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A importância do Islamismo político

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Questões Geopolíticas Centrais 
 
 Departamento de Prospectiva e Planeamento 
 
A IMPORTÂNCIA DO ISLAMISMO POLÍTICO NO MÉDIO ORIENTE 
Hassan al-Banna
“Precisamos de três gerações para os nossos 
planos – uma para ouvir, uma para lutar e a 
outra para ganhar” 
Catarina Mendes Leal1
INTRODUÇÃO 
Criada em 1928 pelo egípcio Hassan al-Banna, a Irmandade Muçulmana contou, desde o 
início, com uma grande adesão e rapidamente se expandiu para outros países. Actualmente, 
a Irmandade é uma das forças políticas e religiosas mais influentes no mundo islâmico, 
sobretudo no mundo árabe. 
A Irmandade Muçulmana tem como grande objectivo a criação do Califado Islâmico, segundo 
o Alcorão e sob a égide da Sharia. 
O presente trabalho propõe-se analisar o papel da Irmandade Muçulmana no Médio Oriente e 
compreender o seu papel na propagação e implementação do Islão Político no século XXI. 
Este artigo está dividido em três partes. 
Começa-se por fazer uma breve descrição da Irmandade Muçulmana, analisando a sua 
criação e os seus objectivos. Apontam-se ainda as suas personagens e ideólogos chave na 
criação e evolução desta Organização. 
Seguidamente, analisam-se os principais “braços” da Irmandade no Médio Oriente, onde 
nalguns países ela tem uma representação legal no Parlamento. 
Na terceira, e última parte, são abordadas as relações conturbadas entre a Irmandade 
Muçulmana e a Arábia Saudita. 
 
1 catarina@dpp.pt 
Informação Internacional, 2006, Suplemento 
 
 Departamento de Prospectiva e Planeamento 218
 
1. OS PILARES DA IRMANDADE MUÇULMANA 
1.1. Breve Enquadramento 
A “Irmandade Muçulmana” (jamiat al-Ikhwan al-muslimun) significa literalmente Sociedade 
de Irmãos Muçulmanos. Trata-se da designação dum movimento islâmico do qual surgiram 
várias organizações religiosas e políticas no Médio Oriente. Apesar de existirem vários 
“braços” da Irmandade noutros países, estes braços são estruturalmente separados; todavia, 
estão ligados pela ideologia comum do Islão Sunita, bem como pela ideia de serem uma 
organização além-fronteiras. 
A primeira Irmandade foi fundada em 1928 por Hassan al-Banna no Egipto, sendo o Egipto 
ainda hoje considerado como a sede do Movimento. A Irmandade Muçulmana opõe-se às 
tendências seculares das nações islâmicas (por exemplo, na Turquia) e pretende "regressar" 
aos ensinamentos do Alcorão, rejeitando as influências ocidentais. Rejeita, igualmente, as 
influências Sufi. O lema da organização é o seguinte: “Alá é o nosso objectivo. O Profeta o 
nosso líder. O Alcorão a nossa lei. Jihad é o nosso caminho. Morrer pelo caminho de Alá é a 
nossa maior esperança”. 
Com efeito, a “Irmandade Muçulmana” defende a criação dum Governo Islâmico, seguindo os 
princípios consignados no Alcorão “O Alcorão é a nossa Constituição”. A interpretação do 
Islão é bastante conservadora em relação aos assuntos sociais, como por exemplo em 
relação ao papel da mulher. Acreditam que o Islão impõe ao homem a luta pela justiça 
social, a erradicação da pobreza e da corrupção e a liberdade política, tal como estão 
definidas no Estado Islâmico. É fortemente hostil ao colonialismo e teve um importante papel 
na luta contra o domínio Ocidental no Egipto e noutros países muçulmanos no início do 
século XX. 
Esta Organização encontra-se implantada com mais força no Levante Árabe2, do que no 
Magrebe ou no Norte de África. Em vários países do mundo Árabe a Irmandade é uma das 
principais forças de oposição aos Governos, como acontece no Egipto, na Síria e na Jordânia 
e é politicamente activa em praticamente quase todos os países muçulmanos. Existem 
também braços da diáspora em países do Ocidente, através de imigrantes que tinham 
previamente sido activos nos seus países de origem. 
Dispondo de uma influência bastante grande em muitos países muçulmanos, frequentemente 
dirige importantes redes islâmicas de caridade, granjeando o apoio da base muçulmana 
pobre. Consequentemente, o Movimento foi banido em várias nações árabes, e a ausência de 
sistemas democráticos impede-os de conquistarem mais poder através das eleições. 
 
2 O Levante Árabe é constituído por Israel, pela Jordânia, pelo Líbano, pela Palestina e pela Síria. 
A Importância do Islamismo Político no Médio Oriente 
 
Departamento de Prospectiva e Planeamento 219
 
Ao contrário do que se crê no Ocidente, a Irmandade persegue os seus valores 
pacificamente, e defende a participação em sistemas democráticos, bem como a reforma 
democrática das ditaduras. Todavia, aceita excepções no caso de ocupação militar, e o seu 
braço na Palestina – o Hamas – colocou em prática uma luta violenta contra Israel. 
Inicialmente, a Irmandade foi construída segundo o modelo duma Confraria Religiosa3, 
implicando o dever de obediência ao Guia (murshid) e ao Conselho (Comité Central), criando 
e dominando organizações sociais – sindicatos, movimentos de mulheres e de estudantes, 
entre outros. O seu fundador colocou o acento na acção política e social e o estrito respeito 
pela Lei Islâmica, marcando uma ruptura com os meios fundamentalistas tradicionais. Com 
efeito, H. al-Banna insistiu na necessidade de assegurar a justiça social, cuja 
responsabilidade cabia ao Estado através da aplicação do imposto islâmico (zakat) e da sua 
redistribuição. Tomando como ponto de partida os conceitos base do Alcorão, H. al-Banna 
propôs a reorganização da sociedade a partir de um Estado Islâmico. Relativamente aos 
castigos ordenados pelo Alcorão (os hudud), o fundador defendeu que estes não podiam ser 
aplicados numa sociedade verdadeiramente islâmica onde regenera a justiça. No plano 
internacional, H. al-Banna críticou o nacionalismo e sonhou com a reconstrução da Umma4. 
Em termos de estrutura, a Irmandade apresenta uma estrutura de movimento político-
religioso no mundo muçulmano. O seu modo de funcionar é o resultado da tradição oriunda 
das ordens místicas Sufis (apesar deles a recusarem) e dum partido político moderno. Na 
liderança do movimento existe o Guia Supremo (Murshid), escolhido por um Conselho 
Consultivo Geral (majlis al shura), espécie dum Comité Central do movimento. Uma vez o 
Guia eleito (o qual é praticamente inamovível), é ajudado por um Gabinete de Orientação 
(maktab ai irshad al ’amm) e de nove Comités Especializados (cultura, propaganda, finanças, 
...). Os membros podem aderir a seguir a uma formação que engloba vários graus. Devem 
obediência e fidelidade ao Guia e comprometem-se a viver como verdadeiros muçulmanos na 
sua vida privada e social. Os membros do movimento aplicam os princípios como se já 
vivessem numa verdadeira sociedade islâmica. Trata-se duma espécie de Confraria religiosa, 
com a preocupação do perfeccionismo moral dos seus membros, dum partido político e dum 
movimento social. 
 
3 A origem das Confrarias remonta aos primeiros místicos muçulmanos, os Sufis. Pretendiam ter o 
conhecimento da Lei e atingir um grau de vivência ascética que lhes permitia uma maior aproximação 
ao Transcendente. Nos séculos X e XI reuniam-se em conventos (ribat), tendo começado a partir do 
século XII a transformação em movimentos de discípulos com um guia cuja função era iniciar os novos 
membros. Com o decorrer dos séculos foram surgindo numerosas Confrarias muçulmanas, que se 
estenderam ao conjunto do mundo muçulmano. As quatro maiores são as seguintes: Qâdiriyya (século 
XII), Mawâwiyya (século XII), Shâdhiliyya (século XIII) e a Tijâniyya (século XVIII). A Confraria tem 
por objectivo transmitir e difundir a herança espiritual do fundador. 
4 Comunidade dos crentes; "a nação islâmica”.Informação Internacional, 2006, Suplemento 
 
 Departamento de Prospectiva e Planeamento 220
 
Figura 1.1 
ESTRUTURA DA IRMANDADE MUÇULMANA 
Gabinete de Orientação
(maktab ai irshad al 'amm)
Cultura Propaganda Finanças ...
Comítés Especializados
Guia
(Murshid)
Conselho Consultivo Geral
(majlis al shura)
 Fonte: Baseado em Olivier Roy, 2001, p. 41. 
A Sociedade de Irmãos Muçulmanos preconiza a substituição da Umma à nação, tratando-se 
dum movimento internacionalizado. Com efeito, foram criadas noutros países secções 
nacionais, as quais teoricamente reconhecem o Guia escolhido no Egipto. Cada uma é 
liderada por um Supervisor (muraqib): 
‹ em 1944, sob a direcção de Mustafa al Siba’y, foi criada a Irmandade Muçulmana na 
Síria; 
‹ em 1946 foi criada a secção na Jordânia; 
‹ em 1954 foi constituída a secção do Sudão, a qual em 1964, criou a Frente da Carta 
Islâmica, cujo Secretário Geral é Hassan Tourabi. Em 1985 organizou a Frente 
Islâmica Nacional, a qual se autonomizou do Cairo. A partir de 1989, H. Tourabi 
procurou fundar uma nova Internacional Islâmica; 
‹ na Palestina, o Partido da Libertação Islâmica, fundado em 1953, pela Irmandade 
Muçulmana, deixou logo a organização e acentuou gradualmente a sua vertente 
política. A Confraria restabeleceu-se na Palestina de forma mais organizada com a 
fundação do Hamas, em 1987, sob a direcção do Xeque Ahmed Yasin; 
‹ no Magrebe, a Irmandade tem uma influência tardia. Em Marrocos, existem 
simpatizantes da Irmandade entre os líderes do Istqlal5. Na Tunísia ela influenciou 
 
5 O Istqlal é um partido político marroquino. Fundado em 1944, é um partido nacionalista e bastante 
activo em relação às questões pan-árabes. Inicialmente era o umbrella do grupo que lutava pela 
A Importância do Islamismo Político no Médio Oriente 
 
Departamento de Prospectiva e Planeamento 221
 
Rachid Ghanouchi e Abdel Fattah Mourou, que fundaram a Associação para a Defesa 
do Alcorão em 1971, seguidamente o Movimento de Tendência Islâmica em 1981, 
rebaptizado de Al Nahda em 1988. Todavia, a Tunísia não têm nenhuma ligação 
orgânica com a Irmandade Muçulmana Egípcia. Na Argélia a Irmandade não tem nada 
a ver com a FIS, apesar de alguns membros egípcios da Confraria terem 
desempenhado um importante papel na arabização e na islamização do sistema de 
ensino argelino (como por exemplo, Mohammad Ghazzali ou Qardhawi) nos anos 70 e 
80, segundo as ordens da FLN então no poder. Em 1990, foi criado o Movimento da 
Sociedade para a Paz, por Mahfud Nahnah, argenlino membro da Irmandade 
Muçulmana Egípcia. Este partido está actualmente no poder em Governo de Coligação; 
‹ no resto do panorama islâmico a influência da Irmandade é feita através de contactos 
pessoais e pela literatura. B. Rabbani, o Presidente do Partido do Afeganistão Jamiat-i 
Islami, foi Chefe de Estado entre 1992-1996. B. Rabbani estudou na Universidade Al 
Azhar no Cairo e é seguidor das ideias da Irmandade Muçulmana. Na Ásia Central, 
Qazi Akbar Touradjanzade, jovem oficial mollah soviético tornou-se num dos dirigentes 
da oposição islâmica em 1992, adoptando as visões da Irmandade Muçulmana, 
aquando dos seus estudos na Universidade de Teologia de Omã, nos anos 80. No 
Iémen, o movimento Islah é próximo da Irmandade, sem, no entanto, estar 
organicamente ligado a ele. 
A Irmandade Muçulmana tem entre os seus membros intelectuais de alto nível, bem como 
profissionais, homens de negócios e técnicos. “Ils fournissent aujourd’hui les réseaux 
d’influence qui manquent aux milieux wahhabis saoudiens, riches en argent mais pauvres en 
hommes et en idées.”6
O corpo da doutrina elaborado por H. al-Banna não implica nem a violência, nem a 
revolução, apesar de propor uma acção reformista. Esta opção reformista será posta em 
prática nos raros países muçulmanos onde existe um sistema parlamentar que permite o 
jogo político, como na Turquia. 
No início da sua criação, a Irmandade foi apresentada como uma organização puramente 
religiosa e filantrópica, cujo objectivo era a expansão dos princípios morais islâmicos e a 
realização de boas obras. 
 
independência de Marrocos de França e de Espanha. Actualmente, é considerado como a ferramenta 
política da monarquia marroquina. O seu líder é Abbas El-Fassi. Nas eleições legislativas de 1993 ficou 
em terceiro lugar, nas de 1997 e de 2002 tem ficado sempre em segundo lugar. 
6 Olivier Roy, Généalogie de L’Islamisme, (Paris: Hachette Littératures, 2001), p. 44. 
Informação Internacional, 2006, Suplemento 
 
 Departamento de Prospectiva e Planeamento 222
 
No nascimento da Irmandade houve uma certa reacção ao contexto que circundava o mundo 
árabe. Os poderes europeus tinham dividido e enfrentado os árabes. Não apenas em temas 
políticos, mas também em temas religiosos. 
Naquela época a estrutura social do Egipto estava dividida em dois blocos: por um lado, uma 
sociedade cada vez mais interessada pelos assuntos públicos e pela globalização do Islão; 
por outro, o Clero estabelecido. Um era formado pela pessoas da Universidade Al Ahzar e o 
outro era composto pelas “Sociedades Islâmicas”. 
As actividades da Irmandade apresentaram um carácter mais político a partir do ano 1938 e 
houve momentos em que houve ameaças de “lutar contra qualquer político ou organização 
que não trabalhe para apoiar o Islão e a restauração da sua glória”. 
Paralelamente, a Irmandade teve o cuidado de não enfrentar a Coroa, a qual parecia apoiar 
a Irmandade, dado que a considerava uma força capaz de fazer frente aos nacionalistas 
liberais do partido Wafd. 
No início dos anos 40, momento em que eclodiu um confronto entre os egípcios e os 
britânicos, a Irmandade também evitou um enfrentamento com os britânicos, pois ainda não 
tinha a sua capacidade orgânica e militar desenvolvida. 
Paralelamente, nessa altura já a Irmandade tinha iniciado a organização duma “estrutura 
secreta especial” no seio do movimento, tendo sido formadas unidades especiais. A 
Irmandade construiu as suas próprias fábricas, escolas e hospitais e conseguiu infiltrar-se 
em organizações como sindicatos e as forças armadas, de forma a que, nos finais dos anos 
40, a Irmandade podia qualificar-se como um “Estado, dentro do Estado.”7
Tinha ocorrido uma transformação na organização e tiveram lugar ataques terroristas contra 
os interesses judeus e britânicos no Egipto, tendo provocado vítimas civis. O Governo teve 
de intervir e dissolver a Irmandade. Os confrontos entre ambos alcançaram o seu nível 
máximo em finais de 1948 e princípios de 1949 com o assassinato do Primeiro-Ministro 
Nuqrashi, por parte da Irmandade. A resposta do Governo foi o assassinato de Hassan al-
Banna. 
Com a morte do Pai da Irmandade, a organização continuou a sua actividade; o Guia que se 
seguiu ao fundador foi Hassan al Hudaibi. A 23 de Julho de 1952, estabeleceu-se o regime 
militar e em 1954 a actividade da Irmandade foi dissolvida pelas autoridades. Todavia, os 
seus dirigentes continuaram o seu trabalho, apesar de grande parte dos seus membros se 
encontrarem em prisão, ou expatriados (após a sua liberdade da prisão). 
 
7 Cf. Leopoldo G. Garcia, “El Islam Moderno. Las Fuentes II”, in Revista Ejército, N.º Extraordinário, 771, 
(Ministerio de Defensa de España, Junho 2005), p. 56. 
A Importância do Islamismo Político no Médio Oriente 
 
Departamento de Prospectiva e Planeamento 223
Nos anos seguintes, M. Anwar al-Sadat e Hosni Mubarak usaram a Irmandade como um 
contra-pesoà extrema esquerda. 
Em 1982, o Presidente Sírio Hafez el-Assad eliminou o braço armado dos Irmãos 
Muçulmanos – l’al Talia al-Mukatila (Avant-garde Combattente) – tendo os seus membros se 
dispersado pela Arábia Saúdita, Jordânia, Kuweit e Afeganistão. Concomitantemente, a 
Irmandade Muçulmana dotou-se dum braço armado clandestino no Egipto no início dos anos 
80. Este movimento clandestino foi tolerado pelo poder egípcio mas interdito na Síria. Em 
1982, os órgãos de imprensa deste movimento foram destruídos e praticamente a totalidade 
das suas publicações foram apreendidas. 
Na década de 90, a Confraria apresentou-se no Egipto como um movimento democrático e 
defensor da democracia. Três Manifestos foram publicados, nomeadamente: 
‹ Democracia Indispensável (defesa da democracia) 
‹ Nossos Irmãos e Compatriotas Coptas (direitos das minorias) 
‹ O Estatuto da Mulher 
Estes Manifestos foram redigidos, sobretudo, por jovens membros e foram adoptados pela 
Confraria, apesar de não haver grande entusiasmo no seio dos membros mais velhos. Para 
os membros mais jovens, a direcção da Irmandade era demasiado conservadora e daí que, 
em 1996, dezassete dos seus membros criaram oficialmente um partido político novo 
designado Hizb Al Wasat, um partido de centro, defensor de tendências moderadas, com 
membros coptas, sob a liderança de Abul-Ela Madi. Actualmente, este partido ainda não foi 
legalizado pelas autoridades egípcias. 
Hoje em dia, a Irmandade Muçulmana conseguiu ter em alguns países representantes nos 
parlamentos, quer através de partidos políticos reconhecidos, quer como independentes, 
conforme se pode ver na figura 1.2. 
Figura 1.2 
IRMANDADE MUÇULMANA: REPRESENTAÇÃO PARLAMENTAR 
Independentes
Irmandade Muçulmana
88 Lugares
Egipto
Eleições Legislativas 2005
Assembleia do Povo
454 Lugares
Al Menbar Islamic Bloc
8 Lugares
(Maior Grupo da Oposição)
Barém
Eleições Legislativas 2002
Câmara dos Deputados
40 Lugares
MSP
8 Lugares
(Coligação Governamental)
Argélia
Eleições Legislativas 2002
Assembleia Nacional do Povo
380 Lugares
HAMAS
74 Lugares
(Governo)
Palestina
Eleições Legislativas 2006
Conselho Legislativo da Palestina
132 Lugares
Islamic Action Front
20 Lugares
Jordânia
Eleições Legislativas 2003
Câmara dos Deputados
110 Lugares
Iraqi Accord Front
Coligação
44 Lugares
Curdistão Iraquiano
KIU
5 Lugares
Iraque
Eleições Legislativas 2005
Conselho dos Representantes
275 Lugares
Irmandade Muçulmana
Representação Parlamentar
 
 
Fonte: Elaborado pela própria autora. 
Informação Internacional, 2006, Suplemento 
 
 Departamento de Prospectiva e Planeamento 224
Noutros países a Irmandade está presente através de braços não legalizados (figura 1.3). 
Figura 1.3 
BRAÇOS NÃO LEGALIZADOS DA IRMANDADE MUÇULMANA 
Egipto
Irmandade 
Muçulmana
Guia:
Mohammed
Mahdi Akef
Center Party
(Hizb Al-Wasat)
Líder:
Abu Ela Madi
Egyptian Islamic 
Jihad
Líder
Ayman 
al-Zawahiri
Al-Adl Wal 
lhsane
Líder:
Abdessalem 
Yassine
Marrocos Síria
Tunísia
Irmandade 
Muçulmana
Líder:
Ali Bayanouni
Parti de La 
Renaissance
Líder:
Rachi Gannouchi
Jamaat al-Islamiyya
(Islamic Group) 
Jihad
Líder
Sheikh Omar Abdel Rahman
Associações Islâmicas Partidos Políticos
Não Legalizados
Islamistas Moderados
Grupos Islâmicos 
Armados
Salafitas/Influência Wahhabita/ Terroristas
Legenda: 
Fonte: Elaborado pela própria autora. 
Presentemente, o movimento parece ter abandonado o projecto da construção dum Estado 
Teocrático, defendendo a aproximação ao modelo dos movimentos islamistas marroquinos 
(conhecidos pelo seu pragmatismo). 
A Importância do Islamismo Político no Médio Oriente 
 
Departamento de Prospectiva e Planeamento 225
 
Não obstante, desde o início de 2006, a Irmandade Muçulmana tem vindo a demonstrar uma 
atitude mais activa, claramente visível quer na sua participação na questão dos cartoons, 
quer no controlo gradual do canal de televisão Al-Jazeera, quer em relação aos movimentos 
Jihadistas e, pela primeira vez, o seu Guia Supremo manifestou em público a ideia da 
construção do Califado Islâmico. 
Em Fevereiro de 2006, o L'European Strategic Intelligence & Security Centre (ESISC) acusou 
a Irmandade Muçulmana de ter mobilizado as redes do seu Movimento, espalhadas em todo 
o mundo, em torno da publicação das caricaturas de Maomé pelo jornal Jyllands-Posten. 
Segundo o ESISC, a Organização tem por objectivo “contribuir para o progresso do dossier 
da Lei contra a blasfémia (Lei esta legalizada em França pela Revolução Francesa em 1792) 
e radicalizar ainda mais os sectores “sensíveis” da imigração, em particular a juventude e os 
estudantes a fim de conseguir uma maior infiltração nas organizações muçulmanas 
tradicionais”8. 
Com efeito, segundo Claude Moniquet (Presidente do ESISC), a Irmandade Muçulmana 
conseguiu mobilizar alguns milhares de muçulmanos na participação dos manifestos contra a 
publicação das caricaturas de Maomé. 
Segundo o mesmo autor, a Irmandade Muçulmana tem uma agenda política que explica o 
interesse da Organização por um assunto como o das caricaturas. 
“Cet agenda en réalité est double: à la fois mondial et européen. 
Au plan mondial, les Frères soutiennent les mouvements djihadistes, quand 
ils ne les ont pas purement et simplement suscités. Dans ce bras de fer 
mondial, tout ce qui fortifie le camp islamiste et lui permet de rassembler 
plus largement autour de lui est bon à prendre pour les Frères. Dans ce 
contexte, l’affaire des caricatures tombaient à pic puisqu’elle permettait de 
«prouver » que, loin de se limiter à mener une guerre contre le terrorisme, le 
monde occidental et ses alliés locaux sont, en fait, en guerre contre l’Islam. 
Au plan européen, l’agenda des Frères est connu: pousser les feux du 
communautarisme de manière à isoler les communautés musulmanes des 
sociétés dans lesquelles elles vivent et permettre leur prise en main par les 
associations proches de la mouvance. Au passage, bien entendu, resurgit l’un 
des axes stratégiques dominants des Frères musulmans: l’imposition de 
 
8 Cf. Claude Moniquet, European Strategic Intelligence & Strategy, 02/02/2006, [online] Disponível em 
http://www.esisc.org/Caricatures%20de%20Mahomet.pdf 
Informação Internacional, 2006, Suplemento 
 
 Departamento de Prospectiva e Planeamento 226
 
certains pans de la Charia au monde non musulman, qui est, dans ce cas 
précis, particulièrement perceptible.”9
Concomitantemente, segundo um intelectual tunisino, Dr. Khaled Shawkat, director do 
Centro para a Promoção da Democracia no Mundo Árabe (sediada na Holanda), o canal de 
televisão Al-Jazeera encontra-se dominada pela Irmandade Muçulmana. 
"At [Al-Jazeera, employees are] no longer appointed based on qualifications, 
but [based on] agreed-upon selections, or [are selected by] one of the 
[Muslim Brotherhood] leaders. Based on what I was told by a friend inside 
the station, nearly 80% of the station's recent appointees – particularly in the 
production and the editing [departments] – are Muslim Brotherhood 
members or are close to movements [affiliated with] the Muslim 
Brotherhood. Appointments based on considerations of loyalty [to the Muslim 
Brotherhood] are even made in the management bodies of new professional 
departments which Al-Jazeera has decided to launch in the near future. The 
appointees have no professional expertise in the [relevant] fields [but are 
chosen for their affiliation with the Muslim Brotherhood]”10. 
Segundo Michel Elbaz11, desde o início de Agosto de 2006,o Guia Supremo da Irmandade 
Egípcia, Mohammed Akef, tem vindo a alterar a postura da Irmandade em relação à 
violência. Com efeito, M. Akef proferiu uma série de discursos no sentido da activação dos 
fundamentalistas Sunitas e dos movimentos Jihadistas em particular. A 01 de Agosto, numa 
Conferência no Cairo do Sindicato dos Professores enfatizou que a Irmandade Muçulmana 
“was and will remain fighters of Jihad until the reencounter with the Allah or will not reach 
their victory” e no “the weekly address”, publicado a 19 de Agosto declarou que “Islamic 
nation was under the threat not only in the zone of the Arab-Israeli conflict, but also in other 
regions of the world, in particular in Iraq and Afghanistan”. 
M. Akef salientou referiu ainda o apoio da Irmandade Muçulmana não apenas ao Hamas e à 
Jihad Islâmica, como também a todos os outros agrupamentos de Mojahedin no mundo 
muçulmano, que aspiram à criação do Califado Islâmico e ao estabelecimento da Sharia e a 
educação da geração jovem dentro das tradições da Jihad. 
 
9 Claude Moniquet, Op. Cit., pp. 12-13. 
10 Khaled Shawkat, “Al-Jazeera TV – A Mouthpiece of the Muslim Brotherhood”, in MEMRI Special 
Dispatch Series – No. 1262, 24/08/06, [On-line] Disponível em 
http://www.memri.org/bin/latestnews.cgi?ID=SD126206. 
11 Cf. Michel Elbaz, “Lebanon War Continue in Central Asia”, in Axis Information and Analysis, 25/08/06, 
[on-line] Disponível em http://www.axisglobe.com/article.asp?article=1044. 
A Importância do Islamismo Político no Médio Oriente 
 
Departamento de Prospectiva e Planeamento 227
 
“These statements made by Akef contain two moments especially important: 
‹ From the beginning of the 1970s the official leadership of the Muslim 
brotherhood had refused the idea of an immediate Jihad. This 
essentially distinguished the movement from more radical Jihadist 
groupings that had broken away from it. In turn, the central leadership 
of the Muslim brotherhood supported integration into the legal political 
life of Egypt and other Muslim countries. The paramount attention was 
paid to the propaganda called to prepare Moslems to the stage-by-
stage Islamization of the state system. At the same time, theoretically 
it was admitted that «the Islamic nation» should be ready to 
conducting Jihad, especially in the case of foreign aggression. In this 
connection, the struggle of HAMAS against Israel or that of Iraqis 
against the western coalition in 2003 was considered absolutely 
legitimate. However, the central leadership of the movement has never 
expressed its support to the global Jihad aimed at creation of the 
Islamic Caliphate. 
‹ In his appeal on August 19 Akef had clearly expressed his support of 
Jihad not only on primordially Muslim lands exposed to «American-
Zionist aggression» (Palestine, Iraq, Afghanistan), but actually 
worldwide where there are the groupings of Mojahedin aspiring to the 
creation of Islamic Caliphate. As is known, they are actively acting in 
the Balkans, in Russia, republics of Central Asia and in Northwest China 
(Xinjiang province), in India, South Thailand and the Philippines, and 
also in the countries of East Africa. 
Akef’ s remarks are speaking for the new activist line in the activity of the 
Muslim brotherhood. His statements also are a declaration of intentions of 
the movement to raise its role in the fronts of the world Jihad. As the Muslim 
brotherhood remains the largest Islamic organization operating in a greater 
part of the globe, activization of their assistance to the Jihadist movement 
would inevitably be reflected in the situation at least in several regions of the 
world”12. 
Em suma, com a morte de H. al-Banna, em 1948 e com o confronto com o novo regime 
revolucionário egípcio, nos anos 50, a Irmandade alterou as suas preocupações destacando-
se a importância da vertente política. Apesar de ser visível a preocupação da componente 
política da organização através da aparente aceitação da via de democrática como meio de 
 
12 Michel Elbaz, Op.Cit. 
Informação Internacional, 2006, Suplemento 
 
 Departamento de Prospectiva e Planeamento 228
assegurar uma presença nos governos de alguns países; também é visível o reforço duma 
linha mais activista na actividade da Organização, através do apoio manifestado aos grupos 
Jihadistas. 
Caixa 1.1 – A IRMANDADE MUÇULMANA E O NAZISMO 
Segundo um artigo publicado na Internet “The Muslim Brotherwood, Nazis and Al-Qaeda” da 
autoria de John Loftus13, a Irmandade Muçulmana “was a facist organization that was hired by 
Western intelligence that evolved over time into what we today know as al-Qaeda”14. 
Segundo este autor, H. al-Banna era um admirador de A. Hitler tendo-se correspondido 
bastante com o líder alemão. Nos anos 30, H. al-Banna e a Irmandade Muçulmana tornaram-se 
numa arma secreta do Nazi Intelligence. Com efeito, a política oficial do Terceiro Reich era 
desenvolvimento secreto da Irmandade Muçulmana criando um grande grupo dentro do Egipto. 
Durante a II Guerra Mundial a Irmandade começou a expandir-se e a ganhar uma ampla 
influência. A Organização tinha, inclusive, uma secção Palestiniana chefiada pelo Grande Mufti 
de Jerusalém, Mohammad Amin al-Husayni15, um homem bastante intolerante do seu tempo. O 
Grande Mufti de Jerusalém era simultaneamente o representante da Irmandade Muçulmana 
para a Palestina. Durante a II Guerra Mundial, o Grande Mufti deslocou-se à Alemanha e ajudou 
a recrutar uma divisão SS Internacional de Árabes Nazis. Esta divisão estava baseada na 
Croácia e designava-se Divisão Muçulmana Handjar. O seu objectivo era tornar-se no core do 
novo exército de Árabes fascistas de Hitler, os quais iriam conquistar a Península Árabe até 
África. 
No final da II Guerra, a Irmandade foi acusada de crimes de guerra. Os Intelligence handlers 
alemães foram capturados no Cairo. Toda a rede foi cercada pelos Serviços Secretos Britânicos. 
Todavia, segundo John Loftus o paradoxal é que o Governo Inglês contratou os Árabes Nazis da 
Irmandade Muçulmana com a finalidade de acabar com o futuro Estado de Israel. 
Paralelamente, o Intelligence Service francês também cooperou, libertando o Grande Mufti e 
enviando-o para o Egipto, reunindo todos os Árabes Nazis. Assim, entre 1945-48 os Serviços 
Secretos Britânicos protegeram os Árabes Nazis, mas falharam em anular a criação do Estado 
de Israel. 
Seguidamente, os ingleses “venderam” os Árabes Nazis ao predecessor da futura CIA. O 
objectivo era usar estes Árabes Nazis no Médio Oriente como o contra-peso aos comunistas 
árabes. 
Todavia, Nasser acabou por banir a organização e aprisionar muitos dos seus membros. 
Durante a década de 50, a CIA evacuou muitos dos Árabes Nazis da Irmandade para a Arábia 
Saudita, tendo alguns deles tornado-se professores em Madrasas (escolas religiosas), 
assistindo-se à combinação de doutrinas nazis com o wahhabismo. Numa destas escolas foi 
aluno Osama Bin Laden. 
Em 1979, a CIA decidiu enviar os Árabes Nazis para o Afeganistão sob a designação de Maktab 
al Khidimat il Mujahideen (MAK). Durante a sua presença no Afeganistão, Osama Bin Laden foi 
aumentando a sua proeminência entre 1979-1989, declarando que tinham ganho a guerra 
contra os soviéticos. Este grupo de Árabes Nazis acabou por se tornar na al-Qaeda. 
 
13 John Loftus é Deputy Attorney General dos EUA. 
A Importância do Islamismo Político no Médio Oriente 
 
Departamento de Prospectiva e Planeamento 229
 
1.2. Personagens-Chave 
Desde a criação da Irmandade Muçulmana destacam-se ideólogos,cujos pontos de vista 
tiveram importância e influência fundamentais no século passado e que continuam com 
bastantes seguidores no século que começa. 
Hassan al-Banna nasceu numa pequena cidade do Delta – Mahmudiyya (Egipto) – no seio 
duma família de clérigos e de artesãos, em 1906. Filho primogénito do Xeque Ahmad Abd al-
Rahman al-Banna, escritor e líder duma Mesquita local. H. al-Banna foi criado dentro dos 
princípios do Islão e com 12 anos fundou uma organização designada Sociedade para o 
Comportamento Moral, tendo seguidamente criado outra chamada Sociedade para Impedir o 
Perdão. H. al-Banna terminou a sua formação para professor no Cairo, numa Escola literária 
e religiosa moderna (Da al’Ulum – Casa das Ciências), fundada por Mohamed Abduh16, em 
 
14 John Loftus, “The Muslim Brotherwood, Nazis and Al-Qaeda”, Jewish Community News, 21 de Julho de 
2005, [On-line] Disponível em http://www.red-ice.net/specialreports/2005/07jul/nazisalqaeda.html. 
15 O Grande Mufti de Jerusalém desempenhou um grande papel na elaboração dos primeiros movimentos 
terroristas árabes que atacaram os sionistas na então Palestina e no recrutamento de muçulmanos 
para combater ao lado do exército alemão durante a Segunda Guerra Mundial. Mohammad Amin al-
Husayni tornou-se próximo dos círculos da liderança nazista, fazendo discursos anti-semitas nas 
rádios árabes e desencadeando operações de recrutamento para eles perto do final da Segunda 
Guerra Mundial. 
16 Mohamed Abduh foi um reformador religioso egípcio, o qual em 1899 se tornou no Grande Mufti do 
Egipto. Juntamente com Jamal al-Din al-Aghnai fundou o movimento Salafista. Mohamed Abduh teve 
dois alunos, os quais tiveram um papel importante na continuição do movimento Salafista, após a sua 
morte em 1905. Um foi o Sheik Ahmad Abd al-Rahman al-Banna (pai de H. al-Banna) e o outro foi 
Rashid Ridâ (um maçónico). 
O moderno Salafismo é uma corrente de pensamento que emergiu durante a segunda metade do 
século XIX, a partir do questionar, no quadro do Islão, do desequilíbrio de poder patente entre o 
mundo muçulmano e a Europa. O salafismo pretendia proceder a uma reforma profunda do mundo 
muçulmano para pôr fim à sua estagnação cultural e ao seu declínio, vistos como a raiz do atraso do 
mundo islâmico face à civilização europeia. Três pensadores desempenharam um papel crucial neste 
movimento intelectual – Jamâluddin Afghani (1838-1898), Mohammed Abduh (1849-1905) e Rashid 
Ridâ (1865-1935). Sendo o Islão uma ortopraxis (ou seja, o comportamento tem precedência face às 
convicções) mais do que uma ortodoxia, o modo de reconquistar a flexibilidade inicial do Islão 
passaria por revitalizar a lei e a educação mais do que a teologia. A designação de salafismo deriva de 
al salaf expressão que se refere aos companheiros do Profeta Maomé, considerados os seus 
seguidores mais fiéis. 
A reforma que os salafitas defendem não passava pela adopção da modernidade mas sim por um 
regresso à tradição do Profeta como caminho necessário para pensar essa mesma modernidade. 
Assim o Salafismo convida os crentes a regressar às formas do Islão mais puras e não adulteradas, ou 
seja aquelas que foram praticadas por Maomé e pelos seus companheiros, rejeitando práticas, como 
os rituais sufis, crenças, como a veneração de santos ou comportamentos, como as que se baseiam 
no direito consuetudinário que não encontram sustentação no Alcorão ou para as quais não existiram 
precedentes nos actos e palavras de Maomé. Mas os pensadores salafitas também recusaram a ideia 
que os muçulmanos aceitassem cegamente as interpretações dos textos religiosos desenvolvidos ao 
Informação Internacional, 2006, Suplemento 
 
 Departamento de Prospectiva e Planeamento 230
 
1872. Durante a sua adolescência tornou-se membro de uma ordem Sufi – a Ordem dos 
Irmãos Hasafiyya. 
Assim, durante a sua juventude, H. al-Banna foi influenciado pelo movimento islâmico, pela 
ocupação britânica, pelo seu pai, pelo seu mentor Mohammend Rashid Ridâ e pela Maçonaria 
(da qual também se pensa que foi membro). 
Em 1928, na cidade de Ismailiya, na zona do Canal (a qual estava sob jugo britânico), 
fundou a Irmandade Muçulmana (Al Ijwan al Muslimun), organização mãe e principal fonte 
de inspiração para muitas outras organizações fundamentalistas noutros países (Síria, 
Jordânia, Sudão, ...). 
Orador, pregador e escritor eloquente, H. al-Banna percorreu o país apresentando a pessoas 
de todas as classes sociais as suas ideias. Em 1933, instalou-se no Cairo e três anos mais 
tarde deixou a sua profissão de professor para se dedicar totalmente à Irmandade. A partir 
de Março de 1936 a Irmandade Muçulmana lançou o primeiro número do seu periódico. 
H. al-Banna expressou a sua ideologia numa série de pequenos panfletos (al Aqaid, “Entre 
Ontem e Hoje”, “A caminho da Luz”). 
Para H. al-Banna e para o seu sucessor Hassan al-Hudaibi, a base legal e constitucional 
existente no Egipto podia, no caso de ser reformada, satisfazer os requisitos políticos do 
Islão de um “Estado muçulmano”. 
A mensagem do fundador da Irmandade era “Islâmico” e para ele esta palavra tinha um 
significado total. 
 
longo dos séculos pelos teólogos, indo até à rejeição das quatro escolas jurídicas – as mazhab. 
Defendendo, pelo contrário, o direito dos crentes individualmente interpretarem os textos fundadores 
(Alcorão o e Sunna) através da prática da razão independente, o que se designa em árabe por ijtihâd, 
e que representa uma ruptura considerável com dez séculos de história do Islão. A defesa desta 
abordagem visava destruir o monopólio que os religiosos – os Ulamas – exerciam sobre o património 
religioso. 
Se em termos religiosos o Salafismo representa uma ruptura, já em termos políticos o pensamento 
dos fundadores parece mais tradicionalista: o Estado, enquanto instância política é desvalorizado, 
tendo como missão principal fazer cumprir a lei islâmica – a Sharia. E a preocupação com a 
reconstituição da Umma muçulmana, acaba por se centrar na questão da reabilitação do Califado. 
Com efeito, no início do séc. XX o Califado Otomano, já moribundo conhece um aumento de 
popularidade, sobretudo entre os muçulmanos não árabes (com destaque para os da Índia). Para 
Olivier Roy o corte entre o mundo árabe e não árabe no seio do movimento salafita é evidente com a 
questão do Califado. Enquanto os árabes sonham com a reconstituição de um Império árabe e lutam 
contra o Império Otomano, este é visto pela maioria dos outros muçulmanos como a melhor contra o 
Imperialismo Europeu e como o ponto de partida para a reconstituição da Umma. (Cf. J. M. Félix 
Ribeiro, Op. cit., p. 223). 
A Importância do Islamismo Político no Médio Oriente 
 
Departamento de Prospectiva e Planeamento 231
Segundo H. al-Banna, o ponto de partida encontrava-se na esfera moral e a metodologia 
islâmica (minhaj), se aplicada adequadamente, poderia apresentar soluções a todas as 
preocupações sociais, como as relativas à família, nacionalismo, socialismo, capitalismo, 
bolchevismo, repartição da riqueza e tudo o que se relaciona com os temas políticos e 
sociais. 
No plano internacional, H. al-Banna criticou o nacionalismo e sonhava com a reconstrução da 
Umma. 
Após a II Guerra Mundial, H. al-Banna tornou-se num dos mais poderosos líderes do Egipto e 
a Irmandade Muçulmana começou a ser considerada pela monarquia egípcia e pelo partido 
secular Wafd como a organização mais radical e mais perigosa do país. Em 1948, os 
membros da Irmandade foram implicados no assassinato dum chefe de polícia do Cairo e o 
Governo egípcio retaliou com a proposta de dissolver a organização. Vários locais da 
Irmandade foramencerrados e centenas dos seus membros foram presos. Semanas mais 
tarde, o Primeiro-Ministro Nuqrashi Pasha foi assassinado. 
Acusado de ter fomentado o assassinato do Primeiro-Ministro Egípcio, H. al-Banna foi 
assassinado pela polícia secreta egípcia, em 1949. 
Caixa 1.2 – A DOUTRINA DA IRMANDADE MUÇULMANA 
H. al-Banna, nos seus Aqâ’id distingue quatro grandes secções, nomeadamente: 
1. a teodiceia propriamente dita (illahiyat) analisa os problemas relativos aos atributos, nomes 
e actos de Deus; 
2. a Profetologia (nubuwat) deve dedicar-se ao estudo dos profetas, a sua inabilidade e a sua 
impecabilidade (isma), bem como a dos livros que se lhes revelou; 
3. a secção reservada às “realidades espirituais” (ruhaniyat) deve definir as ciências relativas aos 
anjos, os génios e a alma (ruh); 
4. a quarta secção, a dos “dados das Escrituras” (sami’iyat) deve abordar, no marco da revelação, o 
exame das crenças relativas à “vida intermédia” (barzakhî); ao castigo da sepultura; à 
ressurreição; ao último Juízo e à recompensa final. 
A partir destas quatro secções é possível ver-se a vontade de H. al-Banna em sobrepor-se às 
oposições tradicionais e ao convite a todos os muçulmanos, ultrapassando as suas divisões em 
relação ao dogma e das suas querelas de outros tempos, unindo-se face aos novos perigos. 
Apesar de H. al-Banna mostrar-se partidário da doutrina dos “antigos” (salaf), não condena a 
dos “modernos” (khalaf) e muitas vezes cita Ghazali, Fakr as Dîn arRazi. 
“Tampoco se le ve desarrollar las profesiones de fe tradicionales; los problemas relativos a los 
compañeros del Profeta; los cuatro primeros califas o las condiciones del imanato. Da la 
sensación de que estos olvidos fueron deliberados, como si quisiera llevar a todos los 
musulmanes, jariyitas, chiitas, mutazilitas o sunnitas, a que olvidaran lo que en el pasado les 
ha separado y ha sido la causa de sus discordias, para que unan todas sus energias en 
dedicarse a tareas más urgentes para el mundo musulmán. [...] 
Informação Internacional, 2006, Suplemento 
 
 Departamento de Prospectiva e Planeamento 232
Al parecer, el objetivo final de los Hermanos Musulmanes no era la creación de un Estado 
islámico, sino de un orden islámico”17. 
No início da fundação da Irmandade as principais preocupações prendiam-se com a ocupação 
britânica e o movimento nacionalista que ela tinha dado origem. Era mais premente a reforma 
moral (islah al nufus) e uma aproximação a uma metodologia islâmica (minhaj islami). 
A Irmandade Muçulmana não se identifica como um partido político, apesar da sua organização 
e dos seus assuntos serem tratados como se fosse um partido. Os “Irmãos” não reclamavam 
para si um Governo, dispondo-se a apoiar qualquer governante que governasse segundo um 
“método do Alcorão”. Todavia, o primeiro passo era dispor de um tempo para difundir e 
conseguir implantar os princípios da Irmandade e dessa forma conseguir-se-ia colocar o 
interesse público à frente do privado. 
Com a morte do fundador da Irmandade Muçulmana vários líderes e ideólogos continuaram o 
seu trabalho. Um dos seus seguidores foi Sayyid Qutb (1906-1966) considerado como o 
principal ideólogo da Irmandade Muçulmana. 
S. Qutb tinha a mesma idade que H. al-Banna, é provável que também tenha sido maçónico; 
todavia, apenas se tornou membro da Irmandade após a morte do seu fundador. 
Com efeito, S. Qutb nasceu em 1906, numa povoação do Alto Egipto, perto de Asiyut, 
Muchta, uma localidade mista copto-muçulmana. Em 1918 foi para o Cairo e entre 1925-28 
formou-se como professor, conseguindo ser admitido na Dar al- Ulum (a mesma que H. al-
Banna frequentou). Licenciado em 1933, começou a leccionar. 
Durante vários anos esteve filiado no partido Wafd, com o qual rompeu, tendo passado pelo 
partido Saadista (favorável ao Rei) e depois pela fracção muçulmana dos comunistas 
egípcios (Hadeto), entre 1946-48. 
Em 1948 ganhou uma bolsa para frequentar Estudos especializados de Pedagogia Moderna e 
Psicologia, nos EUA. A sua estadia nos EUA até 1951 empurraram-no para o Islão activo, 
abraçando o fundamentalismo. A criação do Estado de Israel, a derrota do Egipto, a 
importância do lobby judeu nos Estados Unidos, os dramáticos acontecimentos no Egipto 
entre 1948 e 1949, o assassinato do Primeiro-Ministro Noqrachi e de H. al-Banna, a divisão 
da Índia e o êxodo dos muçulmanos para o Paquistão foram acontecimentos que marcaram 
S. Qutb. 
S. Qutb defendia uma dissociação radical entre o Islão e o conjunto das sociedades humanas 
da sua época, inclusive as que se reclamavam da sua religião. Segundo ele já não existia 
uma sociedade muçulmana; seria perda de tempo procurar marcas do Islão num mundo que 
o expulsara. O universo era unicamente jahiliyya (ignorância e barbárie/ a Idade da 
Ignorância). Assim, todo o muçulmano deveria romper com a jahiliyya, lutar para a destruir 
 
17 Leopoldo G. Garcia, Op. Cit., pp. 57-58. 
A Importância do Islamismo Político no Médio Oriente 
 
Departamento de Prospectiva e Planeamento 233
 
e sobre os seus escombros elaborar o Estado Islâmico. Esta noção de ruptura (e as suas 
várias interpretações) está na base dos movimentos de Reislamização contemporâneos. 
Em finais de 1951 filiou-se na Irmandade Muçulmana, serviu de Embaixador da Organização 
na Síria e na Jordânia até se tornar no ano seguinte membro eleito do Gabinete de 
Orientação e colocado à frente da Secção de Propaganda e Doutrina. 
Não obstante, com a tentativa de assassinato de Nasser, foi preso juntamente com 
compatriotas, cruelmente torturado e sentenciado com 15 anos de campo de trabalho. Um 
ano mais tarde um representante de Nasser propôs-lhe a amnistia, mas em contrapartida S. 
Qutb teria de pedir perdão a Nasser. S. Qutb recusou, tendo continuado em prisão, 
estudando e escrevendo sobre o papel do Islão no mundo moderno. Paralelamente os seus 
discípulos decidiram mudar o nome da Irmandade pelo de Organização (Tanzim). 
S. Qutb desenvolveu uma teoria que segundo o Islão, os Estados Árabes modernos como o 
Egipto estão invadidos pela Jahiliyyah (Idade da Ignorância, isto é, o período da humanidade 
que antecede à revelação do Islão), referindo-se sobretudo à influência da cultura e dos 
sistemas políticos ocidentais. Com efeito, S. Qutb acreditava que os Estados árabes que não 
fossem governados pela Sharia estavam subordinados à Jahiliyyah, defendendo o recurso à 
violência para terminar com este tipo de sistema político, sobretudo o regime de Nasser, com 
a finalidade de erradicar a Jahiliyyah. 
Em 1964 S. Qutb foi libertado após a intervenção do Chefe de Estado iraquiano. Foi então 
que publicou a sua obra mais importante Milestones. Nasser reagiu e voltou a encarcerar S. 
Qutb. Paralelamente, a Irmandade organizou um novo golpe contra o regime de Nasser. S. 
Qutb foi condenado à morte executado em 1966. 
Ao longo da sua vida este ideólogo publicou 24 livros e 30 volumes do Alcorão comentado. 
Actualmente, o seu trabalho inspira vários muçulmanos fundamentalistas no Egipto e em 
todo o mundo, em que a sua vida é um exemplo islâmico de como prosseguir enfrentando a 
perseguição e a privações. 
Os seguidores de S. Qutb interpretaram o seu apelo de luta para a implementação dos 
princípios muçulmanos autênticos de maneiras bastante diferentes: alguns defendiam a 
construção de escolas e a participação em eleições nacionais; outros (uma minoria com 
grande capacidade de autopromoção) defendiam a prática de actos de violência e terrorismo. 
Na prática a segunda opção foi a que mais sucesso teve quando os Governos autoritários e 
não participativos tentaram esmagar a oposição. “De certa maneira, Qutb forneceu ummodelo sunita para uma forma de pensamento religioso-político que se tornou mais 
conhecido no Irão”18. 
 
18 J. Jamal Elias, Islamismo, (Lisboa: Edições 70, 1999), p. 93. 
Informação Internacional, 2006, Suplemento 
 
 Departamento de Prospectiva e Planeamento 234
Outro dos representantes da primeira geração de militantes islamistas revolucionários foi 
Mustafa al-Sibai. Nasceu na Síria e foi educado na Universidade Islâmica Al-Azhar no Cairo. 
Foi durante a sua formação nesta Universidade que se tornou membro da Irmandade 
Muçulmana. 
Foi preso pela primeira vez pelos ingleses, tendo regressado aquando da sua libertação para 
a Síria, onde foi novamente preso devido às suas constantes actividades revolucionárias, 
desta vez pelos franceses. Em 1946, após ter cumprido a sua sentença, Mustafa al-Sibai 
criou a Irmandade Muçulmana da Síria, a qual passou a funcionar como um braço 
subordinado à base egípcia. 
Paralelamente, Mustafa al-Sibai terminou o seu doutoramento sobre a Lei Islâmica e 
começou a ensinar Árabe e Religião em Damasco. Em 1951 contraiu matrimónio, passando a 
fazer parte de uma poderosa família de Damasco. Viajou pelo Ocidente, publicou livros, deu 
conferências e esteve à frente da Irmandade na Síria até à sua morte em 1964. Mustafa al-
Sibai foi um dos melhores e mais articulados porta-vozes do movimento Islâmico, 
compreendendo o que se estava a passar no Médio Oriente. 
Sayyid Abu’l-Ala Mawdudi (1903-1979) é considerado como o pai do Movimento Islâmico 
do Paquistão. Nasceu em 1903 e foi em 1937 quando se tornou director do Instituto Islâmico 
de Investigação em Lahore, que alcançou alguma influência. 
Mawdudi foi um jornalista e um erudito islâmico, juntou-se aos tradicionalistas para se opor 
ao nascimento do novo país. Quando o Paquistão se tornou independente, em 1948, S. 
Abu’l-Ala Mawdudi opôs-se à natureza secular do Governo (apoiado pelos ingleses), tendo 
sido preso em 1948 e em 1952. Na sua opinião, a existência dum Estado nacional era 
incompatível com a crença de que todos os muçulmanos formavam uma comunidade 
(Umma). Para além de que temia pela minoria muçulmana que teria de permanecer numa 
Índia de maioria hindu. 
S. Abu’l-Ala Mawdudi era tão crítico em relação a um Islamismo petrificado e tradicional 
como o era da sociedade moderna de modelo ocidental. Exortava os muçulmanos a 
procurarem atingir uma ordem sócio-política profética, regressando aos valores do Islamismo 
“autentico” e a rejeitar quaisquer práticas que não derivassem directamente do Alcorão e da 
Suna. Ao mesmo tempo, reinterpretou o conceito de “Califado” dizendo que cada indivíduo 
podia agora ser um “Califa”. Seguindo o princípio alcorânico de “Impor o bem e proibir o 
mal”, Mawdudi acreditava firmemente que as autoridades deveriam impor a virtude no seio 
da comunidade. 
Para S. Mawdudi somente através duma Constituição islâmica é que seria possível erguer um 
verdadeiro Estado Islâmico. Para ele o Islão era a terceira via entre o capitalismo e o 
socialismo. 
A Importância do Islamismo Político no Médio Oriente 
 
Departamento de Prospectiva e Planeamento 235
 
Foi responsável pela publicação de 80 livros e brochuras, bem como fundou a Jamaat-e 
Islami (Sociedade Islâmica), em 1941. Apesar de ser uma organização mais elitista, a 
estrutura da sua organização era igual à da Irmandade Muçulmana (o Guia Supremo 
designava-se Emir). 
Dois anos antes da sua morte, S. Abu’l-Ala Mawdudi assistiu à promulgação de um sistema 
de leis islâmicas no Paquistão que anularam muitos direitos civis e políticas socias “não 
islâmicos”. 
S. Abu’l-Ala Mawdudi ficou bastante conhecido pela defesa do Estado Islâmico ideal e a sua 
definição é aceite pela maioria dos muçulmanos militantes do movimento Islamista. 
“Le corps de doctrine islamiste a été élaboré essentiellement par Hassan al-
Banna et Abu Ala Mawdudi19, qui ont été repris et radicalisés par Sayyid 
Qutb. […] 
Hassan al-Banna et Mawdudi sont aujourd’hui les auteurs canoniques des 
mouvements islamistes sunnites. […] Les organisations qu’ils ont fondées 
ont constitué la matrice des grands mouvements islamistes contemporains, 
même si, dès la fin des années 1970, on a vu apparaître des groupes plus 
radicaux, mais aussi beaucoup moins implantés dans le monde musulman, 
influencés cette fois par la pensée d’un émule radical des pères fondateurs, 
Sayyid Qutb” 20. 
Desde a sua criação a Irmandade Muçulmana teve sete Guias Supremos, nomeadamente: 
‹ 1928-1949 – Fundador e 1º G.S. Hassan al-Banna 
‹ 1951-1976 – 2º G.S. Hassan al-Hudaibi 
‹ 1976-1987 – 3º G.S. Omar el-Telmisani 
‹ 1987-1996 – 4º G.S. Hamid Abdul Nasr 
‹ 1996-2002 – 5º G.S. Mustafa Masshour 
‹ 2002-2004 – 6º G.S. Maamoun al-Hudaibi 
‹ 2004- … – 7º G.S. Mohammed Mahdi Akef 
 
19 Abu Ala Maududi fundou em 1941 o movimento Jamaàt – i Islami, cuja implantação se fez entre os 
muçulmanos da Índia sob dominação britânica, com destaque para o que é hoje o Paquistão. 
20 Olivier Roy, Généalogie de L’Islamisme, (Paris: Hachette Littératures, 2001), p. 38, 40-41. 
Informação Internacional, 2006, Suplemento 
 
 Departamento de Prospectiva e Planeamento 236
Após a morte de Hassan al-Banna em 1949, a Irmandade Muçulmana enfrentou um breve 
período de caos até 1951, data em que foi escolhido o segundo Guia Supremo – Hassan al-
Hudaibi. H. al-Hudaibi esteve à frente da Organização até à sua morte em 1976, tendo sido 
preso durante alguns períodos durante o Governo de Nasser. Sucedeu-lhe Omar el-
Telmisani, o qual morreu em 1987, tendo-lhe sucedido Hamid Abdul Nasr. Ambos – Omar el-
Telmisani e Hamid Abdul Nasr – foram presos em 1954, durante a purga anti-Irmandade 
desencadeada por Nasser. Al-Sadat libertou Omar el-Telmisani em 1971 e Abdul Nasr em 
1972. Em 1996, foi escolhido o quinto Guia Supremo – Mustafa Masshour – o qual esteve à 
frente da Irmandade até 2002. Sucedeu-lhe Maamoun al-Hudaibi, filho do segundo Guia 
Supremo. Desde 2004, que o Guia Supremo é Mohammed Mahdi Akef. 
M. Mahdi Akef nasceu no Norte do Egipto no mesmo ano da fundação da Irmandade 
Muçulmana. Licenciou-se no Instituto de Educação Física em 1950, tendo trabalhado como 
professor de educação física. 
M. Mahdi Akef tornou-se membro da Irmandade em 1940, ainda a organização era liderada 
por H. al-Banna. 
O Xeque que mais o influenciou foi Mohebe din al Khatib. Em 1954, M. Mahdi Akef foi preso, 
apenas tendo conseguido a sua liberdade em 1974, data em que foi renomeado como 
Director Geral da Juventude – um departamento ligado ao Ministério da Reconstrução. 
Seguidamente mudou-se para a Arábia Saudita e esteve envolvido na organização de 
grandes campos para a juventude muçulmana na Arábia Saudita, Jordânia, Malásia, 
Bangldesh, Turquia, Austrália, Mali, Quénia, Chipre, Alemanha, Inglaterra e América. Foi 
também director do Centro Islâmico em Munique. 
Desde 1987 que é membro do gabinete de liderança da Irmandade Muçulmana, foi eleito 
membro do Parlamento Egípcio em 1987. Em 1996 foi ao tribunal Marcial acusado de ser a 
cabeça da Irmandade Muçulmana Internacional e foi sentenciado com três anos de cadeia. 
Foi libertado em 1999. 
Em 2004 foi escolhido como o sétimo Guia Supremo da Organização. 
Em Dezembro de 2005, afirmou que o Holocausto contra os judeus é um mito e declarou que 
a democracia ocidental foi desenhada pelos filhos de Zion. 
Em síntese é possível verificar a existência de alguma variedade de pontos de vista entre 
estas personagens, verificando-se uma postura mais radical nalguns, os quais lutam 
activamente por uma ordem islâmica imposta através do Estado. 
A Importância do Islamismo Político no Médio OrienteDepartamento de Prospectiva e Planeamento 237
2. OS PRINCIPAIS BRAÇOS POLÍTICOS DA IRMANDADE MUÇULMANA NO 
MÉDIO ORIENTE 
2.1. Egipto: O Berço da Irmandade 
Fundada em 1928, por Hassan al-Banna, no Egipto, a Irmandade Muçulmana transformou-se 
num grupo político a partir de 1939. O objectivo principal da Irmandade é o de colocar em 
prática uma reforma social e moral baseada no Islão. 
Desde a sua criação, a Irmandade Muçulmana passou por cinco momentos cruciais no seu 
desenvolvimento, nomeadamente: 
‹ 1928-1939 – A Irmandade era uma organização jovem, a qual tinha por objectivo uma 
reforma social e moral no Egipto, através da educação, da informação e da 
propaganda. 
‹ 1939-1948 – Graças ao vazio político do seu tempo, a Irmandade foi-se politizando 
gradualmente nos anos 30. Em 1939 transformou-se num grupo político e durante os 
anos 40, sobretudo no final da II Guerra Mundial, em 1945, muitos dos seus membros 
envolveram-se em acções, algumas de natureza terrorista, no Egipto. Muitos dos seus 
membros juntaram-se ao lado árabe na Primeira Guerra Palestiniana (em 1948-49). 
‹ 1948-1954 – A Irmandade cooperou com os “revolucionários”. O sentimento anti-
britânico foi aumentando após a retirada dos ingleses do Canal do Suez em 1947. Em 
1952, um grupo de Oficiais do Exército – os “Oficiais Livres” – liderados por M. Naguib 
e Gamal Abdel Nasser foram responsáveis pelo fim da monarquia no Egipto, 
destituindo o Rei Farouk. Em 1953 os “Oficiais Livres” revogaram a Constituição e 
declararam o Egipto como uma República, abolindo os partidos políticos e as 
organizações com excepção da Irmandade Muçulmana. Em 1954 G. Nasser tornou-se 
Presidente do Egipto. 
‹ 1954-1984 – A Organização foi dissolvida por G. Nasser, mantendo-se em oposição ao 
Governo Egípcio. 
‹ 1984- ... – A Irmandade foi aceite como grupo religioso; todavia, ficou sob um pesado 
controlo do Governo. 
Nos seus primeiros anos, a Irmandade Muçulmana focalizou-se em pregar a religião, em 
promover a educação e a desenvolver programas sociais. Ao mesmo tempo começou a pôr 
em prática uma ideologia islâmica pouco usual. Em primeiro lugar, era uma ideologia 
defensora do fim do gap entre as classes sociais (daí a Irmandade reclamar a adopção de 
medidas como a nacionalização da indústria, uma maior intervenção do Estado, etc.). Em 
segundo lugar, a ideologia tinha como objectivo a renovação social através duma 
Informação Internacional, 2006, Suplemento 
 
 Departamento de Prospectiva e Planeamento 238
interpretação moderna do Islão. Em relação à formulação do conceito de nacionalismo de H. 
al-Banna, era enfaticamente islâmico e tinha como objectivo a longo prazo a união da 
humanidade pela fé muçulmana. 
Em 1935, a Organização entrou em contacto com Haj Amin al Husseini, o Grande Mufti de 
Jerusalém, e em 1936 a Irmandade tomou a posição pró-Árabe na sequência do Tratado 
Anglo-Egípcio e do começo do levantamento palestiniano contra os Acordos Sionistas na 
Palestina. 
Em 1939 a Irmandade definiu-se como uma organização política, baseada no Alcorão e na 
Hadith como sistema aplicável até à sociedade moderna. 
Um ano mais tarde, a Irmandade aprovou 500 “braços”, cada um com o seu próprio centro, 
Mesquita, escola e clube. 
Durante a II Guerra Mundial, a Organização teve um enorme crescimento, contando com a 
participação de membros oriundos das classes média e baixa. Em 1946 a Irmandade 
afirmava ter mais de 5,000 “braços”, agregando 500,000 membros e um número ainda mais 
elevado de simpatizantes. O crescimento exponencial do Movimento, leva a acreditar, 
segundo alguns investigadores, que o Reino Unido ajudou no desenvolvimento da Irmandade 
Muçulmana. 
Paralelamente, a Irmandade tentou criar uma Internacional Islamista, através da fundação 
de grupos no Líbano (em 1936), na Síria (1937) e na Transjordânia (1946). 
Em 1945, Saïd Ramadan criou um braço palestiniano do Movimento, cujo objectivo era 
combater as organizações sionistas. O Movimento obteve um sucesso fulgurante e em 1948 
muitos dos seus membros participaram ao lado dos palestinianos na Guerra contra os 
Sionistas. Foi durante esta guerra que muitos oficiais egípcios tiveram o seu primeiro 
contacto com a ideologia da Irmandade. 
Os “Irmãos” acusaram o Governo egípcio pela sua passividade na guerra contra os sionistas. 
Consequentemente iniciaram uma onda de ataques terroristas no seio do Egipto. Em 
Dezembro, as autoridades egípcias baniram a Organização. No final desse mês o Primeiro-
Ministro Mahmud Fahmi Nokrashi foi assassinado por um membro da Irmandade, o que 
provocou uma maior repressão por parte do Governo. H. al-Banna condenou o acto. 
Em Fevereiro do ano seguinte, H. al-Banna foi assassinado por agentes secretos no Cairo. 
Em 1950 a Irmandade Muçulmana foi novamente legalizada, mas apenas como organização 
religiosa. Um ano mais tarde foi nomeado o segundo Guia Supremo da Organização, H. 
Islam al-Hudaibi, um moderado. H. al-Hudaibi tentou abolir a ala militar da Irmandade, a 
qual continuou com a sua actividade sem o conhecimento da liderança da Irmandade. 
A Importância do Islamismo Político no Médio Oriente 
 
Departamento de Prospectiva e Planeamento 239
Em 1952 a Irmandade estava activa durante os confrontos anti-britânicos no Cairo. Ao 
contrário dos partidos políticos, a Irmandade não foi banida na sequência do Golpe sob a 
égide do Conselho de Comando Revolucionário, devido a ter cooperado com os “Oficiais 
Livres”. 
Após a revolução, as relações entre a Irmandade e a Junta foram inicialmente cordiais, 
todavia rapidamente azedaram. Entre as várias razões destacam-se o facto do Exército não 
ter vontade em partilhar o poder, a insistência da Irmandade na promulgação duma 
Constituição Islâmica e a desconfiança de Nasser em relação Hudaibi. 
Em 1954, devido às diferenças em torno à escolha do sistema que deveria ser aplicado na 
governação do Egipto (a Sharia ou a Lei Secular) e à tentativa de assassinato do Presidente 
Nasser pelo activista Abdul Munim Abdul Rauf (membro da ala militar da Irmandade), a 
Irmandade foi banida novamente. 
Na sequência da tentativa do atentado, Abdul Munim Abdul Rauf e mais cinco “Irmãos” 
foram executados e 4,000 foram presos. Centenas de membros da Irmandade fugiram para 
a Síria, Arábia Saudita, Jordânia e Líbano. À medida que a Organização se foi expandido para 
outros países do Médio Oriente, foi ficando cada vez mais associada a actos de violência, 
assassinato e de terrorismo. 
Somente dez anos mais tarde é que foi concedida uma amnistia aos membros da Irmandade 
em prisão, pois Nasser desejava que eles se juntassem ao então recém formado partido 
governamental União Socialista Árabe para afastar a ameaça do comunismo. Todavia, esta 
política de cooperação condicional não vingou e Nasser foi alvo de mais três atentados. 
Em 1966 alguns líderes de topo da Irmandade foram executados, bem como muitos outros 
membros em prisão, entre eles S. Qutb. 
Nos anos que se seguiram, a liderança da Irmandade afastou-se da ideologia revolucionária, 
optando por uma estratégia reformista não violenta. 
Em Abril de 1968, cerca de 1,000 “Irmãos” foram soltos por Nasser. 
Com a morte de Nasser, em 1970, o novo Presidente, Muhammad Anwar al-Sadat, 
prometeu a adopção da Sharia como a Lei do Egipto a vigorar e libertou todos os membros 
da Organização que se encontravam presos. Apenas em 1980 é que a Constituição egípcia 
sofreu uma Emenda em que a Sharia passou a ser a “principal fonte de legislação”. 
Em 1976, a Irmandade não teve autorização para participar nas eleições gerais, tendo vários 
membros da Irmandade concorrido como independentes ou como membros do partido 
Socialista Árabe. Desta forma, todosjuntos conseguiram ganhar 15 lugares no Parlamento. 
Informação Internacional, 2006, Suplemento 
 
 Departamento de Prospectiva e Planeamento 240
Aquando do estabelecimento dos “Acordos de Paz de Camp David” (1978) e do “Tratado de 
Paz Israelo-Egípcio” (1979), a Irmandade opôs-se fortemente. 
Em Setembro de 1981, cerca de 2,000 dissidentes foram presos, sendo na sua maioria 
membros da Irmandade e a 06 de Outubro o Presidente al-Sadat foi assassinado por quatro 
“Irmãos”. Entre eles estavam Zawahiri e Rahman que foram presos. Rahman foi levado a 
tribunal acusado de ter recorrido a uma Fatwa para justificar o assassinato; todavia, 
conseguiu ser absolvido. Mudou-se para Nova Iorque e foi acusado e preso pela sua 
participação nos ataques bombistas ao World Trade Center, em 1993, e pelo assassinato do 
Rabi Meir Kahane. Zawahi foi preso juntamente com outros extremistas. Quando foi libertado 
tomou o controlo da Egiptian Islamic Jihad. 
Em 1981, H. Moubarak sucedeu a al-Sadat, mantendo-se até hoje no poder. As relações 
entre a Irmandade e o Governo continuam, no essencial, iguais à da época de Sadat: a 
Irmandade é tolerada até um certo nível, oficialmente é ilegal, não tem autorização para 
distribuir literatura ou para se reunir publicamente, e os seus membros são objecto de 
prisões periódicas. Todavia, a Irmandade é responsável pela publicação de dois jornais – 
Liwa' al-islam ("The Banner of Islam") e al-I'tisam, ("Adherence") –, mantém escritórios 
regionais e nacionais, faz declarações públicas e livros da autoria de “Irmãos” proeminentes 
são vendidos em livrarias. 
Em 1982, o Presidente Sírio Hafez el-Assad eliminou o braço armado dos Irmãos 
Muçulmanos – l’al Talia al-Mukatila (Avant-garde Combattente) – tendo os seus membros se 
dispersado pela Arábia Saúdita, Jordânia, Kuweit e Afeganistão. Concomitantemente, a 
Irmandade Muçulmana dotou-se dum braço armado clandestino no Egipto no início dos anos 
80. Alguns dos seus membros tentaram infiltrar-se nas instituições governamentais, mas o 
regime secular de Hosni Moubarak evitou a maior parte destas manigâncias políticas 
Esta associação estabeleceu estreitos contactos com outra organização islamista, a Gama'a 
al-Islamiya (Grupo Islâmico), responsável pelos atentados contra os turistas ocidentais em 
1982-83. Na Palestina o “braço” palestiniano dos “Irmãos Muçulmanos” criou o Al-Moujamma 
al-Islami, o futuro movimento Hamas. Este movimento dedicou-se às obras sociais e à 
construção de Mesquitas, cujo número aumentou sem parar na Cisjordânia e na Faixa de 
Gaza entre 1967 e 1987. Paralelamente recorreu a acções armadas e a atentados, incluindo 
atentados-suicída. As suas fontes de financiamento provinham em grande parte da Arábia 
Saudita. 
Este movimento clandestino foi tolerado pelo poder egípcio, mas interdito na Síria, onde 
ainda hoje o simples facto de se ser membro da Irmandade é passível da aplicação da pena 
de morte. No Egipto, os órgãos de imprensa deste movimento foram destruídos e 
praticamente a totalidade das suas publicações foram apreendidas. Os seus militantes 
manifestaram-se várias vezes contra o poder no sentido deste aplicar reformas 
constitucionais e pelo fim do estado de urgência. A organização ajuda as classes 
A Importância do Islamismo Político no Médio Oriente 
 
Departamento de Prospectiva e Planeamento 241
desfavorecidas no plano social e financeiro, fornecendo-lhes medicamentos e empréstimos 
financeiros. 
Nas eleições gerais de 1984, a Irmandade Muçulmana cooperou com o partido Neo-Wafd, 
obtendo 08 lugares. Já em 1987 a Irmandade participou na Aliança Trabalhista Islâmica, 
colaborando com o partido Trabalhista Socialista e com o partido Socialista Liberal. A Aliança 
obteve 60 lugares, dos quais 37 foram para os membros da Irmandade. 
Nas eleições legislativas seguintes, em 1990, a Irmandade boicotou-as, em protesto contra o 
controlo governamental das votações. 
Em meados dos anos 90, a Irmandade confrontou-se com a dissidência de proeminentes 
membros mais jovens, os quais não concordavam com a postura da geração mais velha da 
Organização. Juntamente com vários coptas fundaram um partido político Wasat, o qual 
procura “representar uma plataforma cívica baseada na fé islâmica, acreditando no 
pluralismo e na alternância de poder”. Até hoje o partido ainda não foi legalizado pelas 
autoridades egípcias. 
Durante a década de 90 e nos primeiros anos do século XXI, a Irmandade tem evoluído no 
sentido de uma espécie de liberalismo islâmico conservador: a maioria dos seus novos 
quadros aceitam o pluripartidarismo, a liberalização económica e a sua base de apoio é cada 
vez mais constituída pela classe média. 
Daí que quando Hosni Mubarak, face a pressões externas, aceitou a candidatura de diversos 
candidatos às eleições presidenciais de Setembro de 2005. Os Irmãos Muçulmanos foram 
surpreendidos com um processo de incerteza e de renovação interna. A sua postura 
dubitativa nos comícios fez com que perdessem o protagonismo mediático para uma nova 
coligação democrática – Kifaya. 
Nas últimas eleições legislativas, entre Novembro e Dezembro de 2005, a Irmandade foi 
impedida de concorrer nas eleições parlamentares como partido político. Não obstante, os 
seus membros candidataram-se como independentes, tendo ganho 88 lugares dos 454 
disputados. Este facto tornou a Irmandade Muçulmana no maior grupo de oposição (outros 
partidos da oposição só conseguiram 14 lugares), desencadeando no seio da elite política 
egípcia a discussão em torno do facto de se manter ou não a Irmandade na ilegalidade. 
Todavia, a Irmandade enfrenta um problema de estratégia política. A Organização que 
sempre foi porta-voz duma mensagem religiosa – a islamização dos costumes, do vestuário 
e da cultura – largamente adoptada pela sociedade, não é capaz de transformar esta 
realidade num sucesso político. O seu principal obstáculo é o seu estatuto no seio do Estado 
Egípcio que tolera, mas não legaliza a Irmandade Muçulmana. Esta situação permite-lhe 
apenas apresentar os seus candidatos como independentes às eleições legislativas. Este 
handicap resulta de dois factores: por um lado, a recusa do poder egípcio de permitir a 
criação dum partido político dos “Irmãos Muçulmanos”; e, por outro, a rejeição das regras do 
Informação Internacional, 2006, Suplemento 
 
 Departamento de Prospectiva e Planeamento 242
jogo democrático por parte de alguns membros da Organização. Apesar dos esforços, a 
Irmandade encontra-se estagnada e incapaz de tomar uma iniciativa de enfrentar um poder 
que manipula as suas necessidades contra a sua vontade. Na verdade o poder egípcio muitas 
vezes parece “acenar” à organização, abrandado a sua pressão. Tais situações apenas se 
devem a uma necessidade de “abrandar” a cólera popular contra as políticas israelitas e 
norte-americanas no Médio Oriente. Outras vezes vários membros da organização são presos 
e torturados. 
Actualmente, a face pública da Irmandade Muçulmana ainda está sediada no Egipto, onde a 
Organização continua a desenvolver-se e a trabalhar, apesar não ter sido legalizada pelo 
Governo. As suas perspectivas dividem-se entre a fidelidade ao projecto original ou à criação 
dum partido normalizado como reclama Abdel Mon'im Abul Fatuh, líder da ala renovadora. O 
Movimento escolheu não combater directamente o regime de H. Moubarak e votou a favor da 
recondução de Fathi Sorour (um dos mais elevados responsáveis do regime) na Assembleia 
do Povo. Aplaudiram o discurso de H. Moubarak no Parlamento, e estão em contacto regular 
com o Governo norte-americano. A Irmandade tem defendido a perspectiva reformista, 
prosseguindo com uma abordagem gradual de longo prazo para oestabelecimento dum 
Estado Islâmico com o apoio popular, reformando a sociedade de baixo para cima, 
recorrendo à persuasão e a outros meios não violentos. 
2.2. Síria: O Primeiro “Braço” Externo da Irmandade Muçulmana 
A Irmandade Muçulmana na Síria começou a ser desenvolvida nos anos 30, quando 
estudantes sírios graduados pela Universidade do Cairo, regressaram do Egipto, inspirados 
pela ideologia de H. al-Banna e criaram associações designadas “Muhammad’s Youth” 
(Shabab Muhammad), sobretudo no Norte do país, em Homs, Hama, Aleppo, Latakiyya, mas 
também em Damasco. 
Em 1945, Mustafa al Siba’y fundou oficialmente a Irmandade Muçulmana na Síria, sendo 
designado como o “Supervisor Geral” (muraqib’amm), reconhecendo assim a autoridade do 
Guia egípcio. 
No final da década de 40, a Irmandade foi politizada devido à criação do Estado de Israel. 
Em 1954, a Irmandade síria ofereceu auxílio à Irmandade egípcia, na sequência das medidas 
de repressão adoptadas por Nasser. 
Com a passagem à ilegalidade da Irmandade Muçulmana no Egipto, em 1954, muitos filiados 
refugiaram-se na Síria. Este facto, ao mesmo tempo que reforçou a Irmandade, também 
tornou os seus membros mais radicais, que exigiam uma reforma moral na política do país. 
Em 1958, a Síria juntou-se ao Egipto na República Árabe Unida (RAU) a Irmandade 
Muçulmana Síria, foi ilegalizada, tal como ocorrera com a Egípcia. Não obstante, o trabalho 
da Organização continuou activo na clandestinidade. 
A Importância do Islamismo Político no Médio Oriente 
 
Departamento de Prospectiva e Planeamento 243
 
Em 1961, a Síria retirou-se da RAU, e nas eleições parlamentares que se realizaram, os 
membros da Irmandade obtiveram 10 lugares. 
Em Março de 1963, na sequência do Golpe sob a égide do Partido Ba’th (partido secular e 
pan-árabe), a Irmandade foi proibida juntamente com os partidos políticos da oposição. Com 
efeito, o novo regime tornou-se extremamente impopular devido às medidas adoptadas, 
entre as quais ao concentrar o poder nas mãos da minoria aluíta, em detrimento da maioria 
sunita. 
A partir desse momento, a Irmandade Muçulmana da Síria desempenhou um importante 
papel no movimento sunita de resistência ao partido Ba’th. 
Na sequência da derrota Árabe na Guerra dos Seis Dias (em 1967), a Irmandade dividiu-se 
entre os moderados e os radicais. Estes últimos declararam a jihad à liderança do partido 
Ba’th. 
Em 1971, a oposição da Irmandade cresceu e tornou-se ainda mais forte quando Hafez Al-
Assad, aluíta21, se tornou Presidente da Síria. Os “Irmãos” consideram os aluítas infiéis, e 
com es ta sua postura a Organização conseguiu aumentar a sua base de apoio. 
Em 1974, o teólogo xiita, Íman Musa s-Sadr declarou que os aluítas eram Xiitas, e Al-Assad 
empreendeu uma umra, aclamando a oposição da Irmandade. Todavia, esta paz aparente foi 
de curta duração. 
Em Julho de 1976, Al-Assad demonstrou ser mais um poderoso político do que um político 
muçulmano, intervindo na guerra civil do Líbano, ao lado dos cristãos maronitas. Esta 
postura irritou a Irmandade Muçulmana e, mais uma vez, foi declarada a jihad contra o 
 
21 Os Alauítas são um grupo étnico-religioso do Médio Oriente, proeminente na Síria, onde constituem 
cerca de 10% da população e onde dominam as estruturas políticas. 
O elemento central da doutrina dos Alauítas é a deificação de Ali, o genro e primo do profeta Maomé. 
Os alauítas não seguem a Sharia, não estando por isso subordinados a determinadas práticas do Islão 
ortodoxo, como as interdições alimentares. Os cinco pilares do Islão fazem parte da sua doutrina, mas 
são interpretados simbolicamente e como tal não são praticados pelos Alauítas. A peregrinação a Meca 
(Hajj), um dos pilares do Islão, é mesmo considerada como uma forma de idolatria. Para além dos 
cinco pilares, os alauítas possuem mais dois, a jihad e a walaya (o desprezo pelos adversários dos 
Álidas, ou seja, pelos que rejeitaram a liderança de Ali). 
Os alauítas celebram não só as festas muçulmanas, mas também festas cristãs como o Natal, Dias 
dos Reis Magos, o dia de Santa Bárbara e até mesmo a festa zoroastriana do Noruz. 
Devido a estas crenças heterodoxas, os alauítas não são vistos por muitos muçulmanos como 
membros do islão, embora eles se considerem muçulmanos xiitas. 
Informação Internacional, 2006, Suplemento 
 
 Departamento de Prospectiva e Planeamento 244
regime. Este conflito durou seis anos, tendo terminado com a dissolução efectiva da 
Irmandade. 
Em 1979 os activistas da Irmandade assassinaram 83 cadetes aluítas, na Escola de Artilharia 
de Aleppo. Em resposta Al-Assad permitiu que um elevado número de sunitas fizesse parte 
do Comando Nacional do Partido, bem como do seu Gabinete. A Irmandade promoveu 
greves em Aleppo e em Hamas, tendo paralisado as duas cidades. Al-Assad viu-se obrigado 
a ceder nalgumas exigências: libertou prisioneiros, demitiu governadores da províncias 
impopulares e aumentou a importação de bens de consumo. Todavia as greves continuaram. 
Para fazer face a estes eventos as tropas foram mandadas para as duas cidades, 5,000 
pessoas foram presas, e as greves terminaram. 
A 25 de Junho de 1980 Al-Assad foi alvo duma tentativa de assassinato. Consequentemente, 
Al-Assad conseguiu influenciar o parlamento, o qual decretou que a filiação ou associação à 
Irmandade Muçulmana passaria a ser passível da pena de morte ou de prisão perpétua 
(realidade que ainda hoje se mantém em vigor). 
Após o esmagamento do levantamento islamista de 1982, os Irmãos Muçulmanos Sírios 
dividiram-se: por um lado, o grupo de Adnan Saad ed Din, o mais radical, que se refugiou no 
Iraque; por outro, o do seu rival, Ibrahim Abu Ghodda, que foi para a Arábia Saudita. 
Em meados de da década de 90, Hafez al-Assad libertou alguns membros da Irmandade. 
Após a sua morte, em 2000, sucedeu-lhe o seu filho, Bashar al-Assad, o qual iniciou o seu 
Governo sob uma aparente abertura política. Em Maio de 2001, encorajada pelo novo 
ambiente político, a Irmandade Muçulmana publicou uma Declaração a partir de Londres em 
que condenava a violência política e propunha o estabelecimento dum Estado democrático. 
Muitos prisioneiros políticos, incluindo “Irmãos”, foram perdoados e libertados. Todavia, a 
“Primavera de Damasco” teve uma duração curta. No mesmo ano, as poucas liberdades que 
tinham sido conquistadas foram revogadas. 
Interdita desde 1982, a Irmandade Muçulmana Síria já não é uma força política na Síria. Não 
obstante, mantém uma rede apoio dirigida a partir de Londres e do Chipre. Apesar de estar 
exilada a liderança da Irmandade continua a granjear uma grande simpatia entre os sírios. 
Riyyad al-Turk, um líder da oposição considera a Irmandade como o grupo de oposição mais 
credível. Com efeito, tal como aconteceu no Egipto, o movimento abandonou oficialmente a 
violência e exige a adopção duma democracia no país, em que o multipartidarismo esteja 
assegurado. Actualmente, o líder da Irmandade Muçulmana na Síria é Ali Sadr as-Din al-
Bayonouni (que vive como refugiado político em Londres). Numa entrevista em Janeiro de 
2006, o líder afirmou que “a Irmandade Muçulmana deseja uma mudança pacífica de 
Governo em Damasco e o estabelecimento dum Estado democrático e civil, não uma 
República Islâmica”. 
A Importância do Islamismo Político no Médio Oriente 
 
Departamento de Prospectiva e Planeamento 245
2.3. A Irmandade Muçulmana na Palestina 
A Irmandade Muçulmana da Palestina foi criada em 1942, pelo próprio pai egípcio da 
Irmandade, H. al-Banna, na Faixa de Gaza. Seguidamente, a Organização desenvolveu uma 
rede de ajuda social e construiu a Universidade Islâmica de Gaza.

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