Buscar

aula 14 adm

Prévia do material em texto

Aula 14
Direito Administrativo p/ Magistratura Federal (Curso Regular)
Professor: Erick Alves
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 1 de 89
OBSERVA‚ÌO IMPORTANTE
Este curso Ž protegido por direitos autorais (copyright),
nos termos da Lei 9.610/98, que altera, atualiza e consolida a
legisla‹o sobre direitos autorais e d‡ outras providncias.
Grupos de rateio e pirataria s‹o clandestinos, violam
a lei e prejudicam os professores que elaboram os
cursos.
Valorize o trabalho de nossa equipe adquirindo os cursos
honestamente atravŽs do site EstratŽgia Concursos ;-)
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 2 de 89
AULA 14
Ol‡ pessoal!
O tema da aula de hoje Ž Interven‹o do Estado na propriedade
privada.
Estudaremos os seguintes assuntos:
SUMÁRIO
Intervenção do Estado na propriedade privada .............................................................................................3
Modalidades de intervenção ......................................................................................................................................6
Servidão administrativa...............................................................................................................................................7
Requisição administrativa .......................................................................................................................................11
Ocupação temporária.................................................................................................................................................14
Limitações administrativas .....................................................................................................................................16
Tombamento..................................................................................................................................................................17
Desapropriação...............................................................................................................................................................24
Bens desapropriáveis.................................................................................................................................................25
Procedimento ................................................................................................................................................................25
Indenização ....................................................................................................................................................................31
Imissão provisória na posse....................................................................................................................................33
Destino dos bens desapropriados ........................................................................................................................33
Desapropriação sancionatória ...............................................................................................................................34
Desapropriação indireta ...........................................................................................................................................36
Direito de extensão .....................................................................................................................................................38
Tredestinação................................................................................................................................................................38
Retrocessão ....................................................................................................................................................................39
Questões de prova .........................................................................................................................................................45
RESUMÃO DA AULA .......................................................................................................................................................74
Questões comentadas na aula ................................................................................................................................74
Gabarito ...............................................................................................................................................................................89
Vamos l‡?!
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 3 de 89
INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE PRIVADA
Nesta aula estudaremos as principais modalidades de interven‹o
do Estado na propriedade privada.
Mas, professor, como assim Òinterven‹oÓ do Estado? O direito de
propriedade n‹o Ž absoluto?
Pois bem, vamos por partes. De fato, ˆ Žpoca dos Estados liberais
(sŽculos XVIII e XIX), o direito de propriedade era considerado absoluto.
Naquela Žpoca, da mesma forma que se pregava a ausncia do Estado na
economia, tambŽm n‹o se admitia a interferncia estatal na propriedade
privada.
PorŽm, no sŽculo XX, esse entendimento comeou a mudar. Passou-
se a considerar que o papel do Estado seria o de prover a sociedade com o
m’nimo de conforto material, prestando-lhe servios essenciais. Era o
per’odo do Estado do bem-estar social. A partir de ent‹o, deixou-se de dar
tanta import‰ncia aos direitos de cada indiv’duo para conferir maior
prote‹o aos interesses coletivos, de toda a sociedade. Por conseguinte,
passou-se a admitir que alguns direitos individuais, dentre eles o direito
de propriedade, pudessem ser mitigados ou restringidos em prol do
interesse da coletividade.
Na Constitui‹o Federal, o direito de propriedade Ž reconhecido no
art. 5¼, XII: Ҏ garantido o direito de propriedadeÓ. O dispositivo indica
que esse direito n‹o poder‡ ser suprimido do nosso ordenamento jur’dico,
mas, por outro lado, n‹o impede que ele seja condicionado e limitado.
Em outras palavras, a propriedade n‹o Ž mais um direito absoluto, como
ocorria na Žpoca medieval.
Com efeito, j‡ no inciso seguinte do art. 5¼, o texto constitucional
disp›e: Òa propriedade atender‡ a sua fun‹o socialÓ. Ou seja, hoje, o
direito de propriedade s— se justifica para atender a fun‹o social, vale
dizer, para proporcionar o bem-estar da coletividade em geral, e n‹o
apenas do indiv’duo que detŽm a posse do bem. Se a propriedade n‹o
est‡ atendendo a sua fun‹o social, o Estado deve intervir para amold‡-
la a essa qualifica‹o, estabelecendo obriga›es, limita›es ou mesmo se
apropriando do bem, tudo com o intuito de impedir o uso ego’stico e
antissocial da propriedade1.
1 Carvalho Filho (2014, p. 791).
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 4 de 89
Como se nota, dois princ’pios fundamentais sustentam a possibilidade
de o Estado intervir na propriedade privada: a supremacia do interesse
pœblico sobre o dos particulares e a fun‹o social da propriedade.
No que tange ˆ supremacia do interesse pœblico, o Estado,
quando intervŽm na propriedade de um particular, age de forma vertical,
ou seja, cria imposi›es que de alguma forma restringem ou atŽ mesmo
impedem o uso da propriedade pelo seu dono. E faz isso exatamente pela
posi‹o de supremacia que ostenta relativamente aos interesses privados,
com o intuito de defender o interesse pœblico.
Em rela‹o ˆ fun‹o social, trata-se, na verdade, de um conceitojur’dico indeterminado. A Constitui‹o, contudo, procurou dar-lhe alguma
objetividade em certas passagens.
No cap’tulo destinado ˆ pol’tica urbana, diz a Constitui‹o: ÒA
propriedade urbana cumpre sua fun‹o social quando atende ˆs
exigncias fundamentais de ordena‹o da cidade expressas no plano
diretorÓ (art. 182, ¤2¼). Portanto, no que tange ˆ propriedade urbana,
o paradigma para a express‹o da sua fun‹o social Ž o plano diretor do
Munic’pio. Por exemplo, o indiv’duo adquire de um particular um terreno ˆ
beira lago cuja destina‹o, no plano diretor do Munic’pio, Ž ser um espao
para o lazer da popula‹o em geral, s— que o novo propriet‡rio coloca
uma cerca ao redor do terreno e resolve construir uma casa para sua
pr—pria moradia. Nessa situa‹o, a propriedade n‹o est‡ cumprindo sua
fun‹o social, mas apenas satisfazendo o interesse de seu propriet‡rio, o
que autoriza a interven‹o do Munic’pio. De fato, em caso de
descumprimento do plano diretor, a Constitui‹o confere poderes
interventivos ao Munic’pio, os quais podem culminar na desapropria‹o do
bem (art. 182, ¤4¼2), conforme veremos adiante.
Quanto ˆ propriedade rural, a Constitui‹o estabelece requisitos
m’nimos para que se considere atendida a sua fun‹o social. Segundo o
art. 186, a fun‹o social Ž cumprida quando a propriedade rural atende,
simultaneamente, segundo critŽrios e graus de exigncia estabelecidos
em lei, aos seguintes requisitos:
2 § 4º & É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor,
exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado,
que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I & parcelamento ou edificação compulsórios;
II & imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;
III & desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada
pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas,
assegurados o valor real da indenização e os juros legais.
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 5 de 89
! Aproveitamento racional e adequado;
! Utiliza‹o adequada dos recursos naturais dispon’veis e preserva‹o do
meio ambiente;
! Observ‰ncia das disposi›es que regulam as rela›es de trabalho;
! Explora‹o que favorea o bem-estar dos propriet‡rios e dos trabalhadores.
Ademais, a CF considera que, automaticamente, h‡ o cumprimento
da fun‹o social na pequena e mŽdia propriedade rural, bem como na
propriedade produtiva (art. 1853).
Caso a propriedade rural n‹o cumpra a sua fun‹o social, a
Constitui‹o autoriza a Uni‹o a promover a respectiva desapropria‹o
por interesse social, para fins de reforma agr‡ria (art. 184, caput4),
como tambŽm veremos na sequncia da aula.
Ao condicionar o direito ˆ propriedade ao atendimento da sua fun‹o
social, o texto constitucional, de um lado, assegura o direito do
propriet‡rio, tornando inatac‡vel sua propriedade caso ela esteja
cumprindo aquela fun‹o (o Estado tem o dever jur’dico de respeit‡-la
nessas condi›es), e, de outro, imp›e ao propriet‡rio o dever jur’dico de
mant-la ajustada ˆ exigncia constitucional, garantindo ao Estado
(abrangendo, aqui, todos os entes da Federa‹o) o poder de interven‹o
na propriedade que estiver em dŽbito com a fun‹o social.
Na mesma linha, o C—digo Civil disp›e que o propriet‡rio tem a
faculdade de Òusar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reav-la do
poder de quem quer que injustamente a possua ou detenhaÓ (art. 1.228).
Mas em seguida, faz a seguinte ressalva, condizente com o car‡ter social
da propriedade: Òo direito de propriedade deve ser exercido em
conson‰ncia com as suas finalidades econ™micas e sociais e de modo
que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei
especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equil’brio ecol—gico
e o patrim™nio hist—rico e art’stico, bem como evitada a polui‹o do ar
e das ‡guasÓ (art. 1.228, ¤1¼). Por fim, o C—digo admite a perda da
3 Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária:
I & a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra;
II & a propriedade produtiva.
Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à propriedade produtiva e fixará normas para o
cumprimento dos requisitos relativos a sua função social.
4 Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural
que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida
agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do
segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei.
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 6 de 89
propriedade por desapropria‹o por necessidade ou utilidade pœblica, ou
interesse social, bem como sua priva‹o tempor‡ria na hip—tese de
requisi‹o, em caso de perigo pœblico iminente (art. 1.228, ¤3¼). Essas
disposi›es do C—digo Civil reforam o sentido social da propriedade. Se o
propriet‡rio n‹o respeita essa fun‹o, nasce para o Estado o poder
jur’dico de nela intervir e atŽ de suprimi-la.
Resumindo essas no›es, Carvalho Filho conceitua interven‹o do
Estado na propriedade privada da seguinte forma:
Interven‹o do Estado na propriedade privada: toda e qualquer
atividade estatal que, amparada em lei, tenha por fim ajustar a
propriedade aos inœmeros fatores exigidos pela fun‹o social a que est‡
condicionada.
Mas, como se d‡ a interven‹o do Estado na propriedade privada? ƒ
somente por meio da desapropria‹o ou existem outras formas? ƒ o que
veremos em seguida.
MODALIDADES DE INTERVENÇÃO
Carvalho Filho ensina que existem duas formas b‡sicas de
interven‹o do Estado na propriedade, a saber:
" Interven‹o restritiva
" Interven‹o supressiva
A interven‹o restritiva Ž aquela em que o Estado imp›e restri›es
e condicionamentos ao uso da propriedade, sem, no entanto, retir‡-la de
seu dono. S‹o modalidades de interven‹o restritiva: servid‹o
administrativa, requisi‹o, ocupa‹o tempor‡ria, limita›es
administrativas e tombamento.
A interven‹o supressiva, por sua vez, Ž aquela em que o Estado,
valendo-se da supremacia que possui em rela‹o aos indiv’duos, transfere
coercitivamente para si a propriedade de terceiro, em virtude de algum
interesse pœblico previsto na lei. Em outras palavras, o dono efetivamente
perde a sua propriedade em favor do Estado. A œnica modalidade de
interven‹o supressiva Ž a desapropria‹o.
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 8 de 89
pode o Estado faz-lo em rela‹o aos bens da Uni‹o. Por outro lado
(desde que haja autoriza‹o legislativa), a Uni‹o pode instituir servid‹o
em rela‹o a bens estaduais e municipais, e o Estado em rela‹o a bens
municipais. Na verdade, essa regra de ÒhierarquiaÓ entre os entes
federados vale para todas as modalidades de interven‹o que podem
incidir sobre bens pœblicos.
As servid›es administrativas podem ser institu’das por meio de
acordo administrativo ou por sentena judicial. Por essa raz‹o, diz-se
que, na servid‹o administrativa, n‹o h‡ autoexecutoriedade.
Pelo acordo administrativo, o Poder Pœblico e o particular
propriet‡rio do im—vel celebram um acordo formal permitindo que o
Estado utilize a propriedade para determinada finalidade de interesse
pœblico. Esse acordo deve ser sempre precedidoda declara‹o de
necessidade pœblica de instituir a servid‹o por parte do Estado. Essa
declara‹o Ž feita por meio de decreto do Chefe do Executivo.
Quando n‹o h‡ acordo entre as partes, a servid‹o pode ser institu’da
por sentena judicial. O mais comum Ž o Poder Pœblico entrar com a‹o
contra o propriet‡rio. Mas tambŽm pode ocorrer o contr‡rio, ou seja, o
propriet‡rio entrar com a‹o contra o Poder Pœblico caso, por exemplo, o
Estado passe a usar sua propriedade sem a institui‹o formal da servid‹o
e, consequentemente, sem lhe pagar a devida indeniza‹o.
Por falar em indeniza‹o, ela s— Ž devida para ressarcir os danos
ou preju’zos causados pelo Poder Pœblico durante o uso. Afinal, n‹o
h‡ transferncia de propriedade. Portanto, se o Poder Pœblico n‹o
provocar nenhum dano ou preju’zo ao im—vel, o propriet‡rio n‹o far‡ jus a
qualquer indeniza‹o. Por outro lado, se houver preju’zo, o propriet‡rio
dever‡ ser indenizado em montante equivalente ao preju’zo. E o ™nus da
prova Ž do propriet‡rio, ou seja, Ž ele quem deve demonstrar que o
Poder Pœblico danificou seu im—vel e, por isso, lhe deve a indeniza‹o.
O prazo de prescri‹o para o particular pleitear indeniza‹o no caso
de servid‹o administrativa Ž de cinco anos, contados da efetiva restri‹o
imposta pelo Poder Pœblico (Decreto-lei 3.365/1941, art. 10, par‡grafo
œnico).
Sendo a servid‹o administrativa um direito real em favor do Poder
Pœblico sobre a propriedade alheia, cabe inscrev-la no Registro de
Im—veis para produzir efeitos erga omnes, ou seja, para assegurar o
conhecimento do fato por terceiros interessados.
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 11 de 89
REQUISIÇÃO ADMINISTRATIVA
Requisi‹o administrativa Ž a utiliza‹o coativa de bens e servios
particulares pelo Estado em situa‹o de perigo pœblico iminente, com
indeniza‹o posterior, se houver dano.
A express‹o-chave para a requisi‹o, portanto, Ž Òperigo pœblico
iminenteÓ, que Ž aquele perigo que n‹o apenas coloca em risco a
coletividade, mas que tambŽm est‡ prestes a acontecer.
Na Constitui‹o Federal, o instituto est‡ previsto em seu art. 5¼,
XXV:
XXV - no caso de iminente perigo pœblico, a autoridade competente poder‡
usar de propriedade particular, assegurada ao propriet‡rio indeniza‹o
ulterior, se houver dano;
A requisi‹o administrativa pode ser militar ou civil. A requisi‹o
militar objetiva o resguardo da segurana interna e a manuten‹o da
soberania nacional, diante de conflito armado, como‹o interna etc.; a
requisi‹o civil, por sua vez, visa a evitar danos ˆ vida, ˆ saœde e aos
bens da coletividade, diante de inunda‹o, incndio, sonega‹o de
gneros de primeira necessidade, epidemias, cat‡strofes etc5.
A requisi‹o pode incidir sobre bens m—veis e im—veis, assim como
sobre servios particulares. Numa situa‹o de iminente calamidade
pœblica, por exemplo, a Administra‹o poder‡ requisitar o uso de im—vel
particular ou dos equipamentos e dos servios mŽdicos de um hospital
privado. Outros exemplos seriam a utiliza‹o de ve’culo particular pela
Pol’cia para a persegui‹o de criminosos ou o uso de uma escada
particular pelos Bombeiros para combater incndio.
Diante da situa‹o de perigo iminente, a requisi‹o poder‡ ser
decretada de imediato, sem a necessidade de prŽvia autoriza‹o
judicial. Trata-se, portanto, de um ato autoexecut—rio. A œnica
condi‹o Ž a existncia do perigo pœblico iminente e a observ‰ncia das
formalidades legais quanto ˆ competncia para a pr‡tica do ato e ao
procedimento adequado.
A Constitui‹o Federal estabelece que compete privativamente ˆ
Uni‹o legislar sobre requisi›es civis e militares, em caso de iminente
perigo e em tempo de guerra (art. 22, III). Tal competncia, porŽm, Ž
apenas legislativa, ou seja, para editar leis sobre o assunto. De fato,
5 Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo (2014, p. 1027).
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 14 de 89
OCUPAÇÃO TEMPORÁRIA
Ocupa‹o tempor‡ria Ž a forma de interven‹o pela qual o Poder
Pœblico usa transitoriamente im—veis privados, como meio de apoio ˆ
execu‹o de obras e servios pœblicos.
ƒ o caso, por exemplo, de quando a Administra‹o, em obras de
estradas, usa terreno particular como local para guardar m‡quinas e
equipamentos ou para montagem de barracas de oper‡rios. Ocorre
tambŽm quando o Poder Pœblico usa escolas, clubes e outros
estabelecimentos privados como locais de vota‹o nas elei›es ou como
postos de vacina‹o nas campanhas pœblicas.
Detalhe Ž que a ocupa‹o tempor‡ria s— incide sobre bem im—vel.
A institui‹o da ocupa‹o tempor‡ria Ž ato autoexecut—rio, ou seja,
n‹o depende de prŽvia autoriza‹o do Poder Judici‡rio.
J‡ a sua extin‹o d‡-se com a conclus‹o da obra ou servio pelo
Poder Pœblico, ou seja, com o fim da necessidade que lhe deu causa.
Na ocupa‹o tempor‡ria, assim como na servid‹o e na requisi‹o, a
indeniza‹o tambŽm Ž condicionada ˆ ocorrncia de preju’zo ao
propriet‡rio, ou seja, em princ’pio n‹o haver‡ indeniza‹o alguma; esta
s— ser‡ devida se o uso do bem particular acarretar preju’zo ao seu
propriet‡rio7.
Ocorre em cinco anos a prescri‹o para que o propriet‡rio postule
indeniza‹o pelos preju’zos decorrentes da ocupa‹o tempor‡ria.
7 Há casos em que a ocupação temporária incide sobre terrenos vizinhos a obras públicas vinculadas ao
processo de desapropriação. Nestes casos, a ocupação temporária será sempre indenizada,
independentemente de dano. É o que dispõe o art. 36 do Decreto 3.365/1941, que trata da desapropriação
por utilidade pública: “É permitida a ocupação temporária, que será indenizada, afinal, por ação própria, de
terrenos não edificados, vizinhos às obras e necessários à sua realização”.
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 16 de 89
LIMITAÇÕES ADMINISTRATIVAS
Limita›es administrativas s‹o determina›es de car‡ter geral,
previstas em lei ou em ato normativo, por meio das quais o Poder
Pœblico imp›e a propriet‡rios indeterminados obriga›es de fazer
(obriga›es ÒpositivasÓ), ou obriga›es de deixar de fazer alguma coisa
(obriga›es ÒnegativasÓ, ou de Òn‹o fazerÓ ou de ÒpermitirÓ), com a
finalidade de assegurar que a propriedade atenda sua fun‹o social.
No caso das limita›es administrativas, o Poder Pœblico n‹o pretende
realizar qualquer obra ou servio pœblico. Pretende, ao contr‡rio,
condicionar as propriedades ˆ fun‹o social que delas Ž exigida, ainda que
contrariando o interesse individual dos respectivos propriet‡rios.
S‹o exemplos de limita›es administrativas: a obriga‹o de observar
o recuo de alguns metros das constru›es em terrenos urbanos; a
proibi‹o de desmatamento de parte da ‡rea de floresta em propriedade
rural; proibi‹o de construir alŽm de determinado nœmero de pavimentos;
a obrigatoriedade de permitir vistorias em elevadores de edif’cios ou o
ingresso de agentes para fins de vigil‰ncia sanit‡ria etc.
Como se nota, as limita›es administrativas possuem fundamento no
poder de pol’cia do Estado.
As limita›es administrativas podem incidir tanto sobre bens
im—veis como sobre quaisquer outros bens e atividades
particulares.
Devem ser sempre gerais, dirigidas a propriedades
indeterminadas, e jamais a algum particular espec’fico. Geralmente, tm
origem em leis e atos normativos de natureza urbanista.
Sendo imposi›es de car‡ter geral, dirigida a pessoas
indeterminadas, as limita›es administrativas, de regra, n‹o afetam
diretamente o direito subjetivo de alguŽm, raz‹o pela qual n‹o d‹o
ensejo ˆ indeniza‹o em favor dos propriet‡rios. Com efeito, ospreju’zos eventualmente ocorridos n‹o s‹o individualizados, mas sim
gerais, devendo ser suportados pelos prejudicados em favor da
coletividade.
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 18 de 89
O patrim™nio cultural brasileiro Ž constitu’do por bens de natureza
material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto,
portadores de referncia ˆ identidade, ˆ a‹o e ˆ mem—ria dos diferentes
grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem (CF,
art. 216):
! as formas de express‹o;
! os modos de criar, fazer e viver;
! as cria›es cient’ficas, art’sticas e tecnol—gicas;
! as obras, objetos, documentos, edifica›es e demais espaos destinados
ˆs manifesta›es art’stico-culturais;
! os conjuntos urbanos e s’tios de valor hist—rico, paisag’stico, art’stico,
arqueol—gico, paleontol—gico, ecol—gico e cient’fico.
Pelo tombamento, o Poder Pœblico protege bens que s‹o considerados
de valor hist—rico ou art’stico, determinando a sua inscri‹o nos chamados
Livros do Tombo. Como consequncia dessa medida, o bem, ainda que
pertencente a particular, passa a ser considerado bem de interesse
pœblico, sujeitando o seu titular a uma sŽrie de restri›es. Ou seja, no
tombamento, da mesma forma que nas demais modalidades de
interven‹o j‡ estudadas, os bens n‹o passam para a propriedade do
Poder Pœblico, mas apenas sofrem restri›es e condicionamentos no seu
uso.
Geralmente, os bens tombados s‹o im—veis que retratam a
arquitetura de Žpocas passadas. Mas tambŽm Ž comum o tombamento de
bairros ou atŽ mesmo de cidades, quando retratam aspectos culturais da
nossa Hist—ria. O tombamento pode ainda recair sobre bens m—veis,
como documentos textuais e acervos de museus.
Detalhe Ž que o tombamento tambŽm pode incidir sobre
bens pœblicos, vale dizer, bens pertencentes ˆs pessoas pol’ticas (Uni‹o,
Estados, DF e Munic’pios).
N‹o est‹o sujeitas ao tombamento as seguintes obras de origem
estrangeira (Decreto-lei 25/1937, art. 3¼):
! que pertenam ˆs representa›es diplom‡ticas ou consulares acreditadas
no pa’s;
! que adornem quaisquer ve’culos pertencentes a empresas estrangeiras,
que faam carreira no pa’s;
! que pertenam a casas de comŽrcio de objetos hist—ricos ou art’sticos;
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 19 de 89
! que sejam trazidas para exposi›es comemorativas, educativas ou
comerciais:
! que sejam importadas por empresas estrangeiras expressamente para
adorno dos respectivos estabelecimentos.
Ressalte-se que os bens estrangeiros que n‹o atendam a esses
requisitos podem ser objeto de tombamento.
A competncia para legislar sobre a prote‹o ao patrim™nio
hist—rico, cultural, art’stico, tur’stico e paisag’stico Ž concorrente entre a
Uni‹o, os Estados e o Distrito Federal Ð os Munic’pios n‹o est‹o
inclu’dos (CF, art. 24, VII).
Aos Munic’pios foi dada a atribui‹o de Òpromover a prote‹o do
patrim™nio hist—rico-cultural local, observada a legisla‹o e a a‹o
fiscalizadora federal e estadualÓ (CF, art. 30, IX). Vale dizer, os Munic’pios
n‹o tm competncia legislativa nessa matŽria8, mas devem utilizar os
instrumentos de prote‹o previstos na legisla‹o federal e estadual.
O tombamento pode ser volunt‡rio ou compuls—rio.
Ocorre o tombamento volunt‡rio sempre que o processo for
provocado pelo pr—prio propriet‡rio ou sempre que este consentir com a
proposta feita pelo Poder Pœblico. J‡ o tombamento compuls—rio Ž feito
por iniciativa do Poder Pœblico, mesmo contra a vontade do propriet‡rio.
O tombamento pode, ainda, ser provis—rio ou definitivo.
Ser‡ provis—rio enquanto est‡ em curso o processo instaurado pela
notifica‹o do Poder Pœblico, e definitivo quando, depois de conclu’do o
processo, o Poder Pœblico procede ˆ inscri‹o do bem como tombado, nos
respectivos registros oficiais. Para todos os efeitos, o tombamento
provis—rio se equiparar‡ ao definitivo (exceto quanto ao registro nos
livros oficiais, que somente Ž feito por ocasi‹o do tombamento definitivo).
Outra classifica‹o do tombamento, quanto aos destinat‡rios,
considera o individual, que atinge um bem determinado, e o geral, que
atinge todos os bens situados em um bairro ou cidade.
O tombamento Ž promovido mediante ato administrativo do Poder
Executivo. Tal ato deve ser sempre precedido de processo
8 Carvalho Filho ensina que a legislação federal e estadual poderá ser suplementada, no que couber, pela
legislaçãomunicipal, por força do art. 30, II da CF.
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 20 de 89
administrativo no qual se assegure ao propriet‡rio o direito ao
contradit—rio e ˆ ampla defesa. Neste processo s‹o obrigat—rios9:
! O parecer do —rg‹o tŽcnico cultural (na esfera federal, Ž o Instituto do
Patrim™nio Hist—rico e Art’stico Nacional Ð IPHAN);
! A notifica‹o ao propriet‡rio, que poder‡ manifestar-se anuindo com o
tombamento ou impugnando a inten‹o do Poder Pœblico de decret‡-lo;
! Decis‹o do Conselho Consultivo da pessoa incumbida do tombamento,
ap—s as manifesta›es dos tŽcnicos e do propriet‡rio. A decis‹o poder‡ ser
pela anula‹o do processo, se houver ilegalidade, pela rejei‹o da
proposta de tombamento ou pela homologa‹o da proposta;
! Possibilidade de interposi‹o de recurso pelo propriet‡rio, contra o
tombamento, a ser dirigido ao chefe do Poder Executivo.
O tombamento produz diversos efeitos, especialmente sobre a
aliena‹o, as transforma›es, a conserva‹o e a fiscaliza‹o do
bem tombado. Os principais efeitos do tombamento s‹o:
! ƒ vedado ao propriet‡rio, ou ao titular de eventual direito de uso, destruir,
demolir ou mutilar o bem tombado;
! O propriet‡rio somente poder‡ reparar, pintar ou restaurar o bem ap—s a
devida autoriza‹o do Poder Pœblico;
! O propriet‡rio dever‡ conservar o bem tombado para mant-lo dentro de
suas caracter’sticas culturais; se n‹o tiver para tanto, dever‡ comunicar
sua necessidade ao —rg‹o competente;
! Independentemente de solicita‹o do propriet‡rio, pode o Poder Pœblico,
no caso de urgncia, providenciar as obras de conserva‹o;
! Os propriet‡rios dos im—veis vizinhos n‹o podem, sem a autoriza‹o do
Poder Pœblico, fazer constru‹o que impea ou reduza a visibilidade do
im—vel tombado, nem nele colocar anœncios ou cartazes;
! O tombamento do bem n‹o impede o propriet‡rio de grav‡-lo por meio de
penhor, anticrese ou hipoteca;
! No caso de leil‹o judicial do bem tombado, o Poder Pœblico (Uni‹o,
Estado e Munic’pio, nesta ordem) tem direito de preferncia.
Por este œltimo item, repare que n‹o Ž vedada a aliena‹o do
bem particular tombado. PorŽm, se essa aliena‹o for feita em leil‹o
judicial (por exemplo, para executar uma d’vida do propriet‡rio), a
Uni‹o, o Estado e o Munic’pio onde se situe Ð nesta ordem Ð ter‹o direito
de preferncia na arremata‹o, em igualdade de oferta (CPC, art. 892,
9 Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo (2014, p. 1033f1034).
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 23 de 89
Passemos agora ao estudo da desapropria‹o, œnica modalidade de
interven‹o supressiva na propriedade e, por isso mesmo, mais cheia
de detalhes e mais cobrada em prova.
Em frente!
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 24 de 89
DESAPROPRIAÇÃO
Desapropria‹o ou expropria‹o Ž o procedimento administrativo
pelo qual o Poder Pœblico transferepara si a propriedade de terceiro, por
raz›es de utilidade pœblica, de necessidade pœblica ou de interesse social,
mediante o pagamento de prŽvia e justa indeniza‹o.
Na Constitui‹o Federal, a desapropria‹o est‡ prevista no art. 5¼,
XXIV:
XXIV - a lei estabelecer‡ o procedimento para desapropria‹o por
necessidade ou utilidade pœblica, ou por interesse social, mediante justa e
prŽvia indeniza‹o em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta
Constitui‹o;
Da leitura do dispositivo constitucional, ganham destaque os
poss’veis pressupostos da desapropria‹o:
" Necessidade pœblica ou utilidade pœblica;
" Interesse social.
A necessidade pœblica ocorre quando h‡ uma situa‹o de
emergncia cuja solu‹o requeira a transferncia da propriedade do bem
para o Poder Pœblico. Por exemplo, numa calamidade pœblica, pode ser
necess‡rio desapropriar im—veis que estejam em situa‹o de risco.
Diversamente, na utilidade pœblica a transferncia do bem Ž
conveniente e vantajosa ao interesse coletivo, mas n‹o imprescind’vel. Ou
seja, n‹o h‡ uma situa‹o de emergncia que imponha o ato
expropriat—rio. Exemplo de utilidade pœblica seria a desapropria‹o de um
im—vel para a constru‹o de uma escola ou para a abertura de vias
pœblicas.
Por sua vez, o interesse social ocorre quando as circunst‰ncias
imp›em a distribui‹o ou o condicionamento da propriedade para seu
melhor aproveitamento, utiliza‹o ou produtividade em benef’cio da
coletividade ou de categorias sociais merecedoras de amparo espec’fico do
Poder Pœblico. Em outras palavras, na desapropria‹o por interesse social,
busca-se realar a fun‹o social da propriedade, mediante a transferncia
do dom’nio do bem. Como exemplo, pode-se citar a desapropria‹o de
terras rurais para fins de reforma agr‡ria ou assento de colonos. ConvŽm
assinalar, desde logo, que os bens desapropriados por interesse social n‹o
se destinam ˆ Administra‹o, mas sim ˆ coletividade ou a certos
benefici‡rios que a lei credencia para recebe-los e utiliza-los
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 26 de 89
A primeira exigncia implica dizer que a entidade pol’tica ÒmaiorÓ ou
ÒcentralÓ (isto Ž, a que representa os interesses mais abrangentes, quais
sejam, nacional, regional e local, nesta ordem) pode desapropriar bens da
entidade pol’tica ÒmenorÓ ou ÒlocalÓ (que representa os interesses menos
abrangentes), mas o inverso n‹o Ž poss’vel.
Por exemplo, a Uni‹o pode desapropriar um bem pœblico estadual,
mas o Estado n‹o pode desapropriar um bem pœblico federal, embora
possa expropriar um bem pœblico municipal, desde que se trate de um
Munic’pio situado no seu territ—rio.
Disso decorre que os bens pœblicos federais s‹o inexpropri‡veis e que
os Estados n‹o podem desapropriar os bens de outros Estados ou de
Munic’pios situados em outros Estados, nem os Munic’pios podem
desapropriar bens de outras entidades federativas.
Essas regras tambŽm valem para os bens pertencentes ˆs entidades
da administra‹o indireta vinculadas a cada um dos entes federados,
inclusive no caso das entidades cujos bens se classificam formalmente
como bens privados (funda›es pœblicas de direito privado, empresas
pœblicas e sociedades de economia mista).
Assim, por exemplo, um Estado n‹o pode desapropriar os bens de
uma autarquia da Uni‹o, mas pode desapropriar os bens de uma empresa
pœblica vinculada a um Munic’pio situado em seu territ—rio.
O art. 2¼, ¤3¼ do Decreto-lei 3.365/1941 disp›e que Ž vedada a
desapropria‹o, pelos Estados, Distrito Federal, Territ—rios e Munic’pios de
a›es, cotas e direitos representativos do capital de institui›es e
empresas cujo funcionamento dependa de autoriza‹o do Governo Federal
e se subordine ˆ sua fiscaliza‹o, salvo mediante prŽvia autoriza‹o,
por decreto do Presidente da Repœblica.
Amparados nessa previs‹o legal, a doutrina e a jurisprudncia
constru’ram o entendimento de que um Munic’pio ou um Estado pode
desapropriar bens de uma entidade da administra‹o indireta
vinculada ˆ Uni‹o, desde que haja prŽvia autoriza‹o do Presidente
da Repœblica, concedida mediante decreto. Da mesma forma, um
decreto estadual pode autorizar um Munic’pio situado no respectivo
territ—rio a desapropriar bens de entidades administrativas vinculadas ao
Estado.
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 27 de 89
Em regra, um ente federado ÒmenorÓ n‹o pode
desapropriar os bens de entidades da
administra‹o indireta vinculadas a um ente
federado ÒmaiorÓ, salvo se houver autoriza‹o do
chefe do Poder Executivo do ente ÒmaiorÓ,
mediante decreto.
ƒ importante anotar que, de maneira semelhante, os bens de uma
pessoa privada (n‹o integrante da Administra‹o Pœblica) que seja
delegat‡ria de um servio pœblico de titularidade de um ente federado
ÒmaiorÓ n‹o podem ser desapropriados por um ente ÒmenorÓ, salvo se o
ente ÒmaiorÓ autorizar a desapropria‹o, mediante decreto. O detalhe Ž
que, nessa hip—tese, a veda‹o s— alcana os bens da delegat‡ria
efetivamente empregados na presta‹o do servio pœblico; dizendo
de outra forma, o decreto de autoriza‹o n‹o Ž necess‡rio para a
desapropria‹o de bens n‹o empregados na presta‹o do servio.
Ainda com rela‹o ao objeto da desapropria‹o, cabe assinalar que
determinados tipos de bens n‹o podem ser objeto de desapropria‹o, a
exemplo da moeda corrente do Pa’s e dos chamados direitos
personal’ssimos, como a honra, a liberdade e a cidadania.
PROCEDIMENTO
A doutrina classifica a desapropria‹o como forma origin‡ria de
aquisi‹o de propriedade, porque n‹o provŽm de nenhum t’tulo
anterior, vale dizer, nasce de uma rela‹o direta entre o expropriante e o
bem expropriado, sem a interven‹o de um terceiro.
Por essa raz‹o, o bem expropriado torna-se insuscet’vel de
reinvindica‹o, ou seja, n‹o pode ninguŽm aparecer reclamando a
propriedade do bem. Disso decorre, inclusive, que a desapropria‹o pode
prosseguir mesmo que a Administra‹o n‹o saiba quem seja o
propriet‡rio do bem; apenas no momento de levantar o valor da
indeniza‹o Ž que o interessado dever‡ provar que Ž o propriet‡rio.
A desapropria‹o Ž efetivada mediante um procedimento
administrativo que possui duas fases:
" Fase declarat—ria
" Fase execut—ria
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 28 de 89
Na fase declarat—ria, o Poder Pœblico manifesta sua vontade na
futura desapropria‹o, declarando a existncia de utilidade pœblica, de
necessidade pœblica ou de interesse social para fins de desapropria‹o.
A declara‹o expropriat—ria pode ser feita pelo Poder Executivo, por
meio de decreto do Presidente da Repœblica, do Governador ou do
Prefeito (regra), ou pelo Poder Legislativo, mediante lei11. Quando ela
Ž feita pelo Poder Legislativo, cabe ao Executivo tomar as medidas
necess‡rias ˆ efetiva‹o da desapropria‹o.
Detalhe Ž que a declara‹o, quando feita pelo Poder Executivo,
independe de autoriza‹o legislativa, em regra. Esta somente Ž
obrigat—ria quando a desapropria‹o recaia sobre bens pœblicos.
O ato declarat—rio, seja lei ou decreto, deve indicar: (i) a descri‹o
precisa do bem a ser desapropriado; (ii) a finalidade da desapropria‹o e
a destina‹o espec’fica a ser dada ao bem; (iii) o fundamento legal;
(iv) os recursos orament‡rios destinados ao atendimento da despesa
com a indeniza‹o.
A declara‹o de utilidade/necessidade pœblica ou de interesse social,
por si s—, j‡ produz alguns efeitos, dentre os quais se destacam:
! Fixar o estado em que se encontra o bem, isto Ž, indica suas
condi›es e as benfeitorias existentes, para fins de determinaro valor da
futura indeniza‹o;
! Conferir ao Poder Pœblico o direito de penetrar no bem a fim de fazer
verifica›es e medi›es, sendo poss’vel o recurso ˆ fora policial no caso
de resistncia do propriet‡rio;
! Dar in’cio ˆ contagem do prazo de caducidade da declara‹o.
Como assinalado acima, o estado do bem no momento da declara‹o
expropriat—ria Ž que ser‡ levado em considera‹o no c‡lculo da
indeniza‹o. Mas isso n‹o impede a realiza‹o de obras e benfeitorias no
im—vel ap—s a declara‹o. Todavia, na hip—tese de realiza‹o de obras
posteriores, a indeniza‹o somente cobrir‡ as benfeitorias necess‡rias,
isto Ž, aquelas que tm a finalidade de conservar o im—vel para evitar a
sua deteriora‹o, a exemplo do reparo de infiltra›es ou da substitui‹o
de sistemas elŽtricos danificados. Ademais, desde que autorizadas pelo
Poder Pœblico, tambŽm poder‹o ser indenizadas as benfeitorias œteis,
isto Ž, aquelas que aumentam ou facilitam o uso do im—vel, como a
11 Há na doutrina quem defenda que a declaração expropriatória do Poder Legislativo não deve ser feita
por meio de lei, e sim por decreto legislativo. A diferença fundamental é que, se o ato for um decreto
legislativo, não precisa passar pelo crivo do Poder Executivo para fins de sanção ou veto.
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 29 de 89
constru‹o de uma garagem ou a instala‹o de travas eletr™nicas nas
portas. Por outro lado, n‹o s‹o indeniz‡veis as benfeitorias
voluptu‡rias, que tm a finalidade apenas de tornar o im—vel mais
bonito e agrad‡vel, tais como obras de jardinagem e de decora‹o.
Cumpre salientar que as benfeitorias, de qualquer espŽcie, existentes
no im—vel antes da declara‹o, ser‹o todas indenizadas, uma vez que a
declara‹o deve recompor integralmente o patrim™nio expropriado12.
Quanto ao prazo de caducidade da declara‹o, em regra, Ž de
cinco anos, contados da data da expedi‹o do decreto. Significa que, se
a fase execut—ria da desapropria‹o n‹o for efetivada nesse prazo, o
decreto caducar‡, ou seja, perder‡ a efic‡cia, e somente ap—s um ano o
mesmo bem poder‡ ser objeto de nova declara‹o. Na hip—tese de
desapropria‹o por interesse social, o prazo de caducidade Ž de
dois anos, tambŽm contado a partir da expedi‹o do decreto.
Ap—s a fase declarat—ria, em que o Poder Pœblico manifesta a
inten‹o de desapropriar o bem, tem in’cio a fase execut—ria, a qual
compreende os atos pelos quais o Poder Pœblico efetivamente promove a
desapropria‹o, ou seja, adota as medidas necess‡rias para transferir a
propriedade do bem para o expropriante e para assegurar ao antigo
propriet‡rio a devida indeniza‹o.
A competncia para promover a desapropria‹o Ž tanto dos entes
competentes para editar o ato declarat—rio (Uni‹o, Estados, DF e
Munic’pios) como tambŽm das entidades da administra‹o indireta
(autarquias, funda›es, empresas pœblicas e sociedades de economia
mista) e das concession‡rias e permission‡rias de servios
pœblicos. Frise-se que, para as concession‡rias e permission‡rias de
servios pœblicos, a competncia Ž condicionada, visto que s— podem
promover a‹o de desapropria‹o se estiverem expressamente
autorizadas em lei ou contrato (Decreto-lei 3.365/1941, art. 3¼).
12 Di Pietro (2009, p. 164).
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 31 de 89
A fase execut—ria poder‡ ser administrativa ou judicial.
Ser‡ administrativa quando houver acordo entre as partes,
expropriante e expropriado, em rela‹o ˆ necessidade de transferir o bem
e ao valor da indeniza‹o a ser paga. ƒ a chamada Òdesapropria‹o
amig‡velÓ. Havendo acordo na via administrativa, o neg—cio ser‡
formalizado por meio de escritura pœblica ou por outro meio que a lei
venha especificamente indicar, sendo desnecess‡ria a fase judicial.
N‹o havendo acordo, a fase execut—ria ser‡ judicial (o que Ž mais
comum). No caso, o Poder Pœblico dever‡ propor uma a‹o judicial de
desapropria‹o (o autor da a‹o deve necessariamente ser o Poder
Pœblico13), tendo como rŽu o propriet‡rio do bem a ser expropriado.
Iniciado o processo judicial, se as partes chegarem num acordo, a
decis‹o judicial ser‡ apenas homologat—ria, valendo como t’tulo para
transcri‹o no registro de im—veis.
No processo judicial s— podem ser discutidas quest›es relativas ao
valor da indeniza‹o ou a v’cio processual. N‹o Ž poss’vel discutir
outras quest›es como, por exemplo, os motivos que levaram o Poder
Pœblico a declarar o bem como de utilidade pœblica ou de interesse social,
ou ainda, se foi feita a correta identifica‹o do propriet‡rio, se houve
algum desvio de finalidade etc.; a pessoa que queira discutir essas
quest›es pode atŽ leva-las ao Poder Judici‡rio, mas em uma a‹o
aut™noma, diferente da a‹o de desapropria‹o proposta pelo Poder
Pœblico.
Detalhe interessante Ž que, antes de efetivada a transferncia do
bem, o Poder Pœblico pode desistir da desapropria‹o, caso desapaream
as raz›es que a motivaram. A desistncia pode ocorrer, inclusive, no
curso da a‹o judicial. Na hip—tese de desistncia, o propriet‡rio faz jus ˆ
indeniza‹o por todos os preju’zos causados pelo expropriante.
13 O autor da ação de desapropriação poderá ser a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios,
uma entidade da administração indireta ou um concessionário ou permissionário de serviço público, estes
últimos quando autorizados em lei ou contrato.
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 32 de 89
INDENIZAÇÃO
Conforme prescreve o art. 5¼, XXIV da CF, a desapropria‹o ser‡
promovida Òmediante justa e prŽvia indeniza‹o em dinheiro,
ressalvados os casos previstos nesta Constitui‹oÓ.
O valor da indeniza‹o deve ser suficiente para recompor
integralmente o patrim™nio da pessoa que teve o bem expropriado (afinal,
a CF exige que a indeniza‹o seja justa). Para tanto, a indeniza‹o dever‡
abranger n‹o s— o valor atual do bem, como tambŽm os danos
emergentes e os lucros cessantes decorrentes da perda da
propriedade, alŽm dos juros morat—rios e compensat—rios, da
atualiza‹o monet‡ria, das despesas judiciais e dos honor‡rios
advocat’cios.
Quaisquer pessoas atingidas indiretamente pela desapropria‹o
tambŽm far‹o jus ˆ indeniza‹o, a ser reclamada em a‹o pr—pria. ƒ o
caso, por exemplo, do locat‡rio de im—vel desapropriado que tenha sido
prejudicado pelo ato.
Todavia, no caso de ™nus reais eventualmente incidentes sobre o
bem expropriado (ex: penhor, hipoteca, anticrese), o Poder Pœblico n‹o
responde, porque tais direitos ficam sub-rogados no preo (Decreto-lei
3.365/1941, art. 31), ou seja, presume-se que a indeniza‹o devida ao
propriet‡rio substitui essas garantias. Sendo assim, uma vez depositado o
valor indenizat—rio, s‹o os pr—prios interessados que devem disputar suas
respectivas parcelas de acordo com a natureza e a dimens‹o dos seus
direitos14.
A regra Ž a indeniza‹o ser paga em dinheiro, mas h‡ casos
previstos na Constitui‹o em que o pagamento poder‡ ser efetuado de
outras formas (Òressalvados os casos previstos nesta Constitui‹oÓ), quais
sejam:
# Desapropria‹o de propriedades urbanas que descumprem o plano diretor
do Munic’pio (CF, art. 182, ¤4¼, III): a indeniza‹o ser‡ paga em t’tulos da
d’vida pœblica de emiss‹o previamente aprovada pelo Senado
Federal, Òcom prazo de resgate de atŽ dez anos, em parcelas anuais, iguais
e sucessivas, assegurados o valor real da indeniza‹o e os juros legaisÓ;
14 Carvalho Filho (2014, p. 880). O autor ensina que, no caso de hipoteca ou penhor, a desapropriação
acarreta o vencimento antecipado da dívida. Dessa forma, caso, por exemplo,o imóvel expropriado
estivesse hipotecado como garantia de um financiamento imobiliário, o proprietário, ao receber a
indenização, teria que quitar a dívida ou constituir uma nova garantia.
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 33 de 89
# Desapropria‹o de propriedades rurais para fins de reforma agr‡ria (CF,
art. 184): a indeniza‹o ser‡ paga em t’tulos da d’vida agr‡ria Òcom
cl‡usula de preserva‹o do valor real, resgat‡veis no prazo de atŽ vinte
anos, a partir do segundo ano de sua emiss‹o, e cuja utiliza‹o ser‡
definida em leiÓ;
# Desapropria‹o de terras em que sejam cultivadas plantas psicotr—picas
ilegais ou haja explora‹o de trabalho escravo (CF, art. 243): a
desapropria‹o se consuma sem o pagamento de qualquer indeniza‹o
(œnica hip—tese de desapropria‹o sem indeniza‹o).
Ressalte-se que, na hip—tese de desapropria‹o rural para fins de
reforma agr‡ria (segundo item acima), as benfeitorias œteis e
necess‡rias ser‹o indenizadas em dinheiro, ressalva que n‹o consta na
hip—tese de desapropria‹o urban’stica (primeiro item acima). Veremos
essas hip—teses de desapropria‹o com mais detalhes adiante, no t—pico
Òdesapropria‹o sancionat—riaÓ.
IMISSÃO PROVISÓRIA NA POSSE
A desapropria‹o, em regra, somente se completa depois de efetuado
o pagamento da devida indeniza‹o; caso contr‡rio, estaria sendo
desatendido o mandamento constitucional que exige prŽvia indeniza‹o.
PorŽm, desde que haja declara‹o de urgncia pelo Poder
Pœblico e dep—sito prŽvio, Ž poss’vel ocorrer a chamada imiss‹o
provis—ria na posse, isto Ž, o expropriante passa a ter a posse
provis—ria do bem antes de finalizada a a‹o de desapropria‹o.
A declara‹o de urgncia pode ser feita pelo Poder Pœblico na
pr—pria declara‹o expropriat—ria ou, depois, a qualquer momento,
mesmo no curso do processo judicial.
Detalhe Ž que o valor do dep—sito prŽvio para permitir a imiss‹o
provis—ria na posse ser‡ arbitrado pelo juiz segundo critŽrios
estabelecidos em lei, ou seja, n‹o se trata do valor definitivo da
indeniza‹o, o qual somente ser‡ determinado ao final do procedimento
de desapropria‹o, com a transferncia do bem. Para compensar a
diferena entre o valor do dep—sito prŽvio e o realmente devido ao final do
processo, s‹o pagos juros compensat—rios15 ao expropriado.
15 Segundo a Súmula 618 do STF, “na desapropriação, direta ou indireta, a taxa dos juros
compensatórios é de 12% (doze por cento) ao ano”. Na ADI 2.332/DF, o STF fixou o entendimento de
que a base de cálculo dos juros compensatórios deve corresponder à diferença entre 80% do preço
ofertado pelo Poder Público e o valor fixado na sentença. Ademais, na mesma ação, o STF entendeu
que os juros compensatórios são devidos independentemente de o imóvel produzir renda.
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 34 de 89
DESTINO DOS BENS DESAPROPRIADOS
Como regra, os bens desapropriados passam a integrar o patrim™nio
das entidades que providenciaram a desapropria‹o e pagaram a
respectiva indeniza‹o, abrangendo, portanto, as pessoas pol’ticas
(Uni‹o, Estados, DF e Munic’pios), as entidades da administra‹o indireta
ou as concession‡rias e permission‡rias de servios pœblicos.
Quando o bem expropriado for destinado a integrar o patrim™nio
pœblico, d‡-se o que a doutrina denomina integra‹o definitiva.
No entanto, pode ocorrer de os bens desapropriados serem
transferidos a terceiros. Trata-se da chamada integra‹o provis—ria,
de que s‹o exemplos: a desapropria‹o para fins de reforma agr‡ria, pois
os bens s— ficam em poder do Estado enquanto n‹o s‹o repassados para
os futuros benefici‡rios; a desapropria‹o para abastecimento da
popula‹o, em que os bens s‹o distribu’dos para a popula‹o; a
desapropria‹o confiscat—ria, pois as glebas rurais s‹o destinadas ao
assentamento de colonos, para cultivo de produtos aliment’cios e
medicamentosos; a desapropria‹o para constru‹o ou amplia‹o de
distritos industriais, pois os lotes s‹o revendidos ou locados para
empresas previamente qualificadas etc.
DESAPROPRIAÇÃO SANCIONATÓRIA
A Constitui‹o prev trs modalidades de desapropria‹o com
car‡ter sancionat—rio, quais sejam:
" Desapropria‹o urban’stica (CF, art. 182, ¤4¼)
" Desapropria‹o rural (CF, art. 184)
" Desapropria‹o confiscat—ria (CF, art. 243)
A desapropria‹o urban’stica tem como fundamento o
descumprimento da fun‹o social da propriedade urbana, ou seja, o
n‹o atendimento do plano diretor do Munic’pio. O expropriante, nessa
hip—tese, ser‡ o Munic’pio, segundo as regras gerais de desapropria‹o
estabelecidas em lei federal. A indeniza‹o ser‡ paga mediante t’tulos da
d’vida pœblica de emiss‹o previamente aprovada pelo Senado
Federal.
Na verdade, nos termos do art. 182, ¤4¼ da CF, a desapropria‹o Ž a
Ҝltima medidaÓ que o Poder Pœblico disp›e para obrigar a propriedade
urbana a cumprir sua fun‹o social prevista no plano diretor do Munic’pio.
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 35 de 89
Antes disso, o Munic’pio, mediante lei espec’fica, dever‡ determinar o
parcelamento ou edifica‹o compuls—rios, fixando as condi›es e os
prazos para implementa‹o; o propriet‡rio dever‡ ser notificado para o
cumprimento da obriga‹o e a respectiva notifica‹o dever‡ ser averbada
no registro de im—veis. Desatendida a notifica‹o nos prazos legais, o
propriet‡rio ficar‡ sujeito a IPTU progressivo no tempo, mediante a
majora‹o da al’quota do imposto pelo prazo m‡ximo de cinco anos
consecutivos ou atŽ que cumpra a obriga‹o. S— ap—s esse prazo Ž que
o Munic’pio poder‡ efetuar a desapropria‹o com pagamento em
t’tulos.
J‡ a desapropria‹o rural incide sobre im—veis rurais que n‹o
estejam cumprindo a sua fun‹o social. Trata-se, na verdade, de
desapropria‹o por interesse social para fins de reforma agr‡ria. O
expropriante, nesse caso, ser‡ exclusivamente a Uni‹o16. A indeniza‹o
ser‡ paga em t’tulos da d’vida agr‡ria.
Lembrando que a desapropria‹o rural n‹o pode incidir sobre a
pequena e mŽdia propriedade rural, desde que seu propriet‡rio n‹o
possua outra, nem sobre a propriedade produtiva (CF, art. 185).
Por fim, a desapropria‹o confiscat—ria incide sobre
propriedades rurais e urbanas de qualquer regi‹o do Pa’s onde
forem localizadas:
! Culturas ilegais de plantas psicotr—picas; ou a
! Explora‹o de trabalho escravo.
O adjetivo Òconfiscat—riaÓ deriva do fato de que, nessa hip—tese de
desapropria‹o, o propriet‡rio n‹o tem direito ˆ indeniza‹o, ou seja,
trata-se, na realidade, de um ÒconfiscoÓ da terra pelo Estado.
Ap—s a transferncia da propriedade, as ‡reas expropriadas ser‹o
destinadas ˆ reforma agr‡ria e a programas de habita‹o popular,
como dito, sem qualquer indeniza‹o ao propriet‡rio e sem preju’zo de
outras san›es previstas em lei (CF, art. 243).
Qualquer bem de valor econ™mico que venha a ser apreendido em
decorrncia do tr‡fico il’cito de entorpecentes e drogas afins e da
explora‹o de trabalho escravo ser‡ confiscado e reverter‡ a
16 Maria Sylvia Di Pietro ensina que não é correto afirmar que a desapropriação de imóveis rurais é
sempre competência da União; somente o é quando o imóvel rural se destine à reforma agrária. Nesse
sentido, podem os Estados e Municípios desapropriar imóveis rurais para fins de utilidade pública; não
podem, frisefse, para fins de reforma agrária, privativa da União.
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 36 de 89
fundo especial com destina‹o espec’fica,na forma da lei (CF,
art. 243, par‡grafo œnico).
Por fim, ressalte-se que n‹o Ž qualquer cultura de plantas
psicotr—picas que d‡ margem a esse tipo de desapropria‹o, mas apenas
aquela que seja il’cita, por n‹o estar autorizada pelo Poder Pœblico.
Ademais, segundo a jurisprudncia do STF, a expropria‹o motivada pelo
cultivo il’cito de espŽcies entorpecentes deve abranger a totalidade da
‡rea do im—vel, e n‹o apenas a ‡rea cultivada. Mesmo que a cultura
ilegal ocupe apenas uma pequena fra‹o da superf’cie do im—vel, a
desapropria‹o deve recair sobre toda a propriedade, sem que isso
represente ofensa ao princ’pio da proporcionalidade17.
DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA
Desapropria‹o indireta Ž a que se processa sem observ‰ncia do
devido processo legal, vale dizer, a desapropria‹o Ž efetuada sem que
o Poder Pœblico declare o bem como de interesse pœblico ou pague a
devida indeniza‹o.
Caso o propriet‡rio n‹o conteste o ato no momento oportuno,
deixando que a Administra‹o d uma destina‹o pœblica ao bem, ocorre
um Òfato consumadoÓ, gerador da desapropria‹o indireta. A partir de
ent‹o, o ex-propriet‡rio n‹o mais poder‡ reivindicar o bem, pois, nos
termos do art. 35 do Decreto 3.365/1941, Òos bens expropriados, uma
vez incorporados ˆ Fazenda Pœblica, n‹o podem ser objeto de
reivindica‹o, ainda que fundada em nulidade do processo de
desapropria‹oÓ.
Imagine, por exemplo, hip—tese em que o Poder Pœblico construa
uma praa, uma escola, um cemitŽrio ou um aeroporto em ‡rea
pertencente a particular; terminada a constru‹o e afetado o bem ao uso
comum do povo ou ao uso especial da Administra‹o, certa ou
erradamente, a situa‹o torna-se irrevers’vel, vale dizer, o bem passa ˆ
categoria de bem pœblico, incorporando-se definitivamente ao patrim™nio
do Estado e, consequentemente, tornando-se insuscet’vel de
reivindica‹o. A solu‹o que cabe ao particular Ž pleitear indeniza‹o
por perdas e danos.
Outra situa‹o que pode acarretar a desapropria‹o indireta Ž quando
o Poder Pœblico imp›e a determinado bem particular restri›es t‹o
17 STF – RE 543.974/MG
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 38 de 89
DIREITO DE EXTENSÃO
O direito de extens‹o surge no caso de desapropria‹o parcial,
quando a parte n‹o expropriada do bem se torna inœtil, inserv’vel, sem
valor econ™mico ou de dif’cil utiliza‹o. Nessa hip—tese, o propriet‡rio da
parte inserv’vel pode exercer seu direito de extens‹o, exigindo que a
desapropria‹o, e a consequente indeniza‹o, seja estendida a todo o
bem.
O direito de extens‹o deve ser manifestado pelo propriet‡rio durante
as fases administrativa ou judicial do procedimento de desapropria‹o,
n‹o se admitindo o pedido ap—s o tŽrmino da desapropria‹o.
TREDESTINAÇÃO
Tredestina‹o ocorre quando o Poder Pœblico confere ao bem
desapropriado uma destina‹o diferente da inicialmente prevista no ato
expropriat—rio, com desvio de finalidade, ou seja, com preju’zo ao
interesse pœblico.
Seria o caso, por exemplo, de o Poder Pœblico desapropriar uma ‡rea
para a constru‹o de uma escola e, ao invŽs disso, permitir que certa
empresa se beneficie de tal ‡rea, utilizando-a para outros fins. Neste
caso, em que est‡ claro o desvio de finalidade, temos a
tredestina‹o il’cita, que gera o direito de reintegra‹o do bem ao
ex-propriet‡rio (retrocess‹o).
Diversa Ž a hip—tese da tredestina‹o l’cita, em que o Poder
Pœblico d‡ ao bem desapropriado um fim diverso daquele originalmente
declarado no ato expropriat—rio, porŽm sem deixar de observar o
interesse pœblico. Seria o caso, por exemplo, de o Poder Pœblico
desapropriar uma ‡rea para a constru‹o de uma escola e, ao invŽs disso,
dado o interesse pœblico superveniente, construir um hospital. Nessa
hip—tese, n‹o h‡ ilegalidade.
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 39 de 89
RETROCESSÃO
Retrocess‹o Ž o direito que tem o expropriado de exigir de volta o
seu im—vel caso o Poder Pœblico n‹o d a ele o destino que motivou a sua
desapropria‹o, nem outro destino que atenda o interesse pœblico.
O instituto Ž disciplinado no art. 519 do C—digo Civil, in verbis:
Art. 519. Se a coisa expropriada para fins de necessidade ou utilidade
pœblica, ou por interesse social, n‹o tiver o destino para que se
desapropriou, ou n‹o for utilizada em obras ou servios pœblicos, caber‡
ao expropriado direito de preferncia, pelo preo atual da coisa.
O direito de retrocess‹o surge quando h‡ desinteresse
superveniente do Poder Pœblico pelo bem que desapropriou. Nesse caso,
o expropriante tem a obriga‹o de oferecer ao ex-propriet‡rio o direito
de preferncia na aquisi‹o do bem. Detalhe Ž que, se o ex-propriet‡rio
desejar exercer seu direito de preferncia, dever‡ faz-lo pelo valor atual
do bem (e n‹o pelo valor da indeniza‹o que recebeu anteriormente).
O direito de retrocess‹o tambŽm surge para o expropriado quando
ocorre a denominada tredestina‹o il’cita, isto Ž, quando h‡ desvio de
finalidade na destina‹o do bem expropriado.
Na hip—tese de n‹o ser poss’vel o retorno do bem para o ex-
propriet‡rio, este passa a ter direito ˆ indeniza‹o por perdas e danos.
ƒ importante ficar claro que o direito de retrocess‹o n‹o pode ser
exercido quando o bem, embora n‹o esteja sendo empregado na
finalidade para a qual foi desapropriado, o esteja em outra destina‹o
pœblica. Por outras palavras, desde que o im—vel seja utilizado para um
fim pœblico qualquer, ainda que diferente do especificado
originariamente, n‹o ocorre o direito de retrocess‹o.
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 42 de 89
# Um Estado pode desapropriar bens de um Município, desde que se trate de
Município situado em seu territórioW
# Os Municípios e o Distrito Federal não podem desapropriar bens das demais
entidades federativasW
# A União não pode ter seus bens desapropriados.
Gabarito: Errado
12. (Cespe – DP/DF 2013) Os juros compensatórios, que podem ser cumulados com
os moratórios, incidem tanto sobre a desapropriação direta quanto sobre a indireta,
sendo calculados sobre o valor da indenização, com a devida correção monetária\
entretanto, independem da produtividade do imóvel, pois decorrem da perda
antecipada da posse.
Comentário: A indenização pela desapropriação deve ser justa e prévia.
Ou seja, o pagamento deve ser realizado, em regra, antes da imissão na posse
pelo Poder Público. No entanto, desde que haja declaração de urgência pelo
Poder Público e depósito prévio, é possível ocorrer a chamada imissão
provisória na posse, isto é, o expropriante passa a ter a posse provisória do
bem antes da finalização da ação de desapropriação. Assim, se ocorrer a
imissão provisória na posse pelo Poder Público, serão devidos juros
compensatórios como forma de ressarcir a perda da posse pelo proprietário
antes do recebimento da indenização que lhe é devida. A seguir, alguns
entendimentos jurisprudenciais sobre o tema:
# Súmula 618 do STF: "na desapropriação, direta ou indireta, a taxa dos
juros compensatórios é de 12% (doze por cento) ao ano".
# Súmula 12 do STJ: “em desapropriação, são cumuláveis juros
compensatórios e moratórios".
# Súmula 69 do STJ: "Na desapropriação direta, os juros compensatórios
são devidos desde a antecipada imissão na posse e, na desapropriação
indireta, a partir da efetiva ocupação do imóvel".
# Súmula 113 do STJ: "Os juros compensatórios, na desapropriação direta,
incidem a partir da imissão na posse, calculados sobre o valor da
indenização, corrigido monetariamente".
# REsp 1.001.455 – STJ: “Os juros compensatórios sãodevidos
independentemente de se tratar de imóvel improdutivo, pela perda da
posse antes da justa indenização”.
Gabarito: Certo
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 43 de 89
13. (Cespe – TRF2 Juiz – 2013) Os juros compensatórios e moratórios, na
desapropriação, não são cumuláveis, sendo devidos apenas os juros
compensatórios, os quais são pagos na desapropriação direta, a partir da efetiva
ocupação do imóvel.
Comentário: Juros compensatórios e juros moratórios não se confundem.
Os primeiros servem para compensar a perda antecipada da posse, na
hipótese de imissão provisória da posse. Já os juros moratórios decorrem da
demora do Poder Público em indenizar o particular. Sobre a indenização
devida ao expropriado deve incidir tanto juros compensatórios como
moratórios, ou seja, eles são cumuláveis. Aliás, esse é o teor da Súmula 12 do
STJ: “em desapropriação, são cumuláveis juros compensatórios e
moratórios".
Gabarito: Errado
14. (Cespe – DP/DF 2013) A desapropriação é forma originária de aquisição de
propriedade que libera o bem de qualquer ônus que sobre ele incida, ou seja, se o
bem estiver gravado com algum encargo, será repassado para o poder público sem
nenhum ônus, não havendo, inclusive, a incidência de imposto sobre esse tipo de
operação de transferência de imóveis. Entretanto, segundo o STJ, incidirá imposto
de renda sobre verba recebida pelo proprietário a título de indenização decorrente
de desapropriação.
Comentário: É certo que o Poder Público não responde por eventuais
ônus reais incidentes sobre o bem expropriado. Com efeito, dispõe o art. 31 do
DecretoRlei 3.365/41 que ficam subRrogados no preço quaisquer ônus ou
direitos que recaiam sobre o bem desapropriado. O erro da assertiva é que,
para o STJ (REsp 1.116.460/SP), não incide imposto sobre a renda recebida a
título de indenização decorrente de desapropriação. Segundo o entendimento
daquela Corte Superior, a indenização decorrente de desapropriação não gera
qualquer ganho de capital, já que a propriedade é transferida ao poder público
por valor justo e determinado pela justiça a título de indenização, não
ensejando lucro, mas mera reposição do valor do bem expropriado.
Gabarito: Errado
15. (Cespe – PGE/BA 2014) Caso um governador resolva desapropriar determinado
imóvel particular com o objetivo de construir uma creche para a educação infantil e,
posteriormente, com fundamento no interesse público e em situação de urgência,
mude a destinação do imóvel para a construção de um hospital público, o ato deve
ser anulado, por configurar tredestinação ilícita.
Comentário: Ao contrário do que afirma o item, a situação apresentada
retrata hipótese de tredestinação lícita, vez que o Poder Público deu ao bem
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 44 de 89
desapropriado um fim diverso daquele originalmente declarado no ato
expropriatório, porém não deixou de observar o interesse público (construiu
um hospital ao invés de uma escola).
Gabarito: Errado
*****
ƒ isso pessoal. Fim da parte te—rica. Que tal consolidar o
conhecimento resolvendo algumas quest›es de prova?
Ao trabalho!
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 45 de 89
QUESTÕES DE PROVA
16. (FCC – CNMP 2015) O proprietário de um imóvel vizinho a edifício tombado em
razão de seu valor histórico pretende construir mais um pavimento, o que, contudo,
impedirá a visibilidade do bem tombado. De acordo com a legislação federal que
rege a matéria, esse proprietário
a) não poderá realizar a obra, sem prévia autorização do Serviço do Patrimônio
Artístico e Histórico Nacional, sob pena de ser mandada remover a obra, sem
prejuízo de eventual imposição de multa.
b) não possui qualquer impedimento para edificar, salvo se instituída servidão
administrativa sobre seu imóvel.
c) somente estará impedido de realizar a obra na hipótese de seu imóvel também
ser tombado.
d) terá direito a indenização por desapropriação indireta, na hipótese de ser
impedido de realizar a obra pretendida.
e) somente estará impedido de realizar a obra se o seu imóvel for declarado
acessório no processo de tombamento do imóvel vizinho, de acordo com os limites
de tal declaração.
Comentários: vamos analisar cada item:
a) CERTA. Segundo o art. 18 do DecretoRLei 25/1937:
Art. 18. Sem prévia autorização do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, não se poderá, na vizinhança da coisa tombada, fazer construção que
lhe impeça ou reduza a visibílidade, nem nela colocar anúncios ou cartazes, sob
pena de ser mandada destruir a obra ou retirar o objéto, impondoFse nêste caso a
multa de cincoenta por cento do valor do mesmo objéto.
b) ERRADA. Como visto, a lei veda que o vizinho faça construção que
impeça ou reduza a visibilidade da coisa tombada, ou seja, ele possui sim
impedimento para edificar.
c) ERRADA. A lei impõe restrições ao vizinho da coisa tombada,
independentemente de seu imóvel também ser ou não tombado.
d) ERRADA. A lei não prevê indenização ao vizinho por ser impedido de
realizar a obra pretendida. É um típico caso de superioridade do interesse
público sobre o privado, em que a vontade geral se sobrepõe à particular.
e) ERRADA. Também não há previsão nesse sentido na lei. O particular
ficará impedido de realizar a obra simplesmente por ser vizinho de um imóvel
tombado.
Gabarito: alternativa “a”
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 46 de 89
17. (FCC – Procurador Manausprev 2015) Um município litorâneo é proprietário
de uma gleba de grande extensão e pretende dar a ela alguma destinação de
interesse público. Identificando a necessidade de ampliar a oferta de empregos e de
ingresso de receitas, pretende instalar no local um pólo tecnológico para atrair
empresas do setor para a região. Para tanto, irá conceder o uso, gratuito, de lotes da
área para as empresas que atendam os requisitos do setor. O projeto
a) é expressão de atividade de fomento estatal, sendo possível sua implantação, o
que pode recomendar a realização de licitação para escolha dos beneficiários,
conforme o universo de interessados.
b) configura intervenção do Estado no domínio econômico, o que somente pode ser
viabilizado por meio da criação de empresas estatais cujo objeto social seja a
atuação no setor de tecnologia.
c) possui amparo no ordenamento jurídico em vigor, pois configura hipótese de
inexigibilidade de licitação, tendo em vista que a outorga de concessão de uso
prescinde de prévia realização de certame.
d) excede as atividades regulares de atuação do Estado em atividades econômicas,
sendo possível, no entanto, a alienação onerosa do terreno com dispensa de
licitação.
e) depende de autorização legislativa e licitação, tendo em vista que implica em
transferência dominial do terreno, sendo vedada, portanto, a outorga gratuita.
Comentários: vamos analisar cada item:
a) CERTA. O Poder Público exerce atividade de fomento quando incentiva
atividades privadas de interesse público. Para tanto, podem ser utilizadas
várias medidas, como financiamento por bancos públicos em condições
especiais, concessão de benefícios ou incentivos fiscais ou, como no caso da
questão, pela cessão gratuita de áreas públicas. Logicamente, em razão do
princípio da impessoalidade, caso existam vários interessados, será
necessário realizar licitação para a escolha dos beneficiários.
b) ERRADA. O caso não configura intervenção do Estado no domínio
econômico,e sim atividade de fomento. De qualquer forma, a intervenção do
Estado no domínio econômico não ocorre apenas por meio da criação de
empresas estatais. Pode ocorrer também de forma indireta, por exemplo, por
meio da regulação e fiscalização das atividades de empresas privadas.
c) ERRADA. O caso não configura hipótese de inexigibilidade de licitação,
pois há possibilidade de competição, em vista da existência de outros
interessados.
d) ERRADA. A cessão do terreno não excede as atividades regulares de
atuação do Estado em atividades econômicos, pois caracteriza típica atividade
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 47 de 89
de fomento. Ademais, a cessão onerosa do terreno em questão não se insere
nas hipóteses de dispensa previstas na Lei 8.666.
e) ERRADA. Não haverá transferência de domínio, pois o enunciado
afirma que haverá “concessão do uso”. Lembrando que a concessão de uso
pode ser onerosa ou gratuita.
Gabarito: alternativa “a”
18. (FCC – Procurador Manausprev 2015) A empresa estatal delegatária dos
serviços de transporte metroviário está executando obras de prolongamento de uma
das linhas urbanas. Durante a fase de execução de obras, além das áreas que serão
efetivamente utilizadas pelo modal de transporte, são necessários canteiros de
obras. Considerando que esses canteiros de obras perdem sua utilidade após a
conclusão das obras, o instrumento mais adequado para ser utilizado pelo Poder
Público para essa finalidade é a
a) desapropriação, pois é facultado, ao término das obras, oferecer a área utilizada
para ser adquirida pelo expropriado com sensível desconto no valor de mercado.
b) ocupação temporária, que permite a utilização dos terrenos mediante pagamento
de indenização compatível com o tempo em que vigorar a restrição.
c) servidão administrativa, que se consubstancia em restrição à propriedade,
permitindo que o proprietário continue utilizando a área.
d) limitação administrativa, que obriga os proprietários a disponibilizarem,
gratuitamente, seus terrenos para viabilizar obras públicas essenciais.
e) requisição administrativa, que obriga os proprietários a disponibilizarem,
gratuitamente e por tempo indeterminado, seus terrenos para dar suporte a áreas
públicas.
Comentários: A situação narrada no enunciado constitui típico exemplo
de ocupação temporária, que é a forma de intervenção pela qual o Poder
Público usa transitoriamente imóveis privados, como meio de apoio à
execução de obras e serviços públicos. Detalhe é que, na ocupação
temporária, a indenização é condicionada à ocorrência de prejuízo ao
proprietário, ou seja, a indenização só será devida se o uso do bem particular
acarretar prejuízo ao seu proprietário, a menos que a ocupação temporária
incida sobre terrenos vizinhos a obras públicas vinculadas a processo de
desapropriação, caos em que a ocupação temporária será sempre indenizada.
Gabarito: alternativa “b”
19. (FCC – Procurador TCM/RJ 2015) O Tribunal de Contas competente recebeu
denúncia de que determinado Prefeito estaria promovendo medidas que
favoreceriam específico segmento da iniciativa privada, pugnando o requerente pela
suspensão do suposto benefício e consequente responsabilização da autoridade.
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 48 de 89
Foi apurado que, com a finalidade de instalar um distrito industrial em região
bastante valorizada de determinado Município, o prefeito declarou de utilidade
pública, para fins de desapropriação, uma área de grande dimensão, às margens de
rodovia estadual cuja exploração se dava por meio de concessão de serviço público.
O distrito industrial seria exclusivamente destinado ao segmento de tecnologia
voltado ao setor agroindustrial, a fim de viabilizar o desenvolvimento de pesquisas e
insumos para aumentar a produção e a rentabilidade das culturas locais.
Considerando que a área não era abrangida pelo contrato de concessão referido, a
atuação do Município poderia se consubstanciar em
a) limitação administrativa, pois restringirá o uso da área apenas ao setor de
tecnologia aplicado à indústria agrícola, restringindo o potencial lucrativo dos
particulares.
b) burla à lei de licitação, na medida em que a finalidade indicada pelo Poder Público
não se enquadra em interesse público, sendo vedado destinar área pública ao setor
industrial.
c) atividade de fomento, cabendo ao Município garantir que a disponibilização das
áreas se dará por meio de procedimento isonômico entre aqueles que atendam os
requisitos necessários para integrar o distrito industrial.
d) ocupação temporária, na medida em que o Prefeito disponibilizará para aqueles
que atuem no setor agroindustrial áreas para instalação de atividades por
determinado período de tempo, restituindo os terrenos ao Município ao final do
prazo.
e) requisição de propriedade privada, visto que a área não será diretamente utilizada
pelo Poder Público, somente o que autorizaria desapropriação, mas sim será
destinada a particulares para atendimento do interesse público.
Comentários: vamos analisar cada item:
a) ERRADA. As limitações administrativas são determinações de caráter
geral, previstas em lei ou em ato normativo, dirigidas a proprietários
indeterminados. No caso em análise, o objeto da atuação do Município é um
terreno específicoW logo, a situação não se enquadra nas características da
limitação administrativa.
b) ERRADA. Não é vedado destinar área pública ao setor industrial, desde
que sejam atendidos o interesse público e as regras aplicáveis.
c) CERTA. A destinação de áreas públicas para o desenvolvimento de
atividades industrial é um típico exemplo de fomento. Logicamente, em vista
do princípio da impessoalidade, a disponibilização das áreas deverá ocorrer
por meio de procedimento isonômico entre aqueles que atendam os requisitos
necessários para integrar o distrito industrial, como corretamente afirma o
quesito.
Direito Administrativo para Magistratura Federal
Teoria e exercícios comentados
Prof. Erick Alves – Aula 14
Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 49 de 89
d) ERRADA. A ocupação temporária é utilizada para que o Poder Público
utilize transitoriamente imóveis privados como meio de apoio à execução de
obras e serviços públicos, o que não é o caso da questão.
e) ERRADA. Requisição administrativa é a utilização coativa de bens e
serviços particulares pelo Estado em situação de perigo público iminente, o
que também não é o caso da questão.
Gabarito: alternativa “c”
20. (FCC – Juiz TJ/RR 2015) Determinada Administração Municipal, com o fim de
promover o desenvolvimento econômico local, desapropriou determinada gleba de
terra, em área rural, para fins de constituição de um distrito industrial. O proprietário
aceitou o valor ofertado e foi lavrada e registrada a escritura pública ultimando a
desapropriação administrativa. A Administração Municipal, então, por meio de
contrato de concessão de direito de superfície, possibilitou que indústrias se
instalassem, pelo prazo de 15 anos, nos lotes da zona industrial recémNconstituída.
Passados dez anos, em virtude da carência de recursos financeiros, o Prefeito
Municipal obtém a aprovação, na Câmara Municipal, de projeto de lei autorizativa da
alienação dos lotes componentes da zona industrial em questão.
Diante de tal situação, é correto concluir que
a) caso haja a alienação dos lotes, ficará caracterizada a tredestinação ilícita do bem
desapropriado, havendo a possibilidade de pedido de retrocessão pelo expropriado.
b) a desapropriação ocorrida é inválida, pois o ente municipal não tem competência
para desapropriar glebas rurais, em face da competência privativa da União para
promover

Continue navegando