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ANAIS 1O SIMPÓSIO DO PPCEP – UFRN Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Petróleo Análise do Potencial da Recuperação Primária em um Reservatório com Características do Campo de Libra, do Pré-sal Brasileiro. Gilmar Alexandre Guedes Júnior1, Jennys Lourdes Meneses Barillas2. 12Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 12Laboratório de Estudos Avançados em Petróleo, 2Departamento de Engenharia de Petróleo, 59078-970, Natal RN, gilmar.guedesjr@gmail.com. Resumo O Campo de Libra, da província do Pré-sal, é uma das maiores descobertas do mundo e a mais importante do Brasil na última década, com estimativas de possuir mais de 8 bilhões de barris de óleo recuperáveis. Em virtude de se tratar de uma descoberta recente, ainda não se tem uma quantidade significativa de estudos acadêmicos a seu respeito. Com isso, foi desenvolvido um modelo de reservatório, com características desse campo, utilizando a energia natural (recuperação primária) para verificar seu potencial de produção. Para isso, foram realizadas três análises: de configurações de malha, de diferentes BHPs e de ampliação da produção. Os resultados foram analisados através de gráficos de fator de recuperação de óleo, produção acumulada de óleo e vazões de produção de óleo e de gás. Esses gráficos foram feitos utilizando datas fictícias e foi adotado um projeto com duração de 35 anos. Abstract Libra field, from Pre-salt province, is one of the biggest discoveries in the world and the most important in Brazil in the last decade, with estimative of owning more than 8 billion of recoverable oil barrels. Due to dealing with of a recent discovery, there is not yet a significant amount of academic studies about it. Thus, it was developed a reservoir model, with characteristics of this field, using the natural energy (primary recovery) for checking its production’s potential. To do this, they were realized three distinct analyses: mesh configurations, different BHPs and production expansion. Results were analyzed through graphics of oil recovery factor, cumulative oil production, oil and gas production rates. These graphics were made by using fictitious dates and it was adopted a project during 35 years. Palavras-Chave: Pré-sal; Campo de Libra; recuperação primária; potencial de produção. Introdução Na província do Pré-sal encontram-se as maiores descobertas realizadas no mundo nos últimos dez anos; as áreas de Libra, de Franco e o Campo de Lula, todas com volumes superiores a 8 bilhões de barris de óleo recuperáveis. Somente no Campo de Libra, devem ser produzidos entre 8 e 12 bilhões de barris de petróleo nos próximos 35 anos. Trata-se de óleo de excelente qualidade, com 27 graus API e baixo teor de enxofre. Além do óleo, um volume estimado em 120 bilhões de metros cúbicos de gás natural deverá ser produzido na vigência do contrato, com parte desse volume sendo reinjetado, parte sendo consumido na geração de energia da plataforma e o restante sendo ofertado ao mercado (PORTAL BRASIL, 2013). A produção de Libra, ao atingir seu pico, alcançará 1,4 milhão de barris por dia e 40 milhões de metros cúbicos de gás natural, com 25 milhões de metros cúbicos diários sendo ofertados ao mercado (PORTAL BRASIL, 2013). Apenas como referência, a produção total de petróleo do País até setembro de 2015 atingiu uma média de 2,132 milhões de barris por dia, de maneira que Libra representará, no seu pico, cerca de 66% da produção atual do Brasil. Com base na importância desse campo para o futuro energético/econômico do nosso país e em virtude de se tratar de um campo descoberto recentemente, não existindo ainda uma quantidade significativa de estudos acadêmicos a seu respeito, tornam-se necessários estudos direcionados para as melhores formas de depleção que sejam coerentes com as capacidades de produção atuais de nossas plataformas e que conduzam a uma lucratividade máxima. Nesse contexto, o objetivo geral desse artigo é desenvolver um modelo otimizado de um reservatório com características do Pré-sal brasileiro, mais especificamente, do Campo de Libra, utilizando apenas sua energia natural para verificar seu potencial de produção somente através da recuperação primária. Metodologia Para a obtenção de um modelo de reservatório representativo das características dos campos do Pré-sal, foi necessária a criação de um modelo de fluido e de um modelo físico de reservatório. Para isso, foi utilizado o simulador computacional da Computer Modelling Group LTDA – CMG. Utilizaram-se basicamente quatro ferramentas, todas na versão 2015: o WinProp, para criação do modelo de fluido; o Builder, para construção do modelo físico, o GEM, para simulação, propriamente dita, dos modelos criados e o Results Graph em conjunto com o Results 3D, para a análise dos resultados por meio de gráficos e vistas em 2D e 3D. Em virtude da não disponibilidade, na literatura, de um modelo de fluido contendo características precisas do Campo de Libra, utilizou-se um modelo de fluido retirado do livro PVT and Phase Behaviour of Petroleum Reservoir Fluids, de Ali Danesh, 1998. Trata-se de um óleo leve de 36°API, dentro da faixa de valores de densidade encontrados no ambiente do pré-sal. A Tabela 1 mostra a composição do modelo de fluido utilizado. Tabela 1. Composição do modelo de fluido. Componente Fração Molar % Componente Fração Molar % N2 0,90 n-C5 1,47 CO2 1,49 C6 2,17 C1 51,54 C7 4,30 C2 6,57 C8 3,96 C3 4,83 C9 1,93 i-C4 0,68 C10 1,66 n-C4 2,39 C11 1,38 i-C5 0,91 C12+ 13,82 Com relação ao modelo físico do reservatório, Na Tabela 2 encontra-se um quadro resumo das principais características físicas do modelo, bem como das características do óleo contido em seu interior. Tabela 2. Principais características do modelo de reservatório. Características Valores Número total de blocos 36100 Número de blocos em i, j e k 19; 19; 100 Dimensões (m x m) 1000 x 1000 Espessura (m) 300 Profundidade de referência – Topo do reservatório (m) 5430 Pressão na profundidade de referência (kPa) | (psi) 56878,574 | 8249,540 Profundidade do contato água-óleo (m) 5720 Net-pay (m) 290 Porosidade média (%) 11 Permeabilidade vertical média (mD) 10 Permeabilidade horizontal média (mD) 100 Volume de óleo in place (Bilhão de m³ std) | (Bilhão de bbl std) 1,560 | 9,812 Pressão de saturação inicial do óleo (kPa) | (psia) 31577,987 | 4580 Viscosidade média do óleo (cP) @ 95,5°C 1,3 °API 36 Tempo de Projeto (Anos) 35 Na Tabela 2, dados como: profundidade da lâmina d’água, do topo do reservatório, do contato água-óleo e do net-pay (zona de óleo) foram baseados em uma apresentação da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) que tratava da Avaliação Geológica de Libra, tomando como referência o poço descobridor de Libra, o 2-ANP-2A-RJS. Em relação à profundidade final utilizada nesse modelo de reservatório, foi fixada em 10 metros abaixo do contato água-óleo, finalizando na profundidade de 5730 m. Na Figura 1 tem-se uma vista em 3D do modelo físico do reservatório. Figura 1. Modelo físico do reservatório, (grid top (m)). Na Figura 2, são mostradas, por meio da saturação de água, as profundidades do topo e do contato água-óleo, bem como a localização das perfurações e o intervalo canhoneado. Esse intervalo foi escolhido, visando facilitar a produção, fazendo com que os fluidos que estão em zonas de maior pressão tendam a escoar para as de menor pressão (topo do reservatório). Figura 2. Localização das perfurações e intervalo canhoneado (saturação de água (%)). Como o desenvolvimento desse reservatóriofoi feito com base na recuperação primária dos fluidos, os poços produtores foram distribuídos em três configurações de malha distintas. Foram utilizadas diferentes quantidades de poços e vazões de produção, limitando- se à capacidade de produção de um FPSO (do inglês Floating Production, Storage and Offloading), nesse caso, o FPSO Piloto de Libra. De acordo com a SINAVAL, esse FPSO terá capacidade para produzir até 150 mil barris/dia de óleo e processar até 12 milhões de m³/dia de gás natural. Com base nisso, na Figura 3 é mostrada a distribuição dos poços para cada configuração e na Tabela 3 se encontra o número de poços e modo de operação. Figura 3. Distribuição dos poços para cada configuração, saturação de óleo (%). Tabela 3. Número de poços e modos de operação, para cada configuração. Config. 1 Config. 2 Config. 3 Número de poços produtores 9 6 4 Produção máxima de líquidos (bbl std/dia/poço) 16666 25000 37500 Produção máxima de líquidos (bbl std/dia/malha) 150000 150000 150000 BHP mínimo dos produtores (psia) 4580 4580 4580 Posteriormente, foi feito um estudo da produção do reservatório com base em diferentes pressões de fundo de poço (Button Hole Pressure - BHP). Foi utilizado inicialmente o BHP de 4580 psia (Pressão de Saturação), variando-o em intervalos de 500 psia, até atingir a pressão de 580 psia. Por fim, foi estudada a ampliação da produção, de modo a atender, além de um FPSO, a capacidade máxima de produção de duas e de três FPSOs, ou seja, com produções máximas de 300 e 450 mil barris/dia de óleo e ainda de 24 e 36 milhões de m³/dia de gás natural, respectivamente. Resultados e Discussão Os resultados foram analisados através de gráficos de fator de recuperação de óleo (FR), produção acumulada de óleo (Np) e vazões de produção de óleo (Qo) e de gás (Qg). Esses gráficos foram feitos utilizando datas fictícias e foi adotado um projeto com duração de 35 anos. Com relação às configurações de malha, a vazão de produção das três malhas utilizadas foi limitada à capacidade de produção da FPSO Piloto de Libra. Na Figura 4, é possível observar um comparativo da produção acumulada de óleo para as três configurações de malha. Figura 4. Produção acumulada de óleo, para diferentes configurações de malha. Como o comportamento da produção foi idêntico para as três configurações (Figura 4), a escolha da configuração ideal, para esse reservatório, foi feita com base na possibilidade de ampliação da produção. Considerando que alguns poços do Campo de Libra poderão produzir até 50 mil barris/dia de óleo, caso fosse escolhida a configuração 3, por exemplo, seus quatro poços limitariam a produção em um máximo de 200 mil barris/dia, por outro lado, com a utilização da configuração 1, a produção diária poderia alcançar um patamar de 450 mil barris. A respeito da análise do BHP ideal para esse sistema, foi utilizada a configuração 1, com a produção limitada em 150 mil barris/dia de óleo, a fim de verificar qual o BHP mínimo que obteria o maior FR e que atenderia à capacidade máxima de processamento de gás. Na Figura 5, tem-se um gráfico do FR contendo os BHPs testados. Figura 5. Fator de recuperação, para diferentes BHPs. Na Figura 5, pode-se verificar que a utilização de valores mais baixos de BHP gerou maiores valores de FR. O valor máximo encontrado foi cerca de 19,5% para os BHPs de 1580, 1080 e 580 psia. Mesmo com esses resultados, a escolha do BHP ideal para esse sistema também levou em consideração a capacidade máxima de processamento do gás produzido, limitada em 12 milhões de m³/dia. Na Figura 6, pode-se verificar o comportamento da vazão de produção de gás para os nove BHPs testados. Figura 6. Vazão de produção de gás, para diferentes BHPs. Na Figura 6, a vazão de produção máxima admitida de gás, respeitando a limitação do sistema, foi obtida quando se utilizou o BHP de 3080 psia, com um pico de produção de, aproximadamente, 8 milhões de m³/dia, que ocorreu por volta do ano de 2025. Por outro lado, com a redução de 500 psia (BHP de 2580 psia), o pico de produção de gás excedeu a capacidade de processamento do sistema, produzindo cerca de 14 milhões de m³/dia, inviabilizando, dessa forma, a produção de gás. Por fim, com relação à análise da ampliação da produção, os modelos de reservatório utilizaram, como padrão, a configuração 1 e o BHP de 3080 psia. Esse estudo foi realizado usando três valores distintos de vazão de produção por malha; 150, 300 e 450 mil barris/dia de óleo, que é equivalente a utilização de um, dois e três FPSOs do tipo Piloto de Libra, respectivamente. Na Figura 7, pode-se observar o FR para as diferentes vazões de produção de óleo por malha. Figura 7. Fator de recuperação para diferentes vazões de produção por malha. Na Figura 7, é possível notar que, ao final dos 35 anos, as curvas de 300 e 450 mil barris/dia obtiveram o mesmo valor de FR (cerca de 16,5%), já a curva de 150 mil barris/dia obteve um valor, aproximadamente, 1% inferior. É importante notar, ainda, que houve uma tendência de estabilização na curva de FR, mostrando a capacidade de produção máxima com a recuperação primária, para os três sistemas adotados. Ainda na Figura 7, torna-se evidente uma antecipação da produção de óleo para as vazões de produção superiores. Para confirmar essa antecipação, na Figura 8, observa-se o comportamento da vazão de produção de óleo por malha. Figura 8. Vazão de produção de óleo por malha. Com base na Figura 8, produzindo-se com a vazão de 450 mil barris/dia, uma grande quantidade de massa foi retirada do reservatório em um curto período de tempo, fazendo com que a pressão média do reservatório caísse de forma mais acentuada, quando comparada com as quedas de pressão utilizando as vazões inferiores. Isso fez com que, por volta de 2007, a pressão média do reservatório atingisse o BHP utilizado (3080 psia), causando uma queda na produção de óleo, a fim de manter a pressão no mesmo patamar. Esse mesmo comportamento também pode ser notado nas curvas de 300 e 150 mil barris/dia, porém, nesses outros casos, o tempo para a pressão média do reservatório atingir o BHP foi maior. Em virtude da utilização de menores vazões de produção por malha, uma quantidade inferior de massa foi retirada do reservatório em um período de tempo maior, contribuindo para que a pressão caísse de maneira menos acentuada. Conclusões Com relação à análise das configurações, a utilização das três malhas distintas não promoveu nenhuma influência nos resultados (considerando a produção máxima de apenas um FPSO Piloto de Libra), pois todas apresentaram os mesmos comportamentos e valores de produção acumulada de óleo. Com isso, escolheu-se a configuração 1 em virtude de oferecer uma maior capacidade de ampliação da produção, tendo condições de aumentar a produção em 300 mil barris/dia, produzindo até 450 mil barris/dia. A respeito da análise dos BHPs, a vazão máxima de produção de óleo e a capacidade de processamento de gás da FPSO Piloto de Libra foi atendida quando se utilizou a faixa de BHPs entre 4580 e 3080 psia, porém, para essa faixa, o BHP que originou o maior fator de recuperação de óleo foi o de 3080 psia, com um valor de 15,5%, ao final dos 35 anos de projeto. Sobre a análise da ampliação da produção, a produção equivalente a três FPSOs Piloto de Libra gerou a antecipação da produção de óleo mais acentuada, possibilitando um retorno mais rápido do investimento. Além disso, promoveu um leve aumento no fator de recuperação de óleo, ao final dos 35 anos, quando comparado com a produção de 150 mil barris/dia, de 15,5% passou para 16,5%. Com isso, o modelode reservatório ideal, para esse estudo, foi com a utilização da configuração 1, com o BHP de 3080 psia e com a produção equivalente a três FPSOs Piloto de Libra, atingindo um fator de recuperação de óleo de 16,5%. Agradecimentos Gostaria de parabenizar o Programa de Pós-graduação pela realização do I Simpósio, bem como, agradecer à minha orientadora, pelos ensinamentos, e à PETROBRAS pelo apoio financeiro. Referências ANP. 2013: Brasil PRÉ-SAL, Libra, Avaliação Geológica. Disponível em: http://www.brasil- rounds.gov.br/arquivos/Seminarios_P1/Apresentacoes/partilha1_tecnico_ambiental.pdf. Acesso em: 12 Nov. 2015. DANESH, A. PVT and phase behaviour of petroleum reservoir fluids. 1.ed. London: Elsevier, 1998. PETROBRAS. 2015: Pré-sal. Disponível em: http://www.petrobras.com.br/pt/nossas- atividades/areas-de-atuacao/exploracao-e-producao-de-petroleo-e-gas/pre-sal/. Acesso em: 12 Nov. 2015. PORTAL BRASIL. 2013: Nota sobre o Pré-sal e o Campo de Libra. Disponível em: http://www.brasil.gov.br/governo/2013/10/nota-sobre-o-pre-sal-e-o-campo-de-libra. Acesso em: 12 Nov. 2015. SINAVAL. 2015: Mercado se movimenta para licitação do FPSO definitivo de Libra. Disponível em: http://sinaval.org.br/2015/03/mercado-se-movimenta-para-licitacao-do-fpso- definitivo-de-libra/. Acesso em: 12 Nov. 2015.
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