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PROCESSO PENAL ESPECIAL RESUMO LIVRO

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PROCESSO PENAL ESPECIAL
PROVA
CONCEITO E FINALIDADE DA PROVA: 
Prova é o conjunto de elementos produzidos pelas partes ou determinados pelo juiz visando à formação do convencimento quanto a atos, fatos e circunstâncias. (Guilherme de Souza Nucci)
No processo penal, a produção da prova objetiva auxiliar na formação do convencimento do juiz quanto à veracidade das afirmações das partes em juízo. Não se destina, portanto, às partes que a produzem ou requerem, mas ao magistrado, possibilitando, destarte, o julgamento de procedência ou improcedência da ação penal
Em resumo: formar a convicção do juiz sobre os elementos necessários para a decisão da causa.
OBJETO DA PROVA:
Objeto da prova compreendem-se os fatos que, influindo na apuração da existência ou inexistência de responsabilidade penal, são capazes de gerar dúvida no magistrado, exigindo, por isso mesmo, a devida comprovação.
Em resumo: são todos os fatos, principais ou secundários, que reclamem uma apreciação judicial e exijam uma comprovação. 
Todavia, existem determinados fatos que se excluem da necessidade de comprovação, os quais consistem em:
FATOS AXIOMÁTICOS: são aqueles considerados evidentes, que decorrem da própria intuição, gerando grau de certeza irrefutável. Trata-se dos fatos indiscutíveis.
Ex.: a prova da putrefação do cadáver dispensa a prova da morte, pois a primeira circunstância 
(putrefação) decorre da segunda (a morte).
FATOS NOTÓRIOS: São os que fazem parte do patrimônio cultural de cada pessoa, aqui se aplica o princípio notorium non eget probatione – o que é notório dispensa prova.
 Ex.: Na Comarca de Camaquã, denunciando o MP determinada pessoa por crime contra a 
 honra do Prefeito Municipal, será desnecessário comprovar, naquele juízo, que a vítima 
 realmente foi diplomadacomo Chefe do Executivo, pois essa circunstância é por todos sabida 
 na localidade, inclusive pelo juiz que lá jurisdiciona.
PRESUNÇÕES LEGAIS: são juízos de certeza que decorrem da lei. 
 Classificam-se em absolutas (presunções jure et de jure), que não aceita prova em contrário ou relativas 
 (presunções juris tantum). 
 Exemplo de absolutas: a condição de inimputável do indivíduo -18 anos. 
 Exemplo de relativas: admitem a produção de prova em sentido oposto, como a presunção de 
 imputabilidade do +18 anos, que pode ser descaracterizada a partir de laudo de insanidade 
 mental apontando que o indivíduo não possui discernimento.
FATOS INUTEIS: são os que não possuem nenhuma relevância na decisão da causa, dispensando a análise pelo julgador. São circunstâncias incidentais, absolutamente desnecessárias à solução da lide. 
 Ex.: as preferências sexuais de indivíduo acusado de crime de furto.
E quanto aos fatos incontroversos? Consideram-se incontroversos os fatos incontestes, ou seja, que não foram refutados ou impugnados pelas partes. 
Não dispensam a prova, podendo o juiz, inclusive, a teor do art. 156, II, do CPP, determinar, no curso da instrução ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante. E não poderia ser diferente. Afinal, se a própria confissão do crime pelo acusado não é suficiente, por si, para um juízo condenatório, exigindo sempre confronto com os demais elementos de prova angariados ao processo (art. 197 do CPP), é evidente que a simples ausência de contestação quanto a atos, fatos e circunstâncias não tem força suficiente para elidir a produção probatória.
CLASSIFICAÇÃO DAS PROVAS
Quanto ao objeto (ou seja, quanto ao fato que deve ser demonstrado):
 a) Provas diretas: são aquelas que por si sós demonstram o próprio fato objeto da investigação.
 Ex.: o testemunho prestado por determinada pessoa que presenciou um homicídio;
 b) Provas indiretas: são aquelas que não demonstram, diretamente, determinado ato ou fato, mas 
 que permitem deduzir tais circunstâncias a partir de um raciocínio lógico e irrefutável. 
 Ex.: o álibi. 
 Comprovando-se que o suspeito se encontrava em determinado local no dia e hora do crime, é 
 intuitivo que não poderia estar na cena do crime.
Quanto ao valor:
 a) Provas plenas: são aquelas que permitem um juízo de certeza quanto ao fato investigado, 
 podendo ser utilizadas como elemento principal na formação do convencimento do juízo acerca da 
 responsabilidade penal do acusado. 
 Ex.: prova documental, prova testemunhal, prova pericial etc.
 b) Provas não plenas: são aquelas que, inseridas na condição de provas circunstanciais, podem 
 reforçar a convicção do magistrado quanto a determinado fato, não podendo, porém, ser 
 consideradas como o fundamento principal do ato decisório. 
 Ex.: - O indício (art. 239 do CPP); 
 - A fundada suspeita (art. 240, § 2.º, do CPP); e
 - A prova prima facie ou prova de primeira aparência, compreendida como tal, como refere 
 Hélio Tornaghi, “aquela que deixa desde logo no espírito do juiz a convicção da veracidade 
 de um fato embora possa ser infirmada por outras palavras. Para exemplificar: se uma 
 pessoa indefesa, à noite, dentro da própria casa, mata um ladrão contumaz, que arrombou 
 uma janela, prima facie, isto é, à primeira vista, tudo convence de que o homicídio foi 
 praticado em legítima defesa”.
Quanto ao sujeito:
 a) Provas reais: são aquelas que não resultam, diretamente, da pessoa, mas de algo externo e que 
 também comprova a existência do fato. 
 Ex.: o cadáver, a arma empregada na prática do crime etc.
 b) Provas pessoais: são aquelas que decorrem da pessoa.
 Ex.: o interrogatório, o testemunho, os laudos periciais etc.
PRINCIPIOS GERAIS:
Princípio do contraditório: Significa que toda prova realizada por uma das partes admite a produção de uma contraprova pela outra. 
Princípio da comunhão: Uma vez trazidas aos autos, as provas não mais pertencem à parte que as acostou, mas sim ao processo, podendo, desse modo, ser utilizadas por quaisquer dos intervenientes, seja o juiz, sejam as demais partes
Princípio da oralidade: Tanto quanto possível, as provas devem ser realizadas oralmente, na presença do juiz. Isto existe para que, nos momentos relevantes do processo, predomine a palavra falada, possibilitando-se ao magistrado participar dos atos de obtenção da prova. 
 EX.: o depoimento da testemunha: mais valor terá a prova se realizada em audiência do que em meras declarações escritas trazidas pelas partes e incorporadas ao processo. 
→ A oralidade, mais do que um princípio, traduz-se como uma forma de conduzir o processo, 
 implicando dois subprincípios: a concentração e a imediação.
 3.1. Subprincípio da concentração: A produção probatória deve ser concentrada em uma só 
 audiência ou, ao menos, no menor número possível delas. 
Este critério de condução do processo, já inserido em diplomas legais, como a Lei 9.099/1995 (art. 81), foi incorporado ao Código de Processo Penal pela Lei 11.719/2008, ao estabelecer, nos arts. 400, 411 e 431 (procedimento ordinário, rito do júri e procedimento sumário, respectivamente), a concentração das provas orais em audiência única de instrução.
Subprincípio da imediação: É necessário assegurar ao juiz o contato físico com as provas no ato de sua obtenção, inclusive para que possa ele conservarem sua memória aspectos importantes do momento em que tenham sido aquelas provas produzidas e, desse modo, valorá-las com maior exatidão no ato da sentença.
Princípio da publicidade: Os atos que compõem o procedimento, inclusive a produção de provas, não devem ser efetuados secretamente. Visa-se, aqui, a garantir ao cidadão comum acesso e confiança no sistema de administração da justiça.
ATENÇÃO: há situações em que tanto a Constituição Federal como a legislação infraconstitucional asseguram o segredo de justiça:
Art. 93, IX, da CF: “todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação”.
Art. 792, § 1.º, do CPP: “Se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato processual, puder resultar escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem, o juiz, ou o tribunal, câmara, ou turma, poderá, de ofício ou a requerimento da parte ou do Ministério Público, determinar que o ato seja realizado a portas fechadas, limitando o número de pessoas que possam estar presentes”.
Art. 201, § 6.º, do CPP: “O juiz tomará as providências necessárias à preservação da intimidade, vida privada, honra e imagem do ofendido, podendo, inclusive, determinar o segredo de justiça em relação aos dados, depoimentos e outras informações constantes dos autos a seu respeito para evitar sua exposição aos meios de comunicação”.
Art. 234-B do CP: “Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título (crimes contra a
dignidade sexual) correrão em segredo de justiça”.
Princípio da autorresponsabilidade das partes: as partes assumirão as consequências de sua inatividade, erro ou negligência3 relativamente à prova de suas alegações. Logo, se na ação penal pública não providenciar o MP a prova da autoria da infração e de sua materialidade, a consequência será a absolvição do acusado. Por outro lado, nada impede o juiz de utilizar, como fator de condenação, o testemunho de pessoa que, apesar de arrolada pela defesa, tenha contribuído para incriminar o réu, em vez de beneficiá-lo.
Princípio da não autoincriminação (nemo tenetur se detegere): Significa que o acusado não poderá ser obrigado a produzir provas contra si. Em face desse privilégio que lhe é assegurado, não está o acusado, por exemplo, obrigado a responder as perguntas que lhe forem formuladas por ocasião de seu interrogatório, tampouco a fornecer padrões vocais ou letra de próprio punho visando a subsidiar prova pericial requerida pelo Ministério Público.
SISTEMA DE APRECIAÇÃO DE PROVAS:
Especificamente em relação ao direito brasileiro, o Código de Processo Penal adotou, como regra, o livre convencimento do juiz fundamentado na prova produzida sob o contraditório judicial (art. 155, caput, do CPP). Não obstante, como adiante será demonstrado, remanescem, ainda, algumas exceções que se constituem resquícios dos sistemas da íntima convicção e da prova tarifada.
Sistema do livre convencimento motivado (ou persuasão racional)
O sistema do livre convencimento está previsto no art. 155, caput, do CPP, ao dispor que o juiz formará sua convicção Sistema do livre convencimento motivado (ou persuasão racional) pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. 
A partir dessa redação, conclui-se, em relação a esse sistema:
Não limita o juiz aos meios de prova regulamentados em lei: Isto significa que, sendo lícitas e legítimas, mesmo as provas inominadas, isto é, sem nenhuma regulamentação, poderão ser admitidas na formação da convicção do julgador.
2) Caracteriza-se pela ausência de hierarquia entre os meios de prova: Outra decorrência do livre convencimento é a de que não estabelece valor prefixado na legislação para cada meio de prova, nada impedindo que o juiz venha a conferir maior valor a determinadas provas em detrimento de outras. 
 Ex.: o Juiz pode discordar da prova pericial e condenar ou absolver o réu com base, unicamente, em prova testemunhal; e, também, convencer-se quanto à versão apresentada por testemunha não compromissada, infirmando o depoimento de outra que tenha sido juramentada. 
Essa liberdade valorativa do magistrado, entretanto, não é absoluta, encontrando restrições impostas pela Lei e pela Constituição, quais sejam:
A) Necessidade de motivação: Esta exigência decorre, sobretudo, da CF, a qual, no art. 93, IX, obriga à motivação das decisões judiciais. Mas também se encontra implícita na regulamentação estabelecida pelo próprio CPP, o qual, entre outros dispositivos, no art. 381, III, estabelece que a sentença deva conter a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundar a decisão.
B) As provas deverão constar dos autos do processo judicial: Não pode o magistrado formar sua convicção com base em elementos estranhos ao processo criminal. A propósito, na própria exposição de motivos do Código de Processo Penal, o legislador de 1941 asseverou que “o juiz fica adstrito às provas constantes dos autos”.
3) Exige, para fins de condenação, que as provas nas quais se fundar o juiz tenham sido produzidas em observância às garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa: Conforme dispõe o art. 155 do CPP, a liberdade de valoração restringe-se à prova produzida sob o contraditório judicial.
Ressalte-se que o referido dispositivo não proibiu o magistrado de utilizar eventuais provas obtidas na fase extrajudicial como elementos de convicção secundários, restringindo, apenas, a possibilidade de serem estes os fundamentos exclusivos do seu convencimento.
E mais: o legislador, com muita propriedade, ressalvou da necessidade do contraditório judicial as provas realizadas em caráter cautelar, antecipadamente e não sujeitas a repetição, assim compreendidas aquelas consideradas urgentes, que exigem produção imediata, antes mesmo de
iniciada a ação penal, sob pena de perecimento.
Exemplos:
Interceptação telefônica realizada na fase do inquérito policial (art. 3.º, I, da Lei 9.296/1996), mediante ordem judicial, na qual venha a ser captado relato do investigado a respeito de um crime que cometeu;
Busca domiciliar ordenada pelo juiz na fase inquisitorial em que sejam apreendidos documentos ou objetos capazes de incriminar o acusado;
Perícia realizada nos vestígios deixados pela infração penal, quando sujeitos ao desaparecimento pelo decurso do tempo (v.g., o exame de lesões corporais) etc.
Ora, lícitas e legítimas estas provas, poderão elas ser usadas como fundamentos de decisão condenatória, ainda que tenham
sido produzidas em fase de investigação criminal e sem as garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa.
DA INTIMA CONVICÇÃO (ou prova livre, ou certeza moral do juiz)
Trata-se do sistema que confere ao julgador total liberdade na formação de seu convencimento, dispensando-se qualquer motivação sobre as razões que o levaram a esta ou àquela decisão, sendo irrelevante a circunstância de encontrar-se ou não a prova nos autos.
Nos julgamentos pelo Júri, com efeito, não há motivação, limitando-se os jurados a responder, secretamente e sem nenhuma comunicação entre si, os quesitos que lhes são formulados pelo juiz e que correspondem às teses acusatória e defensiva. Até por não existir necessidade de fundamentação, não está o Conselho de Sentença, necessariamente, vinculado às provas existentes no processo, podendo decidir a partir de critérios subjetivos, sendo possível até mesmo que venha a julgar em sentido contrário ao que indicarem os elementos angariados aos autos. Tanto é que, conquanto admita o Código de Processo Penal, no art. 593, III, “d”, apelação das decisõesdo Tribunal do Júri quando tiverem sido manifestamente contrárias à prova dos autos, proíbe, pelo mesmo motivo, a interposição de uma segunda apelação (art. 593, § 3.º). 
Ao assim disciplinar, partiu o legislador do princípio de que, se, em dois julgamentos sucessivos, jurados distintos decidiram contra a prova dos autos, é porque julgaram segundo a sua íntima convicção, vale dizer, de acordo com o seu conhecimento pessoal em torno dos fatos ou em consonância com a realidade e costumes do lugar em que vivem, descabendo, deste modo, uma nova anulação do julgamento para submissão do réu a um terceiro júri em face da contrariedade do segundo veredicto em relação ao acervo probatório do processo.
Sistema da prova tarifada (ou certeza moral do legislador, ou verdade legal)
No sistema da tarifação, a lei estabelece o valor de cada prova, não possuindo o juiz discricionariedade para decidir contra a previsão legal expressa. Tal como ocorre com o livre convencimento, também aqui se exige que estejam incorporados ao processo os elementos de convicção, não sendo lícito ao magistrado decidir com base em provas extra-autos.
No âmbito do Código de Processo Penal, existem algumas situações nas quais, como exceção, o legislador adotou o sistema da prova tarifada, vinculando o juiz a um valor predeterminado da prova. É o que ocorre, por exemplo, no art. 62, dispondo que a extinção da punibilidade pela morte do réu apenas poderá ser determinada à vista de certidão de óbito, e, mesmo isso, após prévia oitiva do Ministério Público. E, também, do contido no art. 155, parágrafo único, do mesmo diploma, estabelecendo que a prova de estado das pessoas, no âmbito penal, exige idênticas restrições às estabelecidas pela lei civil – comprovação via certidão. Nesses dois casos o juiz está vinculado ao texto legal, não podendo admitir, como prova das situações narradas, elementos outros que não aqueles determinados na legislação.
FASE DO PROCEDIMENTO PROBATÓRIO 
Proposição: é a fase na qual as provas são requeridas pelas partes ao julgador ou por elas trazidas à sua admissão. 
Existem dois momentos de proposição das provas: 
O ordinários, os quais correspondem, no polo acusatório, à denúncia e à queixa-crime, e, no polo defensivo, à fase da resposta à acusação ou defesa prévia.
E o extraordinários, que se traduzem como todas aquelas oportunidades de requerimento de provas depois de já iniciada ou encerrada a instrução criminal.
 	→ A diferença entre tais etapas é no momento da admissão pelo juiz, que se vê na admissão.
Admissão: momento no qual as provas produzidas ou requeridas pelas partes serão deferidas ou não pelo magistrado.
Provas propostas nos momentos ordinários somente podem ser indeferidas quando impertinentes ao processo, sendo isto, ainda, devidamente explicitado na decisão judicial. Por outro lado, provas propostas nos momentos extraordinários (no curso de uma audiência, por exemplo) poderão ser indeferidas a partir da consideração pelo juiz de que são desnecessárias para a formação de seu convencimento, fazendo-o, é claro, sempre fundamentadamente.
Produção: Atos processuais destinados a trazer para dentro do processo as provas propostas pelas partes e admitidas pelo magistrado. 
Exemplos: oitiva de testemunhas, requisição de documentos etc.
Valoração: Normalmente, é o momento da própria sentença, no qual o juiz, utilizando-se de seu livre convencimento e sempre motivando seu entendimento, apreciará cada uma das provas realizadas, conferindo-lhes o valor que julgar pertinente.
A VALORAÇÃO DA PROVA PENAL PELO JUIZ
O processo penal brasileiro, como examinamos alhures, sustenta-se no sistema do livre convencimento do juiz. Assim dispunha o art. 157 do CPP antes da vigência da Lei 11.690/2008 e assim continua dispondo o art. 155, caput, do CPP com a nova redação que lhe foi conferida pela referida lei.
Da adoção deste critério de apreciação decorre a regra geral de que não está o juiz condicionado a valores predeterminados em lei, podendo valorar a prova como bem entender, bastando, para tanto, que fundamente sua decisão. Exemplo disso encontra-se no art. 182, estabelecendo que o juiz não está vinculado à prova pericial, podendo dela discordar no todo ou em parte.
Não obstante, existem dentro do próprio Código determinadas situações que limitam ou vinculam o juiz na análise da prova, de tal forma que não pode ele, sob pena de reforma ou até mesmo de cassação da sentença, distanciar-se da referência legal. São hipóteses nas quais o Estatuto Adjetivo adotou, por exceção, o sistema da prova tarifada, abandonando a regra do livre convencimento.
Há dois tipos de tarifação: absoluta e relativa.
Tarifação absoluta compreendem-se as situações em que o juiz, efetivamente, não possui nenhuma liberdade na formação de sua convicção, ficando restrito aos termos ditados pela lei. 
Ex 1.: Art. 62 do Código de Processo Penal, dispondo que somente à vista da certidão de óbito do acusado poderá o juiz julgar extinta a punibilidade pela morte do agente (art. 107, I, do Código Penal). 
Neste caso, não servem testemunhos, fotografias, documentos, reportagens jornalísticas ou quaisquer outros meios probatórios, pois a lei é taxativa quanto ao valor da prova. 
Ausente a certidão, aguarda-se, se for o caso, a prescrição para, somente após, por esse motivo e não pela morte, declarar-se a extinção da punibilidade.
Ex 2.: Art. 92 do CPP, obrigando o juiz criminal a suspender o processo quando, no seu curso, surgir
questão prejudicial de natureza extrapenal que verse sobre o estado das pessoas. 
Neste caso, o processo criminal não poderá voltar ao seu curso antes do trânsito em julgado da decisão civil sobre a questão prejudicial, dependendo o magistrado criminal, para o fim de sentença, do desiderato daquele processo. Ilustra-se: Denunciado por bigamia, alega o acusado que o primeiro casamento foi nulo. 
Nesse caso, impõe-se a suspensão do processo criminal até a decisão definitiva, no juízo cível, quanto à validade do primeiro matrimônio.
Ex 3.: Art. 155, § único, do Código de Processo Penal, situação em que, ainda que não se trate de questão prejudicial (art. 92 do CPP), mesmo assim depende o juiz da correspondente certidão para ter como comprovado o estado de casado, de filiação, de paternidade etc.
Ex 4.: Prova da menoridade do indivíduo, questão está ligada ao estado da pessoa e que somente pode ser comprovada porbdocumento idôneo, descabido qualquer outro meio. Neste sentido a Súmula 74 do STJ dispondo que, “para efeitos penais, o reconhecimento da menoridade do réu requer prova por documento hábil”
Tarifação relativa depreendem-se aquelas hipóteses em que o juiz, embora esteja adstrito a critérios de valoração predefinidos em lei, não fica totalmente limitado aos termos legais, permitindo-lhe a própria legislação uma certa discricionariedade. 
Ex 1 .: Art. 158 do CPP, estabelecendo que a obrigatoriedade do exame de corpo de delito nas infrações que deixarem vestígios e proibindo ao magistrado de suprir esta prova por meio da confissão.
No entanto, o art. 167 do mesmo diploma legal prevê que, se tiverem desaparecido os vestígios, inviabilizando-se, consequentemente, a realização da perícia, poderá esta ser suprida pela prova testemunhal. Pois bem, neste aspecto, vale dizer, quanto à ocorrência ou não deste suprimento, possui liberdade o magistrado, podendo entender que a prova testemunhal é por demais frágil, não sendo suficiente para dispensar a perícia, ou, ao contrário, que é robusta, suprindo a falta do exame técnico em face do desaparecimento dos vestígios da infração.
Ex 2.: Art. 197 do Código de Processo Penal, vedando que se considere a confissão como prova cabal (irrefutável) e determinando que sua valoração dependa que seja ela confirmada e compatibilizada como os demais elementos coligidos ao processo. Não obstante esta obrigatoriedade de confrontação da confissão com as outras provas, ao realizar este cotejo possui o juiz liberdade para verificar se estes outroselementos confirmam ou não a confissão do indivíduo.
INTERROGATÓRIO DO RÉU (ARTS. 185 A 196 DO CPP)
Conceito: O interrogatório é ato por meio do qual procede o magistrado à oitiva do réu. Corolário da ampla defesa e do contraditório, sua oportunidade está prevista em todos os procedimentos criminais, embora possa existir variação quanto ao momento em que deva ser aprazado. Antes das reformas introduzidas ao Código de Processo Penal pela Lei 11.719/2008, era normalmente realizado no início do processo, logo após o recebimento da denúncia ou queixa e citação.
Características:
Apresenta o interrogatório do réu as seguintes características essenciais:
Obrigatoriedade: Tratando-se da oportunidade de que dispõe o réu de informar ao juízo sua versão quanto aos fatos, em verdadeiro exercício de autodefesa, o aprazamento do interrogatório do réu no curso do processo penal é imprescindível, sob pena de nulidade processual (art. 564, III, e, do CPP).
→ Há violação ao art. 185 do Código de Processo Penal quando o réu não é interrogado, mesmo que preso no período que medeia entre a lavratura da sentença e o julgamento da apelação, até porque o interrogatório é meio de prova
Ato personalíssimo do imputado: Somente o imputado é que pode e deve ser interrogado, não sendo possível sua representação, substituição ou sucessão neste ato por qualquer pessoa.
E se o acusado não possuir condições mentais para ser interrogado? Neste caso, é preciso distinguir duas hipóteses: 
b.1) A incapacidade sobreveio à prática da infração penal: neste caso, não há falar em interrogatório do acusado em face da regra inscrita no art. 152 do CPP, segundo a qual a doença mental superveniente à infração penal faz com que o processo criminal permaneça paralisado até que se restabeleça o imputado ou, acrescentamos, até que prescreva o crime atribuído, visto que a fluência do prazo prescricional não ficará suspensa nesse interregno.
b.2) A incapacidade mental do acusado preexistia ao tempo da infração penal: dispõe o art. 151 do CPP que, nesta situação, o processo criminal terá prosseguimento, assistido o acusado por curador (na prática, o seu próprio advogado ou, caso não possua, outro nomeado pelo juízo). Não possuindo o réu condições de se expressar validamente perante o juiz, restará prejudicado o ato, não sendo lícito, por exemplo, que se realize o interrogatório na pessoa do curador que lhe foi nomeado. Caberá, então, ao juiz “ordenar o prosseguimento da ‘persecutio criminis’, com a presença do mencionado curador, que atuará, ressalvados os atos de caráter personalíssimo, como representante do imputado nos demais atos processuais”.
Oralidade: A regra é que seja o interrogatório realizado por meio de perguntas e respostas orais.
Publicidade: O interrogatório, em regra, será um ato público, podendo qualquer pessoa assistir a ele.
Individualidade: Na hipótese de existirem dois ou mais réus no mesmo processo, não permite o Código o interrogatório conjunto. Será preciso, conforme a redação do art. 191, que proceda o magistrado ao interrogatório em separado, não sendo possível sequer que um assista ao interrogatório do outro, mesmo que já tenha sido interrogado. 
 → Isso é importante tendo em vista que, havendo, eventualmente, versões contraditórias, poderá o juiz 
 acareá-los, prova esta que restaria sem nenhuma eficácia caso um dos acusados tivesse assistido à versão 
 do outro.
Faculdade de perguntas pela acusação e defesa: Anteriormente à alteração introduzida ao CPP pela Lei 10.792/2003, considerava-se o interrogatório como ato personalíssimo do juiz em razão da circunstância de que, além dos questionamentos determinados pela antiga redação do art. 188 (hoje correspondente ao art. 187), unicamente ao magistrado cabia eleger as perguntas a serem realizadas ao interrogado. Na atualidade, o art. 188 do CPP passou a contemplar às partes a faculdade de realizarem questionamentos ao acusado (“após proceder ao interrogatório, o juiz indagará das partes se restou algum fato para ser esclarecido, formulando as perguntas correspondentes se o entender pertinente e relevante”).
PROVA TESTEMUNHAL (ARTS. 202 A 225 DO CPP)
Testemunha é a pessoa que, perante o juiz, declara o que sabe acerca dos fatos sobre os quais se litiga no processo penal, ou as que são chamadas a depor, perante o juiz, sobre as suas percepções sensoriais a respeito dos fatos imputados ao acusado.
Doutrinariamente, tem-se aplicado a seguinte classificação das testemunhas:
Testemunha referida: é aquela que, embora não tenha sido arrolada nos momentos ordinários (denúncia ou queixa, para acusação; resposta à acusação, para o réu), poderá ser inquirida pelo juiz ex officio ou a requerimento das partes em razão de ter sido citada por uma outra testemunha, chamada de referente (art. 209, § 1.º, do CPP). De acordo com o art. 401, § 1.º, do CPP, esta categoria não é considerada para efeito de contagem do número máximo de testemunhas admitido em cada procedimento penal.
Testemunha judicial: considera-se aquela inquirida pelo juiz independentemente de ter sido arrolada por qualquer das partes ou de ter sido requerida a sua oitiva.
Neste caso, a inquirição ex officio fundamenta-se no poder-dever que assiste ao magistrado de, buscando a verdade real, determinar as providências necessárias para esclarecer as dúvidas que porventura tiver. Tratando desta espécie de prova testemunhal, estabelece o art. 209 do CPP que “o juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir outras testemunhas, além das indicadas pelas partes”. Precitada disposição guarda simetria com o art. 156, II, do CPP que, ao tratar das provas em geral, viabiliza ao juiz, depois de iniciada a instrução ou antes de proferir sentença, determinar a produção de provas para dirimir dúvidas relevantes.
Testemunha própria: é a testemunha chamada para ser ouvida sobre o fato objeto do litígio, seja porque os tenha presenciado, seja porque deles ouviu dizer.
Testemunha imprópria ou instrumental: é a que prestará depoimento sobre fatos que não se referem diretamente ao mérito da ação penal. Neste caso, a testemunha não estará depondo sobre algo que presenciou ou soube ter ocorrido, e sim sobre um ato da persecução criminal que tenha assistido ou participado. É o caso, por exemplo, da testemunha que presenciou a apresentação de um preso em flagrante (art. 304, § 2.º, do CPP); a testemunha que esteve presente na audiência em que o interrogado confessou o crime espontaneamente, sem nenhuma coação; a testemunha que presenciou a apreensão de objeto realizada pela autoridade policial em diligência de busca (art. 245, § 7.º, do CPP) etc.
Testemunha numerária: corresponde à testemunha regularmente compromissada, na forma do art. 203 do CPP.
Testemunha não compromissada ou informante: contempladas no art. 208 do CPP, são aquelas dispensadas do compromisso em razão de presunção jure et jure no sentido de que são suspeitas as suas declarações. São os menores de 14 anos, os doentes mentais e os parentes do imputado elencados no art. 206 do CPP (cônjuge, ascendente, descendentes, irmão e afins na linha reta). De acordo com o art. 401 § 1.º, do CPP, esta categoria de testemunhas não será computada para efeito de determinação do número máximo de pessoas que podem ser arroladas pelas partes nos momentos ordinários do processo criminal.
Testemunha direta: trata-se da testemunha que presenciou os fatos por meio dos sentidos. Embora o Código não faça distinção em termos de valoração, incumbindo ao juiz definir o poder de convencimento de cada testemunha segundo a sua livre apreciação, é certo que a testemunha direta possui melhores condições de fornecer ao magistrado os elementos de que necessita para o deslinde do processo, pois assistiu o fato criminoso, podendo narrá-lo com menor risco de distorção do que a testemunha que soube do evento por meio de outras fontes.
Testemunha indireta: é aquela que declara ao magistrado sobre o que não presenciou, mas soube ou ouviu dizer. Teoricamente,em que pese tenha o magistrado liberdade na formação de sua convicção, trata-se de testemunha mais frágil, impondo-se certa reserva ao magistrado na valoração de seu depoimento.
INTERCEPTAÇÕES TELEFÔNICAS (ART. 5.º, XII, DA CF E LEI 9.296/1996)
A expressão interceptação telefônica lato sensu corresponde a um gênero, que se subdivide em três espécies distintas, a saber:
Interceptação telefônica stricto sensu: hipótese na qual um terceiro viola a conversa telefônica de duas ou mais pessoas, registrando ou não os diálogos mantidos, sem que nenhum dos interlocutores tenha conhecimento da presença do agente violador.
Escuta telefônica: situação na qual um terceiro viola a conversa telefônica mantida entre duas ou mais pessoas, havendo a ciência de um ou alguns dos interlocutores de que os diálogos estão sendo captados.
Gravação telefônica: aqui não há a figura de terceiro. Um dos interlocutores, simplesmente, registra a conversa que mantém com o outro. Não há, propriamente, uma violação de conversa telefônica, já que o registro está sendo feito por um dos indivíduos que mantém o diálogo.
INTERROGATÓRIO DO RÉU (ARTS. 185 A 196 DO CPP)
Conceito: O interrogatório é ato por meio do qual procede o magistrado à oitiva do réu. Corolário da ampla defesa e do contraditório, sua oportunidade está prevista em todos os procedimentos criminais, embora possa existir variação quanto ao momento em que deva ser aprazado. Antes das reformas introduzidas ao Código de Processo Penal pela Lei 11.719/2008, era normalmente realizado no início do processo, logo após o recebimento da denúncia ou queixa e citação.
Apresenta o interrogatório do réu as seguintes características essenciais:
 Obrigatoriedade: Tratando-se da oportunidade de que dispõe o réu de informar ao juízo sua versão quanto aos fatos, em verdadeiro exercício de autodefesa, o aprazamento do interrogatório do réu no curso do processo penal é imprescindível, sob pena de nulidade processual (art. 564, III, e, do CPP). 
→ Há violação ao art. 185 do Código de Processo Penal quando o réu não é interrogado, mesmo que preso no período que medeia entre a lavratura da sentença e o julgamento da apelação, até porque o interrogatório é meio de prova.
Ato personalíssimo do imputado: Somente o imputado é que pode e deve ser interrogado, não sendo possível sua representação, substituição ou sucessão neste ato por qualquer pessoa. 
E se o acusado não possuir condições mentais para ser interrogado? Neste caso, é preciso distinguir duas hipóteses: 
b.1) A incapacidade sobreveio à prática da infração penal: neste caso, não há falar em interrogatório do acusado em face da regra inscrita no art. 152 do CPP, segundo a qual a doença mental superveniente à infração penal faz com que o processo criminal permaneça paralisado até que se restabeleça o imputado ou, acrescentamos, até que prescreva o crime atribuído, visto que a fluência do prazo prescricional não ficará suspensa nesse interregno.
b.2) A incapacidade mental do acusado preexistia ao tempo da infração penal: dispõe o art. 151 do CPP que, nesta situação, o processo criminal terá prosseguimento, assistido o acusado por curador (na prática, o seu próprio advogado ou, caso não possua, outro nomeado pelo juízo). Não possuindo o réu condições de se expressar validamente perante o juiz, restará prejudicado o ato, não sendo lícito, por exemplo, que se realize o interrogatório na pessoa do curador que lhe foi nomeado. Caberá, então, ao juiz “ordenar o prosseguimento da ‘persecutio criminis’, com a presença do mencionado curador, que atuará, ressalvados os atos de caráter personalíssimo, como representante do imputado nos demais atos processuais”.
Oralidade: A regra é que seja o interrogatório realizado por meio de perguntas e respostas orais.
Publicidade: O interrogatório, em regra, será um ato público, podendo qualquer pessoa assistir a ele.
Individualidade: Na hipótese de existirem dois ou mais réus no mesmo processo, não permite o Código o interrogatório conjunto. Será preciso, conforme a redação do art. 191, que proceda o magistrado ao interrogatório em separado, não sendo possível sequer que um assista ao interrogatório do outro, mesmo que já tenha sido interrogado. Isso é importante tendo em vista que, havendo, eventualmente, versões contraditórias, poderá o juiz acareá-los, prova esta que restaria sem nenhuma eficácia caso um dos acusados tivesse assistido à versão do outro.
Faculdade de perguntas pela acusação e defesa: Anteriormente à alteração introduzida ao Código de Processo Penal pela Lei 10.792/2003, considerava-se o interrogatório como ato personalíssimo do juiz em razão da circunstância de que, além dos questionamentos determinados pela antiga redação do art. 188 (hoje correspondente ao art. 187), unicamente ao magistrado cabia eleger as perguntas a serem realizadas ao interrogado. Na atualidade, o art. 188 do CPP passou a contemplar às partes a faculdade de realizarem questionamentos ao acusado (“após proceder ao interrogatório, o juiz indagará das partes se restou algum fato para ser esclarecido, formulando as perguntas correspondentes se o entender pertinente e relevante”).
PROVA TESTEMUNHAL (ARTS. 202 A 225 DO CPP)
Testemunha é a pessoa que, perante o juiz, declara o que sabe acerca dos fatos sobre os quais se litiga no processo penal, ou as que são chamadas a depor, perante o juiz, sobre as suas percepções sensoriais a respeito dos fatos imputados ao acusado.
Doutrinariamente, tem-se aplicado a seguinte classificação das testemunhas:
Testemunha referida: é aquela que, embora não tenha sido arrolada nos momentos ordinários (denúncia ou queixa, para acusação; resposta à acusação, para o réu), poderá ser inquirida pelo juiz ex officio ou a requerimento das partes em razão de ter sido citada por uma outra testemunha, chamada de referente (art. 209, § 1.º, do CPP). De acordo com o art. 401, § 1.º, do CPP, esta categoria não é considerada para efeito de contagem do número máximo de testemunhas admitido em cada procedimento penal.
Testemunha judicial: considera-se aquela inquirida pelo juiz independentemente de ter sido arrolada por qualquer das partes ou de ter sido requerida a sua oitiva. Neste caso, a inquirição ex officio fundamenta-se no poder-dever que assistebao magistrado de, buscando a verdade real, determinar as providências necessárias para esclarecer as dúvidas que porventura tiver. Tratando desta espécie de prova testemunhal, estabelece o art. 209 do CPP que “o juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir outras testemunhas, além das indicadas pelas partes”. Precitada disposição guarda simetria com o art. 156, II, do CPP que, ao tratar das provas em geral, viabiliza ao juiz, depois de iniciada a instrução ou antes de proferir sentença, determinar a produção de provas para dirimir dúvidas relevantes.
Testemunha própria: é a testemunha chamada para ser ouvida sobre o fato objeto do litígio, seja porque os tenha presenciado, seja porque deles ouviu dizer.
Testemunha imprópria ou instrumental: é a que prestará depoimento sobre fatos que não se referem diretamente ao mérito da ação penal. Neste caso, a testemunha não estará depondo sobre algo que presenciou ou soube ter ocorrido, e sim sobre um ato da persecução criminal que tenha assistido ou participado. É o caso, por exemplo, da testemunha que presenciou a apresentação de um preso em flagrante (art. 304, § 2.º, do CPP); a testemunha que esteve presente na audiência em que o interrogado confessou o crime espontaneamente, sem nenhuma coação; a testemunha que presenciou a apreensão de objeto realizada pela autoridade policial em diligência de busca (art. 245, § 7.º, do CPP) etc.
Testemunha numerária: corresponde à testemunha regularmente compromissada, na forma do art. 203 do CPP.
Testemunha não compromissada ou informante: contempladas no art. 208 do CPP, são aquelas dispensadas do compromisso em razão de presunção jure et jure no sentido de que são suspeitas as suas declarações. São os menores de 14 anos,os doentes mentais e os parentes do imputado elencados no art. 206 do CPP (cônjuge, ascendente, descendentes, irmão e afins na linha reta). De acordo com o art. 401 § 1.º, do CPP, esta categoria de testemunhas não será computada para efeito de determinação do número máximo de pessoas que podem ser arroladas pelas partes nos momentos ordinários do processo criminal.
Testemunha direta: trata-se da testemunha que presenciou os fatos por meio dos sentidos. Embora o Código não faça distinção em termos de valoração, incumbindo ao juiz definir o poder de convencimento de cada testemunha segundo a sua livre apreciação, é certo que a testemunha direta possui melhores condições de fornecer ao magistrado os elementos de que necessita para o deslinde do processo, pois assistiu o fato criminoso, podendo narrá-lo com menor risco de distorção do que a testemunha que soube do evento por meio de outras fontes.
Testemunha indireta: é aquela que declara ao magistrado sobre o que não presenciou, mas soube ou ouviu dizer. Teoricamente, em que pese tenha o magistrado liberdade na formação de sua convicção, trata-se de testemunha mais frágil, impondo-se certa reserva ao magistrado na valoração de seu depoimento.
RECONHECIMENTO DE PESSOAS E COISAS (ARTS. 226 A 228 DO CPP)
Por reconhecimento de pessoas compreende-se o ato pelo qual não apenas vítimas ou testemunhas, mas também acusados ou investigados identificam terceira pessoa. Não se trata de ato informal, estabelecendo o art. 226 do CPP as formalidades de sua efetivação, quais sejam:
A pessoa convidada a fazer o reconhecimento deverá descrever a pessoa que deva ser reconhecida (inciso I)
Em seguida, deverá o reconhecedor apontá-la entre outras que com ela guardarem semelhança, “se possível” (inciso II)
Havendo receio de que, por intimidação, a pessoa chamada para o reconhecimento não fale a verdade, a autoridade poderá providenciar para que não seja vista por quem deva ser reconhecido (inciso III) 
Ao final da diligência, lavrar-se-á o competente auto, subscrito pela autoridade, pelo reconhecedor e por duas testemunhas presenciais (inciso IV)
Reconhecimento de coisas: Prevê o art. 227 do CPP que ao reconhecimento de coisas (instrumentos utilizados na prática de crimes, armas, objetos furtados etc.) se aplicam as mesmas regras utilizadas para o reconhecimento de pessoas, no que for cabível, é claro. Abstrai-se, assim, apenas a previsão do inciso III do art. 226, que trata da preservação visual da pessoa do reconhecedor.
ACAREAÇÕES (ARTS. 229 E 230 DO CPP)		
Acareação é o procedimento que consiste em colocar frente a frente pessoas que já prestaram depoimentos em momento anterior, para que esclareçam, mediante confirmação ou retratação, aspectos que se evidenciaram contraditórios.
O fundamento da acareação está no constrangimento. Busca-se, por meio de (re)perguntas acerca de pontos conflitantes, que a pessoa que prestou falso depoimento dele se retrate em face da presença de outra que narrou o fato de modo diverso. Procedida à acareação, providenciará a autoridade que presidir o ato – Delegado de Polícia ou juiz – a formalização de termo ou auto de acareação, no qual constarão as perguntas formuladas e as respectivas respostas.
Sujeitos as acareação: o art. 229 do CPP que podem ser acareados acusados, testemunhas e ofendidos, entre si ou uns com os outros. É evidente a impropriedade do dispositivo ao referir-se apenas a “acusados”. Considerando que a acareação também pode ocorrer na fase policial, é intuitivo que, igualmente, investigados e indiciados podem ser submetidos ao ato.
PROVA DOCUMENTAL (ARTS. 231 A 238 DO CPP)
O art. 232 do CPP define documento como escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares. Não obstante esta definição, na atualidade vem se considerando como documento lato sensu tudo aquilo capaz de retratar determinada situação fática, sejam papéis, sejam arquivos digitalizados na forma da Lei 12.682/2012 (que disciplina a digitalização, ao armazenamento em meio eletrônico, óptico ou equivalente e a reprodução de documentos públicos e privados), um fato. Tal amplitude é importante, já que, em se considerando tais elementos como documentos, sua juntada aos autos deve seguir as mesmas regras atinentes à da prova documental.
Os documentos lato sensu classificam-se em duas ordens, a saber: instrumentos e documentos stricto sensu. Um e outro, por sua vez, dividem-se em públicos e particulares.
Instrumento consiste no documento confeccionado com o objetivo específico de servir de prova do ato nele materializado. Sua elaboração depende de forma especial prevista em lei.
a.1) Instrumento público é aquele constituído perante a autoridade pública, no exercício de suas funções e que possua capacidade para lhe atribuir a presunção de verdade (fé pública). Tal presunção, evidentemente, não é absoluta, cedendo em face de prova em contrário.
Exemplos: Instrumento público de procuração e a escritura de compra e venda de imóvel.
a.2) Instrumento particular é aquele para cuja constituição não houve a contribuição de qualquer agente público no exercício de função pública. Exemplo: letra de câmbio. Cabe ressaltar que, assinado que venha a ser perante um tabelião que reconheça a firma do signatário, o documento particular terá presunção de autenticidade.
Documento stricto sensu é todo escrito que não foi elaborado com o propósito direcionado de ser utilizado como prova, embora, eventualmente, possa vir a ter essa finalidade. Sua utilização como prova é casual. Exemplos de documento público, como bem refere Fernando Capez (Curso de processo penal, 13. ed., p. 353), seriam as mensagens enviadas pelo Presidente da República ao Congresso Nacional; exemplo de documento particular, uma reportagem jornalística.
Momento de produção da prova documental (lato sensu)
Segundo dispõe o art. 231 do CPP, documentos podem ser juntados em qualquer fase do processo. Há, entretanto, exceção a esta regra no art. 479 (alterado pela Lei 11.689/2008), restringindo, no Tribunal do Júri, a exibição de documento aos Jurados, ao dispor que “durante o julgamento não será permitida a leitura de documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado aos autos com a antecedência mínima de 3 (três) dias úteis, dando-se ciência à outra parte”.
Em princípio, qualquer documento pode ser exibido ou requerido pelas partes, ressalvados, é claro, aqueles obtidos por meios ilícitos, como cartas violadas (art. 233 do CPP). Inclusive, o próprio magistrado, de ofício, no curso da instrução ou antes de proferir sentença, tem a faculdade de requisitar documentos (art. 156 do CPP).
Não será lícito ao juiz, contudo, autorizar a apreensão de documentos que se encontrem em poder do advogado, mesmo porque a Lei 11.767/2008, alterando o art. 7.º, II, do Estatuto da Advocacia (Lei 8.906/1994), estabeleceu, como direito seu, a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, bem como de seus instrumentos de trabalho, de sua correspondência escrita, eletrônica, telefônica e telemática, desde que relativas ao exercício da advocacia. É importante considerar, entretanto, que esse mesmo dispositivo, em seu § 6.º, abre exceção à referida inviolabilidade, facultando ao juiz competente, quando presentes indícios de autoria e materialidade de crime realizado pelo próprio advogado, decretar a quebra da inviolabilidade por meio de decisão fundamentada de busca e apreensão, em que conste o objeto da medida, devendo, ainda, o cumprimento da diligência ser feito na presença de um representante da OAB. Anteriormente, para a realização de busca e apreensão, bastava que, determinada pelo magistrado, fosse acompanhada por representante da OAB, sem qualquer outro condicionamento.
INDÍCIOS (ART. 239 DO CPP)
A conceituação acerca do que sejam os indícios encontra-se no próprio art. 239 do CPP. Trata-se de circunstâncias
conhecidas e provadas, a partir das quais, por dedução, conclui-se sobre um fato determinado. 
Embora, no sistema processual vigente, possuam os indícios,teoricamente, o mesmo valor das demais provas – visto que a regra é a ausência de hierarquia entre os diversos elementos de convicção –, é certo que a prova indiciária, se induvidosa, cabal, sólida e veemente é capaz de embasar sentença condenatória.
Além disso, não se pode ignorar que, em termos legais, prevê-se a possibilidade de que outras ordens de decisões sejam fundamentadas apenas em provas indiciárias, por exemplo: sequestro de bens (art. 126 do CPP), prisão preventiva (art. 312 do CPP) e decisão de pronúncia (art. 413 do CPP, com redação da Lei 11.689/2008).
→ E o que são contraindícios? São circunstâncias que invalidam, em determinadas condições e circunstâncias, os indícios colhidos contra alguém. Exemplo de contraindício reside no álibi, que pode desfazer o indício de que, no dia e horário do crime, o réu se encontrava no local onde este ocorreu.
As presunções: Os indícios diferem das presunções. Estas, com efeito, são estabelecidas pela lei e, por isso mesmo, são capazes, em situações expressamente autorizadas, por si, de fundamentar juízo de condenação. As presunções classificam-se em relativas ou absolutas, conforme admitam ou não, respectivamente, prova em sentido contrário. Exemplo de presunção absoluta reside na inimputabilidade penal do menor de 18 anos, ao qual vedado integrar o polo passivo de relação processual. Por outro lado, exemplo de presunção relativa está na imputabilidade penal do maior de 18 anos, a qual pode ser desfeita se, instaurado incidente de insanidade mental no curso do inquérito ou do processo, vier a ficar comprovado que, ao tempo do fato, era o indivíduo total ou parcialmente incapaz de compreender o caráter ilícito de sua conduta e de se autodeterminar de acordo com esse entendimento.
BUSCA E APREENSÃO (ARTS. 240 A 250 DO CPP)
Por busca compreendem-se as diligências realizadas com o objetivo de investigação e descoberta de materiais que possam ser utilizados no inquérito policial ou no processo criminal. Trata-se de uma atitude de procura, a ser realizada em lugares ou em pessoas. 
Já por apreensão depreende-se o ato de retirar alguma coisa que se encontre em poder de uma pessoa ou em determinado lugar, a fim de que possa ser utilizada com caráter probatório ou assecuratório de direitos.
classificação da diligência de busca e apreensão é definida no art. 240 do CPP: busca domiciliar, se realizada na casa do investigado ou acusado (§ 1.º); e busca pessoal, se efetivada no corpo da pessoa ou em objetos que traga consigo (§ 2.º).
Em termos de legitimação, poderá ser ordenada de ofício pelo juiz ou mediante requerimento do Ministério Público, do querelante, do assistente de acusação, do defensor do réu e ainda por representação do delegado (quanto a este último, a legitimidade para representar ocorre apenas na fase do inquérito).
Busca e apreensão domiciliar: A busca e apreensão domiciliar possui tutela constitucional, que, se violada, acarreta a ilicitude da prova obtida. Trata-se da previsão do art. 5.º, XI, da CF, estabelecendo que a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial. A regra, como se vê, é a necessidade de ordem judicial, realizando-se, ainda, a busca durante o dia.
A ordem judicial: Para o deferimento da ordem judicial de busca e apreensão domiciliar é necessária a existência de fundadas razões que a autorizem (art. 240, § 1.º, do CPP), como tais consideradas aquelas externadas por meio de motivação concreta quanto à sua ocorrência e amparadas, senão em início de prova, ao menos em indícios relativamente convincentes quanto à necessidade da medida. 
Tem considerado o STJ que, “ausente qualquer fundamentação na decisão que decretou a busca e a apreensão, determinando-se simplesmente a ‘expedição do mandado solicitado’, é de reconhecer a ilicitude da prova produzida com a medida”. 
Destacar que, mesmo fora das hipóteses de flagrante, desastre, socorro e consentimento do morador, a exigência do mandado é dispensada quando o próprio juiz competente para expedi-lo realizar a busca pessoalmente (acompanhado, é claro, de agentes da força pública). No caso, a desnecessidade da ordem escrita decorre da previsão do art. 241, segundo o qual a busca domiciliar deverá ser precedida da expedição de mandado, salvo quando a própria autoridade judiciária realizá-la pessoalmente. Quanto à faculdade conferida em precitado dispositivo no sentido da dispensa do mandado quando o delegado de polícia cumprir pessoalmente a busca, não foi, obviamente, recepcionada pelo art. 5.º, XI, da CF. Destarte, o dispositivo vige apenas em relação ao magistrado.
Busca pessoal: Trata-se da diligência realizada no corpo da pessoa, em suas roupas ou objetos que tenha consigo.Interpretando-se o art. 244 do CPP, a contrario sensu, conclui-se que, como regra, a busca pessoal também exigirá mandado, o qual poderá ser expedido tanto pela autoridade judiciária quanto pelo delegado de de polícia (ao contrário da busca domiciliar).
Interpretando-se o art. 244 do CPP, a contrario sensu, conclui-se que, como regra, a busca pessoal também exigirá mandado, o qual poderá ser expedido tanto pela autoridade judiciária quanto pelo delegado de polícia (ao contrário da busca domiciliar). Tal mandado, no entanto, será dispensável nos seguintes casos: 
c.1) No caso de recolhimento do indivíduo à prisão, por motivos de pena ou prisão provisória; 
c.2) Se houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam corpo de delito; e 
c.3) Quando realizada no curso de busca domiciliar, pois não haveria sentido nenhum que o mandado de busca permitisse a revista na casa e não nas pessoas que nela se encontrassem.
Por fim, importante frisar a norma do art. 249 do CPP, segundo a qual a busca em mulher será feita por outra mulher, se não importar retardamento ou prejuízo da diligência. 
Busca em território pertencente à jurisdição distinta: a busca deve ser realizada pelas autoridades no território de sua própria circunscrição, atribuição ou Jurisdição. Não obstante, o art. 250 do CPP possibilita que a autoridade ou seus agentes penetrem no território de jurisdição distinta quando estiverem em atitude de seguimento de pessoa ou coisa. Nesse caso, exige a lei, por cautela, que, antes ou depois de realizada a apreensão, apresentem-se os executores à autoridade competente do local.
Obrigatoriedade de comunicação ao ofendido quanto a determinados atos processuais e sobre a prisão ou liberdade do acusado.
Determina o art. 201, § 2.º, que “o ofendido será comunicado dos atos processuais relativos ao ingresso e à saída do acusado da prisão, à designação de data para audiência e à sentença e respectivos acórdãos que a mantenham ou modifiquem”, dispondo, ainda, o § 3.º que “as comunicações ao ofendido deverão ser feitas no endereço por ele indicado, admitindo-se, por opção, o uso de meio eletrônico”. 
Da exegese do artigo detecta-se que estabelece três naturezas distintas de atos sujeitos a cientificação obrigatória:
Quanto ao ingresso e saída do acusado da prisão: Trata-se de previsão concernente às hipóteses de prisão e liberdade provisória eventualmente determinadas no curso do processo judicial. 
Considerando que o dispositivo refere-se a “acusado” (nomenclatura apropriada para designar o imputado na inicial acusatória), e não a “investigado” ou “indiciado”, infere-se que a necessidade de comunicação inexiste em relação a medidas de segregação ou liberação provisória que ocorram na fase anterior ao recebimento da denúncia e da queixa-crime; e, também, não alcança o momento da execução da pena privativa de liberdade, razão pela qual desnecessária a intimação da vítima quanto às datas de recolhimento e liberação do apenado do sistema prisional. 
Esta última conclusão extrai-se não apenas da circunstância de que o art. 201 não faz referênciaao condenado, como pelo fato de que a ciência ao ofendido está contemplada em dispositivo pertinente à fase instrutória do processo penal, anterior à sentença final, portanto.
Quanto à audiência designada: A palavra audiência está empregada no singular tendo em vista que, no processo penal,npor definição, a audiência de produção da prova oral é única, ainda que possa estar desmembrada em diversos atos realizados ao longo de datas distintas (art. 185, § 4.º, art. 400, § 1.º, e art. 411, § 2.º). 
Assim, a obrigatoriedade de comunicação do ofendido abrange todos os atos que compõem essa audiência única, independentemente da natureza e do fim visado (oitiva de testemunhas de acusação, inquirição de testemunhas de defesa, audiência para novo interrogatório do réu etc.). Inexistindo ressalva legal, também quanto às cartas precatórias expedidas a outros juízos com vista à produção de provas orais deverá ser comunicado o ofendido. 
Nesse caso, por analogia ao que estabelece a Súmula n.º 273 do STJ em relação à defesa (“intimada a defesa da expedição da carta precatória, torna-se desnecessária intimação da data da audiência no juízo deprecado”), a cientificação que deve ser feita ao ofendido respeita apenas à expedição da precatória e não necessariamente da data da audiência designada no juízo deprecado.
Quanto à sentença prolatada e quanto aos acórdãos que a mantiverem ou modificarem: Apesar de referir-se tão somente à sentença como ato processual condenatório ou absolutório de 1.º grau, a obrigatoriedade de comunicação incorporada ao art. 201, § 2.º, alcança também acórdãos proferidos no julgamento de ações penais no âmbito dos Tribunais em hipóteses de prerrogativa de função. 
Outro aspecto relevante respeita ao fato de que, dada a amplitude do dispositivo, fica evidente que qualquer acórdão proferido por instâncias recursais superiores em torno da manutenção ou reforma da decisão de 1.º grau deverá ser comunicado ao ofendido, não sendo esta obrigatoriedade condicionada ao prévio trânsito em julgado, o que não é sequer cogitado no art. 201, §§ 2.º e 3.º, do CPP.
Sem embargo da simplicidade das regras inseridas aos §§ 2.º e 3.º do art. 201, a verdade é que importaram em inovações relevantes ao sistema do Código, a começar pelo fato de que obrigam o magistrado a comunicar ao ofendido acerca de medidas segregatórias ou liberatórias determinadas em relação ao acusado, bem como da data da audiência designada e das decisões proferidas sobre o mérito do processo independentemente de estar ele ou não agindo na condição de querelante na ação penal privada (art. 30) ou de assistente do Ministério Público habilitado na ação penal pública (art. 268).
As comunicações referidas deverão ser dirigidas à pessoa do ofendido e não por meio do advogado que patrocina seus interesses, até porque este é naturalmente cientificado dos atos processuais e decisões proferidas no processo (art. 370, §§ 1.º e 4.º). Contudo, a lei não obriga a que tais comunicações sejam realizadas pessoalmente ao ofendido, isto é, por mandado cumprido por oficial de justiça, referindo tão somente que esta será realizada no endereço por ele indicado ou, se o desejar, por meio eletrônico. Neste contexto, cremos que, não optando pela notificação ou intimação eletrônica, nada impede seja o ofendido comunicado dos atos processuais por carta registrada, não se exigindo do Judiciário a obrigação de arcarvcom os custos da expedição e cumprimento de mandado.
O Código não refere a partir de que momento processual deverá o ofendido passar a ser cientificado nos termos do art. 201, § 2.º. Cremos que a obrigatoriedade da comunicação, tanto sobre a prisão e a liberdade provisória como sobre as audiências e os atos decisórios que envolvam o objeto da ação penal (condenação ou absolvição), surge logo após o recebimento da denúncia ou da queixa-crime, momento que coincide com a inauguração do processo criminal propriamente dito, salvo, é claro, se não houver seu endereço nos autos. Iniciada a instrução, cabe ao juiz determinar as providências necessárias para oitiva da vítima com precedência sobre as testemunhas do processo. Após inquiri-la, deverá o magistrado instá-la quanto ao endereço a serem enviadas as comunicações (confirmando-se ou corrigindo-se o endereço constante nos autos), facultando-lhe, ainda, optar pelo recebimento dos avisos judiciais por intermédio de meio eletrônico.
Reserva de lugar em separado para que o ofendido permaneça antes e durante a realização da audiência (§ 4.º)
Estabelece o art. 201, § 4.o, do CPP que, “antes do início da audiência e durante a sua realização, será reservado espaço separado para o ofendido”.
Com essa previsão, visou o legislador a resguardar a integridade física e moral da vítima, não apenas nos momentos que antecedem o seu ingresso na sala de audiências, como também no curso de sua inquirição pelo juiz, a fim de que possa o depoimento ser prestado sem o efeito de constrangimentos ou intimidações de qualquer ordem.
Iniciada, porém, a solenidade judicial, tal espaço não será, necessariamente, lugar distinto da sala de audiências, podendo e devendo ser este mesmo local, apenas determinando o juiz que se retirem da sala o réu e terceiros que lá eventualmente se encontrem, permanecendo apenas advogados, Ministério Público e serventuários da justiça. Sendo hipótese de prestação de depoimento na sessão de julgamento pelo júri (v.g., a vítima de tentativa de homicídio) e havendo grande número de pessoas presentes, poderá o magistrado, em vez de esvaziar o plenário, ouvir a vítima em recinto separado, presentes, neste caso, além do Promotor de Justiça, advogados e servidores, também os jurados.
Conquanto não haja previsão expressa, a redação do dispositivo sugere que a inquirição da vítima em ambiente preservado poderá ser ordenada não apenas a seu requerimento ou do Ministério Público, como também ex officio pelo juiz, na hipótese em que este perceba que a presença do réu na solenidade importará em prejuízo à verdade que se espera venha a aflorar do depoimento, v.g., em razão da natureza do fato praticado ou de seu modus operandi, de ser o réu pessoa reconhecidamente temida no meio social, do vínculo parental existente entre este e o ofendido etc.
Encaminhamento do ofendido a atendimento multidisciplinar, se for o caso, às expensas do Estado (§ 5.º)
A gravidade do delito praticado conduz a vítima, em muitos casos, a sérios danos emocionais. Nestas hipóteses, determina o art. 201, § 5.o, que o juiz poderá, às custas do ofensor ou do Estado, encaminhá-la a atendimento por equipe multidisciplinar, entendo-se como tal grupo de especialistas nas áreas psicossocial, de assistência jurídica e de saúde, entre outras, visando à sua reabilitação.
Embora não ressalvado pelo legislador, parece lógico que a responsabilidade do ofensor pelos custos do atendimento mencionado no art. 201, § 5.º, do CPP apenas pode ser reconhecida após o trânsito em julgado da sentença condenatória. Eventual tratamento determinado pelo juiz criminal no curso do processo apenas poderá ser custeado pelo Estado, sem prejuízo de que este, depois de passada em julgado a condenação do réu, em ação de regresso, busque obter deste o ressarcimento das despesas havidas com a vítima em decorrência da infração penal.
Entre os vários fatores que justificam as medidas permitidas pelo citado § 5.º encontra-se a própria natureza do crime
praticado. As vítimas de crimes contra a liberdade sexual, por exemplo, necessitam de diagnóstico e acompanhamento suas condições clínicas, aí se incluindo apoio psicológico, amparo forense, prevenção de gravidez indesejada e a própria profilaxia de doenças sexualmente transmissíveis, justificando, assim, seu atendimento por equipe multidisciplinar habituada com tais intervenções.
Outra circunstância a ser levada em conta pelo juiz, e que pode ou não estar aliada à natureza do delito, é a idade da vítima ou a sua condição de doente mental ou de pessoa portadora de desenvolvimento mental incompleto ou retardado,hipóteses em que o acompanhamento por profissionais especializados tem em vista não apenas possibilitar o máximo de esclarecimentos sobre o fato, como também evitar que o depoimento venha a agravar os danos psicológicos já provocados pela prática criminosa.
Por fim, ainda motivam a postura judicial prevista no art. 201, § 5.º, as práticas delituosas consequentes às situações que se instalam, muitas vezes, no seio da própria família, sobretudo entre a população mais carente, figurando como agressor ou ofensor, por exemplo, o pai, a mãe, o padrasto, o irmão, o marido etc.
Em todos estes casos, além de outros nos quais o magistrado julgar necessário segundo a sua própria percepção, a assistência por equipe multidisciplinar não terá em vista unicamente possibilitar ao juiz obter do ofendido sua versão dos fatos, mas, igualmente, auxiliar na recuperação de quem, por omissão do Estado em conferir a necessária segurança e proteção, restou atingido por delito de especial gravidade, gerador de traumas que, se não tratados adequadamente, poderão interferir em toda a vida do ofendido. Cabe ressaltar que esta ordem de atendimento poderá ser ordenada pelo juiz tanto a requerimento do Ministério Público, da própria vítima ou de quem legalmente a represente, como ex officio, visto que o art. 201, § 5.º, do CPP não estabelece nenhuma ressalva nesse sentido.
Adoção das medidas necessárias para resguardar a imagem, honra e vida privada do ofendido (§ 6.º)
No processo penal, o que normalmente ocorre é o princípio da publicidade nortear a atuação estatal, como se deduz da redação do art. 792, caput, do CPP, ao dispor que as audiências, sessões e os atos processuais serão, em regra, públicos (...). 
Não obstante, a norma comporta algumas exceções, não sendo, portanto, absoluto esse princípio: trata-se da chamada publicidade restrita, segundo a qual determinados atos serão públicos apenas para as partes, seus procuradores e um número reduzido de indivíduos.
Tal restrição, em termos de legislação infraconstitucional, fundamenta-se em especial no art. 792, § 1.º, do CPP, prevendo que, “se da publicidade da audiência, da sessão ou do ato processual, puder resultar escândalo, inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem, o juiz, ou o tribunal, câmara, ou turma, poderá, de ofício ou a requerimento da parte ou do Ministério Público, determinar que o ato seja realizado a portas fechadas, limitando o número de pessoas que possam estar presentes”.
Por outro lado, em nível constitucional, está contemplada no art. 5.º, LX, preconizando que “a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem”, bem como no art. 93, IX, da mesma Carta (com a redação determinada pela EC 45/2004), dispondo que “todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação”.
Relativamente ao ofendido, a Lei 11.690/2008 incorporou ao art. 201, § 6.º, proteção específica, dispondo que “o juiz tomará as providências necessárias à preservação da intimidade, vida privada, honra e imagem do ofendido, podendo, inclusive, determinar o segredo de justiça em relação aos dados, depoimentos e outras informações constantes dos autos a seu respeito para evitar sua exposição aos meios de comunicação”. O dispositivo, como se vê, regulamenta em relação à vítima o disposto no já citado art. 5.º, LX, da Constituição. Sem embargo dessa proteção legislativa conferida ao ofendido, é preciso considerar que o segredo de justiça apenas deverá ser determinado pelo juízo em casos extremos, vale dizer, quando a necessidade de preservação da intimidade ou o interesse público efetivamente ensejarem essa medida.
Posteriormente, a Lei 12.015/2009, alterando a disciplina dos crimes contra a dignidade sexual (antes chamados de crimes contra os costumes), estabeleceu, no art. 234-B do Código Penal, que “os processos em que se apuram crimes definidos neste Título correrão em segredo de justiça”. Evidentemente, pretendeu o legislador, com essa importante inserção, resguardar, mais uma vez, o ofendido, evitando em relação a ele a repercussão muitas vezes causada pela publicidade que, como regra, informa o processo criminal.
Em qualquer caso, a ordem de sigilo deverá ser fundamentada pelo magistrado. Enquanto não levantado, importará o segredo em resguardar as informações que digam respeito ao ofendido do acesso de terceiros estranhos ao processo e também da divulgação por intermédio dos meios de comunicação social. Infringida a proibição, poderá acarretar responsabilização civil e, conforme o caso, até mesmo penal, sem prejuízo de eventuais sanções disciplinares, na hipótese de ser autor da violação juiz, promotor de justiça ou serventuários da justiça.
Não estabelecendo o Código de Processo Penal ressalvas, infere-se que o segredo de justiça poderá ser conferido pelo juiz a partir de provocação do Ministério Público, do ofendido ou de quem legalmente o represente, bem como ex officio. Indeferido o requerimento pelo juiz, poderá ensejar a impetração de mandado de segurança.

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