Buscar

19 Noções de nosologia Psiquiátrica

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 36 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 36 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 36 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

NOÇÕES DE NOSOLOGIA PSIQUIÁTRICA 
 
1 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 
Noções De Psiquiatria 
Conceitos Fundamentais De Psicopatologia Descritiva 
 "O que a alma é, não nos cabe saber; com o que ela se parece, quais são suas manifestações, é de 
grande importância." (Juan Luis Vives - 1538 - De Anima et Vita) 
A aplicação precisa da psicopatologia descritiva na prática da psiquiatria é necessária, no mínimo, 
pelas três razões seguintes: 
 
1. A psicopatologia descritiva é a ferramenta profissional fundamental do psiquiatra; ela é 
possivelmente, a única ferramenta diagnóstica exclusiva do psiquiatra. 
2. A psicopatologia descritiva diz respeito mais do que à simples realização de uma entrevista clínica 
com o paciente, ou, até mesmo, ter que escutá-lo, embora deva envolver ambos, necessariamente. 
3. A psicopatologia descritiva tem utilidade e aplicação clínica. 
 É claro que, para a prática racional da psiquiatria, é necessário o conhecimento de neurociências 
básicas; o conhecimento factual apropriado da psicologia, da sociologia e da antropologia social 
também é necessário. Com estes, há uma necessidade de um conhecimento operacional abrangente 
de medicina geral, especialmente neurologia e endocrinologia. Esta poderia ser considerada a base 
mínima de conhecimentos, essencial para a prática da psiquiatria. 
 
 As bases acadêmicas fundamentais de psiquiatria, no entanto, não são as descritas aqui, e sim a 
epidemiologia psiquiátrica e a psicopatologia descritiva. A epidemiologia é o estudo da distribuição da 
doença ou transtorno em uma população definida; na psiquiatria, portanto, ela refere-se ao 
conhecimento da incidência e da prevalência de diferentes condições psiquiátricas dentro de distintos 
grupos de pessoas. A psicopatologia descritiva, como ferramenta exclusiva do psiquiatra, pode ser 
comparada à anamnese e ao exame médico, ferramentas exclusivas do profissional médico. O 
psiquiatra acrescenta a essas ferramentas gerais da prática médica, de anamnese e exame, os 
conhecimentos únicos adicionais da psicopatologia descritiva. 
O Que É Psicopatologia? 
 A psicopatologia é o estudo sistemático do comportamento, da cognição e da experiência anormais; 
o estudo dos produtos de uma mente com um transtorno mental. Isto inclui as 
psicopatologias explicativas, nas quais existem supostas explicações, de acordo com conceitos 
teóricos (p. ex., a partir de uma base psicodinâmica, comportamental ou existencial, e assim por 
diante), e a psicopatologia descritiva, que consiste da descrição e da categorização precisas de 
experiências anormais , como informadas pelo paciente e observadas em seu comportamento (figura 
1.1). 
 
 
Figura 1.1 - As Psicopatologias. 
A psicopatologia descritiva consiste, portanto de duas partes distintas: a observação do 
comportamento e a avaliação empática da experiência subjetiva. A observação acurada é 
extremamente importante e um exercício muito mais útil do que simplesmente contar os sintomas; às 
vezes o uso servil de listas de sintomas, para a verificação de sua presença ou ausência, tem 
impedido a observação clinica genuína. A objetividade é crucial, mas existe também a necessidade 
de observar-se mais do que apenas o comportamento. 
NOÇÕES DE NOSOLOGIA PSIQUIÁTRICA 
 
2 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 
 A outra parte da psicopatologia descritiva - e a mais difícil - avalia a experiência subjetiva. Empatia, 
como termo psiquiátrico, significa literalmente "sentir-se como". Ela é usada ocasionalmente por 
certos profissionais que cuidam de pacientes como um sentimento caloroso e afável em relação às 
adversidades de outras pessoas. É louvável sentir-se desta maneira em relação às dificuldades de 
nossos pacientes, mas isto não é empatia, mas simpatia, que significa "sentir com". De certo modo, 
surpreende-nos saber que no grego moderno empatia significa "manter seus sentimentos 
internamente", que significa guardar rancor . Este não é, absolutamente, o sentido em que o termo é 
usado na psiquiatria! 
 
 Na psicopatologia descritiva o conceito de empatia é um instrumento clínico que precisa ser utilizado 
com habilidade para medir o estado subjetivo interno de outra pessoa usando a capacidade do 
próprio observador para a experiência emocional e cognitiva como um critério de medida. Isto é 
alcançado por um questionamento preciso, pleno de insight, persistente e informado, até que o 
médico seja capaz de oferecer um relato sobre a experiência subjetiva do paciente que este possa 
reconhecer como sendo realmente seu. Se a descrição do médico sobre a experiência interna do 
paciente não é reconhecida por este como sendo sua, o questionamento deve continuar até que a 
experiência interna seja reconhecidamente descrita. Ao longo de todo este processo, o sucesso 
depende da capacidade do médico como ser humano, de experimentar algo como a experiência 
interna de outra pessoa, o paciente; não se trata de uma avaliação que pode ser realizada por meio 
de um microfone ou computador. Ela depende absolutamente da capacidade compartilhada entre 
médico e paciente para a experiência e sentimentos humanos. 
Fenomenologia E Psicopatologia 
 Um dos métodos mais freqüentes de classificação de doença mental é pela categorização de 
experiências descritas por pessoas mentalmente doentes e da definição dos termos utilizados, tais 
como "depressão" ou "ansiedade". Para o progresso no prognóstico e no tratamento, tal classificação 
é essencial. Ao tentar entender as experiências subjetivas de uma pessoa que sofre, o terapeuta 
demonstra um envolvimento e o paciente provavelmente terá maior confiança no tratamento. 
 
 Os sintomas agregam-se em determinados padrões e podemos, portanto, falar de diferentes 
doenças mentais ou psiquiátricas. Os métodos precisos de diagnóstico ou a definição da natureza do 
problema continuam sendo importantes. Para que a nosologia psiquiátrica possa ser melhorada, é 
necessária uma observação acurada dos fenômenos com os quais nos confrontamos. 
 
 O que uma pessoa obviamente afetada por uma doença mental está realmente sentindo? De que 
forma suas próprias experiências assemelham-se ou diferem da experiência dos outros - tanto 
daqueles que estão bem quanto dos que estão doentes? É importante haver um esquema para 
organizar os fenômenos que ocorrem. 
 
 A psicopatologia refere-se a toda experiência, cognição e comportamento anormais. A psicopatologia 
descritiva evita explicações teóricas para eventos psicológicos. Ela descreve e categoriza a 
experiência anormal como relatada pelo paciente e observada pelo seu comportamento. Em seu 
contexto histórico, Berrios (1984) a descreve como um sistema cognitivo constituído por termos, 
suposições e regras para a sua aplicação - "a identificação de classes de atos mentais anormais". 
Fenomenologia é o estudo de eventos , psicológicos ou físicos, sem "enfeitá-los" com explicação de 
causa ou função. Quando usada em psiquiatria, a fenomenologia envolve a observação e 
categorização de eventos psíquicos anormais, as experiências internas do paciente e seu 
comportamento conseqüente. O terapeuta tenta observar e entender o evento ou fenômeno psíquico 
para que possa saber por ele mesmo, na medida do possível, como o paciente provavelmente se 
sente. 
 
 Como podemos usar a palavra observador com relação à experiência interna de outra pessoa? É 
exatamente aqui que o processo de empatia torna-se relevante. A psicopatologia descritiva, portanto, 
inclui aspectos subjetivos (fenomenologia) e objetivos (descrição do comportamento). 
 
 Preocupa-se com a variedade da experiência humana, mas limita deliberadamente seu âmbito àquilo 
que é clinicamente relevante; por exemplo, ela pode não dizer nada sobre a validade religiosa do que 
James (1902) chamou de "saintliness" (qualidade relativa ao indivíduo que leva uma vida pia, com 
pureza de um santo). 
 
NOÇÕES DE NOSOLOGIAPSIQUIÁTRICA 
 
3 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 
 Como isso funciona na prática? A Sra. Jenkins reclama que é infeliz. É tarefa da psicologia descritiva 
tanto obter os pensamentos e ações da paciente sem tentar explicá-los quanto observar e descrever 
o comportamento da mesma - seus ombros caídos, o tenso retorcer e remexer de suas mãos. A 
fenomenologia exige uma descrição muito precisa de como exatamente ela sente-se internamente - 
"este horrível sentimento de não existir realmente" e "não ser capaz de sentir nenhuma emoção". 
 
 Alguns psiquiatras consideram a fenomenologia com desdém, vendo-a como um pedantismo 
arcaico, exageradamente minucioso, mas a avaliação diagnóstica dos sintomas é uma tarefa que o 
psiquiatra omite por conta própria e em prejuízo do paciente. O estudo da fenomenologia "afia" as 
ferramentas diagnósticas, aguça a perspicácia clínica e melhora a comunicação com o paciente. O 
paciente e suas queixas merecem nossa escrupulosa atenção. Se "o estudo adequado da 
humanidade diz respeito ao homem", o estudo correto da sua doença mental começa com a 
descrição de como ele pensa e sente-se internamente – “caos de pensamento e paixão, tudo 
confuso" (Pope,1688-1744). 
 
 Uma negligência desdenhosa da fenomenologia pode ter sérias repercussões para o cuidado do 
paciente. Oito pessoas foram enviadas separadamente para 12 unidades de internação em hospitais 
psiquiátricos americanos queixando-se que ouviam estas palavras sendo ditas em voz alta: "vazio, 
fundo, surdo" (Rosenhan, 1673). Em todos os casos, com exceção de um, foi diagnosticada 
esquizofrenia. Após a internação no hospital, eles não produziram sintomas psiquiátricos posteriores, 
agindo tão normalmente quanto podiam, respondendo a questões com sinceridade, exceto pelo fato 
de ocultarem seu nome e ocupação. A ética e o bom-senso do experimento podem certamente ser 
questionados, mas o que fica claro não é que os psiquiatras devem deixar de fazer um diagnóstico, 
mas que devem fazê-lo em uma base psicopatológica sólida. Nem Rosenhan e colaboradores e nem 
os psiquiatras deram qualquer informação sobre que sintomas poderiam ser considerados para fazer 
um diagnóstico de esquizofrenia ; isto requer um método baseado na psicopatologia (Wing, 1978). 
Com o uso adequado da psicopatologia fenomenológica esta falha de diagnóstico não teria ocorrido. 
 
 Jaspers (1963) escreveu: "A fenomenologia, apesar de ser uma das pedras fundamentais da 
psicopatologia, é ainda muito tosca". Um dos grandes problemas da utilização deste método é a 
natureza confusa da terminologia. Idéias quase idênticas podem receber diferentes nomes por 
pessoas de diferentes bases teóricas- por exemplo, a abundância de descrições acerca de como uma 
pessoa pode conceituar a si mesma: auto-imagem, percepção do corpo, catexia, etc. 
 
 Há uma confusão considerável a respeito do significado do termo fenomenologia. Berrios (1992) 
descreveu quatro significados em psiquiatria : "P1 refere-se ao seu uso clínico mais comum, como um 
mero sinônimo para ‘sinais e sintomas’ (como em psicopatologia fenomenológica); este é um uso que 
se degenerou e, portanto é conceitualmente desinteressante. P2 refere-se a um sentido 
pseudotécnico freqüentemente utilizado em dicionários e que alcança uma falsa unidade de 
significado ao simplesmente catalogar usos sucessivos em ordem cronológica; esta abordagem é 
equivocada, já que sugere linhas evolutivas falsas e deixa em aberto questões importantes 
relacionadas à história da fenomenologia. P3 refere-se ao uso idiossincrásico iniciado por Karl 
Jaspers que dedicou seus primeiros escritos clínicos à descrição de estados mentais de uma maneira 
que (de acordo com ele) era empática e teoricamente neutra. Finalmente, P4 refere-se a um sistema 
filosófico completo iniciado por Edmund Husserl e continuado por autores coletivamente incluídos no 
chamado "Movimento Fenomenológico". Dentre estes significados, este artigo estará voltado 
inteiramente para o significado jaspersiano de fenomenologia, o P3 de Berrios. Jaspers em seus 
escritos define a fenomenologia talvez 30 a 40 vezes, de maneiras sutilmente distintas, mas sempre 
implicando-a ao estudo da experiência subjetiva. Walker (1993) demonstrou, de um modo muito 
elegante, que, apesar de Jaspers considerar ter sido influenciado por Husserl e seu sistema de 
fenomenologia, tal não é realmente o caso, pois sua psicopatologia é mais por conceitos kantianos, 
tais como forma conteúdo. 
 
 A fenomenologia é um método empático que evidencia os sintomas, mas que não pode ser 
aprendida por meio de livro. Os pacientes são os melhores professores, mas é bom saber o que se 
está procurando, os aspectos práticos, clínicos, pelos quais o paciente descreve a si mesmo, seus 
sentimentos e seu mundo. O médico tenta interpretar a natureza da experiência do paciente – 
entendê-la suficientemente bem e senti-la tão intensamente a ponto de que o relato de seus achados 
permita o reconhecimento do paciente. O método fenomenológico em psiquiatria é inteiramente 
voltado para idéia de tornar a experiência do paciente compreensível (esta é uma palavra técnica em 
NOÇÕES DE NOSOLOGIA PSIQUIÁTRICA 
 
4 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 
fenomenologia; no entanto, aqui queremos dizer "a capacidade de colocar-se no lugar do paciente"), 
de modo a permitir classificá-lo e tratá-lo. 
 
 "A barreira ao avanço da psiquiatria não reside na avareza ou no preconceito daqueles que decidem 
se um projeto de pesquisa submetido à apreciação deve viver ou morrer; nem tem sido a falta de 
habilidade daqueles que estão engajados em pesquisas psiquiátricas: ela reside na dificuldade 
inerente dos problemas” (Lewis, 1963). A maior dificuldade na fenomenologia não é assimilação de 
fatos obscuros ou acúmulo de epônimos estrangeiros, embora tais aspectos sejam difíceis. A maior 
dificuldade está na compreensão do método de investigação e na capacidade de usar novos 
conceitos. Na tentativa para evitar o obscuro e o óbvio, descrevemos alguns desses conceitos aos 
pares. 
 
Saúde Normal 
 Algumas palavras são usadas comumente, mas de um modo inconsistente; portanto, apesar de 
sabermos o que pretendemos dizer com elas, somos incapazes de supor que outras pessoas as 
utilizam da mesma maneira. Duas dessas palavras são normal e saudável. Em uma discussão sobre 
a doença mental elas ocorrem tão freqüentemente que devem ser examinadas brevemente antes de 
uma excursão adicional à psicopatologia. 
 
Saúde / Doença 
 A psicopatologia preocupa-se com a doença da mente. O que é doença, porém? Trata-se de um 
tema vasto, que tem sido discutido por filósofos, teólogos, administradores e advogados, assim como 
por médicos. Os profissionais que passam a maior parte do tempo de seu trabalho em meio à saúde 
e à doença raramente fazem esta pergunta, e com menos freqüência tentam respondê-la. 
 
1 - A definição da Organização Mundial de Saúde afirma: "Saúde é um estado de completo bem-estar 
físico, mental e social e não somente a ausência de doença ou enfermidade" (1946). Se o total bem-
estar é um requisito, talvez praticamente todos estejamos excluídos. 
 
2 - A doença pode ser considerada em termos físicos, como na afirmação de Griesinger (1845), de 
que "doenças mentais são doenças do cérebro". Embora esta alegação ajuste-se aos estados 
psiquiátricos orgânicos e possa abranger a deficiência de aprendizagem (retardo mental), não é muito 
simples tentar incluir nesta definição todos os transtornos "neuróticos" e os psicóticos; por outro lado, 
de forma alguma os transtornos de personalidade não se encaixam aqui. 
 
3 - De modo semelhante, as doenças podem ser descritas como aquelas condições que o médico 
trata. Ao definir isto Kräupl Taylor (1980) declarou: "Para ser paciente é necessário e suficiente a 
experiência vivida por uma pessoa ao sentir a necessidade de tratamento, ou, no seu meio, que deve 
receber tratamento".Doença mental torna-se, então, um termo para descrever os sintomas e a 
condição daquelas pessoas que são encaminhadas a um psiquiatra. Esta descrição tautológica de 
doença tem alguma vantagem prática, já que não impede que ferramentas terapêuticas sejam 
utilizadas com relação a um amplo espectro de problemas humanos. Ela apresenta, no entanto, a 
desvantagem de permitir que a sociedade escolha quem ela chamará de "doente mental", e, em um 
sistema social totalitário, o estado pode decidir quais indivíduos com desvios deverão ser 
considerados doentes (Bloch e Reddaway,1977). 
 
4 - A doença pode ser considerada como uma variação estatística da norma, trazendo em si mesma 
desvantagem biológica. Isto foi formulado por Scadding (1967) para a doença física e desenvolvido 
para a doença psiquiátrica por Kendell (1975). Desvantagem biológica implica fertilidade reduzida 
e/ou vida mais curta. Este estado de desvantagem torna-se difícil de aplicar ao homem moderno, uma 
vez que ele aprendeu a controlar seu ambiente e sua reprodução de tal maneira que o próprio 
termo desvantagem biológica torna-se questionável. O que é uma vantagem biológica para o 
indivíduo pode ser uma desvantagem para a espécie, e vice-versa. 
 
5 - A doença tem implicações legais. Por exemplo, as circunstâncias que resultam em doença podem 
dar direito à compensação legal; se o comportamento resulta da doença, isto pode reduzir a pena. Da 
mesma maneira, a doença mental é um conceito que pode justificar detenção compulsória em um 
hospital (Lei da Saúde Mental, 1983; Blugass, 1983) e criminosos mentalmente enfermos são 
tratados pela lei de uma maneira diferente de outros criminosos (Bluglass e Bowden, 1990). 
NOÇÕES DE NOSOLOGIA PSIQUIÁTRICA 
 
5 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 
 
 Esta distinção entre normalidade e doença, saúde e enfermidade, nada tem de trivial. "Uma grande 
parte da ética médica e muito de toda a base da política médica atual, privada e pública, estão 
baseadas precisamente na noção de doença e normalidade. Por si mesmo, o médico (dando-se 
conta ou não) pode fazer seu trabalho muito bem sem uma definição formal de doença... Infelizmente, 
o médico não pode trabalhar tranqüilamente usando seu bom-senso. Ele é atingido por dois ângulos: 
pelos consumidores vorazes e pelos conselheiros pretensiosos" (Murphy, 1979). 
Normalidade/Anormalidade 
 A palavra normal é usada corretamente no mínimo em quatro sentidos na língua inglesa (Mowbray, 
Rodger e Mellor, 1979). Estes consistem das normas de valor, estatística, individual e tipológica. O 
termo "normal" passa a ser usado indevidamente quando substitui injustificavelmente as 
palavras usual ou usualmente. 
 
 A norma de valor tem o ideal como seu conceito de normalidade. Assim, a afirmação "é normal ter 
dentes perfeitos" está usando a palavra normal em sentido de valor - na prática, a maioria das 
pessoas tem, no mínimo, algum problema com seus dentes. 
 
 A norma estatística, naturalmente, é o uso preferencial que a palavra retém no vocabulário científico. 
O anormal é considerado aquele que fica fora da faixa média. Se um inglês normal mede 1m80cm, 
ter 1m60cm ou 1m90cm é estatisticamente anormal. 
 
 A norma individual é o nível consistente de funcionamento que um indivíduo mantém ao longo do 
tempo. Após uma lesão cerebral, uma pessoa pode experimentar um declínio na inteligência, que é 
certamente uma deterioração de seu nível individual prévio, mas tal diminuição pode não representar 
qualquer anormalidade estatística (p.ex; uma diminuição no QI de 125 para 105). 
 
 A anormalidade tipológica é um termo necessário para descrever-se a situação em que uma 
condição é considerada como normal em todos os três significados anteriormente citados e, contudo 
representa anormalidade, talvez mesmo uma doença. O exemplo dado por Mowbray e colaboradores 
é a doença infecciosapinta. As manchas cutâneas causadas por esta doença são altamente 
valorizadas pelos índios sul-americanos, a tal ponto que os que não têm esta doença são excluídos 
da tribo. Assim, possuir a doença é considerado normal em sentido de valor, estatístico em individual, 
e ainda assim é patológico. 
 
Amostra Psiquiátrica: População Geral 
 
 Na discussão de saúde e normalidade, é importante apontar as generalizações perigosas que 
surgem quando o psiquiatra, normalmente contra sua vontade, é colocado na posição de perito na 
conduta total da vida. Não podemos extrapolar do anormal para o normal; eles tendem a não estar 
situados em uma linha contínua, mais em vez disso, são qualitativamente diferentes. Devido ao 
conhecimento detalhado dos processos psíquicos anormais e sintomas e seu manejo, o psiquiatra 
não é necessariamente, também, um perito em educar filhos ou em dar uma receita para uma mente 
tranqüila. 
 
 A amostra de pessoas que vai a um psiquiatra é diferente, em muitos aspectos, daquela que 
consulta seu médico de família com sintomas psicológicos, sendo que esta população da clínica geral 
também difere da população em geral (Goldberg e Huxley,1980). Embora seja muito necessário 
concentrar-se no indivíduo e em seus sintomas, é também útil ter em mente as características do 
restante da população da qual ele provém. Seu comportamento e seu entendimento do mundo têm 
raízes dentro da sua própria psicopatologia individual, mas também de seu meio social geral. 
 
 Normalmente, existe um desejo de se raciocinar do particular para o geral. Com base em nossa 
experiência com pacientes esquizofrênicos jovens em um hospital-escola, fazemos generalizações 
sobre esquizofrenia. Para sermos capazes de fazer isto devemos saber que os pacientes que 
estamos atendendo (nossa amostra da população) são representativos da população-alvo 
(esquizofrênicos). Somente poderemos fazer está afirmação se nossa amostra foi selecionada 
aleatória na população total dos esquizofrênicos, de modo que todos os esquizofrênicos tenham tido 
uma probabilidade conhecida, igual e maior do que zero de entrar em nossa amostra. Na prática, 
certamente, isto nunca pode ser feito desta maneira; assim, devemos restringir nossa população-alvo 
NOÇÕES DE NOSOLOGIA PSIQUIÁTRICA 
 
6 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 
a um grupo mais limitado (uma amostra). Nossas alegações sobre o conhecimento a respeito do 
mesmo também devem ser limitadas. Vale a pena repetirmos o axioma: diferentes populações têm 
diferentes características. 
O Comum/O Esotérico 
 A psicopatologia descritiva às vezes corre o risco de cair no esotérico, com um interesse excessivo 
por síndromes raras. A fim de ter uso prático, é necessário que se concentre nas manifestações de 
anormalidade que são comuns a muitos pacientes: 
1. A observação de um fenômeno sem teoria preconcebida é útil para a conciliação entre diferentes 
escolas de psicopatologia. 
2. O requisito de uma definição precisa formar uma base para uma pesquisa sólida. Síndromes raras 
têm seu valor para o aprendizado de habilidades psicopatológicas, mas o interesse nelas não deve 
ocorrer em detrimento de seu uso mais importante – ainda que mais corriqueiro na prática clínica 
(Sims, 1982). 
Compreendendo Sintomas Dos Pacientes 
 O entendimento, tanto no sentido cotidiano quanto no fenomenológico, não pode ser completo, a não 
ser que o médico tenha um conhecimento detalhado da base cultural do paciente e de informações 
específicas sobre sua família e seu ambiente imediato. A fenomenologia também não pode 
concentrar-se somente no indivíduo isolado, observado em um determinado momento de sua vida. 
Deve-se preocupar com a pessoa em um contexto social: acima de tudo, a experiência de uma 
pessoa é amplamente determinada por suas interações com os outros. Ela também deve considerar 
o estado mental e o ambiente do indivíduo antes do evento de interesse imediato e com o que ocorre 
após o mesmo. 
 
 O método fenomenológico facilita a comunicação; seu uso faz comque seja mais fácil para o médico 
entender o paciente. Isto também ajuda o paciente a ter mais confiança no médico, pois percebe que 
seus sintomas são entendidos e, portanto, aceitos como “reais”. A descrição precisa e a avaliação 
dos sintomas auxilia na comunicação entre os médicos. 
Sintoma/Sinal 
 A medicina clínica faz uma clara distinção entre sinais e sintomas. O paciente queixa-se de sintomas, 
como se sentir agitado e desconfortável no calor, com hipertireoidismo. Sinais físicos são detectados 
no exame: um leve bócio com ruído audível, perda de peso, pulso rápido e exoftalmia. 
 
 Esta distinção não é normalmente feita com os fenômenos do estado mental. A descrição do 
paciente de um fenômeno mental anormal é geralmente chamada de sintoma, quer ele queixe-se de 
algo que o perturba, ou simplesmente descreva sua experiência mental, que parece patológica para 
um observador. Em seu relato acerca de suas experiências, ambos são, portanto, considerados 
sintomas. Quando agregados, esses sintomas podem ser considerados como sinais de qualquer 
diagnóstico indicado. 
 
 O sintoma, pois, considerado como incluindo o sinal, pode ser uma queixa (p.ex., um sentimento de 
infelicidade) ou um item de descrição fenomenológica que pode não representar queixa do paciente 
(p.ex., ouvir vozes que discutem baixinho sobre o paciente, com perplexidade e admiração). O 
sentimento de infelicidade pode ser um sinal de doença depressiva; as alucinações auditivas podem 
ser um sinal de esquizofrenia. Há, também, sintomas ou sinais comportamentais, como no paciente 
que grita para o teto – isto pode ser considerado como um sinal que sugere alucinação auditiva. 
Shneider (1959) considera que um sintoma, na esquizofrenia, é uma “característica freqüente e, 
portanto, importante, deste estado”. Para que um sintoma seja usado no diagnóstico, sua ocorrência 
deve ser típica desta condição e deve ocorrer com relativa freqüência na mesma. 
O Método De Empatia: O Método De Observação E Experimentação 
 O método clássico na medicina, de obter informações sobre o paciente, ocorre a partir da anamnese 
e do exame físico. O uso da fenomenologia em psiquiatria é uma extensão da anamnese, no sentido 
de que amplia a descrição da queixa presente para dar informação mais detalhada. É, também, um 
exame, já que revela o estado mental. Não é possível para mim, o médico, observar a alucinação de 
NOÇÕES DE NOSOLOGIA PSIQUIÁTRICA 
 
7 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 
meu paciente, nem medi-la de maneira direta. No entanto, para compreendê-lo, posso utilizar as 
características humanas que tenho em comum com ele, isto é, minha habilidade para perceber e usar 
a linguagem que compartilho com ele. Posso esforçar-me para criar em minha própria mente uma 
idéia de como deve ser sua experiência. Então, testo para ver se estou correto em minha 
reconstrução de sua experiência, pedindo que ele confirme ou negue minha descrição. Também 
utilizo minha observação de seu comportamento – a expressão triste de seu rosto ou o ato de bater 
com o punho na mesa – para reconstruir suas experiências. 
 
 Ouvir e observar são cruciais para o entendimento. Deve-se tomar muito cuidado ao se fazerem 
perguntas. Os médicos muitas vezes identificam sintomas incorretamente e fazem o diagnóstico 
errado pois fizeram perguntas capciosas com as quais o paciente, por meio de sua submissão 
ao status do médico e ansiedade para cooperar, está completamente disposto a concordar. 
 
 O método de empatia significa usar a habilidade de sentir-se na situação de outra pessoa, 
avançando através de séries organizadas de perguntas; repetindo e reiterando onde for necessário 
até que se tenha certeza do que está sendo descrito pelo paciente. A seqüência poderia ser a 
seguinte: 
 Pergunta - “Você diz que seus pensamentos estão mudando; o que acontece com eles?” 
 Resposta – O paciente descreve seus pensamentos recorrentes sobre matar pessoas e a afirmação 
de que isto se origina de uma dor em seu estômago. 
 Pergunta – (Tentando isolar os elementos de sua experiência) “Como é este seu pensamento de 
matar pessoas?” (obsessão, delírio, fantasia, chance de se transformar em atuação, etc.) “Você 
acredita que seu estômago afeta seu pensamento?; É diferente de uma pessoa que sabe que fica 
irritada quando está com fome?; De que maneira isto é diferente?; O que causa sua dor no 
estômago?” 
 Resposta – O paciente descreve os detalhes, que incluirão, entre o material irrelevante, o tipo de 
informação essencial para a determinação dos sintomas presentes. 
 Pergunta – (O convite à empatia) “Estou certo ao pensar que você está descrevendo uma 
experiência na qual raios estão causando dor em seu estômago, e que este, de alguma maneira 
bastante independente de você, causa este pensamento que o assusta, de que você deve matar 
alguém com uma faca?” Isto é um relato dos sintomas relevantes que ele descreveu na linguagem 
que pode reconhecer como sua. 
 Resposta – “Sim” (nós, então, alcançamos nosso objetivo); “Não” (portanto, devo tentar evocar 
novamente os sintomas, experimentá-los por mim mesmo e descrevê-los outra vez ao paciente). 
 Para dar exemplos do que isto significa na prática: Como eu, um médico, decido se um determinado 
paciente está deprimido ou não? Isto não é feito pela imitação de uma máquina que poderia registrar 
unidades de tom vocal ou de expressão facial, chegando a um diagnóstico de depressão. Para a 
avaliação clínica, sigo o seguinte processo: 
 
1. Eu sou capaz de sentir-me infeliz, miserável, deprimido e saber como é este sentimento dentro de 
mim. 
2. Se eu estivesse me sentindo como vejo o paciente se sentindo, falando, atuando, etc, também me 
sentiria miserável, deprimido, infeliz. 
3. Portanto, eu avalio o humor do paciente como sendo de depressão. É claro que este processo 
mental de diagnóstico não é geralmente verbalizado. 
 Em outro exemplo, um paciente diz: “Os marcianos estão me fazendo dizer palavrões, não sou eu 
que estou dizendo isto.” O questionamento empático revela a falsa crença do paciente de que quando 
palavrões vêm de sua boca ele acredita que a causa está fora de si mesmo (marcianos), em vez de 
dentro de si. O questionamento incluiria: “Você realmente ouve os marcianos? Como você sabe que 
são marcianos e ninguém mais?”, etc. 
 
 Um outro exemplo não-psicótico seria o de uma garota de 20 anos de idade que desmaia quando 
criticada em seu trabalho. O médico precisa colocar-se, mesmo sendo um homem de 55 anos, de 
uma diferente formação, na posição da paciente, com um conhecimento não somente de sua história 
social, mas também da maneira como ela, no presente, percebe a história. Somente depois disto o 
desenvolvimento de seus sintomas pode se tornar compreensível. Quando tomamos conhecimento, 
por exemplo, de seu pai com abuso de álcool, das discussões deste com a mãe epiléptica da 
paciente, da experiência cultural restrita da família em uma aldeia de pescadores isolada; quando 
NOÇÕES DE NOSOLOGIA PSIQUIÁTRICA 
 
8 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 
sabemos que a mãe tinha um ataque quando as discussões com o marido tornavam-se intoleráveis – 
podemos começar a entender alguma coisa sobre o desenvolvimento do sintoma da própria paciente. 
Isto não é alcançado somente por explicação, como um observador externo, mas pelo entendimento 
empático e pela capacidade de experiência subjetiva por parte do médico. 
 
 Talvez uma analogia da medicina geral fosse útil aqui. O médico experiente apalpa um rim 
aumentado no abdome de seu paciente (Figura 1.2). Ele convida os estudantes de medicina a 
apalparem o abdome bimanualmente para que possam aprender a experimentar esta sensação 
quase imperceptível, mas ainda assim significativa. O método fenomenológico de empatia empregado 
em psiquiatria é mais difícil de ensinar do que este. É como se o médico tivesse que realizar este 
exame sem as mãos (Figura 1.3)! Primeiro,ele precisa treinar o paciente a apalpar seu próprio 
abdome bimanualmente de maneira correta e, depois, descrever de forma precisa o que sente. O 
médico, então, interpreta a descrição do paciente para decidir se o rim está dilatado sem poder ele 
próprio colocar a mão no abdome. 
 
 
 
Figura 1.2 - Palpação bimanual para verificação 
de um rim aumentado. 
Figura 1.3 - Apalpação bimanual, sem as 
mãos 
 A proposta do método fenomenológico, portanto, é a seguinte: 
(1) descrever experiências internas; 
(2) ordená-las e classificá-las; e 
(3) criar uma terminologia confiável. 
 A empatia também é de grande valor terapêutico no estabelecimento de uma relação com o 
paciente. Saber que o médico entende, e que é capaz de compartilhar de seus sentimentos, dá ao 
paciente confiança e sensação de alívio. Esta empatia é também útil como uma maneira de estender 
o conhecimento mais genericamente no campo da psiquiatria, permitindo o desenvolvimento de uma 
terminologia diagnóstica. 
O Todo Não-Diferenciado – A Parte Significativa 
 Geralmente, uma classificação de qualquer espécie requer o exame detalhado de uma grande 
quantidade de material, para a identificação do indício, pequeno, mas significativo. Isto se aplica à 
fenomenologia, na qual a parte significativa do material psicológico para avaliação fenomenológica 
pode ocorrer dentro de uma longa anamnese e exame, onde a maior parte da conversa do paciente 
não revela qualquer evidência de doença. Um paciente falou por vários minutos sobre várias coisas 
que considerava bastante estranhas, mas não pude ter certeza sobre seu estado psicótico. No 
entanto, quando ele disse: “Eu raspei minhas sobrancelhas porque eram ruivas, e quando as pessoas 
viam sobrancelhas ruivas, elas sabiam que eu era bicha” (na verdade, ele não era homossexual); 
com isto, ficou óbvio que tinha delírios, e este sintoma foi explorado em maiores detalhes. 
 
 O uso da fenomenologia para a avaliação no estado mental pode ser comparado com o exame do 
campo no microscópio. Não se pode esperar extrair algum sentido da amostra de sangue apenas 
olhando e focalizando. Deve-se mover a lâmina e conseguir um bom exemplo para demonstrar o 
ponto de interesse da massa não-diferenciada. Assim, a conversa do paciente pode ter demonstrado 
NOÇÕES DE NOSOLOGIA PSIQUIÁTRICA 
 
9 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 
muitas idéias estranhas e delírios bizarros, mas talvez somente uma vez o entrevistador possa obter 
uma descrição totalmente satisfatória de determinado sintoma psicopatológico de particular 
importância diagnóstica. 
Comportamento Aleatório/Significado 
 Um homem andando de bicicleta ao redor de um canal encontrou outro homem, robusto, 
caminhando na direção oposta e carregando um tubo de borracha. Este levantou o tubo e o bateu no 
ombro do ciclista, quase o empurrando para dentro do canal. Ao chegar na cidade mais próxima, o 
ciclista registrou a agressão na polícia local, que prendeu o agressor. A polícia considerou seu 
comportamento sem sentido e, portanto, solicitou a opinião de um psiquiatra. Quando questionado a 
respeito da razão pela qual havia agredido o ciclista, o homem respondeu que tinha sentido uma dor 
em seu estômago e ouviu uma voz dizendo: “Bata no homem da bicicleta e a dor irá passar”; e foi o 
que ele fez. 
 
 Um leigo qualquer, comentando o “comportamento maluco”, pode dizer que este não tem sentido; 
mas, como o significado não é sempre aparente para um observador ou mesmo para a vítima, não se 
pode negar que não é real, apesar de psicótico, para o paciente: “Uma ação é, a princípio, 
intencional” (Sartre, 1943). 
 
 É importante tentar alcançar o significado subjetivo do paciente e não somente ficar satisfeito porque 
a resposta é anormal. O significado fenomenológico é, algumas vezes, revelado no tipo de resposta; 
por exemplo, quando se pediu a um paciente esquizofrênico que explicasse a diferença entre 
uma parede e uma cerca, ele respondeu: “Você pode ver através de uma cerca, mas as paredes têm 
ouvidos” (Rawnsley, 1985, comunicação pessoal). Da mesma maneira que os eventos externos têm 
causas que podem ser explicadas, os eventos psicológicos internos podem originar-se uns dos outros 
em um encadeamento significativo, se o estado interno do paciente puder ser entendido 
empaticamente. 
Compreensão/Explicação 
 Iniciamos com a premissa de que o comportamento significa algo, isto é , que surge com 
consistência interna, a partir de eventos psíquicos. Embora o comportamento de um paciente possa 
ser significativo para ele, pode não ser possível para nós, os observadores externos, entendê-lo. 
Existem muitos níveis nos quais podemos entender. Por exemplo, podemos ter algum entendimento 
das dificuldades sexuais de um exibicionista reincidente ao saber sobre sua infância perturbada; mas 
isto ainda não se explica por que ele regularmente repete o comportamento que o faz entrar em 
conflito com a lei, prejudicando-o socialmente e à sua família. Wittgenstein (1953) afirmou: “Nós 
explicamos comportamentos humanos dando razões, não causas”. 
 
 Jaspers contrastou compressão (verstehen) com explicação (erklären) e mostrou como estes termos 
podem ser usados no sentido tanto estático quanto genético. Estático significa compreender ou 
explicar a presente situação a partir das informações disponíveis; genético, como atingiu este estado 
pelo exame de seus antecedentes. Isto é mostrado na Tabela 1.1. 
 Tabela 1.1 – Diagrama de entendimento e explicação. 
 Compreensão Explicação 
Estático (1) Descrição Fenomenológica (3) Observação através da percepção 
sensorial externa 
Genético (2) Empatia estabelecida a partir do 
que emerge 
(4) Causa e efeito do método científico 
Compreensão é a percepção do significado pessoal da experiência subjetiva do paciente: 
 
1. Se quisermos encontrar significado em um determinado momento no tempo, o método da 
fenomenologia é apropriado. A experiência subjetiva do paciente é dissecada formando-se um quadro 
estático do que tal pensamento ou tal evento significaram para ele naquele determinado momento. 
Não é feito qualquer comentário de como o evento surgiu e nem alguma previsão ao que acontecerá 
NOÇÕES DE NOSOLOGIA PSIQUIÁTRICA 
 
10 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 
depois. O significado é simplesmente extraído como uma descrição do que o paciente está 
experimentando e o que isto significa para ele agora. Um homem sente-se zangado: a compreensão 
estática usa a empatia para descrever em detalhes exatamente como é para ele sentir-se zangado. 
Eu, o examinador, já experimentei fenômenos como estes? Eles são conhecidos por mim pelas 
experiências que tive em minha vida? 
 
2. A compreensão genética, em oposição à compreensão estática, preocupa-se com um processo. 
Entende-se que, quando insultado, este homem reage com violência; quando esta mulher ouve vozes 
comentando sobre suas ações, ela fecha as cortinas de sua casa. Para compreender a maneira como 
os acontecimentos psíquicos originam-se um dos outros na experiência do paciente, o terapeuta usa 
a empatia como um método ou ferramenta. Ele coloca-se na situação do paciente. Se este primeiro 
acontecimento tivesse ocorrido com ele nas circunstâncias totais do paciente, o segundo evento, que 
foi a reação do paciente ao primeiro, ocorreu dentro do esperado, com alguma margem de certeza. 
 
Ele compreende os sentimentos atribuídos ao paciente a partir da ação que deles resulta. Então, se 
eu fosse o paciente com a mesma história, será que teria as mesmas experiências e o mesmo 
comportamento? Um exemplo ajudaria a demonstrar a humanidade desta abordagem e a 
universalidade da experiência humana: eu devo me colocar no lugar de uma jovem mulher de 19 
anos, criada em uma comunidade pesqueira isolada, a mais velha de oito filhos, que se torna 
estuporosa durante sua segunda gravidez. Ela é casada com um homem alcoólatrade 35 anos, e seu 
pai também é alcoolista. Devo compreender como ela lidou com o comportamento de seu pai quando 
criança; o que sua gravidez significou para ela; como ela viu o comportamento de sua mãe durante 
suas gestações, etc. A explicação trata do registro de eventos de um ponto de observação fora 
destes; a compreensão, de dentro deles. Compreende-se a raiva de uma pessoa e suas 
conseqüências; explica-se a ocorrência da neve no inverno. Explicações também podem ser 
descritas como estáticas ou genéticas. 
 
3. A explicação estática refere-se à percepção sensorial externa, à observação de um acontecimento. 
 
4. A explicação genética consiste na descoberta de conexões causais: ela descreve uma cadeia de 
eventos e por que eles seguem esta seqüência. Compreender e explicar são partes necessárias da 
investigação psiquiátrica. 
 Jaspers faz uma distinção importante entre o que é significativo e permite empatia, e o que é, em 
última instância, incompreensível – a essência da experiência psicótica. Apesar de o observador 
possivelmente empatizar com o conteúdo de um delírio de um paciente em qualquer situação 
particular, ele não pode compreender ou ver uma conexão significativa na ocorrência do delírio por si 
só. O delírio como um evento não é compreensível: para o médico, parece incompreensível e irreal. 
Podemos compreender pelo conhecimento do passado da paciente porque, caso seu pensamento 
tiver um transtorno na forma, o conteúdo deste pensamento refere-se à perseguição pelos nazistas – 
talvez porque seus pais escaparam da Alemanha em 1937. Mas não podemos compreender a razão 
pela qual ela deve acreditar em algo que é claramente falso: que os perseguidores estão colocando 
uma substância sem gosto em sua bebida que a faz sentir-se doente. O delírio, em si mesmo, como 
forma psicopatológica, é incompreensível. Conexões significativas, então, mostram o vínculo entre 
diferentes eventos psicológicos, pela compreensão de como tais eventos surgem um dos outros, por 
um processo de empatia. 
Primário: Secundário 
 Jaspers discute os diferentes significados que podem ser atribuídos aos 
vocábulos primário e secundárioquando aplicados a sintomas. A distinção pode ser em termos de 
compreensão, no sentido de que o primário não pode ser reduzido adicionalmente pelo entendimento; 
por exemplo, nas alucinações, na medida em que o secundário é o que surge do primário de uma 
maneira que possa ser compreendida; por exemplo, a elaboração delirante que surge da parte 
saudável da psique em resposta a alucinações que surgem da parte não-saudável da psique. 
Novamente, a distinção entre primário e secundário pode ser feita em termos de causalidade , no 
sentido de que o que é primário é a causa, enquanto o que é secundário é o efeito: a afasia sensorial 
é primária, a perturbação resultante das relações com outras pessoas é secundária. 
 
 Estes dois significados distintos do termo primário obscurecem a distinção crucial entre conexões 
significativas e conexões causais. Para evitar dúvidas em física e química, fazemos observações por 
NOÇÕES DE NOSOLOGIA PSIQUIÁTRICA 
 
11 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 
meio de experimentos e então formulamos conexões e leis causais, ao passo que, em psicopatologia, 
experimentamos outro tipo de conexão, na qual eventos psíquicos emergem uns dos outros de uma 
maneira que pode ser compreendida – as chamadas conexões significativas (Robinson, 1984, 
comunicação pessoal). 
A Análise De Experiência 
 O que o paciente considera importante ao oferecer a história de seus sintomas e causas de aflição 
pode não ser necessariamente idêntico ao que o médico ou examinador considera importante. O 
médico pode muito bem estar tentando determinar as entidades psicopatológicas que estão 
presentes, talvez para fazer um diagnóstico, enquanto o paciente está preocupado em comunicar a 
agonia que vive, sua intensidade e a forma como esta é percebida como uma ameaça. 
Predição/Quantificação 
 Na acusação feita à psiquiatria – de não ser científica por não ser quantificável – existem duas 
percepções incorretas. Em primeiro lugar, a quantificação não é fundamental para a ciência, mas 
secundária. O fundamental, para o conhecimento fatual ou ciência, é que esta tenha uma qualidade 
suficientemente boa para ser preditiva. Por exemplo, saber que a maçã, solta no ar, cairá, é o 
princípio essencial da ciência: medir e, portanto, quantificar sua velocidade depende da observação e 
da previsão inicial. Em segundo lugar, é possível quantificar a psicologia subjetiva que tem usado a 
fenomenologia no estágio de formação de hipóteses. Exemplos disto serão descritos em maiores 
detalhes posteriormente, incluindo auto-avaliações para a depressão, localização do self dentro do 
espaço semântico na Grade de Repertório; automedições de peso na anorexia nervosa e assim por 
diante. São necessários métodos indiretos e criativos para a quantificação da psicopatologia, mas isto 
é possível e, com freqüência, vantajoso. 
 
 Popper (1959) introduziu o teste de falsificabilidade para a ciência: uma teoria pode ser falsificável 
como um critério de definição. A fenomenologia, a descrição do estado subjetivo do indivíduo, é 
falsificável: está disponível para a refutação, e parte do método empático diz respeito a convidar o 
paciente a refutar o relato do entrevistador sobre a experiência anterior do primeiro. Portanto, as 
teorias fenomenológicas podem ser falsificadas a partir das argumentações do próprio paciente. 
Forma: Conteúdo 
 Como a urdidura e a trama, a forma e o conteúdo são essencialmente diferentes, mas estão 
inextricavelmente entrelaçados. É claro que o conceito filosófico de forma e conteúdo constitui uma 
ferramenta didática, um auxílio para o entendimento, e não deve ser usado de uma maneira concreta 
ou absoluta. O que é forma a um nível de classificação torna-se conteúdo em outro, como, por 
exemplo, artefatos de madeirapodem incluir móveis como um dos muitos “conteúdos”, mas mobília, 
quando utilizada como uma “forma” pode também incluir outros artigos diferentes. A forma de uma 
experiência psíquica é a descrição de sua estrutura em termos fenomenológicos, como, por exemplo, 
um delírio. Visto assim, o conteúdo é o colorido da experiência. O paciente está preocupado pois 
acredita que estão roubando seu dinheiro. Sua preocupação é que “pessoas estão tirando meu 
dinheiro”, não que “eu mantenho uma falsa crença apoiada em razões inaceitáveis de que pessoas 
estão tirando meu dinheiro”. Ele está preocupado com o conteúdo. Claramente, forma e conteúdo são 
importantes, mas em contextos diferentes. O paciente está somente preocupado com o conteúdo, 
“que estou sendo perseguido por 10.000 tacos de hóquei”. O médico preocupa-se com a forma e com 
o conteúdo, mas, como fenomenologista, só com a forma; neste caso, uma falsa crença de estar 
sendo perseguido. No que se refere à forma, os tacos de hóquei são irrelevantes. O paciente, por sua 
vez, acha este interesse do médico pela forma incompreensível e um desvio do que ele considera 
importante, acabando por demonstrar irritação com o fato. 
 
 Uma paciente que disse: “Quando giro a torneira, ouço uma voz sussurrando no cano: ‘Ela está a 
caminho da lua. Vamos torcer para que ela faça uma aterrissagem suave’”. A forma desta experiência 
é o que exige a atenção do fenomenologista e é útil em termos de diagnóstico. Ela está descrevendo 
uma percepção: é uma falsa percepção auditiva e uma percepção auditiva falsa ou perturbada. Tem 
as características de uma alucinação e, especificamente, de uma alucinação funcional. Esta é a 
forma. Enquanto o psiquiatra preocupa-se em esclarecer a forma, a paciente fica muito irritada 
porque “ele não está anotando nada do que estou dizendo”. Ela está preocupada por talvez ser 
mandada para a lua. O que acontecerá quando chegar lá? Como voltará? Portanto, o conteúdo é 
NOÇÕES DE NOSOLOGIAPSIQUIÁTRICA 
 
12 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 
tudo o que importa para ela e a preocupação do médico com a forma é incompreensível e frustrante 
ao extremo. 
 
 A forma depende da doença mental da qual o paciente sofre, constituindo-se, portanto, uma chave 
diagnóstica da mesma. Por exemplo, percepções delirantes ocorrem na esquizofrenia, e quando 
demonstradas como a forma da experiência elas indicam esta condição. O achado de uma 
alucinação visual sugere a probabilidade de uma psicossíndrome orgânica. A natureza do conteúdo 
destes dois exemplos é irrelevante para se chegar a um diagnóstico. O conteúdo pode ser entendido 
em termos da situação de vida do paciente com relação à cultura, ao grupo de pares, ao status, à 
sofisticação, à idade, ao sexo, aos eventos de vida e à localidade geográfica. Um outro paciente, por 
exemplo, disse que havia sido enviado à lua e retornado durante a noite duas semanas após a 
primeira aterrissagem da descida do homem na lua. Descrever os pensamentos de uma pessoa 
como sendo controlados pela televisão é necessariamente restrito àquelas partes do mundo onde 
esta invenção é conhecida. Um colega informou-me que duas semanas após a morte de Elvis 
Presley, três reencarnações autoconfessas do famoso cantor formam atendidas em seu setor de 
emergência. 
 
 A hipocondria é uma doença de conteúdo, mais do que de forma. A forma pode ser variada. Ela 
poderia tomar a forma de uma alucinação auditiva, na qual o paciente ouve uma voz dizendo: “Você 
tem câncer”; pode ser um delírio, quando ele acredita falsamente e com evidência delirante que tem 
câncer; pode ser, também, uma idéia supervalorizada, quando ele passa a maior parte do dia 
checando sua saúde, pois acredita que está doente; pode ser uma anormalidade de afeto, que se 
manifesta em extrema ansiedade hipocondríaca ou um desânimo hipocondríaco de fundo depressivo. 
De modo semelhante, o ciúme mórbido é um transtorno do conteúdo, no qual a forma expressa-se de 
várias maneiras: alucinatória, delirante, através de uma idéia supervalorizada, como um 
comportamento compulsivo ou um pensamento obsessivo; mas o conteúdo é compreensível em 
termos da situação de vida do paciente. 
Subjetivo/Objetivo 
 A objetividade na ciência passou a ser reverenciada como o ideal, de modo que somente o que é 
externo à mente é considerado real, mensurável e válido. Trata-se de um erro, porque 
necessariamente avaliações objetivas são subjetivamente carregadas de valor naquilo que o 
observador escolhe medir; e é possível tornar este aspecto subjetivo mais preciso e confiável. Há 
sempre julgamentos de valor associados a avaliações subjetivas e objetivas. O processo de fazer 
uma avaliação científica consiste de vários estágios: receber um estímulo sensorial, perceber, 
observar (tornar significativas as impressões), anotar, codificar e formular hipóteses. Este é um 
processo progressivo de se descartar informações, e é o julgamento subjetivo do que é válido que 
determina a pequena quantidade de cada estágio que é retido para transmissão à próxima parte do 
processo. “Não existe algo como uma observação sem idéias preconcebidas” (Popper, 1974). 
 
 As avaliações objetivas na psiquiatria têm coberto muitos aspectos da vida. Alguns exemplos, além 
das muitas medições fisiológicas, são a medição de movimentos corporais, expressão facial, escritos 
do paciente, capacidade de aprendizagem, respostas a um programa de condicionamento operante, 
extensão da memória, eficiência ocupacional e avaliação do conteúdo lógico das afirmações do 
paciente. Tudo isto pode ser quantificado e analisado objetivamente. Podem ser feitas análises 
subjetivas; por exemplo, a partir da expressão facial, da descrição do paciente sobre si mesmo, de 
sua própria escrita ou de seus acontecimentos internos. Quando um médico fala sobre um paciente: 
“Ela parece triste”, ele não está medindo objetivamente a expressão facial da mesma em “unidades 
de tristeza” por algum gabarito objetivo. Ele segue estes estágios: “Eu associo sua expressão facial 
com o afeto que reconheço em mim como um sentimento de tristeza: ver sua expressão faz-me sentir 
triste”. Rapport é a qualidade que o paciente estabelece com o médico durante sua entrevista clínica. 
Para que isto aconteça, o médico precisa ser receptivo à sua comunicação. Ele deve ser capaz de 
estabelecer também um rapport, de ter uma capacidade para o entendimento humano. Esta é 
necessariamente uma experiência subjetiva para o médico, mas isto não significa que não seja real 
ou mesmo que não possa ser medido. O método fenomenológico tenta aumentar nosso 
conhecimento de eventos subjetivos, de modo que possam ser classificados e, finalmente, 
quantificados. 
 
 Aggernaes (1972) definiu subjetividade e objetividade por experiências diárias imediatas: 
NOÇÕES DE NOSOLOGIA PSIQUIÁTRICA 
 
13 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 
 Quando alguma coisa vivida tem uma qualidade de “sensação”, diz-se também que tem uma 
qualidade de “objetividade” se a pessoa que a vive sente que, sob circunstâncias favoráveis, ele seria 
capaz de viver a mesma coisa com outra modalidade de sensação que aquela que provocou a 
qualidade de sensação. Quando algo que se experimentou tem uma qualidade de “ideação”, isto é, 
não está sendo diretamente percebido no momento, é também dito que tem uma qualidade de 
“objetividade” se o experimentador sente que, sob circunstancias favoráveis, ele seria capaz, ainda 
assim, de viver a mesma coisa com, no mínimo, duas ou mais modalidades de sensação. 
 Algo experimentado tem uma qualidade de “subjetividade” se quem o vive sente que sob 
circunstâncias favoráveis ele seria capaz de viver esta coisa com duas ou mais modalidades de 
sensação. 
 Assim, olho para a mesa à minha frente como uma percepção visual ou posso virar minha cabeça e 
ainda fantasiá-la como uma imagem visual. Enquanto “vejo a mesa”, em qualquer destas formas, o 
fato de eu poder imaginar ouvir um som se eu batesse na mesa com uma colher e machucar meus 
dedos se desse um soco nela, confirma sua qualidade de objetividade. Se eu usar minha imaginação 
para criar em minha mente uma imagem visual de uma cadeira que nunca realmente vi, mas que é 
um composto de objetos e quadros que vi, sei que nunca serei capaz de sentir ou ouvir esta cadeira 
de fato – esta é uma imagem subjetiva sem realidade externa, objetiva. 
Processo/Desenvolvimento 
 Da mesma maneira que o entendimento e a explicação dependem da perspectiva do entrevistador – 
empaticamente de dentro ou observando de fora - , assim processo ou desenvolvimento dependem 
do modo pelo qual a pessoa vivencia um acontecimento dentro de seu padrão usual de vida, ou fora 
do mesmo. O desenvolvimento significa que uma experiência é compreensível em termos da 
constituição e da história da pessoa; transtornos de personalidade seriam vistos como alterações do 
desenvolvimento. O processo é visto como a imposição de um evento “de fora”; a epilepsia seria 
experimentada como uma ocorrência da doença separada do desenvolvimento normal – o processo 
da doença interrompeu o curso normal da vida. De maneira similar, o início de uma doença 
esquizofrênica freqüentemente produz uma “ruptura” definitiva na história de vida de um adolescente. 
Posições Teóricas Da Psicopatologia 
 Existe uma multiplicidade de psicopatologias. Qualquer explicação para o comportamento anormal 
tem o germe de uma teoria da psicopatologia. A psicopatologia descritiva tenta evitar os inúmeros 
argumentos etiológicos, satisfazendo-se com uma descrição do que ocorre, sem solicitar explicações 
adicionais. Já discutimos o pressuposto de que os fenômenos da doença mental têm significados 
próprios. Uma opinião radicalmente oposta afirma que qualquer experiência subjetiva é desprovida de 
significados. Pensamentos, incluindo o humor e os impulsos, são considerados como epifenômenos, 
isto é, o pensar não tem significadoou objetivo, sendo como a espuma da cerveja na parte de cima 
de um copo. Pensamentos são considerados como subprodutos acidentais das atividades químicas 
que ocorrem no cérebro: não são causas de comportamento, mas meros produtos. O significado que 
a pessoa que pensa vincula a eles é puramente ilusório. Tal posição extrema nega qualquer 
possibilidade de investigação ou tratamento psicológico. 
Psicopatologia Dinâmica Descritiva 
 A psicopatologia é o estudo dos processos psíquicos anormais. A psicopatologia descritiva 
preocupa-se em descrever as experiências subjetivas e também o comportamento resultante durante 
a doença mental. Ela não arrisca explicações para tais experiências ou comportamentos, nem 
comenta sobre a etiologia ou o processo de desenvolvimento. 
 
 Esta abordagem para o fenômeno psíquico anormal contrasta de forma acentuada com outras 
molduras teóricas da psicopatologia, como a psicanalítica. Na psicanálise, no mínimo um de vários 
mecanismos supostamente ocorre, e o estado mental torna-se compreensível dentro deste 
referencial. Explicações do que ocorre no pensamento ou no comportamento baseiam-se nestes 
processos teóricos subjacentes, como transferência ou mecanismos de defesa do ego. Por exemplo, 
no caso de um delírio, a psicopatologia descritiva tenta descrever aquilo em que a pessoa acredita, 
como ela descreve sua experiência de acreditar, que evidências dá para sua veracidade e qual é o 
significado desta crença para sua situação de vida. Tenta-se avaliar se sua crença tem as 
características exatas de um delírio e, se tiver, de que tipo de delírio. Após esta avaliação 
NOÇÕES DE NOSOLOGIA PSIQUIÁTRICA 
 
14 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 
fenomenológica, a informação obtida pode ser utilizada de maneira diagnóstica, prognóstica e, como 
conseqüência, terapêutica. Alguns dos contrastes entre psicopatologia descritiva e dinâmica são 
resumidos na Tabela 1.2. 
Tabela 1.2 – Psicopatologia – descritiva versus psicanalítica. 
 Descritiva Psicanalítica 
Resumo Avaliação empática da experiência 
subjetiva do paciente. 
Estudo das raízes do comportamento 
atual e experiência consciente por 
meio de conflitos inconscientes. 
Terminologia Descrição de fenômenos. Processos teóricos demonstrados. 
Métodos Entendimento do estado subjetivo do 
paciente por intermédio da entrevista 
empática. 
Associação livre, sonhos, 
transferência. 
Diferenças na 
aplicação prática 
1. Faz distinção entre atendimento e 
explicação: entendimento pela 
observação e empatia. 
Entendimento em termos de noções de 
processos teóricos. 
2. A forma e o conteúdo são 
claramente separados: a forma tem 
importância para o diagnóstico. 
Não é feita distinção; envolvida com o 
conteúdo. 
3. Processo e desenvolvimento 
diferenciados: o processo interfere 
com o desenvolvimento. 
Não é feita distinção; sintomas vistos 
como tendo uma base psicológica 
inconsciente. 
A psicopatologia analítica ou dinâmica, no entanto, mais provavelmente tentaria explicar o delírio em 
termos de conflitos precoces reprimidos no inconsciente e que somente agora são capazes de ganhar 
expressão na forma psicótica, talvez com base na projeção. O conteúdo do delírio seria considerado 
uma chave importante para a natureza do conflito subjacente que tem suas raízes no 
desenvolvimento precoce. A psicopatologia descritiva não tenta dizer por que um delírio está 
presente: ela somente observa, descreve e classifica. A psicopatologia dinâmica ajuda a descrever 
como o delírio ocorreu e por que se trata deste delírio em particular, com base nas evidências da 
experiência no início da vida desta pessoa. Isto está relacionado com a compreensão genética, 
conforme descrito, e chamada de entendimento presciente por Mellor (1985, comunicação pessoal), 
indicando um suposto conhecimento prévio sobre como os eventos da vida mental devem se 
desenrolar, pois eles necessariamente terão de se adaptar às postulações teóricas. 
Consciente/Inconsciente 
 A fenomenologia não pode estar envolvida com o inconsciente, visto que o paciente não pode 
descrevê-lo, e, portanto, o médico não pode sentir empatia. A psicopatologia descritiva não possui 
uma teoria do inconsciente, nem nega sua existência. A mente inconsciente está simplesmente fora 
de seus termos de referência, e eventos psíquicos são descritos sem se recorrer a explicações que 
envolvam o inconsciente. Os sonhos, os conteúdos do transe hipnótico e os deslizes da língua (atos 
falhos) são descritos de acordo com o modo como o paciente experienciou-os, isto é, de acordo com 
a forma como se manifestam na consciência. 
Orgânico: Sintomático 
 A psicopatologia é essencialmente uma abordagem não-biológica aos processos mentais anormais, 
de modo que, mesmo quando as causas orgânicas de uma condição são conhecidas, a 
psicopatologia está envolvida na ordenação dos sintomas e na experiência do paciente, mas não tem 
em sua patologia orgânica. Há agora muitas conexões conhecidas entre diferentes doenças 
psiquiátricas e uma patologia orgânica identificável. No entanto, não é com estas ligações que a 
psicopatologia preocupa-se, e sua utilidade não é dependente da localização de um delírio ou de 
qualquer outro evento psíquico no cérebro. No início, psiquiatras de orientação organicista, como 
Griesinger e Wernicke, não se preocupavam com o psicopatológico na psiquiatria, mas muito mais 
NOÇÕES DE NOSOLOGIA PSIQUIÁTRICA 
 
15 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 
em mapear o cérebro do doente. Isto trouxe excelentes contribuições, como por exemplo, para a 
elucidação da natureza e para o tratamento da sífilis cerebral. De modo similar, os behavioristas 
modernos geralmente não se interessam pela fenomenologia. A fenomenologia não trata da patologia 
orgânica ou do comportamento em si mesmo, mas da experiência subjetiva do paciente em relação 
ao seu mundo. 
 
 Não contrastamos orgânico com o funcional de forma convencional, pois funcional é um termo muito 
sujeito a confusões. Ele provoca dificuldades conceituais em vez de trazer esclarecimentos: uma 
pessoa lógica que desconhece o jargão médico, ficaria perplexa ao saber que uma perturbação 
humana decorrente de um problema psicológico é chamada de funcional, enquanto que uma 
perturbação similar, causada por uma doença orgânica, não é mais chamada de funcional. São os 
elementos sintomáticos da doença que a fenomenologia pode explorar: a natureza dos sintomas e ao 
que eles estão associados. 
Cérebro/Mente 
 René Descartes (1596 – 1650) examinou, formulou e reafirmou pontos de vista sobre a separação 
entre corpo e mente. Ele descreveu “L’âme raisonable” – a alma que pensa está alojada na máquina, 
tendo sua sede principal no cérebro. Ele descreveu a alma como o engenheiro que alterava os 
movimentos da máquina, o corpo (1649). Descartes foi um homem de seu tempo, refletindo e 
desenvolvendo concepções dicotômicas da relação cérebro-mente. Um exemplo deste dualismo 
cartesiano, que ocorreu antes mesmo de Descartes, é a seguinte inscrição obituária para Lady 
Doderidge, que morreu em 1614: 
Como quando um relógio estragado é desmontado um relojoeiro toma suas pequenas peças e 
consertando o que encontra fora de ordem reúne tudo e o faz novamente operar também Deus esta 
dama tomou e suas duas partes separou demasiado cedo – sua alma e seu pobre corpo mortal. Mas 
por Sua vontade seu corpo totalmente são será novamente unido à sua alma agora coroada. Até 
então, os dois repousam na terra e no céu separados com o que reuniu tudo o que tem vida nós 
então nos regozijamos. 
 Esta clara afirmação de uma absoluta separação entre corpo e alma encontra-se em seu túmulo, que 
pode ser visitado na Catedral de Exerter. 
 
 É proveniente deste dualismo a nossa tendência de pensarmos em termos do corpo e da mente – 
doença mental e física. A disciplina total da psiquiatria aceita tacitamenteuma base dualística para 
sua própria existência, apesar de se ressentir disto e tentar duramente ensinar uma medicina da 
pessoa como um todo. Nossa linguagem continuamente nos leva de volta a palavras e expressões 
dualísticas, e estamos constantemente sob o perigo de uma psiquiatria “descerebrada” ou então “sem 
mente” (Eisenberg, 1986). 
 
 Neste aspecto, o método fenomenológico apresenta a vantagem de ser uma ponte sobre este 
abismo, de outro modo intransponível. Uma vez que se preocupa com a experiência subjetiva, está 
envolvido com a mente e não com o corpo, mas a mente pode somente perceber os estímulos que o 
corpo recebeu, e não pode haver percepção sem a consciência da mente. “O corpo não é somente 
um mecanismo causado, mas essencialmente uma entidade intencional sempre dirigida a um 
objetivo. O corpo vivido é a experiência de nosso corpo que não pode ser objetivada” (Gold, 1985; 
grifos de Gold). O termo mente não pretende representar algum homúnculo psicológico dentro do 
homem, talvez virado de cabeça para baixo, como no córtex cerebral. Ela é puramente uma 
abstração, que se refere a um aspecto de nossa humanidade. Como qualquer outro aspecto ou 
perspectiva, o que é mantido em foco é razoavelmente claro, mas as margens do campo são 
indefinidas e, portanto, não podemos dizer o que, precisamente, quais são os confins da mente, 
assim como nem podemos discriminar completamente o corpo e a mente, nem diríamos que a 
humanidade é completamente explicável em termos de corpo e mente (Sims, 1994). 
 
 Popper e Eccles (1977) desenvolveram o dualismo cartesiano ainda além e elaboraram um conceito 
tríplice – mente, corpo e self. As teorias de corpo-mente e suas relações com a psiquiatria foram bem 
resumidas por Granville-Grossman (1983). A mente é usada, daqui por diante, como uma abstração, 
um modo de observarmos parte dos fenômenos do homem. Esses temas são abordados 
resumidamente neste artigo, onde a finalidade foi a de um olhar sobre a doença, e não a dissecação 
da mente – “o estudo das características distintivas pelas quais se manifestam” (Pinel, 1801). Este 
NOÇÕES DE NOSOLOGIA PSIQUIÁTRICA 
 
16 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 
artigo descreveu o que é a fenomenologia e por que ela é útil na psiquiatria clínica. O método 
concentra-se na experiência subjetiva do paciente – tentar compreender seu próprio estado interno. 
Várias constelações de idéias foram discutidas, e os conceitos foram listados em pares, como 
construtores; assim como o modo pelo qual a população psiquiátrica difere de uma população normal. 
 
 As idéias básicas para o atendimento dos sintomas do paciente são elaboradas usando-se o método 
de empatia e significado do comportamento, ou seja, a compreensão e a explicação dos eventos 
psíquicos. O comportamento do paciente é analisado, adicionalmente, em termos de forma e 
conteúdo, avaliação subjetiva e objetiva. As posições teóricas da psicopatologia descritiva foram 
discutidas e comparadas com métodos psicanalíticos e com o enfoque biológico da doença mental. O 
conceito de mente foi brevemente discutido. 
Modelo De Anamnese E Exame Psíquico Para Avaliação E Planejamento Em Psicoterapia 
Breve. 
 Este trabalho surgiu da percepção da dificuldade que alguns profissionais da área da saúde mental, 
notadamente os psicólogos, têm em colher e organizar dados que auxiliem a reconstituição da 
história do paciente por meio da elaboração da chamada técnica de anamnese. 
 Com este trabalho tentamos auxiliar aqueles que pouco ou nenhum contato tiveram na realização 
dessa técnica, explicando seus vários itens e, na medida do possível, contribuindo com 
esclarecimentos que subsidiem a inclusão ou não de determinados fatos ou naquele item constante 
do roteiro. 
 
 Como também foi observada a necessidade de mais esclarecimentos práticos que permitissem ao 
profissional em treinamento maior facilidade e autonomia na elaboração escrita de seu trabalho, 
tentamos acrescentar, ao final de cada item, exemplos de redação. 
 As bases deste trabalho estão firmadas nos apontamentos das aulas ministradas pelo Dr. Anchyses 
Lopes para o curso de Psicopatologia I, bem como na apostila preparada pela Dra. Vera Lemgruber e 
em suas aulas para o curso de Psicopatologia II, ambos da PUC-RJ, e também no trabalho do Prof. 
Leme Lopes – “Técnica do Diagnóstico”. 
 
 O modelo de anamnese aqui usado é o biomédico clássico e esperamos que, efetivamente, torne 
mais fácil a organização e a realização desta técnica por aqueles que desejam obter, de seus 
pacientes, dados que possibilitem um ponto de partida mais claro para a reconstrução de suas 
histórias e complemento à compreensão psicodinâmica. 
Anamnese 
 O termo vem do grego ana (remontar) e mnesis (memória). Para nós, a anamnese é a evocação 
voluntária do passado feita pelo paciente, sob a orientação do médico ou do terapeuta. 
 
 O objetivo dessa técnica é o de organizar e sistematizar os dados do paciente, de forma tal que seja 
permitida a orientação de determinada ação terapêutica com a respectiva avaliação de sua eficácia; o 
fornecimento de subsídios para previsão do prognóstico; o auxílio no melhor atendimento ao 
paciente, pelo confronto de registros em situações futuras. 
 
 Não podemos deixar de lado o fato de que essa técnica advém de uma relação interpessoal, na qual 
ao terapeuta cabe, na medida do possível, não cortar o fluxo da comunicação com seu paciente, 
assim como, paralelamente, não deixar de ter sob sua mira aquilo que deseja saber. 
 
 Para tanto, faz-se necessário que um esquema completo do que perguntar esteja sempre presente 
em sua mente. Assim, diante de um paciente que se apresente prolixo ou lacônico, estes não serão 
fatores de empecilho para que se possa delinear sua história. 
 
 Ao entrevistador inexperiente cabe lembrar o cuidado em não transformar coleta de dados em 
“interrogação policial”. Um equilíbrio entre neutralidade, respeito e solidariedade ao paciente deve ser 
mantido. O paciente deve perceber o interesse do entrevistador e não o seu envolvimento emocional 
com a sua situação. 
 
 Muitas vezes, não se consegue ter todo o material em uma única entrevista, principalmente em 
instituições em que o número de pacientes e a exigüidade do tempo de atendimento tornam-se 
NOÇÕES DE NOSOLOGIA PSIQUIÁTRICA 
 
17 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 
fatores preponderantes. 
 
 É aconselhável que a entrevista seja conduzida de uma maneira informal, descontraída, com termos 
acessíveis à compreensão do paciente, porém bem estruturada. 
 
Em uma anamnese, acaba-se por fazer dois cortes na vida do paciente: um longitudinal ou biográfico 
e outro transversal ou do momento. 
 
 No corte longitudinal, podemos localizar os registros das histórias pessoal, familiar e patológica 
pregressas. 
 
No corte transversal, enquadraríamos a queixa principal do sujeito, a história da sua doença atual e o 
exame psíquico que dele é feito. 
 
 O roteiro para sua execução pode sofrer algumas poucas variações, em função daquilo a que se 
propõe, porém a estrutura básica que aqui será colocada é aquela da anamnese médica clássica. 
Nele constam: a identificação do paciente; o motivo da consulta ou queixa que o traz ao médico ou 
terapeuta; a história da doença atual; a história pessoal; a história familiar (estas duas poderão vir sob 
o mesmo título – “História Pessoal e Familiar”); a história patológica pregressa; um exame psíquico; 
uma súmula psicopatológica; uma hipótese de diagnóstico nosológico. 
 
 Além disso, é de nosso interesse que, após a anamnese propriamente dita, conste uma proposição 
de uma hipótese psicodinâmica, um planejamento para que se conduza o caso e uma breve 
descrição da atuação terapêutica junto ao paciente em questão. 
 
 Alguns cuidados terão que ser tomados ao se fazer uma anamnese: 
- As informações fornecidas pelo paciente devem constar como de sua responsabilidade.Daí, na 
redação, serem usados verbos como relatar, declarar, informar, tendo o paciente como sujeito deles. 
Ex: Paciente informa ter medo de sair à rua sozinho... Outras expressões como: “conforme relato do 
paciente...”, “de acordo com declarações do paciente...” são usadas, sempre com o intuito de aclarar 
que o que estiver sendo registrado é baseado no que é informado pelo entrevistado. 
 
- Sempre que forem usadas expressões do entrevistado, estas virão entre aspas. 
 
- Depois de identificado o paciente, no item I da anamnese, aparecerão apenas as suas primeiras 
iniciais ao longo do registro. 
 Na medida do possível, ao longo deste trabalho, tentaremos apontar outros cuidados. 
 Cabe lembrar que não é objetivo deste trabalho um curso de psicopatologia, mas sim, a tentativa de 
uniformizar as informações colhidas nas entrevistas iniciais com os pacientes, para que delas se tire 
maior proveito no auxílio terapêutico a tais pacientes. 
 
 A próxima etapa será o desenvolvimento da anamnese propriamente dita. 
I. Identificação 
 Os dados são colocados na mesma linha, em seqüência (tipo procuração).Dela constam os 
seguintes itens: 
 
- Somente as iniciais do nome completo do paciente, uma vez que, por extenso, constará o mesmo 
do seu prontuário ou ficha de triagem (ex: R.L.L.P.); 
- Idade em anos redondos (ex. “35 anos”); 
- Sexo; 
- Cor: branca, negra, parda, amarela; 
- Nacionalidade; 
- Grau de instrução: analfabeto, alfabetizado, primeiro, segundo ou terceiro grau completo ou 
incompleto; 
- Profissão; 
- Estado civil – não necessariamente a situação legal, mas se o paciente se considera ou não casado, 
por exemplo, numa situação de coabitação; 
NOÇÕES DE NOSOLOGIA PSIQUIÁTRICA 
 
18 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 
- Religião; 
- Número do prontuário. 
II. Queixa Principal (QP) 
 Neste item, explicita-se o motivo pelo qual o paciente recorre ao Serviço em busca de atendimento. 
Caso o paciente traga várias queixas, registra-se aquela que mais o incomoda e, preferencialmente, 
em não mais de duas linhas. 
 Deve-se colocá-la entre aspas e nas palavras do paciente. 
Ex: “Tô sem saber o que faço da minha vida. Acho que é culpa do governo”. 
III. História Da Doença Atual (HDA) 
 Aqui se trata apenas da doença psíquica do paciente. Registram-se o sintomas mais significativos, a 
época em que começou o distúrbio; como vem se apresentando, sob que condições melhora ou 
piora. 
 
 Indaga-se se houve instalação súbita ou progressiva, se algum fato desencadeou a doença ou 
episódios semelhantes que pudessem ser correlacionados aos sintomas atuais. 
 
 Alguma coisa fazia prever o surgimento da doença? 
 
 Houve alguma alteração nos interesses, hábitos, comportamento ou personalidade? 
 
 Quais as providências tomadas? 
 
 Averigua-se se já esteve em tratamento, como foi realizado e quais os resultados obtidos, se houve 
internações e suas causas, bem como o que sente atualmente. Pede-se ao paciente que explique, o 
mais claro e detalhado possível, o que sente. 
 
 É importante lembrar que ao se fazer o relato escrito deve haver uma cronologia dos eventos 
mórbidos (do mais antigo para o mais recente). 
 
 Aqui também são anotados, se houver, os medicamentos tomados pelo paciente (suas doses, 
duração e uso). Caso não tome remédios, registra-se: “Não faz uso de medicamentos”. 
 
 Neste item busca-se, com relação à doença psíquica, “como” ela se manifesta, com que freqüência e 
intensidade e quais os tratamentos tentados. 
IV. História Pessoal (HP) 
 Coloca-se, de forma sucinta, separando-se cada tópico em parágrafos, dados sobre a infância, 
educação, escolaridade, relacionamento com os pais, relacionamento social, aprendizado sobre 
sexo..., enfim, tudo o que se refere à vida pessoal do paciente. Não se titulam esses tópicos, apenas 
relata-se a que se refere cada um deles. 
 Apreciam-se as condições: 
- De nascimento e desenvolvimento: gestação (quadros infecciosos, traumatismos emocionais ou 
físicos, prematuridade ou nascimento a termo), parto (normal, uso de fórceps, cesariana), condições 
ao nascer. Se o paciente foi uma criança precoce ou lenta, dentição, deambulação (ato de andar ou 
caminhar), como foi o desenvolvimento da linguagem e a excreta (urina e fezes). 
Ex: “Paciente declara ter nascido de gestação a termo, parto normal...”. 
- Sintomas neuróticos da infância: medos, terror noturno, sonambulismo, sonilóquio (falar dormindo), 
tartamudez (gagueira), enurese noturna, condutas impulsivas (agressão ou fuga), chupar o dedo ou 
chupeta (até que idade), ser uma criança modelo, crises de nervosismo, tiques, roer unhas. 
Ex: “A.F. informa ter tido muitos pesadelos e insônia, além de ser uma criança isolada até os 9 
anos...”. 
- Escolaridade: anotar começo e evolução, rendimento escolar, especiais aptidões e dificuldades de 
aprendizagem, relações com professores e colegas, jogos mais comuns ou preferidos, divertimentos, 
formação de grupos, amizades, popularidade, interesse por esportes, escolha da profissão. 
NOÇÕES DE NOSOLOGIA PSIQUIÁTRICA 
 
19 WWW.DOMINACONCURSOS.COM.BR 
Ex: “Afirma ter ido à escola a partir dos 10 anos, já que não havia escolas próximas à sua casa...” ou 
“Afirma ter freqüentado regularmente a escola, sempre com idade e aprendizado compatíveis...”. 
- Lembrança significativa: perguntar ao paciente qual sua lembrança antiga mais significativa que 
consegue recordar. O objetivo é observar a capacidade de estabelecer vínculos, além do auxílio à 
compreensão da ligação passado-presente. 
 
Ex: “Foi quando minha mãe estava limpando uma janela, bateu com a cabeça e caiu no chão. Era 
tanto sangue que pensei que ela estava morta. Nessa época, eu tinha 3 anos”. 
- Puberdade: época de aparição dos primeiros sinais; nas mulheres, a história menstrual (menarca: 
regularidade, duração e quantidade dos catamênios; cólicas e cefaléias; alterações psíquicas, como 
nervosismo, emotividade, irritabilidade, depressão; menopausa, última menstruação). 
 
Ex: “Paciente relata que os primeiros sinais da puberdade ocorreram aos onze anos e que obteve 
informações sobre menstruação...”. 
- História sexual: aqui se registram as primeiras informações que o paciente obteve e de quem; as 
primeiras experiências masturbatórias; início da atividade sexual; jogos sexuais; atitude ante o sexo 
oposto; intimidades, namoros; experiências sexuais extraconjugais; homossexualismo; separações e 
recasamentos; desvios sexuais. 
 
Ex: “Teve sua primeira experiência sexual aos 18 anos com seu namorado, mantendo, desde então, 
relacionamentos heterossexuais satisfatórios com outros namorados...”. 
- Trabalho: registrar quando o paciente começou a trabalhar, diferentes empregos e funções 
desempenhadas (sempre em ordem cronológica), regularidade nos empregos e motivos que levaram 
o paciente a sair de algum deles, satisfação no trabalho, ambições e circunstâncias econômicas 
atuais, aposentadoria. 
 
Ex: “Conta que aos 20 anos obteve seu primeiro trabalho como contador numa empresa 
transportadora...”. 
 
- Hábitos: uso do álcool, fumo ou quaisquer outras drogas. Caso não faça uso, assinalar: “Não faz 
uso de álcool, fumo ou quaisquer outras drogas”. 
V. História Familiar (HF) 
 O item deve abrigar as relações familiares (começa-se pela filiação do paciente). 
- Pais: idade; saúde; se mortos; causa e data do falecimento; ocupação; personalidade; 
recasamentos, se houver, de cada um deles. Verificar se há caso de doença mental em um deles ou 
ambos. 
 
Ex: “A.F. é o quinto filho de uma prole de dez. Seu pai, J.C., falecido, em 1983, aos 70 anos, de 
infarto...”. 
- Irmãos: idade; condições maritais; ocupação; personalidade. Indagar se há caso de doença mental. 
Apenas referir-se por iniciais. 
 
Ex: “Seus irmãos são: A.M., 34 anos, solteiro, desempregado, descrito como violento, não se dá com 
ele”. 
- Cônjuge: idade, ocupação

Continue navegando