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Constitucional I - semana aula 3 Interpretação da Constituição (8)

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1. Aplicabilidade das normas constitucionais
1.1. Eficácia, aplicabilidade, validade e vigência
Todas as normas apresentam eficácia ou um grau de eficácia (normatividade), algumas jurídicas e sociais, outras só jurídicas.
A nova ordem constitucional em face das normas anteriores: Recepção, revogação, repristinação e desconstitucionalização
 Recepção e revogação
 O que acontece com as normas infraconstitucionais elaboradas antes do advento da nova Constituição?
 Normas incompatíveis com a nova Constituição são revogadas, por ausência de recepção.
 Por sua vez, a norma que não contrariar a nova ordem será recepcionada, mas pode adquirir uma nova “roupagem”. Ex.: O CTN (Código Tributário Nacional) foi elaborado com quórum de LO, mas foi recepcionado como LC, sendo que a matéria do art. 146, incisos I, II e III só poderão ser alterados por LC.
Inconstitucionalidade superveniente
O Supremo Tribunal Federal não admite a terminologia de inconstitucionalidade superveniente de ato normativo produzido antes da nova constituição.
Compatibilidade = recepção
Incompatibilidade/inexistência de recepção = revogação
Características do fenômeno da recepção:
→ Compatibilidade material;
→ Compatibilidade formal e material perante a Constituição sob sua regência;
→ Incompatibilidade = revogação, ou seja, não há inconstitucionalidade superveniente;
→ Pode ocorrer mudança de competência. Exemplo: uma matéria que era de competência da União passa a ser dos Estados.
Pode acontecer uma recepção parcial de uma lei, como um artigo, um parágrafo, etc. 
Repristinação
Exemplo: uma norma na vigência da Constituição Federal de 1946 não é recepcionada pela Constituição de 1967, pois incompatível com ela. Promulgada a Constituição Federal de 1988 as leis produzidas na vigência da Constituição Federal de 1946 poderiam ser recepcionadas pela Constituição Federal de 1988, visto que totalmente compatível com ela, de modo que voltariam a produzir seus efeitos.
No Brasil, não é adotado o fenômeno da repristinação, salvo disposição em contrário da nova ordem jurídica.
Desconstitucionalização
Quando promulgada uma não acarretaria, de forma obrigatória, a revogação global da Constituição passada.
Isso porque, se faz necessário examinar cada dispositivo da Constituição antiga, a fim de verificar quais conflitam com a nova Constituição, e quais seriam compatíveis com ela.
Desse modo os dispositivos incompatíveis seriam considerados revogados, e os dispositivos compatíveis recepcionados.
Desconstitucionalização porque quando essas normas são recepcionadas entram com “status de lei”, ou seja, meras normas infraconstitucionais.
Ressalta-se que a CRFB/88 não adotou a desconstitucionalização.
3. Eficácia do Preâmbulo da Constituição e do ADCT
O preâmbulo constitucional é desprovido de eficácia normativa, assim como as normas integrantes do ADCT (ato de disposição constitucional transitória), depois de ocorrida a situação nela prevista, ou seja, depois de exaurido o seu objeto.
4. Classificação de José Afonso da Silva
4.1. Normas constitucionais de eficácia plena
São normas que, no instante em que a Constituição entra em vigor, produzem ou estão suscetíveis a produzir todos os seus efeitos, não necessitando de norma infraconstitucional para integrá-la. Normalmente tratam sobre a criação de órgãos ou atribuem aos entes federativos competências.
Por isso, afirmam que as normas constitucionais de eficácia plena possuem aplicabilidade direta, imediata e integral.
Exemplos:
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
Art. 14 [...]
§ 2º Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos.
Conscritos: são os convocados para o serviço militar obrigatório.
 
Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 4, de 1993)
Art. 17 [...]
§ 4º É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar.
Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;
II - recusar fé aos documentos públicos;
III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si.
Art. 20. São bens da União:
I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos;
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei;
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;
IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 2005)
V - os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva;
VI - o mar territorial;
VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos;
VIII - os potenciais de energia hidráulica;
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;
X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos;
XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: (�� HYPERLINK "http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc03.htm" \l "art1"�Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993)
I - transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993)
II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993)
III - propriedade de veículos automotores. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993)
4.2. Normas constitucionais de eficácia contida
As normas constitucionais de eficácia contida conseguem produzir todos os seus efeitos desde a promulgação da Constituição, mas pode haver a redução de sua abrangência pela incidência de uma lei infraconstitucional ou por normas da própria Constituição. Desse modo, enquanto não materializado o fator de restrição, a norma tem eficácia plena. 
 Por isso, essas normas têm aplicabilidade direta e imediata, mas possivelmente não integral.
Exemplo: 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política,salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.
§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essencialmente militar.
Atenção: Ver o artigo 5º, inciso VIII combinado com o artigo 143, pois trata da objeção de consciência que pode ser alegada pelos homens quando do serviço militar obrigatório, no entanto, essa objeção só pode ser alegada em tempo de paz e deve ser prestado serviço alternativo, pois do contrário pode haver restrição de direito. 
Art. 5º [...] 
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer;
O artigo 5º, inciso XIII, da CRFB/1988 trata do livre exercício profissional, entretanto, o Estatuto da OAB – Lei nº 8.906, de 04 de julho de 1994, em seus artigos 8º, inciso IV e § 1º, e 44, inciso II, determinam que para se inscrever nos quadros da Ordem dos Advogados é imprescindível aprovação no exame de ordem. A discussão sobre a inconstitucionalidade do tema chegou ao Supremo no RE 603.583, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 26.10.2011, cujo trecho do voto, transcreve-se abaixo:
[...]
A esta altura, posso adiantar o entendimento de que o exame de suficiência é compatível com o juízo de proporcionalidade e não alcançou o núcleo essencial da garantia constitucional da liberdade de ofício. 
Quanto à atividade profissional de músico, entendeu a Ministra Ellen Gracie que não há qualquer risco de dano social, como se passa a transcrever trecho do voto (RE 414.426, Rela. Min. Ellen Gracie, 1º.08.2011):
“Não se trata de uma atividade como o exercício da profissão médica ou da profissão de engenheiro ou de advogado”, disse.
“A música é uma arte em si, algo sublime, próximo da divindade, de modo que se tem talento para a música ou não se tem”, completou a relatora. Na hipótese, a ministra entendeu que a liberdade de expressão se sobrepõe, como ocorreu no julgamento do RE 511961, em que o Tribunal afastou a exigência de registro e diploma para o exercício da profissão de jornalista.”
Outros exemplos: 
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:
[...]
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:       (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998).
Art. 12 [...]
§ 3º São privativos de brasileiro nato os cargos:
I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
III - de Presidente do Senado Federal;
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas.
VII - de Ministro de Estado da Defesa(Incluído pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999)
Atenção: Ver artigo 37, inciso I combinado com o artigo 12, §3º, da CRFB/1988.
4.3. Normas constitucionais de eficácia limitada
São aquelas normas que não produzem todos os seus efeitos, desde que a Constituição é promulgada, por isso necessitam de uma lei integrativa infraconstitucional, ou até mesmo por uma emenda constitucional, como se observou no art. 4º, da EC n. 47/2005. São normas de aplicabilidade indireta, mediata e reduzida ou aplicabilidade diferida.
4.4. Princípio institutivo (ou organizativo): tratam sobre a estruturação de instituições, órgãos ou entidades. Exemplos: 
Artigo 18 [...] 
§ 2º Os Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar.
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo.
 Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição.
§ 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.
Art. 33. A lei disporá sobre a organização administrativa e judiciária dos Territórios.
§ 1º Os Territórios poderão ser divididos em Municípios, aos quais se aplicará, no que couber, o disposto no Capítulo IV deste Título.
§ 2º As contas do Governo do Território serão submetidas ao Congresso Nacional, com parecer prévio do Tribunal de Contas da União.
§ 3º Nos Territórios Federais com mais de cem mil habitantes, além do Governador nomeado na forma desta Constituição, haverá órgãos judiciários de primeira e segunda instância, membros do Ministério Público e defensores públicos federais; a lei disporá sobre as eleições para a Câmara Territorial e sua competência deliberativa.
4.5. Princípio programático
São aquelas normas que veiculam programas a serem implementados pelo Estado, visando os fins sociais. Exemplo: 
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.   (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 90, de 2015)
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.
Art. 218. O Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa, a capacitação científica e tecnológica e a inovação.   (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 2015)
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010)
5. Outros critérios classificatórios
Uma das classiificações mais importantes é a da doutrinadora Maria Helena Diniz, cujo critério é a questão da intangibilidade e da produção dos efeitos concretos, classificando-as em: normas supereficazes ou com eficácia absoluta; normas de eficácia plena; normas com eficácia relativa restringível; normas com eficácia relativa complementável ou dependente de complementação legislativa.5.1. Normas constitucionais de eficácia absoluta: Para Maria Helena Diniz são normas intangíveis e, por essa razão, não podem ser emendadas, mas têm por característica possuir força paralisante total de qualquer legislação, ou seja, caso uma norma a contrarie essa será paralisada. Exemplos: textos constitucionais que amparam: 
a) a federação (arts. 1º; 18; 34, inciso VII, alínea “c”; 46, §1º); 
b) o voto direto, secreto, universal e periódico (art. 14);
c) a separação de Poderes (art. 2º);
d) os direitos e garantias individuais (art. 5º, I a LXXVIII);
 Em suma, as cláusulas pétreas (artigo 60, § 4º) e o artigo 34, inciso VII, alíneas “a” e “b”.
 
5.2. Normas constitucionais de eficácia plena
São normas que produzem todos os efeitos de forma imediata, apesar de suscetíveis de emenda, não requerem normação subconstitucional subsequente, ou seja, podem ser aplicadas de imediato. Exemplo: normas que envolvam proibições e concedam isenções, prerrogativas e que não indiquem órgãos ou processos especiais para sua execução. Exemplos: art.s1º, parágrafo único; 14, §2º; 17, §4º; 21; 22; 37, III; 44, parágrafo único; 69; 153; 155; 156, etc. 
Normas constitucionais de eficácia relativa restringível
Equivalem as normas de eficácia contida, segundo a classificação de José Afonso da Silva. Contudo, cabe ressaltar que Maria Helena Diniz prefere a denominação utilizada por Michel Temer (eficácia redutível ou restringível), pois possui aplicabilidade imediata ou plena, enquanto não surgir a restrição. Exemplos: Artigos 5º, incisos VIII, XI, XII, XIII, XIV, XVI, XXIV, LX, LXI; 84, XXVI; 139; 170, parágrafo único; 184 e etc.
Normas constitucionais de eficácia relativa complementável ou dependentes de complementação
 Para produzir efeitos positivos, é necessário a criação de lei complementar e lei ordinária. Vale lembrar que desde a promulgação da Constituição essas normas terão eficácia paralisante de efeitos de normas precedentes incompatíveis e impeditivas de qualquer conduta contrária ao que estabelecerem.
 Igualmente se dividem em:
 Princípio institutivo: deve ser criada lei para instaurar as instituições, pessoas, órgãos, nelas previstos. Exemplos: arts. 17, IV; 25, §3º; 43, §1º, etc.
 Princípios das normas programáticas: são programas a serem desenvolvidos mediante lei infraconstitucional. Exemplos: arts. 205; 211; 215; 218; 226, §2º e etc. 
Semana aula 3 - Tema: 
Teoria da Constituição: Hermenêutica Constitucional 
1. Interpretação da norma constitucional
Interpretação da Constituição
A interpretação da constituição é utilizada para compreender, investigar o conteúdo dos enunciados que constroem o texto constitucional, pois a nossa Constituição protege diferentes bens e direitos, de modo que estes podem colidir como, por exemplo, o direito à liberdade de imprensa versus a garantia da inviolabilidade da intimidade do indivíduo, ou a liberdade de pensamento versus a vedação ao racismo. Para isso, necessário se faz a aplicação das técnicas de interpretação constitucional para dirimir os conflitos e conferir eficácia e aplicabilidade a todas as normas constitucionais.
 
2. Métodos clássicos
2.1. Método literal/gramatical/ textual: o intérprete deve examinar o significado de cada palavra do texto constitucional, com o intuito de retirar o seu significado. Logo, o texto deve ser analisado de forma textual e literal.
Ementa: PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL. INADMISSIBILIDADE. COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PARA JULGAR HABEAS CORPUS: CF, ART. 102, I, “D” E “I”. ROL TAXATIVO. CRIMES DE ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR COMETIDO CONTRA MENOR (CP, ART. 214 C/C 224, “A”) E DE PRODUÇÃO DE PORNOGRAFIA INFANTIL (ECA, ART. 241). ALEGAÇÃO DE ATIPICIDADE DA CONDUTA DE “FOTOGRAFAR” MENORES EM CENAS DE SEXO EXPLÍCITO À ÉPOCA DOS ACONTECIMENTOS. IMPROCEDÊNCIA. INTERPRETAÇÃO GRAMATICAL E TELEOLÓGICA DO ART. 241 DO ECA, COM REDAÇÃO DADA PELA LEI N. 10.764/2003. IMPUGNAÇÃO DA INCIDÊNCIA CONCOMITANTE DE DUAS CAUSAS DE AUMENTO DE PENA PREVISTAS NO ART. 226 DO CÓDIGO PENAL. NÃO CONHECIMENTO DO PEDIDO. DOSIMETRIA. REAPRECIAÇÃO DOS ELEMENTOS CONSIDERADOS PARA FIXAÇÃO DA PENA NA CONDENAÇÃO. INVIABILIDADE EM SEDE DE HABEAS CORPUS. NÃO APRECIAÇÃO DO TEMA PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS E PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA CONFIGURADA. EXISTÊNCIA DE AMPARO LÓGICO-TEXTUAL À APLICAÇÃO SIMULTÂNEA DOS INCISOS I E II DO ART. 226 DO CÓDIGO PENAL. HABEAS CORPUS EXTINTO POR INADEQUAÇÃO DA VIA PROCESSUAL. 1. A conduta consubstanciada em “fotografar” cenas com pornografia envolvendo crianças e adolescentes amolda-se ao tipo legal previsto no art. 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), com redação dada pela Lei nº 10.764/2003, notadamente à expressão “produzir fotografia”, cujo valor semântico denota o comportamento de “dar origem ao registro fotográfico de alguma cena”. 2. In casu, o paciente foi condenado à pena de 3 (três) anos e 9 (nove) meses de reclusão pela prática do crime previsto no art. 241 do ECA, em razão de ter fotografado sua enteada de seis anos de idade em cenas de sexo explícito. [...]. (HC 110960, Relator(a):  Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 19/08/2014, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-185 DIVULG 23-09-2014 PUBLIC 24-09-2014)
Art. 241.  Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente:       (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.       (Redação dada pela Lei nº 11.829, de 2008)
Método Lógico: busca a lógica de todas as normas constitucionais ao interpretá-las.
Método Sistemático: para esse método, o direito é um sistema dotado de unidade e harmonia. Desse modo irá analisar o todo.
Método histórico-evolutivo: nesse método, o intérprete deve observar a origem da norma, a realidade do contexto histórico no momento em que foi elaborada, os debates que antecederam a sua elaboração para entender qual era a intenção do legislador.
3. Princípios ou métodos condicionantes da interpretação constitucional 
3.1. Princípio da unidade – ao interpretar a Constituição devemos levar em conta que ela é um todo coerente e coeso, devendo o intérprete procurar harmonizar todas as suas normas de forma a não estabelecer contradições;
3.2. Princípio da supremacia constitucional – o intérprete deve levar em conta que a Constituição está no topo do ordenamento jurídico e é o fundamento de validade de todas as outras normas, sendo assim nenhuma lei pode contrariá-las, formal ou materialmente, sob pena de ser considerada inconstitucional.
3.3. Princípio da máxima efetividade – a Constituição não estabelece normas supérfluas, todo intérprete deve buscar o máximo dos efeitos da Constituição.
3.4. Princípio da harmonização – uma vez que todas as normas constitucionais estão no mesmo patamar hierárquico e devem ter máxima efetividade, ao interpretar a Constituição devemos buscar harmonizar antinomias aparentes de forma proporcional.
3.5. Princípio do efeito integrador - a Constituição deve ser interpretada de forma a estabelecer critérios e soluções que reforcem o seu papel de principal norma nas relações sociais.
Princípio da força normativa da Constituição – a Constituição deve ser interpretada da maneira mais efetiva e atual possível quando diante de um caso concreto, ou seja, a norma quando aplicada deve solucionar o problema real.
3.7. Princípio do conteúdo implícito – intérprete deve atentar que a Constituição estabelece comandos que não estão expressos explicitamente em seu texto, mas sim na coerência interna de seus objetivos e fundamentos.
3.8. Princípio da conformidade funcional – o intérprete não pode contrariar a distribuição explícita da repartição de funções estatais estabelecidas pelo Constituinte.3.9. Princípio da imperatividade das normas constitucionais – uma vez que todas as normas constitucionais emanam da vontade popular e são normas cogentes ou imperativas, o intérprete deve sempre lhes dar a maior extensão possível.
Princípio da simetria – princípio da interpretação federativo que busca adequar entre os entes os institutos da Constituição Federal às Constituições e institutos jurídicos dos Estados-membros. Por exemplo: cabe ao Presidente da República a iniciativ de leis para o aumento do efetivo das forças armadas, caberá por simetria ao Governador os projetos de lei para aumento do efetivo da Polícia Militar, por exemplo: art. 61, da CRFB/88.
Princípio da presunção de constitucionalidade das normas infraconstitucionais – o intérprete deve dar às normas hierarquicamente inferiores à Constituição uma interpretação que as coadune com a Lei Maior, visto que foi fruto de um processo legislativo que, em tese, procurou adequá-las aos comandos constitucionais.
Questões: 
(CESPE – auditor do TCE-PR -2016) Acerca da interpretação e da aplicação das normas constitucionais, assinale a opção correta. 
a) Dado o princípio da interpretação adequadora, o ato normativo impugnado declarado inconstitucional é sempre nulo.
b) De acordo com a norma que rege o controle concentrado de constitucionalidade, uma vez declarada a inconstitucionalidade da norma, esta será nula ab initio, não sendo possível, por exemplo, decidir que ela só tenha eficácia a partir de outro momento. 
Em decorrência do princípio interpretativo da unidade da Constituição, existindo duas normas constitucionais incompatíveis entre si, deverá o intérprete escolher entre uma e outra, não sendo possível uma interpretação que as integre.
d) Dado o princípio da máxima efetividade ou da eficiência, o intérprete deve coordenar a combinação dos bens jurídicos em conflito de forma a evitar o sacrifício total de uns em relação aos outros. 
e) A norma constitucional que assegura o livre exercício de qualquer atividade, ofício ou profissão é exemplo de norma de eficácia contida.

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