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DELEGADO PROC PENAL AULA 01

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Sistemas Processuais Penais 
 
 
 
 
Sistema misto 
 
Possui 2 fases. 
 
- 1ª fase: inquisitorial, com instrução escrita e secreta, sem acusação e, por isso, sem contraditório. Nesta, objetiva-
se apurar a materialidade e a autoria do fato delituoso. 
- 2ª fase: acusatória, em que o órgão acusador apresenta a acusação, o réu se defende e o juiz julga, vigorando, 
em regra, a publicidade e a oralidade. 
A doutrina e a jurisprudência majoritária apontam o sistema acusatório no Brasil. 
Isso por conta dos vários princípios estampados na Constituição Federal: 
 
 
 
 
 
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Resquícios do sistema inquisitivo na legislação infraconstitucional 
(atuação do juiz de ofício) 
Produção de provas 
 
CPP Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: 
 
I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e 
relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; 
II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida 
sobre ponto relevante. 
 
Requisição de instauração de inquérito policial 
 
Art. 5o Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: 
 
II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem 
tiver qualidade para representá-lo. 
 
Decretação de medidas cautelares 
 
Art. 282, § 2o As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, de ofício ou a requerimento das partes ou, quando 
no curso da investigação criminal, por representação da autoridade policial ou mediante requerimento do Ministério 
Público. 
 
Decretação de prisão preventiva 
 
Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada 
pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assis-
tente, ou por representação da autoridade policial. 
 
OBS: não abrange prisão temporária (art. 2º da Lei 7.960/89) 
 
 
 
Princípios 
 
Presunção de inocência (estado de inocência ou presunção de 
não culpabilidade) 
 
CF, LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; 
CADH, art. 8 
 
2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove 
legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias 
mínimas: 
 
 
 
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Esse princípio se desdobra em 2 
 
Regra de tratamento 
 
A regra é responder ao processo penal em liberdade, e a exceção é estar preso. 
 
Regra probatória (ônus da prova e in dubio pro reo) 
 
A acusação tem o ônus de demonstrar a culpa do acusado além de qualquer dúvida razoável, e não este de provar 
sua inocência. 
Havendo dúvida, deve ser interpretada em favor do réu. 
O in dubio pro reo, além de derivar do princípio da presunção de inocência, é uma das manifestações do princípio 
do favor rei. 
 
Favor rei (favor libertatis) 
 
Constitui um conjunto de privilégios processuais em favor do acusado, justificado pela situação inicial de desigual-
dade em relação à acusação. 
São mecanismos de isonomia: 
- recursos privativos da defesa 
- proibição da reformatio in pejus 
- revisão criminal exclusivamente pro reo 
- in dubio pro reo 
 
Motivação das decisões judiciais 
 
Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, 
observados os seguintes princípios: 
 
IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob 
pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, 
ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudi-
que o interesse público à informação; 
 
Isonomia processual 
 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se (...) a igualdade, 
 
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; 
 
Juiz natural 
 
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção; 
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente; 
 
OBS: delegado natural (art. 2º, §4º da Lei 12.830/13) 
 
Devido processo legal 
 
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; 
OBS: devida investigação criminal (art. 144 da CF e art. 2º da Lei 12.830/13) 
 
Contraditório e ampla defesa 
 
 
 
 
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LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório 
e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; 
 
Contraditório: informação/conhecimento e participação/resistência 
Ampla defesa: autodefesa (disponível) e defesa técnica (indisponível) 
Positiva ou negativa. 
Direito de audiência (manifestação – interrogatório) e direito de presença. 
OBS: incidência de forma mitigada no inquérito (art. 7º, §11 do EOAB e súmula vinculante 14 do STF) 
 
Inexigibilidade de autoincriminação (nemo tenetur se detegere - direito de não produzir prova contra si 
mesmo) 
 
Manifesta-se de 2 formas: 
- não ser submetido a prova invasiva 
Ex: exame de sangue, exame de DNA 
- não adotar comportamento ativo incriminador 
Ex: reprodução simulada dos fatos, bafômetro, perícia grafotécnica, perícia vocal, confissão 
Direito ao silêncio nada mais é do que a inexigibilidade de confissão (de produção de prova oral). 
Abrange o direito de ficar calado e o direito de mentir (defensivamente) 
 
Silêncio e mentira no interrogatório 
 
- Vedado: primeira parte do interrogatório judicial (art. 187, § 1, do CPP), referente às perguntas sobre a sua quali-
ficação pessoal, 
- Permitido na segunda parte deste ato processual (art. 187, § 2° do CPP), referente aos fatos (defesa propriamente 
dita) 
Advertência deve ser feita pelo agente público no momento do interrogatório, da prisão e da adoção, da entrada na 
casa e da adoção de outros atos restritivos de direitos fundamentais. 
 
Vedação das provas ilícitas 
 
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos; 
CPP, Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas 
as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais 
 
§ 1o São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de causali-
dade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras. 
§ 2o Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da 
investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova. 
 
Doutrina distingue a prova proibida (vedada ou inadmissível) em: 
 
- prova ilícita: violadora de regra de direito material, geralmente estampada na CF (ex: confissão obtida mediante 
tortura) 
- prova ilegítima: obtida mediante violação de regra de direito processual, em regra hospedada na lei (ex: laudo 
pericial confeccionado por apenas um perito não oficial). 
O CPP e a própria CF acolhem essa distinção? 
Não, tratam uma prova que viole norma material ou processual sempre como prova ilícita. 
 
Duração razoável do processo (economia processual ou celeridade) 
 
LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios 
quegarantam a celeridade de sua tramitação. 
 
OBS: duração razoável da investigação 
 
 
 
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Hipóteses excepcionais ensejam relaxamento da prisão preventiva por excesso de prazo, inexistindo um prazo 
certo: 
 2 anos e 4 meses (HC 84.662) 
 1 ano e 5 meses (HC 79.789) 
 1 ano e 3 meses (HC 84.907) 
 1 ano(HC 84.181) 
 10 meses (HC 83.867) 
 
Ne bis in idem (vedação da dupla punição e do duplo processo pelo mesmo fato) 
 
Impede que a pessoa seja processada e condenada duas vezes pelo mesmo fato. 
Implica ainda na proibição de o agente ser processado novamente pelo mesmo fato quando já foi absolvido com 
sentença transitada em julgado. 
OBS: ne bis in idem investigativo 
 
Busca da verdade 
 
Doutrina moderna abandonou a noção de verdade material (absoluta e infalível), preferindo a verdade possível, 
construída na persecução criminal. 
 
Aplicação da Lei Processual Penal no Espaço 
 
Aplica-se como regra o princípio da territorialidade, assim como no Direito Penal. 
CPP, Art. 1o O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro (...) 
Decorre da soberania nacional. 
 
Exceções (extraterritorialidade ou territorialidade com aplicação de lei distinta do CPP): 
 
Art. 1o O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvados: 
 
I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional; (imunidades diplomáticas e consulares / TPI) 
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com 
os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade (in-
frações político-administrativas) 
 
III - os processos da competência da Justiça Militar 
 
CPPM 
 
IV - os processos da competência do tribunal especial (não mais existe Tribunal de Segurança Nacional) 
V - os processos por crimes de imprensa (não mais se aplica a Lei de Imprensa – STF, ADPF 130) 
 
Outras exceções: 
 
- abuso de autoridade (Lei 4.898/65) 
- foro por prerrogativa de função 
(Lei 8.038/90) 
- crimes falimentares (Lei 11.101/05) 
- Estatuto do Idoso (Lei 10.741/03) 
- Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06) 
- Lei de Drogas (Lei 11.343/06) 
- Juizado Especial (Lei 9.099/95) 
 
Aplicação da Lei Processual Penal no Tempo 
 
A regra geral é o princípio da aplicação imediata (tempus regit actum). 
 
 
 
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Art. 2o A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência 
da lei anterior. 
 
Pouco importa se mais gravosa ou não ao réu, atingindo inclusive processos em curso. 
Repristinação é possível por força do art. 2º, §3º da LINDB. 
 
Em regra a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência, exceto se houver disposição 
em contrário. Ou seja, no DireitoProcessual Penal e no Direito como um todo, a repristinação pode ocorrer se houver 
expressa determinação legal. 
 
Exceção: 
 
Lei de Introdução ao Código de Processo Penal 
Art. 3o O prazo já iniciado, inclusive o estabelecido para a interposição de recurso, será regulado pela lei anterior, 
se esta não prescrever prazo menor do que o fixado no Código de Processo Penal. 
Prazo já iniciado (inclusive de recurso): 
- lei anterior prevê prazo maior: continua aplicando lei anterior 
- lei posterior prevê prazo maior (não prescreve prazo menor): aplica-se a lei posterior 
 
Classificação da Lei Processual Penal 
 
Normas processuais penais híbridas (mistas) 
A mesma norma possui caráter tanto processual penal quanto penal. 
Ex: perdão, da perempção, renúncia, decadência etc., que promovem a extinção da punibilidade do agente. 
 
-Normas processuais penais heterotópicas 
Previstas em diplomas processuais penais mas possuem conteúdo penal, ou previstas em leis materiais mas com 
teor processual. 
 Ex: art. 100 do CP (ação penal) 
 
Interpretação da Lei Processual Penal 
 
Quanto ao resultado 
 
a) Declaratória: é aquela que resulta da perfeita sintonia entre o texto da lei e a sua vontade. 
b) Extensiva: é a que se destina a corrigir uma fórmula legal excessivamente estreita. A lei disse menos do que 
desejava. 
c) Analógica: é a que se verifica quando a lei contém uma fórmula casuística seguida de uma fórmula genérica. 
É diferente da analogia, situação em que não há norma, e a lacuna deve ser preenchida por outra semelhante. 
 
Admite-se tanto a interpretação analógica como a analogia no processo penal, inclusive in malam partem. 
Já no Direito Penal não se admite a analogia in malan partem. 
Art. 3o A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos 
princípios gerais de direito. 
 
Questões 
 
01. (PF – Delegado – CESPE) José foi indiciado em inquérito policial por crime de contrabando e, devidamente 
intimado, compareceu perante a autoridade policial para interrogatório. Ao ser indagado a respeito de seus dados 
qualificativos para o preenchimento da primeira parte do interrogatório, José arguiu o direito ao silêncio, nada res-
pondendo. Nessa situação hipotética, cabe à autoridade policial alertar José de que a sua recusa em prestar as 
informações solicitadas acarreta responsabilidade penal, porque a lei é taxativa quanto à obrigatoriedade da quali-
ficação do acusado. 
 
02. (PCMT – Delegado – CESPE) O princípio da paridade de armas (par condicio) 
 
 
 
 
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A) não é aplicável ao processo penal brasileiro em face do sistema acusatório. 
B) se aplica ao processo penal de forma absoluta. 
C) é também denominado princípio do contraditório. 
D) é exercido sem restrições no âmbito do inquérito policial. 
E) é mitigado na ação penal pública pelo princípio da oficialidade. 
 
03. (TRF1 – Técnico – CESPE) Juiz que se utilizar do silêncio do acusado para formar seu próprio convencimento 
não incorrerá em ofensa ao princípio processual penal da não autoincriminação, ainda que a opção do acusado por 
abster-se de falar não constitua confissão. 
 
04. (TRF1 – Técnico – CESPE) A não comunicação ao acusado de seu direito de permanecer em silêncio é causa 
de nulidade relativa, cujo reconhecimento depende da comprovação do prejuízo. 
 
05. (Câmara dos Deputados – Analista – CESPE) A teoria dos frutos da árvore envenenada, de origem norte-
americana e consagrada na CF, proclama a mácula de provas supostamente lícitas e admissíveis, obtidas, todavia, 
a partir de provas declaradas nulas pela forma ilícita de sua colheita. 
 
06. (PCPE – Delegado – CESPE – Adaptada) O princípio da verdade real vigora de forma absoluta no processo 
penal brasileiro. 
 
07. (PCPE – Delegado – CESPE – Adaptada) O sistema processual acusatório não restringe a ingerência, de 
ofício, do magistrado antes da fase processual da persecução penal. 
 
08. (PCPE – Delegado – CESPE – Adaptada) No sistema processual inquisitivo, o processo é público; a confissão 
é elemento suficiente para a condenação; e as funções de acusação e julgamento são atribuídas a pessoas distintas. 
 
09. (DPRN – CESPE – Adaptada) A lei processual penal veda a interpretação extensiva para prejudicar o réu. 
 
10. (DPRN – CESPE – Adaptada) A interpretação extensiva é um processo de integração por meio do qual se 
aplica a uma determinada situação para a qual inexiste hipótese normativa própria um preceito que regula hipótese 
semelhante. 
 
11. (DPRN – CESPE – Adaptada) No sistema inquisitivo, a confissão é considerada a rainha das provas e predo-
minam nele procedimentos exclusivamente escritos. 
 
12. (DPMA – CESPE – Adaptada) O processo penal inquisitivo é sigiloso, escrito, não contraditório e reúne, na 
mesma pessoa, as funções de investigar, acusar e defender, ficando apenas o julgamento a cargo de autoridade 
distinta e imparcial. 
 
13. (DPMA – CESPE – Adaptada)A Lei n.º 11.690/2008, que alterou dispositivos do CPP, ao conceder ao julgador 
a faculdade de ordenar, de ofício, a produção antecipada de provas urgentes e relevantes, introduziu o processo 
inquisitivo no ordenamento jurídico brasileiro. 
 
14. (DPMA – CESPE – Adaptada) No processo penal misto, há uma fase inicial inquisitiva, na qual se procede a 
uma investigação preliminar e a uma instrução preparatória, e uma fase final, em que se procede ao julgamento, 
sem, contudo, assegurar as garantias do processo acusatório. 
 
 
 
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GABARITO: 
 
01) CERTO. 
02) E. 
03) ERRADO. 
04) CERTO. 
05) CERTO. 
06) ERRADO. 
07) ERRADO. 
08) ERRADO. 
09) ERRADO. 
10) ERRADO. 
11) CERTO. 
12) ERRADO. 
13) ERRADO. 
14) ERRADO.

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