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Direito Econômico O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 1 www.cursoenfase.com.br Sumário 1. Princípios constitucionais da ordem econômica (cont.) ........................................ 2 1.1 Princípio da propriedade privada e da função social da propriedade ............. 2 1.1.1 Excesso de regulamentação estatal .......................................................... 10 1.2 Princípios da livre iniciativa e da livre concorrência ....................................... 12 2. Direito da concorrência ........................................................................................ 25 Direito Econômico O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 2 www.cursoenfase.com.br 1. Princípios constitucionais da ordem econômica (cont.) 1.1 Princípio da propriedade privada e da função social da propriedade Houve uma prova do MPF que caiu uma indagação sobre quais princípios do liberalismo seriam ainda princípios da ordem econômica brasileira. Nas aulas passadas fez-se uma evolução desde o liberalismo econômico (Constituições liberais) até chegar ao modelo de estado social existente hoje. O Brasil não adotou um modelo liberal, porém, o que se conhece por sociedade ocidental é fruto do liberalismo econômico, que deixou duas heranças principais: a democracia participativa e o capitalismo (duas grandes contribuições que se tem a partir do liberalismo econômico). Quando se coloca isso em uma prova do MPF o examinador quer saber se o candidato sabe que o sistema econômico que a Constituição agasalha é um sistema econômico capitalista cujas bases estão no liberalismo. A resposta da questão era a propriedade privada e economia de mercado, que são ideias próprias do liberalismo econômico. A ideia de propriedade privada está na essência da construção de um modelo de estado liberal e mais que isso, ela está na base da possibilidade de se desenvolver um sistema econômico lastreado nas trocas livres, porque se os bens pertencem a cada uma das pessoas, eles viabilizam essas trocas. Mais que reconhecer a propriedade privada como um direito humano de primeira geração, a propriedade privada, em termos de desenvolvimento econômico do sistema capitalista, é o ponto de partida para que se possa pensar em capitalismo. Onde haja propriedade do Estado e os bens pertençam ao Estado, dificilmente se poderá falar em um modelo econômico capitalista. Segundo Eros Grau, o modelo econômico capitalista está baseado na ideia de uma livre circulação de bens, isto é, os bens pertencem a pessoas determinadas e em razão disso eles são negociados conforme o interesse das pessoas e segundo a sua escassez1. Existe alguma diferença entre propriedade privada no art. 5º da CF e propriedade privada no art. 170 da Constituição? 1 “Conforme a sua escassez” na verdade a representação do quanto de valor aquilo corresponde, é uma repercussão da escassez de um bem. Direito Econômico O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 3 www.cursoenfase.com.br Sim, há uma diferença segundo Eros Grau. A doutrina brasileira de direito constitucional não entra a fundo nessa discussão, que é uma discussão que o Eros Grau trava onde as coisas são um pouco diferentes, porque no art. 5º quando se está tratando de direitos e garantias fundamentais, a ideia de propriedade privada está ligada ainda à propriedade do Estado liberal, àquela propriedade que visava garantir ao homem a sua subsistência. Aquela ideia de direito humano de primeira geração é, na verdade, uma ideia de que a propriedade serve ao homem para viabilizar sua subsistência. No sentido do art. 5º a propriedade ainda é o que sempre foi, ou seja, um direito humano de primeira geração, um meio único que o homem tem de garantir a subsistência própria e de sua família. Quando se olha para a Constituição no art. 170, se está trabalhando com princípios gerais da atividade econômica, não está se falando de direitos humanos de primeira geração. É obvio que existe uma conexão, pois no momento em que se reconhece a propriedade privada, ao afirmar novamente a propriedade privada, se estará regulando ela, estará estabelecendo o regime jurídico dessa propriedade. A essência das duas propriedades privadas é diferente. Eros Grau diz que no art. 5º a propriedade privada está ali lançada dentro de um sentido de bem que atende ao indivíduo. A regulamentação de propriedade no art. 170 não pode ser a mesma coisa do art. 5º, pois o legislador não tem porque falar em propriedade privada. Uma vez já falado no art. 5º não haveria necessidade de repetir no art. 170. Eros Grau diz que a propriedade mencionada no art. 170 é aquela relacionada ao sistema econômico que a Constituição adotou, é uma propriedade relacionada ao sistema capitalista, é uma propriedade ligada à ideia de bem de produção (aquele bem que é inserido no processo econômico e que vai gerar algum tipo de atividade que vai culminar na produção, na entrega de um bem a alguém, a um consumidor, a um destinatário final). No art. 5º a ideia é outra, é da propriedade visando atender àquilo que satisfaz o indivíduo. Eros Grau ao observar essa distinção fala que se tivesse que se estabelecer, desde logo. uma distinção entre o art. 170 e o art. 5º, diria que no art. 5º se trata de bem de consumo (pois atende ao interesse individual de uma pessoa que é titular daquele bem) e no art. 170 se tratar de bem de produção (porque a propriedade está ligada a uma ideia de um sistema econômico que está moldado na Constituição e aí o sistema econômico é capitalista). Mas é um sistema capitalista puro, onde as regras de mercado definem tudo quanto à concorrência? Direito Econômico O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 4 www.cursoenfase.com.br Não. Há uma lei que regula a concorrência, então, não é tudo que é permitido. O capitalismo não é puro. A propriedade dentro deste modelo terá que ser uma propriedade adequada ao tipo de capitalismo em que se vive, ou seja, será uma propriedade que atenderá a certos objetivos desse modelo econômico capitalista. No art. 5º o legislador fala de função social da propriedade e no art. 170 repete. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: [...] II - propriedade privada; III - função social da propriedade; Será que é a mesma coisa? Não, pois não há palavras inúteis na Constituição.Se aparece duas vezes é porque deve haver outro sentido. O problema é que dizer a mesma coisa em outro sentido fica estranho. Quando a Constituição fala no art. 5º de propriedade privada e de função social da propriedade e repete isso no art. 170, parece que está tratando da mesma coisa, só que a acepção é totalmente diferente. No art. 5º Eros Grau diz que aquilo que se chama de função social da propriedade, nada mais é que uma proibição, dirigida ao sujeito, de fazer o uso da propriedade em prejuízo de terceiros. É como se dissesse para utilizar a propriedade dentro dos seus limites legais para não prejudicar terceiros. Exemplo1: Pode, hipoteticamente, elevar o muro até o tamanho desejado, já que a propriedade pertence ao sujeito, mas se eventualmente fizer isso com intenção de prejudicar terceiro, como por exemplo, não permitir que o sol chegue à piscina do vizinho, isso será considerado uma conduta inadequada, algo que permitirá a ele alegar que tal conduta é um abuso de direito e mover uma ação para tentar demolir o muro que cobre totalmente o sol. Exemplo2: o sujeito tem um bar e coloca todas as mesas do bar na calçada e simplesmente ocupa o espaço público, isso é um exercício do direito de propriedade? Direito Econômico O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 5 www.cursoenfase.com.br Não. Vai além daquilo que é um direito de propriedade, começa a perturbar o contexto social. No art. 5º, quando o legislador fala de função social da propriedade, está falando para utilizar a propriedade dentro de certos limites que não incomodem terceiros. Seria, na visão de Eros Grau, uma função social passiva. Já no art. 170 o aspecto é totalmente diferente. Quando se fala de função social da propriedade, no art. 170, se está cogitando de dar à propriedade privada uma repercussão social. É o indivíduo usar da propriedade para produzir resultados positivos para os outros, o que é inconcebível. O sentido é diferente. O sentido de função social em um é passivo e no outro Eros Grau chama de função social ativa da propriedade, porque se está olhando para sistema econômico capitalista e o papel da propriedade privada dentro desse sistema (que não é um sistema econômico capitalista que viabiliza apenas o lucro do empresário, ele viabiliza certos resultados positivos para toda a coletividade). Diante dessa constatação Eros Grau faz as seguintes perguntas: Será que isso é incompatível com a Constituição? Será que não haveria uma contradição, já que a Constituição afirma a propriedade privada, que está na base do capitalismo, para possibilitar as trocas e logo depois dá função social para ela? Será que isso não seria, em certa medida, uma negação da propriedade privada? Qual o sentido disso? Se a propriedade privada é um direito subjetivo que atende ao indivíduo, como ela atenderá à coletividade? Ele aborda no direito Francês a construção do direito de propriedade e diz que o legislador, ao estruturar o direito de propriedade, ao criar regulamentação em torno da propriedade, é ele quem vai permitir que se extraia da propriedade benefícios coletivos. Exemplo: a república de estudantes pertence ao estudante, mas o Estado pretende, ao regulamentar a república de estudantes, extrair dela benefícios para a coletividade. Quando estabelece, por exemplo, que a república tem que acolher pessoas para dar refeições uma vez por dia, está tentando dar uma conotação social a uma propriedade que é eminentemente privada. Quando se pensa em direito da concorrência, em controlar fusão de empresas, em controlar/monitorar preços, para saber se o sujeito não está praticando preço muito baixo para dominar mercado ou se está praticando preço muito alto por estar abusando de sua posição, quando se começa a examinar essas situações, se percebe que o Estado está interferindo na propriedade privada. Exemplo: A Sadia que realizar fusão com a Perdigão. Direito Econômico O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 6 www.cursoenfase.com.br Há algo que impeça uma empresa de realizar fusão com a outra? Não. Os donos são, supostamente, pessoas capazes, são pessoas que estão no gozo dos seus direitos e a ação é livremente negociável. O que impediria a fusão? A existência de uma norma como a do direito da concorrência, que vai obrigar a submissão desse negócio ao CADE, para saber se é possível ser feito. Isso não é uma intervenção no direito de propriedade? O que legitima isso, se na base do sistema capitalista está a propriedade privada e o sujeito poderia dispor livremente dessa propriedade privada? O que vai legitimar uma situação como essa é a possibilidade do Estado intervir no processo econômico e intervir para obter benefícios para a coletividade, ou seja, determinar que é melhor para a economia do país que as empresas permaneçam separadas. Vê-se claramente uma intervenção do Estado nesse espaço Pode, a princípio, criar qualquer tipo de atividade econômica? Pode, mas para certas atividades não pode, precisa de autorização. Exemplo: instituições financeiras. Não pode sair por aí criando instituições financeiras para funcionar, depende de autorização do Banco Central, porque essa é uma atividade extremamente relevante para a qual o Estado firma um controle, de modo a evitar que o jogo seja totalmente livre, porque mexer com o dinheiro das pessoas é algo que é extremamente sensível em um sistema econômico capitalista. O melhor exemplo que se tem hoje de função social da propriedade é a questão dos crimes falimentares. Exemplo: o processo do Eike Batista está na instância federal. Há uma decisão do STJ mantendo o processo na instancia federal e a argumentação da defesa do Eike Batista, no sentido de tentar levar o processo para a Justiça Estadual do Rio de Janeiro, é no sentido de que o crime que ele cometeu não seria um crime contra o sistema financeiro nacional, porque a Constituição atribui competência à justiça federal para os crimes contra o sistema financeiro, quando previsto em lei, ou seja, dependeria, a princípio, de haver uma lei que trouxesse um dispositivo dizendo que esses crimes são de competência federal, como ocorre com a Lei 7492/86. Como consequência disso, eles alegam que os crimes pelos quais ele está denunciado, que são crimes da Lei 6385/76 (lei que trata da CVM e cuida do mercado de capitais), não tem dispositivo que diga que a competência é federal. Então eles alegam que a competência é estadual. Direito Econômico O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 7 www.cursoenfase.com.br Nada obstante isso, quem regulamenta isso é a CVM. É a CVM que controla comunicação de fatos ao mercado, é a CVM que monitora para ver se não está havendo manipulação de preço de ações. Exemplo1: quando uma empresa vai comunicar um fato relevante ao mercado (que fechou, por exemplo, um contrato com a China para vender minério de ferro lá), isso vai provocar uma alta das ações da empresa e esse fato relevante é comunicado ao mercado. A CVM vai ao mercado olhar as compras e vendas de ações momentos antes dessa divulgação,para saber se alguém (diretores, controladores da empresa, conselheiros, as pessoas que tem acesso a essa informação) fez um movimento de compra ou de venda valendo-se daquilo que será comunicado, posteriormente, ao mercado. Isso é o crime do insider trading2, onde será comunicado, por exemplo, que não se achou nada de petróleo e a 2 insider"- Em termos puramente doutrinários, ignorando-se portanto a legislação vigente em cada país, "insider", em relação a determinada companhia, é toda a pessoa que, em virtude de fatos circunstanciais, tem acesso a "informações relevantes" relativas aos negócios e situação da companhia Informações relevantes, doutrinariamente, são aquelas que podem influir de modo ponderável na cotação dos valores mobiliários de emissão da companhia, afetando a decisão dos investidores de vender, comprar ou reter esses valores. O Direito Brasileiro, por ora, ainda não definiu expressamente o que seja "insider". No entanto, a Lei nº 6.404/76, nos arts. 155 e 157, combinados com 145, 160 e 165, ao tratar dos deveres de lealdade e de prestar informações, por parte dos administradores e pessoas a eles equiparados, implicitamente emitiu o conceito de "insider". Da mesma forma procedeu a Lei nº 6.385/76, quando estabeleceu que a CVM expedirá normas, aplicáveis à companhia aberta, sobre informações que devem ser prestadas por administradores e acionistas controladores. Com efeito, do texto de tais dispositivos legais pode-se concluir, sem qualquer dúvida, que o legislador brasileiro admitiu como "insider", nos termos da definição doutrinária de início enunciada, as seguintes pessoas que, em razão de sua posição, têm acesso a informações capazes de influir de modo ponderável na cotação dos valores mobiliários de emissão da companhia: a. administradores – conselheiros e diretores da companhia (art. 145 da Lei nº 6.404/76); b. membros de quaisquer órgãos, criados pelo estatuto da companhia, com funções técnicas ou destinadas a aconselhar os administradores (art. 160 da Lei nº 6.404/76); c. membros do Conselho Fiscal (art. 165 da Lei nº 6404/76); d. subordinados das pessoas acima referidas (§ 2º do art. 155 da Lei nº 6.404/76); e. terceiros de confiança dessas pessoas (§ 2º do art. 155 da Lei nº 6.404/76) e f. acionistas controladores (art. 22, inciso V, da Lei nº 6.385/76). "Insider Trading" é qualquer operação realizada por um "insider" com valores mobiliários de emissão da companhia, e em proveito próprio, pessoal. Convém que se esclareça, desde logo, que não constitui ilícito, em princípio, uma operação assim realizada pelo "insider". Somente se a operação se revestir de determinadas características é que se constituirá ela um ilícito. Quanto a esta caracterização, bem como aos critérios de penalização de seus participantes, as legislações dos Países adotam os mais diversos princípios. Em nosso País, o "insider trading", como ilícito, está nitidamente caracterizado na legislação, especialmente no art. 155 da Lei nº 6.404/76. Além disto, porém, tendo em vista que o "insider trading" é ato ilícito, outros dispositivos genéricos de nossa legislação, que ora protegem o mercado de ações, visando proteção patrimonial dos indivíduos e segurança social, são hábeis para enquadrar, e consequentemente penalizar, o "insider trading". (fonte: http://www.cvm.gov.br/port/public/publ/publ_600.asp) Direito Econômico O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 8 www.cursoenfase.com.br empresa vende antes e comunica ao mercado. As ações despencam, ou seja, há o ganho de vender com a ação em posição mais alta. Exemplo2: suponha-se que alguém ontem soubesse da reunião entre Dilma e Graça Foster para a saída da Graça Foster da Presidência da Petrobrás e alguém, que tem essa informação de que a Graça Foster está de saída, fosse ao mercado e começasse a comprar ações e no final do dia, antes mesmo que isso fosse mencionado ao mercado, as ações da Petrobrás começassem a subir. Se a CVM investigar isso e constatar que alguém se valeu disso, ela instaurará um procedimento e vai autuar quem fez isso pelo crime de insider trading, desde que essa pessoa tenha tido acesso a essas informações privilegiadas. Imagine-se que este crime está na instância federal hoje porque o STJ concordou com a tese do MPF, que é a seguinte: não é simplesmente o fato de ser um crime que afete o sistema financeiro que precisa de uma lei que o diga, porque a competência federal pode estar presente quando isso traduza outro interesse da União (aquela fórmula genérica de que bens, interesses ou serviços da União justificam a competência federal). O STJ concordou com isso para entender que os crimes da Lei 6385/76 fiquem na instância federal. É interessante porque não tem que ficar nem na bolsa de valores (embora sejam crimes relacionados a bolsa), porque hoje as negociações são todas virtuais e não há mais aquele espaço físico onde as pessoas negociavam ações antigamente, hoje é tudo virtual, remotamente vai fazendo as compensações, compra, venda, etc. Exemplo: a empresa OGX está quebrada, entra com um pedido de recuperação judicial e se descobre que pouco tempo antes dela entrar com pedido de recuperação judicial, que a OGX fez um pagamento de 449 milhões de dólares para a OSX, outra empresa do grupo e do mesmo controlador. Ao considerar essa situação, existe um crime na lei de recuperação de empresas, que é fazer pagamentos antecipados para retirar aqueles bens do concurso de credores que tem na falência. Como a recuperação judicial só será decretada mais à frente, porque ele não pode dispor livremente de seus bens? Porque é criado um gravame que restringe o direito de propriedade dele para evitar que faça desvio de valores pouco antes da quebra. Esse crime é uma hipótese em que se restringe a liberdade de um sujeito de dispor dos bens e se ele vier a dispor, ele comete o crime. Por que se faz isso? Porque é frequente que se aconteça esse tipo de expediente. O sujeito vê que a empresa vai quebrar e não desvia bens para ele, pois pode ser alcançado dentro do processo Direito Econômico O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 9 www.cursoenfase.com.br de falência, mas ele faz um pagamento para um terceiro e esse terceiro ficará com o dinheiro até que as coisas se resolvam e ele tenha como pegar de volta o dinheiro. Na Lei de recuperação de empresas existe uma discussão sobre qual é o bem jurídico protegido. Existem sete posições na doutrina quanto a qual é o bem jurídico, mas a que melhor explica isso é a posição do Nilo Batista que diz que o bem jurídico nos crimes falimentares (aqueles que estão relacionados a desvio de bens da massa) é a função social da propriedade. Isso condiz com o que Eros Grau diz, de que aquela propriedade inserida no processo produtivo não tem mais uma livre disposição por parte do sujeito, ela está sujeita a gerar benefícios para a coletividade, de modo que isso leva o sujeito a interpretar essa disposição da lei de falências à luz dessa visão de função social da propriedade, porque se está tratando de atividade econômica e de regulação por parte do Estado de um processo relacionado a uma atividade econômica que não deu certo, mas cujos bens que ali estão devem continuar cumprindo função social, por isso devemser revertidos para o pagamento dos credores. Exemplo: meia entrada em estabelecimento de espetáculos (cinema, teatro, etc.). Essa é uma forma do Estado intervir para dar função social àquela atividade econômica de cinema, de show, de teatro, do que quer que seja, para viabilizar o acesso de mais pessoas que ordinariamente não teriam acesso àquele tipo de situação. Se dá função social a um bem que seria privado e isso se dá a partir do regime jurídico que se dá a propriedade. Vai se modulando o regime de propriedade, de modo a extrair da propriedade benefícios para a sociedade em prol desse capitalismo de viés social. Segundo Eros Grau, no art. 170, a ideia de função social da propriedade está ligada a produção de certos resultados a partir da exploração da atividade econômica. Sendo assim, o legislador estrutura um regime jurídico para as mais variadas propriedades, de modo a possibilitar a produção, não apenas de lucro para o empresário, mas de benefícios para a coletividade, benefícios esses relacionados a todo o sistema econômico. É nesse contexto que se fala em função social ativa da propriedade e dentro do qual se inserem normas relacionadas ao direito da concorrência, à preservação da empresa e sua recuperação judicial e à própria restrição ou controle de determinadas atividades. É crime a importação de sementes de maconha da Inglaterra? Essas questões acontecem com grande frequência no MPF. Os Correios descobrem, chamam a Receita Federal, a Receita Federal diz que não pode e chama a Polícia Federal que instaura um inquérito. Direito Econômico O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 10 www.cursoenfase.com.br Há crime nesses casos? No MPF existem três posições diferentes: A primeira entende que não, que deve arquivar o inquérito, pois entendem que maconha não é matéria prima para droga. Alguns ainda entendem que o que o legislador incrimina é o ato de semear e cultivar e que trazer a semente não caracteriza a conduta de semear e cultivar, é apenas um ato preparatório do semear e cultivar. Entende, ainda, que não poderia ser contrabando, porque não há garantias de que a planta vai germinar. Como a planta não vai germinar, ela não seria semente de maconha. Só seria considerada semente de maconha a que germina e vira maconha. A segunda corrente entende que se trata de tráfico, pois quem importou fará uma plantação e venderá maconha. Dentro da mesma corrente, uma parte entende que a semente de maconha é matéria prima para a produção de droga, quando, na verdade, se sabe que, na maconha, o que é proibido é o tetrahidrocanabinol, que não é tirado da semente, é tirado da folha da planta germinada. A terceira corrente entende que se trata de contrabando, corrente esta defendida pelo professor. Existe uma lista de quais sementes podem ser objeto de importação e a semente da maconha não está nessa lista, o que significa que a importação da semente da maconha é proibida, não há espaço para se fazer esse tipo de importação. O problema não é de saúde pública ainda, porque o sujeito ainda não semeou, não cultivou, não lançou ao solo a semente para se falar em Lei de Droga, mas o problema já é de controle da entrada e saída do país de determinados objetos. Contrabando é isso, é se introduzir no país algo que é proibido. A priori, não há que se falar em quantificação de contrabando, não tendo como se falar de insignificância. Não cabe insignificância para contrabando, porque o que importa é a proibição e a violação da proibição. O contrabando, na verdade, é uma desobediência à lei, desobediência não se quantifica. O STF e o STJ não aceitam insignificância para contrabando. 1.1.1 Excesso de regulamentação estatal O professor entende que existe, em determinados espaços da sociedade, uma regulamentação excessiva, ou seja, que o Estado não deve, por exemplo, intervir no caso de um pai dar ou não palmada em seu filho, pois se o pai exagerar haverá maus-tratos e já existe um tipo penal para isso. Ele entende que em alguns espaços há excesso de regulamentação e que não se deve esquecer que viver em sociedade significa abrir mão de alguma parcela de liberdade. Direito Econômico O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 11 www.cursoenfase.com.br Exemplo: um sujeito que gostaria de sair nu para mergulhar no mar, por morar perto da praia, não pode fazer isso, pois a sociedade, em tese, o obriga a seguir uma certa convenção social. Existe hoje um debate acerca dessa questão de liberdade. Exemplo1: crise de água no contexto de direito ambiental e direito econômico. Há uma entrevista de um professor da PUC de Goiás, que é um dos maiores estudiosos sobre cerrado no Brasil e ele é o criador do memorial do cerrado (PUC), que é considerado o ponto turístico mais bonito de Goiânia, onde ele conseguiu preservar uma pequena parcela do que era o cerrado. Esse professor conta que desde a década de 50 o cerrado virou fronteira de expansão agrícola e pecuária no Brasil, então passou-se a desmatar tudo, a substituir a vegetação rasteira, a gramínea, por vegetação africana, pois era melhor para o gado comer. O cerrado sempre teve essa estrutura de plantas baixas, só que apesar de olhar para o cerrado e achar que ele é uma estrutura, um bioma inferior a mata atlântica e a Floresta Amazônica, por exemplo, o cerrado tem 70 milhões de anos. O planeta terra, com as formas de vida que se conhece hoje, começa 90 milhões de anos atrás, depois da extinção dos dinossauros e da superação da era glacial. Para se ter uma ideia da diferença do cerrado em relação à floresta amazônica e à mata atlântica, a floresta amazônica tem 11 mil anos e a mata atlântica 7 mil. É muito mais fácil se recompor a floresta amazônica e a mata atlântica do que o cerrado. As plantas do cerrado são baixas porque elas cumprem o papel de captar água e gás carbônico e alimentar o lençol freático. Sempre se teve muita água por conta do aquífero Guarani, que faz ter nascente de rio e por isso nunca houve problemas com água. Não existe mais vegetação de cerrado, porque se desmatou tudo. É impossível recompor o cerrado, pois ele é tão complexo em termos de vida que existem plantas que a semente só consegue ser quebrada por uma proteína que existe no intestino do lobo guará. As raízes crescem em razão da presença de fungos. É até possível recriar a planta em laboratório, mas os fungos não sobrevivem, então não conseguem cumprir seu papel, ou seja, ao se desmatar, se acaba com aquilo. Para os estudiosos haverá ainda mais falta de água. Nunca se teve seca em certos rios de Goiás e de 10 anos para cá tem havido secas recorrentes. Vai se chegar a um ponto em que não haverá mais água e a crise de água em São Paulo ocorre porque os rios da Bacia do Paraná são irrigados pelo Aquífero Guarani. Isso serve para se refletir sobre como uma liberdade excessiva de exploração econômica, sem regra, sem controle, empurra o indivíduo para onde ele não quer estar, que é com a escassez de água. O problema da falta de água atinge mais a população pobre. Direito Econômico O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudênciados Tribunais. 12 www.cursoenfase.com.br Exemplo2: A cidade de Nova York comprou terras em cidades próximas, nas margens de rios, para fazer área de preservação ambiental, para não desmatar, para não assorear rios e não faltar água em Nova York. No Brasil se deixam crescer as favelas. Há um registro histórico de que a floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, foi replantada. Ela estava desmatada e o Major Manoel Gomes Archer comandou o replantio, e foi replantado porque havia começado a mudar o regime de chuvas no Rio de Janeiro e os rios começaram a secar3. Se deixar o homem livre em tudo, se deixará o homem se destruir. A liberdade em muitos casos não soluciona tudo. O grande dilema do direito econômico é o nível de intervenção. A inflação vivenciada atualmente, segundo economistas, é ocasionada por demanda, a demanda aquecida pelo governo que jogou dinheiro no mercado. Gera inflação, o parque industrial brasileiro não tinha capacidade para absorver isso, se aumenta a importação, mas não se tem como selecionar o que virá. Quem produz no Brasil, como produz caro, por conta da tributação, se desestimula, porque é mais barato trazer o produto de fora. Então, é feito um processo de desindustrialização. As opções, as decisões econômicas, são extremamente complexas. Se o governo tem que deixar um grande espaço de liberdade, ele não pode deixar tudo na mão do sujeito, pois vira um jogo em que o mais forte ganha e esse é o grande problema. 1.2 Princípios da livre iniciativa e da livre concorrência Esses princípios se integram para formar o modelo capitalista como foi elaborado pelo legislador constituinte. Se olhar para a Constituição, o caput do art. 170, dispõe: 3 A devastação das matas havia contudo acarretado grande diminuição da água corrente; urgia fazê-la voltar ao primitivo nível, restabelecendo-se a cobertura vegetal da área, transformando esta em reserva florestal. Foi então escolhido para este fim e nomeado em 1861 o Major Manuel Gomes Archer, grande entusiasta da nossa flora, o qual possuía um sítio em Guaratiba, no caminho de Cabuçu, com grande quantidade de mudas das nossas essências florestais. (...) Archer contava com o apoio de D.Pedro II, que inclusive o levou em sua comitiva à uma histórica visita à Feira e Exposição Mundial da Filadélfia nos Estados Unidos. Em 1874, após deixar o replantio da Floresta, D.Pedro II o nomeu para o cargo principal de sua Fazenda Imperial em Petrópolis, com a missão de realizar lá o mesmo trabalho de replantio feito na Floresta da Tijuca. (Fonte: http://www.riodejaneiroaqui.com/pt/historia-da-floresta-da-tijuca-parte5.html) Direito Econômico O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 13 www.cursoenfase.com.br Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: [...] IV - livre concorrência; O próprio caput já fala em livre iniciativa e o inciso IV fala de livre concorrência. Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei. Ressalva-se o parágrafo único, em que, salvo nos casos previstos em lei, é assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica. Esses três aspectos do art. 170 têm que ser observados em conjunto para que se possa compreender o que é livre iniciativa e o que é livre concorrência. A ideia de livre iniciativa, em uma leitura muito rápida, empurra o sujeito a pensar que o empresário pode fazer o que quiser, que pode realizar a atividade econômica da forma que quiser e isso não tem qualquer problema. Em uma visão passada de capitalismo puro, de Revolução Francesa, de todas aquelas modificações que vão surgindo no contexto da revolução francesa, aponta que isso de fato aconteceu, deu-se liberdade ao sujeito para que fizesse o que queria. A concepção hoje de livre iniciativa vai um pouco além disso, ela engloba livre iniciativa dos trabalhadores, ou seja, de se organizar sob a forma de um trabalho cooperado e de se organizar também sob a forma, por exemplo, de qualquer tipo de atuação do Estado. O Estado também tem livre iniciativa para fazer a sua intervenção no processo econômico, mas a ideia fundamental é de uma livre iniciativa voltada para o empresário. O empresário faz o que bem entender. Exemplo: Quer abrir uma franquia do MC Donalds, pode abrir. As atividades econômicas, a princípio, são livres. Para que se possa montar um modelo econômico capitalista se viu que na base dele está a ideia de liberdade. Deve deixar o sujeito escolher o que quer, só que dentro desse mesmo contexto existe uma outra ideia que vai permitir a formação daquilo que se chama de economia de mercado ou de um modelo capitalista, que é essa ideia de troca, de um ambiente de troca, onde a escassez é regulada pelo preço das coisas, que é o princípio da livre concorrência. O que é livre concorrência? Direito Econômico O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 14 www.cursoenfase.com.br Livre concorrência, em termos de direito econômico, é o livre acesso dos agentes econômicos ao mercado sem maiores barreiras de qualquer ordem, sejam elas jurídicas, sejam elas de comportamento por parte dos concorrentes. Exemplo1: O Sujeito quer abrir um posto de gasolina em uma cidade do interior do Estado do Rio de Janeiro, nessa cidade já existem dois ou três postos. Identifica três áreas como possíveis para a instalação dos postos de gasolina e ao identificar essas três áreas, começa a fazer levantamento de preço de aluguel, etc. Os donos dos outros postos compram essas áreas e se recusam a alugar para o sujeito. Esse tipo de expediente, sob o ponto de vista do funcionamento do mercado, é absolutamente ilegítimo, porque se está impedindo o acesso de concorrente àquilo, mas isso pode se desenvolver das formas mais variadas. Exemplo2: Quando foi feita a fusão da Antártica com a Brahma, a Ambev passou a deter 85%, aproximadamente, do mercado de cerveja. Imagine um sujeito que tem uma empresa de distribuição de bebida (empresa de logística), ele faz a entrega para a Ambev. Ele não vai querer celebrar um contrato com quem detém 6 ou 7% do mercado, ele preferirá celebrar um contrato com quem detém 85% do mercado. Se ele celebrar um contrato de exclusividade? Ou seja, se a Ambev pega os três maiores distribuidores no Estado e faz contrato de exclusividade, determinando que esses três distribuidores só distribuem Antártica e Brahma, não podendo distribuir nada de outra marca, naturalmente se está excluindo a outra marca do mercado. Assim, apesar de dar a livre iniciativa para continuar produzindo a Schincariol, para produzir a Itaipava, por vias transversas está bloqueando o acesso delas ao mercado. A celebração de um contrato de exclusividade muitas vezes pode materializar uma tentativa de excluir o concorrente do mercado. Exemplo: Há algum tempo atrás a Sky, dentre as TVs por satélite disputava mercado com a DirecTV. Hoje existem várias empresas que atuam nesse ramo de TV por satélite (Claro, Vivo, Oi, etc.),mas na época apenas as duas disputavam o mercado e era uma disputa acirrada. A Sky tinha um contrato de exclusividade com a Globo, no qual ela inseria na sua grade de canais, a Globo. A Globo não autorizava a DirecTV a viabilizar o seu canal na grade dela. A Globo mantém uma parcela amplamente majoritária da audiência nacional, por conta disso, a DirecTV foi ao CADE e disse que esse contrato de exclusividade a estaria impedindo de entrar no mercado, porque quando ela vendia seu produto e as pessoas Direito Econômico O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 15 www.cursoenfase.com.br perguntavam se tinha a Globo, ela era obrigada a dizer que não tinha e que as pessoas teriam que desligar o aparelho, o sinal satélite, para ligar a TV analógica e assistir a Globo com chuvisco e as pessoas optavam por não comprar, porque acabavam optando pela Sky. Tem-se, nesse caso, um exemplo de que o contrato de exclusividade é um contrato anticoncorrencial. Só para traçar um paralelo, quando o governo federal falou que iria licitar as hidrelétricas de Santo Antonio, uma dessas empreiteiras grandes foi lá antes e celebrou contrato de exclusividade com fornecedores na região, de modo que, na hora de oferecer o preço na licitação, ofereceria o preço menor, porque o concorrente teria que calcular o seu preço buscando em uma distância muito maior e o CADE quando tomou conhecimento disso a notificou, determinando a suspensão desse contrato, por ser anticoncorrencial. O CADE ao enfrentar a questão da DirecTV interpretou da seguinte forma: a diferença entre a DirecTV e a SKY era justamente o oferecimento de uma grade de canais e se era o oferecimento de uma grade de canais, ter ou não ter um canal fazia parte daquilo que é o produto de cada um, então aquele contrato de exclusividade com a globo não era anticoncorrencial. E a DirecTV posteriormente terminou sendo absorvida pela SKY. O mercado mudou tanto que o governo abriu para as companhias de telefonia terem empresas de TV e isso acabou fazendo com que acontecesse o que se chama de elasticidade cruzada4. O mercado de TV por Satélite era trabalhado pelo CADE como um mercado separado de TV a cabo, só que para o cidadão comum isso não faz a menor diferença. O que se quer é a grade de canais na TV, então isso acabou empurrando todas as empresas para o mesmo mercado. Hoje o mercado de TV por assinatura tem que ser lido, conforme entendimento do professor, como mercado de TV por assinatura, que jogam na mesma concorrência, ainda que com tecnologias diferentes, SKY, NET, CLARO, OI, VIVO, etc., pois na verdade elas disputam um mesmo consumidor. O exemplo da SKY e da DirecTV é um exemplo emblemático de como as vezes a falta de intervenção adequada da autoridade de defesa da concorrência leva ao desaparecimento da concorrência, que é nefasto em termos de capitalismo. 4 A elasticidade cruzada da demanda mede a variação percentual na quantidade demandada de um bem dado uma variação percentual no preço de outro bem substituto. Por exemplo, de quanto seria o aumento na quantidade demandada de margarina se houvesse um aumento no preço da manteiga). (Fonte: http://www.informeeconomico.com.br/conceitos/elasticidade-cruzada-da-demanda/ ) Direito Econômico O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 16 www.cursoenfase.com.br Todo embate em torno disso é um embate muito sensível, porque às vezes manter concorrência é indesejado também pelo sistema capitalista, porque se estimula a ineficiência. Como não há lucro elevado, não melhora a tecnologia, porque não precisa melhorar para oferecer mais para o consumidor escolher aquela empresa, então se gera um atraso tecnológico. O governo força, por meio de intervenção, a manutenção de concorrência. Em termos de direito econômico, tudo é relativo. Um contrato de exclusividade pode ser absolutamente indiferente à questão de concorrência, pode não afetar, mas pode afetar muito. Tudo depende de uma análise concreta do que ocorre no mercado em razão daquela circunstancia, mas a ideia central de livre concorrência, segundo a Isabel Vaz citada por Eros Grau, é que não há barreiras para o ingresso do agente econômico no mercado e ele permanece no mercado conforme sua eficiência. Quem não é eficiente economicamente, é naturalmente excluído do mercado e o mercado se ajusta a situação, porque tem que ser assim para que se possa manter a lógica capitalista resolvendo o problema da escassez. Os princípios da livre concorrência e da livre iniciativa são princípios complementares dentro de um sistema econômico capitalista. O mero reconhecimento da livre iniciativa, sem um ambiente de livre concorrência, não permite a estruturação de uma economia de mercado, de modo a possibilitar a resolução dos problemas da escassez em bases capitalistas. Isabel Vaz citada por Eros Grau sustenta que um ambiente econômico, baseado na livre concorrência, deve permitir, a todo e qualquer agente econômico, o ingresso no mercado, resolvendo-se sua permanência ou não com base na eficiência, pois é esta que melhor direciona a solução da escassez. Observação: Não se deve estudar direito econômico por livro de administrativista, porque o administrativista terá conceitos que são próprios da visão dele e não próprios da visão que é uma visão que tem o Eros Grau, por exemplo, de um sistema econômico capitalista e da montagem disso a partir do sistema econômico capitalista e das distinções a partir dessa visão. Exemplo: o Eros Grau tem o conceito de que o serviço público é algo que é formado do embate entre as forças do capital e do trabalho e que é o serviço que é realizado pelo Estado em prol da coletividade sobre o regime público, que tem aquela característica de interdependência e coesão social. Diogo de Figueiredo diz que serviço público é tudo o que a lei defina como serviço público. Direito Econômico O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 17 www.cursoenfase.com.br Exemplo1: Uma prefeitura pode criar o serviço público de engraxate. Essa visão não é adequada ao direito econômico. Se o modelo é capitalista, certas atividades devem ficar com a iniciativa privada. O Estado só faz aquilo que é essencial. Exemplo2: O Estado pode, eventualmente, com base no interesse coletivo, fazer, por exemplo, exploração de petróleo, mas será atividade econômica em sentido estrito e não serviço público. Não perde a natureza de atividade econômica. Simplesmente é regulamentada. Se olhar para o art. 170, parágrafo único, ele traz uma disposição muito importante, que diz que é livre o exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização dos órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei. A regra da livre iniciativa no Brasil é a mais ampla possível, mas para certas atividades econômicas a lei pode estatuir restrições e isso não tem nada de indevido. A lei pode estatuir essas restrições por questão de necessidade, de acordo com o interesse em torno da atividade se pode limitar. Exemplo: Instituição financeira. Umainstituição financeira só pode funcionar se o Banco Central autorizar. A abertura de casa de câmbio também depende de autorização do Banco Central, pois vai atuar no mercado de câmbio. Se atua no mercado de câmbio e não tem essa autorização incorre no crime da Lei 7492/86 (crime de fazer operação financeira sem autorização)5. Toda essa estruturação diz o seguinte: a regra é a liberdade de iniciativa, mas podem haver, no âmbito das atividades econômicas, certas restrições. No campo do serviço público pode sair por aí prestando serviço público? Não, porque o campo do serviço público não é um campo onde a livre concorrência e a livre iniciativa operem. Só entra ali quem passa por prévia licitação. Nesse caso, há uma barreira natural pela natureza da atividade. A existência de um regime pautado na livre iniciativa não pode deixar de lado a observação de que o parágrafo único do art. 170 permite ao Estado limitar certas atividades econômicas que só podem ser realizadas com autorização expressa (exemplo: instituições financeiras). 5 Art. 7º Emitir, oferecer ou negociar, de qualquer modo, títulos ou valores mobiliários: [...] IV - sem autorização prévia da autoridade competente, quando legalmente exigida: Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa. Direito Econômico O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 18 www.cursoenfase.com.br Observação: Agiota não é instituição financeira porque ele empresta dinheiro próprio, não faz captação de dinheiro alheio, por isso que é crime não contra o sistema financeiro, mas crime contra a economia popular e é de competência estadual e não federal. Mas se o agiota faz captação emprestando captação vira instituição financeira e pode responder na justiça federal. Existe necessidade de autorização para ser instituição financeira? Existe. A Lei 4595/64 prevê essa necessidade de autorização. Mas existe uma definição de instituição financeira, para fins penais, que é a pessoa que administra, capta recursos de terceiros. Quem administra recurso próprio não é instituição financeira e não precisa de autorização para fazer. O crime dele é de cobrar juros acima do permitido, por isso agiotagem é crime na Lei de economia popular. STA 118-AgR, STF: AGRAVO REGIMENTAL. SUSPENSÃO DE TUTELA ANTECIPADA. IMPORTAÇÃO DE PNEUMÁTICOS USADOS. MANIFESTO INTERESSE PÚBLICO. GRAVE LESÃO À ORDEM E À SAÚDE PÚBLICAS. 1. Esgotamento da instância recursal como pressuposto para formulação de pedido de suspensão de tutela antecipada. Desnecessidade. Preliminar rejeitada. Precedentes. 2. Lei 8.437/92, art. 4.°. Suspensão de liminar que deferiu a antecipação dos efeitos da tutela recursal. Critérios legais. 3. Importação de pneumáticos usados. Manifesto interesse público. Dano Ambiental. Demonstração de grave lesão à ordem pública, considerada em termos de ordem administrativa, tendo em conta a proibição geral de não importação de bens de consumo ou matéria-prima usada. Precedentes. 4. Ponderação entre as exigências para preservação da saúde e do meio ambiente e o livre exercício da atividade econômica (art. 170 da Constituição Federal). 5. Grave lesão à ordem pública, diante do manifesto e inafastável interesse público à saúde e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225 da Constituição Federal). Precedentes. 6. Questão de mérito. Constitucionalidade formal e material do conjunto de normas (ambientais e de comércio exterior) que proíbem a importação de pneumáticos usados. Pedido suspensivo de antecipação de tutela recursal. Limites impostos no art. 4.° da Lei n.° 8.437/92. Impossibilidade de discussão na presente medida de contracautela. 7. Agravo regimental improvido. (STA 118 AgR, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 12/12/2007, DJe-036 DIVULG 28-02- 2008 PUBLIC 29-02-2008 EMENT VOL-02309-01 PP-00001 RTJ VOL-00205-02 PP-00519) Caso de importação de pneus usados. As principais limitações às atividades econômicas estão no campo do direito ambiental, restrições relacionadas à poluição, ao que se pode fazer ou deixar de fazer e no campo tributário, no que diz respeito à importação. O STF entendeu que era legítima a proibição de importação de pneumáticos usados por parte da Receita Federal que o livre exercício da atividade econômica não impedia que a receita dentro da atuação legal pudesse restringir esse tipo de importação. Direito Econômico O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 19 www.cursoenfase.com.br Súmula 646, STF: Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que impede a instalação de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada área. Isso já caiu em prova do MPF de duas formas diferentes: em uma das vezes caiu o enunciado da súmula dizendo que isso estava condizente com a jurisprudência do STF. Exemplo: A prefeitura proíbe instalar farmácia em determinada localidade, porque já há muitas farmácias na localidade. Isso é proibido, pois violaria a livre concorrência, há uma lei municipal criando um mercado fechado. Observação: Não se deve confundir isso com a seguinte situação: fixação de horário de funcionamento de estabelecimento comercial pela prefeitura. Exemplo: A prefeitura fixa que em uma determinada região da cidade os bares só podem funcionar até determinado horário. Isso a prefeitura pode fazer, desde que seja isonômico para todos aqueles que estão na região. O problema está na segmentação e criação de reservas de mercado para determinadas empresas. A Súmula não se confunde com essa hipótese. Não se deve confundir a questão de afetar a concorrência com a atribuição para regular aspectos econômicos das atividades. Boa parte da regulamentação de direito econômico é uma regulamentação que vem da União, são normas de direito ambiental e uma série de outras coisas, proibição de importação, fixação de cota de importação, causas de intervenção tributária, aduana. Eventualmente uma intervenção da municipalidade pode atingir atividades econômicas. Exemplo: existir muitas farmácias no Centro do Rio de Janeiro. O prefeito, diante disso, pode baixar um Decreto ou aprovar uma lei, dizendo que no quadrilátero das ruas X, W, Y e Z é proibida a instalação de farmácia? Não, porque em certa medida ele está criando uma reserva de mercado para aquelas pessoas, está se criando um ambiente fechado. Observação: O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, baixará um Decreto proibindo, em Ipanema, que em certos quadriláteros se instale bares. Ele pode não conceder o alvará, existe uma maleabilidade para que ele possa definir o que é o alvará de funcionamento de uma empresa em determinado lugar. Esse alvará tem que ser baseado em algo, não pode ser arbitrário e terá que justificar e quando justificar entra na questão de motivos determinantes. O fato de argumentar que é porque já tem muito bar viola a livre concorrência. Direito Econômico O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 20 www.cursoenfase.com.br Ele pode decidir, por exemplo, que dentro daquele bairro,algumas ruas serão de comércio, outras serão puramente residenciais. Isso é ocupação de espaço urbano, o que é permitido que ele faça. Ele não pode é limitar o número de bares em uma localidade porque já existem muitos bares, isso seria uma intervenção do Estado dentro do processo decisório econômico, absolutamente ilegítimo, porque se abriu um bar e um indivíduo quer abrir um bar do outro lado, não interessa ao Estado. Cabe ao Estado ver se foram cumpridas as normas administrativas para dar a autorização de funcionamento, mas não decidir se haverá ou não atividade econômica desse tipo. Questão 46. (19º Concurso para Procurador da República (PGR/MPF-2002)). O princípio básico do liberalismo, adotado pela nossa ordem jurídico-econômica, funda-se: a) ( ) na redução das desigualdades regionais e sociais e na busca do pleno emprego; Observação: A Constituição fala de pleno emprego. Pleno emprego na Constituição não é desemprego zero. Eros Grau diz que a busca do pleno emprego é a busca do máximo aproveitamento de recursos naturais e humanos para a realização das atividades econômicas. Isso engloba tentar dar condições do máximo de pessoas que possam trabalhar, mas não quer dizer desemprego zero. O capitalismo sempre vai ter uma reserva de mão de obra, sempre haverá pessoas que não estarão trabalhando e que vão estar aguardando para ingressar, porque não há capacidade de se absorver essa massa de pessoas que pretende trabalhar. Busca de pleno emprego não é desemprego zero, mas máximo aproveitamento de recursos humanos e naturais. Redução de desigualdade não tem ligação com liberalismo econômico. b) (X) na liberdade de iniciativa e na economia de mercado; Observação: a ideia de liberalismo traduz liberdade de iniciativa. c) ( ) no tratamento favorecido às empresas brasileiras de capital nacional de pequeno porte; Observação: deu tratamento diferenciado é sinal que está fazendo intervenção na economia. Isso não é compatível com liberalismo econômico. d) ( ) na função social da propriedade. Direito Econômico O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 21 www.cursoenfase.com.br Observação: no capitalismo puro não há função social da propriedade. A propriedade tem função individual e o sujeito a explora em prol do lucro. Questão 43. Procurador BACEN (2005/2006). Dispõe o art. 1.134 do Código Civil que “a sociedade estrangeira, qualquer que seja o seu objeto, não pode, sem autorização do Poder Executivo, funcionar no país”. Esse dispositivo tem respaldo constitucional (A) No tratamento diferenciado concedido pela Constituição à empresa brasileira frente às empresas estrangeiras, que garante àquela privilégios de natureza comercial. Observação: Na verdade, não existe essa diferenciação. (B) No tratamento diferenciado concedido pela Constituição à empresa brasileira de capital nacional frente às demais empresas nacionais e estrangeiras, que garante àquela privilégios de natureza comercial. (C) No princípio da livre concorrência, impedindo o acesso ao mercado da empresa estrangeira que possa ostentar vantagens competitivas perante a empresa nacional. Observação: quando a empresa estrangeira é melhor ou vai adotar algum tipo de procedimento no momento que ingressa no país, deve utilizar de algum instrumento de defesa comercial. Ela está exportando para o Brasil um produto muito bom que vai arrasar com a indústria nacional. Deve, nesse caso, ser utilizada alguma medida compensatória ou direito antidumping ou medida de salvaguarda, mas usa instrumentos de defesa comercial. (D) Na competência atribuída ao Banco Central do Brasil para realizar a fiscalização e registro de capitais estrangeiros, sob a forma de investimentos. Observação: a questão não trata de BACEN. (E) Na possibilidade de a lei estatuir a necessidade de autorização dos órgãos públicos para o exercício de atividade econômica por qualquer agente privado em território nacional. Observação: art. 170, parágrafo único, CR. Resposta: alternativa E. ADI 845: EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO 224 DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO AMAPÁ. GARANTIA DE "MEIA PASSAGEM" AO ESTUDANTE. TRANSPORTES COLETIVOS URBANOS RODOVIÁRIOS E AQUAVIÁRIOS MUNICIPAIS Direito Econômico O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 22 www.cursoenfase.com.br [ARTIGO 30, V, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL] E TRANSPORTES COLETIVOS URBANOS RODOVIÁRIOS E AQUAVIÁRIOS INTERMUNICIPAIS. SERVIÇO PÚBLICO E LIVRE INICIATIVA. VIOLAÇÃO DO DISPOSTO NOS ARTIGOS 1º, INCISO IV; 5º, CAPUT E INCISOS I E XXII, E 170, CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. 1. A Constituição do Brasil estabelece, no que tange à repartição de competência entre os entes federados, que os assuntos de interesse local competem aos Municípios. Competência residual dos Estados-membros --- matérias que não lhes foram vedadas pela Constituição, nem estiverem contidas entre as competências da União ou dos Municípios. 2. A competência para organizar serviços públicos de interesse local é municipal, entre os quais o de transporte coletivo [artigo 30, inciso V, da CB/88]. 3. O preceito da Constituição amapaense que garante o direito a "meia passagem" aos estudantes, nos transportes coletivos municipais, avança sobre a competência legislativa local. 4. A competência para legislar a propósito da prestação de serviços públicos de transporte intermunicipal é dos Estados-membros. Não há inconstitucionalidade no que toca ao benefício, concedido pela Constituição estadual, de "meia passagem" aos estudantes nos transportes coletivos intermunicipais. 5. Os transportes coletivos de passageiros consubstanciam serviço público, área na qual o princípio da livre iniciativa (artigo 170, caput, da Constituição do Brasil) não se expressa como faculdade de criar e explorar atividade econômica a título privado. A prestação desses serviços pelo setor privado dá-se em regime de concessão ou permissão, observado o disposto no artigo 175 e seu parágrafo único da Constituição do Brasil. A lei estadual deve dispor sobre as condições dessa prestação, quando de serviços públicos da competência do Estado-membro se tratar. 6. Ação direta julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade da conjunção aditiva "e" e do vocábulo "municipais", insertos no artigo 224 da Constituição do Estado do Amapá. (ADI 845, Relator(a): Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 22/11/2007, DJe-041 DIVULG 06-03-2008 PUBLIC 07-03-2008 EMENT VOL-02310-01 PP-00031 RTJ VOL-00205-01 PP- 00029 LEXSTF v. 30, n. 352, 2008, p. 43-56) A expressão livre concorrência não é adequada ao campo dos serviços públicos. Há competição no âmbito de telefonia celular, por exemplo. Não se fala em livre iniciativa em nível de serviço público e não se fala também em livre concorrência, mas há competição? O Procurador da República Duciran Farena tem um artigo no qual ele critica a modelagem dos serviços públicos no contexto atual. Ele diz que, tecnicamente, os serviços públicos sempre foram caracterizados pela universalização, ou seja, se tentava ampliar as pessoas que tinham o serviço e a impossibilidade de suspensão por conta da sua essencialidade. Com a mudança na forma de exploração dos serviços públicos, como esses serviços passaram a serexplorados por empresas privadas, houve uma quebra desses dois pressupostos dos serviços públicos, porque os agentes econômicos não querem explorar o Direito Econômico O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 23 www.cursoenfase.com.br serviço de maneira gratuita, querem remuneração e por isso suspendem o serviço se não houver pagamento e, de outra banda, eles não tendem mais à universalização, isto é, não querem levar o serviço a quem não tem condições de pagar. Isso mexe com as bases do sistema de prestação de serviço público, ou seja, por isso é necessário uma regulação forte da questão dos serviços públicos por parte do agente regulador. Duciran diz que, sob o ponto de vista técnico, não é correto falar em concorrência no âmbito do serviço público, é correto falar em competitividade. Se pegar legislações de agências, elas falam que as agências devem fomentar a competitividade entre os prestadores de serviço, porque na verdade seria inadequado se falar em concorrência, mas é obvio que isso é, lato sensu, uma concorrência. Existe competição, mas não é similar a de um mercado aberto em que as pessoas entram e saem conforme bem entenderem. Questão 42. Concurso para Procurador da República. É correto dizer que a chamada Constituição Econômica no Brasil: a) ( ) restringe-se ao título VII – Da Ordem Econômica e Financeira, da Carta da República. b) ( ) como em alguns países que adotam tipo de economia mista, não podem assim denominar-se, mas considerar-se uma estrutura de princípios gerais programáticos. c) (X) não se restringe aos artigos contidos no Título VII – Da Ordem Econômica e Financeira, mas tem sua expressão e seu conteúdo em diversos outros tópicos da Lei Magna. d) ( ) preocupa-se primordialmente com a repressão ao abuso do poder econômico e a função social da propriedade privada. Observação: a constituição econômica não é extraída só desse capítulo, quando trata de tributo, quando trata de dignidade humana, trata-se de questões que repercutem na esfera da ordem econômica. Questão 45. Concurso para Procurador da República (PGR-2003). Indique meios diretos de que pode lançar mão o Estado na condução de sua política econômica ante o modelo adotado pela Constituição Federal: a) ( ) instrumentos de finanças públicas; Observação: tributar/não tributar é intervenção indireta. Fomento. Exemplo: Aumenta IPI, diminui as vendas, reduz IPI, aumentam as vendas de carros. Direito Econômico O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 24 www.cursoenfase.com.br Esses instrumentos muitas vezes se submetem a uma realidade de mercado. O simples fato de retirar ou reduzir o IPI não necessariamente leva a aumentar as vendas e nem leva necessariamente a queda do preço. Exemplo: se abaixa o tributo e o mercado está muito aquecido, o que acontecerá é que o empresário embolsará isso, vai manter o preço pois as pessoas continuam aceitando pagar aquilo e transforma a redução do imposto em lucro. b) ( ) instrumentos monetários e creditícios; Observação: controlar o quanto de dinheiro em circulação na economia e facilitar ou dificultar crédito é intervenção indireta. c) ( ) instrumentos cambiais; Observação: intervenção indireta. d) (X) o contingenciamento do comércio exterior e a assunção de atividade empresarial. Observação: quando o Estado se faz empresário ele atua de forma direta na atividade econômica. Intervenção direta do Estado na economia. Questão 20. Concurso para Procurador da República (PGR- 2003). Segundo a ordem econômica inserida na atual Constituição, pode-se afirmar que o Estado: a) (X) passou ao mesmo tempo a regulamentar e atuar no domínio econômico. b) ( ) é um garantidor da ordem liberal; c) ( ) é primacialmente intervencionista; d) ( ) não é mais o potencial sustentáculo de atividades deficientes. Observação: Se a atividade for deficiente o Estado pode fazer? Imagine-se que exista uma atividade econômica que seja de interesse da coletividade. Exemplo: Em 1950 ninguém quer vir ao Brasil explorar petróleo porque não dá lucro, porque o petróleo é um bem da União. O Estado pode criar uma empresa para explorar petróleo? Sim. O Estado, na conformação atual, respeita que se está diante de um sistema capitalista, mas ele intervém para corrigir as disfunções do capitalismo. Ele se aproveita disso para conformar o capitalismo a produzir justiça social e é sustentáculo de atividades deficientes. Direito Econômico O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 25 www.cursoenfase.com.br Onde não houver interesse, o Estado vai e faz aquilo. Cabe ao Estado fazer com que a sociedade consiga ter acesso àqueles bens e demandas que ela precisa ter atendidas. Recentemente caiu no TRF3 uma questão sobre Decreto D’Allard, perguntando se a ideia de livre iniciativa era baseada na Revolução Francesa. Sim, a ideia inicial de livre iniciativa é baseada na Revolução Francesa, mas ela evoluiu no sentido de que essa livre iniciativa hoje é conformada pela Lei. Se tiver que, em uma eventual segunda fase, discorrer sobre a livre iniciativa, deve-se dizer o seguinte: a livre iniciativa nada mais é do que a materialização, no plano da ordem econômica, do direito de liberdade. Esse direito de liberdade, na Constituição Brasileira, é um direito que é limitado pela lei, ou seja, é uma liberdade com legalidade. Isso permite se visualizar que o Estado pode intervir no processo econômico no sentido de limitar a liberdade dos agentes econômicos, desde que em prol de outros benefícios nela previstos, quais sejam: justiça social e dignidade humana em relação àqueles cidadãos. Questão 43. Concurso para Procurador da República (PGR- 2008). Do sistema ou modelo econômico adotado pela Constituição Federal, ressai um Estado: a) ( ) intervencionista; b) ( ) em que predomina a economia de mercado pura, realçada pela liberdade de iniciativa; c) ( ) que atua em regime monopolista, com direito de propriedade limitado; d) (X) no qual as relações de produção estão assentadas na propriedade privada dos bens em geral, fatores de produção, na ampla liberdade de iniciativa e de concorrência. 2. Direito da concorrência Quando se fala hoje de direito da concorrência se remete esse pensamento a algo que o próprio Adam Smith, quando elaborou o modelo econômico capitalista, quando pensou no liberalismo econômico, já tinha demonstrado alguma preocupação. Se em prova oral o aluno for questionado sobre o modelo econômico capitalista, sobre Adam Smith, deve defender Adam Smith, não porque defende o capitalismo puro, mas porque Adam Smith deve ser lido no contexto que escreveu. Ele escreve contra um regime que era absoluto, que era o Estado absoluto, que controlava tudo. Ele defende a liberdade econômica, a liberdade política, o modelo de democracia participativa. É natural que ele faça isso. Quando ele faz isso e defende o Direito Econômico O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudoem livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 26 www.cursoenfase.com.br liberalismo é porque na verdade está propondo uma reação ao modelo absoluto de controle do Estado sobre tudo. Quando chegava no ponto de discutir se o Estado teria alguma participação no processo econômico, ou seja, se o Estado iria intervir em alguma coisa, ele reconhecia que no plano da concorrência por vezes, se um agente econômico ficasse muito grande, talvez ele oprimisse os menores e isso acabasse matando a essência do capitalismo, que é a ideia de concorrência para que se possa ter a solução do problema da escassez ou como ele defende, a riqueza da nação. A obra dele é um estudo sobre o porque da riqueza das nações, mostrando que a liberdade é o grande caminho a ser seguido para se alcançar essa riqueza, para alcançar o progresso econômico. Adam Smith, quando falava da teoria das vantagens absolutas, falava que a medida em que se estimule o comércio internacional os países irão se especializar naquilo que for economicamente melhor de produzir, então, funcionaria mais ou menos da seguinte forma: O país A tem condições de produzir trigo mais barato, ele produzirá trigo. O país B tem mais capacidade para produzir soja mais barato do que importar, ele produzirá soja. Isso viabilizaria a troca entre os países e se teria uma grande divisão de trabalho mundial para acabar com o problema da escassez. No fundo isso acaba não se realizando. Os países acabam competindo entre si e acaba em certa medida não havendo essa divisão de trabalho, dada a complexidade da economia mundial, mas a ideia dele é interessante. Adam Smith é apontado como o pai do liberalismo econômico ou como um dos principais autores, ao lado de Bernard Mandeville. Não dá para hoje defender um modelo de capitalismo puro sem Estado, porque se estará, na verdade, privilegiando um abuso econômico por parte do mais forte. Não da para pensar em um Estado ou sociedade onde não haja regulação de um aspecto da vida pelo Estado, porque se deixar tudo livre, naturalmente o mais forte, seja mais forte fisicamente ou economicamente, vai se impor sobre o mais fraco. Exemplo: no campo do consumidor. Teve que se estabelecer um Código do Consumidor com uma série de limitações a contratos de adesão, porque o mais forte economicamente naquela relação impunha suas condições e obrigava o mais fraco a contratar naquela forma. O Estado baixou uma lei e diminuiu essa distância que existe entre o fornecedor/produtor e o consumidor. Direito Econômico O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 27 www.cursoenfase.com.br Quando se olha para a concorrência deve se lembrar da advertência do Adam Smith no sentido de que talvez fosse nesse campo, um campo onde o Estado devesse de fato intervir. Ele não gostava disso, porque isso, em certa medida, iria contradizer tudo o que ele defendia, que era o liberalismo econômico e o direito de liberdade, mas ele de alguma forma reconheceu que talvez isso fosse necessário. Diante desse quadro e da constatação de que na medida em que agentes econômicos ficam cada vez maiores eles começam a impor seu comportamento aos demais ou até a eliminar os demais, surgem duas grandes escolas que vão trabalhar com a questão do direito da concorrência: escola de Chicago (acha que haverá concorrência onde houver espaço para ter concorrência) e a escola de Harvard (defende que tem que preservar a concorrência a qualquer custo para manter o sistema econômico capitalista em funcionamento). Exemplo: Em 2004 houve um furacão na Florida (Charley), ocasião em que os agentes econômicos elevaram excessivamente os preços dos serviços que prestavam (por exemplo: cobrava-se, em um quarto de motel, 25 dólares antes do furacão e após o furacão passou a ser cobrar entre 77 e 100 dólares no quarto para uma senhora idosa e sua filha deficiente; a retirada de árvores das casas, que custava 500 dólares, passou a ser cobrado 25 mil dólares, etc.). Na época se discutiu se esses agentes econômicos deveriam ser punidos, porque elevavam preço diante de uma situação como essa. Surgiu logo um embate. Os partidários de uma ideia mais liberal de economia diziam que não era possível puni-los, porque eles estariam praticando um preço que a escassez representa e como o serviço deles é escasso, poderiam cobrar o que for. Diziam que esse preço extremamente alto teria o efeito de atrair novos agentes econômicos para buscar o lucro e se estabeleceria concorrência entre eles e o preço voltaria ao que eles chamavam de preço natural, reportando a Adam Smith, que seria o preço definido pela mão invisível do mercado. Os partidários de uma ideia mais social de economia entendem que aquele sujeito não poderia se valer da premente necessidade das pessoas para aumentar o lucro excessivamente e que isso estaria caracterizado como um expediente que deveria ser punido. No Brasil isso aconteceu em 2011, na região serrana do Rio de Janeiro, quando houve uma chuva torrencial com desabamentos, etc. e as pessoas ficaram sem casa e alguns comerciantes elevaram os preços. Na ocasião, algumas pessoas foram presas sob a argumentação de estarem cometendo abuso de poder econômico. Sob o ponto de vista técnico isso não é abuso de poder econômico, isso poderia ser usura real. Direito Econômico O presente material constitui resumo elaborado por equipe de monitores a partir da aula ministrada pelo professor em sala. Recomenda-se a complementação do estudo em livros doutrinários e na jurisprudência dos Tribunais. 28 www.cursoenfase.com.br Não seria abuso de poder econômico porque o agente não teria envergadura econômica para recair em um crime de abuso de poder econômico, que é um crime que se reporta à Lei do CADE, à ideia de poder econômico. A rigor seria crime de usura real, que é o fato de se valer da premente necessidade da pessoa para cobrar um preço exorbitante. O único problema é que o crime de usura real diz que não se pode vender acima de 1/5 do preço justo. O que é preço justo? Quanto vale um copo de água no deserto? Na base de toda essa discussão está a possibilidade de o Estado intervir ou não no processo econômico. O modelo de direito da concorrência que se estabelece é um modelo que aceita a intervenção do Estado nesse campo, por visualizar que se não houver intervenção o mais forte vai prevalecer sempre.
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