Prévia do material em texto
Direito Tributário para XXIII Exame da OAB Curso de Teoria e Questões Prof. Fábio Dutra- Aula 08 Prof. Fábio Dutra www.estrategiaconcursos.com.br Página 4 de 24 Ao estudar Direito Administrativo, você verá que os atos administrativos possuem certos requisitos para que se tornem válidos. Além disso, há também determinadas características ou atributos típicos dos atos administrativos. Com base nos conceitos oriundos do Direito Administrativo, é possível concluir que de fato o lançamento é um ato administrativo. Para resolver as questões, o que você deve ter em mente é o seguinte: ¾ O lançamento é um procedimento administrativo (se a questão não fizer ressalvas); ¾ O lançamento é um ato administrativo, embora resulte de um procedimento, por possuir determinados requisitos de validade e características inerentes aos atos administrativos (se a questão se aprofundar na discussão, o que normalmente não ocorre). Outro ponto de discussão seria a natureza do lançamento. Novamente, em vez de nos prolongarmos nos comentários, vou ensinar como o tema deve ser levado para a prova: o lançamento declara a obrigação tributária (verifica a ocorrência do fato gerador) já existente e constitui o crédito tributário (previsto no início do caput do art. 142). Portanto, pode-se dizer que o lançamento possui natureza jurídica mista. Lançamento = Natureza jurídica mista x Declara obrigação tributária; e x Constitui crédito tributário. 2.1 ± Competência para lançar O caput do art. 142, do CTN, apenas estabelece que compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento. Quem seria essa autoridade administrativa? Cabe ao legislador de cada ente federativo determinar. A rigor, a competência é exclusiva da autoridade determinada pelo legislador. Por conseguinte, não há possibilidade de delegação ou avocação. Direito Tributário para XXIII Exame da OAB Curso de Teoria e Questões Prof. Fábio Dutra- Aula 08 Prof. Fábio Dutra www.estrategiaconcursos.com.br Página 7 de 24 Não confunda: A legislação material somente se aplica aos fatos geradores futuros, pois ela deve estar vigente e produzindo efeitos no momento da ocorrência do fato gerador. Cumpre-se, assim, o princípio da irretroatividade tributária. Sob outra ótica, quando for realizado o lançamento, deve-se levar em consideração a legislação material vigente na data do fato gerador, ainda que já tenha sido revogada. Cabe destacar que, de acordo com o § 2º do próprio art. 144, não se aplica o que acabamos de ver aos impostos lançados por períodos certos de tempo (IPVA e IPTU, por exemplo), desde que a lei fixe expressamente a data em que o fato gerador se considera ocorrido. Vamos entender o que o legislador quis dizer com isso. O que vimos até agora foi que o lançamento deve utilizar como base a legislação vigente na data da ocorrência do fato gerador, correto? Em relação aos impostos lançados por períodos certos de tempo, isso não se aplica se a lei fixar a data em que o fato gerador se considera ocorrido. Na prática, a situação não muda muito, já que, quando a lei fixar um momento em que o imposto se considera ocorrido, aplica-se a legislação que estiver em vigor nesse momento. A título de exemplo, se o fato gerador do IPVA ocorre no dia 1º de Janeiro de cada ano, aplica-se ao lançamento a legislação que estiver em vigor nessa data. Assim, na essência, a regra do § 2º do art. 144 não é uma exceção, mas deve ser memorizada para fins de prova! 2.2.2 ± Legislação aplicável em relação aos aspectos formais Além dos aspectos materiais, no momento do lançamento a autoridade deve respeitar regras formais. Para entender qual será a legislação aplicável em cada caso, vamos ver o que o legislador estabeleceu no § 1º do art. 144: § 1º Aplica-se ao lançamento a legislação que, posteriormente à ocorrência do fato gerador da obrigação, tenha instituído novos critérios de apuração ou processos de fiscalização, ampliado os poderes de investigação das autoridades administrativas, ou outorgado ao crédito maiores garantias ou privilégios, exceto, Direito Tributário para XXIII Exame da OAB Curso de Teoria e Questões Prof. Fábio Dutra- Aula 08 Prof. Fábio Dutra www.estrategiaconcursos.com.br Página 11 de 24 (a) reduziu para 2% a alíquota do ISS sobre a atividade de manutenção e reparo de instrumentos musicais; e (b) reduziu a multa pelo inadimplemento do imposto incidente nessa mesma atividade, que passou a ser de 10% sobre o ISS devido e não recolhido. Em fevereiro de 2014, o Município X promoveu o lançamento do imposto, exigindo do contribuinte o montante de R$ 25.000,00 ± sendo R$ 20.000,00 de imposto (5% sobre R$ 400.000,00, valor dos serviços prestados) e R$ 5.000,00 a título de multa pela falta de pagamento (25% do imposto devido). Sobre a hipótese apresentada, assinale a afirmativa correta. A) O lançamento está correto em relação ao imposto e à multa. B) O lançamento está incorreto tanto em relação ao imposto (que deveria observar a nova alíquota de 2%) quanto em relação à multa (que deveria ser de 10% sobre o ISS devido e não recolhido). C) O lançamento está correto em relação à multa, mas incorreto em relação ao imposto (que deveria observar a nova alíquota de 2%). D) O lançamento está correto em relação ao imposto, mas incorreto em relação à multa (que deveria ser de 10% sobre o ISS devido e não recolhido). Comentário: O Código Tributário Nacional estabelece que o lançamento reporta-se à data da ocorrência do fato gerador da obrigação e rege-se pela lei então vigente, ainda que posteriormente modificada ou revogada. Portanto, a alíquota aplicável ao ISS deve ser aquela que estava vigente na data do fato gerador, isto é, 5%. Quanto à aplicação da penalidade aplicável sobre o ISS devido e não recolhido, deve-se aplicar retroativamente a lei que reduzir o valor da penalidade, em UD]mR�GR�SUHYLVWR�QR�DUW�������,,��³F´��GR�&71��$VVLP�VHQGR��DSOLFD-se a multa de 10%, e não 25%. Dessa forma, O lançamento está correto em relação ao imposto, mas incorreto em relação à multa (que deveria ser de 10% sobre o ISS devido e não recolhido). Gabarito: Letra D 3 ± ALTERAÇÃO DO LANÇAMENTO Após a conclusão do lançamento, para que este possa produzir efeitos em relação ao sujeito passivo, é necessário que haja a notificação do lançamento. Trata-se de comunicação oficial feita ao devedor por meio de notificação de lançamento ou mesmo por carnê de cobrança. Ao ser notificado, o contribuinte terá duas opções: quitar a obrigação ou impugnar o lançamento contra ele realizado. Obviamente, ele terá um prazo para agir diante da notificação. Portanto, antes de o contribuinte ser Direito Tributário para XXIII Exame da OAB Curso de Teoria e Questões Prof. Fábio Dutra- Aula 08 Prof. Fábio Dutra www.estrategiaconcursos.com.br Página 12 de 24 notificado da existência do crédito tributário, o lançamento não produz qualquer efeito (contagem do prazo para impugnação, por exemplo). É por esse motivo que, antes da comunicação oficial, a autoridade administrativa pode alterar o lançamento para corrigir informações ou valores, já que o contribuinte ainda não foi informado da dívida tributária. Podemos dizer, então, que nesse período o lançamento é revisível. Até a notificação, a revisibilidade do lançamento é absoluta. Com a notificação, a situação muda totalmente. A partir deste momento, a regra é a vedação da alteração do lançamento efetuado. Dizemos, neste caso, que o lançamento é presumidamente definitivo. Contudo, tal presunção é relativa, já que o art. 145 do CTN, seguindo a lógica do que acabamos de ver, previu situações excepcionais que permitem a alteração do lançamento regularmente notificado. Senão, vejamos: Art. 145. O lançamento regularmente notificado ao sujeito passivo só pode ser alteradoem virtude de: I - impugnação do sujeito passivo; II - recurso de ofício; III - iniciativa de ofício da autoridade administrativa, nos casos previstos no artigo 149. Vamos estudar cada uma dessas hipóteses de alteração do lançamento. Antes disso, seria interessante que você entendesse a seguinte dica de prova: DICA DE PROVA: Fique atento quando a questão mencionar o lançamento, afirmando que é definitivo. Ele é apenas presumidamente definitivo, pois pode ser alterado nas hipóteses do art. 145 do CTN. Como consequência, o crédito tributário também não está definitivamente constituído com o lançamento. 3.1 ± Impugnação do sujeito passivo (Art. 145, I) Acabamos de estudar que, após ser notificado do lançamento efetuado, o sujeito passivo tem basicamente duas opções: pagar ou impugnar o lançamento. Direito Tributário para XXIII Exame da OAB Curso de Teoria e Questões Prof. Fábio Dutra- Aula 08 Prof. Fábio Dutra www.estrategiaconcursos.com.br Página 16 de 24 contribuinte que, ao fazer acontecer o fato gerador, tinha por base a interpretação anterior da lei tributária. Portanto, as alterações nos critérios jurídicos, ou melhor, na interpretação da lei só pode ser feita, em relação ao mesmo sujeito passivo, quanto aos fatos geradores que vierem a ocorrer após a mudança na interpretação. A mudança nos critérios jurídicos possui efeitos ex nunc, aplicando-se apenas aos fatos geradores futuros. Nesse sentido, o aluno deve memorizar que não cabe alteração de lançamento com base em erro de direito. Vejamos o entendimento do STJ sobre o assunto: TRIBUTÁRIO - IMPORTAÇÃO - REVISÃO DE LANÇAMENTO POR ERRO DE DIREITO - SÚMULA 227/TFR. 1. Em havendo na declaração do contribuinte erro de direito não detectado pelo Fisco, que a aceita integralmente, a mudança de entendimento constitui-se em alteração de critério vedada pelo CTN. 2. Só a falsidade, o erro ou a omissão são capazes de provocar a revisão do lançamento com a conseqüente autuação do contribuinte. (STJ, REsp 171.119/SP, Segunda Turma, Rel. Min. Eliana Calmon, Julgamento em 07/08/2001) Por outro lado, R� ³HUUR� GH� IDWR´�� TXDQGR� RFRUULGR�� GHYH� VHU� indubitavelmente alterado, com base no art. 149 do CTN, respeitando, é claro, o prazo decadencial, conforme a regra prevista no par. único do mesmo artigo. O erro de fato ocorre quando algum fato relevante deixa de ser levado em consideração no momento do lançamento ou mesmo quando as informações tomadas como base para o lançamento não correspondem à realidade. Como exemplo, imagine que o IPVA referente a um carro foi calculado sobre uma base de cálculo incorreta. Nesse caso, o lançamento deve ser alterado de ofício com base no art. 149, VIII, do CTN. Direito Tributário para XXIII Exame da OAB Curso de Teoria e Questões Prof. Fábio Dutra- Aula 08 Prof. Fábio Dutra www.estrategiaconcursos.com.br Página 18 de 24 x IPTU; x IPVA; x Taxas; x Contribuição de Melhoria; x Contribuições Corporativas (de interesse das categorias profissionais ou econômicas); x Contribuição de Iluminação Pública. Não há nenhuma norma geral que determine quais os tributos que devem ser lançados de ofício. O art. 149, I, permite que a lei de cada ente federativo venha definir se será ou não de ofício. 4.2 ± Lançamento por declaração Na sistemática do lançamento por declaração (ou misto), o sujeito passivo atua mais intensamente, auxiliando a autoridade administrativa com as informações necessárias para efetuar o lançamento. Nessa modalidade lançamento, o contribuinte fica obrigado a prestar declaração com informações sobre a matéria de fato (valor, data de ocorrência do fato gerador, informações pessoais etc.). Com base nas informações fornecidas pelo contribuinte, a autoridade providencia o lançamento, notificando-o para pagamento. A entrega de declaração constitui típica obrigação acessória. Um aspecto pertinente a essa modalidade de lançamento é a retificação da declaração, quando provocada pelo próprio declarante. Vamos ver o que o CTN estabelece sobre o assunto: Art. 147: (...) § 1º A retificação da declaração por iniciativa do próprio declarante, quando vise a reduzir ou a excluir tributo, só é admissível mediante comprovação do erro em que se funde, e antes de notificado o lançamento. Direito Tributário para XXIII Exame da OAB Curso de Teoria e Questões Prof. Fábio Dutra- Aula 08 Prof. Fábio Dutra www.estrategiaconcursos.com.br Página 20 de 24 O arbitramento não é considerado como uma modalidade de lançamento, mas sim como técnica para definição da base de cálculo. Uma das maneiras de efetuar o arbitramento é por meio das pautas fiscais, sendo esta semelhante a uma tabela dos valores aproximados dos produtos, utilizada para definir a base de cálculo do tributo. Contudo, o uso da pauta fiscal é restrito às hipóteses previstas no art. 148 do CTN, não podendo ser utilizada como presunção absoluta de valor, ou seja, quando for possível apurar o valor real da base de cálculo, isso deve ser feito. Nesse sentido, como já foi citado em outra aula, o STJ já decidiu o seguinte: Súmula STJ 431 - É ilegal a cobrança de ICMS com base no valor da mercadoria submetido ao regime de pauta fiscal. Na verdade, o que o STJ considerou ilegal foi o uso indiscriminado dessa técnica para apuração da base de cálculo do ICMS. DICA DE PROVA: Se uma questão transcrever a Súmula 431 do STJ, você pode considerar correta, sem pestanejar. Deve ser destacado, em tempo, que o lançamento por arbitramento não possui natureza punitiva, embora seja utilizado em situações em que o contribuinte seja inidôneo ou omisso. Por fim, não cometa o equívoco de imaginar que o imposto de renda das pessoas físicas (IRPF) é lançado por declaração, pelo fato de haver aquela famosa declaração a ser entregue à Receita Federal. Repare a diferença: no lançamento por declaração, o contribuinte presta as informações e aguarda o lançamento da autoridade fiscal bem como a notificação para pagamento. Por outro lado, no caso do IRPF, o contribuinte prepara a declaração, antecipa o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa, e esta apenas faz a posterior conferência, homologando o procedimento. Trata-se, pois, de lançamento por homologação, estudado no tópico a seguir. Direito Tributário para XXIII Exame da OAB Curso de Teoria e Questões Prof. Fábio Dutra- Aula 08 Prof. Fábio Dutra www.estrategiaconcursos.com.br Página 22 de 24 terceiro, anteriores à homologação, com o objetivo de extinguir total ou parcialmente o crédito, não influem sobre a obrigação tributária. O que isso significa? A obrigação continua existindo! Nessa esteira, se a autoridade administrativa detectar que os valores declarados e pagos não condizem com o montante devido, cabe a ela lançar a diferença de ofício, com base no art. 149, V, do CTN. Dissemos que deve ser lançada apenas a diferença, pois o § 3º assegura que o que foi pago deve ser pago na apuração do saldo devido, inclusive para fins de aplicação de penalidades. Ainda sobre a homologação do pagamento, deve-se destacar que pode ser expressa ou tácita. Para ficar mais claro, vamos ver o que estabelece o § 4º do art. 150, do CTN: § 4º Se a lei não fixar prazo a homologação, será ele de cinco anos, a contar da ocorrência do fato gerador; expirado esse prazo sem que a Fazenda Pública se tenha pronunciado, considera-se homologado o lançamento e definitivamente extinto o crédito, salvo se comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação. A que se refere esse prazo de 5 anos? Você se lembra da decadência? Esse é o prazo decadencial para o fisco verificar o que foi pago e, sendo o caso, lançar de ofício eventuais diferenças. Sendo assim, se decorrer o prazo quinqüenal, o lançamento é considerado homologado tacitamente, não havendo possibilidadede se constituir as diferenças porventura cabíveis. Como o assunto se refere ao instituto da decadência, vamos deixar para aprofundar o tema no momento certo, a fim de evitar confusões. Por hora, é apenas necessário que você saiba que a homologação é expressa, se for feita dentro do prazo de cinco anos, contado da ocorrência do fato gerador, ou tácita, caso não ocorra dentro do referido prazo. Deve ser guardado, ainda, que tal prazo não se aplica se for comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação. É importante dizer também que o CTN permita que outra lei venha fixar o prazo para homologação. Como vimos, trata-se de prazo decadencial. Sendo assim, a referida lei deve ser complementar, seguindo o comando previsto no art. 146, III, b, da CF/88. Antes de encerrar o estudo do lançamento por homologação, cabe destacar que o entendimento do STJ é que a entrega de declaração (obrigação