e ético/política. Na escola, a gestão democrática é uma ousadia que dura sempre e que precisa ser iniciada a cada dia, já que a democracia é modo de viver, em que se aceita o outro diferente, na convivência respeitosa, amorosa com liberdade, responsabilidade, consciência social, política e ecologia, respeitando a si e aos outros, pois é na escola que se constrói espaços efetivamente democráticos de convivência e desenvolvimento humano. Se os professores querem uma escola para todos, é urgente que seus planos se redefinam para uma educação voltada para a cidadania global, plena, livre de preconceitos, que reconheça e valorize as diferença. Por mais que defendamos teoricamente a inclusão de todas as crianças na escola, na pratica ainda somos dominador por um modo de pensar, por um cotidiano e por uma organização escolar que ainda não “esqueceu”, que ainda tem “saudades” da cultura anterior. Nesta cultura as crianças que entram e permanecem na escola devem se submeter as tarefas e recursos de ensino comuns. Devem, pouco a pouco apresentar competências e habilidades escolares comparáveis; devem aprender em um contexto em que um mesmo professor ensina do mesmo modo em um mesmo espaço e tempo didático. (MACEDO, 2005, p. 11). É preciso considerar a escola na perspectiva de um “nós”, como um todo que funciona como PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO 8 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR regulador da relação de aprendizagem. Uma escola para todos e democrática, que cumpra com a sua obrigação social, respeitando a educação como um direito de todos: pobres ou ricos, com dificuldades de aprendizagem ou não, de diferentes raças, cores, condições físicas ou sociais, como se todos fossem equivalentes, com potencial para aprender. A escola precisa ser um lugar capaz de interpretar carências e necessidades, anseios e perspectivas manifestados pela sociedade, desenvolvendo práticas educativas eficazes para o atendimento as demandas daqueles que direta ou indiretamente são atingidos pela prática cotidiana da ação escolar, tornando-se um centro de formação cultural, cientifico e técnico. Diante deste contexto, a escola passa a ser o lugar que abrange questões fundamentais relativas à vida humana em sociedade, tais como desenvolvimento da autonomia e da responsabilidade social. Uma pedagogia crítica, libertadora e democrática cria condutas coordenadoras de ações consensuais, buscando a participação dinâmica e viva dos diferentes sujeitos que integram o espaço de sala de aula, articulando diferentes saberes. Mas a ousadia, a utopia, o desafio é a coragem de enfrentar com esperança de um instante sempre melhor, tudo isso em nosso viver cotidiano, na escola, na família e nos demais espaços de nossas atividades. A vida democrática é condição de desenvolvimento efetivamente humano e de educação e formação humana, razão de ser da escola, do conhecimento, da cultura e do próprio viver humano. Ela será tanto mais abrangente, profunda, vital, quanto mais o professor ousar assumir a responsabilidade de lutar pela qualidade do ensino. Assim, as relações pedagógicas tornam-se sempre mais relações humanas, fazendo fluir o humano nas palavras, nos gestos, nas atitudes, na coordenação deações consensuais, no âmbito escolar mudando o ambiente cultural da comunidade e da sociedade como um todo. Professores e escolas são peças importantes na realização das responsabilidades sociais e políticas. Ao implantar meios aos alunos para dominarem conhecimentos culturais e científicos, desenvolvendo competências cognitivas e operativas, para que estes coloquem em prática em suas vidas profissionais e em conduta social, rumo à cidadania. Eis o ponto importante no qual o trabalho em equipe da escola e professor adquire forma real para influenciar a democratização social e política. Para que a escola seja, de fato, um espaço de afirmação de uma identidade pluricultural é necessário, ainda percorrer um longo caminho, onde as diferenças culturais não se constituam em motivo de discriminação social, mas sim em um espaço possibilitador da construção de uma nova identidade nacional, assentada no pluralismo cultural. É preciso, pois, propiciar, por meio de ensino em todos os níveis, o conhecimento da diversidade cultural e pluralidade étnica, bem como a necessária informação sobre os bens culturais do rico patrimônio histórico. Só assim se estará contribuindo para a construção de uma escola plural e cidadã e formando cidadãos brasileiros cônsisos de seu papel como sujeitos históricos e como agentes de transformação social. Acredita-se que o papel da escola é decisivo na busca das transformações emancipatórias e na configuração do projeto de vida que se produz na comunidade, organizando os contextos e as ações que se desenvolvem na mesma, a partir de uma clara intencionalidade educativa. Para que esta tarefa seja realizada, é necessário que a escola crie uma organização e um ambiente que favoreçam o diálogo, o debate, a análise e a reflexão. A Construção Do Projeto Político Pedagógico Da Escola O planejamento é um processo permanente que implica escolhas, opções para construção de uma realidade, num futuro próximo. Embora o processo de planejamento ocorra a todo o momento na escola, é importante que as opções assumidas coletivamente estejam materializadas em um documento que, na prática, toma vários nomes: planejamento pedagógico, proposta pedagógica, projeto político-pedagógico, projeto pedagógico, projeto pedagógico-curricular ou plano da escola. É esse documento que deve orientar a escola na importante tarefa de formação plena do indivíduo. O objetivo é, portanto, conversar sobre o que concebe o processo de elaboração de um projeto político- pedagógico, como ele pode ser construído de forma participativa, apresentar algumas sugestões para sua elaboração e refletir sobre as condições necessárias para sua implementação. PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO 9 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR Qual o significado e a importância do projeto político-pedagógico para a escola? Publicidade A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN 9.394/96), no artigo 15, concedeu à escola progressivos graus de autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira. O que isso significa? Ter autonomia significa construir um espaço de liberdade e de responsabilidade para elaborar seu próprio plano de trabalho, definindo seus rumos e planejando suas atividades de modo a responder às demandas da sociedade, ou seja, atendendo ao que a sociedade espera dela. A autonomia permite à escola a construção de sua identidade e à equipe escolar uma atuação que a torna sujeito histórico de sua própria prática. Pensar no processo de construção de um projeto político-pedagógico requer uma reflexão inicial sobre seu significado e importância. Vamos verificar como a LDBEN ressalta a importância desse instrumento em vários de seus artigos: No artigo 12, inciso I, que vem sendo chamado o artigo da escola a Lei dá aos estabelecimentos de ensino a incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica. O artigo 12, inciso VII define como incumbência da escola informar os pais e responsáveis sobre a freqüência e o rendimento dos alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica. No artigo 13, chamado o artigo dos professores , aparecem como incumbências desse segmento, entre outras, as de participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino (Inciso I) e elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino (Inciso II). No artigo 14, em que são definidos os princípios da gestão democrática, o primeiro deles é a participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola. É bom lembrar que, pela primeira vez no Brasil, há uma Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que detalha aspectos pedagógicos da organização escolar, o que mostra bem o valor atribuído a essa questão pela atual legislação educacional. Dessa forma, essa é uma exigência legal que precisa ser transformada em realidade por todas as escolas do país. Entretanto, não se trata apenas de assegurar o cumprimento da legislação vigente, mas, sobretudo, de garantir um momento privilegiado de construção, organização, decisão e autonomia da escola. Por isso, é importante evitar que essa exigência se reduza a mais uma atividade burocrática e formal a ser cumprida. Um projeto político-pedagógico voltado para construir e assegurar a gestão democrática se caracteriza por sua elaboração coletiva e não se constitui em um agrupamento de projetos individuais, ou em um plano apenas construído dentro de normas técnicas para ser apresentado às autoridades superiores. Mas o que é mesmo projeto político-pedagógico? Segundo Libâneo (2004), é o documento que detalha objetivos, diretrizes e ações do processo educativo a ser desenvolvido na escola, expressando a síntese das exigências sociais e legais do sistema de ensino e os propósitos e expectativas da comunidade escolar. Na verdade, o projeto político-pedagógico é a expressão da cultura da escola com sua (re) criação e desenvolvimento, pois expressa a cultura da escola, impregnada de crenças, valores, significados, modos de pensar e agir das pessoas que participaram da sua elaboração. Assim, o projeto orienta a prática de produzir uma realidade. Para isso, é preciso primeiro conhecer essa realidade. Em seguida reflete-se sobre ela, para só depois planejar as ações para a construção da realidade desejada. É imprescindível que, nessas ações, estejam contempladas as metodologias mais adequadas para atender às necessidades sociais e individuais dos educandos. Em síntese, suas finalidades são: Estabelecer diretrizes básicas de organização e funcionamento da escola, integradas às normas comuns do sistema nacional e do sistema ou rede ao qual ela pertence. Reconhecer e expressar a identidade da escola de acordo com sua realidade, características próprias e necessidades locais. Definir coletivamente objetivos e metas comuns à escola como um todo. PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO 10 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR Possibilitar ao coletivo escolar a tomada de consciência dos principais problemas da escola e das possibilidades de solução, definindo as responsabilidades coletivas e pessoais. Estimular o sentido de responsabilidade e de comprometimento da escola na direção do seu próprio crescimento. Definir oconteúdo do trabalho escolar, tendo em vista as Diretrizes Curriculares Nacionais para ensino, os Parâmetros Curriculares Nacionais, os princípios orientadores da Secretaria de Educação, a realidade da escola e as características do cidadão que se quer formar. Dar unidade ao processo de ensino, integrando as ações desenvolvidas seja na sala de aula ou na escola como um todo, seja em suas relações com a comunidade. Estabelecer princípios orientadores do trabalhodo coletivo da escola. Criar parâmetros de acompanhamento e de avaliação do trabalho escolar. Definir, de forma racional, os recursos necessários ao desenvolvimento da proposta. A partir dessas finalidades, é preciso destacar que o projeto políticopedagógico extrapola a dimensão pedagógica, englobando também a gestão financeira e administrativa, ou seja, os recursos necessários à sua implementação e as formas de gerenciamento. Em suma: construir o projeto político-pedagógico significa enfrentar o desafio da transformação global da escola, tanto na dimensão pedagógica, administrativa, como na sua dimensão política. Agora, reflita: em que medida essa concepção de projeto político-pedagógico está presente na prática de sua escola? Que processos envolvem a elaboração de um projeto político-pedagógico? Para que as finalidades do projeto político-pedagógico sejam alcançadas, alguns processos precisam ser desenvolvidos. Em vários momentos, esses processos se entrecruzam e são dependentes uns dos outros, como se verá a seguir. Antes, é necessário que fique claro que não há uma única forma de se construir um projeto, devido às singularidades de cada unidade escolar. O processo de participação A importância da participação vem sendo ressaltada por todos que defendem uma gestão democrática. No entanto, embora nenhum segmento tenha uma importância menor que a do outro nesse trabalho coletivo, é importante definir, com clareza, as responsabilidades que cada um deve assumir, considerando a existência de funções e níveis hierárquicos diferenciados dentro da escola. Ou seja, todos devem ter o seu espaço de participação, mas não se deve confundir o espaço das atribuições, ultrapassando os limites de competência de cada um: Direção, professores e profissionais de suporte pedagógico são os responsáveis diretos pela mobilização da escola e da comunidade para a construção da proposta. Além disso, cabe-lhes a tomada de decisões sobre conteúdos, métodos de ensino e carga horária das disciplinas do currículo. Os alunos são fontes de informação das suas necessidades de aprendizagem, que se vão constituir no núcleo das preocupações da escola. São eles, de fato, o alvo de todo esse esforço. O trabalho dos funcionários, por se realizar em uma escola, tem uma dimensão pedagógica que é muito pouco reconhecida, até por eles próprios. As relações que eles estabelecem com os alunos e com os pais poderiam ser exploradas na direção da formação da cidadania. Os pais e a comunidade devem participar efetivamente das decisões sobre o orçamento e a utilização dos recursos financeiros que a escola recebe. Além disso, os pais[3] devem participar das discussões sobre as características do cidadão que se quer formar, sobre o uso do espaço e do tempo escolar e sobre as formas de organização do ensino que a escola deve adotar. O processo de mobilização Para que o projeto político-pedagógico seja, de fato, um instrumento de melhoria de qualidade da escola, ele precisa ser construído coletivamente, com responsabilidade e compromisso, a partir de um processo contínuo de mobilização que envolve elaboração, execução, acompanhamento, avaliação e reelaboração. Uma das mais importantes tarefas da equipe gestora é encontrar pontos de partida para atingir um nível esperado de mobilização, pois, durante o processo, muitas lideranças vão emergir, provocando novas adesões. O papel do Conselho Escolar nesse trabalho de mobilização[4] é fundamental, já que ele congrega os representantes dos diversos segmentos da escola. No entanto, é sempre desejável que a participação da comunidade seja ampliada com a presença de outras pessoas, além daquelas que já fazem parte do Conselho. PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO 11 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR Essa mobilização é indispensável, sob pena de não se conseguir construir a proposta de uma forma democrática, legitimada por aqueles que fazem da escola um espaço vivo e atuante. O processo de negociação É preciso compreender que, nas sociedades humanas, nenhum processo se faz de forma linear e harmônica e, portanto, a negociação se torna um elemento central na realização de qualquer trabalho que envolva acoletividade. A participação democrática, condição essencial de formação do cidadão, supõe a presença de conflitos. O próprio exercício da participação abre espaço para a emergência desses conflitos. É impossível evitar tais situações, porque elas existem de fato e revelam a variedade de concepções que norteiam as ações pessoais. É necessário, pois, reconhecer a existência de tensões ou conflitos entre as necessidades individuais e os objetivos da instituição e compreender a sua natureza, de modo a capitalizar as divergências em favor de um objetivo maior. É aqui que entra o papel da negociação. Saber negociar significa dar lugar ao debate, à expressão das várias necessidades e das diferenças, produzindo um ambiente do qual resulte a assunção coletiva dos conflitos e dos problemas, a cooperação voluntária no trabalho em equipe, a repartição mais igualitária do poder e dos recursos. Assim, a autonomia da escola não é, isoladamente, a autonomia dos gestores ou a dos professores ou a dos alunos ou a dos pais. Ela é resultante da confluência de várias formas de pensamento e de interesses diversos que é preciso saber gerir, integrar e negociar. O projeto políticopedagógico, portanto, vai significar uma síntese desses diversos interesses e tem como propósito dar um sentido coletivo às autonomias individuais. Pense bem: como andam os processos de participação, mobilização e negociação na sua escola? Que cidadão se quer formar? Tanto a mobilização como a participação e a negociação não ocorrem no vazio. A proposta pedagógica tem um conteúdo que vai sendo construído por meio desses processos. Dentre esses conteúdos, está a definição do cidadão que se quer formar. Que características devem ter o cidadão[5] para viver no mundo contemporâneo? A escola tem espaço para definir essas características? Afinal, que espaço tem a escola nessa definição? A despeito de se considerar que competências, conhecimentos, habilidades e valores são básicos para a vida do cidadão em qualquer lugar do mundo, é também reconhecida, hoje, a necessidade da preservação e do desenvolvimento de aspectos que constituem a especificidade das diversas culturas. Isso significa dizer que o espaço da escola é o da formação de cidadãos capazes de enfrentar os novos desafios do mundo contemporâneo, mas que tenham consciência de suas raízes históricas, conhecimento da produção cultural de seu povo, de forma a afirmar a sua identidade. É o espaço do ensino competente que, sem negar as tradições e, até mesmo, tomando-as como base, prepare seus alunos para a plena participação na vida econômica, sociopolítica e cultural do país. Para que isso se torne possível, recomenda-se: Que o coletivo da escola tome essas questões como foco de discussão, passando a entender, com maior clareza, tanto a concepção de cidadão posta nos documentos oficiais que definem e orientam a educação brasileira, quanto à dimensão do papel que a escola tem na sua formação. Que a escola desenvolva mecanismos de conhecimento de quem são seus alunos, quais as suas condições de vida, as suas aspirações, as expectativas da família e da comunidade. Que sejam realizados levantamentos e estudos das manifestações culturais locais (religiosas, folclóricas, esportivas, artísticas) que, incorporadas ao currículo, estabeleçam elos significativos com o conhecimento escolar formal, fazendo emergir a identidade de cada grupo ou comunidade que participa da escola. Que, a partir das questões anteriores, sejam levantadas aquelas características e competências, além das propriamente escolares, necessárias ao exercício da cidadania,na área de atuação da escola. Imagine: como você vê o futuro dos alunos da sua escola daqui a dez, vinte anos? Como construir a identidade da escola no seu projeto político-pedagógico? Toda escola deve ter uma alma, uma identidade, uma qualidade que a faz ser única para todos que nela passam uma parte de suas vidas. Esse vínculo cognitivo e afetivo deve ser construído a partir das vivências propiciadas a toda a comunidade escolar. E essa preocupação deve estar presente na elaboração do projeto político pedagógico, o qual deve contribuir para criar ou fortalecer a identidade da escola. PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO 12 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR Quanto a esse aspecto, a comunidade escolar deve levantar as características atuais da escola, suas limitações e possibilidades, os seus elementos identificadores, a imagem que se quer construir quanto a seu papel na comunidade em que está inserida. Esse levantamento dos traços identificadores da escola constitui um diagnóstico que servirá de base para a definição dos objetivos a perseguir, dos conteúdos que devem ser trabalhados, das formas de organização do seu ensino. Algumas questões podem conduzir à realização desse diagnóstico: Onde está localizada a escola: na zona rural (fazenda, povoado, engenho, assentamento, agrovila, agro-indústria) ou na zona urbana (periferia, centro, condomínio)? Quais os principais problemas dessa comunidade? Que formas a escola tem de inserção na comunidade? Como o seu espaço é utilizado pela comunidade? Que limitações ou possibilidades a escola percebe nas suas relações com a comunidade? Quem é o aluno que freqüenta a escola? Há alunos em idade escolar fora da escola na comunidade? Existem alunos com jornada formal de trabalho? Como se vêm dando o desempenho escolar dos alunos nos últimos dois anos? Quais são os índices de aprovação, reprovação e evasão apresentados pela escola? Qual a relação entre a idade dos alunos e a série que freqüentam? Quem são os profissionais que atuam na escola? O número de professores é suficiente para atender os alunos? Qual a qualificação dos professores? A escola tem funcionários em número suficiente? Há agentes de apoio pedagógico? Quais são as condições físicas e materiais da escola? Quais as condições de uso das dependências escolares? Como vem sendo utilizado o tempo pedagógico? Quantas turmas ela atende? Como são organizadas as classes? Como está organizado o espaço da escola? Ele vem se constituindo em espaço de formação da cidadania? Essas e outras questões, a depender do momento e do contexto, poderão ser utilizadas tanto para identificar quanto para avaliar os avanços alcançados pela escola na construção de sua identidade e contemplar essa questão no seu projeto político-pedagógico. Aqui, vale ressaltar um dos grandes problemas que se vive, hoje, no Brasil: a dificuldade de dispor de dados confiáveis que retratem o mais fielmente possível a realidade da educação, sobretudo da educação básica, e que possam servir de apoio a um planejamento exeqüível. Assim, é necessário que as escolas sejam cuidadosas no levantamento de seus dados, de forma que eles possam de fato indicar como está o seu funcionamento não só para o Censo, como para seu próprio uso, no acompanhamento do seu próprio desempenho. Agora, um desafio: você conhece bem todas as características identitárias de sua escola? PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO 13 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR Como Se Constitui Um Currículo Escolar? Sabe-se que o currículo escolar é um dos pontos mais difíceis a serem enfrentados pela escola. Duas questões podem ser inicialmente levantadas em relação a esse aspecto: Quem define o que e como a escola deve ensinar? Tradicionalmente, as escolas públicas têm a sua prática pedagógica determinada ou por orientações oriundas das secretarias de educação ou pelos próprios livros didáticos. Isso resulta, na maioria das vezes, em uma prática curricular muito pobre, que não leva em conta nem a experiência trazida pelo próprio professor, nem a trazida pelo aluno, ou mesmo às características da comunidade em que a escola está inserida. Por outro lado, isso restringe a autonomia intelectual do professor e o exercício da sua criatividade. E pior: não permite que a escola construa sua identidade. Relacionada a isso, existe uma concepção restrita de currículo, próxima do conceito de programa ou, pior ainda, de uma simples grade curricular, ou de mera listagem dos conteúdos que devem ser tratados. Referências E Às Indicações Bibliográficas O planejamento é um processo permanente que implica escolhas, opções para construção de uma realidade, num futuro próximo. Embora o processo de planejamento ocorra a todo o momento na escola, é importante que as opções assumidas coletivamente estejam materializadas em um documento que, na prática, toma vários nomes: planejamento pedagógico, proposta pedagógica, projeto político-pedagógico, projeto pedagógico, projeto pedagógico-curricular ou plano da escola. É esse documento que deve orientar a escola na importante tarefa de formação plena do indivíduo. Qual o significado e a importância do projeto político-pedagógico para a escola? A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN 9.394/96), no artigo 15, concedeu à escola progressivos graus de autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira. O Que Isso Significa? Ter autonomia significa construir um espaço de liberdade e de responsabilidade para elaborar seu próprio plano de trabalho, definindo seus rumos e planejando suas atividades de modo a responder às demandas da sociedade, ou seja, atendendo ao que a sociedade espera dela. A autonomia permite à escola a construção de sua identidade e à equipe escolar uma atuação que a torna sujeito histórico de sua própria prática. Pensar no processo de construção de um projeto político-pedagógico requer uma reflexão inicial sobre seu significado e importância. Vamos verificar como a LDBEN ressalta a importância desse instrumento em vários de seus artigos: No artigo 12, inciso I, que vem sendo chamado o artigo da escola a Lei dá aos estabelecimentos de ensino a incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica. O artigo 12, inciso VII define como incumbência da escola informar os pais e responsáveis sobre a freqüência e o rendimento dos alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica. No artigo 13, chamado o artigo dos professores , aparecem como incumbências desse segmento, entre outras, as de participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino (Inciso I) e elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino (Inciso II). No artigo 14, em que são definidos os princípios da gestão democrática, o primeiro deles é a participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola. É bom lembrar que, pela primeira vez no Brasil, há uma Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que detalha aspectos pedagógicos da organização escolar, o que mostra bem o valor atribuído a essa questão pela atual legislação educacional. Dessa forma, essa é uma exigência legal que precisa ser transformada em realidade por todas as escolas do país. Entretanto, não se trata apenas de assegurar o cumprimento da legislação vigente, mas, sobretudo, de garantir um momento privilegiado de construção, organização, decisão e autonomia da escola. Por isso, é importante evitar que essa exigência se reduza a mais uma atividade burocrática e formal a ser cumprida. Um projeto político-pedagógico voltado para construir e assegurar a gestão democrática se caracterizapor sua elaboração coletiva e não se constitui em um agrupamento de PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO 14 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR projetos individuais, ou em um plano apenas construído dentro de normas técnicas para ser apresentado às autoridades superiores. Mas O Que É Mesmo Projeto Político-Pedagógico? Segundo Libâneo (2004), é o documento que detalha objetivos, diretrizes e ações do processo educativo a ser desenvolvido na escola, expressando a síntese das exigências sociais e legais do sistema de ensino e os propósitos e expectativas da comunidade escolar. Na verdade, o projeto político-pedagógico é a expressão da cultura da escola com sua (re) criação e desenvolvimento, pois expressa a cultura da escola, impregnada de crenças, valores, significados, modos de pensar e agir das pessoas que participaram da sua elaboração. Assim, o projeto orienta a prática de produzir uma realidade. Para isso, é preciso primeiro conhecer essa realidade. Em seguida reflete-se sobre ela, para só depois planejar as ações para a construção da realidade desejada. É imprescindível que, nessas ações, estejam contempladas as metodologias mais adequadas para atender às necessidades sociais e individuais dos educandos. Em síntese, suas finalidades são: Estabelecer diretrizes básicas de organização e funcionamento da escola, integradas às normas comuns do sistema nacional e do sistema ou rede ao qual ela pertence. Reconhecer e expressar a identidade da escola de acordo com sua realidade, características próprias e necessidades locais. Definir coletivamente objetivos e metas comuns à escola como um todo. Possibilitar ao coletivo escolar a tomada de consciência dos principais problemas da escola e das possibilidades de solução, definindo as responsabilidades coletivas e pessoais. Estimular o sentido de responsabilidade e de comprometimento da escola na direção do seu próprio crescimento. Definir o conteúdo do trabalho escolar, tendo em vista as Diretrizes Curriculares Nacionais para ensino, os Parâmetros Curriculares Nacionais, os princípios orientadores da Secretaria de Educação, a realidade da escola e as características do cidadão que se quer formar. Dar unidade ao processo de ensino, integrando as ações desenvolvidas seja na sala de aula ou na escola como um todo, seja em suas relações com a comunidade. Estabelecer princípios orientadores do trabalho do coletivo da escola. Criar parâmetros de acompanhamento e de avaliação do trabalho escolar. Definir, de forma racional, os recursos necessários ao desenvolvimento da proposta. A partir dessas finalidades, é preciso destacar que o projeto político-pedagógico extrapola a dimensão pedagógica, englobando também a gestão financeira e administrativa, ou seja, os recursos necessários à sua implementação e as formas de gerenciamento. Em suma: construir o projeto político-pedagógico significa enfrentar o desafio da transformação global da escola, tanto na dimensão pedagógica, administrativa, como na sua dimensão política. Que Processos Envolvem A Elaboração De Um Projeto Político-Pedagógico? Para que as finalidades do projeto político-pedagógico sejam alcançadas, alguns processos precisam ser desenvolvidos. Em vários momentos, esses processos se entrecruzam e são dependentes uns dos outros, como se verá a seguir. Antes, é necessário que fique claro que não há uma única forma de se construir um projeto, devido às singularidades de cada unidade escolar. O processo de participação A importância da participação vem sendo ressaltada por todos que defendem uma gestão democrática. No entanto, embora nenhum segmento tenha uma importância menor que a do outro nesse trabalho coletivo, é importante definir, com clareza, as responsabilidades que cada um deve assumir, considerando a existência de funções e níveis hierárquicos diferenciados dentro da escola. Ou seja, todos devem ter o seu espaço de participação, mas não se deve confundir o espaço das atribuições, ultrapassando os limites de competência de cada um: Direção, professores e profissionais de suporte PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO 15 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR pedagógico são os responsáveis diretos pela mobilização da escola e da comunidade para a construção da proposta. Além disso, cabe-lhes a tomada de decisões sobre conteúdos, métodos de ensino e carga horária das disciplinas do currículo. Os alunos são fontes de informação das suas necessidades de aprendizagem, que se vão constituir no núcleo das preocupações da escola. São eles, de fato, o alvo de todo esse esforço. O trabalho dos funcionários, por se realizar em uma escola, tem uma dimensão pedagógica que é muito pouco reconhecida, até por eles próprios. As relações que eles estabelecem com os alunos e com os pais poderiam ser exploradas na direção da formação da cidadania. Os pais e a comunidade devem participar efetivamente das decisões sobre o orçamento e a utilização dos recursos financeiros que a escola recebe. Além disso, os pais[1] devem participar das discussões sobre as características do cidadão que se quer formar, sobre o uso do espaço e do tempo escolar e sobre as formas de organização do ensino que a escola deve adotar. O processo de mobilização Para que o projeto político-pedagógico seja, de fato, um instrumento de melhoria de qualidade da escola, ele precisa ser construído coletivamente, com responsabilidade e compromisso, a partir de um processo contínuo de mobilização que envolve elaboração, execução, acompanhamento, avaliação e reelaboração. Uma das mais importantes tarefas da equipe gestora é encontrar pontos de partida para atingir um nível esperado de mobilização, pois, durante o processo, muitas lideranças vão emergir, provocando novas adesões. O papel do Conselho Escolar nesse trabalho de mobilização[2] é fundamental, já que ele congrega os representantes dos diversos segmentos da escola. No entanto, é sempre desejável que a participação da comunidade seja ampliada com a presença de outras pessoas, além daquelas que já fazem parte do Conselho. Essa mobilização é indispensável, sob pena de não se conseguir construir a proposta de uma forma democrática, legitimada por aqueles que fazem da escola um espaço vivo e atuante. O processo de negociação É preciso compreender que, nas sociedades humanas, nenhum processo se faz de forma linear e harmônica e, portanto, a negociação se torna um elemento central na realização de qualquer trabalho que envolva a coletividade. A participação democrática, condição essencial de formação do cidadão, supõe a presença de conflitos. O próprio exercício da participação abre espaço para a emergência desses conflitos. É impossível evitar tais situações, porque elas existem de fato e revelam a variedade de concepções que norteiam as ações pessoais. É necessário, pois, reconhecer a existência de tensões ou conflitos entre as necessidades individuais e os objetivos da instituição e compreender a sua natureza, de modo a capitalizar as divergências em favor de um objetivo maior. É aqui que entra o papel da negociação. Saber negociar significa dar lugar ao debate, à expressão das várias necessidades e das diferenças, produzindo um ambiente do qual resulte a assunção coletiva dos conflitos e dos problemas, a cooperação voluntária no trabalho em equipe, a repartição mais igualitária do poder e dos recursos. Assim, a autonomia da escola não é, isoladamente, a autonomia dos gestores ou a dos professores ou a dos alunos ou a dos pais. Ela é resultante da confluência de várias formas de pensamento e de interesses diversos que é preciso saber gerir, integrar e negociar. O projeto político-pedagógico, portanto, vai significar uma síntese desses diversosinteresses e tem como propósito dar um sentido coletivo às autonomias individuais. Que Cidadão Se Quer Formar? Tanto a mobilização como a participação e a negociação não ocorrem no vazio. A proposta pedagógica tem um conteúdo que vai sendo construído por meio desses processos. Dentre esses conteúdos, está a definição do cidadão que se quer formar. Que características devem ter o cidadão para viver no mundo contemporâneo? A Escola Tem Espaço Para Definir Essas Características? PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO 16 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR Afinal, que espaço tem a escola nessa definição? A despeito de se considerar que competências, conhecimentos, habilidades e valores são básicos para a vida do cidadão em qualquer lugar do mundo, é também reconhecida, hoje, a necessidade da preservação e do desenvolvimento de aspectos que constituem a especificidade das diversas culturas. Isso significa dizer que o espaço da escola é o da formação de cidadãos capazes de enfrentar os novos desafios do mundo contemporâneo, mas que tenham consciência de suas raízes históricas, conhecimento da produção cultural de seu povo, de forma a afirmar a sua identidade. É o espaço do ensino competente que, sem negar as tradições e, até mesmo, tomando-as como base, prepare seus alunos para a plena participação na vida econômica, sociopolítica e cultural do país. Para que isso se torne possível, recomenda-se: Que o coletivo da escola tome essas questões como foco de discussão, passando a entender, com maior clareza, tanto a concepção de cidadão posta nos documentos oficiais que definem e orientam a educação brasileira, quanto à dimensão do papel que a escola tem na sua formação. Que a escola desenvolva mecanismos de conhecimento de quem são seus alunos, quais as suas condições de vida, as suas aspirações, as expectativas da família e da comunidade. Que sejam realizados levantamentos e estudos das manifestações culturais locais (religiosas, folclóricas, esportivas, artísticas) que, incorporadas ao currículo, estabeleçam elos significativos com o conhecimento escolar formal, fazendo emergir a identidade de cada grupo ou comunidade que participa da escola. Que, a partir das questões anteriores, sejam levantadas aquelas características e competências, além das propriamente escolares, necessárias ao exercício da cidadania, na área de atuação da escola. Como construir a identidade da escola no seu projeto político-pedagógico? Toda escola deve ter uma alma, uma identidade, uma qualidade que a faz ser única para todos que nela passam uma parte de suas vidas. Esse vínculo cognitivo e afetivo deve ser construído a partir das vivências propiciadas a toda a comunidade escolar. E essa preocupação deve estar presente na elaboração do projeto político pedagógico, o qual deve contribuir para criar ou fortalecer a identidade da escola. Quanto a esse aspecto, a comunidade escolar deve levantar as características atuais da escola, suas limitações e possibilidades, os seus elementos identificadores, a imagem que se quer construir quanto a seu papel na comunidade em que está inserida. Esse levantamento dos traços identificadores da escola constitui um diagnóstico que servirá de base para a definição dos objetivos a perseguir, dos conteúdos que devem ser trabalhados, das formas de organização do seu ensino. Algumas questões podem conduzir à realização desse diagnóstico: Onde está localizada a escola: na zona rural (fazenda, povoado, engenho, assentamento, agrovila, agroindústria) ou na zona urbana (periferia, centro, condomínio)? Quais os principais problemas dessa comunidade? Que formas a escola tem de inserção na comunidade? Como o seu espaço é utilizado pela comunidade? Que limitações ou possibilidades a escola percebe nas suas relações com a comunidade? Quem é o aluno que freqüenta a escola? Há alunos em idade escolar fora da escola na comunidade? Existem alunos com jornada formal de trabalho? Como se vêm dando o desempenho escolar dos alunos nos últimos dois anos? Quais são os índices de aprovação, reprovação e evasão apresentados pela escola? Qual a relação entre a idade dos alunos e a série que freqüentam? PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO 17 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR Quem são os profissionais que atuam na escola? O número de professores é suficiente para atender os alunos? Qual a qualificação dos professores? A escola tem funcionários em número suficiente? Há agentes de apoio pedagógico? Quais são as condições físicas e materiais da escola? Quais as condições de uso das dependências escolares? Como vem sendo utilizado o tempo pedagógico? Quantas turmas ela atende? Como são organizadas as classes? Como está organizado o espaço da escola? Ele vem se constituindo em espaço de formação da cidadania? Essas e outras questões, a depender do momento e do contexto, poderão ser utilizadas tanto para identificar quanto para avaliar os avanços alcançados pela escola na construção de sua identidade e contemplar essa questão no seu projeto político-pedagógico. Aqui, vale ressaltar um dos grandes problemas que se vive, hoje, no Brasil: a dificuldade de dispor de dados confiáveis que retratem o mais fielmente possível a realidade da educação, sobretudo da educação básica, e que possam servir de apoio a um planejamento exeqüível. Assim, é necessário que as escolas sejam cuidadosas no levantamento de seus dados, de forma que eles possam de fato indicar como está o seu funcionamento não só para o Censo, como para seu próprio uso, no acompanhamento do seu próprio desempenho. Como Se Constitui Um Currículo Escolar? Sabe-se que o currículo escolar é um dos pontos mais difíceis a serem enfrentados pela escola. Duas questões podem ser inicialmente levantadas em relação a esse aspecto: Quem define o que e como a escola deve ensinar? Tradicionalmente, as escolas públicas têm a sua prática pedagógica determinada ou por orientações oriundas das secretarias de educação ou pelos próprios livros didáticos. Isso resulta, na maioria das vezes, em uma prática curricular muito pobre, que não leva em conta nem a experiência trazida pelo próprio professor, nem a trazida pelo aluno, ou mesmo às características da comunidade em que a escola está inserida. Por outro lado, isso restringe a autonomia intelectual do professor e o exercício da sua criatividade. E pior: não permite que a escola construa sua identidade Relacionada a isso, existe uma concepção restrita de currículo, próxima do conceito de programa ou, pior ainda, de uma simples grade curricular, ou de mera listagem dos conteúdos que devem ser tratados. Daí porque muitos professores se orientam apenas pelos sumários ou índices dos livros didáticos. O currículo, entretanto, abrange tudo o que ocorre na escola, as atividades programadas e desenvolvidas sob a sua responsabilidade e que envolvem a aprendizagem dos conteúdos escolares pelos alunos, na própria escola ou fora dela, e isso precisa ser muito bem pensado na hora de elaborar um projeto político-pedagógico. Assim sendo, é indispensável que a escola se reúna para discutir a concepção atual de currículo expressa tanto na LDBEN quanto nas Diretrizes Curriculares Nacionais para os diferentes níveis de ensino e também nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN s). A legislação educacional brasileira, quanto à composição curricular, contempla dois eixos: Uma Base PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO 18 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR Nacional Comum, com a qual se garante uma unidade nacional, para que todos os alunos possam ter acesso aos conhecimentos mínimosnecessários ao exercício da vida cidadã. A Base Nacional Comum é, portanto, uma dimensão obrigatória dos currículos nacionais e é definida pela União. Uma Parte Diversificada do currículo, também obrigatória, que se compõe de conteúdos complementares, identificados na realidade regional e local, que devem ser escolhidos em cada sistema ou rede de ensino e em cada escola. Assim, a escola tem autonomia para incluir temas de seu interesse. É através da construção da proposta pedagógica da escola que a Base Nacional Comum e a Parte Diversificada se integram. A composição curricular deve buscar a articulação entre os vários aspectos da vida cidadã (a saúde, a sexualidade, a vida familiar e social, o meio ambiente, o trabalho, a ciência e a tecnologia, a cultura, as linguagens) com as áreas de conhecimento (Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, Geografia, História, Língua Estrangeira, Educação Artística, Educação Física e Educação Religiosa). Há várias formas de composição curricular, mas os Parâmetros Curriculares Nacionais indicam que os modelos dominantes na escola brasileira, multidisciplinar e pluridisciplinar, marcados por uma forte fragmentação, devem ser substituídos, na medida do possível, por uma perspectiva interdisciplinar e transdisciplinar. O Que Isso Significa? Interdisciplinaridade significa a interdependência, interação e comunicação entre campos do saber, ou disciplinas, o que possibilita a integração do conhecimento em áreas significativas. Transdisciplinaridade é a coordenação do conhecimento em um sistema lógico, que permite o livre trânsito de um campo de saber para outro, ultrapassando a concepção de disciplina e enfatizando o desenvolvimento de todas as nuances e aspectos do comportamento humano. Com base nessas formas de composição curricular, é que os Parâmetros Curriculares Nacionais introduzem os temas transversais que, tomando a cidadania como eixo básico, vão tratar de questões que ultrapassam as áreas convencionais, mas permeiam a concepção, os objetivos, os conteúdos e as orientações didáticas dessas áreas. Essa transversalidade supõe uma transdisciplinaridade, o que vai permitir tratar uma única questão a partir de uma perspectiva plural. Isso exige o comprometimento de toda a comunidade escolar com o trabalho em torno dos grandes temas[2] definidos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, como Ética, Saúde, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural e Orientação Sexual, os quais podem ser particularizados ou especificados a partir do contexto da escola. Como essas determinações formais do currículo vão se manifestar na escola? A sua concretização, no espaço dinâmico que é o da escola, vai produzir, simultaneamente, diferentes formas de expressão do currículo. Ao lado do currículo formal[3], determinado legalmente e colocado nas diretrizes curriculares, nas propostas pedagógicas e nos planos de trabalho, há um currículo em ação, considerado o currículo real[4], que é aquilo que de fato acontece na escola, e o currículo oculto[5], que é aquilo que não está formalmente explicitado, mas que perpassa, o tempo todo, as atividades escolares. Essas expressões do currículo vão constituir o conjunto das aprendizagens realizadas pelos alunos, e o reconhecimento dessa trama, presente na vida escolar, vai dar à equipe da escola melhores condições para identificar as áreas problemáticas[6] da sua prática pedagógica. Assim, no processo de elaboração da proposta pedagógica ao definir o que ensinar, para que ensinar, como ensinar , a equipe gestora e a comunidade escolar devem estudar a legislação educacional, bem como a documentação oficial da Secretaria de Educação e do Conselho Estadual e ou Municipal de Educação, produzida com o objetivo de orientar a implantação desses dispositivos legais no que se refere ao currículo. A partir daí, torna-se necessário identificar que ações precisam ser planejadas e realizadas pela escola para colocar em prática um currículo que contemple os objetivos da educação básica. PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO 19 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR A direção da escola, ou a equipe gestora como um todo, tem, nesse contexto, um papel fundamental. Além de liderar a construção permanente da proposta pedagógica, deve estar todo o tempo viabilizando as condições para sua execução, e uma delas é a formação contínua de seus professores para que eles possam desenvolver, com competência, o currículo expresso na proposta pedagógica.[1] Um exemplo de conteúdo da parte diversificada é o escolhido por uma escola do semi-árido baiano: estratégias para a convivência com a seca.[2] Esses temas, que têm um caráter universal, devem ser trazidos para o contexto local de forma que o aluno aprenda da realidade e na realidade. Para atingir aquilo a que se propõe, até como decorrência da própria lei, a escola precisa ensinar a criança a estabelecer relações entre a sua experiência cotidiana e os conteúdos escolares, em torno dos quais todos trabalharão, ampliando, assim, o seu universo de referência. A escola deve, acima de tudo, fornecer as condições para que seus alunos participem da formulação e reformulação de conceitos e valores, tendo em vista que o ato de conhecer implica incorporação, produção e transformação do conhecimento, para o exercício de uma cidadania responsável.[3] O currículo formal é entendido como o conjunto de prescrições oriundas das diretrizes curriculares, produzidas tanto no âmbito nacional quanto nas secretarias e na própria escola e indicado nos documentos oficiais, nas propostas pedagógicas e nos regimentos escolares.[4] O currículo real é a transposição pragmática do currículo formal, é a interpretação que professores e alunos constroem, conjuntamente, no exercício cotidiano de enfrentamento das dificuldades, sejam conceituais, materiais, de relação entre professor e alunos e entre os alunos. São as sínteses construídas por professores e alunos, a partir dos elementos do currículo formal e das experiências pessoais de cada um.[5] O currículo oculto é aquele que escapa das prescrições, sejam elas originárias do currículo formal ou do real. Diz respeito àquelas aprendizagens que fogem ao controle da própria escola e do professor e passam quase despercebidas, mas que têm uma força formadora muito intensa. São as relações de poder entre grupos diferenciados dentro da escola que produzem aceitação ou rejeição de certos comportamentos, em prejuízo de outros, são os comportamentos de discriminação dissimulada das diferenças e, até mesmo, a existência de uma profecia auto-realizadora dos professores que classifica, de antemão, certos alunos como bons e outros como maus. O currículo oculto também vai se manifestar,entre outras formas, na maneira como os funcionários tratam os alunos e seus pais, no modo de organização das salas de aula, no tipo de cartaz pendurado nas paredes, nas condições de higiene e conservação dos sanitários, no próprio espaço físico da escola.[6] Diante disso, há algumas questões básicas que toda a escola deveria analisar: Que mensagens não explícitas a escola vem passando para seus alunos? Que conteúdos vêm privilegiando? Que currículo está sendo construído o que enfatiza o sucesso escolar, ou o que, implicitamente, se conforma com o fracasso? PENSE Como definir a orientação didática no projeto político-pedagógico? A função primordial da escola é possibilitar a seus alunos o acesso ao conhecimento escolar. Para isso, o conhecimento disponível é esquematizado, reestruturado, segmentado, simplificado, reconstruído, como meio de promover a sua apreensão pelos alunos. O trabalho escolar, portanto, é uma transposição didática do conhecimento formal em conhecimento escolar.[1] Assim, o professor é, de fato, um mediador na interação dos alunos com
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