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Relatório de estágio

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37
ASSOCIAÇÃO CASA FAMILIAR RURAL ESPERANÇA
CURSO TÉCNICO EM AGRICULTURA
MONIK OLIVEIRA CAPELLARI
PRODUÇÃO DE LEITE À BASE DE PASTO
IPORÃ DO OESTE/SC
2018
MONIK OLIVEIRA CAPELLARI
PRODUÇÃO DE LEITE À BASE DE PASTO
Relatório de estágio apresentado requisito parcial de aprovação na disciplina de Estágio Curricular III do Curso Técnico em Agricultura.
Professora orientadora: Cleusa Rasch
IPORÃ DO OESTE/SC
2018
Monik Oliveira Capellari
Produção de leite à base de pasto
Relatório de Estágio apresentado ao Curso Técnico em Agricultura como Requisito parcial para a aprovação na disciplina de Estágio Curricular da Associação Casa Familiar Rural Esperança.
___________________________________________
Liane Melz Wendenburg
Coordenadora do Curso Técnico em Agricultura
Apresentado à comissão examinadora integrada pelos seguintes professores:
___________________________________________
Orientadora Professora: Eng. Agra.Cleusa Rasch
___________________________________________
Convidado - Casa Familiar Rural Esperança
Apresentado em: ____ / ____ / _____
Conceito: ___________
Iporã do Oeste/SC
2018
“Ama-se mais o que se conquista com esforço”
Benjamin Disraeli
AGRADECIMENTOS
	Agradeço primeiramente a Deus que permite que tudo aconteça, não só nestes anos como estudante, mas em todos os momentos de minha vida.
	Aos meus pais, irmãs e avós, pelo apoio durante os anos de formação.
	A CFR Esperança, a direção e ao corpo docente por oportunizar um ambiente de estudo dinâmico e ao mesmo tempo acolhedor, pelo horizonte de conhecimento que hoje se abre diante de mim e pelos ensinamentos além da sala de aula.
	A professora Cleusa Rasch, a melhor orientadora de estágio em sala e a melhor companhia fora dela.
	Aos meus colegas, uma turma excepcional que rendeu muitos risos e choros durante os 3 anos de formação. Foi uma turma unida acima de tudo, nossa segunda família.
	Agradeço imensamente a Aleisson Lüetke, Paulo Hofstetter e Alice Pinnow, integrantes da equipe de trabalho do Escritório Municipal da Epagri de Iporã do Oeste, pela oportunidade da realização do estágio e pela paciência e solicitude em repassar conhecimento.
	E por último, mas não menos importante, ao meu namorado Alysson Dutkievicz, pelas palavras de conforto e motivação, agradeço infinitamente.
DEDICATÓRIA
A todos que, de algum modo, fizeram parte dessa conquista, dedico.
RESUMO
O presente relatório descreve as atividades desenvolvidas no Estágio Curricular Obrigatório desenvolvido no Escritório Municipal da Epagri de Iporã do Oeste. A Epagri é uma empresa pública que objetiva disseminar conhecimento, tecnologia e extensão a fim de contribuir para o desenvolvimento sustentável do meio rural. O estágio teve duração de 180 horas e teve por objetivo observar e acompanhar atividades cotidianas da empresa, com foco na produção de leite, o que envolveu acompanhar os mais diversos métodos de realização de assistência técnica e extensão rural, conhecer várias realidades de sistemas de produção, aprender sobre políticas públicas, amostragem de solo, participação em eventos e observação de demais serviços prestados pela empresa. O estágio agregou muito conhecimento técnico para o autor, aliando teoria e prática. Além disso, possibilitou seu engrandecimento quanto pessoa, aperfeiçoando seu senso de responsabilidade e comprometimento.
Palavras-Chave: Leite, sustentabilidade, sistemas de produção, pasto, extensão rural.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO	9
2 REFERENCIAL TEÓRICO	9
2.1 ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL	9
2.2 BEM-ESTAR ANIMAL	9
2.2.1 Estresse calórico	9
2.2.2 Estresse psicológico	9
2.2.3 Diagnóstico de estresse em vacas leiteiras	9
2.3 BOAS PRÁTICASAGROPECUÁRIAS NA PRODUÇÃO DE LEITE	9
2.4 SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE GADO LEITEIRO	9
2.4.1 Pastoreio Racional Voisin (PRV)	9
2.4.1.1 Manejo no PRV	9
2.4.1.2 Fornecimento de água e arborização	9
2.5 FORRAGEIRAS	9
2.5.1 Gramíneas perenes	9
2.5.1.1 Gênero Cynodon	9
2.5.1.2Hemártria	9
2.5.1.3 Capim-elefante	9
2.5.1.4 Missioneira gigante	9
2.5.2 Gramíneas anuais	9
2.5.2.1 Aveia	9
2.5.2.2 Azevém	9
2.5.3 Leguminosas perenes	9
2.5.3.1 Trevo-branco	9
2.5.3.2 Trevo-vermelho	9
2.5.3.3 Amendoim forrageiro	9
2.6 CONSORCIAMENTO	9
2.6.1 Sobressemeadura	9
3 METODOLOGIA UTILIZADA	9
4 CONTEXTO DA EMPRESA	9
5 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS	9
5.1 ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL	9
5.1.1 Dia de Campo sobre Bovinocultura Leiteira	9
5.2 SISTEMAS DE PRODUÇÃO À BASE DE PASTO	9
5.2.1 Sistema Silvipastoril	9
5.3 UNIDADES DE REFERÊNCIA TÉCNOLÓGICA (URT’s)	9
5.4 AMOSTRAGEM DO SOLO	9
5.4.1 Interpretação dos resultados e recomendação	9
5.5 POLÍTICAS PÚBLICAS – ESFERA FEDERAL	9
5.5.1 Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - Pronaf	9
5.6 POLÍTICAS PÚBLICAS – ESFERA ESTADUAL	9
5.6.1 Programa Menos Juros	9
5.6.2 Programa Terra Boa	9
5.7 OUTRAS ATIVIDADES	9
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS	9
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS	9
LISTA ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Principais objetivos das Boas Práticas na Pecuária de leite.	9
Figura 2: Representação da “labareda de crescimento” da pastagem.	9
Figura 3: Exemplo de divisão de piquetes no sistema PRV.	9
Figura 4: Pastagem com aparência de um tabuleiro de xadrez (vários estádios de desenvolvimento).	9
Figura 5: Canteiro em sistema de túnel baixo para produção de mudas de pastagem.	9
Figura 6: Sistema de pastagem de Tifton 85 sobressemeado com Aveia e sombreamento com Eucalipto (Eucalyptus spp) e Salgueiro-chorão (Salix Babylonica).	9
Figura 7: Exemplo de divisão em glebas de uma propriedade de acordo com a declividade e o uso do solo.	9
Figura 8: Amostradores de solo.	9
Figura 9: Trado calador.	9
Figura 10: Embalagem etiquetada para envio do solo ao laboratório.	9
LISTA DE SIGLAS
Ater – Assistência Técnica e Extensão Rural;
BPPL – Boas Práticas na Pecuária de Leite;
DAP – Declaração de Aptidão ao Pronaf;
ha– Hectare;
HCN – Ácido cianídrico;
MS – Matéria seca;
PB – Proteína Bruta;
Pronaf – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar;
PRV – Pastoreio Racional Voisin;
URT’s – Unidades de Referência Tecnológica;
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como maior objetivo apresentar alguns aspectos relevantes referentes à bovinocultura leiteira, tendo como foco principal a sustentabilidade na atividade, o manejo à base de pasto e o papel que a extensão rural desempenha nesse processo. Os objetivos desta intervenção a campo foi vivenciar a importância do acompanhamento técnico para os produtores familiares rurais, bem como observara atividade leiteira e suas particularidades em relação ao manejo e a produção de pasto.
A referida atividade exerce grande importância para nossa região, sendo que nosso estado, com apenas 1,2% do território nacional detém 10,5% da produção de leite (DEBONA, 2017). Jochims, Dorigon& Portes (2016 apud EPAGRI 2015) afirmam que a produção de leite em Santa Catarina segue uma trajetória de crescimento acentuado e constante, inclusive a proporções mais elevadas do que em outros estados. No período de 2000 e 2013, por exemplo, o crescimento da produção catarinense foi de 190% e a partir de 2007, o estado já ocupava a 5ª colocação no ranking de produção do país. 
O mesmo autor cita que, tendo como base dados da Pesquisa Pecuária Municipal (IBGE, 2014), constata-se que esta expansão da produção estadual se deve ao crescimento da atividade leiteira no Oeste Catarinense. A produção de leite na região passou de 274,7 milhões de litros em 1990, para 2,2 bilhões litros em 2014, um aumento equivalente a 800%. Aliado a isso, o aumento do preço pago aos produtores nos anos recentes fez com que, em 2013, o leite alcançasse a segunda posição na formação do valor bruto daprodução agropecuária de Santa Catarina, superado apenas pela carne de frango. Pode-se destacar ainda que a região responde por aproximadamente 3/4 do total de leite produzido em Santa Catarina, onde há dinamicidade e capacidade de promover rápidas mudanças produtivas, com agregação de tecnologia e inovação.
Outro dado expressivo é o aumento do número de vacas ordenhadas na região, que de 1990 a 2014 cresceu 328% e a produção por vaca ordenhada 247%, o que representa não só crescimento na atividade, mas também a eficiência da produção. O Oeste Catarinense, devido as suas propriedades com restrições de área (média de 16,1 ha por imóvel) e da reduzida mão de obra, buscou planejar sistemas produtivos sustentáveis nos aspectos ambiental, econômico e social com objetivo de produzir leite com o menor custo possível e aperfeiçoar os recursos disponíveis (JOCHIMS, DORIGON & PORTES, 2016). Melo (2017) justifica que a aplicação de tecnologia na gestão e o investimento em pastagens, melhorias no manejo, inseminação artificial e uso de indicadores de desempenho são os responsáveis pelo aumento de produtividade.
Pode-se observar que além da relevância para a economia a nível estadual e nacional, o leite exerce papel fundamental para o agricultor familiar, onde, quando não é a principal renda da propriedade, é a única renda mensal, importante para o produtor e para as pequenas cidades da região. Dada a extensão da cadeia produtiva, pode-se afirmar também que ela permite a distribuição de laticínios, que acabam gerando emprego e renda e desempenham função social. Portanto, desenvolverei a seguir algumas questões referentes a produção de leite a base de pasto.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL
Segundo Gonçalves (2014), a extensão rural nada mais é do que um processo educativo que propicia assistência técnica, econômica e social às famílias rurais, tendo por objetivo elevar o seu nível de vida. Assim sendo, o objetivo da extensão rural é difundir técnicas de trabalho e produção úteis e sustentáveis aos produtores rurais por meio de métodos educativos, tal como a assistência técnica. Na mesma linha, Ulrich (2010 apud OLINGER, 2006) define extensão rural como o processo de estender conhecimentos e habilidades sobre práticas agropecuárias, florestais e domésticas e estimular a população rural para que haja mudanças em sua maneira de cultivar a terra, de criar o gado, administrar seu negócio, dirigir seu lar e por fim, trabalhar em favor da própria comunidade. Todos os desafios da extensão rural dirigem-se para o desenvolvimento sustentável e a segurança alimentar.
	Devido ao seu valor nutricional, o leite é muito consumido por todas as faixas etárias, e cada vez mais, é exigido que este produto seja produzido de forma segura e eficiente (GONÇALVES, 2014). Além disso, como citado anteriormente, o leite é um dos produtos mais importantes para a economia da Região Oeste Catarinense, muitas vezes o mesmo é a principal ou única fonte de renda das famílias. Deste modo, a produção carece de ser eficiente e ao mesmo tempo rentável, levando sempre em consideração as boas práticas de produção.
	Podem ser enumerados diversos fatores que podem levar a baixa eficiência de produção, dentre eles é possível destacar a má administração das propriedades, o uso incorreto dos insumos e desconhecimento dos procedimentos adequados de produção. O sucesso da atividade leiteira está aliado a diversos elementos, envolvendo planejamento, administração, manejo, genética entre outros. Mas acima de tudo, cada propriedade é única, e exige um estudo particular de todos os fatores (índices zootécnicos e demais dados relacionados à produção) a fim de permitir a tomada de decisão mais cabível para cada situação. Em todas essas circunstâncias, o acesso a informação é um fator determinante, e quem irá trazer essas informações é o extensionista rural no ato da assistência técnica (GONÇALVES, 2014).
O papel do extensionista é aplicar os conhecimentos da ciência aos problemas do agricultor, estender conhecimentos e habilidades para melhoria do sistema de produção, estimular processos de mudança nos campos técnico, econômico e social, servir de ponte entre a informação e o produtor rural, assim oportunizando e acelerando o desenvolvimento econômico e social do meio rural (ULRICH, 2010.)
	Ulrich (2010) afirma que como a extensão rural se trata de um processo educativo extracurricular ou informal, as formas de ministração do conhecimento são as palestras, cursos de curta duração, seminários e no contato direto entre o produtor e o extensionista. 
2.2 BEM-ESTAR ANIMAL
	De modo prático, a definição de bem-estar animal mais aceita hoje é a que diz que “ o bem-estar de um indivíduo é o seu estado em relação às suas tentativas de se adaptar ao seu ambiente” (MOLENTO, 2005, apud BROOM, 1995).Paralelo a isso, surgiram as cinco liberdades dos animais, teoria esta criada pelo professor John Webster e divulgada pelo FarmAnimal WelfareConcil (FAWC): ele deve ser livre de fome e de sede; livre de desconforto; livre de dor, lesão ou doença; livre para expressar os seus comportamentos normais; livre de medo e aflição (VALGOI, 2011).
	De acordo com Paranhos e Cromberg (1997 apud Broom 1995), são indicadores de um bem-estar pobre qualquer forma de privação, desconforto, dor, expectativa de vida reduzida, redução da habilidade de crescer e se reproduzir, lesões, doenças e sistema imunológico com eficiência reduzida. Já o bem-estar bom é avaliado quando o animal apresenta comportamentos normais e indicadores fisiológicos de prazer.
Produtos de origem animal de baixo preço, muitas vezes as custas de sofrimento animal, estão sendo cada vez sendo menos aceitas pela sociedade. Por conta disso, os códigos morais e os requisitos de tratamento adequado aos animais não são mais vistos como algo que possa ser deixado para livre escolha dos produtores rurais (MOLENTO, 2005 apud SINGER, 2002). Por isso, o conhecimento do comportamento natural do animal é um importante instrumento no diagnóstico de bem-estar animal. Alterações de postura, locomoção e temperamento, aliados a observações do estado sanitário podem indicar que um animal sente dor ou desconforto (BOND, 2012 apud FRASER, 1993).
2.2.1 Estresse calórico
	A seleção genética nos últimos 50 anos foi um dos fatores que contribuíram para a elevação da produção de leite, no entanto, esse crescimento custou o surgimento de animais mais sensíveis frente às diversas situações, como as ambientais. Assim sendo, o estresse calórico deve ser respeitado como um importante fator na diminuição da produção e reprodução de vacas leiteiras. O clima possui interferência direta sobre a vida na terra como um todo, assim como sobre os processos fisiológicos dos animais de produção. Portanto é fundamental conhecer e entender como o organismo animal reage as condições climáticas, em especial ao calor (ANTUNES et al, 2009).
	O estresse calórico é o desequilíbrio que ocorre no organismo em resposta às condições ambientais desfavoráveis e juntamente com a alta produção de calor metabólico, resultam em um estoque de calor excedente, ou seja, animal recebe calor e produz calor e não consegue eliminá-lo. Geralmente, quanto mais leite o animal produz mais calor metabólico é gerado, o que significa que animais mais produtivos são os mais susceptíveis ao estresse calórico. Para regular a temperatura corporal, os bovinos dispersam calor através da evaporação, ofegação e salivação. Essas atividades necessitam de 20% de energia em caso de temperatura elevada, portanto, parte da energia de produção será direcionada para regular a temperatura (Rehagro, 2017).
	Conforme mesmo autor, há uma diferença significativa entre animais zebuínos, taurinos e mestiços, sendo que a zona de conforto térmico para zebuínos está entre 10 °C e 27°C, para taurinos entre 0°C e 16°C e para mestiços 5°C a 31°C. Podemos perceber que os animais de origem europeia são mais susceptíveis ao estresse calórico.
	O estresse por calorafeta o tempo de descanso, já que nas horas mais quentes do dia as vacas preferem ficar em pé. Conforme Antunes et al (2009), o maior volume de leite produzido por uma vaca acontece quando esta está deitada descansando. Assim, quanto menor o tempo de descanso, menos produção. Rehagro (2017), complementa que o cio de vacas leiteiras de 14 horas pode ser reduzido a 8 horas em períodos mais quentes, além de reduzir a taxa de fecundação e prejudicar o desenvolvimento embrionário, resultando na queda da taxa de prenhez.
2.2.2 Estresse psicológico
	O estresse psicológico está relacionado basicamente ao medo, seja de outros animais do plantel, seja do homem ou de qualquer situação nova. É importante salientar que qualquer ocorrência estressante para o animal pode alterar o bem-estar e reduzir a produtividade. Na atividade de leite, onde os animais são manejados em espaços restritos, as interações entre os animais e entre os animais e o homem são intensas (VALGOI, 2011).
Os bovinos por natureza têm um sendo hierárquico rígido, por isso, podem competir por alimento e território, como cocho, bebedouro e até local de descanso. As vacas maiores e mais pesadas, as ditas dominantes, têm prioridade dentro do grupo, isso significa que irão comer primeiro, beber primeiro e irão escolher onde irão descansar. Quando um novo animal é introduzido no lote, ele deverá interagir e encontrar seu lugar na escala social. Esses problemas podem ser minimizados com o dimensionamento correto das instalações (AZEVÊDO E ARAÚJO, 2018).
	Situações estressantes entre bovinos e humanos, por sua vez, são relacionados ao contato necessário, como aplicação de medicamentos e vacinas, descorna, ordenha entre outras. A exposição gradual de um animal a rotina de manejo pode acostumá-lo, mas experiências de maus tratos irão causar medo dos humanos, o que irá dificultar as atividades diárias (AZEVÊDO & ARAÚJO, 2018). Peters, Barbosa Silveira & Rodrigues (2007 apud MUNKSGAARD et al, 1997) descrevem que as vacas conseguem distinguir as pessoas que as tratam positivamente daquelas que o fazem negativamente. Os autores ainda citam que somente a presença da pessoa que causa mais tratos é suficiente para acelerar os batimentos cardíacos e inibir a liberação de ocitocina durante a ordenha, ou seja, o medo dos animais pelos humanos pode ter sim implicações práticas na produção de leite, afetando negativamente a produtividade.
2.2.3 Diagnóstico de estresse em vacas leiteiras
	O bem-estar de um animal é definido como o estado do animal em resposta as suas tentativas de adaptar-se ao ambiente, portanto, quanto mais difícil a adaptação ao ambiente, menor o grau de bem-estar. As técnicas de diagnóstico compreendem as respostas fisiológicas comportamentais e observação da condição sanitária. Outra abordagem de diagnóstico é a de Duncan (2005), que avalia as emoções dos animais como a parte principal do diagnóstico de bem-estar. Essa avaliação é de difícil aplicação, mas a ideia é considerada central no ponto de vista do conceito de bem-estar animal (BOND, 2012).
	Conforme Schmitt (2014), no segmento da fisiologia, é possível avaliar a frequência respiratória, frequência cardíaca e temperatura retal. Estas são as técnicas de mais fácil aplicação por serem mensuráveis de forma objetiva, por ter uma resposta fisiológica de curto prazo. Nesse mesmo conceito, é possível também avaliar as condições do ambiente, como a temperatura e umidade do ar, já que em condições de estresse por calor gera uma diminuição do consumo do alimento, queda da produção leiteira, aumento da temperatura retal e aumento da frequência respiratória, como mostra a tabela a seguir.
Tabela 1: Relação entre diferentes níveis de frequência cardíaca e temperatura retal com o nível de estresse calórico em vacas leiteiras.
	Frequência cardíaca
	Temperatura retal
	Níveis de estresse
	23 bat/min
	38,3 °C
	Não há estresse nenhum
	45 a 65 bat/min
	38,4 a 38,6 °C
	O estresse está sob controle; o apetite, a reprodução e a produção estão normais
	70 a 75 bat/min
	39,1 °C
	Início do estresse calórico; menor apetite, mas a reprodução e a produção estão estáveis
	90 bat/min
	40,1 °C
	Estresse acentuado; cai o apetite, a produção diminui, os sintomas de cio quase desaparecem, ocorre repetição de cio.
	100 a 120 bat/min
	40,9 °C
	Estresse sério; grandes perdas na produção, a ingestão de alimentos diminui 50% e a fertilidade pode cair para 12%
	> 120bat/min
	> 41 °C
	Estresse mortal; as vacas expõem a língua e babam muito, não conseguem beber água nem se alimentar
Fonte: ANTUNES et al (2009).
Outra avaliação que pode ser empregada é a avaliação de hormônios como o Cortisol através da análise do sangue. No entanto, existem problemas que podem induzir a erros, como a forma de coleta do sangue, que pode induzir a falsos positivos devido ao estresse decorrente da contenção animal (SCHMITT, 2014). Por esse motivo, conforme Bond (2012), a dosagem de cortisol nas fezes surgiu como método não invasivo para sua aferição. O cortisol em ruminantes chega ao trato intestinal em, aproximadamente, 12 horas (BOND, 2012 apud PALME et al., 1996). Ainda existe a aferição pela análise da saliva. Para fins de avaliação do cortisol, deve-se levar em consideração a cronologia.
	Podemos, ainda, avaliar a questão comportamental, utilizando a observação direta ou filmagens e posterior análise (SCHMITT, 2014). Conforme Valgoi (2011), normalmente os animais com níveis baixos de bem-estar apresentam comportamentos estereotipados. Estes são comportamentos repetitivos e não apresentam função aparente. Um exemplo é quando o bovino rola a língua tanto dentro quanto fora da boca ou lambe e morde partes do estábulo. Comportamentos como alteração locomotora e de postura, tosse e calafrios podem indicar problemas de bem-estar.
	Dentre os métodos citados acima, podemos ver que existem limitações para aplicações no dia a dia a campo, especialmente quanto aos cuidados na coleta de amostras e no custo. Por isso, é importante selecionar os indicadores fisiológicos práticos que permitam a utilização na rotina (BOND, 2012).
2.3 BOAS PRÁTICASAGROPECUÁRIAS NA PRODUÇÃO DE LEITE
	Conforme IEPEC (2016), as boas práticas na pecuária de leite (BPPL) abrangem diferentes aspectos, que direta ou indiretamente, de modo rápido ou a longo prazo, interferem na capacidade de produção. Com isso a atividade deve ser vista além do volume de produção, uma atenção especial deve ser dada a qualidade do produto. As BPPL servem como mediação a implementação de procedimentos apropriados as distintas fases da produção de leite. Tais práticas devem garantir que o leite seja seguro e adequado para o uso aos quais se destinam e que a propriedade continue viável a tríade econômica, social e ambiental.
As Boas Práticas Agropecuárias aplicadas à pecuária de leite tratam da implementação de procedimentos adequados em todas as etapas da produção de leite nas propriedades rurais, o que coletivamente é conhecido como Boas Práticas na Pecuária de Leite. Essas práticas devem assegurar que o leite e os seus derivados sejam seguros e adequados para o uso a que se destinam, e também que a empresa rural permanecerá viável sob as perspectivas econômica, social e ambiental (SANTIAGO, 2018 apud FAO, 2013).
O mesmo autor complementa que, as BPPL vão além dos históricos de qualidade do leite e envolvem diversos aspectos ligados a atividade: são técnicas identificadas com as melhores para realizar uma determinada tarefa ou um conjunto de tarefas. As técnicas destinadas aos produtores devem promover, a produção, a saúde, o bem-estar e a segurança dentro das propriedades. Além disso, ajudam a tornar o ambiente e as atividades mais organizadas, minimiza as perdas econômicas e garante a segurança do leite produzido.
Figura 1: Principais objetivos das Boas Práticas na Pecuária de leite.
Fonte: FAO & IDF (2013).
	Conforme MilkPoint (2017), a qualidade do leite está diretamente ligada àhigienização das instalações e equipamentos e a sanidade animal. Se o leite for de alta qualidade, o produtor recebe um valor maior por litro de leite, mas em contrapartida, se for de qualidade abaixo da recomendada, o produtor pode ser penalizado. As BPPL diminuem as perdas na produção, geram menos gastos com medicamentos e valorizam os animais (por meio de práticas que proporcionem bem-estar). Além disso, a indústria e o consumidor final também se beneficiam, pois, um leite de qualidade diminui o custo de processamento, rende mais, melhora a qualidade dos derivados, aumenta o tempo de prateleira e a segurança alimentar.
2.4 SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE GADO LEITEIRO
Existem dezenas de sistemas de produção, diversas variações, e ainda há sistemas que se utilizam de práticas de mais de um modelo de produção. De forma ampla, podemos citar o sistema intensivo, que se caracteriza pelo confinamento das vacas em estábulos ou galpões e alimentadas de forma exclusiva no cocho com forragem conservada e concentrado. No sistema semi-intensivo, os animais vão a pastagem, mas recebem complemento no cocho. Já no sistema extensivo, a alimentação dos animais vem exclusivamente das forrageiras (BOV CONTROL, 2017).
	O mesmo autor menciona o sistema corta e leva, onde o produtor corta o pasto e o leva ao cocho, o silvipastoril, que integra pecuária e floresta, o agrossilvipastoril, integração de lavoura, pecuária e floresta e o PRV (Pastoreio Racional Voisin). Não é possível apontar o melhor sistema de produção, pois são vários os requisitos a serem considerados, portanto, existe apenas o sistema que melhor se adequa as condições de cada propriedade. 
Entretanto, Polycarpo et al (2012), afirma que um sistema de produção de leite a base de pasto racionalmente conduzido torna a atividade leiteira competitiva, uma vez que o pasto é o alimento mais barato que pode ser produzido. Segundo Sousa (2003), a região Sul do Brasil está situada em uma latitude privilegiada, o que permite a utilização de forrageiras tropicais, subtropicais e temperadas e facilita a adoção de um sistema de produção animal em pastagem durante o ano todo.
Sousa (2003 apud BENEDETTI, 2002) cita que a produção dando ênfase a utilização de forrageiras como fonte de alimento volumoso pode reduzir os custos de produção além de aumentar a produtividade, pois, como relata Pelozato (2012), as propriedades que buscam desenvolver um sistema de produção eficiente e equilibrado estão investindo na produção de leite a base de pasto, isto em consequência de sua economicidade, do respeito ao bem-estar animal e por atender a característica essencial do bovino, a de herbívoro.
2.4.1 Pastoreio Racional Voisin (PRV)
O Sistema de Pastoreio Racional Voisin, proposto pelo francês André Voisin em 1957, na primeira edição do seu livro “Produtividade do Pasto”, é um sistema que permite um equilíbrio positivo dos fatores Solo, Pasto e Gado, com cada fator tendo um efeito positivo sobre os outros dois. O melhor aproveitamento possível das pastagens é feito através de uma rotação racional. O sistema tem seu ponto fundamental no atendimento das necessidades fisiológicas das forrageiras, ao mesmo tempo em que atende as do gado e automaticamente as necessidades do solo também são atendidas (MELADO, 2005).
Segundo BERTON et al(2011), a execução do sistema se dá pela subdivisão da área de pastagem em piquetes e direcionando o gado para aqueles que apresentam o pasto no seu tempo de repouso adequado. Por este motivo, deve-se ajudar o pasto no seu crescimento, e o bovino, na colheita do mesmo, utilizando-se da racionalidade para a tomada de decisões, com o fim de alcançar maiores e melhores resultados econômicos na produção de leite.
2.4.1.1 Manejo no PRV
	Conforme Dias (2014), Voisin estabeleceu quatro leis que, se obedecidas, permitem ao produtor obter máximos rendimentos técnicos e econômicos. As leis explicam de forma clara, regras naturais e óbvias, mas nem sempre compreendidas e aplicadas, que atendem simultaneamente as necessidades do gado e das pastagens. Das quatro leis, as duas primeiras se preocupam em proteger o pasto e as outras são voltadas para os animais. As quatro leis são expostas na tabela abaixo.
Tabela 2: Leis Universais do Pastoreio Racional Voisin e sua descrição.
	Lei
	Descrição
	Primeira Lei: Lei do Repouso 
	“Antes que o pasto, cortado pelo dente do animal, possa atingir sua produtividade máxima, é preciso que tenha passado um tempo suficiente entre dois cortes sucessivos que permita (a) a acumulação de reservas necessárias nas raízes da planta para um rebrote vigoroso; (b) e para que produza a ‘labareda de crescimento’”
	Segunda Lei: Lei da Ocupação
	“O tempo de ocupação de uma parcela deve ser curto o suficiente para que o pasto cortado no primeiro dia (ou no começo) da ocupação, não seja cortado novamente pelos dentes destes animais antes que estes deixem a parcela”
	Terceira Lei: Lei do Rendimento Máximo
	“Os animais com maiores exigências nutricionais devem ser auxiliados a colher a maior quantidade de pasto da melhor qualidade possível”
	Quarta Lei: Lei do Rendimento Regular
	“A vaca não deve permanecer mais do que três dias na mesma parcela para que esta possa fornecer rendimentos regulares. Os rendimentos serão máximos, se a vaca permanecer em uma parcela por apenas um dia”
Fonte: SCORSATTO (2014 apud MACHADO, 2010).
A primeira lei diz respeito ao repouso da pastagem. O período de repouso necessário varia com o local geográfico, a estação do ano, as condições climáticas, a fertilidade do solo, etc. O tempo de repouso não é igual durante todo o ano, havendo períodos de crescimento acelerado e outros de período lento, e, consequentemente, haverá épocas de excedente e outras de falta. Em épocas onde há sobra de forragem, o recomendado é transforma-lo em feno e silagem (DIAS, 2014 apud MACHADO, 2010). 
O tempo ótimo de repouso é variável é analisado pelo desenvolvimento fenológico e definido nas gramíneas pela senescência das folhas basais e nas leguminosas pelo florescimento de aproximadamente 10% das plantas. Após o período de rápido crescimento, as plantas perdem o poder de rebrote e preparam-se para concluir o ciclo vegetativo e iniciar o ciclo reprodutivo (DIAS, 2014).
Figura 2: Representação da “labareda de crescimento” da pastagem.
Fonte: BERTON et al (2011).
A segunda lei vem de encontro a primeira, e sua finalidade é não permitir que os animais comam sucessivamente os rebrotes da pastagem, provocando o esgotamento de suas reservas. O ideal é que os animais permaneçam no mesmo piquete por 1 ou 2 dias, e que haja um número suficiente de piquetes, de modo que o quando o último piquete for pastoreado o primeiro esteja em seu tempo ótimo de repouso e pronto para ser ocupado novamente (LENZI, 2012).
Castagna, Aronovich & Rodrigues (2008 apud VOISIN, 1957) citam que há um número mínimo de piquetes para se implantar o PRV, sugerem-se 40. Já para Berton et al (2011), o cumprimento das leis universais só é possível através da divisão da área em, no mínimo, 60 piquetes. Existe um cálculo que ajuda a definir em quantos piquetes deve-se dividir a área. O número será determinado pela relação entre o tempo de repouso nas condições mais adversas e o tempo de ocupação desejado mais o número de lotes. Um exemplo prático: 
Um produtor X deseja implantar o sistema de PRV em sua propriedade e possui uma área disponível de pastagem de 6,4 ha (hectares). Ele estimou o tempo de repouso da pastagem da sua região em 62 dias no período crítico e deseja ocupar cada parcela por 1dia dividindo o rebanho em 2 lotes. Primeiramente descontamos 10% da área que servirá como corredores, e obtemos a área disponível para os piquetes: 6,4 – 0,64 (10%) = 5,76 ha. Em seguida dividimos o tempo de repouso pelo tempo de ocupação e somamos 2 ao resultado, pois serão 2 lotes, e obtemos: (62/1) + 2 = 64. Agora sabemos que o produtor terá 64 piquetes somando 5,76 ha, cada piquete terá então 0,09 ha. Se os piquetes forem quadrados,podemos: √900 = 30, logo a dimensão de cada piquete será de 30x30 metros (BERTON et al, 2011).
Figura 3: Exemplo de divisão de piquetes no sistema PRV.
Fonte: BERTON et al (2011).
A presença de corredores é essencial, pois facilita o manejo do gado e a pastagem que cresce ali também pode ser pastoreada. É importante que sejam planejados corredores em torno do perímetro das áreas de pastagem e entre os blocos de piquetes. Os corredores devem ter no mínimo 3 metros, mas podem ser ajustados conforme o número de animais (BERTON et al, 2011).
Visando atender a terceira lei, divide-se o rebanho em lotes de desnate e repasse. O lote de desnate é composto pelos animais mais exigentes e estes pastam a parte mais alta da pastagem, de maior valor nutritivo. O lote de repasse é o lote que rapará a parcela até o ponto conveniente, no chamado pastoreio a fundo ou pastoreio rasante. A qualidade do pasto varia, não só entre diferentes espécies como dentro da mesma espécie, ainda mais na mesma planta em distintos estádios fenológicos. As estruturas mais altas da planta e, por consequência, as mais jovens, são as mais digestíveis, mais palatáveis e que proporcionam maior ingestão (CASTAGNA, ARONOVICH & RODRIGUES, 2008).
	A quarta lei tem o intuito de evitar uma variação na produção animal. Quando um bovino é colocado para pastar em um piquete, ele tinge seu rendimento máximo logo após o primeiro dia e esse rendimento decresce conforme o pasto fica mais “rapado”, pois o animal colherá quantidades cada vez menores e de qualidade cada vez mais inferior (SCORSATTO, 2014).
	Sobre a execução, podemos citar ainda a “arte de saber saltar”, ou seja, a “habilidade do humano, que comanda o pastoreio, para identificar, escolher e utilizar os piquetes que tenham alcançado o ponto ótimo de repouso, independentemente de sua localização na pastagem” (LENZI, 2011). O mesmo autor explica que os animais devem sair de um piquete e ocupar outro que esteja em seu estádio de desenvolvimento adequado, independentemente da localização, não havendo uma ordem pré-estabelecida para o pastoreio dos piquetes, dando a área a aparência de um tabuleiro de xadrez.
Figura 4: Pastagem com aparência de um tabuleiro de xadrez (vários estádios de desenvolvimento).
Fonte: BERTON et al (2011).
2.4.1.2 Fornecimento de água e arborização
	Uma vaca produtora de leite de 500 kg consome, por dia, em torno de 50 litros de água mais 2,5 litros de água para cada litro de leite produzido. Portanto, uma atenção especial deve ser dada ao fornecimento de água, que deve ser potável, abundante e acessível. Acessível pois ao se deslocar a procura de fontes de água, o animal gasta energia que poderia ser aproveitada na produção de leite (CASTAGNA, ARONOVICH & RODRIGUES2008).
Conforme Berton et al (2011), as caixas d´água de PVC são ótimas para usar como bebedouros. Os animais bebem mais água quando oferecida em bebedouros circulares. Tonéis plásticos também podem ser utilizados como bebedouro. Para otimizar recursos, é possível utilizar um bebedouro para cada quatro piquetes próximos e é importante que os bebedouros não estejam nos cantos dos piquetes, evitando com isso que um animal dominante impeça os outros de se aproximarem.
	O mesmo autor comenta que a sombra também é de suma importância, pois os abrigos arbóreos podem os animais dos ventos frios no inverno e da radiação solar no verão, promovendo mais conforto. Além disso, o pasto sombreado aumenta a produção de massa forrageira em relação a plantas em pleno sol.
2.5 FORRAGEIRAS
“Antes de se tornar um bom produtor de carne ou de leite, o pecuarista precisa se tornar um excelente produtor de capim” (NASCIMENTO, 2011 apud MELADO, 2002).
	Na visão de AgroCeleiro (2017), as forrageiras constituem-se como a fonte de alimento mais importante para a produção de leite e podem determinar a sobrevivência ou não na atividade, já que são consideradas as mais baratas fontes de alimento. Muitas espécies de plantas podem ser utilizadas para o gado, mas as mais utilizadas são as gramíneas e as leguminosas. Ao escolher a espécie forrageira, devemos considerar sua produtividade, qualidade nutritiva, adaptação ao clima e ao tipo de solo.
2.5.1 Gramíneas perenes
2.5.1.1 Gênero Cynodon
	Não existem registros precisos da introdução dos Cynodons Brasil, mas acredita-se que a grama seda ou Bermuda comum (Cynodon dactylon) tenha chegado às Américas junto com os colonizadores na forma de feno ou cama para os escravos nos navios e a partir daí se disseminaram. Os capins desse gênero vêm ganhando expressão no país nos últimos anos, especialmente depois da introdução do Tifton-85. Atualmente, são três espécies empregadas como forrageiras: Cynodon dactylon (L.) Pers (Capim "coast-cross"), Cynodonn lemfuensis Vanderyst (Capim-estrela de Porto Rico) e Cynodon plectostachyus (K. Schum.) Pilg (Capim-estrela da África). Entre cultivares e híbridos dessas três espécies, existem cerca de nove cultivares com emprego forrageiro no país: Coastal-bermuda, Coastcross, Tifton 68, Tifton 78, Florakirk, Florico, Florona, Tifton 85 e Jiggs (PEDREIRA & TONATO, 2013).
	De modo geral, a gramínea apresenta elevado potencial de produção, podendo chegar a 20 toneladas de MS (matéria seca) /ha/ano com 11 a 13% de PB e 58 a 65% de digestibilidade. Tem boa resistência ao pastejo e pode ser usada também para feno, silagem e pré-secado. Em contrapartida, é exigente em fertilidade, pode apresentar teor elevado de HCN (Ácido cianídrico) (mais do que 200 mg de HCN/kg de matéria verde) e não é resistente a geada (RUGGIERI & CARDOSO, 2016).
2.5.1.2Hemártria
	A Hemarthria altissimaé uma gramínea perene bem adaptada ao clima e solo de Santa Catarina originária do sul do continente africano. Possui alta produtividade, em média 13 toneladas de MS/ha, em torno de 7% de PB e 70% de digestibilidade. Tem ampla adaptação, inclusive em solos úmidos, e tolera bem o frio. É muito competitiva e consorcia bem somente com o amendoim forrageiro (FONTANELI, 2009).
Segundo AgroCeleiro (2017), quatro das principais cultivares de hemártria foram lançadas pela Universidade da Flórida, mas existem cultivares lançadas pela Epagri e IAPAR (Instituto Agronômico do Paraná).
2.5.1.3 Capim-elefante
	De acordo com Vilela (2009), o capim-elefante (Pennisetum purpureum) é uma gramínea de origem africana introduzida no Brasil na década de 50. O principal atributo dessa forrageira é a alta produção mesmo quando submetida a cortes frequentes. O capim elefante exige solos de média e alta fertilidade, é sensível ao frio e ao fogo, não tolera solos úmidos. As cultivares Pioneiro e Kurumi são as mais relevantes.
	Acultivar Pioneiro, lançada em 1996 pela Embrapa foi a primeira do mundo desenvolvida para uso específico sob pastejo. É adaptada ao clima da região sul do Brasil e se caracteriza pela rapidez de crescimento pós pastejo. A produção de MS fica entre 38 e 45 toneldas/ha/ano. A PB gira em torno de 18% e a digestibilidade 62% (NEIVA, 2016).
Conforme mesmo autor, a cultivar BRS Kurumi foi lançada em 2012 pela Embrapa apresenta baixo porte e crescimento vegetativo vigoroso. O valor nutritivo é um dos pontos fortes dessa cultivar. Segundo as pesquisas, os teores de PB variam entre 18% e 20% e os coeficientes de digestibilidade entre 68% e 70%. Já o acúmulo de forragem varia entre 52 e 55 toneladas/MS/ha/ano.
2.5.1.4 Missioneira gigante
	A Missioneira gigante (Axonopus catharinensisValls) é um híbrido desenvolvido em Santa Catarina. A gramínea perene é rústica, apresenta crescimento agressivo, resistente o frio e a pragas e capacidade de consorcio com leguminosas. O teor de PB fica em torno de 15% e rende aproximadamente 2,5 toneladas/MS/ha/corte.
2.5.2 Gramíneas anuais
2.5.2.1 Aveia
“A origem das aveias, assim como de outros cereais, se perdeu na antiguidade. Porém, o geneticista Nikolai Ivanovich Vavilov aponta a Ásia Menor e o Norte da África como os prováveis centros de origem para a aveia” (CARVALHO et al, 2009 apud HORN, 1985).Existem inúmeras espécies de aveia, porém, no Brasil, são cultivadas apenas as aveias branca (Avena sativa L.) e preta (Avena strigosa). As aveias são gramíneas anuais que concentram seu desenvolvimento nos meses mais frios do ano. As brancas distinguem-se das pretas por apresentarem colmos mais grossos e folhas mais largas e os grãos da primeira são geralmente bancos ou amarelados, enquanto na segunda podem variar do branco ao preto. A aveia branca, em comparação com a preta, é mais exigente em fertilidade do solo. Com relação às ferrugens, a aveia preta é mais suscetível à ferrugem do colmo, e a branca, à ferrugem da folha. Entretanto, o grau de resistência a estas doenças é variável entre cultivares (MAROLLI, 2014).
No momento do primeiro corte ou pastejo, quando as plantas atingem em torno de 25 a 35 cm, a aveia apresenta maior teor de proteína bruta (em torno de 20%), superior ao dos rebrotes (em torno de 12%). O acúmulo de forragem é 7 a 9 toneladas/MS/ano (GODOY, RODRIGUES & PRIMAVESI, 2009).
2.5.2.2 Azevém
A origem mais provável do azevém anual é o norte da Itália. No Brasil foi introduzido por colonizadores italianos em 1875 no estado do Rio Grande do Sul. O Lolium multiflorum é uma planta que apresenta boa produção de forragem (10 toneladas/ MS/ha), boa rebrotação, resistente ao pastejo e ao excesso de umidade, tem alto valor nutritivo (20 a 22% de PB) e boa palatabilidade, mas não resiste ao calor. É uma gramínea considerada rústica, competitiva, com boa capacidade de perfilhamento e que se desenvolve bem em qualquer tipo de solo, mas prefere os argilosos, férteis e úmidos (CARVALHO, 2009 apud ARAUJO, 1971).
2.5.3 Leguminosas perenes
2.5.3.1 Trevo-branco
	Há indícios de que o trevo-branco seja originário dos países do leste do Mediterrâneo ou da Ásia Menor. A dispersão pelos outros continentes é associada com a colonização (CARVALHO et al, 2009 apud GIBSON & HOLLOWELL, 1966).
O mesmo autor explica que o Trifolium repens L. é uma leguminosa perene, suas folhas são compostas por folíolos ovais e glabros, com margens denteadas e mancha esbranquiçada em forma de meia lua na face superior. O trevo-branco não resiste a altas temperaturas e é razoavelmente tolerante à geada. O teor de PB varia de 18 a 22%. Ainda que em cultivo singular possa produzir entre 7 a 11 toneladas/ha de MS, o seu principal usoé a consorciação com gramíneas.
2.5.3.2 Trevo-vermelho
	Nas palavras de Carvalho et al (2009, apud MERKENSCHLAGER, 1934), o trevo-vermelho surgiu na Ásia e sudeste da Europa e foi levado para a América por colonizadores ingleses.
O Trifolium pratense L.é considerada uma leguminosa bienal ou perene de curta duração, com folhas trifoliadas oblongas ou elípticas e tem raiz pivotante. É rústico, palatável e nutritivo, normalmente suporta geada e prefere climas mais amenos, além de ser exigente em fertilidade. Apresenta boa fixação de nitrogênio, indicada para o uso em consorciação com gramíneas. Possui 15% de PB e acumula em torno de 4 toneladas de MS/ha/ano (SCHNEIDERet al, 2009).
2.5.3.3 Amendoim forrageiro
	Originário da América do Sul, o amendoim forrageiro (Arachis pintoi) é uma leguminosa perene de crescimento rasteiro que possui raiz pivotante. As folhas são alternas e glabras, mas com pelos nas margens. Não tolera períodos secos prolongados, mas tem capacidade de competir com invasoras e sobreviver ao inverno. Sua característica mais notável é a de não causar timpanismo no gado.Em função da sua agressividade em cobrir o solo ao sombreamento, esta leguminosa se consorcia muito bem com espécies de gramíneas igualmente agressivas. A média de PB é de 19% e acumula 2,3 toneladas/MS/ha (DIEHL, 2012).
2.6 CONSORCIAMENTO
	Conforme Araujo (2016 apud PORTES, 1984), o consórcio nada mais é do que o plantio de duas ou mais espécies numa mesma área, de modo que uma das culturas conviva com a outra (ou outras), durante parte ou todo o seu ciclo. Os tipos mais comuns de consórcio para pastagem são o silvipastoril, de gramíneas e leguminosas, a sobressemeadura e a integração de lavoura e pecuária.
O aumento da produção, maior qualidade do alimento, maior rendimento e oferta de alimento, enriquecimento da vida biológica do solo e proteção do mesmo contra sua degradação são as principais vantagens obtidas ao consorciar duas espécies de pastagem diferentes em uma mesma área. O mais comum na produção de pasto na região Sul do Brasil é fazer com uma espécie de leguminosa e uma de gramínea. As leguminosas possuem maiores níveis de PB (proteína bruta) e digestibilidade, além da capacidade de fixação de Nitrogênio no solo através da simbiose com bactérias do gênero Rhizobium (BOLSON, PEREIRA &PEDREIRA, 2012).
	Segundo Xavier et al (2003), no caso de pastagens de gramíneas formadas, antes de introduzir as leguminosas, deve-se rebaixar as plantas já estabelecidas por meio de pastejo pesado ou roçagem, para facilitar a semeadura. Em áreas íngremes, a introdução da segunda cultivar pode ser feita em covas em linhas e faixa alternadas. Quando a gramínea for braquiária ou outra planta agressiva, deverá ser feito o preparo integral do solo (a gramínea retorna espontaneamente, pois há a presença de sementes no solo), semeando a leguminosa a lanço ou em sulcos.
	O mesmo autor cita que se o produtor optar por estabelecer as duas pastagens ao mesmo tempo, o primeiro passo é preparar o solo, parcial ou integralmente, dependendo da declividade do terreno. A introdução de gramínea deverá ser feita junto com a leguminosa por meio de plantio em sulcos ou em faixas. Nos dois casos, com uma das culturas estabelecida ou implantadas juntas, deve-se respeitar a proporção de 35% de leguminosas e 65% de gramíneas para evitar problemas com timpanismo.
2.6.1 Sobressemeadura
O termo sobressemeadura é utilizado para descrever a pratica de estabelecer culturas anuais de inverno sobre cultura já formada de espécie perene, esta técnica visa aumentar a produção de forragem para pastejo ou produção de feno, sem degradar ou eliminar a espécie existente (RODRIGUES, AVANZA & DIAS, 2011 apud COSTA, 2008 apud MOREIRA, 2006).
	O Brasil é um país de clima tropical que apresenta condições favoráveis a criação de bovinos a pasto, porém pastagens tropicais são favorecidas apenas em uma determinada época do ano, ocorrendo a sazonalidade de produção devido ao período de baixa luminosidade e temperaturas amenas. (RODRIGUES, AVANZA & DIAS, 2011 apud COSTA, 2008). 
A sobressemeadura de espécies de inverno sobre áreas de gramíneas tropicais só é viável nas regiões Sul, Sudeste e parte da região Centro-Oeste. Ali, forrageiras de inverno são viáveis porque, mesmo se irrigadas, as espécies de verão produzem pouco entre abril e setembro, abrindo uma “brecha” em que não competem com as de inverno. Nesse sentido, a sobressemeadura de forrageiras de inverno em pastagens formadas de espécies perenes é uma solução a ser considerada para aumentar o valor nutritivo no período de inverno e possibilitar o uso de pastagens o ano inteiro. Forrageiras como o azevém anual (Loluim multiflorum)e a aveia (Avena spp) são as mais utilizadas, resultando em melhor distribuição da produção ao longo do ano (PADREIRA & TONATO, 2014.)
	A execução da sobressemeadura deve ser antes do pastejo da área e as sementes de aveia, azevém ou as duas espécies devem ser misturadas a um material de cor clara (calcário ou superfosfatos) para melhor identificação. Deve-se distribuir uniformemente em toda a área a uma taxa de 60 kg/ha de sementes puras viáveis e então colocar os animais para que façam o pastejo e simultaneamente enterrem as sementes. Uma roçada ainda pode ser feita, deixando as plantas a uma altura de 10 a 20 cm de altura. 
 (MOREIRA, 2006).
3 METODOLOGIA UTILIZADA
Primeiramente, foi definido o tema e elaboração do problema e após, a justificativos e objetivos do projeto. Em seguida, construiu-se o referencial teórico, com base em pesquisas na internet em sites confiáveis e consulta a artigos científicos online. 
Em um segundomomento, foi realizado uma intervenção a campo com duração de 180 horas no escritório da Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina) de Iporã do Oeste. Os métodos de coletas de dados foram, basicamente, anotações em caderno de campo, captura de imagens, conversa com produtores e colabores da empresa. Durante o período de estágio e nos meses seguintes foram realizadas pesquisas de apoio e elaboração do relatório das atividades com auxílio de ferramentas de digitação, tais como o Microsoft Word.
3.2 LOCAL DE PESQUISA E PÚBLICO
A intervenção a campo foi realizada no município de Iporã do Oeste, município este com economia primordialmente agrícola e agropecuária. Deste modo, o estágio teve foco na bovinocultura de leite praticada pelo produtor rural familiar.
4 CONTEXTO DA EMPRESA
A Epagri – Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina – é uma empresa pública, vinculada ao Governo do Estado de Santa Catarina por meio da Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca.
A empresa foi criada em 1991 através da incorporação, em uma só instituição, do Órgão Estadual de Extensão Rural, a ACARESC, do Órgão Oficial de Pesquisa Agropecuária, a EMPASC, da Associação de Crédito e Assistência Pesqueira de Santa Catarina (ACARPESC) e do Instituto de Apicultura de Santa Catarina (Iasc).
A instituição está presente em todos os municípios catarinenses e é composta por 23 gerências regionais com 13 centros de treinamento e 294 escritórios municipais, 4 centros especializados, 9 estações experimentais com 3 campos experimentais e 14 unidades administrativas. O quadro de funcionários é composto por 315 agentes administrativos e 1435 agentes de extensão. A Epagri lançou, em 2017, 23 novas tecnologias, publicou 607 trabalhos, acompanhou mais de 120 mil famílias e teve um retorno de R$ 5,88 para cada real investido. Além disso, é o órgão oficial de previsão de tempo em Santa Catarina e gerencia um banco de dados agrometeorológicos com mais de 150 milhões de registros reunidos desde 1911.
Sua missão é disseminar conhecimento, tecnologia e extensão para o desenvolvimento sustentável do meio rural, em benefício da sociedade, assim objetivando a preservação, recuperação, conservação e utilização dos recursos naturais, buscando a competitividade da agricultura catarinense frente a mercados globalizados, adequando os produtos as exigências dos consumidores e promovendo a melhoria da qualidade de vida do meio rural e pesqueiro. A Epagri visa ser reconhecida nos cenários estadual e nacional como modelo de excelência em pesquisa agropecuária, extensão rural e gestão.
O escritório da Acaresc/Epagri foi Instalado em Iporã do Oeste em 21 de outubro de 1987 e o primeiro agente de extensão foi Dorval de Souza. Hoje a equipe de trabalho conta com um auxiliar administrativo, Alice Previde Pinnow, um agente de extensão de nível médio, Paulo Ginésio Hofstetter e um agente de extensão de nível superior, Aleisson Ludtke.
5 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
5.1 ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL
Segundo Gonçalves (2014), a extensão rural nada mais é do que um processo educativo que propicia assistência técnica, econômica e social às famílias rurais, tendo por objetivo elevar o seu nível de vida. Assim sendo, o objetivo da extensão rural é difundir técnicas de trabalho e produção úteis e sustentáveis aos produtores rurais por meio de métodos educativos, tal como a assistência técnica.
O papel do extensionista é aplicar os conhecimentos da ciência aos problemas do agricultor, estender conhecimentos e habilidades para melhoria do sistema de produção, estimular processos de mudança nos campos técnico, econômico e social, servir de ponte entre a informação e o produtor rural, assim oportunizando e acelerando o desenvolvimento econômico e social do meio rural (ULRICH, 2010).
	A Epagri disponibiliza assistência técnica de forma gratuita e de qualidade, voltada principalmente para o pequeno produtor e em conversa com os extensionistas, foi possível entender que o objetivo primordial não é ensinar a maneira correta de realizar determinado manejo ou a época correta de plantio de determinada cultura. A finalidade é a condição social do produtor rural. O serviço prestado deve fazer com que a sua produção, sua renda e, em consequência, sua qualidade de vida melhore.
A extensão rural é um processo de “educação extracurricular” que engloba as mais diversas áreas da produção agrícola. A assistência técnica compreende todas as etapas do processo produtivo e pode ser prestada de diversas formas. Desde a implantação até a venda, do plantio a colheita, do nascimento ao abate. Envolve a orientação, repasse de informações, apresentação de novas tecnologias, desde que traga algum benefício ao produtor rural. Foi possível observar durante o estágio, as mais diversas ocasiões em que ela acontece: desde uma visita programada para esse fim até em conversas informas com produtores durante trabalhos de outra finalidade. Ela pode acontecer ainda de maneiroas mais “formais”, na divulgação de uma nova tecnologia, em uma palestra ou seminário, em um dia de campo, entre outros. A seguir, será detalhado sobre um destes métodos, o dia de campo, o qual teve maior observação e participação ativa durante o período de estágio.
5.1.1 Dia de Campo sobre Bovinocultura Leiteira
	No dia 23 de agosto de 2018, realizou-se na propriedade de Cesar e Mareli Bonamigo, localizada na Linha Pavão, interior de Iporã do Oeste, um Dia de Campo sobre Bovinocultura Leiteira. O evento, realizado pelo Escritório Municipal da Epagri de Iporã do Oeste em parceria com a Secretaria Municipal de Agricultura, foi voltado para os produtores de leite.
	Três estações foram organizadas, cada uma direcionada a uma parte do processo produtivo. Na primeira estação, sobre qualidade do leite e ordenha higiênica, apresentada pelo medico veterinário Jaime Prestes, enfatizou-se acerca da higienização dos equipamentos de ordenha (antes e depois do processo) e do ordenhador e da importância de manter a água da higienização em temperatura adequada para a garantir a eficiência dos detergentes ácidos e alcalinos. 
	A segunda estação tratou da multiplicação de mudas de pastagen perenes. Os engenheiros Agronomos Aleisson Ludtke e Celio Mikulski falaram um pouco sobre o sistema de produção de mudas desenvolvido pela Epagri com uso de substrato em túnel baio.
O sistema consiste em delimitar a área do canteiro com tijolos, madeira ou material que estiver disponível, colocar lona plástica na base a fim de evitar que as raízes atinjam o solo e colocar uma camada de 10 cm de substrato sobre a lona. Então monta-se o túnel baixo. O substrato pode ser elaborado utilizando materiais de textura leve, como serragem, esterco de bovinos, cama de aves, etc. No caso do canteiro montado na propriedade (Figura 5) para o dia de campo, utilizou-se serragem e esterco de bovinos com proporção de 5 partes de serragem para 1 parte de esterco de bovinos. A ideia central foi mostrar que um sistema simples e barato pode ser usado para produzir mudas de qualidade.
Figura 5: Canteiro em sistema de túnel baixo para produção de mudas de pastagem.
Fonte: CAPELLARI, M (2018.)
Repicou-se o colmo da planta, deixando no mínimo 2 nós viáveis e enterrando um deles no substrato. É essencial manter o canteiro com boa umidade. Deste modo, deve colocar sombrite no canteiro ou cobrir as mudas com material alternativo, como folhas de coqueiro. Na ocasião do dia de campo, as mudas estavam com 23 dias desde o repique, e apresentavam porte ideal para transplante.
Nesta estação, os participantes tiveram a oportunidade de conhecer uma nova variedade de pastagem perene que surge na região. O BRS Kurumi é uma variedade de Capim Elefante de porte baixo. Desenvolvido pela Embrapa, a forrageira é adaptada ao pastejo, tendo alta produtividade e qualidade bromatológica.
	Na terceira estação, sobre preparo e manejo do solo, apresentada pelo Engenheiro Agrônomo Paulo Hofstetter, foramrevistos alguns conceitos de conservação do solo, como correção, adubação e formas de manejo que minimizam as perdas de fertilidade e garantem a sustentabilidade do sistema produtivo. Nesta estação falou-se sobre a importância da adubação após cada corte da pastagem e de conhecer o solo de sua propriedade. A análise de solo, por exemplo, é a principal etapa quando se pretende corrigir o solo. Já para o preparo da lavoura, a observação da declividade e da compactação do solo são pontos importantes.
	Por fim, um agradecimento solene aos participantes e um café de confraternização fecharam o evento. O evento teve a participação de aproximadamente 35 produtores.
	O dia de campo tem uma metodologia interessante para a disseminação do conhecimento. Através de apresentação de dados, demonstração de experimentos e manejos, é possível cativar o público e repassar as informações de forma eficiente. A disseminação de conhecimento é um trabalho lento e progressivo, mas quando feita de forma que desperte o interesse que quem o recebe, é cada vez mais simples cumprir as metas.
5.2 SISTEMAS DE PRODUÇÃO À BASE DE PASTO
Segundo Córdova et al (2012), a nível mundial, a produção de leite apresenta diversos sistemas, com características particulares, que variam de acordo com cada região. Como consequência, os sistemas apresentam custos e lucros diferentes. Um sistema de produção deve ser escolhido conforme alguns fatores, por exemplo, o custo da mão-de-obra e dos grãos, da possibilidade de pastejo (condições climáticas, potencial de produção da terra) e do preço do leite.
Confinamento, por definição, é o sistema o qual o alimento concentrado representa até 60% da dieta, onde se usa silagem em mais de 6 meses por ano, com vacas grandes e eficientes em transformar concentrado em leite. Pensa-se em produção por vaca por dia. É considerado um sistema à base de pasto aquele que apresenta dieta com menos de 25% de concentrado e que usa silagem menos de 3 meses por ano, que se utiliza de vacas médias e eficientes em transformar pasto em leite e que tenham vida útil mais longa. Nesse sistema, ao contrário dos confinamentos, pensa-se em produção por hectare (CÓRDOVA et al, 2012).
Segundo mesmo autor, a escolha do sistema deve ser feita pensando nas tendências do mercado do leite no Brasil e no mundo, em quais alimentos podem compor a dieta das vacas e no preço dos mesmos, em quais tecnologias podem ser usadas e o custo das mesmas, em quais animais irão adaptar-se as condições climáticas da região, ao manejo e alimentação, apresentado eficiência produtiva e reprodutiva e qual deve ser a escala mínima de produção para remunerar todos os fatores de produção. Deste modo, acredita-se que o sistema de produção que utilize pastagens perenes de verão sobressemeadas com pastagens anuais de inverno, com uso estratégico de silagem e concentrado seja o mais viável para as condições edafoclimáticas de Santa Catarina.
A Epagri costuma recomendar sistemas a base de pasto perene, o qual preconiza o manejo das pastagens, fornecimento de água e sombra nos piquetes. O uso das pastagens confere a atividade mais lucro, pois, em geral, reduzem o custo de produção, promove bem-estar animal, permite a racionalização e uso estratégico dos alimentos conservados e concentrados. As pastagens perenes oferecem ainda vantagens como a permanência produtiva por vários anos e, desde que bem manejadas, apresentam um longo ciclo de produção distribuído durante o ano e preservam o solo (através da cobertura que a pastagem forma e por não ser necessário revolver o solo). As pastagens perenes ainda possibilitam a produção de feno, custam menos e possibilitam a sobressemeadura de pastagens anuais de inverno. As forrageiras perenes que apresentam melhor adaptação ao clima e solo de nossa região, além de possuírem produtividade e qualidade altas e, portanto, serem as mais indicadas, são dos gêneros Hermathria, Axonopus, Cynodon e Pennisetum sobressemeadas com as tradicionais anuais de inverno Aveia (Avena spp.) e Azevém (Lollium multiflorum), além de poderem ser incrementadas em PB com o Amendoim forrageiro (Arachis pintoi).
Entretanto, não podemos generalizar, pois como se observou durante todo o estágio, há sim recomendações “padrão”, mas nem tudo são verdades absolutas. Mesmo que o clima, solo, umidade e radiação solar favoreçam a produção de pasto, um sistema confinado também pode ser viável. Além disso, é possível observar pastagens perenes que dão muito certo e são realmente produtivas (figura 6) e o extremo oposto, pastagens mal manejadas que são pouco produtivas. Em alguns casos, houve uma implantação inadequada, onde não se realizou o controle efetivo de plantas daninhas ou correção da fertilidade do solo, ou a escolha da pastagem foi equivocada, levando a baixa produtividade. Em outros casos, a sombra foi mal implantada, em local inadequado ou em pouco volume, o que acarreta em pisoteio e deposito excessivo de fezes e urina em uma única área.
Figura 6: Sistema de pastagem de Tifton 85 sobressemeado com Aveia e sombreamento com Eucalipto (Eucalyptus spp) e Salgueiro-chorão (Salix Babylonica).
Fonte: CAPELLARI, M (2018).
5.2.1 Sistema Silvipastoril
	A arborização de pastagens, ou silvipastoril, é a combinação intencional de árvores, pastagem e gado numa mesma área e ao mesmo tempo, e manejados de forma integrada. O sistema, além de reunir vantagens econômicas (incorporação da produção de madeira), pode trazer diversas vantagens para a produção pecuária (tanto de carne como de leite), como a melhoria do bem-estar animal, através da melhoria das condições ambientais (proteção contra geadas, ventos frios, granizo, tempestades, altas temperaturas), podendo constituir-se em uma melhoria do solo, via diminuição de erosão, aumento de fertilidade e ciclagem de nutrientes, além de melhorar a qualidade nutritiva do pasto e aumentar a biodiversidade do local (PORFÍRIO-DA-SILVA et al, 2009).
	Segundo mesmo autor, o sistema silvipastoril deve, assim como qualquer outro sistema de produção agropecuário, levar em consideração a conservação do solo e da água. Portanto, a distribuição das faixas de plantio das árvores deverá ser em curvas de nível, que é uma forma eficiente de impedir a erosão do solo e a perda de água por escorrimento superficial.
Conforme Porfírio-da-Silva et al (2009), é importante ponderar sobre qual a finalidade das árvores que serão produzidas no caso de ser madeira para lenha, carvão ou palanques de cerca, pode-se implantar as fileiras de árvores com espaçamentos menores, onde se obterá maior volume de madeira em menos tempo. Se for produzir para serraria e laminação, deve-se pensar em espaçamentos maiores, onde cada árvore ocupe aproximadamente 50m² na maturidade (independente da finalidade da madeira, deve-se considerar perdas por morte de árvores e desbaste). Em espaçamentos menores, o desbaste deve ser realizado mais cedo para não afetar o desenvolvimento do pasto.
A escolha das árvores deve ser feita, principalmente, de acordo com a possibilidade de venda de sua madeira e velocidade de crescimento. As plantas que crescem mais rápido irão formar sombra com a mesma velocidade e trazer retornos mais cedo, mas as de crescimento lento (menos de 2 metros por ano) também podem ser implantadas, desde que o valor de mercado da madeira compense o custo de proteção. As espécies recomendadas para o silvipastoril são o Eucaliptos (Eucalyptus spp), Grevílea (Grevilea robusta) e Pínus (Pinus spp) (PORFÍRIO-DA-SILVA et al, 2009).
Nas palavras de Porfírio-da-Silva et al, (2009)A pastagem deve ser tolerante a sombra (salvo que a maioria das forrageiras pode manter sua produção com até 30% de sombreamento). As principais forrageiras empregadas no silvipastoril são as do gênero Brachiaria, Pannicum, Cynodon, Hermathria, Axonopus, além do Amendoim forrageiro (Arachis pintoi), Aveia (Avena sp) e Azevém (Lollium multiflorum).
A implantação deve ser feita preconizando a abertura de um sulco de 40 cm de profundidade onde as mudas de árvores serãoimplantadas, independente do sistema de plantio (cultivo convencional ou cultivo mínimo). Deve-se dar uma atenção especial à eliminação de plantas daninhas em uma faixa de 2 m de cada lado da linha de plantio, pois elas competem com as mudas de árvores. Um controle de formigas também deve ser efetuado, pelo menos 30 dias antes do plantio (PORFÍRIO-DA-SILVA et al, 2009).
	A Epagri recomenda um sistema de pastagem que une o Silvipastoril e o Pastoreio Racional Voisin (que também pode ser considerado um silvipastoril). Os princípios que são seguidos são os de que deve haver sombra e água nos piquetes e que estes sejam divididos de acordo com o tamanho do plantel e do potencial de produção do pasto. O ideal é que um piquete seja ocupado por, no máximo, 1 dia. A Epagri também preconiza o uso de pastagens perenes.
5.3 UNIDADES DE REFERÊNCIA TÉCNOLÓGICA (URT’s)
	A migração dos agricultores integrados da suinocultura para a bovinocultura de leite foi um acontecimento marcante no início da década de 1980 no Estado de Santa Catarina. A atividade de produção de leite era realizada apenas para o consumo na época e em pouco tempo passou a ser a principal fonte de renda das propriedades. Isso se deu através de incentivos ligados a capacidade da atividade em utilizar os recursos naturais e até as áreas não nobres das propriedades, além de ocupar a mão-de-obra familiar e gerar uma renda mensal. Nesse cenário, existia uma limitação quanto a quantidade e qualidade da forragem fornecida. A carga animal e o superpastejo ainda gerava a degradação das áreas, compactação e perda de fertilidade do solo e baixa produtividade animal, prejudicando a sustentabilidade da produção e das propriedades rurais (JOCHIMS, s.d.).
	Essas dificuldades nas propriedades motivaram a Epagri a pesquisar e promover a implantação de tecnologias e técnicas de produção de leite com baixo custo de alimentação, alto potencial produtivo e baixo impacto ambiental. Assim, a utilização de pastagens perenes aliadas a lotação rotativa para manejar as áreas e a gestão da produção aparecem como as principais características centrais de um sistema de produção a base de pasto.
	Deste modo, através de pesquisadores e agente de extensão rural, a Epagri deu início em 2001 a implantação das primeira Unidades de Refêrencia Tecnológicas (URT's) em Santa Catarina. Atualmente são 242 URT's distribuidas em 133 municípios em todo o território estadual. Na região Oeste do estado são 151 URT's em 80 municípios.
	As URT's tem como objetivo principal aumentar a eficiência da produção, utilização e gestão dos recursos forrageiros, reduzindo os custos associados à alimentação dos animais, melhorar o bem-estar dos animais e elevar a produção leiteira. A finalidade é fornecer de 70 a 80% da dieta das vacas proveniente de pastagem perene e possibilitar alta produtividade das mesmas, conhecer o tempo de descanso de cada piquete para recuperar a pastagem que foi consumida, reduzir a dependência de alimentos conservados e concentrados, reduzir os riscos associados a variações climáticas (plantas perenes apresentam mais resistência), melhorar a ambiência para os bovinos, reduzir e humanizar a mão-de-obra, melhorar as condições do solo (através da cobertura vegetal) e garantir renda para a manutenção de um padrão confortável de vida para as famílias do meio rural, assim garantindo também a sucessão familiar.
	Os principais resultados alcançados foram os seguintes:
Aumento na produtividade da pastagem de 5-7 t de MS/ha para 22-25 t de MS/ha;
Aumento na capacidade de suporte das pastagens de 0,8 Unidade Animal (UA)/ha para até 4,5 UA/ha;
Elevação de 7-8% de PB na pastagem para até 16-17% (nos períodos de primavera/verão);
Redução da dependência de alimentos concentrados e conservados e fornecimento mais eficiente de suplementação;
Aumento da produtividade média por animal de 3 a 4 litros por dia para 10 a 13 litros por dia (com alimentação exclusiva de pasto e suplementação somente com mineral);
Produtividade de até 15 mil litros de leite por ano por hectare;
Redução na incidência de mastite devido a manutenção do animal em sistemas com abundante cobertura de solo (melhorias na higiene); e
Realização de 1 ou 2 dias de campo por URT por ano, com presença média de 35 produtores por evento (estima-se que, por ano, ao menos 8000 produtores tenham acesso ao conhecimento difundido pela Epagri) (JOCHIMS, s.d.).
5.4 AMOSTRAGEM DO SOLO
A análise de solo é o único método que permite, antes do plantio, conhecer a capacidade de um determinado solo em suprir as necessidades das plantas e é a forma mais simples, econômica e eficiente de diagnóstico da fertilidade, sendo base fundamental para a recomendação de corretivos e fertilizantes. As principais vantagens da sua utilização são o baixo custo e rapidez na obtenção dos resultados e a possibilidade de um planejamento adequado na compra de insumos, o que aumenta a produção e lucratividade da lavoura, além de minimizar os danos ao meio ambiente evitando a contaminação da água por excesso de fertilizantes. (CARDOSO, FERNANDES &FERNANDES, 2009).
Segundo Rede Laboratorial de Análises de Solos da Epagri (2016), a amostragem de solo é a etapa mais importante em um programa de correção de solo, uma vez que é ela quem dará os parâmetros para a posterior recomendação de adubação e calagem. Entretanto, a confiança nos resultados está diretamente ligada a qualidade da amostragem feita na lavoura, pomar, área de reflorestamento ou qualquer outra área de cultivo. A coleta do solo deve representar fielmente a área que receberá calcário e/ou adubo. Conforme Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (2016), o sistema de recomendação de adubação e/ou calagem começa pela amostragem, segue para análise e posterior interpretação e recomendação e em cada uma destas etapas podem ocorrer erros que alterem a recomendação, entretanto um erro na amostragem é o mais prejudicial, pois não pode ser corrigido nas etapas seguintes.
A amostra de solo pode ser coletada em qualquer época do ano, mas recomenda-se amostrar após a colheita das culturas anuais ou dois meses antes do máximo crescimento em pastagens já estabelecidas. Para a implantação de cultivos perenes deve-se levar em consideração que a amostra leva de duas a três semanas para a análise e retorno dos resultados e o calcário leva pelo menos três meses para fazer efeito e beneficiar a cultura (REDE LABORATORIAL DE ANÁLISES DE SOLO DA EPAGRI, 2016).
Para a realização da amostragem de solo, é necessária a subdivisão da área em glebas conforme o tipo de solo, a topografia, a vegetação e o histórico de utilização (exemplificado na figura 6), pois a variabilidade química pode ser muito grande dependendo do manejo e finalidade de cada área. São necessárias de 10 a 20 subamostras por gleba e deve-se percorrer a área de forma aleatória e em “zigue-zague” para se ter uma amostra representativa sem interferência estatística(SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO, 2016).
Figura 7: Exemplo de divisão em glebas de uma propriedade de acordo com a declividade e o uso do solo.
Fonte: SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO (2016).
Nas palavras de Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (2016), no ponto de coleta, é importante remover a vegetação da superfície, incluindo ramos, folhas, colmos e pedras, mas tomando o cuidando de não retirar a camada superficial do solo. Para culturas com revolvimento do solo, como no plantio convencional, recomenda-se amostrar a camada de solo de 0-20 cm, para sistemas sem revolvimento, por exemplo, no plantio direto consolidado, a profundidade de coleta é de 0-10 cm, podendo monitorar também a camada de 10-20 cm. Para a instalação de cultivos perenes, especialmente as de grande porte, os resultados da análise da camada de 0-20 cm podem ser usados para corrigir a camada de 0-30 cm, ajustando a dose de calcário e/ou fertilizante recomendada para 1,5 vez a dose da camada de 0-20 cm.
O mesmo autor explica que existem vários amostradores de solo e sua adequaçãodepende das condições do local, como o tipo, grau de compactação e umidade do solo. Em sistemas de plantio direto, por exemplo, não é recomendado o uso do trado de rosca e trado holandês, devido ao cuidado maior que se deve ter para que a parte superficial do solo não se perca, pois é nesta camada que estão os maiores níveis de matéria orgânica e nutrientes e os valores de acidez podem ser maiores ou menores, dependendo do histórico de calagem. Neste caso o indicado é fazer a coleta usando o trado caneca ou o trado fatiador. Em áreas em que se realiza o preparo do solo, a amostragem pode ser efetuada com todos os amostradores ilustrados na figura 7, pois geralmente há menos variação dos aspectos químicos do solo ao longo da camada 0-20 cm. É importante salientar que o uso do trado calador ou trado de rosca poderá ser dificultado em solos muito argilosos ou com baixo teor de umidade em qualquer sistema de cultivo.
Figura 8: Amostradores de solo.
Fonte: SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO (2016).
	Durante o período de estágio, realizamos algumas coletas de amostra de solo, que foram feitas a pedido dos produtores rurais que desejavam implantar pastagem perene ou realizar o plantio de milho para silagem ou pastagem anual de verão. A coleta foi feita em todas as ocasiões com o trado calador (figura 8) e foram coletados em média 10 subamostras por gleba, sendo que o principal critério para tomada de decisão para a divisão das glebas era o uso do solo (histórico de cultivo) e a declividade. Se uma determinada área apresentasse“manchas” de maior incidência de pedregulho, por exemplo, era sugerido que esse solo fosse amostrado separadamente, porém, ficava a critério do produtor.
Figura 9: Trado calador.
Fonte: CAPELLARI, M (2018).
Os pontos de coletas eram escolhidos ao acaso, sempre andando em “zigue-zague”, e tomando o cuidado para não coletar o solo onde havia fezes de animais, formigueiros, em locais onde foi depositado insumos e outras situações do gênero que poderão influenciar no resultado da análise.
No local da coleta, retirava-se as folhas, colmos, pedras, palha e tudo que estivesse “solto”, mas sem eliminar a camada superficial do solo. O trado calador era introduzido no solo e quando chegasse a profundidade desejada (20 cm) era realizado um movimento de torção, em seguida a ferramenta era retirada e o solo que estava no solo era depositado em um balde. Ao final da coleta, o solo era homogeneizado e destorroado. Neste momento também se retirava as pedras, galhos, raízes e demais impurezas e então a amostra era colocada em um saco plástico para o transporte.
É importante lembrar que as ferramentas de coleta de solo devem estar limpas e deve-se evitar também o transporte do solo em embalagens de ração ou adubo para que não haja influências externas na amostra.
Finalizada a coleta, o solo era levado ao escritório da Epagri, onde era colocado para secar no caso de estar úmido ou então era etiquetado e embalado para o envio ao laboratório.
Figura 10: Embalagem etiquetada para envio do solo ao laboratório.
Fonte: CAPELLARI, M.(2018).
5.4.1 Interpretação dos resultados e recomendação
Após ser realizada a análise em laboratório de análise de solo da Epagri (que participam da Rede Oficial de Laboratórios de Análise de Solos do RS e SC), os agentes da Epagri geravam um laudo e, a partir do Manual de Adubação e Calagem (Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2016) e em conversa com o produtor a recomendação era construída. 
O diagnóstico da fertilidade do solo realiza-se pelo enquadramento dos resultados do laudo em faixas de teores, conforme a probabilidade de resposta da cultura. O objetivo do sistema de recomendação de fertilizantes é atingir e permanecer na faixa “Alto” e para isso a quantidade de fertilizante recomendada corresponderá à reposição dos nutrientes exportados pela cultura e mais uma quantidade estimada para eventuais perdas (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO, 2016).
O mesmo autor cita que o diagnóstico de acidez é realizado pela interpretação dos valores de pH em água e pela porcentagem da saturação da CTCpH 7,0por bases e da CTC efetiva por alumínio. Considera-se também a sensibilidade das culturas à acidez e o sistema de manejo.
O diálogo com quem irá receber a recomendação é fundamental, pois o laudo não traz, por exemplo, o histórico da área e a forma de coleta. Como já citado, erros na coleta não podem ser corrigidos posteriormente, mas, às vezes, quando uma análise de solo fica fora do padrão, através de uma conversa sobre a coleta do solo, o agente de extensão consegue identificar o erro e tentar achar a solução.Tomando como exemplo um laudo com pH muito ácido, questiona-se o produtor acerca da coleta da amostra e do histórico da área, se ele tem o hábito de fazer análise na área, e se afirmativo, qual os resultados dos últimos laudos. Se for a primeira análise, pergunta-se se já foi aplicado calcário e qual o tipo de exploração desse solo. Em caso de não encontrar nada incomum no uso do solo e na amostragem, como não se pode aplicar uma quantidade de calcário tão grande (mais de 8 toneladas), geralmente se recomenda metade da dose, pois como o solo já está bem ácido a cultura irá responder e no próximo ano realiza-se nova amostragem para verificar os resultados.
5.5 POLÍTICAS PÚBLICAS – ESFERA FEDERAL
5.5.1 Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - Pronaf
O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) financia projetos de implantação, ampliação ou modernização da estrutura de produção, beneficiamento, industrialização e de serviços no estabelecimento rural ou em áreas comunitárias rurais, individuais ou coletivos, a juros baixos (2,5 a 4,5% ao ano, conforme a finalidade do investimento) e que geram renda aos agricultores familiares e assentados da reforma agrária (BNDES, 2018).
Após a decisão do que financiar (custeio da safra ou atividade agroindustrial, investimento em máquina, equipamento ou infraestrutura de produção e serviço agropecuário), o produtor deve procurar o sindicato rural ou a empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) (no Estado de Santa Catarina, a Epagri) para a obtenção da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), que será emitida segundo a renda anual e as atividades exploradas, direcionando o agricultor para as linhas de crédito a que tem direito.
Para obter a DAP é necessário ser agricultor, pescador artesanal, aquicultor, silvicultor, extrativista ou membro de comunidade quilombola rural ou povo indígena, explorar parcela de terra (morando nesta propriedade ou próximo dela), não possuir área maior do que quatro módulos fiscais (em Iporã do Oeste um módulo fiscal corresponde a 20 ha), obter no mínimo 50% da renda bruta familiar oriunda da exploração agropecuária, ter predominantemente força de trabalho familiar e ter obtido renda bruta familiar de até R$ 360 000,00 nos últimos 12 meses (que antecedem a solicitação da DAP) (BNDES, 2018).
O Pronaf Custeio e Pronaf Mais Alimentos – Investimento foram as linhas de crédito mais solicitadas no município de Iporã do Oeste durante o período de observação. Conforme BNDES (2018), o Pronaf Custeio destina-se ao financiamento das atividades agropecuárias e de beneficiamento, industrialização e comercialização de produção, já o Pronaf Mais Alimentos – Investimento dedica-se ao financiamento da implantação, ampliação ou modernização da infraestrutura de produção e serviços. A maioria das solicitações de Pronaf era destinada a construção e ampliação de benfeitorias e aquisição de máquinas e equipamentos para a produção de leite.
5.6 POLÍTICAS PÚBLICAS – ESFERA ESTADUAL
5.6.1 Programa Menos Juros
Além do Pronaf da esfera federal, ainda temos os programas governamentais do Estado de Santa Catarina. Segundo Fecoagro (2018), o Programa Menos Juros tem como objetivo subsidiar parte dos juros que serão pagos nas operações de investimento realizadas pelo Pronaf, desde que se enquadrem pela Secretaria

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