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POLITICAS PUBLICAS 01 ED

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MÓDULO 01 - POLÍTICAS PÚBLICAS COMO FOCO DE INTERESSE PARA O DIREITO PÚBLICO
 
Introdução
O Direito é tradicionalmente dividido em dois grandes ramos: Direito Público e Direito Privado.
O Direito Privado regula relações entre os particulares. É regido pela autonomia da vontade.
O Direito Público tem por objeto principal a regulação dos interesses da sociedade como um todo; a disciplina das relações entre esta e o Estado, e das relações das entidades e órgãos estatais entre si.
No Direito Público não há espaço para a autonomia da vontade, que é substituída pela ideia de função, ou seja, a ideia de atendimento do interesse público.
 
1.1 - Direito Público: Características
É característica marcante do direito público a desigualdade nas relações jurídicas por ele regidas, tendo em conta a prevalência do interesse público sobre os interesses privados.
O fundamento da existência dessa desigualdade, portanto, é a noção de que os interesses da coletividade devem prevalecer sobre os interesses privados.
Assim, quando o Estado atua na defesa do interesse público, goza de certas prerrogativas que o situam em posição jurídica de superioridade ante o particular.
Mas, atenção, as prerrogativas e a superioridade do Estado diante do particular serão sempre limitadas pela lei, com o devido respeito às garantias individuais e os direitos fundamentais consagrados pelo ordenamento jurídico e, principalmente, na Constituição Federal.
Por esse motivo, são possíveis medidas como a desapropriação de um imóvel privado para a construção de uma estrada.
A Constituição assegura o direito de propriedade, mas faculta ao poder público efetuar desapropriações, desde que o proprietário receba justa e prévia indenização.
O Direito Administrativo é um dos ramos do Direito Público, uma vez que rege a organização e o exercício de atividades do Estado voltadas para a satisfação de interesses públicos.
É o Estado quem, por definição, juridicamente encarna os interesses públicos. E o Direito Administrativo ocupa-se de uma das funções do Estado: a FUNÇÃO ADMINISTRATIVA.
 
1.2 - Direito Administrativo X  Direito Privado
 
Interesses pública X Interesses privados
Autoridade (no espaço da legalidade)  X            Igualdade
Relações jurídicas verticais                  X            Relações jurídicas horizontais
Legalidade                                            X            Liberdade
Função                                                  X           Autonomia da vontade
Formalismo                                           X           Informalismo
Publicidade                                           X           Intimidade
1.3 - O que é Direito Administrativo?
 
Para o Professor Hely Lopes Meirelles, o direito administrativo consiste no "conjunto harmônico de princípios jurídicos que regem os órgãos, os agentes e as atividades públicas tendentes a realizar concreta, direta e imediatamente os fins desejados pelo Estado ".
A Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro define o direito administrativo como " o ramo do direito público que tem por objeto os órgãos, agentes e pessoas jurídicas administrativas que integram a Administração Pública, a atividade jurídica não contenciosa que exerce e os bens de que se utiliza para a consecução de seus fins, de natureza pública ".
O Professor Celso Antônio Bandeira de Mello aduz um conceito sintético de direito administrativo, definindo-o como "o ramo do Direito Público que disciplina a função administrativa e os órgãos que a exercem ".
 
1. 4 - O Objeto do Direito Administrativo
 
A concepção moderna de Direito Administrativo confere a esse ramo do Direito um âmbito de atuação cada vez mais amplo. A orientação atual é de que o Direito Administrativo rege todas as funções exercidas pelas autoridades administrativas, qualquer seja a natureza destas.
Está alcançada pelo Direito Administrativo toda e qualquer atividade de administração, seja ela oriunda do Poder Executivo, do Poder Legislativo ou do Poder Judiciário.
Embora a atividade administrativa seja função típica do Poder Executivo, OS OUTROS PODERES (Legislativo e Judiciário) também praticam os atos que, pela sua natureza, são tidos como objeto do Direito Administrativo.
Quando os órgãos dos Poderes Legislativos e Judiciários estão atuando como administradores de seus serviços, de seus bens ou de seu pessoal, estão praticando atos administrativos, sujeitos ao regramento do Direito Administrativo.
A nomeação de um servidor, a aplicação de uma penalidade disciplinar, um remanejamento de pessoal ou a realização de uma licitação serão atividades abrangidas pelo Direito Administrativo, quer ser realizem no âmbito do Poder Executivo, do Poder Legislativo ou do Poder Judiciário.
O objeto do Direito Administrativo não se restringe exclusivamente àquelas atividades exercidas pelo Poder Executivo.
Os Poderes Legislativo e Judiciário, em funções atípicas, exercem atividades administrativas E, PORTANTO, são regidas pelo Direito Administrativo.
ATENÇÃO: O PODER EXECUTIVO EXERCE ALÉM DE SUA FUNÇÃO ADMINISTRATIVA, TAMBÉM A CHAMADA FUNÇÃO DE GOVERNO.
Exemplo de FUNÇÃO DE GOVERNO:  DIRETRIZES POLÍTICAS.
 
1.5 - Administração Pública
Todo o aparelhamento do Estado é preordenado à realização de serviços, visando à satisfação das necessidades coletivas.
A Administração pública, em sentido estrito, não pratica atos de governo; pratica tão somente, atos de execução, com maior ou menor autonomia funcional, segundo a competência do órgão e de seus agentes
São os chamados atos administrativos.
 
1.6 - Princípios Aplicados à Administração Pública
 
Segundo o artigo 37 da Constituição Federal:
“A administração pública direta e indireta, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios:
A) Legalidade,
B) Impessoalidade,
C) Moralidade,
D) Publicidade,
E) Eficiência,
Princípio da Legalidade
O princípio da legalidade é o postulado basilar de todos os Estados de Direito, consistindo, a rigor, no cerne da própria qualificação destes.
O Estado é dito “de Direito” porque sua atuação está integralmente sujeita ao ordenamento jurídico, vigora o “império da lei”. 
Princípio da Moralidade
O princípio da moralidade torna jurídica a exigência de atuação ética dos agentes da Administração Pública.
A denominada moral administrativa difere da moral comum, justamente por ser jurídica e pela possibilidade de invalidação dos atos administrativos que sejam praticados com inobservância deste princípio
Princípio da Impessoalidade
A impessoalidade da atuação administrativa impede que o ato administrativo seja praticado visando a interesses do agente ou de terceiros, devendo-se ater-se à vontade da lei.
Princípio da Publicidade
A exigência de publicação em órgão oficial como requisito de eficácia dos atos administrativos que devam produzir efeitos externos e dos atos que impliquem ônus para o patrimônio público;
A exigência de transparência da atuação administrativa
Princípio da Eficiência
Espera-se da Administração Pública o melhor desempenho possível de suas atribuições, a fim de obter os melhores resultados.
Propõem, dessa forma, que a Administração Pública se aproxime o mais possível da administração das empresas do setor privado.
1.7 - Políticas Públicas
 
Segundo Assman, Hugo, políticas públicas são programas de ação governamental visando coordenar os meios à disposição do Estado e as atividades privadas para a realização de objetivos socialmente relevantes e politicamente determinados. Políticas públicas são “metas coletivas conscientes” e, como tais, um problema de Direito Público, em sentido lato.
À medida que os direitos sociais passam a ser positivados em constituições e leis, as políticas públicas passam a ter interesse jurídico.
O conceito de políticas públicas ganha relevo para a Ciência do Direito precisamente no estudo da efetivação dos direitos constitucionais sociais, também chamados direitos fundamentais de segunda e terceira dimensões.
Neto(2009, p. 53) cita Fábio Konder Comparato, que, ao se referir à política como programa de ação, adverte enquanto tal, política “Não é uma norma nem um ato, (...) ela se distingue nitidamente dos elementos da realidade jurídica, sobre os quais os juristas desenvolveram a maior parte de suas reflexões, desde os primórdios da jurisprudência romana.
(...) A política aparece, antes de tudo, como uma atividade, isto é, um conjunto organizado de normas e atos tendentes à realização de um objetivo determinado. ”
Nesse sentido, verifica-se que as políticas públicas oriundas dos direitos fundamentais, estes construídos pela humanidade, à medida que entram para o ordenamento jurídico no nível infraconstitucional ou constitucional, são objetos de preocupação do universo jurídico, muito embora não se confundam com ele, devido a sua natureza e peculiaridade.
 
1.8 - Política Pública e dirigismo estatal
 
Entende-se por dirigismo a teoria econômica e financeira que preconiza a direção do Estado em tudo. O dirigismo estatal decorre da necessidade de impor uma função social à sociedade a fim de que haja obediência as normas públicas e reprimindo a exploração da parte hipossuficiente.
Atualmente busca-se a melhoria das condições sociais da população baseada na coletividade, e não no indivíduo ou em determinado grupo.
Na Constituição Federal de 1988, no seu artigo 3º, verificam-se os objetivos de ordem econômica e encontra-se citado a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, a erradicação da pobreza e a redução da desigualdade regional e social, assim como a promoção do bem de todos, sem discriminação.
A mesma Constituição modernizou o Estado capitalista, dando maior importância ao princípio da dignidade humana. Mesmo elaborada sob a égide do capitalismo, teve a sensibilidade de incluir princípios fundamentais, direitos sociais como educação, moradia, segurança, saúde, dentre outros.
E é por meio das políticas públicas que se operacionalizam esses direitos sociais, mencionados por alguns como dirigismo estatal nas políticas públicas. Fica a pergunta: se não houvesse dirigismo estatal, haveria como operacionalizar as políticas públicas?
Redes de políticas públicas ocorrem quando a formulação de políticas públicas ocorre por meio de membros de uma ou mais comunidades de políticas e estabelecem uma relação de interdependência; os atores interagem de maneira descentralizada, por meio de agências estatais e organizações não estatais.
Esta visão acima, redes de políticas sociais do Estado, é daquele que perdeu a pretensão de dirigismo, mas não abdicou de seu papel de formulador e implementador de políticas públicas.
 
1.9 - A articulação entre Direito Constitucional e Direito Administrativo em torno das Políticas Públicas
 
O que Bucci (2002, p. 250) propõe é uma rearticulação do Direito Público em torno da ideia da política pública. Nessa mesma linha, partindo-se do âmbito do Direito Constitucional, utiliza-se a base jurídica do Direito Administrativo e os vários princípios que regulam principalmente o da supremacia do interesse público sobre o particular.
O Direito Administrativo é responsável na sua vertente executiva do Estado, e o Direito Constitucional trata da organização dos poderes, dos direitos dos cidadãos. O Direito Administrativo é responsável pela concretização pela Administração pública dos ditames constitucionais e das políticas públicas nele inseridos.
O conhecimento dos processos jurídicos da Administração, os serviços públicos, os agentes públicos, os princípios que regem a Administração e o entendimento do funcionamento cotidiano dessa Administração, facilitam e fazem parte do processo de formulação das políticas públicas.
Há maior possibilidade de efetividade de um programa de ação governamental no que se refere às políticas públicas quando há um maior grau de articulação entre poderes e agentes públicos envolvidos.
Como toda atividade política (políticas públicas) exercidas pelo Legislativo e pelo Executivo, deve compatibilizar-se com a Constituição, o que se convencionou chamar de “atos de governo” ou “questões políticas”, (art. 3º da CF). No entanto, cabe ao Poder Judiciário analisar, em qualquer situação e desde que provocado sob o prisma do atendimento aos fins do Estado. (ANTONIO, 2011, p. 187).
 
CONCLUSÃO DO MÓDULO I
O Direito administrativo – resultado, no campo do direito, da implantação de certo modelo político, o do chamado Estado de Direito liga-se a este fundamental objetivo: o da negação do poder arbitrário.
Daí o princípio da legalidade, em virtude do qual os atos administrativos não poderão ser fruto dos caprichos das autoridades.
Daí, também, a submissão de toda a ação administrativa à diferentes níveis de controle.
Já as políticas públicas podem ser entendidas como o conjunto de planos e programas de ação governamental voltados à intervenção no domínio social, por meio dos quais são traçadas as diretrizes e metas a serem fomentadas pelo Estado, sobretudo na implementação dos objetivos e direitos fundamentais dispostos na Constituição.
MÓDULO 02: CONCEITO DE POLÍTICAS PÚBLICAS EM DIREITO
 Introdução
 A concepção moderna de Direito Administrativo confere a esse ramo do Direito um âmbito de atuação cada vez mais amplo.
 A orientação atual é de que o Direito Administrativo rege todas as funções exercidas pelas autoridades administrativas, qualquer seja a natureza destas.
 Portanto, o direito administrativo rege a atividade de Estado.
2.1 -  Atividade de Governo ou Função de Governo
 No âmbito do direito administrativo, a expressão “governo” é usualmente empregada para designar o conjunto de órgãos constitucionais responsáveis pela função política do Estado.
 A noção de governo está relacionada com a função política de comando, de coordenação, de direção e de fixação de planos e diretrizes de atuação do Estado.
 Função de Governo: Características
 Governo é atividade política e discricionária;
 Governo é conduta independente;
 Governo comanda com responsabilidade constitucional e política, mas sem responsabilidade profissional pela execução;
  Conclusões:
- A função política ou função de governo não se confunde com o conceito de administração pública, em sentido estrito;
- A   função política abrange atribuições que decorrem diretamente da Constituição.
 2.2 - Função de Estado e Função de Governo
 O Governo e a Administração, como criações abstratas da Constituição e das leis, atuam por intermédio de suas entidades (pessoas jurídicas), de seus órgãos (centro de decisão) e de seus agentes ( pessoas físicas investidas em cargos e funções).
A Administração é o instrumental de que dispõe o Estado para pôr em prática as opções políticas do Governo
 2.3 - Políticas Públicas
Pode-se dizer que as políticas públicas representam os instrumentos de ação dos governos, numa clara substituição dos "governos por leis" (government  by law) pelos "governos por políticas" (government  by policies).
Assim, a substituição do governo abstração (leis) por um governo efetivação (políticas públicas)
2.4 - Políticas Públicas e Estado Social
O fundamento mediato e fonte de justificação das políticas públicas é o Estado social, marcado pela obrigação de implemento dos direitos fundamentais positivos, aqueles que exigem uma prestação positiva do Poder Público.
Exemplo: saúde e educação
2.5 - Políticas Públicas: Direitos Sociais
À medida que os direitos sociais passam a ser positivados em constituições e leis, as políticas públicas passam a ter interesse jurídico.
O conceito de políticas públicas ganha relevo para a Ciência do Direito precisamente no estudo da efetivação dos direitos constitucionais sociais, também chamados direitos fundamentais de segunda e terceira dimensões.
2.6 - Políticas Públicas e Direitos Fundamentais
Nesse sentido verifica-se que as políticas públicas oriundas dos direitos fundamentais, estes construídos pela humanidade, a medida que entram para o ordenamento jurídico no nível infra- constitucional ou constitucional sãoobjetos de preocupação do universo jurídico.
2.7 - Políticas Públicas: Ação Governamental
Segundo Assman, Hugo, políticas públicas são programas de ação governamental visando a coordenar os meios à disposição do Estado e as atividades privadas para a realização de objetivos socialmente relevantes e politicamente determinados.
Políticas Públicas: Metas Coletivas
Podemos afirmar que: Políticas públicas são “metas coletivas conscientes” e, como tais, um problema de direito público, em sentido lato.
Políticas Públicas: Plano e Programas
As políticas públicas podem ser entendidas como o conjunto de planos e programas de ação governamental voltados à intervenção no domínio social, por meio dos quais são traçadas as diretrizes e metas a serem fomentadas pelo Estado, sobretudo na implementação dos objetivos e direitos fundamentais dispostos na Constituição.
2. 8 - Políticas Públicas e Política de Governo
Há que se fazer a distinção entre política pública e política de governo, vez que enquanto está guarda profunda relação com um mandato eletivo, aquela, no mais das vezes, pode atravessar vários mandatos.
As políticas públicas independem de partidos ou de eleições, pois representam a efetivação de direitos fundamentais.
Deve-se reconhecer, por outro lado, que o cenário político brasileiro demonstra ser comum a confusão entre estas duas categorias.
A cada eleição, principalmente quando ocorre alternância de partidos, grande parte das políticas públicas fomentadas pela gestão que deixa o poder é abandonada pela gestão que o assume.
 2. 9 - Políticas Públicas: Conceito para o Direito
 É um programa ou quadro de ação governamental, porque consiste num conjunto de medidas articuladas (coordenadas), cujo escopo é dar impulso, isto é, movimentar a máquina do governo, no sentido de realizar algum objetivo de ordem pública ou, na ótica dos juristas, concretizar um direito.
 Podemos afirmar que políticas públicas concretizam direitos fundamentais sociais.
Assim, as políticas públicas segundo Bucci (2006) constituem temática oriunda da Ciência Política e da Ciência da Administração Pública. Seu campo de interesse – as relações entre a política a ação do Poder Público – tem sido tratado até hoje, na Ciência do Direito, no âmbito da Teoria do Estado, do Direito Constitucional, do Direito Administrativo ou do Direito Financeiro.
Entende-se por políticas públicas como sendo:
Programa de ação governamental que resulta de um processo ou conjunto de processos juridicamente regulados – processo eleitoral, processo de planejamento, processo de governo, processo orçamentário, processo legislativo, processo administrativo, processo judicial – visando coordenar os meios à disposição do Estado e as atividades privadas, para a realização de objetivos socialmente relevantes e politicamente determinados. Como tipo ideal, a política pública deve visar a realização de objetivos definidos, expressando a seleção de prioridades, a reserva de meios necessários à sua consecução e o intervalo de tempo em que se espera o atingimento dos resultados. (BUCCI, 2006, p. 39; LAGE, 2011, p. 161).
É um programa ou quadro de ação governamental porque consiste num conjunto de medidas articuladas (coordenadas), cujo escopo é dar impulso, isto é, movimentar a máquina do governo, no sentido de realizar algum objetivo de ordem pública ou, na ótica dos juristas, concretizar um direito (BUCCI, 2006, p. 14).
CONCLUSÃO DO MÓDULO 02
O que se propõe é uma rearticulação do direito público em torno da idéia da política pública.
As políticas públicas deverão ser fundamentadas pelo direito constitucional, utiliza-se a base jurídica do direito administrativo, principalmente o princípio da supremacia do interesse público sobre o particular.
Ademais, os princípios elencados no artigo 37 da Constituição deverão amparar as políticas públicas no Brasil.
O tema político público, com a Constituição de 1988, passou a ocupar um capítulo importante do Direito Público.
Como instrumento de efetivação de direitos fundamentais, as políticas públicas passaram a ser tuteladas pelo direito público.
Assim, o tema político público deixou de ser uma opção discricionária do Governo para ser uma obrigação constitucional do Estado.
Ademais, o direito administrativo é responsável na sua vertente executiva do Estado.
E o direito constitucional trata da organização dos poderes, dos direitos dos cidadãos.
Portanto: O direito administrativo é responsável pela concretização pela Administração pública dos ditames constitucionais e das políticas públicas nele inseridos.
O conhecimento dos processos jurídicos da Administração, os serviços públicos, os agentes públicos, os princípios que regem a administração e o entendimento do funcionamento cotidiano dessa Administração, facilitam e fazem parte do processo de formulação das políticas públicas.
Há maior possibilidade de efetividade de um programa de ação governamental no que se refere as políticas públicas quando há um maior grau de articulação entre poderes e agentes públicos envolvidos. 
A QUESTÃO SOCIAL NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
 Introdução
O clamor por dignidade e direitos do homem são, ainda, reivindicações em sociedades que atingiram elevados níveis de desenvolvimento econômico e social. Em países dependentes do capital internacional, como o Brasil, a luta pela efetivação desses direitos torna-se uma opção de sobrevivência, resistência e superação das desigualdades. Uma análise superficial das estatísticas apresentadas pela imprensa nacional, das décadas finais do século XX e início do século XXI, números que devem ser analisados com muito ceticismo, evidencia uma curva ascendente da violência nas grandes cidades e regiões metropolitanas de todo o país.
Violência, no seu sentido mais amplo, como a fome, principalmente nas regiões Norte e Nordeste; a insuficiência ou inexistência de serviços públicos; a falta de programas para a gestão da saúde pública; educação de péssima qualidade e distante de padrões mínimos; seguridade social incapaz de atender aos segurados com dignidade; e, ainda, uma polícia violenta e militarizada, que tem como escopo a defesa do Estado e não a do ser humano. O quadro apresentado resume, também, exemplos de violações aos direitos classificados como do homem e evidenciam que a Administração Pública, o Poder Judiciário, o Legislativo e a sociedade nunca se importaram com a efetivação desses direitos. Direitos conquistados, mas nunca efetivados e que, a partir do final do século XX, passaram a ser classificados como investimentos desnecessários e responsáveis pelo atraso econômico do país. [1]
No âmbito das relações internacionais, assistimos estáticos ao enfraquecimento da Organização das Nações Unidas e o seu papel, ainda que fictício, de propor a solução pacífica aos litígios entre as nações, por meio do diálogo. Em relação à mídia internacional, a propaganda ideológica tem como força motriz a defesa da liberdade individual e da segurança, através do poder de polícia[2] e do aclamado Estado Mínimo. Ideias liberais que marcaram a humanidade pela pobreza, escravidão, imperialismo e inúmeras guerras renascem através do discurso do pensamento unívoco e supostamente consensual. E os movimentos sociais, resistências a esse novo processo de apropriação da liberdade e da igualdade, são classificados, novamente, como movimentos perigosos e onerosos, ameaças ao denominado Estado de Direito, ao próprio Capitalismo e da festejada democracia ocidental, que tem como paradigmas os modelos norte-americano e europeu. Modelos de cidadanias excludentes para o restante da humanidade. [3]
Analisando autenticamente os acontecimentos que se revelam, presentemente, para a humanidade, observamos uma ordem econômica mundial redutora do alcance dos denominados direitos do homem. E uma ordem social que, por meio da força bélica, impõe ao mundo a sua maneira de pensar. Resumindo, a humanidade aguarda sem reações às reuniões da Organização Mundial do Comércio, que tem como escopo a retirada, nos ordenamentosjurídicos Ocidentais, dos direitos classificados como sociais, ou direitos humanos de segunda geração, ou direitos relacionados à igualdade material, enumerados no artigo sexto da nossa Constituição Federal (“Capítulo II”, “Dos Direitos Sociais”, “[...] artigo 6º: São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados”.[4]). Direitos identificados pelos economistas como barreiras ao desenvolvimento do atual capitalismo financeiro, ou seja, para competir com as bolsas de valores, juros altos, câmbio livre; os países dependentes do capital internacional (países classificados como emergentes) precisam reduzir ou retirar toda a legislação que trata da proteção ao ser humano. A nova regra econômica mundial é clara: liberdade total para o capital, independentemente de sua origem, incluindo o capital derivado do crime internacional; e dependência para os homens e mulheres.
Segundo o modelo liberal, o capitalismo é uma economia de mercado livre, na qual a soberania do consumidor determina todas as escolhas – feitas livremente no mercado. Cada indivíduo nele atua, decidindo, em último termo, à escala da economia como um todo, o que, como e para quem se vai produzir.
No fundo, o mito da soberania do consumidor é um reflexo do mito liberal do contrato, que reduz toda a vida em sociedade – nomeadamente a vida econômica – às relações contratuais livremente assumidas por indivíduos “livres”, independentes e iguais em direitos.
A soberania do consumidor é invocada também para legitimar os resultados do funcionamento das economias de mercado livre no que tange à distribuição da riqueza e do rendimento. No entanto, a verdadeira lógica dessa sociedade é o consumo, e não o sujeito consumidor, e para promover a venda de tudo que é produzido, inventam-se falsas necessidades. As empresas, por meio da publicidade, fabricam modas e modificam os hábitos de consumo, praticamente em todo o planeta. O consumidor não é soberano, é na verdade, um objeto da mídia e da cultura do consumo. A mídia o transformou num ser individualista, acrítico, dependente e corresponsável pelo movimento de destruição do planeta, da vida e dos direitos do homem.
Assim, o consumismo, a aplicação cega da lógica do mercado e a livre empresa, tão caras ao neoliberalismo, longe de conduzirem ao pretenso governo democrático da economia, estão conduzindo ao confisco do próprio direito à vida, transformando as relações humanas numa competição contra a vida.
Uma lógica que vem desafiando a Ética, contestando as ciências exatas e a própria biologia, transformando o que resta do meio ambiente em mercadoria, promovendo a “mercantilização da vida”[5] Resistências, como os movimentos ambientalistas, são classificadas também pela mídia como perigos para o progresso e a ordem. No entanto, as conquistas legislativas promovidas pelas manifestações dessas organizações são aproveitadas pelos complexos econômicos como ganhos para o capital.
Por exemplo, a Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (Haia, novembro/2000) constitui um fracasso, graças às posições do chamado grupo “Umbrella”, liderado pelos EUA e integrado por aliados seus (Japão, Austrália, Canadá). Destinava-se a Conferência a definir os termos da aplicação do Protocolo de Quioto (1997), por meio dos quais os países industrializados assumiriam o compromisso de reduzir globalmente em 5% as suas emissões de gases promotores do efeito estufa até 2010. [6]
No entanto, a Conferência de Haia demonstrou que os EUA e seus aliados estão mais interessados na proteção do capital financeiro e da ultrapassada indústria que utiliza energia suja, como petróleo e carvão, do que na preservação da vida humana, pois já floresce no setor especulativo a corretagem do direito de poluir.
Segundo o Protocolo de Quioto, a compensação ambiental que geraria o direito de emitir de forma controlada o gás carbônico deveria vigorar a partir de 2008. No entanto, a corretagem desses direitos já é uma mercadoria no setor especulativo, com lucros calculados em 50 milhões de dólares. A Agência Internacional de Energia calcula que, nos próximos 20 anos, as emissões de dióxido de carbono aumentarão 60% relativamente a 1997. Os EUA, nesse quadro, terão as suas emissões elevadas em 42% até 2010, em vez de diminuírem 7%, de acordo com as metas estabelecidas em Quioto.
Outro princípio do liberalismo: a defesa da privatização do mercado repercute também na principal fonte da vida: “a água”. Economistas afirmam que, depois do telefone, da energia e do gás, a água será o próximo serviço imposto pela concorrência internacional. [7]
Ou seja, o cenário esboça a ideologia do mercado e do modelo liberal, força motriz do atual sistema capitalista financeiro, que promove no mundo ocidental a retirada dos direitos relacionados à vida, à igualdade, à liberdade e ao meio ambiente. Uma tentativa de suprimir do homem sua capacidade de decisão e reação diante das regras impostas pelo capital e pelas bolsas de valores.
O que a história social nos revela é que, ao contrário do direito positivo e impositivo da ordem, os verdadeiros direitos derivaram da luta, da morte e da resistência das mulheres, dos operários, escravos, dos homens livres da ordem escravocrata, dos afrodescendentes, dos imigrantes, dos sem-terras, das diversas nações indígenas e dos defensores das relações homoafetivas.
Portanto, os movimentos sociais são também protagonistas da história e devem ocupar seu papel relevante na narrativa do passado. O resgate dessa interpretação pretende suprimir a tentativa, no mundo presente, de condenar os movimentos contrários ao direito positivo e técnico. Pois a ampliação do conceito de direitos do homem decorreu, ao longo da história, da luta das mulheres e dos homens que desafiaram o direito positivo, a legalidade, a ordem e o “dever ser”. Uma resistência que ampliou o conceito e o sentido da expressão: “ter direitos”.
Os movimentos sociais considerados vozes contrárias à lei positiva são legítimos e existentes, e que pretendiam e pretendem ampliar o entendimento dos direitos denominados “do homem”.
3.1 ONU E OS DIREITOS SOCIAIS
A tentativa de criação de um sistema internacional de proteção do ser humano foi defendida, após a publicação de Declaração de 1948. A proposta inicial e vencedora foi a transformação da Declaração em um documento internacional denominado, como já exposto, de Tratado Internacional. Um documento juridicamente obrigatório e vinculante no âmbito do Direito Internacional.
Esse processo de “juridicização” da Declaração, iniciado no ano de 1949 e concluído apenas em 1966, com a elaboração de dois tratados internacionais distintos – o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais –, que passavam a incorporar os direitos constantes da Declaração Universal.
A partir da elaboração desses Pactos forma-se a Carta Internacional dos Direitos dos Homens (“International Bill of Rights”), integrada pela Declaração Universal de 1948 e pelos dois Pactos Internacionais de 1966.
A Carta Internacional inaugurou, assim, o sistema global de proteção desses direitos, ao lado do qual já se delineava o sistema regional de proteção, nos âmbitos europeu, interamericano e africano.
O denominado sistema global, por sua vez, viria a ser ampliado com o advento de diversos tratados multilaterais de direitos do homem. Durante todo o Século XX foram aprovados inúmeros documentos, pertinentes a determinadas e específicas violações de direitos, como genocídio, tortura, discriminação racial, discriminação contra as mulheres, violação dos direitos das crianças, dentre outras formas específicas de violação.
Diversamente dos tratados internacionais tradicionais, os tratados internacionais de direitos humanos não objetivam estabelecer o equilíbrio de interesses entre os Estados, mas buscam garantir o exercício de direitos e liberdades fundamentaisdos indivíduos.
Embora aprovados em 1966 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais entraram em vigor apenas dez anos depois, em 1976, tendo em vista que somente nessa data alcançaram o número de ratificação necessário para tanto. Em julho de 1996, mais de 130 Estados já haviam aderido a cada um dos Pactos Internacionais.
No início de suas atividades, como já mencionado, a Comissão de Direitos Humanos da ONU trabalhou em um único projeto de Pacto, que conjugava duas categorias de direitos. Contudo, em 1951, a Assembleia Geral, sob a influência dos países ocidentais, determinou que fossem elaborados dois Pactos em separado, que deveriam ser aprovados e abertos para a assinatura simultaneamente, no sentido de enfatizar a unidade dos direitos neles previstos.
Um dos maiores argumentos levantados pelos países ocidentais em defesa da elaboração de dois pactos distintos centrou-se em diversos processos de implementação das duas categorias de direitos. Alegou-se que, enquanto os direitos civis e políticos eram autoaplicáveis e passíveis de cobrança imediata, os direitos sociais, econômicos e culturais eram “programáticos” e demandavam realização progressiva; na verdade, uma progressividade que nunca se estabeleceu.
Em face dessas argumentações, os países socialistas responderam que não eram todos os países em que os direitos civis e políticos faziam-se autoaplicáveis e os direitos sociais, econômicos e culturais, não autoaplicáveis. A depender do regime, os direitos civis e políticos poderiam ser programáticos e os direitos sociais, econômicos e culturais, autoaplicáveis. Neste raciocínio, a feitura de dois instrumentos distintos poderia ainda significar uma diminuição da importância dos direitos sociais, econômicos e culturais.
Contudo, a posição ocidental prevaleceu, e ficou decidido que dois pactos internacionais diversos seriam adotados – cada qual pertinente a uma categoria específica de direitos.
Observa-se que o sistema criado não deu preferência aos direitos sociais, que foram relegados a um plano secundário, ou seja, para as nações dominantes o que importou foi a implantação de direitos civis, direitos relacionados à liberdade. Em relação aos direitos sociais, relativos à igualdade, foram, como na Revolução Francesa, relevados ao mundo das ideias.
O que nasceu paralelamente ao pretenso sistema internacional de proteção aos seres humanos foi uma nova ordem mundial de dominação por meio do capitalismo financeiro, que impôs um modelo econômico excludente e relegou os direitos do homem para o plano da abstração. Como no século XVIII, as cartas libertárias foram conduzidas pelo liberalismo, que utilizou o princípio da liberdade para fomentar o mercado e relegou a igualdade para o plano teórico.
No ano de 1944[8], um ano antes da divulgação da Carta da ONU, foi concluído um acordo, em Bretton Woods, EUA, com o objetivo de criar um ambiente de maior cooperação na área da economia internacional, baseado no estabelecimento de três instituições internacionais.
A primeira seria o FMI (Fundo Monetário Internacional), com função de manter a estabilidade das taxas de câmbio e assistir os países com problemas de balanço de pagamentos por meio de acesso de fundos especiais, e assim desestimular a prática da época de se utilizar restrições ao comércio cada vez que surgisse um desequilíbrio dos balanços de pagamentos.
A Segunda seria o Banco Mundial ou Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento, com função de fornecer os capitais necessários para a reconstrução dos países atingidos pela guerra.
A terceira seria a OIC (Organização Internacional do Comércio), com função de coordenar e supervisionar a negociação de um novo regime para o comércio mundial baseado nos princípios do multilateralismo e do liberalismo.
Com o final da guerra, o FMI e o Banco Mundial foram criados, mas a OIC acabou por não ser estabelecida, uma vez que a Carta de Havana, que delimitava seus objetivos e funções, nunca chegou a ser ratificada por um dos seus principais membros, os EUA, porque, na época, a maioria dos deputados temia que a nova instituição fosse restringir excessivamente a soberania do país na área do comércio internacional.
Para sair do impasse, foi negociado um Acordo Provisório, em 1947, entre 23 países, ou partes contratantes, que adotava apenas um segmento da Carta de Havana, aquela relativa às negociações de tarifas e regras sobre o comércio. No caso dos EUA, tal negociação não dependia da aprovação do Congresso, pois a autorização já havia sido dada ao poder executivo. Este segmento era denominado Política Comercial e passou a ser chamado General Agreement on Tariffs and Trade (Acordo Geral sobre Tarifas ou Comércio) ou GATT. De simples acordo, o GATT se transformou, na prática, embora não legalmente, em um órgão internacional, com sede em Genebra, passando a fornecer a base institucional para diversas rodadas de negociações sobre o comércio, a funcionar como coordenador e supervisor das regras do comércio até o final da Rodada Uruguai e a criação da atual OMC.
O sistema de regras do comércio internacional, como é hoje concebido, foi estabelecido ao longo dos anos, por meio de oito rodadas de negociações multilaterais.
As seis primeiras visavam basicamente a diminuição dos direitos aduaneiros, através de negociações de concessão tarifárias recíprocas. As duas últimas rodadas foram mais amplas, mas também incluíram reduções tarifárias.
A sétima rodada, chamada de Tóquio, negociou, além de redução de tarifas, uma série de acordos para reduzir a incidência de barreiras ditas não tarifárias e que passaram a ser adotadas por diversos países como forma de proteção à produção nacional.
A oitava rodada, a Rodada Uruguai, foi a mais ambiciosa e complexa das negociações estabelecidas no âmbito do GATT. Foi iniciada em 1986, na cidade de Punta del Este, e terminou formalmente em 1993, sendo assinada em abril de 1994 pelas partes, na cidade de Marrakech. O objetivo da Rodada, além da diminuição das tarifas, foi o de integrar às regras do GATT setores antes excluídos, como agricultura e têxteis, além de introduzir tais regras a novos setores como serviços, medidas de investimentos e de propriedade intelectual.
O que vale ressaltar dessa derradeira rodada é a criação da OMC (Organização Mundial do Comércio), que substitui o antigo órgão internacional, o GATT, simples secretariado de um acordo multilateral, por uma nova organização internacional.
A rodada envolveu mais de 100 países, concretizando suas discussões com uma série de acordos e decisões em um texto com cerca de 500 páginas.
A OMC pretende ser a coluna mestra do novo sistema internacional do comércio, que se pretende mais integrado, mais viável e mais estável, fornecendo suas bases institucionais e legais. A estrutura legal da OMC engloba as regras estabelecidas pelo antigo GATT, as modificações efetuadas ao longo dos anos, os resultados das negociações passadas de liberalização de comércio, além de todos os resultados da Rodada Uruguai.
Um dos principais pontos da Rodada Uruguai foi a determinação de que só poderiam ser membros da OMC os participantes que aceitassem todos os acordos como um conjunto não dissociável, em que os países foram obrigados a aceitar todos os pontos negociados, diferentemente da Rodada de Tóquio, em que os países puderam escolher os códigos a que desejassem aderir.
Nos cinco anos subsequentes à fundação da OMC, em 1995, a prosperidade mundial esteve, mais do que nunca, circunscrita aos países desenvolvidos, particularmente os EUA e a União Europeia. 
O sistema de resolução de disputa da OMC tem inúmeras falhas operacionais, como, por exemplo, a transparência. A divisão jurídica do secretariado da OMC, na prática, escolhe os árbitros, define os termos de referência ou objeto do litígio e presta assessoria mandatária tanto aos painéis de primeira instância como ao grau de apelação. No entanto,a divisão jurídica do secretariado tem composição hegemônica, dominada por nacionais das principais potências. Dos 51 casos decididos definitivamente na OMC[9] desde a sua criação, 18 foram pertinentes a confrontos entre países em desenvolvimento e desenvolvidos. Destes, 13 foram ganhos pelos países desenvolvidos, mais de dois terços, e apenas quatro pelos países em desenvolvimento, dos quais dois com recusa de implementação.
Para Derrida[10], a construção de um autêntico projeto de proteção internacional aos direitos do homem está comprometida por várias contradições que deveriam ser superadas: 
1) o desemprego gerado pelos novos mercados, novas tecnologias, a competitividade mundial – atualmente há dificuldade no conceito de desemprego;
2) a exclusão dos cidadãos sem-teto de qualquer forma de participação na vida democrática dos Estados;
3) a guerra econômica entre os blocos econômicos existentes na atualidade; 4) a falta de habilidade em amenizar as contradições entre as normas e a realidade do mercado livre;
5) o aumento da dívida externa e outros mecanismos relacionados estão levando ao desequilíbrio grande parte da humanidade;
6) o comércio e a indústria de armas estão mundialmente disseminados, mais até que o tráfico de drogas, do qual não é totalmente dissociado;
7) o descontrole na difusão das armas nucleares, mantidas pelas nações que afirmam querer se proteger;
8) a proliferação das guerras entre os diferentes grupos étnicos;
9) a máfia e os cartéis de drogas, fantasmas do capitalismo, banalizados e presentes em toda parte;
10) as leis internacionais obedecem a padrões filosóficos culturais europeus, que nem sempre condizem com a realidade de outras nações.
Para o mencionado autor, “é certo que os direitos dos homens foram conquistados ao longo dos anos, entretanto, para que não se tornem hipócritas, inadequados e formais é necessário que lhes dêem uma nova roupagem, com a superação dessas contradições”.
[1]OLIVEIRA, Graziela. Dignidade e direitos humanos. Curitiba: Ed. UFPR, 2003. p. 7.
[2]O poder de polícia pelo conceito clássico, ligado à concepção liberal do século XVII, compreendia a atividade estatal que limitava o exercício dos direitos individuais em benefício da segurança. Pelo conceito moderno, adotado no direito brasileiro, o poder de polícia é a atividade do Estado consistente em limitar o exercício dos direitos individuais em benefício do interesse público. In: DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 19 Edição, 2006.
[3]“Cidadania não é uma definição estanque, mas um conceito histórico, o que significa que seu sentido varia no tempo e no espaço” [...] “A cidadania instaura-se a partir dos processos de lutas que culminaram na independência dos Estados Unidos da América do Norte e na Revolução Francesa. Esses dois eventos romperam o princípio de legitimidade que vigia até então, baseado nos deveres dos súditos, e passaram a estruturá-lo a partir dos direitos do cidadão. Desse momento em diante, todos os tipos de luta foram travados para que se ampliasse o conceito e a prática de cidadania e o mundo ocidental o estendesse para mulheres, crianças, minorias nacionais, étnicas, sexuais, etárias. Nesse sentido, pode-se afirmar que, na sua acepção mais ampla, cidadania é a expressão concreta do exercício da democracia”. PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla (Orgs.). História da cidadania. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2003. Introdução, p. 9-10.
[4]BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal; Secretaria Especial de Editoração e Publicações; Subsecretaria de Edições Técnicas, 2005. p. 20.
[5]AVELÃS NUNES, António José. Neoliberalismo e direitos humanos. São Paulo: Renovar, 2003.
[6]Id. Ibid.
[7]Id. Ibid.
[8]THORSTENSEN, Vera. OMC, Organização Mundial do Comércio: as regras do comércio internacional e a nova rodada de negociações multilaterais. 2. ed. São Paulo: Aduaneiras, 2003.
[9]Até 1.2.2001.
[10]DERRIDA, Jacques. Wears and Tears (Tableau of an Ageless World), p. 258, In: HAUDEN, Patrick, The philosophy of human rights. USA: Paragon House St. Paul, 2001.
CONCLUSÕES DO MÓDULO 03
Segundo Cohn (2000) a “questão social”, na maior parte das vezes, aparece na literatura como sendo as mazelas sociais, sinônimo de “problemas sociais”. São os problemas sociais que ultrapassam determinado nível considerado como “normal” a partir de determinados critérios –fome, pobreza, trabalho infantil, violência, tráfico e consumo de drogas, devastação do meio ambiente, prostituição infantil, dentre outros.
No Brasil, no final do século XIX, os problemas sociais eram considerados de responsabilidade da filantropia, era estreita associação com a Igreja Católica. O exemplo clássico são as Santas Casas de Misericórdia.
No início do século XX, cristalizou-se a concepção de que “questão social” era responsabilidade pública, que deveria estabelecer um patamar mínimo de bem-estar aos cidadãos.
É por via do trabalho que determinados problemas sociais da realidade brasileira transformaram-se em questão social e como algo pertencente à esfera pública.
Cohn (2000) menciona que, na nossa cultura brasileira, as redes sociais e as amizades transformam-se em valiosos capitais sociais, uma vez que é por meio delas que o cidadão comum terá alguma chance de acesso aos bens de consumo coletivo e aos benefícios sociais básicos.
Segundo Benevides:
Nossa Carta (Constituição) reflete, assim, uma feliz combinação de direitos humanos e de direitos do cidadão, de tal sorte que lutar pela cidadania democrática e enfrentar a questão social no Brasil praticamente se confunde com a luta pelos direitos humanos – ambos entendidos como resultado de uma longa história de lutas sociais e de reconhecimento, ético e político, de dignidade intrínseca de todo ser humano, independentemente de quaisquer distinções.(BENEVIDES, 2001).
Essa visão é bastante moderna, à medida que vemos alguns países europeus, após a crise de 2008, se voltarem a programas que pudessem dar sustentação a um grande número de cidadãos sem emprego e com baixa rede social de apoio.
O objeto dos direitos econômicos e sociais são políticas públicas ou programas de ação governamental, que visam a suprimir carências sociais.
A efetivação dos objetivos dos objetivos da Repúblicas Federativas do Brasil e a construção da democracia participativa no Brasil estão atrelados a efetivação da políticas públicas, principalmente políticas na área de Saúde e Educação.
A medida que a sociedade brasileira vai caminhando fortemente para a democracia participativa, coloca também aos representantes a questão de ter que propor e exigir a operacionalização das políticas públicas até por uma questão de sua sobrevivência.
Nesse sentido está havendo um caminhar no sentido de ocupar espaços políticos dentro do Estado, dentro de uma perspectiva democrática participativa para que seja o Estado um verdadeiro local de operacionalização de políticas públicas tendo em vista o bem público.
E o bem público é efetivar serviços  relacionadas com a Saúde e a Educação.
Democracia plena significa oferta de serviços públicos de qualidade amparados pelo Direito!
MÓDULO 04. ESTADO, DEMOCRACIA E POLÍTICAS PÚBLICAS
Introdução
Segundo Gilmar Mendes, o avanço que o Direito Constitucional apresenta hoje é resultado da afirmação dos direitos  fundamentais como núcleo da proteção da dignidade da pessoa e da visão de que a Constituição é o local adequado para positivar as normas asseguradoras dessas pretensões.
A relevância da proclamação dos direitos fundamentais entre nós pode ser sentida pela leitura do preâmbulo da atual Constituição. Ali se proclama que a Assembleia Constituinte teve como inspiração básica dos seus trabalhos o propósito de instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança.
Conceito para direitos fundamentais: situações jurídicas sem as quais a pessoa humana não se realiza, não convive e,  às vezes, nem mesmo sobrevive; fundamentaisdo homem no sentido de que a todos, por igual, devem ser, não apenas formalmente reconhecidos, mas concretamente e materialmente efetivados.
4.1. Localização dos direitos fundamentais
A Constituição Federal de 1988, em seu Título II, classifica o gênero direitos e garantias fundamentais em cinco espécies:
Direitos Individuais (artigo 5°);
Direitos Coletivos (artigo 5°);
Direitos Sociais (artigo 6° a 11);
Direito à Nacionalidade (artigo 12);
Direitos Políticos (artigo 14 ao 17).
4.2 Finalidade dos direitos fundamentais
Na visão ocidental de democracia, o governo pelo povo e a limitação de poder estão relacionados. A população escolhe seus representantes, que, agindo como mandatários, decidem o destino da nação. O poder delegado pelo povo a seus representantes, porém, não é absoluto, conhecendo várias limitações, como, por exemplo, os direitos e garantias individuais e coletivas.
4.3 Evolução dos Direitos Fundamentais (Gerações ou dimensões de Direitos)
Direitos Humanos de primeira geração ou dimensão: às liberdades públicas e aos direitos políticos, ou seja, direitos civis e políticos relacionados a liberdade. 
Direitos Humanos de segunda geração ou dimensão: direitos sociais e econômicos, correspondendo aos direitos de igualdade. 
Direitos Humanos de terceira geração ou dimensão: o ser humano é inserido em uma coletividade e passa a ter direitos de solidariedade (meio ambiente e proteção do consumidor). 
Direitos Humanos de quarta geração ou dimensão: decorrem dos avanços no campo da engenharia genética. Por outro lado, a globalização política introduz no campo do Direito temas como: a democracia (direta); o direito à informação; pluralismo. 
Direitos fundamentais da quinta dimensão: democracia participativa.
4.4 Características dos Direitos e Garantias Fundamentais
Historicidade: possuem caráter histórico.     
Universalidade: destinam-se a todos os seres humanos.
Inalienabilidade: são direitos intransferíveis, inegociáveis, pois não são de conteúdo econômico-patrimonial.
Imprescritíveis: nunca deixam de ser exigíveis.
Irrenunciáveis: não se renunciam direitos fundamentais.
Concorrência: podem ser exercidos cumulativamente, quando, por exemplo, o jornalista transmite uma notícia (direito de informação) e, juntamente,     emite uma opinião (direito de opinião).
Limitabilidade: os direitos fundamentais não são absolutos (relatividade), havendo, muitas vezes, no caso concreto, confronto de interesses. A solução ou vem discriminada na própria Constituição (ex.: direito de propriedade vs. desapropriação), ou caberá ao intérprete, ou magistrado, no caso concreto, decidir qual direito deverá prevalecer, levando em consideração da máxima observância dos direitos fundamentais envolvidos, conjugando-a com a sua mínima restrição.
4.5 Natureza Jurídica das Normas que Disciplinam os Direitos e Garantias Fundamentais
Nos termos do artigo 5°, §1°, da Constituição Federal, as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.
4.6 Diferenciação entre Direitos e Garantias Fundamentais
Direitos são bens e vantagens prescritos na norma constitucional, enquanto as garantias são os instrumentos por meio dos quais se assegura o exercício dos direitos (preventivamente) ou prontamente os repara, caso violados.
4.7  Direitos  e Deveres Individuais e Coletivos
É importante lembrar que, como se manifestou o STF, de acordo com a doutrina mais atualizada, que os direitos e deveres individuais e coletivos não se restringem ao artigo 5° da Constituição Federal, podendo ser encontrados ao longo do texto constitucional (no julgamento da ADIn 939-7/DF, entendeu tratar-se de cláusula pétrea a garantia constitucional prevista no artigo 150, III, b).
4.7.1 Destinatários
Brasileiros, estrangeiros, estrangeiros não residentes, os apátridas e as pessoas jurídicas. ( artigo 5 da Constituição Federal).
4.7.2 Deveres Fundamentais
Além dos direitos fundamentais, desenvolve-se estudos sobre os deveres fundamentais:
Dever de efetivação dos direitos fundamentais: estamos diante da necessidade de atuação positiva do Estado, passando-se a falar em um Estado que tem o dever de realizar os direitos, uma ideia de Estado prestacionista;
Deveres específicos do Estado diante dos indivíduos: como exemplo, os autores citam o dever de indenizar o condenado por erro judiciário, o que se dará por atuação e dever das autoridades estatais;
Deveres de criminalização do Estado: a Constituição determina que o Poder Legislativo edite atos normativos para implementar os comandos, como no caso do artigo 5°, XLII, devendo haver a normatização do crime de tortura;
Deveres dos cidadãos e da sociedade: como exemplo, os autores citam o dever de serviço militar obrigatório (artigo 143, CF) e a educação enquanto dever do Estado e da família (artigo 205);
Dever de exercício do Direito de forma solidária e levando em consideração os interesses da sociedade: como exemplo, os autores citam o direito de propriedade, que deve ser exercido conforme a sua função social (artigo 5°, XXIII, da CF).
4.8 Caracterização do Estado Democrático de Direito
Conceito novo.
A democracia que o Estado Democrático de Direito realiza há de ser um processo de convivência social numa sociedade livre, justa e solidária (artigo 3,I da CF)
4.9 Princípios e Tarefas do Estado Democrático de Direito
A) Princípio da constitucionalidade
O Estado Democrático de Direito se funda na legitimidade de uma Constituição rígida, emanada da vontade popular, dotada de supremacia.
B) Princípio Democrático
Democracia representativa, participativa e pluralista, garante a vigência e eficácia dos direitos fundamentais (políticas públicas).
Democracia representativa: conjunto de instituições que disciplinam a participação popular no processo político.
Constam nos artigos 14 a 17 da Constituição:
Eleições;
Partidos políticos;
Sistema eleitoral;
Partidos políticos; 
Democracia participativa: participação direta e pessoal da cidadania na formação dos atos de governo:
 => Iniciativa popular (artigo 14, III, e regulada no artigo 61, parágrafo segundo, da Constituição Federal)
O projeto precisa ser subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional (cerca de 900.000), distribuídos pelo menos em cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles.
=> Referendo popular
Projetos de lei aprovados pelo legislativo devam ser submetidos à vontade popular, artigo 14, II da Constituição Federal.
=> Plebiscito
Semelhante ao referendo; difere deste no fato de que visa decidir previamente uma questão política ou institucional antes de sua formulação legislativa, artigo 14, I, da Constituição Federal.
=> Ação popular (artigo 5, LXXII da Constituição Federal) 
4.10 - Fundamentos do Estado Brasileiro
Artigo 1 da Constituição Federal:
Soberania.
Cidadania.
Dignidade da pessoa humana.
Valores sociais do trabalho e da livre iniciativa.
Pluralismo político.
4.11 - Objetivos Fundamentais do Estado Brasileiro
Artigo 3° da Constituição Federal:
I.   Construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II.   garantir o desenvolvimento nacional;
III.   erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV.   promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
CONCLUSÃO DO MÓDULO 04
A efetivação dos objetivos da República Federativa do Brasil e a construção da democracia participativa no Brasil estão atrelados à efetivação das políticas públicas, principalmente na área de saúde e Educação. 
Segundo Dallari (2011), todo Estado implica em um entrelaçamento de situações, de relações, de comportamentos, de justificativas, de objetivos, que compreende aspectos Jurídicos, mas que contém, ao mesmo tempo, um indissociável conteúdo político.
Esse conteúdo político está atrelado à efetivação de políticas públicas que cumpram o papel constitucional do Estado brasileiro e efetivam a Democracia.
Segundo a ConstituiçãoFederal, o Estado brasileiro tem uma obrigação em efetivar os direitos fundamentais, e esta obrigação será efetivada com o desenvolvimento de políticas públicas que superem a trágica desigualdade social no Estado brasileiro.

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