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Departamento de Direito A ANÁLISE DO PARADOXO CONCRETO/ABSTRATO NO SISTEMA COGNITIVO HUMANO E NAS DECISÕES JUDICIAIS Aluna: Liz Bessa Guidini Orientador: Noel Struchiner 1. Introdução O sistema judiciário recebe muitas críticas por não funcionar de forma coerente. Muitos são os julgamentos discrepantes sobre o mesmo assunto, feitos inclusive pelo mesmo juiz. O Direito é a representação de um mundo complexo e claramente tem muitas falhas que precisam ser discutidas, sempre na busca do aperfeiçoamento da ordem. O presente trabalho busca seguir a discussão sobre uma área pouco explorada nos estudos tradicionais: o direito à luz do sistema cognitivo humano estudado pela filosofia experimental e a psicologia moral. Um grande problema enfrentado por aqueles que se preocupam com a coerência é a falta de harmonia entre o ordenamento e o que ocorre na realidade. Deve-se observar se a ordem é imposta visando regular um mundo irreal, um mundo sem as falhas humanas em que se espera que os juízes tenham algum tipo de habilidade sobre- humana. A suposição do caráter imparcial do juiz deve ser vista com cuidado, mesmo que seja um grande avanço em relação ao antigo pressuposto da condição neutra do juiz, o que hoje é de conhecimento geral ser um objetivo inalcançável, já que os magistrados não podem se livrar de suas crenças, sua história, suas visões políticas e vários outros fatores que, mesmo que de forma inconsciente, estarão presentes na hora do julgamento de casos que devem ser levados a sério. É essencial que os estudiosos se preocupem em verificar se a construção teórica se acomodará à realidade. Há muito tempo se fala que o modo de pensar de juízes e advogados, por exemplo, é diferente do raciocínio leigo, o que levou a importantes estudos de Frederick Schauer sobre racionalização jurídica: as discussões entre Realistas e Tradicionalistas (que serão vistas mais a frente) o levou a concluir que é essencial que se façam mais estudos na busca de conclusões sobre o assunto. Schauer ainda usa como exemplo os júris norte-americanos: a informação levada aos jurados é extremamente controlada, eles recebem diversos tipos de instruções, limitações e em muitos casos é pedido que desconsiderem determinado fato apresentado com a finalidade de levá-los a um veredicto pelo procedimento que se acredita ser o mais correto, preocupando-se sempre com o fato de que não foram treinados para aquela tarefa e de que teoricamente são mais influenciáveis. Schauer aponta que a informação levada ao juiz não sofre tamanho controle e se pergunta se a racionalidade dos magistrados é realmente superior a dos leigos para tais decisões e se o treinamento em uma faculdade de Direito realmente leva a uma racionalização diferente. São pesquisas e questionamentos como estes que o referido autor acredita serem necessários nos estudos atuais. Departamento de Direito A análise do paradoxo concreto/abstrato será feita através de experimentos que demonstram a sua existência e de teorias que tentam explicá-lo. O presente trabalho busca levar o leitor a uma reflexão sobre as tomadas de decisões jurídicas, alertando sobre a existência de aspectos que estarão presentes nos julgamentos e devem ser percebidos e estudados para que se alcance a almejada coerência. As críticas devem ser feitas sempre com o objetivo de construir, de levar o assunto adiante e estimular a edificação de conclusões mais sólidas. As construções doutrinárias sobre o sistema cognitivo humano são essenciais para levar o poder judiciário e o sistema jurídico a uma formação mais aprimorada e condizente com a prática comum. 2. Definição do paradoxo concreto/abstrato O ponto de partida para o presente trabalho é a demarcação do que é este problema que deve ser enfrentado pelos estudiosos e atuantes da área jurídica. Experimentos mostram que pessoas em geral têm uma tendência a fazer julgamentos morais mais severos quando o caso é apresentado concretamente do que quando apresentado abstratamente. A informação abstrata neste caso se dá, por exemplo, quando o agente não é definido, quando a ação do agente não é especificada nem detalhada ou até mesmo quando dada situação ocorre em um universo distante da realidade da pessoa que encara a situação descrita (ex: planeta Betelgeuse x cidade onde o avaliador mora). Quanto mais concreto, mais "palpável" é o caso, mais responsabilizado será o agente. O paradoxo surge porque uma mesma situação é julgada de formas diferentes dependendo do modo como é descrita. O que ocorre, como afirma Sinnott-Armstrong é a falta de um consenso racional sobre qual seria a resposta correta. Existem muitas teorias que explicam o surgimento deste paradoxo. Há muito tempo já se fala, por exemplo, em emoções que determinam julgamentos morais, que também serão importantes para o estudo em questão. O foco final será sobre o concreto contraposto ao abstrato, mas a exposição de teorias sobre o sistema cognitivo humano e de estudos sobre a racionalização também serão importantes para que se chegue mais perto de uma conclusão do por que esses paradoxos acontecem. 3. A racionalização jurídica e a relação entre lei e cognição social de Frederick Schauer A lei busca regulamentar a sociedade em que se insere e, para isso, o direito deve fazer presunções de como as pessoas pensam e agem. O que Schauer aponta como um defeito no sistema legal é que, apesar de as normas nos rodearem e estruturarem nossas vidas, as implicações psicológicas sócio-cognitivas da presença generalizada da lei foram muito pouco estudadas¹. O autor afirma que a maior parte da pesquisa sobre cognição social legal está preocupada com as evidências apresentadas aos júris e em como esses jurados avaliam estas provas. É fácil perceber como as investigações psicológicas estão muito mais voltadas para o âmbito penal do direito, mas as decisões judiciais são sobre os mais diversos assuntos interferindo em todos os domínios sociais. Há o que parece ser uma falta de interesse sobre outros aspectos da lei. Uma negligência do estudo do direito apontada pelo autor, importante para o estudo em questão, é a pesquisa psicológica sobre o papel dos juízes em determinar qual norma se ajusta ao Departamento de Direito caso concreto. Muitos partem do pressuposto que o juiz, ao fazer um julgamento, mecanicamente analisa o caso e estabelece uma regra do ordenamento ao agente. Essa ideia é limitada e não compreende o processo complexo que é a determinação da regra a ser aplicada: esta função judicial é influenciada por diversos fatores, e as inconsistências do Poder Judiciário podem demonstrar como a escolha está longe de ser mecânica, sendo, na verdade, uma tarefa cognitiva que merece a atenção da filosofia moral e da psicologia experimental. Sobre a racionalização jurídica na tomada de decisão, Schauer aponta dois métodos de processo de pensamento: no primeiro, o raciocínio é rápido e intuitivo, já o segundo é mais lógico, sistemático e deliberativo. A pergunta é qual dos métodos reflete a realidade dos magistrados. Os “Realistas” defendem que os resultados jurídicos são previamente determinados por outros fatores, que não o Ordenamento Jurídico, que podem incluir a personalidade do juiz, reações aos fatos do caso concreto, etc. Essas motivações levariam os juízes a selecionar as leis aplicáveis baseados em suas motivações (em seus palpites iniciais). Os Tradicionalistas, ao contrário, acreditam que juízes e advogados se utilizam de uma racionalização específica, ao mesmo tempo em que não negam que o raciocínio motivado defendido pelos Realistas influencie o julgamento moral de leigos. Independentemente da corrente adotada, precisamos lidar com o fato de que às vezes as leis trarão respostas erradas. Leis são generalizações e, por isso, podem produzirum mau resultado quando literalmente seguidas². A pergunta feita por Frederick Schauer quando uma norma aponta em uma direção e a resposta que considera todas as implicações (all-things-considered) aponta para outra é: com que frequência as pessoas, sendo legalmente treinadas ou não, deixarão de lado seu melhor julgamento moral em favor do que a regra comanda?³. Sua resposta depende da posição adotada: se a visão tradicional é a correta, o esperado seria que aqueles com um treinamento jurídico dariam maior importância à existência da regra, mesmo que esta gerasse um resultado desconfortável. A conclusão que se chega em sua investigação é a respeito da necessidade de mais pesquisas e experimentos sobre a tomada de decisões judiciais, sobre a real diferença entre juízes e leigos e em que extensão essas diferenças de procedimento, se existem, realmente influenciam na decisão final. Estes estudos ajudam a formar melhores conclusões sobre questões de atribuição de responsabilidade moral e de tomada de decisões, auxiliando na conformação da realidade social com a construção teórica. 4. A influência das emoções nos julgamentos morais Muito influenciado por David Hume, Jesse Prinz4 defende que julgamentos morais são repletos de emoções. Afirma ainda que moralidade é um domínio normativo que trata de como o mundo deve ser, e não de como é. Os que acreditam nesta teoria argumentam que é impossível manter-se imparcial quando lemos no jornal histórias sobre abuso de crianças, atrocidades de guerra ou racismo institucionalizado5. Inclusive, dependendo da vítima, por exemplo, as reações emocionais podem ser mais significativas mesmo que se trate de um mesmo crime (se a vítima é uma criança as Departamento de Direito emoções podem ser mais fortes). Nossas emoções podem ser um grande indicativo da força de nossos julgamentos morais. Uma das formas de demonstrar esta influência das emoções nos julgamentos morais é através do seguinte caso que compara dois cenários: em ambos um trem está indo na direção de cinco pessoas que estão amarradas nos trilhos. No primeiro, o condutor pode salvá-las se empurrar alguém nos trilhos, matando-a e fazendo o trem parar. No segundo, pode salvar as cinco pessoas puxando uma alavanca que muda a rota do trem para um caminho em que o condutor sabe que terá uma pessoa amarrada aos trilhos, ao invés de cinco. Nos dois casos, a intervenção do condutor resultaria em uma morte e evitaria cinco. Muitas pessoas têm a intuição de que é moralmente errado intervir no primeiro caso e moralmente permitido intervir no segundo. A explicação popular para isto é de que é moralmente pior matar uma pessoa do que deixá-la morrer. Os sentimentos negativos em relação a empurrar alguém nos trilhos nos leva a pensar que é uma ação errada. Para resolver um dilema, neste caso, o sentimento mais forte ganha. 5. O fenômeno concreto versus abstrato Concluída a constatação de que existe grande variabilidade do uso e da interpretação de regras nos julgamentos morais, a análise que se seguirá, central para a presente pesquisa, será sobre as inconsistências que se fazem presentes quando casos são vistos sob uma perspectiva abstrata e outra concreta. Existem diferentes teorias que tentam explicar o acontecimento do paradoxo. Sinnott-Armstrong afirma que a busca não é de uma solução, mas de um entendimento de tais paradoxos e das intuições cognitivas frente às situações que os provocam6. Seguindo o modelo de Eric Mandelbaum e David Ripley7, primeiro serão apresentados alguns experimentos que demonstram as diferentes intuições encontradas de acordo com a abstração ou a concretude da descrição. Depois, veremos em que se distinguem as diferentes teorias cognitivas, criando um quadro geral para a formação de resultados conclusivos mais aprimorados. 5.1 O paradoxo revelado em experimentos 5.1.1 O universo determinista e a responsabilização moral Nichols e Knobe exibiram aos participantes deste experimento uma situação que descrevia um universo determinista - ou seja, todo acontecimento, inclusive vontades e escolhas humanas, são causados por acontecimentos anteriores - e depois fizeram perguntas referentes à responsabilidade moral do agente. Na condição abstrata, quando questionados sobre se seria possível que alguém fosse totalmente responsabilizado neste universo, 86% responderam “não”. Quando, ao contrário, os participantes recebem um ato específico cometido pelo agente hipotético deste universo, que mata sua mulher e seus filhos para ficar com sua secretária, 72% responderam que este deveria ser inteiramente responsabilizado (condição concreta, a ação do agente é especificada). 5.1.2 O universo desconhecido versus o Planeta Terra Departamento de Direito Nichols e Roskies dividiram os participantes em dois grupos e, mais uma vez, exibiram uma situação que descrevia um universo determinista. Para o primeiro grupo, no entanto, o universo em questão era desconhecido. Para o segundo grupo, a situação se dava em nosso universo (Planeta Terra, por exemplo). Os resultados mostram que a responsabilidade atribuída ao agente foi significativamente menor no caso do universo desconhecido (situação abstrata). 5.1.3 A doença neurológica e a responsabilização moral No experimento de Brigard, Mandelbaum e Ripley foram apresentadas duas situações. A abstrata dizia: “Dennis descobriu recentemente que possui uma doença neurológica que o levou a se comportar de certa forma. Se qualquer pessoa apresentasse a mesma doença neurológica, se comportaria da mesma maneira. Em uma escala de 1 a 7, sendo 1 não responsável e 7 sendo muito responsável, qual é a responsabilização moral de Dennis pelos seus comportamentos causados por sua doença neurológica?” Essa é a condição abstrata, já que as ações não foram especificadas. A situação concreta dizia: “Dennis descobriu recentemente que possui uma doença neurológica que o levou a se comportar de certa forma. Se qualquer pessoa apresentasse a mesma doença neurológica, se comportaria da mesma maneira. Em uma escala de 1 a 7, sendo 1 não responsável e 7 sendo muito responsável, qual é a responsabilização moral de Dennis por estuprar mulheres?” Os resultados foram os esperados, mais uma vez demonstrando o paradoxo em questão: a responsabilização moral foi muito mais significativa na condição concreta. 5.1.4 O julgamento moral na determinação da intencionalidade Outro experimento clássico que demonstra o paradoxo concreto/abstrato é o feito por Joshua Knobe que demonstra que a determinação de se alguma ação foi intencional ou não também depende de um julgamento moral. Os casos apresentados foram os seguintes: no primeiro, o Vice-Presidente de uma empresa vai ao Presidente e propõe uma nova política que economizará um milhão de dólares por ano, mas prejudicará o meio-ambiente. O Presidente responde: “Eu não me importo com o meio- ambiente, eu só me importo em ganhar dinheiro!”. A política é então implantada e o meio-ambiente é destruído. Neste caso, o Presidente prejudicou o meio-ambiente intencionalmente? A maioria das pessoas diz que sim. No segundo caso, ao contrário, o Vice-Presidente propõe uma nova política que economizará um milhão de dólares por ano e proteger o meio-ambiente. Novamente, o Presidente responde: “Eu não me importo com o meio-ambiente, eu só me importo em ganhar dinheiro!”. A política então é implantada e o meio-ambiente é protegido. Pergunta-se: o Presidente protegeu o meio-ambiente intencionalmente? A maioria das pessoas diz que não. 5.2 Teorias afetivas, teorias cognitivas e a teoria NBAR À luz dos experimentos, Eric Mandelbaum e David Ripley dividem as formas de explicar o paradoxo concreto/abstrato em duas categorias: teorias afetivas e teorias Departamento de Direito cognitivas. Os autores, no entanto,não se aliam a nenhuma delas, criando uma terceira classificação que chamam de NBAR (Norm Broken, Agent Responsible). As três correntes serão explicadas a seguir. 5.2.1 Teorias afetivas São aquelas que tentam explicar o paradoxo pela emoção intensificada pelos casos concretos. Como afirmam em seu artigo “Explaining the abstract/concrete paradoxes in moral psycology: the NBAR hypotesis”8, de acordo com esta teoria as palavras “estuprar uma mulher” produzem maior sentimento do que “se comportar de certa forma”, aumentando o julgamento de responsabilidade. A partir disso, espera-se que o crescimento da responsabilização no julgamento de casos concretos se deve, pelo menos em parte, a fatores emocionais. Mandelbaum e Ripley destacam como importantes autores ligados a esta teoria: Nichols, Knobe e Prinz. 5.2.2 Teorias cognitivas Teorias cognitivas, para Eric Mandelbaum e David Ripley são aquelas em que a variável causal não é afetiva, mas sim um estado cognitivo (como uma crença) ou um processo cognitivo (como a memória)9. A teoria cognitiva analisada pelos autores é aquela que defende que as diferenças entre os julgamentos acontecem porque situações concretas são processadas de forma diferente apenas pelo motivo de serem concretas, e não porque coincidem com situações carregadas de emoções, ou seja, temos um mecanismo mental cujo processamento é dedicado a estímulos concretos. Desta forma, os dados codificados abstratamente seriam decifrados por um processo mental distinto do mecanismo utilizado para dados concretos. Mandelbaum e Ripley apontam Sinnott-Armstrong como defensor desta teoria, e caracterizam sua tese como a “hipótese das Capacidades Separadas” (Separate Capacities hypothesis). Esta teoria, afirmam, explica as diferentes intuições em casos concretos e abstratos distinguindo os diferentes sistemas decodificadores. A ideia principal é a de que temos dois sistemas de memória: a memória semântica e a memória episódica. A memória semântica decifra os casos abstratos, pois é uma espécie de memória onde a decodificação é feita de forma parecida com o processo utilizado para uma frase proposicional. Por outro lado, a memória episódica decodifica a informação como episódios fenomenológicos. A hipótese das Capacidades Separadas sustenta que esses dois sistemas interagem de forma a produzir o fenômeno abstrato/concreto10. Vale lembrar que independente de ser decodificada concreta ou abstratamente, não depende da natureza afetiva do estímulo, por isso, a teoria das Capacidades Separadas não é uma hipótese afetiva. 5.2.3 As críticas de Eric Mandelbaum e David Ripley e a teoria NBAR Departamento de Direito Eric Mandelbaum e David Ripley, antes de apresentar a teoria NBAR, explicam por que acreditam que as clássicas correntes que chamam de teorias afetivas e teorias cognitivas não são suficientes para explicar o acontecimento do paradoxo. Em relação às teorias afetivas, os autores afirmam que esta não é capaz, por exemplo, de explicar o surgimento do fenômeno no experimento em que em nenhuma das situações o agente executa uma ação: a única diferença entre a condição concreta e a condição abstrata é o universo em que se dá a situação (universo desconhecido versus Planeta Terra). Ressaltam que não defendem que a emoção não tenha nenhum tipo de influência nestes casos, seus argumentos se direcionam somente no sentido de que teorias puramente afetivas não podem explicar todos os efeitos relevantes. Sobre as teorias cognitivas, Mandelbaum e Ripley reconhecem que é uma corrente importante por admitir uma forma de surgimento do fenômeno mesmo em situações que não são carregadas emocionalmente, mas a criticam porque a mera abstração ou concretude de uma situação não parece causar diferentes reações nas pessoas em qualquer situação. Também apontam, entre outras, a falha de que a hipótese das Capacidades Separadas confunde o estímulo que causa o efeito com o veículo que o causa: o que os autores querem saber é por que o estímulo abstrato causa respostas diferentes dos estímulos concretos, não sendo suficiente dizer que as condições abstratas são processadas por um diferente sistema em virtude de sua abstração. Mandelbaum e Ripley, então, propõem uma terceira visão acerca do paradoxo. Esta teoria não recorre a estímulos afetivos e considera os processos de decodificação da condição concreta e da condição abstrata semelhantes. Afirmam que um conjunto de crenças contraditórias pode explicar o surgimento das incoerências. A suposição feita é de que todas as pessoas têm uma crença inconsciente de que quando uma norma é quebrada, um agente é responsável por desrespeitá-la (por isso o nome NBAR - “Norm Broken Agent Responsible”). Nos casos em que coisas ruins acontecem, então, as pessoas concluem que um agente deve ser responsável pelo ocorrido. Todos os autores que se dedicam ao paradoxo partilham da busca do entendimento para a sua ocorrência. Este fenômeno não pode ser ignorado pelo sistema jurídico, já que se trata de uma característica humana que terá sua influência no resultado final de julgamentos, sendo importante, para isso, observar cuidadosamente todas as diferentes formas de desvendá-lo. 6. Conclusão O presente estudo buscou orientar a crítica ao Poder Judiciário em uma direção pouco usual na experiência da tradicional doutrina jurídica. É preciso que haja maior interesse dos estudiosos pelos diversos aspectos do direito e pela importância da interdisciplinaridade no aprimoramento do sistema. As incoerências podem ser mitigadas através de uma investigação mais aprofundada do sistema cognitivo humano e de um maior foco nas relações entre as construções teóricas e a realidade revelada na prática. Os institutos jurídicos não podem se abster de entender as particularidades da racionalidade humana e da sociedade que pretendem regulamentar. Os magistrados Departamento de Direito devem dedicar especial interesse a este tipo de pesquisa para que estejam sempre atentos às inconsistências no exercício de suas funções. A segurança jurídica e a credibilidade do sistema precisam sofrer constante manutenção com vistas à harmonia social e a um sistema condizente com a realidade, e este deve ser o papel dos doutrinadores e pesquisadores. Os efeitos do paradoxo concreto/abstrato são constatações importantes para que se compreenda não só a mente humana, mas também o funcionamento do nosso sistema jurídico. Referências [1] SINNOTT-ARMSTRONG, W. Abstract + Concrete = Paradox. In: KNOBE, J. (Ed.); NICHOLS, S. (Ed.). Experimental Philosophy. Nova Iorque: Oxford University Press, 2008. [2] SPELLMAN, Barbara e SCHAUER, Frederick. Legal reasoning. Fevereiro de 2012. Virginia Public Law and Legal Theory Research Paper No. 2012-09. Disponível em: SSRN: http://ssrn.com/abstract=20007888 [3] SPELLMAN, Barbara e SCHAUER, Frederick. Law and social cognition. Fevereiro de 2012. Virginia Public Law and Legal Theory Research Paper No. 2012-10. Disponível em: SSRN: http://ssrn.com/abstract=2000806 [4] STRUCHINER, Noel. Para falar de regras. Rio de Janeiro, 2005. Tese de Doutorado – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. [5] PRINZ, Jesse. The emotional construction of morals. Nova Iorque: Oxford University Press, 2007. [6] MANDELBAUM, Eric e RIPLEY, David. Explaining the abstract/concrete paradoxes in moral psychology: the NBAR hypothesis. Disponível em: <http://philosophy.unc.edu/people/graduatestudents/ericmandelbaum/NBAR%20Working%20Draft%20 Sept%2020.doc/at_download/file>. Acesso em 19 jul. 2012. i 1 SPELLMAN, Barbara e SCHAUER, Frederick. Law and social cognition. Fevereiro de 2012. Virginia Public Law and Legal Theory Research Paper No. 2012-10. 2 SPELLMAN, Barbarae SCHAUER, Frederick. Legal reasoning. Fevereiro de 2012. Virginia Public Law and Legal Theory Research Paper No. 2012-09. 3 SPELLMAN, Barbara e SCHAUER, Frederick. Legal reasoning. Fevereiro de 2012. Virginia Public Law and Legal Theory Research Paper No. 2012-09. 4 PRINZ, Jesse. The emotional construction of morals. Nova Iorque: Oxford University Press, 2007. Departamento de Direito 5 PRINZ, Jesse. The emotional construction of morals. Nova Iorque: Oxford University Press, 2007. 6 SINNOTT-ARMSTRONG, W. Abstract + Concrete = Paradox. In: KNOBE, J. (Ed.); NICHOLS, S. (Ed.). Experimental Philosophy. Nova Iorque: Oxford University Press, 2008. 7 MANDELBAUM, Eric e RIPLEY, David. Explaining the abstract/concrete paradoxes in moral psychology: the NBAR hypothesis. 8 MANDELBAUM, Eric e RIPLEY, David. Explaining the abstract/concrete paradoxes in moral psychology: the NBAR hypothesis. 9 MANDELBAUM, Eric e RIPLEY, David. Explaining the abstract/concrete paradoxes in moral psychology: the NBAR hypothesis. 10 MANDELBAUM, Eric e RIPLEY, David. Explaining the abstract/concrete paradoxes in moral psychology: the NBAR hypothesis.
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