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TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 1 APRESENTAÇÃO TEONTOLOGIA é o estudo do ser de Deus, seus atributos e tudo o que se refere à sua Pessoa e que por Ele tem sido revelado ao homem. A palavra “ontologia” significa “estudo do ser”, portanto, “teontologia” é a junção das palavras “Teós” (Deus) + Ontologia. Nesta disciplina, Teologia Sistemática B, estudaremos os seguintes assuntos que envolvem a natureza divina: 1. A EXISTÊNCIA DE DEUS 2. OS ATRIBUTOS COMUNICÁVEIS E INCOMUNICÁVEIS DE DEUS 3. A DOUTRINA DA TRINDADE 3.1 DEUS, PAI 3.2 DEUS, FILHO 3.3 DEUS, ESPÍRITO SANTO 4. OS NOMES DA DIVINDADE 5. OS DECRETOS DIVINOS 6. AS DOUTRINAS DA PREDESTINACAO O material que compõem este trabalho é uma coletânea de textos produzidos por diversos autores e teólogos, e também uma pequena contribuição do professor desta disciplina. Não é nossa pretensão ser ou dar a palavra final nas diversas questões teológicas que são tratadas aqui, mesmo porque em se tratando de conhecimento e revelação da palavra de Deus, ninguém pode se considerar o dono da verdade absoluta, uma vez que o que fazemos é tentar entender a Verdade Absoluta, que é a própria Palavra de Deus, e não as explicações dos teólogos, autores e pensadores que se empenham em entendê-la e interpreta-la, por mais brilhantes, espirituais e sinceros que sejam. Portanto, nosso objetivo é o de que o estudante de Teologia do Instituto Batista de Educação aprenda a usar as ferramentas mais adequadas possíveis que o possibilitem fazer uma interpretação coerente das escrituras sagradas, e desenvolva uma consciência crítica que é algo fundamental quando se lê e se estuda as várias correntes teológicas existentes que tentam explicar os mais diversos e até controversos temas apresentados nas sagradas Escrituras. Bom estudo! Prof. Dr. Roberto Ramos da Silva TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 2 1. A EXISTÊNCIA DE DEUS A teologia cristã não discute a existência ou não de Deus, pois, como bem afirmou Berkhof 1, “não há sentido em falar-se do conhecimento de Deus, se não se admite que Deus existe. A pressuposição da teologia cristã é um tipo muito definido. A suposição não é apenas de que há alguma coisa, alguma ideia ou ideal, algum poder ou tendência com propósito, a que se possa aplicar o nome de Deus, mas que há um ser pessoal autoconsciente, autoexistente, que é a origem de todas as coisas e que transcende a criação inteira, mas ao mesmo tempo é imanente em cada parte da criação. Pode-se levantar a questão se esta suposição é razoável, questão que pode ser respondida na afirmativa. Não significa, contudo, que a existência de Deus é passível de uma demonstração lógica que não deixa lugar nenhum para dúvida; mas significa, sim, que, embora verdade da existência de Deus seja aceita pela fé, esta fé, se baseia numa informação confiável. Embora a teologia reformada considere a existência de Deus como pressuposição inteiramente razoável, não se arroga a capacidade de demonstrar isto por meio de uma argumentação racional”. A simples leitura dos textos bíblicos nos mostra que os escritores sagrados nunca se empenharam, em qualquer lugar das Escrituras, em provar a existência de Deus. Todos eles partem do princípio básico de que Deus existe, e o que eles fazem é procurar descrever suas ações e seu caráter. Para os autores bíblicos, a existência de Deus é um fato autoevidente, e por isso aquele que não acredita em sua existência é classificado por esses autores como louco (Salmos 14:1). Sob o ponto de vista do cristianismo, a verdade da existência de Deus é aceita pela fé, como afirma o autor de Hebreus 11:6 : “Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam”. Mas falar que a existência de Deus é aceita pela fé não significa dizer que essa fé seja irracional, sem qualquer fundamentação lógica, como declara Berkhof 2 : “... esta fé não é uma fé cega, mas fé baseada em provas, e as provas se acham, primariamente, na Escritura como a Palavra de Deus inspirada, e, secundariamente, na revelação de Deus na natureza. A prova bíblica sobre este ponto não nos vem na forma de uma declaração explícita, e muito menos na forma de um argumento lógico[...] A Bíblia pressupõe a existência de Deus em sua declaração inicial, “No TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 3 principio criou Deus os céus e a terra”. Ela não somente descreve a Deus como o Criador de todas as coisas, mas também como o Sustentador de todas as Suas criaturas. E como o Governador de indivíduos e nações. Ela testifica o fato de que Deus opera todas as coisas de acordo com o conselho da Sua vontade, e revela a gradativa realização do Seu grandioso propósito de redenção [...]. Vê-se Deus em quase todas as páginas da Escritura Sagrada em que Ele se revela em palavras e atos. Esta revelação de Deus constitui a base da nossa fé na existência de Deus, e a torna uma fé inteiramente razoável”. A grande verdade é que a existência de Deus nunca será provada por meio de experimentos de laboratório, mas sempre é evidente quando observamos a sua criação. Pode-se buscar respostas para a existência do universo e da própria natureza, como têm tentado fazer inúmeros cientistas, intelectuais e filósofos ao longo da história, desconsiderando a existência de um Deus Criador de todas as coisas, contudo, todos os caminhos percorridos conduzem a um labirinto sem fim, com inúmeros buracos não preenchidos. Esses indivíduos, portanto, têm criado as mais diversas formas de pensamento para tentar excluir, de alguma forma, a possibilidade da existência de Deus. Diante dessa realidade, diversas teorias têm sido criadas com o objetivo de excluir da sociedade o Deus da Bíblia. Essas teorias são denominadas de antiteístas, e basicamente ensinam o seguinte 3 : 1.1 TEORIAS ANTITEÍSTAS 1.1.1. ATEÍSMO (s = Nenhum Deus): Negação aberta e positiva da existência de Deus. Prega que não existe Deus algum, nem dentro nem alem do Universo. O Ateísmo advoga que somente o universo físico existe; não existe nenhum Deus em parte alguma. O universo (ou o cosmos) é tudo o que existe e tudo o que existirá, e ele é autossustentado. Alguns dos nomes mais famosos do Ateísmo são Karl Marx, Friedrich Nietzsche, Jean-Paul Sartre, Richard Dawkins, etc. 1.1.2. PANTEISMO: Deus é o Próprio Universo (Ele é tudo). Para o panteísta, não existe um Criador além do universo; antes, tanto o Criador quanto a criação são duas maneiras diferentes de perceber a mesma realidade. Deus é o próprio universo (ou Ele está em todas as coisas), e o universo é Deus; existe, em última análise, somente uma TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 4 realidade. O Panteísmo é representado por certas formas de Hinduísmo, pelo Zen Budismo, pela Ciência Cristã, e pela maioria das religiões derivadas da Nova Era. O Panteísmo afirma que Deus é tudo, o Ateísmo alega que não existe Deus algum, e o Teísmo declara que Deus criou tudo. No Panteísmo, tudo é mente. De acordo com o Ateísmo, tudo e matéria. Só o Teísmo afirma que tanto a mente quanto a matéria existem. Na verdade, enquanto o ateu acredita que a matéria produziu a mente, o teísta acredita que a Mente (Deus) produziu a matéria. 1.1.3. PAN-EN-TEÍSMO: Deus está no Universo. O Pan-en-teísmo afirma que Deus habita o universo da mesma forma que uma mente habita um corpo; o universo é o “corpo de Deus”. Entretanto,alem do universo físico real, existe uma outra pilastra de sustentação para Deus. (Por esta razão, o Pan-en-teísmo é também chamado de Teísmo Bipolar). Esta outra pilastra é o potencial eterno e infinito de Deus, o qual vai além do universo físico real. E como o Pan-en-teísmo sustenta que Deus está em um processo constante de mudança, ele também é chamado de Teologia do Processo. Este ponto de vista é representado por Alfred North Whitehead, Charles Flartsborne e Schubert Ogden. 1.1.4. DEISMO: Deus Está além do Universo, mas não dentro dele. O Deísmo é semelhante ao Teísmo, excluindo-se os milagres. Ele afirma que Deus é transcendente acima do universo, mas não imanente neste mundo, seguramente não de maneira sobrenatural. Semelhantemente ao Ateísmo, o Deísmo sustenta uma visão naturalista a respeito do funcionamento deste mundo, mas, da mesma forma que o Teísmo, crê que o mundo teve sua origem em um Criador. Em suma, Deus criou o mundo, mas Ele não mais se envolve com o mundo criado. O Criador deu cordas na criação, como se faz com um relógio, e desde então o mundo segue o seu curso de maneira independente. Em oposição ao Panteísmo, que nega a transcendência de Deus em favor da sua imanência, o Deísmo nega a imanência de Deus em favor da sua transcendência. O Deísmo é representado por pensadores como François Voltaire, Thomas Jefferson e Thomas Paine. TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 5 1.1.5. DEISMO FINITO : Um Deus finito. Existe tanto além quanto dentro dos Limites do Universo . O Deísmo finito é semelhante ao Teísmo, salvo o fato de ele sustentar que o deus que transcende o universo e está ativo nele não é um ser infinito, mas limitado na sua natureza e poder. Como o deísta, o deísta finito geralmente concorda que o universo foi criado, mas nega qualquer intervenção milagrosa no seu âmbito. Um argumento comumente levantado a favor da limitação do poder de Deus é a aparente incapacidade de Deus de impedir o mal. John Stuart Mill, William James e Peter Bertocci são exemplos de aderentes a esta cosmovisão. 1.1.6. POLITEISMO: Existem muitos deuses além deste mundo, como também dentro dele. O Politeísmo é a crença de que existem muitos deuses finitos. O politeísta nega qualquer deus infinito que transcenda este mundo, da forma como sustenta o Teísmo; no entanto, crê que estes deuses finitos estão ativos neste mundo, em oposição ao Deísmo. Também em contraste com o Deísmo Finito, o politeísta acredita em uma pluralidade de deuses finitos, tendo cada um normalmente o seu próprio domínio de atuação. A crença de que um deus finito detém a liderança sobre todos os demais (tal como Júpiter era para os romanos) é uma derivação do Politeísmo chamada de Henoteismo. Os principais representantes do politeísmo são os gregos antigos, os mórmons e os neopagãos. 1.1.7. AGNOSTICISMO – Agnóstico é aquele que considera os fenômenos sobrenaturais inacessíveis à compreensão humana. A palavra deriva do termo grego “agnostos” que significa “desconhecido", "não cognoscível”. Os agnósticos são seguidores da doutrina denominada “agnosticismo” que considera inútil discutir temas metafísicos, pois são realidades não atingíveis através do conhecimento. Para os agnósticos, a razão humana não possui capacidade de fundamentar racionalmente a existência de Deus. Um agnóstico pode ser teísta ou ateísta. Um agnóstico teísta admite que não tem conhecimento que comprove a existência de Deus, mas acredita que Deus existe ou admite a possibilidade de que pode existir. Por outro lado, o agnóstico ateísta também admite não possuir conhecimento que comprove a não existência de Deus, mas não acredita na possibilidade que Deus exista. TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 6 1.2 ARGUMENTOS TEÍSTAS Com o objetivo de contestar as várias correntes antiteístas, alguns pensadores se esforçaram para apresentar algumas provas da existência de Deus, mesmo não havendo essa necessidade sob o ponto de vista do cristianismo. Assim, inúmeros pensadores ao longo da história e do debate sobre a existência ou não de Deus, buscaram apresentar argumentos que pudessem provar racionalmente a existência de Deus. Abaixo listamos os principais desses argumentos 4 : 1.2.1. O ARGUMENTO ONTOLÓGICO. Este argumento foi apresentado em várias formas por Anselmo, Descartes, Samuel Clark, e outros. Foi apresentado em sua mais perfeita forma por Anselmo. Este argumenta que o homem tem a ideia de um ser absolutamente perfeito; que a existência é atributo de perfeição; e que, portanto, um ser absolutamente perfeito tem que existir. Mas é evidente que não podemos tirar uma conclusão quanto à existência real partindo de um pensamento abstrato. O fato de que temos uma ideia de Deus ainda não prova a Sua existência objetiva. Além disto, este argumento pressupõe tacitamente como já existente na mente humana o próprio conhecimento da existência de Deus que teria que derivar de uma demonstração lógica. Kant declarou, com ênfase, insustentável este argumento, mas Hegel o aclamou como um grande argumento em favor da existência de Deus. Alguns idealistas modernos sugeriram que ele poderia ser proposto de forma um tanto diferente, como a que Hocking chamou, “O registro da experiência”. Em virtude podemos dizer: “Tenho ideia de Deus: portanto, tenho experiência de Deus”. 1.2.2. O ARGUMENTO COSMOLÓGICO. Este argumento tem aparecido em diversas formas. Em geral se apresenta como segue: Cada coisa existente no mundo tem que ter uma causa adequada; sendo assim, o universo também tem que ter uma causa adequada, isto é, uma causa indefinidamente grande. Contudo, o argumento não produz convicção, em geral. Hume questionou a própria lei de causa e efeito, e Kant assinalou que, se tudo que existe tem uma causa adequada, isto se aplica também a Deus, e, assim, somos levados à suposição de que o cosmo teve uma causa única, uma causa pessoal e absoluta, e, portanto, não prova a existência de Deus. Esta dificuldade levou a uma construção ligeiramente diversa do argumento como, por exemplo, a que B.P.Bowne fez. O universo material aparece como sistema interativo e, portanto, como uma unidade que consiste de várias partes. Daí, deve haver um Agente Integrante que veicule a interação das várias partes ou constitua a base dinâmica da existência delas. 1.2.3. O ARGUMENTO TELEOLÓGICO. Há diversas variações deste argumento, sendo que a mais famosa delas deriva de William Paley (1743-1805), que utilizou a analogia do construtor de relógios. Da mesma forma que cada relógio é construído por alguém, e como o funcionamento do universo é muitíssimo mais complexo do que o de um relógio, temos que admitir que deve haver um Construtor do Universo. Em suma, o argumento teleológico argumenta a partir do projeto (design) a favor de um Projetista (Designer) Inteligente: (1) Todos os projetos implicam um projetista. (2) Existe um grande projeto para o universo. (3) Portanto, também deve haver um Grande Projetista na origem do universo. TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 7 A primeira premissa é conhecida a partir da nossa própria experiência; em todas as ocasiões nas quais vemos um projeto complexo, sabemos pela nossa experiência prévia que ele surgiu da mente de um projetista. Relógios implicam construtores de relógio; edifícios implicam arquitetos; quadros implicam pintores; e mensagens codificadas implicam um remetente inteligente. Sabemos que isto é verdade porque observamos isto ocorrer o tempo todo. Da mesma forma, quanto mais fascinante o projeto,tanto mais fascinante será o projetista. Mil macacos sentados em máquinas de escrever, ao longo de milhões de anos, jamais produziriam uma peça do porte de Hamlet. Só que Shakespeare escreveu esta obra magnífica na primeira tentativa. Quanto mais complexo o projeto, tanto maior será a inteligência necessária para desenvolvê-lo. Kant considera este argumento o melhor dos três que mencionamos, mas alega que ele não prova a existência de Deus, nem de um criador, mas somente a de um grande arquiteto que modelou o mundo. É superior ao argumento cosmológico no sentido de que explicita aquilo que não é firmado no anterior, a saber, que o mundo contém evidências de inteligência e propósito. Não se segue necessariamente que este ser é o Criador do mundo. “A prova teleológica”, diz Wright5 , “indica apenas a provável existência de uma mente que, ao menos em considerável medida, controla o processo do mundo, suficiente para explicar a quantidade de teleologia que nele transparece”. Hegel considerava este argumento válido, mas o tratava como um argumento subordinado. Os teólogos sociais dos nossos dias rejeitam-no, juntamente com todos os outros argumentos, como puro refugo, mas os neoteístas o aceitam. 1.2.4. O ARGUMENTO MORAL. Como os outros argumentos, este também assumiu diferentes formas. Kant tomou seu ponto de partida no imperativo categórico, e deste deferiu a existência de alguém que, como legislador e juiz, tem absoluto direito de dominar o homem. Em sua opinião, este argumento é muito superior a qualquer dos outros. É o argumento em que se apoia principalmente, em sua tentativa de provar a existência de Deus. Esta pode ser uma das razões pelas quais este argumento é mais geralmente reconhecido do que qualquer outro, embora nem sempre com a mesma formulação. Alguns argumentam baseados na desigualdade muitas vezes observada entre a conduta moral dos homens e a prosperidade que eles gozam na vida presente, e acham que isso requer um ajustamento no futuro que, por sua vez, exige um árbitro justo. 1.2.5. O ARGUMENTO HISTÓRICO OU ETNOLÓGICO. Em geral este argumento toma a seguinte forma: Entre todos os povos e tribos da terra há um sentimento religioso que se revela em cultos exteriores. Visto que o fenômeno é universal, deve pertencer à própria natureza do homem. E se a natureza do homem naturalmente leva ao culto religioso, isto só pode achar sua explicação num ser superior que constituiu o homem um ser religioso. Todavia, em resposta a este argumento, pode- se dizer que este fenômeno universal pode ter-se originado num erro ou numa compreensão errônea de um dos primitivos progenitores da raça humana, e que o culto religioso referido aparece com mais vigor entre as raças primitivas e desaparece à medida que elas se tornam civilizadas. 1.2.6. ARGUMENTO ANTROPOLÓGICO (Tiele): Nunca existiram povos ateus, o ateísmo é um fenômeno individual. TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 8 1.2.7. ARGUMENTO DA APOSTA (Pascal): Quando se compara perdas e ganho potenciais de acreditar ou não na existência de Deus, quem acredita sai ganhando. 1..2.8. ARGUMENTO CIENTÍFICO: A probabilidade de o Universo ter surgido como resultado de uma distribuição aleatória de partículas a partir do big-bang ou de qualquer outro processo evolutivo, é virtualmente ZERO. Logo, a simples existência do Universo e da vida exige a existência de um Deus criador de todas as coisas. O excelente livro de Michael Behe, intitulado “A Caixa Preta de Darwin”6, a partir da análise da natureza de uma célula viva, proporciona fortes evidèncias a favor de que ela jamais poderia ter surgido sem que houvesse um projeto inteligente por detrás de tudo. A célula representa uma complexidade irredutível, que não pode ser explicada por intermédio das mutações progressivas alegadas pelos adeptos da teoria da Evolução. CONCLUSÃO SOBRE OS ARGUMENTOS A FAVOR DO TEÍSMO Ao avaliar estes argumentos racionais, deve-se assinalar antes de tudo que os crentes não precisam deles. Sua convicção a respeito da existência de Deus não depende deles, mas, sim, da confiante aceitação da autorrevelação de Deus na Escritura. Se muitos em nossos dias estão querendo firmar sua fé na existência de Deus nesses argumentos racionais, isto se deve em grande medida ao fato de que eles se negam a aceitar o testemunho da Palavra de Deus. Além disso, ao usar estes argumentos na tentativa de convencer pessoas incrédulas, será bom ter em mente que nenhum deles se pode dizer que transmite convicção absoluta. Excetuando-se o argumento científico, não creio que nenhum deles seja suficientemente convincente para o incrédulo, para o cético ou para o ateu, pois todos são filosóficos, e no campo da filosofia vale o pensamento, e este não tem limites. Mesmo o argumento científico, por mais que apresente provas materiais incontestáveis da impossibilidade de o universo e a vida terem se iniciado sem que um Criador tenha realizado tal feito, ainda assim tem sido desprezado veementemente por indivíduos que já têm como fato a não existência de Deus. Concluindo, a existência de Deus é, para aquele que nele crê, um fato que não exige comprovação que vá além de sua experiência pessoal com Ele, e para o incrédulo, por mais que argumentos sejam apresentados, sua crença somente há de mudar se em algum momento ele tiver um encontro espiritual com o Deus Criador de tal forma que, em seu coração, todas as dúvidas sejam dirimidas pelo próprio Deus, por meio de seu Espírito, independentemente de qualquer argumentação filosófica ou científica que alguém possa usar tentando lhe convencer de que Deus existe. TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 9 2. OS ATRIBUTOS DE DEUS Alguns teólogos como Berkoff consideram que o nome “atributos” não é ideal para se referir a Deus, visto que “transmite a noção de acrescentar ou consignar alguma coisa a alguém, e, portanto, pode criar a impressão de que alguma coisa é acrescentada ao Ser Divino”7. Para ele, o termo “propriedade” é melhor, no sentido de indicar algo que é próprio de Deus e de Deus somente. Langston 8 , por sua vez, argumenta que “atributo é uma qualidade atribuída a um ser que existe. Os atributos de Deus são: modos de atividade e qualidades do seu caráter”. Nessa linha de raciocínio, Langston adverte que “devemos ter cuidado para não confundir os elementos componentes deste Ser com os seus atributos, porque são coisas diferentes. Os elementos componentes constituem o ser; os atributos revelam o ser[...]. A laranja, por exemplo, é doce e redonda, mas as qualidades de doçura e redondeza não constituem a laranja, porque são apenas o modo de sua existência e a sua qualidade. O homem anda, fala e trabalha, porém, o andar, o falar e o trabalhar não constituem o homem, senão a maneira de suas atividades. Assim é com referência aos atributos que lhe representam os modos de proceder e as qualidades morais”. Langston argumenta ainda que “Deus é Espírito Pessoal perfeitamente bom, que em santo amor criou, sustenta e governa tudo; mas não podemos dizer que ele é onisciência, onipresença, etc., porque isto não representa senão o modo de ele agir. Os poderes necessários á existência desse Espírito Pessoal não são atributos. Por exemplo, o poder de saber não é atributo de Deus, porque é essencial a um Espírito Pessoal. Onisciência, porém, é atributo, porque é uma maneira de Deus saber. O poder de amar não é atributo de Deus, porque, sem amar, Deus não sena Espírito Pessoal, mas o amor que representa a maneira de se manifestar esta natureza é atributo. A vontade não éatributo; a santidade, porém, que é uma das maneiras por que se manifesta a vontade na ação, é um atributo de Deus. Deus existe como um Espírito Pessoal e os seus atributos lhe são inerentes, porque representam o seu modo de proceder e as suas qualidades morais”. TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 10 2.1 SUGESTÕES FEITAS QUANTO ÀS DIVISÕES DOS ATRIBUTOS A questão da classificação dos atributos divinos tem ocupado a atenção dos teólogos por longo tempo. Várias classificações têm sido sugeridas, a maioria das quais distingue duas classes gerais. Estas classes são designadas por diferentes nomes e representam diferentes pontos de vista, mas substancialmente são as mesmas, nas diversas classificações. A distinção mais comum é entre atributos incomunicáveis e comunicáveis. Os primeiros são aqueles aos quais nada análogo existe na criatura, como Existência Autônoma de Deus, A Imutabilidade, Infinidade, etc.; os últimos, aqueles com os quais as propriedades do espírito humano têm alguma analogia, como bondade, misericórdia, retidão, etc. Todavia, nenhuma das perfeições divinas é comunicável na infinita perfeição em que estas existem em Deus e, ao mesmo tempo, há no homem tênues vestígios até mesmo dos chamados atributos incomunicáveis de Deus. Strong 9 não utiliza os termos incomunicáveis e comunicáveis, mas distingue entre atributos absolutos e relativos. Os primeiros pertencem à essência de Deus, considerada em si mesma, ao passo que os últimos pertencem à essência divina, considerada em relação à Sua criação. A primeira classe inclui atributos como autoexistência, imensidade e eternidade; a outra, atributos como onipresença e onisciência. Esta divisão parece partir do pressuposto de que podemos ter algum conhecimento de Deus como Ele é em si mesmo, inteiramente à parte das relações que mantém com as Suas criaturas. Há outros teólogos que preferem dividir as perfeições divinas em atributos imanentes ou intransitivos e emanentes ou transitivos. Strong combina esta divisão com a anterior quando fala de atributos absolutos ou imanentes e relativos ou transitivos. Os primeiros são aqueles que não se expõe nem operam fora da essência divina, mas permanecem imanentes, como imensidade, simplicidade, eternidade, etc.; e os últimos são os que se expõem e produzem efeitos externos quanto a Deus, como onipotência, benignidade, justiça, etc. TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 11 Já Langston opta por classificar os atributos de Deus como atributos naturais e atributos morais, os quais passamos a descrever abaixo: 2.2 OS ATRIBUTOS NATURAIS 2.2.1. ONIPRESENÇA. Por onipresença não se deve entender que Deus enche o espaço como faz o universo. A relação de Deus com o espaço não é a mesma que existe entre este e a matéria. E, por conseguinte, não devemos afirmar que Deus está presente em toda parte como o universo está em alguma parte. Sendo Deus Espírito, não ocupa espaço. Só a matéria ocupa espaço. Se a ideia da onipresença de Deus se baseasse na relação da matéria com o espaço, estaríamos completamente errados, porque Deus não enche o espaço, como a matéria. Se assim fora, teríamos de julgar a Deus, em seu modo de existência, maior do que o universo. A ideia de que Deus está distribuído por todo o espaço, como a atmosfera, é errônea. Tal ideia pertence ao materialismo, e não ao cristianismo. O espaço não existe para Deus. Não devemos julgar que Deus está dentro de tudo. Há quem interprete a onipresença de Deus como se ele estivesse em tudo. Esta ideia, porém, semelhante á primeira, é errônea, não é cristã, mas panteísta. Os materialistas dizem que Deus enche tudo; os panteístas, que ele está em tudo. Se Deus estivesse dentro de tudo, teriam todas as coisas vida divina. O livro, o móvel, a máquina, tudo teria vida divina. Sabemos que não é assim. Se Deus não ocupa espaço nem habita na matéria, como pode ser onipresente? A fim de ser onipresente não é necessário que Deus esteja difundido por todo o espaço, nem que esteja habitando na matéria. Segundo a Bíblia, não têm razão de ser o materialismo e o panteísmo. A verdadeira ideia da onipresença de Deus é que ele age com a mesma facilidade com que pensa e quer, porque para Deus não há espaço nem tempo. Para agir Deus não tem necessidade de ir de um para outro lugar, assim como não temos nós necessidade de ir a certo lugar para pensarmos nele: podemos pensar nele estando muito longe. Para o nosso pensamento não existe espaço nem tempo. Deus está, como já sabemos, tão relacionado com tudo que, havendo necessidade de agir, ele o faz sem qualquer trabalho. Não há lugar distante para ele; ele é qual um centro dum círculo: tem a mesma relação para com todos os lugares. TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 12 Devido à sua relação com tudo, Deus acha-se em condições de agir instantaneamente em qualquer parte, comunica-se imediatamente com todo o universo. Para o seu poder de ação não há considerações de tempo nem de espaço, como não há, igualmente, para o seu poder de pensar e querer. A onipresença de Deus é uma presença frutífera, produtora e econômica. Deus não se divide nem se desdobra. A sua onipresença não exige tamanho sacrifício. Como o homem está em qualquer parte do seu corpo, Deus está presente em qualquer lugar. Não há como fugir a esta presença de Deus: «Para onde me irei do teu Espírito, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, tu ai estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também. Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá» (Salmos 139:7-10). «Esconder-se-ia alguém em esconderijos, de modo que eu não o veja? diz o Senhor: porventura não encho eu os céus e a terra? diz o Senhor» (Jeremias 23:24). Qualquer criatura, esteja onde estiver, pode gozar da presença de Deus. Deve consolar o nosso coração esta grande e valiosa verdade. Muitos povos têm um deus local; o nosso Deus, porém, é tanto universal como local, e tanto local como universal. Deus é onipresente. 2.2.2 ONISCIÊNCIA. A onisciência é companheira inseparável da onipresença. Deus é onipresente porque presencia tudo. Não há nem pode haver surpresas para Deus. Como em sua onipresença não há espaço, também em sua onisciência não há desconhecido. Deus sabe todas as coisas que podem ser conhecidas e nada há que ele não saiba explicar. O que é a vida, a eletricidade, a lei da gravitação, a essência da personalidade, tudo são coisas fáceis a Deus, por isso que ele é conhecedor perfeito da natureza de todas as coisas existentes. Não há segredo para ele, porque é a fonte da vida, o Criador da eletricidade, o Autor da lei da gravitação, etc. Deus não ignora até as coisas mais íntimas da nossa vida. Nada há que se esconda à sua onisciência. «E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados» (Mateus 10:30). A doutrina da onisciência é essencial a uma religião verdadeira, porque, se Deus não soubesse dirigir o universo, se não soubesse ensinar o plano da salvação e responder TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 13 às nossas súplicas, seríamos as mais infelizes de todas as criaturas. Deus, porém, nunca se achou e jamais se achará em condições embaraçosas que lhe dificultem a ação. «Porque o vosso Pai sabe o que vos é necessário, - antes de vós lho pedirdes» (Mateus 6:8). Não há parte alguma em que a criatura não esteja na sua presença, e não há nada necessário aobem-estar de todas as coisas que ele não possa prover, não saiba providenciar. Deus sabe e pode fazer o necessário para levar toda a criação ao alvo destinado por ele mesmo. Quase sempre temos diante de nós problemas difíceis, para os quais não nos surge solução; mas para Deus não há problema: ele não só tem o poder de agir, mas também sabe agir de maneira que todos os problemas desapareçam. O conselho de Deus, devido à sua onisciência, é um conselho perfeito, e não falha em nossas vidas. Assim como não há espaço para a onipresença, também não há para a onisciência. A nós só ocorrem lembranças do passado; para Deus, porém, tanto o passado como o futuro constituem uma só lembrança. A profecia, para o homem, é aquilo que ele espera ver; mas para Deus é aquilo que ele já viu. Desde o principio, antes mesmo dos primórdios da raça, ele viu a cabeça da serpente ferida pelo homem e o calcanhar da humanidade ferido pela serpente. Deus não é como o homem, que aprende pela experiência ou pela observação, porque todo o presente, todo o passado e todo o futuro estão diante dele. O que Deus sabe, não o soube em tempo algum, visto que para ele não existe tempo; não há passado nem futuro — tudo lhe é presente. Deve-se notar que, em toda a nossa discussão a respeito dos atributos de Deus, estamos falando daquilo que Ele é, e não daquilo que Ele pode ser. Este assunto, a onisciência de Deus, não cogita tanto do que ele pode saber quanto do que sabe. Perguntam, por exemplo: «Sabe Deus se hoje estou de meias brancas? Gravata preta? ou de que modo me penteio? etc.» São perguntas pueris, interrogações sem importância e que até ridicularizam a doutrina. Não duvidamos de que ele saiba todas estas coisas, mas não há razão para afirmarmos que as sabe. Ele tem ciência de tudo o que, de algum modo, influi na vida e marcha do universo. Há, em relação à onisciência de Deus, uma consideração a notar-se, a qual é: Se Deus conhece tudo de antemão, não vem este fato ferir o principio da liberdade do homem? Não, pois a presciência não anula a liberdade do homem. Deus sabe de tudo TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 14 quanto possa suceder e de tudo o que sucede, sem, de forma alguma, tolher ao homem a liberdade. O homem sem liberdade não é homem. Por isso Deus não tolheu a liberdade humana, mesmo quando previa o triste acontecimento da queda. Certa vez um ardiloso macaco pegou dum serrote, subiu em uma árvore, assentou-se na ponta do galho e começou a serrá-lo, entre si e a base do galho. Dentro de alguns minutos lá foram ao chão o macaco, o galho quebrado e o serrote. Ora, teria sido fácil a qualquer ser humano prever a queda do símio, mas a previsão ou presciência não teria tolhido ao macaco a liberdade de ação, nem teria evitado a queda, nem tampouco se poderia considerar a presciência como responsável pela queda, ou a causa da mesma. Mesmo sabendo o que aconteceria, de antemão, ao macaco, o ser humano observador deixou tudo seguir seu curso natural, de tal maneira que o macaco caiu não porque o observador o tenha feito cair, mas porque o macaco agiu de forma errada. A presciência, de certa maneira, é possível até ao homem, pelo conhecimento que possui das coisas. Conhecendo um homem mau ou bom, podemos, de antemão, saber qual seria seu proceder ou postura diante desta ou daquela circunstância. Conhecendo Deus todas as condições, pode saber o que vai acontecer, sem tirar, contudo, a liberdade de ação a qualquer criatura. 2.2.3. ONIPOTÊNCIA. Aprendemos, pela definição dada, que Deus é Espírito Pessoal, perfeitamente bom, Criador, Sustentador e Governador de todas as coisas. Há, pois, em Deus, duas formas de onipotência: onipotência moral, que se refere a ele próprio, e física, que se relaciona com a criação. Considera-se, geralmente, a onipotência de Deus só do ponto de vista das suas relações para com o universo, mas desta maneira não teremos uma ideia verdadeira nem do valor nem da glória da onipotência de Deus. A feição mais nobre e elevada da onipotência divina é a feição moral. Façamos algumas considerações sobre ambas: a moral e a física. O que entendemos pela «onipotência moral» é que Deus é tão poderoso que não pode praticar o mal, e nem sequer pode ser tentado. Devido à sua onipotência moral, ele não pode mentir, enganar, nem deixar de cumprir as suas promessas, nem pode praticar qualquer ato que discorde da sua natureza moral. Praticar o mal é ser fraco; é carência de poder moral. Quem pratica o mal é por ele vencido e dele torna-se TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 15 escravo. Deus, porém, não é assim, pois tem o poder de não praticar o mal e nem mesmo pode ser por ele tentado. Consideramos já a onipotência moral negativamente; consideremo-la agora do lado positivo, porque a ideia inclui não só o poder de abster-se do mal como também de praticar o bem. Não há bem que Deus não possa fazer, isso em razão de sua onipotência. Em Romanos 7:15, diz Paulo: «Porque o que faço não o aprovo; pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço isso faço.» Eis a linguagem, a expressão de um ser em tudo impotente. Mui diversa é a linguagem divina: «Faço o que aprovo e o que não quero não faço». E bem difícil fazer sempre o que devemos; é tão difícil, que ninguém o faz senão Deus, que tudo pode. Precisamos, muitas vezes, de mais coragem para realizar o bem do que para enfrentar os maiores inimigos físicos. Para Deus, porém, não há tal dificuldade. Nunca vacilou diante do dever. Pratica o bem com maior facilidade do que o diabo pratica o mal. A onipotência m oral de Deus quer dizer, pois, que ele tem o poder de não praticar nenhum mal, e praticar todo o bem que deseja. Mas aprendemos, da definição dada anteriormente, que Deus é o Criador, o Sustentador e o Governador de todas as coisas. Deus é, por isso, onipotente também em relação ao universo. O fato de haver criado todas as coisas é prova suficiente e incontestável desta onipotência física, porque se ele tem poder de criar uma, pode, naturalmente, criar mil coisas. Na criação tem ele a chave do segredo de todas as coisas. Sustentar é mais fácil do que criar, e se Deus tem o poder de criar, logo, tem o de sustentar aquilo que criou. O mesmo sucede em relação a seu governo. Deus tem o poder de sustentar a sua criação e também de dirigi-la. Lembremo-nos, contudo, de que só por uma compreensão clara da magnitude do universo é que poderemos chegar ao alcance da verdadeira onipotência de Deus em relação às coisas criadas. Sabemos que o universo é vastíssimo; contudo, não é mais vasto do que o poder de Deus. Não devemos esquecer-nos de que a onipotência moral é a mais elevada forma da onipotência divina. Verdade é que a sua onipotência manifestada no universo físico está muito além da nossa imaginação; porém, acima de tudo o que já conhecemos, e até do que ainda estamos por conhecer, paira a magnitude da onipotência moral de Deus. TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 16 2.2.4. UNIDADE. Somados, os atributos de Deus nos dão uma ideia de sua unidade, porque, na onipresença temos o Espírito de Deus presente em todas as coisas; na onisciência temos a Mente Divina concompreensiva, conhecendo todas as coisas; na onipotência temos um só poder dirigindo tudo, assim no reino físico como no reino moral. O Deus vivo é, portanto, um Ser único que se manifesta nos diferentes modos de sua existência. 2.2.5 INFINIDADE. Revelam-nos ainda mais, estes atributos, a infinidade de Deus. Deus é onipresente porque não pode haver limites à sua presença; éonisciente porque a sua sabedoria se estende sobre todas as coisas, e é onipotente porque, pelo seu poder, guia e dirige o mundo, que é infinito. É assim que chegamos à ideia da infinidade de Deus e concluímos dizendo: Deus é infinito por ser Ele ilimitado tanto em suas ações, quanto no tempo e no espaço. A infinidade divina não significa simplesmente que Ele não tem fim, sob o ponto de vista temporal de existência, mas que seu amor é infinito, suas misericórdias não têm fim, seu poder de realizar, de agir, de criar não tem limites. Ou seja, a infinidade divina como atributo é algo que se relaciona não meramente a seu tempo de existência infinita, mas antes, de ações e realizações infinitas. 2.2.6 ETERNIDADE. Alguns teólogos entendem que a infinidade de Deus em relação ao tempo é denominada eternidade. Em nosso estudo, contudo, apresentamos a eternidade como um dos atributos de Deus, e não como um aspecto de sua infinidade. Há diferença entre eteno e infinito, pois o eterno é atemporal, tanto no que se refere ao passado, quanto ao presente e futuro. A forma como na maioria das vezes a eternidade é entendida é simplesmente a de duração pelos séculos sem fim, conforme alguns textos bíblicos apresentam (Sl 90.2; 102.12; Ef 3.21). Devemos lembrar, porém, que os escritores bíblicos empregam linguagem popular e humana. Geralmente pensamos na eternidade de Deus da mesma maneira, a saber, como duração infinitamente prolongada, para trás e para diante. Mas este é apenas um modo popular e simbólico de representar aquilo que, na realidade, transcende o tempo e dele difere essencialmente. A eternidade, no sentido estrito da palavra, é aquilo que transcende todas as limitações tanto quantitativa quanto qualitativa. Ou seja, o Eterno não significa algo que transcende apenas o tempo, mas também significa algo cuja qualidade é eterna, eternamente bom. É nesse sentido que Jesus, muitas vezes, se refere à vida eterna: “E a vida eterna é esta: que te conheçam a Ti, o Único Deus TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 17 verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (João 17:3). A qualidade da vida que Jesus apresenta é algo que transcende a toda expectativa humana, é vida eterna. Portanto, Deus é Eterno 2.2.7. IMUTABILIDADE. É este outro atributo que devemos mencionar. Significa que não há em Deus mudança nenhuma. Ele não muda de propósito, de pensar, nem de natureza. Ê sempre o mesmo Espírito Pessoal perfeitamente bom. Age sempre pelo mesmo motivo; santo amor. Não se pode notar em Deus nenhuma variação; ele é imutável. «Toda boa dádiva e todo dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das Luzes, em Quem não há mudança nem sombra de variação» (Tiago 1:17). É bom não confundir imutabilidade com imobilidade; são coisas mui diferentes. A Bíblia não ensina que Deus é imóvel. Imobilidade refere-se a coisas físicas e não morais. Deus não é imóvel qual estátua, porém é imutável em seus pensamentos, em seus motivos e em seus planos. Discutidos os atributos naturais que representam as diferentes maneiras das atividades de Deus, passemos agora aos que tratam das qualidades do seu caráter, os quais são, às vezes, denominados atributos morais, por se referirem às qualidades do seu caráter. 2.3. ATRIBUTOS MORAIS 2.3.1. SANTIDADE. A santidade é a plenitude gloriosa da excelência moral de Deus, princípio básico de suas ações e aferidor único e verdadeiro de suas criaturas. 2.3.1.1. A santidade em relação a Deus. A santidade é a perfeita bondade de Deus, ou, em outras palavras é a soma de todas as suas qualidades morais. Deus é perfeitamente bom e possui todas as excelências morais, sem defeito algum. Deus está cheio de bondade, como o sol está repleto de luz. A santidade em Deus não representa uma qualidade só, mas a soma de todas elas. Diminuir, portanto, a bondade de Deus, é torná-lo menos santo. Deus possui, como já dissemos, todas as qualidades que se podem encontrar num ser moral. Nele todas as qualidades estão perfeita e harmonicamente distribuídas. A sua santidade é o resultado destas qualidades morais. TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 18 Mas a idéia da santidade de Deus não ficará completa sem que se inclua nela a ação de Deus, porque é necessário que os atos de uma pessoa condigam com o seu caráter. A ideia do caráter de perfeita bondade de Deus temos de acrescentar a de que todas as suas ações concordam sempre de maneira perfeita com o seu caráter, com os sentimentos mais Íntimos do seu coração. Resumindo: o que Deus faz nunca desmente o que ele é. O homem não é assim; quantas vezes faz o que não aprova e perpetra ações que ele próprio condena, por não estarem em conformidade com o seu caráter nem condizerem com os sentimentos mais íntimos do seu coração! Há atos na vida do homem que o desmentem quanto ao seu ser, quanto às qualidades da sua alma. Deus, porém, nunca faz qualquer coisa que não esteja em plena conformidade com o seu caráter bondoso. A santidade envolve duas ideias: uma, a de que ele é perfeitamente bom; outra, a de sua fidelidade, própria de todos os seus atos. Os atos de Deus são perfeitos, porque concordam com o seu caráter perfeito. Nestes dois fatos revelados Deus quer que nós, homens, aprendamos que ele é santo no seu caráter mais Íntimo, e que os seus atos são perfeitos, por isso que concordam com uma natureza perfeita. Deseja, ainda mais, que saibamos que a santidade é o padrão, a medida, o aferidor tanto para ele próprio como para as suas criaturas. «Sede vós, pois perfeitos como perfeito é o vosso Pai que está nos céus» (Mateus 5:48). A santidade é, pois, a soma de todas as excelências de Deus. E é também o aferidor pelo qual se ajustam o caráter do próprio Deus e o nosso. 2.3.1.2. A santidade de Deus em relação ao homem. Podemos, em torno desta segunda subdivisão do nosso tópico (SANTIDADE), fazer as seguintes considerações: a. A santidade determina o alvo de Deus. Sim, a santidade determina o alvo para onde Deus tem em vista conduzir o universo. Sendo Deus perfeitamente bom, não podia ter em vista qualquer outra coisa que produzir bondade perfeita em sua criação. Em outras palavras, Deus quer tornar a raça humana à sua imagem. Com este fim criou o universo e com este fim governa-o e o dirige. Um Deus santo não pode ter um fim menos digno, menos glorioso do que produzir criaturas santas. A santidade de Deus, então, marca, assinala e fixa o alvo que deve ser atingido pela criação. É interessante fazer um estudo acurado de todos os acontecimentos da história para ver como Deus tem dirigido e orientado tudo para esse alvo glorioso e supremo. TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 19 Todas as coisas que sucedem, até as que reputamos mais desastrosas, concorrem, de algum modo, para aproximar a criação daquele fim sublime por Deus mesmo estabelecido — tornar a raça à sua semelhança, em santidade: «E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto» (Romanos 8:38). b. Deus exige santidade. Desde que a santidade determina o fim da criação, concluímos que Deus exige que sejam santos e bons todos os seres capazes de santidade e bondade. «Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.» Deus não pode ter dois padrões ou duas medidas, uma para si mesmo e outra para a sua criação, porque o fim da criação é aquilo que Deus é. Ele tem que julgar por uma só medida. A bondade é o aferidor que Deus usa para si mesmo e para tudo o que faz, e bondade será também a mesmamedida que usará em relação ao homem e seus atos. Deus é santo e exige que sejamos santos como ele o é, e o alvo final para a coroa de sua criação não é menos do que sermos realmente santos tal como Ele é absolutamente santo. 2.3.2. AMOR. O amor é outro atributo moral de Deus. Uma das declarações supremas da revelação cristã é que Deus é Amor (I João 4:8). Procuraremos agora, se for possível, compreender o que significa esta sublime declaração, «Deus é amor». Depois de estudarmos esta sublime declaração do Apóstolo e aprendermos a mesma também dos ensinos de Jesus, veremos que só se pode verdadeiramente conhecer a Deus conhecendo o que é amor. Antes, de penetrarmos na discussão do assunto, queremos destacar um fato: o amor não é apenas um sentimento. Não há nada mais passageiro na vida que o sentimento. O amor não consiste somente em sentir. O amor, além do sentimento, envolve também certa atitude em relação ao amado. A Bíblia diz que o amor nunca se acaba. Sabemos que os sentimentos findam, pelo que convém não confundirmos o que é passageiro com o que é permanente. Amor é mais que sentimento, é a atitude firme de dar-se ao ente ou objeto amado, e de possuí-lo em íntima comunhão. O amor que existe em Deus pode ser assim definido: O amor em Deus é ele dando-se a si mesmo, e dando tudo quanto é bom às suas criaturas, com o fim de possuí-las na mais íntima comunhão consigo mesmo. Há duas fontes de onde podemos aprender o que é o amor em Deus: primeiramente, podemos aprender o que é o amor, estudando-o tal como existe entre os homens; em TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 20 segundo lugar estudando o grande amor revelado em Cristo Jesus. E é destas duas fontes que tiraremos o necessário para a discussão do assunto. O amor humano, na sua feição mais pura, fornece o maior gozo desta vida. É o amor um atributo no qual se combinam dois impulsos: o de dar e o de possuir. Em todo amor humano ou divino, entram sempre estes dois elementos: o impulso de dar e o de possuir. O princípio operativo do amor baseia-se numa avaliação do objeto amado. Isto é, o amor opera ou funciona pela avaliação. Amamos aquilo a que damos valor. Sem avaliar, o amor não entra em ação. Não se pode jamais amar um objeto sem principalmente se lhe dar certo valor. Dissemos nós que no amor se combinam os impulsos de dar e possuir. O esforço de dar é também um esforço que se faz para revelar-se o amor dedicado ao objeto que se ama. Falando certa ocasião aos fariseus, referiu-se Jesus à mulher que deu muito porque amava muito. Quanto maior é o impulso de dar ao amado, tanto maior o amor. «E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês tu esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés; mas esta regou-me os pés com lágrimas, e mos enxugou com os seus cabelos. Não me deste ósculo, mas esta, desde que entrou, não tem cessado de me beijar os pés. Não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta ungiu-me os pés com unguento. Por isso te digo que os seus muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama» (Lucas 7:44-47). A grandeza do amor revela-se naquilo que se oferece ao amado. A pureza do amor revela-se no desejo que é o do bem-estar do amado. E o ardor do amor manifesta- se no esforço feito para possuir o amado. O amor não somente dá, mas quer possuir e viver pelo amado. Estes dois elementos característicos do amor — o impulso de dar e o desejo de possuir — combinam-se em várias proporções. Às vezes o desejo de possuir excede o de dar, e, quando assim acontece, o amor torna-se interesseiro e imperfeito. O amor humano é sempre imperfeito, porque sempre estes elementos aparecem nele mal equilibrados. Assim como achamos dois elementos no amor humano, achamo-los também no amor divino. Em Deus encontramos tanto o impulso de dar a si mesmo como também o ardente desejo de possuir o amado em íntima comunhão. Em Deus o impulso de dar é igual ao desejo de possuir; isto é, achamos que Deus está tão pronto a dar-se ao homem como a possuí-lo em intima comunhão. «Porque Deus amou o mundo de tal maneira, TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 21 que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna» (João 3:16). O amor de Deus é um amor perfeito, porque está ligado a uma bondade perfeita. Nisto temos o que de mais precioso e benéfico se pode imaginar, porque, como já notamos, o amor é o impulso de dar e o desejo de possuir; e, estando este amor ligado à bondade perfeita, temos então o que melhor se pode imaginar para o benefício e a felicidade do homem. Devido a esta bondade perfeita, o amor divino vale mais do que o amor de qualquer criatura humana, porque quando ele se dá aos homens, oferece-lhes e dá-lhes, ao mesmo tempo, a bondade perfeita. Porque Deus é amor (I João 4:16), Ele se deu primeiro por nós, a fim de que gozemos de íntima comunhão com Ele. 2.3.3. JUSTIÇA. Baseados no que já sabemos, tocante à santidade e amor de Deus, podemos compreender melhor a sua justiça. Dizer que Deus é justo é afirmar que ele faz sempre o que é direito e conforme ao seu caráter. Naturalmente esta santidade de Deus torna-se numa justiça punitiva para os que resistem, para os que se identificam com o pecado. Se possível fora, o pecado impediria a realização de todos os planos de Deus. Devido ao pecado, não pode Deus deixar prosperar o caminho do ímpio: «O caminho do ímpio», diz-nos a Bíblia, «perecerá». Resistir a Deus é criar dificuldades insuperáveis. «Bem-aventurado o varão que não anda no conselho dos ímpios, nem está no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite. Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, que dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará. Não são assim os ímpios: são, porém, como a moinha que o vento espalha. Pelo que os ímpios não subsistirão no juízo, nem os pecadores na congregação dos justos. Porque o Senhor conhece o caminho dos justos; porém o caminho dos ímpios perecerá” (Salmos 1:1-6). A justiça de Deus quer dizer muito mais do que simplesmente castigo, porque ele não só garante a punição dos maus como também garante patrocínio aos bons. Falando o Salmista sobre este ponto, compara os justos a uma árvore plantada junto a ribeiros de águas, que dá muito fruto e prosperará em todas as suas empresas. Deus é justo, e fará justiça a todos, assim ao mau como ao bom, ao ímpio como ao santo. O justo tem a certeza de ser abençoado por Deus como tem o mau de ser condenado, TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 22 porque absolutamente reta é a justiça divina, justiça que não opera segundo a vista dos olhos, nem segundo o ouvir dos ouvidos. Deus exige do homem nem mais nem menos do que deve exigir, pois ele é justo em todos os seus atos. É fiel a si mesmo e à sua Criação. Devido à sua justiça, dá a cada um a merecida recompensa: ao ímpio o castigo, ao justo o galardão. Nada há mais certo do que a condenação do ímpio e a salvação do justo em Cristo. 3 A DOUTRINA DA TRINDADE A doutrina da Trindade é uma das questões mais difíceis, em termos de definição. Houve muita controvérsia para definirem-se as primeiras declarações dogmáticas sobre o assunto, que arrastaram-se especialmente pelos séculos IV e V. Foi no Concílio de Nicéia, em 325 d.C., que as discussões sobre a divindade de Cristo despertaram a atenção dos teólogos para as definições do Deus Trinitário.A expressão "TRINDADE" não aparece nas Escrituras, a não ser de maneira implícita, nas declarações bíblicas sobre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. O Concílio de Constatinopla, em 381 d.C., incluiu em suas discussões o tema "Espírito Santo", o que possibilitou uma formulação doutrinária sobre a Trindade. Foi no Credo de Atanásio que a expressão TRINDADE apareceu, citando-se as palavras "PESSOA" e "SUBSTÂNCIA". Posteriormente, Agostinho, no século V, deu mais conteúdo às afirmações anteriores "dando ênfase à unidade numérica de sua essência". O termo TRINDADE é usado, geralmente, para exprimir duas ideias bem distintas e até diferentes: refere-se, por um lado, a uma tríplice manifestação de Deus, e por outro lado ao seu modo triúno de existir. Mas estas duas ideias, apesar da relação íntima que entre elas existe, são tão diferentes que podem causar confusão quando expressas por uma só palavra. Por conta disso, dois erros a respeito da doutrina da trindade devem ser evitados: (a) A suposição de que a divindade seja composta de três pessoas distintas (indivíduos) - como Pedro, Tiago e João. Essa suposição, no caso de Deus, seria um Triteísmo. (b) Que a divindade é uma pessoa somente e que o aspecto triúno do seu Ser não é nada mais além de três campos de interesses, atividades e manifestações. Essa suposição chama-se Sabelianismo. TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 23 Sabelianismo (também conhecido como modalismo) é a crença estabelecida no Século III de que a Trindade não se configura em três pessoas, mas em modos, ou atributos de Deus. Ela é atribuída a Sabélio, que ensinou uma forma desta doutrina em Roma, e o principal oponente do Sabelianismo foi Tertuliano, que tachou o movimento de "Patripassianismo", a partir dos termos latinos patris para "pai", e passus por "sofrer", eis que isto implicaria que Deus, o Pai teria sofrido na Cruz. O MONARQUIANISMO defendia Pai, Filho e Espírito Santo como manifestações das diferentes capacidades de Deus. Ideias como essas foram rejeitadas e, expressões como "PESSOA" procuravam enfatizar a concretude de Pai, Filho e Espírito Santo. Gustaf Aulém, chama a atenção para o perigo do Triteísmo, de certa forma condenando o uso da expressão "PESSOA". Barth associa-se a Aulém, e Tillich rejeita completamente a ideia do entendimento racional da TRINDADE como três pessoas, declarando que ela não pode ser “aceita em sua forma tradicional”. Os extremos são perigosos. Se usarmos o termo "PESSOA" para Pai, Filho e Espírito Santo, da mesma forma que aplicamos para designar um indivíduo, cairemos no Triteísmo. Se formos para o Sabelianismo ou Monarquianismo, reduziremos violentamente a doutrina da Trindade. A TRINDADE tem sido debatida há séculos, defendendo-a a maioria dos cristãos em todos os tempos. 3.1 O CREDO DE ATANÁSIO (Séculos IV e V) Conforme já foi dito, foi no credo de Atanásio que a expressão TRINDADE apareceu, citando-se as palavras "PESSOA" e "SUBSTÂNCIA". Segue abaixo esse credo que é apresentado em 41os seguintes pontos: Quem quiser salvar-se deve antes de tudo professar a fé católica. Porque aquele que não a professar, integral e inviolavelmente, perecerá sem dúvida por toda a eternidade. A fé católica consiste em adorar um só Deus em Trindade e Trindade na unidade. Sem confundir as Pessoas nem separar a substância. Porque uma só é a Pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo. Mas uma só é a divindade do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, igual a glória e coeterna a majestade. TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 24 Tal como é o Pai, tal é o Filho, tal é o Espírito Santo. O Pai é incriado, o Filho é incriado, o Espírito Santo é incriado. O Pai é incompreensível, o Filho é incompreensível, o Espírito Santo é incompreensível. O Pai é eterno, o Filho é eterno, o Espírito Santo é eterno. E contudo não são três eternos, mas um só eterno. Assim como não são três incriados, nem três incompreensíveis, mas um só incriado e um só incompreensível. Da mesma maneira, o Pai é onipotente, o Filho é onipotente, o Espírito Santo é onipotente. E contudo não são três onipotentes, mas um só onipotente. Assim o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus. E contudo não são três deuses, mas um só Deus. Do mesmo modo, o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, o Espírito Santo é Senhor. E contudo não são três senhores, mas um só Senhor. Porque, assim como a verdade cristã nos manda confessar que cada uma das Pessoas é Deus e Senhor, do mesmo modo a religião católica nos proíbe dizer que são três deuses ou senhores. O Pai não foi feito, nem gerado, nem criado por ninguém. O Filho procede do Pai; não foi feito, nem criado, mas gerado. O Espírito Santo não foi feito, nem criado, nem gerado, mas procede do Pai e do Filho. Não há, pois, senão um só Pai, e não três Pais; um só Filho, e não três Filhos; um só Espírito Santo, e não três Espíritos Santos. E nesta Trindade não há nem mais antigo nem menos antigo, nem maior nem menor, mas as três Pessoas são coeternas e iguais entre si. De sorte que, como se disse acima, em tudo se deve adorar a unidade na Trindade e a Trindade na unidade. Quem, pois, quiser salvar-se, deve pensar assim a respeito da Trindade. Mas, para alcançar a salvação, é necessário ainda crer firmemente na Encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo. A pureza da nossa fé consiste, pois, em crer ainda e confessar que Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, é Deus e homem. É Deus, gerado na substância do TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 25 Pai desde toda a eternidade; é homem porque nasceu, no tempo, da substância da sua Mãe. Deus perfeito e homem perfeito, com alma racional e carne humana. Igual ao Pai segundo a divindade; menor que o Pai segundo a humanidade. E embora seja Deus e homem, contudo não são dois, mas um só Cristo. É um, não porque a divindade se tenha convertido em humanidade, mas porque Deus assumiu a humanidade. Um, finalmente, não por confusão de substâncias, mas pela unidade da Pessoa. Porque, assim como a alma racional e o corpo formam um só homem, assim também a divindade e a humanidade formam um só Cristo. Ele sofreu a morte por nossa salvação, desceu ao inferno e ao terceiro dia ressuscitou dos mortos. Subiu aos Céus e está sentado a direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos. E quando vier, todos os homens ressuscitarão com os seus corpos, para prestar conta dos seus atos. E os que tiverem praticado o bem irão para a vida eterna, e os maus para o fogo eterno. Esta é a fé católica, e quem não a professar fiel e firmemente não se poderá salvar. A forma na qual a doutrina da trindade se encontra na Bíblia, e na qual entra na fé da Igreja universal, inclui substancialmente os seguintes detalhes: a) Deus é um somente; todavia este único Deus subsiste em três pessoas definidas e identificadas. b) O termo personalidade aplicado a Deus não deve ser entendido ou tomado no sentido filosófico estrito, no qual seres totalmente distintos são indicados. c) Deus é um Ser, mas Ele é mais do que um Ser em três relações. d) Atos bem definidos que são pessoas em caráter são atribuídos a cada uma das três pessoas. e) Esses atos inequivocamente estabelecem personalidade. f) A linguagem trabalha com dificuldade nesse ponto. g) As pessoas não são separadas, mas distintas. h) A Trindade é composta de três pessoas unidas sem existênciaseparada - tão completamente unidas que formam Um só Deus. TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 26 i) A natureza divina subsiste em três distinções - Pai, Filho, e Espírito Santo. Antes de compreendermos a doutrina da Trindade, precisamos compreender a natureza das Pessoas da Trindade, pois a doutrina da Trindade somente surgiu porque a Bíblia, especialmente o Novo Testamento, ao mesmo tempo em que apresenta Deus como sendo um só, fala desse Deus único subsistindo em três pessoas distintas (Pai, Filho e Espírito Santo). Portanto, para entendermos a Trindade, precisamos ver como a Bíblia descreve cada uma dessas pessoas sob o ponto de vista da divindade. 3.2 DEUS PAI Tanto na visão cristã quanto judaica, não existe nenhuma dificuldade a identificação de Deus como Pai, pois são muitas as passagens da Bíblia que abonam esta verdade. Desta forma nos limitaremos, neste tópico, a citar algumas dessas afirmações bíblicas: Gálatas 1:1 Paulo, apóstolo, não da parte de homens, nem por intermédio de homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos Efésios 6:23 Paz seja com os irmãos e amor com fé, da parte de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo. Filipenses 2:11 e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai. Colossenses 3:17 E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai. 1 Tessalonicenses 1:1 Paulo, Silvano e Timóteo, à igreja dos tessalonicenses em Deus Pai e no Senhor Jesus Cristo, graça e paz a vós outros. 2 Tessalonicenses 1:2 graça e paz a vós outros, da parte de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo. 1 Timóteo 1:2 a Timóteo, verdadeiro filho na fé, graça, misericórdia e paz, da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor. 2 Timóteo 1:2 ao amado filho Timóteo, graça, misericórdia e paz, da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor. Tito 1:4 a Tito, verdadeiro filho, segundo a fé comum, graça e paz, da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Salvador. TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 27 3.2 DEUS FILHO O apóstolo João, querendo deixar claro a natureza divina de Jesus, o Filho de Deus, usou a expressão “monogenês”, De um modo geral esta palavra é traduzida como “unigênito”, e também equivocadamente, como na NTLH, é traduzida como “Filho Único”. Esta palavra “s” (monogenês) é utilizada seis vezes no Novo Testamento, sendo cinco pelo apóstolo João e uma pelo autor de Hebreus: João 1:14 E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai. και ο λογος σαρξ εγενετο και εσκηνωσεν εν ημιν και εθεασαμεθα την δοξαν αυτου δοξαν ως μονογενους παρα πατρος πληρης χαριτος και αληθειας João 1:18 Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou. θεον ουδεις εωρακεν πωποτε ο μονογενης υιος ο ων εις τον κολπον του πατρος εκεινος εξηγησατο João 3:16 Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. ουτως γαρ ηγαπησεν ο θεος τον κοσμον ωστε τον υιον αυτου τον μονογενη εδωκεν ινα πας ο πιστευων εις αυτον μη αποληται αλλ εχη ζωην αιωνιον João 3:18 Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. ο πιστευων εις αυτον ου κρινεται ο δε μη πιστευων ηδη κεκριται οτι μη πεπιστευκεν εις το ονομα του μονογενους υιου του θεου Hebreus 11:17 Pela fé, Abraão, quando posto à prova, ofereceu Isaque; estava mesmo para sacrificar o seu unigênito aquele que acolheu alegremente as promessas, πιστει προσενηνοχεν αβρααμ τον ισαακ πειραζομενος και τον μονογενη προσεφερεν ο τας επαγγελιας αναδεξαμενος TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 28 1 João 4:9 Nisto se manifestou o amor de Deus em nós: em haver Deus enviado o seu Filho unigênito ao mundo, para vivermos por meio dele. εν τουτω εφανερωθη η αγαπη του θεου εν ημιν οτι τον υιον αυτου τον μονογενη απεσταλκεν ο θεος εις τον κοσμον ινα ζησωμεν δι αυτου “s” (monogenês) é a junção de duas palavras gregas: “mono + genês”. Na língua portuguesa estamos acostumados com essas duas palavras separadamente, e sabemos bem o significado delas. Sabemos que “mono” significa “um”, “único”, etc, e “genes” significa “origem”, “geração”. Também deu origem a palavras usadas na biologia como “genética”, além da própria palavra “gene” usada na biologia que indica o elemento do cromossomo constituído por um segmento de D.N.A, que condiciona a transmissão e a manifestação dos caracteres hereditários. Fica claro que ao identificar Jesus como sendo “Monogenês do Pai”, ou como o “Deus Monogenês”, o apóstolo João enfatiza a divindade de Cristo dizendo que o gene do Pai e do Filho é o mesmo (monoguenês). Não é o Pai e o Filho tendo a mesma sequência de DNA, como eu e meus filhos temos, mas é o Pai e o Filho compartilhando do mesmo gene. Não tem Jesus um gene e o Pai outro gene, mas com a mesma sequência de DNA. Monogenês significa que o Pai e o Filho compartilham do mesmo gene, ou seja, são o mesmo Deus. Daí o motivo de João 1:18 se referir a Jesus como “Deus Unigênito”: “Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou”. JESUS, CEM POR CENTO HOMEM E CEM POR CENTO DEUS Nossa maior dificuldade no entendimento da doutrina da trindade, creio, encontra-se no entendimento da humanidade de Cristo. Como entender que Jesus é Deus, mas também foi cem por cento homem? Como em nossa limitada mentalidade humana podemos compreender esse tremendo mistério? Mesmo o apóstolo João afirmando que “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus[...] E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (João 1:1 e14), continuamos sem compreender como isso, na prática, foi possível. Creio que tal entendimento em toda a sua plenitude é algo completamente impossível para o ser humano enquanto estivermos aqui neste nosso mundo físico e TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 29 limitado, contudo, podemos ter uma ideia de como isso foi possível a partir do entendimento das seguintes verdades que o Novo Testamento nos apresenta: O Homem Jesus obedeceu a Deus em tudo: Filipenses 2:8. Ele tinha a natureza divina, mas esvaziou-se de si mesmo: Filipenses 2:7 Não deixou sua natureza humana, seu eu, seu ego humano prevalecer, mas submeteu-o totalmente à natureza divina que habitava nele: “Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Col 2:9) “porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude” (Col 1:19) Ou seja, o homem Jesus, que tinha o gene humano por parte de Maria, sua mãe, submeteu-se cem por cento à natureza divina que também nele habitava (Col 2:9). Desta forma, o homem Jesus foi 100% controlado pela natureza divina, por isso ele era 100% homem, mas era também 100% Deus, pois “nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade”. As duas naturezas coexistiam nele, mas a sua natureza humana jamais prevaleceu sobre a natureza divina, as vontades e desejos do homem Jesus sempre foram submissos às vontades e desejos do Pai: “pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser iguala Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.(Filipenses 2:6-8). “Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (João 6:38). “Jesus disse-lhes: A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra” (João 4:34). “Dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lucas 22:42). Talvez uma forma de compreendermos um pouco como ambas as naturezas (divina e humana) coexistiam em Jesus, seja pensarmos em nós mesmos. Ao nos tornarmos “filhos de Deus” (Tekna tou Teou) conforme Joâo 1:12, passamos a ter também em nós toda a natureza divina. Veja o que nos diz João 14:15-23: “Se me amais, guardai os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; O Espírito de verdade, que o TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 30 mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós. Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós. Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais, mas vós me vereis; porque eu vivo, e vós vivereis. Naquele dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós. Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele. Disse-lhe Judas (não o Iscariotes): Senhor, de onde vem que te hás de manifestar a nós, e não ao mundo? Jesus respondeu, e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada”. Nessa mensagem Jesus afirma que o Espírito Santo “habita convosco, e estará em vós”, ou seja, estará dentro de nós. E ainda que “viremos(O Pai e o Filho) para ele, e faremos nele morada, ou seja, Pai e Filho fazem morada dentro de nós. Em outras palavras, Pai, Filho e Espírito Santo habitam dentro de nós, se somos filhos de Deus. Portanto, toda a plenitude da divindade também habita em nós, mas com uma diferença extratosférica entre nós e Jesus: nossa natureza humana não se submete cem por cento e nem o tempo todo ao Deus que em nós habita. Nossa comida e nossa bebida (ou seja, necessidades vitais) não é fazer a vontade de Deus, pois fazemos constantemente a nossa própria vontade. Habita em nós toda a natureza divina, ou toda a plenitude da divindade, mas não somos μονογενης υιος. Logo, nossa velha natureza, natureza humana, não permite que essa natureza divina nos controle cem por cento. Veja Romanos 7:19-23 “Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim. Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim. Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo, nos meus membros outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros”. Em Jesus, ao contrário, isso jamais aconteceu. Ele jamais fez o mal que ele não queria fazer, pois sua vontade humana em nenhum momento prevaleceu sobre a vontade divina. Por isso ele nunca pecou, e por isso ele foi cem por cento homem e cem por cento Deus, TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 31 3.3 DEUS ESPÍRITO A chamada terceira pessoa da trindade, o Espírito Santo, também não causa nenhuma dificuldade de entendimento ou aceitação aos cristãos, pois todos concordam que “Deus é Espírito” (João 4:24), e há uma série de passagens bíblica que testificam da mesma forma: «Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte do preço da herdade? Guardando-a, não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste esse desígnio em teu coração?... Não mentiste aos homens, mas a Deus» (Atos 5:3, 4) «Não sabeis vós que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?» O Espírito Santo tem os mesmos atributos de Deus, e estava presente na criação assim como o Pai e o Filho: . «E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.» Isto é o que achamos escrito no segundo versículo da Bíblia. Ele também é responsável por agir no coração do homem: «E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo» (João 16:8). O nome do Espírito Santo está ligado ao nome do Pai e ao do Filho, de maneira que indica que ele é Deus como o Pai é Deus (Mateus 28:19 e II Coríntios 3:3). Neste caso, como no de Jesus, a experiência cristã dá pleno apoio aos ensinos das Escrituras sobre a deidade do Espírito Santo. Logo que somos salvos por Jesus Cristo, reconhecemos que o Espírito Santo opera em nós e nos ensina as coisas de Cristo. E nós distinguimos este Espírito de Jesus, que nos salva, e do Pai, que nos perdoa. A nossa experiência cristã, portanto, apóia os ensinamentos da Bíblia, confirmando a deidade do Espírito Santo. TEOLOGIA SISTEMÁTICA B IBE Dr. Roberto Ramos da Silva 32 4 OS NOMES DA DIVINDADE FAZEM REFERÊNCIA À TRINDADE Na Bíblia vemos que os nomes das pessoas têm um significado que indica o caráter dessa pessoa. Os nomes eram continuamente mudados quando o indivíduo passava por algum tipo de mudança: Gênesis 17:5: Daqui em diante o seu nome será Abraão e não Abrão, pois eu vou fazer com que você seja pai de muitas nações. Gn 17:15 Depois Deus disse a Abraão: – De hoje em diante não chame mais a sua mulher de Sarai, mas de Sara. 16Eu a abençoarei e darei a você um filho, que nascerá dela. Sim, eu a abençoarei, e ela será mãe de nações; e haverá reis entre os seus descendentes. Gênesis 32:28 Então o homem disse: — O seu nome não será mais Jacó. Você lutou com Deus e com os homens e venceu; por isso o seu nome será Israel. Nm 13:16 São esses os nomes dos homens que Moisés mandou espionar a terra. Ele mudou o nome de Oséias, filho de Num, para Josué. A revelação do caráter através de um nome é também verdade a respeito da divindade. Todos os nomes pelos quais a Bíblia designa Deus são significativos, e assim cada um deles permanece como um símbolo de alguma verdade a respeito dEle. 4.1 OS NOMES PRINCIPAIS DA DIVINDADE NO ANTIGO TESTAMENTO 4.1.1. JEOVÁ: Apesar de toda a pesquisa que os eruditos têm feito com o nome Jeová, pouco é conhecido além do que está preservado no texto sagrado. A sua pronúncia original foi perdida, e isto é devido basicamente ao cuidado dos judeus durante muitos séculos em pronunciar o seu nome (superstição ou reverência ?). O nome Jeová é mais plenamente definido nas Escrituras com relação ao seu significado do que todos os outros títulos da divindade juntos. Nos salmos, o original aparece algumas vezes numa forma contrata, Jah, que é a sílaba concludente de hallelujah (Sl 68.4). No Antigo Testamento ele aparece pela primeira vez em Gênesis 15:2: “Então, disse Abrão: Senhor JEOVÁ, que me hás de dar? Pois ando sem filhos, e o mordomo da minha casa é o damasceno Eliézer”. O nome JEOVÁ é usado 288 vezes na Bíblia RC, e todas as vezes aparece nos textos do AT. Em algumas outras vezes a Bíblia RC faz a tradução direta do nome JEOVÁ para SENHOR: Rafa Inacio Realce TEOLOGIA SISTEMÁTICA
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