Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
PARTE 1 NOTAS DE AULA - GEOTECNIA NOVA VENÉCIA – ES Imagem: Núcleo urbano de Conceição da Barra – ES. Fonte: Google Earth Imagem: Região do núcleo urbano em Nova Venécia –ES. Fonte: Google Earth PROF. HIRAM CORREIA BRAGANÇA Fevereiro de 2015 SUMÁRIO 1 – Introdução 2 – Considerações geológicas sobre o planeta Terra 2.1 – Estrutura e constituição da Terra 2.2 – Tectônica das placas 2.3 – Escala de tempo geológico 2.4 – Composição química da Terra 2.5 – Tipos de rochas, ciclo de formação 2.6 – Minerais 2.7 - Os Silicatos 2.8 – Petrografia e Petrologia 3 – Geologia Estrutural e Geomorfologia 4 – Intemperismos e Pedologia 5 – Índices físicos de solos e rochas 6 –Métodos de Investigação Geológica Bibliografia LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas NBR – Norma Brasileira Regulamentadora 1 – Introdução A Geotecnia é uma área da Engenharia que estuda com profundidade as técnicas de investigação e aplicações diversas de solos e rochas e outros materiais nas obras de Infraestrutura. Importante ramo do conhecimento que permite o desenvolvimento de projetos ligados a mecânica dos solos e rochas, aplicações dos materiais visando estabilizar terrenos e maciços rochosos, garantindo segurança e qualidade para as mais variadas demandas de Engenharia. Está ligada aos estudos das fundações da infraestrutura dos edifícios, estruturas de contenções para obras de terra e grandes demandas técnicas de infraestruturas de logística, rodovias, aeroportos, ferrovias, dutos, obras de movimentação de solos e rochas. Na área urbana, os conhecimentos da Engenharia Geotécnica são aplicados no mapeamento de áreas de riscos, localização de áreas adequadas para ocupações de loteamentos habitacionais e industriais. Os conceitos da Geotecnia devem ser considerados nas fases de elaboração de documentos técnicos e leis sobre a ocupação do solo. A geotecnia é estratégica para a elaboração dos estudos de impactos ambientais para uma enormidade de atividades econômicas. Entre as diferentes obras de Engenharia geotécnica podemos lembrar o caso das indústrias de minerações e obras de terra e desmontes de rochas. Áreas tecnicamente instáveis devem ser protegidas da ocupação antrópica visando reduzir riscos de acidentes geológicos. No caso de áreas de riscos já ocupadas, a Engenharia Geotécnica deve ser utilizada para remediar a situação, estabilizando maciços instáveis através de obras de contenções urbanas. Os conceitos teóricos envolvidos nos estudos geotécnicos são bastante amplos, devendo ser considerados desde a formação dos solos e rochas, as fases de caracterização dos materiais, identificação de jazidas economicamente viáveis e posteriormente planejamentos e projetos técnicos utilizando materiais adequados para as demandas de Engenharia. Conceitos básicos a partir do Dicionário Geológico do Antônio T. GUERRA: Geologia: É a Ciência que estuda a estrutura da crosta terrestre, seu modelado externo e as diferentes fases da história física da terra. A geologia é uma ciência de campo muito vasto, necessitando de sólidos conhecimentos de química, física e botânica. Geo = terra Logos = conhecimento Podemos definir a geologia como a ciência que estuda a terra em todos os seus aspectos, isto é, a constituição e estrutura do globo terrestre, as diferentes forcas que agem sobre as rochas, modificando assim as formas do relevo e a composição química original dos diversos elementos, a ocorrência e a evolução da vida através das diferentes etapas da história física da terra. Para André Cailleux, “a Geologia se propõe a descrever e explicar os aspectos e a disposição das rochas e das terras sobre as quais vive o homem. Pesquisa de água, carvão e petróleo, prospecção e exploração de jazidas minerais, escolha de sítios e locais de barragens hidrelétricas e outros trabalhos de arte; proteção e melhoramento dos solos de cultura só são possíveis graças aos dados da geologia.” A geologia é uma ciência descritiva, histórica e explicativa ou, em outras palavras, é uma ciência de observação, de interpretação e de experimentação. O trabalho de campo do geólogo tem por fim: 1 – procura de afloramentos e natureza do mesmo; 2 – procura de fósseis 3 – estudo dos diferentes tipos de estruturas 4 – prospecção O objeto da geologia é o estudo dos fenômenos geológicos, os quais podem ser de 2 ordens, físicos e biológicos. Os fenômenos geológicos de ordem física são: Litogenese; formação de rochas Orogênese: formação de montanhas Gliptogenese: destruição e modelagem do relevo Os fenômenos geológicos de ordem física correspondem ao ciclo geológico. Os fenômenos biológicos dizem respeito aos restos de organismos, isto é, os fósseis encontrados nas rochas. A geologia pode ser dividida em: Geologia Física: estuda a origem física das formações geológicas. Estrutural – estuda os depósitos e diversas camadas Dinâmica – estuda as diversas transformações porque passa a superfície da crosta devido ao trabalho realizado pelos fatores exógenos. Histórica – estuda as diferentes eras geológicas. É definida como história física da terra. A geologia estrutural estuda o arcabouço do subsolo. A geologia dinâmica estuda o trabalho realizado pelos vários agentes e forcas como as águas, os ventos, correntes marítimas, os gelos em movimento, atividades vulcânicas, etc. A geologia histórica estuda a história da terra através da vida vegetal e animal no decorrer das eras geológicas através da Paleontologia e as modificações sofridas pela superfície do planeta, através da Paleografia. Geologia Ambiental: refere-se à aplicação dos conhecimentos geológicos à resolução de problemas decorrentes da ocupação humana na superfície da terra. Geologia de Engenharia: refere-se à aplicação dos conhecimentos geológicos à Engenharia, com o objetivo de garantir que os fatores geológicos que afetam a localização, construção e manutenção das obras de engenharia sejam perfeitamente reconhecidos e aplicados, no sentido de garantir a sua segurança. Geologia Econômica: é a geologia aplicada aos problemas econômicos. Há problemas particulares concernentes ao solo e subsolo que só podem ser resolvidos por geólogos. Entre os diversos exemplos podemos citar o abastecimento de água potável, construção de edifícios, localização de barragens, pesquisas minerais, etc. O profissional geólogo faz estudos básicos e definem locais para ocupações. É um profissional que atua diretamente nas decisões de Engenharia. A geologia econômica é um ramo da geologia que estuda as matérias primas do reino mineral que o homem extrai para suas necessidades, estuda a aplicação da geologia nos recursos minerais, explica a origem das diferentes jazidas minerais. Geologia estrutural ou tectônica Estudo das deformações do subsolo. Na geologia de mineração, os mais importantes depósitos metalíferos estão sempre relacionados com o tectonismo. Geologia histórica Estudo na sequência dos acontecimentos passados na Terra em tempos idos como nos revelam as rochas e os fosseis. É um dos ramos da geologia que se propõe descrever as diversas etapas da historia da terra, desde os tempos de sua origem até os dias de hoje. Para a reconstituição dos fatos passados na superfície do globo terrestre lança-se mãoprincipalmente de dois métodos: estratigráfico e paleontológico. Um processo que também se usa para datar certas formações é a desintegração radioativa. Funda-se na imutabilidade das desintegrações sofridas pelos minerais radioativos. A Geomorfologia é um ramo da ciência que estuda a formação de solos e relevos, as interações mecânicas e hidráulicas que interferem nas dinâmicas dos solos e rochas da terra. Geotecnia: é a área da ciência que reúne as informações obtidas na geologia, geomorfologia e a partir dos conceitos da mecânica de solos e rochas, utiliza as técnicas da Engenharia para atuar sobre o terreno natural visando estabilizá-lo para garantir segurança aos projetos técnicos de construções. Petrologia: é o estudo dos diferentes tipos de rochas encontradas no planeta. Petrografia: é o estudo descritivo com detalhes característicos físicos e químicos das rochas. Pedologia: é o estudo dos diferentes tipos de solos existentes. Mecânica dos Solos: é o ramo da física que trabalha os conceitos da mecânica para estudar detalhadamente o comportamento dos maciços de solo existentes na natureza. É fundamental para o projeto das obras de terra. A partir das características das diferentes possibilidades de materiais existentes, a mecânica dos solos vai fornecer informações físicas e modelos construtivos para definir as soluções da Engenharia Geotécnica. 2 – Considerações geológicas sobre o planeta Terra A formação do planeta Terra iniciou-se a milhares de anos atrás. Existem teorias para explicar os processos evolutivos da química e física da natureza original, sendo a geologia o ramo do conhecimento que vai permitir provar através da ciência, uma serie de situações que explicam a atual formação de rochas, solos, oceanos e demais elementos geográficos do planeta. Sobre o ponto de vista evolutivo, desde o inicio, nos primórdios, foram ocorrendo vários eventos naturais que aos poucos deram a forma e as propriedades da geologia atual. Existem os vetores naturais, podendo ser estes os eventos internos ou externos do corpo planetário, intemperismos diversos, vulcanismos, tempestades, gelo, água, tectonismos, terremotos etc. podemos denominar estes como intemperismos naturais. Atualmente cada vez mais, com as interferências da sociedade humana nas mudanças de relevo, clima, subsolo, águas para atender a fome capitalista em busca de recursos naturais, surge um conceito de ação antrópica sobre o planeta como um vetor de modificação da geologia natural. O autor GUERRA define tal situação como antropogeomorfologia, é a ação humana alterando a forma do planeta. Obras de Engenharia, grandes megalópoles aglomerados urbanos, superbarragens, agronegócio de alta escala, desmatamentos, drenagens de bacias hidrográficas e tantas outras interferências humanas acabam por alterar o ambiente natural e em alguns casos criando cenários climáticos extremos, como por exemplo, períodos de falta de chuvas e aquecimento global. 2.1 – Estrutura e constituição da Terra Informações obtidas em: <http://www.cefetbambui.edu.br/grupos_de_estudo/gesa/download/livros/geologia_e_%20pedologia _do_solo.pdf> O planeta terra possui um raio médio da ordem de 6.370 km. O relevo da superfície apresenta um desnível da ordem máxima de 20 km, sendo o ponto mais alto o monte Everest com 8.850m de altitude e o local mais baixo a fossa abissal das Filipinas com 11.510m de profundidade. A altitude média dos continentes é da ordem de 800m e a profundidade dos oceanos em média 3800 m, o que representa 4,6km, valor insignificante em termos de raio terrestre. A densidade média da terra gira em torno de 5,53, sendo que as rochas da superfície possuem densidade em torno de 2,7, indicando que a densidade varia em profundidade. Isso mostra que a composição química da terra não é homogênea e concentra os elementos mais pesados em seu interior. A distribuição heterogênea de elementos no planeta fica evidente a partir de sua variação de densidade. As informações existentes são referentes a duas áreas de estudo: sismologia e meteorítica. � A sismologia consiste no estudo de terremotos, estudo de ondas elásticas produzidas por um terremoto que se propagam pela terra em todas as direções. As ondas sísmicas variam de intensidade de acordo com a densidade da Terra. � A meteorítica fornece informações sobre as geosferas internas da terra. Em termos de composição química existem os meteoritos metálicos e rochosos de composição semelhante às rochas terrestres. As camadas do globo terrestre são denominadas Crosta, Manto e Núcleo. i - Núcleo: parte mais interna do planeta. Sua densidade estimada da ordem de 10,7 e é formado pelos elementos Fe (90,5%), Ni (8,5%) e Co (0,6%). ii - Manto: é a mais espessa das zonas internas do planeta, sendo constituído provavelmente de silicatos magnesianos ou sulfetos e óxidos. Densidade média de 4,5. iii - Crosta: é a zona mais externa do globo, possui espessura média de 35 km, densidade média é 2,7 e composição química básica é: O (45,2%), Si (27,2%), Al (8,0%), Fe (5,8%), Ca (5,1%), Mg (2,8%), Na (2,3%), K (1,7%). Atualmente, temos os termos: Litosfera, Astenosfera e Mesosfera. Litosfera – camada rígida da ordem de 50 a 150 km. Astenosfera e Mesosfera são camadas mais internas da Terra. As camadas mais internas são consideradas fluidas e isto vem a explicar a movimentação das placas tectônicas. A crosta terrestre fica dividida em crosta continental e crosta submarina. A crosta continental é formada basicamente por granitos e outras rochas ricas em Si e Al. A crosta oceânica é composta por basaltos e outras rochas ricas em Si, Mg e Fe. Figura 1: o planeta terra e suas camadas. Fonte: UFV, 2005. Figura 2: Fonte: p. 13, UFV, 2005. 2.2 – Tectônica das placas Ao longo do tempo, foram surgindo teorias sobre a formação do planeta. Nos últimos 30 anos tem-se estudado uma nova teoria que relaciona os processos dinâmicos do planeta causado pela movimentação de grandes placas que constituem a capa externa. Esta teoria é chamada Tectônica de placas. A similaridade geográfica dos contornos entre África e América do Sul sempre chamaram atenção de estudiosos. Daí surgiu em estudos a teoria da “Deriva Continental”, por Alfred Wegener, baseado em evidencias estruturais e paleontológicas. Figura 3: Distribuição dos continentes há 250 milhões de anos. Fonte: UFV, 2005. A partir de estudos no fundo do Oceano Atlântico, foi possível identificar evidencias sobre essa teoria, indicando atividade devido a fendas no assoalho submarino. De acordo com cientistas esses eventos ajudam a explicar a separação de América e África. Estas observações são os pilares do estudo da Tectônica das placas, onde considera-se a Litosfera como sendo composta por vários pedaços em movimento. Estes pedaços são denominados placas tectônicas. Atualmente existem 7 grandes placas e outras menores, e elas se comportam como blocos rígidos que se movem. O contato entre as placas tectônicas são locais muito instáveis com vulcanismos e terremotos. Figura 4: Placas tectônicas. Fonte: p. 19, UFV, 2005. Existem diferentes tipos de contatos entre as placas tectônicas que criam esforços distintos sobre a litosfera. Figura 5: Falha de San Andreas: Fonte: http://www.infoescola.com/geologia/falha-de-san-andreas/ A falha de Saint Andreas (Santo André) fica localizadanos EUA, estado da Califórnia, e possui uma extensão da ordem de 1300 km no encontro das placas do Pacifico e Norte Americana. Figura 6: movimentação de placas tectônicas. Fonte: Google. 2.3 – Escala de tempo geológico O conceito temporal é fundamental na Geologia. A maioria dos eventos geológicos são ligados a espaços de tempo de milhares de anos. As rochas visíveis da crosta apresentam informações desses eventos milenares. O planeta possui uma idade estimada em 4,6 bilhões de anos, e o tempo geológico corre desde a formação da Terra. Existem duas ciências ligadas à Geologia Histórica que são fundamentais no que se refere a datação de eventos, sendo: • Estratigrafia: ciência que estuda a sucessão das camadas ou estratos que aparecem num corte geológico. Não se deve definir estratigrafia como sucessão vertical das rochas sedimentares. Nada mais é do que a história física da Terra narrada através do exame dos terrenos sedimentares e dos fósseis que eles podem conter, estabelecendo-se assim a cronologia. O objeto da estratigrafia é, por conseguinte, determinar a idade relativa das camadas, isto é, estudar a sucessão das camadas e as lacunas ou os hiatos existentes. • Paleontologia: Ciência que estuda os seres vivos que existiram nos diferentes períodos da história física da terra. Pode-se dividi-la da seguinte maneira: Outras áreas de estudo são: • Paleozoologia: estuda os seres animais fósseis. • Paleobotânica: estuda os seres vegetais que apareceram na superfície do globo. Graças à paleontologia, pode-se datar com segurança a idade das diferentes camadas da crosta terrestre, as mais antigas se encontram, normalmente, sob as mais recentes. Pela paleontologia, os geólogos puderam definir e caracterizar os andares da coluna geográfica. A determinação da idade dos terrenos pode ser feita com segurança quando baseado em dados fornecidos pela paleontologia. Tabela 1: Escala de tempo geológico. Fonte: p. 39. Cassetti, 2013 A radioatividade: Com os avanços da tecnologia dos elementos radioativos em pesquisas realizadas no passado, surgiu uma nova maneira de se estudar os eventos geológicos passados através de métodos de datação radiométrica. Os métodos baseiam-se na desintegração radioativa expontânea para um estado de menor energia que ocorre com átomos de elementos radioativos. Existem elementos químicos radioativos que demoram milhares de anos para se transformar, e estes elementos são preciosos para os estudos geológicos de datação do planeta. A taxa de desintegração ou meia vida é constante e define-se como sendo o tempo necessário para que metade da quantidade inicial do elemento radioativo pai se transforme no elemento filho. Tabela 2: Decaimento radioativo. Fonte: Apostila UFV pág. 16. Abaixo a cronologia do tempo geológico. Tabela 3: tempo geológico. Fonte: p. 17. UFV, 2005. 2.4 – Composição química da Terra O planeta terra é formado por diferentes elementos químicos em sua constituição. Com o passar do tempo, alterações diversas foram ocorrendo, épocas de resfriamento e aquecimentos, e alguns elementos foram se modificando quimicamente, conforme as eras geológicas. É um processo dinâmico onde o tempo de 4,6 bilhões de anos e os diversos eventos ocorridos neste período influenciaram diretamente na composição química do planeta. Atualmente, segundo alguns autores, os percentuais dos elementos mais abundantes no globo terrestre são da ordem de: Fe (36,9%), O (29,3%), Si (14,9%), Mg (6,7%), Al (3,0 %), Ni (2,9%) Entretanto, garantir efetivamente isto é muito difícil, haja vista que a investigacao interna do planeta é praticamente inviável, restando à ciência buscar evidencias dessas quantidades a partir da crosta e dos materiais que surgem do interior através de atividades vulcânicas. 2.5 – Tipos de rochas, ciclo de formação O ciclo das rochas é definido como o processo geológico onde os materiais rochosos são formados e destruídos. Ele pode se iniciar por qualquer rocha, e após uma serie de eventos destrutivos e construtivos, esta rocha pode mudar sua caracterização. Compreende os processos geológicos endógenos e exógenos que atuam continuamente sobre a crosta terrestre. Figura 6: Ciclo das rochas. Fonte: Apresentação do Prof. Edgar Lima. Nos estudos de Petrografia, este assunto será abordado com maiores detalhes. 2.6 – Minerais Mineralogia é a Ciência que estuda a natureza e a formação dos minerais. • Mineral: massa inorgânica natural, de composição química definida, com um ou vários tipos de cristalização. Os minerais compõem as rochas que constituem a litosfera. Pode-se definir rocha com um conjunto de minerais ou apenas com um mineral consolidado. Por exemplo: a calcita isolada constitui um calcário; a sílica em estado cristalizado, o quartzo. As rochas podem ser identificadas pelos minerais que a integram. O granito é constituído de três minerais: quatzo, micas e feldspatos. O arranjo atômico ordenado e a composição química definida conferem a um mineral a sua homogeneidade e desta forma ele se constitui em uma única fase possuindo um conjunto de propriedades. 2.7 - Os Silicatos Os silicatos são classes de minerais que envolvem cerca de 95,0 % dos minerais petrográficos formadores de rochas. Conforme define o autor Guerra: • Cristal: corpo definido por formas geométricas, limitado por faces planas, e arestas retilíneas. • Cristalografia: é a ciência que estuda os sistemas de cristalização. É a descrição da forma que tomam os corpos ao se cristalizarem. • Rocha Cristalina: aparece na natureza constituída de elementos cristalizados. As rochas cristalinas são rochas magmáticas nas quais aparecem um grande numero de cristais que constituem o corpo da rocha. Esse tipo de rocha não contem fósseis, pois sua origem é interna, resultante da subida do magma em estado de fusão e de seu posterior resfriamento. • Cristalizado (mineral): quando aparece nas rochas em forma própria inconfundível e sempre poliédrica. Os átomos estão dispostos de maneira simétrica. Figura 7: Fonte: Google imagens de cristais. Os minerais são divididos de acordo com sua composição química em classes, tipo: Elementos nativos: Au, diamante, enxofre. Sulfetos: elementos ligados ao enxofre. Óxidos: elementos ligados ao oxigênio. Carbonatos: ligados ao grupo CO3 Fosfatos: ligados ao grupo PO4 • Silicatos: ligados a Silício e Oxigênio. Esta classe contem cerca de 95% dos minerais petrográficos formadores de rochas. A estrutura de todos os silicatos consiste em uma unidade fundamental constituída por 4 átomos de oxigênio coordenados por um átomo de silício resultando em uma configuração tetraédrica. Figura 8: Estrutura dos silicatos – Fonte: apostila UFV pág. 28 Tabela 4: Apostila UFV pág. 29 2.8 – Petrografia e Petrologia Os minerais possuem várias Propriedades físicas e químicas, estas são utilizadas pela petrologia e petrografia para caracterizar os diferentes tipos de rochas. Entre algumas, temos: • Densidade: é a relação entre a massa do mineral e seu volume. • Dureza: é a resistência que a superfície lisa do mineral oferece ao risco feito com uma ponta aguda. Figura 9: Apostila UFV pág. 25– Escala de Mohs. • Formahábito e agregado: é a configuração externa do mineral. • Clivagem: é a propriedade que alguns minerais possuem de se partir segundo superfícies planas e paralelas. É o chamado plano de clivagem. • Cor e Brilho: associadas a absorção e reflexão da luz. • Traço – A cor do mineral quando reduzido a pó. A partir da cor e características físicas externas dos minerais é possível realizar a caracterização de alguns tipos. As rochas podem ser definidas como um conjunto de minerais ou apenas 1 único mineral consolidado. Dicionário pág. 276. Em Geologia, rocha é todo material que compõe a crosta terrestre, exceto água e gelo. Os elementos mineralógicos que entram na composição nas rochas não possuem o mesmo tamanho. Além do mais são às vezes de tamanho muito pequeno e não discerníveis a olho nu. O microscópio constitui um precioso auxiliar no estudo petrográfico. A litologia é o estudo da origem das rochas e suas transformações. É também denominada petrografia. Importante ciência auxiliar da geomorfologia no estudo das formas do relevo terrestre. (GUERRA, 2006) 2.8.1 – Rochas ígneas ou magmáticas Originada da consolidação do magma. O magma consiste de uma fusão silicatada, móvel de alta temperatura, proveniente do centro da terra. As lavas são magma que surgem na superfície da terra a partir de erupções vulcânicas. Existem 2 tipos fundamentais de magma, sendo um ácido – granítico e outro básico – basáltico. Os magmas graníticos são mais superficiais e os basálticos são mais profundos. A temperatura varia entre 600ºC até 12000ºC. Ao se esfriar permite a cristalização dos mais diversos minerais, cujo conjunto constitui a rocha ígnea. • Plutonismo: é o conjunto de fenômenos magmáticos que ocorrem nas regiões profundas da crosta terrestre. Os materiais assim formados são denominados plutons, ou ainda rochas plutônicas ou intrusivas. De maneira geral são rochas ácidas – granitos. • Vulcanismo: abrange todos os processos que permitem e provovam a ascensão de material magmático para a superfície de superfície terrestre. O magma pode extravasar a superfície através de aberturas que serão fissuras ou orifícios. A grande maioria dos vulcões se encontram agrupados nas costas de oceanos, destacando a costa do pacifico, no chamado circulo do fogo. A distribuição de vulcões está ligada à tectônica das placas. Consoante a posição em que o magma sofreu consolidação, as rochas são classificadas em plutônicas e vulcânicas e hipobissais. Das rochas magmáticas, a família dos granitos é a que ocorre com mais freqüência na superfície da terra. É caracterizada pela coexistência de dois minerais claros relativamente leves e ricos em sílica: quatzo e feldspato alcalino. � Plutônicas: formadas nas camadas mais profundas da crosta. Ex. Granito. Possuem bastante quartzo. � Vulcânicas: formadas no extravazamento do magma na superfície. Ex. Basalto. Possuem menos quartzo. 2.8.2 – Rochas sedimentares Os sedimentos são materiais originados pela destruição de uma rocha preexistente, susceptíveis de serem transportados e depositados. Existem os sedimentos continentais e os sedimentos marinhos. São rochas resultantes da precipitação química, deposição de detritos de outras rochas ou acumulo de detritos orgânicos. O ciclo sedimentar possui basicamente 4 fases, sendo: (i) Decomposição de rochas devido ao intemperismo; (ii) Remoção e transporte dos produtos do intemperismo; (iii) Deposição dos sedimentos; (iv) Consolidação e endurecimento dos sedimentos. Classificação das rochas sedimentares, em função de origem: � Clásticas: fragmentarias ou detríticas, formadas fisicamente. Ex. seixos e areias. � Químicas e orgânicas: formadas por minerais quimicamente precipitados, tais como calcários. As rochas orgânicas são formadas por materiais orgânicos animais e vegetais tais como o petróleo e o carvão. Um depósito sedimentar é o local da deposição de fragmentos de outras rochas ou minerais. A deposição se faz em camadas separadas por juntas de estratificação. Conforme Guerra, podemos agrupar em 6 grupos: a) Detriticas: areias grossas, seixos rolados, blocos. b) Silicosas: areias, saibro, arenitos, sílex c) Rochas argilosas: caulim, argila, sistos d) Rochas calcárias: estalactites, estalagmites, calcários lacustres e marinhos. e) Rochas salinas: cloreto de potássio / sódio / magnésio f) depósitos continentais de origem orgânica: turfa, hulha, petróleo, linhito. 2.8.3 – Rochas metamórficas O metamorfismo é o conjunto de processos pelos quais os depósitos detriticos ou outros tipos de rochas venham a ser transformados. O metamorfismo pode ser endógeno ou exógeno, As rochas metamórficas podem ser formadas por alterações de outras rochas que poderão ser eruptivas ou sedimentares. Elas resultam de condições de temperaturas e pressão elevadas. Sua grande característica é possuir orientação por camadas. Existem diferentes formações metamórficas que variam em função de pressão e temperatura a que sofrem os minerais ao longo do metamorfismo. Uma sequência típica de grau metamórfico crescente é: Ardósia => filito => xisto => gnaisse Importantes exemplos: quartizitos, gnaisses, filitos, ardósias, mármore, etc. 3 – Geologia Estrutural e Geomorfologia 3.1 – Geologia Estrutural A geologia estrutural é o estudo das deformações crustais, estudos do arcabouço do subsolo (formas estruturais primitivas e originais). Este ramo de estudo busca avaliar as condições originais das rochas, explicando eventuais falhas e dobras nos leitos rochosos. Figura 10: Falha em rocha devido movimentação tectônica. Fonte: Google. Figura 11: Dobra em rocha em função de alterações no relevo. Fonte: Google. 3.2 - Geomorfologia Ciência que estuda as formas do relevo, tendo em vista a origem, estrutura, natureza das rochas, o clima da região e as diferentes forcas endógenas e exógenas que, de modo geral, entram como fatores construtores e destruidores do relevo terrestre. Estuda o relevo atual. A geomorfologia é o estudo sistemático das formas de relevo, baseando-se nas leis que lhes determinaram a gênese e a evolução. A geomorfologia pode ser dividida em: Geomorfologia continental e Geomorfologia submarina. Geomorfologia descritiva: estuda as formas topográficas e suas características. Geomorfologia evolutiva: estuda as diversas etapas pelas quais passa um relevo terrestre até chegar na fisionomia atual. É a explicação do relevo atual. A geomorfologia é mais uma ciência da superfície. Tanto que o estudo das formações superficiais é seu grande campo. “a geologia estuda mais a estrutura do subsolo que as formações superficiais. A geomorfologia se interessa pela superfície, dá importância particular às formações.” (GUERRA, 2006) Qualquer parte da litosfera pode ser modificada de três maneiras diferentes: a – movimentos tectônicos b – adição de material – acumulação de origem vulcânica e duna. Relevo de acumulação. c – retirada de material – falésias. Relevo de erosão. Nos estudos geomorfológicos temos que considerar as forças que atuam. i – Agentes externos, o mesmo que agentes erosivos ou exógenos. Ex: Intemperismos, erosão fluvial, erosão pluvial, erosão eólia, erosão marinha, erosão acelerada devido ação humana. Figura 12: Centro de Nova Venécia. Destaque Edificações e Rio Cricaré. ii – Agentes internos ouendógenos. Ex: tectônico, vulcanismos. As rochas são as substâncias sujeitas à ação das forças internas e externas. Destas forças resultam: deformações, desgastes e acumulações. Qualquer forma de relevo primitivo ou original é passível de modificação, porém as deformações de maior importância são as que resultam da ação de forcas endógenas, especialmente as que são devidas à tectônica. A geomorfologia tem grande ligação com a topografia e a cartografia. Os mapeamentos, plantas topográficas, fotografias aéreas e imagens de satélite são muito importantes para os estudos da geomorfologia. Permitem a elaboração de mapas geomorfológicos. Figura 13: Fonte: Livro Valter Cassetti, pág. 46. Os processos de formação de relevos e paisagens são dependentes do histórico geológico regional e também dos tipos de agressividades ambientais a que encontram-se submetidas. Figura 14: Incisão fluvial. Fonte: (CASSETTI, 2006, p. 11) Figura 15: Energias atuando no relevo. (CASSETTI, p. 18) Figura 16: Fluxograma da dinâmica geomorfológica. (CASSETTI, 2006, p. 38) Figura 17: Deposição de camadas sedimentares. (CASSETTI, p. 52) Figura 18: ação hídrica sobre o relevo. (CASSETTI, 2006, p. 54) Figura 19: formação de talvegues. (CASSETTI, 2006, p. 54) Figura 20: erosão natural, o caso das falésias. (CASSETTI, 2006, p. 55) Figura 21: camadas do solo, ação de vertentes. (CASSETTI, 2006, p. 74) Figura 22: vertentes e solos. (CASSETTI, 2006, p. 111) 3.1 Antropogeomorfologia: o homem como agente modificador Com o passar do tempo, em função do crescimento populacional humano e o surgimento de enormes demandas sociais, ligadas ao suprimento de atividades econômicas e principalmente o caso das grandes metrópoles urbanas, aparece o conceito da antropogeomorfologia, que consiste em estudar e avaliar os impactos das atividades antrópicas sobre o ambiente natural, tornando o homem um agente geomorfológico de alteração ambiental. Observa-se o caso das grandes obras de Engenharia como ações humanas modificando o ambiente, gerando riscos geológicos e geotécnicos em áreas que eram livres destes problemas. 3.2 – Considerações sobre Geomorfologia Urbana Crescimento urbano e precariedade da ocupação No caso das grandes cidades, cada vez mais crescem os impactos geomorfológicos ligados a ocupações em áreas de riscos com possibilidades de acidentes geológicos. Análise ambiental urbana Uma importante demanda geotécnica refere-se à realização de analises do território urbano, visando mapear áreas seguras para a ocupação e parcelamento do solo. Uma das atividades do Engenheiro Civil consiste em avaliar tecnicamente a qualidade dos solos para ocupações, identificando áreas de preservação ambiental e regiões de riscos geológicos e geotécnicos. 3.3 Geotecnia urbana: Exemplos de atuação � Planejamento urbano e mapeamento geotécnico: analise e identificação de áreas para ocupações urbanas a partir de vistorias e estudos geológicos e geotécnicos. Um grupo multidisciplinar com profissionais de Engenharia, Geologia, Biologia, Cartografia, Topografia e Geodésia é responsável por realizar acessórias técnicas a prefeituras e demais entes governamentais, orientando diretrizes para os Planos diretores urbanos. � Inundações: os profissionais Geotécnicos são responsáveis por mapear áreas de riscos de inundações e enchentes, visando evitar ocupações antrópicas nestes locais. � Instabilidade de encostas: consiste na avaliação de locais de riscos de movimentações de massa de solo e rochas instáveis geologicamente, que devem ser bloqueados quanto a possibilidade de ocupações para fins de moradias e atividades econômicas. As áreas de encostas instáveis são regiões de alto risco e quando ocorrem os movimentos de massa, normalmente, a área transforma-se em um cenário de devastação e destruição. � Problemas de subsidências: ocorrem em locais onde existem intervenções de obras geotécnicas de grandes escavações, como é o caso de metrôs e túneis, onde em função das alterações nas propriedades naturais do subsolo, interferências na área acabam gerando o surgimento de crateras na região de entorno. Podem ocorrer também em função de alterações naturais nas rochas e solos em função da química, como é o caso de grutas de rochas calcarias que sofrem intemperismos naturais, deixando o subsolo mecanicamente instável, levando a riscos de desabamentos e colapsos do solo superficial. � Mitigação de acidentes: Atividades técnicas que são realizadas visando corrigir ou remediar eventos de acidentes geológicos e geotécnicos. Obras de contenções e estabilização de áreas visando melhorar as condições de segurança regional. 4 – Intemperismos e Pedologia Os intemperismos são os eventos que ao longo das eras geológicas causam mudanças geomorfológicas sobre os relevos. A superfície livre do planeta pode ser denominada regolito, que é uma fina película representando o contato entre a litosfera e a atmosfera. Como regolito entende-se todo o material inconsolidado que cobre o substrato rochoso inalterado, ou protolito, sendo formado por um material intemperizado “in situ” ou transportado. No regolito as propriedades físicas, químicas e mineralógicas do protolito se alteram, progressivamente de baixo para cima, até atingir os solos em superfície, sempre buscando atingir o equilíbrio com as condições ambientais vigentes. Sobre os regolitos atuam também os processos geomorfológicos que moldam a superfície da terra. Torna-se portanto evidente que o entendimento dos processos responsáveis pela formação dos regolitos é de fundamental importância para o estudo de muitos tópicos ligados ao meio ambiente. Essa importância é essencialmente marcante nas regiões tropicais, onde devido às mais altas temperaturas e umidade, a degradação química é acelerada podendo resultar em regolitos de mais de 100 m de espessura. 4.1 Fatores condicionantes do intemperismo Entre os fatores condicionantes existem duas situações distintas referentes aos contribuintes internos do planeta e os externos. • Fatores Endógenos: Natureza do protolito e tectônica associada, suscetibilidade de alteração dos minerais, química intrínseca das rochas. • Fatores Exógenos: Interdependentes condições climáticas e geomorfológica, calor e umidade, cobertura vegetal, ação física das raízes, circulação de fluidos, constante lixiviação, hidratação de minerais, erosões, ação humana sobre o relevo. 4.2 Intemperismo Físico: Fraturamento por cristalização de sais e insolação. É o intemperismo que fratura os materiais rochosos devido ações internas de cristalização de sais e as variações de insolação. Ao longo de grandes períodos de tempo, os materiais sofrem alterações nos maciços rochosos. Figura 23. Rocha fraturada. Fonte: Google. 4.3 Intemperismo químico: Dissolução, Oxidação e Reações de hidrólise nas rochas. No caso do intemperismo químico ocorre a dissolução da rocha em função de suas propriedades físicas e química e a presença da água ou outro liquido que causa reação química de dissolver a rocha. No caso de grutas em varias regiões do Brasil, usualmente é isto que acontece. Figura 24: formação de gruta. (CASSETI, 2006, p. 86. Figura 25: Grutas de rochas em fase de dissolução química. 4.4 Pedologia É o estudo dos solos, suas características físicas equímicas, propriedades dos diferentes tipos em função de origem mineralógica. Os solos podem ser classificados em 3 classes, sendo: Residuais / Transportados / Orgânicos. • Residuais: são os solos naturais surgidos a partir das alterações de rochas, sendo verdadeiras testemunhas geológicas do histórico de alterações da região. • Transportados: são os solos resultantes da ação das águas de lixiviação que atuam no sentido de carregar as partículas até determinados depósitos sedimentares. • Orgânicos: são os solos onde a matéria orgânica faz parte da constituição, presentes em alagados, pântanos e brejos. Os solos predominantes nas regiões geológicas são classificados: a) Batólitos: Grandes injeções de material magmático que aparecem através de fendas na crosta; b) Bacias sedimentares: Depressão com detritos do entorno; c) Derrames: Saída o espraiamento de magma para a superfície; d) Planícies Costeiras: terreno mais ou menos plano onde os processos de estabilidade no relevo superam aos de degradação próximas ao mar. As obras de Eng. Civil se assentam sobre o terreno e inevitavelmente requerem que o comportamento do solo seja devidamente considerado. Os solos são depósitos heterogêneos de comportamento extremamente complicado. São materiais anisotrópicos e em função da enorme possibilidade de formação pedológica, podem ser considerados materiais com misturas diferentes em todas as regiões do planeta. As peculiaridades dos solos com base no entendimento nos mecanismos de comportamento são imprescindíveis para análise dos projetos e obras de Engenharia. Solo = ( Partículas livres + Água + Ar) Para entender a mecânica dos solos, são consideradas duas áreas distintas sendo a mecânica dos particulados e a mecânica dos sólidos deformáveis. O solo é formado por um conjunto de corpos naturais tridimensionais, resultante da ação integrada do clima e organismos sobre o material de origem condicionado pelo relevo em diferentes períodos de tempo o qual apresenta características que constituem a expressão dos processos e dos mecanismos dominantes na sua formação. Dentro deste ponto de vista, o solo é uma parcela dinâmica e tridimensional da superfície, constituído por um conjunto de características peculiares internas e externas, com limites definidos de expressão. Seu limite superior é a superfície terrestre e seu limite inferior é aquele em que os processos pedogenéticos cessam. (GUERRA, 2008. P. 66) A gênese do solo é influenciada por vários fatores. Os solos não são iguais em todas as partes. As propriedades do solo são sempre dependentes dos materiais originários. Entre os principais fatores de formação dos solos, é possível definir: • Clima • Organismos • Material originário • Relevo • Tempo Os estudos pedológicos, mapeamento e gênese, são de natureza interdisciplinar por excelência, e as interrelacões entre pedologia e meio ambiente ocorrem no momento em que o material de origem do solo é afetado pelos agentes atmosféricos, plantas e animais. (GUERRA, 2008. P. 74) A dinâmica da água sobre os relevos atua diretamente nos processos de formação dos solos. Os processos de drenagens internas e externas influenciam nos relevos. Nas partes altas e relativamente planas, os solos apresentam boa drenagem interna, nas encostas com declives mais acentuados apresentam drenagem boa ou excessiva, porem são mais secos, enquanto que nas partes inferiores das vertentes e nas áreas de várzeas e/ou depressões há predominância de água na massa do solo durante o ano. Esta permanência de água resulta em solos mal drenados. (GUERRA, 2008. P. 76) • Os horizontes dos solos Após o material originário dos solos ser produzido e/ou depositado ocorre a diferenciação de camadas e/ou zonas mais ou menos paralelas à superfície. Estas camadas ou zonas as quais representam a expressão dos processos e dos mecanismos de formação do solo são denominados horizontes. Os horizontes são identificados e diferenciados entre si, com base em características examinadas no campo e complementadas com analises químicas, físicas e mineralógicas. Horizonte O: Camada superficial; Horizonte A: Camada em que o solo perde material para as raízes; Horizonte B: Camada de acumulo de materiais perdidos pelo horizonte A. Horizonte C: Camada de rocha alterada e intemperizada. Horizonte R: Camada de rocha sã. Figura 26: Horizontes do solo. Fonte: Google. Com relação à Mecânica dos Solos na Engenharia Civil, ao longo do tempo, foram sendo definidos parâmetros técnicos dos materiais pedológicos para os projetos de Geotecnia. No livro “Curso básico de Mecânica dos Solos” do autor Carlos de S. Pinto, temos as definições: O conhecimento dos solos, disposto pela natureza em depósitos heterogêneos e de comportamento demasiadamente complicado para tratamento teórico rigoroso, deve-se ao trabalho do Engenheiro Civil Karl Terzaghi, os fundamentos da Mecânica dos Solos. Seus trabalhos, por identificarem o papel das pressões na água no estudo das tensões nos solos e apresentação matemática para evolução dos recalques da argilas com tempo após carregamento, são reconhecidos como o marco inicial da nova ciência de engenharia, mecânica dos solos. A Engenharia Geotécnica é uma arte que se aprimora pela experiência, observação e analise do comportamento das obras, para o que é imprescindível atentar para as peculiaridades dos solos com base no entendimento dos mecanismos de comportamento. Os solos são constituídos por um conjunto de partículas com água (ou outro liquido) e ar nos espaços intermediários. A mecânica dos solos poderia ser incluída na mecânica dos sistemas particulados ou nas soluções da mecânica dos sólidos deformáveis. Todos os solos originam-se da decomposição das rochas que constituíam inicialmente a crosta terrestre. A decomposição é decorrente de agentes físicos e químicos. A primeira característica que diferencia os solos é o tamanho das partículas que os compõem. A diversidade do tamanho dos grãos é enorme. Entre as definições de grãos, em função da granulometria, conforme valores adotados pela ABNT, temos: Tabela 5: Limites das frações de solo pelo tamanho dos grãos. (Pinto, 2006, p. 16) Fração Limites definidos pela ABNT Matacão de 25 cm a 1,0 m Pedra de 7,6 cm a 25 cm Pedregulho de 4,8 mm a 7,6 cm Areia Grossa de 2,0 mm a 4,8 mm Areia Média de 0,42 mm a 2,0 mm Areia Fina de 0,05 mm a 0,42 mm Silte de 0,005 mm a 0,05 mm Argila inferior a 0,005 mm 5 – Índices físicos de solos e rochas 5.1 – Índices dos solos Os índices físicos de solos e rochas são fundamentais para a elaboração dos projetos e realização das obras. A partir da definição destas variáveis, torna-se possível adotar soluções de cálculos e definição de soluções para os problemas técnicos de infraestrutura. Por (PINTO, 2006, p. 21) temos: A identificação dos solos pode ser realizada por meio de ensaios de laboratório. • Análise granulométrica: para o reconhecimento do tamanho dos grãos de um solo, realiza-se a analise granulométrica que consiste em 2 fases: peneiramento e sedimentação. A fase de peneiramento consiste em separar através de diferentes peneiras frações do solo de acordo com a abertura dimensional das telas. No caso das partículas de maior diâmetro, esta fase é bastante eficaz. No caso das partículas menores, a analisegranulométrica é realizada a partir da sedimentação do material, em equipamento especial densímetro. Análise Granulométrica: que permite através de peneiramentos de solos identificar as frações granulométricas em relação a diferentes peneiras e definir os percentuais de materiais presentes na amostra podendo estes ficar divididos em areia, silte e argila de acordo com os resultados quantitativos dos peneiramentos. Figura 27: Densimetro e Peneiras. Fonte: Google. • Índices de consistência – Limites de Atterberg Em função do tamanho das partículas ocorrem diferentes comportamentos dos solos perante a água. A fração fina dos solos tem uma importância muito grande neste comportamento. Quanto menores as partículas maior será a superfície especifica. As partículas de minerais argila diferem acentuadamente pela estrutura mineralógica, bem como pelos cátions adsorvidos. O estudo dos minerais argila é demasiado complexo. A procura de uma forma mais pratica de identificar a influencia das partículas de argila, a Engenharia substituiu a análise granulométrica por uma analise indireta, baseada no comportamento do solo na presença de água. Generalizou-se, para isto, o emprego de ensaios e índices propostos pelo Eng. Atterber e pelo Eng. Casagrande. Índice de consistência ( Limites de Atterberg ) no caso dos solos argilosos, visando encontrar uma forma mais prática de identificar a influencia das partículas de argila. Criou-se um método indireto baseado no comportamento do solo na presença de água. São os chamados índices limites de Atterberg. Estes limites são baseados na constatação que um solo argiloso ocorre com aspectos bem distintos conforme seu teor de umidade, sendo: a) quando muito úmido, se comporta como líquido b) quando perde água – fica plástico c) quando muito seco – fica quebradiço Os teores de umidades correspondentes às mudanças de estado são definidos como: Limite de Liquidez (LL) Limite de plasticidade (LP) A diferença entre os dois limites é definida como Índice de Plasticidade (IP). Figura 28: Limites de Atterberg. (PINTO, 2006, p. 25) As partículas muito finas possuem maior superfície especifica e a ação da água é diferente nos solos argilosos. O estudo dos minerais argila é de alta complexidade. O Professor Arthur Casagrande inventou um aparelho que a partir de amostras de argila e diferentes níveis de umidade é capaz de indicar com precisão qual é o Índice de plasticidade das argilas. Os índices de Atterberg são utilizados na determinação da compressão das argilas em solos sujeitos a recalques, sendo possível prever o comportamento dos materiais após a aplicação. Definidas as frações de materiais nas amostras de solos, é possível realizar outros testes visando caracterizar o estado dos solos, a quantidade de água e ar pode variar entre as 3 fases, desta maneira são definidos índices que relacionam estas grandezas, sendo: Figura 29: as fases do solo. (PINTO, 2006) Umidade: Relação entre o peso da água e sólidos. Índice de vazios: (Volume de vazios / Volume das partículas) Porosidade: (Volume de vazios / Volume total) x 100 Grau de saturação: (Volume de água / Volume de vazios) x 100 Peso específico dos sólidos (ou dos grãos) = (peso / volume) O estado dos materiais é obtido a partir das análises dos resultados dos ensaios de índices físicos de solos: � No caso de areias, avalia-se a compacidade: o estado em que se encontra uma areia pode ser expresso pelo seu índice de vazios. Avalia-se se a areia está compacta ou fofa. É preciso avaliar o índice de vazios máximo e mínimo, e depois graduar a situação local, para definir a compacidade da areia. � No caso das argilas, avalia-se a consistência. O estado em que se encontra uma argila costuma ser indicado pela resistência que ela apresenta. Em função da resistência a compressão simples, a consistência das argilas pode ser expressa pelos termos: Tabela 6: Consistência em função da resistência à compressão. (PINTO, 2006, p. 40) Consistência Resistencia em kPa muito mole < 25 mole 25 a 50 média 50 a 100 rija 100 a 200 muito rija 200 a 400 dura > 400 Previsão de compressibilidade de solos arenosos e argilosos no caso dos terrenos mais permeáveis e impermeáveis. 5.2 Índices das rochas São os índices físicos obtidos através de relações das medições de amostras de rochas em laboratório. A partir do peso, volume, teor de umidade, testes de resistência é possível encontrar os índices físicos. São realizados testes de caracterização das rochas para obter os seguintes índices: Densidade Resistência química Índice de vazios Porosidade Tenacidade Absorção de umidade Teste de abrasão Durabilidade Resistência a compressão 6 - Métodos de Investigação Geológica A investigação geológica é muito importante para as obras de Engenharia. A partir das avaliações de subsolo realizadas com os resultados dos testes de sondagens e investigação, é possível definir as melhores soluções técnicas para a infraestrutura de fundações, obras de contenções, aterros, drenagens, cortes de terra e rochas, etc. Entre os principais métodos de investigação geológica é possível definir: • Indiretos – métodos que não permitem o acesso ao material investigado. Utiliza meios indiretos para delimitação. É o caso das imagens de satélite e geoprocessamento com fotos aéreas. • Diretos – permitem o acesso ao material investigado. São as práticas de mapeamento geológico a partir de vistorias in loco e avaliação de amostras de solos e rochas. Existem dois tipos de amostras que podem ser retiradas dos solos e rochas, sendo estas a amostra deformada e a indeformada. A amostra deformada não guarda em seu corpo físico as características originais de tensões e umidades existentes no local estudado e a amostra indeformada preserva a maior parte possível de condições da situação original. É denominado testemunho, o elemento de amostra retirada em campo. São pedaços de rochas e solos retirados durante as atividades de investigação. Devem ser guardados em caixa. A análise de testemunhos permite identificar: tipo litológico, grau de alteração, grau de fraturamento. Figura 30: Testemunhos de rochas. Fonte: Google Os métodos diretos de investigação são mais completos que os métodos indiretos, pois a partir das atividades diretas é possível analisar quais são as propriedades de solos e rochas em laboratório e identificar detalhes técnicos muito mais completos. Entre os principais métodos diretos, temos: a) Mapeamento geológico por vistorias em áreas: consiste em visitar a área de estudos e avaliar visualmente quais são as propriedades e características do solo de superfície. b) Geofísica sísmica e geoelétrica; estes tipos de métodos consistem em aplicar no solo e rocha cargas físicas sonoras ou elétricas visando identificar quais são as camadas de materiais, a partir da avaliação do retorno e resultado dos ensaios. As diferentes camadas de solos respondem de maneira diferentes quando submetidas a esforços e cargas. c) Poços de inspeção e trincheiras com dimensões 1,0 x 1,0 e escavação manual. O ideal é que sejam feitas mecanicamente. São arriscadas, devido desmoronamentos e permitem a coleta de amostras indeformadas. d) Sondagem a trado – escavação manual com trado fornece amostra deformada do solo, atravessa algumascamadas de solo, linhas de seixos e água. É um método rápido, portátil que atinge profundidade de 25 a 30 metros. Não atravessa rochas. Figura 31: Sondagem a trado. Fonte: Google. e) Sondagem a percussão – é executada com tripé, e parte é escavada manualmente com trado. É realizada investigação através do impacto de um peso sobre elemento tubular que segue avançando na profundidade do solo. A profundidade varia de 20 até 40 metros, permite escavação abaixo do nível de água, permite o monitoramento do Nível de água, instalação de piezômetros. Figura 32: Sondagem a percussão. Fonte: Google. f) Sondagem rotativa – é executada com equipamentos próprios (tripé, perfuratriz, bombas, brocas, etc.). possui capacidade de atravessar qualquer tipo de material e chega até 200m de profundidade. O sistema de perfuração é tipo sondagem a percussão no trecho de solo e no trecho rochoso o processo rotativo com brocas e barriletes amostradores, a perfuratriz possui coroa diamantada, sendo os fragmentos retirados por água. O diâmetro de perfuração para solo é 100 mm e para rocha de 60 a 100mm. Permite a retirada de testemunhos da rocha atravessada, recuperados pelo barrilete. A recuperação, relação entre o comprimento perfurado e o comprimento de testemunhos recuperados não pode ser inferior a 90%. A recuperação depende do tipo litológico, grau de fraturamento e alteraçao da rocha, o tipo de equipamento e os acessórios. O processo poderá ser melhorado com manobras curtas e cuidadosas. Os equipamentos precisam de coroas e barriletes apropriados. Permite a realização de ensaios de permeabilidade do maciço rochoso por injeção de água. É um método lento (5 m/dia). A profundidade máxima de até 500m. O método de sondagem rotativa é o mais completo dispositivo de investigação a disposição da geologia de Engenharia. Possui alto custo a obtenção de muitas informações do método. Figura 33: imagem de sondagem rotativa. Fonte: Google. g) Sondagem a roto-percussão: perfuração com ar comprimido e brocas que pulverizam o material atravessado. É um método veloz que fragmenta a pó as camadas atravessadas. É utilizada para execução de perfurações para acessos a locais para instalação de instrumentos. Método muito sofisticado e com alto custo, geralmente utililzado por grandes empresas de Engenharia pesada. Ensaio SPT – Standard Penetration Test É realizado na base de um furo de sondagem de solo. Consiste em cravar no terreno um amostrador com dimensões e energia de cravação normalizadas (pilão 63.5 kg e altura h=760 mm). O ensaio se dá em 3 fases com penetrações de 15cm. Desprezando os primeiros 15cm, o numero de pancadas para atingir a penetração de 30cm define o valor de N (SPT). É um ensaio muito utilizado pois é expedito e pouco dispendioso. Relatório de sondagem: Os resultados devem conter as informações dos ensaios realizados as características das amostras. A quantidade de informações vai depender do tipo de sondagem que foi realizada. Entre as principais informações a serem apresentadas, temos: a identificação da sondagem, a inclinação e rumo do furo, datas, diâmetros, tipos de barriletes e coroas, cota do local, coordenadas GPS, leitura do nível de água, ensaios SPT, Recuperação de testemunhos, índice de qualidade da rocha, resultado do ensaio de permeabilidade e perda de água, descrição geológica do material atravessado e grau de alteração ou fraturamento. Bibliografia CASSETTI, V. Introdução à Geomorfologia do Brasil. Disponível em: <http://www.funape.org.br/geomorfologia/cap1/>, UFG, 2013. CUNHA, S. B. da (org.); GUERRA, A. J. T. (org.). Geomorfologia e meio ambiente. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996. GOMES, R. C. Apresentações de aula de Obras de Terra. UFOP. 2010. GUERRA, A. J. Dicionário Geológico-Geomorfológico. 6ª Ed. Bertrand Brasil. Rio de Janeiro, 2008. LIMA, Edgar. Notas de aula, 2014. PINTO, C. S.. Curso Básico de Mecânica dos Solos. São Paulo: Oficina de Textos, 2006. UFV. Conteúdos Básicos de Geologia e Pedologia. 2005. Disponível em: < http://www.cefetbambui.edu.br/grupos_de_estudo/gesa/download/livros/geologia_e_%20pedologia_ do_solo.pdf>
Compartilhar