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UNIDADE 1
Contextualização 
epidemiológica 
e enfrentamento 
da aids
Márcia Cavalcante Vinhas Lucas
Elizabethe Cristina Fagundes de Souza
O cuidado de 
pessoas com 
HIV/aids na 
Atenção Básica
2
Introdução
 
Bem-vindo ao Curso O cuidado de pessoas com HIV/aids na Atenção 
Básica!
Ele pretende capacitar profissionais para atuarem na prevenção, diagnós-
tico e tratamento do HIV no âmbito da Atenção Básica. Sua elaboração 
contou com a escuta e a participação de vários profissionais que atuam 
em universidades, Ministério da Saúde, serviços de atenção especializada 
e unidades de saúde da Atenção Básica, estas em situações diversas de 
implantação do cuidado às Pessoas Vivendo com HIV/aids (PVHA). Essa 
composição da equipe possibilitou agregar os diversos olhares sobre a 
atenção às PVHA, na perspectiva da transição do modelo de atenção.
Há recomendações para atender pessoas ou mesmo para fazer testes 
diagnósticos para HIV em Unidades Básicas de Saúde desde o final dos 
anos 1990, tendo sido consolidado, em 2011, com o lançamento do Pro-
grama Rede Cegonha, que definiu ações específicas para testagem rápi-
da para gestantes. Apesar destas recomendações, a testagem para HIV 
ficou centralizada por muito tempo nos Centros de Testagem e Aconse-
lhamento (CTA) e nos Serviços de Atenção Especializada (SAE).
O desenvolvimento do conhecimento sobre a infecção por HIV e sobre as 
mudanças de suas características epidemiológicas, clínicas, de diagnósti-
co, de tratamento e modos de prevenção da doença tem exigido novas 
estratégias de organizar a atenção nos serviços para melhor cuidar das 
pessoas e responder de maneira mais efetiva ao controle da epidemia. 
Uma dessas estratégias é o compartilhamento do cuidado à pessoa viven-
do com HIV/aids (PVHA) entre a Atenção Básica e o Serviço de Atenção 
Especializada (SAE). A recomendação é que o fluxo entre SAE e Atenção 
Básica seja via de mão dupla, tanto nos processos de cuidado em saúde 
quanto no fluxo dos pacientes, de modo compartilhado e Integral.
Este compartilhamento, na perspectiva da integralidade, exige a necessi-
dade de reorganizar ações e práticas em todos os serviços de saúde para 
estruturação de redes de atenção regionalizadas com funcionamento 
efetivo e incorporação de concepção de saúde ampliada que produza, 
além da assistência às pessoas infectadas, o cuidado integral, desde a 
promoção da qualidade de vida e intervenções em situações de vulnera-
bilidades e nos fatores que as colocam em risco.
O SAE, ao longo de sua existência, adotou modelos eficientes e seguros 
de atenção às Pessoas Vivendo com HIV/aids (PVHA). No entanto, a atu-
al política, ao ser indutora de diagnóstico e tratamento precoces, asso-
ciados à cronicidade da infecção por HIV, orienta um novo modelo de 
organização na produção do cuidado. A proposta não é retirar o papel 
do serviço especializado, mas sim ampliar o cuidado para atenção básica 
– cada serviço com seu perfil.
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Este curso pretende capacitar profissionais de saúde da rede básica para 
produzir cuidado às PVHA, considerando a transição do modelo de aten-
ção especializada para o modelo de cuidado compartilhado. 
A seguir, você verá algumas diretrizes norteadoras da proposta pedagó-
gica do curso.
• Noção de educação permanente como movimento potencializador de 
mudanças de práticas e de reposicionamento dos sujeitos no seu trabalho. 
Desse modo, para além da capacitação técnica dos profissionais, desejamos 
que os conhecimentos aqui adquiridos estimulem cada profissional a refletir 
o processo de trabalho e buscar mudanças nos modos de olhar a epidemia 
de HIV/aids e de cuidar das pessoas, na perspectiva dos direitos humanos e 
da promoção da saúde, considerando as vulnerabilidades para a prevenção 
à infecção do HIV.
• Adoção da metodologia problematizadora em que os conteúdos são tra-
balhados a partir da análise de situações concretas, próximas à realidade 
vivenciada por cada trabalhador e sistematização de novos conhecimentos 
ou atualização dos já existentes. O curso está organizado em quatro Unida-
des de Aprendizagem e o recurso disparador para o desenvolvimento dos 
conteúdos são cincos casos-problemas, elaborados com base em situações 
identificadas por profissionais de saúde. 
• Adoção do cuidado integral e compartilhado como eixo norteador na 
mudança de modelo centrado na assistência especializada às PVHA. 
A integralidade na atenção à saúde é um dos princípios do SUS, que orien-
ta políticas públicas em saúde e ações programáticas/estratégicas que 
respondam às demandas e necessidades da população no acesso à rede 
de cuidados em saúde. Para tanto, deve considerar a complexidade e as 
especificidades de diferentes abordagens do processo saúde-doença e nas 
distintas dimensões, biológica, cultural e social da pessoa a ser cuidada. A 
integralidade se constrói no cotidiano dos processos de trabalho e pelo con-
junto dos profissionais dos serviços de saúde. O cuidado integral e compar-
tilhado exige postura ética e dialógica, assumida por profissionais e serviços 
de saúde para desenvolverem um conjunto de ações necessárias ao atendi-
mento do usuário, considerando seus saberes e seus contextos individual, 
familiar e social. Esse tema estará presente nas Unidades 2, 3 e 4. 
Os cinco casos-problemas que nortearão as reflexões durante o 
desenvolvimento de conteúdo estão apresentados em formato de 
histórias em quadrinhos. 
Desejamos que você aproveite bem toda programação que foi elaborada 
com muito carinho e dedicação pela equipe que pensou em cada um de 
vocês que trabalha na Atenção Básica nos diversos recantos deste país.
Bons estudos!
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AULA 1 - A SITUAÇÃO 
EPIDEMIOLÓGICA DA AIDS NO 
CONTEXTO ATUAL
O HIV E A AIDS
 
A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (aids), bem como o Vírus da 
Imunodeficiência Humana (HIV), são conhecidos em outros países de lín-
gua portuguesa e espanhola como SIDA e VIH, respectivamente, utilizan-
do como referência as palavras em sua língua nativa.
HIV = VIH
AIDS = SIDA
A aids é uma doença identificada no final do século XX, mais especifica-
mente no início da década de 1980, e tem apresentado diferentes desafios 
desde a sua descoberta. No início do século XXI, ela continua desafiadora 
e nos instigando a buscar novas formas de olhar para a saúde das pessoas 
e para as relações que a sociedade estabelece com o HIV/aids.
A história do HIV é bem documentada. Esse vírus tem sido estudado ao 
longo desses mais de 30 anos por cientistas de várias partes do mundo. 
Se não tratado, o HIV destrói o sistema imunológico e resulta na Síndro-
me da Imunodeficiência Adquirida (aids). 
No quadro a seguir, faremos uma síntese das características da infecção 
em sua evolução clínica. Na Unidade 3, você saberá mais detalhes quanto 
à identificação e condutas a serem realizadas em cada uma dessas fases.
Estágio da Doença Características
Fase aguda: síndrome 
retroviral aguda, ou 
infecção primária
É um quadro autolimitado que aparece de três a quatro 
semanas após o contágio. 
Cerca de 50 a 90% dos infectados desenvolverão um 
quadro viral agudo.
Seu diagnóstico é pouco realizado, devido ao baixo índice 
de suspeição clínica e da dificuldade de se detectar anti-
corpos nesse período.
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Fase assintomática Pode durar cerca de 10 anos ou mais. 
Nesse período, a pessoa geralmente não apresenta 
sintomatologia. 
Linfadenopatia (aumento dos gânglios linfáticos), generali-
zada, persistente e indolor pode estar presente. 
Essa fase tem importância significativa na transmissão 
do vírus, porque o indivíduo não se sente doente e man-
tém sua atividade sexual habitual.
Um percentual significativo de pessoas desconhece seu 
estado sorológico positivo.
Fase sintomática e aids Ocorrência de manifestações relacionadas à presença da 
imunodeficiência decorrenteda infecção pelo HIV.
Febre, perda de peso, diarreia, tosse, anorexia, astenia, 
aumento dos gânglios linfáticos, dermatite persistente, 
disfunção do sistema nervoso central, febre e anemia.
Fase mais avançada da imunodeficiência dentro do 
espectro da infecção crônica pelo HIV.
Manifestações inespecíficas peculiares à doença.
Ocorrência das infecções oportunistas: pneumocistose, 
neurotoxoplasmose, histoplasmose, criptococose, cito-
megaolovirose, isosporíase, criptosporidiose, candidía-
se, tuberculose (formas disseminadas) e neoplasias.
Quadro 1 - Características da infecção por HIV em sua evolução clínica.
Fonte: Brasil (2017c).
 Agora que já abordamos diferenças entre HIV e aids, convidamos você a compreender como 
se produziu historicamente a epidemia em nossa sociedade. A Linha do tempo 1 que está no 
AVASUS é uma adaptação do texto produzido por Richard Parker e Vera Paiva, disponível em: 
<https://rets.org.br/?q=node/1481>. Acesse!
Linha do Tempo 1
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Henfil - Henrique de Souza Filho era hemofílico e sempre teve 
uma saúde bastante delicada, assim como seus dois irmãos, 
Herbert de Sousa, o Betinho, e Francisco Mário. Além deles, 
tinha mais cinco irmãs.
Henfil teve uma atuação marcante nos movimentos políticos e 
sociais do país, lutando contra a ditadura, pela democratização 
do país, pela anistia aos presos políticos e pelas Diretas Já. 
Na história dos quadrinhos no Brasil, ele renovou o desenho 
humorístico com seus personagens “Os Fradinhos”, o “Capitão 
Zeferino”, a “Graúna”, e “Bode Orelana”, entre outros. 
Devido a uma transfusão de sangue em um hospital público, 
durante tratamento da hemofilia, contraiu o vírus da aids e 
faleceu em 1988, em decorrência da doença.
 <http://educacao.uol.com.br/biografias/henfil.htm>. 
Acesso em: 13 dez. 2017.
 As conquistas alcançadas historicamente no enfrentamento da epidemia 
serão sempre ameaçadas por forças políticas com outros valores. A per-
sistência de uma boa análise social e humanista, uma resposta baseada 
em direitos humanos e com a garantia da participação dos movimentos 
sociais dispostos a lutar para proteger tais conquistas são o que pode 
assegurar continuidade e sustentabilidade ampliada da resposta ao HIV/
aids no Brasil e no mundo.
Convidamos você a assistir o vídeo História ilustrada da aids, que aborda 
a luta contra a aids no Brasil (acesse o link <https://www.youtube.com/
watch?v=Kg9nVYs-xRk>).
Você, em sua prática profissional, já atendeu alguém que consi-
derou estar em situação de limitações de direitos sociais? Que 
tipo de situação? Como você se posicionou profissionalmente?
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Convidamos você a assistir o vídeo a seguir. Trata-se de uma 
produção do Núcleo de Estudos para Prevenção da aids 
(NEPAIDS) que mostra como, ao longo do desenvolvimento 
da epidemia, ocorreram os avanços quanto à prevenção, tra-
tamento e diagnóstico, e também que perspectivas há para 
as próximas décadas.
Fonte: <https://www.youtube.com/watch?v=DR7940CeQ2Q&feature=player_embed-
ded>. Acesso em: 13 dez. 2017.
A AIDS AINDA NÃO TEM CURA, MAS...
Ainda não alcançamos a cura efetiva da aids, mas cientistas de diversos 
países estão trabalhando intensamente em busca de resultados. Diante 
da impossibilidade atual de cura, é importante ressaltar que a pessoa 
que vive com o HIV pode ter o vírus controlado e não progredir para o 
estágio da doença aids, desde que esteja em tratamento, com cuidados 
apropriados e carga viral suprimida. Quanto aos serviços, estes devem 
oferecer testagem e diagnóstico, para que as pessoas com resultado 
reagente possam entrar em tratamento o mais cedo possível.
Você já deve ter percebido que muitas coisas mudaram desde os anos 
1980, em especial a partir de 1987, com a introdução do primeiro antirre-
troviral - o AZT (Zidovudina ou Azidotimidina). Desde então, o tratamen-
to para o HIV se ampliou em termos de acesso e de opções de fármacos, 
o que tem repercutido positivamente na efetividade do tratamento e 
resultado no aumento da expectativa e qualidade de vida das pessoas 
vivendo com HIV/aids (PVHA). 
O tratamento para o HIV, terapia antirretroviral (TARV), pode prolongar 
significativamente a vida de pessoas infectadas pelo vírus e diminuir as 
chances de transmissão. Antes da introdução da TARV, em meados dos 
anos 1990, pessoas com HIV progrediam para a aids em torno de uma 
década. Hoje em dia, se alguém for diagnosticado com HIV e tratado 
antes do desenvolvimento da imunossupressão poderá ter uma expec-
tativa de vida quase igual à de uma pessoa não infectada. 
Além do tratamento adequado, o diagnóstico é outro importante aliado 
no enfrentamento da epidemia. Em 1985, foi disponibilizado o primei-
ro teste anti-HIV e, desde então, avanços tecnológicos têm permitido o 
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diagnóstico seguro da infecção em indivíduos de todas as idades a partir 
de diferentes métodos como, por exemplo, o Teste Rápido com uso da 
gota de sangue obtida por meio da punção digital e do fluido oral, obtido 
pressionando a gengiva, por meio de um coletor.
Figura 1 - Método de fluido oral para o Teste Rápido para HIV.
Fonte: Brasil (2014).
Figura 2 - Método de punção digital para coleta de sangue para o Teste Rápido 
para HIV.
Fonte: Freitas, Souza e Melo (2017, p. 8).
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O Ministério da Saúde do Brasil capacitou organizações não governa-
mentais para a aplicação do teste rápido por meio do fluido oral em 
populações-chave, uma proposta arrojada de expansão do diagnóstico. 
Nesse percurso, ampliou-se a possibilidade de acesso oportuno ao diag-
nóstico e viabilizou-se a sua realização em diferentes situações e locali-
dades nas quais a infraestrutura laboratorial esteja ou não disponível. 
A OMS define populações-chave como grupos que, devido 
a comportamentos de alto risco específicos, estão em maior 
risco de HIV, independentemente do tipo de epidemia ou 
contexto local. 
Além disso, elas muitas vezes têm problemas jurídicos e sociais 
relacionados com os seus comportamentos, o que aumenta 
sua vulnerabilidade ao HIV. 
Essas pessoas estão em maior risco de infecção pelo HIV e 
ainda estão menos propensas a ter acesso à prevenção, testes 
e serviços de tratamento. Em muitos países, são deixadas de 
fora dos planos nacionais de HIV e a existência de leis e políti-
cas discriminatórias são as principais barreiras para o acesso.
Se quiser obter mais informações, você poderá encontrar no 
link <http://www.rets.epsjv.fiocruz.br/noticias/oms-lanca-novas-
-diretrizes-sobre-prevencao-diagnostico-e-tratamento-da-aids>. 
Acesso em 19 jan. 2018.
A Figura 3 sintetiza possíveis situações do emprego dos testes para 
detecção do HIV.
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Figura 3 - Indicações para testagem para HIV.
Fonte: Adaptado de Brasil (2015).
Os insumos de prevenção – preservativos masculino e feminino e gel lubri-
ficante – têm papel fundamental na luta contra o HIV/aids. No início da 
epidemia, eram distribuídos em momentos pontuais, tais como Carnaval 
e o Dia Mundial de Luta Contra aids ou por meio de projetos de pesquisa. 
Em 1994, o SUS passou a adotar a distribuição ampla e sistemática de pre-
servativos masculinos e géis lubrificantes (DOURADO, 2015).
Grandes transformações ocorreram no campo da prevenção do HIV nos 
últimos 35 anos. Atualmente, a prevenção efetiva do HIV requer uma 
combinação de estratégias de intervenções comportamentais, biomé-
dicas e estruturais (prevenção combinada), que estão resumidas no 
Quadro 2. Sabe-se que uma única estratégia de prevenção não será sufi-
ciente para o controle das múltiplas epidemias do HIV.
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CATEGORIA DEFINIÇÃO EXEMPLOS DE AÇÕES
Intervenções 
Biomédicas
São estratégias voltadas à 
redução do risco de exposi-
ção mediante intervenção na 
interação entre o HIV e a pes-
soa passível à infecção. Essas 
estratégias podem ser dividi-
das em dois grupos: interven-ções biomédicas clássicas, que 
empregam métodos de barrei-
ra física ao vírus, já largamente 
empregados no Brasil; e inter-
venções biomédicas baseadas 
no uso do antirretroviral (ARV).
Distribuição de preserva-
tivos masculinos e femi-
ninos; distribuição de gel 
lubrificante; oferta de Tes-
tagem; tratamento para 
todas as pessoas; profilaxia 
Pós-Exposição – PEP; profi-
laxia Pré-Exposição – PrEP; 
tratamento das Infecções 
Sexualmente Transmissíveis 
– IST.
Intervenções 
Comportamentais
São estratégias que contri-
buem para o aumento da infor-
mação e da percepção do risco 
à exposição ao HIV e para sua 
consequente redução, median-
te incentivos a mudanças de 
comportamento do indivíduo e 
da comunidade ou grupo social 
em que está inserido.
Incentivo ao uso de preser-
vativos masculinos e femi-
ninos; aconselhamento ao 
HIV/aids e outras IST; incen-
tivo à testagem; adesão às 
intervenções biomédicas; 
vinculação e retenção aos 
serviços de saúde; redução 
de danos para as pessoas 
que usam álcool e outras 
drogas; estratégias de 
comunicação e educação 
entre pares; campanhas de 
prevenção em HIV e outras 
IST.
Intervenções 
Estruturais
São estratégias voltadas a 
enfrentar fatores e condições 
socioculturais que influen-
ciam diretamente a vulne-
rabilidade de indivíduos ou 
grupos sociais específicos 
ao HIV mediante preconcei-
to, estigma, discriminação ou 
qualquer outra forma de alie-
nação dos direitos e garantias 
fundamentais à dignidade 
humana.
Ações de enfrentamento ao 
racismo, sexismo, homofo-
bia e demais preconceitos; 
promoção e defesa dos 
Direitos Humanos; campa-
nhas educativas e de cons-
cientização.
Quadro 2 - Componentes da prevenção combinada.
Fonte: Adaptado de Brasil (2017b).
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No Brasil e no mundo, há uma imensa expectativa e aposta nas cha-
madas “novas tecnologias de prevenção” ou “tecnologias biomédicas” 
de prevenção (DOURADO, 2015). Na Unidade 3, faremos uma discussão 
ampliada sobre prevenção combinada.
Você deve já ter concluído, a partir da leitura feita até aqui, que, para 
alcançarmos o fim de novas infecções pelo HIV e mortes relacionadas à 
aids, faz-se necessário compreender que, atualmente, no Brasil, as estra-
tégias de prevenção são compostas pelo acesso regular e universal aos 
insumos de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento para todos. 
Estes componentes trazem benefícios para todas as pessoas e têm por 
base a garantia dos direitos humanos. Para as PVHA, tais estratégias con-
tribuem para uma melhor qualidade de vida, a partir de benefícios indi-
viduais obtidos pelo tratamento adequado, que reduz as coinfecções, 
outras comorbidades e mortalidade. 
As ações de enfrentamento da aids no Brasil consideram o perfil da epide-
mia, caracterizada como concentrada, garantindo a universalidade e equi-
dade, por meio de ações com foco nas populações-chave e prioritárias.
POPULAÇÕES-CHAVE E POPULAÇÕES 
PRIORITÁRIAS
 
São populações-chave para HIV: profissionais do sexo, pessoas que usam 
drogas, gays e HSH, pessoas trans, pessoas em privação de liberdade. 
Além das populações-chave, o Ministério da Saúde aborda o conceito 
de populações prioritárias, entendidas como aquelas que também são 
afetadas pela epidemia de forma diferente da população geral, consi-
derando que a dinâmica social destas populações varia de acordo com 
o território que ocupam e as colocam em situação de maior vulnerabili-
dade social. Entre estas, estão: pessoas em situação de rua, população 
negra e população indígena.
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Figura 4 - Populações-chave.
Fonte: Freitas, Souza e Melo (2017, p. 7).
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AULA 2 - POLÍTICA DE 
ENFRENTAMENTO DA 
EPIDEMIA DA AIDS NO 
MUNDO E NO BRASIL
 
A infecção pelo HIV constitui-se em uma pandemia, ou seja, está pre-
sente em todas as regiões do planeta e a Organização das Nações Uni-
das está intensamente mobilizada para seu enfrentamento. O Sistema 
das Nações Unidas é composto por organismos que atuam interna-
cionalmente pelo bem-estar e segurança das populações e congrega 
193 países que compartilham informações, políticas e estratégias para 
enfrentar problemas que atingem todo o planeta. As instituições do 
Sistema que estão mais diretamente à frente da resposta à epidemia 
de HIV e aids no mundo são o Programa Conjunto das Nações Unidas 
sobre HIV/aids (UNAIDS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS).
A Política Global de Enfrentamento da Epidemia de HIV e aids no mundo 
tem como documentos de referência global mais importantes as Decla-
rações de Compromisso e Declarações Políticas na Luta Contra o HIV e 
a aids, que têm sido lançadas pela Assembleia Geral das Nações Unidas 
desde 2001. Suas recomendações e análises sobre a epidemia vêm sendo 
atualizadas pelas Declarações de 2006, 2011 e, a mais recente, de 2016. 
As diretrizes, as recomendações e as metas apresentadas nas Declarações 
são adotadas pelos estados membros da ONU, entre eles o Brasil.
A RESPOSTA GLOBAL À EPIDEMIA DO HIV/AIDS
Segundo o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/aids 
(UNAIDS), nos últimos 30 anos, a epidemia mundial de aids já custou 
mais de 35 milhões de vidas com efeitos devastadores em famílias, 
comunidades e países. Ao mesmo tempo, a resposta à epidemia gerou 
um movimento global diante de uma realidade na qual o HIV continua a 
ser a quinta principal causa de morte entre adultos. 
A resposta global à aids está inscrita no âmbito da Declaração do Milê-
nio e dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), que reco-
nhecem que reverter a epidemia global de HIV é um importante avanço 
para promover a saúde das populações. 
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Figura 5 - O combate a aids como um dos Objetivos de Desenvolvimento do 
Milênio (ODM).
Fonte: <http://www.odmbrasil.gov.br/os-objetivos-de-desenvolvimento-do-milenio> 
Acesso em: 15 jan. 2018.
Em âmbito mundial, acontece um movimento pelo acesso universal à 
prevenção, ao tratamento e ao cuidado às PVHA. As metas da UNAIDS, 
anteriores a 2015, estavam relacionadas ao controle progressivo da epi-
demia do HIV/aids, enquanto que, para a era pós-2015, estabelecem o 
fim da epidemia de aids até 2030. 
Em todo o mundo, está acontecendo um movimento de construção de 
uma nova narrativa sobre o tratamento para enfrentamento do HIV com 
uma meta ambiciosa denominada 90-90-90.
Figura 6 - Meta da OMS para o fim da epidemia de aids.
Fonte: <https://unaids.org.br/wp-content/uploads/2015/11/2015_11_20_UNAIDS_
TRATAMENTO_META_PT_v4_GB.pdf> Acesso em: 15 de jan. 2018.
• Até 2020, 90% de todas as 
pessoas vivendo com HIV 
saberão que têm o vírus.
• Até 2020, 90% de 
todas as pessoas com 
infecção pelo HIV diag-
nosticada receberão 
terapia antirretroviral 
ininterruptamente.
• Até 2020, 90% de 
todas as pessoas 
recebendo terapia 
antirretroviral terão 
supressão viral. 
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As ações para alcançar estas metas devem estar imbricadas pelo tema 
Zero Discriminação, também preconizado pelo UNAIDS.
O Brasil aderiu a essa estratégia mundial de aceleração à resposta para 
erradicar a epidemia de aids até 2030, incorporando as metas propostas 
mundialmente. Para isso terá de usar todas as ferramentas disponíveis, 
criando novas estratégias para alcançar as populações mais vulneráveis, 
reorganizando as redes de atenção e as linhas de cuidado do HIV/aids e 
assumindo as responsabilidades para atingir as metas propostas.
Você deve estar se perguntando: e no Brasil, como está a situação da 
epidemia? Fizemos uma síntese dos dados do boletim epidemiológico e 
convidamos você a fazer uma análise destes, olhando para sua região.
O HIV E A AIDS NO BRASIL 
O Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexu-
almente Transmissíveis, do HIV/aids e das Hepatites Virais (DIAHV), da 
Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), do Ministério da Saúde(MS), 
publica anualmente o Boletim Epidemiológico HIV-aids, contendo infor-
mações e análises sobre os casos de HIV/aids no Brasil, por regiões, 
estados e capitais, de acordo com os principais indicadores epidemio-
lógicos e operacionais estabelecidos nacional e internacionalmente. 
Dados municipais podem ser visualizados por meio do seguinte link: 
<http://www.aids.gov.br/indicadores>.
As fontes utilizadas para a obtenção dos dados são as notificações compul-
sórias dos casos de HIV e de aids no Sistema de Informação de Agravos de 
Notificação (SINAN), dados obtidos no Sistema de Informações sobre Mor-
talidade (SIM) e dados do Sistema de Informação de Exames Laboratoriais 
(SISCEL) e do Sistema de Controle Logístico de Medicamentos (SICLOM).
Não deixe de ler o documento da UNAIDS 90-90-90:
<https://unaids.org.br/wp-content/uploads/2015/11/2015_11_20_
UNAIDS_TRATAMENTO_META_PT_v4_GB.pdf>. 
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Organizamos uma síntese dos dados epidemiológicos obtidos do boletim 
epidemiológico HIV/aids 2016, que o ajudará a compreender a dimensão 
deste agravo.
DADOS DE INFECÇÃO POR HIV
 
A notificação de casos de infecção por HIV (casos não aids) passou a ser 
obrigatória a partir de 2007. Antes disso, a obrigatoriedade da notifica-
ção era restrita a casos de infecção em gestantes, crianças e para todos 
os casos de aids.
Entre 2000 e junho de 2016, foram notificadas 99.804 gestantes infec-
tadas com HIV no Brasil com uma tendência de crescimento na taxa de 
detecção nesta população em todas as regiões do Brasil, exceto na região 
Sudeste, que permaneceu estável no período de 2006 a 2015. Neste 
mesmo período, as regiões Norte e Nordeste foram as que apresenta-
ram os maiores incrementos na taxa de detecção em gestantes. Vale 
destacar, no entanto, que em 2015, a região Sul apresentou a maior taxa 
de detecção entre as regiões brasileiras (5,9/mil nascidos vivos) – aproxi-
madamente 2,2 vezes maior que a taxa do Brasil. Na população geral, no 
período de 2007 até junho de 2016, foram notificados, no Sinan, 136.945 
casos de infecção pelo HIV no Brasil, sendo 52,1% no Sudeste, 21,1% no 
Sul, 13,8% no Nordeste, 6,7% no Centro-Oeste e 6,3% na Região Norte. 
A maioria de casos novos do HIV em todo país está concentrada em 
populações-chave (gays e homens que fazem sexo com homens, traves-
tis e transexuais, pessoas que usam drogas e profissionais do sexo). Já o 
crescimento de aids em jovens tem ocorrido de 15 a 24 anos.
DADOS DE NOTIFICAÇÃO DE AIDS
 
No Brasil, no período de 1980 a junho de 2016, foram notificados 842.710 
casos de aids, com registro anual médio de 41,1 mil casos nos últimos cinco 
anos. A taxa de detecção de aids tem se estabilizado nos últimos dez anos, 
com uma média de 20,7 casos/100 mil habitantes. Na análise por região 
(Figura 7), identifica-se tendência de queda na região Sudeste, estabilização 
no Centro-Oeste e tendência de crescimento nas regiões Norte e Nordeste.
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Figura 7 - Taxa de detecção de aids (/100.000 mil habitantes) segundo região 
de residência por ano de diagnóstico. Brasil, 2006 a 2015.
Fonte: Brasil (2016).
Segundo a UNAIDS (2016), na América Latina, assim como no Brasil, o núme-
ro anual de novas infecções pelo HIV em adultos vem aumentando lenta-
mente desde 2000, com incremento de casos no México e no Panamá (8%), 
Chile (6%), Colômbia (5%) e Brasil (4%) (Prevention Gap Report – UNAIDS, 
2016). Tais dados sugerem uma provável reemergência da epidemia.
Para saber mais sobre a situação epidemiológica do HIV e 
aids no Brasil, consulte os boletins epidemiológicos no <www.
aids.gov.br>.
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Figura 8 - Razão de sexos segundo região de residência por ano de diagnósti-
co. Brasil, 2006 a 2015. 
Fonte: Brasil (2016).
A maior concentração dos casos de aids no Brasil está nos indivíduos 
com idade entre 25 e 39 anos para ambos os sexos, na proporção de 
2 homens para 1 mulher. Vale mencionar que há uma diferença nesta 
proporção entre as regiões, conforme a Figura 8.
A taxa de detecção de aids em menores de cinco anos tem sido utilizada 
como indicador para monitoramento da transmissão vertical do HIV. A 
boa notícia é que há uma tendência de queda de 42,7% neste indicador 
em todas as regiões (Figura 9), em paralelo ao aumento da detecção em 
gestantes (Figura 10). 
Figura 9 - Taxa de detecção de aids (/100.000 mil habitantes) em menores de 
5 anos segundo região de residência, por ano de diagnóstico. Brasil, 2006 a 
2015.
Fonte: Brasil (2016).
20
Figura 10 - Taxa de detecção de HIV em gestantes (/mil nascidos vivos) segun-
do região de residência e ano do parto. Brasil, 2006 a 2015.
Fonte: Brasil (2016).
A transmissão sexual é o principal modo de disseminação do vírus entre 
indivíduos com 13 anos ou mais de idade. Entre os homens, observou-se 
um predomínio da categoria de exposição heterossexual. No entanto, 
há uma tendência de aumento na proporção de casos em homens que 
fazem sexo com homens (HSH) nos últimos dez anos, a qual passou de 
35,3% em 2006 para 45,4% em 2015. A proporção de usuários de drogas 
injetáveis (UDI) vem diminuindo ao longo dos anos em todo o Brasil.
MORTALIDADE POR AIDS
 
Do início da epidemia de aids (1980) até dezembro de 2015, foram iden-
tificados 303.353 óbitos cuja causa básica foi a aids (CID10: B20 a B24). 
Observou-se uma leve queda no coeficiente de mortalidade padronizado 
para o Brasil, o qual passou de 5,9 óbitos/100 mil habitantes, em 2006, 
para 5,6 em 2015, o que representa uma queda de 5,0%. Destaque-se, 
no entanto, que as regiões Norte e Nordeste não acompanharam esta 
tendência de queda, conforme Figura 11.
 
21
 
Figura 11 - Coeficiente de mortalidade padronizado de aids (/100 mil habitan-
tes) segundo região de residência por ano do óbito. Brasil, 2006 a 2015.
Fonte: Brasil (2016).
Outro importante dado para levarmos em conta, ao analisarmos os 
rumos da epidemia do HIV/aids no Brasil, é o gráfico que mostra a casca-
ta de cuidado contínuo no país. Ele estabelece a linha de base e permite 
avaliar o progresso brasileiro rumo à meta 90-90-90, estabelecida pelo 
UNAIDS em âmbito global, como vimos anteriormente.
Na cascata brasileira, observa-se que, do total de pessoas vivendo com 
HIV, 80% foram diagnosticadas, das quais 48% estavam em tratamento 
para o HIV e, destes, apenas 40% apresentavam carga viral indetectável, 
conforme gráfico com dados de 2013 (Figura 12). Estes dados possivel-
mente devem estar mais satisfatórios, considerando a recente recomen-
dação do governo brasileiro para tratar todos os indivíduos com HIV.
22
Figura 12 - Cascata do cuidado contínuo Brasil 2013.
Fonte: Brasil (2014).
 
Para saber sobre o perfil da epidemia em sua região e/ou 
estado, acesse o conteúdo do Boletim correspondente ao 
pesquisado no link: <http://www.aids.gov.br/pt-br/taxonomy/
term/595>. 
A fim de obter informações mais detalhadas e atualizadas sobre 
a morbidade e mortalidade por aids na sua região, você poderá 
acessar: <http://www2.aids.gov.br/final/dados/dados_aids.asp>. 
Os dados disponibilizados são provenientes do Sistema Nacional 
de Agravos de Notificação (SINAN), Sistema de Controle de 
Informações Laboratoriais (SISCEL) e Sistema de Informações 
sobre Mortalidade (SIM).
23
Antes de proceder a leitura do texto sobre a resposta brasileira à epide-
mia HIV/aids, convidamos você a fazer a leitura da história de Pedro, que 
está no nosso Ambiente Virtual de Aprendizagem (o AVASUS), intitulada 
Fechando janelas. Em seguida, reflita sobre a seguinte questão: Como sua 
unidade tem recebido jovens gays ou outros grupos da “população-cha-
ve” em busca de cuidado?
POLÍTICA BRASILEIRA DE ENFRENTAMENTO 
DO HIV – AIDS
 
A Política Brasileira de Enfrentamento do HIV e da aids tem se configura-
do desde os anos de 1980 para responder aos diferentes desafios postos 
pelaepidemia, em consonância com as diretrizes do Sistema Único de 
Saúde (SUS) e com as recomendações adotadas mundialmente.
Na década de 1980, surgiu a epidemia de aids no Brasil e também nes-
se período foi promulgada a Constituição Cidadã, em 1988, que, aliada 
à franca mobilização pela Reforma Sanitária Brasileira, inseriu a saúde 
como um “direito de todos e um dever do Estado” no Capítulo da Saúde. 
Esse duplo movimento, de redemocratização do país e de surgimento 
de uma enfermidade desconhecida, com rótulos estigmatizantes, como 
“peste gay”, “câncer gay”, confrontou a sociedade tanto com questões 
relacionadas ao estigma e preconceito contra as pessoas infectadas pelo 
HIV, como com a mobilização da luta pela ampliação dos direitos dos 
cidadãos, e em especial pelo direito à saúde. 
Nesse contexto, estrutura-se e institucionaliza-se uma política de aten-
ção ao HIV/aids no Ministério da Saúde, com a criação do Programa 
Nacional de DST e aids, responsável em âmbito federal por definir, em 
conjunto com a sociedade civil, universidades, gestores e profissionais 
de saúde as diretrizes da atenção a essas doenças e organizar a resposta 
brasileira para o controle da epidemia.
Para responder aos desafios dos diferentes momentos ao longo da his-
tória da epidemia brasileira, a Política de Enfrentamento do HIV/aids vem 
ganhando diferentes contornos. Em 1999, o então Programa de DST/
aids do Ministério da Saúde lança o documento Política Nacional de DST/
aids: Princípios, Diretrizes e Estratégias. Nesse documento, o curso da epi-
demia no Brasil é dividido em três grandes fases, que acontecem entre a 
década de 1980, época da detecção do vírus no Brasil, e o fim da década 
de 1990.
24
PRIMEIRA FASE 
Olhar restrito ao infectado, impedindo a adoção de ações mais amplas 
no campo da saúde, caracterizada por transmissão, principalmente em 
homens que fazem sexo com homens, e por um nível de escolaridade 
alto, perpassando um conceito de “grupo de risco”.
SEGUNDA FASE 
Olhar se amplia sobre a exposição ao vírus, caracterizada pelo incremen-
to da transmissão em usuários de drogas injetáveis e por uma maior 
disseminação entre as pessoas que têm prática heterossexual, perpas-
sando um conceito de “comportamento de risco”.
TERCEIRA FASE 
Caracteriza a suscetibilidade das pessoas ao vírus, quando se acen-
tua uma maior disseminação entre os heterossexuais, principalmente 
mulheres, um aumento percentual entre as pessoas de baixa escolarida-
de e a interiorização para municípios de médio e pequeno porte, exigin-
do aqui a adoção do conceito de “vulnerabilidade”.
QUARTA FASE 
Reemergência da aids concentrada em populações-chave.
EPIDEMIA DE AIDS NO BRASIL: UM OLHAR 
SOBRE A TERCEIRA FASE
ENTENDENDO O CONCEITO DE RISCO E VULNERABILIDADE
 
Primeiramente, precisamos conhecer os conceitos de risco e vulnerabili-
dade para compreendermos o que aconteceu na terceira fase da epide-
mia de aids no Brasil, momento em que as análises epidemiológicas e as 
orientações preventivas eram baseadas no conceito de risco. 
O conceito de risco, na epidemiologia, segundo Ayres (1997, p. 294), diz 
respeito às “[...] chances probabilísticas de susceptibilidade, atribuíveis 
a um indivíduo qualquer de grupos populacionais particularizados, deli-
mitados em função da exposição aos agentes (agressores ou protetores) 
de interesse técnico ou científico”.
25
Isto significa que, em saúde, o conceito de “risco” é um instrumento que 
identifica as probabilidades de exposição de determinados grupos à 
infecção. Este conceito, aplicado à prevenção do HIV, acabou gerando a 
criação dos chamados grupos de risco.
Na noção de comportamento de risco, à medida que uma pessoa se 
infecta com o HIV, tende-se a lhe atribuir a responsabilidade pela infec-
ção por não ter aderido a um comportamento seguro (e não arriscado), 
por ter falhado nos esforços de prevenção. Essa abordagem se volta à 
culpabilização individual.
Em saúde, compreender as vulnerabilidades de cada pessoa seria conhe-
cer as condições que podem deixá-las em situação de fragilidade e expô-
-las ao adoecimento. No que diz respeito às IST/HIV/aids, condições que 
fragilizam ou tornam a pessoa vulnerável ao adoecimento, não pelo seu 
comportamento de risco, e sim pelo conjunto de aspectos de sua vida 
particular e coletiva, das condições socioambientais em que ele vive e, 
ainda, das respostas que as instituições público-sociais podem dar às 
suas necessidades de saúde. Vulnerabilidade está diretamente relacio-
nada: 
• ao contexto do indivíduo (produtor de maior ou menor susceptibilidade à 
infecção e ao adoecimento); 
• ao contexto coletivo (que definiria a maior ou menor disponibilidade de recur-
sos de todas as ordens para a proteção das pessoas contra as enfermidades). 
Neste sentido, o profissional de saúde, durante o aconselhamento, deve 
explorar as condições descritas a seguir: 
• Vulnerabilidade Individual – refere-se ao grau e à qualidade da informa-
ção que cada indivíduo dispõe sobre as DST/aids, capacidade de elabora-
ção das informações e aplicação destas na sua vida prática.
• Vulnerabilidade Social – diz respeito a um conjunto de fatores sociais que 
determinam o acesso a informações, serviços, bens culturais, às restri-
ções, ao exercício da cidadania, exposição à violência, grau de prioridade 
política ou de investimentos dados à saúde e condições de moradia, 
educação e trabalho.
• Vulnerabilidade Programática – relaciona-se às ações que o poder públi-
co, iniciativa privada e organizações da sociedade civil empreendem, ou 
não, no sentido de diminuir as chances de ocorrência das enfermidades, 
assim como se refere ao grau e à qualidade de compromisso das institui-
ções, dos recursos, da gerência e do monitoramento dos programas nos 
diferentes níveis de atenção.
26
O conhecimento dessas vulnerabilidades e as elaborações feitas pelo 
profissional de saúde e usuário, durante o processo de aconselhamento, 
podem iniciar a construção de uma proposta de prevenção e cuidado 
que seja, realmente, eficaz para a pessoa que está sendo atendida.
OS DESAFIOS DA TERCEIRA FASE
 
A epidemia da aids em nosso país passava por um processo de hete-
rossexualização, feminização, interiorização e pauperização, afetando 
cada vez mais pessoas que tinham muitos de seus direitos negados.
Os novos contornos se colocavam diante do desafio da implementação 
do SUS, buscando-se a integração das ações para o seu enfrentamento 
ao sistema de saúde, a articulação intersetorial, a sustentabilidade das 
ações e programas, o fortalecimento dos espaços institucionais e a cons-
trução de uma Política Nacional de DST/aids que envolvesse outros seto-
res da área governamental e não governamental, priorizando os setores 
mais afetados pela epidemia (BRASIL, 1999).
As diretrizes e ações da Política se organizavam em três componentes 
articulados entre si:
Componente 1 – Promoção, Proteção e Prevenção – 
Compreendendo a ações de: Promoção à Saúde; Proteção dos 
Direitos Fundamentais das Pessoas com HIV/aids; Prevenção 
da Transmissão das IST e do HIV/aids; Prevenção ao Uso de 
Drogas; e Saúde Mental em HIV/aids.
Componente 2 – Diagnóstico e Assistência – onde já se 
vislumbrava a integração, a ampliação e a descentralização 
dos serviços da rede pública de saúde, no intuito de garan-
tir o diagnóstico e tratamento numa perspectiva de rede; o 
treinamento/capacitação de profissionais de saúde para a 
assistência aos indivíduos infectados pelo HIV/aids; o acesso a 
medicamentos para tratamento da infecção pelo HIV e compli-
cações oportunistas, reduzindo a morbidade e a mortalidade 
por HIV/aids; redução da transmissão vertical do HIV; estímulo 
à utilização de testes rápidos para o diagnóstico da sífilis e da 
infecção pelo HIV em gestantes no pré-natal e em trabalho de 
parto (quando não realizado nopré-natal).
Componente 3 – Desenvolvimento Institucional e Gestão – 
com uma função estratégica, subsidiando o processo de tomada 
de decisões dos gestores de instituições governamentais e não 
governamentais na formulação, execução e aprimoramento 
das políticas de prevenção e de controle das IST e aids.
27
Desde 1999, a Política Nacional de Enfrentamento do HIV/aids vem apon-
tando a descentralização das ações, visando à continuidade e à sustenta-
bilidade do programa, embora as suas ações tenham se mantido ainda 
centradas nos serviços especializados até a década seguinte.
EPIDEMIA DE AIDS NO BRASIL: UM OLHAR 
SOBRE A QUARTA FASE
 
Passadas quase duas décadas desde a elaboração desse documento, é 
possível identificar uma quarta fase da epidemia brasileira do HIV/aids, 
na qual as expectativas de feminização e heterossexualização não se 
concretizam, conforme projeções para os primeiros anos da década de 
2000, e como visto em dados epidemiológicos nos textos anteriores. Na 
década de 2010, a epidemia aponta para uma reemergência no Brasil, 
concentrada em populações-chave. 
A descentralização proposta no fim da década de 1990 ganha força nes-
se momento, aliada à estratégia 90-90-90. A Política centra suas ações e 
diretrizes tomando a Atenção Básica como coordenadora do cuidado. O 
objetivo então é alcançar a expansão do diagnóstico, do tratamento e 
ampliar as estratégias de prevenção, na perspectiva da consolidação de 
uma rede de atenção integral às pessoas vivendo com HIV/aids.
Em 2012, o então Departamento Nacional de DST/HIV/aids e Hepatites 
Virais do Ministério da Saúde lança o documento Política Brasileira de 
Enfrentamento da Aids: Resultados, Avanços e Perspectivas, que logo nas 
primeiras linhas afirma:
A resposta programática às DST/aids entra em um novo ciclo de 
desenvolvimento da epidemia, com taxas de prevalência relativa-
mente baixas na população geral, em contraste com prevalências 
mais elevadas em subgrupos populacionais em situação de maior 
vulnerabilidade, o que exige o aprimoramento das estratégias de 
vigilância, prevenção, assistência e tratamento (BRASIL, 2012, p. 3).
O documento afirma a necessidade da focalização da resposta nacional 
e da intensificação das estratégias de diagnóstico, prevenção e assistên-
cia para populações em situação de maior vulnerabilidade.
Como exemplos das novas estratégias adotadas, destacamos a publi-
cação, em outubro de 2010, das diretrizes para emprego da profilaxia 
pós-exposição sexual (PEP) ao HIV e a adoção do teste rápido como o 
maior investimento do Ministério da Saúde para o acesso ao diagnóstico 
durante o pré-natal na Atenção Básica.
28
Também em 2010, foram publicadas as diretrizes de reprodução humana 
assistida para as pessoas vivendo com HIV/aids com desejo de ter filhos. 
Em 2014, o Departamento Nacional de DST/HIV/aids e Hepatites Virais 
publicou em seu site uma retrospectiva de suas ações, apontando 
as conquistas e desafios vivenciados nos anos de 2013 e 2014. 
Disponível em: <https://www.unasus.gov.br/noticia/politica-brasileira-
de-controlede-dstaids-e-hepatites-virais-um-ano-e-meio-de-
conquistas-e>.
Até aqui, acompanhamos os principais fatos que marcaram o contexto da 
epidemia do HIV/aids no Brasil, uma história que se caracterizou por con-
quistas sociais, tecnológicas e histórias nas quais o Brasil avança na garan-
tia dos direitos e na qualidade e acesso da atenção à saúde das PVHA.
Conquistas e desafios no enfrentamento da epidemia de 
HIV/aids no Brasil
 
• Diversificação das estratégias de acesso ao diagnóstico, por 
meio da ampliação da cobertura de serviços de saúde que 
fazem teste de HIV.
 
• Utilização de diferentes metodologias de testagem para diag-
nóstico do HIV, que considerem diferentes cenários e situações. 
Por exemplo, Teste Rápido para populações em regiões de difícil 
acesso, portadores de tuberculose e pessoas sintomáticas, 
serviços de emergência, entre outros.
 
• Combinação de ações de intervenções comportamentais, bio-
médicas e estruturais, otimizando as ferramentas disponíveis 
para responder às necessidades atuais da epidemia.
 
• Desenvolvimento e utilização de esquemas reduzidos a um com-
primido diário, otimizando a adesão e a manutenção do tratamento.
 
• Fortalecimento das estratégias de prevenção positiva, promo-
vendo ações direcionadas ao estilo de vida e ao convívio com 
HIV ao longo do tempo.
 
• Desenvolvimento de programas de atenção integral para coin-
fecção tuberculose (TB) e HIV, incluindo diagnóstico oportuno 
do HIV, prevenção da TB e organização das redes de atenção, 
com disponibilização de medicamentos anti-TB para SAE e 
Unidades Dispensadoras de Medicamentos.
29
Agora, como síntese de tudo o que vimos até aqui, convidamos você 
a percorrer esses mais de 30 anos de epidemia assistindo ao vídeo 
A história ilustrada da aids, fazendo uma reflexão sobre as conquistas 
alcançadas até o momento e pensando em todo o caminho que temos 
pela frente... 
<https://www.youtube.com/watch?v=ShaCZ9b1MKs>
30
AULA 3 - A DESCENTRALIZAÇÃO 
DA ATENÇÃO AO HIV E À AIDS: 
O CUIDADO NA ATENÇÃO 
BÁSICA
 
Como pudemos constatar, a Política de enfrentamento do HIV e aids vem 
agregando e substituindo estratégias para dar conta dos diferentes per-
fis da epidemia ao longo dessas três décadas, alinhando-se com os prin-
cípios e diretrizes do SUS, suas estratégias e lógicas de financiamento. 
A organização do cuidado à saúde da PVHA foi pensada no Brasil desde 
o início da epidemia. Os pacientes eram inicialmente diagnosticados em 
hospitais, com aids já em uma fase muito avançada da doença, próximo 
à sua morte, e, por isso os ambulatórios estavam vinculados a estes ser-
viços. Posteriormente, com o surgimento dos ARV e o aumento na expec-
tativa de vida das PVHA, surgiram os SAE. Atualmente, com o alcance da 
estabilização clínica, imunológica e virológica, e o grande número de casos 
em atendimento, impõe-se uma mudança do modelo de atenção às PVHA.
Tal mudança de modelo, que atualmente é centrado em serviços especia-
lizados – Serviço de Atenção Especializada (SAE) e Centro de Tratamento 
e Aconselhamento (CTA), caminha para um novo modelo, estruturado de 
acordo com a realidade local, passando a envolver diferentes níveis de 
atenção. Essa mudança foi fortalecida pelo avanço do cuidado às PVHA e 
com a eficácia do tratamento, que deu características de uma condição 
crônica à aids.
Os SAE continuam sendo fundamentais e constituem-se em um impor-
tante ponto de atenção a essas pessoas, mas a linha de cuidado agora 
deve envolver também outros serviços de saúde em diferentes níveis de 
complexidade (BRASIL, 2015b).
A estratégia de manejo do HIV na Atenção Básica se incorpora à Polí-
tica de Enfrentamento do HIV/aids como estratégia fundamental para 
ampliar o acesso ao diagnóstico, ao tratamento, às abordagens de pre-
venção e para promover o vínculo terapêutico da PVHA com a rede de 
serviços de saúde. A Atenção Básica tem potencial para promover um 
estilo de vida saudável, avaliação e identificação dos fatores de risco 
para outros agravos crônico-degenerativos e situações de vulnerabilida-
de individual, programática e social (BRASIL, 2015b).
Em 2014, foi publicado o documento 5 passos para a implementação do 
Manejo da Infecção pelo HIV na Atenção Básica, que trata da reorganiza-
ção do modelo de atenção em saúde no manejo da infecção pelo HIV 
em todos os níveis de atenção, mas especialmente, na Atenção Básica. 
31
O eixo de reorientação desse modelo é o conceito do cuidado, respon-
dendo a uma concepção de saúde centrada não somente na assistência 
aos doentes, mas, sobretudo, na promoção da qualidade de vida e inter-
venção nos fatores que a colocam em risco, pela incorporação das ações 
programáticas de uma forma mais abrangente e do desenvolvimento de 
açõesintersetoriais.
A seguir, estão descritos os passos indicados pelo documento.
1. Estabelecer um modelo de estratificação de risco.
Primeiramente, é necessário estabelecer, a partir da estratifica-
ção de risco, quais pessoas que vivem com HIV serão manejadas 
na Atenção Básica e quais deverão ser encaminhadas para 
seguimento nos Serviços de Atenção Especializada – SAE, com 
o objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte 
na situação de saúde das pessoas.
 
2. Qualificar os profissionais.
Vários métodos podem ser utilizados para a qualificação dos 
profissionais da Atenção Básica no manejo da infecção pelo HIV.
 
3. Garantir suporte técnico aos profissionais.
É muito importante que o profissional de saúde tenha o 
suporte de outros profissionais com experiência no manejo 
da infecção pelo HIV para maior segurança e troca de conhe-
cimentos e experiências.
 
4. Disponibilizar exames de CD4 e Carga Viral (CV).
Além dos testes rápidos para diagnóstico do HIV e exames 
básicos, as Unidades de Saúde da Atenção Básica devem 
disponibilizar acesso aos exames de linfócitos T CD4+/ CD8+ 
(CD4) e Carga Viral (CV).
 
5. Viabilizar o acesso aos antirretrovirais – ARV.
Para viabilizar o acesso aos antirretrovirais a pacientes que 
estão em seguimento na Atenção Básica, pode-se a) utilizar 
Unidades Dispensadoras de Medicamentos (UDM) já existentes 
(nesse caso, é necessário que os formulários de dispensa-
ção de medicamentos estejam disponíveis nas unidades da 
Atenção Básica e que os pacientes sejam encaminhados para 
uma determinada UDM);
32
O Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV/aids 
e das Hepatites Virais do Ministério da Saúde publicou vários documentos 
nos últimos dois anos com o propósito de subsidiar e apoiar a descentrali-
zação do manejo da infecção pelo HIV na Atenção Básica. Nós destacamos 
aqui dois deles, a cartilha Cuidado integral às pessoas que vivem com HIV 
pela Atenção Básica - Manual para a equipe multiprofissional e o Kit HIV/Aids 
na Atenção Básica: Material para Profissionais de Saúde e Gestores. 
A cartilha Cuidado integral às pessoas que vivem com HIV pela Atenção 
Básica – Manual para a equipe multiprofissional traz recomendações sim-
ples,  passíveis de serem prontamente aplicadas por profissionais  das 
equipes multiprofissionais da Atenção Básica no cuidado  integral às 
PVHA, tanto as que estão sendo acompanhadas nos SAE como as que 
estão em seguimento na Atenção Básica. Essa cartilha é lançada com 
vistas a fortalecer e estimular a inclusão da Atenção Básica no cuidado 
compartilhado do HIV/aids com os serviços especializados, fortalecendo 
vínculo das PVHA com o sistema de saúde (BRASIL, 2015b).
O Kit é composto por seis fascículos que articulam informações sobre diver-
sos aspectos da atenção ao HIV e à aids. Essa coletânea foi elaborada para 
subsidiar ações de gestores e trabalhadores da saúde na perspectiva de 
consolidar o cuidado do HIV/aids na Atenção Básica de forma comparti-
lhada com os demais pontos de atenção da Rede de Saúde, fornecendo 
orientações gerais e técnicas, na forma de “5 passos” para: 1 e 2) elabora-
ção e implementação da linha de cuidado para as pessoas vivendo com 
HIV/aids (PVHA) para profissionais de saúde e grupos locais; 3) prevenção 
combinada do HIV/aids; 4) ações de vigilância e informações epidemiológi-
cas; 5) elaboração de planos de educação permanente; 6) monitoramento 
e avaliação das ações. A Educação Permanente em Saúde é o fio condutor 
nesse processo, pois promove a qualificação e a integração dos processos 
de trabalho, bem como preconiza o protagonismo e a autonomia dos pro-
fissionais e gestores, por meio da criação ou do fortalecimento de espaços 
de debate e de construção coletiva (BRASIL, 2017a).
Essas publicações reforçam e apoiam a organização do cuidado compar-
tilhado em nível local e são ótimas referencias para você discutir com a 
equipe que você integra, as mudanças necessárias para o acolhimento 
das PVHA no território onde você atua.
e b) Criar novas Unidades de Dispensação de Medicamentos 
(UDM) nos serviços da Atenção Básica (nesse caso, cabe ao 
gestor local estruturar a nova UDM de acordo com a Portaria 
Conjunta nº 1, de 16 de janeiro de 2013; cadastrar a nova UDM 
no SICLOM - responsabilidade do gestor estadual; estabelecer 
fluxos de distribuição dos ARV para as novas UDM; disponi-
bilizar os formulários de dispensação de medicamentos nas 
unidades da Atenção Básica).
33
CONSIDERAÇÕES FINAIS
 
Até aqui discutimos o que é o vírus do HIV e as diversas fases da infecção 
por ele provocada e entendemos que a epidemia do HIV está presente 
em todas as regiões do mundo, fazendo dela uma pandemia. O cará-
ter pandêmico do HIV e da aids necessita de uma resposta coordenada 
e global, que vem sendo conduzida internacionalmente pela UNAIDS e 
pela OMS, com desdobramentos em políticas nacionais e ações locais. 
Cada um desses âmbitos da resposta tem sua importância equivalente 
e no enfrentamento da epidemia não podemos prescindir de nenhuma 
delas.
A Política do Brasil para responder à epidemia, atualmente, reforça o 
princípio da descentralização das ações como estratégico para ampliar a 
atenção às pessoas vivendo com HIV ou em risco de contrai-lo, abordan-
do a atenção ao HIV e à aids no contexto das redes de atenção à saúde e 
a inserção das suas ações no âmbito da Atenção Básica.
Colocar as pessoas vivendo com HIV ou mais vulneráveis a ele no cen-
tro do modelo da atenção que vem sendo construído é essencial para 
que todos os avanços tecnológicos até agora empreendidos, tanto 
para diagnóstico como para tratamento e prevenção, sejam realmen-
te acessíveis de maneira equânime na perspectiva de atingir as metas 
propostas para controle e erradicação da infecção e para melhorar a 
qualidade de vida das pessoas. 
A proposta deste curso está articulada a esse novo momento da Política 
de enfrentamento à epidemia da infecção do HIV e aids. Os novos conhe-
cimentos e as novas tecnologias desenvolvidas como, por exemplo, os 
testes rápidos para diagnóstico e a indicação de terapia antirretroviral 
para pessoas infectadas, independentemente da fase da infecção, possi-
bilitaram também reconhecer que o cuidado a essas pessoas deve estar 
o mais próximo possível de onde elas residem, vivem e trabalham. 
Pensando assim, e com o intuito de ofertar o melhor e mais efetivo cui-
dado às PVHA, desde a prevenção, diagnóstico precoce e tratamento, 
a Atenção Básica se constitui no lugar privilegiado da coordenação do 
cuidado à semelhança do que já ocorre com algumas outras doenças 
crônicas. O foco do cuidado deverá ser sempre a pessoa que necessita 
ser cuidada e a relação mais confortável que seja possível produzir entre 
ela e equipes de saúde.
Reconhecemos que o território da Unidade Básica de Saúde é o lugar 
onde a complexidade das situações que produzem doenças e deman-
dam atenção é melhor identificada pela equipe. Isso gera potencial de 
cuidado diferenciado e de qualidade, pois a proximidade da equipe com 
as pessoas que vivem no território possibilita maior vínculo e conheci-
mento de seu cotidiano no âmbito pessoal, familiar e social. 
34
Sabemos também que a capacitação de profissionais de saúde que atuam 
na atenção básica é uma exigência para superar lacunas em sua formação 
e se faz necessária para atualizar conteúdos técnicos e humanísticos sobre 
como cuidar de forma compartilhada das PVHA. Nas Unidades seguintes 
deste curso serão abordados esses conteúdos para que toda a equipe 
tenha oportunidade de se apropriar de conhecimentos necessários ao 
cuidado compartilhado na Atenção Básica e nas redes de atenção.
Alertamos que os objetivos deste curso não esgotam a necessidade de 
educação permanente e reflexão constante sobre os processos de tra-
balho em saúde, que devem estarpresentes no cotidiano de todos os 
serviços de saúde.
Agora convidamos você a responder ao exercício avaliativo da Unidade 1. 
Após concluí-lo, acesse a Unidade 2, que abordará o Cuidado Comparti-
lhado à PVHA na Atenção Básica.
Desejamos que tenha um bom resultado na avaliação desta Unidade e 
que continue os estudos com interesse e dedicação!
35
REFERÊNCIAS
AYRES, J. R. C. M. Sobre o risco: para compreender a epidemiologia. 
São Paulo: Hucitec, 1997. 
BRASIL. Lei n° 9.313, de 13 de novembro de 1996: Dispõe sobre a 
distribuição gratuita de medicamentos aos portadores do HIV e doentes 
de AIDS. Diário Oficial da União, 14 nov. 1996. Disponível em: <www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9313.htm>. Acesso em: 28 nov. 2017.
______. Ministério da Saúde. Coordenação Nacional de DST e Aids. Política 
Nacional de DST/aids: princípios e diretrizes. Brasília: MS, 1999.
______. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa 
Nacional de DST e aids. Direitos Humanos e HIV/aids: avanços e 
perspectivas para o enfrentamento da epidemia no Brasil. Brasília: 
Ministério da Saúde, 2008. 168 p. (Série B. Textos Básicos de Saúde; Série 
Parcerias e Mobilização Social; n. 6).
_____. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. 
Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Doenças 
Sexualmente Transmissíveis, aids e Hepatites Virais. Política brasileira 
de enfrentamento da aids: resultados, avanços e perspectivas. 
Brasília: Ministério da Saúde, 2012. Disponível em: <http://bvsms.saude.
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