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Obras Hidráulicas Aula 1 – Boas vindas e apresentação. Navegação e Morfologia Fluvial. Ementa Obras Hidráulicas - Obras Fluviais; - Projeto e implantação de grandes canais de drenagem; - Implantação de Barragens e seu impacto ambiental; - Projeto dos componentes de uma Barragem; - Detalhamento das obras civis de Usinas Hidrelétricas; - Dimensionamento hidráulico de suas principais estruturas típicas. Bibliografia Obras Hidráulicas Básica: - ALFREDINI, P.: Obras e Gestão de Portos e Costas: A técnica aliada ao enfoque logístico e Ambiental. 2005. - CRUZ, P.T.100 Barragens Brasileiras. São Paulo: Oficina de textos. 680p. 1998. Complementar: - FELICIDADE, Norma; MARTINS, Rodrigo Constante; LEME, Alessandro André. Uso e gestão dos recursos hídricos no Brasil, vol 1-2, 2 ed., São Paulo: Rima, 2006. Navegação Fluvial Obras Hidráulicas A água é essencial à vida. Por isso, a origem de todas as civilizações está intimamente ligada aos cursos d’água (egípcios, caldeus, persas, assírios, maias, etc). Além de mitigar a sede, o rio era o agente fertilizador das várzeas onde primeiro surgiu a agricultura, fator que fixou o caçador nômade e deu origem às civilizações. A navegação fluvial é o meio de transporte mais antigo, seguramente anterior à tração animal por terra. Tal fato decorre da simplicidade em deixar a corrente natural carregar algum tipo de flutuante com a carga a transportar o que, além do esforço mínimo, em absolutamente nada agride o meio ambiente. Outros meios de transporte, como a tração animal, exigiram a execução de trilhas e caminhos que agrediam o ambiente físico, expondo o solo à erosão. vleit Realce Navegação Fluvial Obras Hidráulicas No início da Revolução Industrial, a navegação interior e a marítima mostraram-se como a melhor forma de atender à demanda crescente de transporte de cargas, passando a ter grande significado econômico. Data desta época a construção das grandes redes de canais artificiais, construídas como complemento às vias naturais que nem sempre atingiam as origens ou os destinos necessários. Em 1830, com o surgimento das estradas de ferro, a navegação interior perdeu sua posição de líder absoluta, mas continuou ainda a ser muito utilizada em todos os países. A principal vantagem da ferrovia sobre as hidrovias era a de atingir locais inacessíveis às embarcações. vleit Realce Navegação Fluvial Obras Hidráulicas A partir do final do século passado houve um declínio ainda maior do transporte hidroviário que coincidiu com o máximo desenvolvimento das redes ferroviárias. Esse declínio se acentuou mais com o aparecimento do transporte rodoviário, cuja grande vantagem era o transporte “porta-a-porta”. Entretanto, principalmente nas regiões onde correm os grandes rios (Reno, Danúbio, Mississipi, Ohio), o declínio foi muito curto ou nem chegou a ocorrer por ter sido logo percebida a vantagem econômica do transporte por flutuação, quando é possível a utilização de grandes embarcações, percorrendo grandes distâncias. Durante a I Grande Guerra Mundial, a navegação interior voltou a firmar-se e, hoje, tem importância fundamental nos países desenvolvidos, integrado aos outros meios de transportes através de terminais intermodais. vleit Realce vleit Realce Navegação Fluvial Obras Hidráulicas Para que a navegação interior se torne possível e vantajosa, é necessária a integração das obras hidráulicas necessárias, de forma a possibilitar o aproveitamento múltiplo dos cursos d’água (geração de energia, abastecimento, irrigação, recreação, etc.). Em relação ao meio ambiente, o que talvez privilegie a navegação como meio de transporte, face aos outros modos terrestres, é que a navegação em corrente livre não secciona qualquer ecossistema, uma vez que os rios ou lagos fazem parte de ecossistemas mais amplos e, quanto a ecossistemas menores, as transições margem/água ocorrem com a perfeição alcançada pela Natureza numa escala de tempo milenar. Navegação Fluvial Obras Hidráulicas Considerando as rodovias e ferrovias, nota-se que as suas inserções artificiais seccionam efetivamente os ecossistemas, impondo novas condições aos hábitos naturais, alteram a evolução dos sedimentos, das vazões, etc. Mesmo quando se consideram os terminais de transbordo de cargas, a navegação fluvial apresenta características favoráveis ao meio ambiente físico, a de ser mais apropriada economicamente, quanto maior o espaçamento entre os terminais. Navegação Fluvial Obras Hidráulicas Ao lado das incontestáveis qualidades de pouca interferência ambiental, nos dias atuais deve-se considerar um fator de suma importância, quando cargas com enorme potencial poluidor são transportadas: dadas as propriedades do meio líquido, um acidente hidroviário produz danos rápidos e profundos no meio aquático, biótico, físico e mesmo sócio-econômico da região. Como em outros setores da atividade humana, o crescimento da atividade é responsável pela progressão da sua interferência no meio ambiente. Hoje, em alguns pontos de congestionamento hidroviário registram-se, no ar, quantidades impróprias de óxidos de nitrogênio e de enxofre oriundas do deslocamento de embarcações (áreas de intenso movimento fluvio-marítimo de várias cidades européias). Navegação Fluvial Obras Hidráulicas Mesmo com esse cenário, muitos governos europeus têm proposto, como melhor solução para estancar o aumento da poluição do ar, privilegiar a distribuição de cargas por hidrovias, uma vez que esse modal pode absorver tranqüilamente novas tecnologias antipoluentes como, por exemplo, o uso direto de óleo pesado como combustível e a adoção de catalisadores na emissão de gases. Além disso, o menor gasto de combustível por tonelada/quilômetro é o feito pela navegação. Segundo o “Green Paper”da E. U. Comission/1992 – “On the Impact of Transport on the Environment”, a energia específica despendida pelo modo hidroviário é da ordem de 0,6 MJ (megajoules) por tonelada/quilômetro, enquanto que, em condições similares, a ferrovia despende de 0,6 a 1,0 MJ e, os caminhões pesados, de 0,96 a 2,22 MJ. Navegação Fluvial Obras Hidráulicas Outros impactos ambientais provocados pelo aumento da navegação fluvial podem ser citados: - a regularização e o aumento da profundidade dos leitos naturais; - dragagens, derrocamentos, cortes de meandros e outras obras localizadas, cuja evolução futura é de difícil previsão; - dragagem de materiais poluentes ou potencialmente contaminantes e, principalmente, seus destinos; - degradação da qualidade da água nos terminais fluviais de movimento muito intenso. vleit Realce Navegação Fluvial Obras Hidráulicas No entanto, a navegação interior interfere muito menos no ambiente aquático do que alguns outros usos da água como, por exemplo, o uso para geração elétrica. Não exigindo calado superior a alguns poucos metros (2,5 m. no Tietê; 3,5 m. no Paraná; 2,94 m. tornando-se padrão nos EUA), não necessita de grandes reservatórios; apenas pequenos barramentos que na prática podem ser considerados móveis, pois desaparecem na época das cheias, exercendo a função de manter uma profundidade mínima a montante, durante os períodos de estiagem. Este tipo de interferência produz pequenos alagamentos, em geral de áreas naturalmente sujeitas a inundações periódicas anuais. Dessa forma, salvo raras exceções, nos aproveitamentos específicos para navegação, não se tem preocupações com o reassentamento de populações, perda de sítios arqueológicos,perda de patrimônios históricos ou perda de terras agrícolas férteis. vleit Realce Navegação Fluvial Obras Hidráulicas Deve-se destacar, ainda, como características da pouca interferência das hidrovias no meio ambiente: - os barramentos, sendo de baixa altura, permitem livre passagem de peixes migratórios pelos próprios vertedores; - a pequena profundidade dos reservatórios formados praticamente apenas durante as estiagens, não impede nem onera o aproveitamento de outros recursos naturais como, por exemplo, a extração de areia e de argila; - as barragens, dada suas características de mobilidade, pouco alteram o transporte de sedimentos. vleit Realce Hidráulica Fluvial Obras Hidráulicas Morfologia Fluvial - entende-se por morfologia fluvial o estudo da conformação do leito dos cursos d’água, sua evolução e estabilização. Os rios evoluem livremente nos depósitos sedimentares por eles mesmos transportados; agem permanentemente sobre seus leitos, erodindo, transportando e depositando sedimentos em busca de um perfil longitudinal de equilíbrio. Sua tendência natural é erodir a montante e depositar a jusante, fazendo uma perfeita seleção granulométrica dos sedimentos. Pode-se observar, em qualquer rio, que seu material apresenta dimensões decrescentes de montante para jusante. vleit Realce vleit Realce vleit Realce Hidráulica Fluvial Obras Hidráulicas Nesse processo evolutivo, que envolve toda a bacia hidrográfica, grande quantidade de material sólido é levado para os corpos d’água receptores: outros rios, lagos e oceanos. Assim, o transporte de sedimentos deve ser considerado em todos os projetos de obras hidráulicas, tais como: 1) estabilidade de leito de rios e canais não revestidos, tendo em vista sua conservação e navegação; 2) previsão de assoreamento em reservatórios; 3) nas tomadas d’água para diversas finalidades; 4) nos projetos portuários, principalmente em portos marítimos; 5) nas obras de melhoramento das desembocaduras dos rios, visando navegação, e na proteção de costas. vleit Realce Hidráulica Fluvial Obras Hidráulicas O rompimento do equilíbrio de um rio, que foi alcançado vagarosamente ao longo de séculos, pode ocorrer de várias formas. Por exemplo, pela modificação de alguma característica da bacia ou por uma intervenção direta no rio, tais como: 1) uma alteração no recobrimento vegetal da bacia, pela substituição de cobertura de florestas por pastagens, aumenta substancialmente a quantidade de sedimentos que aportam aos rios; vleit Realce vleit Realce Hidráulica Fluvial Obras Hidráulicas 2) construção de barragem. A construção da Barragem de Assua, no Rio Nilo, no Egito, teve as seguintes conseqüências: - retenção dos sedimentos e do húmus, que fertilizava o delta do Nilo, no reservatório; - erosão no leito, a jusante, com conseqüente aprofundamento; - regularização das vazões; - eliminação das inundações; - surgimento de doenças endêmicas nas populações ribeirinhas à represa; - redução do volume de pesca na região do delta pela diminuição da fertilidade das águas; - erosão na região do delta devido à diminuição do aporte de sedimentos pelo rio. vleit Realce Hidráulica Fluvial Obras Hidráulicas 3) Retirada de areia. O exemplo mais próximo é o do Rio Paraíba do Sul. A retificação do canal e a retirada constante de areia ocasionou aumento da velocidade e, em conseqüência, maior capacidade de transporte, o que resulta em aprofundamento do leito do rio. Estes fatores fazem com que o rio não consiga chegar a um novo perfil de equilíbrio, ocasionando os seguintes problemas: - rebaixamento da linha d’água, inutilizando tomadas d’água de várias cidades ao longo do rio; - comprometimento das estruturas das pontes; - rebaixamento do lençol freático, com conseqüências para a agricultura. vleit Realce Hidráulica Fluvial Obras Hidráulicas FORMAÇÃO E EVOLUÇÃO DOS CURSOS D’ÁGUA NATURAIS A evolução de um rio apresenta três fases distintas: a) formação; b) modelação; c) estabilidade. A formação dos cursos d’água ocorre a partir do escoamento das águas pluviais para as linhas de maior declividade, os talvegues. Predominam, nessa fase, a erosão e a abrasão, com aprofundamento da seção, ocorrendo assoreamento nas partes baixas. É o início do curso d’água e a definição de sua bacia hidrográfica. vleit Realce vleit Realce Hidráulica Fluvial Obras Hidráulicas FORMAÇÃO E EVOLUÇÃO DOS CURSOS D’ÁGUA NATURAIS A modelação é a fase mais longa e mais importante da evolução de um rio. É o encontro dos efeitos e das tendências: d) a capacidade de erosão e transporte da água, e e) a resistência do solo do leito à desagregação. A modelação termina quando o rio atinge o equilíbrio. Da modelação surgem os níveis de base, que fixam as características do rio para montante. vleit Realce Hidráulica Fluvial Obras Hidráulicas FORMAÇÃO E EVOLUÇÃO DOS CURSOS D’ÁGUA NATURAIS Os níveis de base são singularidades que impedem a livre evolução dos rios. Podem ser fixos como, por exemplo, afloramentos rochosos, ou móveis (mar, lagos, rios etc.). Eles podem desaparecer, se modificar ao longo do tempo ou serem substituídos por outros, dentro do processo de evolução natural. vleit Realce Hidráulica Fluvial Obras Hidráulicas FORMAÇÃO E EVOLUÇÃO DOS CURSOS D’ÁGUA NATURAIS A estabilidade é alcançada quando se atinge o equilíbrio final. Deve-se frisar que este equilíbrio é dinâmico. O rio pode apresentar mudanças sazonais ou pluri-anuais mas volta sempre a suas posições iniciais. vleit Realce Hidráulica Fluvial Obras Hidráulicas FORMAÇÃO E EVOLUÇÃO DOS CURSOS D’ÁGUA NATURAIS CLASSIFICAÇÃO DOS CURSOS D’ÁGUA Pode-se classificar os rios em duas categorias essenciais: a) Torrentes - aqueles onde o processo de modelação (evolução) se apresenta ainda com relativa intensidade. É o caso dos rios de montanha, com grande poder erosivo. b) Rios - aqueles onde o processo evolutivo se desenvolve muito lentamente. vleit Realce vleit Realce vleit Realce Hidráulica Fluvial Obras Hidráulicas FORMAÇÃO E EVOLUÇÃO DOS CURSOS D’ÁGUA NATURAIS CLASSIFICAÇÃO DOS CURSOS D’ÁGUA Em linhas gerais, um rio pode ser dividido em três trechos: 1) trecho de montanha, com declividades altas, grande velocidade e poder de erosão, onde o processo evolutivo acontece com intensidade; 2) trecho aluvional ou trecho intermediário, onde as velocidades de escoamento, o transporte de sedimentos e a declividade são menores, comparadas ao primeiro trecho; 3) trecho de planície, onde se tem declividade e velocidade de escoamento muito baixas. Chegam nesse trecho apenas os sedimentos mais finos e o rio corta seu caminho através da planície construída por ele próprio. vleit Realce vleit Realce vleit Realce vleit Realce Hidráulica Fluvial Obras Hidráulicas FORMAÇÃO E EVOLUÇÃO DOS CURSOS D’ÁGUA NATURAIS EVOLUÇÃO RETRÓGRADA DOS TALVEGUES Como já citado, os cursos d’água têm maior erosão no trecho de montante, onde há maior declividade. Consequentemente, o talvegue tende avançar para montante ocorrendo o recuo do divisor de águas entre bacias, podendo mesmo chegar a acontecer o fenômeno da captura fluvial: a captura de um rio de uma bacia mais alta por outro de bacia mais baixa. Este fenômeno é comprovado geologicamente, tendo-se um exemplo aqui perto: os Rios Paraibuna e Paraitinga, formadores do Rio Paraíba do Sul, originalmenteeram formadores do Rio Tietê. vleit Realce Hidráulica Fluvial Obras Hidráulicas FORMAÇÃO E EVOLUÇÃO DOS CURSOS D’ÁGUA NATURAIS EVOLUÇÃO RETRÓGRADA DOS TALVEGUES Na divisa do Chile e Argentina, na Cordilheira dos Andes, uma formação geológica recente, onde os processos de erosão e deposição se realizam com grande velocidade, o fenômeno da captura fluvial é bastante frequente, gerando conflitos de fronteira entre esses vizinhos.
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