Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Aula 8: As inflexões desejantes da filosofia 1. A primeira seção de nosso curso não estaria completa sem ao menos algumas pinceladas sobre a noção mesma de desejo. Desde o início de nosso percurso, buscamos caracterizar a filosofia como uma forma discursiva para a qual o desejo é um impulso decisivo, principalmente a partir da maneira como Jean-François Lyotard desenvolve essa ideia: desprovida de um objeto próprio, a filosofia se caracteriza por uma inflexão do desejo sobre si mesmo, que pode ser desencadeada em qualquer circunstância, e que nos leva a um movimento indefinido que busca elaborar no plano do pensamento essa dimensão fundamental da ausência. Conforme vimos anteriormente, o desejo possui essa paradoxal estrutura de ser a presença de uma ausência, o que implica um deslocamento a que se é impelido pela presentificação da falta de algo, do vazio de um objeto que não está acessível, que não é alcançável em determinado momento. Mas se a filosofia não possui objeto próprio, de que ausência se trata então? Que carência constitui seu movimento desejante? E é também legítimo perguntar se faz realmente sentido falar de falta de forma genérica, abstrata acerca do desejo em geral: seria possível determinar de que falta as inflexões do desejo que encontramos inscritas na atividade filosófica são provenientes? Permitam-me insistir nessa implicação do desejo no pensamento filosófico, no que temos chamado aqui de discurso filosófico, a partir da seguinte passagem: Uma das grandes questões da filosofia antiga foi: qual é o eros do pensamento? Qual é o eros do tipo peculiar de verdade da qual a filosofia é a busca? Qual é a paixão que impele alguém a filosofar e o que o filosofar requer dele? Como advém ela em alguém, e quando, e com que efeitos sobre ele e sobre sua relação com os outros? Filosofar era considerado, na época, um estilo de vida, todo um jogo de mestria, rivalidade e liberdade no saber, que tinha que se defender dos falsos pretendentes. Nesses antigos e agonísticos “jogos de linguagem”, os filósofos tinham que ser philoi [φίλοι], amigos; mas, amigos de quê, e em que sentido?1 Embora possa soar estranho o uso de expressões como “eros do pensamento” ou eros da verdade, elas trazem uma importante indicação acerca de como o pensamento é mobilizado, é impelido, é colocado em movimento por um elemento que em certo sentido lhe é exterior. Pois pensar não pode ser reduzido a um ato voluntarista, fruto de uma decisão imotivada, como já mencionamos em uma das aulas anteriores. Ainda que fosse considerado apenas como resultado de um conjunto de processos cognitivos, seria necessário admitir que o pensamento é algo que está para além do âmbito restrito no qual o indivíduo é capaz exercer sua capacidade de deliberação. Isso significa que estamos recaindo numa concepção irracionalista do pensamento, na qual somos constrangidos a admitir que pensamos o que não queremos, ou que não controlamos o que pensamos? Em que sentido poderíamos ser responsáveis pelo que pensamos e declaramos? Que sentido poderia haver em se chamar esses pensamentos dos quais não temos consciência ou o que não estão vinculados a nossa volição como pensamentos? https://brc-onenote.officeapps.live.com/o/onenoteframe.aspx?ui=pt-BR&hid=5a2b9e70-32ea-8311-afb6-f46cbbcc0495&sc=%7B%22pmo%22%3A%22https%3A%2F%2Fwww.onenote.com%22%2C%22pmshare%22%3Atrue%7D&wopisrc=https%3A%2F%2Funbbr.sharepoint.com%2Fsites%2F2021-2introduofilosofiaturmaiprof.herivelto%2F_vti_bin%2Fwopi.ashx%2Ffolders%2F01c55e58811b46c0b6b81ca0db7c3f03&mscc=1&wdorigin=teams-desktop.Regular.edutab&wdhostclicktime=1644880147842&wd=target(_Biblioteca%20de%20Conte%C3%BAdo/aulas.one|a7735140-94aa-4911-a22d-dcb48da89f21/Aula%2006%C2%A0%20/|%C2%A0%209%20fev|f43ec770-bb32-4b99-87c7-9d8c3f4c276e/)&hideheader=1&uih=Teams&embed=1&embedded=1&removeshareui=1&hidepagesearch=1&disablefile=0&disableview=0&disableprint=0&disablechat=1&uiembed=1&hhdr=1&jsapi=1&jsapiver=v1&newsession=1&corrid=65107d5a-4072-4345-9860-33d16a89c14f&usid=65107d5a-4072-4345-9860-33d16a89c14f&sftc=1&accloop=1&uihit=edutab&wdredirectionreason=Force_SingleStepBoot#sdfootnote1sym Highlight Em primeiro lugar, lembremos que ao tratar da fala filosófica, vimos como Lyotard defendia que, ao falarmos, sempre dizemos mais e menos do que queremos dizer. Ou seja, há ao mesmo tempo um excesso e uma falta naquilo que expressamos, e que isso não é um defeito contornável, mas um elemento estrutural do modo como articulamos a linguagem, ou melhor, uma condição constitutiva do fato de sermos falantes: as construções enunciativas demandam sempre por interpretação, e carregam sempre alguma equivocidade. Nesse mesmo contexto, vimos como Lyotard rejeita a imagem de que linguagem e pensamento sejam coisas desconexas, e como ele defende que nosso pensamento opera a partir do que o acesso à linguagem nos fornece. Se a linguagem é constitutiva do pensamento, e não mero meio de expressão dele, então não deveria causar espanto que o pensamento esteja para além do estrito controle consciente do indivíduo. Parece não haver razão para se decretar de antemão a implausibilidade de uma esfera do pensamento que é inconsciente, por exemplo. Diante do que acabamos de considerar, é importante sustentar uma imagem do pensamento que não esteja talhada na medida de um conceito de indivíduo, ou seja, é importante não submeter o pensar aos atributos de uma noção de individualidade que se consolida a partir de certo momento da história ocidental e que é eivada de problemas teóricos e práticos muito significativos.2 Assim, ao tratarmos da relação entre pensamento e aquilo que o impulsiona, preferiremos falar de sujeito,3 e insistir no fato de que tal conceito não expele para fora de si o devir, a diferença, a opacidade, elementos desestabilizadores que pertencem em algum sentido à dimensão de eros. Muito haveria a ser dito sobre eros, pois muito foi dito sobre isso ao longo da história do pensamento filosófico. Mas podemos recorrer brevemente, aqui, àquela que é a referência incontornável para qualquer tratamento sobre esse assunto, a saber, o diálogo platônico O banquete. A obra é estruturada em torno de uma série de reflexões sobre o amor, e não seria impreciso dizer que tais elaborações estabelecem os paradigmas para as maneiras como o amor será pensado ao longo da tradição filosófica ocidental. O fato de que o diálogo não seja conclusivo acerca de como se deva conceber o amor, estabelecendo portanto uma teoria fechada sobre o assunto, acaba sendo uma grande potência, pois os leitores de diferentes épocas privilegiarão partes do diálogo para ressaltar a concepção a ser defendida ou criticada. É aí que encontramos, por exemplo, a nossa já bastante conhecida formulação do desejo como falta, sustentada pela afirmação de que só amamos aquilo que não possuímos, aquilo de que carecemos. Nessa parte do diálogo, Sócrates confronta Agatão, buscando mostrar que não faz sentido desejar o que já se detém, o que já se é. Sócrates encaminha sua argumentação da seguinte maneira: “Se, com efeito, mesmo o forte quisesse ser forte”, continuou Sócrates, “e o rápido ser rápido, e o sadio ser sadio — pois talvez alguém pensasse que nesses e em todos os casos semelhantes os que são tais e têm essas qualidades desejam o que justamente têm, e é para não nos enganarmos que estou dizendo isso — ora, para estes, Agatão, se atinas bem, é forçoso que tenham no momento tudo aquilo que https://brc-onenote.officeapps.live.com/o/onenoteframe.aspx?ui=pt-BR&hid=5a2b9e70-32ea-8311-afb6-f46cbbcc0495&sc=%7B%22pmo%22%3A%22https%3A%2F%2Fwww.onenote.com%22%2C%22pmshare%22%3Atrue%7D&wopisrc=https%3A%2F%2Funbbr.sharepoint.com%2Fsites%2F2021-2introduofilosofiaturmaiprof.herivelto%2F_vti_bin%2Fwopi.ashx%2Ffolders%2F01c55e58811b46c0b6b81ca0db7c3f03&mscc=1&wdorigin=teams-desktop.Regular.edutab&wdhostclicktime=1644880147842&wd=target(_Biblioteca%20de%20Conte%C3%BAdo/aulas.one|a7735140-94aa-4911-a22d-dcb48da89f21/Aula%2006%C2%A0%20/|%C2%A0%209%20fev|f43ec770-bb32-4b99-87c7-9d8c3f4c276e/)&hideheader=1&uih=Teams&embed=1&embedded=1&removeshareui=1&hidepagesearch=1&disablefile=0&disableview=0&disableprint=0&disablechat=1&uiembed=1&hhdr=1&jsapi=1&jsapiver=v1&newsession=1&corrid=65107d5a-4072-4345-9860-33d16a89c14f&usid=65107d5a-4072-4345-9860-33d16a89c14f&sftc=1&accloop=1&uihit=edutab&wdredirectionreason=Force_SingleStepBoot#sdfootnote2symhttps://brc-onenote.officeapps.live.com/o/onenoteframe.aspx?ui=pt-BR&hid=5a2b9e70-32ea-8311-afb6-f46cbbcc0495&sc=%7B%22pmo%22%3A%22https%3A%2F%2Fwww.onenote.com%22%2C%22pmshare%22%3Atrue%7D&wopisrc=https%3A%2F%2Funbbr.sharepoint.com%2Fsites%2F2021-2introduofilosofiaturmaiprof.herivelto%2F_vti_bin%2Fwopi.ashx%2Ffolders%2F01c55e58811b46c0b6b81ca0db7c3f03&mscc=1&wdorigin=teams-desktop.Regular.edutab&wdhostclicktime=1644880147842&wd=target(_Biblioteca%20de%20Conte%C3%BAdo/aulas.one|a7735140-94aa-4911-a22d-dcb48da89f21/Aula%2006%C2%A0%20/|%C2%A0%209%20fev|f43ec770-bb32-4b99-87c7-9d8c3f4c276e/)&hideheader=1&uih=Teams&embed=1&embedded=1&removeshareui=1&hidepagesearch=1&disablefile=0&disableview=0&disableprint=0&disablechat=1&uiembed=1&hhdr=1&jsapi=1&jsapiver=v1&newsession=1&corrid=65107d5a-4072-4345-9860-33d16a89c14f&usid=65107d5a-4072-4345-9860-33d16a89c14f&sftc=1&accloop=1&uihit=edutab&wdredirectionreason=Force_SingleStepBoot#sdfootnote3sym têm, quer queiram, quer não, e isso mesmo, sim, quem é que poderia desejá-lo? Mas quando alguém diz: ‘Eu, mesmo sadio, desejo ser sadio, e mesmo rico, ser rico, e desejo isso mesmo que tenho’, poderíamos dizer-lhe: ‘Ó homem, tu que possuis riqueza, saúde e fortaleza, o que queres é também no futuro possuir esses bens, pois no momento, quer queiras quer não, tu os tens; observa então se, quando dizes ‘desejo o que tenho comigo’, queres dizer outra coisa senão isso: ‘quero que o que tenho agora comigo, também no futuro eu o tenha’.’ Deixaria ele de admitir?” Agatão […] estava de acordo. Disse então Sócrates: “Não é isso então amar o que ainda não está à mão nem se tem, o querer que, para o futuro, seja isso que se tem conservado consigo e presente?” “Perfeitamente”, disse Agatão. “Esse então, como qualquer outro que deseja, deseja o que não está à mão nem consigo, o que não tem, o que não é ele próprio e [aquil]o de que é carente; tais são mais ou menos as coisas de que há desejo e amor, não é?” (200b-200e)4 Todavia, mais do que assentar uma compreensão apaziguadora acerca do amor, o que se descortina a partir daí é um problema um tanto complicado: se amamos o que não possuímos, e se o que é amado é o belo, e por conseguinte o bom, parece ser necessário supor que o amor (Eros), na medida em que tende a tais objetos, em que os deseja enfim, é desprovido deles. Esse curso de raciocínio nos levaria a ter de admitir que o amor não é belo ou bom. Entretanto, trata-se aí de conclusão por demais drástica, ou melhor, paradoxal. Deparar-se com um paradoxo é um indício de que algo no argumento não está correto, e isso deve nos levar a reconsiderar os termos utilizados na construção da argumentação. É o que Sócrates faz ao relatar um diálogo que ele teria tido com Diotima, no qual ela o teria explicado sobre a proveniência de eros e de seu incessante movimento desejante para o belo. Diotima mostra, em primeiro lugar, que os polos opositivos (belo—feio, bom—mau, sábio—ignorante, etc.) utilizados na reflexão não esgotam as opções, isto é, não ser belo não implica necessariamente que algo ou alguém seja feio, assim como também não resulta verdadeiro que aquele que não é sábio deva ser considerado ignorante. Assim como há gradações entre a sabedoria e a ignorância, há também entre os outros polos. O caráter híbrido dessa posição intermediária é central para a compreensão da questão, pois é da tensão aí presente que faz sentido conceber que se possa aspirar, desejar alcançar o polo que é valorizado. Isso porque, para quem está preso, enredado no polo da ignorância, sequer existe a consciência da falta que lhe faz a sabedoria. O desejo aparece quando alguém tem ocasião para libertar-se inicialmente da ignorância e é capaz, então, de mesurar, por assim dizer, a distância a ser percorrida até chegar à sabedoria. É ao tomar contato com a sabedoria que o sujeito desperta para a ausência dela em si, e passa a desejá-la. Desejoso de sabedoria, o sujeito não é nem propriamente sábio ainda, como os deuses são, mas também não é mais um mero ignorante, tendo em vista a direção para a qual se tende. Esse lugar intermédio, transitório, é algo ganhará muito relevo, pois ele nos diz muito acerca de Eros. Com efeito, Diotima recorre a um relato mitológico para mostrar a ascendência híbrida dessa particular divindade que é o gênio [δαίμων], pois “tudo o que é gênio está entre um deus e um mortal” (202d-202e).5 Cabe a ele a comunicação, as trocas que efetivam a ligação entre a esfera dos deuses e a dos https://brc-onenote.officeapps.live.com/o/onenoteframe.aspx?ui=pt-BR&hid=5a2b9e70-32ea-8311-afb6-f46cbbcc0495&sc=%7B%22pmo%22%3A%22https%3A%2F%2Fwww.onenote.com%22%2C%22pmshare%22%3Atrue%7D&wopisrc=https%3A%2F%2Funbbr.sharepoint.com%2Fsites%2F2021-2introduofilosofiaturmaiprof.herivelto%2F_vti_bin%2Fwopi.ashx%2Ffolders%2F01c55e58811b46c0b6b81ca0db7c3f03&mscc=1&wdorigin=teams-desktop.Regular.edutab&wdhostclicktime=1644880147842&wd=target(_Biblioteca%20de%20Conte%C3%BAdo/aulas.one|a7735140-94aa-4911-a22d-dcb48da89f21/Aula%2006%C2%A0%20/|%C2%A0%209%20fev|f43ec770-bb32-4b99-87c7-9d8c3f4c276e/)&hideheader=1&uih=Teams&embed=1&embedded=1&removeshareui=1&hidepagesearch=1&disablefile=0&disableview=0&disableprint=0&disablechat=1&uiembed=1&hhdr=1&jsapi=1&jsapiver=v1&newsession=1&corrid=65107d5a-4072-4345-9860-33d16a89c14f&usid=65107d5a-4072-4345-9860-33d16a89c14f&sftc=1&accloop=1&uihit=edutab&wdredirectionreason=Force_SingleStepBoot#sdfootnote4sym https://brc-onenote.officeapps.live.com/o/onenoteframe.aspx?ui=pt-BR&hid=5a2b9e70-32ea-8311-afb6-f46cbbcc0495&sc=%7B%22pmo%22%3A%22https%3A%2F%2Fwww.onenote.com%22%2C%22pmshare%22%3Atrue%7D&wopisrc=https%3A%2F%2Funbbr.sharepoint.com%2Fsites%2F2021-2introduofilosofiaturmaiprof.herivelto%2F_vti_bin%2Fwopi.ashx%2Ffolders%2F01c55e58811b46c0b6b81ca0db7c3f03&mscc=1&wdorigin=teams-desktop.Regular.edutab&wdhostclicktime=1644880147842&wd=target(_Biblioteca%20de%20Conte%C3%BAdo/aulas.one|a7735140-94aa-4911-a22d-dcb48da89f21/Aula%2006%C2%A0%20/|%C2%A0%209%20fev|f43ec770-bb32-4b99-87c7-9d8c3f4c276e/)&hideheader=1&uih=Teams&embed=1&embedded=1&removeshareui=1&hidepagesearch=1&disablefile=0&disableview=0&disableprint=0&disablechat=1&uiembed=1&hhdr=1&jsapi=1&jsapiver=v1&newsession=1&corrid=65107d5a-4072-4345-9860-33d16a89c14f&usid=65107d5a-4072-4345-9860-33d16a89c14f&sftc=1&accloop=1&uihit=edutab&wdredirectionreason=Force_SingleStepBoot#sdfootnote5sym humanos: “é através desse ser que se faz todo o convívio e diálogo dos deuses com os homens, tanto quando despertos como quando dormindo; e aquele que em tais questões é sábio é um homem de gênio” (203a). Eros descende de Póros (Recurso) e Penia (Pobreza), e herda características de ambos: recebe da mãe uma carência constitutiva, o que o leva a estar sempre desabrigado e em escassez de provimentos; já por parte de pai ele herda ímpeto e sagacidade, mobilização enérgica e ardilosa de estratégias. A partir do modo de operação contraditório e instável decorrente desse dúplice caráter de Eros, o texto enfatiza os vínculos que ele possui com a filosofia, como para mostrar como à filosofia pertence um posicionamento, uma postura ‘erótica’. Após registrar que Eros está “sempre a tecer maquinações, ávido de sabedoria e cheio de recursos, a filosofar por toda a vida” (203d), Sócrates relata o que Diotima lhe explicou: “Nenhum deus filosofa ou deseja ser sábio — pois já é —, assim como se alguém mais é sábio, não filosofa. Nem também os ignorantes filosofam ou desejam ser sábios; pois é nisso mesmo que está o difícil da ignorância, no pensar, que não é um homem distinto e gentil, nem inteligente, que lhe basta assim. Não deseja portanto quem não imagina ser deficiente naquilo que não pensa lhe ser preciso.” “Quais então, Diotima, perguntei-lhe, os que filosofam, se não são nem os sábios nem os ignorantes?” “É o que é evidente desde já, respondeu-me, até a uma criança: são os que estão entre esses dois extremos, e um deles seria o Amor [Eros]. Em efeito, umadas coisas mais belas é a sabedoria, e o Amor é amor pelo belo, de modo que é forçoso o Amor ser filósofo e, sendo filósofo, estar entre o sábio e o ignorante. E a causa dessa sua condição é a sua origem: pois é filho de um pai sábio e rico e de uma mãe que não é sábia, e pobre.” (204a-204b) Há, portanto, algo dessa avidez erótica que impulsiona o pensamento. Assim como ocorre no arrebatamento da paixão, em que uma força contraditória e instável, enérgica e mobilizadora, impele o sujeito em direção ao objeto que lhe aparece como belo e, portanto, desejável, o pensamento, e em particular a reflexão filosófica, também é posto em movimento e levado a buscar estratégias e recursos para suprir uma falta. Que tal falta seja impossível de preencher adequadamente, ou, em outras palavras, que não haja propriamente uma satisfação à carência que move o desejo, isso é um indício importante de que é uma única e mesma energia desejante manifestando-se tanto na vida amorosa quanto no trabalho intelectual. Mas se nas primeiras aulas buscávamos registrar esse deslocamento do amor para o desejo, ao tratar da filosofia, não estaríamos aqui reaproximando, e mesmo tornando indistintas tais noções? Agora é possível esclarecer que o deslocamento era justamente de philia para eros, ou seja, do amor-amizade com relação ao saber para o amor-desejo para com a beleza e, portanto, à sabedoria. Não se trata de coisas excludentes, sem relação, mas de coisas que podem se recobrir e entrelaçar. 2. Podemos avançar um pouco mais e dar mais algumas pinceladas nessa questão a partir de como a temática do desejo se desdobrará em uma questão significativa para a modernidade. Lembremos, em primeiro lugar, como Lyotard aponta que a palavra desejo « vem do termo latino de-siderare, que significa inicialmente constatar e lamentar que as constelações, os sidera, não deem sinal, que os deuses nada indiquem nos astros. O desejo é a decepção do áugure. Pelo fato de pertencer ao desejo e de ser talvez o que nele há de indigência, a filosofia, já o dissemos, começa quando os deuses se calam. »6 Como mostra Marilena Chaui, em oposição a considerare, que é a consulta aos céus, aos astros, para encontrar um guia de ação ou a marca do destino, desiderare é parar de olhar para os corpos celestes, deixar de lado essa indagação ou espera por sinais. Mas a partir dessa perda de referência do alto, uma ambiguidade importante marcará nossa concepção de desejo: Cessando de olhar para os astros, desiderium é a decisão de tomar nosso destino em nossas próprias mãos e, neste caso, o desejo chama-se vontade consciente, nascida da deliberação, aquilo que os gregos chamavam bóulesis. No entanto, se o “cessar de ver” aparece como um ganho para aquele que toma sua vida em suas próprias mãos, o “deixar de ver” é experimentado como perda e desamparo, prisão na roda da fortuna incerta. O desejo chama-se, então, carência, vazio que tende para fora de si em busca de preenchimento, aquilo que os gregos chamavam hormé.7 Se, enquanto produto da decisão consciente e deliberada, o desejo é expressão de atividade, por outro lado, enquanto força apetitiva mobilizada pela carência, ele é passividade, de onde decorre portanto sua ambígua mistura em nossa experiência concreta: assolados pela falta que nos toma, somos impelidos à decisão de agir, de nos direcionarmos a algo que supostamente satisfaria essa carência. Assim, se o desejo nos perturba, nos atravessa e nos impele, como uma força ao mesmo tempo estranha e familiar, jamais compreendida totalmente, é através de ações e posturas pelas quais somos responsáveis que lidamos com essa inquietude fundamental e nos direcionamos para a busca da felicidade. É importante ainda não perder de vista, com respeito ao desejo, que na história da filosofia ele tenha passado progressivamente de conceito metafísico a conceito psicológico, como mostra muito detalhadamente Chaui em seu texto.8 Uma leitura atenta do texto de Lyotard nos mostrará que ele está longe de simplesmente reproduzir essa espécie de psicologização do desejo, e isso a despeito da importância que a psicanálise possui para as articulações que ele tece. Pois não é difícil perceber como o desejo, enquanto conceito psicanalítico, não se resolve nas dinâmicas e processos inconscientes de escolha de objeto por parte de cada sujeito tomado isoladamente, uma vez que são princípios de funcionamento pulsional que fornecem o horizonte da atividade desejante, e tal atividade se constitui inexoravelmente em processos de socialização. Para a psicanálise, portanto, não há separação entre psicologia individual e psicologia social quando se trata das manifestações pulsionais, pois o desejo é desde sempre projetado no corpo social, pois os objetos que sujeito elege e busca são itens socialmente determinados. Sendo assim, Lyotard reencontra a mesma tensão da qual o desejo emerge na vida social: « https://brc-onenote.officeapps.live.com/o/onenoteframe.aspx?ui=pt-BR&hid=5a2b9e70-32ea-8311-afb6-f46cbbcc0495&sc=%7B%22pmo%22%3A%22https%3A%2F%2Fwww.onenote.com%22%2C%22pmshare%22%3Atrue%7D&wopisrc=https%3A%2F%2Funbbr.sharepoint.com%2Fsites%2F2021-2introduofilosofiaturmaiprof.herivelto%2F_vti_bin%2Fwopi.ashx%2Ffolders%2F01c55e58811b46c0b6b81ca0db7c3f03&mscc=1&wdorigin=teams-desktop.Regular.edutab&wdhostclicktime=1644880147842&wd=target(_Biblioteca%20de%20Conte%C3%BAdo/aulas.one|a7735140-94aa-4911-a22d-dcb48da89f21/Aula%2006%C2%A0%20/|%C2%A0%209%20fev|f43ec770-bb32-4b99-87c7-9d8c3f4c276e/)&hideheader=1&uih=Teams&embed=1&embedded=1&removeshareui=1&hidepagesearch=1&disablefile=0&disableview=0&disableprint=0&disablechat=1&uiembed=1&hhdr=1&jsapi=1&jsapiver=v1&newsession=1&corrid=65107d5a-4072-4345-9860-33d16a89c14f&usid=65107d5a-4072-4345-9860-33d16a89c14f&sftc=1&accloop=1&uihit=edutab&wdredirectionreason=Force_SingleStepBoot#sdfootnote6sym https://brc-onenote.officeapps.live.com/o/onenoteframe.aspx?ui=pt-BR&hid=5a2b9e70-32ea-8311-afb6-f46cbbcc0495&sc=%7B%22pmo%22%3A%22https%3A%2F%2Fwww.onenote.com%22%2C%22pmshare%22%3Atrue%7D&wopisrc=https%3A%2F%2Funbbr.sharepoint.com%2Fsites%2F2021-2introduofilosofiaturmaiprof.herivelto%2F_vti_bin%2Fwopi.ashx%2Ffolders%2F01c55e58811b46c0b6b81ca0db7c3f03&mscc=1&wdorigin=teams-desktop.Regular.edutab&wdhostclicktime=1644880147842&wd=target(_Biblioteca%20de%20Conte%C3%BAdo/aulas.one|a7735140-94aa-4911-a22d-dcb48da89f21/Aula%2006%C2%A0%20/|%C2%A0%209%20fev|f43ec770-bb32-4b99-87c7-9d8c3f4c276e/)&hideheader=1&uih=Teams&embed=1&embedded=1&removeshareui=1&hidepagesearch=1&disablefile=0&disableview=0&disableprint=0&disablechat=1&uiembed=1&hhdr=1&jsapi=1&jsapiver=v1&newsession=1&corrid=65107d5a-4072-4345-9860-33d16a89c14f&usid=65107d5a-4072-4345-9860-33d16a89c14f&sftc=1&accloop=1&uihit=edutab&wdredirectionreason=Force_SingleStepBoot#sdfootnote7sym https://brc-onenote.officeapps.live.com/o/onenoteframe.aspx?ui=pt-BR&hid=5a2b9e70-32ea-8311-afb6-f46cbbcc0495&sc=%7B%22pmo%22%3A%22https%3A%2F%2Fwww.onenote.com%22%2C%22pmshare%22%3Atrue%7D&wopisrc=https%3A%2F%2Funbbr.sharepoint.com%2Fsites%2F2021-2introduofilosofiaturmaiprof.herivelto%2F_vti_bin%2Fwopi.ashx%2Ffolders%2F01c55e58811b46c0b6b81ca0db7c3f03&mscc=1&wdorigin=teams-desktop.Regular.edutab&wdhostclicktime=1644880147842&wd=target(_Biblioteca%20de%20Conte%C3%BAdo/aulas.one|a7735140-94aa-4911-a22d-dcb48da89f21/Aula%2006%C2%A0%20/|%C2%A0%209%20fev|f43ec770-bb32-4b99-87c7-9d8c3f4c276e/)&hideheader=1&uih=Teams&embed=1&embedded=1&removeshareui=1&hidepagesearch=1&disablefile=0&disableview=0&disableprint=0&disablechat=1&uiembed=1&hhdr=1&jsapi=1&jsapiver=v1&newsession=1&corrid=65107d5a-4072-4345-9860-33d16a89c14f&usid=65107d5a-4072-4345-9860-33d16a89c14f&sftc=1&accloop=1&uihit=edutab&wdredirectionreason=Force_SingleStepBoot#sdfootnote7sym https://brc-onenote.officeapps.live.com/o/onenoteframe.aspx?ui=pt-BR&hid=5a2b9e70-32ea-8311-afb6-f46cbbcc0495&sc=%7B%22pmo%22%3A%22https%3A%2F%2Fwww.onenote.com%22%2C%22pmshare%22%3Atrue%7D&wopisrc=https%3A%2F%2Funbbr.sharepoint.com%2Fsites%2F2021-2introduofilosofiaturmaiprof.herivelto%2F_vti_bin%2Fwopi.ashx%2Ffolders%2F01c55e58811b46c0b6b81ca0db7c3f03&mscc=1&wdorigin=teams-desktop.Regular.edutab&wdhostclicktime=1644880147842&wd=target(_Biblioteca%20de%20Conte%C3%BAdo/aulas.one|a7735140-94aa-4911-a22d-dcb48da89f21/Aula%2006%C2%A0%20/|%C2%A0%209%20fev|f43ec770-bb32-4b99-87c7-9d8c3f4c276e/)&hideheader=1&uih=Teams&embed=1&embedded=1&removeshareui=1&hidepagesearch=1&disablefile=0&disableview=0&disableprint=0&disablechat=1&uiembed=1&hhdr=1&jsapi=1&jsapiver=v1&newsession=1&corrid=65107d5a-4072-4345-9860-33d16a89c14f&usid=65107d5a-4072-4345-9860-33d16a89c14f&sftc=1&accloop=1&uihit=edutab&wdredirectionreason=Force_SingleStepBoot#sdfootnote7symhttps://brc-onenote.officeapps.live.com/o/onenoteframe.aspx?ui=pt-BR&hid=5a2b9e70-32ea-8311-afb6-f46cbbcc0495&sc=%7B%22pmo%22%3A%22https%3A%2F%2Fwww.onenote.com%22%2C%22pmshare%22%3Atrue%7D&wopisrc=https%3A%2F%2Funbbr.sharepoint.com%2Fsites%2F2021-2introduofilosofiaturmaiprof.herivelto%2F_vti_bin%2Fwopi.ashx%2Ffolders%2F01c55e58811b46c0b6b81ca0db7c3f03&mscc=1&wdorigin=teams-desktop.Regular.edutab&wdhostclicktime=1644880147842&wd=target(_Biblioteca%20de%20Conte%C3%BAdo/aulas.one|a7735140-94aa-4911-a22d-dcb48da89f21/Aula%2006%C2%A0%20/|%C2%A0%209%20fev|f43ec770-bb32-4b99-87c7-9d8c3f4c276e/)&hideheader=1&uih=Teams&embed=1&embedded=1&removeshareui=1&hidepagesearch=1&disablefile=0&disableview=0&disableprint=0&disablechat=1&uiembed=1&hhdr=1&jsapi=1&jsapiver=v1&newsession=1&corrid=65107d5a-4072-4345-9860-33d16a89c14f&usid=65107d5a-4072-4345-9860-33d16a89c14f&sftc=1&accloop=1&uihit=edutab&wdredirectionreason=Force_SingleStepBoot#sdfootnote8sym A história é marcada até hoje pela alternativa, tanto no âmago das sociedades como entre elas, pela dispersão e pela unificação, e essa alternativa é profundamente homóloga à do desejo. »9 Ou seja, a ausência da qual o desejo é oriundo, essa falta que se inscreve no âmago do desejo, ela está intimamente vinculada a uma estrutura cindida, da qual o traço mais distintivo é uma perda de consistência no modo como termos opositivos se colocam em relação. É a partir daí que Lyotard recupera uma concepção muito influente para a reflexão filosófica acerca do que veio a se chamar de modernidade: trata-se da temática hegeliana da cisão no campo da eticidade, isto é, grosso modo, da fragmentação das formas pelas quais uma sociedade fornece parâmetros de orientação da conduta e de avaliação moral dos conflitos. Tal cisão não esfacela completamente o corpo social, não desconfigura por completo a vida social; dela resulta uma tensão, um cenário conflitivo é instaurado, o que coloca como questão e desafio o caráter unitário desse corpo, os modos pelos quais os múltiplos elementos formam um todo unificado. Há aí um vazio homólogo àquele que parece estar implicado pelo desejo quando impulsiona o sujeito à unificação junto ao objeto desejado. De maneira muito esquemática, está em jogo nessa leitura da modernidade recuperada por Lyotard um processo pelo qual as partes que compõem a vida social se autonomizam, perdendo a força de coesão que as fazia determinar sentido por sua mútua e consistente referência.10 Tudo se passa como se os fenômenos históricos que levaram a uma afirmação hipostasiada do indivíduo expusesse as rachaduras incolmatáveis que rompem numa multiplicidade dispersa elementos que outrora teriam um referencial único determinado. O mundo social passa a ser visto como um mundo fragmentado e fundamentalmente conflitivo. Em seu horizonte mais amplo, o que está em jogo nessa fragmentação pode ser expresso como a questão filosófica da unidade e da multiplicidade. Como dar conta que múltiplos elementos formem efetivamente uma unidade? O uno tem realidade própria, ou pode ser visto como a mera junção de seus múltiplos constitutivos? Que conceito de relação permite tornar inteligível esse devir múltiplo do uno e vice- versa? Tais questões talvez soem muito abstratas por enquanto, mas para os nossos propósitos aqui o que é mais importante é notar que essa ausência de unidade, de uma efetiva relacionalidade entre os múltiplos é por onde Lyotard sugere que pensemos a incidência do desejo na filosofia. Isso porque a falta, a ausência próprias ao desejo aparecem do ponto de vista social e histórico como perda da unidade substancial, ou seja, carência de um sentido socialmente abrangente, com os efeitos disruptivos que tal processo implica. Mas Lyotard nos faz notar igualmente que a unidade não é tanto uma espécie de miragem saudosista de uma imediaticidade que seria possível restaurar retornando a uma forma de vida capaz de ser planejada ou instaurada voluntariamente; ao contrário, a unidade não pode ser estática, sob pena de anulação das multiplicidades. É por isso que a « unidade é viva, porque não cessa de ter de se fazer apesar dos termos que ela reúne, dado que esses termos se contrariam, e a se fazer segundo sua vontade, visto que eles são seus elementos, aquilo que a compõe ».11 O interessante, portanto, é que não há resolução simples da tensão através da mera afirmação de uma unidade estática, tampouco da posição https://brc-onenote.officeapps.live.com/o/onenoteframe.aspx?ui=pt-BR&hid=5a2b9e70-32ea-8311-afb6-f46cbbcc0495&sc=%7B%22pmo%22%3A%22https%3A%2F%2Fwww.onenote.com%22%2C%22pmshare%22%3Atrue%7D&wopisrc=https%3A%2F%2Funbbr.sharepoint.com%2Fsites%2F2021-2introduofilosofiaturmaiprof.herivelto%2F_vti_bin%2Fwopi.ashx%2Ffolders%2F01c55e58811b46c0b6b81ca0db7c3f03&mscc=1&wdorigin=teams-desktop.Regular.edutab&wdhostclicktime=1644880147842&wd=target(_Biblioteca%20de%20Conte%C3%BAdo/aulas.one|a7735140-94aa-4911-a22d-dcb48da89f21/Aula%2006%C2%A0%20/|%C2%A0%209%20fev|f43ec770-bb32-4b99-87c7-9d8c3f4c276e/)&hideheader=1&uih=Teams&embed=1&embedded=1&removeshareui=1&hidepagesearch=1&disablefile=0&disableview=0&disableprint=0&disablechat=1&uiembed=1&hhdr=1&jsapi=1&jsapiver=v1&newsession=1&corrid=65107d5a-4072-4345-9860-33d16a89c14f&usid=65107d5a-4072-4345-9860-33d16a89c14f&sftc=1&accloop=1&uihit=edutab&wdredirectionreason=Force_SingleStepBoot#sdfootnote9sym https://brc-onenote.officeapps.live.com/o/onenoteframe.aspx?ui=pt-BR&hid=5a2b9e70-32ea-8311-afb6-f46cbbcc0495&sc=%7B%22pmo%22%3A%22https%3A%2F%2Fwww.onenote.com%22%2C%22pmshare%22%3Atrue%7D&wopisrc=https%3A%2F%2Funbbr.sharepoint.com%2Fsites%2F2021-2introduofilosofiaturmaiprof.herivelto%2F_vti_bin%2Fwopi.ashx%2Ffolders%2F01c55e58811b46c0b6b81ca0db7c3f03&mscc=1&wdorigin=teams-desktop.Regular.edutab&wdhostclicktime=1644880147842&wd=target(_Biblioteca%20de%20Conte%C3%BAdo/aulas.one|a7735140-94aa-4911-a22d-dcb48da89f21/Aula%2006%C2%A0%20/|%C2%A0%209%20fev|f43ec770-bb32-4b99-87c7-9d8c3f4c276e/)&hideheader=1&uih=Teams&embed=1&embedded=1&removeshareui=1&hidepagesearch=1&disablefile=0&disableview=0&disableprint=0&disablechat=1&uiembed=1&hhdr=1&jsapi=1&jsapiver=v1&newsession=1&corrid=65107d5a-4072-4345-9860-33d16a89c14f&usid=65107d5a-4072-4345-9860-33d16a89c14f&sftc=1&accloop=1&uihit=edutab&wdredirectionreason=Force_SingleStepBoot#sdfootnote10sym https://brc-onenote.officeapps.live.com/o/onenoteframe.aspx?ui=pt-BR&hid=5a2b9e70-32ea-8311-afb6-f46cbbcc0495&sc=%7B%22pmo%22%3A%22https%3A%2F%2Fwww.onenote.com%22%2C%22pmshare%22%3Atrue%7D&wopisrc=https%3A%2F%2Funbbr.sharepoint.com%2Fsites%2F2021-2introduofilosofiaturmaiprof.herivelto%2F_vti_bin%2Fwopi.ashx%2Ffolders%2F01c55e58811b46c0b6b81ca0db7c3f03&mscc=1&wdorigin=teams-desktop.Regular.edutab&wdhostclicktime=1644880147842&wd=target(_Biblioteca%20de%20Conte%C3%BAdo/aulas.one|a7735140-94aa-4911-a22d-dcb48da89f21/Aula%2006%C2%A0%20/|%C2%A0%209%20fev|f43ec770-bb32-4b99-87c7-9d8c3f4c276e/)&hideheader=1&uih=Teams&embed=1&embedded=1&removeshareui=1&hidepagesearch=1&disablefile=0&disableview=0&disableprint=0&disablechat=1&uiembed=1&hhdr=1&jsapi=1&jsapiver=v1&newsession=1&corrid=65107d5a-4072-4345-9860-33d16a89c14f&usid=65107d5a-4072-4345-9860-33d16a89c14f&sftc=1&accloop=1&uihit=edutab&wdredirectionreason=Force_SingleStepBoot#sdfootnote11sym de cada fragmento isolado de qualquer contexto relacional; ou seja, já a separação, e o eventual conflito que daí pode derivar, implica uma modalidade de relação, de manutenção de certa unidade. É nessa tensão que, segundo Hegel, a necessidade da filosofia transparecia como uma exigência histórica. Caberia à discursividade filosófica, para usar um termo que não é hegeliano, mas com o qual temos lidado aqui, fornecer um trabalho conceitual de elaboração dessa dinâmica do uno e do múltiplo em todas as suas dimensões. Assim, o caráter desejante da fala filosófica fica mais claro ao considerarmos como essa exigência reflexiva decorre da presença de uma ausência, de uma falta, que é a falta de sentidoda fragmentação, a falta de sentido daquilo que o discurso exclui para fora de si, uma falta que impulsiona a partir de uma circunstância qualquer para um regime enunciativo que trata das relações e suas condições de possibilidade. Enfim, uma falta que não é de nenhum objeto particular, mas uma falta constitutiva.12 No fundo, tal falta é um aspecto do caráter relacional das coisas, do fato de que elas estão remetidas umas às outras, sem que percam sua posição própria. É algo que está enfatizado na definição de desejo proposta por nosso autor: « pela palavra desejo nós entendemos a relação que, ao mesmo tempo, une e separa seus termos, os faz ser um no outro ao mesmo tempo que um fora do outro ».13 https://brc-onenote.officeapps.live.com/o/onenoteframe.aspx?ui=pt-BR&hid=5a2b9e70-32ea-8311-afb6-f46cbbcc0495&sc=%7B%22pmo%22%3A%22https%3A%2F%2Fwww.onenote.com%22%2C%22pmshare%22%3Atrue%7D&wopisrc=https%3A%2F%2Funbbr.sharepoint.com%2Fsites%2F2021-2introduofilosofiaturmaiprof.herivelto%2F_vti_bin%2Fwopi.ashx%2Ffolders%2F01c55e58811b46c0b6b81ca0db7c3f03&mscc=1&wdorigin=teams-desktop.Regular.edutab&wdhostclicktime=1644880147842&wd=target(_Biblioteca%20de%20Conte%C3%BAdo/aulas.one|a7735140-94aa-4911-a22d-dcb48da89f21/Aula%2006%C2%A0%20/|%C2%A0%209%20fev|f43ec770-bb32-4b99-87c7-9d8c3f4c276e/)&hideheader=1&uih=Teams&embed=1&embedded=1&removeshareui=1&hidepagesearch=1&disablefile=0&disableview=0&disableprint=0&disablechat=1&uiembed=1&hhdr=1&jsapi=1&jsapiver=v1&newsession=1&corrid=65107d5a-4072-4345-9860-33d16a89c14f&usid=65107d5a-4072-4345-9860-33d16a89c14f&sftc=1&accloop=1&uihit=edutab&wdredirectionreason=Force_SingleStepBoot#sdfootnote12sym https://brc-onenote.officeapps.live.com/o/onenoteframe.aspx?ui=pt-BR&hid=5a2b9e70-32ea-8311-afb6-f46cbbcc0495&sc=%7B%22pmo%22%3A%22https%3A%2F%2Fwww.onenote.com%22%2C%22pmshare%22%3Atrue%7D&wopisrc=https%3A%2F%2Funbbr.sharepoint.com%2Fsites%2F2021-2introduofilosofiaturmaiprof.herivelto%2F_vti_bin%2Fwopi.ashx%2Ffolders%2F01c55e58811b46c0b6b81ca0db7c3f03&mscc=1&wdorigin=teams-desktop.Regular.edutab&wdhostclicktime=1644880147842&wd=target(_Biblioteca%20de%20Conte%C3%BAdo/aulas.one|a7735140-94aa-4911-a22d-dcb48da89f21/Aula%2006%C2%A0%20/|%C2%A0%209%20fev|f43ec770-bb32-4b99-87c7-9d8c3f4c276e/)&hideheader=1&uih=Teams&embed=1&embedded=1&removeshareui=1&hidepagesearch=1&disablefile=0&disableview=0&disableprint=0&disablechat=1&uiembed=1&hhdr=1&jsapi=1&jsapiver=v1&newsession=1&corrid=65107d5a-4072-4345-9860-33d16a89c14f&usid=65107d5a-4072-4345-9860-33d16a89c14f&sftc=1&accloop=1&uihit=edutab&wdredirectionreason=Force_SingleStepBoot#sdfootnote13sym
Compartilhar