Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Fenômenos de Transporte Universidade da Amazônia – UNAMA AULA 1 Vertedores são aberturas ou entalhes sobre os quais o líquido escoa. Medem e/ou controlam a vazão em um escoamento em canal e são úteis em sistemas de irrigação, estações de tratamento de água e esgoto, barragens e controle/medição de vazão em pequenos cursos d´água (córregos, igarapés). A figura 16 apresenta uma das formas mais simples do vertedor, que é constituído de uma parede com abertura que pode variar a sua forma geométrica (retangular, circular, triangular, trapezoidal), e ser colocada transversalmente no canal interposta ao fluxo do líquido, fazendo com que o mesmo sobreleve o seu nível a montante (DZ), até atingir uma altura que produza uma lâmina d´água sobre a abertura. DZ Linha de Energia Total Lâmina d´água Turbulência Fig. 16 - Escoamento típico sobre um vertedor. 3.1 TERMINOLOGIAS As terminologias de um vertedor são as seguintes: a) Crista ou soleira: é a borda horizontal em que há contato com a lâmina d´água (figura 17). Faces (figura 17): constituem as bordas verticais do vertedor. Se o contato da lâmina do líquido for limitado a uma aresta biselada, (veja item 3.2.2) ou seja um comprimento bastante curto (espessura de chapas metálicas), chama-se o vertedor de parede delgada, mas se o contato do líquido com as bordas verticais do vertedor for de um comprimento apreciável, o vertedor é chamado de parede espessa. L b Crista ou Soleira NA Faces Fig. 17 - Vertedor de parede delgada. 3.2 CLASSIFICAÇÃO DOS VERTEDORES 3.2.1 Quanto à forma de abertura a) Simples: esses podem ser retangulares, trapezoidais, circulares, triangulares, ou especiais. Apresentam-se, ao longo dessa unidade, algumas dessas formas. No caso de abertura trapezoidal, a forma que têm os lados com inclinação 4:1 é conhecida como vertedor Cipoletti. O que permite um cálculo mais simplificado da vazão em função da altura h1. Já os vertedores triangulares podem ter ângulos de 30 a 60º. As aberturas especiais (circulares, exponenciais, parabólicas, cicloidais) foram desenvolvidas com o objetivo prático de simplificar a relação entre a altura h1 e a vazão (DELMÉE, 1995). b) Compostos: possuem as seções já expostas, mas de forma combinada. 3.2.2 Quanto à natureza das paredes a) Vertedores em Parede Delgada. São construídos a partir de chapas metálicas (delgadas) ou de outro material, de modo que o jato passe livremente ao deixar a face de montante (figura 18). Possuem soleira horizontal e biselada. e h Fig. 19 - Perfil longitudinal de vertedor de soleira espessa. h e Soleira Biselada Fig. 18 - Perfil longitudinal de vertedor de parede delgada. b) Vertedores de Parede Espessa. Os vertedores de soleira espessa mantêm o escoamento numa direção longitudinal (figura 19). 3.2.3 Quanto à altura relativa a) Vertedores livres ou completos. Estes são chamados livres ou completos quando a altura da lâmina líquida a montante do vertedor (h1) é maior que a altura do líquido a jusante do vertedor h2. h1 > h2 Fig. 20 - Vertedor (vista lateral). b) Vertedores afogados ou incompletos. Nesse caso o vertedor é dito afogado quando a altura do líquido a montante do vertedor h1 é menor ou igual a altura da lâmina líquida de jusante do vertedor (h2). h1£h2 3.2.4 Quanto à largura relativa a) Vertedores sem contrações laterais. A largura do canal de acesso é a mesma do vertedor (L=B) (figura 17) b) Vertedores com contração lateral. São considerados contraídos os vertedores cuja largura é menor do que a do canal de acesso (L<B). b.1) Com uma contração lateral. Fig. 21 - Vista superior de vertedor com uma contração lateral. b.2) Com duas contrações laterais. Fig. 22 - Vista superior de vertedor com duas contrações laterais. 3.3 FÓRMULAS PRÁTICAS PARA CÁLCULO DE VERTEDORES Diversas equações foram desenvolvidas para a classe de vertedores de parede delgada tentando relacionar a vazão (Q) e a altura de água medida (h1). A expressão para o cálculo da vazão total é dado por: 23 123 2 / d h.L.g..C.Q = Eq. 38 onde; L é a largura da soleira e Cd um coeficiente de vazão. Vale ressaltar que esta Equação 37 pode ser obtida da lei de vazão em um orifício retangular de grandes dimensões. Diversos pesquisadores têm se preocupado, ao longo de um século, com formulações que possam determinar com precisão as vazões de vertedores. Estas são inúmeras, no entanto, apresentam-se aqui as mais utilizadas na literatura e as que foram obtidas do trabalho de Porto (1999, p. 387) para o coeficiente Cd. · Bazin (1889) ú ú û ù ê ê ë é ÷÷ ø ö çç è æ + ++= 2 1 1 1 55010045060750 Zh h .,). h ,,(Cd D Eq. 39 Esta equação é limitada a: 0,08<h1<0,50 m, 0,20< DZ<2,0 m · Rehbock (1912) 1 1 .1000 1.08,0605,0 hZ h Cd +D += Eq. 40 Limitada a: 0,25 <h1<0,80 m, DZ>0,30 m e h1<DZ · Rehbock (1929) 23 1 00110 1 00110 0813060350 / d h , . Z ,h .,,C ú û ù ê ë é +ú û ù ê ë é ÷ ø ö ç è æ ++= D Eq. 41 Limitada a: 0,03<h1<0,75 m, L>0,30 m, DZ>0,30 m e h1<DZ · Francis (1905) ú ú û ù ê ê ë é ÷÷ ø ö çç è æ + += 2 1 126016150 Zh h .,.,Cd D Eq. 42 Limitada a: 0,25 < h1 < 0,80 m , DZ>0,30 m e h1<DZ Se DZ/h1> 3,5, o valor da carga cinética de aproximação é pequeno e o coeficiente médio da equação de Francis torna-se Cd=0,623, podendo-se empregar: 238381 /h.L.,Q = Eq. 43 Essa equação é simples e oferece bons resultados, sendo a mais utilizada no cálculo de vertedores. 3.3.1 Influência das Contrações A instalação de um vertedor de largura L no meio de um canal de largura B> L provoca o aparecimento de contrações laterais. Para evitar isso, utiliza-se a largura do canal disponível. Porto (1999) diz que a contração lateral em um vertedor retangular, com a borda vertical afastado da parede do canal mais de 4h e largura L > 3h, é igual a um décimo da carga h e para uma contração lateral dupla, a largura a ser ocupada pelo escoamento deve ser a largura geométrica da soleira diminuída em 2h/10. A fórmula de Francis da Equação 42, para um vertedor retangular, parede fina e duas contrações laterais, apresenta-se na forma: ( ) 232008381 /h.h,L.,Q -= Eq. 44 Para os casos de uma contração e de duas contrações, a fórmula de Francis passa a ser: Uma contração: Q = 1,838 (L - 10 h ) . h3/2 Eq. 45 Duas contrações: Q = 1,838 (L - 10 2h ) . h3/2 Eq. 46 3.3.2 Vertedor retangular com parede espessa No vertedor de soleira espessa (figura 23) o escoamento do jato é tal que a variação de pressão é hidrostática em 2. A equação de Bernoulli - já apresentada na Equação 1 - aplicada entre os pontos 1 e 2 pode ser usada para determinação da velocidade v2 na altura z, desprezando a velocidade de aproximação (STREETER; WYLIE, 1982). H y Z 1 2 3 Fig. 23 - Vertedor de soleira espessa ( STREETER; WYLIE, 1982). Resolução: )yH.(g.v -= 22 Eq. 48 Cancelando-se Z, v2 é constante na seção 2 e a vazão teórica fica: )yH(g..y.Ly.L.vQ -== 22 Eq. 49 Tomando dQ/dy=0 e igualando a zero para H constante )yH.(g. g ..Ly)yH(g.L dy dQ - - +-== 2 2 2 120 Eq. 50 Resolvendo-se em y e introduzindo o valor de H, isto é 3y/2 na equação da velocidade v2 y.gv =2 Eq. 51 Introduzindo o valor de y na Equação 48, tem-se: )Zy(Z g. v H -++=++ 2 00 2 2 Eq. 47 a L P b h Q = 1,71 .L . H3/2 Unidades SI Eq. 52 Para uma borda a montante bem arredondada, a vazão pode ser escrita: Q= 1,67.L. H3/2 Unidades SI Eq. 53 3.4 VERTEDOR TRIANGULARPara pequenas vazões o vertedor triangular é bastante conveniente (figura 24). Vazões abaixo de 30 l/s, com cargas entre 0,06 e 0,50 m, são indicadas. É um vertedor tão preciso quanto os retangulares na faixa de 30 a 300 l/s (PORTO, 1999, p. 389). As medições práticas de vazão com esses vertedores indicam que o ângulo de abertura de 90º é o mais indicado, sendo calculados pelas fórmulas: Fig. 24 - Vertedor triangular de parede fina. a) Fórmula de Thompson: Q = 1,4 . h 2,5 Eq. 54 Onde, h é altura da superfície até o vértice do triângulo. Limitada a: 0,05< h < 0,38 m, P>3h, b>6h h PL a 4 1 b) Gouley e Crimp 482321 ,h.,Q = Eq. 55 Limitada a: 0,05 < h < 0,38 m, P> 3h, b> 6h 3.5 VERTEDOR CIRCULAR Em unidades métricas, a equação de vazão de um vertedor circular é a seguinte: Q = 1,518.D0,693 . h1,807 Eq. 56 Onde, D é o diâmetro em metros e h a altura de água da superfície até a soleira. 3.6 VERTEDOR TRAPEZOIDAL Apesar de não haver muito interesse de aplicação nos vertedores trapezoidais como existe nos retangulares e triangulares, há somente um interesse nos vertedores dessa classe que são chamados Cipoletti. É na forma de trapézio isósceles (figura 25), de forma que sua geometria deva ser de 1H:4V (indicador de declividade dos taludes -1 unidade na horizontal e 4 unidades na vertical) nos taludes para que não haja diminuição de vazão (PORTO, 1999, p. 390). A dedução da equação de vazão parte da equação de Francis para vertedores com duas contrações laterais e que fornece: 238611 /h.L.,Q = Eq. 57 Validade: 0,08 <h < 0,60 m, a>2 h, L> 3 h, P>3 h e b (largura do canal) de 30 a 60 h. Fig. 25 - Vertedor Cipoletti. 3.7 EXERCÍCIOS RESOLVIDOS PARA FIXAÇÃO 1. Como membro de uma equipe de Engenharia de Recursos Hídricos, você foi solicitado(a) para determinar a carga de um vertedor retangular, sem contração lateral com 1,6m de soleira e descarga 730 l/seg. Solução: - Cálculo da carga do vertedor ( ) cm,H ou m,H H.,,, H.L.,Q / / 539 3950 6183817300 8381 23 23 = = = = 2. Como componente de uma equipe que deverá especificar um vertedor retangular sem contração lateral, você recebeu a tarefa de determinar sua vazão. Dados / Informações Adicionais: Soleira do vertedor (L) = 1,70m. - Carga do vertedor (H) = 0,30m Solução: - Cálculo da vazão do vertedor retangular sem contração lateral ( )( ) segQ ou mQ Q HLQ seg /513 513,0 30,070,1838,1 ..838,1 /3 2/3 2/3 l= = = = 3. Você fez parte de uma equipe que está realizando estudos na área de hidráulica, e recebeu a tarefa de determinar a carga de um vertedor de forma de um triângulo retângulo isósceles, com descarga de 522 m³/hora. Solução: cm,h ou m,h h., h,Q / / 440 4040 41 3600 522 41 25 25 = = = = 4. Determinar a descarga de um pequeno curso d’água de 5 m de largura, onde instalou-se um vertedor central ao curso de 2,5m de largura e com uma altura de água acima da soleira de 1,10m, conforme esquema da figura 26. Fig. 26 - Vertedor (Vista superior). Solução: - Cálculo da soleira corrigida ( ) mL L HLL 28,2 10,12,050,2 2,0 1 1 1 = -= -= - Cálculo da descarga do vertedor ( )( ) segQ ou segmQ Q HLQ /4834 /834,4 10,1.28,2838,1 ..838,1 3 2/3 2/31 l= = = = 5. Você deverá determinar a descarga de um vertedor sob a forma de triângulo retângulo com carga de 8,75 m e coeficiente de descarga (Cd) = 0,6. Solução: -Cálculo da descarga ( ) segQ ou segmQ x x Q hCd g Q /690 /690,0 75,06,0 15 81,928 .. 15 28 3 2/5 2/5 l= = = = Acesse a ferramenta Atividades e faça a Atividade 1 – Verificação da aprendizagem, referente a unidade 3.
Compartilhar