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Aula 6 - PODERES ADMINISTRATIVOS 
 
São instrumentos e prerrogativas conferidas ao agente público para que, no desempenho 
de suas atividades, satisfaçam o interesse público. Trata-se de um poder dever o dever 
poder, uma vez que o exercício é irrenunciável. 
Não se confundem com Poderes do Estado (elementos estruturais – Executivo, Legislativo e 
Judiciário). 
O caráter finalista cu da função administrativa revela que os poderes administrativos são 
prerrogativas instrumentais que deve ser exercidas para o atendimento das finalidades 
estatais. 
Características 
• São deveres. Não se trata de mera liberdade do administrador. 
• Irrenunciáveis, em razão do princípio da indisponibilidade do interesse público. O 
administrador exerce função pública, exercendo atividade em nome do interesse do 
povo, que é o titular do poder. Função pública significa atividade em nome e no 
interesse do povo. 
• Os limites estão previstos em lei. Deve respeitar a regra de competência legal (lei 
ou CF). 
• Cabe responsabilização do agente público, seja por ação ou omissão. Se o 
responsável pela aplicação do poder disciplinar deixa de aplicar a penalidade 
também é responsabilidade. 
 
Abuso de Poder – Éxcesso e desvio de poder 
O exercício abusivo dos poderes administrativos deve ser evitado e reprimido, pois revela 
conduta ilegal. Assim, quando o agente, pratica o ato além dos limites necessários à 
busca do interesse publico, diz-se que houve abuso de poder. 
 
Nesse sentido, a doutrina aponta como abuso de poder situações nas quais a autoridade 
pública pratica o ato extrapolando a competência legal ou visando uma finalidade 
diversa daquela estipulada. 
 
 
• O excesso de poder: A atuação do agente extrapola a competência delimitada na 
lei. A autoridade pública atua fora dos limites de sua competência. (policial que 
utiliza força desproporcional para impedir determinada conduta) 
Abuso de poder
Excesso de poder
Desvio de poder 
(finalidade)
• O desvio de finalidade estará presente sempre que o agente do Estado praticar o 
ato, mas visando a alcançar outra finalidade que não aquela prevista em lei, ou 
seja, que não o interesse público. Aqui, ele até atua dentro de sua competência, mas 
desvia-se da finalidade. (edição de ato administrativo para beneficiar parentes) 
 
Seja em decorrência de excesso ou desvio de finalidade, o abuso de poder enseja a 
nulidade do ato administrativo a ser discutida na esfera administrativa, por meio de 
impugnação administrativa ou mediante provocação do Judiciário, em virtude do poder que 
lhe é conferido de controlar a legalidade da atuação administrativa. 
 
PODER DISCRICIONÁRIO E VINCULADO 
 
Classificação, que leva em conta o grau de liberdade conferido ao administrador. 
Destaca-se, ainda, que um poder nem é totalmente vinculado, nem totalmente discricionário. 
 
• Poder vinculado é aquela situação em que o administrador não tem liberdade, juízo 
de valor, conveniência e oportunidade. Preenchidos os requisitos legais a autoridade 
tem que praticar o ato. 
Ex.: licença para construir, licença para dirigir, concessão de aposentadoria. 
 
• Poder discricionário – há a conveniência e oportunidade do administrador. Essa 
discricionariedade tem de estar dentro dos limites da lei, sob pena de se tratar de 
conduta arbitrária, sendo considerada ilegal. Conveniência: modo de atuação, 
oportunidade, momento. 
Ex.: permissão de uso de bem público, autorização para veículo acima do peso 
permitido. 
 
CONTROLE JUDICIAL DA ATIVIDADE DISCRICIONÁRIA - De acordo com Rafael Carvalho, o Poder 
Judiciário não pode e não deve substituir a decisão do administrador, não pode fazer análise de 
interesse público, não pode, enfim, julgar o mérito de um ato administrativo discricionário (mérito é a 
conveniência e oportunidade do administrador em praticar o ato dessa ou daquela maneira – Motivo e 
objeto) 
 
 Isso porque, o mérito é a área que coincide com o campo opinativo do administrador público, 
extrapolando a atuação do Poder Judiciário. Contudo, ainda que o ato administrativo seja 
discricionário, ele fica sujeito a controle jurisdicional no que diz respeito à sua adequação com 
a lei, principalmente a partir do fenômeno da constitucionalização do direito administrativo. 
 
O dever do poder público de fornecer acesso à pré-escola e creche se submete a um juízo de 
discricionariedade administrativa?Em novembro de 2005, no RE 436.966, o STF reconheceu o 
direito constitucional à educação, afirmando que é dever dos municípios oferecer creche e acesso à 
pré-escola a todas as crianças que precisem, sendo uma OBRIGAÇÃO CONSTITUCIONAL 
VINCULANTE, não havendo que se falar em discricionariedade da Administração Pública. No mesmo 
diapasão, tem-se o seguinte julgado: AgRg no Resp 1.198.737/RS. 
 
ESPÉCIES DE PODERES ADMINISTRATIVOS 
 
1 – Poder Normativo ou regulamentar 
É a prerrogativa reconhecida à administração pública para editar atos administrativos gerais 
para fiel execução das leis. 
 
É uma consequência do caráter relativo do princípio da separação de poderes que, 
segundo a doutrina do checks and balances, permite a cada um dos “Poderes” o 
exercício de funções atípicas de forma a controlar o outro “Poder”. 
 
Assim, cada “Poder” exerce funções típicas, correspondentes ao seu nome (Poder Executivo 
executa a lei; o Legislativo cria as leis, inovando na ordem jurídica; e o Judiciário resolve, 
com definitividade, as lides, além de controlar a constitucionalidade de leis e atos 
normativos), bem como funções atípicas que seriam, em princípio, inerentes aos outros 
“Poderes” (o Chefe do Executivo pode exercer poder normativo com caráter inovador 
mediante a edição, v.g., das medidas provisórias e da lei delegada, conforme previsto, 
respectivamente, nos arts. 62 e 68 da CRFB). 
 
O poder normativo da Administração Pública, que o exerce em sua função atípica, pode ser 
exercido basicamente por meio da delegação legislativa ou do próprio poder regulamentar. 
• delegação legislativa possibilita a prática de ato normativo primário, com força de 
lei (ex.: medidas provisórias e leis delegadas, previstas, respectivamente, nos arts. 
62 e 68 da CRFB), 
• o poder regulamentar encerra uma atividade administrativa, de cunho normativo 
secundário. Dar fiel execução as leis através de Regulamentos (decretos) de forma a 
possibilitar a sua concretização. Em algumas situações, a própria Constituição da 
República confere a possibilidade de a Administração editar regulamentos sem a 
necessidade de intermediação legislativa, como se analisará no tópico abaixo. 
ESPÉCIES DE REGULAMENTO 
Regulamentos 
executivos 
São editados com fundamento na Lei e necessários para sua execução. Não pode 
inovar o ordenamento jurídico, mas somente pode complementar a lei. Art. 84, IV CF/88: 
Art. 84: Compete privativamente ao Presidente da República: IV - sancionar, promulgar e 
fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel 
execução; 
Regulamentos 
 Possui fundamento direto na constrição e têm o condão de inovar o ordenamento 
Autônomos jurídico, determinando normas sobre matérias não disciplinadas em lei. Em consonância 
com o entendimento majoritário da doutrina e jurisprudência brasileiras, só são 
admissíveis duas espécies de Regulamentos Autônomos no ordenamento jurídico pátrio, 
quais sejam, as duas situações previstas no art. 84, VI da Carta Magna. 
Decisão Recente do STF sobre decreto autônomo. O Governador da Bahia editou um 
decreto prevendo que, em caso de greve, deverão ser adotas as seguintes providências: a) 
convocação dos grevistas a reassumirem seus cargos; b) instauração de processo 
administrativo disciplinar; c) desconto em folha de pagamento dos dias de greve; d) 
contratação temporária de servidores; e) exoneração dos ocupantes decargo de provimento 
temporário e de função gratificada que participarem da greve. O STF decidiu que este 
Decreto é constitucional. Trata-se de decreto autônomo que disciplina as 
consequências — estritamente administrativas — do ato de greve dos servidores 
públicos e as providências a serem adotadas pelos agentes públicos no sentido de dar 
continuidade aos serviços públicos. A norma impugnada apenas prevê a instauração de 
processo administrativo para se apurar a participação do servidor na greve e as condições 
em que ela se deu, bem como o não pagamento dos dias de paralisação, o que está em 
consonância com a orientação fixada pelo STF no julgamento do MI 708. É possível a 
contratação temporária excepcional (art. 37, IX, da CF/88) prevista no decreto porque o 
Poder Público tem o dever constitucional de prestar serviços essenciais que não podem ser 
interrompidos, e que a contratação, no caso, é limitada ao período de duração da greve e 
apenas para garantir a continuidade dos serviços. STF. Plenário. ADI 1306/BA, Rel. Min. 
Cármen Lúcia, julgado em 13/6/2017 (Info 906). 
OBS: Poder regulamentar e poder regulatório 
Não se confundem. 
O poder regulamentar possui as seguintes características: 
a) Competência privativa do chefe do Executivo (art. 84, IV, da CRFB); 
b) Envolve a edição de normas gerais para fiel cumprimento da lei; 
c) Conteúdo político. 
O poder regulatório apresenta as seguintes características: 
a) Competência atribuída às entidades administrativas, com destaque para as agências 
reguladoras (art. 174 da CRFB); 
b) Engloba o exercício de atividades normativas, executivas e judicantes; 
c) Conteúdo técnico. 
 
OBS: Na doutrina de Rafael Carvalho, o art. 84, VI, “a”, da CRFB, alterado pela EC 32/2001, 
consagra hipótese de reserva de administração, uma vez que a organização da 
Administração Pública Federal (por simetria, estadual e local também) deixou de ser tratada 
por lei e passou para o domínio do regulamento, evidenciando uma verdadeira 
deslegalização efetivada pelo próprio texto constitucional. A desligalização É a 
transferência de determinadas matérias do campo legislativo para o campo dos atos 
administrativos. O fenômeno tem sido justificado pela crise da concepção liberal do 
princípio da legalidade e da democracia representativa, especialmente pelo ausência 
de celeridade e de conhecimento técnico do legislador para tratar de determinadas 
questões complexas. 
 
2 – Poder Hierárquico 
 
Trata-se de uma relação de subordinação administrativa entre agentes públicos que 
pressupõe, a distribuição vertical de funções, no interior da organização administrativa. A 
hierarquia, é uma característica encontrada exclusivamente no exercício da função 
administrativa, inexistindo, portanto, hierarquia nas funções típicas jurisdicionais e 
legislativas. 
 
Trata-se da prerrogativa que garante ao administrador estruturar, escalonar e hierarquizar os 
seus quadros. Ele vai organizar, estabelecendo a relação hierárquica de subordinação. 
 
O exercício do poder hierárquico traz algumas faculdades: dar ordens, fiscalizar o 
cumprimento dos atos praticados pelos subordinados, rever os atos praticados pelos 
subordinados, delegar e avocar funções, aplicar sanções e penalidades (exercício de poder 
hierárquico e disciplinar, uma vez que o poder disciplinar decorre do poder hierárquico). 
OBS: Avocação e delegação de competências 
• Avocação: desde que as atribuições não sejam da competência exclusiva do órgão 
subordinado, o chefe poderá chamar para si, de forma temporária, a competência 
que deveria inicialmente ser exercida pelo agente subalterno. 
 
• Delegação: Trata-se de exceção. Art. 11 Lei 9784: 
Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos administrativos a que foi 
atribuída como própria, salvo os casos de delegação e avocação legalmente admitidos. 
É extensão de atribuições de um órgão a outro de mesma hierarquia ou de 
hierarquia inferior, desde que não sejam exclusivas. A delegação também é 
exercida de forma temporária. Nesse sentido, é importante salientar que a 
delegação não configura uma transferência, mas sim uma extensão ou ampliação de 
competência, ou seja, o agente delegante não perde a competência delegada. 
Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento legal, 
delegar parte da sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam 
hierarquicamente subordinados, quando for conveniente, em razão de circunstâncias de 
índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial. 
Súmula 510/STF: Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência 
delegada, contra ela cabe o mandado de segurança ou a medida judicial. 
 
Por fim, cumpre salientar que a Lei expressamente proíbe a delegação de competência (e 
consequentemente a avocação) nas três situações a seguir descritas: Art. 13 da Lei 9784, 
• No caso de competência exclusiva, definida em lei; 
• Para decisão de recurso hierárquico; 
• Para edição de atos normativos. 
Prerrogativas e deveres hierárquicos 
O poder hierárquico confere uma série de prerrogativas aos agentes públicos 
hierarquicamente superiores em relação aos seus respectivos subordinados, a saber: 
 
a) Ordens: expedição de ordens, nos estritos termos da lei, que devem ser cumpridas 
pelos subordinados, salvo as ordens manifestamente ilegais; 
b) Controle ou fiscalização: verificação do cumprimento por parte dos subordinados 
das ordens administrativas e das normas vigentes; 
c) Alteração de competências: nos limites permitidos pela legislação, a autoridade 
superior pode alterar competências, notadamente por meio da delegação e da 
avocação; 
d) Revisional: possibilidade de rever os atos praticados pelos subordinados para 
anulá-los, quando ilegais, ou revogá-los por conveniência e oportunidade, nos 
termos da respectiva legislação; 
e) Resolução de conflitos de atribuições: prerrogativa de resolver, na esfera 
administrativa, conflitos positivos ou negativos de atribuições dos órgãos e agentes 
subordinados; e 
f) Disciplinar: apurada eventual irregularidade na atuação funcional do subordinado, a 
autoridade superior, após o devido processo legal, garantindo a ampla defesa e o 
contraditório, deverá aplicar as sanções disciplinares tipificadas na legislação. 
 
A insubordinação do agente público, caracterizada pelo descumprimento das determinações 
superiores, configura infração funcional, punível com a sanção disciplinar de demissão. 
Subordinação e vinculação 
No âmbito da organização administrativa, existem relações de subordinação e de vinculação 
que não se confundem. 
• relação de subordinação decorre naturalmente da hierarquia existente no 
interior dos órgãos e das entidades administrativas, pois há hierarquia em toda e 
qualquer desconcentração administrativa, seja entre órgãos da Administração Direta, 
seja no interior de determinada entidade da Administração Indireta. Portanto, a 
subordinação tem caráter interno. 
• a relação de vinculação é encontrada entre entidades da Administração 
Indireta e os respectivos entes federados. Entre pessoas jurídicas distintas, em 
razão da autonomia dessas entidades, não existe hierarquia, mas apenas os 
controles previstos expressamente a legislação (vinculação). Trata-se de relação 
externa, envolvendo pessoas jurídicas dotadas de personalidade jurídica própria e 
autonomia. 
 
3 – Poder Disciplinar 
 
É a prerrogativa reconhecida à Administração para investigar e punir, após o 
contraditório e a ampla defesa, os agentes públicos, na hipótese de infração funcional, e 
os demais administrados sujeitos à disciplina especial administrativa. O poder disciplinar é 
exercido por meio do Processo Administrativo Disciplinar (PAD). Fundado, normalmente, na 
hierarquia administrativa, o poder disciplinar relaciona-secom as relações jurídicas 
especiais administrativas, englobando duas situações: 
 
a) Relações Funcionais travadas com agentes públicos, independentemente da 
natureza do respectivo vínculo jurídico – legal ou negocial (ex.: demissão do servidor 
público); e 
b) Relações Particulares inseridos em relações jurídicas especiais com a 
Administração, mas que não são considerados agentes públicos (ex.: aplicação de 
multa contratual à empresa contratada pela Administração, sanções aplicadas aos 
alunos de escola pública e aos usuários de biblioteca pública etc.). 
 
Ao contrário do poder de polícia, exercido no âmbito de relações jurídicas genéricas entre 
Estado e cidadão, o poder disciplinar refere-se às relações jurídicas especiais, 
decorrentes de vínculos jurídicos específicos existentes entre o Estado e o particular 
(Administração – agente público, Administração – contratado, Administração –usuário de 
serviços públicos etc.). 
 
• O Poder Disciplinar consiste em um sistema punitivo interno e por isso não se pode 
confundir com o sistema punitivo exercido pela justiça penal muito menos com o 
exercício do Poder de Polícia. As pessoas que são atingidas por esse Poder 
possuem uma sujeição especial, um vínculo com a Administração Pública. 
 
DISCRICIONARIEDADE DO PODER DISCIPLINAR 
É tradicional a afirmação de que o poder disciplinar é discricionário, tendo em vista a menor rigidez da 
legislação administrativa, quando comparada à legislação penal, que confere liberdade, sempre 
regrada (limitada), para que a autoridade administrativa determine a adequação da conduta ao Estatuto 
funcional e escolha, motivadamente, a sanção que deve ser aplicada ao agente. 
 
Ressalte-se, no entanto, que a discricionariedade não se confunde com liberdade total ou 
arbitrariedade. No exercício de competências discricionárias, a Administração deve respeitar os 
princípios e regras vigentes (juridicidade) e, no caso específico da aplicação de sanções, deve 
observar, especialmente, os princípios da razoabilidade, da proporcionalidade, do devido processo 
legal, da ampla defesa e do contraditório. Ademais, toda e qualquer sanção estatal deve ser 
necessariamente motivada. 
Dessa forma, discricionariedade sofre sérias limitações na atualidade. A autoridade 
administrativa, ao tomar conhecimento de suposta infração funcional, tem o dever-poder de 
apurar o fato para eventual punição do agente, inexistindo liberdade na hipótese. 
 
4 – Poder de Polícia 
 
É a prerrogativa que tem o Estado de restringir, condicionar, limitar, com fundamento na 
lei, a atuação do particular em razão do interesse público. No âmbito legal, o conceito de 
poder de polícia formado pelo art. 78 CTN 
Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou 
disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em 
razão de intêresse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à 
disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de 
concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à 
propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. 
 
Conceito - CTN: o CTN define o Poder de Polícia como função da Administração Pública de 
limitar ou disciplinar direitos, regulando a prática de ato ou abstenção de fatos, em 
razão do interesse da coletividade, concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos 
costumes, ao exercício de atividades econômicas que dependem de autorização e 
concessão, bem como aos direitos individuais e coletivos. 
 
Polícia Administrativa Polícia Judiciária 
 Polícia de administrativa, se exaure em si mesmo A judiciária preparatória para a função 
jurisdicional penal 
 sobre atividades, bens e direitos dos indivíduos Incide sobre os próprios indivíduos, aqueles a 
quem se atribui o ilícito penal 
 Tem caráter eminentemente preventivo É predominantemente repressiva 
 Ex: órgãos de vigilância sanitária - quando 
fiscalizam os proprietários de restaurantes que 
comercializam produtos com prazo de validade 
expirados ou em condições de higiene e 
Ex: a polícia civil exerce polícia judiciária quando 
investigue infrações penais, com a finalidade de 
identificar autoria e a materialidade dessas 
infrações, remetendo o resultado do seu trabalho 
insatisfatório ou titular da ação penal. 
Características 
• Incide sobre os direitos à liberdade e à propriedade: não retira o direito. O Estado 
apenas define a forma de se exercer o direito. Ex.: só pode construir até seis 
andares. Não há indenização se a sua manifestação for legítima. Incide sobre bens, 
direitos e atividades, mas não atinge diretamente as pessoas. 
 
• Há possibilidade de cobrança de taxa de polícia art. 78 do CTN. Taxa é tributo 
vinculado à contraprestação estatal, de forma que só pode ser cobrada e houver o 
efetivo exercício do poder de polícia. Há exercício do poder de polícia na concessão 
de licença e também na sua renovação, desde que diante da existência de estrutura 
administrativa capaz de verificar a continuidade da existência das condições para o 
exercício do poder 
 
• Pode ser praticado em três momentos: preventivo – definir a quilometragem/ 
fiscalizatório – condições sanitárias/ repressivo – penalização diante do 
descumprimento. 
• pode se expressar através de atos normativos (gerais: portarias, resoluções) ou 
punitivos (multas, licenças, autorizações). 
 
• A competência para o exercício do poder de polícia precisa de previsão legal. Se o 
interesse é nacional a competência para legislar é da União. Regional do estado e 
local do município. No caso de competência concorrente pode haver gestão 
associada, por meio da celebração de convênio ou consórcios públicos. Súmula 19 
STJ – A fixação do horário bancário, para atendimento ao público, é da competência 
da União. Súmula 645 STF – É competente o Município para fixar o horário de 
funcionamento de estabelecimento comercial. 
 
• Fundamento e limite: O fundamento de toda e qualquer ação estatal deve ser a 
promoção e a proteção dos direitos fundamentais. Em consequência, no estado 
democrático de direito, os direitos fundamentais exercem uma dupla função em 
relação ação estatal: fundamentam e limitar o exercício das três nativas públicas 
 
OBS: Ele não pode ser delegado a pessoas privadas, sob pena de comprometer a 
segurança jurídica. O STF analisou essa questão na ADI 17171, na qual afirmou que os 
conselhos de classe não poderiam fazer parte da esfera privada, por exercerem poder 
de polícia. No entanto, é possível a delegação de atos materiais, atos instrumentais e atos 
preparatórios, através de contrato com pessoas privadas. Elas são responsáveis unicamente 
pelas constatações de fato, como, por exemplo, os pardais de trânsito. Pode ser delegado, 
no entanto, às pessoas da Administração indireta que exerçam função pública (poder de 
polícia delegado. Originário seria o das pessoas políticas), através de previsão legal, apenas 
para fiscalizar, não podendo criar qualquer norma. Nessa caso, pouco importa o regime de 
dos agentes públicos, estatutário ou celetista. 
 
O STF definiu a tese de que é constitucional a atribuição às guardas municipais do exercício 
do poder de polícia de trânsito, inclusive para a imposição de sanções administrativas 
legalmente previstas (ex: multas de trânsito). STF. Plenário.RE 658570/MG, rel. orig. Min. 
Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 6/8/2015 (Info 793). 
 
 
 
 
 
 
 
 
De acordo com o Prof. Diogo Figueiredo, o poder de polícia pode ser dividido em quatro 
ciclos: 
 
Ordem de Polícia 
É a norma legal que estabelece, de forma primária, as restrições e as 
condições para o exercício das atividades privadas; 
Consentimentode 
polícia 
É a anuência do Estado para que o particular desenvolva determinada 
atividade ou utilize a propriedade particular. Nesse caso, o consentimento 
estatal pode ser dividido em, pelo menos, duas categorias: 
Licença: trata-se de ato vinculado por meio do qual a Administração 
reconhece o direito do particular (ex.: licença para dirigir veículo automotor ou 
para o exercício de determinada profissão); e 
Autorização: é o ato discricionário pelo qual a Administração, após a análise 
da conveniência e da oportunidade, faculta o exercício de determinada 
atividade privada ou a utilização de bens particulares, sem criação, em regra, 
de direitos subjetivos ao particular (ex.: autorização para porte de arma); 
Fiscalização de 
polícia 
É a verificação do cumprimento, pelo particular, da ordem e do 
consentimento de polícia (ex.: fiscalização de trânsito, fiscalização sanitária 
etc.). A atividade fiscalizatória pode ser iniciada de ofício ou por provocação de 
qualquer interessado; e 
Sanção de polícia É a medida coercitiva aplicada ao particular que descumpre a ordem de 
polícia ou os limites impostos no consentimento de polícia (ex.: multa de 
trânsito, interdição do estabelecimento comercial irregular, apreensão de 
mercadorias estragadas etc.). 
 
Obs: Licenças x Autorizações: Relativização 
 
Em regra, as licenças são atos vinculado, ou seja, não conferem margem de liberdade ao 
administrador, que deve expedi-las desde que cumpridos os requisitos legais pelo particular; 
já as autorizações sempre ostentaram caráter discricionário, ou seja, conferem margem 
de liberdade ao administrador que decidirá sobre a conveniência oportunidade de sua 
expedição. 
No entanto, a mencionada de distinção entre licença e autorização, ato vinculado ou 
discricionário, respectivamente, apresentada pela doutrina como absoluto, tem sido 
relativizada pelo ordenamento jurídico. 
 
Hoje, há determinadas hipóteses em que autorizações terão caráter predominantemente 
vinculado, ex. art. 131, p. 1 da Lei 9472/97, que trata da autorização de serviço de 
telecomunicação, bem como encontramos, licenças conforte margem de discricionariedade e 
precariedade, como as licenças ambientais, que são emitidas com prazo determinado fixado 
pelo CONAMA, mas podem ser revistas conforme dispõe o art. 9, IV da Lei 6938/81. 
 
Concessionária pública e poder de polícia: Através da sua Administração Pública, o Estado fiscaliza 
os atos individuais dos seus administrados para que estes não venham a prejudicar os interesses da 
sociedade como um todo. O direito-dever que tem o Poder Público de intervir nas ações ou omissões 
dos particulares em prol da coletividade é exercido através do seu Poder de Polícia. Este poder 
possibilita a limitação do exercício dos direitos e garantias individuais do cidadão diante da 
necessidade de tutelar um interesse maior, coletivo. 
A doutrina é divergente quanto à possibilidade de delegação de poder de polícia. 
O STJ, no REsp 817.534/MG (julg. 10/11/09), discutindo a possibilidade de sociedade de economia 
mista (pessoa jurídica de direito privado) exercer o poder de polícia (no caso, aplicação de multa de 
trânsito por sociedade de economia mista), esclareceu que as atividades que envolvem o exercício 
do poder de polícia podem ser de forma sumária divididas em 4 grupos: (1) Poder de legislar (é a 
legislação que define determinada situação); (2) Poder de consentimento (a corporificação da vontade 
do Poder Público); (3) Fiscalização; (4) Aplicação de sanção. 
Segundo o STJ, podem ser transferidos ao particular somente os atos de consentimento (como 
a concessão de CNH) e os atos de fiscalização (como instalação de equipamentos eletrônicos de 
velocidade). 
Atributos do Poder de polícia 
• DISCRICIONARIEDADE - É a liberdade concedida em lei ao administrador para 
decidir o caso concreto. Em regra, o exercício do poder de polícia caracterizado 
pela liberdade conferida pelo legislador ao administrador para escolher, por 
exemplo o melhor momento de sua atuação ou a sanção mais adequado no 
caso concreto quando a previsão legal de duas ou mais sanções para 
determinada infração. 
 
• AUTOEXECUTORIEDADE - A autoexecutoriedade está frequentemente presente 
nas medidas de polícia onde a Administração pode executar suas próprias decisões 
sem interferência do Poder Judiciário. 
Ressalte-se, por oportuno, que alguns atos de polícia não possuem o atributo 
da autoexecutoriedade. É o caso da multa que não pode ser satisfeita (adimplida) 
pela vontade unilateral da Administração e a respectiva cobrança é realizada, 
normalmente, por meio da propositura da execução fiscal. 
 
• COERCIBILIDADE - A Coercibilidade torna o ato obrigatório, devendo este ser 
obedecido independente da vontade do administrado, caso em que a Administração 
pode usar meios indiretos de coerção para cumprir a determinação. 
 
Limites do Poder de Polícia – Doutrina Moderna 
Tradicionalmente, entende-se que o fundamento principal do poder de polícia é a supremacia 
do interesse público sobre o interesse privado. Autoridade estatal tem como objetivo maior a 
manutenção da ordem pública. 
Todavia, em razão da constitucionalização do direito administrativo e da centralidade dos 
direitos fundamentais, o professor Rafael Oliveira entendi que seria mais adequada 
afirmar que o fundamento de toda e qualquer ação estatal deve ser a promoção e a 
proteção dos direitos fundamentais. Em consequência, no estado democrático de direito, 
os direitos fundamentais exercem uma dupla função em relação ação estatal: fundamental 
limitam o exercício das prerrogativas públicas. 
Com isso, atividade de polícia passa necessariamente por ponderações entre direitos 
fundamentais conflitantes. A legislação realiza, em primeiro lugar, ponderações, que 
norteiam a atividade administrativa. Tais ponderações, devem estar motivada mente 
descritas na atuação administrativa, Como instrumento que viabilizar o controle de 
legitimidade dos atos estatais. 
A legitimidade da atuação de polícia depende do respeito ao ordenamento jurídico, 
destacando-se aqui a necessidade de respeito aos princípios da proporcionalidade, 
legalidade, entre outros.

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