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Experimento 1 - Análise do Comportamento

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS
CENTRO DE CIÊNCIAS DA VIDA
FACULDADE DE PSICOLOGIA
CAMILA SAKAMAE PIETRO
LETÍCIA BATISTA CALDEIRA
LUCAS SILVA GARCIA BLANCO
NATÁLIA SILVEIRA LISBÔA
EXPERIMENTO 1: TREINO DISCRIMINATIVO
CAMPINAS
2018
CAMILA SAKAMAE PIETRO
LETÍCIA BATISTA CALDEIRA
LUCAS SILVA GARCIA BLANCO
NATÁLIA SILVEIRA LISBÔA
EXPERIMENTO 1: TREINO DISCRIMINATIVO
Experimento apresentado à disciplina de Análise do Comportamento II, da Faculdade de Psicologia, do Centro de Ciências da Vida, como parte das atividades práticas exigidas para aprovação.
Orientador: Prof(a). Sofia Helena Porto Di Nucci 
PUC-CAMPINAS
2018
1. INTRODUÇÃO TEÓRICA
A análise do comportamento busca a raiz do comportamento nas interações do organismo com o ambiente. O ambiente (ou contexto) é um aspecto que exerce um certo controle sobre o comportamento, alterando sua probabilidade de ocorrência. O termo “controle de estímulos” descreve, portanto, uma situação em que os estímulos antecedentes influenciam o comportamento. Os estímulos antecedentes possuem relação com as consequências reforçadoras ou punitivas do responder. Então, no caso do comportamento operante, temos que este é determinado tanto pelas consequências (estímulos consequentes) quanto pelo contexto (estímulos antecedentes) (MOREIRA; MEDEIROS, 2007).
Ao inserir o contexto na análise de comportamentos operantes, fala-se em comportamentos operantes discriminados, ou seja, aqueles comportamentos operantes que, se emitidos em determinado contexto, produzirão consequências reforçadoras. A tríplice contingência, que faz referência ao contexto, resposta do organismo e consequência na análise dos comportamentos operantes, é importante pois permite uma compreensão mais adequada sobre o comportamento humano (MOREIRA; MEDEIROS, 2007).
Meyer (2003) denomina estímulos discriminativos (Sd) como eventos ambientais que estabelecem ocasião para que uma dada resposta seja reforçada. Tendo como relação o fato de que se o estímulo discriminativo estiver presente a resposta é reforçada, estabelece-se desta forma uma correlação positiva entre Sd e resposta, o que possibilita observar um aumento gradual da resposta frente ao Sd. Um exemplo de estímulo discriminativo seria andar pelos corredores do supermercado para achar doces, em que o que manteria o comportamento da pessoa de andar pelos corredores do supermercado seria a consequência de achar o chocolate. Já as respostas emitidas pelo organismo frente a um estímulo delta não são reforçadas. Essa ausência de reforço faz com que a resposta caminhe para a extinção quando na presença deste estímulo.
A maneira utilizada para estabelecer o controle de estímulo e fazer com que o organismo responda na presença de estímulos discriminativos, e não responda na presença de estímulos delta, é o procedimento de treino discriminativo, que consiste em reforçar uma resposta na presença do Sd e extingui-la na presença do estímulo delta (BORGES; CASSAS, 2012; MOREIRA; MEDEIROS, 2007).
Após o estabelecimento da relação de controle discriminativo entre o antecedente e o comportamento operante, diz-se que o operante se tornou discriminado, possibilitando então a formação da tríplice contingência (Sr – R –> Sr) com a configuração de estímulo discriminativo, comportamento operante e consequência reforçadora (BORGES; CASSAS, 2012).
Pode-se afirmar que há discriminação de estímulos quando o indivíduo responde na presença de um estímulo discriminativo e não responde frente a um estímulo delta. (MOREIRA; MEDEIROS, 2007)
A contingência de três termos (ou tríplice contingência) é a base para a análise de todo comportamento operante. A análise funcional consiste em colocar um comportamento em uma contingência de três termos, observando sob quais circunstâncias o comportamento ocorre, o próprio comportamento e as consequências que o mantém. O antecedente pode ser tanto um estímulo discriminativo como um estímulo delta (o primeiro sinaliza que uma determinada resposta será reforçada, enquanto o segundo sinaliza que uma resposta não será reforçada). Já as consequências podem ser reforçadoras (aumentam a probabilidade de ocorrência futura do comportamento) ou punidoras (diminuem a probabilidade de ocorrência futura do comportamento). (MEYER, 2003; MOREIRA; MEDEIROS, 2007).
Do ponto de vista adaptativo, é importante para a sobrevivência do organismo que um comportamento adquirido em uma situação ocorra também em situações novas. A probabilidade de comportamentos serem emitidos frente estímulos antecedentes semelhantes é maior conforme a semelhança entre estímulos. Este conceito é denominado generalização: quando o organismo responde da mesma forma a estímulos que se parecem com o Sd. A generalização pode ocorrer com estímulos parecidos fisicamente ou funcionalmente. Quanto maior o número de características semelhantes ou funcionais, maior a chance de emitir um mesmo comportamento para um novo estímulo. (MEYER, 2003)
De uma forma geral, observa-se que o treino discriminativo é um procedimento utilizado para estabelecer o controle de estímulo e ensinar o indivíduo a discriminar, reconhecer estímulos como diferentes a ponto de responder na presença de alguns estímulos e não responder na presença de outros. Considerando a importância dos estímulos antecedentes, das consequências reforçadoras e do treino discriminativo para o comportamento operante, o experimento a seguir visou estabelecer um controle visual de estímulo sobre duas crianças. Os dados do experimento e conclusões são apresentados a seguir.
2. OBJETIVO
- Ensinar o conceito de formas geométricas básicas por meio do treino discriminativo visual.	
3. MÉTODO
3.1 SITUAÇÃO
O Participante 1 teve o instrumento aplicado no dia 14 de setembro de 2018 em uma sala retangular composta por dois sofás, uma estante e uma mesinha ao centro da sala, em que foram colocados os materiais para a aplicação do instrumento. O aplicador e o participante sentaram-se no chão, perto da mesinha, de forma que ficaram um de frente para o outro. A porta e a janela estavam fechadas e as luzes permaneceram acessas. O aplicador ficou presente durante todo o procedimento junto ao participante.
O Participante 2 teve o instrumento aplicado no dia 15 de setembro de 2018 em uma sala retangular composta por uma estante e uma mesa com quatro cadeiras, sendo que duas foram ocupadas, uma pelo aplicador e outra pelo participante. Os materiais para a aplicação do instrumento ficaram em cima da mesa, a luz permaneceu acesa, a porta fechada e o ventilador desligado. O aplicador ficou presente durante todo o procedimento junto ao participante.
3.2 PARTICIPANTES
- Participante 1: N. B. F., 4 anos e 3 meses, sexo masculino.
- Participante 2: H. B., 4 anos e 11 meses, sexo masculino.
3.3 INSTRUMENTO
- Nove cartões contendo, na sua parte superior, uma figura geométrica (triângulo, círculo, quadrado), e na parte inferior, três figuras geométricas, sendo uma destas igual à figura da parte superior.
- Nove cartões contendo, na sua parte superior, uma figura geométrica composta formada por duas figuras geométricas simples (triângulo, círculo, quadrado), e na parte inferior, três figuras geométricas compostas, sendo uma destas igual à figura da parte superior.
3.4 PROCEDIMENTO
Após os participantes terem sido definidos, o aplicador os chamou individualmente ao cômodo em que o experimento seria realizado (de acordo com a disponibilidade dos aplicadores e participantes). Antes de iniciar propriamente o experimento, o aplicador explicou ao participante o que seria feito. 
Iniciado o experimento, o aplicador mostrou ao participante nove cartões que continham, na sua parte superior, uma figura geométrica, e na parte inferior, três figuras geométricas, sendo uma destas igual à figura da parte superior. Para cada cartão, o participante foi instruído a apontar qual dentre as três figuras da parte inferior do cartão ele consideravaigual à figura da parte superior. O participante também foi instruído a nomear a figura geométrica para a qual apontou.
Depois, o aplicador mostrou ao participante mais nove cartões que continham, na sua parte superior, uma figura composta (formada pela junção de duas figuras geométricas), e na parte interior, três figuras compostas, sendo uma destas igual à da parte superior. Novamente, para cada cartão, o participante foi instruído a apontar qual dentre as três figuras compostas da parte inferior era igual à figura compostas da parte superior do cartão. O participante também foi instruído a nomear quais figuras geométricas formavam a figura composta para a qual ele apontou.
Todas as respostas corretas do participante foram seguidas de reforço pelo aplicador (que disse “muito bem!”). Já as respostas incorretas do participante foram seguidas por silêncio do aplicador. Enquanto aplicava o instrumento, o aplicador anotou numa folha de registro os acertos e erros do participante e as respostas verbais dadas por ele para o nome das figuras geométricas.
Após o término do preenchimento da folha de registro por parte do aplicador, o procedimento foi encerrado.	
4. RESULTADOS 
	Tabela 1. Comparação da pontuação obtida pelos participantes no Treino Discriminativo Visual com formas geométricas simples.
	Estímulo do modelo
	Participantes
	
	P1
	P2
	Quadrado
	0
	0
	Quadrado
	1
	0
	Quadrado
	0
	1
	Triângulo
	0
	0
	Triângulo
	1
	0
	Triângulo
	1
	1
	Círculo
	1
	0
	Círculo
	1
	0
	Círculo
	1
	1
	Total de acertos
	6
	3
	Média
	0,67
	0,33
A Tabela 1 apresenta as pontuações obtidas pelos dois participantes na primeira parte do experimento, em que eles deveriam identificar, dentre três figuras geométricas, a que era igual à figura geométrica apresentada anteriormente. O Participante 1 obteve seis pontos de um total de nove pontos possíveis. Seu resultado foi bastante superior ao do Participante 2, que obteve um total de apenas três pontos de nove possíveis.
	Tabela 2. Comparação da pontuação obtida pelos participantes no Treino Discriminativo Visual com formas geométricas compostas.
	Estímulo do modelo
	Participantes
	
	P1
	P2
	Quadrado/Quadrado
	1
	1
	Quadrado/Círculo
	0
	1
	Quadrado/Triângulo
	1
	1
	Triângulo/Círculo
	0
	0
	Triângulo/Quadrado
	1
	1
	Triângulo/Triângulo
	1
	0
	Círculo/Quadrado
	1
	0
	Círculo/Círculo
	1
	1
	Círculo/Triângulo
	0
	1
	Total de acertos
	6
	7
	Média
	0,67
	0,78
A Tabela 2 apresenta as pontuações obtidas pelos dois participantes na segunda parte do experimento, em que eles deveriam identificar, dentre três figuras geométricas compostas, a que era igual à figura geométrica composta apresentada anteriormente. O Participante 1 obteve seis pontos de um total de nove pontos possíveis. Já o Participante 2 obteve um total de sete pontos de nove possíveis. Além das pontuações, também é possível notar que os dois participantes identificaram corretamente todas as figuras compostas formadas por duas figuras geométricas iguais. 
	Quadro 1. Comparação das respostas verbais obtidas pelos participantes quanto ao nome das figuras geométricas apresentadas.
	Estímulo do modelo
	Respostas verbais
	
	P1
	P2
	Quadrado
	Triângulo
	Quadrado
	Quadrado
	Quadrado
	Quadrado
	Quadrado
	Triângulo
	Quadrado
	Triângulo
	Quadrado
	Não soube responder
	Triângulo
	Triângulo
	Não soube responder
	Triângulo
	Triângulo
	Não soube responder
	Círculo
	Círculo
	Não soube responder
	Círculo
	Círculo
	Não soube responder
	Círculo
	Círculo
	Não soube responder
	Quadrado/quadrado
	Quadrado e quadrado
	Dois quadrados
	Quadrado/círculo
	Triângulo e círculo
	Um deles é um quadrado
	Quadrado/triângulo
	Quadrado e triângulo
	Um deles é um quadrado
	Triângulo/círculo
	Triângulo e círculo
	Não soube responder
	Triângulo/quadrado
	Triângulo e quadrado
	Um deles é um quadrado
	Triângulo/triângulo
	Triângulo e quadrado
	Não soube responder
	Círculo/Quadrado
	Círculo e quadrado
	Um deles é um quadrado
	Círculo/Círculo
	Círculo e círculo
	Não soube responder
	Círculo/triângulo
	Círculo e quadrado
	Não soube responder
O Quadro 1 mostra as respostas verbais dadas pelos dois participantes nas duas partes do experimento quando questionados sobre qual era o nome da figura ou das figuras que haviam apontado como iguais à figura-modelo. 
Na primeira parte do experimento, com figuras geométricas simples, o Participante 1 nomeou corretamente seis figuras de nove apresentadas. Seus erros ocorreram na parte inicial do treino discriminativo. Já o Participante 2 nomeou corretamente três figuras de nove apresentadas. Ainda que tenha tido um número baixo de respostas verbais, ele nomeou corretamente todos os quadrados apresentados.
Já na segunda parte do experimento, com figuras compostas, o Participante 1 nomeou corretamente quais eram as duas figuras geométricas que compunham as figuras compostas em seis das nove figuras apresentadas. Já para as outras três figuras compostas, o participante nomeou corretamente somente uma das formas geométricas que a compunham. O Participante 2 nomeou de forma completamente correta somente a primeira figura. No entanto, ele conseguiu nomear corretamente todos os quadrados que compunham figuras compostas.
5. DISCUSSÃO
Os resultados do experimento evidenciaram a complexidade do Treino Discriminativo e do funcionamento cognitivo de crianças.
Inicialmente, observou-se na primeira parte do experimento que o Participante 1 discriminou corretamente os três círculos. Também houve sucesso no treino discriminativo com os triângulos: apesar de ter errado o primeiro triângulo, o participante acertou os outros dois. Isso tem a ver com o procedimento do treino discriminativo, em que uma resposta é reforçada na presença do estímulo discriminativo e extinta na presença de estímulos delta (MOREIRA; MEDEIROS, 2007). No treino em questão, provavelmente ocorreu que, após não ter recebido reforço por errar o primeiro círculo, o participante tenha aprendido que precisava emitir uma nova resposta. Ao acertar o segundo círculo e receber o reforço, ele aprendeu a responder corretamente, e acertou o terceiro círculo.
O Participante 2 também teve algum sucesso na primeira etapa do experimento. Ele discriminou corretamente um quadrado, um triângulo e um círculo, nas últimas vezes em que cada uma das figuras foi apresentada. Da mesma forma que o Participante 1, ele também percebeu que precisaria alterar sua resposta por não ter sido reforçado após a primeira figura. 
Na segunda parte do experimento, observou-se que o Participante 1 teve maior dificuldade em discriminar o estímulo círculo (as três figuras que ele errou continham círculos). Esse resultado pode relacionar-se com a maior dificuldade do participante para discriminar figuras geométricas compostas. Segundo Baum (2006), a maioria dos estímulos discriminativos da vida real são compostos. Para responder a esses estímulos discriminativos compostos é necessária uma combinação de elementos do contexto que favoreça a emissão da resposta e seu reforço. No caso do experimento, as figuras geométricas compostas são mais difíceis de serem discriminadas do que as figuras simples pois envolve capacidade da criança de separar e recombinar figuras, que pode ainda não estar completamente estabelecida.
O Participante 2 teve maior número de acertos na segunda parte do experimento do que na primeira. Ele discriminou corretamente todas as figuras contendo quadrados. Por outro lado, teve dificuldade em discriminar os triângulos. A dificuldade em discriminar os triângulos pode relacionar-se com o fenômeno de generalização. A generalização, de acordo com Gadelha e Vasconcelos (2007) ocorre quando a probabilidade de resposta é semelhante na presença de estímulos discriminativos e estímulos delta. Ela representa um fraco controlede estímulos. No caso do experimento, tem-se que as figuras geométricas, por guardarem algumas semelhanças, podem ter sido generalizadas pelos participantes, e por isso eles tiveram dificuldade em discriminar algumas figuras, principalmente compostas.
Quanto a formação de conceitos (abstração), observou-se que o Participante 1 nomeou corretamente todos os círculos na primeira fase do experimento. Já o Participante 2 nomeou corretamente todos os quadrados durante todo o experimento. De acordo com Moreira e Medeiros (2007), a abstração envolve ficar sob controle de determinadas características do estímulo discriminativo, comuns a vários estímulos, e ao mesmo tempo não ficar sob controle de outras características. Nota-se que esses participantes (principalmente o 2) conseguiram responder de forma adequada ao se depararem com os estímulos “círculos” e “quadrados”. 
Finalmente, observa-se que o Participante 2 teve um desempenho melhor no experimento do que o Participante 1. De acordo com Baum (2006) o Behaviorismo radical busca a raiz do comportamento nas interações entre homem e ambiente. A performance superior do Participante 2 pode ter ocorrido por ele ser mais velho, o que lhe possibilita mais interações com o ambiente em que vive. 
 
6. REFERÊNCIAS
BAUM, W. M. Compreender o Behaviorismo: Comportamento, cultura e evolução. 2a ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.
BORGES, N. B; CASSAS, F. A. Clínica analítico-comportamental: aspectos teóricos e práticos. Porto Alegre: Artmed, 2012.
GADELHA, Y. A; VASCONCELOS, L. A. Generalização de estímulos: aspectos conceituais, metodológicos e de intervenção. In: RODRIGUES, J. A; RIBEIRO, M. R. (Org.). Análise do comportamento: pesquisa, teoria e aplicação. Porto Alegre: Artmed, 2007, p. 139-159.
MEYER, S. Análise funcional do comportamento. In: COSTA, C. E; LUZIA, J. C; SANT’ANNA, H. N. (Org.). Primeiros passos em análise do comportamento e cognição (v. 1). Santo André: Esetec, 2003.
MOREIRA, M. B; MEDEIROS, C. A. Princípios básicos de análise do comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2007.

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