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Aula 14 Direito Administrativo p/ Magistratura Federal (Curso Regular) Professor: Erick Alves Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 1 de 89 OBSERVAÌO IMPORTANTE Este curso protegido por direitos autorais (copyright), nos termos da Lei 9.610/98, que altera, atualiza e consolida a legislao sobre direitos autorais e d outras providncias. Grupos de rateio e pirataria so clandestinos, violam a lei e prejudicam os professores que elaboram os cursos. Valorize o trabalho de nossa equipe adquirindo os cursos honestamente atravs do site Estratgia Concursos ;-) Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 2 de 89 AULA 14 Ol pessoal! O tema da aula de hoje Interveno do Estado na propriedade privada. Estudaremos os seguintes assuntos: SUMÁRIO Intervenção do Estado na propriedade privada .............................................................................................3 Modalidades de intervenção ......................................................................................................................................6 Servidão administrativa...............................................................................................................................................7 Requisição administrativa .......................................................................................................................................11 Ocupação temporária.................................................................................................................................................14 Limitações administrativas .....................................................................................................................................16 Tombamento..................................................................................................................................................................17 Desapropriação...............................................................................................................................................................24 Bens desapropriáveis.................................................................................................................................................25 Procedimento ................................................................................................................................................................25 Indenização ....................................................................................................................................................................31 Imissão provisória na posse....................................................................................................................................33 Destino dos bens desapropriados ........................................................................................................................33 Desapropriação sancionatória ...............................................................................................................................34 Desapropriação indireta ...........................................................................................................................................36 Direito de extensão .....................................................................................................................................................38 Tredestinação................................................................................................................................................................38 Retrocessão ....................................................................................................................................................................39 Questões de prova .........................................................................................................................................................45 RESUMÃO DA AULA .......................................................................................................................................................74 Questões comentadas na aula ................................................................................................................................74 Gabarito ...............................................................................................................................................................................89 Vamos l?! Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 3 de 89 INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE PRIVADA Nesta aula estudaremos as principais modalidades de interveno do Estado na propriedade privada. Mas, professor, como assim ÒintervenoÓ do Estado? O direito de propriedade no absoluto? Pois bem, vamos por partes. De fato, poca dos Estados liberais (sculos XVIII e XIX), o direito de propriedade era considerado absoluto. Naquela poca, da mesma forma que se pregava a ausncia do Estado na economia, tambm no se admitia a interferncia estatal na propriedade privada. Porm, no sculo XX, esse entendimento comeou a mudar. Passou- se a considerar que o papel do Estado seria o de prover a sociedade com o mnimo de conforto material, prestando-lhe servios essenciais. Era o perodo do Estado do bem-estar social. A partir de ento, deixou-se de dar tanta importncia aos direitos de cada indivduo para conferir maior proteo aos interesses coletivos, de toda a sociedade. Por conseguinte, passou-se a admitir que alguns direitos individuais, dentre eles o direito de propriedade, pudessem ser mitigados ou restringidos em prol do interesse da coletividade. Na Constituio Federal, o direito de propriedade reconhecido no art. 5¼, XII: Ò garantido o direito de propriedadeÓ. O dispositivo indica que esse direito no poder ser suprimido do nosso ordenamento jurdico, mas, por outro lado, no impede que ele seja condicionado e limitado. Em outras palavras, a propriedade no mais um direito absoluto, como ocorria na poca medieval. Com efeito, j no inciso seguinte do art. 5¼, o texto constitucional dispe: Òa propriedade atender a sua funo socialÓ. Ou seja, hoje, o direito de propriedade s se justifica para atender a funo social, vale dizer, para proporcionar o bem-estar da coletividade em geral, e no apenas do indivduo que detm a posse do bem. Se a propriedade no est atendendo a sua funo social, o Estado deve intervir para amold- la a essa qualificao, estabelecendo obrigaes, limitaes ou mesmo se apropriando do bem, tudo com o intuito de impedir o uso egostico e antissocial da propriedade1. 1 Carvalho Filho (2014, p. 791). Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 4 de 89 Como se nota, dois princpios fundamentais sustentam a possibilidade de o Estado intervir na propriedade privada: a supremacia do interesse pblico sobre o dos particulares e a funo social da propriedade. No que tange supremacia do interesse pblico, o Estado, quando intervm na propriedade de um particular, age de forma vertical, ou seja, cria imposies que de alguma forma restringem ou at mesmo impedem o uso da propriedade pelo seu dono. E faz isso exatamente pela posio de supremacia que ostenta relativamente aos interesses privados, com o intuito de defender o interesse pblico. Em relao funo social, trata-se, na verdade, de um conceitojurdico indeterminado. A Constituio, contudo, procurou dar-lhe alguma objetividade em certas passagens. No captulo destinado poltica urbana, diz a Constituio: ÒA propriedade urbana cumpre sua funo social quando atende s exigncias fundamentais de ordenao da cidade expressas no plano diretorÓ (art. 182, ¤2¼). Portanto, no que tange propriedade urbana, o paradigma para a expresso da sua funo social o plano diretor do Municpio. Por exemplo, o indivduo adquire de um particular um terreno beira lago cuja destinao, no plano diretor do Municpio, ser um espao para o lazer da populao em geral, s que o novo proprietrio coloca uma cerca ao redor do terreno e resolve construir uma casa para sua prpria moradia. Nessa situao, a propriedade no est cumprindo sua funo social, mas apenas satisfazendo o interesse de seu proprietrio, o que autoriza a interveno do Municpio. De fato, em caso de descumprimento do plano diretor, a Constituio confere poderes interventivos ao Municpio, os quais podem culminar na desapropriao do bem (art. 182, ¤4¼2), conforme veremos adiante. Quanto propriedade rural, a Constituio estabelece requisitos mnimos para que se considere atendida a sua funo social. Segundo o art. 186, a funo social cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critrios e graus de exigncia estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: 2 § 4º & É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: I & parcelamento ou edificação compulsórios; II & imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; III & desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais. Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 5 de 89 ! Aproveitamento racional e adequado; ! Utilizao adequada dos recursos naturais disponveis e preservao do meio ambiente; ! Observncia das disposies que regulam as relaes de trabalho; ! Explorao que favorea o bem-estar dos proprietrios e dos trabalhadores. Ademais, a CF considera que, automaticamente, h o cumprimento da funo social na pequena e mdia propriedade rural, bem como na propriedade produtiva (art. 1853). Caso a propriedade rural no cumpra a sua funo social, a Constituio autoriza a Unio a promover a respectiva desapropriao por interesse social, para fins de reforma agrria (art. 184, caput4), como tambm veremos na sequncia da aula. Ao condicionar o direito propriedade ao atendimento da sua funo social, o texto constitucional, de um lado, assegura o direito do proprietrio, tornando inatacvel sua propriedade caso ela esteja cumprindo aquela funo (o Estado tem o dever jurdico de respeit-la nessas condies), e, de outro, impe ao proprietrio o dever jurdico de mant-la ajustada exigncia constitucional, garantindo ao Estado (abrangendo, aqui, todos os entes da Federao) o poder de interveno na propriedade que estiver em dbito com a funo social. Na mesma linha, o Cdigo Civil dispe que o proprietrio tem a faculdade de Òusar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reav-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenhaÓ (art. 1.228). Mas em seguida, faz a seguinte ressalva, condizente com o carter social da propriedade: Òo direito de propriedade deve ser exercido em consonncia com as suas finalidades econmicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilbrio ecolgico e o patrimnio histrico e artstico, bem como evitada a poluio do ar e das guasÓ (art. 1.228, ¤1¼). Por fim, o Cdigo admite a perda da 3 Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária: I & a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra; II & a propriedade produtiva. Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à propriedade produtiva e fixará normas para o cumprimento dos requisitos relativos a sua função social. 4 Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei. Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 6 de 89 propriedade por desapropriao por necessidade ou utilidade pblica, ou interesse social, bem como sua privao temporria na hiptese de requisio, em caso de perigo pblico iminente (art. 1.228, ¤3¼). Essas disposies do Cdigo Civil reforam o sentido social da propriedade. Se o proprietrio no respeita essa funo, nasce para o Estado o poder jurdico de nela intervir e at de suprimi-la. Resumindo essas noes, Carvalho Filho conceitua interveno do Estado na propriedade privada da seguinte forma: Interveno do Estado na propriedade privada: toda e qualquer atividade estatal que, amparada em lei, tenha por fim ajustar a propriedade aos inmeros fatores exigidos pela funo social a que est condicionada. Mas, como se d a interveno do Estado na propriedade privada? somente por meio da desapropriao ou existem outras formas? o que veremos em seguida. MODALIDADES DE INTERVENÇÃO Carvalho Filho ensina que existem duas formas bsicas de interveno do Estado na propriedade, a saber: " Interveno restritiva " Interveno supressiva A interveno restritiva aquela em que o Estado impe restries e condicionamentos ao uso da propriedade, sem, no entanto, retir-la de seu dono. So modalidades de interveno restritiva: servido administrativa, requisio, ocupao temporria, limitaes administrativas e tombamento. A interveno supressiva, por sua vez, aquela em que o Estado, valendo-se da supremacia que possui em relao aos indivduos, transfere coercitivamente para si a propriedade de terceiro, em virtude de algum interesse pblico previsto na lei. Em outras palavras, o dono efetivamente perde a sua propriedade em favor do Estado. A nica modalidade de interveno supressiva a desapropriao. Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 8 de 89 pode o Estado faz-lo em relao aos bens da Unio. Por outro lado (desde que haja autorizao legislativa), a Unio pode instituir servido em relao a bens estaduais e municipais, e o Estado em relao a bens municipais. Na verdade, essa regra de ÒhierarquiaÓ entre os entes federados vale para todas as modalidades de interveno que podem incidir sobre bens pblicos. As servides administrativas podem ser institudas por meio de acordo administrativo ou por sentena judicial. Por essa razo, diz-se que, na servido administrativa, no h autoexecutoriedade. Pelo acordo administrativo, o Poder Pblico e o particular proprietrio do imvel celebram um acordo formal permitindo que o Estado utilize a propriedade para determinada finalidade de interesse pblico. Esse acordo deve ser sempre precedidoda declarao de necessidade pblica de instituir a servido por parte do Estado. Essa declarao feita por meio de decreto do Chefe do Executivo. Quando no h acordo entre as partes, a servido pode ser instituda por sentena judicial. O mais comum o Poder Pblico entrar com ao contra o proprietrio. Mas tambm pode ocorrer o contrrio, ou seja, o proprietrio entrar com ao contra o Poder Pblico caso, por exemplo, o Estado passe a usar sua propriedade sem a instituio formal da servido e, consequentemente, sem lhe pagar a devida indenizao. Por falar em indenizao, ela s devida para ressarcir os danos ou prejuzos causados pelo Poder Pblico durante o uso. Afinal, no h transferncia de propriedade. Portanto, se o Poder Pblico no provocar nenhum dano ou prejuzo ao imvel, o proprietrio no far jus a qualquer indenizao. Por outro lado, se houver prejuzo, o proprietrio dever ser indenizado em montante equivalente ao prejuzo. E o nus da prova do proprietrio, ou seja, ele quem deve demonstrar que o Poder Pblico danificou seu imvel e, por isso, lhe deve a indenizao. O prazo de prescrio para o particular pleitear indenizao no caso de servido administrativa de cinco anos, contados da efetiva restrio imposta pelo Poder Pblico (Decreto-lei 3.365/1941, art. 10, pargrafo nico). Sendo a servido administrativa um direito real em favor do Poder Pblico sobre a propriedade alheia, cabe inscrev-la no Registro de Imveis para produzir efeitos erga omnes, ou seja, para assegurar o conhecimento do fato por terceiros interessados. Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 11 de 89 REQUISIÇÃO ADMINISTRATIVA Requisio administrativa a utilizao coativa de bens e servios particulares pelo Estado em situao de perigo pblico iminente, com indenizao posterior, se houver dano. A expresso-chave para a requisio, portanto, Òperigo pblico iminenteÓ, que aquele perigo que no apenas coloca em risco a coletividade, mas que tambm est prestes a acontecer. Na Constituio Federal, o instituto est previsto em seu art. 5¼, XXV: XXV - no caso de iminente perigo pblico, a autoridade competente poder usar de propriedade particular, assegurada ao proprietrio indenizao ulterior, se houver dano; A requisio administrativa pode ser militar ou civil. A requisio militar objetiva o resguardo da segurana interna e a manuteno da soberania nacional, diante de conflito armado, comoo interna etc.; a requisio civil, por sua vez, visa a evitar danos vida, sade e aos bens da coletividade, diante de inundao, incndio, sonegao de gneros de primeira necessidade, epidemias, catstrofes etc5. A requisio pode incidir sobre bens mveis e imveis, assim como sobre servios particulares. Numa situao de iminente calamidade pblica, por exemplo, a Administrao poder requisitar o uso de imvel particular ou dos equipamentos e dos servios mdicos de um hospital privado. Outros exemplos seriam a utilizao de veculo particular pela Polcia para a perseguio de criminosos ou o uso de uma escada particular pelos Bombeiros para combater incndio. Diante da situao de perigo iminente, a requisio poder ser decretada de imediato, sem a necessidade de prvia autorizao judicial. Trata-se, portanto, de um ato autoexecutrio. A nica condio a existncia do perigo pblico iminente e a observncia das formalidades legais quanto competncia para a prtica do ato e ao procedimento adequado. A Constituio Federal estabelece que compete privativamente Unio legislar sobre requisies civis e militares, em caso de iminente perigo e em tempo de guerra (art. 22, III). Tal competncia, porm, apenas legislativa, ou seja, para editar leis sobre o assunto. De fato, 5 Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo (2014, p. 1027). Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 14 de 89 OCUPAÇÃO TEMPORÁRIA Ocupao temporria a forma de interveno pela qual o Poder Pblico usa transitoriamente imveis privados, como meio de apoio execuo de obras e servios pblicos. o caso, por exemplo, de quando a Administrao, em obras de estradas, usa terreno particular como local para guardar mquinas e equipamentos ou para montagem de barracas de operrios. Ocorre tambm quando o Poder Pblico usa escolas, clubes e outros estabelecimentos privados como locais de votao nas eleies ou como postos de vacinao nas campanhas pblicas. Detalhe que a ocupao temporria s incide sobre bem imvel. A instituio da ocupao temporria ato autoexecutrio, ou seja, no depende de prvia autorizao do Poder Judicirio. J a sua extino d-se com a concluso da obra ou servio pelo Poder Pblico, ou seja, com o fim da necessidade que lhe deu causa. Na ocupao temporria, assim como na servido e na requisio, a indenizao tambm condicionada ocorrncia de prejuzo ao proprietrio, ou seja, em princpio no haver indenizao alguma; esta s ser devida se o uso do bem particular acarretar prejuzo ao seu proprietrio7. Ocorre em cinco anos a prescrio para que o proprietrio postule indenizao pelos prejuzos decorrentes da ocupao temporria. 7 Há casos em que a ocupação temporária incide sobre terrenos vizinhos a obras públicas vinculadas ao processo de desapropriação. Nestes casos, a ocupação temporária será sempre indenizada, independentemente de dano. É o que dispõe o art. 36 do Decreto 3.365/1941, que trata da desapropriação por utilidade pública: “É permitida a ocupação temporária, que será indenizada, afinal, por ação própria, de terrenos não edificados, vizinhos às obras e necessários à sua realização”. Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 16 de 89 LIMITAÇÕES ADMINISTRATIVAS Limitaes administrativas so determinaes de carter geral, previstas em lei ou em ato normativo, por meio das quais o Poder Pblico impe a proprietrios indeterminados obrigaes de fazer (obrigaes ÒpositivasÓ), ou obrigaes de deixar de fazer alguma coisa (obrigaes ÒnegativasÓ, ou de Òno fazerÓ ou de ÒpermitirÓ), com a finalidade de assegurar que a propriedade atenda sua funo social. No caso das limitaes administrativas, o Poder Pblico no pretende realizar qualquer obra ou servio pblico. Pretende, ao contrrio, condicionar as propriedades funo social que delas exigida, ainda que contrariando o interesse individual dos respectivos proprietrios. So exemplos de limitaes administrativas: a obrigao de observar o recuo de alguns metros das construes em terrenos urbanos; a proibio de desmatamento de parte da rea de floresta em propriedade rural; proibio de construir alm de determinado nmero de pavimentos; a obrigatoriedade de permitir vistorias em elevadores de edifcios ou o ingresso de agentes para fins de vigilncia sanitria etc. Como se nota, as limitaes administrativas possuem fundamento no poder de polcia do Estado. As limitaes administrativas podem incidir tanto sobre bens imveis como sobre quaisquer outros bens e atividades particulares. Devem ser sempre gerais, dirigidas a propriedades indeterminadas, e jamais a algum particular especfico. Geralmente, tm origem em leis e atos normativos de natureza urbanista. Sendo imposies de carter geral, dirigida a pessoas indeterminadas, as limitaes administrativas, de regra, no afetam diretamente o direito subjetivo de algum, razo pela qual no do ensejo indenizao em favor dos proprietrios. Com efeito, osprejuzos eventualmente ocorridos no so individualizados, mas sim gerais, devendo ser suportados pelos prejudicados em favor da coletividade. Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 18 de 89 O patrimnio cultural brasileiro constitudo por bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referncia identidade, ao e memria dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem (CF, art. 216): ! as formas de expresso; ! os modos de criar, fazer e viver; ! as criaes cientficas, artsticas e tecnolgicas; ! as obras, objetos, documentos, edificaes e demais espaos destinados s manifestaes artstico-culturais; ! os conjuntos urbanos e stios de valor histrico, paisagstico, artstico, arqueolgico, paleontolgico, ecolgico e cientfico. Pelo tombamento, o Poder Pblico protege bens que so considerados de valor histrico ou artstico, determinando a sua inscrio nos chamados Livros do Tombo. Como consequncia dessa medida, o bem, ainda que pertencente a particular, passa a ser considerado bem de interesse pblico, sujeitando o seu titular a uma srie de restries. Ou seja, no tombamento, da mesma forma que nas demais modalidades de interveno j estudadas, os bens no passam para a propriedade do Poder Pblico, mas apenas sofrem restries e condicionamentos no seu uso. Geralmente, os bens tombados so imveis que retratam a arquitetura de pocas passadas. Mas tambm comum o tombamento de bairros ou at mesmo de cidades, quando retratam aspectos culturais da nossa Histria. O tombamento pode ainda recair sobre bens mveis, como documentos textuais e acervos de museus. Detalhe que o tombamento tambm pode incidir sobre bens pblicos, vale dizer, bens pertencentes s pessoas polticas (Unio, Estados, DF e Municpios). No esto sujeitas ao tombamento as seguintes obras de origem estrangeira (Decreto-lei 25/1937, art. 3¼): ! que pertenam s representaes diplomticas ou consulares acreditadas no pas; ! que adornem quaisquer veculos pertencentes a empresas estrangeiras, que faam carreira no pas; ! que pertenam a casas de comrcio de objetos histricos ou artsticos; Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 19 de 89 ! que sejam trazidas para exposies comemorativas, educativas ou comerciais: ! que sejam importadas por empresas estrangeiras expressamente para adorno dos respectivos estabelecimentos. Ressalte-se que os bens estrangeiros que no atendam a esses requisitos podem ser objeto de tombamento. A competncia para legislar sobre a proteo ao patrimnio histrico, cultural, artstico, turstico e paisagstico concorrente entre a Unio, os Estados e o Distrito Federal Ð os Municpios no esto includos (CF, art. 24, VII). Aos Municpios foi dada a atribuio de Òpromover a proteo do patrimnio histrico-cultural local, observada a legislao e a ao fiscalizadora federal e estadualÓ (CF, art. 30, IX). Vale dizer, os Municpios no tm competncia legislativa nessa matria8, mas devem utilizar os instrumentos de proteo previstos na legislao federal e estadual. O tombamento pode ser voluntrio ou compulsrio. Ocorre o tombamento voluntrio sempre que o processo for provocado pelo prprio proprietrio ou sempre que este consentir com a proposta feita pelo Poder Pblico. J o tombamento compulsrio feito por iniciativa do Poder Pblico, mesmo contra a vontade do proprietrio. O tombamento pode, ainda, ser provisrio ou definitivo. Ser provisrio enquanto est em curso o processo instaurado pela notificao do Poder Pblico, e definitivo quando, depois de concludo o processo, o Poder Pblico procede inscrio do bem como tombado, nos respectivos registros oficiais. Para todos os efeitos, o tombamento provisrio se equiparar ao definitivo (exceto quanto ao registro nos livros oficiais, que somente feito por ocasio do tombamento definitivo). Outra classificao do tombamento, quanto aos destinatrios, considera o individual, que atinge um bem determinado, e o geral, que atinge todos os bens situados em um bairro ou cidade. O tombamento promovido mediante ato administrativo do Poder Executivo. Tal ato deve ser sempre precedido de processo 8 Carvalho Filho ensina que a legislação federal e estadual poderá ser suplementada, no que couber, pela legislaçãomunicipal, por força do art. 30, II da CF. Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 20 de 89 administrativo no qual se assegure ao proprietrio o direito ao contraditrio e ampla defesa. Neste processo so obrigatrios9: ! O parecer do rgo tcnico cultural (na esfera federal, o Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional Ð IPHAN); ! A notificao ao proprietrio, que poder manifestar-se anuindo com o tombamento ou impugnando a inteno do Poder Pblico de decret-lo; ! Deciso do Conselho Consultivo da pessoa incumbida do tombamento, aps as manifestaes dos tcnicos e do proprietrio. A deciso poder ser pela anulao do processo, se houver ilegalidade, pela rejeio da proposta de tombamento ou pela homologao da proposta; ! Possibilidade de interposio de recurso pelo proprietrio, contra o tombamento, a ser dirigido ao chefe do Poder Executivo. O tombamento produz diversos efeitos, especialmente sobre a alienao, as transformaes, a conservao e a fiscalizao do bem tombado. Os principais efeitos do tombamento so: ! vedado ao proprietrio, ou ao titular de eventual direito de uso, destruir, demolir ou mutilar o bem tombado; ! O proprietrio somente poder reparar, pintar ou restaurar o bem aps a devida autorizao do Poder Pblico; ! O proprietrio dever conservar o bem tombado para mant-lo dentro de suas caractersticas culturais; se no tiver para tanto, dever comunicar sua necessidade ao rgo competente; ! Independentemente de solicitao do proprietrio, pode o Poder Pblico, no caso de urgncia, providenciar as obras de conservao; ! Os proprietrios dos imveis vizinhos no podem, sem a autorizao do Poder Pblico, fazer construo que impea ou reduza a visibilidade do imvel tombado, nem nele colocar anncios ou cartazes; ! O tombamento do bem no impede o proprietrio de grav-lo por meio de penhor, anticrese ou hipoteca; ! No caso de leilo judicial do bem tombado, o Poder Pblico (Unio, Estado e Municpio, nesta ordem) tem direito de preferncia. Por este ltimo item, repare que no vedada a alienao do bem particular tombado. Porm, se essa alienao for feita em leilo judicial (por exemplo, para executar uma dvida do proprietrio), a Unio, o Estado e o Municpio onde se situe Ð nesta ordem Ð tero direito de preferncia na arrematao, em igualdade de oferta (CPC, art. 892, 9 Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo (2014, p. 1033f1034). Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 23 de 89 Passemos agora ao estudo da desapropriao, nica modalidade de interveno supressiva na propriedade e, por isso mesmo, mais cheia de detalhes e mais cobrada em prova. Em frente! Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 24 de 89 DESAPROPRIAÇÃO Desapropriao ou expropriao o procedimento administrativo pelo qual o Poder Pblico transferepara si a propriedade de terceiro, por razes de utilidade pblica, de necessidade pblica ou de interesse social, mediante o pagamento de prvia e justa indenizao. Na Constituio Federal, a desapropriao est prevista no art. 5¼, XXIV: XXIV - a lei estabelecer o procedimento para desapropriao por necessidade ou utilidade pblica, ou por interesse social, mediante justa e prvia indenizao em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituio; Da leitura do dispositivo constitucional, ganham destaque os possveis pressupostos da desapropriao: " Necessidade pblica ou utilidade pblica; " Interesse social. A necessidade pblica ocorre quando h uma situao de emergncia cuja soluo requeira a transferncia da propriedade do bem para o Poder Pblico. Por exemplo, numa calamidade pblica, pode ser necessrio desapropriar imveis que estejam em situao de risco. Diversamente, na utilidade pblica a transferncia do bem conveniente e vantajosa ao interesse coletivo, mas no imprescindvel. Ou seja, no h uma situao de emergncia que imponha o ato expropriatrio. Exemplo de utilidade pblica seria a desapropriao de um imvel para a construo de uma escola ou para a abertura de vias pblicas. Por sua vez, o interesse social ocorre quando as circunstncias impem a distribuio ou o condicionamento da propriedade para seu melhor aproveitamento, utilizao ou produtividade em benefcio da coletividade ou de categorias sociais merecedoras de amparo especfico do Poder Pblico. Em outras palavras, na desapropriao por interesse social, busca-se realar a funo social da propriedade, mediante a transferncia do domnio do bem. Como exemplo, pode-se citar a desapropriao de terras rurais para fins de reforma agrria ou assento de colonos. Convm assinalar, desde logo, que os bens desapropriados por interesse social no se destinam Administrao, mas sim coletividade ou a certos beneficirios que a lei credencia para recebe-los e utiliza-los Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 26 de 89 A primeira exigncia implica dizer que a entidade poltica ÒmaiorÓ ou ÒcentralÓ (isto , a que representa os interesses mais abrangentes, quais sejam, nacional, regional e local, nesta ordem) pode desapropriar bens da entidade poltica ÒmenorÓ ou ÒlocalÓ (que representa os interesses menos abrangentes), mas o inverso no possvel. Por exemplo, a Unio pode desapropriar um bem pblico estadual, mas o Estado no pode desapropriar um bem pblico federal, embora possa expropriar um bem pblico municipal, desde que se trate de um Municpio situado no seu territrio. Disso decorre que os bens pblicos federais so inexpropriveis e que os Estados no podem desapropriar os bens de outros Estados ou de Municpios situados em outros Estados, nem os Municpios podem desapropriar bens de outras entidades federativas. Essas regras tambm valem para os bens pertencentes s entidades da administrao indireta vinculadas a cada um dos entes federados, inclusive no caso das entidades cujos bens se classificam formalmente como bens privados (fundaes pblicas de direito privado, empresas pblicas e sociedades de economia mista). Assim, por exemplo, um Estado no pode desapropriar os bens de uma autarquia da Unio, mas pode desapropriar os bens de uma empresa pblica vinculada a um Municpio situado em seu territrio. O art. 2¼, ¤3¼ do Decreto-lei 3.365/1941 dispe que vedada a desapropriao, pelos Estados, Distrito Federal, Territrios e Municpios de aes, cotas e direitos representativos do capital de instituies e empresas cujo funcionamento dependa de autorizao do Governo Federal e se subordine sua fiscalizao, salvo mediante prvia autorizao, por decreto do Presidente da Repblica. Amparados nessa previso legal, a doutrina e a jurisprudncia construram o entendimento de que um Municpio ou um Estado pode desapropriar bens de uma entidade da administrao indireta vinculada Unio, desde que haja prvia autorizao do Presidente da Repblica, concedida mediante decreto. Da mesma forma, um decreto estadual pode autorizar um Municpio situado no respectivo territrio a desapropriar bens de entidades administrativas vinculadas ao Estado. Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 27 de 89 Em regra, um ente federado ÒmenorÓ no pode desapropriar os bens de entidades da administrao indireta vinculadas a um ente federado ÒmaiorÓ, salvo se houver autorizao do chefe do Poder Executivo do ente ÒmaiorÓ, mediante decreto. importante anotar que, de maneira semelhante, os bens de uma pessoa privada (no integrante da Administrao Pblica) que seja delegatria de um servio pblico de titularidade de um ente federado ÒmaiorÓ no podem ser desapropriados por um ente ÒmenorÓ, salvo se o ente ÒmaiorÓ autorizar a desapropriao, mediante decreto. O detalhe que, nessa hiptese, a vedao s alcana os bens da delegatria efetivamente empregados na prestao do servio pblico; dizendo de outra forma, o decreto de autorizao no necessrio para a desapropriao de bens no empregados na prestao do servio. Ainda com relao ao objeto da desapropriao, cabe assinalar que determinados tipos de bens no podem ser objeto de desapropriao, a exemplo da moeda corrente do Pas e dos chamados direitos personalssimos, como a honra, a liberdade e a cidadania. PROCEDIMENTO A doutrina classifica a desapropriao como forma originria de aquisio de propriedade, porque no provm de nenhum ttulo anterior, vale dizer, nasce de uma relao direta entre o expropriante e o bem expropriado, sem a interveno de um terceiro. Por essa razo, o bem expropriado torna-se insuscetvel de reinvindicao, ou seja, no pode ningum aparecer reclamando a propriedade do bem. Disso decorre, inclusive, que a desapropriao pode prosseguir mesmo que a Administrao no saiba quem seja o proprietrio do bem; apenas no momento de levantar o valor da indenizao que o interessado dever provar que o proprietrio. A desapropriao efetivada mediante um procedimento administrativo que possui duas fases: " Fase declaratria " Fase executria Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 28 de 89 Na fase declaratria, o Poder Pblico manifesta sua vontade na futura desapropriao, declarando a existncia de utilidade pblica, de necessidade pblica ou de interesse social para fins de desapropriao. A declarao expropriatria pode ser feita pelo Poder Executivo, por meio de decreto do Presidente da Repblica, do Governador ou do Prefeito (regra), ou pelo Poder Legislativo, mediante lei11. Quando ela feita pelo Poder Legislativo, cabe ao Executivo tomar as medidas necessrias efetivao da desapropriao. Detalhe que a declarao, quando feita pelo Poder Executivo, independe de autorizao legislativa, em regra. Esta somente obrigatria quando a desapropriao recaia sobre bens pblicos. O ato declaratrio, seja lei ou decreto, deve indicar: (i) a descrio precisa do bem a ser desapropriado; (ii) a finalidade da desapropriao e a destinao especfica a ser dada ao bem; (iii) o fundamento legal; (iv) os recursos oramentrios destinados ao atendimento da despesa com a indenizao. A declarao de utilidade/necessidade pblica ou de interesse social, por si s, j produz alguns efeitos, dentre os quais se destacam: ! Fixar o estado em que se encontra o bem, isto , indica suas condies e as benfeitorias existentes, para fins de determinaro valor da futura indenizao; ! Conferir ao Poder Pblico o direito de penetrar no bem a fim de fazer verificaes e medies, sendo possvel o recurso fora policial no caso de resistncia do proprietrio; ! Dar incio contagem do prazo de caducidade da declarao. Como assinalado acima, o estado do bem no momento da declarao expropriatria que ser levado em considerao no clculo da indenizao. Mas isso no impede a realizao de obras e benfeitorias no imvel aps a declarao. Todavia, na hiptese de realizao de obras posteriores, a indenizao somente cobrir as benfeitorias necessrias, isto , aquelas que tm a finalidade de conservar o imvel para evitar a sua deteriorao, a exemplo do reparo de infiltraes ou da substituio de sistemas eltricos danificados. Ademais, desde que autorizadas pelo Poder Pblico, tambm podero ser indenizadas as benfeitorias teis, isto , aquelas que aumentam ou facilitam o uso do imvel, como a 11 Há na doutrina quem defenda que a declaração expropriatória do Poder Legislativo não deve ser feita por meio de lei, e sim por decreto legislativo. A diferença fundamental é que, se o ato for um decreto legislativo, não precisa passar pelo crivo do Poder Executivo para fins de sanção ou veto. Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 29 de 89 construo de uma garagem ou a instalao de travas eletrnicas nas portas. Por outro lado, no so indenizveis as benfeitorias volupturias, que tm a finalidade apenas de tornar o imvel mais bonito e agradvel, tais como obras de jardinagem e de decorao. Cumpre salientar que as benfeitorias, de qualquer espcie, existentes no imvel antes da declarao, sero todas indenizadas, uma vez que a declarao deve recompor integralmente o patrimnio expropriado12. Quanto ao prazo de caducidade da declarao, em regra, de cinco anos, contados da data da expedio do decreto. Significa que, se a fase executria da desapropriao no for efetivada nesse prazo, o decreto caducar, ou seja, perder a eficcia, e somente aps um ano o mesmo bem poder ser objeto de nova declarao. Na hiptese de desapropriao por interesse social, o prazo de caducidade de dois anos, tambm contado a partir da expedio do decreto. Aps a fase declaratria, em que o Poder Pblico manifesta a inteno de desapropriar o bem, tem incio a fase executria, a qual compreende os atos pelos quais o Poder Pblico efetivamente promove a desapropriao, ou seja, adota as medidas necessrias para transferir a propriedade do bem para o expropriante e para assegurar ao antigo proprietrio a devida indenizao. A competncia para promover a desapropriao tanto dos entes competentes para editar o ato declaratrio (Unio, Estados, DF e Municpios) como tambm das entidades da administrao indireta (autarquias, fundaes, empresas pblicas e sociedades de economia mista) e das concessionrias e permissionrias de servios pblicos. Frise-se que, para as concessionrias e permissionrias de servios pblicos, a competncia condicionada, visto que s podem promover ao de desapropriao se estiverem expressamente autorizadas em lei ou contrato (Decreto-lei 3.365/1941, art. 3¼). 12 Di Pietro (2009, p. 164). Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 31 de 89 A fase executria poder ser administrativa ou judicial. Ser administrativa quando houver acordo entre as partes, expropriante e expropriado, em relao necessidade de transferir o bem e ao valor da indenizao a ser paga. a chamada Òdesapropriao amigvelÓ. Havendo acordo na via administrativa, o negcio ser formalizado por meio de escritura pblica ou por outro meio que a lei venha especificamente indicar, sendo desnecessria a fase judicial. No havendo acordo, a fase executria ser judicial (o que mais comum). No caso, o Poder Pblico dever propor uma ao judicial de desapropriao (o autor da ao deve necessariamente ser o Poder Pblico13), tendo como ru o proprietrio do bem a ser expropriado. Iniciado o processo judicial, se as partes chegarem num acordo, a deciso judicial ser apenas homologatria, valendo como ttulo para transcrio no registro de imveis. No processo judicial s podem ser discutidas questes relativas ao valor da indenizao ou a vcio processual. No possvel discutir outras questes como, por exemplo, os motivos que levaram o Poder Pblico a declarar o bem como de utilidade pblica ou de interesse social, ou ainda, se foi feita a correta identificao do proprietrio, se houve algum desvio de finalidade etc.; a pessoa que queira discutir essas questes pode at leva-las ao Poder Judicirio, mas em uma ao autnoma, diferente da ao de desapropriao proposta pelo Poder Pblico. Detalhe interessante que, antes de efetivada a transferncia do bem, o Poder Pblico pode desistir da desapropriao, caso desapaream as razes que a motivaram. A desistncia pode ocorrer, inclusive, no curso da ao judicial. Na hiptese de desistncia, o proprietrio faz jus indenizao por todos os prejuzos causados pelo expropriante. 13 O autor da ação de desapropriação poderá ser a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios, uma entidade da administração indireta ou um concessionário ou permissionário de serviço público, estes últimos quando autorizados em lei ou contrato. Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 32 de 89 INDENIZAÇÃO Conforme prescreve o art. 5¼, XXIV da CF, a desapropriao ser promovida Òmediante justa e prvia indenizao em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta ConstituioÓ. O valor da indenizao deve ser suficiente para recompor integralmente o patrimnio da pessoa que teve o bem expropriado (afinal, a CF exige que a indenizao seja justa). Para tanto, a indenizao dever abranger no s o valor atual do bem, como tambm os danos emergentes e os lucros cessantes decorrentes da perda da propriedade, alm dos juros moratrios e compensatrios, da atualizao monetria, das despesas judiciais e dos honorrios advocatcios. Quaisquer pessoas atingidas indiretamente pela desapropriao tambm faro jus indenizao, a ser reclamada em ao prpria. o caso, por exemplo, do locatrio de imvel desapropriado que tenha sido prejudicado pelo ato. Todavia, no caso de nus reais eventualmente incidentes sobre o bem expropriado (ex: penhor, hipoteca, anticrese), o Poder Pblico no responde, porque tais direitos ficam sub-rogados no preo (Decreto-lei 3.365/1941, art. 31), ou seja, presume-se que a indenizao devida ao proprietrio substitui essas garantias. Sendo assim, uma vez depositado o valor indenizatrio, so os prprios interessados que devem disputar suas respectivas parcelas de acordo com a natureza e a dimenso dos seus direitos14. A regra a indenizao ser paga em dinheiro, mas h casos previstos na Constituio em que o pagamento poder ser efetuado de outras formas (Òressalvados os casos previstos nesta ConstituioÓ), quais sejam: # Desapropriao de propriedades urbanas que descumprem o plano diretor do Municpio (CF, art. 182, ¤4¼, III): a indenizao ser paga em ttulos da dvida pblica de emisso previamente aprovada pelo Senado Federal, Òcom prazo de resgate de at dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenizao e os juros legaisÓ; 14 Carvalho Filho (2014, p. 880). O autor ensina que, no caso de hipoteca ou penhor, a desapropriação acarreta o vencimento antecipado da dívida. Dessa forma, caso, por exemplo,o imóvel expropriado estivesse hipotecado como garantia de um financiamento imobiliário, o proprietário, ao receber a indenização, teria que quitar a dívida ou constituir uma nova garantia. Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 33 de 89 # Desapropriao de propriedades rurais para fins de reforma agrria (CF, art. 184): a indenizao ser paga em ttulos da dvida agrria Òcom clusula de preservao do valor real, resgatveis no prazo de at vinte anos, a partir do segundo ano de sua emisso, e cuja utilizao ser definida em leiÓ; # Desapropriao de terras em que sejam cultivadas plantas psicotrpicas ilegais ou haja explorao de trabalho escravo (CF, art. 243): a desapropriao se consuma sem o pagamento de qualquer indenizao (nica hiptese de desapropriao sem indenizao). Ressalte-se que, na hiptese de desapropriao rural para fins de reforma agrria (segundo item acima), as benfeitorias teis e necessrias sero indenizadas em dinheiro, ressalva que no consta na hiptese de desapropriao urbanstica (primeiro item acima). Veremos essas hipteses de desapropriao com mais detalhes adiante, no tpico Òdesapropriao sancionatriaÓ. IMISSÃO PROVISÓRIA NA POSSE A desapropriao, em regra, somente se completa depois de efetuado o pagamento da devida indenizao; caso contrrio, estaria sendo desatendido o mandamento constitucional que exige prvia indenizao. Porm, desde que haja declarao de urgncia pelo Poder Pblico e depsito prvio, possvel ocorrer a chamada imisso provisria na posse, isto , o expropriante passa a ter a posse provisria do bem antes de finalizada a ao de desapropriao. A declarao de urgncia pode ser feita pelo Poder Pblico na prpria declarao expropriatria ou, depois, a qualquer momento, mesmo no curso do processo judicial. Detalhe que o valor do depsito prvio para permitir a imisso provisria na posse ser arbitrado pelo juiz segundo critrios estabelecidos em lei, ou seja, no se trata do valor definitivo da indenizao, o qual somente ser determinado ao final do procedimento de desapropriao, com a transferncia do bem. Para compensar a diferena entre o valor do depsito prvio e o realmente devido ao final do processo, so pagos juros compensatrios15 ao expropriado. 15 Segundo a Súmula 618 do STF, “na desapropriação, direta ou indireta, a taxa dos juros compensatórios é de 12% (doze por cento) ao ano”. Na ADI 2.332/DF, o STF fixou o entendimento de que a base de cálculo dos juros compensatórios deve corresponder à diferença entre 80% do preço ofertado pelo Poder Público e o valor fixado na sentença. Ademais, na mesma ação, o STF entendeu que os juros compensatórios são devidos independentemente de o imóvel produzir renda. Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 34 de 89 DESTINO DOS BENS DESAPROPRIADOS Como regra, os bens desapropriados passam a integrar o patrimnio das entidades que providenciaram a desapropriao e pagaram a respectiva indenizao, abrangendo, portanto, as pessoas polticas (Unio, Estados, DF e Municpios), as entidades da administrao indireta ou as concessionrias e permissionrias de servios pblicos. Quando o bem expropriado for destinado a integrar o patrimnio pblico, d-se o que a doutrina denomina integrao definitiva. No entanto, pode ocorrer de os bens desapropriados serem transferidos a terceiros. Trata-se da chamada integrao provisria, de que so exemplos: a desapropriao para fins de reforma agrria, pois os bens s ficam em poder do Estado enquanto no so repassados para os futuros beneficirios; a desapropriao para abastecimento da populao, em que os bens so distribudos para a populao; a desapropriao confiscatria, pois as glebas rurais so destinadas ao assentamento de colonos, para cultivo de produtos alimentcios e medicamentosos; a desapropriao para construo ou ampliao de distritos industriais, pois os lotes so revendidos ou locados para empresas previamente qualificadas etc. DESAPROPRIAÇÃO SANCIONATÓRIA A Constituio prev trs modalidades de desapropriao com carter sancionatrio, quais sejam: " Desapropriao urbanstica (CF, art. 182, ¤4¼) " Desapropriao rural (CF, art. 184) " Desapropriao confiscatria (CF, art. 243) A desapropriao urbanstica tem como fundamento o descumprimento da funo social da propriedade urbana, ou seja, o no atendimento do plano diretor do Municpio. O expropriante, nessa hiptese, ser o Municpio, segundo as regras gerais de desapropriao estabelecidas em lei federal. A indenizao ser paga mediante ttulos da dvida pblica de emisso previamente aprovada pelo Senado Federal. Na verdade, nos termos do art. 182, ¤4¼ da CF, a desapropriao a Òltima medidaÓ que o Poder Pblico dispe para obrigar a propriedade urbana a cumprir sua funo social prevista no plano diretor do Municpio. Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 35 de 89 Antes disso, o Municpio, mediante lei especfica, dever determinar o parcelamento ou edificao compulsrios, fixando as condies e os prazos para implementao; o proprietrio dever ser notificado para o cumprimento da obrigao e a respectiva notificao dever ser averbada no registro de imveis. Desatendida a notificao nos prazos legais, o proprietrio ficar sujeito a IPTU progressivo no tempo, mediante a majorao da alquota do imposto pelo prazo mximo de cinco anos consecutivos ou at que cumpra a obrigao. S aps esse prazo que o Municpio poder efetuar a desapropriao com pagamento em ttulos. J a desapropriao rural incide sobre imveis rurais que no estejam cumprindo a sua funo social. Trata-se, na verdade, de desapropriao por interesse social para fins de reforma agrria. O expropriante, nesse caso, ser exclusivamente a Unio16. A indenizao ser paga em ttulos da dvida agrria. Lembrando que a desapropriao rural no pode incidir sobre a pequena e mdia propriedade rural, desde que seu proprietrio no possua outra, nem sobre a propriedade produtiva (CF, art. 185). Por fim, a desapropriao confiscatria incide sobre propriedades rurais e urbanas de qualquer regio do Pas onde forem localizadas: ! Culturas ilegais de plantas psicotrpicas; ou a ! Explorao de trabalho escravo. O adjetivo ÒconfiscatriaÓ deriva do fato de que, nessa hiptese de desapropriao, o proprietrio no tem direito indenizao, ou seja, trata-se, na realidade, de um ÒconfiscoÓ da terra pelo Estado. Aps a transferncia da propriedade, as reas expropriadas sero destinadas reforma agrria e a programas de habitao popular, como dito, sem qualquer indenizao ao proprietrio e sem prejuzo de outras sanes previstas em lei (CF, art. 243). Qualquer bem de valor econmico que venha a ser apreendido em decorrncia do trfico ilcito de entorpecentes e drogas afins e da explorao de trabalho escravo ser confiscado e reverter a 16 Maria Sylvia Di Pietro ensina que não é correto afirmar que a desapropriação de imóveis rurais é sempre competência da União; somente o é quando o imóvel rural se destine à reforma agrária. Nesse sentido, podem os Estados e Municípios desapropriar imóveis rurais para fins de utilidade pública; não podem, frisefse, para fins de reforma agrária, privativa da União. Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 36 de 89 fundo especial com destinao especfica,na forma da lei (CF, art. 243, pargrafo nico). Por fim, ressalte-se que no qualquer cultura de plantas psicotrpicas que d margem a esse tipo de desapropriao, mas apenas aquela que seja ilcita, por no estar autorizada pelo Poder Pblico. Ademais, segundo a jurisprudncia do STF, a expropriao motivada pelo cultivo ilcito de espcies entorpecentes deve abranger a totalidade da rea do imvel, e no apenas a rea cultivada. Mesmo que a cultura ilegal ocupe apenas uma pequena frao da superfcie do imvel, a desapropriao deve recair sobre toda a propriedade, sem que isso represente ofensa ao princpio da proporcionalidade17. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA Desapropriao indireta a que se processa sem observncia do devido processo legal, vale dizer, a desapropriao efetuada sem que o Poder Pblico declare o bem como de interesse pblico ou pague a devida indenizao. Caso o proprietrio no conteste o ato no momento oportuno, deixando que a Administrao d uma destinao pblica ao bem, ocorre um Òfato consumadoÓ, gerador da desapropriao indireta. A partir de ento, o ex-proprietrio no mais poder reivindicar o bem, pois, nos termos do art. 35 do Decreto 3.365/1941, Òos bens expropriados, uma vez incorporados Fazenda Pblica, no podem ser objeto de reivindicao, ainda que fundada em nulidade do processo de desapropriaoÓ. Imagine, por exemplo, hiptese em que o Poder Pblico construa uma praa, uma escola, um cemitrio ou um aeroporto em rea pertencente a particular; terminada a construo e afetado o bem ao uso comum do povo ou ao uso especial da Administrao, certa ou erradamente, a situao torna-se irreversvel, vale dizer, o bem passa categoria de bem pblico, incorporando-se definitivamente ao patrimnio do Estado e, consequentemente, tornando-se insuscetvel de reivindicao. A soluo que cabe ao particular pleitear indenizao por perdas e danos. Outra situao que pode acarretar a desapropriao indireta quando o Poder Pblico impe a determinado bem particular restries to 17 STF – RE 543.974/MG Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 38 de 89 DIREITO DE EXTENSÃO O direito de extenso surge no caso de desapropriao parcial, quando a parte no expropriada do bem se torna intil, inservvel, sem valor econmico ou de difcil utilizao. Nessa hiptese, o proprietrio da parte inservvel pode exercer seu direito de extenso, exigindo que a desapropriao, e a consequente indenizao, seja estendida a todo o bem. O direito de extenso deve ser manifestado pelo proprietrio durante as fases administrativa ou judicial do procedimento de desapropriao, no se admitindo o pedido aps o trmino da desapropriao. TREDESTINAÇÃO Tredestinao ocorre quando o Poder Pblico confere ao bem desapropriado uma destinao diferente da inicialmente prevista no ato expropriatrio, com desvio de finalidade, ou seja, com prejuzo ao interesse pblico. Seria o caso, por exemplo, de o Poder Pblico desapropriar uma rea para a construo de uma escola e, ao invs disso, permitir que certa empresa se beneficie de tal rea, utilizando-a para outros fins. Neste caso, em que est claro o desvio de finalidade, temos a tredestinao ilcita, que gera o direito de reintegrao do bem ao ex-proprietrio (retrocesso). Diversa a hiptese da tredestinao lcita, em que o Poder Pblico d ao bem desapropriado um fim diverso daquele originalmente declarado no ato expropriatrio, porm sem deixar de observar o interesse pblico. Seria o caso, por exemplo, de o Poder Pblico desapropriar uma rea para a construo de uma escola e, ao invs disso, dado o interesse pblico superveniente, construir um hospital. Nessa hiptese, no h ilegalidade. Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 39 de 89 RETROCESSÃO Retrocesso o direito que tem o expropriado de exigir de volta o seu imvel caso o Poder Pblico no d a ele o destino que motivou a sua desapropriao, nem outro destino que atenda o interesse pblico. O instituto disciplinado no art. 519 do Cdigo Civil, in verbis: Art. 519. Se a coisa expropriada para fins de necessidade ou utilidade pblica, ou por interesse social, no tiver o destino para que se desapropriou, ou no for utilizada em obras ou servios pblicos, caber ao expropriado direito de preferncia, pelo preo atual da coisa. O direito de retrocesso surge quando h desinteresse superveniente do Poder Pblico pelo bem que desapropriou. Nesse caso, o expropriante tem a obrigao de oferecer ao ex-proprietrio o direito de preferncia na aquisio do bem. Detalhe que, se o ex-proprietrio desejar exercer seu direito de preferncia, dever faz-lo pelo valor atual do bem (e no pelo valor da indenizao que recebeu anteriormente). O direito de retrocesso tambm surge para o expropriado quando ocorre a denominada tredestinao ilcita, isto , quando h desvio de finalidade na destinao do bem expropriado. Na hiptese de no ser possvel o retorno do bem para o ex- proprietrio, este passa a ter direito indenizao por perdas e danos. importante ficar claro que o direito de retrocesso no pode ser exercido quando o bem, embora no esteja sendo empregado na finalidade para a qual foi desapropriado, o esteja em outra destinao pblica. Por outras palavras, desde que o imvel seja utilizado para um fim pblico qualquer, ainda que diferente do especificado originariamente, no ocorre o direito de retrocesso. Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 42 de 89 # Um Estado pode desapropriar bens de um Município, desde que se trate de Município situado em seu territórioW # Os Municípios e o Distrito Federal não podem desapropriar bens das demais entidades federativasW # A União não pode ter seus bens desapropriados. Gabarito: Errado 12. (Cespe – DP/DF 2013) Os juros compensatórios, que podem ser cumulados com os moratórios, incidem tanto sobre a desapropriação direta quanto sobre a indireta, sendo calculados sobre o valor da indenização, com a devida correção monetária\ entretanto, independem da produtividade do imóvel, pois decorrem da perda antecipada da posse. Comentário: A indenização pela desapropriação deve ser justa e prévia. Ou seja, o pagamento deve ser realizado, em regra, antes da imissão na posse pelo Poder Público. No entanto, desde que haja declaração de urgência pelo Poder Público e depósito prévio, é possível ocorrer a chamada imissão provisória na posse, isto é, o expropriante passa a ter a posse provisória do bem antes da finalização da ação de desapropriação. Assim, se ocorrer a imissão provisória na posse pelo Poder Público, serão devidos juros compensatórios como forma de ressarcir a perda da posse pelo proprietário antes do recebimento da indenização que lhe é devida. A seguir, alguns entendimentos jurisprudenciais sobre o tema: # Súmula 618 do STF: "na desapropriação, direta ou indireta, a taxa dos juros compensatórios é de 12% (doze por cento) ao ano". # Súmula 12 do STJ: “em desapropriação, são cumuláveis juros compensatórios e moratórios". # Súmula 69 do STJ: "Na desapropriação direta, os juros compensatórios são devidos desde a antecipada imissão na posse e, na desapropriação indireta, a partir da efetiva ocupação do imóvel". # Súmula 113 do STJ: "Os juros compensatórios, na desapropriação direta, incidem a partir da imissão na posse, calculados sobre o valor da indenização, corrigido monetariamente". # REsp 1.001.455 – STJ: “Os juros compensatórios sãodevidos independentemente de se tratar de imóvel improdutivo, pela perda da posse antes da justa indenização”. Gabarito: Certo Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 43 de 89 13. (Cespe – TRF2 Juiz – 2013) Os juros compensatórios e moratórios, na desapropriação, não são cumuláveis, sendo devidos apenas os juros compensatórios, os quais são pagos na desapropriação direta, a partir da efetiva ocupação do imóvel. Comentário: Juros compensatórios e juros moratórios não se confundem. Os primeiros servem para compensar a perda antecipada da posse, na hipótese de imissão provisória da posse. Já os juros moratórios decorrem da demora do Poder Público em indenizar o particular. Sobre a indenização devida ao expropriado deve incidir tanto juros compensatórios como moratórios, ou seja, eles são cumuláveis. Aliás, esse é o teor da Súmula 12 do STJ: “em desapropriação, são cumuláveis juros compensatórios e moratórios". Gabarito: Errado 14. (Cespe – DP/DF 2013) A desapropriação é forma originária de aquisição de propriedade que libera o bem de qualquer ônus que sobre ele incida, ou seja, se o bem estiver gravado com algum encargo, será repassado para o poder público sem nenhum ônus, não havendo, inclusive, a incidência de imposto sobre esse tipo de operação de transferência de imóveis. Entretanto, segundo o STJ, incidirá imposto de renda sobre verba recebida pelo proprietário a título de indenização decorrente de desapropriação. Comentário: É certo que o Poder Público não responde por eventuais ônus reais incidentes sobre o bem expropriado. Com efeito, dispõe o art. 31 do DecretoRlei 3.365/41 que ficam subRrogados no preço quaisquer ônus ou direitos que recaiam sobre o bem desapropriado. O erro da assertiva é que, para o STJ (REsp 1.116.460/SP), não incide imposto sobre a renda recebida a título de indenização decorrente de desapropriação. Segundo o entendimento daquela Corte Superior, a indenização decorrente de desapropriação não gera qualquer ganho de capital, já que a propriedade é transferida ao poder público por valor justo e determinado pela justiça a título de indenização, não ensejando lucro, mas mera reposição do valor do bem expropriado. Gabarito: Errado 15. (Cespe – PGE/BA 2014) Caso um governador resolva desapropriar determinado imóvel particular com o objetivo de construir uma creche para a educação infantil e, posteriormente, com fundamento no interesse público e em situação de urgência, mude a destinação do imóvel para a construção de um hospital público, o ato deve ser anulado, por configurar tredestinação ilícita. Comentário: Ao contrário do que afirma o item, a situação apresentada retrata hipótese de tredestinação lícita, vez que o Poder Público deu ao bem Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 44 de 89 desapropriado um fim diverso daquele originalmente declarado no ato expropriatório, porém não deixou de observar o interesse público (construiu um hospital ao invés de uma escola). Gabarito: Errado ***** isso pessoal. Fim da parte terica. Que tal consolidar o conhecimento resolvendo algumas questes de prova? Ao trabalho! Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 45 de 89 QUESTÕES DE PROVA 16. (FCC – CNMP 2015) O proprietário de um imóvel vizinho a edifício tombado em razão de seu valor histórico pretende construir mais um pavimento, o que, contudo, impedirá a visibilidade do bem tombado. De acordo com a legislação federal que rege a matéria, esse proprietário a) não poderá realizar a obra, sem prévia autorização do Serviço do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional, sob pena de ser mandada remover a obra, sem prejuízo de eventual imposição de multa. b) não possui qualquer impedimento para edificar, salvo se instituída servidão administrativa sobre seu imóvel. c) somente estará impedido de realizar a obra na hipótese de seu imóvel também ser tombado. d) terá direito a indenização por desapropriação indireta, na hipótese de ser impedido de realizar a obra pretendida. e) somente estará impedido de realizar a obra se o seu imóvel for declarado acessório no processo de tombamento do imóvel vizinho, de acordo com os limites de tal declaração. Comentários: vamos analisar cada item: a) CERTA. Segundo o art. 18 do DecretoRLei 25/1937: Art. 18. Sem prévia autorização do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, não se poderá, na vizinhança da coisa tombada, fazer construção que lhe impeça ou reduza a visibílidade, nem nela colocar anúncios ou cartazes, sob pena de ser mandada destruir a obra ou retirar o objéto, impondoFse nêste caso a multa de cincoenta por cento do valor do mesmo objéto. b) ERRADA. Como visto, a lei veda que o vizinho faça construção que impeça ou reduza a visibilidade da coisa tombada, ou seja, ele possui sim impedimento para edificar. c) ERRADA. A lei impõe restrições ao vizinho da coisa tombada, independentemente de seu imóvel também ser ou não tombado. d) ERRADA. A lei não prevê indenização ao vizinho por ser impedido de realizar a obra pretendida. É um típico caso de superioridade do interesse público sobre o privado, em que a vontade geral se sobrepõe à particular. e) ERRADA. Também não há previsão nesse sentido na lei. O particular ficará impedido de realizar a obra simplesmente por ser vizinho de um imóvel tombado. Gabarito: alternativa “a” Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 46 de 89 17. (FCC – Procurador Manausprev 2015) Um município litorâneo é proprietário de uma gleba de grande extensão e pretende dar a ela alguma destinação de interesse público. Identificando a necessidade de ampliar a oferta de empregos e de ingresso de receitas, pretende instalar no local um pólo tecnológico para atrair empresas do setor para a região. Para tanto, irá conceder o uso, gratuito, de lotes da área para as empresas que atendam os requisitos do setor. O projeto a) é expressão de atividade de fomento estatal, sendo possível sua implantação, o que pode recomendar a realização de licitação para escolha dos beneficiários, conforme o universo de interessados. b) configura intervenção do Estado no domínio econômico, o que somente pode ser viabilizado por meio da criação de empresas estatais cujo objeto social seja a atuação no setor de tecnologia. c) possui amparo no ordenamento jurídico em vigor, pois configura hipótese de inexigibilidade de licitação, tendo em vista que a outorga de concessão de uso prescinde de prévia realização de certame. d) excede as atividades regulares de atuação do Estado em atividades econômicas, sendo possível, no entanto, a alienação onerosa do terreno com dispensa de licitação. e) depende de autorização legislativa e licitação, tendo em vista que implica em transferência dominial do terreno, sendo vedada, portanto, a outorga gratuita. Comentários: vamos analisar cada item: a) CERTA. O Poder Público exerce atividade de fomento quando incentiva atividades privadas de interesse público. Para tanto, podem ser utilizadas várias medidas, como financiamento por bancos públicos em condições especiais, concessão de benefícios ou incentivos fiscais ou, como no caso da questão, pela cessão gratuita de áreas públicas. Logicamente, em razão do princípio da impessoalidade, caso existam vários interessados, será necessário realizar licitação para a escolha dos beneficiários. b) ERRADA. O caso não configura intervenção do Estado no domínio econômico,e sim atividade de fomento. De qualquer forma, a intervenção do Estado no domínio econômico não ocorre apenas por meio da criação de empresas estatais. Pode ocorrer também de forma indireta, por exemplo, por meio da regulação e fiscalização das atividades de empresas privadas. c) ERRADA. O caso não configura hipótese de inexigibilidade de licitação, pois há possibilidade de competição, em vista da existência de outros interessados. d) ERRADA. A cessão do terreno não excede as atividades regulares de atuação do Estado em atividades econômicos, pois caracteriza típica atividade Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 47 de 89 de fomento. Ademais, a cessão onerosa do terreno em questão não se insere nas hipóteses de dispensa previstas na Lei 8.666. e) ERRADA. Não haverá transferência de domínio, pois o enunciado afirma que haverá “concessão do uso”. Lembrando que a concessão de uso pode ser onerosa ou gratuita. Gabarito: alternativa “a” 18. (FCC – Procurador Manausprev 2015) A empresa estatal delegatária dos serviços de transporte metroviário está executando obras de prolongamento de uma das linhas urbanas. Durante a fase de execução de obras, além das áreas que serão efetivamente utilizadas pelo modal de transporte, são necessários canteiros de obras. Considerando que esses canteiros de obras perdem sua utilidade após a conclusão das obras, o instrumento mais adequado para ser utilizado pelo Poder Público para essa finalidade é a a) desapropriação, pois é facultado, ao término das obras, oferecer a área utilizada para ser adquirida pelo expropriado com sensível desconto no valor de mercado. b) ocupação temporária, que permite a utilização dos terrenos mediante pagamento de indenização compatível com o tempo em que vigorar a restrição. c) servidão administrativa, que se consubstancia em restrição à propriedade, permitindo que o proprietário continue utilizando a área. d) limitação administrativa, que obriga os proprietários a disponibilizarem, gratuitamente, seus terrenos para viabilizar obras públicas essenciais. e) requisição administrativa, que obriga os proprietários a disponibilizarem, gratuitamente e por tempo indeterminado, seus terrenos para dar suporte a áreas públicas. Comentários: A situação narrada no enunciado constitui típico exemplo de ocupação temporária, que é a forma de intervenção pela qual o Poder Público usa transitoriamente imóveis privados, como meio de apoio à execução de obras e serviços públicos. Detalhe é que, na ocupação temporária, a indenização é condicionada à ocorrência de prejuízo ao proprietário, ou seja, a indenização só será devida se o uso do bem particular acarretar prejuízo ao seu proprietário, a menos que a ocupação temporária incida sobre terrenos vizinhos a obras públicas vinculadas a processo de desapropriação, caos em que a ocupação temporária será sempre indenizada. Gabarito: alternativa “b” 19. (FCC – Procurador TCM/RJ 2015) O Tribunal de Contas competente recebeu denúncia de que determinado Prefeito estaria promovendo medidas que favoreceriam específico segmento da iniciativa privada, pugnando o requerente pela suspensão do suposto benefício e consequente responsabilização da autoridade. Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 48 de 89 Foi apurado que, com a finalidade de instalar um distrito industrial em região bastante valorizada de determinado Município, o prefeito declarou de utilidade pública, para fins de desapropriação, uma área de grande dimensão, às margens de rodovia estadual cuja exploração se dava por meio de concessão de serviço público. O distrito industrial seria exclusivamente destinado ao segmento de tecnologia voltado ao setor agroindustrial, a fim de viabilizar o desenvolvimento de pesquisas e insumos para aumentar a produção e a rentabilidade das culturas locais. Considerando que a área não era abrangida pelo contrato de concessão referido, a atuação do Município poderia se consubstanciar em a) limitação administrativa, pois restringirá o uso da área apenas ao setor de tecnologia aplicado à indústria agrícola, restringindo o potencial lucrativo dos particulares. b) burla à lei de licitação, na medida em que a finalidade indicada pelo Poder Público não se enquadra em interesse público, sendo vedado destinar área pública ao setor industrial. c) atividade de fomento, cabendo ao Município garantir que a disponibilização das áreas se dará por meio de procedimento isonômico entre aqueles que atendam os requisitos necessários para integrar o distrito industrial. d) ocupação temporária, na medida em que o Prefeito disponibilizará para aqueles que atuem no setor agroindustrial áreas para instalação de atividades por determinado período de tempo, restituindo os terrenos ao Município ao final do prazo. e) requisição de propriedade privada, visto que a área não será diretamente utilizada pelo Poder Público, somente o que autorizaria desapropriação, mas sim será destinada a particulares para atendimento do interesse público. Comentários: vamos analisar cada item: a) ERRADA. As limitações administrativas são determinações de caráter geral, previstas em lei ou em ato normativo, dirigidas a proprietários indeterminados. No caso em análise, o objeto da atuação do Município é um terreno específicoW logo, a situação não se enquadra nas características da limitação administrativa. b) ERRADA. Não é vedado destinar área pública ao setor industrial, desde que sejam atendidos o interesse público e as regras aplicáveis. c) CERTA. A destinação de áreas públicas para o desenvolvimento de atividades industrial é um típico exemplo de fomento. Logicamente, em vista do princípio da impessoalidade, a disponibilização das áreas deverá ocorrer por meio de procedimento isonômico entre aqueles que atendam os requisitos necessários para integrar o distrito industrial, como corretamente afirma o quesito. Direito Administrativo para Magistratura Federal Teoria e exercícios comentados Prof. Erick Alves – Aula 14 Prof. Erick Alves www.estrategiaconcursos.com.br 49 de 89 d) ERRADA. A ocupação temporária é utilizada para que o Poder Público utilize transitoriamente imóveis privados como meio de apoio à execução de obras e serviços públicos, o que não é o caso da questão. e) ERRADA. Requisição administrativa é a utilização coativa de bens e serviços particulares pelo Estado em situação de perigo público iminente, o que também não é o caso da questão. Gabarito: alternativa “c” 20. (FCC – Juiz TJ/RR 2015) Determinada Administração Municipal, com o fim de promover o desenvolvimento econômico local, desapropriou determinada gleba de terra, em área rural, para fins de constituição de um distrito industrial. O proprietário aceitou o valor ofertado e foi lavrada e registrada a escritura pública ultimando a desapropriação administrativa. A Administração Municipal, então, por meio de contrato de concessão de direito de superfície, possibilitou que indústrias se instalassem, pelo prazo de 15 anos, nos lotes da zona industrial recémNconstituída. Passados dez anos, em virtude da carência de recursos financeiros, o Prefeito Municipal obtém a aprovação, na Câmara Municipal, de projeto de lei autorizativa da alienação dos lotes componentes da zona industrial em questão. Diante de tal situação, é correto concluir que a) caso haja a alienação dos lotes, ficará caracterizada a tredestinação ilícita do bem desapropriado, havendo a possibilidade de pedido de retrocessão pelo expropriado. b) a desapropriação ocorrida é inválida, pois o ente municipal não tem competência para desapropriar glebas rurais, em face da competência privativa da União para promover
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