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analise argumentativa sobre discurso do advogado de defesa do caso nardoni

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REVISTA DIREITO, CULTURA E CIDADANIA – CNEC OSÓRIO / FACOS 
ANO 2 – VOL. 3 – Nº 3 – MARÇO/2012 – ISSN 2236-3734 
. 
Página 6 
Análise argumentativa sobre discurso do advogado de defesa do 
caso Nardoni 
 
Carolina Cardoso1 
Edna Barcela1 
Débora Leffa1 
Cristina Maria de Oliveira2 
 
Resumo: Neste estudo, o objetivo é analisar o discurso do advogado de defesa do casal acusado da 
morte de uma menina de cinco anos, agredida pelo pai e sua madrasta. O caso foi destaque de mídia 
no ano de 2008 e comoveu a sociedade brasileira. Quer-se aqui analisar, pausadamente, na fala do 
advogado, os aspectos que mostram as estratégias utilizadas por ele para convencer o promotor de 
justiça que participou do julgamento do casal. 
 
Palavras-chaves: Argumentação. Convencimento. Discurso. Comunicação. 
 
Abstract: In this study, the objective is analyze the speech of the defense lawyer of the couple 
accused of the deaf of a girl of five years old, assaulted by father and her stepmother. The case was 
headline in 2008 and moved the Brazilian society. Want to analyze here, slowly, in the lawyer speech, 
the aspects that show the strategies used by him to convince the prosecutor who participated of the 
couple’s judgment. 
 
Keywords: Argumentation. Conviction. Speech. Communication. 
 
Introdução 
 
Apresenta-se uma análise da entrevista dada ao programa dominical de TV, 
Fantástico, pelo advogado de defesa Roberto Podval, sobre o julgamento do casal 
Nardoni, acusado pela morte da menina Isabella Nardoni filha de Alexandre Nardoni 
e entiada de Ana Carolina Jatobá. 
 
A entrevista foi analisada a partir do vídeo de gravação; as perguntas feitas, tanto ao 
promotor do caso quanto ao advogado em questão, foram submetidas a uma análise 
argumentativa. As falas de Roberto Podval foram aproximadas a parâmetros 
discursivos, como: argumentos utilizados, dinâmica argumentativa, conteúdo da fala, 
recursos discursivos extras a que o autor recorre, argumentos de convencimento, 
entre outros elementos. 
 
Objetivou-se, através desse estudo, compreender o poder de um discurso que se 
utiliza de argumentação para convencer o ouvinte. 
 
1
 Acadêmica do curso de Letras - FACOS/CNEC Osório. 
2
 Orientadora do estudo na disciplina de Análise do Desempenho Linguístico Articulado ao Discurso. 
 
 
 REVISTA DIREITO, CULTURA E CIDADANIA – CNEC OSÓRIO / FACOS 
ANO 2 – VOL. 3 – Nº 3 – MARÇO/2012 – ISSN 2236-3734 
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O discurso de defesa no caso Nardoni 
 
Para fins de contextualização, considerou-se necessário retomar algumas 
informações do fato. O caso Nardoni, assim como ficou conhecido através da mídia, 
está relacionado à morte da menina Isabella de Oliveira Nardoni, de cinco anos de 
idade, que foi agredida e jogada do sexto andar de um edifício em São Paulo, na 
noite do dia 29 de março de 2008. O caso teve grande repercussão no país, visto 
que Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá, respectivamente pai e madrasta da 
criança, foram condenados por homicídio doloso triplamente qualificado, no caso do 
pai, e por crime hediondo, no caso da madrasta. 
 
Após assistir detalhadamente a entrevista, destacaram-se alguns pontos na fala do 
advogado, o que comprova a intenção e o objetivo do discurso. 
 
Convencimento discursivo 
 
Existem diferentes maneiras de convencimento, através de manipulação, 
divulgação, sedução, argumentação ou demonstração. O que se pode observar nas 
falas analisadas a seguir, do advogado Podval, é a presença principalmente de uma 
linha de argumentação, onde o profissional tentava provar, por meio de argumentos, 
o não cometimento de um crime. 
 
Para dar início às análises, vale ressaltar uma concepção sobre argumentação: 
 
Saber argumentar não é um luxo, mas uma necessidade. Não saber 
argumentar não seria, aliás, uma das grandes causas recorrentes da 
desigualdade cultural, que se sobrepõe às tradicionais desigualdades 
sociais e econômicas, reforçando-as? Não saber tomar a palavra para 
convencer não seria, no final das contas, uma das grandes causas de 
exclusão? (BRETON, 1999, p.19) 
 
Aqui se ressalta a força e o poder daquele que, dentro de uma sociedade, sabe 
argumentar a seu favor, visto que os que possuem dificuldades para se expressar 
podem acabar tornando-se vítimas de exclusão social. Para um advogado, como foi 
ressaltado neste documento, o poder da argumentação é fundamental, para que se 
construa uma visão considerável a cerca de seu trabalho profissional. Um advogado, 
portanto, tem grande poder a desempenhar em sua fala, com caráter deliberatporio 
 
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e determinante sobre contextos e discursos de outros indivíduos, assim como 
afirma MOSCA (2006, p. 10) “ ...a Linguagem passa a ser vista como forma de ação 
sobre o outro, cujo alcance tem valor persuasivo e decisório.” Com o conhecimento 
amplo que possui sobre as palavras, Podval consegue articulá-las de forma que 
atinja seu objetivo discursivo, e decida, pela escolha dessas palavras, o que os 
ouvintes aceitarão como verdade. 
 
Para que haja uma comunicação efetiva e para que se possa compreender o 
discurso comunicado, é preciso observar elementos constituintes da argumentação. 
Assim, identificam-se: 
 
 o orador: aquele que se coloca na postura de um transportador de opinião; 
 o argumento: defendido pelo orador, é um tipo de opinião exposta para 
convencer; 
 o auditório: quem o orador quer convencer para que possa aderir a opinião 
que ele está expondo; 
 o contexto de recepção: trata-se do conjunto de opiniões, valores e 
julgamentos que receberão o argumento; ele é de extrema importância, pois 
existem diferenciados contextos de recepções. 
 
Vale lembrar que as pessoas são carregadas de conhecimentos empíricos ao longo 
da trajetória de sua vida e que já possuem alguns conceitos e opiniões 
estabelecidas; então, o argumento deve ser formulado juntamente com o contexto 
de recepção. 
 
Fragmentos da entrevista 
 
O advogado, ao comentar sobre o dia do julgamento diz: 
 
“É assustador! É assustador, nós íamos pro julgamento, e eu não podia 
entrar pela porta da frente. Eu, pra chegar ao fórum, eu tinha que chegar 
cada dia com um carro diferente, pra não saberem que era eu. Tinha que ter 
reforço policial pra me acompanhar. Eu não pude sai do fórum pra almoçar, 
porque o dia que eu sai, eu apanhei!”. 
 
Aqui se percebe que o objetivo do trecho é convencer sobre a situação de 
sofrimento que ele viveu naquele dia. Isso fica mais explícito quando usa as 
 
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expressões: “É assustador”, “não podia entrar pela porta da frente”, “eu apanhei”. É 
um argumento extremamente apelativo e que também pode ser enquadrado em um 
argumento de testemunho por parte do advogado. 
 
Conforme Breton, 
 
O fato de ter estado presente a uma manifestação, um acontecimento, 
confere uma autoridade segura, que fundamenta o argumento de 
testemunho. O testemunho de um fato terá mais peso para propor seu 
enquadramento em uma perspectiva argumentativa. (1999, p.82) 
 
Como o referido autor explicita sobre o argumento de testemunho, nessa fala do 
advogado Podval é possível perceber que, além de ser um tanto apelativa por tentar 
comover o entrevistador ao dizer que foi quase agredido, o entrevistado ainda se 
utiliza de seu próprio testemunho, visto que ele vivenciou a situação, para dar ainda 
mais ênfase a esse argumento. 
 
Mais adiante naentrevista, o advogado fala sobre a pena que o casal sofreu: 
 
 “A opinião pública... o que foi construído durante esses 2 anos, e que era 
impossível ser reconstruído em 5 dias...eu pergunto a prova técnica chega a 
autoria do delito? E a verdade é que não.” [...] “Os jurados são membros da 
própria sociedade. A sociedade tá contaminada, não é possível que eles 
não estivessem.” [...]“A pena representa o clamor que o juiz também sentia 
todo dia que entrava no fórum... Justa? A gente não tem a verdade do que 
aconteceu.” 
 
Percebe-se a intencionalidade no discurso do advogado ao tentar desmoralizar a 
decisão das autoridades, nesse caso o Juiz ou promotor; mostra-se contrário, 
usando o argumento de autoridade. Teoricamente pode ser explicado: 
 
O real descrito é o real aceitável porque a pessoa que o descreve tem a 
autoridade para fazê-lo. Esta autoridade deve ser evidentemente aceita pelo 
auditório para que ele, por sua vez, aceite como verossímil o que lhe é 
proposto.(BRETON, 1999, p.76) 
 
Ao atribuir a pena para o casal Nardoni, o tribunal do júri utilizou-se de argumentos 
de autoridade, como o que é citado acima em Breton: um argumento feito por 
alguém que tem autoridade embasada em algo verossímil que é provado. No 
entanto, o advogado rebate e não se conforma com a decisão tomada, negando o 
que é proposto. 
 
 
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Em sequência, na entrevista, quando Podval fala sobre o fim do caso, ele faz 
praticamente um apelo: 
 
“Eu tenho esperança que agora... uma etapa jurídica, uma etapa racional... 
Eu acabaria pedindo que a população hoje respeitasse essa família tão 
sofrida, deixasse pelo menos que a família continuasse sua vida dentro de 
um mínimo de respeito.” 
 
Ao empregar os elementos linguísticos “esperança”, “tão sofrida”, “pelo menos”, 
Podval tenta aflorar o sentimento de compaixão; deseja persuadir as pessoas para 
se sentirem comovidas, e até mesmo culpadas, pelo sofrimento da família. Ou seja, 
Podval nesse trecho de seu discurso apela para a emoção, e há uma forte tendência 
de ser aceito, como afirma Golemann (1995, p.20): “Como sabemos por experiência 
própria, quando se trata de moldar nossas decisões e ações, a emoção pesa tanto – 
e às vezes muito mais – quanto a razão.” 
 
E, ainda, quando utiliza o termo “etapa racional”, desconsidera a fala da acusação, 
fazendo entender que tudo até agora foi “amador” e, não, profissional. 
 
Segundo Breton (1999, p. 76), “O ato de convencer apresenta-se, de uma maneira 
geral, como uma alternativa ao uso da violência física.” O advogado apela sutilmente 
para as pessoas reconhecerem sua fala como absoluta; utiliza argumentos de 
apelação e manipulação. 
 
Considerações finais 
 
Percebeu-se, através da análise de trechos da entrevista, a intencionalidade 
discursiva de Podval ao tentar transmitir a ideia de que o casal acusado é, também, 
vítima da situação. Esse fio condutor do discurso persiste até o final da entrevista e 
pode ser concebido como um argumento persuasivo à formação de opinião dos 
ouvintes/leitores da entrevista. 
 
 Em Breton (1999, p.8), há um esclarecimento sobre como é possível analisar alguns 
argumentos: “Os meios de convencer podem [...] ser acionados de maneira discreta 
e até sem que o outro saiba que está sendo objeto de uma solicitação”. É necessária 
 
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uma audição perceptiva e crítica para reconhecer a intenção do discurso através das 
palavras empregadas. 
 
Em contextos gerais e não apenas em casos como o que acabou de ser analisado, 
as pessoas, muitas vezes, acabam tornando-se vítimas de um discurso persuasivo 
sem perceber. No caso do discurso que foi analisado a pouco, as “vítimas” que o 
advogado Podval buscou atingir foram tanto o tribunal do júri como o publico que 
acompanhou o caso pela mídia. Em outros contextos, no cotidiano corriqueiro das 
pessoas, vale a pena ressaltar e observar o quanto a mídia bombardeia a população 
com discursos persuasivos, mas que de tão bem estruturados acabam mascarando 
a sua verdadeira intencionalidade, e os ouvintes/leitores tornam-se vítimas 
inconscientes, quando por exemplo, rendem-se a compra de um produto bem 
anunciado nos meios de comunicação. 
 
Referências 
 
BRETON, Philippe. A argumentação na comunicação. São Paulo: EDUSC, 1999. 
 
GOLEMANN, Daniel. Inteligência emocional: teoria revolucionária. Rio de Janeiro: 
Editora Objetiva, 1995. 
 
MOSCA, Lineide Salvador.Discurso, argumentação e produção de sentido. São 
Paulo: Associação Editorial Humanitas, 2006. 
 
WWW.wikipedia.org - Acessado em: 17 de Novembro, às 18h35mim.

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