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A BIOTECNOLOGIA NA PRODUÇÃO DE MEDICAMENTOS

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RESUMO
O texto discute a biotecnologia na produção de medicamentos buscando conhecer o panorama do setor de biotecnologia em saúde humana no cenário nacional. A biotecnologia neste segmento pode ser compreendida como a obtenção de processos, produtos ou serviços por meio do emprego de técnicas biológicas em organismos vivos. Assim, a biotecnologia ocupa um papel importante na saúde pela capacidade de produzir produtos a partir de processos biológicos ou de seres vivos. No cenário nacional, o país enfrenta como desafio maior a complexidade do próprio processo produtivo que envolve uma cadeia complexa de ações desde a identificação de novas moléculas até os ensaios clínicos e pré-clínicos, serviços que necessitam da constituição de uma estrutura humana e tecnológica diversificada. 
Palavras-chave: Biotecnologia. Biofármacos. Medicamentos
ABSTRACT
The text discusses biotechnology in the production of medicines seeking to know the panorama of the biotechnology sector in human health in the national scenario. Biotechnology in this segment can be understood as the obtaining of processes, products or services through the use of biological techniques in living organisms. Thus, biotechnology plays an important role in health by the ability to produce products from biological processes or living things. In the national scenario, the country faces as a major challenge the complexity of the productive process itself, which involves a complex chain of actions from the identification of new molecules to clinical and preclinical trials, services that require the constitution of a diversified human and technological structure.
Keywords: Biotechnology. Biopharmaceuticals. Medicines
INTRODUÇÃO
A tecnologia empregada no setor farmacêutico tem se desenvolvido sobremaneira no domínio da biologia molecular, propiciando o surgimento de uma biotecnologia com capacidade de produção de medicamentos para além das limitações impostas pela síntese orgânica, registrando um nível de desenvolvimento para a indústria considerado inédito pelo setor. 
Atualmente, um número considerável de medicamentos biológicos encontram-se em processo de desenvolvimento em diversos países do mundo, com destaque para as vacinas e os anticorpos monoclonais. Embora a participação do Brasil na produção mundial ainda seja considerada modesta, o país tem assumido relevância impar para a indústria convencional bem como para a indústria biofarmacêutica em virtude de se constituir no sexto maior mercado consumidor sendo que, os medicamentos biotecnológicos já representam a maior parcela dos gastos com medicamentos do Sistema único de Saúde (SUS) (OLIVEIRA, 2017).
É importante destacar que, o uso da biotecnologia na saúde não se restringe apenas à produção de medicamentos e materiais para diagnóstico, estendendo ainda a utilização destes conhecimentos à produção de tecidos e produtos celulares, integrando, assim, a base produtiva de diferentes áreas da economia nacional e diferentes segmentos de mercado (ULHOA, SILVA, 2010).
Este segmento envolve uma série de atores e agentes, como centros de pesquisas, universidades, empresas voltadas para pesquisas e desenvolvimento, satrtups, hospitais, empresas especializadas em testes clínicos e farmacêuticas. Além disso, existe também o envolvimento de outros atores como órgãos reguladores, Agência Nacional de Vigilância Nacional (ANVISA), investidores, clientes, por exemplo, o Ministério da Saúde, e Financiadoras de Estudos, o que faz com que a discussão sobre o assunto se torne complexa e ganhe múltiplos contornos em virtude das incertezas geradas pelas etapas iniciais de pesquisa, pelos possíveis riscos nas etapas de teste e pelos onerosos valores necessários em todas as etapas de pesquisa, teste e validação do produto, para que o medicamento esteja dentro das regulamentações exigidas pela ANVISA, que adota padrões internacionais (DALERNO, et al, 2018).
2. REVISÃO DA LITERATURA
Medicamentos biológicos ou biofármacos como são comumente conhecidos, é uma das grandes apostas da medicina atual, considerada, por muitos como o futuro do tratamento de muitas doenças. Trata-se da produção de remédios por meio da biossíntese de células vivas. Embora há muito tempo já se sabe desta possibilidade, apenas recentemente é que esta técnica começou a ser desenvolvida. 
A grande maioria dos fármacos disponíveis atualmente no mercado são provenientes de sínteses químicas realizadas por meio da fermentação, consideradas como biotecnologia clássica, e por meio da extração de outras fontes biológicas, como animais ou plantas, podendo citar como exemplo, as enzimas e as hormônios (ALMEIDA, et al, 2015). 
2.1 Biofármacos
Ao buscar uma definição para produtos biofarmacêuticos, pode-se compreendê-los como a classe de substâncias ativas, ou seja, proteínas terapêuticas que são produzidas por meio da utilização de técnicas biotecnológicas, principalmente por intermédio de engenharia genética (DNA recombinante) ou pela tecnologia de hibridoma (anticorpos monoclonais), resultando em formas de expressão heterólogas. São englobados, nesta classe de medicamentos, os produtos originários da produção de biofármacos, da engenharia genética e de tecidos e materiais de diagnóstico (ALMEIDA et al, 2015).
2.2 Processo de produção
Os biofármacos podem ser elaborados utilizando matéria prima de origem tanto biológica quanto biotecnológica, uma das principais vantagens dos processos biotecnológicos está no fato de oferecer a possibilidade de produzir medicamentos recombinados de forma mais segura e com grau de eficácia muito maior, atendendo principalmente, doenças que são crônicas e pouco frequentes com efeitos secundários minimizados, além da capacidade de produzir terapias em tempo reduzido e em larga escala (ALBRECHT et al, 2015).
As técnicas biotecnológicas utilizadas na produção de fármacos não são próprias de nossos dias, por volta dos anos de 1940 já se constatava a existência de proteínas produzidas pelo organismo humano com capacidades terapêuticas, mas só em meados dos anos 80 é que as técnicas começaram a ser desenvolvidas, sendo possível, assim, a obtenção de produtos com finalidades terapêuticas (BRANDÃO, SOUZA, 2015). 
É importante destacar que o processo de obtenção destes produtos é complexo e melindroso, com a utilização de proteínas que sofrem alteração em suas estruturas frente à exposição de qualquer condição física ou química inadequadas, como temperatura, pH ou meio salino (BRANDÃO, SOUZA, 2015).
Além da alta complexidade do processo, a produção de biofármacos exige ainda um período significativo de pesquisas de natureza multidisciplinar, englobando um processo próprio de fermentação voltado para a cultura de células que depois de multiplicadas, geram produtos com interesses e funções específicos. Uma vez produzidos, estes produtos são extraídos e manipulados em etapas que envolvem o sua purificação, o isolamento, secagem e esterilização para só então ser utilizado como recurso para a inovação tecnológica, e consequentemente, empregado no tratamento terapêutico de diferentes doenças (ALBRECHT et al, 2015).
Os produtos oriundos da indústria biofarmacêutica apresentam vantagens não apenas na área da saúde, como também na área econômica e em outros segmentos da sociedade, colaborando para que a química e a biotecnologia atuam de forma conjunta para proporcionar inovação em uma área que é rica em pesquisas e com potencialidades múltiplas de aplicação (ARAUJO, 2017).
A tabela (Tabela 1) abaixo, adaptada de Almeida et al (2015), traz uma síntese de vantagens e desvantagens dos fármacos biotecnológicos em relação aos produtos químicos tradicionais.
Tabela 1. Vantagens e desvantagens dos fármacos biotecnológicos.
	Produtos químicos tradicionais
	Produtos biofarmacêuticos
	Moléculas pequenas
	Moléculas grandes
	Síntese química
	Produção de células vivas
	Interação com outros fármacos
	Interações raras
	Possibilidade de carcinogêneos
	Não carcinogênico
	Reação imunológica
rara
	Possíveis efeitos imunogênicos
	Ligação não específica
	Ligação específica
	Custos de desenvolvimento elevado
	Custos de desenvolvimento baixo
	Custos de produção baixo
	Custos de produção elevado
Fonte: Adaptado de Almeida et al (2015).
Um cuidado essencial durante todo o processo de produção até a comercialização dos biofármacos é a avaliação de todas as características e atributos que o produto possa apresentar, buscando evitar qualquer tipo de alteração que possa comprometer a sua qualidade bem como afastar os riscos de efeitos colaterais nos pacientes que necessitam fazer o seu uso. Assim, este cuidado deve-se especialmente pelo fato de a produção de biofarmacos ocorrer a partir de organismos vivos exigindo, assim uma avaliação criteriosa e minuciosa dos mecanismos que envolvem a biofísica, a bioquímica, a citologia, além de se exigir ainda cuidado e atenção às questões relacionadas à própria produção, ou seja, as técnicas empregadas, o manejo do produto, o local da produção, a quantidade (TANAKA, AMORIM, 2014).
Neste sentido, a biotecnologia necessita desenvolver-se em consonância com a biossegurança, uma vez que esta é a área do conhecimento que se dedica a compreender e a identificar os riscos bem como a construção de métodos capazes de minimizar e até mesmo erradicar os eventuais riscos. Outra preocupação importante refere-se a preocupação com a produção de biossimilares, que como o próprio termo indica, são fármacos que embora preservem certa semelhança com os biofármacos, são muito diferentes em sua constituição (BRANDÃO, SOUZA, 2015).
Como os custos com a produção de biossimilares são menores e a demanda por medicamentos é grande, a sua produção tem sido cada vez mais frequentes, contudo, a regulamentação que normatiza e supervisiona esta produção não é uma realidade em todos os países, onde a escasses de estudos visando avaliar a eficácia e controlar os impactos que podem causar no organismo torna o processo ainda mais preocupante (TANAKA, AMORIM, 2014).
2.3 Classes de medicamentos
Os biofármacos abrangem diferentes classes de medicamentos e produtos, como os antibióticos, citocinas, hormônios, trombolíticos, heparinas, vacinas, fatores anti-hemofílicos, anticorpos monoclonais, entre outros (ARAUJO, 2017). 
A tabela a seguir apresenta as classes e principais medicamentos obtidos por meio de técnicas biotecnológicas. 
 
 Tabela 2: Principais medicamento obtidos por meio de técnicas biotecnológicas. 
	Classe de produto
	Produtos 
	Biofármacos
	Antibióticos, moléculas quirais, hormônios, enzimas, proteínas, anticorpos monoclonais
Fonte: Adaptado de Brito (2012).
Com base nas informações apresentadas na tabela, é possível considerar que os medicamentos biológicos constituem-se em uma classe heterogênea e diversa. (BRITO, 2012). 
Os biofármacos são substancias com estrutura molecular complexa e que só podem ser produzidas a partir de sistemas biológicos vivos e com o uso da biotecnologia. Possuem componentes ativos de difícil replicação e caracterização em virtude do caráter heterógeno de seu componente ativo (NARDI, 2013).
As moléculas de um biofármaco são diversas e mais pesadas que as moléculas que compõem os medicamentos convencionais além disso, se assemelham muito às proteínas humanas, formando, inclusive, macromoléculas capazes de se interagir com elas. Os principais produtos biológicos disponíveis estão representados pelos fatores de crescimento hematopoiético, citocinas (interferons e interleucinas), hormônios, fatores de crescimento, fatores de coagulação sanguínea recombinantes, enzimas, agentes tromboembolíticos, vacinas, anticorpos monoclonais, proteínas de fusão e imunoconjugados (ALMEIDA et al, 2015).
Os antibióticos destacam-se por fazer parte do grupo de maior relevância econômica no que concerne aos produtos obtidos por meio da fermentação. De uma forma geral, é possível apontar que a produção de antibióticos utiliza-se, principalmente, dos seguintes grupos microbianos: Actinomicetes (Streptomyces), bactérias diferentes da Actinomicetes (Bacillus sp.) e os fungos. Apenas para ilustrar essa classe de medicamentos, é possível citar alguns exemplos de antibióticos que apresentam, em sua síntese, microorganismos: cloranfenicol, produzido a partir do fungo Str. Venezuelae, cefalosporinas a partir do género Streptomyces, cicloserina a partir da Streptomyces orchidaceus, mupirocina a partir Pseudomonas fluoresce e penicilina produzida pelo fungo Penicilium notatum (NARDI, 2013).
No caso das cefalosporinas e da penicilina, sua produção ocorre por meio de dois estágios de produção, o primeiro estágio ocorre em biorreactores Batch e visa a multiplicação das células até atingir concentração máxima de biomassa, dando início, então à segunda etapa, onde o funcionamento ocorrerá em modo Fed-Batch. Na produção de penicilina, há uma preocupação, ao longo de todo o processo produtivo, de se evitar uma repressão catabólica, ocasionada em virtude da concentrações excessivas de açúcar. Portanto, faz se necessário a adição contínua de glucose para que estes índices sejam controlados (NARDI, 2013).
É importante observar que os anticorpos terapêuticos estão entre os mais vendidos, sendo que, a maioria são destinados ao tratamento na área oncológica e para doenças autoimunes e certas formas de artrite reumatoide.
Tabela 3. Anticoagulantes.
	Produto
	Sistema de produção
	Indicação terapêutica
	Fator ativador de Plasminogênio
	Cultura de células de mamífero
	Infarto do miocárdio
	Fator ativador de plasminogênio
	Escherichia coli
	Infarto do miocárdio
	Hirudina
	Levedura
	Trombocitopenia e prevenção de trombose
	Lepirudina
	Levedura
	Trombocitopenia induzida pela heparina
Fonte: adaptado de Nardi (2013)
 
 A hemofilia origina-se em virtude de uma anomalia ou um déficit na produção dos fatores VIII ou IX da coagulação sanguínea. Em condições normais, esses fatores são ativados em casos de hemorragia e circulam no sangue na forma de substancias proteicas promovendo o processo de coagulação. Embora apresentem as mesmas causas, existem dois tipos de Hemofilia, a A e a B. A hemofilia A representa cerca de 85% dos casos, sendo o fator VIII, o elemento que se apresenta com déficit ou anomalia, ou fator anti-hemofílico A, enquanto que esta condição é apresentada, na hemofilia do tipo B no fator IX, ou fator anti-Hemofílico B, atingindo cerca de 15% dos casos (ALMEIDA et al, 2015).
 Tabela 4. Fatores de coagulação.
	Produto
	Sistema de produção
	Indicação terapêutica
	Fator VIII
	Cultura de células de mamífero
	Hemofilia A
	Fator IX
	Cultura de células de mamífero
	Hemofilia B
	Fator VII a
	Cultura de células de mamífero
	Certas formas de Hemofilia
	Fator recombinante anti-hemolítico
	
	Hemofilia A
Fonte: adaptado de Nardi (2013)
Os dois fatores de coagulação são produzidos por meio de técnicas recombinantes, sendo que a produção do fator VIII recombinante ocorre em células CHO, contendo 1438 a.a. e o fator IX produzido por células CHO, contendo 415 a.a. Além dos fatores sanguíneos, os agentes trombolíticos também podem ser produzidos por meio da utilização de técnicas de DNA recombinante (ALMEIDA et al, 2015).
Tabela 5: Hormônios.
	Produto
	Sistema de produção
	Indicação terapêutica
	Insulina
	Levedura/Escherichia coli
	Diabetes mellitus
	Hormônio do crescimento
	Escherichia coli
	Deficiência do hormônio em crianças, acromegalia, síndrome de Turner
	Hormônio folículo estimulante
	Cultura de células de mamífero
	Reprodução assistida
	Tirotrofina
	Cultura de cédulas de mamífero
	Algumas forma de infertilidade
	Calcitonina
	Escherichia coli
	Doença de Paget
	Glucagon
	Levedura
	Hipoglicemia
Fonte: adaptado de Nardi (2013)
A insulina humana foi a primeira fórmula biotecnologia obtida pela técnica de DNA recombinante e utilizada no tratamento de pacientes com diabetes, isso no ano de 1982 (ALMEIDA et al, 2015).
Na época, isto significou uma verdadeira revolução no tratamento desta doença, tendo em vista que, até então a fonte de insulina utilizada era proveniente de diferentes animais, porém, como está se diferencia da insulina humana, o paciente desenvolvia respostas imunológicas. Atualmente, o tratamento da diabetes ainda continua sendo alvo de pesquisas e investigações, estando em testes o encapsulamento, em microesferas semiporosas, de células dos ilhéus Langerhans visando um transplante nestes pacientes que evitaria o uso de insulina injetável (NARDI, 2013).
Com relação ao hormônio de crescimento recombinante, as novas descobertas tem permitido um tratamento mais rápido e eficaz sobretudo em crianças cujo organismo produzia quantidade deficitária deste hormônio, comprometendo o crescimento. Até esta descoberta, o procedimento empregado se dava a partir da extração de cadáveres humanos, o que colocava o paciente exposto ao risco de contaminação e, consequentemente, sérias complicações (ALMEIDA et al, 2015).
A eritropoietina refere-se a uma glicoproteína que é produzida no rim e o principal fator regulador da produção de glóbulos vermelhos, um processo denominado de eritropoiese (BRITO, 2012).
A eritropoetina humana recombinante pode se apresentar de formas diferentes, alfa, beta e gama, as duas primeira produzidas em CHO e a última em BHK, empregadas no tratamento de anemia advindas de infecções por VIH, falha renal e cirurgia (NARDI, 2013).
Tabela 06: Interferonas e interleucinas.
	Produto
	Sistema de produção
	Indicação terapêutica
	Alfainterferona
	Escherichia coli
	Hepatites B e C
	Betainterferona
	Cultura de células de mamíferos
	Esclerose mútipla
	Gamainterferona
	EScherichia coli
	Granulomatose crônica
	Interleucina 2
	Escherichia coli
	Gracinoma de célula renal
	Interleucina 3
	
	Doença de Hodgkin, linfoma não hodgkin
Fonte: adaptado de Nardi (2013)
As interferonas desempenham um importante papel no funcionamento do sistema imunológico, atuando contra vírus e contra células que se encontram em um processo de proliferação descontrolada (ALMEIDA et al, 2015).
Tabela 07: Vacinas.
	Produto
	Sistema de produção
	Indicação terapêutica
	Anti-hepatite B
	Levedura
	Imunização contra hepatite B
	Anti-hepatite A
	Levedura
	Imunização contra hepatite A
	Anti-doença de Lyne
	Escherichia coli
	Imunização contra doença de Lyme
	Vacina de vírus recombinante expressando PSA
	
	Câncer de próstata
	Intercucina 3
	
	Doença de Hodgkin, linfoma não Hodgkin
Fonte: adaptado de Nardi (2013)
Tradicionalmente, as vacinas são produzidas em condições estéreis, cultivando o microrganismo não patogénico naturalmente ou um microrganismo patogénico tornado inofensivo por procedimentos químicos ou pela engenharia genética (NARDI, 2013).
O processo de produção de vacinas recombinantes ocorre em hospedeiros não patogênicos por razões de segurança e por apresentarem como vantagens, a ausência quase que completa do risco de contaminação infecciosa (ALMEIDA et al, 2015).
Observa-se, portanto, que as técnicas de DNA recombinante permitiram um grande avanço na produção de vacinas, tanto pela eficácia e segurança quando se comparado às tradicionais, quanto pelo rendimento na produção que é muito superior. As vacinas fabricadas por meio desta técnica tem sido utilizada no combate à diversos vírus, como o da hepatite A e B e o vírus Influenza do tipo A e B (BRITO, 2012).
3. OBJETIVO
Contribuir com os debates sobre a biotecnologia na produção de medicamentos, buscando conhecer o panorama do setor de biotecnologia em saúde humana no cenário nacional. 
4. METODOLOGIA
A metodologia empregada para a realização deste trabalho aponta para uma revisão sistemática, compreendendo-a enquanto um processo que envolve a identificação, a seleção e a avaliação crítica e criteriosa de estudos considerados relevantes por oferecer suporte teórico e nortear a classificação bem como a análise de estudos de autores que se dedicaram a estudar esta temática. 
Desta forma, foi realizada uma revisão de estudos nacionais produzidos e indexados nas bases de dados entre os anos de 2013 e 2018, ou seja, o período que compreende os cinco últimos anos, critério este utilizado por entender que, este espaço temporal permitirá o contato com investigações atualizadas.
As bases de dados pesquisadas foram: Biblioteca Eletrônica Cientíica Online (SciELO), Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Biblioteca Virtual em Saúde (BIREME), utilizando os seguintes descritores: “biotecnologia”, “biofármacos” “pesquisa e desenvolvimento”, utilizados combinados entre si.
Após a leitura detalhada de cada um dos estudos identificados e selecionados, os mesmos passaram por uma avaliação com base em nos seguintes critérios de exclusão (CE): fora do espaço temporal determinado (CE1); artigos publicados em outro idioma (CE2); artigos que não faziam menção ao tema (CE3).
Para a seleção e identificação dos artigos elegíveis foram utilizados dois filtros de análise: o primeiro constituiu na leitura do título, resumo e palavras-chave. Os artigos que se mantiveram passaram por um segundo filtro de análise, onde foi realizada a leitura da introdução e das considerações finais de cada artigo.
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em qualquer parte do mundo, a produção de conhecimentos científicos fomentados por meio das universidades, das instituições de ciências e tecnologia e dos centros de pesquisas, constituem-se nos pilares que sustentam e norteiam o uso de procedimentos biotecnológicos para a produção de medicamentos. Voltando este olhar especificamente para o Brasil, é possível considerar que o país comporta uma estrutura de sistema de pós-graduação que faz com que a formação de recursos humanos em diversas áreas da ciência ocupe um espaço de destaque no cenário internacional, embora apresente uma relação desigual e setorizada, no que concerne à distribuição no território nacional (FREIRE et al, 2015).
Apesar de ainda haver um significativo quantitativo de empresas multinacionais dominando o mercado nacional em diversas classes e segmentos terapêuticos, desde o início dos anos 2000 tem sido possível vislumbrar uma participação mais ativa de empresas nacionais atuando no mercado farmacêutico do país, reflexo de uma mudança estrutural em termos de capacidade de produção que tem mobilizado, ainda que timidamente, investimentos de capital nacional no setor (VARGAS et al, 2014).
A mobilização de esforços visando a maior participação do país na produção de fármacos e medicamentos biológicos requer o debate de questões fundamentais como o desenvolvimento de um sistema de capacitação em áreas consideradas estratégicas e que o país ainda apresenta diversas lacunas como a já apontada desigual distribuição territorial dos centros de formação. Neste contexto, é preciso que se destaque que, na esfera tecnológica, mudanças significativas tem ocorrido visando associar as diferentes áreas do conhecimento e das tecnologias, dentre as quais é possível ressaltar a biologia molecular, o bioimagem, bioinformática e a nanobiotecnologia, ao domínio da biotecnologia. Trata-se de uma convergência que não apenas proporciona ao desenvolvimento necessário ao atendimento das demandas da área da saúde, como também representa investimentos significativos na formação de recursos humanos especializado em uma área de conhecimento nova (FIOCRUZ, 2010). 
Mesmo no cenário internacional, o medicamento biológico representa ainda uma parcela modesta, como forma de ilustrar tal posicionamento, Guimarães (2018) ressalta que, em 2017, os medicamentos biotecnológicos ocuparam cerca de 20% do mercado. Contudo, não se pode deixar de considerar que, entre as diversas classes e segmentos de medicamentos que figuram no mercado global, os biotecnológicos foram os que apresentaram maior taxa de crescimento em sua produção, com aumento de cerca de 64% no período que compreende os anos de 2002 à 2016.
O Brasil é um
pais que possui grande capacidade de desenvolver pesquisas que articulem tecnologias com saúde humano entretanto, há uma subutilização de sua capacidade produtiva, da sua diversidade regional e, sobretudo, da diversidade de conhecimento já construídos por profissionais de diferentes áreas, fazendo com que não apenas o desenvolvimento científico no campo da saúde seja lento mas o próprio desenvolvimento econômico e social ocorra muito aquém do que sua potencialidade (REZAIE et al, 2016).
De acordo com Torres et al (2015) os laboratórios do país ainda convive com a dependência de recursos humanos, financeiros e de estrutura de outros estados mais desenvolvidos para que possa desenvolver inovações na área da saúde humana. Esta dependência exacerbada de financiamento público dialoga com os desafios enfrentados pela biotecnologia em saúde, traduzidos pela concentração de grande parte dos medicamentos biotecnológicos sendo produzidos em laboratórios públicos; a relação existente entre a baixa disponibilidade de recursos tecnológicos e de inovação vivenciada pela indústria nacional e o alto déficit comercial e, por fim, a necessidade urgente de potencializar os instrumentos de poder de compra por parte do governo como estratégia por meio do qual o desenvolvimento tecnológico possa ser estimulado (GADELLA, COSTA, 2013).
Para atender a uma diversidade de desafios como esta, é preciso atentar-se para a implantação de políticas públicas no setor da saúde que possam, incialmente, promover e acelerar o desenvolvimento tecnológico do complexo industrial da saúde e da biotecnologia (GUIMARÃES, 2018). 
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
As pesquisas voltadas para o desenvolvimento de medicamentos biotecnológicos é complexa e demanda muitos recursos. No entanto, as pesquisas nesta área tem se intensificado e as empresas voltadas pera este segmento certamente continuarão mobilizando esforços com vistas a aprimorar suas habilidades e aumentar sua capacidade operacional, sua produtividade e a qualidade dos fármacos e reduzindo os custos. 
Como forma de acompanhar as tendência internacionais de pesquisa e produção de novos medicamentos, o Brasil, considerado um mercado expressivo no consumo de medicamentos, ainda demanda pesquisas e políticas públicas para que possa encontrar seu próprio espaço de desenvolvimento e desempenho operacional. 
REFERENCIAS
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