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George Marmelstein – O caso Jobim. Artigos não votados da CF 88

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Organização Educacional Farias Brito
Faculdade Farias Brito
Curso de Direito
Disciplina: Direito Constitucional I
Texto para debate em sala de aula: Caso Jobim
Cinco artigos da Carta nunca foram votados
Folha de São Paulo, 09/10/2003
Levantamento feito em arquivos, notas taquigráficas e documentos oficiais da Câmara dos Deputados revela que parte ou a totalidade de pelo menos cinco artigos da Constituição, promulgada em 1988, não passaram por nenhuma das duas votações necessárias no plenário da Constituinte. Entre eles, está o que inclui as medidas provisórias (um dos principais mecanismos usados pelo Executivo) como uma das atividades do processo de legislar.
A documentação da época, disponibilizada e checada pela Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, mostra que os artigos 2º, 14, 29, 59 e o 70 das Disposições Transitórias passaram por alterações quando já estavam na Comissão de Redação da Constituinte, responsável pelo texto final dos pontos aprovados no plenário.
Não caberia, na comissão, inclusões ou alterações que modificassem o mérito das matérias aprovadas, apenas a adequação e correção da redação. No caso das medidas provisórias, não há nem registro da alteração na comissão, o que levanta a suspeita de que o ponto tenha sido incluído entre a aprovação da redação final e a publicação no "Diário Oficial".
O artigo 59 é o primeiro da seção que trata do processo legislativo, determinando que ele "compreende a elaboração de: emendas à Constituição, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções".
Nos textos aprovados em primeiro e segundo turno durante o Congresso constituinte (fevereiro de 1987 a outubro de 1988), o item "medida provisória" não constava do parágrafo. Nos registros das alterações feitas nas sessões da Comissão de Redação, guardados na Seção de Documentos Legislativos, não há registro da inclusão.
Vale ressaltar que as normas e características das MPs, bem como sua criação, estão listadas no artigo 62 e foram votadas normalmente nos dois turnos. O que faltou foi incluir o mecanismo como uma das atribuições do legislador. A MP foi criada para substituir o decreto-lei, instrumento legislativo instituído no regime militar.
O levantamento feito pela Folha partiu da revelação feita pelo hoje ministro do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim (na época, deputado), de que artigos da Constituição teriam sido incluídos pelas lideranças partidárias sem terem passado por votação em dois turnos no plenário, como determinava a emenda constitucional 26, que convocou a Assembléia Nacional Constituinte. Ele disse que isso ocorreu em duas ocasiões, mas só revelou a do artigo 2º, que trata dos Poderes da União. A expressão "independentes e harmônicos entre si" foi incluída na comissão de redação por sugestão de Michel Temer.
Em relação aos outros três casos detectados pela Folha, um aumenta o número mínimo de vereadores, outro estabelece idade mínima para ser juiz de paz e o terceiro manteve a competência dos tribunais até a promulgação das constituições estaduais.
O primeiro (art. 29, inciso IV, alínea c) foi uma sugestão do deputado Roberto Freire e acabou resultando no aumento do número mínimo de vereadores nas cidades com mais de 5 milhões de habitantes, de 33 para 42. No texto aprovado em primeiro e segundo turnos, a previsão era de um mínimo de 33. Como o piso previsto para cidades entre 1 e 5 milhões também era de 33 vereadores, o relator, Bernardo Cabral, acatou a sugestão na Comissão de Redação. Cabral disse que corrigia "uma profunda injustiça".
A idade mínima de 21 anos para ser juiz de Paz também entrou na Constituição sem ter sido votada nos dois turnos em plenário (art. 14, parágrafo 3º, inciso VI, alínea c). A sugestão foi do deputado Ricardo Fiúza, que argumentou na época ser necessária a medida já que a nova constituição determinava que os juízes de paz seriam eleitos. "Amanhã iremos ter juiz de Paz com 18 anos", alegou.
Por fim, uma emenda de Nelson Jobim apresentada à Comissão de Redação acrescentou às Disposições Transitórias o artigo 70, que manteve a competência dos tribunais estaduais até a promulgação das constituições estaduais.
Mas não é só: pelo menos 20 outros artigos tiveram pontos modificados entre as votações de primeiro e segundo turno. Só foram aprovados em um turno, quando precisariam de duas votações.
Líderes sabiam de inclusão de dois artigos na Constituição, diz Jobim.
Pelos menos cinco líderes partidários participaram da reunião no gabinete do então presidente da Assembléia Nacional Constituinte, Ulysses Guimarães, em que ficou decidida a inclusão de dois artigos na Constituição de 1988 sem o conhecimento dos demais constituintes.
A revelação foi feita pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Nelson Jobim. Ele afirmou que, na época, fez um pacto verbal com Ulysses de que o segredo seria guardado até o aniversário de 15 anos da Carta _o prazo expirou no último domingo.
Dos dois artigos, Jobim revelou um, o que trata da independência e da harmonia entre os Poderes (artigo 2º). O segundo, de acordo com ele, será revelado em um livro que irá escrever sobre os bastidores da Constituinte. Os artigos foram incluídos após aprovação da Comissão de Redação, composta por líderes partidários para checar as correções gramaticais e organizar o texto para a votação final, que era apenas simbólica.
Os participantes
Além de Jobim, participaram da reunião no gabinete de Ulysses pelo menos cinco constituintes. Desses, dois morreram: Mário Covas (então PMDB-SP) e Brandão Monteiro (PDT-RJ). Os outros são Plínio Arruda Sampaio (PT-SP), José Lourenço (PFL-BA) e Gastone Righi (PTB-SP).
"Atuei durante 20 anos como deputado federal e este é o único segredo que não vazou durante todo esse tempo", afirmou José Lourenço, que diz se lembrar "bem" da reunião, mas não do teor do segundo artigo que foi incluído na Constituição sem passar pelos dois turnos de votação.
"Não me lembro do artigo, mas asseguro que era algo sem importância, que não afetava em nada a vida do brasileiro", disse José Lourenço. Segundo ele, a reunião ocorreu por volta das 11h, depois de o texto ser votado em segundo turno no plenário.
Righi foi procurado pela Folha, mas sua família informou que ele estava em um vôo, retornando de Portugal para o Brasil. Arruda Sampaio, também segundo a família, permaneceu em reunião fechada durante toda a tarde.
Jobim afirmou que um terceiro artigo, também sem votação no plenário, quase foi incluído no texto final da Constituição. Segundo o ministro, o texto tratava da possibilidade de perda de patente por policiais militares. "Não houve um consenso entre os líderes e isso foi deixado de fora."
Jobim participou ontem de evento na Unip (Universidade Paulista), onde fez palestra sobre as razões históricas e políticas do modelo republicano e discutiu a reforma do Judiciário para cerca de 800 alunos e professores.
Questões para debate:
Partindo do pressuposto de que os fatos acima narrados são verdadeiros, quais as conseqüências práticas daí advindas?
Será que os artigos constitucionais que foram incluídos no texto promulgado sem a devida votação são válidos?
É possível punir os responsáveis pela inclusão dos artigos de alguma forma?
A proposta do jurista Celso Bandeira de Mello de pedir o impeachment do Min. Nelson Jobim tem fundamento?
Será que por trás dessas revelações existe algum interesse obscuro, como por exemplo, o enfraquecimento da Constituição de 1988 no intuito de propor uma nova “Assembléia Constituinte”? 
Seria oportuna uma Assembléia Constituinte nesse momento histórico do Brasil?
A quem interessa o enfraquecimento da Constituição de 1988?

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