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fundamentos historicos teoricos metodologicos do servico social aula 1

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Fundamentos Histórico Teórico Metodológicos 
do Serviço Social – dimensão positivista 
 
Aula 01 
 
 
Prof. Hélio Dias da Costa 
 
 
 
 
 
 
CONVERSA INICIAL 
Olá, seja bem-vindo(a) à Aula 1 de Fundamentos Histórico Teórico 
Metodológicos do Serviço Social – dimensão positivista. Nosso objetivo, neste 
encontro, é analisar a relação entre os processos históricos da Europa e a 
gênese do pensamento positivista. Para tanto, vamos: 
 Compreender o processo de desenvolvimento das linhas filosóficas de 
pensamento até o advento do positivismo 
 Identificar no ideário renascentista as formas de constituição da 
sociedade e construção do pensamento que dão luz ao iluminismo, base 
onde se desenvolve o positivismo 
 Identificar no ideário iluminista as formas de constituição da sociedade e 
construção do pensamento que dão luz ao positivismo 
 Reconhecer na Revolução Francesa os movimentos do pensamento ao 
qual se opuseram e consolidaram os positivistas sobre o lema da ordem 
e progresso 
 Analisar, nas biografias de Condorcet e Saint Simon, os primórdios do 
positivismo a que Augusto Comte irá dar forma e conteúdo 
Nesta primeira aula, trataremos de estudar os antecedentes históricos do 
Positivismo enquanto corrente de pensamento. Para alcançarmos nossos 
objetivos, vamos tratar de traçar uma linha histórica do desenvolvimento do 
pensamento humano, a fim de situar as diversas correntes epistemológicas ao 
longo do tempo. 
Nessa linha do tempo, duas épocas históricas são determinantes para a 
fundação da corrente positivista: o renascimento e o iluminismo. Buscaremos 
identificar no ideário destas duas correntes as formas de constituição da 
sociedade que darão gênese a formas determinadas de pensamento. 
 
 
 
 
Um dos eventos históricos que cristalizam esse momento de efervescência 
intelectual, e que inclusive marca a passagem da Idade Moderna para a Idade 
Contemporânea, é a Revolução Francesa. Nela, se situam diversas correntes 
filosóficas, inclusive algumas bastante radicais, que levam ao período que é 
conhecido como “terror revolucionário”. 
É em contraposição a este período que se precipitam as visões de mundo que 
estão imediatamente ligadas a figuras como Condorcet, Saint Simon e Augusto 
Comte, os pais do positivismo. 
 
 
CONTEXTUALIZANDO 
Assim que você terminar esse curso, estará apto a trabalhar com pessoas e 
famílias que enfrentam as mais variadas e delicadas situações de 
vulnerabilidade. Que respostas oferecerá a estas pessoas que estarão 
esperando algo de você? Quais pressupostos teóricos embasarão as respostas 
que você irá oferecer ao seu público alvo? A dimensão positivista do 
conhecimento, enquanto base do pensamento hegemônico da sociedade 
capitalista em que vivemos, permeia as construções epistemológicas do senso 
comum. Não é incomum escutarmos explicações de causa e efeito quando 
ouvimos opiniões de porquê pessoas sofrem ou vivem em situações de grande 
risco. 
O estudo da dimensão positivista do conhecimento posicionará você com 
relação a esta forma de pensar e tentar explicar a realidade. É importante que 
você conheça essa forma de pensar para que, a partir do pensamento 
hegemônico que você aprenderá ao longo do curso de Serviço Social, saiba 
atuar no sentido de promover medidas que apontem para a superação das 
formas injustas de ordenação social deste modo de produção em que vivemos. 
 
 
Tema 1 - Uma linha do tempo da história do pensamento humano 
Antes de iniciarmos os estudos sobre o positivismo em suas características mais 
específicas, é importante que saibamos de onde ele veio, de quem é herdeiro e 
na onda de qual movimentos ele veio surgir. Por isso faremos de forma breve 
uma recapitulação histórica sobre a evolução do pensamento humano, desde 
suas formas mais primitivas, até chegarmos ao pensamento positivista. Ao 
assistente social é sempre importante manter essa atitude frente aos objetos que 
lhe são apresentados: perguntar de onde vieram e qual é a história que 
determinou seu surgimento torna o processo de apropriação de conhecimento 
mais rico e seguro, à medida que nos precavemos de equívocos! 
O homem se difere dos animais por inúmeros motivos, dentre eles pela 
capacidade de trabalhar, ou seja, de atuar sobre a matéria de forma pensada, a 
fim de suprir necessidades materiais para si e para seus semelhantes. É 
justamente sobre o trabalho que se desenvolve o raciocínio, pois os problemas 
que vão se colocando à medida que a vida em comunidade vai apresentando 
novos desafios a esse homem, vão desenvolvendo novas formas de se pensar 
e garantir a reprodução da vida. 
As diversas sociedades que se formaram na antiguidade foram desenvolvendo 
a forma como a vida era produzida e organizada. Grandes impérios se 
desenvolveram na Mesopotâmia, na China e no Egito e cada um destes tinha 
uma forma peculiar de descrever a realidade. O ponto comum entre eles era a 
explicação através dos mitos dos deuses. Isso se dá até por volta de 500 a. C., 
quando na Grécia desenvolve-se a democracia e com ela a filosofia. Ali nascem 
seus principais expoentes: o idealista Platão 
(http://www.iscsp.ulisboa.pt/~cepp/indexfro1.php3?http://www.iscsp.ulisboa.pt/~
cepp/ideologias/idealismo_platonico.htm) e o materialista Aristóteles 
(http://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/aristoteles-o-mundo-da-
experiencia-as-quatro-causas-etica-e-politica.htm). 
 
 
 
Em decorrência do mundo ainda viver sob a grande influência de culturas que 
acreditavam na ordem dos deuses na determinação da vida, o pensamento de 
Platão foi o que dominou por grande período (CHAUI, 2010). 
Com a ascensão do cristianismo na antiguidade, a forma de Platão interpretar a 
vida a partir de um demiurgo (o criador divino) pareceu ser bastante adequada 
para a organização da vida no mundo ocidental. Se o mundo foi criado e é 
mantido por um criador, todos os acontecimentos, bons ou ruins, passam pelo 
crivo da soberana vontade deste ente. Os governantes são, então, 
representantes do criador na Terra e é sob essa justificativa que vemos crescer 
um dos maiores impérios da história: o império romano. 
Por conta de sua extensão e das dificuldades em se manter sob o regime 
escravista, o império entra em colapso no ano de 476 a. C. e, então, vem a Idade 
Média, grandemente dominada pela Igreja Católica Romana. Esta era histórica 
é também conhecida como Idade das Trevas, onde o pensamento estava 
confinado em mosteiros e conventos, que abrigavam os poucos que sabiam ler 
e escrever. Um dos grandes pensadores desta época é Santo Agostinho 
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Agostinho_de_Hipona), que em sua obra A Cidade 
de Deus (https://felipepimenta.com/2013/03/11/resenha-de-a-cidade-de-deus-
de-santo-agostinho/) retrata a divisão do mundo entre o dos homens e o 
espiritual. 
No entanto, Aristóteles e sua interpretação material do mundo não estavam 
esquecidas. Aliás, é também dentro da Igreja que se desenvolve uma forma de 
pensar que passa a considerar a matéria em seu desenvolvimento filosófico: a 
escolástica. Um dos grandes pensadores dessa nova linha de interpretação da 
vida é Tomás de Aquino 
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Tom%C3%A1s_de_Aquino), que em sua obra 
chamada Suma Teológica (https://felipepimenta.com/2013/03/10/resenha-da-
suma-teologica-de-sao-tomas-de-aquino/) empreende, dentre outras coisas, 
comprovar materialmente a existência de Deus (CHAUI, 2010). 
 
 
A forma de pensar dos escolásticos, e mais especificamente de Tomás de 
Aquino, está diretamente relacionada à redescoberta de Aristóteles por um grupo 
social que deseja a libertação do pensamento: os comerciantesburgueses que, 
por não possuírem títulos de nobreza ou terras, acumulam riquezas por conta de 
sua atividade e passam a investir, dentre diversas outras coisas, no 
desenvolvimento da arte. 
Aqui está a raiz do Renascimento (http://www.suapesquisa.com/renascimento/) 
que, em contraposição ao que pregava a Igreja, colocava o homem como centro 
do universo 
(https://pt.wikipedia.org/wiki/Homem_Vitruviano_(desenho_de_Leonardo_da_Vi
nci)#/media/File:Da_Vinci_Vitruve_Luc_Viatour.jpg) (DELUMEAU, 1994). 
Em meio à pressão entre essas duas novas formas de pensamento, se 
desenvolve no seio da própria Igreja um movimento de contestação aos seus 
dogmas, que é encabeçado pelo monge Martinho Lutero, o que promove uma 
cisão na Igreja Católica, fazendo surgir a Igreja Protestante. Aqui, estamos por 
volta do ano de 1500, na passagem da Idade Média para a Idade Moderna, e 
com a evolução das formas de pensamento chegamos a pelo menos dois polos 
(ABBAGNANO, 2000): 
 o pensamento racionalista idealista, que ainda está vinculado à tradição 
de Platão 
 o pensamento racionalista empirista, que está vinculado a Aristóteles 
Ao primeiro movimento se aliarão pensadores como Descartes (penso, logo 
existo!), Espinosa e Pascal. Aos materialistas teremos Francis Bacon, Galileu 
Galilei, Isaac Newton, Kepler e diversos outros. A verdade é que o materialismo 
supera o idealismo e vai se tornando a regra ao longo desta época histórica, que 
é conhecida como Idade das Luzes. 
O Materialismo supera o Idealismo 
 
 
Na França se desenvolve um debate entre pensadores que se propõe analisar a 
sociedade como um todo. Também vemos uma oposição entre idealistas 
(Hobbes, Rousseau) e materialistas (Locke, Montesquieu), mas o que importa 
desse debate é a que interesses ele serve. Estamos já entre 1600 e 1700, mais 
especificamente na época conhecida como Iluminismo, onde a razão é chamada 
a reformar o pensamento tradicional advindo da Idade Média (HOBSBAWM, 
2004). 
Filósofos como Voltaire, Diderot, D'alembert (estes dois os criadores da 
enciclopédia) e Condorcet envolvem-se em discussões que, dentre outras 
coisas, servem a corroer as estruturas do sistema monárquico de governo. Por 
diversos motivos, esse movimento resultou na Revolução Francesa, onde 
finalmente aqueles burgueses comerciantes, que em dada altura do 
desenvolvimento da história passaram a investir nas artes, alcançam o poder 
(LÖWI, 2000). 
O positivismo está estreitamente ligado à Revolução Francesa por conta das 
minúcias do desenvolvimento desta que tornaram conveniente e necessária uma 
reação por parte de setores da sociedade, como veremos no tema 4 desta aula. 
Vamos verificar agora, passo a passo, como se deu o desenvolvimento do 
positivismo, primeiro verificando as influências do Renascimento para o 
surgimento do Iluminismo na França. 
 
 
Tema 2 - A importância do Renascimento para o surgimento do 
pensamento positivista 
Entre os séculos XIV e XV, a Europa viveu tempos muito difíceis. Segundo o 
historiador Jean Delumeau (1994, p. 21) epidemias, guerras, avanço de inimigos 
e inúmeros outros desafios impuseram a Europa a buscar soluções que 
redundaram na crítica do pensamento da Igreja, a recuperação demográfica, 
 
 
progressos técnicos e uma nova estética, um novo jeito de expressar a realidade. 
Michelangelo, Rafael, Botticelli, Da Vinci, dentre diversos outros artistas, são os 
responsáveis diretos pela imagem que fazemos desta época. Esculturas, 
pinturas, afrescos, livros, música, arquitetura marcam uma época de 
redescoberta do homem e do mundo, nas palavras de um dos principais 
intérpretes dessa época, Jacob Burckhardt (2009). 
O termo "renascimento" é atribuido a Giorgio Vasari, mas é Burckhardt quem 
fornece as melhores informações sobre a época por meio de seu livro A cultura 
do renascimento na Itália, que data de 1860. Nesta obra, o autor relata os 
efeitos desse movimento sobre as artes, a religião, o próprio homem e, 
principalmente, a política. 
Como já se viu em linhas gerais no tema anterior, o pensamento do homem 
estava em grande medida atrelado ao pensamento hegemônico da Igreja. A 
grande implicação disso se constata na quantidade de filósofos e cientistas que 
foram queimados nas fogueiras da inquisição ao longo desse período. Um dos 
casos mais famosos foi o do cientista Galileu Galilei, que só não foi torturado e 
morto pois negou suas afirmações de que a Terra girava ao redor do Sol. Na 
prática, o resultado dessa perseguição estava relacionado ao atraso no 
desenvolvimento da sociedade em geral (proibições de pesquisas na área da 
medicina, na área das navegações, condenação do sistema bancário criado 
pelos burgueses, etc.). 
Um dos principais efeitos do renascimento foi justamente o reposicionamento do 
homem em relação ao seu meio. Este passa a ser o centro de toda a produção 
e pensamento, o que levou a eventos marcantes e sem volta, como a Reforma 
Protestante. A possibilidade de se questionar a fé, aberta por este movimento, 
propiciou o solo fértil onde o monge Martinho Lutero pôde desenvolver as suas 
95 teses em que desafiava os ensinamentos da Igreja Católica. 
 
 
 
Esse movimento de abertura e questionamento tem reflexos também sobre a 
vida política. Se o conhecimento e a autoridade da Igreja até então não poderiam 
ser questionados, assim também acontecia com o poder dos governantes. Os 
reis ancoravam-se nas tradições religiosas para manter seu poder absoluto 
sobre a sociedade. 
Apesar dessa abertura, no entanto, é paralelo ao desenvolvimento do 
renascimento que se observa uma reação dos governantes, e, aqui, entre os 
anos que vão de 1500 a 1700, se encontra o ápice do absolutismo na Europa. 
Tal regime de governo previa que o poder do rei deveria ser independente de 
qualquer outro órgão. É célebre a frase atribuída a um dos reis absolutistas da 
França, chamado Luis XIV que disse: "O Estado sou eu". 
É justamente em contraposição a essa centralização do poder que se 
desenvolve o pensamento Iluminista, liderado por Voltaire, Diderot, D'alembert e 
Condorcet, na França, o que é matéria de nosso próximo tema! Faz-se 
importante frisar a importância do renascimento com relação à abertura do 
pensamento, que antes se confinava aos mosteiros e conventos, e, agora, podia 
ser acessado por qualquer cidadão letrado na Europa. Tal fato permite o rápido 
desenvolvimento do pensamento de forma a produzir movimentos de 
contestação, que vão se chocar na Revolução Francesa, movimento 
imediatamente anterior ao desenvolvimento do pensamento positivista. 
 
 
Tema 3 - A importância do Iluminismo para o surgimento do pensamento 
positivista 
Tratávamos do renascimento no tema anterior, e vimos que o reposicionamento 
do homem na produção do pensamento e na ciência deram origem, dentre outras 
coisas, ao movimento político, social e filosófico chamado Iluminismo. Este 
aconteceu ao longo do século XVIII, com grande intensidade na França e, dentre 
 
 
diversos efeitos, resultou no evento conhecido como Revolução Francesa, onde 
a classe burguesa liderou a tomada do poder e a derrubada do regime 
monárquico de governo. 
O Iluminismo se caracterizou em contraposição à Idade das Trevas. Seu objetivo 
era trazer luz ao pensamento tradicional, reformando-o sob o parâmetro da 
razão, que já desde o Renascimento vinha se tornando central para o 
desenvolvimento da sociedade (GRESPAN, 2008, p. 13). Quando do auge do 
Absolutismo na Europa, surge este movimento de contestação da ordem, cujo 
resultado é a corrosão das bases da sociedade tradicional. 
Seu principal antagonista é sempre o rei, pois seu poder está ancorado natradição, e não na razão. No geral, neste momento histórico, as decisões da 
coroa beneficiam os nobres donos de terra, em detrimento dos comerciantes que 
não possuem títulos de nobreza ou acesso a terras. Apesar de estes últimos 
financiarem em grande medida as coroas, não havia correspondência entre os 
desejos dessa classe e as realizações do monarca. 
Este descontentamento dos comerciantes foi encontrando sintonia com a 
produção dos intelectuais iluministas. Ao fim do processo histórico, os objetivos 
de ambos convergiram e redundaram em movimentos de contestação da ordem 
estabelecida (GRESPAN, 2008, p. 19). É um movimento herdeiro do 
racionalismo materialista de Francis Bacon, em que o importante era se partir da 
observação da matéria, a fim de se produzir o conhecimento o que será 
conhecido como método indutivo de investigação científica. 
Vários autores se adequam a essa forma de conceber a realidade. Numa 
primeira fase do iluminismo podem ser situados nomes como: 
 Locke (na área política) 
 Voltaire (na filosofia) 
 Newton (na física e na matemática) 
 D'Alembert e Diderot (como os escritores da primeira enciclopédia) 
 
 
Importante 
No geral, nesta primeira fase do movimento, o que se observa é uma tentativa 
de interpretar o homem e o meio em que vive a partir das mesmas regras e 
abstrações gerais alcançadas pelas ciências como a física de Newton 
(GRESPAN, 2008, p. 15-16). Ora, tal fato é precursor direto do método positivista 
de pensamento, como veremos na próxima aula. Está aqui lançada, portanto, a 
base do método de pensamento positivista, embora ainda de forma inicial, o que 
atesta a grande relevância deste movimento para a futura conformação do 
positivismo. 
 
 
Tema 4 - A Revolução Francesa enquanto catalisador do pensamento 
positivista 
Dentro do quadro histórico que vimos aqui construindo, a Revolução Francesa é 
o resultado determinado e necessário de evolução, tanto das forças econômicas 
da classe comerciante quanto do ideário renascentista e iluminista que se 
desenvolveu desde o século XV até o século XVIII na Europa. Foram inúmeros 
os motivos que fizerem deste um dos mais marcantes eventos da história. 
Com relação à economia, a França vivia uma séria crise fiscal, recaindo sobre a 
população uma pesada carga de tributos. Essa crise fiscal advinha do grande 
endividamento do Estado junto aos credores burgueses. Além disso, com o 
crescimento demográfico ao longo do século XVIII, também havia o problema da 
precária distribuição de alimentos, o que afetava diretamente a população e 
indiretamente todas as outras classes por conta das pressões advindas da 
questão social (HOBSBAWM, 2004, p. 89). 
Politicamente, o regime absolutista de Luis XVI mostrava-se bastante ineficaz 
em promover políticas de contenção e ajuste entre os três entes que compunham 
a arena política: 
 
 
 o clero, chamado de primeiro estado 
 a nobreza, chamada de segundo estado 
 o povo, chamado de terceiro estado 
Por conta das pressões sociais, e devido aos problemas fiscais que 
pressionavam todas as classes em disputa, o rei convoca a Assembleia dos 
Estados Gerais. A Revolução Francesa aconteceu entre 1789 e 1799 e contou 
com algumas fases importantes para o posterior desenvolvimento do sistema 
positivista de pensamento. A historiografia clássica divide a Revolução Francesa 
em quatro fases distintas: a assembleia constituinte, a assembleia legislativa, a 
convenção e o diretório. 
O período da Assembleia Constituinte (1789-1791) iniciou-se quando o Rei 
Luis XVI quis dissolver a reunião dos Estados Gerais por se sentir ameaçado 
pela posição radical do terceiro estado, que queria reformas e a aprovação do 
sistema de votação individual (cada deputado um voto, em contraposição ao 
sistema de votos por Estado). Os membros do terceiro estado reuniram-se, 
então, em uma quadra e instituíram uma Assembleia Nacional Constituinte, 
pretendendo a construção de uma nova constituição para a França (MICHELET, 
1989, p. 101). 
O Rei tentou reagir, mas o povo, sabendo das intenções do Rei, rebelou-se, 
tomou as ruas e iniciou um movimento para garantir que a Assembleia finalizasse 
seus trabalhos. O resultado, num primeiro momento, foi a vitória do povo e a 
aprovação de uma nova constituição, em que o Rei passava a ter poderes 
limitados e sujeitos a uma nova estrutura de governo, baseada na divisão do 
estado em três poderes: executivo, legislativo e judiciários. Era este o período 
da Assembleia Legislativa (HOBSBAWM, 2004, p. 98). 
 
 
 
 
Externamente, houve grande reação por parte dos demais países absolutistas 
da Europa. Houveram coligações de países que marcharam em direção à 
França, pretendendo retomar o poder e devolvê-lo a Luis XVI (HOBSBAWM, 
2004, p. 99). No entanto, em 1793, já à época do período da Convenção, foram 
descobertas cartas do Rei que ligavam-no a movimentos de restauração 
organizados no exterior. Este evento foi tratado como traição e o Rei foi morto. 
Já a essa época a França era governada por uma Convenção Nacional, liderada 
pelos pequenos burgueses, conhecidos como Jacobinos. 
É nesse período, quando Robespierre assume a direção da Convenção, que se 
instala o período do Grande Terror, onde milhares de pessoas foram mortas a 
guilhotina por serem consideradas opositoras ao movimento revolucionário. Em 
1795, a revolução volta a ter a grande burguesia no poder e segue-se um período 
conservador, onde o exército ganha cada vez mais destaque por conta de sua 
atuação na neutralização das forças estrangeiras de restauração do Antigo 
Regime. Aqui surge a figura do general Napoleão Bonaparte, que a partir de 
1799 passa a exercer o poder e só o deixa após sua derrota, em 1814 
(HOBSBAWM, 2004, p. 102). 
Essa breve recapitulação do período revolucionário foi contada para se 
identificar o momento histórico de nascimento do pensamento positivista. Em 
meio ao período revolucionário, observamos o confronto entre tendências 
radicais e revolucionárias em torno do projeto republicano. Sob a bandeira da 
ordem e do progresso surge o positivismo como uma reação conservadora frente 
os avanços do movimento radical jacobino. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tema 5 - Condorcet, Saint Simon e a gênese do Positivismo 
A tradição iluminista de interpretar a sociedade com as mesmas regras das 
ciências naturais teve eco em pelo menos duas figuras-chave ao 
desenvolvimento do positivismo: Nicolas de Condorcet e Saint-Simon. Condorcet 
foi um dos enciclopedistas que contribuiu de forma mais incisiva à gênese do 
positivismo. Este autor, um matemático, pensa a economia política da época 
como uma ciência que pode estar submetida à precisão do cálculo (LOWI, 2013, 
p. 27). Posteriormente, generaliza essa noção e declara que também a 
sociedade pode estar submetida a leis gerais de uma matemática social livre de 
paixões e interesses (LOWI, 2013, p. 28). 
As "paixões e interesses" a que se referia Condorcet fazem menção ao 
conhecimento tradicional produzido pela Igreja e às leis tradicionais que 
correspondiam aos interesses do rei e da nobreza. Para este autor, o combate a 
este estado de coisas é inseparável de uma luta revolucionária contra o Antigo 
Regime (LOWI, 2013, p. 29). Saint-Simon é discípulo de Condorcet e é quem 
primeiro utiliza o termo "positivo", ao se referir ao método das ciências naturais 
baseado na observação e experimentação, que em sua concepção poderia ser 
transplantado à observação dos objetos das ciências sociais e, assim, de forma 
"positiva", estas ciências poderiam analisar a sociedade de forma neutra e 
objetiva (LOWI, 2013, p. 29). 
No entanto, tanto um quantooutro autor, apesar de atuarem no sentido de 
naturalizar a interpretação da sociedade, não apresentam qualquer interesse em 
conservar a ordem até então estabelecida. Antes o contrário: as leis naturais que 
enxergam são aquelas vinculadas ao caráter livre, igualitário e fraterno dos 
homens, ideário este ligado à burguesia comerciante que apostava no estatuto 
da liberdade dos homens para remover os últimos obstáculos que impediam o 
pleno desenvolvimento de seus negócios. 
 
 
 
 
Atribui-se um caráter utópico ao positivismo de Condorcet e Saint-Simon, pois 
estes autores ainda não possuem pensamento estruturado acerca do caráter 
natural das ciências sociais, apenas fazem generalizações a partir de suas áreas 
de especialização. O que se difere de forma qualitativa em Augusto Comte, 
considerado o pai do positivismo, justamente por ter sido o pensador que 
estruturou um sistema conceitual acerca do caráter natural das ciências sociais. 
É em Comte que uma simples ideologia se transforma em um sistema de 
pensamento, uma visão social de mundo que até hoje exerce grande influência 
na estruturação da ciência moderna. 
 
TROCANDO IDEIAS 
Esta foi uma aula para nivelamento de nossos conhecimentos históricos acerca 
do tema positivismo. Fizemos uma rápida revisão que abarcou cerca de 1.500 
anos de história do desenvolvimento do pensamento filosófico do homem. 
Pudemos perceber que a influência do pensamento clássico grego foi 
determinante a todos os períodos históricos posteriores, variando entre o 
idealismo platônico e o materialismo aristotélico. 
Que tal discutirmos a influência desses dois modos de pensar na determinação 
da produção científica hoje? Vocês acham que a academia, hoje, vive um 
momento mais idealista ou mais materialista? 
 
NA PRÁTICA 
Agora vamos exercitar nosso aprendizado, usando nosso conhecimento e nossa 
imaginação. Você, enquanto futuro(a) Assistente Social, vai se deparar com 
inúmeras situações, as quais exigirão um posicionamento de sua parte. Algumas 
dessas situações envolverão a sua opinião acerca de problemas que se 
relacionam, em grande medida, a questões centrais ao conhecimento humano. 
 
 
Se um dia alguém perguntar a você: qual é a origem da pobreza e das 
necessidades sociais? Que caminho seguirá para dar sua resposta? O caminho 
idealista proposto por Platão ou o caminho materialista proposto por Aristóteles? 
Desenvolva um pequeno texto em que você se posiciona acerca dessa 
discussão! 
Comentários 
Por se tratar de um texto que demanda posicionamento pessoal, foge-se, aqui, 
de uma conceituação de certo e errado. Você deve transitar entre dois conceitos 
básicos, apresentados nesta aula, para responder a essa questão: o idealismo 
e o materialismo. Se sua resposta seguir um modelo idealista clássico, se 
justificará que as mazelas têm origem num descompasso entre o homem e seu 
criador, o que ocasiona o sofrimento e a separação. Agora, em seguindo a linha 
materialista, pode-se verificar uma alusão à materialidade da vida e aos 
problemas advindos da produção e distribuição da riqueza, o que ocasiona a 
pobreza e a questão social. 
 
 
SÍNTESE 
Nesta aula, fizemos uma recapitulação histórica, a fim de demonstrar a linha a 
partir da qual se desenvolveu o positivismo. Começamos falando sobre a 
Antiguidade, onde Platão e Aristóteles desenvolveram linhas filosóficas distintas, 
conhecidas como idealistas e materialistas, respectivamente. Devido à 
hegemonia da Igreja ao longo da Idade Média, o pensamento de Platão 
prevaleceu, mas por volta do século XIV e XV se desenvolve na Europa uma 
nova forma de conceber a matéria, grandemente influenciada pelo materialismo 
aristotélico: este movimento chama-se Renascimento. 
 
 
 
O uso da razão e o reposicionamento do homem com relação ao seu meio 
marcaram esse período. No entanto, em paralelo se desenvolveu um outro 
movimento, este sustentado pela monarquia, que pregava o poder absoluto nas 
mãos do rei: trata-se do absolutismo. Em contraposição a este ideário, que se 
baseava em grande medida no pensamento tradicional que perdurou durante 
toda a Idade Média, se fortalece o uso da razão na interpretação da vida em 
sociedade, trazendo luz às trevas do medievo. 
Este movimento se chama Iluminismo e está diretamente associado ao advento 
da Revolução Francesa, movimento político social de contestação ao Antigo 
Regime monárquico que, em 1789, consegue depor o Rei e instaurar a república 
na França, sob o lema de: liberdade, igualdade e fraternidade. 
O descontrole a que esse movimento chegou, em seu desenvolvimento, 
ocasionou posicionamentos conservadores com relação à profundidade das 
reformas a serem empreendidas por meio da Revolução. Um desses 
posicionamentos, que pouco a pouco vai se consolidando enquanto visão social 
de mundo cientificamente estabelecida é o positivismo, tema das próximas 
aulas. 
 
 
 
 
Referências 
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 
2000. 
BURCKHARDT, Jacob. A cultura do renascimento na Itália: um ensaio. São 
Paulo: Companhia das Letras, 2009. 
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática. 2010. 
DELUMEAU, Jean. A Civilização do Renascimento. Volume I. Lisboa: Editorial 
Estampa, 1994. 
GRESPAN, Jorge. O iluminismo e a Revolução Francesa. São Paulo: 
Contexto, 2008. 
HOBSBAWM, Eric. A era das revoluções: Europa 1789-1848. Rio de Janeiro: 
Paz e Terra, 2004. 
LOWI, Michel. As aventuras de Karl Marx contra o Barão de Munchausen: 
marxismo e positivismo na sociologia do conhecimento. São Paulo: Cortez, 
2000. 
MICHELET, Jules. História da Revolução Francesa: da queda da Bastilha à 
festa da federação. São Paulo: Companhia das letras, 1989.

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