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ARTIGO CBA_revisado

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Projeto Agrofloresta: uma questão socioambiental
Oliveira, Maria da Conceição do Nascimento¹ 
1 Autora da experiência, mariaseissa2009@hotmail.com
Resumo
O Projeto Agrofloresta foi executado no Assentamento Três Conquistas – um assentamento de reforma agrária, na área rural do Paranoá, Distrito Federal. As famílias de trabalhadores rurais foram assentadas em 1997 por meio das lutas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Formado por 65 propriedades de 12 hectares aproximadamente. Tendo em vista o impasse entre necessidade de compor a área de reserva legal em suas propriedades por exigência da legislação ambiental e a falta de recursos financeiros para isso, as agricultoras, moradoras e estudantes de Agroecologia reuniram a comunidade, “capital social”, e, juntas, apontaram soluções para essa situação. Tendo como ponto de partida as demandas levantadas em reuniões com os assentados, Maria da Conceição do Nascimento e Kelly Cristina Martins escreveram, o Projeto Agrofloresta, alvo deste relato. O projeto foi submetido a editais e ganhou o patrocínio da Petrobrás Socioambiental. Por meio da Associação de Trabalhadores da Reforma agrária do Assentamento Três Conquistas (ASTRAC) e da Petrobras Socioambiental, o projeto mobilizou a comunidade de Três Conquistas durante dois anos, promovendo a implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs), prestando assessoramento técnico e extensão rural às 32 famílias beneficiadas, além da realização de palestras e oficinas de educação ambiental na comunidade e nas quatro escolas públicas da área rural instaladas na circunvizinhança do assentamento.
Palavras-chave: Agrofloresta, Sistema Agroflorestal, Reserva Legal, Bioma 
Abstract
 The Agroforestry Project: a socio - environmental issue The Agroforestry Project was carried out at the settlement Três Conquistas, an agrarian reform settlement in the rural area of Paranoá, a city in the Federal District, Brazil. The rural workers’ families were settled in 1997 due to the claiming of a Brazilian movement known as rural workers with no land (MST). The settlement is formed by approximately 65 properties and 12 hectares. Considering there is a deadlock between the need of existing legal reserve areas in these properties due to a legal requirement of the environmental law and the lack of financial resources to fulfil that, women who are local farmers, residents and students gather the community, “social capital”, together and pointed out solutions for this situation. Having as starting point the demands raised by the settlers in meetings, Maria da Conceição do Nascimento and Kelly Cristina Martins wrote the Agroforestry Project, purpose of this article. This project was submitted to public notices and won a socio-environmental sponsorship from the Brazilian company Petrobras. By means of the Agrarian Reform Workers’ Association of Três Conquistas Settlement (ASTRAC) and the Socio-Environmental Petrobras, the project mobilized the community of Três Conquistas for two years, promoting the implementation of Agroforestry Systems (SAFs), providing technical advice and rural extension to the 32 benefited families. In addition to that, lectures and workshops on environmental education were given in the community and in the four public schools set up at the rural area that surrounds the before mentioned settlement.
Keywords: Agroforestry, Agroforestry System, Legal Reserve, Biome.
Contexto
A historia do Projeto Agrofloresta: uma questão socioambiental começa a ser contada com a união da vontade de duas amigas, Maria da Conceição do Nascimento e Kelly Cristina Martins, que em “rodas de conversa” com os assentados ouviram suas demandas e concluíram que somente com o sistema agroflorestal a comunidade poderia avançar na produção diversificada de alimentos e, ao mesmo tempo, ergueriam a reserva legal exigida pela legislação ambiental brasileira. Em abril de 2013, o projeto venceu uma disputa e ganhou um dos editais da Petrobras Socioambiental. Após vários ajustes exigidos pela empresa, o contrato foi assinado em setembro do mesmo ano. A inserção do Projeto Agrofloresta na comunidade ocorreu por meio da oferta de treinamento prático de como fazer um Sistema Agroflorestal (SAF), além de treinamento, com Assessoramento e Extensão Rural (Ater), disponibilização de mudas, adubos, ferramentas, sementes, correção do solo, mecanização, e tudo o mais que o agricultor precisasse para erguer sua reserva legal, consorciando-a com a produção de uma diversidade de alimentos e, assim, garantido soberania alimentar e, ao mesmo tempo, proporcionando o empoderamento de uma nova técnica de cultivo que pode assegurar autonomia produtiva ambientalmente correta e independente de insumos externos. A contrapartida pelos recursos recebidos da Petrobras Socioambiental foi a presença do Projeto Agrofloresta nas quatro escolas situadas nas proximidades do assentamento por meio de ações de educação ambiental com atendimento à população estudantil. A importância da separação e destinação correta dos resíduos sólidos, promoção de práticas de preparo de mudas e reconhecimento de sementes e espécies do bioma cerrado são alguns exemplos de ensinamento. Mensalmente, a equipe do Projeto realizou Encontros Agroflorestais com a comunidade. Eram oficinas de atividades relacionadas à educação ambiental ou agroecológica, com duração de um dia comercial, geralmente realizado entre 9h e 17h. Vários temas relevantes eram trabalhados nesses encontros, tais como: a questão de gênero; o enfrentamento da pobreza, a coleta de sementes, o aproveitamento de alimentos produzidos; a alimentação vegana, vegetariana, saudável; o cultivo e o uso de ervas medicinais; o preparo de caldas “bordalesa”; o reconhecimento, identificação e manejo integrado de pragas; as capacitações e os treinamentos em produção de café, banana, abacaxi e outros. Durante o período de execução do projeto, houve forte incentivo à formação de grupo para certificação como produtores orgânicos.
Descrição da experiência 
O relato que se segue descreve o trabalho de duas mulheres (Maria da Conceição do Nascimento e Kelly Cristina Martins) em busca de um “satisfactor” (uma ação que resolve vários problemas ao mesmo tempo) para o seguinte desafio: associar produção e sustentabilidade em um assentamento de reforma agrária no Distrito Federal. Assim começa a jornada do Projeto Agrofloresta. Dentre os vários problemas enfrentados no Três Conquistas, a adequação das propriedades à exigência da lei ambiental (que destina 20% da área total para a mata nativa) era o que impedia o início do processo de regularização fundiária. Diante dessa situação, as duas amigas mobilizaram a comunidade para buscar os meios necessários a fim de implantar as reservas legais nas chácaras, a partir do curso de Agroecologia. Durante execução de uma pesquisa relacionada à implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs), Maria da Conceição percebeu que, com esse sistema, era possível adequar todo o assentamento à lei de maneira que o agricultor não percebesse o custo de implantação da reserva legal. Eis o nascimento do projeto alvo deste relato.
Em 2013, Projeto Agrofloresta venceu o edital da Petrobras Socioambiental e, com os recursos advindos da empresa pública, começou a atuar na transferência de conhecimento de modelo de agricultura alternativa conhecido por SAF, atendendo a 32 famílias, com 72 (setenta e duas) horas-aula e prática de implantação de SAF, abrangendo também questões de gênero no campo, sobre o enfrentamento da pobreza, tecnologias sociais, resgate de saberes tradicionais, como cultivo e uso de ervas medicinais, dentre outros temas. A implantação dos SAFs individuais ocorreu seguindo o modelo de replicação das técnicas dos sistemas agroflorestais (aproveitamento da energia luminosa em todos os extratos possíveis, integrando a produção agrícola com espécies florestais) em que as aulas ministradas pelo projeto no SAF Comunitário, situado em área pertencente à ASTRAC, serviram de base à aplicaçãodo modelo para os agricultores em suas propriedades. Ainda nesse sentido, o projeto assistiu à comunidade com Ater, contemplando as famílias assistidas com insumos (cama de frango, calcário, sementes), horas/máquinas, kit irrigação. 
Os SAFs no Três Conquistas foram projetados em módulos de 1.188 m², abrigando, em cada um deles, 132 espécies do cerrado, 360 mudas de café, 75 mudas de bananeira, 360 mudas de abacaxi e diversidade de culturas da preferência do agricultor.
Resultados
Dos vários resultados obtidos, um dos mais sólidos foi a aceitação por parte da comunidade do modelo de cultivo e de implantação das reservas legais. Isso ocorreu depois de inúmeras ideias exógenas e a deposição de alimentar a esperança de que elas, as novas ideias, chegavam para mudar a condição do assentamento. Os assentados começaram a resolver por si mesmo suas dificuldades. Além do empoderamento dos participantes do Projeto, podemos listar outros resultados, tais como a formação de grupo de produção orgânica, cadastro de agricultores ao PNAE e PAA, 281,5 mil metros quadrados de SAF implantado, plantio de 32 mil mudas de espécies do cerrado, interesse de grande parte na transição agroecológica. 
 (E) Kelly Cristina Martins (D) Maria Conceição Nascimento mostrando as mudas utilizadas no projeto. Foto: Marcelo Ferreira.

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