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Resumo para ap3 de politica

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CEDERJ 2016
GEOGRAFIA POLÍTICA
Prof. Ivaldo Lima
Aula 1
Introdução à Geografia Política e à Geopolítica
A geografia e as necessidades políticas
O projeto político da geografia é tão antigo quanto à própria disciplina. Isso não quer dizer que tenha existido uma geografia política, como um subcampo formal, desde os primórdios da formação do conhecimento geográfico, mas sim que a natureza política desse conhecimento sempre esteve presente nos escritos dos geógrafos ao longo de sua longa história. Desse modo, pode-se afirmar, sem medo de errar, que a geografia é uma das ciências políticas. Contudo, como verificar essa natureza política da geografia? Através de que métodos e conceitos essa natureza se explicita? Como se constata uma geografia política aplicada? Quais são os desdobramentos epistemológicos da geografia política desde seu reconhecimento moderno no final século XIX? Que ideias originais são encontradas no campo de estudo da geografia política? Geografia política e geopolítica se inter-relacionam de que modo? São perguntas como essas que guiarão os estudos programáticos dessa disciplina preparada para estudantes universitários – futuros geógrafos que estarão aptos a se dedicar à pesquisa e à educação geográficas.
Segundo Eufrásio (1992:43), o interesse pela construção do projeto político da geografia remonta, minimamente, à Grécia Clássica. Para esse autor:
O interesse por assuntos de natureza política surge, no pensamento geográfico, na antiguidade greco-romana, e pode-se apontar já na República de Platão (438-347 a. C.) e na Política de Aristóteles (383-322 a. C.) o desenvolvimento de reflexões dessa ordem, o que vem a ser explícito, também na Geografia de Estrabão (63 a. C. – 24 d. C.) e, durante a Idade Média europeia, nos Prolegômenos de Ibn Khaldun (1332-1406). (...) Já no século XVI, Thomas Morus (1480-1535), na Utopia, e no século XVIII Montesquieu (1698-1755), em O espírito das leis, são exemplos de autores que desenvolveram certo número de ideias originais sobre essa temática.
Para mencionarmos, mais detalhadamente, um dos autores mencionados acima, tomaremos o exemplo de Estrabão, geógrafo grego do século I, considerado por muitos estudiosos o pai da geografia. Estrabão dedicou à ciência geográfica uma obra intitulada Geografia redigida em 17 livros, ao longo dos quais podem ser encontradas referências à natureza política desta ciência. Isso decorre da premissa desse autor clássico de que o trabalho do geógrafo deve ser pensado e construído para servir aos objetivos dos governantes. Em ouras palavras, o geógrafo deve produzir um conhecimento sistemático que sirva à prática política do soberano. Nesse sentido,
geografia e política teriam seus destinos entrecruzados, uma não podendo existir sem a outra, uma vez que as coordenadas de espaço e de tempo são fundamentais para o exercício da política, do mesmo modo que esta última é fundamental para a organização do espaço e do tempo sociais. Disso conclui-se que entre geografia e política existe uma relação muito bem fundada.
Vejamos o que disse Estrabão (1991:130-131), no Livro 1 de sua obra:
A geografia está em sua maior parte orientada na direção das necessidades políticas.
É evidente que a geografia está toda ela orientada para as ações próprias do governo.
A partir dessas afirmações de Estrabão, seria muito interessante pensarmos a relação da geografia com a política e o campo de estudo da geografia política.
Geografia política e geopolítica: sinônimos?
Geografia política e geopolítica são expressões que poderiam ser tomadas uma pela outra, diriam alguns geógrafos, embora nem todos concordem com essa afirmativa. É possível, portanto, distinguir uma da outra? Tentemos esclarecer essa distinção. Como dissemos, a geografia é acompanhada de um projeto político desde tempos remotos, o que pode gerar alguma confusão entre os nomes e as coisas. A geografia política e a geopolítica estão assentadas na relação formada entre espaço e poder, por isso são frequentemente confundidas. Porém, advogamos a ideia de que a geografia política é uma reflexão científica sobre essa relação, enquanto a geopolítica é uma prática estratégica guiada por essa relação. Desse modo, a geografia política seria mais abrangente que a geopolítica uma vez que os geógrafos políticos fazem da geopolítica um de seus temas mais diletos. Assim, cria-se uma distinção. Tentemos ilustrar com exemplo prático. Quando, em 1990, Saddam Hussein invadiu o Kwait, com o propósito de anexá-lo ao Iraque, deflagrou-se a primeira Guerra do Golfo. Essa foi uma prática estratégica guiada pela relação espaço e poder, visto que, um Estado, o Iraque, tornar-se-ia mais poderoso com o almejado controle do espaço kwaitiano. Os geógrafos políticos fizeram várias reflexões científicas sobre essa prática, buscando, inclusive, base teórica e metodológica que a explicasse bem. Por esse e outros exemplos empíricos, começamos a entender que é possível distinguir a geografia política da geopolítica. Além do que, bastaria mencionar que muitos – a maioria – dos geógrafos políticos não são geopolíticos... Então, esses termos podem não ser sinônimos.
O geógrafo Pedro Castro faz algumas considerações sobre essa (in)distinção. Para ele, a geopolítica e geografia política são termos que se confundem na linguagem coloquial devido à diversidade de seus pontos de vista, à lassitude de suas distintas definições, à variedade de
campos que cobrem e ao uso político que, com frequência, se faz deles. Desde suas origens como campo da disciplina da geografia humana, a geografia política se preocupou com as atividades dos Estados-nação, e, mais especificamente, por suas dimensões espaciais, sua organização e as relações de poder estabelecidas em seu interior e entre Estados-nação. As definições tradicionais da geografia política são diversas, mas giram em torno destes temas, e seus objetos de estudo se referem em geral à Europa e aos Estados Unidos, se bem que, se nota, nos últimos trinta anos, um interesse crescente em direção a outras áreas do mundo. Foram geógrafos dessas regiões que tiveram como interesse fundamental o estudo de seu próprio território, com propósitos que serviam, de modo deliberado ou não, a objetivos de caráter político, de defesa ou de projeção em relação ao exterior. Por exemplo, o alemão Friedrich Ratzel (autor que estudaremos, detalhadamente, em aula vindoura), considerado a um só tempo pai da geografia política e da geopolítica, endereçava ao tema do Estado assuntos tais como o crescimento natural dos Estados, seus espaços ótimos e excludentes e a luta pela supremacia internacional.
Vejamos uma passagem mais completa do texto de Pedro Castro:
Assim, desde seus primeiros tempos, a geopolítica tinha propósitos políticos muito claros, e, ao longo de seu desenvolvimento, criou certo número de categorias, conceitos e termos, explicitando a situação de que seu maior propósito era de ordem prática, e não teórica, apesar de suas aparências contrárias. A geografia política e a geopolítica transitaram de maneira paralela desde as suas origens, e por isso compartilham alguns traços semelhantes quanto aos campos do conhecimento, embora a segunda esteja mais longe que a primeira de constituir um corpo teórico e conceitual de longo alcance. Embora a geografia política tenha menor alcance que a geografia social, urbana ou econômica, recentemente começou abrir-se a temas tais como as relações interestatais, movimentos sociais, ecologia, violência e guerra, fronteiras, migração e cidadania, políticas de identidade, organizações internacionais, democracia e justiça ambiental. Desafortunadamente para ambas, nesse âmbito, a primazia do Estado continua sobrecarregando a geografia política e a geopolítica (CASTRO, 2006:188).
Uma ideia para nossa reflexão:
A geografia política vem se abrindo a novos temas. Ela tem deixado, por isso, de ser “política”?
Ainda de acordo com Castro (2006), para certos efeitos,“a geopolítica tem sido tanto a cara pública da geografia política, quanto sua maior carga histórica”. Isso tem provocado consequências benéficas e maléficas. As consequências benéficas derivam da difusão da geografia política e o despertar para o seu maior interesse nos meios acadêmicos – inclusive extrageográficos –, o que faz com que os estudos político-geográficos alcancem maior visibilidade e relevância em meio à sociedade. As consequências maléficas derivam da popularização excessiva de conceitos abordados pela geografia política, o que faz com que se vulgarizem alguns conteúdos e se banalizem alguns tratamentos, o que se verifica comumente com relação à ideia de território e de guerra, para citar dois exemplos. De nossa parte, entendemos que a geografia política e a geopolítica diferenciam-se por seus enfoques teóricos,
métodos e abordagens, mas não pela relação básica que analisam. Ademais, nuca é demais lembrar que o Estado centralizou durante muito tempo as análises tanto de geógrafos políticos quanto de geopolíticos, exigindo de umas décadas para cá esforços para que essa camisa de força fosse abandonada. Como veremos em aula próxima, a geografia política segue com interesse no Estado e em suas atuações, porém não se restringe apenas ao estudo dessa instituição.
O campo de estudo da geografia política
Para alguns autores, o campo de estudo da geografia política remete-se às relações estabelecidas entre território e conflito, como se encontra em Castro (2005). Nesse caso, duas observações preliminares tornam-se imperiosas, para entendermos melhor o campo e o objeto de estudo da geografia política. A primeira delas diz respeito ao fato de que, mesmo sendo o território um conceito chave da geografia política, ele deve ser pensado a partir da produção social do espaço
– um processo bem mais amplo que acaba explicando a própria construção dos territórios. Ou seja, o conceito teórico básico do qual partiremos – para chegarmos àquele de território – é o espaço geográfico. Em poucas palavras, entendemos que o território deriva do espaço; ele é uma produção ou construção feita a partir do espaço, como será analisado com mais vagar em aula vindoura. A segunda observação versa sobre o significado do termo conflito.
A observação concernente à noção de conflito decorre, antes de tudo, da necessidade de distinguirmos os termos conflito e confronto. O conflito é uma situação em que ideias, comportamentos, ações, enfim, interesses humanos divergem. Portanto, o conflito é inerente à vida social, haja vista que, dificilmente, os interesses dos homens serão idênticos em quaisquer circunstâncias. Essa falta de coincidência entre o que um indivíduo deseja em relação ao desejo do outro é a fonte originária dos conflitos. Já o confronto é uma situação em que, devido à divergência de interesses, um indivíduo deseja eliminar o outro. Devemos lembrar que “o conflito é divergência de postura, mas visando à continuidade da relação. O confronto é a busca da anulação do outro, é típica da relação que pressupõe ‘eu de um lado e eles de outro’. Já o conflito é inerente” (CORTELA; LA TAILLE, 2010: 34). Então, uma primeira conclusão que podemos chegar a partir dessa distinção é que o confronto está mais ligado à lógica da guerra, enquanto o conflito está mais ligado à lógica da política.
Uma frase para refletirmos:
O conflito é negociável e a política é a arte da negociação.
Então, fixemos que o conflito é uma noção muito cara à geografia política. Sabemos que muitos dos conflitos que assistimos – ou deles participamos – decorrem de disputas pelo uso ou controle do espaço geográfico. Muitos interesses, partindo de diferentes indivíduos, convergem para a mesma parcela do espaço geográfico, deflagrando a situação conflituosa, na qual o espaço é a fonte de divergência. Essa situação pode até evoluir para o confronto direto que tem como desagradável resultado a perda de vidas humanas.
Vejamos, agora, como estamos preparados para ler criticamente sobre conflito, tendo em vista o
Diccionario de geografía política y geopolítica, escrito pelo geógrafo espanhol López Trigal:
Choque aberto ou disputa entre duas forças, devido a diferenças ideológicas ou políticas e oposição, rivalidade ou enfrentamento entre dois ou mais Estados ou grupos políticos (nacionalistas, grupos indígenas, minorias étnicas e seitas militantes, movimentos sociais), que exige a presença de um antagonismo e incompatibilidade das diferentes partes, uma representatividade imperativa dos interesses que concorrem e um compromisso que reconheça os mesmos interesses em jogo. Desse modo, o primeiro tipo de conflito é o que tem origem no conflito territorial a partir de territórios contestados e zonas de enfrentamento para a demarcação fronteiriça de Estados em situação de tensão. (LÓPEZ TRIGAL, 2013:70-71).
Pois bem, vamos retornar àquela primeira observação sobre o conceito de espaço e a noção de produção do espaço, para aprofundarmos melhor essa ideia. Sabemos que os geógrafos se encantaram com a expressão produção do espaço depois que o filósofo social francês Henri Lefebvre a empregou para dar título a seu livro homônimo, em 1974. Assim, quando Lefebvre publica o livro A produção do espaço, ele abre um caminho bastante fértil para os geógrafos refletirem sobre o conceito chave de sua disciplina. De início, prestemos atenção à passagem de Martínez Lorea sobre o que disse Lefebvre nesse livro.
Durante muito tempo, se teve o costume de apresentar o espaço como um receptáculo vazio e inerte, como um espaço geométrico, euclidiano, que só posteriormente seria ocupado por corpos e objetos. Esse espaço se fez passar por completamente inteligível, completamente transparente, objetivo, neutro e, com isso, imutável, definitivo. Contudo, isso se deve entender como uma ilusão que oculta – mais como ideologia que como erro, disse Lefebvre – a imposição de uma determinada visão da realidade social e do próprio espaço, a imposição de umas determinadas relações de poder. Uma ilusão que rechaça nem mais nem menos que a ideia do espaço como produto social. Pois o mesmo é o resultado da ação social, das práticas, das relações, das experiências sociais, mas esse espaço é, ao mesmo tempo, parte dessas relações, práticas e experiências. Esse espaço é suporte, mas também campo de ação. Não há relações sociais sem espaço, do mesmo modo que não há espaço sem relações sociais. (MARTÍNEZ LOREA, 2013:14)
Segundo o próprio Lefebvre, “o espaço (social) não é uma coisa dentre as coisas, um produto qualquer dentre os produtos; ele engloba as coisas produzidas, ele compreende suas relações na sua coexistência e simultaneidade (...). Ele resulta de um conjunto de operações e não pode ser reduzido a um simples objeto”. Pois é exatamente nesta direção de pensamento que o geógrafo Milton Santos nos apresentará uma definição de espaço. Para Santos (1996:51), “o espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá”. Então, a partir dessas colaborações teóricas de Henri Lefebvre e Milton Santos, podemos avançar na ideia de produção do espaço, para entendermos, afinal, como se dá a relação entre a política e o espaço. Para tanto, a sistematização realizada pela geógrafa venezuelana Sonia Barrios nos parece bem didática.
Para Sonia Barrios, o valor, o poder e o significado constituem, respectivamente, os produtos específicos das práticas sociais econômicas, políticas e culturais. Esses produtos específicos ou (particulares) criam inter-relações entre si gerando produtos globais. Assim, o espaço geográfico seria um produto global porque resultaria da inter-relação dos resultados específicos das práticas econômicas, políticas e culturais. A esse conjunto de inter-relações entre produtos corresponderia a produção do espaço. A produção do espaço é um processo global bastante complexo porque aspráticas sociais econômicas, políticas e culturais são, de fato, o que poderíamos chamar de usos sociais. Assim, teríamos: a) o uso econômico do espaço, atribuindo valor ao espaço, ao ponto deste poder ser vendido e comprado em parcelas; b) o uso político do espaço, inserindo no espaço as relações de poder, ao ponto de serem provocadas disputas pelo controle deste ou daquela parcela do espaço; e, por fim, c) o uso cultural-ideológico do espaço, conferindo significados a distintos aspectos, pontos ou parcelas do espaço, ao ponto de alguns desses pontos ou parcelas serem considerados sagrados, míticos, artísticos etc. O que sabemos é que o espaço dificilmente apresentará apenas uma dessas dimensões (econômica, política ou cultural), mas, ao contrário, a tendência da produção do espaço é inter-relacionar essas três dimensões das práticas sociais ou, como dissemos, esses três tipos de uso social.
A sistematização de Sonia Barrios (1986:1-24) acerca da produção do espaço é apresentada do seguinte modo:
As práticas econômicas e o espaço. As práticas econômicas compreendem o conjunto de ações sociais que tenham por finalidade produção, a distribuição e o consumo de meios materiais, o que permite construir as seguintes proposições em relação ao espaço: a) o produto das práticas econômicas é o espaço físico modificado em sua dupla condição de valor de uso e valor de troca; b) numa sociedade estratificada em classes, a forma pela qual se efetua a transformação do meio físico – e seu resultado concreto: o espaço modificado – só pode ser
compreendida mediante exame de interesses dos grupos sociais que dirigem a produção; c) a tecnologia é o índice preciso da relação entre a sociedade e o meio físico.
As práticas políticas e o espaço. Numa dada situação histórica concreta, as práticas políticas podem ser entendidas como as ações sociais que têm por finalidade a o exercício do poder. Logo, algumas proposições são construídas a partir daqui: a) as relações de dominação que se estabelecem entre homens têm como um de seus fundamentos a propriedade do espaço físico; b) a propriedade do espaço físico justifica-se mediante formulações de caráter ideológico e legitima-se no ordenamento jurídico; c) o Estado cria o espaço geopolítico ao subdividir as áreas nacionais para efeito de administração e controle; d) o Estado incide no nível das práticas econômicas por duas vias: diretamente, cumprindo funções econômicas básicas, por meio de suas empresas; e indiretamente, por meio dos processos de planejamento, inclusive do planejamento territorial; e) os movimentos sociais
encontram nas limitações apresentadas pelo mundo material parte dos elementos que lhes justifica, a luta política.
As práticas cultural-ideológicas e o espaço. Numa dada conjuntura histórica, as práticas culturais compreendem aquelas ações orientadas para i) desenvolver formulações explícitas de conhecimentos capazes de responder ás indagações que o homem formula sobre si mesmo, a sociedade e o espaço-tempo e que permitem solucionar os problemas enfrentados; ii) gerar representações, valores, modelos,
interesses, aspirações, crenças e mitos interdependentes, os quais incidem sobre as práticas do cotidiano; iii) difundir esses conhecimentos através das formas e meios de comunicação simbólicos. Isso nos permite derivar as proposições: a) o espaço construído, como resultado das diferentes forças sociais que determinam a evolução de uma sociedade em cada momento histórico, constitui o campo de evidências por excelência das práticas culturais; b) as práticas culturais utilizam as formas espaciais como suportes para a transmissão de mensagens de apoio ou negação da ordem vigente.
A partir do exposto, a autora chega às seguintes conclusões: a) a produção do espaço é um fato técnico na sua aparência, porém social em sua essência; b) o elemento estruturador básico das sociedades históricas são as relações de dominação e subordinação que se estabelecem entre os homens durante o processo de trabalho; c) os conflitos constituem o elemento dinamizador da totalidade social; e d) tendo por base o nível econômico, o sistema político-ideológico dá coesão ao funcionamento do todo social. Essas conclusões nos auxiliam a entender que a produção do espaço é um processo extremamente importante para a geografia e, especialmente, para a geografia política. Por que, especialmente? Por que a produção do espaço nos esclarece que existe o uso político do espaço, que existem as práticas políticas as quais incidem no espaço, interagindo com as práticas econômicas e as culturais. Então, parece claro que a produção do espaço contém uma dimensão política alimentada pelos conflitos inerentes às sociedades históricas. Essa produção é política! Há interesses em jogo que fazem com que o espaço geográfico seja organizado desta ou daquela maneira, beneficiando estes ou aqueles indivíduos em detrimento de outros, estimulando o geógrafo a decifrar os porquês dessa organização.
Esclarecidos esses apontamentos sobre o campo da geografia política, a saber: o uso político do espaço, resta-nos deixar bem claro que a relação básica dos estudos de geografia política e da própria geopolítica é aquela formada entre espaço e poder. Uma vez que já abordamos a produção – social – do espaço e a natureza – social – do espaço , avancemos alguns comentários sobre a geografia política e a geopolítica para, em seguida, tratarmos do conceito de poder.
O polissêmico conceito de poder
Entendemos que o objeto de reflexão da geografia política é a relação formada entre espaço e poder. Portanto, o ponto de partida do raciocínio político-geográfico reside no entendimento claro dos conceitos teóricos de espaço e de poder. Tratar apenas do espaço, em todos os seus desdobramentos teóricos e empíricos, ou tratar apenas do poder, em toda a sua potencialidade teórica e prática, consiste em algo extremamente rico, mas não garante que uma abordagem político-geográfica seja empreendida, pois se a relação entre os dois termos não for tecida, esclarecida e analisada ainda não se terá adentrado no campo da geografia política. Como já foram apresentados fundamentos sobre o conceito de espaço geográfico, é chegada a vez de falarmos sobre o conceito de poder.
No livro clássico Poder e sociedade, escrito em 1950 por A. Kaplan e H. Lasswell, encontram-se as seguintes definições:
O poder é um valor de deferência que interessa particularmente à ciência política; ele pode ser descrito em termos de seu domínio, alcance, peso e coercitividade.
O poder é a participação no processo decisório: G tem poder sobre H, com relação aos valores K, se G participa da tomada de decisões que afetam as políticas de H em relação a K.
O processo político é a formação, a distribuição e o exercício do poder.
Bertrand Russel define, concisamente, o poder como a “produção de efeitos pretendidos”.
Tawney afirma que “o poder pode ser definido como a capacidade de um indivíduo, ou grupo de indivíduos, modificar a conduta de outros indivíduos ou grupos da forma que quiser”.
Para refletirmos...
O poder se define apenas como uma capacidade?
O poder é conceito escorregadio. Para o geógrafo francês Claude Raffestin (1993:51), “se há uma palavra rebelde a qualquer definição, essa palavra é poder”. Segundo este autor, o termo poder também carrega uma ambiguidade, se for escrito com letra maiúscula ou minúscula. O Poder com letra maiúscula postula a soberania do Estado, ou seja, evoca o poder oficial, instituído, exercido pelo Estado, na forma da lei. Já “o poder, com minúscula, nome comum, se esconde atrás do Poder, nome próprio”. Seria oportuno que o poder fosse entendido como um fenômeo social inerente, portanto, às relações sociais, em vez de ser restrito, como um monopólio, à esfera do Estado. É disso que trataremos: o poder como um fenômeno social difuso, manifestado por ocasião de uma relação social. Assim, poder ser o poder estatal como poderá ser o poder dos movimentos sociais e até mesmo deum só indivíduo em relação a outro.
Segundo Raffestin (1993:52), “presente em cada relação, na curva de cada ação: insidioso, ele [o poder] se aproveita de todas as fissuras sociais para infiltrar-se até o coração do homem”. O que se pretende com esses apontamentos é ampliar a noção de poder para além do poder oficializado na figura do Estado. O poder é, numa perspectiva ampliada muito mais do que a ação do Estado, é algo consubstancial às relações sociais, ou seja, é parte intrínseca das relações sociais. Assim, já partimos de um ponto de vista: o poder tem uma natureza relacional, pois é intrínseco às relações sociais. Na prática, isso quer dizer que algumas relações sociais se transformam em relações de poder. Quando e por que isso ocorre? É simples, quando numa dada relação social um manda e outro obedece, isto é, quando existe uma assimetria que faz com que um indivíduo ou grupo se comporte do modo que o outro indivíduo ou grupo assim deseja. Logo, conclui-se, parcialmente, que o poder é um tipo de relação social e assimétrica.
Por isso, o filósofo francês Michel Foucault (1999:89-91) fez uma série de proposições sobre o poder. Vejamo-las:
O poder não é algo que se adquire, arrebate ou compartilhe, algo que se guarde ou se deixa escapar; o poder se exerce a partir de inúmeros pontos e em meio a relações desiguais e móveis;
As relações de poder não se encontram em posição de exterioridade com respeito a outros tipos de relações (processos econômicos, relações de conhecimentos, relações sexuais), mas lhes são imanentes;
O poder vem d baixo; isto é, não há no princípio das relações de poder, e como matriz geral, uma oposição binária e global entre os dominadores e os dominados;
As relações de poder são, ao mesmo tempo, intencionais e não subjetivas. Não há poder que se exerça sem uma série de miras e objetivos;
Lá onde há poder há resistência e, no entanto, ou melhor, por isso mesmo, esta nunca se encontra em posição de exterioridade em relação ao poder.
Essas proposições são bastante oportunas para se pensar o poder, sobretudo porque reforçam a ideia de que o poder é exercido e tem uma natureza relacional, que essa relação é assimétrica e que a resistência é inerente à relação de poder. Este último ponto nos interessa muito, pois a noção de resistência é cada vez mais valorizada na geografia política contemporânea, como veremos na aula sobre as geopolíticas críticas. A 5ª proposição nos permite considerar que a resistência, forte ou débil, faz parte da relação de poder porque é preciso algum grau de consentimento para que a relação de poder ocorra. Vejamos um exemplo clássico: a opção trágica. Numa relação de poder violenta em que o violentador aponta uma arma para a vítima a fim de força-la a manter relações sexuais com ele, pode-se supor que a vítima se mate com uma faca antes de o ato sexual se iniciar. A opção pela morte é designada, neste caso, opção trágica. O fim do “outro” acaba com a possibilidade da relação e, sem relação, não há exercício do poder. Isso nos informa, pelo menos, duas coisas: a) o poder tem limite e esse limite é dado pela natureza da relação que ocasiona o poder; e b) a resistência é um comportamento que calibra a relação de poder, ou seja, que dá a medida de seu alcance.
Então, podemos voltar à reflexão: o poder se define apenas como uma capacidade? A resposta só pode ser negativa. O poder é uma capacidade, mas vai além dela. No dicionário da língua portuguesa, de Antenor Nascentes, encontra-se a seguinte definição para a palavra poder: “capacidade de agir, de fazer uma coisa, de produzir um efeito”. Isso, evidentemente, está correto, mas exige complemento. Na geografia política, uma definição mais adequada nos informa que poder é a capacidade e o consentimento de tomar decisões e de mantê-las na área de interesse de outrem. Trata-se de uma definição clara e operacional. Clara porque a capacidade deve vir sempre acompanhada do direito ou do consentimento para que uma relação se concretize (como visto no exemplo da opção trágica) e operacional porque pode ser aplicada facilmente à geografia política uma vez que a área de interesse pode ser uma parcela do espaço geográfico. Mas devemos avançar nessa reflexão.
O poder, muitas vezes é confundido com a figura do Estado e suas ações, como já alertado, mas também é confundido com a política. Assim, o jurista italiano Norberto Bobbio (1987:77) nos faz um alerta: “se a teoria do Estado pode ser considerada como uma parte da teoria política, a teoria política pode ser considerada como uma parte da teoria do poder”. Desta formulação, deduzimos rapidamente que o termo Estado é menos abrangente, em seu significado, do que o termo política, que por sua vez, é menos abrangente do que o termo poder. Talvez, esteja aí a provocação de Claude Raffestin, ao intitular o seu famoso livro Por uma geografia do poder, em vez de empregar a expressão geografia política...
Para o cientista I. Molina (2007), o poder é um conceito que expressa a energia capaz de fazer com que a conduta dos demais se adapte à própria vontade. É uma influência sobre outros sujeitos ou grupos que obedecem por haverem sido manipulados ou atemorizados com uma
ameaça de emprego da força. Embora às vezes não seja necessário exercer o poder, pois quem o detém consegue seus fins apelando à sua autoridade ou à capacidade de persuasão, outras vezes,
necessário recorrer à violência para consumar a imposição. Nesse caso está claro que a relação de poder recorre com frequência ao uso da força, da coerção para lograr os resultados desejados. Também está claro que a persuasão é conduta oposta à coerção, pois se vincula mais à influência do que ao poder. Parece necessário, também, que, do mesmo modo que esclarecemos as abrangências dos termos Estado, política e poder, agora, acrescentaremos a noção de influência como aquela mais abrangente que as três mencionadas. C. Raffestin (1993:54), citando H. Lasswell, dá a entender que “é a ameaça das sanções o que diferencia o poder da influência em geral. A influência recoore mais à persuasão e o poder recorre à coerção”.
Para Molina (2007:93-94):
O poder é político quando se exerce num marco no qual a coerção é legítima ou a recompensa pela obediência tem a ver com os benefícios previstos pela comunidade. O Estado é a instituição que aspira monopolizar, através da ideia de soberania, o poder político que assegure a manutenção de uma determinada ordem social. Não obstante, e apesar de que o poder tende na maioria das ocasiões a prolongar a ordem já existente, em algumas vezes o poder também se orienta para estabelecer uma ordem social que, em princípio, é diferente ou oposta da qual surge e na qual se desenrolou. Ademais, a categoria poder pode ser também entendida como símbolo e realidade material onde o relevante são os efeitos que produz, pois transforma as atitudes e preferências do subordinado ou torna inútil a sua oposição.
Uma questão para refletirmos:
O Estado é a instituição que aspira monopolizar o poder político. Pode a sociedade estabelecer limites para essa aspiração? Em caso afirmativo, como?
Acompanhando, ainda, o pensamento de Michel Foucault, devem ser considerados os seguintes pontos sobre a análise do poder (aos quais acrescentamos uma conclusão particular, em itálico), com base em Revel (2005:67-68):
O sistema das diferenciações que permite agir sobre a ação dos outros, e que é, ao mesmo tempo, a condição de emergência e efeito de relações de poder (diferença jurídica de estatuto e de privilégios, diferença econômica na apropriação da riqueza, diferença de lugar no processo produtivo, diferença linguística ou cultural, diferença de saber-fazer ou competência...); logo, a diferenciação pode criar e até mesmo justificar a assimetria na relação de poder.
O objetivo dessa ação sobre a ação dos outros (manutenção de privilégios, acumulação de proveitos, exercício de uma função...); logo, toda relação de poder é guiada por uma intencionalidade.
As modalidadesinstrumentais do poder (as armas, o discurso, as disparidades econômicas, os mecanismos de controle, os sistemas de vigilância...); logo, os recursos de poder (sejam materiais ou imateriais) ditam a natureza, as consequências e o alcance da assimetria entre os atores implicados na relação.
As formas de institucionalização do poder (estruturas jurídicas, fenômenos de hábito, lugares específicos que possuem um regulamento e uma hierarquia próprios, sistemas complexos como aquele do Estado...); logo, as instituições, sejam elas estatais ou não, jogam um papel relevante nas relações de poder.
O grau de racionalização, em função de alguns indicadores (eficácia dos instrumentos, certeza do resultado, custo econômico e político...), logo, o planejamento não é ação estranha à relação de poder, podendo, inclusive, potencializá-la. A organização é fundamental para o exercício pleno do poder, podendo, inclusive, ser considerada uma de suas bases.
Para finalizarmos essas considerações sobre o poder como relação, analisemos esse trecho extraído de VERCAUTEREN, D.; CRABBÉ, O.; MÜLLER (2010: 147-149):
O PODER COMO...
Consideremos o poder como um conjunto de relações o qual implica que seja exercido sobre qualquer coisa ou qualquer pessoa. Ao mesmo tempo, nem “um” ator nem o “outro” da relação que se constrói tem uma posição fixa dentro de um papel: por turnos ou simultaneamente, cada um dos polos da relação atua, se move, faz evoluir a relação, o jogo de poderes, quer dizer de influências, tanto sobre a situação mesma como sobre a relação que se está tecendo.
Ampliemos esta primeira definição em torno ao que Michel Foucault chama de física (ou microfísica) do poder: toda força, no momento em que se vê afetada por outra força, gera uma resistência que, se não for detida, contrarresta a ação da primeira. As forças entram necessariamente em uma relação, mas não de oposição ou de contradição, mas de contrariedade dissimétrica.
M. Foucault diz que “o poder é o nome que damos a uma situação estratégica complexa dentro de uma sociedade dada”. Ou melhor, com a ajuda de Gilles Deleuze: “O poder é uma relação de forças ou, mais provavelmente, toda relação de forças é uma relação de poder. Entendamos em primeiro lugar que o poder não é uma forma, por exemplo, a forma ‘Estado’ [...] Em segundo lugar, a força não se encontra nunca no singular, é parte de uma essência estar em relação com outras forças, se bem que toda força já é uma relação, quer dizer, poder [...]. A força não tem outro objeto nem outro sujeito que outras forças em si, não tem outro ser que não seja a própria relação: é uma ação sobre outras ações, sobre ações possíveis, sobre ações futuras ou presentes. [A partir deste axioma, podemos] conceber uma lista de variáveis abertas, que expressam a relação de força ou de poder que constitui ações: incitar, induzir, desviar, facilitar ou dificultar, ampliar ou limitar, tornar menos ou mais provável...Estas são as categorias do poder”.
...RELAÇÃO
Esta ótica diferente sobre o que designa a palavra poder faz com que aflore imediatamente o fato de que, no modo de ver as práticas coletivas, com frequência tendemos a substituir “a relação” (o poder como relação entre pessoas, quer dizer, entre duas forças) pela “identidade” (o poder como atributo encarnado, como se ele constituísse de fato uma pessoa). Diremos que tal pessoa tem o poder e, segundo a relação que tenhamos com ela, o julgaremos de maneira positiva (“por sorte esta pessoa está entre nós”) ou negativa (“é um canalha, um déspota, um manipulador”) e a pessoa que se encontra no ponto de mira replicará, situando-se no mesmo
plano de linguagem e de análise: “Esta pessoa que está me atacando está tomando isso como uma questão pessoal, se trata de um caso claro de paranoia e de conflito interindividual, uma história de ciúmes ou de frustração...”.
Esta maneira de proceder tem a magia de inverter a ordem das coisas: nos leva a nos centrarmos nas consequências de uma situação, a conhecer os atributos e as posições que têm uns e outros e a ignorar as causas, os mecanismos e os diferentes fatores, principalmente históricos, que produzem em um momento dado as atuais relações de poder em vigor. Desta maneira, ocultamos uma questão importante: como se criam e se produzem as relações de poder e como se distribuem os atributos que derivam delas, que contribuem para fazê-las evoluir ou fixá-las? Em outras palavras, como funcionam?
Posto que, se seguirmos Michel Foucault, o poder se exerce (relação) mais que se possui (atributo) e passa pelos dominados menos que pelos dominantes. Essas duas teses deveriam orientar nossa reflexão e nos conduzir a esta primeira questão: Como chegaram ali? E, na sequência, em que medida a situação que vivem e os aspectos nos quais se fixam são o resultado de uma produção coletiva, na qual todos os atores intervieram em maior ou menos grau? Em que aspectos esta relação tem pinta de ser um problema de grupo?
Com frequência, nos momentos de tensão, de conflito, quando nos colocamos esta questão, nos encontramos no desenlace (sempre provisório, sempre móvel) de um sistema de relações que funciona há vários anos. Um sistema e uma dinâmica que, com o tempo, viram como uma ou mais forças impuseram ritmos ou lógicas às demais forças presentes “conduzindo condutas”, “dispondo das probabilidades”. Estas outras forças não permaneceram puramente passivas, ou bem aceitaram, fomentaram ou tiraram proveito, ou bem resistiram, golpearam ou fugiram das modalidades de relação de poder que, pouco a pouco, foram se instalando.
Essas relações se construíram, então, a partir de um sistema complexo de obediências e de ordens, de ações e de reações. São o efeito provisório e parcial de um conjunto estratégico “de disposições, de manobras, de táticas”. Nem todas elas são atribuíveis a uma pessoa, a um ponto central ou a uma entidade quaisquer que, só, teria organizado tudo conscientemente: tal entidade “é pedestal móvel das relações de forças que conduzem, sem cessar, devido às suas desigualdades, a estados de poder, mas sempre locais e instáveis, móveis (...). E ‘o’ poder, naquilo que tem de permanente, de repetitivo, de inerte, de autorreprodutor, não é senão o efeito de um conjunto, que se configura a partir de todas essas mobilidades, do encadeamento que se apoia em cada uma delas e que busca, por seu turno, fixa-las”, segundo Foucault.
A partir da leitura atenta do texto acima, seguem nossas sugestões para uma reflexão crítica:
A concepção de poder como relação rejeita as concepções de poder como coisa ou como sujeito. Como explicar essa rejeição?
As forças que entram em jogo na relação de poder são assimétricas ou dissimétricas. Por quê?
As relações de poder têm implicações decisivas na produção do espaço. Por quê?
Na próxima aula, adentraremos na história da geografia política, buscando entender como começou a sua sistematização, como se deram seus altos e baixos...
Sugestões de leitura desta aula:
RAFFESTIN, C. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993. Especialmente o capítulo III “O Poder”.
SANTOS, M. A natureza do espaço. São Paulo: Hucitec, 1996. Especialmente o
capítulo 2 “Espaço: sistemas de objetos, sistemas de ação”.
Referências bibliográficas
BARRIOS, S. A produção do espaço. In: Souza, M.; Santos, M. (Org.). A construção do espaço.
São Paulo: Nobel, 1986
BOBBIO, N. Estado Governo Sociedade. Por uma teoria geral da política. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987
CASTRO, I. Geografia e política. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005
CASTRO, P. Geografía e geopolítica In: Hiernaux, D. e Lindón, A. (Dir.).	Tratado de
Geografía Humana. Barcelona: Anthropos, 2006.
CORTELA, A.; LA TAILLE, Y. Nos labirintos da moral. Campinas: Papirus, 2010
ESTRABÃO. Geografia. Livros I e II. Madri: Gredos, 1991
FOUCAULT, M. História da sexualidade. (I) A vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1999
LEFEBVRE, H. La production de l’espace.Paris: Anthropos, 1986
LÓPEZ TRIGAL, L. Diccionario de geografía política y geopolítica. León: Universidade de Léon, 2013
MARTÍNEZ LOREA, I. Prólogo: Henri Lefebvre y los espacios de lo posible. In: Lefebvre, H.
La producción del espacio. Madri: Capitán Swing, 2013
MOLINA, I. Conceptos fundamentales de ciencia política. Madri: Alianza Editorial, 2007
RAFFESTIN, C. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993
REVEL, J. Foucault. Conceitos essenciais. São Carlos: Claraluz, 2005
SANTOS, M. A natureza do espaço. São Paulo: Hucitec, 1996
VERCAUTEREN, D.; CRABBÉ, O.; MÜLLER, T. Micropolíticas de los grupos. Para una ecología de las prácticas colectivas. Madri: Traficantes de Sueños, 2010
CEDERJ 2016
GEOGRAFIA POLÍTICA
Prof. Ivaldo Lima
Aula 2
A geografia política clássica e seus fundamentos
O momento histórico da formação da geografia política
Como já vimos, embora o projeto político da geografia remonte à Antiguidade, a sistematização de um conhecimento científico político-geográfico somente veio a se delinear no final do século XIX. Foi com a obra do prussiano Friedrich Ratzel (1844-1904) que a geografia experimenta uma renovação em seu conteúdo e, sobretudo, em sua abordagem. Nessa obra, destacam-se os livros “Antropogeografia”, publicado em 1882 e “Geografia Política”, publicado em 1997, cuja reedição surgiu em 1902 acompanhada do subtítulo “Uma geografia dos Estados, do comércio e da guerra”. No primeiro, Ratzel divide o objeto de estudo antropogeográfico em três partes principais – a população, o território e os recursos – permitindo, assim, uma sistematização que modernizasse a geografia científica, além de posicionar essa mesma disciplina como uma das ciências sociais. No segundo livro, a leitura ratzeliana da geografia é bem mais específica, enfatizando a relação formada entre espaço e poder que conduziria, por seu turno, à sistematização moderna da geografia política, refundando seus conceitos e expandindo seus temas.
Mas, afinal, quais eram as características fundamentais dessa geografia política refundada por Ratzel? Esse questionamento nos servirá como fio condutor desta aula, nos possibilitando
entender como o pensamento desse autor estava plenamente contextualizado no ambiente político, intelectual, econômico, cultural e filosófico daquele momento por ele vivido. E, assim, chegaremos ao entendimento de como, em seu nascedouro, a geografia política constituiu-se como uma das matrizes do pensamento de Ratzel, bem como de outros cientistas sociais equitemporâneos. Aqui, utilizamos o termo matriz, por dois motivos. O primeiro motivo deriva do fato deste pensamento político-geográfico ter servido de base para desdobramentos analíticos na trajetória científica desse autor, ou seja, as análises empreendidas por Ratzel frequentemente se referiam à espacialidade do poder. O segundo motivo deriva do fato desta geografia política ter influenciado muitos cientistas, contemporâneos e sucedâneos de Ratzel, como foi o caso do sueco Rudolf Kjéllen – jurista germanófilo que cunhou o termo geopolítica, em 1899.
O momento histórico vivido por Ratzel é decisivo para a caracterização de sua produção científica. Isso porque, o autor vivencia o momento político de unificação que faz surgir um novo Estado: a Alemanha. Portanto, trata-se de um momento de afirmação de uma nacionalidade institucionalizada há pouco, embora o sentimento nacional alemão derive de uma longa maturação cultural da germanidade, ou seja, como um produto legítimo da cultura germânica. A própria ideia de nação como uma unidade de cultura, alentada na Alemanha recém-unificada, expressa bem essa derivação. Nesse contexto, a afirmação da nação alemã se dá, também, por meio da filosofia romântica a qual se contraporá à filosofia iluminista de cunho francês. Esse romantismo (também conhecido como idealismo alemão) constitui uma corrente filosófica em que o passado, as tradições, enfim, o caldo de cultura específico de um povo é valorizado para definir a unidade, a coesão e a ideologia desse próprio povo. Deduz-se que a construção do caráter nacional do povo alemão é o que estava em jogo. Daí recordarmos a influência de filósofos representantes desse idealismo alemão sobre o pensamento de Ratzel – mesmo que não apenas esses, pois ele sofre clara influência de Hegel, como veremos adiante – tais como Herder (com seu livro “Outra filosofia da história”) e Fichte (com seu livro “Discursos à nação alemã”). Assim, a valorização da cultura germânica assume uma dimensão territorial nítida, seja pela definição do território alemão como seu epicentro, seu foco irradiador, seja pela ampliação de seus horizontes para além da Alemanha (envolvendo porções da Áustria, da Suíça e da Polônia). Um decisivo pangermanismo se insinua no mundo geopolítico daquele momento.
Wanderley Messias da Costa (1990:30) afirma sobre Ratzel, o intelectual engajado daquele momento:
Ao mesmo tempo, como intelectual preocupado com os destinos da Alemanha, [Ratzel] participava de uma série de atividades acadêmicas voltadas para a questão nacional (como a Liga Pangermanista). Após o retorno de sua viagem aos EUA, que muito o impressionou e cuja influência será notória em seus estudos (em 1880 escreveria Os Estados Unidos da América do Norte), Ratzel alterna estudos sistemáticos de geografia geral (como a sua famosa Antropogeografia, de 1882) com vários pequenos estudos sobre problemas geográfico-políticos, culminando com a sua obra maior (Geografia Política, de 1897). Preocupava-o essencialmente o que avaliara como a “unificação malconcluída” da Alemanha, desde o processo que se iniciara sob o comando de Bismarck. De fato, malgrado a centralização via constituição de um Estado forte, mas que não resultara de um processo revolucionário clássico, tal qual ocorrera com a vizinha França, a Alemanha apresentava-se, até o início do século XX, extremamente
fragmentada, tanto socialmente como do ponto de vista de sua organização político-territorial.
A esse ambiente político, cultural e filosófico vivido por Ratzel, articula-se o ambiente econômico que exigia do Estado alemão uma corrida colonialista atrás de recursos existentes para além do seu próprio território, ou seja, em terras estrangeiras. É essa exigência que faz com que a Alemanha se lance na construção de territórios coloniais próprios, numa situação de desvantagem notória em relação a outras potências europeias já maduras, como França, Holanda e Inglaterra, por exemplo, que detinham, há tempos, amplos impérios coloniais mundo afora. A afirmação econômica da Alemanha estava condicionada, desse modo, pela exploração produtiva de áreas localizadas fora de seu território. O expansionismo territorial parecia inevitável. Segundo o raciocínio geográfico de Ratzel, um Estado cresce e se desenvolve em consonância com os recursos de que potencialmente necessita e que efetivamente dispõe para a sobrevivência de sua população, sendo o território a fonte provedora de tais recursos. Logo, à Alemanha se impunha o imperativo de um espaço suficientemente vasto para a provisão desses recursos, isto é, um espaço vital que garantisse a sobrevivência da população. Surge, a partir desse raciocínio ratzeliano, o conceito de lebensraum ou espaço vital, definido como uma relação de proporção entre a manutenção de uma dada população e os recursos demandados para tanto. Nota-se que esse conceito expressa uma conotação geopolítica, que, aliás, será amplamente explorada por R. Kjéllen e por K. Haushofer, geógrafo alemão que estudaremos em aula vindoura.
Geografia política é equivalente de geografia do Estado?
Resta-nos saber que concepção de Estado sustenta o raciocínio político-geográfico de Ratzel. Para tanto, devemos, de antemão, conhecer o ambiente intelectual vivido por esse autor. Nesse sentido, destaca-se na segunda metade do século XIX, a obra magistral de Charles Darwin, “A origem das espécies”,publicada em 1859. Essa obra terá impacto incomensurável no pensamento científico daquele momento histórico em diante. Assim, a geografia política de Ratzel não escapará da influência impactante da obra darwiniana. A ideia de evolução, luta pela sobrevivência, lei dos mais fortes e, sobretudo, de organismo vivo polarizam as produções científicas na época mencionada, dentro e fora das ciências biológicas. A evidência mais flagrante dessa polarização é a tendência de se compararem fatos e processos da realidade social a um organismo vivo. Tal tendência, que recebe o nome de organicismo, é verificada nas comparações da sociedade, do Estado, do próprio planeta Terra etc. com um organismo vivo, por meio da caracterização e análise da anatomia e fisiologia desses elementos, ou seja, de suas partes constitutivas e de seu funcionamento integrado. Naquele momento, o organismo vivo assume um protagonismo ímpar como metáfora que pretende explicar a natureza dos fatos e dos processos sociais.
Para Ratzel, o Estado é um organismo vivo sujeito, portanto, às circunstâncias objetivas que regulam o nascimento, o desenvolvimento, o envelhecimento e a morte potencial desse organismo. Trata-se da concepção de um Estado orgânico, no sentido de que ele é composto por partes – órgãos – que integram de forma harmoniosa um todo – o organismo. O maior triunfo de um Estado será garantido por seu crescimento e o seu maior fracasso pela perda de um proveito territorial, ou seja, nessa perspectiva organicista, o Estado que cresce territorialmente é saudável
e prospera, já aquele que perde parte de eu território é doente pode vir a morrer. Esse Estado deve, por conseguinte, ser cuidado para não sucumbir. No esteio dessa premissa do cuidado com o organismo estatal é que se pode entender a ideia de Ratzel sobre o crescimento dos Estados e seus condicionantes. Para tanto, Ratzel elaborou leis do crescimento espacial dos Estados as quais funcionam, antes de tudo, como um conjunto de proposições observadas por quaisquer Estados (e estadistas...) que almejassem triunfo em meio à competição com outros Estados. Vejamo-las.
1-	O espaço do Estado cresce com a expansão da população que compartilha a mesma cultura.
2-	O crescimento territorial acompanha outros aspectos do desenvolvimento.
3-	Um Estado cresce absorvendo unidades menores.
4-	A fronteira é a periferia orgânica do Estado que reflete sua força e seu crescimento, no entanto, não é permanente.
5-	Estados no curso do seu crescimento procuram absorver territórios políticos valiosos.
6-	O ímpeto de crescimento vai desde o Estado primitivo até a civilização mais desenvolvida.
7-	A tendência com relação ao crescimento territorial é contagiosa e aumenta através do processo de transmissão.
Uma ideia para a nossa reflexão:
No contexto do expansionismo europeu do século XIX, que ilações podemos extrair do significado dessas leis espaciais e de suas consequências práticas?
Desse conjunto de leis espaciais, ressalta a concepção organicista que as define, como se nota na quarta lei cuja definição de fronteira se aproxima àquela da pele que constitui o órgão periférico de um organismo. Desse modo, ao crescer, o organismo necessita que a pele se expanda. Essa linguagem organicista traduz, na prática, a ideia expansionista de que as fronteiras são móveis e devem se deslocar para atender ao crescimento do organismo estatal. Devemos estar muito atentos ao fato de que a concepção orgânica de Estado (e de suas fronteiras) é uma das marcas distintivas da geografia política clássica. Mas, a concepção de Estado que informa a geografia política de Ratzel vai mais além. Trata-se, igualmente, de uma concepção totalitária, no sentido de que o Estado é visto como o todo poderoso do mundo da política. Em poucas palavras, Ratzel desenvolvia a seguinte equação: Poder = Estado. Disso deriva a concepção unidimensional do poder. O que isso significa precisamente? Significa que, como vimos na aula anterior, o poder é uma relação e tem muitas fontes. Nessa linha de raciocínio, o Estado não pode ser a única fonte de onde emanam as relações de poder, embora, seguramente, seja uma das principais. Dito de outro modo, a geografia política clássica é estadocêntrica, para empregarmos uma expressão cara ao geógrafo Claude Raffestin. O Estado como o grande – quiçá o único... – protagonista do fenômeno do poder: eis a proposição de Ratzel.
Sobre a concepção de Estado assumida por Ratzel, Claude Raffestin (1993:14-15) argumenta o seguinte:
Mas que Estado é esse privilegiado por Ratzel? É o Estado moderno ou o Estado-nação. Melhor dizendo, Ratzel só faz geografia a partir de uma dessas “conformações
históricas possíveis pelas quais uma coletividade afirma sua unidade política e realiza seu destino”, segundo Henri Lefebvre. De fato, não pode haver dúvida sobre isso: “Quem diz poder ou autoridade não diz Estado”, segue afirmando Lefebvre. Para Ratzel, tudo se desenvolve como se o Estado fosse o único núcleo de poder, como se todo o poder estivesse concentrado nele: “É preciso dissipar a frequente confusão entre Estado e poder. O poder nasce muito cedo, junto com a história que contribui para fazer”, arremata Lefebvre. Dessa forma, Ratzel introduziu todos os seus “herdeiros” na via de uma geografia política que só levou em consideração o Estado ou os grupos de Estados.(...) Em todo caso, Ratzel na sua geografia política, faz eco ao pensamento do século XIX que racionaliza o Estado. Dá ao Estado sua significação espacial, “teoriza-o” geograficamente. Aliás, nisso ele foi influenciado por uma longa tradição filosófica que encontrou em Hegel o seu mais brilhante representante.
Finalmente, Raffestin (1993:16) sentencia:
Com efeito, a geografia política de Ratzel é uma geografia do Estado, pois veicula e subentende uma concepção totalitária, a de um Estado todo-poderoso. Involuntariamente, talvez, Ratzel fez uma geografia do “Estado totalitário”, o adjetivo sendo aqui tomado no sentido daquilo que abraça uma totalidade e não no sentido político atual.
Até aqui, sistematizamos alguns pontos fundamentais da geografia política clássica que equivalem, por assim dizer, à geografia fundamentada na obra de F. Ratzel. Também, ressaltamos a crítica direcionada à essa geografia ( e a essa obra). Conceber uma geografia política que lide com a multidimensionalidade do poder, como visto na Aula 1, em vez da unidimensionalidade do poder, constitui um objetivo crucial que conduz ao entendimento i) do que vem a ser o Estado e ii) dos novos horizontes que essa disciplina vem expandindo desde o seu nascimento moderno no final do século XIX.
Há determinismo na obra de Ratzel?
Leia com atenção o fragmento a seguir.
Friedrich Ratzel foi um pensador alemão, considerado como um dos principais teóricos clássicos da Geografia e o precursor da geopolítica e do determinismo geográfico. Vale lembrar que a expressão “determinismo” não era empregada pelo próprio Ratzel, tratando-se de uma atribuição conceitual que foi dada a partir das leituras sobre o seu pensamento. Sua principal obra publicada foi a Antropogeografia. A Ratzel deve-se a ênfase dos estudos geográficos sobre o homem. Entretanto, a teoria ratzeliana via o ser humano a partir do ponto de vista biológico (não social) e que, portanto, não poderia ser visto fora das relações de causa e efeito que determinam as condições de vida no meio ambiente. A essa concepção deu-se o nome de determinismo geográfico, em que o homem seria produto do meio, ou seja, as condições naturais é que determinam a vida em sociedade. O homem seria escravo do seu próprio espaço. Esse pensador foi bastante influenciado pela obra de Charles Darwin, que defendia o postulado de que a evolução
se basearia na luta entre as diferentes espécies, de forma que aquelas que possuíssem as características de melhor adaptação ao meio sobreviveriam. Ratzel, de certa forma, aplicou essas ideias à espécie e sua vida em sociedade. Os seres humanos, raças e etniasmais aptos venceriam e dominariam os povos considerados inferiores.
Disponível	em:	http://brasilescola.uol.com.br/geografia/friedrich-ratzel.htm.	Acesso
em: 29 fev. 2016.
O texto acima apresenta problemas fáceis de detectar. Avancemos nessa detecção. Muito embora o nome – mais do que a obra – de Friedrich Ratzel seja bastante divulgado no Brasil como o “pai do determinismo geográfico”, alguns aspectos contidos nessa divulgação exigem algum esclarecimento. O primeiro deles é de que a noção de determinismo ambiental, entendida como a situação em que uma decorrência é absolutamente provocada por um fator natural, é muito mais antiga do que a obra de Ratzel. Encontramos tais referências na obra de Montesquieu, em seu livro “O espírito das leis”, do século XVIII, e em inúmeros outros trabalhos produzidos bem antes da obra ratzeliana, como no livro “Muqaddimah”, do historiador Ibn Kaldhun, do século XIV/XV. O segundo esclarecimento diz respeito ao uso incorreto, neste caso, do adjetivo geográfico no lugar de ambiental. Isso porque, espaço não é sinônimo de meio ambiente, muito menos geografia é sinônimo desse último termo. Então, i) Ratzel não poderia ser pai de uma ideia que já existia há muito, tampouco ii) o tipo de determinismo atribuído a sua obra poderia chamar-se geográfico. Então, o que ocorre?
De saída, devemos lembrar que Ratzel se refere às influências do meio físico sobre o comportamento humano e que, na primeira metade do século XX, essa ideia foi levada às últimas consequências por discípulos seus como Huntington, na Inglaterra ou Ellen Semple, nos Estados Unidos. Por outro lado, é prudente destacar que Ratzel considerava incontornável a relação formada entre o solo e o povo, isto é, entre as condições territoriais e o desenvolvimento de uma coletividade humana, e, sobretudo, a relação entre solo e Estado. “Ratzel partiu da ideia de que existia uma estreita ligação entre o solo e o Estado. Trata-se de uma ilustração política daquilo que se chamou de determinismo, que teve seus defensores e seus detratores inflamados” (RAFFESTIN, 1993:13).
Assim, de acordo com Costa (1990:34):
O que se pode concluir dessa concepção [de Estado] de Ratzel, portanto, é que sua matriz conservadora e autoritária não estaria simplesmente no fato de que ela sobrepõe condicionantes naturais aos processos sociais e políticos, mas justamente na ideia subjacente de um Estado forte, centralizador e “posto por cima” da sociedade, como ele próprio explicita, ao afirmar que a unidade do Estado depende da unidade territorial e que esta, por sua vez, depende dos liames espirituais entre os habitantes, o solo e o Estado. Trata-se, assim, de uma unidade nacional-territorial comandada pelo poder central: “Uma política estatal correta é a de evitar que as dissensões que ocorrem no interior da sociedade se transformem em conflitos geografizados”, afirma Ratzel, em seu livro “Geografia Política”.
Para entendermos a complexidade da obra geográfica de Ratzel, é oportuno mencionar que:
A raiz do pensamento ratzeliano se move na ambivalência, ao servir de ponte entre o determinismo e o evolucionismo, apreciado nas relações entre sociedade e ambiente em
seus primeiras etapas de sua obra e na apreciação possibilista que aparece nos seus últimos trabalhos de Geografia Política nos quais leva em conta os fatores humanos cuja influência, observa, é maior do que a procedente do entorno físico. Isso supõe um câmbio radical no seu discurso (LÓPEZ TRIGAL; POZO, 1999:33-34).
Pelo exposto, parece lícito ponderar que a obra de Ratzel não deve ser reduzida a um de seus aspectos, mas, ao contrário, deve ser apreciada tendo-se em conta a diversidade de seus enfoques, de suas contradições e ambivalências, ou seja, a sua riqueza intelectual. Decerto, Ratzel é um dos nomes mais importantes da história do pensamento geográfico e, seguramente, o pai fundador da geografia política moderna. Sua geografia política, renomeada de clássica devido à evolução interna da própria disciplina, inaugura uma momento de extrema fertilidade da imaginação geográfica que tenta se ajustar à interpretação das condições socioespaciais da virada do século XIX para o XX.
Uma reflexão fundamental que devemos sublinhar a partir dessa contribuição científica de
Ratzel deriva de sua célebre frase:
Espaço é poder.
Essa máxima ratzeliana nos parece bastante oportuna para entendermos o fundamento de um raciocínio. Essa máxima também nos parece bastante atual. “Espaço é poder” sintetiza claramente o fundamento da geografia política, a partir do qual se pode deduzir que a geografia política clássica nos legou um lastro inspirador para a formulação de nossas ideias. Contudo, antes de abordarmos os desdobramentos e superações dessa geografia política clássica para os dias correntes, é-nos obrigatória uma revisitação nas contribuições da chamada geopolítica clássica. E será precisamente sobre esse tema que nos debruçaremos na aula seguinte. Até lá!
Box de leitura
FRIEDRICH RATZEL
Luciana de Lima Martins *
Friedrich Ratzel (1844-1904) é considerado por muitos o fundador da moderna geografia humana, sendo responsável também pelo estabelecimento da geografia política como disciplina. A abrangente produção ratzeliana deixa transparecer a integração de fatos da modernidade e do rápido desenvolvimento da sociedade no contexto da Alemanha que se unificava. Reflexões sobre o Estado, a história, as raças humanas, o ensino da geografia e a descrição de paisagens perpassam a obra do geógrafo, que se preocupava em auferir uma identidade comum à nação em formação. No Brasil, é o Ratzel determinista que se destaca na produção historiográfica da geografia, resultado da leitura da obra ratzeliana através da literatura francesa, sobretudo da obra de Lucien Febvre - La Terre et L’Évolution Humaine (1922) - que estigmatizou a pecha de determinista para Ratzel em contraposição ao possibilismo de Vidal de la Blache, termo cunhado pelo próprio Febvre (cf. Moreira, 1989:32 e Moraes, 1990:13).
Ratzel inicia sua carreira acadêmica em 1866 como zoólogo, interesse despertado pelo considerável impacto da obra de Charles Darwin na Europa, e de seu discípulo alemão Ernst Haeckel. Correspondente do jornal Kölnische Zeitung desde 1868, Ratzel teve a oportunidade de viajar pelo sul da França, pela Itália e pelo leste Europeu. Em suas impressões sobre natureza e paisagem, ocupação humana e nacionalidade, pode-se perceber a mudança do cientista natural para o geógrafo. De 1873 a 1875, Ratzel trabalha como correspondente na América do Norte, percebendo o surgimento de uma nova sociedade através do ambiente antrópico e de seu uso, e prevê um futuro essencialmente urbano para a sociedade moderna, no bem e no mal.
O interesse pelo estudo da migração chinesa (Die chinesische Auswanderung, 1876), com o qual completa sua qualificação acadêmica, foi também suscitado na sua viagem à América.
De 1875 a 1886, Ratzel leciona geografia na Politécnica de Munique, combinando seu vasto conhecimento da literatura da disciplina com a riqueza, de dados e informações obtidos em suas viagens e pesquisas de campo. Geografia física, geografia regional dos continentes, geografia humana e política foram todos temas dos cursos mais substanciais. Em 1886, Ratzel transfere-se para a Universidade de Leipzig, onde permanecerá até sua morte, em 1904. Jean Brunhes, Ellen Semple, Hans Helmolt e Alfred Hettner foram alguns dos mais ilustres estudantes e orientandos de Ratzel nesse período. O geógrafo divide seu tempo trabalhando na formação de professores para as escolas públicas e no fomento de aulas de geografia nessas escolas, publicando o livro didático Deutschland (1898) para combater a aspereza das aulas de geografia e “despertar a vontade de obtenção de um conhecimento e de uma concepção da terra natal (Heimat) não envolvidos apenas com o intelecto” (citado por Buttman, 1977: p. 83). Em Leipzig, Ratzel vai também aprofundar seu conhecimento filosófico através dos encontroscom o chamado “Círculo de Leipzig”, um grupo de intelectuais interessados, sobretudo, na obra de Leibniz, que terá influência marcante na produção ratzeliana dos últimos anos de sua vida.
Em linhas gerais, a obra de Ratzel é uma tentativa de superar uma geografia puramente descritiva e de avançar na formulação de grandes construções explicativas, onde o “sentido de espaço” (Raumsinn) ocupa lugar primordial. Das fecundas ideias ratzelianas, destacam-se principalmente:
O estudo dos efeitos recíprocos entre o homem e seu ambiente, onde o homem teria um duplo posicionamento: ativo, na medida que transforma, através de seu trabalho, a superfície terrestre, e passivo, na sua dependência das condições naturais, que seu espaço vital (Lebensraum) lhe impõe (Anthropogeographie, vol. 1, 1882);
O papel importante desempenhado pela cultura e pela difusão cultural (Völkerkunde, 1885-
;
As relações entre o homem e a natureza devem ser compreendidas não somente sob o ângulo da mediação técnica ou econômica (trabalho, progresso), mas também, e sobretudo, levando se em consideração a mediação política: Ratzel compara o Estado a um organismo (Politische Geographie, 1897). No entanto, o “organismo” político a que Ratzel se refere difere da estrutura rudimentar do organismo biológico, na medida em que expressa a unidade orgânica do homem e da Terra, incluindo todos os objetos perceptíveis, materiais e imateriais, vinculando-se ao conceito da unidade (Ganzheit) de matriz romântica;
A importância básica da geografia física para toda a pesquisa geográfica (Die Erde und das Leben, 1901-2);
A descrição artística da natureza e da paisagem deve preencher tanto as necessidades científicas como as estéticas (Über Naturschilderung, 1904).
O texto de Ratzel - “Freunde, im Raum wohnt das erhabene nicht!” (Amigos, o sublime não mora no espaço!) - foi publicado em 1903 no periódico Glauben und Wissen (Fé e Saber) e insere-se no primeiro volume da obra póstuma Kleine Schriften von Friedrich Ratzel (Pequenos escritos de Friedrich Ratzel), organizada por Hans Helmolt, em 1906. Trata-se de uma coletânea de cerca de 86 artigos publicados em diversos periódicos de 1867 a 1904, que conta ainda com uma biografia escrita pelo organizador e de uma bibliografia levantada por Viktor Hantzsch. Nesses artigos, encontra-se ora um Ratzel reflexivo, ora inflamado, ora crítico. Despojado da rigidez acadêmica, da preocupação da sistematização do pensamento geográfico enquanto disciplina, como em suas principais obras - Anthropogeographie e Politische Geographie -, aflora, nos Kleine Schriften, um Ratzel multifacetado, engajado politicamente, envolvido com questões filosóficas, artísticas e religiosas. Os artigos tratam desde a anatomia do Enchytraeus vermiculares a considerações sobre a fisionomia da Lua, glaciologia, etnografia, história, colonialismo na África, paisagens, panoramas, fotografia, escritos biográficos, geografia política, cidades, nacionalidades e raças.
A menção a este texto [a autora em tela o traduziu para o português] deve-se à curiosidade suscitada pelo momento em que foi produzido, a chamada fase “madura” da obra ratzeliana. A humildade intelectual subjacente ao questionamento que Ratzel se permite fazer, em que busca explorar “as contradições da visão do mundo entre conhecimento das ciências naturais e fé cristã” (Buttmann, 1977:102), propiciou a sintonia com seu pensamento, o encontro, a mediação entre seu mundo e o atual. Nesse texto, o geógrafo faz uma profissão de fé, reconhece o intransponível, o insondável, mas não toma, perante este fato, uma atitude niilista. Apenas está consciente da existência de limites que, longe de provocarem-lhe desânimo, incitam-no a prosseguir seu caminho. No momento atual, em que se repensam os caminhos e descaminhos da atividade científica e do projeto da modernidade, e o lugar da geografia nesse contexto, a reflexão ratzeliana é digna de atenção.
O realismo político como paradigma da geografia política e da geopolítica
Como bem nos recorda Claval (2006:75), nos seus escritos entre 1882 e 1891, ao familiarizar-se com os estudos da etnologia,
[Ratzel] estabelece uma diferença fundamental entre os Naturvölker os povos que permanceram no estado de natureza e só sobrevivem se se adaptarem ao ambiente onde vivem, e os Kulturvölker cujas técnicas materiais e formas de organização social e política são suficientemente evoluídos para que se possam isolar do meio natural. (…) Estes últimos possuem como característica específica, uma forma de organização essencial para compreender o mundo contemporâneo: o Estado. A geografia política surge então a Ratzel como a parte mais original da geografia humana das sociedades evoluídas.
Do comentário de Paul Claval, uma evidência se confirma: a centralidade da figura do Estado como fundamento da geografia clássica. Por sua vez, essa condição tão central é o núcleo duro
de um paradigma denominado realismo político. O vínculo entre a geografia política e esse paradigma das relações internacionais é lapidarmente explicitado por Becker (1995:273), quando a autora afirma:
Se necessário fosse definir um paradigma para a Geopolítica desde que se constituiu como disciplina, certamente este seria o de realismo, no campo das relações internacionais. Realismo que pressupõe o Estado como unidade básica do sistema internacional, cujo atributo principal é o poder, em suas dimensões predominantes de natureza militar, ideológica e econômica.
A autora ainda nos sinaliza que, em sua Geografia Política (1897), “Ratzel propõe o significado da Geografia Política e dá ao Estado sua significação espacial, tornando-o visível geograficamente” (BECKER, 1995: 283). Então, parece claro que a centralidade do Estado está no cerne da geopolítica e da geografia política, desde a magistral fundamentação desses conhecimentos feita por F. Ratzel. Essa centralidade estatal é o que nos leva a tecer algumas mais algumas considerações sobre o realismo político.
Os estudos sistemáticos no campo das relações internacionais, concebidas como disciplina científica, têm início nos anos 1930. A partir desse momento, identificam-se diversos paradigmas que dariam suporte para o entendimento de tais relações. Sem dúvida, o paradigma mais antigo, por isso mesmo denominado de clássico, é aquele que considera o Estado como o protagonista indiscutível dessas relações, ainda que não seja, ele em si mesmo, o único ator internacional. Nesse ponto, está evidenciado que se trata de relações interestatais que comandariam o cenário internacional e seus jogos de interesses. A antiguidade desse paradigma clássico não remonta aos anos 1930, pois seria fácil recorrer a fatos e suas interpretações que demonstram o papel do Estado nos comportamentos políticos – e geopolíticos. Assim, alguns autores evocam a História da guerra do Peloponeso, de Tucídides (460-400 a.C.), até as obras de N. Maquiavel, T. Hobbes, C. Clausewitz e M. Weber, num voo plurissecular que vai da antiguidade grega ao início do século XX. Contudo, para sermos mais precisos, é bom lembrar que o realismo político surge a partir das intervenções teóricas de Edward Carr, em seu livro The twenty years crisis – 1919-1939 e Hans Morgenthau, com o seu Politics among nations, o primeiro publicado em 1939 e o segundo em 1948.
Considerado, por muitos, como o “Maquiavel moderno”, Hans Morgenthau em seu clássico livro apresenta os seis princípios do realismo político, assim sistematizados por Gonçalves (2002:56-57):
O realismo acredita na objetividade das leis da política, que são determinadas pela natureza humana. A natureza humana não sofre variações de tempo e de lugar. Em qualquer tempo e lugar o comportamento político é sempre orientado pela busca da realização dos interesses.
O “interesse definido em termos de poder” constitui o conceito fundamental da política internacional, que distingue a política da economia, da ética, da estética e da religião. Esse conceito permite a análise racional do comportamentopolítico dos governantes.
Os interesses variam segundo o tempo e o lugar. Eles exprimem o contexto político e cultural a partir do qual são formulados. A transformação do mundo resulta da manipulação dos interesses.
A política internacional possui suas próprias leis morais, que não se confundem com aquelas que regem o comportamento do cidadão. A ética política do governante não deve ser avaliada conforme as leis abstratas universais, porém, a partir das responsabilidades que o governante tem para com o povo que representa.
O realismo recusa a ideia de que uma determinada nação possa revestir suas próprias aspirações e ações com fins morais universais. A ideia messiânica de que “Deus está conosco” é perigosa por conduzir a guerras. A paz só pode existir como resultado da negociação dos diferentes interesses dos Estados.
A grande virtude do realismo está no reconhecimento de que a esfera política é independente das demais esferas que compõem a vida do homem em sociedade. Ao abordar a política nos seus próprios termos, o realismo cria condições para o correto entendimento da política.
Na França, o realismo foi enriquecido pelo livro de Raymond Aron, Paz e guerra entre as nações, publicado em 1962. Aron critica severamente as ideias de Morgenthau rejeitando o universalismo com que este último trata as relações entre Estados, na escala mundial. Para Aron, a especificidade das relações entre Estados depende do procedimento histórico e sociológico de cada caso em particular e, ainda, a questão mais expressiva das relações internacionais é a possibilidade de os Estados se envolverem em guerras.
Outro nome relevante nesse debate teórico do realismo político é o de Kenneth Waltz, especialmente devido a seu livro Theory of international politics, que veio à luz em 1979. Para Waltz, para o entendimento das relações internacionais, o comportamento dos atores no mercado importa, e muito. A pergunta central para ele é a seguinte: por que sempre houve guerra? Porém, sua maior contribuição à teoria em tela é a ideia que apresenta sobre a estrutura do sistema internacional. Para este autor, seria um erro pensar que a realidade internacional é o mero resultado das determinações nacionais de cada Estado, pois seria a estrutura internacional que determinaria o comportamento dos Estados. Waltz inaugura um tipo de realismo estrutural ou neorrealismo no campo das relações internacionais.
O século XX é pródigo na formulação de termos vinculados ao realismo político. Dois desses termos são high politics e low politics ( alta política e baixa política, respectivamente). Segundo Pecequilo (2004:121):
A high politics refere-se aos comportamentos essenciais da política de poder para os realistas, envolvendo os elementos militares, diplomáticos e estratégicos que definem a capacidade de projeção internacional do Estado e sua capacidade de ação diante de unidades políticas semelhantes. Pode-se dizer que o termo indica os aspectos mais “nobres” da política internacional, opondo-se às questões sociais, culturais e econômicas, que representam a low politics.
Cristina Pecequilo, ainda nos lembra que, até mesmo por seus críticos, o realismo é reconhecido como a corrente teórica ainda dominante das relações internacionais. Contudo, segundo Nogueira e Messari, a partir dos anos 1980 e, sobretudo, dos 1990, críticas ao realismo se multiplicaram. Para esse autores (2004:48):
A maioria dessas críticas destacava a incapacidade do realismo de prever e explicar a queda da União Soviética e sua inadaptação para lidar com o mundo pós-Guerra Fria. Novos assuntos (a globalização), novos atores (as civilizações segundo Huntington) e o possível/eventual fim dos conflitos (o fim da história segundo Kukuyama) pareciam relegar o realismo às margens da história.
Nesse contexto do fim do século XX, a reação dos realistas não tardou. Alguns autores argumentaram que há uma verdade objetiva que precisa ser descoberta. São os chamados realista neoclássicos por resgatarem as raízes do realismo original para adaptá-las ao mundo contemporâneo. O realismo estrutural ou neorrealismo de Waltz veio à tona para ser reforçado, quando a guerra é colocada como estudo central das relações internacionais, ou atacado, quando os conceitos de sistema e de estrutura são apresentados como distintos (aspecto ignorado por Waltz). Desse modo, “Waltz não percebeu que a estrutura é composta por sistema e suas unidades e que, por isso, é possível produzir uma teoria tanto no nível do sistema quanto no nível das unidades” (NOGUEIRA; MESSARI, 2005:50). Por fim, mas sem esgotar as tendências atuais em relação ao realismo político, alguns autores como Fareed Zacaria questionam a separação das políticas doméstica e internacional – como preconizado pelo realismo – restabelecendo a importância de se levar em conta as políticas de cada Estado para o entendimento do sistema internacional.
As características básicas do realismo político estão por aí a nos rodear. Segundo Rodrigues (1994: 25-28), essas características são as seguintes:
Política interna e política internacional são consideradas duas áreas distintas e independentes entre si. Na política internacional prevalecem as questões de poder e de segurança, as quais constituem a alta política (high politics);
Somente os Estados são considerados atores internacionais. As relações internacionais se traduziriam, assim, em relações interestatais. Os Estados, considerados como atores racionais, ou seja, eles se comportam atendendo aos interesses nacionais definidos em termos de poder;
O poder, traduzido na possibilidade de usar a força, é a obsessão do realismo político. As relações internacionais, sendo conflitivas, marcadas pelo império da força, só podem ser vistas, interpretadas e entendidas como uma luta constante pelo domínio do poder.
O que podemos concluir desse aporte do realismo em relação à geografia política? Decerto, é notório o embasamento da geografia política nesse paradigma das relações internacionais, pelo menos por dois motivos: a) o Estado pode ter sofrido perda de algumas de suas funções, sobretudo no âmbito da economia – devido ao surgimento de novos atores, como as firmas
transnacionais, mas mantém sua força no âmbito político, propriamente dito, como nos casos das guerras em curso no século XXI; e b) o mundo nunca possuiu tantos Estados como no presente momento, o que sugere, no mínimo, uma reflexão mais atenta sobre a necessidade desse aparato jurídico-institucional para o funcionamento do mundo contemporâneo. São reflexões nessa direção que esperamos dos geógrafos políticos.
Referências bibliográficas:
BECKER, B. A geopolítica na virada do milênio. In: Castro, I. et al. (Org.). Geografia:
conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995
BUTTMANN, G. 1977. Friedrich Ratzel; Leben und Werken eines deutschen geographen.
Stuttgart, Wissenschaftliche Verlagsgesselschaft.
CLAVAL, P. A história da geografia. Lisboa: Edições 70, 2006
GONÇALVES, W. Relações internacionais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002
MARTINS, L. 1993. Friedrich Ratzel através de um prisma. Rio de Janeiro: PPGG/UFRJ (dissertação de mestrado).
MORAES, A. C. R. (Org.). Ratzel. São Paulo: Ática, 1990
MOREIRA, R. O que é Geografia. São Paulo: Brasiliense, 1989
NOGUEIRA, J.; MESSARI, N. Teoria das relações internacionais. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005
PECEQUILO, C. Introdução às relações internacionais. Petrópolis: Vozes, 2004
RODRIGUES, G. O que são relações internacionais. São Paulo: Brasiliense, 1994
Mestre (1993) e doutora (1998) em Geografia pela UFRJ, desde 1999 trabalha como pesquisadora do Grupo de Geografia Social e Cultural de Royal Holloway, Universidade de Londres. A Introdução baseia-se principalmente em Martins (1993). A autora agradece a inestimável ajuda do prof. Ferdinand Reis, sem a qual a tradução do artigo de Ratzel não se viabilizaria
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