Buscar

Direito Penal 4 Ano UNIP 2016 2 Semestre Arts.289 a 323

Prévia do material em texto

DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 1 
DIREITO PENAL 
 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA E SUGERIDA: 
 ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Legislação Penal Especial. 2. ed. rev., atual. 
e aum.- São Paulo: Saraiva, 2006. 
 
 BITENCOURT, Cézar Roberto. Tratado de Direito Penal : parte especial : 
volume 4. – São Paulo : Saraiva, 2004. 
 
 BITENCOURT, Cézar Roberto. Tratado de Direito Penal, 5 : parte especial : 
dos crimes praticados contra a administração pública e dos crimes praticados por 
prefeitos (Lei n. 10.028/2000). – São Paulo : Saraiva, 2007. 
 
 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal : parte especial : dos crimes 
contra os costumes a dos crimes contra a administração pública (arts. 213 a 359-
H), volume 3, 2. Ed. – São Paulo : Saraiva, 2005. 
 
 MIRABETE, Julio Fabrini, Manual de Direito Penal, 20. Ed. – São Paulo: 
Atlas, 2005. 
 
 MIRABETE, Julio Fabrini, Código Penal Interpretado. São Paulo : Atlas, 
1999. 
 
 SZNICK, Valdir: Contravenções Penais, 5ª Edição 1994, Edição Universitária 
de Direito. 
 
 ISHIDA, Válter Kenji: Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e 
jurisprudência/ comentários, 7ª Edição – São Paulo : Atlas, 2006. 
 
 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 2 
 
 
TÍTULO X 
CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA 
 Na vida moderna é indiscutível a necessidade do homem acreditar na veracidade 
de certos atos, documentos, sinais, etc., que fazem parte das suas múltiplas relações 
diárias. Essa crença na veracidade de certos institutos ou formas de vida social é violada 
nos crimes de falso. A fé pública constitui, portanto, o bem jurídico tutelado pelos 
dispositivos penais. 
 
1. MOEDA FALSA – Artigo 289 do Código Penal 
TIPO FUNDAMENTAL (“CAPUT”) 
1.1. Objetividade Jurídica 
A fé pública. 
1.2. Sujeitos do delito 
O crime do artigo 289 é comum. Pode ser praticado por qualquer pessoa. 
Sujeito passivo é o Estado, bem como aquele que sofre eventual lesão decorrente 
da conduta típica (quem a recebe, por exemplo). 
1.3. Tipo Objetivo (Conduta típica) 
 O núcleo do tipo é falsificar moeda, ou seja, imitar, fazer passar por autêntica 
moeda falsa, fabricando-a ou alterando-a. 
 As formas de falsificação são: 
 1ª) fabricação (o sujeito faz a moeda); ou 2ª) alteração (o agente modifica a 
moeda). 
  É imprescindível para a caracterização do crime que a moeda apresente 
semelhança com o verdadeiro, podendo ser confundido com o autêntico. Assim, a 
imitação grosseira, rudimentar, incapaz de levar a erro qualquer pessoa, não configura o 
delito de moeda falsa. 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 3 
 A falsificação grosseira de moeda falsa pode caracterizar estelionato. Assim, há 
julgados no sentido de que a falsificação evidente à primeira vista, configura, em tese, 
tentativa de estelionato. 
  A conduta de apor em uma moeda números e letras recortados de cédulas 
verdadeiras sobre outras, de modo que estas apresentem valor superior constitui o crime 
na modalidade de “alterar” prevista pelo art. 289, caput, do CP. 
 O objeto material do crime é moeda metálica ou o papel-moeda, seja nacional, 
seja estrangeira. O número de moedas é irrelevante. Por se tratar de crime que deixa 
vestígios, é indispensável que seja elaborado o laudo pericial. 
 Se a moeda já deixou de circular, não possuindo valor de circulação atual, inexiste 
o crime do art. 289, podendo subsistir o estelionato. 
 
 
1.4. Tipo Subjetivo (Elemento subjetivo do tipo) 
 É o dolo, consistente na vontade livre e consciente de falsificar moeda, não se 
exigindo finalidade especial da conduta, nem mesmo o fim de colocá-la em circulação. 
1.5. Consumação e tentativa 
 A consumação ocorre com a fabricação ou alteração da moeda. Não se exige que 
seja colocada em circulação, nem que venha a causar dano a outrem. 
 É admissível a tentativa. A simples posse de petrechos para falsificação de moeda 
já constitui outro ilícito penal (art. 291). 
  A falsificação de várias moedas constitui crime único. Se em ocasiões 
diferentes, crime continuado 
 Se o próprio falsificador introduz a moeda no mercado, responde pelo delito de 
moeda falsa. O fato posterior da introdução é impunível (progressão criminosa) 
Moeda Falsa: Aplicação das Agravantes do Art. 61, II, “e” e “h” do CP 
 
Nos casos de prática do crime de introdução de moeda falsa em circulação (art. 289, § 1º, 
do CP), se a nota falsificada é repassada para “ascendente, descendente, irmão ou 
cônjuge” ou para “criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida”, 
incidirão as agravantes previstas nas alíneas "e" e "h" do inciso II do art. 61 do CP. O 
sujeito passivo desse delito não é apenas o Estado, mas também a pessoa lesada com a 
introdução da moeda falsa. STJ. 6ª Turma. HC 211.052-RO, Rel. Min. Sebastião Reis 
Júnior, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 5/6/2014 (Info 546). 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 4 
 
1.6. CIRCULAÇÃO DE MOEDA FALSA (§1º) 
 Trata-se de crime comum que pode ser cometido por qualquer pessoa, desde que 
não seja o autor ou partícipe da falsidade anterior. Quando isso ocorre, o sujeito só 
responde pelo primeiro delito. 
 O crime aqui descrito é de ação típica múltipla. Responde por uma só infração 
quando realiza as diversas condutas descritas. Assim, comete um só crime o agente que 
importa, guarda e vende o objeto material. 
 
 Em relação ao momento consumativo, ocorre quando o sujeito realiza os 
comportamentos típicos. Na modalidade de guarda, o delito é permanente, protraindo-se 
a consumação no tempo. 
 Admite-se a tentativa. 
1.7. TIPO PRIVILEGIADO (§ 2º) 
 É crime privilegiado quem restitui à circulação a moeda falsa que recebeu de boa-
fé, como verdadeira. Se conhecida a origem lícita, responde o agente pelo crime previsto 
no § 1º do art. 289, mais grave. 
 Deve existir o dolo no momento em que o agente recolocou a moeda em 
circulação, não ocorrendo o fato típico se desconhecia ele a falsificação. 
 
1.8. FABRICAÇÃO OU EMISSÃO IRREGULAR DE MOEDA (§ 3º) 
 Trata-se de crime próprio, só determinadas pessoas podem ser sujeitos ativos: o 
funcionário público, o diretor, o gerente ou o fiscal de banco de emissão de moeda. Não 
se trata de qualquer funcionário, mas somente daquele que infringe especial dever 
funcional inerente ao ofício. 
 A conduta típica consiste em o sujeito fabricar, emitir ou autorizar a fabricação ou 
emissão de moeda metálica (inciso I) ou papel-moeda (inciso II) 
 Trata-se ainda de crime formal. Independe da produção do resultado pretendido. 
 Observação: 
 Constitui fato atípico a produção de moeda metálica em quantidade superior à 
autorizada. Note-se que o inciso II da disposição descreve a emissão de papel-moeda 
em quantidade superior à autorizada. 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 5 
 A produção de quantidade inferior à autorizada, não é crime. 
 
1.9. DESVIO E CIRCULAÇÃO ANTECIPADA (§ 4º) 
 Consiste em desviar e fazer circular, i.e., deslocar o dinheiro de sua destinação 
legal e introduzi-lo em circulação com abuso (antecipadamente). 
 É irrelevante que o sujeito venha a obter algum proveito. Este não é previsto no 
tipo. 
 Consuma-se o delito com a entrada da moeda em circulação e admite-se a 
tentativa. 
 
1.10. COMPETÊNCIA 
 Com os crimes previstos no artigo 289 e seus parágrafos, viola-se a fé pública da 
União, seu patrimônio ou interesses. Assim, competente para apreciá-los é a Justiça 
Federal, mesmo quanto à moeda estrangeira (art. 109, V da C.F.). Tratando-se, porém, 
de falsificação grosseira e, portanto, de crime de estelionato, a competência é da Justiça 
Comum Estadual. 
 
 
2. CRIMES ASSIMILADOS AO DE MOEDA FALSA –Artigo 290 do Código Penal 
2.1. Objetividade Jurídica 
 A fé pública 
2.2. Sujeitos do delito 
 Pode ser praticado por qualquer pessoa; se o agente for funcionário público, há 
aumento de pena. 
 Sujeito passivo é o Estado e, eventualmente, o particular que sofre dano 
decorrente da conduta. 
2.3. Tipo Objetivo 
 O objeto material do crime é a cédula, a nota ou o bilhete representativo de 
moeda. 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 6 
 As condutas típicas descritas no dispositivo são: 
 1º) formação de cédula, nota ou bilhete representativo de moeda; 
 2º) supressão de sinal indicativo de sua inutilização; e 
 3º) restituição da moeda à circulação. 
 É necessária a potencialidade lesiva do comportamento. 
2.4. Elementos subjetivos do tipo 
 Nos verbos formar e restituir há somente o dolo. 
 No suprimir, além do dolo, exige-se outro elemento subjetivo do tipo, contido na 
expressão “para o fim de restituí-los à circulação”. 
2.5. Tipo qualificado (parágrafo único) 
 A qualificadora incide não só no caso de funcionário público que trabalha na 
repartição como também daquele que tem acesso fácil, diante do exercício do cargo. 
 
3. PETRECHOS PARA FALSIFICAÇÃO DE MOEDA – Artigo 291 do Código Penal 
3.1. Objetividade jurídica 
 A fé pública 
3.2. Sujeitos do delito 
 Qualquer pessoa pode cometer o crime previsto no art. 291, inclusive funcionário 
da instituição em que se imprime a moeda. 
 Sujeito passivo é o Estado. 
3.3. Tipo objetivo (condutas típicas) 
 As condutas típicas são as de fabricar (produzir, construir, manufaturar, criar), 
adquirir (obter de qualquer forma), fornecer (entregar, doar, vender), possuir (ter a 
propriedade ou posse material) e guardar (ter consigo, a sua disposição) o petrecho para 
falsificação. 
3.4. Tipo Subjetivo (Elemento subjetivo) 
 É o dolo, abrangendo o conhecimento da destinação específica dos objetos 
materiais. 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 7 
3.5. Consumação e tentativa 
 Consuma-se o crime com as condutas de fabricação, fornecimento, posse ou 
guarda. 
 A tentativa é possível em qualquer das condutas. Cezar Roberto Bitencourt 
entende não ser possível a tentativa uma vez que o crime em tela já se refere à punição 
de atos preparatórios. Assim, sendo exceção a punição de atos preparatórios, não se 
deve admitir a tentativa. 
 
 A competência também é da Justiça Federal face o interesse da União violado 
pela conduta. 
 
4. EMISSÃO DE TÍTULO AO PORTADOR SEM PERMISSÃO LEGAL – Artigo 292 C.P. 
4.1. Objeto jurídico e sujeitos do delito 
 Objeto jurídico é a fé pública, proibindo-se a concorrência de títulos de crédito não 
autorizados com a moeda. A circulação deles “perturba ou pode perturbar a normalidade 
de circulação de dinheiro”. 
 Sujeito ativo é quem emite título ao portador, sem permissão legal. 
 Sujeito passivo é o Estado. 
4.2. Tipo objetivo e subjetivo 
 A conduta típica é emitir o título que, nos termos legais, é a ação de colocá-lo em 
circulação. 
 O objeto material é o título ao portador, discriminado na lei como nota, bilhete, 
ficha, vale ou título que contenha promessa de pagamento em dinheiro ao seu portador 
ou que não contenha indicação do nome da pessoa a que deva ser pago. Título ao 
portador é o título de crédito sem a indicação de qualquer nome. 
 Não configura ilícito a emissão de vales íntimos, os chamados vales de caixa, 
usados para comprovar a retirada de dinheiro. 
 O dolo é a vontade de emitir o título, estando o agente ciente de que não há 
permissão para a circulação. Não prevê a lei qualquer finalidade específica. 
4.3. Consumação e tentativa 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 8 
 Consuma-se o crime, que é formal, com a circulação do título. A subscrição pode 
constituir, conforme as circunstâncias, em tentativa. 
 
5. FALSIFICAÇÃO DE PAPÉIS PÚBLICOS – Artigo 293 do Código Penal 
5.1. Objetividade jurídica e sujeitos do delito 
 A objetividade jurídica é fé pública. 
 Sujeito ativo é qualquer pessoa. Se for funcionário público poderá incidir a 
qualificadora do art. 295 do C.P. 
 Sujeito passivo é o Estado. 
5.2. Conduta típica, elemento subjetivo do tipo e consumação 
 A conduta típica é falsificar, por contrafação (fabricação) ou alteração, um dos 
papéis referidos no dispositivo. 
 O objeto material é qualquer dos papéis mencionados no dispositivo. 
No inciso I (selo tributário, papel selado destinado à arrecadação de tributo) tutela-
se inicialmente a fé pública e, indiretamente, o erário público contra a evasão fiscal. 
Papel selado indica aquele que, em vez de ser aposto o selo ou estampilha, já o tem 
produzido, estampado através de processos mecânicos. 
No inciso II trata-se de papel de crédito. Papel de crédito público são as 
debêntures, apólices, etc. 
No inciso III (vale-postal), significa título emitido por uma unidade postal, está 
revogado pela Lei nº 6538/78. 
No inciso IV temos a cautela de penhor e a caderneta de depósito. Cautela de 
penhor é o recibo cuja apresentação e pagamento determina a entrega da coisa 
penhorada. Caderneta de depósito de caixa econômica ou de outro estabelecimento 
público abrange as chamadas “cadernetas de poupança”. A falsificação de cadernetas de 
estabelecimentos de direito privado constituirá outro crime (arts. 297 e 298). 
No inciso VI, bilhete é o papel adquirido através de pagamento para utilizar o 
transporte. Conhecimento é o papel referente ao transporte de coisas. 
A falsificação desses papéis, se grosseira, não integra o delito, mas pode ser meio 
para a prática de outro crime (estelionato, por exemplo). 
 O elemento subjetivo é o dolo, vontade livre e consciente de falsificar os objetos 
materiais. 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 9 
 Consuma-se o crime com a efetiva fabricação ou alteração. 
5.3. Outras disposições 
 A Lei nº 11.035/2004 modificou também o §1º do art. 293. No inciso I incrimina-se 
o uso, a guarda ou a detenção de qualquer dos papéis falsificados. O inciso II incrimina a 
importação, exportação, aquisição e outras figuras do selo falsificado. 
 Pune-se ainda, no inciso III, condutas praticadas no exercício de atividade 
comercial ou industrial que tenham como objeto produto ou mercadoria em que tenha 
sido aplicado o selo falsificado. É crime próprio uma vez que só pode ser cometido por 
comerciantes ou industriais, ainda que fora do exercício legal e regular do comércio (§ 5º 
também acrescentado). 
 
6. PETRECHOS DE FALSIFICAÇÃO – Artigo 294 do Código Penal 
6.1. Objetividade jurídica e sujeitos do delito 
 O objeto jurídico é a fé pública. 
 Sujeito ativo do delito é qualquer pessoa. Se funcionário público há o aumento de 
pena do artigo 295. 
 Sujeito passivo é o Estado. 
6.2. Condutas típicas e tipo subjetivo 
 As condutas típicas são as mesmas do art. 291: fabricar, adquirir, fornecer, possuir 
e guardar. (Ex. carimbos destinados à falsificação; fotolitos e chapas destinadas à 
falsificação, etc.). 
 Tipo subjetivo é o dolo, caracterizado pela vontade de praticar uma das condutas 
típicas. 
É dispensável a constituição definitiva do crédito tributário para que esteja consumado o 
crime previsto no art. 293, § 1º, III, "b", do CP. Isso porque o referido delito possui 
natureza FORMAL, de modo que já estará consumado quando o agente importar, 
exportar, adquirir, vender, expuser à venda, mantiver em depósito, guardar, trocar, ceder, 
emprestar, fornecer, portar ou, de qualquer forma, utilizar em proveito próprio ou alheio, 
no exercício de atividade comercial ou industrial, produto ou mercadoria sem selo oficial. 
Por ser um crime formal, não incide na hipótese, a Súmula Vinculante 24 do STF, que 
tem a seguinte redação: “Não se tipificacrime MATERIAL contra a ordem tributária, 
previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do 
tributo.” STJ. 6ª Turma. REsp 1.332.401-ES, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, 
julgado em 19/8/2014 (Info 546). 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 10 
6.3. Consumação e tentativa 
 Consuma-se o crime com a prática da ação, independentemente de qualquer 
outro resultado. 
 É possível a tentativa em algumas das condutas típicas. 
 
7. FALSIFICAÇÃO DO SELO OU SINAL PÚBLICO – Artigo 296 do Código Penal 
7.1. Sujeitos do delito 
 Sujeito ativo do crime é qualquer pessoa que pratique a conduta típica. 
 Sujeito passivo é o Estado. 
7.2. Tipo objetivo 
 A conduta típica é falsificar por meio de fabricação ou alteração. O primeiro objeto 
material é o selo destinado a autenticar atos oficiais. Não se confunde com o selo postal 
ou estampilha, destinados à arrecadação de impostos e taxas. 
A expressão entidade de direito público abrange as organizações autárquicas, as 
chamadas “paraestatais”, ou seja, as pessoas jurídicas de direito público. 
O sinal público de tabelião é o instrumento destinado à impressão da rubrica ou 
desenho com que o serventuário autentica seus atos. Não se tipifica o crime em apreço 
na falsificação de carimbo para o reconhecimento de firma em tabelionato. Esse carimbo 
não é sinal público. 
Quando se trata de crime praticado em detrimento dos serviços da União, a 
competência para processar e julgar é da Justiça Federal. 
 A imitação deve induzir em erro indeterminado número de pessoas. 
 
7.3. Uso de Selo ou sinal falsificado 
 As mesmas penas previstas para a falsificação são aplicadas a quem faz uso, ou 
seja, utiliza, aproveita o selo ou sinal falsificado. Não estão tipificadas as condutas de 
guardar, ter a posse ou a detenção do produto da falsificação. 
 Há dúvidas quanto a possibilidade de tentativa. 
7.4. Uso indevido de selo ou sinal verdadeiro 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 11 
 Também é incriminada a conduta de quem utiliza indevidamente o selo ou sinal 
verdadeiro. O objeto material do delito, portanto, não é mais o selo ou sinal falsificado, 
mas o legítimo. Para a caracterização do crime é necessário que o uso seja indevido e 
que haja prejuízo. 
 É impossível a tentativa, uma vez que com o primeiro ato de utilização do objeto 
material o delito está consumado. Tentar utilizar já é utilizar. 
7.5. Alteração, Falsificação ou utilização de marcas da administração 
 Estabelece o inciso III do parágrafo 1º, acrescentado pela Lei 9.983, de 14 de 
julho de 2000 que está incurso na mesma pena (reclusão de 02 a 06 anos) quem altera, 
falsifica ou faz uso indevido de marcas, logotipos, siglas ou quaisquer outros símbolos 
utilizados ou identificadores de órgãos ou entidades da Administração Pública. 
 As condutas típicas são alterar, falsificar ou fazer uso indevido de marcas, 
logotipos, siglas ou quaisquer outros símbolos. 
 
8. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO – Artigo 297 do Código Penal 
8.1. Objetividade jurídica 
A fé pública, a confiança que as pessoas têm de ter no documento público. O 
crime atinge a coletividade (crime vago). 
8.2. Sujeito ativo 
Sujeito ativo é qualquer pessoa. Tratando-se de funcionário público, incide a 
causa de aumento, prevista no § 1.º do art. 297, desde que o funcionário prevaleça do 
cargo e, com isso, obtenha alguma vantagem ou facilidade para falsificar documento 
público. Exemplos: utilizar o crachá para ingressar no departamento; acessar dados no 
computador com senha pessoal, etc. 
8.3. Sujeito passivo 
O Estado, a coletividade. Pode haver também vítima secundária, a pessoa lesada 
pela falsificação. 
8.4. Elementos objetivos do tipo 
São elementos objetivos do tipo: 
 Falsificar: criar materialmente um documento inexistente – fazer ou 
contrafazer o documento. A falsificação pode ser no todo ou em parte. 
Contrafazer é utilizar uma cópia do modelo verdadeiro para falsificá-lo. 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 12 
 Alterar: modificar algo que já existe. O documento verdadeiro existe e é 
adulterado. 
8.5. Requisitos da falsificação 
São os seguintes os requisitos da falsificação: 
 Que seja idônea, apta a iludir, capaz de enganar qualquer pessoa, 
considerando-se o padrão médio da sociedade. 
Segundo a jurisprudência, a falsificação grosseira não constitui crime, pois não é 
capaz de enganar as pessoas em geral. Se uma pessoa é enganada com falsificação 
grosseira, pode configurar o estelionato (que considera a vítima em si, não o padrão 
médio). 
 Que tenha capacidade de causar prejuízo a alguém. A falsificação inócua não 
é crime. 
8.6. Objeto material 
 Documento público: é elemento normativo do tipo. 
Documento é toda peça escrita que condensa o pensamento de alguém, capaz de 
provar um fato ou a realização de um ato de relevância jurídica. 
 
-Pergunta: A fotografia é considerada documento para o Direito Penal? 
Resposta: Não, pois não é peça escrita. 
A fotografia pode fazer parte de um documento; nesse caso a solução é diferente: 
se trocada, há crime. Exemplos: troca de fotografia de RG, de fotografia de laudo pericial. 
 
-Pergunta: Xerox é documento? 
Resposta: Não. Porém a xerox autenticada é documento. 
 
- Pergunta: Falsificação de fita de vídeo é falsificação de documento? 
Resposta: Não, pois não é escrito. Entretanto, se a fita fizer parte de um laudo 
pericial, há crime, pois passa a fazer parte do documento escrito. 
Falsificação de disco também não é falsificação de documento; disquete de 
computador também não é documento. 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 13 
Não se pode falsificar carta anônima; por não ser identificada, não condensa o 
pensamento de alguém. 
O telegrama pode ser documento público, caso seja expedido por funcionário 
público e contenha conteúdo público. 
Configura crime as falsificações de: cédula de identidade, carteira de 
habilitação, carteira funcional da OAB, carteira de trabalho, certificado de isenção militar, 
certificado de reservista, guia de imposto, guia de taxa rodoviária única (TRU), guia do 
INPS, título de eleitor, identidade funcional, título de naturalização, títulos e valores 
mobiliários, carteira de fiscal federal. 
Não configura o crime as falsificações de: papéis escritos à lápis, requerimento 
à autoridade pública, telegrama do particular, cópias não autênticas, exemplar de jornal, 
chapa de automóvel. 
8.7. Requisitos do documento público 
São requisitos do documento público: 
 deve ser elaborado por funcionário público; 
 no exercício da função, o funcionário deve ter atribuição para elaborar 
documentos; 
 deve obedecer às formalidades legais. 
 
- Pergunta: Um documento estrangeiro pode ser considerado documento público? 
Resposta: Sim. Desde que seja considerado público no país de origem e que 
satisfaça os requisitos de validade previstos no nosso ordenamento, como, por exemplo, 
tradução realizada por tradutores públicos juramentados. 
 
8.8. Documentos públicos por equiparação (§ 2º) 
São documentos de natureza particular que, pela sua importância, foram 
equiparados pela lei a documento público (art. 297, § 2.º, do CP). 
 documento emitido por entidade paraestatal: administração indireta; 
 título ao portador ou transmissível por endosso: títulos de crédito, como, por 
exemplo, cheque, duplicata, nota promissória, letras de câmbio; 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 14 
 ações de sociedade comercial: independentemente do tipo de ação (ordinária, 
preferencial etc.); 
 livros mercantis: quer sejam obrigatórios ou facultativos; 
 testamento particular:hológrafo. 
A nota promissória e o cheque emitidos em branco, podem ser objeto material do 
delito. O cheque já recusado pelo banco não pode ser objeto material do delito. 
8.9. Elemento subjetivo do tipo 
A lei não exige intenção especial; basta o dolo. 
8.10. Consumação 
O crime consuma-se quando existe a falsificação ou alteração. É crime de 
natureza formal; basta o resultado jurídico, não precisa do resultado naturalístico. 
Há uma segunda corrente, entendendo que o crime só se consuma quando surge 
o dano efetivo ou potencial, ou seja, deve o documento ser usado. Se falsificou e 
guardou o documento, sem usá-lo, não há crime. Há decisões nos dois sentidos, não 
sendo pacífico o entendimento a respeito. 
8.11. Tentativa 
É possível porque a conduta é plurissubsistente. 
8.12. Concurso de Crimes 
8.12.1. Falsificação de documento público e estelionato (art. 171 do CP) 
 A falsificação absorve o estelionato – corrente minoritária. A justificativa é de 
que a falsificação é crime mais grave (princípio da consunção) e o estelionato 
é mero exaurimento. 
 O estelionato absorve a falsificação – corrente majoritária, adotada pelo 
Superior Tribunal de Justiça. A justificativa é de que o estelionato é crime-fim e 
a falsificação é crime-meio. A falsificação é um elemento do tipo do estelionato 
(“qualquer outro meio fraudulento”). 
Súmula n. 17 do Superior Tribunal de Justiça: “Quando o falso se exaure no 
estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por esse absorvido”. 
 Há concurso formal de crimes: é a posição adotada hoje pelo Supremo 
Tribunal Federal. A conduta é única, começa na falsificação e termina no 
estelionato. A conduta ofende mais de um bem jurídico, pois a falsificação 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 15 
ofende a fé pública e o estelionato ofende o patrimônio. Não se pode falar em 
consunção porque há dois bens jurídicos atingidos, com vítimas diferentes. 
 Há concurso material de crimes: é apenas uma posição de referência. Há 
duas condutas, com vítimas diferentes, que ofendem bens jurídicos diversos e, 
por isso, não se pode usar a consunção. Atualmente, não se defende essa 
posição. 
8.12.2. Falsificação de documento público e uso de documento falso (art. 304 do 
CP) 
Se uma pessoa falsifica e usa o documento público, responde por falsidade – essa 
é a posição majoritária. O uso é mero exaurimento; é post factum impunível. 
Exige-se, entretanto, que faça uso do documento a mesma pessoa que o 
falsificou. 
Compete à Justiça Federal processar e julgar ação penal relativa a crime de 
falsificação de documento público e de uso de documento falso (CP, artigos 297 e 304, 
respectivamente), quando a falsificação incide sobre documentos federais. (Informativo 
nº 541/2009 do STF). 
Também importante mencionar a Súmula Vinculante nº 36 do STF: 
Súmula 36 
"Compete à Justiça Federal comum processar e julgar civil denunciado pelos 
crimes de falsificação e de uso de documento falso quando se tratar de 
falsificação da Caderneta de Inscrição e Registro (CIR) ou de Carteira de 
Habilitação de Arrais-Amador (CHA), ambas expedidas pela Marinha do 
Brasil". 
 
8.12.3. Falsificação e sonegação fiscal (Lei nº 4729/65 – art. 1º) 
Alguém falsifica documento público para pagar menos, ou para não pagar tributos. 
Pratica crime de sonegação fiscal – princípio da especialidade. 
Quando o agente paga o tributo antes do recebimento da denúncia, extingue-se a 
punibilidade. 
O agente que falsifica um documento para encobrir crime de sonegação praticado 
anteriormente, responde pelo delito que praticou e também pela falsidade que usou para 
encobri-lo (concurso material). 
8.12.4. Falsificação de documento público (falsidade material) e falsidade 
ideológica 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 16 
Prevalece a falsidade material sobre a ideológica. 
 
8.13. Artigo 297, § 3º - inserido pela Lei nº 9.983, de 14 de julho de 2000. 
O § 3º do artigo 297, estabelece formas de falsidade ideológica: 
“Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir: 
I – na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a 
fazer prova perante a previdência social, pessoa que não possua a qualidade de 
segurado obrigatório; 
Trata-se de evitar que não seja aquinhoado com os benefícios restritos ao 
segurado obrigatório aquele que não o é. 
II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento 
que deva produzir efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que 
deveria ter sido escrita; 
O sujeito ativo aqui pode ser o proprietário da carteira ou terceiro. O objeto 
material é qualquer documento destinado a produzir efeito perante a administração 
previdenciária. 
III – em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as 
obrigações da empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que 
deveria ter constado.” 
O objeto material aqui é o documento referente à contabilidade da empresa ou 
qualquer outro. 
Todos são crimes formais, que se consumam com a falsa inserção, pouco 
importando a ausência de prejuízo à Previdência Social ou ao segurado. 
8.14. Artigo 297, § 4º - inserido pela Lei nº 9.983, de 14 de julho de 2000. 
Estabelece o artigo 297, § 4º: 
“Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no § 3o, 
nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de 
trabalho ou de prestação de serviços.” 
O intento do legislador, ao definir a nova figura típica, foi claramente o de proteger 
dois sujeitos passivos: a Previdência Social e o segurado. Por segurado entende-se o 
contratado cujo registro já tenha sido informado, achando-se inscrito na Previdência 
Social. A Seguridade é tutelada pela norma penal, que claramente quer exigir lisura na 
relação estabelecida pelo empregador com o órgão de previdência, constituindo os 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 17 
assentamentos da CTPS os parâmetros legítimos para os cálculos contributivos. O 
segurado, por sua vez, é protegido porque somente a partir de informações válidas 
alcançar-se-ão benefícios igualmente válidos. 
 
Evidentemente, exige-se na conduta o dolo, não se caracterizando o ilícito quando 
se tratar de irregularidade culposa ou que não possa causar qualquer dano. 
 Deixar o empregador de proceder à anotação do registro de empregado na 
Carteira Profissional de Trabalho, nos termos dos arts. 41 e segs. da Consolidação das 
Leis do Trabalho e da Portaria n. 3.626, de 13.11.1991, não constitui o crime do art. 297, 
§ 4.º, do Código Penal, com redação da Lei n. 9.983, de 14.7. 2000. (posição de 
Damásio de Jesus). 
 
9. FALSIDADE DE DOCUMENTO PARTICULAR – ARTIGO 298 DO CÓDIGO PENAL 
O tipo é igual ao da falsificação de documento público. A diferença é que o 
documento em questão não é público e sim particular. 
Documento particular, por exclusão, é aquele que não é público. 
 
- Pergunta: Um cheque, devolvido pelo banco por insuficiência de fundos, é 
tomado por alguém para falsificação. É documento público ou particular que a pessoa 
está falsificando? 
Resposta: O cheque devolvido não pode ser transmitido por endosso; logo, não é 
mais considerado documento público por equiparação. Então, configura documento 
particular. 
 
- Pergunta: Documento público nulo é falsificado por alguém. A falsificação é de 
documento público ou particular? 
A simples omissão de anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) não 
configura, por si só, o crime de falsificação de documento público (art. 297, § 4º, do CP). 
Isso porque é imprescindível que a conduta do agente preencha não apenas a tipicidade 
formal, mas antes e principalmente a tipicidadematerial, ou seja, deve ser demonstrado o 
dolo de falso e a efetiva possibilidade de vulneração da fé pública. 
 
STJ. 5ª Turma. REsp 1.252.635-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 
24/4/2014 (Info 539). 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 18 
Resposta: Se o documento público é nulo, não é documento público; mas, se 
possui relevância jurídica, a falsificação é de documento particular. 
O Professor Damásio de Jesus entende que o documento público nulo é 
considerado documento particular. 
 
- Pergunta: Petição é documento? 
Resposta: A petição não prova nada, não é documento. 
 
- Pergunta: A petição pode ser usada como documento? 
Resposta: Sim. Mas, nesse caso, deixa de ser mera petição e ganha a qualidade 
de documento. 
 
-Pergunta: Um documento endereçado à autoridade pública é um documento 
público? 
Resposta: Não. Documento público é aquele feito por autoridade pública. 
 
9.1. Características do documento particular 
 1ª) forma escrita: não abrange as fotografias, cópias não autenticadas de 
documentos, pinturas, gravações, etc. 
 2ª) autor determinado: a escrita anônima não configura o documento. 
 3ª) deve conter manifestação de vontade ou exposição de um fato: a simples 
aposição de assinatura em papel em branco, não constitui documento. Papel assinado 
em branco: é falsidade material forjar documento que lhe fora confiado para 
preenchimento. 
 4ª) relevância jurídica: é necessário que o documento possa causar 
conseqüências no campo jurídico. 
 
10. FALSIDADE IDEOLÓGICA – ARTIGO 299 DO CÓDIGO PENAL 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 19 
A falsidade ideológica é voltada para a declaração que compõe o documento, para 
o conteúdo do que se quer falsificar. 
Por exemplo, quando alguém falsifica um documento público, ainda que seu 
conteúdo seja verdadeiro, o documento é falso. A falsificação material torna todo o 
documento falso. 
Não tem sentido discutir a falsidade ideológica quando todo o documento é falso. 
A falsidade ideológica existirá quando o documento for verdadeiro e somente o conteúdo 
for falso. 
Quem falsifica assinatura, falsifica documento – falsidade material, pouco 
importando o conteúdo. Exemplo: alguém pega um talonário de cheques não assinados 
pelo correntista e faz uso deles com outra assinatura; uma vez que cheque só existe a 
partir da sua emissão, a partir da assinatura, a falsificação tipifica falsidade material e 
não ideológica. 
Diferente se alguém pegar uma folha de cheque, assinada pelo correntista, e 
falsificar a quantia; aí é falsidade ideológica. 
10.1. Objetividade Jurídica 
A fé pública, a confiança na declaração do conteúdo do documento. 
10.2. Sujeito Ativo 
Qualquer pessoa. Se funcionário público, incide o aumento de 1/6 na pena– 
parágrafo único do artigo 299 do Código Penal. 
10.3. Sujeito Passivo 
 O sujeito passivo é o Estado. Pode existir sujeito passivo secundário, ou seja, a 
pessoa lesada pela falsidade. 
10.4. Elementos Objetivos do Tipo 
 Omitir declaração que deveria constar: conduta omissiva própria, ligada ao 
dever de agir. Deve haver uma norma que obrigue a pessoa a fazer a 
declaração. 
 Fazer inserir declaração falsa ou diversa da que deveria constar: é fazer com 
que terceiro insira. Trata-se de falsidade ideológica indireta, ou seja, o agente 
atua indiretamente e quem efetiva a falsidade é outra pessoa. 
 Inserir declaração falsa ou diversa da que deveria constar: falsidade ideológica 
direta. 
10.4.1. Diferença entre declaração falsa e diversa da que deveria constar 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 20 
Declaração falsa é aquela que não condiz com a realidade. Exemplo: custou 500 
mil e a pessoa faz constar 5 mil. 
Declaração diversa da que deveria constar não precisa ser necessariamente falsa. 
Exemplo: declaração de bens; a pessoa coloca outro documento no lugar da declaração 
de bens. A declaração não é falsa (o documento é verdadeiro), mas é diferente da que 
deveria constar. 
A falsidade ideológica deve ser idônea, capaz de enganar e de causar prejuízo 
relevante juridicamente. 
10.5. Requisitos para a configuração da Falsidade Ideológica segundo a 
jurisprudência 
Os requisitos para a configuração da falsidade ideológica segundo a 
jurisprudência são os seguintes: 
 Que a declaração tenha valor por si mesma. Se a declaração tiver de ser 
investigada pela autoridade pública, não há crime. Exemplo: declaração de 
pobreza feita perante o delegado – se for falsa, não tipificará o delito, porque 
deve ser investigada. 
 Que a declaração faça parte do objeto do documento. Exemplo: contrato de 
compra e venda – a declaração que pode ser considerada crime é a referente 
ao objeto do contrato. As declarações que não façam parte do objeto do 
contrato não são relevante, como, por exemplo, o endereço falso da 
testemunha que assinou o acordo é irrelevante. 
10.6. Casuísticas 
Alguém, que pega a assinatura de um amigo em uma folha em branco e preenche 
como confissão de dívida, pratica o crime de falsidade ideológica. 
 Se uma pessoa pegar uma folha e falsificar a assinatura de outra, pratica o crime 
de falsidade material. 
 Uma pessoa assina um cheque e entrega para outra preencher; se essa 
preencher o cheque com um valor superior, pratica o crime de falsidade ideológica. 
 Se a pessoa pegar um talão de outra, preencher o cheque e falsificar a assinatura, 
é caso de crime de falsidade material. 
 Se alguém obtém ilicitamente o documento – arromba o cofre –, a jurisprudência 
equipara a obtenção ilícita à falsidade material. 
 Não é qualquer folha em branco assinada que configura documento: somente é 
considerada documento quando tem destinação. 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 21 
 Se, em um boletim de ocorrência, o escrivão inseriu fatos que não foram narrados, 
o crime é de falsidade ideológica. A falsificação é do conteúdo, pois o escrivão não 
alterou o documento, apenas inseriu declaração falsa. 
10.7. Elemento Subjetivo do Tipo 
 Além do dolo, exige-se o fim de prejudicar direito ou criar obrigação ou, ainda, 
alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. 
10.8. Consumação e Tentativa 
 Na modalidade omissiva, a consumação ocorrerá quando a pessoa se omitir, não 
cumprindo sua obrigação. Não cabe tentativa. 
 Na conduta inserir, o crime estará consumado quando o agente colocar, inserir a 
declaração falsa. É possível a tentativa. 
 A conduta, de fazer inserir, consuma-se quando o terceiro inserir. A tentativa é 
admissível. 
 O agente não precisa conseguir seu objetivo. O crime estará consumado com a 
conduta descrita no tipo. 
10.9. Formas Qualificadas – Artigo 299, parágrafo único 
Trata-se de causa de aumento de pena de 1/6, se: 
 A falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil. 
 Registrar filho alheio como próprio (“adoção à brasileira”) não configura o crime 
em pauta, e sim o do art. 242 do Código Penal – crime especial. 
 Registro de nascimento inexistente não é falsidade ideológica e enquadra-se no 
delito previsto no art. 241 do Código Penal. 
 O crime for praticado por funcionário público, prevalecendo-se do cargo. 
 
11. FALSO RECONHECIMENTO DE FIRMA OU LETRA – Artigo 300 do C.P. 
11.1. Objetividade jurídica e sujeitos do delito 
 O objeto jurídico é a fé pública. 
 Sujeito ativo do delito só pode ser funcionário público. Mas não qualquer 
funcionário e sim somente aquele que tem a função específica de reconhecimento de 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 22 
firma ou letra (tabelião de notas, escreventes de tabelionato, oficial de registro público, 
cônsules, etc). É crime próprio 
 Sujeito passivo éo Estado; secundariamente, quem sofre a lesão material. 
11.2. Condutas típicas e tipo subjetivo 
 A conduta típica consiste em reconhecer, como verdadeira, assinatura ou letra 
falsa. 
 Tipo subjetivo é o dolo, caracterizado pela vontade de praticar a conduta típica. 
11.3. Consumação e tentativa 
 Consuma-se o crime com a prática da ação, o ato de reconhecimento, 
independentemente de qualquer resultado. 
 É possível a tentativa. 
 
12. CERTIDÃO OU ATESTADO IDEOLOGICAMENTE FALSO – Artigo 301 do C.P. 
12.1. Objetividade jurídica e sujeitos do delito 
 O objeto jurídico é a fé pública. 
 Sujeito ativo do delito só pode ser funcionário público (crime próprio), no exercício 
do ofício. Não pode ser cometido por particular (se este emitir declaração falsa 
responderá pelo art. 299) 
 Sujeito passivo é o Estado; secundariamente, quem sofre a lesão material. 
12.2. Condutas típicas e tipo subjetivo 
 A conduta típica consiste em atestar (afirmar ou provar algo) e certificar 
(convencer da verdade ou da certeza de algo). Como a lei se refere a “fato ou 
circunstância”, é desnecessário que a falsidade seja integral. 
 A parte final da disposição apresenta um caso de interpretação analógica. Há uma 
fórmula casuística seguida de uma fórmula genérica (“ou qualquer outra vantagem”). 
  Atestado e certidão 
 A diferença entre ambos reside em que a certidão tem por fundamento um 
documento guardado em repartição pública (ou nela em tramitação), enquanto o 
atestado constitui um testemunho ou depoimento escrito do funcionário público sobre um 
fato ou circunstância. 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 23 
 Tipo subjetivo é o dolo, caracterizado pela vontade de praticar a conduta típica. 
12.3. Consumação e tentativa 
 Trata-se de crime formal, isto é, sua consumação independe da obtenção de 
vantagem. 
 Há divergência na doutrina quanto ao exato momento da consumação: 
 a) Para Noronha, Mirabete, Hungria, Cézar Roberto Bitencourt e Delmanto, o 
crime se consuma com a efetiva formação do atestado ou certidão, sendo desnecessário 
sua entrega ao destinatário. 
 b) Para Damásio e Capez o crime se consuma no momento em que o atestado ou 
certidão falsa é entregue a terceiro. Para estes, se o funcionário apenas produz o 
documento e não o entrega a terceiro, o atestado não ingressa no mundo jurídico, motivo 
pelo qual é necessária a entrega. 
 É possível a tentativa. 
12.4. Falsidade Material de atestado ou certidão (§1º) 
 O sujeito ativo, neste caso, ao contrário do tipo descrito no caput, pode ser 
qualquer pessoa, inclusive, o próprio funcionário público expedidor do documento. 
 O objeto material é a certidão ou certificado emitido por funcionário público. 
 O elemento subjetivo é o dolo, com fim específico: “prova de fato ou circunstância 
que habilite alguém a obter “ as vantagens de natureza pública descritas. 
 Na hipótese em que o particular falsifica o atestado ou certidão, utilizando-a 
posteriormente, responderá apenas pelo delito previsto no art. 301, §1º, uma vez que, 
sendo ele o próprio falsário, o uso posterior constitui fato posterior não punível. 
 A ação penal é pública incondicionada. 
 
13. FALSIDADE DE ATESTADO MÉDICO – Artigo 302 do C.P. 
13.1. Objetividade jurídica e sujeitos do delito 
 O objeto jurídico é a fé pública. 
 Sujeito ativo do delito: crime próprio, só pode ter o médico como executor da 
conduta. Não fica impedido a participação de terceiro não qualificado. Tratando-se de 
médico funcionário público, aplica-se o crime do artigo 301 do C.P. 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 24 
  Veterinário não pode ser sujeito ativo, assim como o dentista. 
 Sujeito passivo é o Estado; secundariamente, quem sofre o dano. 
13.2. Condutas típicas e tipo subjetivo 
 A conduta típica consiste em fornecer (dar) atestado falso. 
 Tipo subjetivo é o dolo, caracterizado pela vontade de praticar a conduta típica. 
13.3. Consumação e tentativa 
 Consuma-se o crime no instante em que o médico entrega o atestado falso ao 
interessado. 
 É possível a tentativa. 
13.4. Tipo qualificado (parágrafo único) 
 Para a existência da qualificadora não se exige que o médico receba a vantagem 
indevida. Basta a intenção de obter lucro com o fornecimento do atestado falso. 
 A ação penal é pública incondicionada. 
 
14. USO DE DOCUMENTO FALSO – ARTIGO 304 DO CÓDIGO PENAL 
 É crime remetido; significa que tem como elemento do tipo a menção expressa a 
outro tipo penal. 
14.1. Objetividade Jurídica 
A fé pública. 
14.2. Sujeito Ativo e Passivo 
Sujeito ativo é qualquer pessoa, menos o autor da falsificação. Sujeito passivo é o 
Estado. 
14.3. Elementos Objetivos do Tipo 
A conduta é fazer uso. Consiste em utilizar documento falso como se fosse 
verdadeiro. Exemplo: nota fiscal falsificada, utilizada para provar compra e venda. 
O uso deve ser efetivo, não bastando mencionar que possui o documento. 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 25 
Uso por solicitação de autoridade – é o exemplo do guarda que pede o documento 
ao motorista e esse mostra a carteira falsa. A posição majoritária mudou o entendimento 
– não considerava crime o uso por solicitação porque exigia espontaneidade. Prevalece, 
atualmente, no Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal que há crime, porque 
a exigência da espontaneidade não persiste, bastando a conduta voluntária e dolosa da 
prática do crime. 
 A Carteira Nacional de Habilitação (CNH) é um documento que possui finalidade 
específica – a autorização para dirigir veículo. Seu porte é obrigatório apenas para 
condução de automotores. Com essa premissa, desdobram-se as seguintes hipóteses: 
 o motorista, na direção de um veículo, que porta CNH falsa incide no crime de 
uso de documento falso (o porte, no caso, configura o uso); 
 se, em uma festa, o policial, no momento de uma revista, pega uma CNH 
falsa, não há o delito de uso de documento falso, porque a habilitação não se 
presta para identificar pessoas; o fato, porém, pode não ser atípico e, se 
preenchidos os requisitos, é possível enquadrá-lo nos arts. 297 ou 299 do 
Código Penal (falsificação de documento público ou falsidade ideológica, 
respectivamente); 
 se a autoridade tomasse o RG (falso), ao invés da CNH, o fato também seria 
atípico ou se enquadraria nos dispositivos dos arts. 297 ou 299 do Código 
Penal, isso porque o porte do RG não é obrigatório; 
 se o policial exige a identificação e o agente mostra o RG falso, aí sim, 
caracteriza-se o crime de uso de documento falso. 
 
Com relação à discussão se o uso do documento falso no momento da prisão em 
flagrante poderia caracterizar direito à defesa, o STJ decidiu da seguinte maneira, 
conforme Informativo 487/2011: 
 
14.4. Elemento Subjetivo do Tipo 
USO. DOCUMENTO FALSO. AUTODEFESA. IMPOSSIBILIDADE. A Turma, após 
recente modificação de seu entendimento, reiterou que a apresentação de 
documento de identidade falso no momento da prisão em flagrante caracteriza a 
conduta descrita no art. 304 do CP (uso de documento falso) e não constitui um 
mero exercício do direito de autodefesa. Precedentes citados STF: HC 103.314-MS, 
DJe 8/6/2011; HC 92.763-MS, DJe 25/4/2008; do STJ: HC 205.666-SP, DJe 8/9/2011. 
REsp 1.091.510-RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 8/11/2011 
 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 26 
É o dolo (direto ou eventual, em caso de dúvida). É necessário que o agente tenha 
ciência da falsidade do documento, do contrário o fato é atípico por ausência de dolo. A 
dúvida quanto à falsidade (dolo eventual) não exclui o crime. 
Se houver erro, exclui-se o dolo. 
14.5. Consumação e Tentativa 
O crime está consumado com o uso efetivo paraa finalidade do documento. Não é 
necessária a obtenção de qualquer vantagem econômica. 
A tentativa não é admitida, pois o crime é unissubsistente (ato único). Se o uso é o 
emprego ou tentativa de emprego o começo de uso já é uso. 
 
14.6. Concurso de Crimes 
 Falsificação e uso de documento falsificado 
 Há três posições: 
 1º) Responde por um só delito: o de falsidade, em qualquer de suas formas típicas 
(é a posição majoritária); 
 2º) Responde só pelo uso; 
 3º) Há concurso material. 
14.7. Competência e ação penal 
 Havendo falsificação e uso, a competência deve ser determinada pelo lugar em 
que foi usado o documento. 
Desnecessidade de prova pericial para condenação por uso de documento falso 
 
É possível a condenação pelo crime de uso de documento falso (art. 304 do CP) com 
fundamento em documentos e testemunhos constantes do processo, acompanhados da 
confissão do acusado, sendo desnecessária a prova pericial para a comprovação da 
materialidade do crime, especialmente se a defesa não requereu, no momento oportuno, a 
realização do referido exame. O crime de uso de documento falso se consuma com a 
simples utilização de documento comprovadamente falso, dada a sua natureza de delito 
formal. STJ. 5ª Turma. HC 307.586-SE, Rel. Min. Walter de Almeida Guilherme 
(Desembargador convocado do TJ/SP), julgado em 25/11/2014 (Info 553). 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 27 
 O uso perante autoridades estaduais ou municipais, ainda que se trate de 
documento expedido pela União, é da competência da Justiça estadual por não ferir 
serviços ou interesses federais. Se houver interesse federal violado, a competência é da 
justiça federal. 
 
 A ação penal é pública incondicionada 
 
15. SUPRESSÃO DE DOCUMENTO – Artigo 305 do C.P. 
15.1. Objetividade jurídica e sujeitos do delito 
 O objeto jurídico é a fé pública. 
 Sujeito ativo do delito pode ser praticado por qualquer pessoa, inclusive, pelo 
dono do documento, quando dele não podia dispor. 
 Sujeito passivo é o Estado; secundariamente, quem sofre o dano. 
15.2. Condutas típicas e tipo subjetivo 
 A conduta típica consiste em destruir (eliminar, desfazer, desmanchar, queimar, 
rasgar, dilacerar), suprimir (fazer desaparecer sem que implique em destruição) ou 
ocultar (esconder) documento. O documento deve ser original. Não ocorre o ilícito 
quando se tratar de documentos que sejam traslados, certidões ou cópias constantes de 
livros ou repartições públicas, pois podem ser facilmente obtidos novamente. Pode haver 
delito contra cópia autêntica. 
 O documento pode ser público ou privado. 
 Na jurisprudência reconheceu-se o ilícito nas seguintes condutas: riscar o aval 
extinguindo a garantia cambiária; recusar-se o locador a devolver ao inquilino a segunda 
via do contrato de locação a ele confiada para registro; supressão de assinatura de nota 
promissória. Configura o crime tanto a conduta de riscar a assinatura do cheque como de 
rasgá-lo. 
A Súmula 546/2015 do Superior Tribunal de Justiça, quanto à competência, estabelece 
que: 
A competência para processar e julgar o crime de uso de 
documento falso é firmada em razão da entidade ou órgão ao qual foi 
apresentado o documento público, não importando a 
qualificação do órgão expedidor. 
 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 28 
 Tipo subjetivo é o dolo, caracterizado pela vontade de praticar a conduta típica, 
havendo dolo específico: “em benefício próprio ou de outrem” ou “em prejuízo alheio”. 
15.3. Consumação e tentativa 
 Consuma-se o crime com as condutas típicas (destruir, ocultar e suprimir). 
 É possível a tentativa (Ex: lançamento do documento ao fogo para destruí-lo 
quando alguém o recolhe sem que tenha havido destruição) 
 
16. FALSA IDENTIDADE – ARTIGO 307 DO CÓDIGO PENAL 
16.1. Objetividade Jurídica 
A fé pública. 
16.2. Sujeito Ativo 
Sujeito ativo é qualquer pessoa. 
16.3. Sujeito Passivo 
Sujeito passivo é a coletividade (o Estado – trata-se de crime vago). Pode haver 
vítima secundária, pessoa lesada pelo fato. 
16.4. Elementos Objetivos do Tipo 
A conduta é atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade. 
 Atribuir-se: a pessoa se faz passar por outra. 
 Atribuir a terceiro: fazer pessoa se passar por outra, que efetivamente existe 
ou é fruto de criação. 
 
- Pergunta: O que é identidade? 
Resposta: Majoritariamente, seu conteúdo é visto em sentido amplo. São as 
características que individualizam uma pessoa (nome, filiação, nacionalidade, estado 
civil, idade, status social, profissão etc.). 
Se a pessoa muda uma dessas características está mudando de identidade. 
A falsidade tem de ser idônea, apta a enganar. 
Deve haver relevância jurídica na imputação falsa, capacidade de causar dano. 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 29 
Existe uma posição minoritária que entende o conceito de identidade em um 
sentido estrito (personalidade). Exemplo: quando a pessoa se faz passar por outra, real 
ou imaginária. 
Atribuir-se ou atribuir a alguém é conduta comissiva. 
 
- Pergunta: O silêncio pode configurar falsa identidade? 
Resposta: Não, exige-se manifestação do agente. O mero silêncio não configura 
o crime. Não é preciso falar que é outra pessoa, basta agir como tal. Exemplo: 
assinatura. 
O nome artístico não configura falsa identidade, porque se incorpora à própria 
pessoa. 
O “nome de guerra” usado pelo travesti, pode configurar crime, se encontrada 
relevância jurídica. 
 
 O indivíduo que, ao se apresentar à autoridade pública, atribui a si falsa 
identidade, com o fim de ocultar o passado criminoso, comete o delito do artigo 
307 do Código Penal? 
 A questão não é pacífica na jurisprudência e nos tribunais, havendo posição nos 
dois sentidos: 
 a) Não pratica o crime: o fato é atípico pois a vantagem querida pelo agente no 
caso é somente a vantagem processual (o tipo exige vantagem material ou moral). Além 
disso, o agente, ao mentir, age no exercício da autodefesa, logo, não pode ser punido. 
 b) O agente pratica crime: o fato é típico uma vez que o tipo penal se refere a 
qualquer vantagem, podendo ser econômica, moral, ou qualquer outra, inclusive a 
processual. Além disso, a autodefesa não abrange o direito de falsear a verdade quanto 
à identidade pessoal. Só se admite a autodefesa durante o seu interrogatório de mérito. 
 Entretanto, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) editou a súmula 522, nos 
seguintes termos: 
 
16.5. Elemento Subjetivo do Tipo 
Súmula 522-STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é 
típica, ainda que em situação de alegada autodefesa. 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 30 
Além do dolo, a lei exige um elemento subjetivo – obter vantagem em proveito 
próprio ou alheio, ou então causar dano a outrem. 
A vantagem pode ser patrimonial ou moral. 
É importante que essa seja indevida, ilícita. Se for devida, configura exercício 
arbitrário das próprias razões (art. 345 do CP). 
16.6. Consumação e Tentativa 
O crime consuma-se com a conduta de atribuir-se ou atribuir a terceiro a falsa 
identidade. O delito é formal, pois não se exige resultado. 
A tentativa será possível se a conduta for plurissubsistente ( exemplos: disfarce, 
encenação). Se unissubsistente, não há tentativa. 
A falsa identidade é crime subsidiário. A subsidiariedade é expressa pelo tipo “... 
se o fato não constituir crime mais grave”. Identificado, portanto, delito mais grave, a 
falsa identidade fica absorvida. 
16.7. Distinção e Concurso de Crimes 
Trocar fotografia da carteira de identidade para prestar concurso no lugar de outro 
tipifica o crime de falsificação de documento público. 
O uso de documentofalso prevalece sobre a falsa identidade, porque essa 
constitui elemento daquele. 
Falsa identidade e constrangimento ilegal são crimes autônomos – há concurso 
material. 
Se a pessoa se faz passar por médico, comete o crime de exercício ilegal da 
medicina (art. 282 do CP). 
Se a pessoa se faz passar por funcionário público e exerce a função pública, 
comete usurpação de função pública (art. 328 do CP). 
 
- Pergunta: Quando a pessoa apenas finge ser funcionário público, mas não 
exerce qualquer ofício, qual o crime que comete? 
Resposta: Segundo o art. 45 da Lei das Contravenções Penais, “não comete o 
crime de falsa identidade, mas a contravenção do art. 45 da LCP, aquele que, sem 
assumir a personalidade de qualquer outro indivíduo, simplesmente finge ser funcionário 
público” (TACrimSP, Ac., rel. Cunha Camargo, JUTACrim 22/282). 
 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 31 
17. USO DE DOCUMENTO DE IDENTIDADE ALHEIO - Artigo 308 do C.P. 
17.1. Objetividade jurídica e sujeitos do delito 
 O objeto jurídico é a fé pública. É um subtipo do crime de falsa identidade (Art. 
307). A norma do artigo 308 só tem aplicação quando o fato não configura delito de 
maior gravidade objetiva. 
 Sujeito ativo é qualquer pessoa. Sujeito passivo, o Estado. 
17.2. Conduta típica e formas de realização do crime 
 Consiste em o sujeito usar, como próprio, passaporte, caderneta de reservista, 
título de eleitor ou qualquer outro documento de identidade alheia, ou ceder a outrem, 
para que dele se utilize, documento dessa espécie, próprio ou alheio. 
 Portanto, temos duas formas de realização do crime: 1º) usando como se fosse 
dele qualquer dos documentos; 2º) cedendo a terceiros os documentos referidos. 
17.3. Consumação e tentativa 
 Trata-se de crime de mera conduta. Usado o documento ou entregue a terceiro, 
estará consumado o crime. 
 A tentativa é admissível na cessão. No uso, é impossível. 
 
18. FRAUDE DE LEI SOBRE ESTRANGEIROS – Artigo 309 do C.P 
18.1. Objetividade jurídica e sujeitos do delito 
 Objeto jurídico é a fé pública. 
 Trata-se de crime próprio. Assim, sujeito ativo somente pode ser o estrangeiro, 
admitindo-se a participação de brasileiro. 
 Sujeito passivo é o Estado. 
18.2. Conduta típica e elemento subjetivo do tipo 
 A conduta típica consiste em o sujeito usar nome que não é o seu. Pretende o 
sujeito entrar no território nacional, abrangendo o mar territorial, o espaço aéreo, os 
navios públicos onde se encontrem, as embarcações privadas em alto mar, etc. 
 A atribuição a estrangeiro, realizado por terceiro, de outros dados da 
personalidade, constitui o delito do parágrafo único. 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 32 
 Elemento subjetivo do tipo é o dolo, vontade de usar o estrangeiro nome que não 
é o seu. 
18.3. Consumação e tentativa 
 Consuma-se o crime com o efetivo uso do nome imaginário ou de terceiro. 
 Não é admissível a tentativa, tendo em vista que o primeiro ato de uso de nome 
falso já consuma o delito. 
18.4. Atribuir a estrangeiro falsa qualidade (Parágrafo único do art. 309) 
 Esse parágrafo foi acrescentado pela Lei nº 9.426/96. O crime tipificado nesse 
artigo era o crime previsto no artigo 310. 
 Sujeito ativo é qualquer pessoa e sujeito passivo, o Estado. 
 Consuma-se o crime com a falsa atribuição, não sendo necessária a entrada do 
estrangeiro no país. Trata-se de crime formal. 
 
19. ADULTERAÇÃO DE SINAL IDENTIFICADOR DE VEÍCULO AUTOMOTOR – Artigo 
311 do Código Penal 
19.1. Objeto jurídico, sujeitos do delito e tipo objetivo 
 A objetividade jurídica é novamente a fé pública que recai sobre o número do 
chassi ou qualquer sinal identificador do veículo. 
 Sujeito ativo é qualquer pessoa. Sujeito passivo é o Estado, já que o crime atinge 
a fé pública. Ofendido secundário é o particular quando o veículo foi objeto de crime 
anterior (furto, roubo, estelionato, etc.). 
 A conduta típica é a de adulterar (mudar, alterar, modificar, contrafazer, falsificar, 
deformar, deturpar) ou remarcar (marcar de novo) o número ou o sinal identificador de 
veículo, de seu componente ou equipamento, pouco importando o processo utilizado. 
 A adulteração deve ter caráter permanente, motivo pelo qual não se tem 
reconhecido a infração pelo uso de fitas isolantes em placa de automóvel para modificar 
a numeração. 
 Objeto material é o veículo automotor, ou seja, o que se move mecanicamente. 
19.2. Tipo subjetivo, consumação e tentativa 
 O dolo é a vontade dirigida à prática de uma das condutas, de alterar ou remarcar. 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 33 
 O crime consuma-se com a adulteração ou remarcação do número do chassi ou 
de sinal indicativo de componente ou equipamento do veículo automotor. 
 A tentativa é possível quando o agente é surpreendido antes de terminar a 
adulteração ou remarcação. 
 
19.3. Causa de aumento de pena 
 É previsto aumento de pena se o agente comete o crime no exercício de função 
pública ou em razão dela. 
19.4. Contribuição para o licenciamento ou registro 
 O §2º do artigo 311 prevê um crime próprio, que exige do sujeito ativo a qualidade 
de funcionário público, nada impedindo a participação de terceiros. 
 A conduta típica é fornecer (dar, proporcionar indevidamente) material (placas, 
licenças, carimbos, selos, adesivos, etc.) ou informação oficial (certidões, atestados, 
declarações, etc.) próprios do Poder Público. 
 Exige-se ainda que o agente tenha conhecimento que a finalidade é o 
licencimento ou registro de veículo remarcado ou adulterado na forma do art. 311, caput. 
 
TÍTULO XI 
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
1. Espécies 
 Os crimes contra a Administração Pública no Código Penal, estão divididos da 
seguinte forma: 
 crimes praticados por funcionário público contra a Administração 
Pública; 
 crimes praticados por particular (divide-se em crimes contra a 
administração pública nacional e estrangeira) contra a Administração Pública; 
Segundo a jurisprudência atual do STJ e do STF, a conduta de colocar uma fita adesiva 
ou isolante para alterar o número ou as letras da placa do carro e, assim, evitar multas, 
pedágio, rodízio etc, configura o delito do art. 311 do CP. STF. 2ª Turma. RHC 
116371/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 13/8/2013. 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 34 
 crimes praticados contra a administração da justiça; 
 crimes contra as finanças públicas. 
 
A lei penal, neste título, prevê e persegue fatos que impedem ou perturbam o 
desenvolvimento regular da atividade do Estado e de outros entes públicos. Prevê 
condutas criminosas praticadas por funcionário público (intranei) ou por particular 
(extranei) que afetam o regular funcionamento da Administração Pública. 
1.1. Crimes Praticados por Funcionário Público 
 Há crimes neste Título XI que somente podem ser praticados por funcionário 
público (ex: peculato, concussão, etc), outros somente por particular (ex: resistência, 
corrupção ativa, etc.). 
Os crimes praticados por funcionário público são chamados pela doutrina de 
crimes funcionais. São crimes que estão relacionados com a função pública. Na 
classificação geral dos delitos, tais crimes estão inseridos na categoria dos crimes 
próprios, pois a lei exige uma característica específica no sujeito ativo: ser funcionário 
público. 
 Os crimes funcionais podem ser próprios e impróprios. Essa subdivisão entre os 
crimes funcionais não se confunde com a classificação do parágrafo anterior. 
 Crimes funcionais próprios: são aqueles cuja função pública é elemento essencial 
do crime. Aqueles cuja exclusão da qualidade de funcionário público torna o fato atípico 
(atipicidade absoluta). Ex.: prevaricação (art. 319);condescendência criminosa (art. 320). 
 Crimes funcionais impróprios são aqueles em que, excluindo-se a qualidade de 
funcionário público, haverá desclassificação para crime de outra natureza. Ex.: peculato, 
que passa a ser apropriação indébita ou furto; concussão que poderá configurar a 
extorsão. A doutrina chama essa modificação de “atipicidade relativa”. 
 
1.1.1. Conceito de funcionário público 
De acordo com o art. 327 do Código Penal: “Considera-se funcionário público, 
para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce 
cargo, emprego ou função pública”. 
O conceito abrange todas as espécies de agentes públicos: 
a) agentes políticos: aqueles com ampla discricionariedade e parcela do poder 
soberano do Estado: Parlamentares, magistrados, membros do Ministério Público; 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 35 
b) agentes administrativos: são os que desempenham funções relevantes. São os 
chamados servidores públicos em sentido amplo. 
c) agentes delegados: são aqueles que recebem, por delegação do Poder Público, 
a função de realizar obras e serviços públicos (agentes de concessionárias ou 
permissionárias de serviços públicos, bem como os titulares de cartórios extrajudiciais). 
Voltando ao conceito do art. 327, temos que: 
 Cargo é o lugar instituído na organização do funcionalismo com denominação 
própria. O vínculo aqui é estatutário, regido pelo Estatuto dos Funcionários Públicos. 
Emprego público é aquele que se refere à admissão de servidores para serviços 
temporários, contratados em regime especial ou pelo disposto na CLT. O vínculo aqui é 
contratual, sob a regência da CLT. 
Função pública é a atribuição que a administração confere a cada categoria 
profissional para execução de serviços eventuais. É atividade correspondente ao cargo 
ou emprego, mas que pode ser exercitada sem um ou outro. 
São funcionários públicos: o Presidente da República, o prefeito municipal, os 
membros das casas legislativas, inclusive o vereador, o militar, serventuário da justiça, o 
perito judicial, o advogado encarregado da cobrança da dívida ativa municipal, o 
contador da prefeitura, o guarda municipal, o estudante de direito atuando como 
estagiário junto à Defensoria Pública, o jurado, o depositário nomeado pelo juiz. 
O parágrafo primeiro dispõe quem são os funcionários públicos, por 
equiparação. São eles: quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal 
e quem trabalha para empresa, prestadora de serviço, contratada ou conveniada para a 
execução de atividade típica da Administração Pública. 
 A administração indireta é composta por autarquia, empresa pública, sociedade de 
economia mista e fundação pública. 
 Entidade paraestatal é a entidade que se posta paralelamente ao Estado, com a 
finalidade de prestar serviços de relevância pública (integram o chamado terceiro setor – 
SESC, SENAI, SESI). 
 O dispositivo ainda estabelece que são funcionários por equiparação os que 
“trabalham para empresa prestadora de serviço, contratada ou conveniada para a 
execução de atividade típica da Administração Pública”. A lei se refere àqueles que 
trabalham em empresa prestadora de serviço contratada para atividade típica da 
Administração Pública (por exemplo: serviço de iluminação pública, hospitalar, 
segurança, coleta de lixo). Cuida-se aqui de empresas privadas que executam serviços 
de natureza pública por delegação estatal. Assim, por exemplo, o engenheiro contratado 
de empresa privada, concessionária de serviço público, que desvia dinheiro destinado à 
obras públicas, comete peculato. 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 36 
 Esclarecedora a lição de Damásio de Jesus: “A norma faz referência a contratos e 
convênios administrativos firmados ou celebrados com o fim de execução de atividades 
da Administração Pública e não com a finalidade de exercício de atividades para a 
Administração. Exemplo: Um pedreiro de empresa contratada para a reforma de um 
edifício público não é equiparado a funcionário público. 
 Ainda podemos esclarecer que: 
Síndico da massa falida, inventariante, curador e tutor, não são funcionários 
públicos (exercem um múnus público e não função pública). 
 Funcionário de cartório é funcionário público. 
 Funcionário do Banco do Brasil é funcionário público, pois o Banco do Brasil é 
uma sociedade de economia mista. 
 Funcionário dos Correios é funcionário público, pois os Correios é uma empresa 
pública. 
 Se o interesse em questão for o da União, a competência será da Justiça Federal. 
 O conceito de equiparação, para a doutrina majoritária, só abrange os casos em 
que o funcionário for autor do crime. A comparação não pode ser aplicada quando o 
funcionário for vítima. Portanto, não comete o delito de desacato o indivíduo que ofende 
a honra de empregado de uma empresa privada, concessionária de serviço público ou de 
integrante de empresa pública. 
 
1.1.2. Funcionário público estrangeiro 
O advogado que, por força de convênio celebrado com o Poder Público, atua de forma remunerada 
em defesa dos hipossuficientes agraciados com o benefício da assistência judiciária gratuita, 
enquadra-se no conceito de funcionário público para fins penais. Sendo equiparado a funcionário 
público, é possível que responda por corrupção passiva (art. 312 do CP). STJ. 5ª Turma. HC 
264.459-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 10/3/2016 (Info 579). 
 
Portanto, advogado que atua como advogado dativo, por força de convênio com o Poder Público, é 
funcionário público para fins penais. 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: Maria procurou a OAB/SP para ajuizar ação de 
indenização por danos morais contra determinado médico que, por negligência, causou a morte de 
seu filho. Foi, então, designado o Dr. João para atender Maria. Conforme já explicado, o Dr. João iria 
ser remunerado pelo Governo do Estado. Apesar disso, solicitou R$ 2 mil diretamente de Maria para 
ajuizar a demanda alegando que seriam seus honorários. A cobrança indevida foi descoberta e o 
advogado foi denunciado pela prática do crime de corrupção passiva (art. 312 do CP). Em sua 
defesa, alegou que não poderia ter cometido corrupção passiva, considerando que não se 
enquadrava no conceito de funcionário público. 
A tese do advogado foi aceita pelo STJ? NÃO 
 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 37 
A Lei n. 10.467, de 11 de junho de 2002, introduziu no Código Penal, além dos 
artigos 337-B e 337-C, o artigo 337-D que cuida do conceito penal de funcionário público 
estrangeiro. 
“Art. 337-D. Considera-se funcionário público estrangeiro, para os efeitos penais, 
quem, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou 
função pública em entidades estatais ou em representações diplomáticas de país 
estrangeiro.” 
O parágrafo único amplia o conceito estabelecido no caput, nos seguintes termos: 
“Equipara-se a funcionário público estrangeiro quem exerce cargo, emprego ou função 
em empresas controladas, diretamente ou indiretamente, pelo Poder Público de país 
estrangeiro ou em organizações públicas internacionais.” 
O legislador, ao definir funcionário público estrangeiro equiparado, adotou solução 
diversa à adotada para a definição de funcionário público nacional. Com efeito, a lei nova 
é menos abrangente, pois não incluiu, como o fez a regra do artigo 327, § 1º, in fine, os 
particulares que trabalham em empresas contratadas ou conveniadas ao Poder Público 
que exercem atividades da Administração Pública. Assim, o conceito de funcionário 
público estrangeiro por equiparação não alcança profissionais ou empregados de 
empresas privadas estrangeiras, ainda que atuem em representação, por contrato ou 
convênio, de Estado estrangeiro. 
1.2. Causas de Aumento de Pena – Artigo 327,§ 2.º, do Código Penal 
Segundo o artigo 327, § 2.º, do Código Penal as causas de aumento da pena 
decorrem quando o autor do crime exerce: 
 cargo em comissão (cargo de confiança); 
 cargo de direção ou assessoramento de órgãos da administração direta, 
sociedade de economia mista, empresa pública e fundação instituída pelo 
Poder Público. 
 
 
 
 
1.3. Concurso de Agentes 
 Um particular pode responder por peculato em concurso de agentes com um 
funcionário público. 
A causa de aumento prevista no § 2º do art. 327 do Código Penal é aplicada aos 
agentes detentores de mandato eletivo (agentes políticos). 
STF. 2ª Turma. RHC 110513/RJ, rel. Min. Joaquim Barbosa, 29/5/2012. 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 38 
 O particular deve ter consciência e vontade (dolo) em relação ao agente do tipo, 
ou seja, deve saber que esse possui a condição de funcionário público. Caso contrário, 
transforma-se em responsabilidade objetiva, o que é proibido. 
 Fundamento: segundo o art. 30 do Código Penal são comunicáveis as 
circunstâncias de caráter pessoal quando elementares do crime. Ser funcionário público 
é circunstância pessoal e elementar do crime. 
 Se o particular não souber que o outro é funcionário público, responderá por outro 
crime. Exemplo: furto. 
 
DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO CONTRA A 
ADMINISTRAÇÃO EM GERAL 
 
2. PECULATO – ARTIGO 312 DO CÓDIGO PENAL 
2.1. Peculato Doloso 
 O peculato doloso, previsto no Código Penal, pode ser dividido, doutrinariamente 
da seguinte maneira: 
 Peculato-apropriação (ou peculato próprio): art. 312, caput, primeira parte 
– “Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem 
móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo”. 
 Peculato-desvio (ou peculato próprio): art. 312, caput, segunda parte – “ou 
desviá-lo, em proveito próprio ou alheio”. 
 Peculato-furto (ou peculato impróprio): art. 312, § 1.º. 
 Peculato mediante erro de outrem: art. 313. 
2.2. Peculato Culposo 
O peculato culposo está descrito no art. 312, § 2.º, do Código Penal. 
 
2.3. Considerações Gerais Sobre Todos os Tipos de Peculato 
2.3.1. Objetividade jurídica 
 Visa-se proteger a probidade administrativa, a moralidade da Administração 
Pública (o patrimônio público). 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 39 
2.3.2. Sujeito ativo 
 Sujeito ativo é o funcionário público. Trata-se de crime próprio. Mesmo que o 
funcionário ainda não tenha prestado o compromisso ou se ainda não tomou posse, é 
considerado funcionário público, pois já foi nomeado legalmente. Se o funcionário público 
foi nomeado ilegalmente também é considerado funcionário público, até que se anule 
sua nomeação, podendo assim, praticar o crime de peculato. 
 É possível o concurso de pessoas face o artigo 30 do Código Penal. 
2.3.3. Sujeito passivo 
 Sujeito passivo é o Estado, visto como Administração Pública. Pode existir um 
sujeito passivo secundário (particular). 
2.4. Peculato-apropriação 
- apropriar-se; 
- funcionário público; 
- dinheiro, valor, bem móvel, público ou privado; 
- posse em razão do cargo; 
- proveito próprio ou alheio. 
2.4.1. Elementos objetivos do tipo 
 O núcleo é apropriar-se, ou seja, fazer sua a coisa alheia. A pessoa tem a posse e 
passa a agir com se fosse dona. O agente muda a sua intenção em relação à coisa. 
 O fundamento é a posse lícita anterior. O que diferencia o crime de peculato do 
crime contra o patrimônio é o fato de que o agente tem a posse em razão do cargo. Pode 
suceder que o agente, funcionário público, não tenha a posse do bem em razão do ofício. 
Por exemplo, Antônio entrega a João, seu amigo e funcionário do DETRAN, uma quantia 
em dinheiro para que este último pague uma multa naquele órgão. João, no entanto, 
apropria-se do dinheiro. Nesse caso, João não teve a posse do bem em razão do cargo, 
devendo responder por apropriação indébita. O bem não estava sob a guarda ou 
custódia da Administração (Fernando Capez). 
 No caso de posse em razão do cargo: na verdade, a posse está com a 
Administração. O bem tem de estar sob custódia da Administração. Exemplo: um 
automóvel, apreendido na rua, vai para o pátio da Delegacia. Um policial subtrai o toca-
fitas. Ele praticou peculato-furto, pois não tinha a posse do bem. 
 Se o funcionário fosse o responsável pelo bem, seria caso de peculato-
apropriação. Se o carro estivesse na rua, seria furto. 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 40 
 Exemplo: em uma repartição pública, um funcionário furta a carteira de outro – é 
crime de furto. Se um funcionário de uma repartição entra em outra repartição e dali 
subtrai um bem, é crime de peculato- furto. 
 No peculato-apropriação e no peculato mediante erro de outrem há apropriação, 
ou seja, a posse é anterior; a diferença está no erro de outrem. 
2.4.2. Objeto material 
 Dinheiro, valor ou bem móvel. Tudo que for imóvel não é admitido no peculato. O 
crime que admite imóvel é o estelionato. 
 Bem móvel, no Direito Penal, possui um conceito mais amplo do que no Direito 
Civil, pois é tudo aquilo que se pode transportar. 
 Valor é qualquer coisa que tenha valor econômico (letras de câmbio, notas 
promissórias). 
 - Pergunta: Um funcionário público usar outros funcionários subordinados para 
prestação de serviço particular configura peculato? 
 Resposta: Não. Funcionário não é valor, dinheiro, nem bem móvel. Está fora do 
objeto material. Pode ser improbidade administrativa (enriquecimento ilícito). 
 
 - Pergunta: E se o agente for um prefeito? 
 Resposta: Saímos então do Código Penal e vamos para o Dec. n. 201/67 (art. 1.º, 
inc. II) que tipifica a conduta de prefeito que usa funcionário público. 
 
2.4.3. Consumação 
 A consumação do peculato-apropriação se dá no momento em que ocorreu a 
apropriação: quando o agente inverteu o animus, quando passou a agir como se fosse 
dono. É crime material, pois causa dano ao Estado que terá que ressarcir o particular dos 
prejuízos provocados. 
2.4.4. Tentativa 
 Teoricamente é possível, mas na prática é difícil comprovar. O funcionário pode 
ser surpreendido, saindo da repartição portando o dinheiro que devia ter ficado no cofre, 
provados os outros requisitos do crime. 
 
 
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ART. 286 A 359 
 
 41 
2.5. Peculato-malversação (o objeto apropriado é particular) 
 O peculato-malversação ocorre quando o bem particular estiver sob custódia da 
Administração Pública. 
2.5.1. Objeto material 
 Bem particular sob posse da Administração Pública. 
 Malversação significa má utilização. 
 -Pergunta: Alguém tem de fazer um depósito judicial e é atendido por um 
funcionário que lhe diz para deixar o dinheiro que ele próprio, funcionário, fará o 
depósito. O funcionário se apropria do bem. Que crime ele praticou? 
 Resposta: Não é peculato, porque o dinheiro ainda não estava na posse da 
administração. Ele praticou estelionato. 
 
 -Pergunta: Se a vítima entrega o dinheiro para o funcionário porque o banco já 
fechou e o funcionário apropria-se da importância, qual o crime praticado? 
 Resposta: Não é caso de peculato, nem de estelionato, pois não houve posse 
pela Administração Pública; é, sim, caso de apropriação indébita. 
 
 - Pergunta: Um funcionário da Prefeitura estava sem receber salário há três 
meses. Ele apropria-se de dinheiro da Prefeitura. Que crime praticou? 
 Resposta: Peculato-apropriação, pois o bem é público e estava na posse do 
funcionário. 
 
2.6. Peculato-desvio – Artigo 312, Segunda Parte, do Código Penal 
 No peculato-desvio o que muda é apenas a conduta, que passa a ser desviar. O 
agente tem a posse da coisa e lhe dá destinação

Continue navegando