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Pré Socráticos justiça e cosmologia

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Pré-Socráticos: justiça e cosmologia
1ª Aula de Filosofia do Direito
Prof. Luiz Carlos Carvalho de Oliveira
Doutor em Educação (UFPI)
Pensaram os pre-socráticos sobre a justiça?
Se a filosofia é o princípio de todos os conhecimentos, estes que haveriam de ganhar autonomia e especificidade ao longo da história ocidental (biologia, matemática, astronomia), esse período contribuiu bastante.
A questão da justiça é um tema relevante para o grupo de questões que significa a justiça.
É preciso remontar à concepção de justiça (diké) dos pré-socraticos como origem da tradição jusfilosófica.
Essa lacuna de estudos é explicada por:
a) o paradigma socrático como ponto de partida
b) as fontes são escassas (só há fragmentos).
Investigar o pensamento pré-socrático seria retroceder a sistemas ingenuamente construídos sobre bases religiosas circunstanciais (pág. 72 – Bittar/Almeida).
Alguns consideram que só a partir dos sofistas há uma filosofia do direito autêntica (os sofistas separam definitivamente os conceitos de phýsis, do lógos e do nómos)
A unidade entre os pré-socráticos é muito mais de uma preocupação cosmológica comum a todos (explicação da origem do universo e do mundo natural).
Mas já existe um movimento nesse sentido na tradição homérica.
A justiça na tradição homérica
Se a filosofia grega não surge a partir da pressuposição de um “milagre grego”, a filosofia pré-socrática também não surge a partir do nada.
Há antecedentes que forjaram o surgimento da filosofia grega:
a) a influência advinda dos povos orientais, a sabedoria egípcia, os conhecimentos dos caldeus, as artes dos fenícios, etc.
b) a passagem do povo grego por uma fase mítica, correspondente ao período histórico homérico da cultura grega (anterior ao séc. VIII) até uma fase racional por intermédio da transição entre a cosmogonia e a teogonia (origem dos deuses) em direção à cosmologia conhecimento racional que explica a origem das coisas, nascimento da ciência, separando physis e nomos.
A Teogonia é dividida entre dois grandes poetas épicos:
a) Homero (poeta da aristocracia) e
b) Hesíodo (poeta popular). O 1o. a propor a noção de um único Deus. Mas Deus, no sentido de uma substância primordial.
A filosofia pré-socrática nasce nutrida pelo mito, pela epopéia homérica, pela teogonia, pela cosmologia, assim haveria condições de formação do pensamento racional cosmológico.
É nessa passagem, dá-se a transição que levará os gregos do período cosmológico da filosofia (naturalista) ao período socrático da filosofia (antropocêntrico).
Forma-se a paideia grega, inspirada no período homérico para uma re-criação do sentido de justiça (diké) e tudo se faz pela via oral (transmissao oral).
A poesia de Homero é referência por ser um dos primeiros textos com registros formais da cultura grega.
Apesar de o foco estar voltado para a descrição das virtudes do herói, isto não significa que dentre as aretai não se destaque a diké em meio aos grandes temas da paideia grega deste período.
Em Homero já há a descrição de uma areté politiké, ou seja, a política entrelaçada à ideia de igualdade de todos numa comunidade (vida pública).
Homero descreve aspectos do período arcaico,como o início da fixação territorial na Grécia, as tradições trágicas, as visões órficas, a revelação dos oráculos, os valores mitológicos, uma sociedade aristocrático-sacerdotal que representou o início da organização política helênica.
Nesse contexto, dominava o poder político da nobreza detentora das armas e da areté guerreira, ínsita na natureza de seus membros, aliado ao poder religioso que emana da autoridade sacerdotal, representante da ordem e da justiça.
As classes populares campesinas (agricultura), submetiam-se à justiça imposta pelos detentores dos poderes temporal e espiritual.
A poesia de Homero é reflexo dessas condições contextuais e retrata um certo status quo da sociedade grega. Sua poesia está impregnada do divino como responsável pela distribuição social dos homens.
Sua poesia ajudou a justificar durante vários séculos a irregularidade tanto das condições de vida, quanto da distribuição de justiça e fez do homem um objeto passivo dos deuses ou da discórdia dos deuses (como algo natural, de justificação da distribuição de justiça).
Há, portanto, a partir da poesia de Homero, que se divisar o quanto a imagem da justiça está associada às condições sócio-históricas do próprio povo grego.
Qualquer reflexão que queira compreender a diferenciação entre diké e thémis. O termo justiça aparece corporificado ora em thémis (costume), ora em diké (criação humana).
A diké já representa algo que se associa à ideia de uma resistência à estrutura de classes.
Somente a partir do séc. VI, é que a diké começou a ser considerada como algo universal, válido para toda a sociedade, com a ideia de que as leis e não os oligarcas, passa a corporificar o ideal da diké como garantia de justiça.
O vocábulo thémis designa algo de natureza sagrada, como também o que pode ser dado pelos deuses aos homens, numa espécie de dom, dom da sabedoria ou dom de governar. Os reis recebiam a thémis das mãos de Zeus e eram ungidos pelo dom de governar. Essa crença facilitava a legitimação do poder, da dominação aristocrática. A justiça procedia dos deuses.
O termo thémis, na língua grega, designava o uso, o costume, de uma deusa pré-olímpica e esposa de Zeus, atuando ao lado deste como símbolo da ordem e do poder organizativo.
Thémis preside a ordem e o equilíbrio do universo, é uma das deusas gregas da justiça. Há uma ligação entre a ordem das coisas humanas e a ordem cosmológica que a tudo rege.
Entre a crença mitológica dos deuses que presidem o Olimpo e seu poder sobre a ordem e a justiça do cosmos, no período homérico, e as concepções mais recents de justiça, no período homérico, e, posteriormente, no período clássico, dá-se um salto acentuado no sentido da laicização da ideia do justo e do injusto.

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