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MANUAL CASEIRO 1 Legislação penal especial Por Natália Oliveira os assuntos necessários para a compreensão dos temas que comporta quaisquer editais da disciplina em estudo – Legislação Penal Especial. Enunciados das súmulas, cuja incidência tem sido cada vez mais frequente nos certames públicos. Enunciados sistematizado cuja fonte tem sido o @dizerodireito (material em anexo). Questões cobradas pelo CESPE em provas anteriores cuja fonte tem sido o site @qconcursos. Comentários pontuais feitos pela produtora do @manualcaseiro. O único dia fácil foi ontem... MANUAL CASEIRO 2 É possível reunir tudo em um só lugar? O processo e o julgamento dos crimes de lavagem de dinheiro independem do processo e do julgamento dos crimes antecedentes, ainda que praticados em outro país. CERTO! Conforme o art. 2º, inc. II da Lei nº 9.613/98, o processo e o julgamento do crime de lavagem de dinheiro não dependem do processo e do julgamento do crime antecedente, mesmo que praticado em outro país. – A expressão “lavagem de dinheiro” tem origem nos Estados Unidos (money laundering), a partir da década de 1920, quando lavanderias na cidade de Chicago teriam sido utilizadas por gangsters para despistar a origem ilícita do dinheiro. Assim, por intermédio de um comércio legalizado, buscava-se justificar a origem criminosa do dinheiro arrecadado. Não há necessidade de operações de maior complexidade. (RHC 80.816) RELATOR: MIN. SEPÚLVEDA PERTENCE EMENTA: Lavagem de dinheiro: L. 9.613/98: caracterização. O depósito de cheques de terceiro recebidos pelo agente, como produto de concussão, em contas-correntes de pessoas jurídicas, às quais contava ele ter acesso, basta a caracterizar a figura de “lavagem de capitais” mediante ocultação da origem, da localização e da propriedade dos valores respectivos (L. 9.613, art. 1º, caput): o tipo não reclama nem êxito definitivo da ocultação, visado pelo agente, nem o vulto e a complexidade dos exemplos de requintada “engenharia financeira” transnacional, com os quais se ocupa a literatura. Info 226, STF. MANUAL CASEIRO 3 LAVAGEM DE CAPITAIS Lei nº 9.613/98 1. Histórico da Lei nº 9.613/98 A criminalização da Lavagem de Capitais surgiu na CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS contra o TRÁFICO DE ILÍCITO DE ENTORPECENTES, celebrado no ano de 1988, em Viena. Na referida Convenção, chegou-se a conclusão de que seria impossível o combate ao tráfico, se não houvesse uma repressão as movimentações financeiras realizadas pelo tráfico de drogas. É a partir de então que surge a criminalização da Lavagem de Capitais. Surge da Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes. Celebrada em Viena em dezembro de 1988. Somente após dez anos, em 1998 surge a lei brasileira que regulamentou a lavagem de capitais no Ordenamento Jurídico Brasileiro. 1.1 Lei nº 12.683/2012 O Ordenamento Jurídico Brasileiro demorou a regulamentar a matéria (lavagem de capitais). Somente após dez anos surge a Lei nº 9.613, vindo a sua edição em 1998. Além da morosidade em sua regulamentação, quando de seu advento, a lei fora criada com expressões que dificultavam a sua aplicação, ou seja, não estava surtindo os efeitos desejados. Desse modo, somente com a alteração trazida pela Lei nº 12.683 de 2012, foi que a lei ganhou maior aplicabilidade. A Lei nº 12.683/12 surge da necessidade de se tornar mais eficiente a persecução penal dos crimes de lavagem de capitais. A Lei nº produziu ao menos três grandes mudanças: E quais foram elas? a) Supressão do rol taxativo de crimes antecedentes Antes do advento da Lei nº 12.683/12, o crime de lavagem de capitais somente estaria configurado se os valores ocultados fossem provenientes direta ou indiretamente de específicos crimes antecedentes. A lei brasileira contemplava um rol taxativo de crimes antecedentes. Dessa forma, não era qualquer crime que poderia dar ensejo a lavagem de capitais, mas só os especificados ao teor da Lei. Nesse contexto, os crimes antecedentes eram: a) tráfico de drogas; b) terrorismo; c) de terrorismo e seu financiamento; d) de contrabando ou tráfico de armas, munições ou material destinado à sua produção; e) de extorsão mediante sequestro; f) contra a Administração Pública, inclusive a exigência, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, de qualquer vantagem, como condição ou preço para a prática ou omissão de atos administrativos; g) praticado contra o sistema financeiro MANUAL CASEIRO 4 nacional; h) praticado por organização criminosa; e por fim, i) praticado por particular contra a administração pública estrangeira. Assim, no caso da prática de crime que não constasse no referido rol, ainda que lavasse o dinheiro proveniente de delito, como o crime não constava expressamente do rol, não responderia pela infração tipificada ao teor do art. 1º da Lei de Lavagem de Capitais. Com a Nova redação do art. 1º, “caput”, da Lei 9.613/98, alterada pela Lei 12.683/12, fora revogado todos os tipos penais antecedentes da caracterização da lavagem de capitais. Assim: - revogou-se todos os crimes antecedentes; e - ampliação para o termo para infração penal; Além da revogação dos incisos do art. 1º, o caput do art. 1º sofreu também alteração, modificando a expressão crime por infração penal. Vale lembrar, a expressão infração penal, inclui o crime e a contravenção penal. Anteriormente, só se tipificava a lavagem de capitais se o crime antecedente fosse um dos elencados na lei de lavagem de capitais. Com a referida modificação, passou-se a admitir quaisquer infração penais como crime antecedente. Qualquer mesmo? Renato Brasileiro ensina que deve referir-se a infração penal que tenha fonte produtora, ou seja, capaz de auferir renda. - Qualquer crime pode funcionar como crime antecedente do crime de lavagem de capitais? A partir da Lei nº 12.683 de 2012, desde que se trate de infração penal produtora (seja capaz de produzir bens, valores, passiveis de lavagem), qualquer delito *(crime ou contravenção) pode funcionar como antecedente da lavagem. Não pode ser objeto de lavagem crimes, que não geram produção (bens ou valores), por exemplo, o crime de prevaricação não pode ser crime antecedente da lavagem de capitais. Em síntese, agora, com a nova Lei, pode figurar como antecedente da lavagem, por ex., o roubo (não elencado no rol taxativo da Lei anterior) ou até mesmo a contravenção do jogo do bicho! Além disso, exige-se porém que a infração penal deve ser produtora de bens, direitos ou valores passíveis de lavagem (por Rogério Sanches). b) Aprimoramento das medidas assecuratórias - Em que consiste essas medidas assecuratórias? São medidas cautelares urgentes que visam resguardar o patrimônio do acusado, para que possa posteriormente suportar os efeitos da condenação, bem como, permitir o seu confisco ao término da persecutio criminis. A importância da imposição das medidas assecuratórias é para que o patrimônio possa ser assegurado, posto que na maior parte das vezes, os referidos já estão em nome de terceiros, facilitando ainda mais MANUAL CASEIRO 5 sua transferência rapidamente, prejudicando o confisco ao final da persecução penal, ou seja, inviabilizandoa restauração do prejuízo causado pelo delito. - Legislação Art. 4º O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação do delegado de polícia, ouvido o Ministério Público em 24 (vinte e quatro) horas, havendo indícios suficientes de infração penal, poderá decretar medidas assecuratórias de bens, direitos ou valores do investigado ou acusado, ou existentes em nome de interpostas pessoas, que sejam instrumento, produto ou proveito dos crimes previstos nesta Lei ou das infrações penais antecedentes. Atualmente, a medida pode recair não somente em face dos instrumentos, mas também sobre o produto direto ou indireto das infrações antecedentes, reforçando-se ainda mais o sistema das medidas assecuratórias. Entre as medidas assecuratórias, passou-se a admitir a chamada “alienação antecipada”: - Em que consiste essa alienação antecipada? Consiste na venda do bem no momento inicial das persecução penal, com o objetivo de preservar seus valores. O valor deverá ficar depositado. Consegue-se com isso, a preservação do bem. Se absolvido, o valor será restituído, em contrário, sendo condenado, o Estado fará o confisco. Nesse sentido, Renato Brasileiro conceitua a alienação antecipada de bens “consiste na expropriação antecipada de bens moveis ou imóveis, fungíveis, de fácil deterioração e de difícil conservação, que tenham sido objeto de medidas cautelares patrimoniais, adotada com o objetivo de preservar o valor dos bens”. c) Ampliação das pessoas físicas/jurídicas responsáveis pela comunicação de operações suspeitas – - GATEKEEPERS O legislador estabelece para essas pessoas o dever de conhecer seus clientes – Know Your Costumer. Obs.: fazer leitura do art. 9º da Lei (na integra). São espécies de verdadeiros garantidores, posto que tem o dever de conhecer o cliente, e adotar mecanismos, de modo a impedir que sua operação seja utilizada como estratégia para o crime de lavagem de capitais. 2. A expressão “Lavagem de dinheiro” A expressão “lavagem de dinheiro” tem origem nos Estados Unidos (money laundering), a partir da década de 1920, quando lavanderias na cidade de Chicago teriam sido utilizadas por gangsters para despistar a MANUAL CASEIRO 6 origem ilícita do dinheiro. Assim, por intermédio de um comércio legalizado, buscava-se justificar a origem criminosa do dinheiro arrecadado. Em virtude do exposto, a expressão restou consagrada. Cumpre destacarmos que, em alguns países, como na Espanha, utiliza-se a expressão Branqueamento de Capitais”. Nesse contexto, a expressão “lavagem” não constitui o ato de lavar o dinheiro utilizando-se água e produtos químicos. A metáfora simboliza, na verdade, a necessidade de o dinheiro sujo, cuja origem corresponde ao produto de determinada infração penal, ser lavado por várias formas na ordem econômico-financeira com o objetivo de conferir a ele uma aparência lícita (limpa), sem deixar rastro de sua origem espúria. 3. Conceito de Lavagem de Capitais É o ato ou a sequência de atos praticados para encobrir a natureza, localização ou propriedade de bens, direitos ou valores de origem delituosa, com o objetivo de reintroduzi-los à economia formal com aparência lícita. Exemplo: Traficante de Drogas que resolve abrir um posto de gasolina. Em verdade, o lucro não é proveniente do Posto de Gasolina, mas do tráfico. Denota-se que o indivíduo passa a praticar uma série de atos com a finalidade de encobrir (ocultar) a origem dos valores. 4. Gerações da lavagem de capitais 4.1 Leis de 1ª Geração O crime de tráfico de drogas era a única infração penal antecedente na lavagem de capitais. Inclusive, a criminalização da lavagem surgiu na Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico de entorpecentes em Viena. Assim, logo após a Convenção de Viena, as primeiras leis que incriminaram a lavagem de capitais traziam apenas o tráfico ilícito de drogas como crime antecedente, razão pela qual ficaram conhecidas como legislações de primeira geração. O crime de tráfico de drogas era a única infração penal antecedente na lavagem de capitais. 4.2 Leis de 2ª Geração Há uma ampliação dos crimes antecedentes. Em decorrência da relevância e necessidade de se coibir a movimentação financeira do produto financeiro de outros delitos, também considerados graves, houve uma ampliação do rol dos crimes antecedentes numerus clausus), ou seja, um ROL TAXATIVO, dando origem, assim, às legislações de segunda geração. No Brasil, a Lei nº 9.613 de 98 era em sua redação original uma lei de segunda geração, pois contemplava em sua redação originária um rol taxativo de crimes antecedentes da lavagem de capitais. Você sabia? MANUAL CASEIRO 7 Em que pese esse entendimento, havia doutrina minoritária entendendo que a Lei nº 9.613 de 98 tratava-se já de lei de terceira geração, isto porque ao prever como crime antecedente a organização criminosa, ampliaria a possibilidade de incidência de quaisquer crimes na sua prática. Referida argumentação perdeu sentido, por ocasião da declaração do STF no julgamento do HC 96.007/SP, no qual restou assentado que o conceito de organizações criminosas não poderia ser extraído da Convenção de Palerma, sob pena de lesão ao disposto no art. 5°, XXXIX, da Constituição Federal. Ora, se o próprio Supremo assentou que não havia definição de organizações criminosas no ordenamento pátrio, pelo menos até o advento da Lei n° 12.694/12 (art. 2°), depreende-se que a Lei n° 9.613/98 era sim uma legislação de segunda geração, porquanto sobravam como infrações antecedentes apenas aquelas listadas nos demais incisos de seu art. 1°. 4.3 Leis de 3ª Geração Na 3ª geração – QUALQUER INFRAÇÃO PENAL pode funcionar como crime antecedente da lavagem de capitais, desde que de fonte produtora. Com as alterações oriundas da Lei nº 12.683, não há dúvidas que a atual lei de lavagem de capitais vigente no Ordenamento Jurídico Brasileiro é de terceira geração. Há, na verdade, uma única condição para que esse delito-base possa figurar como antecedente da lavagem de capitais, a de que se trata de infração produtora, ou seja, aquela capaz de gerar bens, direitos ou valores passíveis de mascaramento. Obs.: Deve-se estabelecer o mínimo de pena para a infração antecedente, a fim de não popularizar a lei de lavagem de capitais. Atualmente a única condição para que esse delito-base possa figurar como antecedente da lavagem de capitais, a de que se trata de infração produtora, ou seja, aquela capaz de gerar bens, direitos ou valores passíveis de mascaramento. Vamos Esquematizar? 1ª Geração 2ª Geração 3ª Geração O crime de tráfico de drogas era a única infração penal antecedente na lavagem de capitais. Existe um rol taxativo de infrações penais antecedentes. No Brasil, a Lei nº 9.613 de 98 era INICIALMENTE uma lei de segunda geração, pois contemplava em sua redação originária um rol taxativo de crimes antecedentes da lavagem de capitais. Admitem lavagem de dinheiro de qualquer infração penal antecedente. JÁ CAIU CESPE: A respeito dos crimes de lavagem de dinheiro e de abuso de autoridade, julgue o item subsequente. A lei brasileira que criminaliza a lavagem de dinheiro classifica-se como de terceira geração, pois admite que o delito de lavagem de dinheiro pode ter como precedente qualquer ilícito penal. CERTO! MANUAL CASEIRO 8 5. Fases da lavagem de capitais 5.1 1ª Fase – Colocação (Placement): consiste na introdução do dinheiro ilícito no sistema financeiro. Consiste na introdução do dinheiro ilícito no sistema financeiro,dificultando a identificação da procedência dos valores de modo a evitar qualquer ligação entre o agente e o resultado obtido com a prática do crime antecedente. Diversas técnicas são utilizadas nesta fase, tais como o fracionamento de grandes quantias em pequenos valores, que escapam do controle administrativo imposto às instituições financeiras (art. 10, II, c/c art. 11, II, a, da Lei 9.613/98) - procedimento esse conhecido como smurfing, em alusão aos pequenos personagens da ficção na cor azul -, utilização de estabelecimentos comerciais que usualmente trabalham com dinheiro em espécie, remessas ao exterior através de mulas, transferências eletrônicas para paraísos fiscais, troca por moeda estrangeira etc. A colocação é o estágio primário da lavagem e, portanto, o mais vulnerável à sua detecção, razão pela qual devem as autoridades centrar o foco dos maiores esforços de sua investigação nessa fase da lavagem. 5.2 2ª Fase – DISSIMULAÇÃO ou MASCARAMENTO (layering) Nesta fase são realizados diversos negócios ou movimentações financeiras, a fim de impedir o rastreamento e encobrir a origem ilícita dos valores. Realizam-se diversos negócios com a intenção de dificultar, ainda mais, o rastreamento da origem ilícita daqueles valores. 5.3. 3ª Fase – INTEGRAÇÃO (integration) Os referidos valores, agora com aparência licita, são reintroduzidos no sistema financeiro. Nesse contexto, com a aparência lícita, os bens são formalmente incorporados ao sistema econômico, geralmente por meio de investimentos no mercado mobiliário ou imobiliário, transações de importação/exportação com preços superfaturados (ou subfaturados), ou aquisição de bens em geral (v.g., obras de arte, ouro, joias, embarcações, veículos automotores). Conforme já decidiu o STF, NÃO há necessidade do preenchimento das três fases para que se possa configurar o delito de lavagem de capitais. Vamos Esquematizar? 1ª Fase OCULTAÇÃO/PLACEMENT/CO NVERSÃO/COLOCAÇÃO: 2ª Fase DISSIMULAÇÃO/LAYERING/ MASCARAMENTO: 3ª Fase INTEGRAÇÃO/INTEGRATI- ON/RECYCLING: Consiste na introdução do dinheiro ilícito no Sistema Financeiro. A doutrina denomina “smurfing” técnica de pulverizar, fazer depósitos de uma grande quantidade de dinheiro, fracionadamente, para não levantar suspeitas quanto à origem dos valores. Nessa segunda fase é realizada uma série de negócios ou movimentações financeiras, dificultando a identificação da procedência ilícita dos valores. Para multiplicar/entrecruzar as operações realizadas e apagar o rastro do dinheiro sujo. Já com a aparência de lícitos, os bens são formalmente incorporados ao sistema econômico, retornando através de investimentos na prática de novos delitos ou no mercado mobiliário ou imobiliário. MANUAL CASEIRO 9 Segundo a Jurisprudência do STF não é necessária a ocorrência dessas três fases para a consumação do delito. O STF aduz que as fases são modelos doutrinários e didáticos, não exigindo o seu cumprimento. (RHC 80816). JÁ CAIU CESPE: Para que se caracterize a prática do crime de lavagem, é necessário que o agente percorra todas as etapas, que são a colocação ou introdução do bem, direito ou valor no sistema financeiro, seguida da ocultação ou dissimulação desse bem, direito ou valor e a sua integração ao sistema econômico. ERRADO!!! Conforme já se manifestou o STF, NÃO há necessidade do preenchimento das três fases para que se possa configurar o delito de lavagem de capitais. 6. Tipos de lavagem 7. Bem jurídico tutelado Há várias correntes que buscam definir qual é o bem jurídico tutelado no crime de lavagem de capitais. 1ª Posição tutela o mesmo bem jurídico tutelado pela infração antecedente; referida corrente entende que lei de lavagem de dinheiro visa resguardar o mesmo bem jurídico tutelado pela infração antecedente. Assim, o branqueamento de capitais obtidos com o tráfico de drogas afetaria a saúde pública, ao asso que a lavagem de dinheiro derivado de furtos lesionaria o patrimônio. Esta corrente é minoritária e tem por crítica principal, o fato de que, protegeria um só crime, variados bens jurídicos conforme o caso. - Reforço de tutela ao bem jurídico do crime antecedente. 2ª Posição o bem jurídico tutelado é a Administração da Justiça; o crime de lavagem seria semelhante ao de o favorecimento real, previsto no art. 349 do Código Penal, na medida em que a prática da lavagem de capitais torna difícil a recuperação do produto direto ou indireto da infração antecedente, dificultando a ação da Justiça, conclui-se assim que o bem jurídico tutelado por este delito é a administração da Justiça. Esta teoria também não fora adotada. 3ª Posição o bem jurídico tutelado é a Ordem econômico-financeira: Esse seria o bem jurídico tutelado, pois gera o abuso do poder econômico, e gera uma concorrência desleal entre os comerciantes. É a posição adotada no Ordenamento Jurídico Brasileiro. Corroborando, Renato Brasileiro (Legislação Criminal Comentada, 2015) “de acordo com a doutrina majoritária, funciona a lavagem como obstáculo à atração de capital estrangeiro, afetando o equilíbrio do mercado, a livre concorrência, as relações de consumo, a transparência, o acúmulo e o reinvestimento de capital sem lastro em atividades produtivas ou financeiras lícitas, turbando o funcionamento da economia formal e o equilíbrio entre seus operadores. Representa, enfim, um elemento de desestabilização econômica. Trata-se, portanto, de crime contra a ordem econômico-financeira”. MANUAL CASEIRO 10 É possível a aplicação do princípio da insignificância? Admite-se a INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA aos crimes de lavagem de capitais, desde que preenchidos os seus pressupostos. *Recordar da divergência do patamar do que é considerado insignificante nos crimes contra ordem econômica, STF: 20 mil; STJ: 10 mil, com exclusão da tipicidade material. 4ª Posição Plurionfesividade: Referida corrente sustenta que a lavagem de dinheiro ofende mais de um bem jurídico. Nesse caso, há quem entenda que os bens jurídicos tutelados são a ordem econômico-financeira e a administração da justiça; ou ainda, mais o bem jurídico tutelado pela infração antecedente. 8. Da acessoriedade da lavagem de capitais Trata-se de crime acessório também denominado de parasitário. O crime de lavagem de capitais é exemplo de crime acessório (também denominado de PARASITÁRIO), isto porque a tipificação do crime de lavagem de capitais está conectada a uma infração antecedente. Nesse sentido, preleciona Renato Brasileiro “a tipificação do crime acessório, diferido, remetido, sucedâneo, parasitário ou consequencial de lavagem de capitais está atrelada à prática de uma infração penal antecedente que produza o dinheiro, bem ou valor, que será objeto de ocultação. Deveras, pela própria leitura do caput do art. 1° da Lei n° 9.613/98, com redação determinada pela Lei n° 12.683/12, percebe-se que o substantivo -infração penal- funciona como verdadeira elementar do art. 1°, existindo uma relação de acessoriedade objetiva entre as infrações. Portanto, a ausência da infração penal antecedente acaba por afastar a própria tipicidade do delito de lavagem de capitais”. A infração penal “antecedente” é uma elementar do próprio tipo penal de lavagem de capitais. Cuidado: não se pode confundir a dependência para a configuração do delito de lavagem de capitais com o crime antecedente (acessoriedade), com a autonomia do processamento dos delitos – infração ntecedente e lavagem de capitais. De acordo com o art. 2°, II, da Lei 9.613/98, com redaçãodada pela Lei n° 12.683/12, o processo e julgamento dos crimes de lavagem de capitais independe do processo e julgamento das infrações penais antecedentes, ainda que praticados em outro país, cabendo ao juiz competente para os crimes previstos na Lei de Lavagem a decisão sobre a unidade de processo e julgamento. Embora a lei tenha consagrado a autonomia do processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro, que não precisa tramitar obrigatoriamente com o feito referente à infração penal antecedente em um simultaneus MANUAL CASEIRO 11 processus, há de se ter extrema cautela com a interpretação desse dispositivo, eis que, na verdade, não há uma total e absoluta independência entre o delito de lavagem de capitais e o delito-base. Os processos podem tramitar separadamente. A existência da infração penal antecedente deve ser analisada pelo outro juiz como uma questão prejudicial. JÁ CAIU CESPE: No crime de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores, para se tipificar a conduta praticada, é necessário que os bens, direitos ou valores provenham de crime anterior e que o agente já tenha sido condenado judicialmente pelo crime previamente cometido. ERRADO!!! Inobstante seja o crime de lavagem de capitais crime acessório, também denominado de parasitário, não há necessidade de condenação judicial anterior para que o crime reste caracterizado e/ou seja punido pelo delito de lavagem de capitais. Ademais, os processos podem tramitar em separado. Nesse sentido, vejamos o que dispõe a legislação: Art. 2º O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei: II - independem do processo e julgamento das infrações penais antecedentes, ainda que praticados em outro país, cabendo ao juiz competente para os crimes previstos nesta Lei a decisão sobre a unidade de processo e julgamento. O processo e julgamento do processo de lavagem independe do processo e julgamento da infração antecedente. (Teoria da Acessoriedade Limitada). Obs.1: Apesar de haver uma conexão probatória entre a infração antecedente e a lavagem de capitais, a reunião dos processos não é obrigatória. Se possível, poderá ser determinada, cabendo essa decisão ao juízo competente para o julgamento da lavagem de capitais. Quem decidirá sobre a junção dos processos, será o do Juiz competente para o processo e julgamento do delito da Lavagem de Capitais. Conexão Probatória Art. 76. A competência será determinada pela conexão: (...) III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de outra infração. Lei 9.613/98 - Art. 2º O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei: (...) II - independem do processo e julgamento das infrações penais antecedentes, ainda que praticados em outro país, cabendo ao juiz competente para os crimes previstos nesta Lei a decisão sobre a unidade de processo e julgamento. *Trata-se de um acréscimo inserido pela Lei nº 12.863 de 2012. Obs.2: A condenação em relação à infração penal antecedente não é condição sine que non para eventual condenação pelo crime de lavagem de capitais. Se os processos não tramitarem simultaneamente, a existência da infração antecedente deve ser enfrentada, no processo de lavagem, como verdadeira questão prejudicial homogênea. Assim, concluímos que a lavagem poderá ser julgada independentemente da infração penal antecedente. - A infração penal antecedente será levantada como uma questão prejudicial de natureza homogênea. MANUAL CASEIRO 12 Obs.3: Trabalha-se com a teoria da acessoriedade limitada: conduta típica + ilícito. Na esfera da participação criminal, denomina-se acessoriedade limitada o grau de dependência segundo o qual só se pode castigar a conduta do partícipe quando o fato principal for típico e antijurídico. Obs.4: se a exclusão da conduta antecedente for em decorrência de exclusão de culpabilidade, isso não impede eventual responsabilização pelo crime de lavagem. De igual modo, ocorrendo a extinção da punibilidade do crime antecedente ao de lavagem de capitais, não haverá impedimento para o processamento do crime de lavagem de capitais. Em síntese, para a tipificação do delito de lavagem de capitais, há necessidade de que o delito prévio seja ao menos típico e antijurídico, o que torna impossível a prática da lavagem se o fato antecedente previsto na lei não puder ser considerado crime. Adota-se o princípio da acessoriedade limitada, 9. Sujeitos do crime Trata-se de crime comum: pode ser praticado por qualquer pessoa. Trata-se de crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer pessoa. A lei não exige qualquer qualidade especial do agente para a responsabilização dos delitos esculpidos ao teor da Lei nº 9.613 de 98. Somente se admite, nesse âmbito, a responsabilização penal das pessoas físicas. Autolavagem: trata da possibilidade do autor da infração antecedente também ser responsabilizado pelo crime de lavagem de capitais. O agente responderia: pela infração antecedente; + lavagem de dinheiro. 1ª Corrente: sustenta não ser possível, não se admitindo a autolavagem no Brasil, pois aduzem que a ocultação seria um desdobramento natural do crime. Teoria minoritária. De maneira análoga ao que acontece no delito de receptação, do qual não podem ser sujeito ativo o autor, coautor ou partícipe do crime antecedente, para o autor da infração precedente o aproveitamento do produto auferido configuraria mero exaurimento impunível, integrando-se ao próprio objetivo desejado (meta optata) da atividade delituosa. A título de exemplo, costuma-se citar a hipótese em que o agente compra bem imóvel depois de obter vantagem indevida, mediante a prática de corrupção passiva (art. 317 do CP). O agente registra a propriedade no próprio nome, passando a residir no local. Em tal situação, não seria possível a punição por lavagem, eis que a ocultação dos valores obtidos com o crime antecedente, pelo menos para o seu autor, estaria inserida no curso normal do desenvolvimento da intenção do agente, configurando o denominado fato posterior não punível. MANUAL CASEIRO 13 Argumenta-se ainda, que quando o agente atua para ocultar o crime praticado, ele atua amparado pelo princípio que veda a autoincriminação. 2ª Corrente: entende ser possível a autolavagem. Obs.1: O direito de não autoincriminação não lhe assegura o direito de praticar outras atividades ilícitas. Tanto é verdade que, comete falsa identidade, aquele que se identifica falsamente para encobrir uma prática delitiva anterior (não fica amparado pela direito a não-autoincriminação). Teoria que prevalece, sendo acolhida. A Jurisprudência adotada a 2ª Corrente: STF HC 92.279. O Supremo Tribunal Federal tem precedentes no sentido de que o crime de lavagem de capitais não funciona como mero exaurimento da infração antecedente, já que a Lei n. 9.613/98 não exclui a possibilidade de que o ilícito penal antecedente e a lavagem de capitais subsequente tenham a mesma autoria, sendo aquele independente em relação a esta (STF, Plenário, Inq. 2.471/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, 29/09/2011). No sentido de que a lavagem de dinheiro é crime autônomo, não se constituindo em mero exaurimento da infração antecedente, razão pela qual não haverá bis in idem ou litispendência entre os processos instaurados contra o mesmo acusado pelo branqueamento de capitais e pela infração penal antecedente: STF, 2ª Turma, HC 92.279/RN, Rel. Min. Joaquim Barbosa, j. 24/06/2008, DJe 177 18/09/2008. Na mesma linha, segundo o STJ, é possível que o autor da infração antecedenteresponda por lavagem de dinheiro, dada à diversidade dos bens jurídicos atingidos e à autonomia deste delito: STJ, 5ª Turma, REsp 1.234.097/PR, Rel. Min. Gilson Dipp, j. 03/11/2011, DJe 17/11/2011. Desnecessidade de participação na infração antecedente Não há necessidade de participacao do autor na infracao penal antecedente para que se configure o crime de lavagem, ou seja, é possível que o sujeito seja agente delitivo no crime de lavagem sem que tenha participado do crime antecedente, desde que tenha consciencia de que os valores por ele ocultado são provenientes da infração antecedente. Advogado como sujeito ativo do crime de lavagem de capitais Inicialmente, cumpre destarcamos que o exercício da advocacia não funciona como uminidade da lavagem de capitais. O advogado pode ser responsabilizado? - pode ser responsabilizado? SIM. - tem obrigação de comunicar operações suspeitas? Ao advogado se impõe o dever de comunicar operações suspeitas de lavagem de capitais às autoridades competentes? Até que ponto esse suposto dever de comunicação é compatível com o sigilo constitucional MANUAL CASEIRO 14 inerente ao exercício da advocacia? A omissão do advogado em comunicar operações suspeitas pode gerar eventual responsabilidade criminal pela prática do crime de lavagem de capitais? Obs.1: Conforme já destacado acima, o exercício da advocacia não é causa de imunidade em relação à lavagem de capitais. STJ HC 50.933. Obs.2: Embora a lei não expresse de forma clara a pessoa do advogado, entende-se que nesse rol, em decorrência das atividades por este prestada, poder-se-á visualizar a intenção do legislador em inserir o advogado. - Lei 12.863, de 2012 Art. 9º. Sujeitam-se às obrigações referidas nos arts. 10 e 11 as pessoas físicas e jurídicas que tenham, em caráter permanente ou eventual, como atividade principal ou acessória, cumulativamente ou não: Parágrafo único: Sujeitam-se as mesmas obrigações: XIV - as pessoas físicas ou jurídicas que prestem, mesmo que eventualmente, serviços de assessoria, consultoria, contadoria, auditoria, aconselhamento ou assistência, de qualquer natureza, em operações: Doutrina - Advogados de representação contenciosa: são advogados que atuam na defesa de seus clientes em um processo judicial. Nesse caso, não estão obrigados a comunicar operações suspeitas, sob pena de violação ao sigilo constitucional, inerente a advocacia. - Advogados de operação: diz respeito a atividade de consultoria jurídica não processual (empresarial; tributária). Nesse caso, diante do dever do “know your customer”, existe a obrigação de comunicação de operações suspeitas. OAB entendeu que os advogados não estariam incluídos entre as referidas pessoas. O advogado que recebe honorários provenientes de infração penal fica com o valor, mesmo sabendo da origem desse dinheiro? Se o serviço advocatício for prestado e o contrato não for fraudulento, o advogado não poderá ser responsabilizado pelo crime de lavagem de capitais. Se, todavia, souber que o valor é ilícito, nada impede que tais valores sejam objeto de medidas assecuratórias. 10. Tipo Objetivo 10.1 Ocultar: esconder a coisa, tirar de circulação, subtrair da vista. Consuma-se com o simples encobrimento. Para que se possa falar em lavagem de capitais, é necessário que a ocultação ocorra com o objetivo de lhe conferir uma aparência licita, e não meramente esconder a coisa objeto de subtração. 10.2 Dissimular: disfarçar, escamotear, tornar pouco perceptível. MANUAL CASEIRO 15 Tipo Misto Alternativo: O crime do art. 1º da Lei de Lavagem de Capitais, é crime de AÇÃO MÚLTIPLA, também denominado de conteúdo variado ou tipo misto alternativo. A prática de duas condutas descritas no tipo (ocultar e issimular) não gera concursos de crimes, respondendo o agente por apenas um delito, se praticado no mesmo contexto fático. Distinção entre exaurimento da infração penal antecedente e o crime de lavagem de capitais É imprescindível que tenhamos ciência de que o mero fato de usufruir dos valores obtidos pela prática de um crime não configura o crime de lavagem e capitais. Dessa forma, só podemos falar que haverá lavagem de capitais quanto se tentar dar uma destinação ao dinheiro, com as finalidades específicas exigidas no tipo penal em estudo. O simples fato de usufruir do lucro advindo do crime não configura o crime de lavagem. Natureza instantânea ou permanente do crime de lavagem de capitais Para melhor compreensão do tema, imagine a seguinte situação hipotética: no ano de 2005 a 2009 “A” praticou jogo do bicho. Esse dinheiro obtido é depositado em conta no exterior em nome de laranjas, valor depositado em 2009 e permanece até hoje (2017). Ocorre que, em 2009, o jogo do bicho não era infração penal antecedente. Depois de 2009 não houve mais a prática de jogo do bicho. Mas o dinheiro existe até hoje em conta no exterior. Nessa sentido, indaga-se: existe o crime de lavagem de capitais nesse exemplo? Temos duas correntes: Para uma 1º corrente, trata-se de um crime instantâneo de efeitos permanentes. Noutra banda, para uma 2º correste seria crime permanente (crime cuja consumação se prolonga no tempo, porém durante todo esse período o agente detém o poder de fazer cessar a execução do delito). Nesse sentido, preleciona Renato Brasileiro “os verbos utilizados no art. 1°, caput, da Lei n° 9.613/98 – ocultar e dissimular - denotam a existência de crime de natureza permanente, com um continuum riminoso com execução em andamento enquanto o bem permanecer escondido. Como se sabe, compreende-se por crime permanente aquele delito cuja consumação, pela natureza do bem jurídico ofendido, pode protrair-se no tempo, desde que nas mãos do agente o poder de fazer cessar a conduta delituosa”. Entendendo que o crime é permanente, caso o agente iniciasse a consumação do delito de lavagem de produto de uma infração penal antecedente que não figurava no rol do art. 1º antes do advento da Lei nº 12.683 de 2012 e a consumação se prolongasse até o momento posterior ao início da vigência da lei, ela já incidiria nesse fato, isso é, já se poderia falar em lavagem de dinheiro, justamente porque o crime permanente e sua consumação ainda estava ocorrendo no momento em que a novel lei iniciou a sua vigência, nos moldes da Súmula 711 do STF (Coleção Leis Especiais para Concurso, Gabriel Habib, 2016). MANUAL CASEIRO 16 Súmula n. 711 do STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”. 11. Tipo Subjetivo No Ordenamento Jurídico Brasileiro o crime de lavagem é punido exclusivamente à título de dolo. O crime de lavagem de capitais só é punido à titulo de dolo. Quais as modalidades de dolo podem ser objeto de punição no crime de lavagem de capitais? a) dolo direto; b) dolo eventual: assume o risco de produzir o resultado. É punido à título de dolo eventual. - Salvo para o art. 1º, §2º, II. (Não admite punição à titulo de dolo eventual). Teoria da Cegueira Deliberada Também denominada de Teoria das instruções da Avestruz. Essa teoria tem origem na jurisprudência norte americana e consiste na análise do aspecto subjetivo da conduta do agente, isso é, verificação do elemento subjetivo do tipo legal de crime de lavagem de dinheiro, mais especificamente o dolo indireto eventual. A expressão Teoria do Avestruz: o avestruz, ao menor sinal de perigo, enterra a sua cabeça na terra e não vê o que está se passando ao redor. Segundo Renato Brasileiro“essa teoria surge no direito norte americano e vem sendo muito utilizada para os crimes de lavagem de capitais, onde é muito comum que o agente não queira tomar conhecimento da origem ilícita dos valores por ele ocultados, hipótese em que o agente assume o risco de produzir o resultado, daí por que pode ser responsabilizado pelos crimes de lavagem a título de dolo eventual”. Quando o agente deliberadamente evitar a consciência quanto a origem ilícita dos bens, por ele ocultados, deverá responder pelo crime à titulo de dolo eventual. O agente deliberadamente evita a consciência quanto a origem dos bens. Essa teoria tem incidência caso o agente possua consciência da possível origem do dinheiro o qual está tratando, mas, mesmo assim, deliberadamente cegue-se para tal fato, voluntariamente criando mecanismos que obstam a sua plena consciência da origem ilícita do dinheiro ou deixando de buscar informações que lhe permitam concluir tal origem. Se o agente tem condições de ter consciência sobre a origem ilícita do dinheiro e deliberadamente fecha os olhos para tal fato, pratica o delito de Lavagem de Dinheiro, pois age assumindo o risco de ocultar ou dissimular dinheiro sujo, proveniente de infração penal. (Coleção Leis Especiais para Concurso, Gabriel Habib, 2016). - Caso do Branco do Brasil em Fortaleza. MANUAL CASEIRO 17 12. Objeto Material Bem Jurídico Objeto Material Bem da vida que é tutelado pelo tipo penal. São as pessoas ou coisas sobre as quais recai a conduta do agente. No crime de lavagem de capitais o objeto material são os bens, direitos ou valores, provenientes direta ou indiretamente, de infração penal. Produto direto/indireto da infração penal. Produto direto: resultado imediato da operação da conduta delituosa. Produto indireto: dinheiro angariado com a venda do produto. 13. Lavagem da lavagem (lavagem em cadeia) Com o advento da Lei nº 12.683/2012 qualquer infração penal pode figurar como crime antecedente da lavagem de capitais (inclusive, uma outra lavagem de capitais). Nesse sentido, a lavagem em cadeia é a lavagem de capitais que tem como infração penal antecedente um outro crime de lavagem de capitais. Uma lavagem de capitais é infração penal antecedente de uma outra lavagem de capitais. 14. Regime Especial de Regularização cambial e tributária (RERCT) de valores não declarados mantidos no exterior e extinção da punibilidade do crime de lavagem de capitais. Lei n. 13.254/16 - Art. 1º É instituído o Regime Especial de Regularização Cambial e Tributária (RERCT), para declaração voluntária de recursos, bens ou direitos de origem lícita, não declarados ou declarados com omissão ou incorreção em relação a dados essenciais, remetidos ou mantidos no exterior, ou repatriados por residentes ou domiciliados no País, conforme a legislação cambial ou tributária, nos termos e condições desta Lei. Lei n. 13.254/16 - Art. 5º A adesão ao programa dar-se-á mediante entrega da declaração dos recursos, bens e direitos sujeitos à regularização prevista no caput do art. 4o e pagamento integral do imposto previsto no art. 6º e da multa prevista no art. 8º desta Lei. § 1º O cumprimento das condições previstas no caput antes de decisão criminal, em relação aos bens a serem regularizados, extinguirá a punibilidade dos crimes previstos: Lei n. 13.254/16 - Art. 5ºA adesão ao programa dar-se-á mediante entrega da declaração dos recursos, bens e direitos sujeitos à regularização prevista no caput do art. 4o e pagamento integral do imposto previsto no art. 6º e da multa prevista no art. 8º desta Lei. MANUAL CASEIRO 18 § 1º O cumprimento das condições previstas no caput antes de decisão criminal, em relação aos bens a serem regularizados, extinguirá a punibilidade dos crimes previstos: I – no art. 1º e nos incisos I, II e V do art. 2º da Lei n. 8.137/90; II – na Lei n. 4.729/65; III – no art. 337-A do Código Penal; IV - nos seguintes arts. do CP, quando exaurida sua potencialidade lesiva com a prática dos crimes previstos nos incisos I a III: a) 297; b) 298; c) 299; d) 304 VI – no caput e no parágrafo único do art. 22 da Lei n. 7.492/86; VII - no art. 1º da Lei n. 9.613/98, quando o objeto do crime for bem, direito ou valor proveniente, direta ou indiretamente, dos crimes previstos nos incisos I a VI; § 2º A extinção da punibilidade a que se refere o § 1º: II - somente ocorrerá se o cumprimento das condições se der antes do trânsito em julgado da decisão criminal condenatória; III - produzirá, em relação à administração pública, a extinção de todas as obrigações de natureza cambial ou financeira, principais ou acessórias, inclusive as meramente formais, que pudessem ser exigíveis em relação aos bens e direitos declarados, ressalvadas as previstas nesta Lei. 15. Justa Causa Duplicada Quando se oferece a denúncia em face do crime de lavagem de capitais, a Lei nº 9.613 exige-se não apenas o lastro probatório mínimo do crime de lavagem de capitais, mas é preciso também o lastro probatório mínimo da infração penal antecedente. Legislação Art. 2º, §1º A denúncia será instruída com indícios suficientes da existência da infração penal antecedente, sendo puníveis os fatos previstos nesta Lei, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor, ou extinta a punibilidade da infração penal antecedente. Nesse sentido, preleciona Gabriel Habib (Coleção Leis Especiais para Concurso, 2016) “além dos requisitos genéricos descritos no art.41 do Código de Processo Penal, que são os indícios suficientes da existência da infração penal antecedente. Essa demonstração na denúncia é fundamental para viabilizar o oferecimento da denúncia”. MANUAL CASEIRO 19 JÁ CAIU CESPE JÁ CAIU CESPE: No que concerne aos crimes em espécie, julgue o item seguinte. Em crimes de lavagem de dinheiro, dada a natureza do delito praticado, é incabível a tentativa. ERRADO!!!O crime de lavagem de dinheiro admite tentativa. Vejamos: Art. 1º, § 3º A tentativa é punida nos termos do parágrafo único do art. 14 do Código Penal. (Lei nº 9.613/98). JÁ CAIU CESPE: No crime de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores, para se tipificar a conduta praticada, é necessário que os bens, direitos ou valores provenham de crime anterior e que o agente já tenha sido condenado judicialmente pelo crime previamente cometido. ERRADO!!! Inobstante seja o crime de lavagem de capitais crime acessório, também denominado de parasitário, não há necessidade de condenação judicial anterior para que o crime reste caracterizado e/ou seja punido pelo delito de lavagem de capitais. Nesse sentido, vejamos o que dispõe a legislação: Art. 2º O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei: II - independem do processo e julgamento das infrações penais antecedentes, ainda que praticados em outro país, cabendo ao juiz competente para os crimes previstos nesta Lei a decisão sobre a unidade de processo e julgamento. O processo e julgamento do processo de lavagem independe do processo e julgamento da infração antecedente. (Teoria da Acessoriedade Limitada). Segundo ensina o Professor Renato Brasileiro, embora a lei tenha consagrado a autonomia do processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro, que não precisa tramitar obrigatoriamente com o feito referente à infração penal antecedente em um simultaneus processus, há de se ter extrema cautela com a interpretação desse dispositivo, eis que, na verdade, não há uma total e absoluta independência entre o delito de lavagem de capitais e o delito-base. Na verdade, essa autonomia é apenas relativa.Isso porque a tipificação do crime acessório, diferido, remetido, sucedâneo, parasitário ou consequencial de lavagem de capitais está atrelada à prática de uma infração penal antecedente que produza o dinheiro, bem ou valor, que será objeto de ocultação. Assim, chegamos a conclusão de que a autonomia é em relação aos processos, mas não a existência do delito em si, visto que o crime de lavagem pressupõe o delito antecedente. JÁ CAIU CESPE: O processo e o julgamento dos crimes de lavagem de dinheiro independem do processo e do julgamento dos crimes antecedentes, ainda que praticados em outro país. CERTO! Conforme o art. 2º, inc. II da Lei nº 9.613/98, determina expressamente que o processo e o julgamento do crime de lavagem de dinheiro não dependem do processo e do julgamento do crime antecedente, mesmo que praticado em outro país. JÁ CAIU CESPE: A respeito dos crimes de lavagem de dinheiro e de abuso de autoridade, julgue o item subsequente. MANUAL CASEIRO 20 De acordo com a jurisprudência do STJ, o delito de lavagem de dinheiro absorve a infração penal antecedente. ERRADO!!! Em sede de lavagem ocorre a dupla imputação, não havendo absorção. JÁ CAIU CESPE: A respeito dos crimes de lavagem de dinheiro e de abuso de autoridade, julgue o item subsequente. A lei brasileira que criminaliza a lavagem de dinheiro classifica-se como de terceira geração, pois admite que o delito de lavagem de dinheiro pode ter como precedente qualquer ilícito penal. CERTO! Na 3ª geração – QUALQUER INFRAÇÃO PENAL pode funcionar como crime antecedente da lavagem de capitais, desde que de fonte produtora. Com as alterações oriundas da Lei nº 12.683, não há dúvidas que a atual lei de lavagem de capitais vigente no Ordenamento Jurídico Brasileiro é de terceira geração. Atualmente a única condição para que esse delito-base possa figurar como antecedente da lavagem de capitais, a de que se trata de infração produtora, ou seja, aquela capaz de gerar bens, direitos ou valores passíveis de mascaramento. Vamos esquematizar as demais gerações? 1ª Geração 2ª Geração 3ª Geração O crime de tráfico de drogas era a única infração penal antecedente na lavagem de capitais. Existe um rol taxativo de infrações penais antecedentes. No Brasil, a Lei nº 9.613 de 98 era INICIALMENTE uma lei de segunda geração, pois contemplava em sua redação originária um rol taxativo de crimes antecedentes da lavagem de capitais. Admitem lavagem de dinheiro de qualquer infração penal antecedente. JÁ CAIU CESPE: Em se tratando de crimes de lavagem de dinheiro, o processo e o julgamento será da competência da justiça federal quando a infração penal antecedente for de competência da justiça federal. CERTO! Nos termos do art. 2º, III - são da competência da Justiça Federal: b) quando a infração penal antecedente for de competência da Justiça Federal. JÁ CAIU CESPE: Para que se caracterize a prática do crime de lavagem, é necessário que o agente percorra todas as etapas, que são a colocação ou introdução do bem, direito ou valor no sistema financeiro, seguida da ocultação ou dissimulação desse bem, direito ou valor e a sua integração ao sistema econômico. ERRADO!!! Conforme já se manifestou o STF, NÃO há necessidade do preenchimento das três fases para que se possa configurar o delito de lavagem de capitais. Fase da Lavagem de Capitais: vamos esquematizar? MANUAL CASEIRO 21 1ª Fase OCULTAÇÃO/PLACEMENT/CON VERSÃO/COLOCAÇÃO: 2ª Fase DISSIMULAÇÃO/LAYERING /MASCARAMENTO: 3ª Fase INTEGRAÇÃO/INTEGRAT ION/RECYCLING: Consiste na introdução do dinheiro ilícito no Sistema Financeiro. A doutrina denomina “smurfing” técnica de pulverizar, fazer depósitos de uma grande quantidade de dinheiro, fracionadamente, para não levantar suspeitas quanto à origem dos valores. Nessa segunda fase é realizada uma série de negócios ou movimentações financeiras, dificultando a identificação da procedência ilícita dos valores. Para multiplicar/entrecruzar as operações realizadas e apagar o rastro do dinheiro sujo. Já com a aparência de lícitos, os bens são formalmente incorporados ao sistema econômico, retornando através de investimentos na prática de novos delitos ou no mercado mobiliário ou imobiliário. A fase de layering, ou dissimulação, na lavagem de dinheiro, é aquela em que se busca dar aos recursos financeiros a aparência de legítimos, à qual se sucede a fase de integração (integration). JÁ CAIU CESPE: No que diz respeito aos crimes previstos na legislação penal extravagante, julgue o item subsequente. O crime de lavagem de capitais, consoante entendimento consolidado na doutrina e na jurisprudência, divide- se em três etapas independentes: colocação (placement), dissimulação (layering) e integração (integration), não se exigindo, para a consumação do delito, a ocorrência dessas três fases. CERTO! Segundo a Jurisprudência do STF não é necessária a ocorrência dessas três fases para a consumação do delito. O STF aduz que as fases são modelos doutrinários e didáticos, não exigindo o seu cumprimento. (RHC 80816). JÁ CAIU CESPE: Acerca da legislação penal especial e dos crimes contra a administração pública e contra a fé pública, julgue os itens subsequentes. Aquele que ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal, praticará o delito de receptação. ERRADO!!! In casu, restará configurado o delito de lavagem de capitais, conforme o art. 1º da referida lei. Vejamos: Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal. JÁ CAIU CESPE: Consoante a Lei nº 9.613/1998, que dispõe sobre os crimes de lavagem e ocultação de bens, direitos e valores, deverá ser decretada, em favor da União, a perda dos bens, direitos e valores objeto de crime de lavagem e ocultação de bens, sem qualquer ressalva. ERRADO!!! O erro da assertiva está relacionado ao caráter absoluto apontado, quando, em verdade, admite- se ressalvas. Vejamos: Art. 4º § 10. Sobrevindo o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, o juiz decretará, em favor, conforme o caso, da União ou do Estado: III - a perda dos bens não reclamados no prazo de 90 (noventa) dias após o trânsito em julgado da sentença condenatória, ressalvado o direito de lesado ou terceiro de boa-fé. MANUAL CASEIRO 22 JÁ CAIU CESPE: Para a configuração do crime de lavagem ou ocultação de valores, é imprescindível o especial elemento subjetivo, sob pena de exclusão da tipicidade. CERTO! Isso porque o crime de lavagem de capitais só é punido à titulo de dolo. Desse modo, exige-se o dolo, seja ele direto ou eventual, não se admitindo a lavagem de capitais na modalidade culposa. Não é necessário que o agente tenha conhecimento específico da infração antecedente praticada, bastando para a reprovação que tenha conhecimento da origem e natureza delituosa dos valores, bens ou direitos envolvidos. Segundo doutrina majoritária, o crime de lavagem exige especial fim de agir, consubstanciado na vontade de reciclar o capital sujo por meio de diversas operações comerciais ou financeiras com o objetivo de conferir a ele uma aparência supostamente lícita. JÁ CAIU CESPE: No que diz respeito aos crimes previstos na legislação penal extravagante, julgue o item subsequente. O crime de lavagem de capitais, delito autônomo em relação aos delitos que o antecedam, não está inserido no rol dos crimes hediondos. CERTO! Jurisprudência:O crime de lavagem de dinheiro, por ser autônomo, não depende da instauração de processo administrativo- fiscal. Os fatos descritos na denúncia, se comprovados, podem tipificar o crime descrito na norma penal vigente, devendo, quanto a este, prosseguir a ação penal. Precedentes." (HC 85.949, rel. min. Cármen Lúcia, julgamento em 22-8-2006, Primeira Turma, DJ de 6-11-2006.) A repatriação dos valores objeto do crime de lavagem de dinheiro não tem qualquer consequência em relação à tipicidade da conduta, que já estava consumada quando da devolução do dinheiro ao erário alemão. O crime de lavagem de dinheiro em tese praticado no Brasil não se confunde com o crime contra o sistema financeiro nacional pelo qual o paciente está sendo processado na Alemanha. A lavagem de dinheiro é crime autônomo, não se constituindo em mero exaurimento do crime antecedente. Assim, não há bis in idem ou litispendência entre os processos instaurados contra o paciente no Brasil e na Alemanha." (HC 92.279, rel. min. Joaquim Barbosa, julgamento em 24-6- 2008, Segunda Turma, DJE de 19-9- 2008). No mais, efetivamente não se encontra no rol dos crimes hediondos. JÁ CAIU CESPE: Conforme a jurisprudência do STJ, não impede o prosseguimento da apuração de cometimento do crime de lavagem de dinheiro a extinção da punibilidade dos delitos antecedentes. CERTO! Uma vez ocorrendo a extinção da punibilidade do crime antecedente ao de lavagem de capitais, não haverá impedimento para o processamento do crime de lavagem de capitais. Nesse sentido, vejamos o que dispõe a legislação: Art. 2º. § 1º A denúncia será instruída com indícios suficientes da existência da infração penal antecedente, sendo puníveis os fatos previstos nesta Lei, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor, ou extinta a punibilidade da infração penal antecedente. JÁ CAIU CESPE: No que se refere à legitimidade para o polo passivo da ação penal por lavagem de capitais, é dispensável a participação do acusado do crime de lavagem de dinheiro nos delitos a ele MANUAL CASEIRO 23 antecedentes, sendo suficiente que ele tenha conhecimento da ilicitude dos valores, dos bens ou de direitos cuja origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade tenha sido ocultada ou dissimulada. CERTO! No Ordenamento Jurídico Brasileiro, a participação na infração antecedente não é condição para que se possa ser sujeito ativo do crime de lavagem de capitais. Desde que tenha conhecimento quanto à origem ilícita dos valores, é perfeitamente possível que o agente responda pelo crime de lavagem de capitais, mesmo sem ter concorrido para a prática da infração antecedente. JÁ CAIU CESPE: É crime ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal, sendo a pena referente a esse crime aumentada de um a dois terços, caso tenha sido cometido de forma reiterada ou por intermédio de organização criminosa. CERTO! A assertiva encontra-se em consonância ao previsto no art. 1º, §4º da Lei de lavagem de capitais. Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal. § 4º A pena será aumentada de um a dois terços, se os crimes definidos nesta Lei forem cometidos de forma reiterada ou por intermédio de organização criminosa. JÁ CAIU CESPE: Acerca do crime de lavagem de dinheiro e da prevenção e combate a esse tipo de crime, julgue os itens que se seguem. A expressão lavagem de dinheiro surgiu nos Estados Unidos da América e era usada para se referir a uma rede de lavanderias usadas para facilitar a colocação em circulação de dinheiro oriundo de operações ilícitas. CERTO! Terminologia – A expressão “lavagem de dinheiro” tem origem nos Estados Unidos (money laundering), a partir da década de 1920, quando lavanderias na cidade de Chicago teriam sido utilizadas por gangsters para despistar a origem ilícita do dinheiro. Assim, por intermédio de um comércio legalizado, buscava-se justificar a origem criminosa do dinheiro arrecadado. Em virtude do exposto, a expressão restou consagrada. (Renato Brasileiro). JÁ CAIU CESPE: Se o acusado por crime de lavagem de capital, citado por edital, não comparecer nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar sua prisão preventiva. ERRADO!!! A assertiva encontra-se equivocada, isso porque nos termos do art. 2º, § 2º da Lei de lavagem de dinheiro, “no processo por crime previsto nesta Lei, não se aplica o disposto no art. 366 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), devendo o acusado que não comparecer nem constituir advogado ser citado por edital, prosseguindo o feito até o julgamento, com a nomeação de defensor dativo”. ***Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312. (Referido dispositivo NÃO SE APLICA no contexto da lei de lavagem de capitais, conforme vedação expressa). MANUAL CASEIRO 24 JÁ CAIU CESPE: As medidas assecuratórias previstas na lei sobre drogas (Lei n.º 11.343/2006) e na que dispõe sobre lavagem de capitais (Lei n.º 9.613/1998) podem ser decretadas tanto na fase de inquérito policial quanto na etapa processual, impondo-se, em ambas as normas, como condição especial para o conhecimento do pedido de restituição de bens apreendidos, o comparecimento pessoal do acusado em juízo. CERTO! Assertiva correta, conforme dispõe a legislação. Vejamos: Art. 4º. § 3º Nenhum pedido de liberação será conhecido sem o comparecimento pessoal do acusado ou de interposta pessoa a que se refere o caput deste artigo, podendo o juiz determinar a prática de atos necessários à conservação de bens, direitos ou valores, sem prejuízo do disposto no § 1º. MANUAL CASEIRO 25 Dos Informativos: Lavagem de Dinheiro 2017 Condenação por lavagem no “caso Maluf” Pratica o crime de lavagem de dinheiro o Deputado Federal que encobre (oculta) o dinheiro recebido decorrente de corrupção passiva, utilizando-se, para tanto, de contas bancárias e fundos de investimentos situados na Ilha de Jersey, abertos em nome de empresas “offshores”, com o objetivo de encobrir a verdadeira origem, natureza e propriedade dos referidos aportes financeiros. STF. 1ª Turma. AP 863/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 23/5/2017 (Info 866). Lavagem de dinheiro, na modalidade “ocultar”, é crime permanente O delito de lavagem de bens, direitos ou valores (“lavagem de dinheiro”), previsto no art. 1º da Lei nº 9.613/98, quando praticado na modalidade de ocultação, tem natureza de crime permanente. A característica básica dos delitos permanentes está na circunstância de que a execução desses crimes não se dá em um momento definido e específico, mas em um alongar temporal. Quem oculta e mantém oculto algo, prolonga a ação até que o fato se torne conhecido. Assim, o prazo prescricional somente tem início quando as autoridades tomam conhecimento da conduta do agente. STF. 1ª Turma. AP 863/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 23/5/2017 (Info 866). Culpabilidade de parlamentar que exerce mandato há muitos anos é mais intensa Naprimeira fase da dosimetria em caso de condenação por lavagem de dinheiro, o órgão julgador poderá aumentar a pena-base do Deputado Federal que exerce mandato há muitos anos, sob o argumento de que sua culpabilidade é mais intensa. A transgressão da lei por parte de quem usualmente é depositário da confiança popular para o exercício do poder enseja juízo de reprovação muito mais intenso do que seria cabível em se tratando de um cidadão comum. STF. 1ª Turma. AP 863/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 23/5/2017 (Info 866). Reprovabilidade do crime cometido por “homem público” é maior Se um Deputado Federal que exerce mandato há muitos anos é condenado, o órgão julgador poderá aumentar a pena- base atribuindo destaque negativo para a “reprovabilidade”. A circunstância de o réu ser homem de longa vida pública, acostumado com regras jurídicas, enseja uma maior reprovabilidade em sua conduta considerando a sua capacidade acentuada de conhecer e compreender a necessidade de observar as normas. STF. 1ª Turma. AP 863/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 23/5/2017 (Info 866). Pena pode ser aumentada se a lavagem de dinheiro ocorreu por meio de várias transações financeiras envolvendo diversos países A pena-base pode ser aumentada, no que tange às “circunstâncias do crime”, se a lavagem de dinheiro ocorreu num contexto de múltiplas transações financeiras e de múltipla transnacionalidade, o que interfere na ordem jurídica de mais de um Estado soberano. STF. 1ª Turma. AP 863/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 23/5/2017 (Info 866). Pena pode ser aumentada se o crime de lavagem envolveu grandes somas de valores Se a lavagem de dinheiro envolveu valores vultosos, a pena-base poderá ser aumentada (“consequências do crime”) tendo em vista que, neste caso, considera-se que o delito violou o bem jurídico tutelado de forma muito mais intensa do que o usual. STF. 1ª Turma. AP 863/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 23/5/2017 (Info 866). MANUAL CASEIRO 26 Crimes Hediondos Lei nº 8.072/90 1. Lei nº 8.072/90 e sua origem histórica | previsão constitucional A Lei nº 8.072/90 foi a primeira lei no ordenamento jurídico brasileiro a disciplinar os crimes hediondos, sendo objeto de várias reformas desde a sua edição. Nessa esteira, nos remetendo ao contexto histórico temos que o termo “crimes hediondos” é fruto da Constituição Federal, sendo a referida expressão descrita ao teor do art. 5º. Vejamos. A CF dispõe “a lei definirá os CRIMES HEDIONDOS”– trata-se de uma norma de eficácia limitada (depende de regulamentação por lei ordinária para a sua aplicação). Art. 5º. XLIII. A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evita-los, se omitirem. Em um primeiro momento, na redação original o único crime hediondo no Brasil era a extorsão mediante sequestro. 2. Conceito de crime hediondos Candidato, o que se entende por crime hediondo? Excelência, existem determinados critérios para definir o que é crime hediondo, a saber: critério legal, critério judicial e critério misto. Sistemas/critérios para definir os crimes hediondos! a) Critério Legal: crime hediondo é aquele que a lei define como tal. É aquele que a lei classifica como hediondo, pouco importando a gravidade no plano abstrato. b) Critério Judicial: é o juiz, no caso concreto, que vai analisar e definir se o crime é ou não hediondo. c) Critério Misto: o legislador fornece parâmetros mínimos, possuindo o juiz liberdade dentro desse parâmetro para classifica-lo como crime hediondo ou não. Critério legal Critério judicial Critério misto Cabe ao legislador enunciar, de forma exaustiva, os crimes que devem ser considerados hediondos. Levando-se em consideração os elementos do caso concreto, confere-se ao magistrado ampla liberdade para identificar a natureza O legislador apresenta preceitos mínimos, cabendo ao juiz enquadrar determinada conduta delituosa como hedionda. MANUAL CASEIRO 27 hedionda de determinada conduta delituosa. O Ordenamento Jurídico brasileiro adota o CRITÉRIO LEGAL, é a conclusão que podemos extrair da leitura do art. 5º, XLIII da CF “A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evita-los, se omitirem”. Para regulamentar o referido inciso, vem o art. 1º da Lei nº 8.072/90 “são considerados crimes hediondos os seguintes crimes, todos tipificados ao teor do Código Penal, consumados ou tentados”. Crimes hediondos versus tentativa a natureza tentada de um crime rotulado pela lei não exclui a sua hediondez. A tentativa não altera a classificação do crime como hediondo, funcionando como uma mera causa de redução de pena (1 a 2/3). Dessa forma, temos que “para fins de reconhecimento da natureza hedionda, pouco importa que o delito seja consumado ou tentado”. Obs.1: Cuidado! Determinadas questões negam a natureza hedionda quando o crime é na sua modalidade tentada, o que se apresenta equivocado, posto que a legislação dispõe que será hediondo tanto o crime na sua forma consumada quanto tentada. É possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes hediondos? Não, pois os crimes hediondos são logicamente incompatíveis com o princípio da insignificância. A própria CF exigiu um tratamento diferenciado, sendo mais rigoroso em relação aos crimes hediondos e equiparados. O art. 5º, XLIII da Constituição Federal impõe patamar mínimo ao legislador, revestindo-se a norma constitucional em verdadeiro “mandado constitucional de criminalização”. Candidato, o que se entende por Mandado Constitucional de Criminalização? Os mandados de criminalização indicam matérias sobre as quais o legislador ordinário não tem a faculdade de legislar, mas a obrigatoriedade de tratar, protegendo determinados bens ou interesses de forma adequada e, dentro do possível, integral. As Constituições modernas não se limitam a especificar restrições ao poder do Estado e passam a conter preocupações com a defesa ativa do indivíduo e da sociedade em geral. A MANUAL CASEIRO 28 própria Constituição impõe a criminalização visando à proteção de bens e valores constitucionais, pois do Estado, espera-se mais de uma atividade defensiva. Requer-se torne eficaz a Constituição, dando vida aos valores que ela contemplou. Conclusão: A Lei nº 8.072/90 define os crimes hediondos, anunciando as consequências penais e processuais, obedecendo mandado constitucional de criminalização, esculpida no art. 5º, XLIII da Constituição Federal. O STF considera os crimes hediondos como de “máximo potencial ofensivo”: Crimes de menor potencial ofensivo Crimes de médio potencial ofensivo Crimes de elevado potencial ofensivo São as contravenções penais e crimes com pena máxima de anos, sendo da competência do Juizado Especial Criminal, admitem os benefícios da transação penal e da composição dos danos civis. São aqueles que admitem a suspensão condicional do processo) – art. 89 da Lei 9.099/95. São os crimes com pena mínima de até 1 (um) ano, pouco importando a pena máxima. São aqueles incompatíveis com os benefícios da Lei nº 9.099/95 – não cabe transação penal; não cabe suspensãocondicional do processo. Crimes de máximo potencial ofensivo Esses crimes são aqueles previstos no art. 5º, XLII, XLIII e XLIV da Constituição Federal. São aqueles previstos no art. 5º da CF, XLII, XLIII, XLIV: LII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei; LIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá- los, se omitirem; XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático. 3. Rol dos crimes hediondos O rol dos crimes hediondos é taxativo, estampado ao teor do art. 1º da Lei nº 8.072/90. Assim, o juiz não pode no caso concreto definir aquela conduta como crime hediondo se não estiver capitulado no referido rol. Deverá fazer um juízo de adequação caso concreto versus crime estipulado na legislação. Caso o crime esteja capitulado no rol de crimes hediondos, será assim considerado. 3.1 Natureza hedionda do crime de homicídio Na redação original da Lei nº 8.072/90, o crime de homicídio não constava no rol dos crimes hediondos, passando a ser considerado como tal apenas com o advento da Lei Glória Perez (Lei nº 8.930/94). MANUAL CASEIRO 29 Quando a Lei n° 8.072/90 entrou em vigor em 26 de julho de 1990, o crime de homicídio, mesmo que qualificado, não era etiquetado como hediondo. Ocorre que, em virtude das chacinas da Candelária e de Vigário Geral, e do assassinato da artista da Rede Globo Daniela Perez, fato este ocorrido no final do ano de 1992, houve enorme clamor social provocado pela mídia para que o crime de homicídio fosse incluído no rol dos crimes hediondos. (Renato Brasileiro, pág. 199, 2017). O homicídio SEMPRE é crime hediondo? O homicídio qualificado é crime hediondo, homicídio privilegiado, por sua vez, não é hediondo. Por fim, o homicídio simples, em regra, não é crime hediondo, contudo, será considerado hediondo quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente e homicídio qualificado. Ante o exposto, contemplamos que nem sempre o homicídio é considerado crime hediondo. Logo: Homicídio qualificado Hediondo Homicídio privilegiado NÃO é hediondo Homicídio simples Em regra, NÃO É hediondo. Exceção: quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente. Homicídio híbrido (qualificado-privilegiado) Não é crime hediondo. Candidato, o homicídio hibrido (qualificado-privilegiado) é considerado hediondo? Excelência, inicialmente cumpre destacarmos que é dominante o entendimento no sentido da possibilidade de reconhecimento da figura do homicídio qualificado-privilegiado, combinando-se os§§ 1º e 2° do art. 121 do Código Penal, desde que a qualificadora tenha natureza objetiva (incisos III e IV). Nesse sentido, os tribunais entendem que não poderá ser considerado hediondo, pois a hediondez é incompatível com o privilégio. Há, contudo, doutrina argumentando que sendo o privilégio uma mera causa de diminuição de pena, não deveria afastar o caráter hediondo (posição para provas de MP e Delegado/discursiva e oral). A posição do STJ, majoritária, é no sentido de que o homicídio hibrido não é crime hediondo. Lembre-se! Homicídio qualificado-privilegiado é hediondo? Não. Na eventual hipótese de os jurados reconheceram a existência de homicídio qualificado-privilegiado, tal crime jamais poderá ser considerado hediondo. Primeiro, porque não há qualquer referência ao homicídio privilegiado na Lei. Segundo, porque seria absolutamente incoerente rotular como hediondo um crime de homicídio, por exemplo, mediante valor moral ou social. Por fim, como as causas de diminuição de pena enumeradas no art. 121, §1º do CP, tem natureza subjetiva, e as qualificadoras porventura reconhecida neste homicídio qualificado-privilegiado devem, obrigatoriamente, ter natureza objetiva, há de se MANUAL CASEIRO 30 reconhecer a natureza preponderante daquelas, aplicando-se raciocínio semelhante àquele constante do art.67 do Código Penal. STJ: “(...) Entendendo não haver contradição no reconhecimento de qualificadora de caráter objetivo (modo de execução do crime), e do privilégio, sempre de natureza subjetiva”. (STF, 1º Turma, HC 89.921|PR). O homicídio qualificado-privilegiado não pode ser considerado hediondo (STJ, HC 153.728|SP). 3.2 Natureza hedionda do crime de lesão corporal A lesão corporal, em regra, não é crime hediondo. Atualmente, apenas em duas hipóteses é que a lesão corporal será considerada crime hediondo: Lesão gravíssima ou lesão corporal seguida de morte quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição; A referida hipótese legal fora acrescentada com o advento da Lei 13.142/2015, a qual alterou o Código Penal, assim como a Lei de Crimes Hediondos. MANUAL CASEIRO 31 Acessar: http://www.dizerodireito.com.br/2015/07/comentarios-sobre-lei-131422015-que.html 3.3 Natureza hedionda do crime de Latrocínio (art. 157,§3º, in fine) O crime de latrocínio está previsto no art. 157, §3º, parte final, do Código Penal, restando caracterizado quando, da violência empregada durante e em razão da prática do crime de roubo, ocorrer a produção do resultado morte, hipótese em que a pena a ser aplicada será de reclusão de 20 a 30 anos, sem prejuízo da multa. Cumpre destacarmos que, o §3º do art. 157 prevê duas formas por meio das quais o crime de roubo é qualificado, lesão grave ou morte. Atenção! Somente a subtração seguida de morte da vítima é considerada latrocínio e sofre as consequências impostas pela Lei nº 8.072/90. Lembre-se! Roubo qualificado pela lesão grave não é latrocínio, e consequentemente, não é crime hediondo. Para a ocorrência da qualificadora do latrocínio, o resultado morte deve ter sido causado ao menos culposamente. O art. 157, §3º dispõe que se da violência resulta morte, logo, não há latrocínio quando a morte decorre de grave ameaça. Além disso, para que haja latrocínio é necessário que a morte decorra da violência empregada durante e em razão do assalto. É necessário o fator tempo e o fator nexo, faltando um desses fatores, não há que se falar em latrocínio. Súmula 610, STF. Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a subtração dos bens da vítima. 3.4 Natureza hedionda do crime de Extorsão A extorsão, em regra, não é crime hediondo, contudo será considerado hediondo “quando qualificado pela morte”. De acordo com art. 1º, inciso III, da Lei n. 8.072/90, o delito de extorsão qualificada pela morte previsto no art. 158, §2º, do Código Penal, também é considerado crime hediondo. Da mesma forma que ocorre com o crime de roubo, a extorsão somente será considerada hedionda quando qualificada pela morte. MANUAL CASEIRO 32 A extorsão em regra não é crime hediondo. Porém, quando for qualificada pela morte, será delito desta natureza (Art. 1º, III, Lei 8.072/90). Há polêmica envolvendo o sequestrorelâmpago (art. 158, § 3º, do CP), que é uma modalidade qualificada da extorsão. Por força da Lei nº. 11.923/09, foi acrescido o §3º ao art. 158 do Código Penal, para tipificar o denominado sequestro relâmpago: “Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§2º e 3º, respectivamente”. Esse crime, havendo morte, é hediondo? Apesar da tipificação dessa nova modalidade delituosa pela Lei n. 11.923/09, a Lei dos crimes hediondos não foi alterada a fim de se nela fazer inserir o referido crime, do que deriva a conclusão de que tal delito não pode ser considerado hediondo, ainda que qualificado pelo resultado morte (CP, art. 158, §3º, in fine). Houve evidente desídia por parte do legislador no tocante ao crime do art. 158, §3º, qualificado pelo resultado morte. Prevalece que essa desídia não permite considerar o sequestro relâmpago qualificado pelo resultado morte como crime hediondo, sob pena de se fazer evidente analogia in malam partem, violando-se, por consequência, o princípio da legalidade, sendo este o entendimento que prevalece. 3.5 Natureza hedionda do crime de Extorsão mediante sequestro Ao contrário do que ocorre com os crimes de roubo e de extorsão, que são considerados hediondos apenas se qualificados pelo resultado morte, o delito de extorsão mediante sequestro é etiquetado como hediondo independentemente da modalidade, seja na modalidade simples ou na modalidade qualificada. Assim, contemplamos que a extorsão mediante sequestro é crime hediondo em todas as suas modalidades, seja na modalidade simples ou qualificada. Art. 157, §3º, in fine, CP; Roubo Art. 158, CP Extorsão Art. 159, CP Extorsão mediante sequestro HEDIONDO, se houver resultado morte. HEDIONDO, se houver resultado morte. HEDIONDO, em todas as modalidades. 3.6 Natureza hedionda do crime de Estupro O delito de estupro é considerado hediondo independente da modalidade. MANUAL CASEIRO 33 3.7 Natureza hedionda do crime de Estupro de vulnerável STF e STJ entendem que o estupro de vulnerável (art. 224 do CP, na redação anterior a Lei nº 12.015), já era hediondo. A 3ª Seção do STJ autoriza a aplicação dos consectários da Lei 8.072/90 para os crimes sexuais praticados com violência presumida, mesmo que anteriores a Lei nº 12.015/09. “Os crimes de estupro e atentado violento ao pudor praticados anteriormente à Lei n.º 12.015/2009, ainda que mediante violência presumida, configuram crimes hediondos. Precedentes desta Corte e do Supremo Tribunal Federal. 2. Embargos de divergência acolhidos a fim de reconhecer a hediondez do crime praticado pelo Embargado” (REsp. 1225387/RS, rel. Min. Laurita Vaz, Dje 04/09/2013). 3.8 Natureza hedionda do crime de Epidemia com resultado MORTE A epidemia por si só não é crime hediondo. Exige-se seja qualificada pela morte. Epidemia é a difusão de doença mediante a propagação de genes patogênicos. Ademais, cumpre destacarmos que somente a propagação de doença humana é que configura o crime do art. 267, §1º do Código Penal, já que em se tratando de enfermidade que atinja animais ou plantas, o crime será o do art. 61, Lei nº 9.605/98, não hediondo por falta de previsão legal. 3.9 Natureza hedionda do crime de Falsificação de medicamentos VII – B. falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e §1º, § 1º-A e § 1º-B, com a redação dada pela Lei 9.677, de 2 de julho de 1998). 3.10 Natureza hedionda do crime de favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável VIII – favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º). (Incluído pela Lei nº 12.978, de 2014). Com o advento da Lei nº 12.978, que entrou em vigor no dia 22 de maio de 2014, para além da mudança do nome jurídico do art. 218-B do Código Penal, também foi acrescentado ao art. 1º da Lei nº 8.072/90 o inciso VIII para rotular tal crime como hediondo. Nas modalidades submeter, induzir, atrair e facilitar consuma-se o delito no momento em que a vítima passa a se dedicar à prostituição, colocando-se, de forma constante, à disposição dos clientes, ainda que não tenha atendido nenhum. CONCLUSÃO: crime instantâneo, ainda que de efeitos permanentes. MANUAL CASEIRO 34 Já na modalidade de impedir ou dificultar o abandono da prostituição, o crime consuma-se no momento em que a vítima delibera por deixar a atividade e o agente obsta esse intento, protraindo a consumação durante todo o período de embaraço (crime permanente). CONCLUSÃO: crime permanente. Na modalidade impedir ou dificultar, o crime é permanente, logo, quem antes da lei, dificultou o abandono, persistindo o embaraço na vigência da nova lei, vai ser alcançado pela mudança legislativa, conforme o entendimento da Súmula 711, STF. Súmula 711, STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. Pune-se a mera prática de relação sexual com adolescente submetido à prostituição – e nessa conduta não se exige reiteração, poder de mando, ou introdução da vítima na habitualidade da prostituição. STJ, 6ª Turma, HC 288.734/AM, Rel. Min. Nefi Cordeiro. j.5/6/2014. DJe 13/6/2014). 3.10 Natureza hedionda do crime de Genocídio Candidato, existe algum crime hediondo que não esteja previsto no Código Penal? Existe sim, é o crime de genocídio, previsto na Lei nº 2.889/56, sendo considerado hediondo se tentado ou consumado. O crime de genocídio tem previsão no art. 1º, parágrafo único da Lei 8.072/90 “considera-se também hediondo o crime de genocídio previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei no 2.889, de 1º de outubro de 1956, tentado ou consumado”. Nessa linha, o professor Cleber Masson explica que “Genocídio não é somente a matança coletiva, e sim a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo étnico, racial, nacional ou religioso. A Lei de Genocídio enumera diversas condutas nesse sentido”. Em verdade, o genocídio é classificado como crime contra a humanidade, e não contra a vida. - Competência O crime de genocídio não se trata de delito de competência do Tribunal do Júri, ainda que a conduta consista em matar dolosamente membros de um grupo, pois é crime contra a humanidade e não contra a vida. Lembre-se! O Tribunal do Júri tem competência para julgar crimes dolosos contra a vida. Por sua vez, o genocídio é crime contra a humanidade, razão pela qual a competência de julgamento é do juízo singular (comum) – Federal ou Estadual, a depender do caso concreto. MANUAL CASEIRO 35 Por fim, cumpre recordarmos que o genocídio é um típico exemplo de norma penal em branco “ao avesso”, isto é, temos as condutas criminosas, mas faltam as respectivas penas, o preceito secundário está incompleto. A norma penal em branco ao avesso é aquela em que o preceito primário é completo, mas o preceito secundário carece de complemento normativo. Na hipótese de norma penal em branco ao avesso o complemento normativo deve derivar da lei, sob pena de lesão ao princípio da reserva legal. No ordenamento jurídico nacional podemos citar como exemplo de lei penal em branco ao avesso a Lei2.889/1956, que tipifica o crime de genocídio, pois tal norma não tratou das penas, fazendo expressa referência a outras leis penais. 3.11 Natureza hedionda do crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, previsto no art. 16 do Estatuto do Desarmamento A Lei nº 13.497/2017 alterou a Lei de Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/90), em específico, a redação do parágrafo único do art. 1º da Lei nº 8.072/90 prevendo que também é considerado como crime hediondo o delito de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, previsto no art. 16 do Estatuto do Desarmamento. #MOMENTODIZERODIREITO #MARCINHOEXPLICA Foi publicada no dia 27/10/2017 a Lei nº 13.497/2017, que altera a Lei de Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/90). O que são crimes hediondos? São crimes que o legislador considerou especialmente repulsivos e que, por essa razão, recebem tratamento penal e processual penal mais gravoso que os demais delitos. Quais são os crimes hediondos no Brasil? O Brasil adotou o sistema legal de definição dos crimes hediondos. Isso significa que é a lei quem define, de forma exaustiva (taxativa, numerus clausus), quais são os crimes hediondos. Esta lei é a de nº 8.072/90, conhecida como Lei dos Crimes Hediondos. A Lei nº 8.072/90 traz, em seu art. 1º, o rol dos crimes hediondos. O que fez a Lei nº 13.497/2017? Alterou a redação do parágrafo único do art. 1º da Lei nº 8.072/90 prevendo que também é considerado como crime hediondo o delito de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, previsto no art. 16 do Estatuto do Desarmamento. MANUAL CASEIRO 36 Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou artefato; II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz; III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar; IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado; V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente; e VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo. As armas de uso restrito estão previstas no art. 16 do anexo do Decreto nº 3.665/2000. Alguns exemplos: • armas, munições, acessórios e equipamentos iguais ou que possuam alguma característica do material bélico usado pelas Forças Armadas nacionais; • calibres .357 Magnum, 9 Luger, .38 Super Auto, .40 S&W, .44 SPL, .44 Magnum, .45 Colt e .45 Auto; • armas de fogo automáticas de qualquer calibre. A Lei nº 13.497/2017 já entrou em vigor, de forma que, se a pessoa praticar o crime do art. 16 da Lei nº 10.826/2003 de hoje em diante, estará submetido às consequências penais e processuais inerentes aos crimes hediondos, sendo a mais gravosa delas a existência de requisitos objetivos diferenciados para progressão de regime (art. 2º, § 2º). MANUAL CASEIRO 37 A Lei nº 13.497/2017 é mais gravosa e, por isso, não tem efeitos retroativos, de forma que, quem cometeu o delito até o dia de ontem (26/10/2017), não é abrangido pelo tratamento dispensado aos crimes hediondos. Fonte: http://www.dizerodireito.com.br/2017/10/lei-134972017-posse-ou-porte-de-arma-de.html Crime Militares versus Crime Hediondo Percebe-se do rol analisado dos crimes hediondos que o legislador da Lei n. 8.072/90 não teve o cuidado de conferir natureza hedionda aos crimes militares. A disparidade de tratamento do crime militar e do crime comum já foi questionada perante o STF, que, no entanto, concluiu que a diferença de tratamento legal entre os crimes comuns e os crimes militares, mesmo em se tratando de crimes militares impróprios, não revela inconstitucionalidade, pois o Código Penal Militar não institui privilégios. Ao contrário, em muitos pontos, o tratamento dispensado ao autor de um delito é mais gravoso do que aquele do Código Penal comum. Desse modo, os crimes militares correspondentes aos incisos I a VII do art. 1º, da Lei nº 8.072/90 não são considerados hediondos por falta de previsão legal. Cláusula Salvatória Conforme estudado acima, o Brasil adotou o sistema legal, sistema que também comporta críticas. Desse modo, tem doutrina sugerindo a criação de uma “clausula salvatória”, permitindo que a depender das circunstâncias do caso concreto, o juiz afastasse a natureza hedionda de um crime constante do rol fixado pelo legislador. Vamos APROFUNDAR? Com fito de apaziguar as possíveis injustiças decorrentes da higidez normativa (do sistema legal), sugere a Doutrina que seja criada o que denominam de “cláusula salvatória”, a qual permitiria ao juiz retirar o caráter hediondo de um crime que conste na enumeração legal em nome da observância da não necessidade dessa etiquetagem, perante o caso concreto. Ressalte-se que lhe seria atribuído apenas o poder de reduzir o rol, mas não ampliá-lo, em respeito à garantia constitucional da legalidade. Por fim, o professor Cleber Masson destaca que essa cláusula salvatória não é admitida no Brasil. É uma denominação criada por Alberto Zacharias Toron, com a finalidade de permitir ao juiz, no caso concreto, a retirada do caráter hediondo de um crime assim classificado pela lei. 4. Crimes equiparados aos hediondos MANUAL CASEIRO 38 3T Tráfico de drogas Tortura Terrorismo Os referidos crimes não são crimes hediondos, são EQUIPARADOS, assemelhados, o que significa que embora não sejam crimes hediondos recebem o mesmo tratamento dispensado pela Constituição Federal, bem como, pela Lei nº 8.072/90, por exemplo, são insuscetíveis de anistia, graça e indulto. 4.1 Tráfico de Drogas Tráfico privilegiado é considerado crime hediondo? Inicialmente, cumpre estudarmos a referida espécie. Vejamos: A figura privilegiada (art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006): Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. (Vide Resolução nº 5, de 2012) Essa figura privilegiada configura o tráfico acidental, e reclama a presença de quatro requisitos cumulativos (diminuição de 1/6 a 2/3): a. Agente primário; b. Bons antecedentes; c. Não se dedica a atividades criminosas; d. Não integra organizações criminosas. O STF entendeu recentemente que a figura privilegiada não é equiparada a hediondo. Nesse sentido, o Informativo 831. Vejamos: Tráfico privilegiado não é hediondo (cancelamento da Súmula 512-STJ) O chamado "tráfico privilegiado", previsto no § 4º do art.33 da Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas), não deve ser considerado crime equiparado a hediondo. STF. Plenário. HC 118533/MS, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 23/6/2016 (Info 831). O tráfico ilícito de drogas na sua forma privilegiada (art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006) não é crime equiparado a hediondo e, por conseguinte, deve ser cancelado o Enunciado 512 da Súmula do Superior MANUAL CASEIRO 39 Tribunal de Justiça. STJ. 3ª Seção. Pet 11.796-DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 23/11/2016 (recurso repetitivo) (Info 595). O que dizia a Súmula 512-STJ: "A aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006 não afasta a hediondez do crime de tráfico de drogas." http://www.dizerodireito.com.br/2016/06/o-trafico-privilegiado-art-33-4-da-lei.html O STJ tinha editado a Súmula 512, a qual pregava que a natureza privilegiada não afastaria o caráter hediondo. Contudo, com o novo entendimento do STF, a súmula restou superada/cancelada. 4.2 Tortura Encontra-se previsto ao teor da Lei nº 9.455/97. 4.3 Terrorismo Encontra-se previsto ao teor da Lei 13.260/2016. 5. Vedações Legais Inicialmente, cumpre destacarmos que as consequências/vedações também são aplicadas aos crimes “equiparados” a hediondos, quais sejam, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, tortura e terrorismo. 5.1 Anistia, graça e indulto Nos termos do art. 2º, inciso I, da Lei nº 8.072/90, os crimes hediondos são insuscetíveis de anistia, graça e indulto. Nesse sentido, dispõe o texto supracitado, bem como, a Constituição Federal, senão vejamos. Art. 2º, Lei nº 8072/90: Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: I - anistia, graça e indulto; Art. 5º, XLIII CF - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem. Candidato, a vedação do indulto feita exclusivamente pela Lei nº 8.072 é constitucional? A polêmica inerente ao indulto: proibição constitucional e ampliação legal MANUAL CASEIRO 40 A proibição do indulto efetuado pela lei dos crimes hediondos é constitucional ou inconstitucional? Formam-se duas posições/correntes sobre o assunto. 1ª Corrente 2ª Corrente A proibição do indulto pela lei dos crimes hediondos é INCONSTITUCIONAL, pelo fato de que a lei dos crimes hediondos proibiu um instituto que a CF não proibiu. A legislação extrapolou os ditames da Constituição Federal. - adotar para concursos como a Defensoria. A proibição é CONSTITUCIONAL!!! Os defensores dessa posição argumentam que a CF proibiu a graça, quando utilizou a expressão graça o fez em sentido amplo para abranger também o indulto. - adotar para concursos como MP, Delegado. 1ª Corrente: a ampliação é inconstitucional, pois as vedações previstas no art. 5º, XLIII da Constituição Federal, são máximas sendo defeso ao legislador amplia-las. 2ª Corrente: a ampliação é constitucional, pois as vedações constitucionais são mínimas, podendo o legislador amplia-las. Para aqueles que entendem que as vedações são máximas, não se pode esquecer que a vedação da graça, abrange indulto, pois o indulto nada mais é do que graça coletiva. A 2ª Corrente é a que prevalece no STF e STJ. Indulto Humanitário Chama-se indulto humanitário aquele concedido por razões de grave deficiência física ou em virtude de debilitado estado de saúde do executado. Temos decisões admitindo o induto humanitário com fundamento no princípio da humanidade das penas, até mesmo para condenados por crimes hediondos e equiparados (STJ). O STF, no HC 118/213 SP, não permitiu induto humanitário para tráfico de drogas. 5.2 Fiança Os crimes hediondos e equiparados são inafiançáveis. Cumpre destacarmos que na redação original da Lei dos Crimes Hediondos também era vedada a liberdade provisória sem fiança. Essa proibição, contudo, foi abolida pela Lei 11.464/2007. Art. 2º. Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: II - fiança. O referido inciso foi alterado pela Lei nº 11.464/2007, antes o mesmo inciso vedava fiança, bem como, a liberdade provisória, atualmente, veda tão somente a fiança. Atualmente, a liberdade provisória sem fiança depende do convencimento do Juiz, no sentido de estarem ausentes os requisitos para a decretação da prisão preventiva. MANUAL CASEIRO 41 5.3 Regime inicial fechado para o cumprimento da pena privativa de liberdade Art. 2º, § 1º, da Lei 8.072/90: “A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fechado”. Em sua redação original, a Lei dos Crimes Hediondos o regime era integralmente fechado (começa e termina no regime fechado – não tem direito a progressão de regime). O STF decidiu pela inconstitucionalidade desse regime, pela violação dos princípios da individualização da pena, da proporcionalidade e também da dignidade da pessoa humana. Dessa forma, temos que antes do advento da Lei nº 11.464/2007, a Lei de Crimes Hediondos previa o cumprimento da pena em regime integralmente fechado, ou seja, não admitia a progressão do regime de cumprimento de pena. O referido dispositivo fora posteriormente declarado inconstitucional. Nessa esteira, passou-se a admitir a progressão de regime, contudo, ainda ficou estipulado que o regime inicial seria obrigatoriamente o fechado. Ocorre, todavia, que, o STF declarou também inconstitucional o regime inicial fechado obrigatório, por entender que viola o princípio da individualização da pena, devendo analisar o caso concreto e fundamentar sua decisão. Na fixação do regime inicial, o juiz deve observar as Súmulas 718 e 719 do STF. Súmula 718 STF: “A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada.” Não pode fixar regime c/ base a gravidade em abstrato apenas. Súmula 719 STF: “A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige motivação idônea”. O STF decidiu que o regime inicial fechado também é inconstitucional, por violação dos princípios da individualização da pena e da proporcionalidade, e por falta de previsão na CF (Plenário, HC 111.840, Informativo 672): MANUAL CASEIRO 42 EMENTA Habeas corpus. Penal. Tráfico de entorpecentes. Crime praticado durante a vigência da Lei nº 11.464/07. Pena inferior a 8 anos de reclusão. Obrigatoriedade de imposição do regime inicial fechado. Declaração incidental de inconstitucionalidade do § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/90. Ofensa à garantia constitucional da individualização da pena (inciso XLVI do art. 5º da CF/88). Fundamentação necessária (CP, art. 33, § 3º, c/c o art. 59). Possibilidade de fixação, no caso em exame, do regime semiaberto para o início de cumprimento da pena privativa de liberdade. Ordem concedida. 1. Verifica-se que o delito foi praticado em 10/10/09, já na vigência da Lei nº 11.464/07, a qual instituiu a obrigatoriedade da imposição do regime inicialmente fechado aos crimes hediondos e assemelhados. 2. Se a Constituição Federal menciona que a lei regulará a individualização da pena, é natural que ela exista.Do mesmo modo, os critérios para a fixação do regime prisional inicial devem-se harmonizar com as garantias constitucionais, sendo necessário exigir- se sempre a fundamentação do regime imposto, ainda que se trate de crime hediondo ou equiparado. 3. Na situação em análise, em que o paciente, condenado a cumprir pena de seis (6) anos de reclusão, ostenta circunstâncias subjetivas favoráveis, o regime prisional, à luz do art. 33, § 2º, alínea b, deve ser o semiaberto. 4. Tais circunstâncias não elidem a possibilidade de o magistrado, em eventual apreciação das condições subjetivas desfavoráveis, vir a estabelecer regime prisional mais severo, desde que o faça em razão de elementos concretos e individualizados, aptos a demonstrar a necessidade de maior rigor da medida privativa de liberdade do indivíduo, nos termos do § 3º do art. 33, c/c o art. 59, do Código Penal. 5. Ordem concedida tão somente para remover o óbice constante do § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/90, com a redação dada pela Lei nº 11.464/07, o qual determina que “[a] pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fechado“. Declaração incidental de inconstitucionalidade, com efeito ex nunc, da obrigatoriedade de fixação do regime fechado para início do cumprimento de pena decorrente da condenação por crime hediondo ou equiparado. (HC 111840, Relator (a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 27/06/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-249 DIVULG 16- 12-2013 PUBLIC 17-12-2013). Para o STF, o legislador não pode obrigar o Juiz a aplicar um determinado regime prisional. Assim, atualmente é possível a aplicação de um regime aberto ou semiaberto para condenado em crime hediondo ou equiparado. Lembre-se!!! De 1990 até 2005 o regime integralmente fechado era considerado constitucional. Regime inicial fechado no Crime de Tortura O art. 1º, § 7º, da Lei de Tortura previa o regime inicial fechado: “O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado”. O STF editou a Súmula 698: “Não se estende aos demais crimes hediondos a admissibilidade de progressão no regime de execução da pena aplicada ao crime de tortura”. Aplica-se o princípio da especialidade. Assim, aplicar-se-á a regra do art. 1º, §7º da Lei de Tortura em detrimento do previsto na lei de crimes hediondos que foi considerado inconstitucional. No HC 123316/SE, de 9.6.2015, o Min. Marco Aurélio (relator) denegou a ordem. Considerou que, no caso, a dosimetria e o regime inicial de cumprimento das penas fixadas atenderiam aos ditames legais. Asseverou não MANUAL CASEIRO 43 caber articular com a Lei de Crimes Hediondos, pois a regência específica (Lei 9.455/1997) prevê expressamente que o condenado por crime de tortura iniciará o cumprimento da pena em regime fechado, o que não se confundiria com a imposição de regime de cumprimento da pena integralmente fechado. Assinalou que o legislador ordinário, em consonância com a CF/1988, teria feito uma opção válida, ao prever que, considerada a gravidade do crime de tortura, a execução da pena, ainda que fixada no mínimo legal, deveria ser cumprida inicialmente em regime fechado, sem prejuízo de posterior progressão. 6. Progressão de regime prisional Na criminalidade comum a progressão de regime prisional depende de dois requisitos: a) cumprimento de parte da pena (1/6); b) mérito (comportamento favorável). Nos crimes contra a Administração Pública exige-se um terceiro requisito: reparação do dano (ou restituição da coisa) causado ao erário. Já nos crimes hediondos, a Lei 8.072/90 trouxe regramento próprio. Vejamos: Art. 2º, § 2º: “A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos neste artigo, dar- se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente”. Também se exige o mérito do condenado (condições pessoais que autorizam um regime mais brando). Para a Lei dos Crimes Hediondos é irrelevante seja a reincidência genérica ou específica, em crime doloso ou culposo. Se o agente for reincidente, deverá cumprir 3/5 da pena, além do requisito subjetivo. Obs.: Existe polêmica sobre isso, pois na Defensoria há teses institucionais dizendo que esse cumprimento de 3/5 só é exigido para agentes reincidentes em crime hediondo ou equiparado. Vamos esquematizar? Crime comum Crime hediondo 1/6 do cumprimento da pena. 2/5 da pena, apenado primário; 3/5 da pena, apenado reincidente. Contemplamos assim que a Lei de Crimes Hediondos prevê um lapso temporal distinto ao previsto na Lei de Execução Penal, para a progressão de regime. MANUAL CASEIRO 44 Esses percentuais diferenciados são constitucionais? Sim, porque é matéria legal, e esse tempo de cumprimento da pena diferenciado está em sintonia com o espírito da CF. Obs. A segunda progressão sempre será calculada com base no restante da pena (pena cumprida é pena extinta). Análise do Contexto Lei nº 8.072/90 HC 82.959.7 Lei nº 11.464/2007 Previsão de regime de cumprimento de pena integralmente fechado. STF declarou inconstitucional o regime integral fechado, passando a admitir a progressão, observando o 1/6 da pena, conforme LEP. Regime inicial fechado e permitiu a progressão, 2/5 ou 3/5. Os patamares foram trazidos com o advento da Lei 11.464 de 2007, fazendo distinção para os primários e reincidentes. Candidato, a Lei nº 11.464/07 retroage para alcançar fatos pretéritos? Não, pois deve respeitar o princípio da anterioridade, evitando-se retroatividade maléfica. Nesse sentido, vejamos as Súmulas abaixo que tratam do tema. Súmula vinculante 26: Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei n. 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de exame criminológico. Súmula 471 STJ: Os condenados por crimes hediondos ou assemelhados cometidos antes da vigência da Lei n. 11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no art. 112 da Lei n. 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) para a progressão de regime prisional. (Leia-se, cumprimento de 1/6 da pena). 7. Prisão temporária A prisão temporária é uma modalidade de prisão provisória, decretada antes do trânsito em julgado da condenação, e tem natureza cautelar. No Brasil a prisão temporária é possível apenas na fase investigatória, por esse motivo ela não pode ser decretada de ofício pelo juiz, dependendo de requerimento do MP ou representação da autoridade policial. MANUAL CASEIRO 45 Art. 2º, § 4º, da Lei 8.072/90: “A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no 7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade”. 8. Estabelecimentos penais de segurança máxima “Art. 3º da Lei 8.072/90: A União manterá estabelecimentos penais, de segurança máxima, destinados ao cumprimento de penas impostas a condenados de alta periculosidade, cuja permanência em presídios estaduais ponha em risco a ordem ou incolumidade pública”. O condenado de alta periculosidade pode não ser necessariamente um condenado por crime hediondo ou equiparado. Cumpre destacarmos que, para o presídio federal não vão apenas os condenados pela Justiça Federal.9. Direito de Recorrer em Liberdade §3º Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade. Interpretação conforme a CF: Réu processado preso, recorre preso, salvo se desaparecerem os fundamentos que determinaram a decretação da prisão preventiva. Por outro lado, réu processado solto, via de regra, recorre solto, salvo se presentes os fundamentos da prisão preventiva, eis a interpretação conforme a Constituição. Ante o exposto, contemplamos que está vedado a imposição da condição de recolhimento ao cárcere para recorrer, devendo a sua decretação quando necessária ser fundamentada, em observância ao art.93,IX, da CF. 10. Livramento Condicional Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que: I - cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for reincidente em crime doloso e tiver bons antecedentes; II - cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em crime doloso; III - comprovado comportamento satisfatório durante a execução da pena, bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído e aptidão para prover à própria subsistência mediante trabalho honesto; IV - tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pela infração; V - cumprido mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime hediondo, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza. MANUAL CASEIRO 46 Parágrafo único - Para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, a concessão do livramento ficará também subordinada à constatação de condições pessoais que façam presumir que o liberado não voltará a delinquir. É possível o livramento para os crimes hediondos e assemelhados (3T – trafico, tortura e terrorismo), depois de haver cumprido 2/3 da pena e não ser reincidente especifico (hediondo ou assemelhado). Não se exige o mesmo crime, basta que seja dois crimes hediondos ou equiparados, ainda que não seja o mesmo delito 11. Qualificadora do Delito de Associação Criminosa (Art. 8º) A Lei de crimes hediondos passou a prever uma espécie de qualificadora para o crime de associação para o crime, delito previsto ao teor do art. 288 do Código Penal, disciplinando que será de 3 a 6 anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo. Assim, se o fim da associação criminosa for praticar crimes hediondos e/ou equiparados a hediondos (3T), a pena será mais grave, ou seja, trata-se de uma modalidade qualificada de associação criminosa. Nesse sentido, dispõe o texto legal, art. 8º“será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo”. Se a prática da associação criminosa for para cometer trafico de drogas não irá incidir a qualificadora ora em comento, visto que a legislação especial, ei 11.343/2006, possui regramento especifico, que refere-se ao crime de associação para o tráfico, que se contenta com a figura de dois agentes apenas. MANUAL CASEIRO 47 JÁ CAIU CESPE JÁ CAIU CESPE: Considerando a jurisprudência do STJ a respeito dos crimes hediondos, do tráfico de entorpecentes, do Estatuto do Desarmamento e do ECA, assinale a opção correta. a) A arma de fogo desmuniciada e desmontada não serve para configurar o delito de porte ilegal de arma de fogo. b) Não se configura o crime de corrupção de menor em relação àquele já afeito à prática de atos infracionais. c) Por ser crime acessório, a associação para o tráfico de drogas não pode existir sem a prova da materialidade do crime principal. d) Não é hediondo o crime de tráfico de entorpecentes praticado por agente primário, de bons antecedentes e que não se dedique a atividades criminosas nem integre organização criminosa. 12. CORRETO, trata-se do novo entendimento da Jurisprudência, que acarretou, inclusive, o cancelamento da Súmula 512 do STJ. Vejamos: Tráfico privilegiado não é hediondo (cancelamento da Súmula 512-STJ) O chamado "tráfico privilegiado", previsto no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas), não deve ser considerado crime equiparado a hediondo. STF. Plenário. HC 118533/MS, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 23/6/2016 (Info 831). O tráfico ilícito de drogas na sua forma privilegiada (art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006) não é crime equiparado a hediondo e, por conseguinte, deve ser cancelado o Enunciado 512 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça. STJ. 3ª Seção. Pet 11.796-DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 23/11/2016 (recurso repetitivo) (Info 595). O que dizia a Súmula 512-STJ: "A aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006 não afasta a hediondez do crime de tráfico de drogas." http://www.dizerodireito.com.br/2016/06/o-trafico-privilegiado-art-33-4-da-lei.html O STJ tinha editado a Súmula 512, a qual pregava que a natureza privilegiada não afastaria o caráter hediondo. Contudo, com o novo entendimento do STF, a súmula restou superada/cancelada. JÁ CAIU CESPE: A respeito de crimes hediondos, assinale a opção correta. a) Embora tortura, tráfico de drogas e terrorismo não sejam crimes hediondos, também são insuscetíveis de fiança, anistia, graça e indulto. 13. CORRETO, os 3T (tráfico, tortura e terrorismo) não são considerados crimes hediondos, mas equiparados a hediondos, razão pela qual possuem os mesmos regramentos, ou seja, as mesmas vedações, sendo insuscetíveis de fiança, anistia, graça e induto. b) Para que se considere o crime de homicídio hediondo, ele deve ser qualificado. MANUAL CASEIRO 48 c) Considera-se hediondo o homicídio praticado em ação típica de grupo de extermínio ou em ação de milícia privada. d) O crime de roubo qualificado é tratado pela lei como hediondo. e) Aquele que tiver cometido o crime de favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual no período entre 2011 e 2015 não responderá pela prática de crime hediondo. JÁ CAIU CESPE: A respeito do que dispõe a Constituição Federal de 1988 e a Lei n.º 8.072/1990, assinale a opção correta. a) O agente que pratica homicídio simples, consumado ou tentado, não comete crime hediondo. 14. CORRETO. Conforme já explicado, o homicídio simples, em regra, não é crime hediondo, contudo, será considerado hediondo quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente e homicídio qualificado. Ante o exposto, contemplamos que nem sempre o homicídio é considerado crime hediondo. b) A prática de racismo constitui crime hediondo, inafiançável e imprescritível. c) A tortura é crime inafiançável, imprescritível e insuscetível de graça ou anistia. d) O crime de lesão corporal dolosa de natureza gravíssima é hediondo quando praticado contra parente consanguíneo até o quarto grau de agente da segurança pública, em razão dessa condição. e) A lei penal e a processual penal retroagem para beneficiar o réu. JÁ CAIU CESPE: Com fundamento na Lei n.º 11.464/2007, que modificou a Lei n.º 8.072/1990 (Lei dos Crimes Hediondos), assinale a opção correta acerca dos requisitos objetivos para fins de progressão de regime prisional. a) O regime integral fechado poderáser aplicado no caso de prática de crime de tráfico internacional de drogas, em que, devido à hediondez da conduta, que atinge população de mais de um país, o réu não poderá ser beneficiado com a progressão de regime prisional. b) Como exceção à regra prevista na legislação de regência, a progressão de regime prisional é vedada ao condenado, que deve cumprir regime integral fechado, pela prática de crime de epidemia de que resulte morte de vítimas. c) Os condenados por crimes hediondos ou assemelhados cometidos antes da vigência da Lei n.º 11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no artigo 112 da Lei de Execução Penal para a progressão de regime, que estabelece o cumprimento de um sexto da pena no regime anterior. 15. CORRETO, trata-se do entendimento da Súmula 471 do STJ, vejamos “Os condenados por crimes hediondos ou assemelhados cometidos antes da vigência da Lei n. 11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no art. 112 da Lei n. 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) para a progressão de regime prisional. (Leia-se, cumprimento de 1/6 da pena)”. d) A Lei dos Crimes Hediondos é especial e possui regra própria quanto aos requisitos objetivos para a progressão de regime prisional, devendo seus atuais parâmetros ser aplicados, independentemente de o crime ter sido praticado antes ou depois da vigência da Lei n.º 11.464/2007, com base no princípio da especialidade. e) Os requisitos objetivos da Lei n.º 11.464/2007 devem ser aplicados para fins de progressão de regime prisional, pelo fato de essa lei ser mais benéfica que a lei anterior, que vedava a progressão de regime. MANUAL CASEIRO 49 JÁ CAIU CESPE: O crime de lesão corporal dolosa de natureza gravíssima é hediondo quando praticado contra cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo de até terceiro grau, de agente da Polícia Rodoviária Federal e integrante do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, em razão dessa condição. CERTO. A lesão corporal, em regra, não é crime hediondo. Atualmente, apenas em duas hipóteses é que a lesão corporal será considerada crime hediondo, e quais são elas? Lesão gravíssima ou lesão corporal seguida de morte quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição. Essa hipótese deve ser bem lembrada por aqueles que prestam concurso para área policial (Delegado/Agente, etc). JÁ CAIU CESPE: Considere que um indivíduo tenha sido condenado por crime hediondo. Nesse caso, para que possa requerer progressão de regime de pena, esse indivíduo deve cumprir dois quintos da pena que lhe foi imputada, se for primário, e três quintos dessa pena, se for reincidente. CERTO. Nos moldes do Art. 2º, § 2º: “A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos neste artigo, dar- se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente”. Vamos esquematizar? Crime comum Crime hediondo 1/6 do cumprimento da pena. 2/5 da pena, apenado primário; 3/5 da pena, apenado reincidente. JÁ CAIU CESPE: Acerca de crimes hediondos, assinale a opção correta à luz da Lei n.º 8.072/1990 bem como da jurisprudência e da doutrina. a) Aquele que dá a conhecer a existência do crime de extorsão mediante sequestro sem indicar dados que permitam a libertação da vítima por ele sequestrada, ainda que coautor ou partícipe, será beneficiado pela delação. b) É permitida a progressão de regime em crimes hediondos, sendo necessário, para isso, que o juízo da execução avalie se o condenado preenche os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, ainda, a realização de exame criminológico. 16. CERTO. Art. 2º, § 2º: “A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos neste artigo, dar- se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente”. Além do requisito objetivo, também se exige o mérito do condenado (condições pessoais que autorizam um regime mais brando). c) É admitido o indulto, graça e anistia a agente que praticou crime de natureza hedionda. d) Os crimes de extorsão mediante sequestro e sequestro são equiparados ao hediondo. e) Para que possa vir a obter o benefício do livramento condicional, o réu não poderá ser reincidente em qualquer crime, independentemente da natureza do crime anteriormente praticado. MANUAL CASEIRO 50 Dos Informativos: Lei dos Crimes Hediondos 2017 Regime inicial de pena no caso do crime de tortura O Plenário do STF, ao julgar o HC 111.840/ES, declarou incidentalmente a inconstitucionalidade do § 1º, do art. 2º, da Lei nº 8.072/90, com a redação que lhe foi dada pela Lei nº 11.464/2007, afastando, dessa forma, a obrigatoriedade do regime inicial fechado para os condenados por crimes hediondos e equiparados, incluído aqui o crime de tortura. Dessa forma, não é obrigatório que o condenado por crime de tortura inicie o cumprimento da pena no regime prisional fechado. STJ. 5ª Turma. HC 383.090/SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 21/03/2017. STJ. 6ª Turma. RHC 76.642/RN, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 11/10/2016. Obs: existe um julgado da 1ª Turma do STF afirmando que o regime inicial no caso de tortura deveria ser obrigatoriamente o fechado: HC 123316/SE, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/6/2015. Penso que se trata de uma posição minoritária e isolada do Min. Marco Aurélio. Os demais Ministros acompanharam o Relator mais por uma questão de praticidade do que de tese jurídica. Isso porque os demais Ministros entendiam que, no caso concreto, nem caberia habeas corpus, considerando que já havia trânsito em julgado. No entanto, eles não aderiram expressamente à tese do Relator. Não há fundamento que justifique o § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/90 (que obriga o regime inicial fechado para crimes hediondos) ter sido declarado inconstitucional e o § 7º do art. 1º da Lei nº 9.455/97 (que prevê regra semelhante para um crime equiparado a hediondo) não o ser. Em provas de concurso, deve-se ter atenção para a redação do enunciado. 2016 Estupro e atentado violento ao pudor são hediondos ainda que praticados na forma simples Os crimes de estupro e atentado violento ao pudor, mesmo que cometidos antes da edição da Lei nº 12.015/2009, são considerados hediondos, ainda que praticados na forma simples. Em outras palavras, seja antes ou depois da Lei nº 12.015/2009, toda e qualquer forma de estupro (ou atentado violento ao pudor) é considerada crime hediondo, sendo irrelevante que a prática de qualquer deles tenha causado, ou não, lesões corporais de natureza grave ou morte. STJ. 3ª Seção. REsp 1.110.520-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 26/9/2012 (Info 505). STF. 1ª Turma. HC 100612/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 16/8/2016 (Info 835). O regime inicial de pena não precisa ser obrigatoriamente o fechado A hediondez ou a gravidade abstrata do delito não obriga, por si só, o regime prisional mais gravoso, pois o juízo, em atenção aos princípios constitucionais da individualização da pena e da obrigatoriedade de fundamentação das decisões judiciais, deve motivar o regime imposto observando a singularidade do caso concreto. Assim, é inconstitucional a fixação de regime inicial fechado com base unicamente na hediondez do delito. STF. 1ª Turma. ARE 935967 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 15/03/2016. STF. 2ª Turma. HC 133617, Rel.Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/05/2016. 2012 A causa de aumento prevista no art. 9º da Lei 8.072/90 foi tacitamente revogada O entendimento do STJ e do STF é no sentido de que a causa de aumento prevista no art. 9º da Lei de Crimes Hediondos foi revogada tacitamente pela Lei nº 12.015/2009, considerando que esta Lei revogou o art. 224 do CP, que era mencionado pelo referido art. 9º. STF. Primeira Turma. HC 111246/AC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/12/2012 (Info 692). MANUAL CASEIRO 51 #MOMENTODIZERODIREITO #MARCINHOEXPLICA Lei 13.497/2017: posse ou porte de arma de fogo de uso restrito passa a ser crime hediondo Foi publicada no dia 27 de Out./2017 a Lei nº 13.497/2017, que altera a Lei de Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/90). O que são crimes hediondos? São crimes que o legislador considerou especialmente repulsivos e que, por essa razão, recebem tratamento penal e processual penal mais gravoso que os demais delitos. Quais são os crimes hediondos no Brasil? O Brasil adotou o sistema legal de definição dos crimes hediondos. Isso significa que é a lei quem define, de forma exaustiva (taxativa, numerus clausus), quais são os crimes hediondos. Esta lei é a de nº 8.072/90, conhecida como Lei dos Crimes Hediondos. A Lei nº 8.072/90 traz, em seu art. 1º, o rol dos crimes hediondos. O que fez a Lei nº 13.497/2017? Alterou a redação do parágrafo único do art. 1º da Lei nº 8.072/90 prevendo que também é considerado como crime hediondo o delito de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, previsto no art. 16 do Estatuto do Desarmamento. Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou artefato; II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz; III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar; IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado; V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente; e VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo. MANUAL CASEIRO 52 As armas de uso restrito estão previstas no art. 16 do anexo do Decreto nº 3.665/2000. Alguns exemplos: • armas, munições, acessórios e equipamentos iguais ou que possuam alguma característica do material bélico usado pelas Forças Armadas nacionais; • calibres .357 Magnum, 9 Luger, .38 Super Auto, .40 S&W, .44 SPL, .44 Magnum, .45 Colt e .45 Auto; • armas de fogo automáticas de qualquer calibre. A Lei nº 13.497/2017 já entrou em vigor, de forma que, se a pessoa praticar o crime do art. 16 da Lei nº 10.826/2003 de hoje em diante, estará submetido às consequências penais e processuais inerentes aos crimes hediondos, sendo a mais gravosa delas a existência de requisitos objetivos diferenciados para progressão de regime (art. 2º, § 2º). A Lei nº 13.497/2017 é mais gravosa e, por isso, não tem efeitos retroativos, de forma que, quem cometeu o delito até o dia de ontem (26/10/2017), não é abrangido pelo tratamento dispensado aos crimes hediondos. MANUAL CASEIRO 53 JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS Lei nº 9.099/95 1. Previsão Constitucional Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: I - JUIZADOS ESPECIAIS, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumariíssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau; §1º Lei Federal disporá sobre a criação de juizados especiais no âmbito da Justiça Federal (Lei nº 10.259). Da análise do dispositivo constitucional, se extrai alguns conceitos: Infração de menor potencial ofensivo; Procedimento oral e sumaríssimo; Transação penal; Julgamentos por Turmas Recursais (juízes de primeiro grau). Atendendo ao preceito constitucional, a Lei n° 9.099/95 entrou em vigor no dia 26 de novembro de 1995. Candidato, qual seria a finalidade da criação dos juizados? Excelência, uma das finalidades da criação dos juizados seria a busca de uma prestação jurisdicional mais célere para as infrações de menor potencial ofensivo, evitando-se com isso a prescrição. Além disso, busca revitalizar a figura da vítima – conferir uma atenção maior a pessoa da vítima (vários institutos preocupados com a vítima, por exemplo, composição civil dos danos); por fim, e não menos importante, a criação dos juizados estimula a solução consensual (jurisdição consensual). *Introdução da Jurisdição Consensual: busca por um acordo celebrado entre o Ministério Público, querelante e ofendido, visando uma pena não privativa de liberdade. O consenso recairá sobre pena não privativa de liberdade. O princípio da obrigatoriedade para o Ministério Público dá espaço ao “princípio da discricionariedade regrada”. Desse modo, com o surgimento da Lei dos Juizados Especiais Criminais, essa tradicional jurisdição de conflito cede espaço para uma jurisdição de consenso, na qual se busca um acordo entre as partes, a reparação voluntária dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena não privativa de liberdade, procurando-se evitar, o quanto possível, a instauração de um processo penal. Não é possível resultar na aplicação de uma pena privativa de liberdade. MANUAL CASEIRO 54 Dessa forma, temos que os Juizados Especiais Criminais foram criados com as seguintes finalidades: Acelerar a prestação jurisdicional Revitalizar a figura da vítima Estimular a solução consensual dos conflitos 1.1 Constitucionalidade da Lei dos Juizados Especiais (Lei nº 9.099/95) Quando a Lei dos Juizados entrou em vigor, parte da doutrina a criticou, alegando a sua inconstitucionalidade, isso porque a referida lei permite a transação penal envolvendo bem de natureza indisponível, qual seja, a liberdade de locomoção. Em que pese a referida posição, o Supremo Tribunal Federal entendeu que lei é constitucional, pois a transação penal envolve apenas penas não privativas de liberdade. Nesse sentido, manifestou-se o STF. Vejamos: STF: “(...) LEI N. 9.099/95 - CONSAGRAÇÃO DE MEDIDAS DESPENALIZADORAS - NORMAS BENEFICAS - RETROATIVIDADE VIRTUAL. - Os processos técnicos de despenalização abrangem, no plano do direito positivo, tanto as medidas que permitem afastar a própria incidência da sanção penal quanto aquelas que, inspiradas no postulado da mínima intervenção penal, tem por objetivo evitar que a pena seja aplicada, como ocorre na hipótese de conversão da açãopública incondicionada em ação penal dependente de representação do ofendido (Lei n. 9.099/95, arts. 88 e 91). A Lei n. 9.099/95, que constitui o estatuto disciplinador dos Juizados Especiais, mais do que a regulamentação normativa desses órgãos judiciários de primeira instância, importou em expressiva transformação do panorama penal vigente no Brasil, criando instrumentos destinados a viabilizar, juridicamente, processos de despenalização, com a inequívoca finalidade de forjar um novo modelo de Justiça criminal, que privilegie a ampliação do espaço de consenso, valorizando, desse modo, na definição das controvérsias oriundas do ilícito criminal, a adoção de soluções fundadas na própria vontade dos sujeitos que integram a relação processual penal. Esse novíssimo estatuto normativo, ao conferir expressão formal e positiva as premissas ideológicas que dão suporte as medidas despenalizadoras previstas na Lei n. 9.099/95, atribui, de modo consequente, especial primazia aos institutos (a) da composição civil (art. 74, paragrafo único), (b) da transação penal (art. 76), (c) da representação nos delitos de lesões culposas ou dolosas de natureza leve (arts. 88 e 91) e (d) da suspensão condicional do processo (art. 89). As prescrições que consagram as medidas despenalizadoras em causa qualificam-se como normas penais benéficas, necessariamente impulsionadas, quanto a sua aplicabilidade, pelo princípio constitucional que impõe a lex mitior uma insuprimivel carga de retroatividade virtual e, também, de incidência imediata”. (STF, Pleno, Inq. 1.055/ QO/AM, Rel. Min. Celso de Mello, j. 24/04/1996). A lei em comento prevê quatro institutos despenalizadores. Vejamos: Medidas despenalizadoras Composição Civil dos Danos Transação Penal Suspensão condicional do processo Necessidade de representação nos crimes de lesão leve e culposa MANUAL CASEIRO 55 2. Critérios orientadores e finalidades dos Juizados Especiais Art. 2º. O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação. Oralidade Simplicidade Informalidade Economia processual Celeridade Além dos princípios próprios dos juizados, também se aplicam outros princípios constitucionais, por exemplo, ampla defesa, contraditório, juiz natural, vedação as provas ilícitas. Dessa forma, temos que além dos elencados na legislação específica, outros princípios incidem no âmbito dos juizados. 2.1 Princípio da oralidade Deve se dar preferência a palavra falada em detrimento da prova escrita, sem que isso implique na exclusão da forma escrita obrigatoriamente. Nesse sentido, a peça acusatória pode ser oferecida oralmente (verbalmente), em observância ao princípio da oralidade. Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não houver aplicação de pena, pela ausência do autor do fato, ou pela não ocorrência da hipótese prevista no art. 76 desta lei (transação penal), o Ministério Público oferecerá ao Juiz, de imediato, DENÚNCIA ORAL, se não houver necessidade de diligências imprescindíveis. A denúncia oral será reduzida a termo. Do princípio da oralidade decorrem outros subprincípios: concentração, imediatismo, irrecorribilidade das decisões interlocutórias, identidade física do juiz. 2.1.1 Princípio da concentração: consiste na tentativa de redução do procedimento a uma única audiência, objetivando encurtar o lapso temporal entre a data do fato e a do julgamento. 2.1.2 Princípio do imediatismo: deve o juiz proceder diretamente à colheita de todas as provas, em contato com as partes. Em regra, esse contato deve ser feito de maneira presencial. Por outro lado, em situações excepcionais, admite-se procedimentos por videoconferência, inobstante a ausência de previsão expressa da lei, a qual é bem anterior a videoconferência. MANUAL CASEIRO 56 2.1.3 Princípio da irrecorribilidade das decisões interlocutórias: via de regra, as decisões interlocutórias não são recorríveis. Contudo, cumpre destacar que isso não impedirá o questionamento dessas decisões interlocutórias, seja por preliminar em futura apelação; por intermédio do remédio constitucional HC ou ainda por meio de revisão criminal. 2.1.4 Princípio da identidade física do juiz: nos moldes do art. 399, §2º do CPP, pelo menos em regra, o juiz que presidir a instrução, deverá proferir sentença, sendo essa a ideia basilar do princípio da identidade física do juiz. 2.2 Princípio da simplicidade: procura-se conferir ao processo uma maior simplicidade, diminuindo o quanto possível a massa dos materiais que são juntados aos autos do processo sem que se prejudique o resultado final da prestação jurisdicional. Exemplo: Dispensa de Exame de Corpo de Delito Não há necessidade de realização do exame de corpo de delito, em observância ao princípio da economia processual, podendo ser suprida por simples boletim médico. Nesse sentido, dispõe o §1º, parte final, do art. 77 “prescindir-se-á (Não precisar de; dispensa-se) do exame do corpo de delito quando a materialidade do crime estiver aferida por boletim médico ou prova equivalente”. 2.3 Princípio da informalidade: no procedimento sumaríssimo previsto na lei dos juizados especiais, desde que se atenda a finalidade do ato processual produzido. Nesse sentido, o art. 65 da Lei nº 9.099/95. Art. 65. Os atos processuais serão válidos sempre que preencherem as finalidades para as quais foram realizados, atendidos os critérios indicados no art. 62 desta Lei. §1º Não se pronunciará qualquer nulidade sem que tenha havido prejuízo. §2º A prática de atos processuais em outras comarcas poderá ser solicitada por qualquer meio hábil de comunicação. §3º Serão objeto de registro escrito exclusivamente os atos havidos por essenciais. Os atos realizados em audiência de instrução e julgamento poderão ser gravados em fita magnética ou equivalente. 2.4 Princípio da economia processual: entre duas alternativas que foram válidas, deve-se dar prioridade aquela que for menos onerosa ao Estado e as partes. 2.5 Princípio da celeridade processual: guarda relação com a necessidade de rapidez e agilidade do processo, objetivando-se atingir a prestação jurisdicional no menor tempo possível. MANUAL CASEIRO 57 3. Competência dos Juizados Especiais Criminais A competência dos juizados especiais criminais é fixada com base em dois critérios, a natureza da infração penal (infrações de menor potencial ofensivo) e a inexistência de circunstância que desloquem a competência para o juízo comum (conexão e continência; impossibilidade de citação pessoal do acusado e complexidade da causa). Competência do JECRIM (critério de fixação da competência) Natureza da infração penal (infração de menor potencial ofensivo) Inexistência de circunstância que desloquem a competência: - Conexão e continência (causas modificativas da competência); - Impossibilidade de citação pessoal do acusado; - Complexidade da causa. Candidato, quais são as causas ensejadoras de deslocamento da competência no âmbito dos Juizados Especiais? Excelência, podemos citar ao menos três situações que ocasionam o deslocamento da competência dos Juizados, no sentido de afastara competência dos Juizados Especiais, são elas: a conexão e continência, a impossibilidade de citação pessoal do acusado e a existência de complexidade da causa. Conexão e continência entre crime comum e infração de menor potencial ofensivo Diante da conexão ou continênciadeve haver a junção dos processos, por exemplo, homicídio doloso e crime de desacato, ocasião em que serão julgados conjuntamente no Tribunal do Júri, sem prejuízo da aplicação das medidas despenalizadoras ao crime de menor potencial ofensivo (Desacato). Nesse sentido, corroborando ao exposto, preleciona o art. 60, da Lei nº 9.099/95. Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos, tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor potencial ofensivo, respeitados as regras de conexão e continência. Parágrafo único. Na reunião do processos, perante o juízo comum ou Tribunal do Júri, decorrentes da aplicação das regras de conexão e continência, observar-se-á os institutos da transação penal e da composição civil dos danos. Cumpre recordarmos que, por mais que os delitos sejam julgados conjuntamente, deve-se observar a incidência dos institutos despenalizadores quanto a infração de menor potencial ofensivo. Impossibilidade de citação por edital No âmbito do JECRIM não se admite a citação por edital, posto que é incompatível com a celeridade prevista para os processos de competência dos Juizados, em observância aos princípios orientadores da lei, quais sejam, princípio da simplicidade, celeridade processual e economia processual, sendo causa modificadora de competência. Nesse sentido, disciplina o art. 66 da legislação. Vejamos: MANUAL CASEIRO 58 Art. 66. A citação será pessoal e far-se-á no próprio Juizado, sempre que possível, ou por mandado. Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser citado, o juiz encaminhará as peças existentes ao juízo comum para adoção dos procedimentos previstos em lei. O procedimento a ser adotado será o sumário (art. 538, CPP). Obs.1: embora não se admita a citação por edital, admite-se a CITAÇÃO POR HORA CERTA. Admite-se, contudo, a citação por hora certa. Citação por hora certa é constitucional É constitucional a citação com hora certa no âmbito do processo penal. STF. Plenário. RE 635145/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, julgado em 1º/8/2016 (repercussão geral) (Info 833). Obs.2: Não se admite citação por carta rogatória (aquela encaminhada para o exterior), em decorrência da sua morosidade no procedimento. Complexidade da causa Outra hipótese de modificação da competência do Juizado Especial, é a complexidade da causa. Conforme a doutrina, são hipóteses, por exemplo, de complexidade da causa a pluralidade de agentes e necessidade de realização de perícia. - Pluralidade de agentes; - Necessidade de realização de perícia em virtude da espécie do delito. Art. 77, §2º. Se a complexidade ou circunstância do caso não permitirem a formulação da denúncia, o Ministério Público poderá requerer ao juiz o encaminhamento das peças existentes, na forma do parágrafo único do art. 66. 3.1 Natureza da Competência dos Juizados Candidato, qual a natureza da Competência dos Juizados? Excelência, parte da doutrina defende que é competência absoluta (natureza absoluta – não admite modificações), sob o argumento de que a referida competência encontra-se prevista na Constituição Federal, trata-se de posição minoritária. De modo MANUAL CASEIRO 59 diverso, outra parte da doutrina, aduz ter a competência dos Juizados tem natureza relativa: admite modificação da competência: trata-se de posição majoritária. 1ª Corrente: competência de natureza absoluta – ratione materiae, cuja inobservância daria ensejo a nulidade absoluta. 2ª Corrente: competência de natureza relativa (pois admite modificações) – inobservância pode causar, no máximo, uma nulidade relativa. 4. Infração de menor potencial ofensivo 4.1 Evolução histórica da definição de Infração de menor potencial ofensivo Uma vez sendo fixada a competência com base a natureza da infração penal em infração de menor potencial ofensivo, imprescindível se torna o conhecimento acerca desta. Em sua redação ORIGINAL, considerava-se infração de menor potencial ofensivo, as infrações com pena de 1 (um) ano, com exceção dos casos em que a lei previa procedimento de especial (1995). Contudo, conforme se pode observar da transcrição abaixo, a definição sofreu alteração em decorrência do art. 2º, parágrafo único da Lei nº10.259 (Lei dos Juizados Especiais Federais). - Sistema unitário: atualmente, entende-se por infração de menor potencial ofensivo, conforme art. 61, com nova redação dada pela Lei nº 11.313 de 2006. -Sistema bipartido: temos dois conceitos de infração de menor potencial ofensivo. Um no âmbito do Jecrim Estadual e outro a ser aplicado no Jecrim Federal. Sistema bipartido: Sistema unitário (posição majoritária): Ter-se-ia um conceito de infração de menor potencial ofensivo no âmbito da Justiça Estadual – pena máxima não superior a 1 ano – e outro conceito no âmbito da Justiça Federal – pena máxima não superior a 2 anos. Em virtude do princípio da isonomia, não se pode admitir a existência de conceitos diversos de infração de menor potencial ofensivo. Por isso, prevaleceu o entendimento no sentido de que o art. 2º, parágrafo único, da Lei n. 10.259/01 teria revogado tacitamente o art. 61 da Lei n. 9.099/95, em sua redação originária. 4.2 Conceito Atual Candidato, o que se entende por infração de menor potencial ofensivo? Atualmente, a definição de infração de menor potencial ofensivo, encontra-se presente no art. 61 da Lei nº 9.099, nova redação dada pela Lei nº 11.313 de 2006: MANUAL CASEIRO 60 Art. 61. Consideram-se infrações de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa. Desse modo, contemplamos que infração de menor potencial ofensivo são as contravenções penais e crimes com pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa, sujeitos ou não a procedimento especial, ressalvadas as hipóteses envolvendo violência doméstica e familiar contra mulher (art. 11.340 de 2006, art. 41). Candidato, diferencie a infração de ofensividade insignificante; infração de médio potencial ofensivo e por fim, infração de máximo potencial ofensivo. Infração de ofensividade insignificante Infração de médio potencial ofensivo Infração de máximo potencial ofensivo São infrações as quais são aplicáveis o princípio da insignificância. São aquelas infrações que admitem a suspensão condicional do processo (art. 89, da Lei nº 9.099/95). São os crimes que não admitem suspensão condicional do processo. Obs.1: São quatro os pressupostos necessários para a aplicação do princípio da insignificância: a) mínima ofensividade da conduta do agente; b) nenhuma periculosidade social da ação; c) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; d) inexpressividade da lesão jurídica provocada. Obs.2: Infração de ínfimo potencial ofensivo: são crimes as quais não são cominadas penas não privativas de liberdade, podemos citar como exemplo a conduta tipificada ao teor do art. 28, da Lei 11.343/2006 (porte de drogas para uso pessoal). 4.3 Estatuto do Idoso Art. 94. Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima privativa de liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica-se o procedimento previsto na Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, e, subsidiariamente, no que couber, as disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal. (Vide ADI 3.096-5 - STF). Quando o Estatuto do Idoso entrou em vigor, houve quem dissesseque teria sido criado um novo conceito de infração de menor potencial ofensivo, qual seja, crimes com pena máxima não superior a 4 anos. Todavia, o Supremo interpretou o dispositivo no sentido de que não houve uma transformação do conceito de infração de menor potencial ofensivo, as de que nessa hipótese será aplicado o PROCEDIMENTO previsto ao teor da Lei nº 9.099/95. Dessa forma, temos três situações hipotéticas a serem analisadas. Vejamos: MANUAL CASEIRO 61 - Se o crime previsto no Estatuto do Idoso tiver pena máxima não superior a dois anos, será considerado infração de menor potencial ofensivo e “vai para o Juizado”. - Se o crime previsto no Estatuto do Idoso tiver pena máxima superior a dois anos, mas que não ultrapasse 4 anos, aplica-se o art. 94, o que significa que será julgado pela vara comum mas aplicando-se o procedimento sumaríssimo. - Se o crime previsto no Estatuto do Idoso tiver pena máxima superior a quatro anos, é da Competência da Vara Comum sendo aplicado o procedimento comum ordinário. 1ª Situação 2ª Situação 3ª Situação Crime previsto no Estatuto do Idoso com pena máxima não superior a 2 anos: é tratado como infração de menor potencial ofensivo. Logo, será julgado pelos Juizados, e terá direito aos institutos despenalizadores; Crime previsto no Estatuto do Idoso com pena máxima superior a 2 anos e que não ultrapasse os 4 anos: nesse caso, aplica-se o art. 94. Logo, o delito será da competência do Juízo Comum, aplicando-se o procedimento comum sumaríssimo; Crime previsto no Estatuto do Idoso com pena máxima superior a 4 anos: é da competência do Juízo Comum, aplicando-se o procedimento comum ordinário; 4.4 Acusados com Foro por Prerrogativa de Função. Na hipótese de acusados com foro por prerrogativa de função serão julgados pelo respectivo Tribunal (v.g., Deputado Federal, pelo Supremo Tribunal Federal), sem prejuízo da aplicação dos institutos despenalizadores previstos na Lei n. 9.099/95. Nesse sentido, preleciona Renato Brasileiro Lima (Legislação Criminal Especial Comentada, pág. 391,44 2017) “em se tratando de acusados com foro por prerrogativa de função, por mais que a infração penal seja considerada de menor potencial ofensivo, subsiste a competência do respectivo Tribunal para o processo e julgamento do feito, o que, no entanto, não inibe a incidência dos institutos despenalizadores trazidos pela Lei nº 9.099/95, desde que preenchidos os pressupostos legais”. 4.5 Crimes eleitorais Os crimes eleitorais serão julgados pela Justiça Eleitoral. É possível a aplicação da Lei nº 9.099/95. Segundo a doutrina é possível, SALVO para os crimes que contam com um sistema punitivo especial (por exemplo, art. 334 do CE). Vejamos: Código Eleitoral MANUAL CASEIRO 62 Art. 334. Utilizar organização comercial de vendas, distribuição de mercadorias, prêmios e sorteios para propaganda ou aliciamento de eleitores: Pena - detenção de seis meses a um ano e cassação do registro se o responsável for candidato. Corroborando ao exposto, Renato Brasileiro (Legislação Criminal Especial Comentada, pág. 391, 2017) argumenta, “a despeito da impossibilidade de julgamento dos crimes eleitorais perante os Juizados Especiais Criminais, haja vista a necessidade de observância da competência da Justiça Eleitoral, tem sido admitida a concessão dos institutos despenalizadores previstos na Lei nº 9.099/95, para as infrações penais eleitorais”. 4.6 Instrumento de menor potencial ofensivo Trazido para o Ordenamento com o advento da Lei nº 13.060 (vigência em 23/12/2014). Art. 4º Para os efeitos desta Lei, consideram-se instrumentos de menor potencial ofensivo aqueles projetados especificadamente para, com baixa probabilidade de causar mortes ou lesões permanentes, conter, debilitar ou incapacitar temporariamente pessoas. Refere-se a armas não letais. Nesse mesmo contexto, a referida lei dispõe ao teor do art. 2º: “Os órgãos de segurança pública deverão priorizar a utilização dos instrumentos de menor potencial ofensivo, desde que o seu uso não coloque em risco a integridade física ou psíquica dos policiais, e deverão obedecer aos seguintes princípios: I – legalidade; II – necessidade e III – razoabilidade e proporcionalidade”. 4.7 Violência doméstica e familiar contra a mulher A Lei Maria da Penha, ao teor do art. 41 veda a aplicação da Lei nº 9.099/95 em seu âmbito. Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099/95. Obs.1: Inobstante o dispositivo falar apenas aos crimes, conferiu-se interpretação extensiva para englobar também as contravenções penais (por exemplo, as vias de fato). Assim, segundo o STF a expressão “crime” deve ser interpretada extensivamente para abranger as contravenções penais. MANUAL CASEIRO 63 Obs.2: Violência doméstica e familiar contra mulher é um conceito exposto ao teor dos arts. 5 e 7º da Lei nº 11.340/2006. Vejamos: Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual. Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. Obs.3: Constitucionalidade da Vedação no âmbito daLei Maria da Penha ADC 19 e ADI 4.424. Há sim critério razoável para justificar a vedação, qual seja a vulnerabilidade da mulher no âmbito familiar. Na ocasião, fora determinado ainda que o crime de “lesão leve com violência doméstica e familiar contra a mulher é de ação penal pública incondicionada”. STF: “(...) AÇÃO PENAL – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER – LESÃO CORPORAL – NATUREZA. A ação penal relativa a lesão corporal resultante de violência MANUAL CASEIRO 64 doméstica contra a mulher é pública incondicionada – considerações”. (STF, Pleno, ADI 4.424/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 09/02/2012). [...] O artigo 41 da Lei nº 11.340/06, a afastar, nos crimes de violência doméstica contra a mulher, a Lei nº 9.099/95, mostra-se em consonância com o disposto no § 8º do artigo 226 da Carta da República, a prever a obrigatoriedade de o Estado adotar mecanismos que coíbam a violência no âmbito das relações familiares”. (STF, Pleno, ADC 19/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 09/02/2012). Súmula 536 do STJ: “A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha”. Terceira Seção, aprovada em 10/6/2015, DJe 15/6/2015. Não são aplicáveis as medidas despenalizadora (transação penal e suspensão condicional do processo) quando se trata de violência doméstica e familiar contra a mulher, pois os referidos institutos estão previstos na Lei nº 9.099/95. Dessa forma, temos que - como a suspensão condicional do processo e a transação penal estão previstas na Lei n. 9.099/95, respectivamente nos arts. 89 e 76, não são aplicáveis aos delitos praticados no contexto da Lei Maria da Penha, haja vista a vedação constante do art. 41 da Lei n. 11.30/06. Súmula n. 542 do STJ: “A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica e familiar contra a mulher é pública incondicionada”. A ação penal relativa aos crimes de lesão corporal leve, grave e gravíssima praticados no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher é pública incondicionada. A ação penal relativa ao crime de lesão corporal culposa é pública condicionada à representação, porquanto os crimes culposos não estão submetidos à Lei Maria da Penha. Cumpre destacarmos que, nem todo crime praticado no contexto da violência doméstica e familiar contra a mulher é de ação penal pública incondicionada. Crimes como, por exemplo, o estupro e a ameaça dependem de representação, ainda que praticados no contexto da Lei Maria da Penha, já que não há nenhum dispositivo legal constante da Lei n. 11.340/06 dispondo que todos os crimes são de ação penal pública incondicionada (Renato Brasileiro). MANUAL CASEIRO 65 4.8 Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher - Previsão Legal Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher. Parágrafo único. Os atos processuais poderão realizar-se em horário noturno, conforme dispuserem as normas de organização judiciária. Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, observadas as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela legislação processual pertinente. Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas varas criminais, para o processo e o julgamento das causas referidas no caput. Embora a lei mencione “Juizados de Violência Doméstica e Familiar”, trata-se em verdade de varas especializadas. Conforme exposto anteriormente, em decorrência da redação do art. 41, da Lei nº 11.340/2006 está vedado a aplicação da Lei nº 9.099/95 as hipóteses de violência domésticas, os juizados que são mencionados na lei, são verdadeiramente varas especializadas, sendo equivocadamente chamada pelo legislador de Juizados de Violência doméstica e familiar. O STF entendeu que os arts 14 e 33 da Lei Maria da Penha são plenamente constitucionais, é dizer, não violam o poder de auto-organização do Judiciário Estadual, porquanto tão somente sugerem a criação desses juízos especializados. Em alguns Estados da Federação (v.g., DF), a competência cumulativa para processar e julgar as causas decorrentes da violência doméstica e familiar contra a mulher foi outorgada aos próprios Juizados. Nesse caso, o juiz competente há de ficar atento ao processo em questão: a) se se tratar de infração de menor potencial ofensivo, serão cabíveis os institutos despenalizadores, e o juízo ad quem será a turma recursal; b) noutro giro, se se tratar de causa decorrente da violência doméstica e familiar contra a mulher, não MANUAL CASEIRO 66 serão cabíveis os institutos despenalizadores, e o juízo ad quem será o Tribunal de Justiça, e não a Turma Recursal. 5. Aplicação da Lei nº 9.099/95 na Justiça Militar É cabível a aplicação da Lei dos Juizados no âmbito da Justiça Militar? Em sua redação original, não havia nenhuma vedação. Assim, temos que quando a Lei n. 9.099/95 entrou em vigor, não havia nenhuma restrição à aplicação de seus dizeres no âmbito da Justiça Militar. Ocorre que posteriormente, entrou em vigor a Lei n. 9.839/99, vedando a aplicação da Lei n. 9.099/95 no âmbito da Justiça Militar. Trata-se de evidente exemplo de novatio legis in pejus. Logo, se o crime militar foi praticado antes da vigência da referida Lei, continua sendo aplicável a Lei dos Juizados. Art. 90-A. As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito a Justiça Militar. Obs.1: Alguns Ministros do Supremo entendem que o art. 90-A seria inconstitucional em relação aos crimes militares cometidos por civis 6. Competência Territorial A Lei nº 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais) fixa tal competência com base no local em que a conduta foi praticada, de forma diversa ao que prevê o CPP, que fixa a competência territorial com base no local da consumação do delito. Esquematizando: Competência Territorial na Lei nº 9.099/95 Competência Territorial no Código de Processo Penal Adota o local da conduta: local em que a infração foi praticada. Art. 63, Lei nº 9.099/95 Adota o local da consumação. Art. 70, CPP. Art. 63. A competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi praticada a infração penal. Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução. 7. Termo Circunstanciado Alguns denominam de termo circunstanciado de ocorrência. A ideia de celeridade e economia que norteia a Lei dos Juizados deve ser buscada na fase judicial, bem como, investigatória. Assim, o termo circunstanciado foi pensado para a fase investigatória, substituindo o inquérito policial. MANUAL CASEIRO 67 Segundo Renato Brasileiro, (pág. 404, 2017) o termo circunstanciado trata-se de um relatório sumário da infração de menor potencial ofensivo, contendo a identificação das partes envolvidas, a menção à infração praticada, bem como todos os dados básicos e fundamentais que possibilitem a perfeita individualizaçãodos fatos, a indicação das provas, visando à formação da opinio delicti pelo titular da ação penal. 7.1 Atribuições para a lavratura do Termo Circunstanciado 1ª Corrente: polícia judiciária (civil e federal) e também a polícia militar; (minoritária). 2ª Corrente: sendo um procedimento investigatório que se assemelha ao inquérito policial, só pode ser lavrado pela polícia no exercício da polícia judiciária (policia civil e federal). É a corrente que prevalece. Por ocasião do julgamento da ADI 3.614, concluiu a Suprema Corte que a lavratura de termos circunstanciados pela Polícia Militar caracteriza hipótese de usurpação de atribuições exclusivas da Polícia Judiciária, seja ela a Polícia Civil, seja ela a Polícia Federal. (STF, Pleno, ADI 3.614/PR, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 20/09/2007, DJe 147 22/11/2007). Com entendimento semelhante: STF, 1ª Turma, RE 702.617 AgR/AM, Rel. Min. Luiz Fux, j. 26/02/2013, DJe 54 20/03/2013. 7.2 Situação de Flagrante em se tratando de Crime de Menor Potencial Ofensivo Lei n. 9.099/95. Art. 69 (...). Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima. (Redação dada pela Lei nº 10.455, de 13.5.2002) Em verdade, quando o parágrafo único do art. 69 declina que não se imporá prisão em flagrante, deve se interpretar que não se lavrará auto de prisão em flagrante, o que, no entanto, não significa dizer que o indivíduo não possa ser capturado, nem tampouco conduzido coercitivamente. Todavia, se assumir o compromisso de comparecer aos Juizados ou a ele comparecer de imediato, a lavratura do APF será substituída pela lavratura de um termo circunstanciado. Por outro lado, na eventualidade de o indivíduo se recusar a assumir o compromisso de comparecer aos Juizados, o auto de prisão em flagrante deve ser lavrado, sem prejuízo, todavia, do arbitramento de fiança pelo próprio Delegado de Polícia. MANUAL CASEIRO 68 8. Fase preliminar dos Juizados Especiais Criminais Fase preliminar Fase judicial Art. 72. Na audiência preliminar, presente o representante do Ministério Público, o autor do fato e a vítima e, se possível, o responsável civil, acompanhados por seus advogados, o Juiz esclarecerá sobre a possibilidade da composição dos danos e da aceitação da proposta de aplicação imediata de pena não privativa de liberdade. A Lei n. 9.099/95 possui duas fases uma primeira fase, denominada de preliminar, tem o objetivo precípuo de buscar a composição dos danos civis e a transação penal; e uma segunda fase terá início com o oferecimento da peça acusatória. 8.1 Composição civil dos danos Nos termos do art. 74, Lei nº 9.099/95; consiste em um acordo celebrado entre o titular da ação penal e o autor da infração, que visa reparar o prejuízo causado a vítima. Nos casos de ação penal privada e ação condicionada a representação da vítima, a composição civil dos danos acarretará em renúncia, com a respectiva extinção da punibilidade (art. 107, do Código Penal). Lei 9.099/95 - art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada pelo Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil competente. Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal pública condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou representação. Candidato, é possível a composição civil dos danos nos crimes de ação penal pública incondicionada? Excelência, conforme preleciona o art. 74, parágrafo único da Lei nº 9.099/95, de forma expressa admite-se a composição dos danos civis nos crimes de ação penal privada e de ação penal pública condicionada a representação, acarretando consequentemente a renúncia ao direito de queixa e a renúncia ao direito de representação, respectivamente. Não obstante a ausência de previsão expressa admitindo a aplicação do referido instituto nos crimes de ação penal pública incondicionada, admite-se sim sua incidência, contudo a realização desse acordo em se tratando de ação penal pública incondicionada não acarretará a extinção da punibilidade (pela renúncia), podendo eventualmente, se preenchidos os requisitos do art. 16 do Código Penal, acarretar a incidência de uma causa de diminuição de pena por aplicação do arrependimento posterior. Assim, temos: MANUAL CASEIRO 69 Espécie de Ação Penal Consequência Ação penal privada Renúncia “ao direito de queixa” Ação penal pública condicionada Renúncia “ao direito de representação” Ação penal pública incondicionada Causa de diminuição de pena (se preenchidos os requisitos do arrependimento posterior, art. 16 do CP). Esquematizando: Ação penal privada Ação penal pública condicionada Ação penal pública incondicionada A composição civil dos danos acarreta renúncia ao direito de queixa. A composição civil dos danos acarreta renúncia ao direito de representação. A composição civil dos danos é cabível, porém NÃO acarreta qualquer renúncia/benefício. Se presentes os requisitos do art.16 do CP, podemos aplicar o instituto do arrependimento posterior, sendo causa de diminuição da pena. 8.2 Oferecimento da Representação Art. 75. Não obtida a composição dos danos civis, será dada imediatamente ao ofendido a oportunidade de exercer o direito de representação verbal, que será reduzida a termo. Parágrafo único. O não oferecimento da representação na audiência preliminar não implica decadência do direito, que poderá ser exercido no prazo previsto em lei (CPP, art. 38. 6 meses a contar do conhecimento da autoria). Na hipótese de insucesso da fase preliminar, haverá o oferecimento da peça acusatória. 8.3 Transação Penal Trata-se de um dos institutos despenalizadores da Lei dos Juizados Especiais. 8.3.1 Conceito A transação penal é um acordo celebrado entre o titular da ação penal e o autor do fato delituoso, assistido por seu defensor, e pelo menos em regra antes do início do processo (momento), cujo objetivo é a aplicação imediata da pena restritiva de direitos ou multa, evitando-se assim a instauração de um processo penal. Trata-se de uma mitigação ao princípio da obrigatoriedade (presentes as condições da ação penal e havendo justa causa o titular da ação penal – MP, é obrigado a oferecer denúncia): princípio da discricionariedade regrada. MANUAL CASEIRO 70 Lei 9099/95. Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser especificada na proposta. §1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá reduzi-la até a metade. § 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado: I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva; II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo; III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da medida. § 3º Aceita a proposta pelo autorda infração e seu defensor, será submetida à apreciação do Juiz. § 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o Juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em reincidência, sendo registrada apenas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de cinco anos. § 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a apelação referida no art. 82 desta Lei. § 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não constará de certidão de antecedentes criminais, salvo para os fins previstos no mesmo dispositivo, e não terá efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação cabível no juízo cível. Cumpre destacarmos que, a transação penal não gera reincidência, a doutrina diz que esse instituto é baseado no Direito Italiano no chamado nolo contendere (não quero discutir). Ela também não gera efeitos civis por não ser uma sentença condenatória. 8.3.2 Requisitos a. Infração de menor potencial ofensivo: contravenção e crimes com pena máxima não superior a dois anos, cumulada ou não com multa, com ressalva da Lei Maria da Penha. Súmula 536 do STJ: “A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha”. Terceira Seção, aprovada em 10/6/2015, DJe 15/6/2015. MANUAL CASEIRO 71 b. Não ser caso de arquivamento do termo circunstanciado; c. Não ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de liberdade, por sentença definitiva; A lei dos Juizados veda a concessão da transação se o indivíduo tiver sido: - Condenado por sentença definitiva; Essa é uma sentença transitada em julgada. - Pela prática de crime; Atenção, pois é permitida a transação no caso de condenação por contravenção penal. - A pena privativa de liberdade Atenção, pois condenação a uma pena restritiva de direitos ou multa não é óbice à transação penal. d. Não ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de 5 anos, pela transação penal; e. Antecedentes, conduta social, personalidade do agente, bem como os motivos e circunstâncias do delito favoráveis ao agente; f. Reparação do dano ambiental nos crimes ambientais;* esse requisito para a transação penal é necessário nos crimes ambientais; Art. 27 da Lei 9.605/98. Nos crimes ambientais de menor potencial ofensivo, a proposta de aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, somente poderá ser formulada desde que tenha havido a prévia composição do dano ambiental, de que trata o art. 74 da mesma lei, salvo em caso de comprovada impossibilidade. 8.4 Legitimidade para oferecimento da proposta de transação Inicialmente, cumpre destacarmos que a transação penal não pode ser concedida ex officio pelo juiz. É cabível não apenas nos crimes de ação penal pública (condicionada e incondicionada), como também nos crimes de ação penal privada. Se o crime é de ação penal pública a legitimidade é do Ministério Público, titular da ação, nos moldes do art. 129, I, da Constituição. Por outro lado, em sendo crime de ação penal privada: 1ª Corrente: MP. FONAJE – Enunciado 112: não ação penal de iniciativa privada, cabem transação penal e a suspensão condicional do processo, mediante proposta do Ministério Público (XXVII Encontro, Palmas/TO). 2ª Corrente: A legitimidade é do querelante, posto ser ele o titular da ação penal de iniciativa privada. MANUAL CASEIRO 72 PENAL E PROCESSUAL PENAL. AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. QUEIXA. INJÚRIA. TRANSAÇÃO PENAL. AÇÃO PENAL PRIVADA. POSSIBILIDADE. LEGITIMIDADE DO QUERELANTE. JUSTA CAUSA EVIDENCIADA. RECEBIMENTO DA PEÇA ACUSATÓRIA. I - A transação penal, assim como a suspensão condicional do processo, não se trata de direito público subjetivo do acusado, mas sim de poder-dever do Ministério Público (Precedentes desta e. Corte e do c. Supremo Tribunal Federal). II - A jurisprudência dos Tribunais Superiores admite a aplicação da transação penal às ações penais privadas. Nesse caso, a legitimidade para formular a proposta é do ofendido, e o silêncio do querelante não constitui óbice ao prosseguimento da ação penal. III - Isso porque, a transação penal, quando aplicada nas ações penais privadas, assenta- se nos princípios da disponibilidade e da oportunidade, o que significa que o seu implemento requer o mútuo consentimento das partes. IV - Na injúria não se imputa fato determinado, mas se formulam juízos de valor, exteriorizando-se qualidades negativas ou defeitos que importem menoscabo, ultraje ou vilipêndio de alguém. V - O exame das declarações proferidas pelo querelado na reunião do Conselho Deliberativo evidenciam, em juízo de prelibação, que houve, para além do mero animus criticandi, conduta que, aparentemente, se amolda ao tipo inserto no art. 140 do Código Penal, o que, por conseguinte, justifica o prosseguimento da ação penal. Queixa recebida. (APn 634/RJ, Rel. Ministro FELIX FISCHER, CORTE ESPECIAL, julgado em 21/03/2012, DJe 03/04/2012). 8.5 Recusa Injustificada por parte do titular da ação penal em oferecer a proposta da transação penal a. Por parte do ofendido nos crimes de ação penal privada: nesse caso, não há nada a ser feito. b. Por parte do Ministério Público nos crimes de ação pública: aplicar-se-á o entendimento exposto ao teor da súmula 696 do STF. Súmula 696 do STF: reunidos os pressupostos legais permissivo da suspensão condicional do processo (também vale para a Transação Penal), mas se recusando o Promotor de Justiça a propô-la, o Juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal. 8.6 Momento para o Oferecimento da proposta da Transação Penal Em regra, a transação penal é apresentada para o autor do delito antes do oferecimento da peça acusatória (fase preliminar). Em situações excepcionais, a transação penal e a suspensão também podem ser concedidas durante o processo. Dessa forma, temos que em regra, deve ser oferecida “antes do início do processo”. MANUAL CASEIRO 73 Porém, nada impede a concessão do benefício durante o curso do processo, seja nos casos de desclassificação, seja nos casos de procedência parcial. Súmula 337 do STJ: é cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência parcial da pretensão punitiva. 8.7 Descumprimento Injustificado do Acordo de Homologação de Transação Penal. 1ª Corrente 2ª Corrente - ajuizamento de ação de obrigação de fazer visando compelir o individuo a cumprir o acordo homologado. - retorna ao status a quo. Ainda que homologado, o referido acordo NÃO FAZ COISA JULGADA MATERIAL. Se o acordo for descumprido, o feito retornará ao status quo, ou seja, o processo retoma, e a partir de então poderá ser instaurado o inquérito policial, bem como, oferecida denúncia. Súmula vinculante nº 35: A homologação de transação penal prevista no artigo 76 da Lei 9.099/1995 não faz coisa julgada material e, descumpridas suas cláusulas, retoma-se a situação anterior, possibilitando-se ao Ministério Público a continuidade da persecução penal mediante oferecimento de denúncia ou requisição de inquérito policial. 9. Analise do procedimento comum sumaríssimo dos Juizados 9.1 Peça acusatória No âmbito dos Juizados Especiais Criminais a peça acusatória pode ser apresentada por escrita e também oralmente. Assim: - por escrito; - oralmente. Lei 9.099/95, Art. 77. Na açãopenal de iniciativa pública, quando não houver aplicação de pena, pela ausência do autor do fato, ou pela não ocorrência da hipótese prevista no art. 76 desta Lei, o Ministério Público oferecerá ao Juiz, de imediato, denúncia oral, se não houver necessidade de diligências imprescindíveis MANUAL CASEIRO 74 § 1º Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com base no termo de ocorrência referido no art. 69 desta Lei, com dispensa do inquérito policial, prescindir-se-á do exame do corpo de delito quando a materialidade do crime estiver aferida por boletim médico ou prova equivalente. Obs.1: para alguns doutrinadores o exame do corpo de delito será dispensado para apresentação da peça acusatória. Já outros doutrinadores, entende que é dispensável também para apresentar a peça acusatória quanto no momento da sentença, desde que a materialidade possa ser comprovada por boletim médico (essa posição é minoritária). 9.2 Citação No âmbito do JECRIM não se admite a citação por edital, posto que é incompatível com a celeridade prevista para os processos de competência dos Juizados, em observância aos princípios orientadores da lei, quais sejam, princípio da simplicidade, celeridade processual e economia processual. Art. 66. A citação será pessoal e far-se-á no próprio Juizado, sempre que possível, ou por mandado. Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser citado, o juiz encaminhará as peças existentes ao juízo comum para adoção dos procedimentos previstos em lei. Dessa forma, temos que no âmbito dos Juizados Especiais Criminais a No âmbito dos Juizados Especiais Criminais a citação é PESSOAL, não se admitindo a citação por edital – por ser incompatível com a celeridade e economia processual, de igual modo, não é cabível a citação por carta rogatória. Admite-se, todavia, a citação por hora certa. FONAJE - ENUNCIADO 110: no Juizado Especial Criminal é cabível a citação com hora certa (XXV Encontro – São Luís/MA). 9.3 Defesa preliminar Alguns doutrinadores denominam de resposta preliminar. Inicialmente, essa defesa preliminar não se encontra presente em todos os procedimentos, funcionando como uma espécie de contraditório prévio ao juízo de admissibilidade da peça acusatória. Momento: apresentada entre o oferecimento e o recebimento da peça acusatória. O art. 81 da Lei dos Juizados confere à defesa a oportunidade de se manifestar oralmente antes de haver o recebimento da peça acusatória. Há previsão legal, portanto, de defesa preliminar oral no procedimento sumaríssimo dos Juizados. Trata-se da reação defensiva à acusação apresentada pela defesa técnica entre o oferecimento e o recebimento da peça acusatória. MANUAL CASEIRO 75 A defesa preliminar não se encontra prevista no procedimento comum ordinário. Candidato, qual a consequência da inobservância da defesa preliminar? Excelência, a sua inobservância é causa de nulidade relativa, a qual a) Depende de comprovação do prejuízo; b) arguição oportuna sob pena de preclusão. Previsão Legal: Lei 9.099/95, Art. 81. Aberta a audiência, será dada a palavra ao defensor para responder à acusação, após o que o Juiz receberá, ou não, a denúncia ou queixa; havendo recebimento, serão ouvidas a vítima e as testemunhas de acusação e defesa, interrogando-se a seguir o acusado, se presente, passando-se imediatamente aos debates orais e à prolação da sentença. § 1º Todas as provas serão produzidas na audiência de instrução e julgamento, podendo o Juiz limitar ou excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias. § 2º De todo o ocorrido na audiência será lavrado termo, assinado pelo Juiz e pelas partes, contendo breve resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência e a sentença. § 3º A sentença, dispensado o relatório, mencionará os elementos de convicção do Juiz. 9.4 (Des)necessidade de Resposta à acusação É apresentada depois do recebimento da peça acusatória. Segundo Renato Brasileiro, a resposta à acusação é o nome que se dá a uma peça apresentada pela defesa (CPP, 396-A). O seu momento de apresentação ocorre depois do recebimento da peça acusatória. Momento: depois do recebimento da peça acusatória. CPP, Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008). A defesa deve concentrar todas suas teses de argumentativas na defesa preliminar. Nesse sentido, preleciona Renato Brasileiro Lima (Legislação Criminal Especial Comentada, 2017), “o art. 81 da Lei dos Juizados confere à defesa a oportunidade de se manifestar oralmente antes de haver o recebimento da peça acusatória. Há previsão legal, portanto, da defesa preliminar oral no procedimento sumaríssimo dos Juizados”. Obs.1: NÃO há necessidade de apresentar resposta à acusação no âmbito dos Juizados Especiais, pois todas as teses defensivas devem ser concentradas na defesa preliminar. MANUAL CASEIRO 76 9.5 Possibilidade de absolvição sumária Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008). I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato; (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). IV - extinta a punibilidade do agente. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). Art. 394 (...) §4º. As disposições dos arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos os procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não regulados neste Código. Candidato, a absolvição sumária é cabível no âmbito dos juizados? Excelência, o art. 397 que prevê a absolvição sumária é aplicado a todos os procedimentos penais de 1º grau mesmo que não regulado no CPP. Com isso a doutrina vem sustentando que esse instituto também é aplicável no âmbito dos juizados. Dessa forma, concluímos ser possível a absolvição sumária ainda que no âmbito dos Juizados Especiais. 10. Sistema Recursal no âmbito dos Juizados Especiais 10.1 Turma Recursal A Turma recursal é formada por três juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição. Art. 98 da CF, A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: I - Juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumariíssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau; Nessa turma recursal é vedada a participação do magistrado que prolatou a decisão. A turma recursal funciona como juízo ad quem exclusivamente dos Juizados Especiais Criminais. 10.2 Apelação nos Juizados MANUAL CASEIRO 77 10.2.1 Cabimento da Apelação no âmbito dos Juizados Especiais Criminais 1ª Da sentença de homologação da transação penal; (art. 76, §5º). 2ª Da rejeição da peça acusatória; 3ª Da sentença condenatória ou absolutória; 10.2.2 Prazo Na Lei dos Juizados Especiais Criminais o prazoé de 10 dias, diferente do CPP que o prazo é de 5 dias. No âmbito do Juizado No âmbito do CPP 10 dias 5 dias 10.2.3 Apresentação em “separado” Deve em petição única conjugar a interposição do recurso com as razões recursais. Assim, temos que nos juizados a petição de interposição já deve estar acompanhada das razões recursais. 10.2.4 Previsão Legal Art. 82 da Lei 9.099/95 - Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da sentença caberá apelação, que poderá ser julgada por turma composta de três juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado. §1º A apelação será interposta no prazo de 10 dias, contados da ciência da sentença pelo Ministério Público, pelo réu e seu defensor, por petição escrita, da qual constarão as razões e o pedido do recorrente. 10.2.5 Esquematizando Apelação no JECRIM Apelação no CPP Prazo: 10 dias Prazo: 05 dias A petição de interposição já deve estar acompanhada das razões recursais. A petição de interposição é apresentada no prazo de 5 dias e as razões recursais são apresentadas em 08 dias. 10.3 Embargos de Declaração Art. 83. Caberão embargos de declaração quando, em sentença ou acórdão, houver obscuridade, contradição, omissão ou dúvida. 1º Os embargos de declaração serão opostos por escrito ou oralmente, no prazo de cinco dias, contados da ciência da decisão. MANUAL CASEIRO 78 ATENÇÃO! No CPP o prazo é de 2 dias. § 2º Os embargos de declaração interrompem o prazo para a interposição de recurso. (Redação dada pelo Novo CPC). Obs.1: O Art. 1.066 do Novo Código de Processo Civil altera o caput do art. 83, da Lei dos Juizados de modo que passará os embargos a INTERROMPER o prazo para recurso, e não mais suspender. § 3º Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício. 10.4 Recurso Extraordinário e Especial Recurso extraordinário Recurso especial É cabível contra decisões das turmas recursais. NÃO é cabível. Cabe a interposição de recurso extraordinário, mas não cabe recurso especial. CF, art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição Federal, cabendo-lhe: (...) III – julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida: (...) A Constituição Federal, ao tratar do recurso extraordinário, não exige que esta decisão tenha sido proferida por um Tribunal de Justiça ou por um Tribunal Regional Federal. Diante disse, o Recurso Extraordinário é cabível contra decisões das turmas recursais, desde que preenchidos todos os requisitos (prequestionamento, repercussão geral, etc.). Corroborando ainda, a Súmula 640. Vejamos: Súmula 640: É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro grau nas causas de alçada, ou por turma recursal de juizado especial cível e criminal. CF, art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: (...) III – julgar, em recurso especial, as causas decididas em única ou última instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: Por outro lado, não se admite Recurso Especial contra decisões proferidas pelas turmas recursais, porquanto não podem ser tratados como Tribunais. Súmula 203 do STJ: não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de segundo grau dos juizados especiais. MANUAL CASEIRO 79 10.5 Habeas Corpus É cabível desde que haja risco de liberdade de locomoção. Assim, se não houver risco não se admite o HC. Súmula 693 do STF: não cabe "habeas corpus" contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada. Cumpre recordarmos o teor do art. 51 do CP, que prevê que a pena de multa não paga será considerada dívida de valor, é dizer, não poderá ser convertida em prisão. Nos feitos regidos pela Lei n° 9.099/95, a competência para o processo e julgamento de habeas corpus contra decisão singular de Juiz do Juizado Especial Criminal é da turma recursal e não do Tribunal de Justiça. Antes o Supremo era o competente para apreciar esse habeas corpus. Súmula n. 690 do STF: “Compete originariamente ao Supremo Tribunal Federal o julgamento de habeas corpus contra decisão de turma recursal de juizados especiais criminais”. Em 2006 o Supremo alterou seu entendimento acerca do assunto. Vejamos o entendimento atual: COMPETÊNCIA - HABEAS CORPUS - DEFINIÇÃO. A competência para o julgamento do habeas corpus é definida pelos envolvidos - paciente e impetrante. COMPETÊNCIA - HABEAS CORPUS - ATO DE TURMA RECURSAL. COMPETÊNCIA - HABEAS CORPUS - LIMINAR. Uma vez ocorrida a declinação da competência, cumpre preservar o quadro decisório decorrente do deferimento de medida acauteladora, ficando a manutenção, ou não, a critério do órgão competente. (HC 86834, Relator (a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 23/08/2006, DJ 09-03-2007 PP-00026 EMENT VOL-02267-02 PP-00242 RJSP v. 55, n.354, 2007, p. 175-184 LEXSTF v. 29, n. 341, 2007, p. 350-365). Dessa forma, atualmente a resposta mais coerente é a de quem apreciará o habeas corpus é o TJ ou TRF, a depender da espécie da Turma Recursal. MANUAL CASEIRO 80 10.6 Mandado de Segurança Candidato, quem apreciará o MS contra o Juiz? Excelência, é a Turma Recursal. Sendo a Turma Recursal a parte coatora quem apreciará o MS é a própria Turma Recursal. A maioria entende que nesse caso aplica-se o mesmo raciocínio contido no art. 21, VI, da LC 35/79. Súmula 376 do STJ: Compete à turma recursal processar e julgar o mandado de segurança contra ato de juizado especial. 10.7 Revisão Criminal No âmbito civil, não cabe ação rescisória. Nesse sentido, o art. 59. Art. 59 da Lei 9.099/95 - Não se admitirá ação rescisória nas causas sujeitas ao procedimento instituído por esta Lei. Nesse sentido, Renato Brasileiro (Legislação Criminal Especial Comentada, 2017) “apesar da ausência de expressa previsão legal, mostra-se cabível a revisão criminal no âmbito dos Juizados Especiais, decorrência lógica da garantia constitucional da ampla defesa, notadamente quando a legislação ordinária vedou apenas a ação rescisória, de natureza processual cível (Lei n° 9.099/95, art. 59)”. STJ: 1. Apesar da ausência de expressa previsão legal, mostra-se cabível a revisão criminal no âmbito dos Juizados Especiais, decorrência lógica da garantia constitucional da ampla defesa, notadamente quando a legislação ordinária vedou apenas a ação rescisória, de natureza processual cível. 2. É manifesta a incompetência do Tribunal de Justiça para tomar conhecimento de revisão criminal ajuizada contra decisum oriundo dos Juizados Especiais. 3. A falta de previsão legal específica para o processamento da ação revisional perante o Colegiado Recursal não impede seu ajuizamento, cabendo à espécie a utilização subsidiária dos ditames previstos no Código de Processo Penal. 4. Caso a composição da Turma Recursal impossibilite a perfeita obediência aos dispositivos legais atinentes à espécie, mostra-se viável, em tese, a convocação dos magistrados suplentes para tomar parte no julgamento, solucionando-se a controvérsia e, principalmente, resguardando-se o direito do agente de ver julgada sua ação revisional. 5. Competência da Turma Recursal. (CC 47.718/RS, Rel. Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG), TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 13/08/2008, DJe 26/08/2008). 10.8Conflito de competência entre Juizados Especiais Criminais e Juízo Comum É um procedimento de natureza incidental que visa dirimir a competência entre dois ou mais juízos. a) Juiz do Jecrim estadual em conflito com um Juiz de uma vara criminal estadual MANUAL CASEIRO 81 Em m primeiro momento prevaleceu a ideia de que esse conflito deveria ser dirimido pelo STJ. Existia até uma súmula a respeito disso, hoje já cancelada. Súmula 348 do STJ: Compete ao Superior Tribunal de Justiça decidir os conflitos de competência entre juizado especial federal e juízo federal, ainda que da mesma seção judiciária. (CANCELADA) O STJ elaborou outra Súmula, a de número 428, dizendo que compete o TRF (ou TJ) decidir os conflitos. Súmula 428 do STJ: Compete ao Tribunal Regional Federal decidir os conflitos de competência entre juizado especial federal e juízo federal da mesma seção judiciária. 11. Suspensão condicional do Processo 11.1 Previsão Legal Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal). § 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado a período de prova, sob as seguintes condições: I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo; II - proibição de frequentar determinados lugares; III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz; IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar e justificar suas atividades. § 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado. § 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano. § 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta. § 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade. § 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo. § 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo prosseguirá em seus ulteriores termos. MANUAL CASEIRO 82 11.2 Requisitos 11.2.1 Crime (ou contravenção penais) com pena mínima igual ou inferior a 1 ano; Obs.1: A lei apenas fala em crime, mas o entendimento hoje é que a suspensão condicional do processo também é cabível quando se trata de contravenção penal, haja vista que contravenção penal é ainda menos grave que o crime. O que é considerado é a pena MÍNIMA, ainda que não sujeitos aos juizados, não é um benefício exclusivo do Juizado Especial Criminal. Obs.2: atenção para os crimes com pena de multa cominada de maneira alternativa. Ex.: Lei 8.137/90, Art. 7° Constitui crime contra as relações de consumo: (...) Pena - detenção, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, ou multa. O STF e o STJ entendem que se a pena de multa vier cominada de maneira alternativa será cabível a suspensão condicional do processo ainda que a pena mínima privativa de liberdade seja superior a 1 ano. EMENTA: AÇÃO PENAL. Crime contra relações de consumo. Pena. Previsão alternativa de multa. Suspensão condicional do processo. Admissibilidade. Recusa de proposta pelo Ministério Público. Constrangimento ilegal caracterizado. HC concedido para que o MP examine os demais requisitos da medida. Interpretação do art. 89 da Lei nº 9.099/95. Quando para o crime seja prevista, alternativamente, pena de multa, que é menos gravosa do que qualquer pena privativa de liberdade ou restritiva de direito, tem-se por satisfeito um dos requisitos legais para a suspensão condicional do processo. (HC 83926, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Segunda Turma, julgado em 07/08/2007, DJe-101 DIVULG 13-09-2007 PUBLIC 14-09-2007 DJ 14-09-2007 PP- 00085 EMENT VOL-02289-02 PP-00307 RTJ VOL-00204-02 PP-00737 RT v. 97, n. 867, 2008, p. 525-528 REVJMG v. 58, n. 181, 2007, p. 553-556). Obs.3: Concurso de crimes Súmula 723 do STF: não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado, se a soma da pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a um ano. Súmula 243 do STJ: O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, MANUAL CASEIRO 83 quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano. 11.2.2 Não estar sendo processado ou não ter sido condenado por outro crime 11.2.3 Presença dos demais requisitos que autorizam a suspensão CP. Art. 77 - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - o condenado não seja reincidente em crime doloso; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) III - Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) 11.3 Momento para o Oferecimento Súmula 696 do STF: reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo, mas se recusando o promotor de justiça a propô-la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao procurador- geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do código de processo penal. 11.4 Condições da Suspensão Condicional do Processo A lei trata de algumas condições que são obrigatórias e outras que são facultativas. A Jurisprudência vem entendendo que é possível impor penas restritivas de direito no lugar de “outras condições”. Nesse sentido, vejamos a decisão do STJ. RECURSO ESPECIAL. PROCESSAMENTO SOB O RITO DO ART. 543-C DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. RECURSO REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. AMEAÇA. LESÃO CORPORAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. DESCUMPRIMENTO DAS CONDIÇÕES IMPOSTAS DURANTE O PERÍODO DE PROVA. FATO OCORRIDO DURANTE SUA VIGÊNCIA. REVOGAÇÃO DO BENEFÍCIO MESMO QUE ULTRAPASSADO O PRAZO LEGAL. ESTABELECIMENTO DE CONDIÇÕES JUDICIAIS EQUIVALENTES A SANÇÕES PENAIS. POSSIBILIDADE. RECURSO PROVIDO. 1. Recurso especial processado sob o regime previsto no art. 543-C, § 2º, do CPC, c/c o art. 3º do CPP, e na Resolução n. 8/2008 do STJ. PRIMEIRA TESE: Se descumpridas as condições impostas durante o período de prova da suspensão condicional do processo, o benefício poderá ser revogado, mesmo se já ultrapassado o prazo legal, desde que referente a fato ocorrido durante sua vigência. MANUAL CASEIRO 84 SEGUNDA TESE: Não há óbice a que se estabeleçam, no prudente uso da faculdade judicial disposta no art. 89, § 2º, da Lei n. 9.099/1995, obrigações equivalentes, do ponto de vista prático, a sanções penais (tais como a prestação de serviços comunitários ou a prestação pecuniária), mas que,para os fins do sursis processual, se apresentam tão somente como condições para sua incidência. 2. Da exegese do § 4º do art. 89 da Lei n. 9.099/1995 ("a suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta), constata-se ser viável a revogação da suspensão condicional do processo ante o descumprimento, durante o período de prova, de condição imposta, mesmo após o fim do prazo legal. 3. A jurisprudência de ambas as Turmas do STJ e do STF é firme em assinalar que o § 2º do art. 89 da Lei n. 9.099/1995 não veda a imposição de outras condições, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado. 4. Recurso especial representativo de controvérsia provido para, reconhecendo a violação do art. 89, §§ 1º, 2º, 4º e 5º da Lei n. 9.099/1995, afastar a decisão de extinção da punibilidade do recorrido, com o prosseguimento da Ação Penal n. 0037452- 56.2008.8.21.0017. (REsp 1498034/RS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 25/11/2015, DJe 02/12/2015). 11.5 Revogação da Suspensão Art. 89. § 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano. § 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta. 11.5.1 Revogação obrigatória 11.5.2 Revogação facultativa Revogação obrigatória Revogação facultativa Se o acusado vier a ser processado por outro CRIME. Se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por CONTRAVENÇÃO. Se o acusado não efetuar a REPARAÇÃO DO DANO, salvo impossibilidade de fazê-lo. Se o acusado descumprir qualquer OUTRA CONDIÇÃO IMPOSTA. 11.6 Extinção da Punibilidade A suspensão é concedida de 2 a 4 anos. Mas o decurso prazo extingue a punibilidade? Os tribunais entendem que, ainda que expirado o período de prova, caso seja descoberto que não cumpriu as condições durante esse período o benefício poderá ser revogado. MANUAL CASEIRO 85 STJ: (...) Se descumpridas as condições impostas durante o período de prova da suspensão condicional do processo, o benefício poderá ser revogado, mesmo se já ultrapassado o prazo legal, desde que referente a fato ocorrido durante sua vigência (STJ, 3ª Seção, Resp 1.498.034). 11.7 Suspensão Condicional do Processo em Crimes Ambientais Lei 9.605/98, Art. 28. As disposições do art. 89 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, aplicam-se aos crimes de menor potencial ofensivo definidos nesta Lei, com as seguintes modificações: I - a declaração de extinção de punibilidade, de que trata o § 5° do artigo referido no caput, dependerá de laudo de constatação de reparação do dano ambiental, ressalvada a impossibilidade prevista no inciso I do § 1° do mesmo artigo; II - na hipótese de o laudo de constatação comprovar não ter sido completa a reparação, o prazo de suspensão do processo será prorrogado, até o período máximo previsto no artigo referido no caput, acrescido de mais um ano, com suspensão do prazo da prescrição; III - no período de prorrogação, não se aplicarão as condições dos incisos II, III e IV do § 1° do artigo mencionado no caput; IV - findo o prazo de prorrogação, proceder-se-á à lavratura de novo laudo de constatação de reparação do dano ambiental, podendo, conforme seu resultado, ser novamente prorrogado o período de suspensão, até o máximo previsto no inciso II deste artigo, observado o disposto no inciso III; V - esgotado o prazo máximo de prorrogação, a declaração de extinção de punibilidade dependerá de laudo de constatação que comprove ter o acusado tomado as providências necessárias à reparação integral do dano. Dos Informativos: Juizados Especiais Criminais Em caso de transação penal, não se aplicam os efeitos do art. 91 do CP As consequências jurídicas extrapenais previstas no art. 91 do Código Penal são decorrentes de sentença condenatória. Tal não ocorre, portanto, quando há transação penal, cuja sentença tem natureza meramente homologatória, sem qualquer juízo sobre a responsabilidade criminal do aceitante. As consequências geradas pela transação penal são essencialmente aquelas estipuladas por modo consensual no respectivo instrumento de acordo. STF. Plenário. RE 795567/PR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 28/5/2015 (Info 787). Homologação da transação penal não faz coisa julgada material Súmula vinculante 35-STF: A homologação da transação penal prevista no artigo 76 da Lei 9.099/1995 não faz coisa julgada material e, descumpridas suas cláusulas, retoma-se a situação anterior, possibilitando-se ao Ministério Público a continuidade da persecução penal mediante oferecimento de denúncia ou requisição de inquérito policial. STF. Plenário. Aprovada em 16/10/2014. MANUAL CASEIRO 86 LEI DE DROGAS Lei nº 11.343/2006 1. Introdução Atualmente, encontra-se vigente no Ordenamento Jurídico Brasileiro regulamentando o tráfico de drogas, bem como, o tratamento para o usuário, a Lei n.º 11.343/2006. Ano passado, a referida legislação completou dez anos de vigência da “nova” Lei de Drogas (o que pode ocasionar uma incidência ainda maior de cobrança da lei objeto em estudo nos certames). A Lei é do final de 2006, e revogou expressamente a lei de drogas antiga (Lei n. 6.368/1976 e 10.409/2002). Para tratar do tema de Drogas, antes da edição da Lei nº 11.343 de 2006, tínhamos duas legislações distintas, uma que tratava do regramento quanto aos crimes (tipificação das condutas) e outra sobre o procedimento (lei penal e lei procedimental), hoje toda a matéria envolvendo drogas, seja a parte penal ou a parte investigatória e procedimental estão na Lei nº 11.343/2006. A legislação que trata sobre o regramento das drogas é a Lei nº 11.343/2006. Atualmente, todo tratamento da matéria encontra-se prevista na Lei nº 11.343/2006 que revogou expressamente as Leis nº 6.368/76 e 10.409/2002. 1.1 Aspectos da “Nova” Lei de Drogas - Criação do SISNAD – Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas. - Substituição da expressão substâncias entorpecentes por drogas. - Tratamento mais rigoroso ao traficante e mais “benéfico” ao usuário: A nova lei dá um tratamento mais rigoroso ao traficante e um tratamento mais brando ao usuário, isto porque a Lei de drogas antiga permitia a prisão do usuário, a pena tinha até 03 anos. Em sentido oposto, com a atual lei de drogas, o usuário não pode mais ser preso. A descarcerização do usuário é um grande benefício trazido pela nova Lei (Art. 28, Lei nº 11.343/2006). Não há para o usuário pena privativa de liberdade! E quais são as penas aplicadas ao usuário? Nos termos do art. 28, temos as seguintes: Penas para o Usuário (Art. 28, Lei nº 11.343/2006) I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. MANUAL CASEIRO 87 Em caso de descumprimento, o juiz aplicará medidas sancionatórias, e quais são elas? Admoestação verbal e multa. Destaca-se ainda que, não cabe a prisão cautelar para o usuário, isso porque não permite sequer de modo definitivo ao término da demanda processual. Não cabe Prisão em Flagrante (2ª fase do flagrante). Por outro lado, para o traficante, todavia, o tratamento foi recrudescido - a pena mínima, por exemplo, foi aumentada. O tratamentodado ao traficante na nova Lei de Drogas era tão rigoroso que o Supremo Tribunal Federal reconheceu a inconstitucionalidade de algumas afirmações, as quais tinham por base a vedação em abstrato de determinados benefícios. Corroborando ao exposto, preleciona Renato Brasileiro (Legislação Penal Especial Comentada, 2015) “o art. 1 ° da Lei n° 11.343/06 deixa claro que o principal objetivo da Lei de Drogas é conferir tratamento jurídico diverso ao usuário e ao traficante de drogas. Sob a premissa de que a pena privativa de liberdade em nada contribui para o problema social do uso indevido de drogas, o qual deve ser encarado como um problema de saúde pública - e não “de polícia" -, a Lei n° 11.343/06 inovou em relação à legislação pretérita, abolindo a possibilidade de aplicação de tal espécie de pena ao crime de porte de drogas para consumo pessoal. (...) Em outra vertente, a repressão à produção não autorizada e ao tráfico de drogas é objeto de um Título autônomo (Título IV), no qual a Lei de Drogas não apenas tipifica os crimes relativos ao tráfico, como também estabelece um procedimento especial e dispõe sobre a apreensão, arrecadação e destinação de bens do acusado”. 2. Objetividade Jurídica O bem jurídico protegido pela lei penal nos crimes da lei de drogas é a saúde pública. Os crimes da lei de drogas são crimes contra a saúde pública. 3. Objeto Material O objeto material do crime é a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta criminosa. Nesse sentido, o objeto material nos crimes da lei de drogas é a droga. Nessa perspectiva, proclama o art. 1º, parágrafo único da Lei nº 11.343/2006. Art. 1º. Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União. Droga: - Substância ou produto capaz de causar uma dependência física ou psíquica; MANUAL CASEIRO 88 - é preciso ainda que essa substância esteja prevista como droga, seja em um Lei ou Ato Normativo. E qual a definição de Drogas? Trata-se de uma normal penal em branco. Trata-se de uma lei penal incriminadora cujo preceito primário é incompleto, ou seja, a definição do crime precisa de um complemento. As definições dos crimes constituem uma norma penal em branco. - Norma penal em branco é uma norma penal incriminadora cujo preceito primário é incompleto. - Norma penal incriminadora é aquela que tem dois preceitos: preceito primário (define a conduta criminosa) e preceito secundário (comina a respectiva sanção penal). A norma penal em branco é aquela em que o preceito primário é incompleto – a definição da conduta criminosa é incompleta. Binding dizia que “a norma penal em branco são corpos errantes em busca de uma alma”. É preciso complementar a definição da conduta para poder identificar o que é a conduta criminosa. Candidato, os crimes da Lei de Drogas estão previstos em qual espécie de norma penal em branco? Excelência, os crimes da Lei de Drogas conforme se pode extrair da redação do parágrafo único do art. 1º da Lei nº 11.343/2006, tanto podem vim a serem complementados por uma Lei (e nesse caso, seria classificado nessa hipótese como uma norma penal em branco homogênea) como também por Ato Administrativo (e nesse caso a norma penal em branco é heterogênea), inobstante essa dupla possibilidade, atualmente em nosso ordenamento jurídico os crimes previstos na lei de drogas estão contidos em norma penal em branco heterogênea pois a norma que complementa a legislação vem descrita em ato administrativo da União. Assim, contemplamos que quem define conduta criminosa é a Lei, mas o complemento é dado pela Portaria da Anvisa (vai definir qual substancia é droga) – a ANVISA é uma agência do Poder Executivo da União. Dessa forma, por ser a fonte de complemento uma portaria, fala-se que a é uma norma penal em branco heterogênea, isto porque o complemento estiver definido em ato infralegal. Na Lei de Drogas, a norma penal em branco é heterogênea, isto porque o complemento é dado por ato infralegal – Portaria da ANVISA. Esquematizando: Normal Penal em Branco Heterogênea Homogênea Quando o complemento estiver definido em ato infralegal. Quando o complemento estiver definido em lei. (Divide-se em homóloga – mesma lei - ou heteróloga – lei distinta). Obs.1: Os crimes da lei de drogas exigem o exame químico-toxicológico para comprovar a materialidade do crime. MANUAL CASEIRO 89 4. Sujeito Ativo Em regra geral, os crimes da lei de drogas são crimes comuns ou gerais, que significa que podem ser praticados por quaisquer pessoas, não exigem qualidade especial do agente. Contudo, temos uma exceção prevista ao teor do art. 38 da Lei nº 11.343/2006, que é classificado como crime próprio ou especial (exige qualidade especial do agente). Prescrição ou Ministração Culposa de Drogas Art. 38. Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas necessite o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 50 (cinqüenta) a 200 (duzentos) dias-multa. Parágrafo único. O juiz comunicará a condenação ao Conselho Federal da categoria profissional a que pertença o agente. No tocante ao verbo do tipo “prescrever”, entendimento já consolidado afirma ser crime próprio, pois se exige a qualidade especial do agente de “médico, dentista, farmacêutico ou profissional de enfermagem”. Apenas profissional da saúde é quem pode prescrever. 5. Sujeito Passivo O sujeito passivo é a coletividade. Os crimes da lei de drogas são classificados como crimes vagos. Entende- se por crime vago aquele que tem como sujeito passivo um ente destituído de personalidade jurídica. 6. Elemento subjetivo Os crimes da lei de drogas são crimes dolosos, sendo essa a regra. Contudo, o art. 38 prevê uma modalidade culposa. Assim, temos: Regra geral: são crimes dolosos. Exceção: crime culposo (art. 38, da Lei nº 11.343/2006). Prescrição ou Ministração Culposa de Drogas Art. 38. Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas necessite o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 50 (cinqüenta) a 200 (duzentos) dias-multa. Parágrafo único. O juiz comunicará a condenação ao Conselho Federal da categoria profissional a que pertença o agente. 7. Crimes de perigo abstrato Os crimes da lei de drogas são crimes de perigo abstrato. A prática da conduta prevista em lei acarreta na presunção absoluta de perigo ao bem jurídico, não cabendo prova em contrário. ] MANUAL CASEIRO 90 Exceção: Entretanto, no crime do art. 39 da Lei de Drogas, há um crime de perigo concreto: não basta conduzir a embarcação sob o efeito da droga, é necessário que haja efetivamente a exposição da incolumidade de outrem a um perigo concreto, real, efetivo. Corroborando ao exposto, preleciona Renato Brasileiro (Legislação Criminal Comentada, 2017) “Na redação do art. 39 da Lei de Drogas, o legislador faz menção à condução de embarcação ou aeronave após o consumo de drogas, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem. Como se pode notar, a situação de perigo presumida pelo legislador está inserida no próprio tipo penal. Logo, trata-se de crime de perigo concreto, sendo inviável a punição do agente pela prática deste crime sem que a acusação comprove que aincolumidade pública foi efetivamente colocada em situação de risco”. 8. Ação penal Em todos os crimes da lei de drogas a ação penal é pública incondicionada. 9. Princípio da insignificância Candidato, é possível aplicar o princípio da insignificância nos crimes previstos na lei de drogas? Excelência, no crime de tráfico de drogas a incidência do princípio da insignificância é incompatível com a natureza hediondez do referido delito (crime de máximo potencial ofensivo), afastando a possibilidade de aplicação do princípio. Por outro lado, no tocante ao crime de porte de drogas para consumo pessoal (art. 28), os Tribunais já têm se manifestado pela impossibilidade de aplicação do princípio. Contudo, o STF tem precedente isolado admitindo. Vejamos INFORMATIVO 541, STJ. LEI DE DROGAS: Não se aplica o princípio da insignificância para a posse/porte de droga. Não se aplica o princípio da insignificância para o crime de posse/porte de droga para consumo pessoal (art. 28 da Lei nº 11.343/2006). Para a jurisprudência, não é possível afastar a tipicidade material do porte de substância entorpecente para consumo próprio com base no princípio da insignificância, ainda que ínfima a quantidade de droga apreendida. STJ. 6ª Turma. RHC 35.920-DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 20/5/2014 (Info 541). Atenção! Porte de Droga para Consumo Pessoal x Princípio da Insignificância! Se a pessoa for encontrada com alguns poucos gramas de droga para consumo próprio, é possível aplicar o princípio da insignificância? STJ: não é possível aplicar o princípio da insignificância MANUAL CASEIRO 91 A jurisprudência de ambas as turmas do STJ firmou entendimento de que o crime de posse de drogas para consumo pessoal (art. 28 da Lei n° 11-343/06) é de perigo presumido ou abstrato e a pequena quantidade de droga faz parte da própria essência do delito em questão, não lhe sendo aplicável o princípio da insignificância (STJ. 6• Turma. RHC 35-920-DF, Rei. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 2o/5f2014.lnfo 541) . STF: possui um precedente isolado, da 1ª Turma, aplicando o princípio: HC 110475, Rei. Min. Dias Toffoli,julgado em 14/02/2012. Obs.: se esse tema for cobrado em prova, você deverá responder que NÃO é possível a aplicação do princípio, uma vez que o referido precedente da 1ª Turma do STF não formou jurisprudência. Assim: STF STJ Em regra, não admite. Admitiu de forma excepcional. Não admite. STF: “Ao aplicar o princípio da insignificância, a 1ª Turma concedeu habeas corpus para trancar procedimento penal instaurado contra o réu e invalidar todos os atos processuais, desde a denúncia até a condenação, por ausência de tipicidade material da conduta imputada. No caso, o paciente fora condenado, com fulcro no art. 28, caput, da Lei 11.343/2006, à pena de 3 meses e 15 dias de prestação de serviços à comunidade por portar 0,6 g de maconha” (HC 110.475/SC, rel. Min. Dias Toffoli, 1ª Turma, j. 14.02.2012, noticiado no Informativo 655). STJ: “Não é possível afastar a tipicidade material do porte de substância entorpecente para consumo próprio com base no princípio da insignificância, ainda que ínfima a quantidade de droga apreendida” (RHC 35.920/DF, rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, 6ª Turma, j. 20.05.2014, noticiado no Informativo 541). 10. Porte e cultivo para consumo pessoal (art. 28 da Lei nº 11.343/2006) Parte criminal da Lei de Drogas inicia-se no artigo 28 (Dos Crimes e Das Penas). Os artigos anteriores tratam de Política Criminal – não é matéria penal em sentido estrito. Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I – advertência sobre os efeitos das drogas; II – prestação de serviços à comunidade; III – medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. 10.1 Sujeitos do Crime; Objeto Jurídico; Núcleo do tipo e Tentativa a) Sujeitos MANUAL CASEIRO 92 a.1) Sujeito Ativo: qualquer pessoa. Trata-se de crime comum (aquele que pode ser praticado por qualquer pessoa, não exige qualidade especial do agente). Obs.: No tráfico (art. 33), na modalidade prescrever e ministrar, o delito é classificado como crime próprio (porque exige qualidade especial do agente). a.2) Sujeito Passivo Direto (imediato|evetual): é o titular do bem jurídico, é a coletividade. Indireto (mediato| constante) é o Estado. É denominado de constante porque nunca muda. Nesse sentido, preleciona Renato Brasileiro (Legislação Penal Especial Comentada, 2015) “o crime de porte de drogas para consumo pessoal pode ser praticado por qualquer pessoa. Como se trata de crime de perigo abstrato contra a saúde pública, o sujeito passivo é a coletividade. Este crime é punido em virtude da potencialidade lesiva que pode causar a toda a sociedade, e não em função da proteção à saúde do próprio usuário, porquanto não se pode admitir a punição da autolesão em um ordenamento jurídico que consagra o princípio da ofensividade”. b) Objeto b.1) Objeto Jurídico: é o bem jurídico que se pretende tutelar, in casu, é o bem jurídico saúde pública. Trata-se de crime contra a saúde pública. b.2) Objeto Material: pessoa ou coisa sobre qual a pessoa ou coisa. No delito do art. 28, da Lei 11.343, o objeto material é a droga. c) Núcleos do Tipo (Condutas Tipicas) Trata-se de tipo penal misto alternativo, contemplando cinco verbos, se consumando com a realização de qualquer dos verbos. Adquirir; Guardar; Trazer Consigo; Ter em depósito; Transportar. Tentativa É possível pensar em tentativa em relação a esses crimes? É muito difícil falar em tentativa nesses casos; em tese, é possível falar, mas é difícil pensar em uma situação prática de tentativa. A doutrina MANUAL CASEIRO 93 ressalta que é possível tentar adquirir a droga. A dificuldade da tentativa decorre do fato de que mesmo que praticado na forma tentada, é provável que já seja consumada em um dos outros verbos do tipo. 10.2 A fuga da pena privativa de liberdade A atual lei de drogas, o usuário não pode mais ser preso. A descarcerização do usuário é um grande benefício trazido pela nova Lei (Art. 28, Lei nº 11.343/2006). 17. Não há para o usuário pena privativa de liberdade! E quais são as penas aplicadas ao usuário? Nos termos do art. 28, temos as seguintes: Penas para o Usuário (Art. 28, Lei nº 11.343/2006) I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. Em caso de descumprimento, o juiz aplicará medidas sancionatórias, e quais são elas? Admoestação verbal e multa. Destaca-se ainda que, não cabe a prisão cautelar para o usuário, isso porque não permite sequer de modo definitivo ao término da demanda processual. - Não cabe Prisão em Flagrante (2ª fase do flagrante). Por outro lado, para o traficante, todavia, o tratamento foi recrudescido - a pena mínima, por exemplo, foi aumentada. O tratamento dado ao traficante na nova Lei de Drogas era tão rigoroso que o Supremo Tribunal Federal reconheceu a inconstitucionalidade de algumas afirmações, as quais tinham por base a vedação em abstrato de determinados benefícios. 10.3 Consumo pessoal versus uso próprio A legislação atual fala consumo pessoal, na antiga legislação tratava de uso próprio. Expressão: “para consumo pessoal” – é o que chamamos de elementosubjetivo específico – dolo específico. Dolo específico: é uma especial finalidade no agir, é o agir com uma finalidade específica. Alguns crimes apresentam o dolo específico, outros não. O furto, por exemplo, é subtrair para si ou para outrem coisa alheira móvel – ou seja, há o dolo específico de subtrair para si ou para outra pessoa. Por conta disto, o furto de uso não é crime, pois não há o elemento subjetivo específico. MANUAL CASEIRO 94 O art. 28 da Lei de Drogas apresenta um dolo específico – é o que vai caracterizar a conduta do usuário – adquirir, transportar, trazer para consumo pessoal. O crime não é o consumo da droga propriamente dito, mas não há como consumir a droga sem praticar algum desses verbos. É necessário, sempre, que seja para consumo pessoal. 10.4 Princípio da Alteridade O princípio da alteridade foi idealizado em 1970 por Claus Roxin. Pelo princípio da alteridade não há crime na conduta que prejudica somente quem a praticou, o crime deve ultrapassar a esfera pessoal do agente. O crime da lei de drogas tutela a saúde pública, e não especialmente a do usuário de drogas, por essa razão não é possível afastar a tipicidade da conduta com base no princípio da alteridade. 10.5 Natureza Jurídica do art. 28 da Lei nº 11.343/2006 1ª Posição: Luiz Flávio Gomes – Infração Penal Sui Generis Luiz Flávio Gomes: argumenta no sentido da Descriminalização – defende que se o crime não prevê a pena privativa de liberdade, nem as outras espécies elencadas na Lei de Introdução ao Código Penal, teria então ocorrido com relação a figura do art. 28 que trata do porte de drogas para consumo o fenômeno da descriminalização. Sua defesa tem por base o conceito de infração penal da Lei de Introdução ao Código Penal. Infração penal: Crime e Contravenção Penal Infração Penal Crime Contravenção Penal Pena de Reclusão ou Detenção + Multa (alternativa ou cumulativamente) Pena de Prisão simples + Multa (alternativa ou cumulativamente) OJ Brasileiro adota critério Bipartido (crime e contravenção penal). Para o usuário não se aplica a pena privativa de liberdade (pena de reclusão e detenção), e ainda, não se aplica também pena de prisão simples. E a multa, só será aplicada em caráter sancionatório por descumprimento das outras medidas. Assim, segundo Luiz Flávio Gomes não haveria crime na conduta do usuário de Drogas. MANUAL CASEIRO 95 Corroborando ao exposto, preleciona Renato Brasileiro (Legislação Penal Especial Comentada, 2015) “considerando que a Lei de Introdução ao Código Penal classifica como crime a infração penal punida com pena de reclusão ou detenção, e contravenção penal a infração apenada com prisão simples e multa (Decreto -Lei n° 3.914/41, art. 1°), teria havido descriminalização formal da conduta de porte de drogas para consumo pessoal. É nesse sentido o entendimento de Luiz Flávio Gomes. Segundo o autor, o porte de drogas para consumo pessoal não mais pode ser considerado como crime, passando a funcionar como uma infração penal sui generis de menor potencial ofensivo”. Além disso, segundo Luiz Flávio Gomes passamos de um sistema bipartido (crime e contravenção) para um sistema tripartido (crime, contravenção e infração penal sui generis). - Teoria não foi acolhida pelo Supremo. 2ª Posição: STF: É crime RE 430.105 QO/RJ Argumentos: a. A lei, ao tratar do tema, classificou a conduta como crime; b. Estabeleceu o rito processual junto ao Juizado Especial Criminal; c. No tocante à prescrição, o art. 30 determina a aplicação das regras do art. 107 do Código Penal. Art. 30. Prescrevem em 2 (dois) anos a imposição e a execução das penas, observado, no tocante à interrupção do prazo, o disposto nos arts. 107 e seguintes do Código Penal. d. A finalidade do art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal era apenas a de diferenciar, em 1942, os crimes das contravenções penais, uma vez que o CP e a LCP entraram em vigor simultaneamente, em 01 de janeiro de 1.942. e. A LICP pode ser modificada por outra lei ordinária, como aconteceu com a Lei de Drogas. f. Quanto a LICP entrou em vigor não existiam penas alternativas. Para o Supremo Tribunal Federal entendeu que houve a despenalização (deixou de ser prevista a principal penal – privativa de liberdade, as demais são alternativas). O Plenário do Supremo Tribunal Federal rejeitou a tese de abolitio criminis ou de infração penal sui generis, para afirmar a natureza de crime da conduta do usuário de drogas, muito embora despenalizado. STF: Despenalização! Em síntese: MANUAL CASEIRO 96 Luiz Flávio Gomes defende que hoje não teríamos mais o critério dicotômico de infração penal (crime e contravenção penal), mas teríamos um critério tricotômico: crime, contravenção penal e infração penal sui generis. O Supremo Tribunal Federal, entretanto, em fevereiro de 2007, afirmou que não houve a descriminalização da conduta do usuário de drogas, mas, sim, a despenalização. Fundamentou o STF que não houve a descriminalização porque o art. 28 está no rol do capítulo que trata dos crimes e das penas (não dá para presumir que houve um equívoco do legislativo); ademais a Lei de Introdução do Código Penal é uma Lei de 1940 e na década de 40 não se falava em pena alternativa à prisão; a Lei de Drogas é uma lei posterior à Lei de Introdução ao Código Penal e é uma lei de mesma hierarquia – ambas são leis ordinárias. A Lei de Drogas não é obrigada a seguir o que está na lei anterior, pois é lei de mesma hierarquia e é lei posterior. 3ª Posição: Descarcerização Em sentido oposto ao entendimento do STF, a doutrina majoritária entende que não houve a despenalização, muito embora esse seja o entendimento do Supremo Tribunal Federal. A doutrina majoritária entende que ocorreu a descarcerização ou desprisionalização, ou seja, continua a haver a pena, só não existe a pena privativa de liberdade. - Doutrina Majoritária. Despenalização e manutenção do status de Crime Despenalizar no âmbito da Lei 11.343 significa adotar processos ou medidas substitutivas ou alternativas, de natureza penal ou processual, que visam, sem rejeitar o caráter criminoso da conduta, dificultar, evitar ou restringir a aplicação da pena de prisão ou sua execução ou, pelo menos, sua redução. É exatamente isso que ocorreu com o advento da Lei n° 11.343/06, que afastou a possibilidade de aplicação de pena privativa de liberdade ao usuário de drogas. Corroborando ao exposto, preceitua Gabriel Habib “na despenalização, a conduta continua sendo um crime e a resposta estatal continua sendo uma pena. Embora seja uma pena, é uma sanção penal mais suave, sem que haja a privação da liberdade. O legislador, por meio desse instituto, mantém a intenção de aplicar ao agente uma sanção penal, porém, uma sanção mais branda”. Discussão Atual no Supremo – In(constituconalidade do art. 28, Lei nº 11.346/2006 Debate a inconstitucionalidade do Art. 28 da Lei 11.343, sob o argumento de que: viola a esfera de intimidade do indivíduo e vida privada. viola o princípio da lesiva (isto porque o uso violaria apena o próprio bem jurídico). STF entende que o bem jurídico tutelado é a saúde pública. A discussão é no sentido de que o delito do art. 28 está efetivamente tutelando a saúde pública ou ainda que indiretamente a saúde individual. MANUAL CASEIRO 97 - Os três votos proferidos até o presente foram no sentido da inconstitucionalidade do art. 28 (ou seja, não seria mais crime – descriminalização), as medidas do art. 28 não teria mais caráter penal. Sugestãode Estudo Complementar | Acesso: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=298109 (Relator vota pela descriminalização do porte de drogas para consumo próprio). http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=299484 (Suspenso julgamento sobre porte de drogas para consumo próprio| 10 de Setembro de 2015). 10.6 Figura equiparada – art. 28, §1º da Lei nº 11.343/2006 Art. 28. § 1º Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica. Condutas: Semeia Cultiva Colhe O dispositivo refere-se ao local em que o agente planta uma pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica para consumo pessoal (Exemplo: plantar um pé de maconha em um vaso na varanda do apartamento). Obs.1: A plantação deve ser com a finalidade específica de consumo pessoal; Obs.2: A pratica de alguma das condutas (tipo penal misto alternativo). Obs.3: Deve ser planta destinada a pequena quantidade. A lei expressamente tratou “pequena quantidade”. 10.7 Critérios para diferenciação com o tráfico Candidato, existe parâmetros objetivos para saber se o sujeito é traficante ou usuário? A lei estabelece um quantitativo para caracterização do traficante ou do usuário? Vejamos o §2º do art. 28: MANUAL CASEIRO 98 § 2º Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente. Percebe-se excelência que a lei não estabelece uma quantidade específica para caracterizar o tráfico. Quando a quantidade é pequena, ela não é decisiva, sendo necessário levar em conta o local, as condições em que se desenvolveu a ação, as circunstâncias sociais e pessoais, bem como a conduta e antecedentes do agente. Além disso, o professor Cleber Masson prevê que no caso de dúvida insanável o juiz deverá condenar o agente pelo crime menos grave (art. 28). 10.8 Penas Nos termos do art. 28, incisos I, II, III, as penas são: Advertência sobre os efeitos das drogas; Prestação de serviços à comunidade; Medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. As penas poderão ser aplicadas de forma cumulativa. Inovando em relação à sistemática anterior, o art. 28, inciso I, passou a prever, dentre as penas a serem aplicadas ao porte de drogas para consumo pessoal, a advertência sobre os efeitos das drogas. a) Advertência sobre os efeitos das Drogas Esta pena deve ser compreendida como uma espécie de esclarecimento a ser feito pelo magistrado ao agente quanto às consequências maléficas que o uso de drogas pode causar, não apenas a sua própria saúde, como também à saúde pública. Esta advertência deve ser feita pelo próprio magistrado. b) Prestação de Serviço a Comunidade Esta pena deve ser cumprida em programas comunitários, serviços à comunidade, preferencialmente, da prevenção do consumo ou da recuperação de usuários e dependentes de drogas (Lei n° 11.343, art. 28, §§ 3° e 5°). § 5o A prestação de serviços à comunidade será cumprida em programas comunitários, entidades educacionais ou assistenciais, hospitais, estabelecimentos congêneres, públicos MANUAL CASEIRO 99 ou privados sem fins lucrativos, que se ocupem, preferencialmente, da prevenção do consumo ou da recuperação de usuários e dependentes de drogas. Obs.1: Essa espécie de estabelecimento deve ser preferencial, o que significa dizer que não é exclusivo. Assim, é possível que seja prestado em outros locais. Obs.2: A prestação de serviço à comunidade e medida educativa possuem o prazo máximo de 5 meses (art. 28, §3º). Contudo, no caso de reincidência, o prazo máximo será de 10 meses (art. 28, §4º). Obs.3: As penas poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como substituídas a qualquer tempo, ouvidos o MP e o Defensor. Descumprimento da Medida: quais as consequências jurídicas? Candidato, qual a consequência jurídica ocorre se o sujeito descumprir as penas cominadas para o usuário? Excelência, nesse caso poderá ser imposta a admoestação verbal ou a pena de multa. A admoestação verbal e a multa não são penas, tratam-se de medidas aplicadas em caso de descumprimento das penas. Nesse sentido, o §6º prevê a sanção a ser aplicada na hipótese de descumprimento. Vejamos: Para garantia do cumprimento das medidas educativas a que se refere o caput, nos incisos I, II e III, a que injustificadamente se recuse o agente, poderá o juiz submetê-lo, sucessivamente a: I - admoestação verbal; II - multa. Nesse contexto a admoestação verbal e a multa não são penas propriamente, mas formas de se efetivar o cumprimento da pena. Multa No tocante à multa, seu valor é creditado ao Fundo Nacional Antidrogas (art. 29). Sua fixação se dá em duas fases (sistema bifásico): 1ª fase: Número de dias-multa: varia entre 40 e 100. Nessa primeira fase leva-se em conta a reprovabilidade da conduta; e 2ª fase: Valor do dia-multa: varia de 1/30 do salário mínimo até três vezes o valor do salário mínimo. Nessa segunda fase o que se leva em conta é a capacidade econômica do agente. c) Medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo MANUAL CASEIRO 100 É a medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. Cuida-se de espécie de pena restritiva de direitos por força da qual o acusado tem a obrigação de comparecer a determinados programas onde receberá orientação de profissionais de diversas áreas do conhecimento humano. A despeito do silêncio da Lei de Drogas, parece-nos que o programa não precisa ter como tema exclusivo os malefícios causados pelo uso de drogas, sob pena de se confundir com a própria pena de advertência sobre os efeitos das drogas. É perfeitamente possível que esses programas estejam relacionados a cursos de especialização profissional, cuja frequência pode contribuir para uma possível reinserção social do usuário de drogas, já que o exercício de uma atividade laborativa é importante instrumento de combate à vulnerabilidade decorrente do uso indiscriminado de drogas. Obs.1: a prestação de serviço à comunidade e medida educativa possuem o prazo máximo de 5 meses (art. 28, §3º). Contudo, no caso de reincidência, o prazo máximo será de 10 meses (art. 28, §4º). 10.9 Prescrição Dispõe o art. 30, da Lei 11.343 que prescrevem em 2 (dois) anos a imposição e a execução das penas, observado, no tocante à interrupção do prazo, o disposto nos arts. 107 e seguintes do Código Penal. Para o delito do art. 28, da Lei nº 11.343/2006 a prescrição é de 2 anos. Esse prazo é aplicável tanto à prescrição da pretensão punitiva como também à prescrição da pretensão executória. *Esse dispositivo foi objeto de cobrança na prova de Delegado do Estado do Pará. 10.10 Rito Processual O processo e julgamento do crime do art. 28 segue o procedimento sumaríssimo. É crime de competência do Juizado Especial Criminal. Assim, temos que o art. 28 da Lei de Drogas é infração de menor potencial ofensivo. Seu processo e julgamento seguem o rito sumaríssimo (arts. 60 e seguintes da Lei 9.099/1995). 11. Tráfico de Drogas (art. 33 da Lei nº 11.343/2006) Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor àvenda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: MANUAL CASEIRO 101 Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. Na lei de drogas o nome do crime é dado pela doutrina, não existe na legislação propriamente do crime de “tráfico de drogas”. Prevalece que a terminologia “tráfico de drogas” engloba os crimes previstos no art. 33, “caput”, no art. 33, § 1º, e no art. 34. Há posição no sentido de que os crimes dos arts. 35 e 37 também deveriam ser tratados como tráfico de drogas. O art. 33, caput, contempla 18 núcleos. Trata-se de tipo misto alternativo, também denominado de crime de ação múltipla ou de conteúdo variado. Se o agente praticar duas ou mais condutas contra o mesmo objeto material (mesma droga), ele responderá por um único crime. Contudo, se as condutas forem praticadas contra drogas diversas, estará caracterizado o concurso de crimes. 11.1 Sujeito Ativo Trata-se de crime comum ou geral: pode ser praticado por qualquer pessoa. A maior parte das condutas previstas no tipo penal do art. 33, são caracterizadas como crime comum, ou seja, não exigem qualidade especial do agente. Todavia, no tocante as condutas prescrever e ministrar é crime próprio. É considerada crime próprio porque só quem pode prescrever é profissional da área de saúde. Por outro lado, referente a conduta ministrar (aplicar a droga) existe divergência, pois parte dos defensores argumentam que a aplicação (ministrar) pode ser feita por qualquer pessoa. Art. 40, inc. II: “As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se: (…) II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no desempenho de missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância.” Não é suficiente que o crime seja praticado por funcionário público, para incidir a causa de aumento deve o agente praticar o crime prevalecendo ou se aproveitando da função pública. Nesse sentido, ensina Cleber Masson. Assim, para incidir a majorante não basta seja o crime praticado pelo funcionário público. É imprescindível que ele cometa o delito prevalecendo-se da função pública. MANUAL CASEIRO 102 11.2 Elemento normativo “Sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar” É necessário que a conduta seja praticado sem autorização ou ainda em desacordo com determinação legal ou regulamentar. O tráfico só restará configurado se a conduta for praticado sem autorização legal. Candidato, é possível o comércio lícito de drogas? É possível sim excelência, pois só existe o crime se a conduta é realizada “sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar”. Exemplo: venda de remédio com receita controlada, pois contém o princípio ativo de alguma droga. 11.3 Flagrante Preparado Temos uma situação de flagrante preparado a situação em que um policial disfarçado, fingindo ser dependente, procura uma pessoa suspeita para comprar droga. Nesse caso, indaga-se: esse flagrante é válido? Súmula 145 do STF: “Não há crime quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação.” Cuida-se do crime de ensaio ou de experiência (crime impossível por obra do agente provocador). É preciso separar duas situações: a) Em relação à conduta de “vender”: flagrante preparado (nao há crime); b) No tocante à conduta “ter em depósito”: o crime é permanente, já vinha se consumando no tempo independente da conduta do policial. Nesse caso, o flagrante é válido. Caso-Exemplo: Quanto ao verbo “vender”, houve flagrante preparado, porquanto houve indução à venda, ao mesmo tempo em que precauções foram adotadas para que a “venda” não se consumasse. Porém, não se pode perder de vista que o crime de tráfico é crime de ação múltipla de conteúdo variado. LOGO, desde que a posse da droga seja pré-existente, é perfeitamente possível a prisão em flagrante quanto aos verbos trazer consigo, guardar, ter em depósito, etc., e então o crime estaria consumado independente da ação do agente provocador. MANUAL CASEIRO 103 Candidato, o que se entende por crime de ensaio? Excelência, também denominado de flagrante preparado, provocado, delito de experiência ou delito putativo por obra do agente provocador, ocorre quando alguém (particular ou autoridade policial), de forma insidiosa, instiga o agente à prática do delito com o objetivo de prendê-lo em flagrante, ao mesmo tempo em que adota todas as providências para que o delito não se consume. Como adverte a doutrina, nessa hipótese de flagrante o suposto autor do delito não passa de um protagonista inconsciente de uma comédia, cooperando para a ardilosa averiguação da autoria de crimes anteriores, ou da simulação da exterioridade de um crime. 11.4 Dosimetria da Pena 11.4.1 Pena privativa de liberdade “Art. 42. O juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância sobre o previsto no art. 59 do Código Penal, a natureza e a quantidade da substância ou do produto, a personalidade e a conduta social do agente.” No artigo 59, caput, do CP estão previstas as circunstancias judiciais ou inominadas, utilizadas na dosimetria da pena-base. Elas não são ignoradas na Lei de Drogas. Mas o juiz utilizará, de forma preponderante, as circunstâncias elencadas pelo art. 42 da Lei de Drogas. Natureza Quantidade da substância Quantidade do produto Personalidade Conduta social do agente 11.4.2 Pena de multa “Art. 43. Na fixação da multa a que se referem os arts. 33 a 39 desta Lei, o juiz, atendendo ao que dispõe o art. 42 desta Lei, determinará o número de dias-multa, atribuindo a cada um, segundo as condições econômicas dos acusados, valor não inferior a um trinta avos nem superior a 5 (cinco) vezes o maior salário-mínimo. Parágrafo único”. As multas, que em caso de concurso de crimes serão impostas sempre cumulativamente, podem ser aumentadas até o décuplo se, em virtude da situação econômica do acusado, considerá-las o juiz ineficazes, ainda que aplicadas no máximo.” MANUAL CASEIRO 104 11.5 Causa de diminuição da pena – art. 33, §4º da Lei nº 11.343/2006: Tráfico Privilegiado Art. 33. § 4º Nos delitos definidos no caput e no §1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. Vedação em abstrato da conversão em penas restritivas de direitos Com a incidência da causa de diminuição de pena, é possível que o crime de tráfico, no caso concreto possua a aplicação de uma pena de até 4 anos. Assim, poderia, em tese, admitir a conversão da pena em restritiva de direito. A Lei nº 11.343, porém, consciente dessa eventual possibilidade, fez a vedação em abstrato da conversão em penas restritivas de direitos. STF, porém rechaçou o dispositivo legal em comento que vedada a conversão em penas restritivas de direitos, declarando sua inconstitucionalidade por violar o princípio da proporcionalidade (usurpação do Judiciário na análise do caso concreto). Não pode haver essa vedação em abstrato! IMPORTANTEEEEEEE! Corroborando ao exposto, preleciona Renato Brasileiro (LegislaçãoPenal Especial Comentada, 2015) “em sua redação original, o art. 33, § 4°, vedava a conversão da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos, ainda que a pena definitiva aplicada ao agente ficasse em patamar não superior a 4 (quatro) anos em virtude da incidência da referida minorante. Ocorre que, nos autos do HC 97.256, o Plenário do Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade dessa restrição. Não por outro motivo, o Senado Federal acabou suspendendo a execução da expressão "vedada a conversão em penas restritivas de direitos" por meio da Resolução n° 5 de 2012, valendo -se da competência prevista no art. 52, inciso X, da Constituição Federal”. Em síntese: A lei dizia que era vedada a conversão da pena privativa de liberdade em pena restritiva de direitos. Para caber a pena restritiva de direitos a condenação tem que ser até 04 anos. Em regra, o traficante vai ser condenado no mínimo a 05 anos. Com a causa de diminuição de pena, a pena pode ficar abaixo de 04 anos. O legislador então disse na lei que mesmo ficando a pena abaixo de 04 anos, a pena não poderia ser convertida em restritiva de direitos. O STF declarou a inconstitucionalidade parcial desse parágrafo. O STF DISSE QUE PROIBIR ESSA CONVERSÃO É INCONSTITUCIONAL, POIS O LEGISLADOR ESTARIA USURPANDO A FUNÇÃO DO JULGADOR – QUEM APLICA O DIREITO AO CASO CONCRETO É O JULGADOR. O STF declarou a inconstitucionalidade em controle difuso, que tem efeito apenas entre as partes, mas o Senado aprovou a Resolução n. 5 de 2012, retirando a eficácia da expressão “vedada a conversão em penas restritivas de direitos”. JURISPRUDÊNCIA. PRIMEIRA TURMA: Tráfico de entorpecentes: fixação do regime e substituição da pena. Não se tratando de réu reincidente, ficando a pena no patamar de quatro anos e sendo as circunstâncias judiciais positivas, cumpre observar o regime aberto e apreciar a possibilidade da MANUAL CASEIRO 105 substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos. Com esse entendimento, a Primeira Turma, por maioria, concedeu ―habeas corpusǁ de ofício para garantir ao paciente, condenado à pena de um ano e oito meses de reclusão pela prática do delito de tráfico de drogas, a fixação do regime inicial aberto, bem como a substituição da reprimenda por duas penas restritivas de direito, a serem definidas pelo juízo da execução criminal. O Colegiado ressaltou não haver circunstâncias aptas a exasperar a pena. Vencidos os Ministros Rosa Weber (relatora) e Marco Aurélio. Ambos concediam a ordem de oficio, mas para efeitos distintos. A relatora, para determinar que o magistrado de 1º grau procedesse a nova avaliação quanto ao regime inicial de cumprimento da pena e à substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. O Ministro Marco Aurélio, para fixar o cumprimento da pena em regime aberto e reconhecer o direito à substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. (STF, HC 130411/SP, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, 12.4.2016). SEGUNDA TURMA: Tráfico de entorpecentes: fixação do regime e substituição da pena Não sendo o paciente reincidente, nem tendo contra si circunstâncias judiciais desfavoráveis (CP, art. 59), a gravidade em abstrato do crime do art. 33, ―caputǁ, da Lei 11.343/2006, não constitui motivação idônea para justificar a fixação do regime mais gravoso. Com esse entendimento, a Segunda Turma, após superar o óbice do Enunciado 691 da Súmula do STF, concedeu ―habeas corpusǁ de ofício para garantir ao paciente, condenado à pena de um ano e oito meses de reclusão pela prática do delito de tráfico de drogas, a substituição da reprimenda por duas penas restritivas de direitos, a serem estabelecidas pelo juízo das execuções criminais, bem assim a fixação do regime inicial aberto. O Colegiado entendeu que o paciente atende aos requisitos do art. 44 do CP, razão pela qual o juízo deve considerá-los ao estabelecer a reprimenda, de acordo com o princípio constitucional da individualização da pena. (STF, HC 133028/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, 12.4.2016). Recapitulando… Tráfico Privilegiado Obs.1: A Doutrina e Jurisprudência chamam o §4º do art. 33 de TRÁFICO PRIVILEGIADO. Porém, trata-se em verdade de causa de diminuição de pena. Qual é a natureza jurídica deste § 4º? Trata-se de uma causa de diminuição de pena. Nesse sentido, preleciona Renato Brasileiro (Legislação Penal Especial Comentada, 2015) “Apesar de muitos se referirem a este dispositivo com a denominação de tráfico privilegiado, tecnicamente não se trata de privilégio, porquanto o legislador não inseriu um novo mínimo e um novo máximo de pena privativa de liberdade . Limitou-se apenas a prever a possibilidade de diminuição da pena de um sexto a dois terços. Logo, não se trata de privilégio, mas sim de verdadeira causa de diminuição de pena”. São quatro requisitos cumulativos e subjetivos para que haja a incidência da causa de diminuição do §4º do art. 33 (condições que não diz respeito ao crime, mas sim ao criminoso): a) Agente primário; b) De bons antecedentes; c) Não se dedique a atividades criminosas; d) Não integra organizações criminosas. MANUAL CASEIRO 106 Primariedade: é o acusado que pratica determinado crime sem que tenha contra si, à época do fato delituoso, sentença condenatória transitada em julgado referente à prática de outro crime. Bons antecedentes: o conceito é dado por exclusão, é portador de bons antecedentes aquele que não tiver contra si maus antecedentes. Não se dedicar às atividades criminosas: significa que o acusado deve desenvolver atividade laborativa lícita, e não dedicar-se a atividades criminosas. (Vide Info. 582, STJ). Obs.1: A razão de ser da mencionada minorante é justamente punir com menor rigor o pequeno traficante, ou seja, aquele indivíduo que não faz do tráfico de drogas o seu meio de vida. O § 4º do art. 33, ao prever que o acusado não deve se dedicar a atividades criminosas, não exige, em nenhum momento, que essa dedicação seja exercida com exclusividade. Portanto, a aplicação da minorante é obstada ainda que o agente exerça, concomitantemente, atividade profissional lícita. (Dizer o Direito). Não integrar organização criminosa. Obs.1: Trata-se de quatro requisitos de natureza subjetiva, os quais devem ser analisados de forma cumulativa. Leia-se, para que o acusado faça jus a diminuição deve estar presente todos os requisitos. Obs.2: Para fins de determinar o quantum de diminuição da pena, o juiz deve se valer dos critérios constantes do art. 42 da Lei de Drogas - natureza e quantidade da droga, personalidade e conduta social do agente -, tendo plena autonomia para aplicar a redução no quantum reputado adequado de acordo com as peculiaridades do caso concreto, desde que o faça de maneira fundamentada. Natureza não hedionda do “Tráfico Privilegiado” O Plenário do STF decidiu que o tráfico acidental (eventual) não é crime equiparado a hediondo (HC 118.533, j. 23.06.2016, noticiado no Informativo 831) Cumpre destacamos que essa decisão do Plenário repercutiu no STJ, com o cancelamento da Súmula 512: “A aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006 não afasta a hediondez do crime de tráfico de drogas”. Tráfico privilegiado não é hediondo (cancelamento da Súmula 512-STJ) O chamado "tráfico privilegiado", previsto no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas), não deve ser considerado crime equiparado a hediondo. STF. Plenário. HC 118533/MS, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 23/6/2016 (Info 831). O tráfico ilícito de drogas na sua forma privilegiada (art.33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006) não é crime equiparado a hediondo e, por conseguinte, deve ser cancelado o Enunciado 512 MANUAL CASEIRO 107 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça. STJ. 3ª Seção. Pet 11.796-DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 23/11/2016 (recurso repetitivo) (Info 595). O que dizia a Súmula 512-STJ: "A aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006 não afasta a hediondez do crime de tráfico de drogas." Candidato, a quantidade da droga impede, por si só, a aplicação do benefício (diminuição da Pena)? Excelência, o STF decidiu recentemente que “a quantidade de drogas não constitui isoladamente fundamento idôneo para negar o benefício da redução da pena” (HC 138.138/SP, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 2ª Turma, j. 29.11.2016, noticiado no Informativo 849). Candidato, a atividade criminosa deve ser exercida com exclusividade para inviabilizar o benefício do art. 33, §4º da Lei de Drogas? Excelência, o STJ enfrentou a questão recentemente e decidiu que ainda que a dedicação a atividades criminosas ocorra concomitantemente com o exercício de atividade profissional lícita, é inaplicável a causa especial de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006”. Conforme entendimento do STJ, ainda que o réu comprove o exercício de atividade profissional lícita, se, de forma concomitante, ele se dedicava a atividades criminosas, não terá direito à causa especial de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas). O tráfico de drogas praticado por intermédio de adolescente que, em troca da mercancia, recebia comissão, evidencia (demonstra) que o acusado se dedicava a atividades criminosas, circunstância apta a afastar a incidência da causa especial de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006. (REsp 1.380.741/MG, rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, 6ª Turma, j. 12.04.2016, noticiado no Informativo 582). Candidato, os “mulas” do tráfico poderão ser beneficiados pela diminuição do art. 33, § 4º, da Lei de Drogas? Excelência, até pouco tempo atrás se entendia que o “mula” se dedicava a atividade criminosa, não se aplicando o benefício do art. 33, §4º. Mas o STF, no HC 124.107/SP, mudou esse entendimento, passando a entender que a atuação dos pacientes na condição de “mulas” não significaria, necessariamente, que integrassem organização criminosa. No caso, eles seriam meros transportadores, o que não representaria adesão à estrutura de organização criminosa” (HC 124.107/SP, rel. Min. Dias Toffoli, 1ª Turma, j. 04.11.2014, noticiado no Informativo 766). Dessa forma, contemplamos que segundo o entendimento que prevalece no STF é possível aplicar o § 4º do art. 33 da LD às “mulas”. Informativo 849, STF A grande quantidade de droga, isoladamente, não constitui fundamento idôneo para afastar a causa de diminuição de pena do art. 33, § 4º da LD MANUAL CASEIRO 108 Se o réu é primário e possui bons antecedentes, o juiz pode, mesmo assim, negar o benefício do art. 33, § 4º da LD argumentando que a quantidade de drogas encontrada com ele foi muito elevada? O tema é polêmico. 1ª Turma do STF: encontramos precedentes afirmando que a grande quantidade de droga pode ser utilizada como circunstância para afastar o benefício. Nesse sentido: não é crível que o réu, surpreendido com mais de 500 kg de maconha, não esteja integrado, de alguma forma, a organização criminosa, circunstância que justifica o afastamento da causa de diminuição prevista no art. 33, §4º, da Lei de Drogas (HC 130981/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/10/2016. Info 844). 2ª Turma do STF: a quantidade de drogas encontrada não constitui, isoladamente, fundamento idôneo para negar o benefício da redução da pena previsto no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006 (HC 138138/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/11/2016. Info 849). STF. 2ª Turma. HC 138138/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/11/2016 (Info 849). Informativo 582, STJ O fato de o réu ter ocupação lícita não significa que terá direito, necessariamente, à minorante do § 4º do art. 33 da LD Ainda que o réu comprove o exercício de atividade profissional lícita, se, de forma concomitante, ele se dedicava a atividades criminosas, não terá direito à causa especial de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas). O tráfico de drogas praticado por intermédio de adolescente que, em troca da mercancia, recebia comissão, evidencia (demonstra) que o acusado se dedicava a atividades criminosas, circunstância apta a afastar a incidência da causa especial de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006. STJ. 6ª Turma. REsp 1.380.741-MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 12/4/2016 (Info 582). Informativo 766, STF É possível aplicar o § 4º do art. 33 da lei de drogas às “mulas” Segundo o entendimento que prevalece no STF é possível aplicar o § 4º do art. 33 da LD às “mulas”. STF. 1ª Turma. RHC 118008/SP, rel. Min. Rosa Weber, julgado em 24/9/2013 (Info 721). STF. 1ª Turma. HC 124107/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 4/11/2014 (Info 766). STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 606.431/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 01/06/2017. 12. Figuras equiparadas ao Tráfico 12.1 Inc. I “§ 1º Nas mesmas penas incorre quem: I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas.” O objeto material não é a droga, e sim a matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas. Esse objeto não precisa ter a natureza de droga, ou seja, não se exige que contenha o princípio ativo. Basta que seja idôneo à produção da droga. Exemplo: posse de acetona destinada ao refino de cocaína. MANUAL CASEIRO 109 Refere-se à questão da matéria-prima, do insumo, do produto químico destinado à preparação da droga. É o sujeito que ainda não tem a cocaína, mas tem a pasta base para a preparação da cocaína. O crime não é só a conduta relacionada à droga, mas também à matéria-prima destinada à preparação da droga. Basta pensar na folha de maconha que contenha o THC – componente ativo da maconha. Esquematizando Matéria-Prima É a substância bruta da qual podem ser extraídas ou produzidas as drogas; Insumo É elemento participante do processo de formação de determinado produto. Apesar de não ser possível se extrair dele a droga, o insumo é utilizado para a produção da substância entorpecente quando agregado à matéria-prima (v.g., somado aos restos de cocaína, o bicarbonato de sódio dá origem ao crack). Produtos químicos É substância química qualquer, pura ou composta, utilizada em laboratório no processo de elaboração da droga, sem, todavia, se agregar à matéria-prima (v.g., a acetona é utilizada para o refino de cocaína). Finalidade A matéria-prima deve ser direcionado a preparação da droga. Ausência de Autorização para caracterização do Delito A tipificação desse crime também está condicionada à demonstração de que a conduta foi executada em desacordo com o elemento normativo sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Logo, se a utilização da matéria-prima, dos insumos e dos produtos químicos for feita de acordo com a Lei n° 10.357/01, que estabelece normas de controle e fiscalização sobreprodutos químicos que, direta ou indiretamente, possam ser destinados à elaboração ilícita de substâncias entorpecente s, psicotrópicas ou que determinem dependência física ou psíquica, há de ser reconhecida a atipicidade da conduta. Portanto, se alguém importar, exportar, remeter, produzir, etc., matéria-prima, insumo ou produto químico devidamente autorizado, trata-se de fato atípico. 12.2 Inc. II “§ 1º Nas mesmas penas incorre quem: II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas;” MANUAL CASEIRO 110 A configuração do delito reclama a presença do elemento normativo “sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar”. Art. 2º da Lei 11.343/2006: “Ficam proibidas, em todo o território nacional, as drogas, bem como o plantio, a cultura, a colheita e a exploração de vegetais e substratos dos quais possam ser extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a hipótese de autorização legal ou regulamentar, bem como o que estabelece a Convenção de Viena, das Nações Unidas, sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971, a respeito de plantas de uso estritamente ritualístico- religioso. Parágrafo único. Pode a União autorizar o plantio, a cultura e a colheita dos vegetais referidos no caput deste artigo, exclusivamente para fins medicinais ou científicos, em local e prazo predeterminados, mediante fiscalização, respeitadas as ressalvas supramencionadas.” Nessa discussão, muito cuidado com o art. 243 da Constituição Federal: “Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º. Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo especial com destinação específica, na forma da lei.” Trata-se de confisco, pois a União retira o bem sem nenhuma indenização. Art. 32 da Lei 11.343/2006: “As plantações ilícitas serão imediatamente destruídas pelo delegado de polícia na forma do art. 50-A, que recolherá quantidade suficiente para exame pericial, de tudo lavrando auto de levantamento das condições encontradas, com a delimitação do local, asseguradas as medidas necessárias para a preservação da prova.” Candidato, qual o alcance dessa medida, isto é, o confisco alcançaria toda a gleba ou somente a parte em que a droga estava plantada? O confisco abrange toda a propriedade e não apenas a área que a droga estava plantada. Candidato, a responsabilidade do proprietário é objetiva ou subjetiva? No passado sustentava-se a responsabilidade objetiva, isto é, mesmo arrendando a terra o proprietário a perdia, pois se entendia que ele tinha a responsabilidade de vigiar a propriedade. Mas o STF mudou de entendimento: MANUAL CASEIRO 111 STF: “A expropriação prevista no art. 243 da CF pode ser afastada, desde que o proprietário comprove que não incorreu em culpa, ainda que “in vigilando” ou “in elegendo” (RE 635.336/PE, rel. Min. Gilmar Mendes, Plenário, j. 14.12.2016, noticiado no Informativo 851). Possibilidade de o proprietário afastar a sanção do art. 243 da CF/88 se provar que não teve culpa A expropriação prevista no art. 243 da Constituição Federal pode ser afastada, desde que o proprietário comprove que não incorreu em culpa, ainda que in vigilando ou in eligendo. STF. Plenário. RE 635336/PE, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/12/2016 (repercussão geral) (Info 851). Obs.1: Distinção com art. 28, § 1º da Lei 11.343/06: “Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica.” A finalidade é o consumo pessoal, e não o tráfico. 12.3 Inc. III “§ 1º Nas mesmas penas incorre quem: III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas”. O agente empresta o carro, a casa para o tráfico de drogas. Esse local pode ser imóvel (terreno, casa, apartamento) ou móvel (carro, avião). O crime é doloso, ou seja, somente estará caracterizado quando o proprietário/possuidor do local conhece a natureza da substância. “Art. 63. Ao proferir a sentença de mérito, o juiz decidirá sobre o perdimento do produto, bem ou valor apreendido, seqüestrado ou declarado indisponível.” 13. Induzimento, instigação ou auxílio ao uso de droga “Art. 33, § 2° - Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga: Pena – detenção, de um a três anos, e multa de cem a trezentos dias-multa.” Esse crime tem duas características importantes: MANUAL CASEIRO 112 a) O induzimento, o auxílio ou a instigar devem ser dirigidos a pessoa determinada ou a pessoas determinadas. b) Sua consumação reclama o efetivo uso indevido da droga. Obs. Essa modalidade não é equiparada a crime hediondo. Atenção: O Supremo na ADI 4274/DF, rel. Min. Ayres Britto, Plenário, j. 23.11.2011, noticiado no Informativo 649, disse que a “Marcha da Maconha” não caracteriza o crime do art. 33, §2º, da Lei de Drogas, por duas razões: a) Liberdade de expressão e manifestação do pensamento; e b) Só existe o crime quando o induzimento, o auxílio ou a instigar devem ser dirigidas a uma pessoa (s) determinada (s). Na Lei antiga havia muita discussão em relação à apologia (ex. da Banda Planet Hemp que na década de 90 foi proibida de fazer show em diversos locais do Brasil pois dizia-se que a banda fazia apologia ao uso de drogas). Atualmente, há um precedente importante referente à marcha da maconha – defende-se a legalização da maconha. Os Ministérios Públicos locais argumentavam que a marcha da maconha estaria induzindo ou instigando ao uso da maconha. A questão chegou ao Supremo Tribunal Federal – o STF decidiu de forma emblemática, por 11 a 0, que a marcha da maconha não é crime de induzimento ou instigação ao uso da maconha. ADI n. 4.274. O STF diz que pode ser que na marcha da maconha existam pessoas praticando o crime do §2º do art. 33, mas a marcha da maconha em si não constitui esse crime. O objetivo da marcha da maconha é questionar a criminalização do usuário, defendendo a legalização da maconha. Não há o objetivo de induzir e instigar as pessoas a usar a droga. A democracia pressupõe que os cidadãos possam questionar as leis, o que não os desobriga de obedecer as leis. A marcha da maconha consiste no exercício democrático da liberdade de expressão. EMENTA: ACÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. PEDIDO DE “INTERPRETAÇÃO CONFORME À CONSTITUIÇÃO” DO § 2º DO ART. 33 DA LEI Nº 11.343/2006, CRIMINALIZADOR DAS CONDUTAS DE “INDUZIR, INSTIGAR OU AUXILIAR ALGUÉM AO USO INDEVIDO DE DROGA”. 1. Cabível o pedido de “interpretação conforme à Constituição” de preceito legal portador de mais de um sentido, dando-se que ao menos um deles é contrário à Constituição Federal. 2. A utilização do § 3º do art. 33 da Lei 11.343/2006 comofundamento para a proibição judicial de eventos públicos de defesa da legalização ou da descriminalização do uso de entorpecentes ofende o direito fundamental de reunião, expressamente outorgado pelo inciso XVI do art. 5º da Carta Magna. Regular exercício das liberdades constitucionais de manifestação de pensamento e expressão, em sentido lato, além do direito de acesso à informação (incisos IV, IX e XIV do art. 5º da Constituição Republicana, respectivamente). 3. Nenhuma lei, seja ela civil ou penal, pode blindar-se contra a discussão do seu próprio conteúdo. Nem mesmo a MANUAL CASEIRO 113 Constituição está a salvo da ampla, livre e aberta discussão dos seus defeitos e das suas virtudes, desde que sejam obedecidas as condicionantes ao direito constitucional de reunião, tal como a prévia comunicação às autoridades competentes. 4. Impossibilidade de restrição ao direito fundamental de reunião que não se contenha nas duas situações excepcionais que a própria Constituição prevê: o estado de defesa e o estado de sítio (art. 136, § 1º, inciso I, alínea “a”, e art. 139, inciso IV). 5. Ação direta julgada procedente para dar ao § 2º do art. 33 da Lei 11.343/2006 “interpretação conforme à Constituição” e dele excluir qualquer significado que enseje a proibição de manifestações e debates públicos acerca da descriminalização ou legalização do uso de drogas ou de qualquer substância que leve o ser humano ao entorpecimento episódico, ou então viciado, das suas faculdades psicofísicas. (ADI 4274, Relator (a): Min. AYRES BRITTO, Tribunal Pleno, julgado em 23/11/2011, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-084 DIVULG 30-04-2012 PUBLIC 02-05-2012 RTJ VOL- 00222-01 PP-00146). 14. Cedente eventual (art. 33, §3º da Lei nº 11.343/2006) Art. 33 § 3º. Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28. Essa modalidade não caracteriza tráfico, e consequentemente, não é crime hediondo. Trata-se de uma infração penal de menor potencial ofensivo, sendo da competência do Juizado Especial Criminal. Obs.1: Denota-se que as penas do art. 28 podem ser cumulada as penas do art. 33, §3º da Lei em estudo. O tipo penal em comento exige quatro requisitos cumulativos: a) oferta eventual da droga; b) oferta gratuita; c) destinatário seja do relacionamento de quem oferece a droga; e d) a droga seja para consumo conjunto. a) Conduta: Oferecer drogas; Para pessoa de seu relacionamento; EVENTUALMENTE; Para juntos consumirem. MANUAL CASEIRO 114 Oferecer: Renato Brasileiro explica que “o verbo núcleo utilizado no art. 33, § 3°, da Lei de Drogas - oferecer -, demonstra que o crime só restará caracterizado na hipótese de a iniciativa partir do próprio agente. Logo, pelo menos em tese, se a iniciativa para o consumo compartilhado partir de pessoa de relacionamento do agente, e não deste, não se pode dizer que teria havido a oferta da droga”. Eventualidade: o oferecimento da droga não pode ocorrer de maneira habitual, frequente, sob pena de restar caracterizado o crime do caput do art. 33. Pessoa do relacionamento: o art. 33, § 3°, aponta como um de seus elementos especializantes o oferecimento eventual da droga a pessoa do relacionamento do agente. Por mais que não seja necessária uma relação de parentesco, o dispositivo deixa claro que deve se tratar de pessoa conhecida, próxima ao agente, a ele ligada por meio de relação de amizade ou coleguismo, mesmo que desprovida de maior intimidade. Portanto, caso a droga seja oferecida a pessoa recém-conhecida pelo agente, restará caracterizado o crime do art. 33, caput; Consumo compartilhado: o último elemento especializante constante do art. 33, § 3°, diz respeito ao consumo compartilhado da substância oferecida pelo agente. Como o legislador faz uso da expressão para juntos a consumirem, tem-se aí verdadeiro especial fim de agir do ofertante. 15. Maquinismos e objetos destinados ao tráfico (art. 34 da Lei nº 11.343/2006) Trata-se de crime relativo ao maquinário, aparelho, instrumento ou qualquer objeto que seja destinado à fabricação, preparação, produção ou transformação de drogas. Art. 34. Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender, distribuir, entregar a qualquer título, possuir, guardar ou fornecer, ainda que gratuitamente, maquinário, aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado à fabricação, preparação, produção ou transformação de drogas, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 1.200 (mil e duzentos) a 2.000 (dois mil) dias-multa. - Finalidade do tipo penal: incriminar condutas não abrangidas pelo art. 33 caput, são condutas relacionadas a máquinas e objetos em geral ligados a produção de droga, razão pela qual também demanda reprimenda do Estado. O objeto material não é a droga, mas o instrumento de sua produção. - Sentença condenatória e perda dos bens (art.63, da Lei nº 11.343/2006): ao proferir a sentença de mérito, o juiz decidirá sobre o perdimento do produto, bem ou valor apreendido, seqüestrado ou declarado indisponível. MANUAL CASEIRO 115 - Atos preparatórios? Veja-se que aqui trata-se de atos preparatórios para a fabricação da droga. Lembre-se que o ato preparatório, em si, não é punível. No entanto, o ato preparatório pode ser tão grave que a lei o transforma em crime autônomo. É o caso, por exemplo, do porte ilegal de arma de fogo. O ato preparatório é tão grave que já constitui crime autônomo. Nesse sentido, preleciona Renato Brasileiro (Legislação Penal Especial Comentada, 2017): Pelo menos em regra, atos preparatórios não são puníveis. Como deixa entrever o art. 14, inciso II, do Código Penal, para que determinado crime seja punido a título de tentativa, é indispensável que haja pelo menos o início da execução. No entanto, em algumas situações, diante da relevância do bem jurídico tutelado, o legislador resolve transformar esses atos preparatórios em verdadeiros tipos penais especiais, fugindo à regra geral, a exemplo do que ocorre com o crime de petrechos para falsificação de moeda (CP, art. 291) e com o delito do art. 34 da Lei de Drogas, que, na verdade, antecipa a incidência do Direito Penal para abranger situações que ainda não teriam o condão de tipificar o crime de tráfico de drogas previsto no art. 33, caput, da Lei n° 11.343/06. Trata-se de crime de tipo penal misto alternativo, o legislador faz uso de 11 verbos núcleos. - Conflito de normas com art. 33, caput, e princípio da consunção: STF: “Ambos os preceitos buscariam proteger a saúde pública e tipificariam condutas que — no mesmo contexto fático, evidenciassem o intento de traficância do agente e a utilização dos aparelhos e insumos para essa mesma finalidade — poderiam ser consideradas meros atos preparatórios do delito de tráfico previsto no art. 33, “caput”, da Lei 11.343/2006” (HC 109.708/SP, rel. Min. Teori Zavascki, 2ª Turma, j. 23.6.2015, noticiado no Informativo 791). STJ: “Responderá apenas pelo crime de tráfico de drogas – e não pelo mencionado crime em concurso com o de posse de objetos e maquinário para a fabricação de drogas, previsto no art. 34 da Lei 11.343/2006 – o agente que, além de preparar para venda certa quantidade de drogas ilícitas em sua residência, mantiver, no mesmo local, uma balança de precisão e um alicate de unha utilizados na preparação das substâncias. Defato, o tráfico de maquinário visa proteger a saúde pública, ameaçada com a possibilidade de a droga ser produzida, ou seja, tipifica-se conduta que pode ser considerada como mero ato preparatório. Portanto, a prática do crime previsto no art. 33, caput, da Lei de Drogas absorve o delito capitulado no art. 34 da mesma lei, desde que não fique caracterizada a existência de contextos autônomos e coexistentes aptos a vulnerar o bem jurídico tutelado de forma distinta” (REsp 1.196.334/PR, rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, 5ª Turma, j. 19.09.2013, noticiado no Informativo 531). Cleber Masson explica que para esses julgados, caso a polícia encontre apenas os instrumentos utilizados para fabricação da droga, o agente responderá pelo crime previsto no art. 34 da Lei de Drogas. Mas, se encontrar os instrumentos e a droga, o crime previsto no art. 34 será absorvido pelo delito contido no art. 33, “caput”. O art. 34 ficará absolvido. - Art. 33, caput, e art. 34: Concurso de crimes? STJ: “Responderá pelo crime de tráfico de drogas – art. 33 da Lei 11.343/2006 – em concurso com o crime de posse de objetos e maquinário para a fabricação de drogas – art. 34 da Lei 11.343/2006 – o agente que, além de ter em depósito certa quantidade de drogas ilícitas em sua residência para MANUAL CASEIRO 116 fins de mercancia, possuir, no mesmo local e em grande escala, objetos, maquinário e utensílios que constituam laboratório utilizado para a produção, preparo, fabricação e transformação de drogas ilícitas em grandes quantidades. Nessa situação, as circunstâncias fáticas demonstram verdadeira autonomia das condutas e inviabilizam a incidência do princípio da consunção. Sabe-se que o referido princípio tem aplicabilidade quando um dos crimes for o meio normal para a preparação, execução ou mero exaurimento do delito visado pelo agente, situação que fará com que este absorva aquele outro delito, desde que não ofendam bens jurídicos distintos. Dessa forma, a depender do contexto em que os crimes foram praticados, será possível o reconhecimento da absorção do delito previsto no art. 34 – que tipifica conduta que pode ser considerada como mero ato preparatório – pelo crime previsto no art. 33. Contudo, para tanto, é necessário que não fique caracterizada a existência de contextos autônomos e coexistentes aptos a vulnerar o bem jurídico tutelado de forma distinta. Levando-se em consideração que o crime do art. 34 visa coibir a produção de drogas, enquanto o art. 33 tem por objetivo evitar a sua disseminação, deve-se analisar, para fins de incidência ou não do princípio da consunção, a real lesividade dos objetos tidos como instrumentos destinados à fabricação, preparação, produção ou transformação de drogas. Relevante aferir, portanto, se os objetos apreendidos são aptos a vulnerar o tipo penal em tela quanto à coibição da própria produção de drogas. Logo, se os maquinários e utensílios apreendidos não forem suficientes para a produção ou transformação da droga, será possível a absorção do crime do art. 34 pelo do art. 33, haja vista ser aquele apenas meio para a realização do tráfico de drogas (como a posse de uma balança e de um alicate – objetos que, por si sós, são insuficientes para o fabrico ou transformação de entorpecentes, constituindo apenas um meio para a realização do delito do art. 33). Contudo, a posse ou depósito de maquinário e utensílios que demonstrem a existência de um verdadeiro laboratório voltado à fabricação ou transformação de drogas implica autonomia das condutas, por não serem esses objetos meios necessários ou fase normal de execução do tráfico de drogas” (AgRg no AREsp 303.213/SP, rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, 5ª Turma, j. 08.10.2013, noticiado no Informativo 531). Podemos extrair desse julgado que o art. 34 será absorvido pelo art. 33 quando os instrumentos encontrados em determinado local forem suficientes para a produção da droga também existente naquele local. Em contrapartida, caso se apure que os instrumentos tenham capacidade de produzir mais drogas do que aquelas que foram apreendidas, o agente responderá pelos dois crimes, em concurso. Esquematizando: Art. 34 absorvido pelo art. 33 Art. 34 em concurso de crimes com o art. 33 Na situação em que os instrumentos encontrados em determinado local forem suficientes para a produção da droga também existente naquele local, o art. 34 ficará absorvido pelo art. 33, caput. Na situação em que se apure que os instrumentos tenham capacidade de produzir mais drogas do que aquelas que foram apreendidas, o agente responderá pelos dois crimes, em concurso 16. Associação para o tráfico (art. 35 da Lei nº 11.343/2006) Art. 35 – Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput, e § 1°, e 34 desta Lei: Pena – reclusão, de três a dez anos, e pagamento de setecentos a mil e duzentos dias-multa. Parágrafo único – Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se associa para a prática reiterada do crime definido no art. 36 desta Lei. MANUAL CASEIRO 117 Destaca-se, ao contrário do crime de associação criminosa que exige a presença de pelo menos três integrantes, na associação para fins do tráfico o legislador impõe tão somente o número mínimo de duas pessoas. O crime de associação para o tráfico não admite tentativa, pois se trata de um crime obstáculo. Segundo Cleber Masson, crime obstáculo é aquele que retrata atos preparatórios tipificados como crime autônomo pelo legislador. O delito obstáculo diz respeito às incriminações que antecipam a intervenção penal a momentos anteriores à realização do perigo imediato. - Distinção Atualmente, existem outros delitos envolvendo associação para a prática de crime. Desse modo, é preciso distinguirmos. Associação criminosa (art. 288 do CP) Associação para o tráfico (art. 35 da Lei 11.343) a. exige o envolvimento de pelo menos TRÊS pessoas; b. se agrupam para praticar quaisquer outros delitos diversos do tráfico; c. exige reiteração. a. envolvimento de duas pessoas; b. intenção de cometer quaisquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e §1º, e 34 desta Lei: tráfico; c. exista ou não reiteração na intenção de cometer os crimes. Obs.: a expressão reiterada ou não no crime de associação para tráfico é objeto de críticas. Segundo Cleber Masson, o legislador equivocou-se, pois toda associação reclama estabilidade e permanência. A união eventual caracteriza concurso de pessoas, e não o crime autônomo de associação para o tráfico. Nesse sentido, a Jurisprudência. Vejamos: STJ: “Exige-se o dolo de se associar com permanência e estabilidade para a caracterização do crime de associação para o tráfico, previsto no art. 35 da Lei n. 11.343/2006. Dessa forma, é atípica a conduta se não houver ânimo associativo permanente (duradouro), mas apenas esporádico (eventual)” (HC 139.942/SP, rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, 6ª Turma, j. 19.11.2012, noticiado no Informativo 509). É possível o concurso de crimes entre o tráfico de drogas e a associação criminosa. Nesse sentido, temos que a associação não é absorvida pelo tráfico. Crime de concurso necessário Este é um dos crimes chamados de plurissubjetivo ou crime de concurso necessário – é o crime em que necessariamente haverá concurso de pessoas (ao contrário do crime unissubjetivo, crime de concurso eventual, que é aquele em que eventualmente haverá concurso de pessoas - quase todos os crimes são unissubjetivos, pois podem ser praticados por uma ou mais pessoas). MANUAL CASEIRO 118 Integração por duas pessoas Na associação para o tráficonecessita-se pelo menos de duas pessoas para que configure-se o crime. Para que se caracterize o crime de associação para o tráfico não é preciso identificar as duas pessoas que cometeram o crime, se houver a identificação de uma delas, sabendo que há associação, já se tem configurado o crime (imagine-se a interceptação telefônica em que não se sabe quem é o outro traficante, mas já se sabe que há a associação). Elemento Subjetivo Específico (Dolo Específico) “Para o fim de” – elemento subjetivo específico, dolo específico - especial finalidade no agir. A finalidade específica é a prática de crimes relacionados ao tráfico de drogas. Não é necessária a prática reiterada de crimes, mas isto não quer dizer que não é necessária a associação com pretensão de durabilidade – é necessário que se tenha um grupo com pretensão de durabilidade, é um grupo criminoso que pode praticar o tráfico uma vez só, mas existe a pretensão de união em torno daquele grupo, porque senão não é associação – esse é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça. Nesse sentido, preleciona Renato Brasileiro (Legislação Penal Especial Comentada, 2016, p. 769): O art. 35, caput, da Lei n° 11.343/06, deixa claro que a finalidade da associação é a prática, reiterada ou não, de qualquer dos crimes dos art. 33, caput e§ 1°, e 34 da Lei de Drogas. Obs.1: Pode haver a configuração do crime de associação para o tráfico, sem que tenha ocorrido, entretanto o tipo penal do tráfico de drogas. Exemplo: “A” associa-se com “B”, com o fim de praticar o crime de associação para o tráfico. Ainda que não venham a praticar o crime, a mera associação já configura o delito em comento, posto que a conduta do tipo penal é “associar-se”. Crime não hediondo Por fim, e não menos importante, cumpre destacarmos que nem todo crime da Lei de Drogas é hediondo. Assim, destaca-se: O ART. 35, da Lei 11.343 de 2006 NÃO É CRIME HEDIONDO. 17. Financiamento ao tráfico (art. 36, Lei nº 11.343/2006) Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e §1º, e 34 desta Lei: MANUAL CASEIRO 119 Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias-multa. Veja-se que a pena do crime de financiamento é mais gravosa que a pena do crime de tráfico de drogas. A ideia do financiamento para o tráfico mereceu uma reprovabilidade bastante acentuada. O agente que responde pelo art. 36 não é traficante de drogas, não se envolve diretamente, mas financia o tráfico. Esse tipo penal é aplicável ao chamado “financiamento ou custeio sem tráfico”. Caracteriza-se como uma exceção à teoria unitária ou monista no concurso de pessoas. O agente que responde pelo art. 36 não se envolve com o tráfico de drogas. O delito de financiamento para o tráfico não deve ser confundido com a causa de aumento previsto no art. 40 da Lei nº 11.343/2006. Autofinanciamento e art. 40, inc. VII: O autofinanciamento ocorre na situação em que o mesmo agente, além de financiar o tráfico, também pratica condutas típicas inerentes ao tráfico por ele financiado. A título de exemplo, suponha-se que, dentro de um mesmo contexto fático, determinado indivíduo custeie a aquisição de cocaína por um terceiro, concorrendo, ademais, para o transporte, armazenamento e distribuição da droga para consumo. Nessa situação, o agente responde pelo art. 33 com a incidência da causa de aumento do art. 40, inc VII. Nesse sentido, a Jurisprudência do STJ. Vejamos: STJ: “Na hipótese de autofinanciamento para o tráfico ilícito de drogas, não há concurso material entre os crimes de tráfico (art. 33, caput, da Lei 11.343/2006) e de financiamento ao tráfico (art. 36), devendo, nessa situação, ser o agente condenado às penas do crime de tráfico com incidência da causa de aumento de pena prevista no art. 40, VII. De acordo com a doutrina especialista no assunto, denomina-se autofinanciamento a situação em que o agente atua, ao mesmo tempo, como financiador e como traficante de drogas. Posto isso, tem-se que o legislador, ao prever como delito autônomo a atividade de financiar ou custear o tráfico (art. 36 da Lei 11.343/2006), objetivou – em exceção à teoria monista – punir o agente que não tem participação direta na execução no tráfico, limitando-se a fornecer dinheiro ou bens para subsidiar a mercancia, sem importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas ilicitamente. Observa-se, ademais, que, para os casos de tráfico cumulado com o financiamento ou custeio da prática do crime, expressamente foi estabelecida a aplicação da causa de aumento de pena do art. 40, VII, da referida lei, cabendo ressaltar, entretanto, que a aplicação da aludida causa de aumento de pena cumulada com a condenação pelo financiamento ou custeio do tráfico configuraria inegável bis in idem. De outro modo, atestar a impossibilidade de aplicação daquela causa de aumento em casos de autofinanciamento para o tráfico levaria à conclusão de que a previsão do art. 40, VII, seria inócua quanto às penas do art. 33, caput” (REsp 1.290.296/PR, rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, 6ª Turma, j. 17.12.2013, noticiado no Informativo 534). MANUAL CASEIRO 120 18. Informante colaborador (art. 37, Lei nº 11.343/2006) Art. 37 – Colaborar, como informante, com grupo, organização ou associação destinados à prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput, e § 1°, e 34 desta Lei: Pena – reclusão, de dois a seis anos, e pagamento de trezentos a setecentos dias-multa. Segundo Cleber Masson, para a caracterização desse crime não basta a colaboração com tráfico. Exige-se que o agente colabore para o grupo, organização ou associação voltados ao tráfico. O informante não integra o grupo, organização ou associação, pois se integrasse ele responderia pelo art. 35 da Lei de Drogas. Um exemplo é a conduta do “fogueteiro”: STF - HC 106.155/RJ, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, 2ª Turma, j. 04.10.2011, noticiado no Informativo 643. Caso o informante seja funcionário público e tenha recebido vantagem indevida, ele responderá por dois crimes: art. 37 da Lei de Drogas e art. 317 do CP (corrupção passiva), em concurso material. Associação para o tráfico e subsidiariedade tácita: se o informante colaborador integrar o grupo não responde pelo art. 37 da Lei, mas sim pelo art. 35. Vejamos o entendimento da Jurisprudência. STJ: “Responderá apenas pelo crime de associação do art. 35 da Lei 11.343/2006 – e não pelo mencionado crime em concurso com o de colaboração como informante, previsto no art. 37 da mesma lei – o agente que, já integrando associação que se destine à prática do tráfico de drogas, passar, em determinado momento, a colaborar com esta especificamente na condição de informante. A configuração do crime de associação para o tráfico exige a prática, reiterada ou não, de condutas que visem facilitar a consumação dos crimes descritos nos arts. 33, caput, e § 1º, e 34 da Lei 11.343/2006, sendo necessário que fique demonstrado o ânimo associativo, um ajuste prévio referente à formação de vínculo permanente e estável. Por sua vez, o crime de colaboração como informante constitui delito autônomo, destinado a punir específica forma de participação na empreitada criminosa, caracterizando-se como colaborador aquele que transmite informação relevante para o êxito das atividades do grupo, associação ou organização criminosa destinados à prática de qualquer dos crimesprevistos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 da Lei 11.343/2006. O tipo penal do art. 37 da referida lei (colaboração como informante) reveste-se de verdadeiro caráter de subsidiariedade, só ficando preenchida a tipicidade quando não se comprovar a prática de crime mais grave. De fato, cuidando-se de agente que participe do próprio delito de tráfico ou de associação, a conduta consistente em colaborar com informações já será inerente aos mencionados tipos. A referida norma incriminadora tem como destinatário o agente que colabora como informante com grupo, organização criminosa ou associação, desde que não tenha ele qualquer envolvimento ou relação com atividades daquele grupo, organização criminosa ou associação em relação ao qual atue como informante. Se a prova indica que o agente mantém vínculo ou envolvimento com esses grupos, conhecendo e participando de sua rotina, bem como cumprindo sua tarefa na empreitada comum, a conduta não se subsume ao tipo do art. 37, podendo configurar outros crimes, como o tráfico ou a associação” (HC 224.849/RJ, rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, 5ª Turma, j. 11.06.2013, noticiado no Informativo 527). MANUAL CASEIRO 121 19. Causas de aumento da pena Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se: I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do delito; II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no desempenho de missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância; III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou policiais ou em transportes públicos; IV - o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça, emprego de arma de fogo, ou qualquer processo de intimidação difusa ou coletiva; V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal; VI - sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente ou a quem tenha, por qualquer motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e determinação; VII - o agente financiar ou custear a prática do crime. 19.1 Inc. I: a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do delito - Transnacionalidade do Delito A Lei de Drogas antiga falava em tráfico internacional. Mudou-se a expressão para “transnacional”. A doutrina majoritária entende que a ideia de transnacionalidade diverge da ideia de internacionalidade, pois internacional é quando sai de um país e vai para outro; já o transnacional basta sair do país. O só fato de sair do país já teria o caráter transnacional. Nessa linha, cumpre destarcarmos que o tráfico transnacional é crime de competência da Justiça Federal (o tráfico interestadual não é de competência da Justiça Federal. A Polícia Federal pode investigar o tráfico interestadual, mas não se trata de crime federal). Para que se tenha a competência federal, não é necessário que a transnacionalidade se consume. Logo, se o sujeito é preso no aeroporto, embarcando para outro país, já é competência da Justiça Federal. Basta a pretensão de transnacionalidade. O tráfico já está consumado; a transnacionalidade ainda não está consumada, mas a competência já é da Justiça Federal. MANUAL CASEIRO 122 Súmula 538, STJ. Compete ao juiz federal do local da apreensão da droga remetida do exterior pela via postal processar e julgar o crime de tráfico internacional. Aos juízes federais compete o processo e julgamento dos crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro ou reciprocamente (art. 109, V, CF). Por consequência, recai sobre a Justiça Federal a competência para processo e julgamento do crime de tráfico internacional de drogas. (Súmulas Criminais do STF e do STJ comentadas, Renato Brasileiro, 2016). Na hipótese em que drogas enviadas via postal do exterior forem apreendidas na alfândega, competirá ao juiz federal DO LOCAL DA APREENSÃO DA SUBSTÂNCIA processar e julgar o crime de tráfico internacional de drogas, ainda que a correspondência seja endereçada à pessoa não identificada residente em outra localidade. (Súmulas Criminais do STF e do STJ comentadas, Renato Brasileiro, 2016). Candidato, para incidir essa majorante exige-se a transposição da fronteira? Não é necessário. Segundo ensina Cleber Masson basta a presença de circunstâncias indicativas de que a droga seria levada ao exterior. O trafico internacional é de competência da Justiça Federal, conforme art. 70, caput, da Lei de Drogas: “O processo e o julgamento dos crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, se caracterizado ilícito transnacional, são da competência da Justiça Federal”. Com isso a denúncia será atribuição do Ministério Público Federal e a investigação ficará a cargo da Polícia Federal. Candidato, como fica a competência na hipótese de importação da droga pela via postal? A competência será do juízo federal do local da apreensão da substância. Nesse sentido, já se pronunciou o STJ: “Na hipótese em que drogas enviadas via postal do exterior tenham sido apreendidas na alfândega, competirá ao juízo federal do local da apreensão da substância processar e julgar o crime de tráfico de drogas, ainda que a correspondência seja endereçada a pessoa não identificada residente em outra localidade. Isso porque a conduta prevista no art. 33, caput, da Lei 11.343/2006 constitui delito formal, multinuclear, que, para a consumação, basta a execução de qualquer das condutas previstas no dispositivo legal, dentre elas o verbo “importar”, que carrega a seguinte definição: fazer vir de outro país, estado ou município; trazer para dentro. Logo, ainda que desconhecido o autor, despiciendo é o seu reconhecimento, podendo-se afirmar que o delito se consumou no instante em que tocou o território nacional, entrada essa consubstanciada na apreensão da droga. Ressalte-se, por oportuno, que é firme o entendimento da Terceira Seção do STJ no sentido de ser desnecessário, para que ocorra a consumação da prática delituosa, a correspondência chegar ao destinatário final, por configurar mero exaurimento da conduta. Dessa forma, em não MANUAL CASEIRO 123 havendo dúvidas acerca do lugar da consumação do delito, da leitura do caput do art. 70 do CPP, torna-se óbvia a definição da competência para o processamento e julgamento do feito, uma vez que é irrelevante o fato da droga estar endereçada a destinatário em outra localidade” (CC 132.897/PR, rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, 3ª Seção, j. 28.05.2014, noticiado no Informativo 543). 19.2 Inc. II: o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no desempenho de missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância; Trata-se de situação em que o agente abusa de sua função pública, da sua missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância. Nessa hipótese, a reprovabilidade deve ser mais acentuada. Não basta, para incidir a majorante, seja o crime praticado pelo funcionário público. Ele deve praticar o delito prevalecendo-se da função pública. É valer-se da função pública.Por função pública, segundo Renato Brasileiro, compreende-se toda atividade desempenhada com o objetivo de consecução de finalidades próprias do Estado, por meio daquele que exerce cargo, emprego ou função pública, nos termos do art. 327 do Código Penal. Exercem função pública todos aqueles que prestam serviços ao Estado e às pessoas jurídicas da Administração indireta, aí incluídos os agentes políticos, os servidores públicos, assim como os particulares em colaboração com o Poder Público. Missão de educação; Poder familiar; Missão de guarda ou vigilância. Cumpre ainda destacarmos que, o art. 92, incs. I e II, do CP trazem como efeitos da condenação a perda do cargo ou função pública e a incapacidade para o exercício do poder familiar. 19.3 Inc. III: a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou policiais ou em transportes públicos. Estabelecimento prisional: a jurisprudência pacífica do STF é no sentido de que basta que seja o crime cometido na dependência de estabelecimento prisional para autorizar o aumento da pena. Não é necessário que a droga destinada à difusão (distribuição) dentro do estabelecimento. Os fundamentos dessa causa de aumento repousam na extensão do dano e na maior potencialidade do delito. MANUAL CASEIRO 124 Ocorrendo o tráfico de drogas nas imediações de presídio, incidirá a causa de aumento do art. 40, III, da LD, não importando quem seja o comprador Se o agente vende a droga nas imediações de um presídio, mas o comprador não era um dos detentos nem qualquer pessoa que estava frequentando o presídio, ainda assim deverá incidir a causa de aumento do art. 40, III, da Lei nº 11.343/2006? SIM. A aplicação da causa de aumento prevista no art. 40, III, da Lei nº 11.343/2006 se justifica quando constatada a comercialização de drogas nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, sendo irrelevante se o agente infrator visa ou não aos frequentadores daquele local. Assim, se o tráfico de drogas ocorrer nas imediações de um estabelecimento prisional, incidirá a causa de aumento, não importando quem seja o comprador do entorpecente. STF. 2ª Turma. HC 138944/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 21/3/2017 (Info 858). Transporte público e alcance da majorante: o STJ: “A utilização de transporte público com a única finalidade de levar a droga ao destino, de forma oculta, sem o intuito de disseminá-la entre os passageiros ou frequentadores do local, não implica a incidência da causa de aumento de pena do inciso III do artigo 40 da Lei 11.343/2006” (REsp 1.443.214/MS, rel. Min. Sebastião Reis Júnior, 6ª Turma, j. 04.09.2014, noticiado no Informativo 547). Droga transportada em transporte público e causa de aumento do art. 40 da Lei 11.343/2006 O art. 40, III, da Lei de Drogas prevê como causa de aumento de pena o fato de a infração ser cometida em transportes públicos. Se o agente leva a droga em transporte público, mas não a comercializa dentro do meio de transporte, incidirá essa majorante? NÃO. A majorante do art. 40, II, da Lei 11.343/2006 somente deve ser aplicada nos casos em que ficar demonstrada a comercialização efetiva da droga em seu interior. É a posição majoritária no STF e STJ. STF. 1ª Turma. HC 122258-MS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 19/08/2014. STF. 2ª Turma. HC 120624/MS, Red. p/ o acórdão, Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 3/6/2014 (Info 749). STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.295.786-MS, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 18/6/2014 (Info 543). STJ. 6ª Turma. REsp 1443214-MS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 22/09/2014. 19.4 Inc. IV: o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça, emprego de arma de fogo, ou qualquer processo de intimidação difusa ou coletiva; O tráfico de drogas em si não tem como elementar do tipo o empregado da violência ou grave ameaça, mas sendo o tráfico perpetrado com o emprego da violência ou grave ameaça, haverá a causa de aumento de pena. Deve-se ter em vista que se o emprego da violência ou grave ameaça consistir em crime autônomo, não incidirá a causa de aumento de pena, vez que senão haveria o bis in idem (punir o mesmo fato mais de uma vez). Assim, contemplamos que em regra, o tráfico de drogas não é cometido com emprego de violência ou grave ameaça, porém, quando isso acontecer será considerado causa de aumento de pena. MANUAL CASEIRO 125 19.5 Inc. V: caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal; Trata-se do chamado tráfico interestadual. Para que ocorra a incidência da causa de aumento da pena em comento não se reclama, para incidência da majorante, a efetiva transposição da fronteira. A lei se contenta com a presença de circunstâncias indicativas no sentido de que a droga seria levada a outro Estado ou ao Distrito Federal. O art. 40, V, da Lei de Drogas prevê que a pena do tráfico e de outros delitos deverá ser aumentada se ficar "caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal". Para que incida essa causa de aumento não se exige a efetiva transposição da fronteira interestadual pelo agente, sendo suficiente a comprovação de que a substância tinha como destino localidade em outro Estado da Federação. Ex: João pegou um ônibus em Campo Grande (MS) com destino a São Paulo (SP); algumas horas depois, antes que o ônibus cruzasse a fronteira entre os dois Estados, houve uma blitz da polícia no interior do coletivo, tendo sido encontrados 10kg de cocaína na mochila de João, que confessou que iria levá-la para um traficante de São Paulo. STF. 1ª Turma. HC 122791/MS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17/11/2015 (Info 808). STF “A incidência da causa de aumento de pena prevista na Lei 11.343/2006 [“Art. 40. As penas previstas nos artigos 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se: (...) V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal”] não demanda a efetiva transposição da fronteira da unidade da Federação. Seria suficiente a reunião dos elementos que identificassem o tráfico interestadual, que se consumaria instantaneamente, sem depender de um resultado externo naturalístico. Esse é o entendimento da Primeira Turma, que, em conclusão de julgamento e por maioria, denegou a ordem em “habeas corpus” no qual se sustentava a não incidência da mencionada majorante, porque o agente teria adquirido a substância entorpecente no mesmo Estado em que fora preso. Segundo o Colegiado, existiriam provas suficientes quanto à finalidade de consumar a ação típica, a saber: a) o paciente estava no interior de ônibus de transporte interestadual com bilhete cujo destino final seria outro Estado da Federação; e, b) a fase da intenção e a dos atos preparatórios teriam sido ultrapassadas no momento em que o agente ingressara no ônibus com a droga, a adentrar a fase de execução do crime” (HC 122.791/MS, rel. Min. Dias Toffoli, 1ª Turma, j. 17.11.2015, noticiado no Informativo 808). STJ “(...) para a incidência da causa de aumento prevista no art. 40, V, da Lei n. 11.343/2006, não é necessária a efetiva transposição da fronteira interestadual, bastando que fique evidenciado, pelos elementos de prova, que a droga transportada teria como destino localidade de outro estado da Federação” (HC 109.724/MS, rel. Min. Og Fernandes, 6ª Turma,j. 23.08.2011, noticiado no Informativo 481). Candidato, é possível a incidência desta majorante simultaneamente à causa de aumento da pena atinente à transnacionalidade (tráfico internacional e tráfico interestadual)? Depende. 1ª Situação: Se a droga, originária do exterior, destinar-se à difusão a outro Estado, podem ser aplicadas as duas majorante (tráfico internacional + tráfico interestadual). 2ª Situação: Se a droga, vinda do exterior, destinar-se a ficar em somente um Estado, apenas será aplicada a majorante ligada ao tráfico internacional. MANUAL CASEIRO 126 STJ: “No tráfico ilícito de entorpecentes, é inadmissível a aplicação simultânea das causas especiais de aumento de pena relativas à transnacionalidade e à interestadualidade do delito (art. 40, I e V, da Lei n. 11.343/2006), quando não comprovada a intenção do importador da droga de difundi-la em mais de um estado do território nacional, ainda que, para chegar ao destino final pretendido, imperativos de ordem geográfica façam com que o importador transporte a substância através de estados do país. De fato, sem a existência de elementos concretos acerca da intenção do importador dos entorpecentes de pulverizar a droga em outros estados do território nacional, não se vislumbra como subsistir a majorante prevista no inciso V do art. 40 da Lei n. 11.343/2006 (Lei de Drogas) em concomitância com a causa especial de aumento relativa à transnacionalidade do delito (art. 40, I, da Lei de Drogas), sob pena de bis in idem” (HC 214.942/MT, rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, 6ª Turma, j. 16.06.2016, noticiado no Informativo 586). 19.6 Inc. VI: sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente ou a quem tenha, por qualquer motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e determinação; Candidato, como fica a incidência dessa majorante diante do crime de corrupção de menores (art. 244- B do ECA)? Nos crimes do art. 33 a 37 da Lei de Drogas, quando o agente pratica o delito juntamente com um menor, não é possível aplicar o crime de corrupção de menores, pois essa causa de aumento da pena do art. 40, VI, é incompatível com o crime do art. 244-B do ECA, incidindo aqui o princípio da especialidade. A norma especial exclui a incidência da norma geral. STJ: “Na hipótese de o delito praticado pelo agente e pelo menor de 18 anos não estar previsto nos arts. 33 a 37 da Lei de Drogas, o réu poderá ser condenado pelo crime de corrupção de menores, porém, se a conduta estiver tipificada em um desses artigos (33 a 37), não será possível a condenação por aquele delito, mas apenas a majoração da sua pena com base no art. 40, VI, da Lei n. 11.343/2006. O debate consistiu no enquadramento da conduta de adulto que pratica tráfico em concurso eventual com criança ou adolescente. Para configuração do crime previsto no art. 244-B do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), basta a participação de menor de 18 anos no cometimento do delito, pois, de acordo com a jurisprudência do STJ, o crime é formal e, por isso, independe da prova da efetiva corrupção do menor (Súmula 500/STJ). Por sua vez, para incidir a majorante do art. 40, VI, da Lei de Drogas, faz-se necessário que, ao praticar os delitos previstos nos arts. 33 a 37, o réu envolva ou vise atingir criança, adolescente ou quem tenha capacidade de entendimento e determinação diminuída. Não se compartilha do entendimento no sentido de que, se a criança ou adolescente já estiverem corrompidos, não há falar em corrupção de menores e de que responde o agente apenas pelo crime de tráfico majorado, pois, de acordo com o entendimento do STJ, é irrelevante a prova da efetiva corrupção do menor para que o acusado seja condenado pelo crime do ECA. A solução deve ser encontrada no princípio da especialidade. Assim, se a hipótese versar sobre concurso de agentes envolvendo menor de dezoito anos com a prática de qualquer dos crimes tipificados nos arts. 33 a 37 da Lei de Drogas, afigura-se juridicamente correta a imputação do delito em questão, com a causa de aumento do art. 40, VI. Para os demais casos, aplica-se o art. 244-B, do Estatuto da Criança e do Adolescente, conforme entendimento doutrinário” (REsp 1.622.781/MT, rel. Min. Sebastião Reis Júnior, 6ª Turma, j. 22.11.2016, noticiado no Informativo 595). MANUAL CASEIRO 127 Agente que pratica delitos da Lei de Drogas envolvendo criança ou adolescente responde também por corrupção de menores? • Caso o delito praticado pelo agente e pelo menor de 18 anos não esteja previsto nos arts. 33 a 37 da Lei de Drogas, o réu responderá pelo crime da Lei de Drogas e também pelo delito do art. 244-B do ECA (corrupção de menores). • Caso o delito praticado pelo agente e pelo menor de 18 anos seja o art. 33, 34, 35, 36 ou 37 da Lei nº 11.343/2006: ele responderá apenas pelo crime da Lei de Drogas com a causa de aumento de pena do art. 40, VI. Não será punido pelo art. 244-B do ECA para evitar bis in idem. Na hipótese de o delito praticado pelo agente e pelo menor de 18 anos não estar previsto nos arts. 33 a 37 da Lei de Drogas, o réu poderá ser condenado pelo crime de corrupção de menores, porém, se a conduta estiver tipificada em um desses artigos (33 a 37), não será possível a condenação por aquele delito, mas apenas a majoração da sua pena com base no art. 40, VI, da Lei nº 11.343/2006. STJ. 6ª Turma. REsp 1.622.781-MT, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 22/11/2016 (Info 595). 19.7 Inc. VII: o agente financiar ou custear a prática do crime Essa majorante tem aplicabilidade restrita ao autofinanciamento – STJ: REsp 1.290.296/PR, rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, 6ª Turma, j. 17.12.2013, noticiado no Informativo 534. Financiamento do tráfico e assemelhados (art. 36) Se o agente financia ou custeia o tráfico, mas não pratica nenhum verbo do art. 33: responderá apenas pelo art. 36 da Lei de Drogas. Se o agente, além de financiar ou custear o tráfico, também pratica algum verbo do art. 33: responderá apenas pelo art. 33 c/c o art. 40, VII da Lei de Drogas (não será condenado pelo art. 36). STJ. 6ª Turma. REsp 1.290.296-PR, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 17/12/2013 (Info 534). 20. Colaboração eficaz (art. 41, Lei nº 11.343/2006) Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um terço a dois terços. Trata-se de manifestação do chamado direito premial: instituto que privilegia com algum benefício ao agente que colabora com o Estado. No caso em comento, funciona como causa de redução de pena. Essa colaboração é possível tanto na fase do inquérito quanto na fase da ação penal. A diminuição da pena depende de dois requisitos: a) identificação dos demais coautores ou partícipes do crime; b) deve colaborar na recuperação total ou parcial do produto do crime. MANUAL CASEIRO 128 Essa colaboração apenas poderá ser conhecida pelo juiz no momento da aplicação da pena. 21. Crime culposo (art. 38, Lei nº 11.343/2006) Art. 38 – Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que dela necessite o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – detenção, de seis meses a dois anos, e pagamento de cinqüenta a duzentos dias- multa. Trata-se do único crime culposo previsto na Lei de Drogas. É cediço que o dolo é o elemento subjetivo por excelência dos crimes previstos no Código Penal, assim como, na Lei de Drogas.A culpa, por sua vez, é o elemento subjetivo por exceção. No dolo há a vontade de produzir a conduta e vontade de produzir o resultado. Já na culpa, há a vontade de produzir a conduta, mas não há a vontade de produzir o resultado. Para que o crime seja considerado culposo, é necessária expressa previsão em lei. É o caso do art. 38 da Lei de Drogas. Nesse sentido, preleciona Renato Brasileiro (Legislação Penal Especial Comentada, 2016, p. 780): “somente será possível a punição de determinada conduta a título culposo se houver ressalva expressa no texto da Lei. E é exatamente isso o que ocorre no art. 38 da Lei no 11.343/06. Ao contrário das demais condutas delituosas constantes da Lei de Drogas, punidas apenas a título doloso, a redação do tipo penal em questão deixa transparecer que esta será punida exclusivamente se praticada culposamente, já que o próprio tipo penal faz referência expressa à prescrição ou ministração culposa de drogas. Portanto, na hipótese de prescrição ou ministração dolosa de drogas, deverá o agente ser processado pelo crime do art. 33, caput, que também faz uso dos verbos prescrever e ministrar”. É uma infração penal de menor potencial ofensivo, de competência do JECRIM e compatível com a transação penal. O crime próprio ou especial, isso porque a conduta de “prescrever” uma droga somente poderá ser praticado pelo médico ou pelo dentista. A conduta de “ministrar”, além do médico e do dentista, também pode ser praticada pelo profissional de enfermagem ou de farmácia. É crime culposo previsto em um tipo fechado. Em regra, os delitos culposos são previstos em tipos penais abertos, mas no art. 38 o legislador descreve expressamente as hipóteses em que a culpa poderá ocorrer, vejamos: O paciente não necessita da droga; O sujeito precisa da droga, mas ela é prescrita ou ministrada em dose excessiva; A droga é prescrita ou ministrada em desacordo com determinação legal ou regulamentar. MANUAL CASEIRO 129 22. Condução de embarcação ou aeronave após o consumo de droga (art. 39, Lei nº 11.343/2006) Art. 39 – Conduzir embarcação ou aeronave após o consumo de drogas, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem: Pena – detenção, de seis meses a três anos, além da apreensão do veículo, cassação da habilitação respectiva ou proibição de obtê-la, pelo mesmo prazo da pena privativa de liberdade aplicada, e pagamento de duzentos a quatrocentos dias-multa. Parágrafo único – As penas de prisão e multa, aplicadas cumulativamente com as demais, serão de quatro a seis anos e de quatrocentos a seiscentos dias-multa, se o veículo referido no caput deste artigo for de transporte coletivo de passageiros. Cuida-se de crime de perigo concreto, isto é, a situação de perigo deve ser provada no caso concreto, pois o tipo diz “(...) expondo a dano potencial a incolumidade de outrem”. A embarcação poderá ser de qualquer porte. Não precisa ser um navio. No caso de o agente ingerir drogas e utilizar o veículo automotor em via pública não se aplica o art. 39 da Lei de Drogas, e sim o art. 306 do CTB: Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência: Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. Atenção! O legislador menciona embarcação ou aeronave, não abrangendo veículo automotor, o qual ficará sob a regulamentação do art. 306 do CTB. Nesse sentido, ensina Renato Brasileiro – o art. 39 da Lei de Drogas tipifica apenas a condução de embarcação ou aeronave sob a influência de drogas, porquanto a condução de veículo automotor nas mesmas condições subsume-se ao tipo penal do art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro, que possui a seguinte redação: "Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência". Classificação do Crime quanto ao Resultado O crime tipificado ao teor do art. 39, é crime de perigo abstrato ou de perigo concreto? Crime de dano – há lesão ao bem jurídico Crime de perigo concreto – há a exposição do bem jurídico a um perigo concreto, real, efetivo. Crime de perigo abstrato – a conduta é praticada e a lei presume que o bem jurídico foi exposto a perigo. MANUAL CASEIRO 130 No crime de trânsito brasileiro há uma presunção legal de que há o dano potencial à incolumidade de outrem (crime de perigo abstrato). Entretanto, no crime do art. 39 da Lei de Drogas, há um crime de perigo concreto: não basta conduzir a embarcação sob o efeito da droga, é necessário que haja efetivamente a exposição da incolumidade de outrem a um perigo concreto, real, efetivo. Corroborando ao exposto, preleciona Renato Brasileiro (Legislação Criminal Comentada, 2016, p.784-5) “Na redação do art. 39 da Lei de Drogas, o legislador faz menção à condução de embarcação ou aeronave após o consumo de drogas, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem. Como se pode notar, a situação de perigo presumida pelo legislador está inserida no próprio tipo penal. Logo, trata-se de crime de perigo concreto, sendo inviável a punição do agente pela prática deste crime sem que a acusação comprove que a incolumidade pública foi efetivamente colocada em situação de risco”. É cabível a aplicação da suspensão condicional do processo, posto que o parâmetro é a pena mínima (não fique superior a 1 ano). Obs.1: pena de detenção e não reclusão. Não é um crime de menor potencial ofensivo (pena máxima acima de 2 anos). Cabe, todavia, a suspensão condicional do processo (pena mínima inferior a 1 ano). 23. Procedimento policial Para lavratura do auto de prisão em flagrante basta o laudo de constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por perito oficial, ou, na falta deste, por pessoa idônea (art. 50, § 1°, da Lei de Drogas). Esse laudo também é suficiente para o oferecimento da denúncia e para seu recebimento. Nesse laudo constará que a substância apreendida é droga, bem como a sua respectiva quantidade. Esse laudo é precário e provisório. Para a condenação exige-se o exame definitivo (exame químico-toxicológico). A jurisprudência já admitiu a juntada desse exame químico-toxicológico posterior à sentença em caso de demora na produção do exame. Prazo para a conclusão do Inquérito Policial O inquérito policial na Lei de Drogas possui prazo diferenciado. No Código de Processo Penal, o prazo para conclusão do inquérito estando o investigado preso é de 10 dias, e 30 quando solto, admitindo-se prorrogação no ultimo caso. Na Lei de Drogas, porém o prazo para conclusão do inquérito é mais elástico. Nessa esteira, a conclusão do inquérito policial na Lei de Drogas (art. 51) deve respeitar os seguintes prazos: a) 30 dias: no caso de indiciado preso; ou b) 90 dias: no caso de indiciado solto. Indiciado preso Indiciado solto 30 dias 90 dias MANUAL CASEIRO 131 Cumpre destacarmos ainda que a Lei de Drogas diz que tais prazos podem ser duplicados pelo juiz, ouvido o MP, mediante pedido justificado da autoridade policial, mesmo com o indiciado preso. Vejamos a previsão legal: Art. 51. O inquérito policial será concluído no prazo de 30 (trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) dias, quando solto. Parágrafo único. Os prazos a que se refere este artigo podem ser duplicados pelo juiz, ouvido o Ministério Público, mediante pedido justificado da autoridade de polícia judiciária.24. Destruição das drogas apreendidas a) Destruição das drogas na hipótese de ter ocorrido a prisão em flagrante (Art. 50): § 3º Recebida cópia do auto de prisão em flagrante, o juiz, no prazo de 10 (dez) dias, certificará a regularidade formal do laudo de constatação e determinará a destruição das drogas apreendidas, guardando-se amostra necessária à realização do laudo definitivo. Será guardada quantidade suficiente para a realização do laudo definitivo e também para eventual exame de contraprova. § 4º A destruição das drogas será executada pelo delegado de polícia competente no prazo de 15 (quinze) dias na presença do Ministério Público e da autoridade sanitária. § 5º O local será vistoriado antes e depois de efetivada a destruição das drogas referida no § 3º, sendo lavrado auto circunstanciado pelo delegado de polícia, certificando-se neste a destruição total delas. b) Destruição das drogas na hipótese em que não houve prisão em flagrante (art. 50-A) Art. 50-A. A destruição de drogas apreendidas sem a ocorrência de prisão em flagrante será feita por incineração, no prazo máximo de 30 (trinta) dias contado da data da apreensão, guardando-se amostra necessária à realização do laudo definitivo, aplicando- se, no que couber, o procedimento dos §§ 3º a 5º do art. 50. Será guardada quantidade suficiente para a realização do laudo definitivo e também para eventual exame de contraprova. MANUAL CASEIRO 132 25. Procedimentos investigatórios especiais Os meios especiais da Lei de Drogas não excluem os meios da legislação comum. Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos nesta Lei, são permitidos, além dos previstos em lei, mediante autorização judicial e ouvido o Ministério Público, os seguintes procedimentos investigatórios: I - a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de investigação, constituída pelos órgãos especializados pertinentes; Obs.1: O agente infiltrado está autorizado a praticar fatos típicos, pois encontra-se acobertado por uma excludente da ilicitude (estrito cumprimento do dever legal). II - a não-atuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores químicos ou outros produtos utilizados em sua produção, que se encontrem no território brasileiro, com a finalidade de identificar e responsabilizar maior número de integrantes de operações de tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação penal cabível. Obs.2: Trata-se da ação controlada. Parágrafo único. Na hipótese do inciso II deste artigo, a autorização será concedida desde que sejam conhecidos o itinerário provável e a identificação dos agentes do delito ou de colaboradores. 26. Novidade: o interrogatório, na Lei de Drogas, é o último ato da instrução O interrogatório, na Lei de Drogas, é o último ato da instrução O art. 400 do CPP prevê que o interrogatório deverá ser realizado como último ato da instrução criminal. Essa regra deve ser aplicada: • nos processos penais militares; • nos processos penais eleitorais e • em todos os procedimentos penais regidos por legislação especial (ex: lei de drogas). Essa tese acima exposta (interrogatório como último ato da instrução em todos os procedimentos penais) só se tornou obrigatória a partir da data de publicação da ata de julgamento do HC 127900/AM pelo STF, ou seja, do dia 11/03/2016 em diante. Os interrogatórios realizados nos processos penais militares, eleitorais e da lei de drogas até o dia 10/03/2016 são válidos mesmo que tenham sido efetivados como o primeiro ato da instrução. STF. Plenário. HC 127900/AM, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 3/3/2016 (Info 816). STJ. 6ª Turma. HC 397382-SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 3/8/2017 (Info 609). MANUAL CASEIRO 133 JÁ CAIU CESPE JÁ CAIU CESPE: (2017. TJ PR. Juiz Substituto). Considerando a jurisprudência do STJ a respeito dos crimes hediondos, do tráfico de entorpecentes, do Estatuto do Desarmamento e do ECA, assinale a opção correta. a) A arma de fogo desmuniciada e desmontada não serve para configurar o delito de porte ilegal de arma de fogo. ERRADO, conforme posição atual tanto do STF quando do STJ, a posse ou porte de arma de fogo CONFIGURA CRIME mesmo que ela esteja desmuniciada. Nesse sentido, o Info 699, STF. b) Não se configura o crime de corrupção de menor em relação àquele já afeito à prática de atos infracionais. ERRADO. O crime de corrupção de menores é considerado crime formal e restará consumado independentemente daquele sujeito já ser afeito à prática de outros atos infracionais. Vejamos o teor da Súmula do STJ. Acessar: http://www.dizerodireito.com.br/2017/02/agente-que-pratica-delitos-da-lei-de.html A defesa de João pediu a sua absolvição quanto ao delito do art. 244-B do ECA, argumentando que o tipo penal fala em “corromper” menor de 18 anos. No entanto, no caso concreto, o adolescente já estaria “corrompido”, considerando que tinha participado de outros atos infracionais equiparados a crime (era infrator contumaz). Logo, disse o advogado, não foi o réu (João) quem corrompeu o menor. A tese defensiva é aceita pela jurisprudência? NÃO. A configuração do crime previsto no artigo 244-B do Estatuto da Criança e do Adolescente independe da prova da efetiva corrupção do menor, por se tratar de delito formal (Súmula 500 do STJ). Assim, pouco importa se houve ou não a corrupção efetiva do menor. c) Por ser crime acessório, a associação para o tráfico de drogas não pode existir sem a prova da materialidade do crime principal. ERRADO. O crime de associação para o tráfico não é considerado crime acessório, mas autônomo. d) Não é hediondo o crime de tráfico de entorpecentes praticado por agente primário, de bons antecedentes e que não se dedique a atividades criminosas nem integre organização criminosa. MANUAL CASEIRO 134 CORRETO. A questão tratou na alteração da posição da Jurisprudência quanto a natureza não hedionda do chamado tráfico privilegiado, que resultou no cancelamento da redação da Súmula 512 do STJ. Nesse sentido, vejamos o teor do Informativo 831, em total consonância com o disposto na assertiva. Vejamos: Acessar: https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2016/07/info-831-stf1.pdf JÁ CAIU CESPE: (2017. DPC GO. Delegado de Polícia Civil). Considerando o disposto na Lei n.º 11.343/2006 e o posicionamento jurisprudencial e doutrinário dominantes sobre a matéria regida por essa lei, assinale a opção correta. a) Em processo de tráfico internacional de drogas, basta a primariedade para a aplicação da redução da pena. ERRADO. O §4º, do art. 33 da Lei 11.343/2006 ao tratar sobre o chamado “tráfico privilegiado”, que confere ao agente causa de redução de pena consagra outros requisitos além da primariedade. Assim, é equivocado apontar como único requisito a primariedade. Vejamos: Art. 33. § 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. Diante do exposto, temos que são requisito CUMULATIVOS para a redução de pena: a. ser o agente primário; b. ter bons antecedentes; c. não se dedicar às atividades criminosas; d. não integrar organização criminosa. b) Dado o instituto da delação premiada previsto nessa lei, ao acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial podem ser concedidos os benefícios da redução de pena, do perdão judicial ou da aplicação de regime penitenciáriomais brando. ERRADO. O benefício conferido nesse caso será a redução de pena apenas. Vejamos. MANUAL CASEIRO 135 Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um terço a dois terços. c) É vedada à autoridade policial a destruição de plantações ilícitas de substâncias entorpecentes antes da realização de laudo pericial definitivo, por perito oficial, no local do plantio. ERRADO. Pelo contrário, a lei determina que essa destruição de plantas ilícitas será de atribuição do Delegado de Polícia. Vejamos: Art. 32. As plantações ilícitas serão imediatamente destruídas pelo delegado de polícia na forma do art. 50- A, que recolherá quantidade suficiente para exame pericial, de tudo lavrando auto de levantamento das condições encontradas, com a delimitação do local, asseguradas as medidas necessárias para a preservação da prova. d) Para a configuração da transnacionalidade do delito de tráfico ilícito de drogas, não se exige a efetiva transposição de fronteiras nem efetiva coautoria ou participação de agentes de estados diversos. CORRETO. Trata-se de entendimento dos Tribunais. Nesse sentido, vejamos o Info do 808 do STF - Para que incida essa causa de aumento não se exige a efetiva transposição da fronteira interestadual pelo agente, sendo suficiente a comprovação de que a substância tinha como destino localidade em outro Estado da Federação. Acessar: https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2015/12/info-808-stf.pdf e) O crime de associação para o tráfico se consuma com a mera união dos envolvidos, ainda que de forma individual e ocasional. ERRADO. O dispositivo legal fala de forma reiterada ou não. Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta Lei: MANUAL CASEIRO 136 JÁ CAIU CESPE: (2017. DPC GO. Delegado de Polícia Civil). Delegado de Polícia. Vantuir e Lúcio cometeram, em momentos distintos e sem associação, crimes previstos na Lei de Drogas (Lei n.º 11.343/2006). No momento da ação, Vantuir, em razão de dependência química e de estar sob influência de entorpecentes, era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato. Lúcio, ao agir, estava sob efeito de droga, proveniente de caso fortuito, sendo também incapaz de entender o caráter ilícito do fato. Nessas situações hipotéticas, qualquer que tenha sido a infração penal praticada, a) Vantuir terá direito à redução de pena de um a dois terços e Lúcio será isento de pena. b) somente Vantuir será isento de pena. c) Lúcio e Vantuir serão isentos de pena. CORRETO. No caso em tela, ambos serão isentos por incidência do disposto no art. 45 caput da Lei 11.343/2006, isso porque: Valpir em decorrência da sua dependência química e de estar sob influência de entorpecentes, era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato. Já o Lúcio, estava sob o efeito da droga decorrente de caso fortuito. Nessa esteira, vejamos o que dispõe a legislação. Art. 45. É isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. d) somente Lúcio terá direito à redução de pena de um a dois terços. e) Lúcio e Vantuir terão direito à redução de pena de um a dois terços. JÁ CAIU CESPE: (2016. DPC PE. Delegado de Polícia Civil). Na análise das classificações e dos momentos de consumação, busca-se, por meio da doutrina e da jurisprudência pátria, enquadrar consumação e tentativa nos diversos tipos penais. A esse respeito, assinale a opção correta. a) Conforme orientação atual do STJ, é imprescindível para a consumação do crime de furto com a posse de fato da res furtiva, ainda que por breve espaço de tempo, a posse mansa, pacífica e desvigiada da coisa, caso em que se deve aplicar a teoria da ablatio. ERRADO. Não se exige a posse mansa, pacífica e desvigiada da coisa. Nesse sentido, analisemos o teor da Súmula 582 do STJ, editada em 2016. Súmula 582-STJ: Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada. Acessar: https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2016/11/sc3bamula-582-stj.pdf b) A extorsão é considerada pelo STJ como crime material, pois se consuma no momento da obtenção da vantagem indevida. ERRADO. O crime de extorsão é considerado crime formal, e consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida. MANUAL CASEIRO 137 A extorsão é crime formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado. É o que se extrai da Súmula 96 do Superior Tribunal de Justiça: “O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida”. Assim, o crime estará consumado com a prática da conduta ainda que não se obtenha a vantagem econômica pretendida. O crime de consuma com o constrangimento ilegal. Fonte: @manualcaseiro de Direito Penal Parte Especial. c) O crime de exercício ilegal da medicina, previsto no CP, por ser crime plurissubsistente, admite tentativa, desde que, iniciados os atos executórios, o agente não consiga consumá-lo por circunstâncias alheias a sua vontade. ERRADO. O crime em comento é crime habitual, e assim sendo não admite tentativa. d) Por ser crime material, o crime de corrupção de menores consuma-se no momento em que há a efetiva prova da prática do delito e a efetiva participação do inimputável na empreitada criminosa. Assim, se o adolescente possuir condenações transitadas em julgado na vara da infância e da juventude, em decorrência da prática de atos infracionais, o crime de corrupção de menores será impossível, dada a condição de inimputável do corrompido. ERRADO. O crime de corrupção de menores é crime FORMAL. Nesse sentido, a súmula 500 do STJ. Vejamos: e) Segundo o STJ, configura crime consumado de tráfico de drogas a conduta consistente em negociar, por telefone, a aquisição de entorpecente e disponibilizar veículo para o seu transporte, ainda que o agente não receba a mercadoria, em decorrência de apreensão do material pela polícia, com o auxílio de interceptação telefônica. CORRETO. Trata-se do entendimento firmado pelo STJ exarado ao teor do Informativo 569. Vejamos: Acessar: https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2015/11/info-569-stj.pdf MANUAL CASEIRO 138 JÁ CAIU CESPE: (2016. DPC PE. Delegado de Polícia Civil). O ordenamento penal brasileiro adotou a sistemática bipartida de infração penal — crimes e contravenções penais —, cominando suas respectivas penas, por força do princípio da legalidade. Acerca das infrações penais e suas respectivas reprimendas, assinale a opção correta. a) O crime de homicídio doloso praticado contra mulher é hediondo e, por conseguinte, o cumprimento da pena privativa de liberdade iniciar-se-á em regime fechado, em decorrência de expressa determinação legal. ERRADO. Inicialmente, cumpre destacarmos que nem todo homicídio praticado contra a mulher será considerado hediondo por constituir-se em feminicídio, mas somente aquele que tiver como causa motivadora (circunstância subjetiva)por questões de gênero. Vamos Recordar! A Lei nº 13.104 de 2015 inseriu o inciso VI para incluir no art. 121 o feminícidio, entendido como a morte de mulher em razão da condição de sexo feminino, leia-se, violência de gênero quanto ao sexo. Entrou em vigor em 10 de Março de 2015. Em se tratando de uma lei que agrava a situação do réu, consagra uma nova hipótese qualificadora, não pode ser aplicada a conduta praticada antes da referida data. Trata-se de homicídio cometido por razões de gênero do sexo feminino (preconceito, descriminação, desprezo pela condição de mulher). Fonte: @manualcaseiro de Penal Parte Especial. Além disso, embora considerássemos que fosse o caso de crime feminicídio e respectivamente, crime hediondo, não mais se impõe o cumprimento de pena obrigatoriamente em regime fechado, sendo essa determinação legal declarada inconstitucional pelo STF diante da violação ao princípio da individualização da pena. Vejamos: O STF declarou inconstitucional o regime inicial fechado obrigatório, por violar o princípio da individualização da pena, devendo analisar o caso concreto e fundamentar sua decisão. Na fixação do regime inicial, o juiz deve observar as Súmulas 718 e 719 do STF. Súmula 718 STF: “A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada.” Não pode fixar regime c/ base a gravidade em abstrato apenas. Súmula 719 STF: “A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige motivação idônea”. Fonte: @manualcaseiro de Legislação Penal Especial. b) No crime de tráfico de entorpecente, é cabível a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, bem como a fixação de regime aberto, quando preenchidos os requisitos legais. CORRETO. Trata-se do atual entendimento do STF. Nesse sentido o Info 821, vejamos: Se o réu, não reincidente, for condenado, por tráfico de drogas, a pena de até 4 anos, e se as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP forem positivas (favoráveis), o juiz deverá fixar o regime aberto e deverá conceder a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, preenchidos os requisitos do art. 44 do CP. A gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para justificar a fixação do regime mais gravoso. STF. 1ª Turma. HC 130411/SP, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 12/4/2016 (Info 821). MANUAL CASEIRO 139 c) Constitui crime de dano, previsto no CP, pichar edificação urbana. Nesse caso, a pena privativa de liberdade consiste em detenção de um a seis meses, que pode ser convertida em prestação de serviços à comunidade. ERRADO. Trata-se de conduta tipificada ao teor da Lei nº 9.605, e não no código penal, sendo figura especial. Vejamos: Lei 9.605/98 Art. 65. Pichar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. § 1º Se o ato for realizado em monumento ou coisa tombada em virtude do seu valor artístico, arqueológico ou histórico, a pena é de 6 (seis) meses a 1 (um) ano de detenção e multa. d) O STJ autoriza a imposição de penas substitutivas como condição especial do regime aberto. ERRADO. A afirmativa da questão é contrária ao entendimento do STJ firmado na Súmula 493. Vejamos. Súmula 493, STJ. É inadmissível a fixação de pena substitutiva (art. 44 do CP) como condição especial ao regime aberto. e) O condenado por contravenção penal, com pena de prisão simples não superior a quinze dias, poderá cumpri-la, a depender de reincidência ou não, em regime fechado, semiaberto ou aberto, estando, em quaisquer dessas modalidades, obrigado a trabalhar. ERRADO. Nos termos do Art. 6º, §2º da Lei de Contravenções, o trabalho é FACULTATIVO, se a pena aplicada, não excede a quinze dias. JÁ CAIU CESPE: (2016. DPC PE. Delegado de Polícia Civil). Se determinada pessoa, maior e capaz, estiver portando certa quantidade de droga para consumo pessoal e for abordada por um agente de polícia, ela a) estará sujeita à pena privativa de liberdade, se for reincidente por este mesmo fato. ERRADO. O porte de droga para consumo pessoal não admite entre as penas aplicadas a pena privativa de liberdade, sendo essa umas das alterações ocasionadas pela “nova” lei de Drogas, deixou de se aplicar pena privativa de liberdade ao usuário. Vamos Recordar! Para o usuário não se aplica a pena privativa de liberdade (pena de reclusão e detenção), e ainda, não se aplica também pena de prisão simples. Fonte: @manualcaseiro de Legislação Penal Especial. E quais penas se aplica? Nesse sentido, dispõe a legislação: Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; MANUAL CASEIRO 140 III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. Não se pune mais o porte de drogas com pena privativa de liberdade, é possível falarmos que a conduta ainda é crime? O professor Gabriel Habib explica, o que ocorreu com o delito de porte de drogas para uso foi justamente o fenômeno da despenalização, tendo em vista que o legislador o manteve com natureza de infração penal, porém com uma sanção mais leve, mais branda, consistente em advertência sobre os efeitos das drogas, prestação de serviços à comunidade e medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. Leis Penais Especiais. Volume único. 9ª ed. 2017. Editora Juspodivm. b) estará sujeita à pena privativa de liberdade, se for condenada a prestar serviços à comunidade e, injustificadamente, recusar a cumprir a referida medida educativa. ERRADO. Mesmo em caso de descumprimento, não se imporá a pena privativa de liberdade. Ademais, conforme dispõe a legislação, em caso descumprimento injustificado, poderá ser submetido à admoestação verbal ou multa. Vejamos: Art. 28. § 6º Para garantia do cumprimento das medidas educativas a que se refere o caput, nos incisos I, II e III, a que injustificadamente se recuse o agente, poderá o juiz submetê-lo, sucessivamente a: I - admoestação verbal; II - multa. c) estará sujeita à pena, imprescritível, de comparecimento a programa ou curso educativo. ERRADO. As penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo (art. 28) serão aplicadas pelo prazo máximo de 5 (cinco) meses, e na hipótese de ser reincidente, pelo prazo máximo de 10 meses. d) poderá ser submetida à pena de advertência sobre os efeitos da droga, de prestação de serviço à comunidade ou de medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. CORRETO. A alternativa encontra-se em total consonância com o Art. 28, I, II e III da Lei nº 11.343/2006. Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. e) deverá ser presa em flagrante pela autoridade policial. ERRADO. Não se impõe prisão em flagrante (2ª fase) ao usuário de droga. Nessa linha, o art. 48, §2º da Lei 11.343/2006 disciplina que “tratando-se da conduta prevista no art. 28 desta Lei, não se imporá prisão em flagrante, devendo o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao juízocompetente ou, na falta deste, assumir o compromisso de a ele comparecer, lavrando-se termo circunstanciado e providenciando-se as requisições dos exames e perícias necessários. JÁ CAIU CESPE: (2016. TJ DF. Magistratura). A respeito do processo e do julgamento previsto na Lei Antidrogas, assinale a opção correta. MANUAL CASEIRO 141 a) O magistrado, durante a persecução penal em juízo, poderá, independentemente da oitiva do MP, autorizar a infiltração de investigador em meio a traficantes, para o fim de esclarecer a verdade real, ou poderá, ainda, autorizar que não atue diante de eventual flagrante, com a finalidade de identificar e responsabilizar o maior número de integrantes de operações de tráfico e distribuição. ERRADO. O procedimento da infiltração de investigador é possível, contudo depende da oitiva do Ministério Público. Nesse sentido, o teor do art. 53, I da Lei nº 11.343/06. Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos nesta Lei, são permitidos, além dos previstos em lei, mediante autorização judicial e ouvido o Ministério Público, os seguintes procedimentos investigatórios: I - a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de investigação, constituída pelos órgãos especializados pertinentes. b) O MP e a defesa poderão arrolar até oito testemunhas na denúncia e na defesa preliminar, respectivamente. ERRADO. Poderão arrolar até 5 (CINCO) testemunhas. Nesse sentido, a legislação: Art. 54. Recebidos em juízo os autos do inquérito policial, de Comissão Parlamentar de Inquérito ou peças de informação, dar-se-á vista ao Ministério Público para, no prazo de 10 (dez) dias, adotar uma das seguintes providências: I - requerer o arquivamento; II - requisitar as diligências que entender necessárias; III - oferecer denúncia, arrolar até 5 (cinco) testemunhas e requerer as demais provas que entender pertinentes. Art. 55. Oferecida a denúncia, o juiz ordenará a notificação do acusado para oferecer defesa prévia, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias. § 1o Na resposta, consistente em defesa preliminar e exceções, o acusado poderá argüir preliminares e invocar todas as razões de defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas que pretende produzir e, até o número de 5 (cinco), arrolar testemunhas. c) O agente que praticar crime de porte de drogas para consumo pessoal será processado e julgado perante uma das Varas de Entorpecentes do DF, sob o rito processual previsto na Lei Antidrogas, tendo em vista que a lei especial prevalece sobre a lei geral. d) O autor do crime de porte de drogas para uso pessoal será processado e julgado perante o Juizado Especial Criminal, sob o rito da Lei n.º 9.099/1995. CORRETO. Conforme disciplina o art. 48, §1º da Lei 11.343/2006, aquele que responder pela conduta de portar drogas para consumo pessoal será processado e julgado pelo procedimento da Lei dos Juizados Especiais Criminais. Nessa esteira, vejamos ao que proclama o texto legal: Art. 48. § 1o O agente de qualquer das condutas previstas no art. 28 desta Lei, salvo se houver concurso com os crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, será processado e julgado na forma dos arts. 60 e seguintes da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais. JURISPRUDÊNCIA: (...) POSSE DE DROGA PARA CONSUMO PRÓPRIO. CONDUTA QUE SE AMOLDA À POSSE DE DROGAS PARA USO PRÓPRIO. DELITO DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO. COMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL. 1. O crime de uso de entorpecente para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei 11.343/06, é de menor potencial ofensivo, o que determina a competência do Juizado Especial estadual, já que ele não está previsto em tratado internacional e o art. 70 da Lei n.11.343/2006 não o inclui dentre MANUAL CASEIRO 142 os que devem ser julgados pela Justiça Federal. (...) (CC 144.910/MS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 13/04/2016). e) A lavratura do auto de prisão em flagrante e o estabelecimento da materialidade do delito exigem a elaboração do laudo definitivo em substância, cuja falta obriga o juiz a relaxar imediatamente a prisão, que será considerada ilegal. ERRADO. Não é necessário o laudo definitivo para a lavratura do APF, conforme disciplina a legislação, é suficiente o laudo de constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por pessoa idônea. Vejamos: Art. 50. § 1º Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento da materialidade do delito, é suficiente o laudo de constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por pessoa idônea. JÁ CAIU CESPE: (2016. TJ DFT. Analista). No que se refere aos crimes previstos na legislação de trânsito e na legislação antidrogas, julgue o próximo item. Em observância ao princípio da individualização da pena, segundo o entendimento pacificado do STF, em se tratando do delito de tráfico ilícito de entorpecentes, a pena privativa de liberdade pode ser substituída por pena restritiva de direitos, preenchidos os requisitos previstos no Código Penal. CORRETO. Nesse sentido, a SEGUNDA TURMA: Tráfico de entorpecentes: fixação do regime e substituição da pena: Não sendo o paciente reincidente, nem tendo contra si circunstâncias judiciais desfavoráveis (CP, art. 59), a gravidade em abstrato do crime do art. 33, ―caputǁ, da Lei 11.343/2006, não constitui motivação idônea para justificar a fixação do regime mais gravoso. Com esse entendimento, a Segunda Turma, após superar o óbice do Enunciado 691 da Súmula do STF, concedeu ―habeas corpusǁ de ofício para garantir ao paciente, condenado à pena de um ano e oito meses de reclusão pela prática do delito de tráfico de drogas, a substituição da reprimenda por duas penas restritivas de direitos, a serem estabelecidas pelo juízo das execuções criminais, bem assim a fixação do regime inicial aberto. O Colegiado entendeu que o paciente atende aos requisitos do art. 44 do CP, razão pela qual o juízo deve considerá-los ao estabelecer a reprimenda, de acordo com o princípio constitucional da individualização da pena. (STF, HC 133028/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, 12.4.2016). JÁ CAIU CESPE: (2015. TJ DFT. Magistratura. Assinale a opção correta à luz da Lei n.º 11.343/2006 (Lei de Drogas), do CP e da jurisprudência do STF. a) O crime de associação para o tráfico, caracterizado pela associação de duas ou mais pessoas para a prática de alguns dos crimes previstos na Lei de Drogas, é delito equiparado a crime hediondo. ERRADO. O crime de associação para o tráfico previsto ao teor do art. 35, da Lei nº 11.343/06 não é considerado figurada equiparada a crime hediondo. Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar*, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta Lei. b) O crime de porte de entorpecentes para consumo pessoal, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, está sujeito aos prazos prescricionais do CP. MANUAL CASEIRO 143 ERRADO. Encontra-se sujeito ao prazo prescricional específico disposto ao teor da Lei nº 11.343/06. Vejamos: Art. 30. Prescrevem em 2 (dois) anos a imposição e a execução das penas, observado, no tocante à interrupção do prazo, o disposto nos arts. 107 e seguintes do Código Penal. c) instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga, poderá ser aplicada causa de redução de pena se o agente for primário, tiver bons antecedentes e não se dedicar a atividades criminosas ou integrar organização criminosa. ERRADO. A causa de diminuição prevista no enunciado da questão aplica-se somente as hipótesesdo §1º do art. 33, e no caso em tela (instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga) a conduta vem descrita ao teor do §2º do art. 33. Vejamos: Previsão da causa de diminuição de pena: Art. 33. § 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. Art. 33. §2º Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga. d) Quanto aos crimes previstos na Lei de Drogas, será isento de pena o agente que, por ser dependente de drogas, for, ao tempo do fato, totalmente incapaz de entender o caráter ilícito da ação praticada. CORRETO. A assertiva encontra-se em consonância com o art. 45, Lei 11.343/2006. Art. 45. É isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Parágrafo único. Quando absolver o agente, reconhecendo, por força pericial, que este apresentava, à época do fato previsto neste artigo, as condições referidas no caput deste artigo, poderá determinar o juiz, na sentença, o seu encaminhamento para tratamento médico adequado. e) Os crimes previstos na Lei de Drogas são insuscetíveis de anistia, graça e indulto, sendo impossível, àqueles que os praticarem, a concessão de liberdade provisória. ERRADO. O STF declarou a inconstitucionalidade da vedação da concessão da liberdade. Nesse sentido, vejamos a posição da Jurisprudência. Ementa: CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL PENAL. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. LEI 11.343/06, ART. 44, CAPUT. VEDAÇÃO À LIBERDADE PROVISÓRIA. INCONSTITUCIONALIDADE (HC 104.339/SP, PLENÁRIO, MIN. GILMAR MENDES, DJE DE 06.12.2012). PRISÃO PREVENTIVA. GRAVIDADE ABSTRATA DO DELITO. FUNDAMENTO INSUBSISTENTE. PRECEDENTES. 1. O Plenário do Supremo Tribunal Federal, no HC 104.339/SP (Min. Gilmar Mendes, DJe de 06.12.2012), em evolução jurisprudencial, declarou a inconstitucionalidade da vedação à liberdade provisória prevista no art. 44, caput, da Lei 11.343/06. Entendeu-se que (a) a mera inafiançabilidade do delito (CF, art. 5º, XLIII) não impede a concessão da liberdade provisória; (b) sua vedação apriorística é incompatível com os princípios constitucionais da presunção de inocência e do devido MANUAL CASEIRO 144 processo legal, bem assim com o mandamento constitucional que exige a fundamentação para todo e qualquer tipo de prisão. 2. Ademais, a gravidade abstrata do delito de tráfico de entorpecentes não constitui fundamentação idônea para a decretação da custódia cautelar. Precedentes. 3. Ordem concedida. (STF - HC: 110359 RJ , Relator: Min. TEORI ZAVASCKI, Data de Julgamento: 19/03/2013, Segunda Turma, Data de Publicação: DJe-061 DIVULG 03-04-2013 PUBLIC 04-04-2013. Fonte: @manualcaseiro de Legislação Penal Especial. JÁ CAIU CESPE: (2015. TRF. Juiz Federal). Com base na Lei Antidrogas (Lei n.º 11.343/2006) e no entendimento sumulado pelo STJ, assinale a opção correta. a) Caso um juiz considere condenar um réu que colaborou, como informante, com uma organização voltada para o tráfico, como consequência lógica, ele deverá condenar esse réu também pela prática de associação para o tráfico. ERRADO. Tratam-se de condutas autônomas. Nessa esteira, o professor Gabriel Habib explica “o tipo penal do art. 37 trata do delito de colaboração com o tráfico. Colaborar como informante significa ajudar, cooperar, contribuir com grupo, organização ou qualquer associação destinada à prática do tráfico de drogas”. O colaborador também pode ser punido pela associação criminosa? Veja-se que o art. 35 trata de associação para a prática dos crimes previstos nos artigos 33, caput e §1º, e 34 da Lei de Drogas. Logo, o colaborador não pode ser condenado pela associação criminosa. b) Um réu condenado por associação para o tráfico não pode ser reconhecido como agente de tráfico privilegiado no mesmo feito, haja vista a incompatibilidade de ordem objetiva preconizada pela Lei Antidrogas. c) No que diz respeito a crime de tráfico internacional de drogas e conforme entendimento sumulado de tribunal superior, o juiz, ao reconhecer, em sua sentença, que a conduta do réu caracteriza tráfico privilegiado, não poderá impor a esse réu pena abaixo do mínimo legal. d) O juiz pode aplicar causa majorante de pena de um sexto a dois terços quando o crime de tráfico de drogas tiver sido perpetrado com emprego ostensivo de arma de fogo para a intimidação difusa ou coletiva. Se a arma tiver sido utilizada em contexto diverso do de crime de tráfico, tratar-se-á de concurso material de crimes. CORRETO. Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se: I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do delito; II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no desempenho de missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância; III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou policiais ou em transportes públicos; MANUAL CASEIRO 145 IV - o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça, emprego de arma de fogo, ou qualquer processo de intimidação difusa ou coletiva; V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal; VI - sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente ou a quem tenha, por qualquer motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e determinação; VII - o agente financiar ou custear a prática do crime. e) O ato infracional análogo ao crime de tráfico de drogas cometido por adolescente, por si só, conduz obrigatoriamente à imposição de medida socioeducativa de internação do jovem, salvo na modalidade de tráfico privilegiado. ERRADO. Nesse sentido, a Súmula 492, STJ. O ato infracional análogo ao tráfico de drogas, por si só, não conduz obrigatoriamente à imposição de medida socioeducativa de internação do adolescente. JÁ CAIU CESPE: (2015. Defensor Público Federal). Considerando que Carlos, maior e capaz, compartilhe com Carla, sua parceira eventual, substância entorpecente que traga consigo para uso pessoal, julgue o item que se segue. A conduta de Carlos configura crime de menor potencial ofensivo. CERTO. Trata-se da figura esculpida ao teor do art. 33, §3º da Lei 11.343/2006, cuja pena máxima é de um ano, não ultrapassando, consequentemente dois anos, o previsto para enquadrar-se no conceito de “crime de menor potencial ofensivo”. Art. 33 § 3º Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28. Vamos Recordar?! Art. 61. Consideram-se infrações de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ounão com multa. Desse modo, contemplamos que infração de menor potencial ofensivo são as contravenções penais e crimes com pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa, sujeitos ou não a procedimento especial, ressalvadas as hipóteses envolvendo violência doméstica e familiar contra mulher (art. 11.340 de 2006, art. 41). JÁ CAIU CESPE: (2014. TJ SE. Com base no que dispõe a Lei Antidrogas (Lei n. o 11.343/2006), assinale a opção correta. a) Um agente pode ser processado e condenado por tráfico privilegiado, em concurso material com associação para o tráfico, por serem autônomos os crimes. ERRADO. Não é possível posto que a participação na associação para o tráfico prejudica um dos requisitos necessários para a concessão da benesse da causa de diminuição de pena. Nesse sentido, o Info do STJ. MANUAL CASEIRO 146 Nessa linha, corroborando ao exposto, preleciona o Professor Gabriel Habib “não se aplica essa causa e diminuição (art. 33, §4º, Lei 11.343/06) ao réu condenado também por associação para o tráfico. Caso o réu seja condenado por tráfico de drogas e, também, por associação para o tráfico, essa condenação denota que ele se dedica à atividade criminosa, ficando excluído o terceiro requisito legal para a incidência do §4º. b) Se uma substância psicotrópica for retirada da lista de uso proscrito da autoridade sanitária competente, o princípio da aplicação da retroatividade da lei penal mais benéfica levaria atipiciadade da conduta no caso de crime de porte e tráfico de drogas cometido antes da exclusão da substância da lista mencionada. ERRADO. Na hipótese de ser retirada, a situação que refere-se a abolitio criminis levaria a causa extintiva da punibilidade, mas não atipicidade antes da exclusão. c) Considere que um traficante de drogas tenha sido preso em flagrante delito e posteriormente tenha confessado espontaneamente seu crime. Suponha ainda que ele tenha sido condenado e recebido a pena base no mínimo legal. Nesse caso, a possibilidade de aplicação da atenuante de confissão espontânea está afastada. CORRETO. Nesse sentido, a Súmula 231, do STJ. A incidência da circunstância atenuante NÃO pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal d) Em relação ao crime de tráfico de drogas, é necessária a efetiva transposição da fronteira estadual para a incidência da causa de aumento de pena. ERRADO. O entendimento do STF é no sentido de que não se exige, nesse sentido o Info 808, STF. Vejamos: Acessar: https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2015/12/info-808-stf.pdf MANUAL CASEIRO 147 e) O porte de entorpecente é crime de perigo real, e sua tipificação visa tutelar a integridade da ordem social no que diz respeito à preservação da saúde pública, razão por que não há que se falar em ausência de periculosidade social da ação. ERRADO. São crimes de perigo abstrato. Nesse sentido, preleciona o professor Gabriel Habib “os delitos previstos na presente lei constituem, em regra, crimes de perigo abstrato, razão pela qual para a configuração deles, basta a prática da conduta pelo agente, que ela, por si só, já gera uma situação de perigo ao bem jurídico saúde pública, não sendo necessária a produção de prova do perigo. Porém, há uma exceção: o art. 39 da lei é um crime de perigo concreto”. JÁ CAIU CESPE: (2014. TJ SE. Analista Judiciário). Julgue os itens a seguir, tendo como referência as disposições da Lei n.º 11.343/2006 (Lei Antidrogas), da Lei n.º 10.826/2003 e suas alterações (Estatuto do Desarmamento), e da Lei n.º 8.069/1990 (ECA). Ainda que presentes os requisitos subjetivos e objetivos previstos no Código Penal, é vedado ao juiz substituir a pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos na hipótese de condenação por tráfico ilícito de drogas. ERRADO. Conforme explica o Professor Gabriel Habib, o STF declarou inconstitucional essa vedação por entender que a vedação genérica e abstrata viola o princípio da individualização da pena. A partir declaração de inconstitucionalidade, o STF e o STJ passaram a permitir a substituição. Note-se que a declaração de inconstitucionalidade deu-se tanto em relação ao §4o, do art. 33, quanto ao art. 44. Art. 33. § 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. O tipo penal encontra-se destacado ante a declaração de inconstitucionalidade da presente vedação. JÁ CAIU CESPE: (2014. Câmara dos Deputados. Analista Judiciário). Julgue os próximos itens, referentes às penas e aos crimes de abuso de autoridade e de tráfico ilícito de entorpecentes. O delito de associação para o tráfico é considerado crime hediondo na legislação penal brasileira. ERRADO. O delito de Associação para o Tráfico (art. 35, Lei nº 11.343/06) não é considerado crime hediondo. JÁ CAIU CESPE: Paulo e Pedro, ambos com bons antecedentes e sem condenação anterior transitada em julgado, associaram-se a outros quatro indivíduos com o intuito de praticar reiteradamente a venda de substâncias entorpecentes. Nessa situação, Paulo e Pedro cometeram delito de associação para o tráfico e, em razão de seus antecedentes pessoais, devem ser beneficiados com diminuição de pena prevista na Lei de Entorpecentes. ERRADO. O enunciado é contrário ao texto legal que disciplina como um dos requisitos para a concessão da benesse da causa de diminuição de pena o agente não se dedicar as atividades criminosas e nem integrar organização criminosa. No caso, os agentes fazem parte de uma associação criminosa para a prática do tráfico, ou seja, há uma dedicação a atividade criminosa, inviabilizando o preenchimento do referido requisito. MANUAL CASEIRO 148 Dos Informativos: Lei de Drogas 2017 O interrogatório, na Lei de Drogas, é o último ato da instrução O art. 400 do CPP prevê que o interrogatório deverá ser realizado como último ato da instrução criminal. Essa regra deve ser aplicada: • nos processos penais militares; • nos processos penais eleitorais e • em todos os procedimentos penais regidos por legislação especial (ex: lei de drogas). Essa tese acima exposta (interrogatório como último ato da instrução em todos os procedimentos penais) só se tornou obrigatória a partir da data de publicação da ata de julgamento do HC 127900/AM pelo STF, ou seja, do dia 11/03/2016 em diante. Os interrogatórios realizados nos processos penais militares, eleitorais e da lei de drogas até o dia 10/03/2016 são válidos mesmo que tenham sido efetivados como o primeiro ato da instrução. STF. Plenário. HC 127900/AM, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 3/3/2016 (Info 816). STJ. 6ª Turma. HC 397382-SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 3/8/2017 (Info 609). Mera intuição de que está havendo tráfico de drogas na casa não autoriza o ingresso sem mandado judicial ou consentimento do morador O ingresso regular da polícia no domicílio, sem autorização judicial, em caso de flagrante delito, para que seja válido, necessita que haja fundadas razões (justa causa) que sinalizem a ocorrência de crime no interior da residência. A mera intuição acerca de eventual traficância praticada pelo agente, embora pudesse autorizar abordagem policial em via pública para averiguação, não configura, por si só, justa causa a autorizar o ingresso em seu domicílio, sem o seu consentimento e sem determinação judicial. STJ. 6ª Turma. REsp 1.574.681-RS, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, julgado em 20/4/2017 (Info 606). É possível aplicar o § 4ºdo art. 33 da LD às “mulas” É possível aplicar o § 4º do art. 33 da LD às “mulas”. O fato de o agente transportar droga, por si só, não é suficiente para afirmar que ele integre a organização criminosa. A simples condição de “mula” não induz automaticamente à conclusão de que o agente integre organização criminosa, sendo imprescindível, para tanto, prova inequívoca do seu envolvimento estável e permanente com o grupo criminoso. Portanto, a exclusão da causa de diminuição de pena prevista no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006 somente se justifica quando indicados expressamente os fatos concretos que comprovem que a “mula” integra a organização criminosa. STF. 1ª Turma. HC 124107, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 04/11/2014. STF. 2ª Turma. HC 131795, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 03/05/2016. STJ. 5ª Turma. HC 387.077-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 6/4/2017 (Info 602). A grande quantidade de droga, isoladamente, não constitui fundamento idôneo para afastar a causa de diminuição de pena do art. 33, § 4º da LD Se o réu é primário e possui bons antecedentes, o juiz pode, mesmo assim, negar o benefício do art. 33, § 4º da LD argumentando que a quantidade de drogas encontrada com ele foi muito elevada? O tema é polêmico. 1ª Turma do STF: encontramos precedentes afirmando que a grande quantidade de droga MANUAL CASEIRO 149 pode ser utilizada como circunstância para afastar o benefício. Nesse sentido: não é crível que o réu, surpreendido com mais de 500 kg de maconha, não esteja integrado, de alguma forma, a organização criminosa, circunstância que justifica o afastamento da causa de diminuição prevista no art. 33, §4º, da Lei de Drogas (HC 130981/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/10/2016. Info 844). 2ª Turma do STF: a quantidade de drogas encontrada não constitui, isoladamente, fundamento idôneo para negar o benefício da redução da pena previsto no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006 (RHC 138715/MS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 23/5/2017. Info 866). STF. 2ª Turma. RHC 138715/MS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 23/5/2017 (Info 866). Obs: o tema acima não deveria ser cobrado em uma prova objetiva, mas caso seja perguntado, penso que a 2ª corrente é majoritária. O confisco de bens apreendidos em decorrência do tráfico pode ocorrer ainda que o bem não fosse utilizado de forma habitual e mesmo que ele não tenha sido alterado É possível o confisco de todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico de drogas, sem a necessidade de se perquirir a habitualidade, reiteração do uso do bem para tal finalidade, a sua modificação para dificultar a descoberta do local do acondicionamento da droga ou qualquer outro requisito além daqueles previstos expressamente no art. 243, parágrafo único, da Constituição Federal. STF. Plenário. RE 638491/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/5/2017 (repercussão geral) (Info 865). Se o réu, não reincidente, for condenado a pena superior a 4 anos e que não exceda a 8 anos, e se as circunstâncias judiciais forem favoráveis, o juiz deverá fixar o regime semiaberto O condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 anos e não exceda a 8 anos, tem o direito de cumprir a pena corporal em regime semiaberto (art. 33, § 2°, b, do CP), caso as circunstâncias judiciais do art. 59 lhe forem favoráveis. Obs: não importa que a condenação tenha sido por tráfico de drogas. A imposição de regime de cumprimento de pena mais gravoso deve ser fundamentada, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima (art. 33, § 3°, do CP) A gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para justificar a fixação do regime mais gravoso. STF. 2ª Turma. HC 140441/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 28/3/2017 (Info 859). Ocorrendo o tráfico de drogas nas imediações de presídio, incidirá a causa de aumento do art. 40, III, da LD, não importando quem seja o comprador Se o agente vende a droga nas imediações de um presídio, mas o comprador não era um dos detentos nem qualquer pessoa que estava frequentando o presídio, ainda assim deverá incidir a causa de aumento do art. 40, III, da Lei nº 11.343/2006? SIM. A aplicação da causa de aumento prevista no art. 40, III, da Lei nº 11.343/2006 se justifica quando constatada a comercialização de drogas nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, sendo irrelevante se o agente infrator visa ou não aos frequentadores daquele local. Assim, se o tráfico de drogas ocorrer nas imediações de um estabelecimento prisional, incidirá a causa de aumento, não importando quem seja o comprador do entorpecente. STF. 2ª Turma. HC 138944/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 21/3/2017 (Info 858). É possível aplicar o § 4º do art. 33 da lei de drogas às “mulas” Segundo o entendimento que prevalece no STF é possível aplicar o § 4º do art. 33 da LD às “mulas”. STF. 1ª Turma. RHC 118008/SP, rel. Min. Rosa Weber, julgado em 24/9/2013 (Info 721). STF. 1ª Turma. HC 124107/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 4/11/2014 (Info 766). STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 606.431/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 01/06/2017. MANUAL CASEIRO 150 2016 A grande quantidade de droga, isoladamente, não constitui fundamento idôneo para afastar a causa de diminuição de pena do art. 33, § 4º da LD Se o réu é primário e possui bons antecedentes, o juiz pode, mesmo assim, negar o benefício do art. 33, § 4º da LD argumentando que a quantidade de drogas encontrada com ele foi muito elevada? O tema é polêmico. 1ª Turma do STF: encontramos precedentes afirmando que a grande quantidade de droga pode ser utilizada como circunstância para afastar o benefício. Nesse sentido: não é crível que o réu, surpreendido com mais de 500 kg de maconha, não esteja integrado, de alguma forma, a organização criminosa, circunstância que justifica o afastamento da causa de diminuição prevista no art. 33, §4º, da Lei de Drogas (HC 130981/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/10/2016. Info 844). 2ª Turma do STF: a quantidade de drogas encontrada não constitui, isoladamente, fundamento idôneo para negar o benefício da redução da pena previsto no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006 (HC 138138/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/11/2016. Info 849). STF. 2ª Turma. HC 138138/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/11/2016 (Info 849). Regime inicial para condenado não reincidente a pena de até 4 anos com circunstâncias judiciais favoráveis Se o réu, não reincidente, for condenado, por tráfico de drogas, a pena de até 4 anos, e se as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP forem positivas (favoráveis), o juiz deverá fixar o regime aberto e deverá conceder a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, preenchidos os requisitos do art. 44 do CP. A gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para justificar a fixação do regime mais gravoso. STF. 1ª Turma. HC 129714/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/10/2016 (Info 843). STF. 1ª Turma. HC 130411/SP, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 12/4/2016 (Info 821). STF. 2ª Turma. HC 133028/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 12/4/2016 (Info 821). Tráfico privilegiado não é hediondo (cancelamento da Súmula 512-STJ) O chamado "tráfico privilegiado", previsto no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas), não deve ser considerado crime equiparado a hediondo. STF. Plenário. HC 118533/MS, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 23/6/2016 (Info 831). O tráfico ilícito de drogas na sua forma privilegiada (art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006) não écrime equiparado a hediondo e, por conseguinte, deve ser cancelado o Enunciado 512 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça. STJ. 3ª Seção. Pet 11.796-DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 23/11/2016 (recurso repetitivo) (Info 595). O que dizia a Súmula 512-STJ: "A aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006 não afasta a hediondez do crime de tráfico de drogas." Tráfico privilegiado não é hediondo (cancelamento da Súmula 512-STJ) O chamado "tráfico privilegiado", previsto no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas), não deve ser considerado crime equiparado a hediondo. STF. Plenário. HC 118533/MS, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 23/6/2016 (Info 831). O tráfico ilícito de drogas na sua forma privilegiada (art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006) não é crime equiparado a hediondo e, por conseguinte, deve ser cancelado o Enunciado 512 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça. STJ. 3ª Seção. Pet 11.796-DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 23/11/2016 (recurso repetitivo) (Info 595). O que dizia a Súmula 512-STJ: "A aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006 não afasta a hediondez do crime de tráfico de drogas." Tráfico privilegiado (art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006) não é crime equiparado a hediondo MANUAL CASEIRO 151 O chamado "tráfico privilegiado", previsto no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas), não deve ser considerado crime equiparado a hediondo. STF. Plenário. HC 118533, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 23/06/2016 (Info 831). Regime inicial para condenado não reincidente a pena de até 4 anos com circunstâncias judiciais favoráveis Se o réu, não reincidente, for condenado, por tráfico de drogas, a pena de até 4 anos, e se as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP forem positivas (favoráveis), o juiz deverá fixar o regime aberto e deverá conceder a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, preenchidos os requisitos do art. 44 do CP. A gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para justificar a fixação do regime mais gravoso. STF. 1ª Turma. HC 130411/SP, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 12/4/2016 (Info 821). Regime inicial para condenado não reincidente a pena de até 4 anos com circunstâncias judiciais negativas (influência da natureza e quantidade da droga) É legítima a fixação de regime inicial semiaberto, tendo em conta a quantidade e a natureza do entorpecente, na hipótese em que ao condenado por tráfico de entorpecentes tenha sido aplicada pena inferior a 4 anos de reclusão. A valoração negativa da quantidade e da natureza da droga representa fator suficiente para a fixação de regime inicial mais gravoso. STF. 2ª Turma. HC 133308/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 29/3/2016 (Info 819). Pureza da droga é irrelevante na dosimetria da pena O grau de pureza da droga é irrelevante para fins de dosimetria da pena. De acordo com a Lei nº 11.343/2006, preponderam apenas a natureza e a quantidade da droga apreendida para o cálculo da dosimetria da pena. STF. 2ª Turma. HC 132909/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 15/3/2016 (Info 818). Inquéritos policiais e ações penais em cursos podem ser utilizados para afastar o benefício do tráfico privilegiado É possível a utilização de inquéritos policiais e/ou ações penais em curso para formação da convicção de que o réu se dedica a atividades criminosas, de modo a afastar o benefício legal previsto no art. 33, § 4º, da Lei n.º 11.343/2006. STJ. 3ª Seção. EREsp 1.431.091-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 14/12/2016 (Info 596). Agente que pratica delitos da Lei de Drogas envolvendo criança ou adolescente responde também por corrupção de menores? • Caso o delito praticado pelo agente e pelo menor de 18 anos não esteja previsto nos arts. 33 a 37 da Lei de Drogas, o réu responderá pelo crime da Lei de Drogas e também pelo delito do art. 244-B do ECA (corrupção de menores). • Caso o delito praticado pelo agente e pelo menor de 18 anos seja o art. 33, 34, 35, 36 ou 37 da Lei nº 11.343/2006: ele responderá apenas pelo crime da Lei de Drogas com a causa de aumento de pena do art. 40, VI. Não será punido pelo art. 244-B do ECA para evitar bis in idem. Na hipótese de o delito praticado pelo agente e pelo menor de 18 anos não estar previsto nos arts. 33 a 37 da Lei de Drogas, o réu poderá ser condenado pelo crime de corrupção de menores, porém, se a conduta estiver tipificada em um desses artigos (33 a 37), não será possível a condenação por aquele delito, mas apenas a majoração da sua pena com base no art. 40, VI, da Lei nº 11.343/2006. STJ. 6ª Turma. REsp 1.622.781-MT, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 22/11/2016 (Info 595). Só poderá incidir a interestadualidade se ficar demonstrado que a intenção do agente era pulverizar a droga em mais de um Estado-membro Se o agente importa a droga com objetivo de vendê-la em determinado Estado da Federação, mas, para chegar até o seu destino, ele tem que passar por outros Estados, incidirá, neste caso, apenas a causa de aumento da MANUAL CASEIRO 152 transnacionalidade (art. 40, I), não devendo ser aplicada a majorante da interestadualidade (art. 40, V) se a intenção do agente não era a de comercializar o entorpecente em mais de um Estado da Federação. As causas especiais de aumento da pena relativas à transnacionalidade e à interestadualidade do delito, previstas, respectivamente, nos incisos I e V do art. 40 da Lei de Drogas, até podem ser aplicadas simultaneamente, desde que demonstrada que a intenção do acusado que importou a substância era a de pulverizar a droga em mais de um Estado do território nacional. Se isso não ficar provado, incide apenas a transnacionalidade. Assim, é inadmissível a aplicação simultânea das causas de aumento da transnacionalidade (art. 40, I) e da interestadualidade (art. 40, V) quando não ficar comprovada a intenção do importador da droga de difundi-la em mais de um Estado-membro. O fato de o agente, por motivos de ordem geográfica, ter que passar por mais de um Estado para chegar ao seu destino final não é suficiente para caracterizar a interestadualidade. STJ. 6ª Turma. HC 214.942-MT, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 16/6/2016 (Info 586). Tráfico cometido nas dependências de estabelecimento prisional e bis in idem A circunstância de o crime ter sido cometido nas dependências de estabelecimento prisional não pode ser utilizada como fator negativo para fundamentar uma pequena redução da pena na aplicação da minorante prevista no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006 e, ao mesmo tempo, ser empregada para aumentar a pena como majorante do inciso III do art. 40. Utilizar duas vezes essa circunstância configura indevido bis in idem. Desse modo, neste caso, esta circunstância deverá ser utilizada apenas como causa de aumento do art. 40, III, não sendo valorada negativamente na análise do § 4º do art. 33. STJ. 5ª Turma. HC 313.677-RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 21/6/2016 (Info 586). O fato de o réu ter ocupação lícita não significa que terá direito, necessariamente, à minorante do § 4º do art. 33 da LD Ainda que o réu comprove o exercício de atividade profissional lícita, se, de forma concomitante, ele se dedicava a atividades criminosas, não terá direito à causa especial de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas). O tráfico de drogas praticado por intermédio de adolescente que, em troca da mercancia, recebia comissão, evidencia (demonstra) que o acusado se dedicava a atividades criminosas, circunstância apta a afastar a incidência da causa especial de