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Aula 2 - Curso de Informativos

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AULA 2 – CURSO DE INFORMATIVOS - CPIURIS
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CP IURIS – Jaylton Lopes – Direito Civil, Consumidor e Processo Civil 
PROCESSO CIVIL
Intimação por oficial de justiça, carta rogatória, precatória ou de ordem. Prazo recursal. Início do cômputo. Data da juntada aos autos. - Nos casos de intimação/citação realizadas por correio, oficial de justiça, ou por carta de ordem, precatória ou rogatória, o prazo recursal inicia-se com a juntada aos autos do aviso de recebimento, do mandado cumprido, ou da juntada da carta. (STJ, INF 604 - REsp 1.632.777-SP).
Quando se inicia o prazo recursal? 
O prazo recursal será contado da citação, intimação ou notificação: 
Art. 230. O prazo para a parte, o procurador, a Advocacia Pública, a Defensoria Pública e o Ministério Público será contado da citação, da intimação ou da notificação. 
Sendo a intimação/citação por correio, oficial de justiça, ou por carta de ordem, precatória ou rogatória, o prazo recursal inicia-se com a juntada aos autos do aviso de recebimento, do mandado cumprido ou da juntada da carta. 
Confira os dispositivos legais: 
Art. 231. Salvo disposição em sentido diverso, considera-se dia do começo do prazo: 
I - a data de juntada aos autos do aviso de recebimento, quando a citação ou a intimação for pelo correio; 
II - a data de juntada aos autos do mandado cumprido, quando a citação ou a intimação for por oficial de justiça; 
(...) VI - a data de juntada do comunicado de que trata o art. 232 ou, não havendo esse, a data de juntada da carta aos autos de origem devidamente cumprida, quando a citação ou a intimação se realizar em cumprimento de carta; 
Art. 232. Nos atos de comunicação por carta precatória, rogatória ou de ordem, a realização da citação ou da intimação será imediatamente informada, por meio eletrônico, pelo juiz deprecado ao juiz deprecante. 
Verifica-se, portanto, que havendo a intimação por correios, pessoal, ou por carta, o prazo recursal inicia-se da juntada aos autos.
INFORMATIVO 604 - Ação monitória. Cédula rural pignoratícia e hipotecária. Embargos. Securitização da dívida. Matéria de defesa. Reconvenção. Desnecessidade. - O pedido de alongamento da dívida originada de crédito rural pode ser feito em sede de embargos à monitória ou contestação, independentemente de reconvenção. (STJ,INF 604 - REsp 1.531.676-MG).
O pedido de alongamento da dívida originada de crédito rural pode ser feito em sede de embargos à monitória ou contestação, independentemente de reconvenção. O preenchimento dos requisitos legais para a securitização da dívida originada de crédito rural (ou alongamento) constitui matéria de defesa do devedor, passível de ser alegada em embargos à monitória ou contestação, independentemente de reconvenção.
Direito subjetivo à securitização (alongamento) da dívida (Súmula 298, STJ).
Súmula 298 - “O alongamento de dívida originada de crédito rural não constitui faculdade da instituição financeira, mas, direito do devedor nos termos da lei”.
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João é devedor de uma quantia representada por meio de cédula de crédito rural. 
A cédula de crédito rural é um título executivo extrajudicial. Assim, o credor poderá ingressar com execução contra o devedor em caso de inadimplemento.
Na situação concreta, contudo, havia algumas falhas formais na cédula de crédito rural. Em virtude disso, o banco credor preferiu ingressar com uma ação monitória contra João cobrando a dívida que estava em atraso.
 Relembrando o que é uma ação monitória 
Ação monitória é um procedimento especial, previsto no CPC, por meio do qual o credor exige do devedor o pagamento de soma em dinheiro ou a entrega de coisa com base em prova escrita que não tenha eficácia de título executivo. 
Ex1: ação monitória para cobrança de cheque prescrito. 
Ex2: ação monitória para cobrança de valores baseados em contrato bancário de abertura de conta corrente. 
O cheque prescrito e o contrato bancário de abertura de conta são provas escritas do débito, mas que não se constituem em título executivo. 
Se o credor tem título executivo, pode ingressar desde logo com a execução. 
Se o credor não tem nenhuma prova documental, só lhe resta a ação de cobrança. 
Se o credor tem prova escrita que não goza de eficácia de título executivo: cabe ação monitória. 
Posturas do juiz diante de uma ação monitória proposta 
Diante da propositura de uma ação monitória, o juiz poderá adotar uma das seguintes condutas: 
Determinar a emenda da petição inicial; 
Receber a petição inicial como procedimento ordinário; 
c) Indeferir a petição inicial; 
Aceitar a monitória: neste caso, ele reconhece evidente o direito do autor e manda expedir um mandado monitório para que o réu pague a dívida, entregue a coisa ou execute a obrigação combinada no prazo de 15 dias. Aqui o magistrado faz um mero juízo de delibação. 
Imaginemos que, em nosso exemplo, o juiz aceitou a monitória e determinou a expedição de mandado monitório. O réu (João) foi, então, citado. 
Posturas do réu 
O réu citado poderá assumir uma das seguintes posturas: 
a) Cumprir a obrigação. 
b) Não pagar nem se defender. 
Defender-se. A defesa na ação monitória é denominada de “embargos à ação monitória” (art. 702 do CPC). 
Qual é a natureza jurídica dos “embargos à ação monitória”? 
Os embargos apresentados na ação monitória pelo réu não possuem natureza de ação – como ocorre em relação aos embargos do devedor na execução –, mas sim natureza de contestação. Dessa forma, nos embargos à ação monitória o réu poderá apresentar ampla defesa, sem restrições quanto à matéria. 
Além de apresentar os embargos, o réu poderá oferecer reconvenção? 
SIM. Na ação monitória admite-se a reconvenção. 
Vamos abrir agora um parêntese para tratar sobre a “securitização da dívida rural” 
Entre os anos de 1994 e 1995, os produtores rurais contraíram enormes dívidas com os bancos devido à queda dos preços dos produtos ocasionada pela política econômica e monetária adotada à época (implantação do Plano Real), com maior abertura comercial às importações, além da frustração das safras, por fatores adversos.
Diante desse cenário, o Governo Federal, por intermédio da Lei nº 9.138/95 (modificada posteriormente pelas Leis 9.866/99, 10.437/2002, 11.322/2006 e 11.775/2008), implementou um programa de securitização de dívidas oriundas de operações rurais, propiciando a renegociação dos débitos em condições mais favoráveis do que aquelas usualmente praticadas pelo mercado financeiro. 
Dado o caráter protetivo da norma e sua evidente função de incentivo ao setor agrícola, consolidou-se no STJ o entendimento de que a securitização da dívida originada de crédito rural (ou “alongamento”), quando satisfeitos os requisitos legais, não constitui uma mera faculdade da instituição financeira, mas direito subjetivo do devedor, nos termos da Súmula 298/STJ: 
Súmula 298-STJ: O alongamento de dívida originada de crédito rural não constitui faculdade da instituição financeira, mas, direito do devedor nos termos da lei. 
Assim, o devedor rural que pretenda regularizar seu débito pode, por sua própria iniciativa e independentemente de prévio pedido administrativo, acionar o Poder Judiciário para que o Banco credor seja obrigado a fazer o alongamento da dívida. 
Voltando ao exemplo: 
João apresentou embargos à monitória pedindo a securitização da dívida rural, ou seja, a sua renegociação com o alongamento dos prazos. 
O banco contra argumentou afirmando que essa matéria não poderia ser alegada em sede de embargos à ação monitória. Segundo alegou a instituição financeira, o pedido do réu deveria ter sido veiculado em reconvenção. 
O argumento do banco deverá ser aceito? NÃO.
Dessa forma, não há que se exigir do devedor a apresentação de reconvenção, bastando que provoque o juiz, no bojo dos próprios embargos à monitória ou contestação, a examinar os pressupostos legais para a securitização da dívida rural, que,se reconhecida, ensejará a improcedência do pedido inicial. Em outras palavras, se a dívida originada de crédito rural é securitizável, deverá ser julgada improcedente a pretensão de cobrança da instituição financeira. 
Essa solução privilegia os princípios da celeridade, utilidade e economia processual.
INFORMATIVO 604 - Exceção de incompetência. Ação de reparação de danos. Acidente de veículos. Foro do domicílio do autor ou do local do fato. Escolha que não compete à locadora de veículos. A prerrogativa de escolha do foro, estabelecida no art. 100, V, parágrafo único do CPC de 1973 (art. 53, V, do atual CPC), não beneficia pessoa jurídica locadora de frota de veículos, em ação de reparação dos danos advindos de acidente de trânsito com o envolvimento do locatário. (STJ, INF 604 - EDcl no AgRg no Ag 1.366.967-MG)
A competência para julgar ação de reparação de dano sofrido em razão de acidente de veículos é do foro do domicílio do autor ou do local do fato (art. 53, V, do CPC/2015). 
Contudo, essa prerrogativa de escolha do foro não beneficia a pessoa jurídica locadora de frota de veículos, em ação de reparação dos danos advindos de acidente de trânsito com o envolvimento do locatário. STJ. 4ª Turma. STJ. 4ª Turma. EDcl no AgRg no Ag 1.366.967-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. para acórdão Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 27/4/2017 (Info 604). 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Pedro, que reside em Fortaleza (CE), estava com seu veículo no conserto e, por isso, alugou um carro para realizar suas atividades. 
Determinado dia, voltando do trabalho, acabou sendo atingido na traseira por outro veículo, conduzido por João, que não viu o semáforo fechar.
Pedro tirou fotos da batida, fez um boletim de ocorrência pela internet e repassou tudo para a locadora. Cerca de dois meses depois, João, causador do acidente, recebeu uma citação, em sua casa, em Fortaleza, a respeito de uma ação proposta pela seguradora cobrando o conserto do veículo. 
O susto de João foi ainda maior quando ele viu de onde veio a citação. Isso porque a seguradora propôs a ação em Belo Horizonte (MG), local onde funciona a sua sede principal da pessoa jurídica. 
O argumento da seguradora para propor a ação em Belo Horizonte (MG), e não em Fortaleza (CE), foi o art. 53, V, do CPC/2015: 
Art. 53. É competente o foro: (...) V - de domicílio do autor ou do local do fato, para a ação de reparação de dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, inclusive aeronaves. 
A tese da seguradora, quanto à competência, foi acolhida pelo STJ? Aplica-se, neste caso, o art. 53, V, do CPC/2015? 
NÃO. Razão de ser do art. 53, V, do CPC/2015. 
Em regra, a ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens móveis será proposta no foro de domicílio do réu (art. 46). Assim, em regra, uma ação de indenização proposta por alguém que mora em São Paulo (SP) contra outra pessoa que mora em Florianópolis (SC) deverá ser ajuizada capital catarinense, domicílio do réu. 
Como exceção a essa regra, o art. 53, V prevê que, nas ações de reparação de dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, será competente o foro do domicílio do autor ou do local do fato. Essa exceção foi prevista pelo legislador como uma forma de facilitar o acesso à justiça ao jurisdicionado, vítima do acidente. 
Veja o que diz a doutrina: 
“Dada a grande extensão territorial do País, veículos pertencentes a pessoa residente em um local causam dano em acidente ocorrido em outro, a centenas ou milhares de quilômetros. A regra geral do foro do domicílio do réu não era capaz de atender às necessidades surgidas dessa nova fonte de demandas, porque a vítima tinha de ajuizar sua ação em distantes comarcas, longe do seu domicilio e do local do fato." (Comentários ao Código de Processo Civil. Vol. I, 13ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 351) 
Benefício do art. 53, V, do CPC/2015 não deve ser aplicado para empresas locadoras de veículos 
Como a locadora de veículos pode alugar carros que irão circular por todo o país, é algo normal ao negócio que possam ocorrer acidentes em qualquer parte do território nacional. 
Assim, se fosse permitido que a autora propusesse a ação sempre no seu domicílio, haveria uma deturpação do objetivo da norma. Haveria um privilégio não razoável em favor de uma empresa especializada e aparelhada, em detrimento de pessoas que terão sérias dificuldades de se defender em outros Estados. 
A escolha dada ao autor de ajuizar a ação de reparação de dano decorrente de acidente de veículos é exceção à regra geral de competência, definida pelo foro do domicílio do réu. Não se pode dar à exceção interpretação tão extensiva a ponto de subverter o escopo da regra legal, especialmente quando importar em privilégio à pessoa jurídica cujo negócio é alugar veículos em todo território nacional em detrimento da defesa do réu pessoa física.
INFORMATIVO 862 STF - Execução individual de ação coletiva e competência. Não compete originariamente ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar execução individual de sentenças genéricas de perfil coletivo, inclusive aquelas proferidas em sede mandamental. Tal atribuição cabe aos órgãos judiciários competentes de primeira instância. (STF, INF 862 - PET 6076 QO /DF).
A Sentença na ação coletiva, via de regra, é genérica, o que significa que para ela ser executada, deverá ser liquidada. Se o direito em questão for difuso, via de regra, a liquidação será feita pelo próprio legitimado coletivo, como por ex, o MP. Por outro lado, se for direito coletivo em sentido estrito ou direito individual homogêne, via de regra, essa liquidação e a posterior execução serão realizadas pelo indivíduo. 
ATENÇÃO! TRANSPORTE IN UTILIBUS DA COISA JULGADA: é a possibilidade de um individuo se valer de uma coisa julgada proferida em uma ação coletiva, para que este indivíduo, individualmente, requeira a liquidação e a execução. 
Para que esse individuo possa requerer a liquidação e a execução (direito coletivo em sentido estrito e direitos individuais homogêneos) é preciso que ele caso tenha ajuizado uma ação individual, ao ser devidamente cientificado da existência de uma ação coletiva, requeira a suspensão do processo individual. 
Caso esse indivíduo, não requeira a suspensão do processo, não será beneficiado pela coisa julgada coletiva.
Obs.: a liquidação realizada pelo individuo a partir de uma coisa julgada coletiva é denominada de liquidação imprópria. Isto, porque a liquidação comumente conhecida é aquela em que visa auferir apenas o quantum debeataur. Na liquidação imprópria, existem duas finalidades: primeiro verificar a titularidade do crédito (o indivíduo deve demonstrar porque foi atingido por aquele ato e o quanto deve aproveitar da coisa julgada); a segunda finalidade é aferir o quantum devido. 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Os servidores do Ministério da Saúde recebiam a gratificação “X”, no valor de R$ 2 mil. 
O TCU considerou que a gratificação seria indevida e determinou ao Ministério que cessasse o pagamento. 
Alguns dias depois da decisão, o sindicato dos servidores públicos federais impetrou mandado de segurança, contra o acórdão do TCU pedindo o restabelecimento do pagamento. 
Não foi concedida a medida liminar e, com isso, a partir de março de 2014, o Ministério da Saúde deixou de pagar a verba aos servidores do órgão. 
De quem é a competência para julgar este mandado de segurança coletivo impetrado pelo sindicato? 
Do STF, nos termos do art. 102, I, “d”, da CF/88: 
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: 
I - Processar e julgar, originariamente: (...) 
d) o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de segurança e o habeas data contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da Repúblicae do próprio Supremo Tribunal Federal; 
Voltando ao exemplo: 
Suponhamos que quase 1 ano depois do ajuizamento, o STF julga procedente o mandado de segurança reconhecendo que a decisão do TCU foi ilegal e determinando o retorno do pagamento. 
Assim, a partir de abril de 2015, os servidores voltaram a receber, mensalmente, a gratificação “X”. 
Ocorre que, de março de 2014 até março de 2015, os servidores ficaram sem a gratificação e a Administração Pública não efetuou o pagamento mesmo com o trânsito em julgado do MS. 
João foi um dos servidores que ficou sem receber a gratificação neste período de 1 ano. O que ele deverá fazer? 
Ingressar com a execução individual do acórdão do STF (cumprimento de sentença). 
Execução individual proposta no STF 
João ajuizou a execução do seu crédito no próprio STF alegando que a competência originária seria daquela Corte em virtude do art. 102, I, “m”, da CF/88: 
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente:
(…) m) a execução de sentença nas causas de sua competência originária, facultada a delegação de atribuições para a prática de atos processuais; 
O STF concordou com o argumento do exequente? Compete ao STF julgar execução individual decorrente de acórdão por ele proferido em mandado de segurança coletivo? 
NÃO. Não se deve conferir uma interpretação literal para o art. 102, I, “m”, da CF/88. 
Para que o STF seja competente para fazer a execução de seus acórdãos proferidos em julgamentos originários, é indispensável que a “razão” que atraiu a competência para o STF continue existindo. 
No caso, tratava-se de cumprimento de sentença proferido nos autos de mandado de segurança coletivo proposto em face de ato do Tribunal de Contas da União. A atração da competência do STF se deu em razão do órgão envolvido na celeuma (TCU), com amparo na alínea “d”, do art. 102, I. 
A ação, portanto, foi julgada originariamente em razão da autoridade coatora ser o TCU. Esse foi o motivo da atração da competência originária do STF: tratou-se de ação mandamental em face do TCU. A execução, todavia, não contará com a participação nem exigirá qualquer atuação por parte da Corte de Contas. 
Assim, considerando a missão constitucional da Suprema Corte: 
Não compete originariamente ao STF processar e julgar execução individual de sentenças genéricas de perfil coletivo, inclusive aquelas proferidas em sede mandamental. STF. 2ª Turma. PET 6076 QO /DF, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 25/4/2017 (Info 862). 
E quem que será, então, competente para julgar esta execução? 
O juízo de 1ª instância. No caso concreto, a Justiça Federal comum de 1ª instância considerando que se trata de cumprimento de sentença que tem como executada a União (art. 109, I, da CF/88). 
Sobre o tema, vale ressaltar que o STJ já reconheceu que o beneficiário individuai da sentença coletiva pode, inclusive, executar a sentença no juízo de seu domicílio: 
A liquidação e a execução individual de sentença genérica proferida em ação civil coletiva pode ser ajuizada no foro do domicílio do beneficiário, porquanto os efeitos e a eficácia da sentença não estão circunscritos a lindes geográficos, mas aos limites objetivos e subjetivos do que foi decidido, levando-se em conta, para tanto, sempre a extensão do dano e a qualidade dos interesses metaindividuais postos em juízo. STJ. Corte Especial. REsp 1243887/PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/10/2011
DIREITO CIVIL
INFORMATIVO 604 STJ - É indevida a indenização relativa ao seguro obrigatório – DPVAT, na hipótese em que o acidente de trânsito que vitimou o segurado tenha ocorrido no momento de prática de ilícito penal doloso. STJ. 3ª Turma. REsp 1.661.120-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 9/5/2017 (Info 604)
Em que consiste o DPVAT? 
O DPVAT é um seguro obrigatório contra danos pessoais causados por veículos automotores de via terrestre, ou por sua carga, a pessoas, transportadas ou não. 
Em outras palavras, qualquer pessoa que sofrer danos pessoais causados por um veículo automotor, ou por sua carga, em via terrestre, tem direito a receber a indenização do DPVAT. Isso abrange os motoristas, os passageiros, os pedestres ou, em caso de morte, os seus respectivos herdeiros. 
Ex.: dois carros colidem e, em decorrência da batida, acertam também um pedestre que passava no local. 
No carro 1, havia apenas o motorista. No carro 2, havia o motorista e mais um passageiro. Os dois motoristas morreram. O passageiro do carro 2 e o pedestre ficaram inválidos. Os herdeiros dos motoristas receberão indenização de DPVAT no valor correspondente à morte. O passageiro do carro 2 e o pedestre receberão indenização de DPVAT por invalidez. 
Para receber indenização, não importa quem foi o culpado. Ainda que o carro 2 tenha sido o culpado, os herdeiros dos motoristas, o passageiro e o pedestre sobreviventes receberão a indenização normalmente. 
O DPVAT não paga indenização por prejuízos decorrentes de danos patrimoniais, somente danos pessoais. 
Qual é o valor da indenização de DPVAT prevista na Lei? 
• no caso de morte: R$ 13.500,00 (por vítima) 
• no caso de invalidez permanente: até R$ 13.500,00 (por vítima) 
• no caso de despesas de assistência médica e suplementares: até R$ 2.700,00 como reembolso a cada vítima. 
Quem são os beneficiários do seguro DPVAT? Quem tem direito de receber a indenização? 
• no caso de morte: metade será paga ao cônjuge do falecido, desde que eles não fossem separados judicialmente, e o restante aos herdeiros da vítima, obedecida a ordem da vocação hereditária. Não havendo cônjuge nem herdeiros, serão beneficiários os que provarem que a morte da vítima os privou dos meios necessários à subsistência.
• no caso de invalidez permanente: a própria vítima. 
• no caso de despesas de assistência médica e suplementares: a própria vítima. Isso está previsto no art. 4º, caput e § 3º da Lei nº 6.194/74 (Lei do DPVAT). 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João e mais alguns comparsas combinaram de assaltar um carro-forte que transportava dinheiro.
Segundo o plano criminoso, João, dirigindo uma caminhonete, iria “trancar” o carro-forte, obrigando que ele parasse. Neste momento, os comparsas, que estavam em outro carro, iriam render os vigilantes e subtrair os valores. 
No dia combinado, João jogou o veículo na frente do carro-forte que, entretanto, não parou e fez com que a caminhonete capotasse, ocasionando a morte de João no local. 
João morreu, portanto, vítima de um “acidente de trânsito”. 
Um mês depois, a filha e única herdeira de João entrou com um pedido para receber a indenização DPVAT. 
A filha de João terá direito de receber a indenização DPVAT? O acidente de trânsito ocorreu durante a prática de um crime que estava sendo cometido pelo condutor do veículo. Mesmo assim seus herdeiros terão direito à indenização DPVAT? 
NÃO. 
É indevida a indenização relativa ao seguro obrigatório – DPVAT, na hipótese em que o acidente de trânsito que vitimou o segurado tenha ocorrido no momento de prática de ilícito penal doloso. STJ. 3ª Turma. REsp 1.661.120-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 9/5/2017 (Info 604). 
Culpa e DPVAT 
Para que seja pago o seguro DPVAT, não importa discutir quem teve “culpa” pelo acidente automobilístico. Isso está previsto expressamente no art. 5º da Lei nº 6.194/74: 
Art. 5º O pagamento da indenização será efetuado mediante simples prova do acidente e do dano decorrente, independentemente da existência de culpa, haja ou não resseguro, abolida qualquer franquia de responsabilidade do segurado. 
Vale ressaltar, no entanto, que a palavra “culpa” prevista no art. 5º da Lei nº 6.194/74 deve ser interpretada em seu sentido estrito. Isso significa que este dispositivo não está tratando sobre “dolo”. Assim, se o motorista/vítima foi o culpado pelo acidente, mesmo assim ele terá direito à indenização.Por outro lado, se o motorista/vítima causou o acidente de propósito (agiu com dolo), aí ele não terá direito à indenização, não se aplicando a ele o art. 5º acima transcrito. 
O seguro DPVAT, embora imposto por lei, não deixa de ter as características de um contrato de seguro 
Em matéria de seguro, como regra geral, o ato voluntário e deliberado do segurado não goza de cobertura. O seguro DPVAT, embora sendo uma indenização imposta por lei, continua sendo um contrato de seguro. Isso significa que deverá observar as regras gerais sobre esta espécie contratual. Uma dessas regras está descrita no art. 762 do Código Civil: 
Art. 762. Nulo será o contrato para garantia de risco proveniente de ato doloso do segurado, do beneficiário, ou de representante de um ou de outro.
 Assim, como já dito, embora a Lei nº 6.194/74 preveja que a indenização será devida independentemente da apuração de culpa, é forçoso convir que a lei não alcança situações em que o acidente provocado decorre da prática de um ato doloso.
Resolução CNSP 273/2012 
A decisão do STJ encontra amparo no art. 12, § 2º, da Resolução CNSP nº 273/2012, que consolida as normas do Seguro DPVAT: 
Art. 12. O Seguro DPVAT garante cobertura por danos pessoais causados por veículos automotores de via terrestre, ou por sua carga, a pessoas transportadas ou não. (...) 
§ 2º A cobertura a que se refere este artigo abrange, inclusive, danos pessoais causados aos motoristas dos veículos, exceto quando constatada a existência de dolo.
INFORMATIVO 604 STJ - Seguro de vida e sinistro causado pelo segurado em estado de embriaguez: haverá indenização - É vedada a exclusão de cobertura do seguro de vida na hipótese de sinistro ou acidente decorrente de atos praticados pelo segurado em estado de embriaguez. (STJ, INF 604 - REsp 1.665.701-RS).
No SEGURO DE VIDA (seguro de pessoas) é devida a indenização securitária mesmo que o acidente que vitimou o segurado tenha decorrido de seu estado de embriaguez? 
SIM. Ocorrendo o sinistro morte do segurado e inexistente a má-fé dele (ex: deixar de revelar que possuía doença grave antes de fazer o seguro) ou o suicídio no prazo de carência, a indenização securitária deve ser paga ao beneficiário, visto que a cobertura neste ramo é ampla. 
Assim, é vedada a exclusão de cobertura do seguro de vida na hipótese de sinistro ou acidente decorrente de atos praticados pelo segurado em estado de embriaguez. STJ. 3ª Turma. REsp 1.665.701-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 9/5/2017 (Info 604). 
No SEGURO DE AUTOMÓVEL (seguro de bens) celebrado por uma empresa com a seguradora, é devida a indenização securitária se o condutor do veículo estava embriagado? 
• Em regra: NÃO. 
• Exceção: será devido o pagamento da indenização se o segurado conseguir provar que o acidente ocorreria mesmo que o condutor não estivesse embriagado. 
Não é devida a indenização securitária decorrente de contrato de seguro de automóvel quando o causador do sinistro (condutor do veículo segurado) estiver em estado de embriaguez, salvo se o segurado demonstrar que o infortúnio ocorreria independentemente dessa circunstância. STJ. 3ª Turma. REsp 1.485.717-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/11/2016 (Info 594)
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João fez um seguro de vida por meio do qual paga R$ 50 por mês (prêmio) e, se vier a falecer na vigência do contrato, a seguradora terá que pagar R$ 500 mil reais (indenização) ao seu filho (beneficiário). 
Determinado dia, João, após sair de uma festa completamente embriagado, perdeu o controle sobre o carro e o colidiu contra um poste, falecendo no local. 
A seguradora se negou a pagar o valor da apólice ao argumento de que houve agravamento intencional do risco (embriaguez ao volante). A seguradora afirmou que existe cláusula contratual prevendo a exclusão de cobertura nestes casos. 
Confira: 
Cláusula 2.3.1 – Há perda do direito à indenização no caso de morte ocorrida em acidente cuja consequência direta ou indireta tenha sido decorrente de ingestão, por parte do segurado, de álcool, de drogas, entorpecentes ou substâncias tóxicas. 
O filho de João questionou judicialmente a validade desta cláusula.
Esta cláusula presente no seguro de vida é válida? 
NÃO. 
É vedada a exclusão de cobertura do seguro de vida na hipótese de sinistro ou acidente decorrente de atos praticados pelo segurado em estado de embriaguez. Tal cláusula é abusiva, com base nos arts. 3º, § 2º, e 51, IV, do CDC. STJ. 3ª Turma. REsp 1.665.701-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 9/5/2017 (Info 604). 
Cláusulas limitativas das avenças securitárias 
Em tese, é possível que existam cláusulas no contrato de seguro que limitem ou restrinjam o pagamento da indenização. Ex: é válida a cláusula que exclua o pagamento da indenização caso a morte tenha ocorrido por conta de uma doença preexistente que foi omitida pelo segurado no momento da contratação. 
Vale ressaltar, no entanto, que as cláusulas que limitam a cobertura securitária, para serem válidas, não podem contrariar: 
 as disposições legais; 
 a finalidade do contrato. 
A jurisprudência do STJ entende que a cláusula presente no contrato de seguro de vida que exclua a cobertura em caso de morte decorrente de embriaguez é uma cláusula muito restritiva que acaba contrariando a própria finalidade do contrato. Essa é também a posição da Superintendência de Seguros Privados, que editou a Carta Circular SUSEP/DETEC/GAB n° 08/2007 orientando que as seguradoras não incluam cláusulas excluindo a cobertura na hipótese de sinistros ou acidentes decorrentes de atos praticados pelo segurado em estado de insanidade mental, de alcoolismo ou sob efeito de substâncias tóxicas. 
Situação diferente no caso de seguro de veículos 
No caso de seguro de veículos, o STJ e a SUSEP entendem que é válida a cláusula contratual que preveja a exclusão da indenização caso os danos ao automóvel tenham sido causados pela embriaguez do segurado.
INFORMATIVO 604 - Aval. Outorga uxória ou marital. Interpretação do art. 1.647, inciso III, do CC/2002, à luz do art. 903 do mesmo diploma legal. Natureza do instituto cambiário do aval. Revisão do entendimento. - O aval dado aos títulos de créditos nominados (típicos) prescinde de outorga uxória ou marital. (STJ, INF 604 - REsp 1.526.560-MG)
O art. 1.647, III, do Código Civil de 2002 previu que uma pessoa casada somente pode prestar aval se houver autorização do seu cônjuge (exceção: se o regime de bens for da separação absoluta). 
Essa norma exige uma interpretação razoável e restritiva, sob pena de descaracterizar o aval como instituto cambiário. 
Diante disso, o STJ afirmou que esse art. 1.647, III, do CC somente é aplicado para os títulos de créditos inominados, considerando que eles são regidos pelo Código Civil. 
Por outro lado, os títulos de créditos nominados (típicos), que são regidos por leis especiais, não precisam obedecer a essa regra do art. 1.647, III, do CC. 
Em suma, o aval dado aos títulos de créditos nominados (típicos) prescinde de outorga uxória ou marital.
Exemplos de títulos de créditos nominados: letra de câmbio, nota promissória, cheque, duplicata, cédulas e notas de crédito. 
STJ. 3ª Turma.REsp 1.526.560-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 16/3/2017 (Info 604). STJ. 4ª Turma. REsp 1.633.399-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/11/2016. 
Títulos de crédito 
O título de crédito é um documento por meio do qual se prova que existe uma obrigação entre o(s) credor(es) e o(s) devedor(es), nos termos do que ali está escrito. 
O conceito tradicional de título de crédito foi dado há décadas por um jurista italiano chamado Cesare Vivante: “título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito literal e autônomo nele contido ou mencionado”. 
Essa definição foi adotada pelo CC-2002: 
Art. 887. O título de crédito, documento necessário aoexercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei. 
Os títulos de crédito são muito importantes para a economia porque eles facilitam a obtenção e a circulação do crédito, além de conferirem maior segurança para os credores. Ex: se a pessoa quer comprar uma mercadoria, mas não tem dinheiro no momento, ela poderá assinar uma nota promissória e entregá-la ao vendedor, comprometendo-se a pagar a quantia em 30 dias. Houve a concessão de um crédito de forma simplificada e o credor terá em mãos uma garantia de pagamento. Com isso, mais negócios podem ser realizados. 
Títulos de créditos típicos e atípicos 
Existe uma classificação que divide os títulos de crédito em: 
a) Típicos (nominados): são aqueles criados por uma legislação específica, que os regulamenta. Exs: letra de câmbio, nota promissória, cheque, duplicata, cédulas e notas de crédito. 
b) Atípicos (inominados): são aqueles criados pela vontade dos próprios particulares, segundo seus interesses. Isso é permitido, desde que não violem as regras do Código Civil. Como não são regulados por uma legislação específica, devem obedecer as normas do Código Civil que tratam sobre títulos de crédito. 
O art. 903 do CC explica que a codificação privada (Código Civil) somente se aplica para os títulos de crédito típicos de forma subsidiária. Veja: 
Art. 903. Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de crédito pelo disposto neste Código. 
Aval 
Aval é o ato cambial de garantia por meio do qual um indivíduo, chamado de “avalista”, mesmo sem ser o devedor principal, se compromete a pagar o valor do título de crédito. 
Nas palavras de Fábio Ulhoa Coelho: 
“O aval é o ato cambiário pelo qual uma pessoa (avalista) se compromete a pagar título de crédito, nas mesmas condições que um devedor desse título (avalizado).” (Curso de Direito Comercial. Vol. 1. Direito de Empresa. 16ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012, p. 539). 
Se uma pessoa vai dar o seu aval, ela precisará da concordância do seu cônjuge? Exige-se outorga uxória ou marital (concordância do cônjuge) para que a pessoa seja avalista? 
• Leis que regem os títulos de crédito: NÃO. Não há previsão exigindo. 
• Código Civil: SIM. Exige-se autorização do cônjuge, nos termos do art. 1.647, III:
Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta: (...) III - prestar fiança ou aval; 
Diante disso, indaga-se: o art. 1.647, III, do Código Civil aplica-se para todos os títulos de crédito? Se uma pessoa for dar um aval, por exemplo, em uma duplicata, será necessária a autorização do seu cônjuge? 
NÃO. 
O art. 1.647, III, do Código Civil somente se aplica para os títulos de crédito inominados (atípicos). No caso de títulos de crédito nominados (típicos), é desnecessária a outorga uxória ou marital, não se aplicando a regra do Código Civil. STJ. 3ª Turma. REsp 1.526.560-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 16/3/2017 (Info 604). 
Conforme já explicado, no que tange aos títulos de crédito nominados, o Código Civil tem uma aplicação apenas subsidiária, respeitando-se as disposições especiais, pois o objetivo básico da regulamentação dos títulos de crédito, no Código Civil, foi apenas o de permitir a criação dos denominados títulos atípicos ou inominados. 
Assim, não deve ser aplicado art. 1.647, III, do CC aos títulos nominados porque esta regra é incompatível com as características dos títulos de crédito típicos. A exigência de autorização do cônjuge do avalista enfraquece a garantia dos títulos de crédito, gerando intranquilidade e insegurança. 
O aval consiste em uma declaração unilateral de vontade inserida no próprio título por meio da qual o avalista declara garantir o pagamento do valor inscrito no título. É, portanto, um instituto comercial muito mais ágil e informal do que a fiança, que é feita por intermédio de contrato. 
A outorga uxória ou marital é compatível com o contrato de fiança, mas não com o aval que, como dito, é uma declaração unilateral. O portador do título de crédito, em regra, não tem contato algum com o avalista e, menos ainda, com algum documento de identificação deste por meio do qual possa descobrir seu estado civil.
Abstração e autonomia do título de crédito
 Autonomia do aval
INFORMATIVO 604 - Família. Emenda à Constituição nº 66/10. Divórcio direto. Separação judicial. Subsistência. A Emenda à Constituição n. 66/2010 não revogou os artigos do Código Civil que tratam da separação judicial. (STJ, INF 604 - REsp 1.247.098-MS)
EC 66/2010 
A EC 66/2010 (conhecida como “Emenda do Divórcio”), alterou a redação do art. 226, § 6º da CF/88, suprimindo os prazos de um ano de separação judicial e de dois anos de separação de fato no divórcio. 
A EC 66/2010 retirou do texto da CF/88 a referência expressa à existência de separação judicial. Compare as duas redações:
Apesar de a CF/88 ter expurgado de seu texto o termo “separação judicial”, o art. 1.571, III, do CC (que menciona a existência de separação judicial) não foi formalmente revogado. Em outras palavras, o constituinte reformador tirou da Constituição a separação, mas ela ainda continua presente no Código Civil. Diante disso, surgiram duas correntes:
Qual foi a posição adotada pelo STJ? 
A 1ª corrente. Decidiu o STJ: 
A Emenda à Constituição nº 66/2010 não revogou os artigos do Código Civil que tratam da separação judicial. STJ. 4ª Turma. REsp 1.247.098-MS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 14/3/2017 (Info 604). 
Principais argumentos invocados para esta conclusão: 
 Analisando a literalidade do art. 226, § 6º, percebe-se que a única alteração promovida pela EC 66/2010 foi a supressão do requisito temporal para divórcio, bem como do sistema bifásico, para que o casamento seja dissolvido pelo divórcio. Ocorreu, portanto, facilitação ao divórcio (e não a abolição da separação judicial). 
 O texto constitucional dispõe que o casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. Isso significa que a CF conferiu uma faculdade aos cônjuges, não significando, contudo, que tenha extinguido a possibilidade de separação judicial.
 Se o divórcio é permitido sem qualquer restrição, forçoso concluir que também é possível a separação judicial considerando que, quem pode o mais, pode o menos também. 
 Entender que a alteração promovida pela EC 66/2010 suprimiu a existência da separação extrajudicial ou judicial levaria à interpretação de que qualquer assunto que não fosse mais tratado no texto constitucional por desconstitucionalização estaria extinto, o que seria um absurdo. 
 Não ocorreu a revogação tácita da legislação infraconstitucional que versa sobre a separação, dado que a EC 66/2010 não tratou em momento algum sobre a separação, bem como não dispôs sobre matéria com ela incompatível. 
 O novo CPC (Lei nº 13.105/2015) manteve em diversos dispositivos referências ao instituto da separação judicial, inclusive regulando-o no capítulo que trata das ações de família, demonstrando, de forma indiscutível, que a mens legis foi a de manter a figura da separação no ordenamento jurídico pátrio. 
Considerando que o divórcio e a separação ainda coexistem no ordenamento jurídico, qual seria a diferença entre eles?
INFORMATIVO 604 - Insolvência Civil. Execução individual posterior. Impossibilidade. Incompetência absoluta. Juízo universal da insolvência. Nulidade da arrematação. É nula a arrematação de bens do devedor promovida em ação de execução por credor individual, após a declaração de insolvência civil do devedor, em foro diverso do Juízo universal da insolvência (STJ, INF 604 - REsp 1.074.724-MG)
Declaração de insolvência: execução por concurso universal de todos os credores (CPC/73, art. 751, II).
A sentença que declara a insolvência civil do devedor tem eficácia imediata, produzindo efeitos na data de sua prolação, tantopara o devedor como para os credores, independentemente do trânsito em julgado. 
A declaração de insolvência faz com que a execução dos débitos que o insolvente possua tenha que ser feita por meio de concurso universal de todos os credores, inclusive aqueles com garantia real, não sendo possível a propositura de ações de execução individual. A execução dos créditos deverá ser realizada perante o Juízo universal da insolvência. É como se fosse uma “falência”. 
Diante disso, é nula a arrematação de bens do devedor realizada em ação de execução proposta por credor individual, após a declaração de insolvência civil do devedor, em foro diverso do Juízo universal da insolvência. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.074.724-MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 27/4/2017 (Info 604). 
Insolvência civil 
A insolvência civil é uma espécie de execução coletiva e universal em que todo o patrimônio do devedor civil (não empresário) será liquidado para satisfação de suas obrigações (Min. Luis Felipe Salomão). 
É como se fosse uma “falência”, com a diferença que se trata de devedor civil (e a falência atinge devedor empresário). 
A insolvência civil era disciplinada pelos arts. 748 a 786-A do CPC/1973. 
O CPC/2015 afirmou que o legislador deverá editar uma lei disciplinando a insolvência civil. No entanto, enquanto não for elaborada essa legislação, permanecem em vigor os artigos do CPC/1973 que tratam sobre o tema. Veja: 
Art. 1.052. Até a edição de lei específica, as execuções contra devedor insolvente, em curso ou que venham a ser propostas, permanecem reguladas pelo Livro II, Título IV, da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Em 02 março de 2002, o banco requereu a insolvência civil de João perante a vara cível da comarca de Salvador (BA). 
Em 03 abril de 2002, o juiz proferiu sentença declarando a insolvência civil do réu. 
A sentença que declara a insolvência civil possui natureza declaratória e constitutiva, considerando que: 
1) reconhece/declara que as dívidas do devedor são maiores que o seu patrimônio (art. 748 do CPC/1973); e 
2) estabelece uma nova situação jurídica para o devedor, a de insolvente. 
Esta sentença encerra a chamada fase preliminar ou de cognição do processo de insolvência. A partir daí entra a fase de convocação dos credores do devedor, arrecadação dos bens, avaliação e alienação para pagamento das dívidas segundo o quadro geral de credores. Ao fim, é proferida uma sentença de encerramento. 
Suponhamos que, em 04 de maio de 2002, ou seja, logo após a prolação da sentença declarando a insolvência civil, determinada loja ingressou com execução de título extrajudicial contra João na comarca de Niterói (RJ). Vale ressaltar que a loja não sabia da existência desse processo de insolvência civil. 
Na execução individual, o juiz penhorou um imóvel de João e o levou à alienação, tendo ele sido arrematado por Pedro, um terceiro. 
Foi aí que se descobriu que havia um processo de insolvência civil tramitando contra o devedor.
Diante disso, indaga-se: essa arrematação é válida? 
NÃO. 
É nula a arrematação de bens do devedor promovida em ação de execução por credor individual, após a declaração de insolvência civil do devedor, em foro diverso do Juízo universal da insolvência. 
STJ. 4ª Turma. REsp 1.074.724-MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 27/4/2017 (Info 604). 
Juízo universal da insolvência 
Quando a insolvência civil é declarada, instaura-se a execução universal dos credores e a arrecadação de todos os bens suscetíveis de penhora (art. 751 do CPC/1973), sendo que o devedor perde o direito de administrar os seus bens e de dispor deles (art. 752). 
Assim, forma-se um juízo universal da insolvência. Isso significa que a competência para decidir sobre as dívidas e o patrimônio do devedor passa a ser do juízo que decretou a insolvência., nos termos do art. 762 do CPC/1973: 
Art. 762. Ao juízo da insolvência concorrerão todos os credores do devedor comum. 
§ 1º As execuções movidas por credores individuais serão remetidas ao juízo da insolvência. 
§ 2º Havendo, em alguma execução, dia designado para a praça ou o leilão, far-se-á a arrematação, entrando para a massa o produto dos bens. 
Dessa forma, a execução individual proposta pela loja contra João não poderia ter tramitado em Niterói (RJ). Ela deveria ter sido ajuizada em Salvador (BA). 
Eficácia imediata 
Vale ressaltar que a sentença que declara a insolvência civil do devedor tem eficácia imediata, produzindo efeitos na data da sua prolação, tanto para o devedor como para os credores, independentemente do trânsito em julgado. 
Desse modo, a partir do momento em que o juízo declarou a insolvência civil do devedor, neste exato momento já se instaurou o juízo universal e nenhuma execução individual poderia ter sido ajuizada perante outro órgão jurisdicional.
INFORMATIVO 861 STF - CBF não poderia ter editado resolução declarando tanto o Sport como o Flamengo campeões de 1987 porque já havia uma decisão transitada em julgado considerando vencedor o Sport - A Primeira Turma, em conclusão de julgamento e por maioria, negou provimento a agravo regimental em que discutida a validade de decisão judicial que proclamou o Sport Clube Recife como campeão brasileiro de futebol profissional do ano de 1987. O pronunciamento judicial transitou em julgado em 1999. Depois, sobreveio a Resolução 2/2011 da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), por meio da qual o Clube de Regatas Flamengo também foi considerado campeão brasileiro de futebol de 1987. (STF, INF 861 - RE 881864)
O Sport Club do Recife conseguiu, em 1999, uma decisão judicial transitada em julgado declarando que ele foi o campeão brasileiro de futebol do ano de 1987. 
Ocorre que, em 2011, a CBF editou a Resolução 2/2011 reconhecendo que, além do Sport, o Flamengo também teria sido campeão brasileiro em 1987.
O Sport não se conformou com esta postura da entidade e ingressou com ação de cumprimento de sentença pedindo que, em respeito à decisão judicial transitada em julgado em 1999, a CBF fosse condenada a anular a Resolução e reconhecer o clube pernambucano como o único campeão de 1987.
 O STF concordou com o pleito do Sport. 
A decisão judicial que conferiu ao Sport o título de campeão brasileiro de 1987 transitou em julgado e não podia ser alterada por resolução posterior da CBF. 
A coisa julgada, como manifestação do princípio da segurança jurídica, assume a estatura de elemento estruturante do Estado Democrático de Direito. 
A autonomia das entidades desportivas não autoriza a transformação da CBF em órgão revisor de pronunciamentos jurisdicionais alcançados pela preclusão. STF. 1ª Turma. RE 881864 AgR/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/4/2017 (Info 861).
Campeonato Brasileiro de 1987 
Em 1986, Flamengo, Fluminense, Vasco, Botafogo, Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos, Grêmio, Internacional, Atlético Mineiro, Cruzeiro e Bahia romperam com a CBF, fundaram um grupo chamado de "Clube dos Treze" e decidiram que eles não iriam participar do campeonato brasileiro do ano seguinte (1987) promovido pela entidade e que iriam organizar a própria competição. 
Esses treze clubes fizeram, então, um campeonato nacional, que foi chamado de Copa União e que teve ainda a participação de Santa Cruz, Goiás e Coritiba. 
A CBF tentou evitar perder o controle da situação e, por isso, buscou negociar um acordo com o Clube dos Trezes. A proposta da entidade foi a seguinte: ela reconheceria a Copa União como sendo uma parte do campeonato brasileiro, chamada de "Módulo Verde". Esta continuaria sendo organizada pelo Clube dos Treze. A CBF, por sua vez, organizaria a outra parte do campeonato brasileiro que envolveria a disputa dos demais clubes que não faziam parte da Copa União e que seria chamada de "Módulo Amarelo". O campeão e o vice da "Copa União" (chamada de Módulo Verde) jogaria com o campeão e vice do Módulo Amarelo em um quadrangular final.Quem vencesse esse quadrangular, seria o campeão brasileiro de 1987. 
O Clube dos Treze não aceitou a proposta e os dois campeonatos foram sendo disputados. 
O campeão da Copa União ("Módulo Verde") foi o Flamengo e o vice, o Internacional. 
Os campeões do "Módulo Amarelo" foram o Sport e o Guarani. 
No início de 1988, a CBF marcou os jogos desse suposto quadrangular. Ocorre que Flamengo e Internacional não compareceram e, por isso, Sport e Guarani foram proclamados vencedores por W.O. Como Sport e Guarani "ganharam" as suas partidas contra Flamengo e Inter, eles disputaram a final do campeonato e o Sport venceu o Guarani, no Recife, por 1 x 0. 
Disputa judicial 
O "Clube dos Treze" e a maioria da imprensa consideraram o Flamengo como campeão brasileiro de 1987. 
O Sport, contudo, não aceitou isso e propôs ação judicial pedindo que o regulamento do campeonato proposto pela CBF fosse considerado válido e que ele (Sport) fosse declarado como o campeão brasileiro daquele ano.
A ação teve como requeridos a CBF, a União (por conta do órgão federal "Conselho Nacional de Desportos"), o Flamengo e o Internacional e foi julgada procedente, tendo sido reconhecido o Sport como campeão brasileiro de 1987. 
Em 1999, essa decisão transitou em julgado. 
Resolução 2/2011 
Em 2011, a CBF, querendo agradar o Flamengo, publicou a Resolução 2/2011 declarando que tanto o Sport como o Flamengo seriam os campeões brasileiros de 1987. 
O Sport não se conformou com esta postura da entidade e ingressou com ação de cumprimento de sentença pedindo que, em respeito à decisão judicial transitada em julgado em 1999, a CBF anulasse a Resolução 2/2011. 
O Juiz Federal de 1ª instância acatou o pedido do autor na ação de cumprimento de sentença e determinou que a CBF tornasse sem efeito a Resolução 2/2011 e que editasse outro ato afirmando que o único campeão brasileiro de futebol profissional de 1987 é Sport Club do Recife, considerando que isso já havia sido decidido em sentença judicial transitada em julgado. 
O Flamengo, que também participava do processo, recorreu, tendo a sentença sido mantida pelo TRF da 5ª Região e pelo STJ. 
O clube carioca recorreu, então, ao STF alegando, dentre outros argumentos, que a CBF, enquanto entidade desportiva, goza de autonomia, nos termos do art. 217, I, da CF/88, não podendo, portanto, o Poder Judiciário desconstituir uma resolução de âmbito interno da instituição. 
Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-formais, como direito de cada um, observados: I - a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto a sua organização e funcionamento; 
O que decidiu o Supremo? A CBF poderia ter editado a Resolução 2/2011 reconhecendo o Sport e o Flamengo como campeões brasileiros de 1987? 
NÃO. 
A decisão judicial que conferiu ao Sport o título de campeão brasileiro de 1987 transitou em julgado e não podia ser alterada por resolução posterior da CBF. 
A coisa julgada, como manifestação do princípio da segurança jurídica, assume a estatura de elemento estruturante do Estado Democrático de Direito. 
A autonomia das entidades desportivas não autoriza a transformação da CBF em órgão revisor de pronunciamentos jurisdicionais alcançados pela preclusão. 
A autonomia técnica e o mérito desportivo não podem se sobrepor em detrimento da coisa julgada. 
A eficácia estabilizadora da coisa julgada estende-se também para o campo de atuação da CBF, que funciona como entidade de regulação das atividades administrativas do futebol brasileiro. 
Em suma, a CBF não poderia ter editado resolução declarando tanto o Sport como o Flamengo campeões de 1987 porque já havia uma decisão transitada em julgado considerando vencedor o Sport STF. 1ª Turma. RE 881864 AgR/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/4/2017 (Info 861).
INFORMATIVO 604 STJ - Direito de família. Ação negatória de paternidade. Pretensão de relativização da coisa julgada formada em anterior demanda de investigação de paternidade. Impossibilidade. - A relativização da coisa julgada estabelecida em ação de investigação de paternidade – em que não foi possível determinar-se a efetiva existência de vínculo genético a unir as partes – não se aplica às hipóteses em que o reconhecimento do vínculo se deu, exclusivamente, pela recusa do investigado ou seus herdeiros em comparecer ao laboratório para a coleta do material biológico. (STJ, INF 604 - REsp 1.562.239-MS).
Súmula 301, STJ:
“Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção juris tantum de paternidade.”
 Não realização do exame de DNA: Hipóteses distintivas:
Circunstâncias alheias à vontade da pessoa X recusa da pessoa.
Ex de circunstâncias alheias à vontade da pessoa: exame de DNA muito caro e as partes não tinham condição de custear o exame. 
A coisa julgada estabelecida em ações de investigação de paternidade deve ser relativizada nos casos em que, no processo, não houve a realização de exame de DNA e, portanto, não foi possível ter-se certeza sobre o vínculo genético (STF. Plenário. RE 363889, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 02/06/2011. Repercussão geral). 
O STJ entendeu, contudo, que essa relativização da coisa julgada não se aplica às hipóteses em que o magistrado reconheceu o vínculo pelo fato de o investigado (ou seus herdeiros) terem se recusado a comparecer ao laboratório para a coleta do material biológico. 
Ex: Lucas ajuizou ação de investigação de paternidade contra João; este se recusou a fazer o DNA, razão pela qual o juiz julgou a demanda procedente e reconheceu que Lucas é filho de João (Súmula 301-STJ: Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção juris tantum de paternidade). Depois que esta sentença transitou em julgado, João ingressou com ação negatória de paternidade pedindo a relativização da coisa julgada e a realização de exame de DNA. Esta ação deverá ser extinta sem resolução do mérito pela coisa julgada (art. 485, V, do CPC). 
Em suma, a relativização da coisa julgada estabelecida em ação de investigação de paternidade – em que não foi possível determinar-se a efetiva existência de vínculo genético a unir as partes – não se aplica às hipóteses em que o reconhecimento do vínculo se deu, exclusivamente, pela recusa do investigado ou seus herdeiros em comparecer ao laboratório para a coleta do material biológico. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.562.239/MS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 09/05/2017 (Info 604).
Situação 1. Imagine a seguinte situação hipotética: 
Em 1995, Daniel ajuizou uma ação de investigação de paternidade contra Honofre, seu suposto pai, tendo esta sido julgada improcedente. 
Vale ressaltar que, na época, não foi realizado exame de DNA, que ainda era raro no Brasil. 
A sentença transitou em julgado. 
Daniel poderá ajuizar nova ação de investigação de paternidade contra Honofre, pedindo agora a realização do exame de DNA? É possível flexibilizar a coisa julgada material formada em investigação de paternidade julgada improcedente e na qual não foi feito exame de DNA? 
SIM, é possível a flexibilização da coisa julgada material nas ações de investigação de paternidade, na situação em que o pedido foi julgado improcedente por falta de prova. Esse é o entendimento consolidado na jurisprudência: 
Deve ser relativizada a coisa julgada estabelecida em ações de investigação de paternidade em que não foi possível determinar-se a efetiva existência de vínculo genético a unir as partes, em decorrência da não realização do exame de DNA, meio de prova que pode fornecer segurança quase absoluta quanto à existência de tal vínculo. 
STF. Plenário. RE 363889, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 02/06/2011 (repercussão geral). 
Nas ações de investigação de paternidade, o STJ e STF admitem a relativização da coisa julgada quando, na demanda anterior, não foi possível a realização do exame de DNA, em observânciaao princípio da verdade real. 
STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1417628/MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 28/03/2017.
Situação 2. Imaginemos agora a situação um pouco diferente: 
Lucas ajuizou ação de investigação de paternidade contra João alegando que este seria seu pai. 
O réu recusou-se a fazer o exame de DNA, razão pela qual o juiz julgou a demanda procedente e reconheceu que Lucas é filho de João, aplicando o raciocínio da Súmula 301-STJ: 
Súmula 301-STJ: Em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção juris tantum de paternidade. 
Depois que esta sentença transitou em julgado, João ingressou com ação negatória de paternidade contra Lucas pedindo a relativização da coisa julgada e a realização de exame de DNA. 
Isso é possível? O juiz deverá acolher o pedido de João e realizar o exame de DNA? NÃO. 
Esta ação deverá ser extinta sem resolução do mérito pela coisa julgada (art. 485, V, do CPC). A possibilidade de relativização da coisa julgada nestes casos somente deve ser admitida quando o exame de DNA não foi realizado em virtude de circunstâncias alheias à vontade das partes. 
A relativização não pode ser admitida quando a não realização da prova pericial (DNA) na ação investigatória anterior deveu-se, exclusivamente, à recusa de uma das partes em comparecer ao laboratório para a coleta de material biológico. 
A parte que se recusou a fazer o DNA e que agora quer desconstituir a coisa julgada sob o argumento de que não foi realizado o referido exame e que este é essencial para a descoberta da verdade real demonstra comportamento contrário à boa-fé objetiva, incidindo naquilo que a doutrina denomina de venire contra factum proprium (proibição de comportamento contraditório), sendo uma forma de abuso de direito. 
Assim, como o autor negou-se a produzir a prova que traria certeza à controvérsia nos autos da ação de investigação de paternidade que transitou em julgado, não pode, agora, utilizar-se maliciosamente da ausência da referida prova como fundamento para a propositura de ação negatória de paternidade e, com isso, buscar ver alterada a decisão que lhe foi desfavorável, sob pena de incorrer em violação da boa-fé objetiva.
INFORMATIVO 853 STF - Não viola o art. 217, I, da Constituição decisão que determina associação esportiva a observar a norma do art. 59 do Código Civil (STF, INF 853 - RE 935482 AgR/SP).
A autonomia das entidades desportivas não é absoluta. 
O art. 59 do CC é compatível com a autonomia constitucional conferida aos clubes pelo art. 217, I, da CF/88. STF. 1ª Turma. ARE 935482/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 07/02/2017 (Info 853). 
O São Paulo Futebol Clube é uma associação (art. 53 do Código Civil). 
Em 2009, o Conselho Deliberativo do São Paulo decidiu fazer alterações no estatuto social do clube. Um grupo de sócios ajuizou ação pedindo a anulação dessas mudanças sob o argumento de que, de acordo com o Código Civil, a competência para alterações no estatuto social é da Assembleia Geral (órgão associativo maior do que o Conselho Deliberativo).
O dispositivo invocado pelos sócios foi o art. 59, II, do CC: 
Art. 59. Compete privativamente à assembleia geral: (...) 
II – alterar o estatuto. 
Parágrafo único. Para as deliberações a que se referem os incisos I e II deste artigo é exigido deliberação da assembleia especialmente convocada para esse fim, cujo quórum será o estabelecido no estatuto, bem como os critérios de eleição dos administradores. 
O São Paulo argumentou que não tinha o dever de submeter a proposta de aprovação do estatuto à Assembleia Geral, pois, segundo o art. 217, I, da CF/88, as associações desportivas são autônomas, podendo definir livremente o processo de administração que considere mais adequado: 
Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-formais, como direito de cada um, observados: 
I - a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto a sua organização e funcionamento; 
Em outras palavras, o clube defendeu que as associações desportivas são autônomas e, por essa razão, não estão submetidas à regra do art. 59, II, do Código Civil, podendo alterar seus estatutos na forma como melhor entenderem. Assim, o art. 59, II seria inconstitucional se fosse aplicado às entidades desportivas. 
A questão chegou até o STF. Qual das duas teses prevaleceu: a do grupo de sócios ou a do clube? 
A do grupo de sócios. 
A autonomia das entidades desportivas não é absoluta. O art. 59 do CC é compatível com a autonomia constitucional conferida aos clubes pelo art. 217, I, da CF/88. STF. 1ª Turma. ARE 935482/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 07/02/2017 (Info 853).
INFORMATIVO 864 STF - Sucessão e regime diferenciado para cônjuges e companheiros - No sistema constitucional vigente, é inconstitucional a diferenciação de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no artigo 1.829 do Código Civil. (STF, INF 864 - RE 878694/MG)
Sucessão legítima é a transmissão do patrimônio do falecido para os seus herdeiros, segundo uma ordem, que é chamada de ordem de vocação hereditária, sendo prevista no art. 1.829 do Código Civil. 
O cônjuge vai ter direito à herança se o falecido deixou descendentes? Ex: João, casado com Maria, morreu e deixou dois filhos (Pedro e Tiago). Maria terá direito à herança?
O cônjuge é herdeiro necessário (art. 1.845 do CC). 
Assim, se a pessoa morrer e for casada, em regra, seu cônjuge terá direito à herança. 
Vale ressaltar, no entanto, que, se o falecido tiver deixado descendentes (filhos, netos etc.), a viúva poderá não ter direito à herança, a depender do regime de bens. A regra está no art. 1.829, I, do CC: 
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares; 
Esse inciso é muito confuso e mal redigido, o que gera bastante polêmica na doutrina e jurisprudência. O que se pode extrair dele é o seguinte: o cônjuge é herdeiro necessário, mas há situações em que a lei deu primazia (preferência) para os descendentes do morto. Assim, foram previstos alguns casos em que o cônjuge, a depender do regime de bens, não irá ter direito à herança, ficando esta toda com os descendentes. Vejamos:
Voltando ao exemplo: 
João, casado com Maria, morreu e deixou dois filhos Pedro e Tiago. 
Se, por exemplo, Maria era casada com João sob o regime da separação convencional de bens, ela terá direito, juntamente com Pedro e Tiago, à herança deixada pelo marido. 
Por outro lado, se Maria era casada com João sob o regime da comunhão universal de bens, ela não terá direito à herança. Neste caso ela será meeira, mas não herdeira. 
Se os consortes são casados no regime da comunhão universal, isso significa que, quando a pessoa morre, seu cônjuge tem direito à meação, ou seja, metade dos bens do falecido já pertencem obrigatoriamente ao cônjuge supérstite. A outra metade é que será a herança. 
Ora, o legislador pensou o seguinte: “se o cônjuge já vai ter direito à metade dos bens pelo fato de ser meeiro, não é justo que ele também tenha parte da outra metade em prejuízo dos descendentes; vamos excluir o cônjuge da herança para que ela fique toda para os descendentes.” 
O cônjuge vai ter direito à herança se o falecido não deixou descendentes, mas deixou ascendentes? Ex: João, casado com Maria, morre sem deixar filhos ou netos, mas deixou pai e mãe. Como será feita a divisão da herança? 
Neste caso, o cônjuge sobrevivente herdará em concorrência com os ascendentes. Logo, em nosso exemplo, Maria receberá 1/3 da herança, o pai de João 1/3 e a mãe o 1/3 restante. Vale ressaltar que aquinão importa qual era o regime de bens do casal. 
E se o falecido morreu sem deixar descendentes e ascendentes, o cônjuge terá direito à herança? Ex: João, casado com Maria, morreu sem deixar filhos, netos, nem pais ou avós. 
SIM. Nesta hipótese Maria terá direito à integralidade da herança.
Regras da sucessão do cônjuge 
Essas regras acima explicadas envolvendo a sucessão causa mortis do cônjuge estão previstas no art. 1.829 do Código Civil: 
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: 
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares; 
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; 
III - ao cônjuge sobrevivente; 
IV - aos colaterais. 
E o companheiro do falecido (união estável), tem direito à herança? O que o Código Civil previu sobre o tema? 
O Código Civil de 2002 trouxe as regras sobre a sucessão do companheiro no art. 1.790: 
Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes: 
I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho; 
II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles; 
III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança; 
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança. 
Ao se comparar este art. 1.790 com o art. 1.829 do CC veremos que o legislador trouxe regras muito mais desvantajosas para o companheiro do que para o cônjuge do falecido. Um exemplo ilustra bem essa diferença de tratamento: pelo art. 1.790 do CC, se o falecido deixar a companheira e um tio, por exemplo, esse tio iria herdar 2/3 da herança e a companheira apenas 1/3. 
Tese da inconstitucionalidade do art. 1.790 do CC 
Diversos doutrinadores de Direito Civil sempre defenderam que o art. 1.790 do CC seria inconstitucional. Isso porque a Constituição Federal protege a união estável como entidade familiar (art. 226, § 3º). Dessa forma, não existe uma superioridade do casamento sobre a união estável, devendo os dois institutos serem equiparados. 
Essa tese foi acolhida pelo STF? O art. 1.790 do CC, que trata sobre a sucessão do companheiro, é inconstitucional? 
SIM. O STF entendeu que o art. 1.790 do Código Civil de 2002 é inconstitucional.
 Mudanças na noção tradicional de família 
O regime sucessório sempre buscou proteger a família do falecido. 
A noção tradicional de família esteve ligada durante muito tempo à ideia de casamento. 
Vale ressaltar, no entanto, que esse modelo passou a sofrer alterações, principalmente durante a segunda metade do século XX, quando o laço formal do matrimônio passou a ser substituído pela afetividade e por um projeto de vida em comum. 
CF/88 protege diferentes modalidades de família 
A CF/88 prevê não apenas a família decorrente do casamento (família matrimonial), sendo protegidas outras modalidades de família. Umas das espécies de família protegidas pela Constituição é a família derivada da união estável, seja ela hétero ou homoafetiva. Isso está expresso no § 3º do art. 226 do Texto Constitucional:
Art. 226 (...) § 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. 
Código Civil de 2002 regrediu no tratamento do tema 
O legislador, cumprindo a vontade constituinte, editou duas leis ordinárias que equiparavam os regimes jurídicos sucessórios do casamento e da união estável (Lei nº 8.971/94 e Lei 9.278/96). 
O Código Civil de 2002, no entanto, regrediu no tratamento do tema e “desequiparou”, para fins de sucessão, o casamento e a união estável, fazendo com que o(a) companheiro(a) do falecido tivesse uma proteção bem menor do que aquela que é conferida ao cônjuge. 
Dessa forma, o CC-2002 promoveu verdadeiro retrocesso, criando uma hierarquização entre as famílias, o que não é admitido pela Constituição, que trata todas as famílias com o mesmo grau de valia, respeito e consideração. 
Princípios constitucionais violados
Dessa forma, o art. 1.790 do CC é inconstitucional porque viola: 
 o princípio da igualdade; 
 a dignidade da pessoa humana; 
 o princípio da proporcionalidade (na modalidade de proibição à proteção deficiente) e 
 o princípio da vedação ao retrocesso. 
Já que o art. 1.790 é inconstitucional, o que se deve fazer no caso de sucessão de companheiro? Quais as regras que deverão ser aplicadas caso um dos consortes da união estável morra? 
O STF entendeu que a união estável deve receber o mesmo tratamento conferido ao casamento. Logo, em caso de sucessão causa mortis do companheiro deverão ser aplicadas as mesmas regras da sucessão causa mortis do cônjuge, regras essas que estão previstas no art. 1.829 do CC. 
O STF apreciou o tema em sede de recurso extraordinário submetido à repercussão geral e fixou a seguinte tese: 
No sistema constitucional vigente, é inconstitucional a diferenciação de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no artigo 1.829 do Código Civil. STF. Plenário. RE 646721/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso e RE 878694/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 10/5/2017 (repercussão geral) (Info 864). 
Assim, no art. 1.829 do CC, onde se lê: “cônjuge”, deve-se agora ler: “cônjuge ou companheiro(a)” Como consequência dessa decisão, o companheiro passa a ser considerado herdeiro necessário.

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