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Universidade Federal do Rio Grande do Sul Departamento de Engenharia de Minas Escola de Engenharia Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos ÁREA1 – Intemperismo e solos Autor: André Zingano Revisão: Rodrigo Peroni página - 2 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos Índice 1. Intemperismo _________________________________________________________ 4 1.1. Conceito ________________________________________________________________________ 4 1.2. Tipos de intemperismo ____________________________________________________________ 4 1.3. Processos do intemperismo físico __________________________________________________ 5 1.3.1. Variação da temperatura ________________________________________________________ 5 1.3.2. Hidratação dos minerais das rochas _______________________________________________ 5 1.3.3. Congelamento e degelo _________________________________________________________ 6 1.3.4. Crescimento dos minerais (cristais) ________________________________________________ 6 1.3.5. Alívio de pressões _____________________________________________________________ 7 1.4. Princípios do intemperismo químico _________________________________________________ 9 1.5. Processos do intemperismo químico ________________________________________________ 9 1.5.1. Oxidação _____________________________________________________________________ 9 1.5.2. Dissolução __________________________________________________________________ 10 1.5.3. Hidrólise ____________________________________________________________________ 11 1.6. Intemperismo predominante _______________________________________________________ 12 1.6.1. Resistência dos minerais ao intemperismo químico – escala de resistência do intemperismo __ 12 1.6.2. Resistência à decomposição dos minerais no desenvolvimento de solos residuais __________ 12 1.6.3. Velocidade do intemperismo químico em rochas sãs _________________________________ 13 1.7. Saprolitos ______________________________________________________________________ 14 1.7.1. Alteração dos saprolitos e constituição dos saprolitos _________________________________ 14 1.7.2. Mecanismo de alteração dos saprolitos ____________________________________________ 14 1.7.3. Ensaios de durabilidade dos saprolitos ____________________________________________ 15 1.7.4. Produtos finais do intemperismo químico dos minerais de rocha ________________________ 15 2. Solos _______________________________________________________________ 16 2.1. Constituição dos Solos ___________________________________________________________ 16 2.2. Classificação geológica dos solos _________________________________________________ 16 2.3. Solos residuais __________________________________________________________________ 17 2.3.1. Desenvolvimento do manto de intemperismo _______________________________________ 17 2.3.2. Camadas constituintes dos solos residuais sobre os saprolitos _________________________ 17 2.3.3. Horizonte C __________________________________________________________________ 17 2.3.4. Horizonte B ou solo residual maduro ______________________________________________ 18 2.3.5. Horizonte A __________________________________________________________________ 18 2.3.6. Processos de formação dos solos residuais ________________________________________ 19 2.3.7. Fatores que influenciam na formação dos solos residuais _____________________________ 19 2.3.7.1. Clima e topografia _________________________________________________________ 19 2.3.7.2. Textura da rocha matriz ____________________________________________________ 20 2.3.8. Estrutura da rocha matriz _______________________________________________________ 20 2.3.8.1. Estrutura maciça __________________________________________________________ 20 2.3.8.2. Estrutura fendilhada _______________________________________________________ 20 2.3.8.3. Falha tectônica de compressão ______________________________________________ 21 2.3.8.4. Diques e veios ____________________________________________________________ 21 2.3.8.5. Estrutura dobrada com bandas alternadas de rochas com diferentes resistências _______ 22 2.3.8.6. Composição mineralógica da rocha mãe _______________________________________ 23 2.4. Solos Transportados _____________________________________________________________ 23 2.4.1. Solos fluviais ou aluviais ________________________________________________________ 23 2.4.2. Solos fluviais formado no leito dos rios senis ________________________________________ 23 2.4.3. Solos fluviais no leito dos rios senis _______________________________________________ 24 2.4.4. Características dos pedregulhos e areias finas ______________________________________ 25 2.4.5. Solos fluviais formados nas planícies de inundação dos rios senis _______________________ 25 página - 3 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos 2.4.5.1. Deposição nas planícies de inundação _________________________________________ 25 2.4.5.2. Solos onde o rio não meandrou ______________________________________________ 26 2.4.5.3. Solos onde o rio meandrou __________________________________________________ 26 2.4.6. Características das camadas de lama dos solos fluviais _______________________________ 27 2.4.7. Importância das camadas de lama no subsolo das planícies de inundação ________________ 28 2.4.8. Solos lacustres de planície ______________________________________________________ 28 2.4.8.1. Deposição dentro dos lagos _________________________________________________ 28 2.4.9. Solos resultantes dentro dos lagos _______________________________________________ 29 2.4.9.1. Características das lamas lacustres ___________________________________________ 29 2.4.10. Solos marinhos de praias rasas _________________________________________________ 29 2.4.10.1. Deposição marinha nas Planícies Costeiras ____________________________________ 29 2.4.11. Solos resultantes nas Planícies Costeiras _________________________________________ 30 2.4.11.1. Areias finas - características das areias marinhas _______________________________ 30 2.4.11.2. Solos eólicos – deposição eólica ____________________________________________ 30 2.4.11.3. Solos resultantes no Brasil _________________________________________________ 30 2.4.11.4. Características das areias finas eólicas _______________________________________ 30 2.4.12. Solos coluviais ______________________________________________________________ 31 2.4.12.1. Deposição pela gravidade __________________________________________________ 31 2.4.12.2. Solos resultantes _________________________________________________________ 31 2.4.12.3. Características dos colúvios ou talus _________________________________________ 31 2.4.13. Processos pedológicos nos solos transportados ____________________________________ 32 2.5. Solos Orgânicos ou Turfas ________________________________________________________ 33 2.5.1. Decomposição da celulose ______________________________________________________ 33 2.5.1.1. Decomposição oxidante ____________________________________________________ 33 2.5.1.2. Decomposição humificante __________________________________________________ 33 2.5.2. Formação das turfas ___________________________________________________________ 33 2.5.3. Ocorrência das turfas __________________________________________________________ 35 2.5.4. Características das turfas _______________________________________________________ 35 página - 4 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos 1. INTEMPERISMO 1.1. ConceitoConjunto de processos: físicos, químicos, físico-químicos que atuam na superfície dos continentes e que acabam transformando as rochas, após milhares a milhões de anos de atuação: ROCHA SÃ SAPROLITOS SOLOS Materiais tenazes Rochas podres ou Parcialmente decompostas Materiais friáveis c=500 a 1800 Kgf/cm2 c=0a50 Kgf/cm2 Onde c = Resistência à compressão simples. Rochas são agregados de minerais firmemente entrelaçados e/ou fortemente cimentados, que não são desagregados pela pressão dos dedos. Rochas sedimentares como argilitos e folhelhos podem ser desagregados quando pressionados com os dedos. Solos são agregados de minerais (na sua maioria argilo- minerais) justapostos ou frouxamente entrelaçados e/ou fracamente cimentados, que são desagregados pela pressão dos dedos quando úmidos ou secos. Os solos e os saprolitos são o resultado final do intemperismo físico e químico sobre as rochas. Rochas sedimentares, como argilitos, possuem uma resistência mecânica semelhante aos solos, mas não devem ser consideradas como solos. 1.2. Tipos de intemperismo Intemperismo físico compreende os processos que fraturam ou fragmentam as rochas e desagregam os minerais das rochas. Intemperismo químico compreende os processos capazes de decomporem os minerais das rochas. Essa decomposição transforma os minerais primários em minerais secundários (argilo-minerais). Figura 1 – Esquema de horizontes de intemperismo de uma rocha. página - 5 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos SOLO SAPROLITO ROCHA Figura 2 – Foto ilustrativa dos horizontes de intemperismo de uma rocha. 1.3. Processos do intemperismo físico 1.3.1. VARIAÇÃO DA TEMPERATURA As rochas, por ação do sol, são aquecidas 1,5 a 2,5 vezes mais que a atmosfera, apresentando temperaturas acima de 60°C. À noite elas passam a ter temperaturas da ordem de 20°C. Em algumas regiões, pode chegar até 10°C e em outras, até de 0°C. Cada mineral possui um coeficiente de dilatação diferenciado, provocando a desagregação da rocha devido as tensões de dilatação e compressão internas no maciço rochoso. As rochas, nestas condições: Durante o dia : DILATAM-SE Durante a noite: CONTRAEM-SE Sendo submetidas diariamente a esforços intermitentes que após dezenas a centenas de milhares de solicitações são capazes de provocarem o fraturamento das rochas, por fadiga. 1.3.2. HIDRATAÇÃO DOS MINERAIS DAS ROCHAS A maioria dos minerais das rochas, inclusive os feldspatos: hidratam-se com aumento de volume deslocando e quebrando os minerais adjacentes. A hidratação dos minerais origina tensões internas que são as principais responsáveis pela desagregação das rochas, dando origem a solos com fragmentos de rocha e arenosos, quando originários de página - 6 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos rochas macro-granulares (granitos, gnaisses, conglomerados, arenitos, etc) e dando origem a solos siltosos, quando originários de rochas micro-granulares (basaltos, riolitos, etc). 1.3.3. CONGELAMENTO E DEGELO A água ao congelar-se, cristaliza-se e aumenta em 9% seu volume. Quando uma fenda estiver cheia de água e a temperatura atingir –22°C, o congelamento da água exerce sobre as paredes uma força expansiva da ordem de 2000 Kgf/cm2, que poucas rochas são capazes de resistir. A repetição periódica do congelamento e degelo das águas intersticiais, que ocupam parcialmente ou totalmente os poros e as fendas, acaba por fragmentar a rocha, mesmo as mais resistentes. Em regiões sujeitas a ciclos de congelamento e degelo, as rochas estão cobertas por uma camada de cascalho anguloso (fragmentos de rocha) resultantes da ação do gelo. Tensões nas fraturas Devido ao degêlo Figura 3 – Atuação de tensões nas fraturas devido à ação de gelo e degelo. Figura 4 – Figura ilustrativa da fragmentação de rochas devido ao intemperismo físico em ação de gelo e degelo. 1.3.4. CRESCIMENTO DOS MINERAIS (CRISTAIS) As águas de infiltração e/ou gases podem precipitar, de forma lenta e gradual, solutos nas fendas das rochas, dando origem a cristalização de sais ou minerais. Os minerais, dessa forma, podem exercer forças de expansão devido a cristalização, similares às do congelamento das águas intersticiais, nas paredes das fendas, capazes de provocar a fragmentação das rochas adjacentes de forma lenta e progressiva. página - 7 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos 1.3.5. ALÍVIO DE PRESSÕES Degelo de espessas camadas de gelo após um período glacial ou erosões de espessas camadas de solos e rochas provocam nos maciços rochosos alívio de pressão e conseqüente expansão do maciço, originando fraturas paralelas à superfície do terreno ou a abertura de fendas existentes. O efeito de alívio de pressões se faz sentir até centenas de metros abaixo da superfície do terreno. Esse tipo de intemperismo tem importância em barragens construídas em vales formados por erosão. Figura 5 – Esquema de intemperismo físico pela remoção de pacote de rochas gerando fraturas de alívio. Figura 6 – Figura ilustrativa da geração de tensões de alívio. O alívio de pressão faz-se sentir tanto no sentido vertical como no sentido horizontal. Devido as grandes massas de rocha removidas por erosão, o número de fendas abertas por alívio de pressão é significativo e, fatalmente, ocorrerão grandes fugas de água sob as barragens construídas em tais vales. página - 8 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos Figura 7 – Problemas de locação de maciço de barragem associado a fraturas. Fundações por sapatas sobre rocha pressupõem recalques nulos. Mas, se existir abaixo da superfície da rocha uma fenda aberta, horizontal ou inclinada, recalques significativos ocorrerão, provocando fissuras, trincas e até fraturas no edifício, comprometendo sua estabilidade. Figura 8 – Problemas de locação de fundações associado a fraturas. Na caso de taludes em cortes de estrada. Quando é realizada a escavação para a abertura da estrada, é retirado o apoio natural do maciço rochoso. Como conseqüência, aparecem fissuras no maciço rochoso ou solo, podendo ocorrer a ruptura do talude. Figura 9 – Problemas de estabilidade de taludes de corte de estradas associado a fraturas. NA página - 9 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos 1.4. Princípios do intemperismo químico A água de infiltração, proveniente da chuva, que chega até as rochas, é levemente ácida, porque incorpora: CO2, oxigênio e nitrogênio ao atravessar a atmosfera; Ácidos orgânicos e CO2 provenientes da transpiração e putrefação dos organismos, em geral microorganismos, que existem em abundância nos poros da parte superior dos solos sobre as rochas. As substâncias em solução, de grande mobilidade e grande atividade química, são capazes de realizar uma permuta de radicais básicos ou ácidos com minerais das rochas. Da mesma forma, os colóides, que ocorrem também em suspensão nas águas de infiltração, sendo de fácil dispersão e possuindo íons na capa externa de água absorvida, podem reagir com os minerais das rochas. Assim, o mecanismo do intemperismo químico consiste na troca lenta e gradual de íons, durantes milhares (ou milhões) de anos entre os solutos e os colóides das águas de infiltração de um lado e os minerais das rochas de outro lado. O intemperismo químico depende, portanto, exclusivamente da água, predominando nos climas úmidos esendo mínimo nos climas desérticos. Para que a decomposição química dos minerais se efetue, é necessário que haja um fornecimento contínuo de íons em solução e/ou colóides em suspensão pelas águas de infiltração, que percolam em direção à rocha. Além da presença de água, as condições de pH e eH do ambiente de decomposição contribuem para a velocidade do intemperismo e os minerais que serão formados, por exemplo: dependendo das condições de pH e eH o Fe pode se alterar para Fe+2 ou Fe+3. Como, abaixo do nível de drenagem de uma região, as águas não se encontram em movimento, este nível é o limite inferior do intemperismo químico, ou seja, abaixo do nível de drenagem não ocorre decomposição das rochas. Figura 10 – Zone de atuação do intemperismo químico pela variação do nível freático. Na zona de intemperismo, verifica-se um grande número de reações químicas e, conforme forem estas reações, assim serão classificados os processos de intemperismo químico. 1.5. Processos do intemperismo químico 1.5.1. OXIDAÇÃO Os íons de oxigênio contidos nas águas de infiltração, provenientes da atmosfera e da dissociação das moléculas de água, reagem com os minerais escuros das rochas liberando óxidos de ferro hidratados. Exemplo: página - 10 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos mFeS2 + nH2O + pO- = x(Fe2O3 y H2O) + zH2SO4 pirita óxido de ferro hidratado Os óxidos de ferro hidratados são os grandes pintores da natureza, apresentando cor amarelo parda, quando muito hidratados (Fe+3); e cor vermelha, quando pouco hidratados (Fe+2). Por esta razão, o manto de intemperismo apresenta tonalidades variando em geral do amarelo ao vermelho. Quando a concentração de óxido de ferro é muito grande no solo, esse pode se tornar uma importante fonte de minério de ferro. Esse solo rico em ferro é conhecido como solo laterítico. Figura 11 – Processo de intemperismo químico. 1.5.2. DISSOLUÇÃO O CO2 (dióxido de carbono) dissolvido nas águas de infiltração, provenientes da atmosfera e da transpiração, secreção e putrefação dos organismos, (em geral- microorganismos) existentes nos poros dos solos, reagem com os minerais carbonatados das rochas, dissolvendo-os. Exemplos: CaCO3 + H2O + CO2 = Ca(HCO3)2 calcita insolúvel bicarbonato de Ca solúvel CaMg(CO3)2 + 2 H2O + 2 CO2 = Ca(HCO3)2 + Mg(HCO3)2 dolomita insolúvel bicarbonatos solúveis Os calcáreos (rochas sedimentares) e os mármores (rochas metamórficas) são constituídos basicamente de calcita ou dolomita respectivamente. As águas de infiltração que percolam pelas fendas daquelas rochas dissolvem seus minerais predominantes sem deixar resíduos formando, após milhares de anos, canais e cavernas de dissolução. Nas barragens sobre mármores e calcáreos: Figura 12 – Problemas de locação de barragens associado a processos de dissolução de rochas. página - 11 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos Quando há canais e cavernas de dissolução (caso1) ocorrerão grandes fugas de água pelos canais e cavernas, e, até mesmo, desmoronamento do teto das cavernas com afundamento e o colapso da barragem; quando não há canais e cavernas (caso2) a rocha de fundação será estanque e estável. Na figura abaixo podemos ver a ação do intemperismo sobre estátuas de mármore na França, devido a ação da chuva ácida. Figura 13 – Ilustração do processo de intemperismo químico devido à ação de chuvas ácidas sobre rochas de composição calcítica. 1.5.3. HIDRÓLISE Os íons de H+ nas águas de infiltração, provenientes da dissociação das moléculas de água e dos solutos ácidos, reagem com os minerais alumino-silicatos das rochas quebrando a estrutura cristalina da maioria dos minerais, dando origem a novas espécies minerais, como as argilas. Hidrólise dos alumino-silicatos de K, Ca e/ou Na: mKalSi3O8 + n H2O + p H+ = ARGILA + x SiO2 2H2O + y K+ feldspato K ou ortoclásio sílica coloidal Hidrólise dos silicatos de Al, Fe e MgO: m(Mg,Fe,Al,Ca)Si2C6 + nH2O + pH+ = ARGILA + q(Fe2O3 xH2O) + yFe++ + zMg++ + wCa++ A transformação de um mineral em argila por intemperismo leva, na natureza, centenas a milhares de anos. As argilas não se formam num período curto, como no correspondente à vida útil das obras de engenharia. Por hidrólise, podem se formar diferentes tipos de argilas, dependendo das condições ambientais de drenagem natural e de pH, que podem ser classificados em argilas expansivas e não expansivas. Entre as argilas não expansivas ou de expansão desprezível, as mais comuns são: Caolinitas, que são silicatos hidratados de Al; Micas hidratadas, que são basicamente silicatos hidratados de Al com K ou Na, podendo conter ainda Fe e Mg. Entre as argilas expansivas, denominadas de esmectitas, as mais comuns são: Montmorilonitas: silicatos hidratados de Al, Fe e Mg. Nontronitas: silicatos hidratados de Al e Fe. Serpenitas: silicatos hidratados de Al e Mg. Todas as argilas são partículas lamelares com a máxima dimensão variando de 2 microns a 0.1 micron e cátions absorvidos na superfície delas. As esmectitas (do grupo das montmorilonitas) são as que possuem página - 12 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos maior carga elétrica, apresentando expansões de aproximadamente 200% quando possuem cátions de Ca++ absorvidos, entre 400 e 700% quando possuem cátions Na+ absorvidos. 1.6. Intemperismo predominante Os processos de intemperismo físico e químico não ocorrem isoladamente, mas simultaneamente. Dependendo das condições climáticas, podem predominar os processos de intemperismo físico ou os processos de intemperismo químico. Em climas secos (frios ou quentes) predomina o intemperismo físico; em climas úmidos predomina o intemperismo químico. As reações químicas são aceleradas pela temperatura, portanto o intemperismo químico será maior nas regiões de climas úmidos e quentes do que nos climas úmidos e frios. Ele é máximo, evidentemente, nos trópicos. Por estas razões, é que as espessuras máximas dos mantos de solos de decomposição de rochas (regolitos) são da ordem de 120 m entre Curitiba e São Paulo, enquanto no Rio Grande do Sul são da ordem de 40 m, apesar da precipitação pluviométrica ser aproximadamente a mesma. Na região amazônica, as jazidas de bauxitas ocorrem em solos residuais com espessuras de até 100m. A profundidade do intemperismo físico é pequena, enquanto a do intemperismo químico é muito grande, atingindo a mais de uma centena de metros em climas quentes e úmidos. 1.6.1. RESISTÊNCIA DOS MINERAIS AO INTEMPERISMO QUÍMICO – ESCALA DE RESISTÊNCIA DO INTEMPERISMO A resistência a decomposição dos minerais silicatados é diretamente proporcional ao teor de sílica e inversamente proporcional ao teor de cátions presentes dentro da estrutura cristalina dos minerais. Por esta razão, o quartzo, constituído só de SiO2, dificilmente se encontra decomposto na natureza. Tabela 1 - Escala de resistência dos minerais ao intemperismo. MINERAIS ESCUROS MINERAIS CLAROS R ES IS TÊ N CI A C R ES C EN TE M IN ER AI S DE B AI XA R ES IS TÊ N CI A PIROXÊNIOS ANFIBÓLIOS MICA BIOTITA(preta) FELDSPATO Ca FELDSPATO CaNa FELDSPATO NaCa FELDSPATO Na M IN ER AI S D E AL TA R ES IS TÊ N CI A HEMATITA – LIMONITA F2O3 F2O3 n H2O FELDSPATO K MICA MOSCOVITA(branca) CALCEDÔNIA QUARTZO 1.6.2. RESISTÊNCIA À DECOMPOSIÇÃO DOS MINERAIS NO DESENVOLVIMENTO DE SOLOS RESIDUAIS Num mesmoclima úmido e numa mesma topografia a espessura dos solos, que residem sobre a rocha que lhes deu origem por decomposição, é variável com o tipo de rocha. página - 13 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos Figura 14 – Diferenças de evolução dos perfis de intemperismo em rochas de diferentes composições. As composições mineralógicas daquelas rochas são as seguintes: Tabela 2 – Diferenças composicionais das rochas apresentadas na Figura 14. Granitos Feldspatos K Quartzo Feldspato CaNa 60% 30% 10% Basaltos Diabásios Feldspatos CaNa Piroxênios 60% 40% Xistos Filitos Micas escuras Quartzo 70% 30% Quartzito Quartzo Feldspato 90% 10% Os basaltos e os diabásios, de mesma composição, são rochas constituídas de minerais de baixa resistência a decomposição, dando origem a grande espessura de solo, dependendo da morfologia do terreno. Os xistos e os filitos, sendo constituídos principalmente de micas com uma resistência ao intemperismo químico um pouco maior, originam solos com uma espessura um pouco menor que a dos provenientes dos basaltos. Os quartzitos, constituídos basicamente de quartzo que não se decompõem, ocorrem na superfície sem cobertura de solos ou geram solos de espessura muito pequena. Geralmente ocorrem solos arenosos de pequena espessura em zonas planas. Já os granitos, onde predominam minerais de alta resistência à decomposição (+ 85%), estão cobertos por uma pequena espessura de solos em relação aos basaltos e aos xistos. Dessa forma, a construção de subsolos de edifícios deve ser realizada preferencialmente sobre xistos ou basaltos, porque as escavações em solos custam cinco vezes menos do que em rocha. Deve-se evitar, por motivos econômicos, construí-los sobre granitos ou quartzitos. 1.6.3. VELOCIDADE DO INTEMPERISMO QUÍMICO EM ROCHAS SÃS A velocidade de intemperismo químico é muito pequena. Em laboratório se consegue reproduzir o intemperismo químico, mas não se obteve ainda uma escala de tempo. Os dados que se dispõe são de obras muito antigas, onde as rochas empregadas ficaram permanentemente expostas ao sol e à chuva e apresentaram as seguintes velocidades de decomposição: PIRÂMIDES DE GRANITO DO EGITO 1cm/5000 anos TÚMULOS DE MÁRMORE DA INGLATERRA 1cm/200 anos Portanto, toda vez que se empregar rochas sãs e duras constituídas de minerais-silicatos, como os granitos, os gnaisses, os basaltos, etc., deve-se esperar uma velocidade de decomposição maior que 1cm/1000 anos. Assim, não haverá qualquer problema de durabilidade dessas rochas, uma vez que a vida útil das obras de engenharia é, em geral, bem inferior a 100 anos. página - 14 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos 1.7. Saprolitos Quando se emprega saprolitos (rochas podres ou rochas parcialmente decompostas) nas obras, a velocidade do intemperismo químico é muito variável, desde desprezível a muito grande. Há casos em que os saprolitos se desagregam em solos em poucos anos e até em poucos dias, reduzindo em muito a resistência deles. No Rio Grande do Sul foram verificados, em algumas rodovias, casos de desagregação dos saprolitos empregados na estrutura dos pavimentos, que se transformaram em solos após períodos muito curtos, como em Bento Gonçalves (4 anos), Santa Maria (4 meses), Sarandi (poucos dias). Quando se emprega saprolitos em obras sujeitas a ação do sol e das chuvas, a possibilidade de ocorrer degradação deve ser considerada, devendo-se realizar previamente, antes do início dos trabalhos de construção, ensaios de durabilidade. A análise de qualidade dos materiais de construção naturais ou industriais deve ser desenvolvida através de ensaios tecnológicos de modo a responder as seguintes perguntas: Qual a resistência mecânica? Quanto dura a resistência mecânica? Para todo e qualquer material de construção sempre existe um ensaio tecnológico específico de durabilidade, que pode ser realizado em laboratórios tecnológicos públicos e privados, que existem em qualquer metrópole estadual. 1.7.1. ALTERAÇÃO DOS SAPROLITOS E CONSTITUIÇÃO DOS SAPROLITOS Nos saprolitos, alguns minerais não se decompõem, como o quartzo, outros são resistentes a decomposição, como o feldspato K, que se apresentam parcialmente decompostos, e outros de baixa resistência, como os piroxênios, podem já estarem transformados em argila. Os saprolitos, em geral, possuem a seguinte constituição: Figura 15 – Constituição mineral típica de materiais classificados como saprolitos. esqueleto resistente minerais sãos minerais parcialmente decompostos argilas nos vazios do esqueleto, provenientes da decomposição final dos minerais de fácil decomposição. As argilas podem ser: caolinitas (não expansiva) ilitas (não expansivas) esmectitas com Ca expansão de 200% na expansão de 400 a 700% 1.7.2. MECANISMO DE ALTERAÇÃO DOS SAPROLITOS As argilas expansivas sob a ação do sol se contraem, sob a ação da chuva se expandem. página - 15 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos Se as argilas forem expansivas e o esqueleto petreo não resistir às forças de expansão das argilas haverá degradação do saprolito (c de 200 a 500 Kgf/cm2) em solo (c de 0 a 10 Kgf/cm2). Se as argilas forem expansivas e o esqueleto petreo resistir às forças de expansão das argilas, o saprolito não sofrerá degradação, mantendo seu comportamento de rocha e sua resistência inicial. Se as argilas não forem expansivas não haverá degradação dos saprolitos que manterão a resistência inicial de rocha. 1.7.3. ENSAIOS DE DURABILIDADE DOS SAPROLITOS Mais usual no Brasil para determinar a durabilidade da pedra britada é o Ensaio de Sanidade com Solução de Sulfato de Sódio. Amostras representativas da pedra britada a ser empregada numa obra são submetidas em laboratório a cinco ciclos de 24 horas de secagem em estufa a 110°C, 18 horas de imersão em recipiente com solução de Na. Se as perdas por degradação (desagregação dos minerais ou fraturamento ), após os cinco ciclos, forem: > 12% a pedra britada é considerada inadequada; < 12% a pedra britada é considerada adequada. Durante a imersão, nesse ensaio, a solução se infiltra nos poros e nas micro- fendas das pedras britadas, precipitando sulfato de sódio naqueles interstícios, que se cristalizam e exercem pressões de cristalização nas paredes. Estas pressões de cristalização são muito maiores que as pressões de expansão das argilas, responsáveis pela degradação na natureza. 1.7.4. PRODUTOS FINAIS DO INTEMPERISMO QUÍMICO DOS MINERAIS DE ROCHA feldspatos argilas + m SiO2 2 H2O + cations (Na+, Ca++, K+) piroxênios argilas + m Fe2O3 n H2O + cations (Ca++, Mg++) anfibólios mica biotita argilas + m Fe2O3 n H2O + p SiO2 2 H2O + cations (K+, Mg++) mica moscovita argilas + m SiO2 2 H2O + cations (K+) quartzo não se decompõe calcita (CaCO3) se dissolve sem deixar resíduo dolomita (CaMgCO3) se dissolve sem deixar resíduo A figura abaixo apresenta o resultado do intemperismo químico para as rochas ígneas predominantes no Rio Grande do Sul. Pode-se observar que o quartzo não sofre intemperismo químico. Figura 16 – Produtos de intemperismo de diferentes rochas fonte. página - 16 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos 2. SOLOS O termo solo origina-se do Latim solum = suporte, superfície, base. A concepção de solo depende do conhecimento adquirido a seu respeito,de acordo com o modelo conceptual que ele representa nas diferentes atividades humanas. A Ciência do Solo desenvolveu-se através da contribuição de profissionais das mais diversas áreas (Química, Física, Geologia, Biologia, Geografia, Agronomia e outras). Como ciência, entretanto, o conhecimento e o estudo é de importância à todas as atividades humanas. Além de ser um meio insubstituível para a agricultura, o solo é também um componente vital de processos e ciclos ecológicos, é um depósito para acomodar os nossos resíduos, é um melhorador da qualidade da água, é um meio para a recuperação biológica, é um suporte das infra-estruturas urbanas e é um meio onde os arqueólogos e pedólogos lêem a nossa história cultural (Miller, 1993). Entre os diversos conceitos de solo destacamos os seguintes: (1) o solo como meio para o desenvolvimento das plantas; (2) o solo como regolito; (3) o solo como corpo natural organizado; (4) o solo como sistema aberto. O solo compreende a porção superior da crosta terrestre (litosfera), mais precisamente a porção superior do regolito. O regolito é o material solto, constituído de rocha alterada e solo, que ocorre acima da rocha consolidada. A rocha alterada constitui o material de origem do solo. Daí se origina a designação do solo conforme a rocha que lhe deu origem: solo de granito, solo de basalto, solo de arenito, etc. O solo é visualizado como sinônimo de regolito ou rocha alterada pela maioria dos geólogos e engenheiros civis, sendo caracterizado de acordo com sua adequação ou não para mineração, material de construção ou suporte para edificações. 2.1. Constituição dos Solos Partículas sólidas justapostas em cujos vazios há ar e/ou água com óxidos e cátions em solução. Partículas constituintes dos solos: pedras 76 mm (fragmentos de rocha – sãos ou parcialmente decompostos) pedregulho 76 > 4.8 mm (minerais muito grandes – sãos ou parcialmente decompostos) areias grossas 4.8 > 0.84 mm ( minerais grandes – sãos e/ou parcialmente decompostos) areias médias 0.84 > 0.25 mm (minerais médios – sãos e/ou parcialmente decompostos) areias finas 0.25 > 0.05 mm (minerais pequenos – sãos e/ou parcialmente decompostos) siltes 0.05 > 0.005 mm (minerais muito pequenos, invisíveis a olho nu – sãos e/ou parcialmente decompostos) argilas < 0.005 mm (minerais provenientes da decomposição final dos minerais silicatos da rocha, que se caracterizam por apresentar plasticidade quando saturados e endurecimento quando secos) 2.2. Classificação geológica dos solos solos residuais: residem sobre as rochas que lhes deram origem; solos transportados: constituídos de partículas que sofreram transporte, não residindo mais sobre as rochas que lhes deram origem; solos orgânicos resultantes da decomposição parcial da celulose da vegetação acumulada na superfície dos continentes. Figura 17 – Perfil de solo típico apresentando solos de origem distinta. página - 17 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos 2.3. Solos residuais 2.3.1. DESENVOLVIMENTO DO MANTO DE INTEMPERISMO As rochas no interior da crosta terrestre se encontram sãs com um sistema de fendas resultante dos processos de formação e dos processos tectônicos que possam ter ocorrido posteriormente. Entrando em contato com a superfície da crosta terrestre ou próximo dessa situação, as rochas passam a ser submetidas inicialmente a ação dos processos de intemperismo físico que acabam: fraturando e/ou fragmentando-as, aumentando o sistema de fendas; desagregando os minerais delas; abrindo as fendas. Dessa forma, a percolação das águas de infiltração provenientes das chuvas através das rochas é facilitada, possibilitando a ação posterior dos processos de intemperismo químico sobre os minerais das rochas. A hidratação sempre é precursora das reações do intemperismo químico e, portanto, os minerais primeiro se desagregam para depois se decomporem. Assim, na parte inferior do manto de solos residuais, que cobre as rochas, predomina a desagregação dos minerais, enquanto na parte superior predomina a decomposição dos minerais. Figura 18 – Características dos minerais e graus de alteração dentro de um manto de intemperismo. 2.3.2. CAMADAS CONSTITUINTES DOS SOLOS RESIDUAIS SOBRE OS SAPROLITOS Os horizontes que formam os solos residuais são os seguintes: Horizonte C ou solo saprolítico; Horizonte B; Horizonte A. 2.3.3. HORIZONTE C O horizonte C ou solo saprolítico ou solo residual jovem solo de alteração de rocha: Resulta da ação predominante dos processos de intemperismo físico, situando-se acima do saprolito. Predomina a desagregação dos minerais da rocha mãe. Os minerais da rocha mãe, que não se decompõem, como o quartzo, originam partículas sãs e tenazes; os minerais de difícil decomposição, como o feldspato K, originam partículas parcialmente decompostas e friáveis; constituindo os pedregulhos, as areias, e os siltes dos solos do horizonte C. Os minerais de fácil decomposição, como os piroxênios e os feldspatos CaNa, podem estar decompostos em argila. É um solo pedregulhoso, arenoso ou siltoso, dependendo do tamanho dos minerais da rocha mãe, com pouca argila. Quando a rocha mãe é rica em minerais de fácil decomposição, como no caso do basalto, onde predominam os piroxênios e os feldspatos CaNa, o solo residual desse horizonte pode ser argiloso com pedregulhos, areias e/ou siltes. Guarda o aspecto da rocha mãe. página - 18 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos 2.3.4. HORIZONTE B OU SOLO RESIDUAL MADURO Horizonte B ou solo residual maduro: Resulta da ação predominante do intemperismo químico, situando-se acima do horizonte C. A maioria dos minerais passíveis de decomposição estão decompostos em argila. Poucos minerais, como o quartzo, não se decompõem e encontram-se sob a forma de pedregulhos, areias e/ou siltes. É um solo argiloso com poucos pedregulhos, areias e/ou siltes. Quando proveniente de rocha rica em quartzo, como o arenito e o quartzito, é um solo arenoso. Há deposição, nos poros desse solo, de óxidos e argilas trazidos pelas águas de infiltração, que os removeram do horizonte superior A. Não guarda o aspecto (textura e estrutura) da rocha mãe. Em regiões tropicais e subtropicais, é um solo rico em Fe2O3 n H2O, apresentando cor vermelha e sendo também denominado de solo laterítico (later = ferro). 2.3.5. HORIZONTE A O horizonte A ou solo superficial orgânico ou top-soil: Constitui a parte superior do manto de intemperismo, ocorrendo sobre o horizonte B; ou sobre o horizonte C, quando o B não existir; ou sobre o saprolito, quando os horizontes B e C não existirem. É parcialmente lixiviado (remoção dos óxidos e das argilas) pela águas de infiltração, que precipitam os óxidos e depositam as argilas nos poros do horizonte B. Há o acúmulo de matéria orgânica (celulose e/ou húmus) proveniente das raízes da vegetação principalmente. Apresenta cor cinza a preta, dependendo do teor de matéria orgânica. Não guarda o aspecto (textura ou estrutura) da rocha mãe, mesmo quando sobre o horizonte C e o saprolito, devido à lixiviação. A Figura 19 abaixo apresenta a seção geológica completa de um solo residual típico. Figura 19 – Seção geológica completa de um solo residual típico. O intemperismo físico por hidratação e intemperismo químico, resultantes da ação das águas de infiltração, iniciam-se pelas paredes das fendas para dentro dos blocos individualizados pelas mesmas fendas. Assim, os saprolitos se caracterizam por apresentarem as paredes das fendas mais decompostas que os blocos correspondentes.Entre as camadas constituintes do manto de intemperismo não há em geral uma superfície de separação, mas uma zona de transição. As espessuras dos horizontes são variáveis, dependendo do clima, da topografia e da rocha matriz. No Rio Grande do Sul com clima sub-tropical, as espessuras variam, em geral, no horizonte A de 10 a 30 cm; no horizonte B de menos de um metro a 20 m; no horizonte C de poucos metros a 40 m. Na parte inferior do horizonte C é comum se encontrar blocos arredondados de rocha, denominados de matacões, que não foram ainda transformados em solo. Esses matacões se apresentam envolvidos por solos do horizonte C. página - 19 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos 2.3.6. PROCESSOS DE FORMAÇÃO DOS SOLOS RESIDUAIS Processos geológicos: processos de intemperismo físico (predominam no horizonte C) e processos de intemperismo químico (predominam no horizonte B). Processos pedológicos: acúmulo de matéria orgânica ou humificação (ocorre no horizonte A); eluviação ou lixiviação (ocorre no horizonte A); iluviação, deposição de argilas e precipitação de óxidos pelas águas de infiltração, (ocorre no horizonte B ). Pedologia (pedo = solo) é a ciência que estuda a parte superior do manto de intemperismo, mais especificamente os horizontes A e B, para fins agrícolas, preocupando-se basicamente com as atividades químicas e biológicas dos solos e não com suas características mecânicas. A matéria orgânica acumulada no horizonte A é constituída de celulose e húmus, sendo o húmus resultante da decomposição parcial da celulose. Os húmus são ácidos orgânicos que ocorrem sob a forma de partículas com < 0.1 micron, sendo moles, absorventes e muito ativos quimicamente. O teor de húmus no horizonte A raramente chega a 10%. Devido ao acúmulo de matéria orgânica e aos processos de eluviação (lixiviação) os solos do horizonte A são fofos. Já nos solos do horizonte B, devido aos processos de iluviação, há um enriquecimento de óxidos, sais, coloides e argilas, sendo mais argilosos que o horizonte A correspondente, que, por sua vez é mais arenoso e/ou pedregulhoso. 2.3.7. FATORES QUE INFLUENCIAM NA FORMAÇÃO DOS SOLOS RESIDUAIS 2.3.7.1. CLIMA E TOPOGRAFIA Perfis comuns dos solos residuais nos climas úmidos: predominam os processos de intemperismo químico e os solos residuais tendem a apresentar um perfil completo com os três horizontes. Mas, por outro lado, as erosões das enxurradas removem as partículas dos solos residuais formadas por intemperismo. Em regiões onduladas: as erosões são pequenas e os solos residuais possuem os três horizontes Figura 20 – Grau de desenvolvimento de um solo residual. Em regiões íngremes (acidentadas): as erosões são muito grandes, impedindo a formação do horizonte B e, as vezes, inclusive do horizonte C. como sempre a vegetação e o horizonte A acabam se formando em cima do horizonte C ou mesmo do saprolito. Figura 21 – Graus de desenvolvimento de solos residuais de acordo com a morfologia do terreno. Perfis comuns dos solos residuais em climas secos: predominam os processos de intemperismo físico, fragmentando e desagregando as rochas. Como o intemperismo químico é deficiente, não se forma o horizonte B, apenas o A e o C. Em regiões onduladas página - 20 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos Figura 22 – Graus de desenvolvimento de solos onde o intemperismo químico não é muito atuante. 2.3.7.2. TEXTURA DA ROCHA MATRIZ A textura da rocha matriz influi muito no horizonte C, resultante da desagregação dos minerais constituintes, e muito pouco nos A e B. nas rochas com textura: macro granular muito grossa (granitos e conglomerados): horizonte C pedregulhoso Grossa a média (granitos, gnaisses, arenitos fluviais): horizonte C arenoso grosso a médio Fina (arenito eólico): horizonte C arenoso fino micro granular (basaltos, riolitos, filitos, e xistos): horizonte C siltoso Os solos do horizonte C de rochas de textura grossa são de alta resistência, quando os minerais constituintes forem de difícil decomposição como o quartzo e o feldspato K, que predominam nos granitos e em certos gnaisses. 2.3.8. ESTRUTURA DA ROCHA MATRIZ 2.3.8.1. ESTRUTURA MACIÇA As rochas com estrutura maciça apresentam fendas esparsas, com espaçamentos da ordem do metro, individualizando blocos de rocha muito grandes. As águas de infiltração, percolando pelas fendas, decompõem os minerais das paredes para dentro dos blocos individualizados, dando origem a blocos arredondados, denominados de matacões, que acabam ficando dispersos dentro de uma matriz de solos residuais. Os matacões são arredondados, porque a decomposição dos vértices e das arestas é maior que a das faces. A incidência de matacões é maior na parte inferior do horizonte C, diminuindo a medida que se afasta da rocha, ocorrendo poucos ou nenhum matacão no horizonte B. Figura 23 – Estrutura maciça de uma rocha que apresente o horizonte C com matacos. 2.3.8.2. ESTRUTURA FENDILHADA Na estrutura fendilhada o sistema de fendas é intenso, apresentando espaçamentos da ordem do centímetro ao decímetro, individualizando fragmentos pequenos, que torna a decomposição da rocha mais uniforme, originando solos residuais sem matacões. página - 21 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos Mas, se as fendas se apresentarem fechadas e abertas, as águas de infiltração percolarão pelo sistema de fendas abertas e não pelas fechadas. Nestas condições, as fendas abertas individualizarão blocos grandes de rochas fendilhadas e ocorrerão matacões fendilhados no horizonte C. Figura 24 – Desenvolvimento do perfil de solo em rochas com estrutura fendilhada. 2.3.8.3. FALHA TECTÔNICA DE COMPRESSÃO Nas zonas adjacentes às falhas de compressão, devido ao atrito desenvolvido pelo deslocamento relativo das massas de rocha de um e de outro lado dos planos de falha, as rochas se apresentam muito fraturadas, aumentando as infiltrações das águas, e com a estrutura cristalina dos minerais constituintes abalada, tornando-os de baixa resistência ao intemperismo. Assim, é comum ocorrerem nas zonas de falhas de compressão gargantas de solo. Figura 25 – Desenvolvimento avantajado do perfil de solo em rochas na presença de sistemas de falhas. Mas, se a falha for de tração, não ocorrerá atrito ao longo do plano de falha, porque as componentes horizontais dos movimentos relativos geram esforços de tração naquele plano, não fraturando as rochas adjacentes, nem abalando a estrutura dos minerais constituintes. Figura 26 – Desenvolvimento do perfil de solo em rochas na presença de falhas de tração. 2.3.8.4. DIQUES E VEIOS Os diques, provenientes do resfriamento do magma em fendas da crosta terrestre, podem ser de rochas mais resistentes ou menos resistentes ao intemperismo que as rochas adjacentes, dando origem a muralhas de rocha, dentro dos solos residuais, ou a gargantas de solo, dentro das rochas adjacentes. página - 22 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos Figura 27 – Desenvolvimento do perfil de solo em rochas diferentes resistências ao intemperismo. Devido as altas pressões de injeção, o magma exerce também altas pressões nas paredes da fenda pela qual subiu, fraturando as rochas adjacentes encaixantes. Gases ricos em solutos de SiO2 podem precipitar íons de SiO2 nas paredes das fendas que atravessam, formando veios de quartzo transversais a crosta terrestre e com espessuras variáveis desde um centímetro a metros de espessura.Os veios de quartzo podem, numa sondagem em solo, dar falsa informação de se ter atingido a rocha, quando na realidade há solo embaixo deles, uma vez que não se decompõem. Figura 28 – Desenvolvimento do perfil de solo em rochas com presença de veios de quartzo. 2.3.8.5. ESTRUTURA DOBRADA COM BANDAS ALTERNADAS DE ROCHAS COM DIFERENTES RESISTÊNCIAS Dobramentos de camadas(ou bandas) de xistos ou filitos alternadas com camadas de quartzito é um exemplo típco dessa situação.Os xistos ou os filitos, que são rochas metamórficas constituídas de micas escuras(+ 70%) e de quartzo(+ 30%), se decompõem com facilidade em solos. Já os quartzitos, também rochas metamórficas, não se decompõem porque são constituídos de quartzo basicamente. Figura 29 – Desenvolvimento do perfil de solo em rochas metamórficas com diferentes características deresistência ao intemperismo. página - 23 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos Subsolos similares ocorrem no manto de intemperismo dos gnaisses (rochas metamórficas) constituídos de bandas ricas em anfibólios e micas biotitas de fácil decomposição e bandas ricas em quartzo e feldspatos de difícil decomposição, alternadas e dobradas. 2.3.8.6. COMPOSIÇÃO MINERALÓGICA DA ROCHA MÃE A composição mineralógica da rocha matriz influi principalmente no solo do horizonte C, cujas características mecânicas são herdadas, mas também influi na formação do solo do horizonte B, embora com menor intensidade, como se verifica a seguir: MINERAIS PREDOMINANTES HORIZONTE C HORIZONTE B GRANITO: TEXTURA GRANULAR GROSSA A MÉDIA Feldspato K +55% Quartzo +30% Feldspato CaNa +15% Solo arenoso grosso a médio com pouca argila Solo argiloso com areia grossa a média GNAISSSES: TEXTURA GRANULAR GROSSA A MÉDIA Feldspato Ca ou NaCl +50% Quartzo +30% Anfibólios e mica biotita +20% Solo arenoso grosso a médio com mais argila que no granito Solo argiloso com areia grossa a média XISTOS E FILITOS: TEXTURA GRANULAR MUITO FINA A MICRO GRANULAR Micas escuras + 70% Quartzo + 30% Solo siltoso com argila Solo argiloso com silte QUARTZITO: TEXTURA GRANULAR FINA Quartzo +90% Solo arenoso fino Solo arenoso fino BASALTO E DIABÁSIO: TEXTURA MICRO GRANULAR Feldspatos CaNa +60% Piroxênios +40% Solo siltoso com muita argila Solo argiloso RIOLITO: TEXTURA MICROGRANULAR Feldspato K +55% Quartzo +30% Feldspato NaCa +15% Solo siltoso com pouca argila Solo argiloso com silte CONGLOMERADO: TEXTURA GRANULAR MUITO GROSSA Seixos rolados de: 1 granito 2 basalto 3 quartzito Solo pedregulhoso 1 solo argiloso com areia 2 solo argiloso 3 solo pedregulhoso ARENITO: TEXTURA GRANULAR GROSSA A MÉDIA(AR.FLUVIAL) OU FINA(AR.EÓLICO) Quartzo >75% Feldspato K <25% Solo arenoso Solo arenoso com pouca argila ARCOSE: TEXTURA GRANULAR GROSSA A MÉDIA(AR.FLUVIAL) OU FINA(AR. EÓLICO) Quartzo <75% Feldspato K >25% Solo arenoso Solo arenoso com mais argila que no arenito ARGILITO: TEXTURA MICROGRANULAR Argila compactada pela natureza Solo argiloso Solo argiloso CALCÁREO E MÁRMORE: TEXTURA GRANULAR GROSSA A FINA Calcita ou calcita+dolomita >70% Quartzo e/ou silicatos <30% Calcita e dolomita se dissolvem, solo resulta dos minerais acessórios: solo arenoso Calcita e dolomita se dissolvem, solo resulta dos minerais acessórios: solo arenoso ou argiloso dependendo dos outros minerais 2.4. Solos Transportados 2.4.1. SOLOS FLUVIAIS OU ALUVIAIS São solos formados pela ação da deposição das águas correntes dos rios ou arroios senis. 2.4.2. SOLOS FLUVIAIS FORMADO NO LEITO DOS RIOS SENIS Deposição no leito dos rios senis As águas correntes dos rios e arroios transportam: no fundo: pedregulhos por rolamento. no fundo e aos saltos: página - 24 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos areias grossas; areias médias; parte das areias finas. em suspensão em toda a altura das águas: parte das areias finas; siltes; argilas. Figura 30 – Transporte de partículas no leito de rios por saltação. As partículas mais finas (areias finas, siltes e argilas) transportadas em suspensão não se depositam em águas correntes, mas só em águas paradas. Elas são transportadas pelo rio até a foz, ou seja, até os oceanos e os lagos, onde se depositam ao encontrarem águas paradas. As partículas mais grossas (pedregulhos, areias grossas, médias e finas) transportadas pelo fundo, são as que se depositam no leito dos rios, a medida que as águas correntes vão perdendo velocidade, formando camadas lenticulares, onde o tamanho das partículas de cada camada indica a velocidade das águas num determinado período de deposição. 2.4.3. SOLOS FLUVIAIS NO LEITO DOS RIOS SENIS Sendo o regime das velocidades das águas dos rios variável, entre determinadas faixas de velocidade só se depositam determinadas partículas, formando camadas lenticulares de determinada faixa granulométrica. Os solos resultantes são: Camadas lenticulares de: (na mais variada alternância) pedregulhos; areias grossas; areias médias; areias finas; ou suas misturas. Figura 31 - Deposição de particulas e formação dos solos por diferenças de energia de transporte do meio. página - 25 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos As camadas não são, em geral, constituídas de um só tamanho de partícula, mas de uma mistura de partículas, devido as águas correntes não serem boas classificadoras durante a deposição. Os solos fluviais, que não sofreram soerguimentos epirogenéticos, apresentam Nível de Lençol Freático alto, comandado pelo nível das águas dos rios. 2.4.4. CARACTERÍSTICAS DOS PEDREGULHOS E AREIAS FINAS A força das águas correntes não permitem o empilhamento dos grãos de areia ou de pedregulhos no leito dos rios. Os grãos são empurrados para frente, até encontrarem uma depressão entre os grãos já depositados, onde se encaixam e resistem muito mais ao arrancamento pelas águas correntes. São solos compactos com grãos encaixados e de ALTA RESISTÊNCIA. Figura 32 - Deposição de particulas em função da morfologia do leito do rio. 2.4.5. SOLOS FLUVIAIS FORMADOS NAS PLANÍCIES DE INUNDAÇÃO DOS RIOS SENIS 2.4.5.1. DEPOSIÇÃO NAS PLANÍCIES DE INUNDAÇÃO Nos períodos de chuvas intensas e prolongadas: As águas dos rios extravasam com argilas, siltes e areias finas em suspensão, continuando as partículas maiores (pedregulhos, areias grossas, areias médias e areias finas) depositadas ou sendo transportadas no fundo do leito dos rios; Ao extravasarem, há um aumento enorme da seção de vazão ao longo das margens e as águas sofrem uma perda substancial de velocidade, depositando logo após as margens parte das areias finas que transportavam em suspensão, formando as barrancas laterais dos rios; As águas que inundam as planícies de inundação levam predominantemente argila e silte em suspensão com pouca areia fina. Cessadas as chuvas: As águas retornam ao leito, baixando o seu nível; Figura 33 - Deposição de particulas de acordo com a variação do nível de águas do rio. página - 26 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos Partes das águas, contendo argilasiltepouca areia fina em suspensão, ficam represadas pelas barrancas dos rios, passando a águas paradas e depositando as partículas em suspensão. Em cada período de chuvas se forma uma delgada camada de lama, mistura de argilasilteareia fina com água nos poros, por sobre toda a planície de inundação.2.4.5.2. SOLOS ONDE O RIO NÃO MEANDROU Camadas delgadas de lama (argila, silte e pouca areia fina) superpostas. Em geral há predomínio das argilas nas lamas fluviais. Como a deposição se dá dentro d’água, os poros entre as partículas estão cheios de água e as argilas, que predominam, estão no estado plástico, conferindo sua plasticidade a toda a massa da lama. Por esta razão, as lamas são moles. Figura 34 – Problemas de estabelecimento de fundações sobre solos transportados moles. Nas planícies de inundação onde o rio nunca passou (nunca meandrou), as fundações dos edifícios devem ser assentadas sobre uma camada resistente inferior, solo residual ou rocha, atravessando todas as camadas de lama mole. 2.4.5.3. SOLOS ONDE O RIO MEANDROU Os rios mudam continuamente de leito nas planícies de inundação, devido ao “trabalho” que executam nas curvas: de erosão nas margens externas e de deposição nas margens internas. Figura 35 – Sistema meandrante de rios. Toda a vez que um rio muda de curso: Deposita pedregulhos e areis grossas, médias e finas (novo leito) onde antes depositava lama (antiga planície de inundação); E deposita lama (nova planície de inundação) onde antes depositava pedregulhos e areias grossas, médias e finas (antigo leito). O solo resultante será constituído de camadas lenticulares de pedregulhos, areias grossas, areias médias, areias finas ou lama superpostas e na mais variada alternância, indicando toda a camada: página - 27 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos de pedregulhos ou de areias grossas, médias ou finas: antigo leito de rio; de lama (argilasilteareia fina): antiga planície de inundação Figura 36 – Variações texturais dos solos de acordo com a variação dos meadros de um rio. As camadas de pedregulhos e de areias são compactas e as de lama, moles. 2.4.6. CARACTERÍSTICAS DAS CAMADAS DE LAMA DOS SOLOS FLUVIAIS As partículas de argila são lâminas invisíveis e extremamente delgadas: Figura 37 – Tamanho característico de partículas da fração argila. Quando se depositam dentro de águas paradas, tendem a se empilhar unindo-se pelas extremidades e formando estruturas alveolares. Nas lamas, como predominam as argilas, a estrutura é, também, alveolar, com grãos de silte e areias finas dispersos. Figura 38 – Retenção de água devido à disposição natural de particulas de argila. Em decorrência as lamas são: Solos de grande compressibilidade sob cargas, inclusive pequenas, provocando recalques, devido à deformação dos alvéolos a medida que a água inter-alveolar for escoando; página - 28 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos Figura 39 – Rearranjo das partículas de argila sob efeito de cargas. Solos que estão no estado plástico e até mesmo no estado líquido, devido ao alto teor de água que preenche os grandes alvéolos, sendo, portanto, moles. Figura 40 - Problemas de fundações em solos transportados. 2.4.7. IMPORTÂNCIA DAS CAMADAS DE LAMA NO SUBSOLO DAS PLANÍCIES DE INUNDAÇÃO Abaixo de uma camada de areia compacta e de alta resistência pode ocorrer uma camada de lama mole. Se as fundações de um edifício forem assentadas sobre a camada de areia superior, as cargas serão transmitidas à camada de lama subjacente, que não resistirá e se deformará, provocando recalques no edifício. Para o edifício não apresentar trincas e não entrar, inclusive, em colapso, as fundações deverão ser profundas e atravessar todas as camadas de lama mole. 2.4.8. SOLOS LACUSTRES DE PLANÍCIE 2.4.8.1. DEPOSIÇÃO DENTRO DOS LAGOS As águas correntes dos rios quando entram nas planícies depositam os pedregulhos e grande parte das areias, chegando aos lagos com: Argila, silte e areias finas transportadas em suspensão; Areias médias e finas transportadas aos saltos. Nas margens dos lagos, devido a grande redução de velocidade há deposição das areias. As águas correntes e das enxurradas com argila silte pouquíssima areia fina em suspensão, que entram no lago, são mais densas que as águas paradas do lago e penetram lentamente pelo fundo lago adentro, formando verdadeiras correntes de fundo vindas de diversas direções. página - 29 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos Figura 41 – Deposição de granulometrias distintasem função da redução de energia de transporte. Dessa forma, as águas que entram no lago acabam cobrindo todo o fundo e, quando passarem a águas paradas, depositam as suas cargas de argila, silte e muito pouca areia fina em suspensão. 2.4.9. SOLOS RESULTANTES DENTRO DOS LAGOS Camadas delgadas, extensas e superpostas de argilas (predominantes), siltes e pouquíssima areia fina que chamamos de lama lacustre. 2.4.9.1. CARACTERÍSTICAS DAS LAMAS LACUSTRES Da mesma forma que as lamas fluviais, as lamas lacustres apresentam estrutura alveolar de lâminas de argila com grãos de silte e de areia fina dispersos, estando os alvéolos cheios de água. São, portanto, solos de alta compressibilidade e moles, que estão no estado plástico e, às vezes, no estado líquido, dependendo do teor de água que preenche os alvéolos. Figura 42 – Ambiente de deposição de lamas moles. Sobre lamas lacustres, também, não se deve assentar as fundações de prédios, sob pena de ocorrerem grandes recalques, que acabarão provocando trincas e até mesmo o colapso. As fundações terão necessariamente de atravessar toda a lama lacustre até encontrar uma camada resistente inferior. 2.4.10. SOLOS MARINHOS DE PRAIAS RASAS 2.4.10.1. DEPOSIÇÃO MARINHA NAS PLANÍCIES COSTEIRAS Os rios e arroios quando entram e percorrem a Planície Costeira depositam pedregulhos inicialmente e depois areias grossas, médias e parte das areias finas que transportavam. Eles chegam ao mar transportando apenas parte das areias finas, siltes e argilas em suspensão. No litoral e na Plataforma Continental há deposição só de areias finas, porque a movimentação das vagas impede a deposição de silte e de argila. No fundo dos mares, onde as águas estão paradas, ocorre a deposição de argila e silte, formando as lamas marinhas. página - 30 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos Figura 43 – Ambiente de deposição de solos marinhos. 2.4.11. SOLOS RESULTANTES NAS PLANÍCIES COSTEIRAS 2.4.11.1. AREIAS FINAS - CARACTERÍSTICAS DAS AREIAS MARINHAS As vagas, possuindo grande energia como as água correntes, não permitem o empilhamento dos grãos de areia fina, que só se depositam quando se encaixam numa depressão entre os grãos de areia fina já depositados. As areias finas marinhas, por esta razão, são compactas e de alta resistência. 2.4.11.2. SOLOS EÓLICOS – DEPOSIÇÃO EÓLICA Os ventos arrancam da superfície do terreno apenas areias finas, siltes e argilas quando a superfície estiver seca e for desprovida de vegetação. Transportam as areias finas a pequenas alturas e a pequenas distâncias (centenas de metros a dezenas de Km) e os siltes e argilas a grandes alturas e a grandes distâncias (centenas de Km). Quando os ventos perdem velocidade: Depositam a pequenas distâncias dos locais de erosão apenas areias finas, formando campos com dunas de areia fina de granulometria uniforme, por serem os ventos grandes classificadores; Depositam silte e argila a grandes distâncias dos locais de erosão, formando campos de silteargila, que são denominados de LOESS. O Loess ocorre nos hemisfério norte e sul sujeitos a período de congelamento e degelo alternados. Quando ocorre o degelo, asuperfície do terreno, desprovida de vegetação e exposta a forte insolação, favorece a ação do vento, que arranca as partículas de silte e argila, além das areias finas e acaba formando, por transporte e deposição posteriores, depósitos do tipo Loess de grandes extensões, além dos de areia fina. Em regiões tropicais e subtropicais, onde a superfície do terreno de solos silte-argilosos está coberta de vegetação e é úmida, não se formam Loess, porque o vento não arranca as partículas de silte e argila. Nessas regiões, só se formam campos com dunas de areias finas nas adjacências de regiões arenosas sem vegetação. No Brasil ocorrem areias finas eólicas: Nas planícies litorâneas, junto ao litoral arenoso desprovido de vegetação; Nas regiões de arenito, cujos solos arenosos residuais são facilmente erodidos, quando a sua débil vegetação de cobertura morre em períodos de estiagem prolongada. 2.4.11.3. SOLOS RESULTANTES NO BRASIL Areias finas de granulometria muito uniforme. 2.4.11.4. CARACTERÍSTICAS DAS AREIAS FINAS EÓLICAS A energia dos ventos, durante a deposição, é bem menor que a das águas correntes e a das vagas dos mares, permitindo o empilhamento dos grãos de areia. página - 31 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos Por isso, as areias finas eólicas, além de apresentarem granulometria uniforme, são pouco compactas a fofas, isto é, de BAIXA RESISTÊNCIA, ao contrário das areias finas marinhas, que são COMPACTAS e de ALTA RESISTÊNCIA. Figura 44 - Diferenças deposicionais em função do meio de transporte e deposição. 2.4.12. SOLOS COLUVIAIS 2.4.12.1. DEPOSIÇÃO PELA GRAVIDADE Desmoronamentos em encostas íngremes provocam acúmulos instantâneos de solos, fragmentos e blocos de rocha no sopé sem qualquer seleção e com empilhamento das partículas, das pedras e dos blocos de rocha. Camadas de solo espessas, constituindo grandes massas, quando escorregam repentinamente numa encosta íngreme, arrancam fragmentos e blocos da rocha subjacentes, incorporando-as à massa de solo. Figura 45 – Ambiente de deposição solos coluviais. 2.4.12.2. SOLOS RESULTANTES Massas heterogêneas de solos com fragmentos e blocos de rocha dispersos e muito porosas, que possuem a forma de lente espessa assentada sobre uma superfície levemente inclinada para juzante e que ocorrem no sopé das encostas, são denominadas de COLÚVIO OU TALUS. Não ocorrem em frente dos rios que descem as encostas, porque a velocidade das águas é muito grande e removem qualquer acúmulo de solos na sua frente. Em climas tropicais e subtropicais, os solos são argilosos e predominam, em geral, sobre as pedras e os blocos. 2.4.12.3. CARACTERÍSTICAS DOS COLÚVIOS OU TALUS Quando chove, ocorrem enormes infiltrações, que tornam os solos argilosos plásticos e em decorrência, todo o colúvio fica plástico, ou seja, mole e de baixa resistência. As obras assentadas sobre talus apresentam grandes RECALQUES. Além disso, a massa, ficando plástica e estando sobre uma superfície levemente inclinada, se movimenta, em cada período de chuvas intensas e prolongadas, para juzante a razão de decímetros a pouco mais de um metro por ano. Diz-se que ocorre o RASTEJO OU ESCOAMENTO do colúvio ou talus. página - 32 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos Toda vez que rasteja, a massa do colúvio trinca, apresentando fendas normais ao movimento, passando a ocorrer, nas chuvas seguintes, maiores infiltrações. Assim, os rastejos posteriores podem ser cada vez maiores. Sendo solos moles sujeitos a rastejos, deve-se evitar construir sobre colúvio ou talus, pois além de recalcar, a obra vai caminhar junto em cada período de chuvas. Os colúvios ou talus são facilmente identificados, porque: Formam degraus no sopé das encostas; Possuem fendas aproximadamente paralelas e normais aos movimentos; Apresentam blocos de rocha se sobressaindo nos degraus, devido a erosão pelas enxurradas dos solos que envolvem os blocos dispersos. Figura 46 – Caractrísticas de solos coluviais. 2.4.13. PROCESSOS PEDOLÓGICOS NOS SOLOS TRANSPORTADOS Na superfície dos solos transportados se desenvolvem vegetação, como em todos os tipos de solos. Portanto, há acúmulo de matéria orgânica nos poros da parte superior dos solos transportados, provenientes da decomposição parcial das raízes da vegetação morta. Ao mesmo tempo, as águas de infiltração provenientes das chuvas removem, da parte superior dos solos transportados, óxidos e argilas, transportando-os para níveis inferiores através dos poros, tornando aquela parte superior mais porosa e menos argilosa. Tais processos pedológicos denominados respetivamente de acúmulo de matéria orgânica e eluviação ou lixiviação formam um horizonte A. As águas de infiltração, que percolam através dos poros do horizonte A, depositam argilas e precipitam óxidos nos poros do solo transportado abaixo, tornando-o mais argiloso e mais impermeável. Esse processo pedológico, denominado de iluviação, acaba formando um horizonte B cujo solo não guarda qualquer aspecto do solo transportado originário. Dessa forma, como nos solos residuais, se formam horizonte A ou A e B na parte superior dos solos transportados. Nos de formação mais recente se forma apenas o horizonte A e nos de formação mais antiga e nas áreas altas se formam os horizontes A e B. Figura 47 – Evolução de horizontes em solos transportados. página - 33 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos 2.5. Solos Orgânicos ou Turfas 2.5.1. DECOMPOSIÇÃO DA CELULOSE 2.5.1.1. DECOMPOSIÇÃO OXIDANTE Ocorre em condições aeróbias, isto é, na presença de água e de ar, onde há grandes quantidades de bactérias, como: pântanos, fundo de lagos; na superfície dos terrenos; no subsolo acima do lençol freático. As bactérias, na presença de arágua, decompõem a celulose em água e gás carbônico: Celulose (C,H,O)bactériaságuaCO2 2.5.1.2. DECOMPOSIÇÃO HUMIFICANTE Ocorre em condições anaeróbias, isto é, na presença de água sem ar, onde não existem bactérias, como: dentro d’água; no subsolo abaixo do NLF; dentro de torrões de argila com os poros cheios de água. Celuloseágua sem bactériashúmus Húmus são partículas orgânicas aciculares (em forma de agulha) que se caracterizam por apresentarem: dimensões menores que 0,1 mícron; consistência mole e grande absorção; estrutura alveolar (partículas unidas pelas extremidades); baixa plasticidade quando com excesso d’água; coesão deficiente quando secas;. densidade 1, flutuando na água. 2.5.2. FORMAÇÃO DAS TURFAS Formam-se em lagos rasos com vegetação intensa nas margens, que se desenvolvem dentro d’água, como os juncos (capins longos). Figura 48 – Ilustração esquemática de ambiente de formação de turfeiras. A decomposição inicial dos restos da vegetação morta é oxidante: Celulose (C,H,O)água c/ bactérias CO2H2O O gás carbônico liberado fica em solução na água do lago, criando um ambiente de toxidez crescente, a medida que a vegetação for morrendo e se decompondo dentro d’água. A partir daí começa a ocorrer a decomposição humificante: Juncos NA Lago Juncos página - 34 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos Celuloseágua s/ bactériashúmus O húmus gerado nas margens formam com os restos da celulose parcialmente decomposta, massas moles e porosas denominadas de turfas que flutuam nas margens em forma de “língua” e crescem das margens para o centro dos lagos.Figura 49 – Ilustração esquemática de ambiente de formação de turfeiras com desenvolvimento das margens para o centro. Quanto mais turfas se formam nas margens, mais intensa é a vegetação e mais húmus são gerados, começando, a partir de uma certa espessura de turfa, a surgirem árvores ávidas de água, como chorões, salgueiros, maricás, etc. Figura 50 – Ilustração esquemática de ambiente de formação de turfeiras com o recobrimento do corpo de água. As línguas de turfa, crescendo continuamente, acabam atapetando todo o lago, mantendo em baixo ainda água. Qualquer carga adicional, mesmo pequena como um aterro de 1m de altura, provocará grandes deformações na camada de turfa e acabará sofrendo grandes recalques em consequência das cargas. Se o tapete romper, o aterro ou qualquer outra obra afundará literalmente. O processo de formação de turfa continua até o preenchimento total do lago de celulose parcialmente decomposta e húmus originando lentes de turfa de espessura variável, dependendo da profundidade do lago, podendo alcançar espessuras de até 40m. Figura 51 – Ilustração esquemática de ambiente de formação de turfeiras. página - 35 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Geologia de Engenharia II – ENG05102 Intemperismo e solos 2.5.3. OCORRÊNCIA DAS TURFAS As lentes de turfa ocorrem preenchendo antigos lagos: nas planícies costeiras; nas planícies de inundação (ou várzeas) dos rios. Aqueles antigos lagos, podem apresentar-se: na superfície das planícies, quando de formação mais recente; soterradas por camadas de sedimentos marinhos-eólicos (nas planícies costeiras) ou por camadas de sedimentos fluviais (nas planícies de inundação dos rios) quando de formação mais antiga. Nas planícies de inundação dos rios, ao mesmo tempo em que pode se formar turfa, pode, também, haver deposição de lama (argilasilteareia fina) nos lagos, dando origem a lentes de: turfa-argilosa, quando predomina a turfa; argila-turfosa, quando predomina a argila. Da mesma forma, nas planícies costeiras, ao mesmo tempo que se forma turfa pode haver deposição de areias finas pelos ventos, tendo-se, portanto, turfa-arenosa ou areia turfosa, dependendo do material que predomina. 2.5.4. CARACTERÍSTICAS DAS TURFAS São solos constituídos predominantemente de húmus e/ou celulose parcialmente decomposta que se caracterizam por apresentarem: estrutura alveolar; estrutura alveolar, com os alvéolos cheios de água em geral, o que lhes confere consistência mole e com resistência zero; alta compressibilidade sob cargas mesmo pequenas, dando origem a grandes recalques sob a carga das obras, devido a deformação dos alvéolos com expulsão da água; grande absorção de água (verdadeiras esponjas), podendo conter 300% a 400% de água; seguidamente flutuando sobre água, devido a baixa densidade (1) do húmus e da celulose decomposta. As turfas quando soterradas pela natureza podem se apresentar compactas, podendo apresentar resistência satisfatória devido a deformação dos alvéolos com o acamamento das partículas orgânicas constituintes. Uma lente de turfa alveolar de 20m de espessura pode dar origem a 5m de turfa compacta quando soterrada ou inclusive menos.
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