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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Instituto de Ciências Exatas Departamento de Matemática Programa de Pós-Graduação em Matemática para Professores O O O O NÚMERO DE OURO:NÚMERO DE OURO:NÚMERO DE OURO:NÚMERO DE OURO: Representação da beleza matemática Cristiano Gonçalves Augusto Belo Horizonte 2009 Cristiano Gonçalves Augusto O O O O NÚMERO DE OURO:NÚMERO DE OURO:NÚMERO DE OURO:NÚMERO DE OURO: Representação da beleza matemática Monografia apresentada ao Departamento de Ciências Exatas da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito para obtenção do Grau de Especialista em Matemática do Ensino Básico. Orientador: Paulo Antônio Fonseca Machado Belo Horizonte 2009 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Instituto de Ciências Exatas Departamento de Matemática Programa de Pós-Graduação em Matemática para Professores Monografia intitulada “O Número de Ouro: representação da beleza matemática”, de autoria do pós-graduando Cristiano Gonçalves Augusto, aprovada pela banca examinadora constituída pelos seguintes professores: Prof. Dr. Paulo Antônio Fonseca Machado – Orientador Prof. Dr. Alberto Berly Sarmiento Vera Prof. Me. Jorge Sabatucci Prof. Dr. Alberto Berly Sarmiento Vera Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Matemática para Professores: UFMG Belo Horizonte, 26 de março de 2009. Av. Antônio Carlos, 6627 – Belo Horizonte, Mg – 31270-901 – Brasil Dedico este trabalho a minha família, presença constante na minha caminhada. Agradecimentos Agradeço a Deus, pela vida, pela saúde e, em especial, pela inspiração no decorrer deste trabalho. Agradeço, carinhosamente, aos meus pais, Conceição Gonçalves Augusta e Ramiro Sérvulo Augusto, pelo amor incondicional, pela dedicação, pelos ensinamentos e pelo apoio em todos os momentos de minha vida. Agradeço ao meu orientador, Paulo Antônio Fonseca Machado, por ter me apoiado e acreditado que este trabalho era pertinente e possível de se realizar. Obrigado pela paciência, pelos “puxões de orelha” nas horas de maior desespero, pelas anotações de grande valia. Tenho certeza de que não poderia ter percorrido este caminho em melhor companhia. Agradeço, igualmente, a todos os meus amigos, por entenderem meu súbito desaparecimento e, em algumas vezes, meu stresse. A matemática, quando a compreendemos bem, possui não somente a verdade, mas também suprema beleza – uma beleza fria e austera, como a da escultura. Bertrand Russel Resumo razão áurea é uma intrigante mistura da relação comparativa de tamanho ou quantidade e da igualdade descrita matematicamente. Percebemos, no entanto, que embora presente em vários lugares, a razão áurea é um assunto pouco difundido. Mostrar sua importância matemática, defini-la e contribuir para sua divulgação é o objetivo proposto neste trabalho. Palavras-chave: Razão áurea; seqüência áurea, espiral. Abstract The Golden Ratio is na instigating mixture of the comparative relation about size or qunatity and of equality mathematically described. Despite of ist has ben present in many places even so it is not a very well spread out subject. The main aim of this work is showing its mathematical importance; defining it, and contributing for its spreading. Key – words: Golden Ratio, golden section, spiral. A LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Divisão de um segmento na razão áurea........................................................11 Figura 2 – Pentagrama.....................................................................................................13 Figura 3 – Prolongamento do segmento segundo a razão áurea......................................22 Figura 4 – Construção da razão áurea em um segmento dado........................................28 Figura 5 – Construção de um triângulo áureo.................................................................29 Figura 6 – Construção de um pentágono regular dado o seu lado...................................31 Figura 7 – Construção de um Pentágono Regular inscrito em uma circunferência dado raio..................................................................................................................................32 Figura 8 – Construção de um pentágono regular, dada uma diagonal............................33 Figura 9 – Sofisma Geométrico.......................................................................................41 Figura 10 – Solução do Sofisma Geométrico..................................................................46 Figura 11 – Retângulo Áureo..........................................................................................48 Figura 12 – Espiral Retangular........................................................................................55 Figura 13 – Espiral Logarítmica......................................................................................63 Figura 14 – Construção aproximada espiral logarítmica, dado o retângulo áureo..........64 Figura 15 – Espiral Áurea Triangular..............................................................................65 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 10 1- Conceitos Básicos ................................................................................................................. 11 2- Razão Áurea ......................................................................................................................... 21 3- Construções .......................................................................................................................... 27 4 - Razão Áurea e Aplicações ................................................................................................... 34 4.1 - Leonardo Fibonacci .................................................................................................... 34 5 - Retângulo Áureo .................................................................................................................. 48 6 - A espiral retangular ............................................................................................................. 55 7 - A Espiral Logarítmica ......................................................................................................... 63 8 - Onde podemos encontrar a Razão Áurea? ........................................................................... 66 10 - Considerações finais ......................................................................................................... 67 11 - Referências ........................................................................................................................ 6810 Introdução Neste trabalho, nos propomos mostrar um pouco sobre as propriedades geométricas e algébricas da razão áurea. Um dos motivos da escolha, além de ser um assunto bastante atrativo, é o fato de ser algo pouco conhecido e, embora poucos saibam, bastante utilizado. A fim de fazer com que a razão áurea seja entendida, seguiremos os seguintes passos: num primeiro momento, apresentaremos o conceito de razão áurea, partindo de alguns conceitos básicos da geometria euclidiana plana. Sem tais conceitos torna-se pouco provável a compreensão do assunto. Em seguida, contaremos um pouco da história dessa razão, apresentando, ainda, algumas de suas propriedades algébricas e geométricas, sendo estas, dentro da geometria euclidiana plana. Objetivando uma análise mais profunda, ressaltaremos as aplicações da razão áurea, bem como a sua relação com a Seqüência de Fibonacci (explicitada no cap. 4). Uma outra abordagem interessante volta-se para a análise do retângulo áureo e da espiral retangular - ambas construídas em função da razão áurea. Além disso, vale fazer uma abordagem sobre o estudo das espirais, que possuem certa aproximação com a razão áurea e se faz notável pelas diversas formas como aparece na natureza. E por último, falaremos um pouco mais sobre a razão áurea, principalmente sobre os vários lugares nos quais ela pode ser encontrada como: pintura, música, escultura, construções, natureza – fauna e flora – e outros. O nosso objetivo, no decorrer de todo o trabalho é reforçar a importância matemática e a beleza da razão áurea em situações diversas. Se nos propuséssemos a falar sobre a razão áurea, baseando-nos apenas no nosso conhecimento de mundo, tal assunto pareceria vago, impreciso. Tampouco faria sentido para aqueles que apenas se simpatizam com a matemática. No entanto, para os amantes e conhecedores da matemática, a razão áurea é algo singular, merecedora de um estudo bem aprofundado. E, para uma análise mais precisa, elegemos como aparato teórico Huntley[2] (1985), Lívio [3] (2007) e Wagner [4] (2007), em cujas idéias nos amparamos para clarear e reforçar nossas proposições. 11 Capítulo 1 1- Conceitos Básicos É possível apreciar a beleza que existe na matemática ou no mundo físico observando apenas uma proporção que é capaz de gerar um número surpreendente? Muitos matemáticos, filósofos, artistas e outros diriam que sim. Há um número ou uma proporção que desperta a curiosidade, somente observando-se os seus vários nomes desde o seu descobrimento como: número áureo, razão áurea, seção áurea, número de ouro representado pela letra grega (Ф), proporção divina. Embora seja a razão áurea o foco deste trabalho, haverá outras definições a fim de proporcionar melhores esclarecimentos sobre o tema. Notação 1.1. Em todo o trabalho, um segmento de reta de extremidades A e B será denotado por AB e quando congruente a outro segmento denotaremos por AB CD≡ . Também representaremos a medida de um segmento em certa unidade, por AB. E o ângulo ABC de vértice B por ABC∠ . Segue a definição de razão áurea. Definição 1.2. Dizemos que um segmento AB está dividido pela razão áurea, quando tomamos sobre ele um ponto C de tal forma que, AB está para AC assim como AC está para CB, ou seja, . AB AC AC CB = FIGURA 1 Para Huntley [2] (1985, p. 41-42) é quase certo que boa parte do trabalho que levou à definição e à compreensão da razão áurea foi realizada durante os anos que antecederam a abertura da Academia de Platão1 e durante o período de funcionamento dessa Academia. 1 Também chamada Academia Antiga. Fundada por Platão, aproximadamente em 387 a.c, é considerada a primeira escola de filosofia. 12 Platão, um dos primeiros teóricos autênticos, relacionou os sólidos regulares aos elementos básicos (terra, água, ar e fogo) e ao universo como um todo. Os sólidos platônicos são: tetraedro, cubo, octaedro, dodecaedro, icosaedro. A figura-chave que estava por trás dos teoremas geométricos referentes à razão áurea era, provavelmente, Theaetetus2 que, segundo a coleção binzantina Suidas, foi o primeiro a construir os cinco chamados sólidos platônicos. Ainda segundo o autor, os pitagóricos que se interessavam por tais assuntos consideravam o dodecaedro digno de respeito especial, pois esse poliedro possui faces pentagonais, que estão intimamente ligadas à razão áurea. Por esse fato, determinaremos alguns conceitos básicos do pentágono regular. Partiremos da definição: Definição 1.3. Um polígono convexo é regular se, e somente se, tiver todos os seus lados congruentes e todos os seus ângulos internos congruentes. Sendo assim, temos abaixo a definição de pentágono regular. Definição 1.4. O pentágono regular é um polígono regular convexo de cinco lados. Considere o pentágono regular A, B, C, D, E (FIG. 1). Denotemos seus ângulos internos por ∠EDC, ∠DCB, ∠CBA e ∠BAE. Temos então: Proposição 1.5. Todo pentágono regular é inscritível em uma circunferência. Demonstração. Pelos pontos A, B e C tracemos a circunferência w de centro O. Provemos que a circunferência passa pelos pontos D e E do polígono, demonstrando então essa proposição. 2 Matemático grego (417 – 369 a.c). Uma das suas principais contribuições foi provar que há, precisamente, cinco poliedros convexos. 13 FIGURA 2 Comecemos provando que o ponto D pertence à circunferência w . Consideremos os triângulos OCD e OBA. Temos que esses triângulos são congruentes pelo caso LAL, pois DC ≡ BA por serem lados do polígono. Da mesma forma OC ≡ OB por serem raios da mesma circunferência. E considerando o triângulo isósceles BOC, e ainda, que os ângulos internos ∠DCB e ∠CBA são congruentes pela definição de pentágono regular, por diferença decorre que os ângulos ∠OCD e ∠OBA são congruentes. Portanto, se OA ≡ OD , então o ponto D pertence à circunferência w . De modo análogo determinamos que o ponto E pertence à circunferência w . No caso geral temos que, a unicidade da circunferência que passa por A, B e C sai a unicidade da circunferência por A, B, C, D, ..., M, N. Ou seja, dado um polígono regular, existe uma única circunferência que passa pelos seus vértices. � Quando traçamos as diagonais do pentágono regular (FIG. 2), formamos os triângulos DCB, CBA, BAE, AED e EDC. Veremos no corolário abaixo que esses triângulos são congruentes. Corolário 1.6. Os triângulos DCB, CBA, BAE, AED, e EDC são congruentes entre si. Demonstração. Pelo caso LAL os triângulos DCB, CBA, BAE, AED e e EDC são congruentes. � Com os conceitos abordados anteriormente, prova-se a propriedade que se segue: 14 Propriedade 1.7. Em um pentágono regular os ângulos internos formam ângulos de 108°. No triângulo isósceles DAB de base AB (FIG. 2) denotemos os ângulos da base igual θ e o ângulo ∠ADB porγ . Do mesmo modo, no triângulo DCB de base DB, denotemos os ângulos da base por β e o ângulo ∠DCB por α . Podemos então, pela propriedade de soma de ângulos internos de um triângulo, obter a seguinte relação no triângulo DCB: α +2 β = 180° (1) De modo análogo, encontramos no triângulo DAB:γ +2 θ = 180° (2) Porém, as diagonais DB e DA dividem o ângulo α da seguinte forma: β + θ = α e 2 β +γ = α . Logo, iniciando pelo vértice C, a soma dos ângulos internos do Pentágono regular é representada por: S = α +( β +θ )+(θ + β )+α +(2 β +α ), reagrupando temos, S = (α +2 β )+(α +2 β )+(γ +2θ ) (3) Substituindo (1) e (2) em (3) encontramos, S = 540° 15 Como o pentágono regular é composto por cinco ângulos internos congruentes, cuja soma é 540°, temos que cada ângulo interno tem o valor de 108°. � O triângulo AED é isósceles e, além disso, possui o ângulo AED igual a 108°. Logo, subtraindo por 180° e posteriormente dividindo por dois, encontramos o ângulo 36ADE∠ = ° . De forma análoga encontramos os ângulos dos triângulos DCB, CBA, BAE. Quando um pentágono regular é circunscrito por uma circunferência, ele determina cinco arcos. Além disso, em uma circunferência, cordas congruentes subentendem arcos congruentes, como as cordas DC, CB, BA, AE e ED (FIG. 2). Então os arcos DOC, BOA, AOE, EOD, e BOC da mesma figura, são congruentes e correspondem a um valor de 72° cada, sendo conhecidos como ângulos centrais. Note que, quando traçamos as diagonais do pentágono regular (FIG. 2), formamos uma estrela, conhecida também como “pentagrama” ou pentágono estrelado. A partir dos conceitos e propriedade analisados, podemos encontrar todos os ângulos do pentagrama. Mas existe ainda uma outra relação do pentagrama com o pentágono regular. As diagonais formam um pentágono menor no centro, e as diagonais desse pentágono formam um pentagrama e um pentágono ainda menor, e assim sucessivamente, formando pentágonos e pentagramas sempre menores. Os pitagóricos utilizavam o pentagrama como “símbolo e emblema da Sociedade de Pitágoras” e por essa insígnia eram reconhecidos como membros associados (Huntley, 1985, p. 39). Veremos até o final deste capítulo algumas relações entre o pentagrama e a razão áurea, tendo como referência a FIG. 2. FIGURA 2 16 Proposição 1.8. O ponto K divide a diagonal AD , de forma que encontramos a razão áurea AD AK AK KD = . E também divide a diagonal EC , formando a razão áurea EC KC KC EK = . Demonstração. Determinando os ângulos do pentagrama (FIG. 2), verifica-se que os triângulos ADC de base DC e AKE de base KE possuem os ângulos da base congruentes, logo são semelhantes. Então: AD DC AK KE = . Temos também que os segmentos DC e EA são lados do mesmo pentágono regular, portanto são congruentes. Logo obtemos que: AD EA AK KE = . Verifica-se também que, após determinarmos os ângulos do pentagrama (FIG. 2), o triângulo EAK é isósceles. Sendo assim DC AK≡ . Também DC EA≡ . Assim temos, por transitividade, que EA AK≡ . Substituindo temos AD AK AK KE = Note ainda que o triângulo EKD é isósceles, isto é, KE KD≡ . Portanto: AD AK AK KD = De maneira análoga encontramos a razão áurea EC KC KC EK = . Do mesmo modo podemos encontrar essa relação para os outros pontos de interseção entre duas diagonais não consecutivas do pentágono regular (FIG 2). � 17 FIGURA 2 Proposição 1.9. A razão entre lado e raio do pentágono ABCDE (FIG. 2) é igual a 2 4 DC EC OB DC = − . Demonstração: Quando traçamos a altura DI do triângulo DAB, forma-se os triângulos CJD e OIB. Verifica-se, após determinarmos os ângulos do pentagrama, que esses triângulos são semelhantes. Então: DC JD OB IB = Por sua vez o segmento 1 2 IB AB= e o segmento AB ≡ DC . Logo encontramos: 2 DC JD DCOB = Ou então: 2DC JD OB DC = (4) 18 No triângulo CJD temos: ( ) ( ) ( )2 2 2DC JD JC= + Mas 2EC JC= , pois o triângulo EDC de base EC é isósceles, implica que, o segmento DJ é a mediana desse triângulo. Logo: ( ) ( ) 2 2 2 2 EC JD DC = − Dividindo ambos os lados da equação por ( )2DC , determinamos: ( ) ( ) 2 2 2 1 2 JD EC DCDC = − No entanto, após algumas simplificações encontramos: 2 4 2 EC DC JD DC − = × Sendo assim podemos substituir em (4), obtendo: 2 4 2 2 EC DC DCDC OB DC − × × = Ou ainda: 2 4 DC EC OB DC = − . � Veremos mais abaixo (na propriedade 1.12), que a razão EC DC , isto é, a relação entre a diagonal e o lado do pentágono regular, está diretamente relacionada com a razão áurea. 19 Temos ainda um triângulo isósceles - conhecido como triângulo áureo - determinado pelo pentagrama ABCDE (FIG. 2). Em princípio esse triângulo não demonstra tantas surpresas, no entanto, com um olhar mais atento, encontramos propriedades únicas que o torna um triângulo especial. Definimos o triângulo áureo como: Definição 1.10. Um triângulo isósceles AFB de base FB é um triângulo áureo se, e somente se, possuir os ângulos da base igual a 2α e o ângulo oposto à base igual a α . Anteriormente verificamos que o triângulo isósceles ADB (FIG. 2), possui o ângulo ADB∠ igual 36° e os ângulos DAB∠ e DBA∠ iguais a 72°. Segue da definição 1.10 que esse triângulo é áureo, cujas propriedades analisaremos a seguir. FIGURA 2 Propriedade 1.11. Se traçarmos a bissetriz do ângulo DAB∠ , determinaremos o triângulo AFB que também é triângulo áureo. Demonstração. Considerando o triângulo isósceles ADB (FIG. 2) e sabendo que o segmento AF é a bissetriz do ângulo DAB∠ , então o ângulo FAB∠ é igual a 36°. Note ainda que o triângulo AFD de base AD possui os ângulos da base igual a 36°. Então, o ângulo AFB∠ é igual a 72° por ser ângulo externo do triângulo isósceles AFD. Sendo assim, os ângulos AFB∠ e ABF∠ são iguais a 72°. � Da mesma forma, se bissectarmos um dos dois ângulos de base 72°, podemos encontrar outros triângulos áureos. Propriedade 1.12. Os lados dos triângulos áureos DAB e AFB formam a razão DB DA FD AB = . 20 Demonstração. Em princípio consideramos a razão DB FD . Sabemos que DA DB≡ e FD ABFA≡ ≡ . Sendo assim, a razão DB FD é proporcional à razão DA AB . Dessa forma, essa relação pode ser escrita mais exatamente por: DB DA FD AB = . � Note ainda que essa razão está intimamente ligada à razão áurea. 21 Capítulo 2 2- Razão Áurea No cap. 1 definimos a razão áurea. A partir de agora, buscaremos examinar, na medida do necessário para este estudo, um pouco de sua história, de seus conceitos e de suas propriedades. E também veremos como tal razão foi definida por Euclides3, citado por Lívio (2007, p.96). Para descrever de uma maneira clara e completa a história da razão áurea seria necessário um outro trabalho. Deixamos claroque esse não é o objetivo desta pesquisa, embora acreditamos que conhecer um pouco mais sobre essa razão é importante para se entender melhor o nosso estudo. O que um arranjo de pétalas numa rosa, um abacaxi, uma concha de um molusco, uma árvore genealógica de um zangão, podem ter em comum? A razão áurea. Essas aparições inesperadas intrigam, há séculos, muitos apreciadores da beleza matemática. Buscando a história da razão áurea, observa-se algumas discordâncias entre os estudiosos do assunto, principalmente se os povos egípcios, babilônios ou outras civilizações antigas tinham algum conhecimento sobre essa razão. Entre essas discussões questiona-se se a razão áurea foi ou não usada na construção da Grande Pirâmide de Khufu e em construções gregas, como exemplo o Partenon -“o lugar da virgem” em grego (LIVIO, 2007, p.57-78). Ainda de acordo com o autor, todos esses questionamentos podem ser explicados porque a razão áurea, com suas propriedades matemáticas e suas aparições inesperadas, pode gerar um entusiasmo nas pessoas, que é capaz de esconder a verdade, principalmente quando mede as dimensões de uma estrutura relativamente complicada. Pode-se ter a disposição uma séria inteira de comprimentos da qual se pode escolher, desde que se possa ignorar, convenientemente, parte do objeto que está sendo examinado. E ainda, se tiver paciência para manipular e fazer truques com os números de várias maneiras, pode-se encontrar alguns números interessantes bem próximos da razão áurea. A associação da razão áurea com o pentágono, a simetria quíntupla, os sólidos platônicos é interessante por si mesma, o que despertou a curiosidade nos antigos gregos. O interesse pitagórico pelo pentágono e pelo pentagrama, somada ao interesse de Platão pelos sólidos regulares e sua crença de que estes representavam entidades cósmicas fundamentais, 3 Euclides é o mais proeminente matemático da antigüidade, mais conhecido pelo seu tratado de Geometria "Os Elementos". 22 incitou gerações de matemáticos a trabalhar na formulação de teoremas referentes à razão áurea. Mais uma vez recorremos a Lívio (2007, p.96), que cita o livro Elementos de Euclides4, no qual a razão áurea aparece em vários lugares. A primeira definição da razão áurea aparece nos livros II e VI como “razão extrema e média”. No livro IV, Euclides usa essa razão especialmente na construção do pentágono, e no livro XIII, na construção do icosaedro e do dodecaedro. No início deste trabalho definimos a razão áurea. Vejamos agora como Euclides a definiu em seu livro VI: “(segmento maior)/(segmento menor) é igual a (linha inteira)/(segmento maior)”. Em outras palavras: FIGURA 3 . AC BA CB AC = Considerando a definição de razão áurea do capítulo anterior e a FIG. 3, podemos provar a proposição abaixo: Proposição 2.1. Se prolongarmos o segmento BA até D, de forma que o segmento CA seja congruente ao segmento AD , encontraremos neste caso a razão áurea. Mais exatamente, BD BA BA AD = FIGURA 3 4 Os Elementos é constituído por 13 "livros" (a antiga denominação para capítulos). Os seis primeiros tratam essencialmente de geometria no plano. Os livros VII a IX tratam questões de aritmética e teoria de números. O livro IX contém o resultado conhecido como “segundo teorema de Euclides” em que é provada a existência de infinitos números primos. No livro X analisam-se vários aspectos de grandezas irracionais e os livros XI a XIII estudam questões relacionadas com a geometria dos sólidos. 23 Demonstração. Temos da definição 1.2 de razão áurea que: . AC BA CB AC = (5) Então, por hipótese, o segmento AC é congruente ao segmento AD . Substituindo em (5): . AD BA CB AD = Sendo assim obtemos a razão: . CB AD AD BA = Do mesmo modo escrevemos: . CB AD AD BA AD BA + + = Porém CB+AD=BA e AD BA BD+ = , então: . BA BD AD BA = Podemos então escrever que, . BD BA BA AD = � 24 Sugeriu-se no início do século XX, que a letra grega φ , a letra inicial do nome de Fìdias5, fosse adotada para designar a razão áurea (HUNTLEY, 1985, p.37). O valor numérico do φ pode ser calculado da seguinte forma: Na FIG. 3 tomemos o comprimento do segmento menor, CB , como sendo y unidades, e o comprimento do maior, AC , como sendo x unidades. Da definição da razão áurea determinamos a relação: x x y y x + = Segue da relação acima que: x x y y x x = + . Considere agora a razão x y equivalente à m unidades. Portanto: 1 1m m = + . Ou ainda: 2 1m m= + , que equivale à equação quadrática 2 1 0m m− − = (6) Após desenvolver a equação acima, encontramos duas soluções: 5 Escultor grego (490-430 a.C.). Considerado o maior escultor grego do período clássico, é o criador do Parthenon e das estátuas dos deuses gregos. 25 (i) ´ 1 5 2 m + = e (ii) ´´ 1 5 . 2 m − = � A solução positiva 1 5 2 + = 1,61803398874989484820458... que é o valor mais adotado para a razão áurea, denotaremos por φ . E a solução negativa 1 5 0, 61803398874989484820458... 2 − = − denotaremos por 'φ . Então, substituindo em (6), temos as duas equações quadráticas escrita de uma forma diferente: (i) 2 1 0φ φ− − = e (ii) 2 ' ' 1 0φ φ− − = . Mas a razão áurea não teria alcançado popularidade se não fosse por suas propriedades algébricas verdadeiramente únicas. Sendo elas: 2.2. A solução negativa 'φ é o recíproco negativo da solução positiva φ , isto é, 1 'φ φ − = . Demonstração. Já sabemos os valores de φ e 'φ , então, substituindo em 1 φ − o valor da solução positiva, encontraremos a razão: 1 1 5 2 − + Portanto, após desenvolvermos, obteremos o valor : 1 5 2 − , que corresponde ao valor de 'φ . � 26 De forma análoga à propriedade 2.5, provamos as propriedades abaixo. 2.3. Diminuindo em uma unidade o φ , torna-se o seu próprio recíproco, ou seja, 1 1φ φ − = . 2.4. A soma das soluções positiva e negativa é igual a 1, isto é, ' 1φ φ+ = . 2.5. O produto das soluções positiva e negativa é igual a -1, temos então, '. 1φ φ = − . 27 Capítulo 3 3- Construções Parafraseando Wagner (2007, p.1), “as construções com régua e compasso já aparecem no século V a.c, época dos pitagóricos, e têm enorme importância no desenvolvimento da matemática grega”. Na época de Euclides uma idéia nova apareceu: as grandezas, no lugar de serem associadas a números, passaram a ser associadas a segmentos de reta. Assim, o conjunto dos números continuava discreto e o das grandezas contínuas passou a ser tratado por métodos geométricos. Nasce então, nesse período, uma nova álgebra, completamentegeométrica, onde a palavra resolver era sinônimo de construir. Como a construção do pentágono foi o principal motivo do interesse dos gregos pela razão áurea, apresentaremos a seguir algumas construções do pentágono regular. No entanto, para a construção do pentágono regular utilizaremos o triângulo áureo, e para construção desse triângulo temos que determinar, primeiramente, o ponto que divide um segmento em razão áurea. Neste caso temos: Construção 3.1. Determinar sobre um segmento DB um ponto C tal que este ponto divide o segmento em razão áurea. Tracemos, inicialmente por B, uma reta r perpendicular a DB , onde marcamos um ponto F tal que 1 BF 2 DB= ⋅ . Em seguida, sobre o lado FD, marcamos o ponto E tal que FE BF≡ . Agora tracemos uma circunferência de centro D e raio DE que cortará DB no ponto C. Então, C é o ponto que divide o segmento em razão áurea. � 28 FIGURA 4 Demonstração. Como vimos, o triângulo DBF é um triângulo retângulo. Então, ( ) ( ) ( )2 2 2DF DB BF= + . Como DF DE EF= + , obtemos: ( ) ( ) ( )2 2 2DE EF DB BF+ = + . Por outro lado, no triângulo retângulo acima os segmentos DE ≡ DC por serem raios da mesma circunferência. Da mesma forma, BF EF≡ . Logo: ( ) ( ) ( )2 2 2DC BF DB BF+ = + Assim, o segmento 1 2 BF DB= . Então: ( ) 2 2 2 2 2 DB DB DC DB + = + Daí determinamos que: 29 DB DC DC DB DC = − Ora, se DB DC CB− = , então: DB DC DC CB = que, por definição, será a razão áurea. � Construção 3.2. Construir um triângulo áureo dado o seu lado. Vamos construir um triângulo áureo DAB de base AB , dado o seu lado DB . De maneira análoga à construção da FIG. 4, tomamos sobre DB um ponto C tal que esse ponto divida esse segmento em razão áurea, de modo que C esteja mais próximo de B. Em seguida, com raio CD , traçamos as circunferências r e s, tendo como centro os pontos C e B, respectivamente. Se A é um dos pontos de interseção das duas circunferências, então podemos formar o triângulo áureo DAB. � FIGURA 5 Demonstração. Já sabemos que 30 . DB DC DC CB = Mas, por construção DC AB≡ . Então, . DB AB AB CB = Além disso, o ângulo DBA∠ é comum para os triângulos DBA e ABC . Logo, esses triângulos são semelhantes. Isso implica que o triângulo DAB , de base AB , é um triângulo isósceles. Nesse caso temos que DB DA≡ . Logo: DA AB AB CB = Ou ainda: DA DC AB CB = Como DC DB CB DC = então: DA DB AB DC = Então, pela propriedade 1.12 esse triângulo é um triângulo áureo. � Construção 3.3. Construção de um pentágono regular dado o seu lado. Seja FG um lado dado do pentágono regular. Como vimos, se um triângulo áureo está inscrito em uma circunferência, os seus vértices coincidem com os vértices do pentágono regular, também inscrito na mesma circunferência. Assim, para construir o pentágono regular basta construir um triângulo áureo de base FG . 31 Se ACB é um triângulo áureo de base CB (FIG. 5), então transportemos os ângulos de sua base sobre o lado FG formando o triângulo áureo KFG. Seja L o ponto de interseção das mediatrizes do triângulo KFG, tracemos a circunferência t de centro em L e raio LF . Tracemos, em seguida, a circunferência v de centro G e raio FG . Então M é um dos pontos de interseção das circunferências t e v. De maneira análoga encontramos o ponto N. Logo o polígono K, N, F, G e M é um pentágono regular. � FIGURA 6 Construção 3.4. Construção de um Pentágono Regular inscrito em uma circunferência de raio dado MN . Sobre uma reta r marcamos o ponto O. Em seguida traçamos uma circunferência de raio MN e centro em O. Seja AFB um triângulo áureo de base FB . Sabemos que os ângulos de sua base são iguais a 72°. Transportemos, então, o ângulo AFB∠ sobre a reta r no ponto O, formando o ângulo central DOC∠ . 32 Unindo os pontos D e C formamos o triângulo DOC, onde DC é o lado de um pentágono regular. Logo, de maneira análoga, encontramos os outros lados do pentágono regular. � FIGURA 7 Construção 3.5. Construção de um pentágono regular, dada uma diagonal. Seja AB a diagonal dada. Sobre ela construamos o triângulo áureo ABD de base BD (FIG.5). E, de maneira análoga à FIG. 6, determinamos o pentágono regular da FIG. 7. � 33 FIGURA 8 34 Capítulo 4 4 - Razão Áurea e Aplicações 4.1 - Leonardo Fibonacci Leonardo de Pisa (em latim, Leonardus Pisanus), também conhecido como Leonardo Fibonacci6, tornou-se famoso pelo seguinte problema contido no cap. 12 do seu livro Líber Abaci: “Um homem pôs um par de coelhos num lugar cercado por todos os lados por um muro. Quantos pares de coelhos podem ser gerados a partir deste par em um ano se, supostamente, todo mês cada par dá à luz um novo par, que é fértil a partir do segundo mês” ( (Fibonacci in Livio,2007, p.116) A resposta desse problema gera a seqüência 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89... na qual cada termo - começando com o terceiro - é igual à soma dos dois termos anteriores. Tal seqüência - chamada de seqüência de Fibonacci, no século XIX, pelo matemático francês Edouard Lucas - não representa somente o problema de reprodução de coelhos. Pode ser encontrada, também, em uma variedade inacreditável de fenômenos, aparentemente sem relação, como na óptica dos raios de luz, na árvore genealógica de um zangão, etc. A seqüência de Fibonacci é uma sequência recursiva, ou seja, seqüência de números na qual a relação entre termos sucessivos pode ser expressa por uma fórmula matemática. Sendo assim: Notação 4.2. Representaremos o conjunto dos números naturais por � tal que { }0,1,2,3, 4,5...=� . Notação 4.3. Denotaremos por ( )n na a sequência 0 1 2 3, , , , ... ...na a a a a tal que a∈� e n∈� . Definição 4.4. A sequência de Fibonacci é a sequência ( )n nf tal que: 6 Foi o primeiro o grande matemático na Europa, durante a Idade Média. Em 1202 produziu o seu primeiro livro Líber Abaci (o livro do cálculo), que marca o ressurgimento da matemática na Itália. 35 1 2 0, se n = 0; 1, se n=1; 1. n n n f f f se n− − = + > Observe que, se começarmos com 0 e 1 então encontraremos o próximo número somando os dois anteriores. Portanto, continuando esse processo determinaremos a sequência: 0,1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89.... Essa sequência possui algumas propriedades que estão intimamente relacionadas a φ . Por exemplo, se fizermos a razão entre dois termos consecutivos dessa sequência, isto é, 1n n f f + para 1n ≥ , encontramos algumas relações interessantes.Vejamos: 10 9 55 1,61764705882352941... 34 f f = = (7) 15 14 610 1,6180371352785145... 377 f f = = (8) Mas no cap. 2 encontramos que, 1 5 1,6180339887498948482045... 2 φ += = Então note que o número encontrado em (7) é igual a φ até a segunda casa decimal; já em (8) é igual até a terceira casa decimal. Mas quando utilizamos valores ainda maiores para n , determinamos números mais próximos de φ . Ou seja, 20 19 6765 1,618033963166706... 4181 f f = = (8) 25 24 75025 1,618033988957902... 46368 f f = = (9) 36 Observe que em (8) a aproximação é até a sétima casa decimal, e em (9) é até a nona casa decimal. Portanto, se utilizarmos um valor suficientemente grande para n , então encontraremos um número muito próximo de φ . Na verdade pode-se mostrar que: 1lim n n n f f φ+ →∞ = A maioria dos estudantes que aprecia a matemática não teria dificuldade em formar uma sequência de acordo com a propriedade 1 1n n nf f f+ −= + . Nem tampouco acharia difícil formar uma sequência pela propriedade 1n n g r g + = para qualquer valor de n∈� tal que { }, 0nr g ∈ −� . Mas suponhamos que a exigência fosse para se formar uma sequência que possuísse ambas as propriedades simultaneamente. Entretanto há uma sequência assim. Trata-se da sequência áurea: 1, , 1 , 1 2 , 2 3 , 3 5 ...φ φ φ φ φ+ + + + Definição 4.4. A sequência áurea é a sequência ( )n ng tal que: 1 1, se n = 0; 1.n n n g f f se nφ− = + ≥ (10) Ou ainda: 0 1 1 1 1, para 1 n n n g g e g g g n φ + − = = = + ≥ (11) ou 0 1 1 para 0n n g e g n g φ+ = = ≥ (12) Proposição 4.5. As definições (10), (11) e (12) são equivalentes. 37 Demonstração. Vamos provar que (10)⇒ (11). Então para 0 1g = , 1g φ= e 1n ≥ : 1 2 1 1( ) ( )n n n n n ng g f f f fφ φ− − − −+ = + + + Reagrupando os termos encontramos: 1 1 2 1( ) ( )n n n n n ng g f f f fφ− − − −+ = + + + Daí determinamos que: 1 1n n n ng g f fφ− ++ = + Sendo 1 1n n ng f f φ+ += + , logo: 1 1n n ng g g+ −= + Agora vamos provar que (10)⇒ (12). Temos que: ngφ = 2 1n nf fφ φ− + onde 1n ≥ e 0 1g = Porém 2φ = 1φ + (PAG. 25). Neste caso: ngφ = 2 1n nf fφ φ− + = 1n n nf f fφ φ− + + Desenvolvendo, obtemos: ngφ = 1( )n n nf f fφ − + + 38 Como 1n nf f− + = 1nf + temos: ngφ = 1n nf fφ + + Já que 1 1n n ng f f φ+ += + então: 1ng + = ngφ ou 1n n g g φ+ = Em seguida temos que (11)⇒ (12) Então: 1 1n n ng g g+ −= + se 1n ≥ e 0 11g e g φ= = Vimos anteriormente que: 1 1n n ng g g+ −= + = 1n nf fφ + + Também vimos que: ngφ = 1n nf fφ + + . Portanto, 1ng + = ngφ ou 1n n g g φ+ = � Corolário 4.6. Seja ( )n ng a sequência áurea. Então, ng = nφ . 39 Demonstração. Para provar essa propriedade, utilizaremos o método da indução. Iniciaremos provando que a propriedade vale para n = 1. Portanto se 1n n ng f f φ−= + então: 1 0 1g f f φ= + = 0 1φ φ+ = Isto é: 1g = φ Agora, vamos supor que a propriedade vale para n k= tal que 1k ≥ , ou seja: 1 . k k k kg f f φ φ−= + = Então, provaremos que a propriedade vale para o sucessor de k: 1 1 1 . k k k kg f f φ φ + + += + = Na potência 1kφ + temos a igualdade: 1k kφ φ φ+ = Mas por hipótese de indução 1 k k kf f φ φ− + = , logo: ( )1 1k k k kf fφ φ φ φ φ+ −= = + Vimos anteriormente que ( )1k kf f φ φ− + = 1k kf fφ + + . Sendo assim: ( )1 1k k kf fφ φ φ+ −= + = 1 .k kf f φ++ Já que por definição 1 1k k kg f f φ+ += + , então: 40 11 1 . k k k kg f f φ φ + + += + = � Podemos concluir pelo corolário acima que: 2 3 4 5 1 1 2 2 3 3 5 φ φ φ φ φ φ φ φ + = + = + = + = M Logo, a sequência áurea pode ser reescrita da seguinte maneira: 2 3 4 5 61, , , , , , ...φ φ φ φ φ φ 4.7. Sofisma Geométrico Na concepção de Huntley (1985, p.56-58), uma outra ligação entre a razão áurea e a Sequência de Fibonacci diz respeito a um sofisma7 geométrico, que foi apresentado pela primeira vez por Sam Loyd (1841 – 1911), o criador de quebra-cabeças matemático. Esse sofisma baseia-se na construção de um quadrado cujos lados têm comprimento igual a soma de dois números consecutivos da Sequência de Fibonacci. Se recortarmos o quadrado nas partes indicadas e encaixá-las, obteremos um retângulo. Verifica-se, a partir disso, que as áreas do quadrado e do retângulo diferem em uma unidade. Dependendo do número escolhido, o quadrado terá a maior área ou o contrário. A explicação para esse paradoxo é que o encaixe ao longo das diagonais dos retângulos não é exato. Às vezes fica uma “folga” de uma unidade quadrada e, outras vezes, há uma sobreposição de uma unidade quadrada. A seguir, a descrição sistematizada desse sofisma: Seja o quadrado ABCD dado e nf o enésimo termo da Sequência de Fibonacci, então o lado deste quadrado tem o comprimento igual à soma de dois números consecutivos da Sequência de Fibonacci, isto é, 1n nAB f f += + tal que n∈� . Tracemos, então, o segmento EF paralelo a AD onde 1nAE f += e nEB f= . Agora tracemos o segmento PQ obtendo os 7 Em Filosofia é um raciocínio aparentemente válido, mas inconclusivo, pois é contrário às suas próprias leis. 41 trapézios PAEO e QFDP de tal forma que sejam congruentes entre si, e ainda, 1nAP QF f += = e nEQ DP f= = . Tracemos o segmento EC , formando os triângulos EBC e CFE , sendo esses também congruentes entre si. Agora, recortemos o quadrado pelos segmentos EF , PQ e EC e, com os polígonos formados, construímos o retângulo JGHI tal que os trapézios JGLM e HINK sejam congruentes ao trapézio PAEO e os triângulos MLH e KNJ também sejam congruentes ao triângulo EBC . Demonstraremos que o encaixe ao longo da diagonal JH não é exato. Inicialmente vamos provar um caso particular e, em seguida, o caso geral. Como exemplo tomemos 5 5f AE= = e 4 3f EB= = . Então: FIGURA 9 No retângulo JGHI temos 13GH = e 5GJ = . Logo, se os pontos , ,J M K e H fossem colineares, os polígonos JMHG e MKHL seriam triângulos. Sendo assim, JGH MLH∠ ≡ ∠ e teríamos o MHL∠ comum aos dois triângulos. Isso implica que eles seriam semelhantes. Logo: GH GJ LH LM = , o que é absurdo, pois: 42 13 5 8 3 GH GJ LH LM = ≠ = Então, os pontos , ,J M K e H não podem ser colineares. Vamos provar o caso geral. Seja nAB f= + 1nf + , então de maneira análoga ao exemploanterior formamos o retângulo JGHI tal que: GH = 1nf + + ( nf + 1nf + ) = 1nf + + 2nf + = 3nf + e HI = 1nf + . Então, se os pontos , ,J M K e H fossem colineares, os polígonos JMHG e MKHL seriam triângulos. Do mesmo modo que anteriormente, eles seriam semelhantes, logo: GH GJ LH LM = , o que é absurdo, pois: 3 2 n n f f + + ≠ 1n n f f + . Então os pontos , ,J M K e H não podem ser colineares. Em seguida, vamos provar que o quadrilátero JMHK é um paralelogramo. Como vimos os triângulos JNK e HLM são congruentes, donde, LHM NJK∠ ≡ ∠ e JK HM≡ . Temos também que os trapézios JGLM e HINK são congruentes, o que implica, GJM IHK∠ ≡∠ e JM HK≡ . Temos então que KJM KHM∠ ≡∠ , logo o quadrilátero JMHK é um paralelogramo. Portanto, provamos que o encaixe ao longo da diagonal JH não é exato. Temos também que quando utilizamos os valores 4 3f = e 5 5f = obtemos a área do quadrado e do retângulo, respectivamente, igual a: 43 64QA = e 65RA = Mas pode acontecer o contrário, ou seja, a área do quadrado ser maior que área do retângulo em uma unidade quadrada . Por exemplo: Para os números 13 e 21: ' QA =34 34 1156⋅ = e ' RA = 55 21 1155⋅ = . Mas esses exemplos não provam, de uma maneira geral, o que realmente acontece quando utilizamos todos os números da Sequência de Fibonacci. Então, segue abaixo o caso geral. Primeiro vamos provar a seguinte proposição. Proposição 4.8. Seja nf o enésimo termo da sequência de Fibonacci, então ( )21 2 ( 1)nn n nf f f+ += ⋅ + − para todo 0n ≥ . Demonstração. Para provar essa propriedade utilizaremos o método da indução. Iniciaremos provando que a propriedade vale para 0n = . De fato se ( )21 2 ( 1)nn n nf f f+ += ⋅ + − , então: ( ) ( )2 21 1 1f = = Temos também que: 0 0 2 ( 1) 0 1 1 1f f⋅ + − = ⋅ + = Logo a propriedade vale para 0n = . Agora vamos supor que a propriedade vale para n k= tal que 0k ≥ , isto é: ( )21 2 ( 1)kk k kf f f+ += ⋅ + − 44 Então provaremos que a propriedade vale para o sucessor de k, isto é: ( )2 12 1 3 ( 1)kk k kf f f ++ + += ⋅ + − . Sendo assim: ( ) ( )21 1 11 3 1 1 2 1 1 2( 1) ( 1) ( 1)k k kk k k k k k k kf f f f f f f f+ + ++ + + + + + + +⋅ + − = ⋅ + + − = + ⋅ + − Por hipótese de indução ( )21 2 ( 1)kk k kf f f+ += ⋅ + − . Então: ( )2 1 11 1 2 2 1 2( 1) ( 1) ( 1)k k kk k k k k k kf f f f f f f+ ++ + + + + ++ ⋅ + − = ⋅ + − + ⋅ + − Note que: 1( 1) ( 1) 0k k+− + − = para 0k ≥ . Logo: ( ) ( )22 1 2 2 1 2 2 2k k k k k k k k k kf f f f f f f f f f+ + + + + + + +⋅ + ⋅ = + = ⋅ = . Portanto: ( )21 2 ( 1)nn n nf f f+ += ⋅ + − � Agora voltaremos ao nosso objetivo. Vimos anteriormente que quando nAB f= + 1 2n nf f+ += , formamos o retângulo JGHI tal que GH = 1nf + + ( nf + 1nf + ) = 1nf + + 2nf + = 3nf + e HI = 1nf + . Portanto as áreas quadrado e do retângulo são respectivamente igual a: ( )2'' 2Q nA f += e '' 3 1R n nA f f+ += ⋅ 45 Então, para n ímpar temos pela proposição 4.8 que: ( )23 1 2 1n n nf f f+ + +⋅ = + Ou ainda: '' '' 1R QA A= + Agora, para n par temos que: ( )21 2 1n n nf f f+ += ⋅ + Ou seja: ''' ''' 1Q RA A= + . Essa propriedade foi descoberta pelo matemático e astrônomo Johannes Kepler. Mas, será que esse sofisma tem solução? Veremos que sim. Vimos anteriormente a sequência áurea. Essa sequência proporciona no paradoxo explicitado anteriormente um encaixe exato no retângulo formado. Então, construiremos um quadrado cujos lados tenham comprimento igual à soma de dois números consecutivos quaisquer da sequência áurea, e, verificaremos que as áreas do quadrado e do retângulo serão iguais. Nesse caso, sabemos que ng é o enésimo termo a sequência áurea. Então, se tomarmos 1nAE g += e nEB g= , temos o lado do quadrado dado ABCD (FIG. 10) igual a: 1 2n n nAB g g g+ += + = para 0n ≥ . Logo formamos, do mesmo modo que anteriormente, o retângulo JGHI , tal que: 3 2 1, ,n n nGH g LH g GJ g+ + += = = e nLM g= 46 FIGURA 10 Então, se os pontos , ,J M K e H fossem colineares, os polígonos JMHG e MKHL seriam triângulos. Sendo assim, seria JGH MLH∠ ≡ ∠ e teríamos o MHL∠ comum aos dois triângulos, o que implica que eles seriam semelhantes. Logo: 3 1 2 n n n n g gGH GJ LH g g LM + + + = = = E isso é verdade pela definição 4.4. Então, os pontos , ,J M K e H são colineares. A seguir, provaremos para o caso geral que as áreas do quadrado e do retângulo são iguais. Seja o lado do quadrado igual a 1n nQ g g+= + então a sua área é igual a: ( ) ( )2 21 2Q n n nD g g g+ += + = para 0n ≥ . Porém, pelo corolário 4.6 22 n ng φ + + = . Logo: ( )22 2 4n nQD φ φ+ += = Por sua vez, a área do retângulo é igual a: 47 ( )( )3 1R n nT g g+ += Sendo assim: ( ) ( ) ( )( )3 1 2 43 1 n n nR n nT g g φ φ φ+ + ++ += = = Portanto, Q RD T= . 48 Capítulo 5 5 - Retângulo Áureo Um leigo em matemática, ao observar o retângulo áureo, verá apenas uma figura relativamente simples e, ao mesmo tempo, bela pelas suas dimensões. Mas a verdadeira beleza são as propriedades existentes nesse polígono que impressiona, há séculos, matemáticos, artistas e outros. Definição 5.1. Definimos como retângulo áureo um retângulo AFED tal que: DE EF φ= FIGURA 11 Baseamos nas idéias de Huntley (1985, p.100), para mostrar que, utilizando o quadrado ABCD, podemos determinar uma sequência infinita de retângulos. Posteriormente, na proposição 5.4, verificaremos que esses retângulos são, na verdade, retângulos áureos. Então, dado esse quadrado, construímos o retângulo AFED e, consequentemente, determinamos o retângulo BFEC . Em seguida, seccionamos desse retângulo o quadrado HGEC , determinando o retângulo BFGH . E se deste for seccionado o quadrado IFGJ , temos o retângulo BIJH . Podemos supor que esse processo seja repetido indefinidamente, até que se chegue ao retângulo-limite, indistinguível de um ponto. Segundo o matemático 49 Clifford A. Pickover, citado por Livio (2007, p.104) esse “ponto retangular”, é “O Olho de Deus”, devido às propriedades “divinas” atribuídas à razão áurea. Partindo da FIG. 11, vamos supor que 1CE = . Logo, encontramos DC φ= (ver p. 17-18). Então, se observarmos os lados dos retângulos áureos, determinaremos uma sequência áurea “recíproca” com os seguintes valores: ,1, 1, 2 , 2 3, 5 3 ,φ φ φ φ φ− − − − 5 8, 13 8 , 13 21, 34 21 ...φ φ φ φ− − − − Definição 5.2. A sequência áurea “recíproca” é a sequência ( )n nx , tal que: 1 , se n = 0; 1.n n n x f f se n φ φ− = − ≥ (13) Ou ainda: 0 1 1 1 , 1 para 1 n n n x x e x x x n φ + − = = = − ≥ (14) ou 0 1 1 para 0n n x e x n x φ φ + = = ≥ (15) Proposição 5.3. As definições (13),(14) e (15) são equivalentes. Demonstração. Vamos provar que (13)⇒ (14). Então, 1 1 2 1n n n n n nx x f f f fφ φ− − − −− = − − − para n≥2 e 0 1, 1x xφ= = . Porém, nessa igualdade, temos dois casos. Daí, quando n é par: 1 2 1n n n nf f f fφ φ− − −− > − , e quando n é impar: 50 1 2 1n n n nf f f fφ φ− − −− < − . Agora considere n par: se 1 2 1n n n nf f f fφ φ− − −− > − então 1 2 0n nf f φ− −− > e 1 0n nf f φ−− < . Logo: 1 1 2 1 1 2 1( ) ( )n n n n n n n n n nx x f f f f f f f fφ φ φ φ− − − − − − −− = − − − = − + − Podemos, então, reagrupar os termos para obter a seguinte igualdade: 1 1 2 1 1 2 1( ) ( ) ( ) ( )n n n n n n n n n nx x f f f f f f f fφ φ φ− − − − − − −− = − + − = + − + Sendo assim: 1 1 2 1 1( ) ( )n n n n n n n nx x f f f f f fφ φ− − − − +− = + − + = − Ora, se 1 1n n nx f f φ+ += − então: 1 1n n nx x x+ −= − Agora, para n ímpar: se, 1 2 1n n n nf f f fφ φ− − −− < − então, 1 2 0n nf f φ− −− < e 1 0n nf f φ−− > . Mas por construção: 1 2 1n n n nf f f fφ φ− − −− > − Portanto: 1 1 2 1 1 2 1( ) ( ) .n n n n n n n n n nx x f f f f f f f fφ φ φ φ− − − − − − −− = − − − = − + − De maneira análoga, obtemos: 51 1 1n n nx x x+ −= − Em seguida vamos provar que (13)⇒ (15) Temos que (15) é igual a: 1n nx x φ+= se 0x φ= e 0n ≥ No entanto: 2 1 1 1 .n n n n nx f f f fφ φ φ φ φ+ + += − = − Como 2φ = 1φ + , então: 2 1 1 1 .n n n n n nx f f f f fφ φ φ φ φ+ + += − = − − Sendo assim: 1 1 1) ( ) ) .n n n n n n nx f f f f f fφ φ φ φ+ + += − − = − − Já que 1nf − = 1n nf f+ − logo: 1 1 1( ) ) .n n n n n nx f f f f fφ φ φ+ + −= − − = − No entanto, por definição: 1n n nx f f φ−= − . Portanto: 1n nx x φ+= ou 1 1n n x x φ + = . Agora temos que (14)⇒ (15). 52 Seja: 1 1 1n n nx x x se n+ −= − ≥ e 0 1, 1x xφ= = Por definição: 1 1 1n n n n nx x x f f φ− + −= − = − Mas vimos anteriormente que: 1 1n n nx f fφ φ+ −= − Logo: 1n nx x φ+= � Corolário 5.4. Seja ( )n nx tal que 1n ≥ a sequência áurea “recíproca”. Então: 1 1 n nx φ − = Demonstração. Iniciaremos provando que a propriedade vale para n = 1. Então: 1 0 1 1x φ = = Agora vamos supor que a propriedade vale para n = k. 1 1 k kx φ − = Então, provaremos que a propriedade vale para o sucessor de k. Ou seja, 53 1 1 k kx φ+ = Por hipótese de indução 1 1 k kx φ − = , logo: 1 1 1 k kk kx φ φφ φ φ −= = = Ou ainda: k kx φφ = (16) Se substituirmos (16) em 1 kφ obtemos: 1 1 k k k x x φφ φ = = (17) Pela proposição 5.3, temos: 1 k k x x φ + = (18) Sendo assim por (17) e (18): 1 1 k kx φ+ = � Por exemplo: 54 ü 3 2 1 1 1 1 2 1 1 1x φ φφ φ φ φ φ φ − = − = + − = − = = = ü 4x = 2φ 3= 2 3 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 ( 1) 1 φ φφφ φ φ φ φ φ φ φ φ φ − − − + − + − + − = + − = + = + = = . É interessante observar que pelos Corolários 4.6 e 5.4 podemos formar uma “sequência áurea completa”, isto é: 6 4 3 2 2 3 4 5 6 1 1 1 1 1 1 ... , , , , ,1, , , , , , ...φ φ φ φ φ φ φ φ φ φ φ ou ainda: Vimos neste capítulo que a sequência áurea “recíproca” é formada quando construímos uma sequência de retângulos áureos, sendo estes cada vez menores até encontrarmos um ponto “retangular” limite, o ponto-limite P . Mas, se tivéssemos construído retângulos áureos cada vez maiores, ou seja: se tomássemos o retângulo MNLJ da figura 11, de dimensões 1 e φ , construiríamos o retângulo KLJH tal que 1KL φ= + , em seguida o retângulo HBIJ para 1 2HB φ= + e assim sucessivamente, sendo todos retângulos áureos. Isso implicaria a sequência áurea vista no Capítulo IV, ou seja: 1, , 1 , 1 2 , 2 3 , 3 5 ...φ φ φ φ φ+ + + + Que é igual a: 2 3 4 5 61, , , , , , ...φ φ φ φ φ φ Logo a “sequência áurea completa” pode ser vista como uma sequência de retângulos áureos cada vez menores ou maiores. 6 5 4 3 2 1 2 3 4 5 6... , , , , , ,1, , , , , , ...φ φ φ φ φ φ φ φ φ φ φ φ− − − − − − 55 Capítulo 6 6 - A espiral retangular Do ponto-de-vista estético a espiral abaixo possui a capacidade de dimensionar a beleza. Parece que, de uma maneira suave e ao mesmo tempo concreta, todos os seus lados estão em harmonia. Mas, para entendermos o que está implícito nela, temos que mudar o nosso olhar ingênuo para um olhar mais crítico, um olhar matemático. Então, tomemos um segmento 0 1A A tal que 0 1 1A A = . Pelo ponto 1A traçamos uma perpendicular a esse segmento e marcamos sobre ela um ponto 2A de tal forma que 0 1 1 2 A A A A φ= . Logo 1 2A A φ= . Pelo ponto 2A traçamos a perpendicular ao segmento 1 2A A e marcamos sobre ela um ponto 3A de tal forma que 20 1 2 3 A A A A φ= , então 2 3 2 1 A A φ = . Do mesmo modo, temos 30 1 3 4 A A A A φ= e 3 4 3 1 A A φ = . De uma forma geral obtemos 0 1 1 n n n A A A A φ + = e 1 1 n n nA A φ+ = . FIGURA 12 Note ainda que pela razão 0 1 1 n n n A A A A φ + = para 1n ≥ podemos formar a sequência: 2 3 4 5 61, , , , , , ...φ φ φ φ φ φ 56 E ainda, se 1 1 n n nA A φ+ = para 0n ≥ podemos também formar a sequência: 2 3 4 5 6 1 1 1 1 1 1 1, , , , , , ... φ φ φ φ φ φ Isso que vimos não esgota nosso olhar crítico sobre a espiral, então veremos a seguir algumas propriedades. Destaco aqui aquela que acredito ser a mais bela de todas. Se continuarmos infinitamente o processo descrito no inicio deste capítulo, determinaremos uma espiral retangular, cujos anéis diminuem, indefinidamente, até um ponto-limite P , denominado “O olho de Deus”. Para demonstrar as propriedades a seguir, vamos definir um sistema de coordenadas cartesianas tal que o eixo x é a reta que contém os pontos 0A e 1A , e o eixo y é reta perpendicular ao eixo x no ponto 0A . Onde 0 (0,0)A = e 1 (1,0)A = . Proposição 6.1. Seja ( ),n n nA u v= de modo que n∈� , então: i. as séries ( )n nu e ( )n nv são convergentes. ii. 2 0n nA A + → Demonstração. Primeiramente provaremos (i). Na espiral retangular temos: 1 2 1 1n n n n A A A A φ + + + = Então, vamos analisar as coordenadas de nA para 2n ≥ . Logo: 2 1 1 ,A φ = e 3 2 1 1 1 , ,A φ φ = − 4 2 3 1 1 1 1 ,A φ φ φ = − − e 5 2 4 3 1 1 1 1 1 , ,A φ φ φ φ = − + − 57 6 2 4 3 5 1 1 1 1 1 1 ,A φ φ φ φ φ = − + − + e 7 2 4 6 3 5 1 1 1 1 1 1 1 , ,A φ φ φ φ φ φ = − + − − + MDesta forma, encontramos para 1n ≥ : 2 2 4 2 2 3 5 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 ,n n nA φ φ φ φ φ φ φ− − = − + − + L L e 2 1 2 4 6 2 3 5 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 ,n n nA φ φ φ φ φ φ φ φ+ − = − + − − + L L Tomando as abscissas dos pontos 2nA e 2 1nA + temos as séries: 2 2 4 2 2 1 1 1 1n nu φ φ φ − = − + L e 2 1 2 4 6 2 1 1 1 1 1n nu φ φ φ φ+ = − + − L Note que são duas progressões geométricas de razão 2 1 φ − . Logo: 2 2 2 22 4 2 2 2 2 2 1 1 1 1 lim lim 1 lim 1 1 11 n nnn nn u u φ φ φ φ φ φ φ φ −→∞ →∞→∞ = − + = = ⇒ = + ++ L e 2 2 2 1 2 12 4 6 2 2 2 2 1 1 1 1 1 lim lim 1 lim 1 1 11 n nnn n n u u φ φ φ φ φ φ φ φ φ + +→∞ →∞ →∞ = − + − = = ⇒ = + ++ L Portanto: 58 2 2 1lim limn nn n u u +→∞ →∞ = . Agora, se tomarmos as ordenadas dos pontos 2nA e 2 1nA + , temos as séries: 2 3 5 2 1 1 1 1 1 n nv φ φ φ φ − = − + L e 2 1 3 5 2 1 1 1 1 1 n nv φ φ φ φ+ − = − + L Logo: 2 2 23 5 2 1 2 2 2 1 1 1 1 1 lim lim lim lim 1 1 11 n n nnn n n n v v v φ φφ φ φ φ φ φ φ φ −→∞ →∞ →∞ →∞ = − + ⇒ = = ⇒ = + ++ L De modo análogo: 2 1 2lim 1nn v φ φ+→∞ = + Sendo assim: 2 2 1lim limn nn n v v +→∞ →∞ = Já que 2 2 1lim limn nn n u u +→∞ →∞ = e 2 2 1lim limn nn n v v +→∞ →∞ = Então as séries ( )n nu e ( )n nv são convergentes. Em seguida vamos provar (ii). Note que os segmentos 2 2 2k kA A + para 0k ≥ determinam uma sequência de triângulos retângulos da forma 2 2 1 2 2k k kA A A+ + de hipotenusa 2 2 2k kA A + . Logo: 59 2 2 2 2 2 2 (2 2) 1 1 1 k k k kA A φ φ+ + − = + Desenvolvendo, encontramos: 2 2 2 2 4 2 1 1 k k kA A φ φ φ+ + = De forma análoga, obtemos para os segmentos 2 1 2 3k kA A+ + que 2 2 1 2 3 4 4 1 1 k k kA A φ φ φ+ + + = Sendo assim: 2 4 2 1 1 lim 0kk φ φ φ→∞ + = e 2 4 4 1 1 lim 0kk φ φ φ→∞ + = Então 2 0n nA A + → . � Mas ainda não foram respondidas algumas perguntas essenciais, tais como: Quem realmente é o ponto P ? Onde ele se localiza? Qual a sua relação com a espiral? Tentaremos responder essas perguntas nas seguintes propriedades: Proposição 6.2. Se { }0 2 1 3A A A A P∩ = então: iii. os segmentos 0 2A A e 1 3A A são mutuamente perpendiculares. iv. 2 2,1 1 P φ φφ φ φ = + + . 60 v. 2n nP A A n+∈ ∀ ∈� Demonstração. Inicialmente demonstraremos (iii). No triângulo 0 1 2A A A e 1 2 3A A A temos, respectivamente: 0 1 1 2 A A A A φ= e 1 2 2 3 A A A A φ= . Mas, 0 1 2A A A∠ e 1 2 3A A A∠ são ângulos retos. Logo, os triângulos 0 1 2A A A e 1 2 3A A A são semelhantes. Temos então que o ângulo 2 0 1A A A∠ é congruente ao ângulo 3 1 2A A A∠ . Nesse caso: 3 1 2A A A α∠ = ⇒ 1 0 90PA A α∠ = °− Daí encontramos que: 0 1 90A PA∠ = ° Agora provaremos (iv). Sabemos que ( ),n n nA u v= e lim nn A P→∞ = para n∈� . Então, pela proposição 6.1: 2 2,1 1 P φ φφ φ φ = + + . Em seguida, (v). Para provar, demonstraremos que as coordenadas de P estão entre as coordenadas de nA e 2nA + . 61 Temos ( , )n n nA u v= . Então pela proposição 6.1, nu é uma progressão geométrica de razão 2 1 φ − logo: 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 11 n n nu φ φ φ φ φ − − − − = = − +− − para 0n ≥ Do mesmo modo para nv : 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 11 n n nv φ φ φ φ φ φ − − − − = = − +− − para 0n ≥ E para ( )2 2 2,n n nA u v+ + += encontramos de modo análago: 2 2 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 11 n n nu φ φ φ φ φ + + + − − − − = = − +− − para 0n ≥ e 2 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 11 n n nv φ φ φ φ φ φ + + + − − − − = = − +− − para 0n ≥ Agora para ( ),P u v= e n par, temos: 2n nu u u +< < e 2n nv v v +< < E ainda, para n ímpar: 2n nu u u+ < < e 2n nv v v +< < 62 Então: 2n nP A A +∈ � Proposição 6.3. Se o segmento 0 1 1A A = então, o comprimento da espiral de 1A a P é φ . Demonstração: Temos por construção que os lados da espiral retangular formam a sequência: 2 3 4 5 6 1 1 1 1 1 1 1, , , , , , ... φ φ φ φ φ φ Daí encontramos: 0 1 1n n φ φ ∞ = = +∑ Portanto, o comprimento da espiral iniciando-se pelo ponto 1A é φ . � 63 Capítulo 7 7 - A Espiral Logarítmica Baseando-nos na concepção de Lívio (2007, p.111-145), vamos falar um pouco sobre a espiral logarítmica - uma das mais belas curvas matemáticas, que pode ser encontrada na natureza, tanto na fauna como na flora – também designada por Descartes como Espiral Equiangular. O nome foi derivado da forma como o raio cresce quando nos movemos ao longo da curva. O matemático Jacques Bernoulli, um dos grandes estudiosos dessa espiral, dedicou-lhe um tratado intitulado Spira Mirabilis (Espiral Maravilhosa). Bernoulli escreveu que essa espiral “pode ser usada como um símbolo, tanto de vigor e constância na adversidade quanto do corpo humano o qual, após todas as mudanças, até mesmo após a morte, será restaurado ao seu exato e perfeito ser.” O matemático ficou tão impressionado com a beleza da curva que pediu que essa forma e o lema que atribuiu a ela - “Eadem mutato resurgo” (embora mudado, ressurjo o mesmo) - fossem gravados em seu túmulo. O lema descreve uma propriedade fundamental exclusiva da espiral logarítmica: mesmo que o seu tamanho aumente, ela não altera o seu formato, característica essa conhecida com auto-similaridade. Dado o ponto O, a espiral logarítmica é uma curva tal que a amplitude do ângulo formado pela tangente em qualquer dos seus pontos P com a semi-reta OP uuur é constante, ou seja, α é constante durante todo trajetória da espiral. Temos como a equação genérica da espiral a equação polar cotr aeθ α= . Onde r é o raio da espiral e a é o raio associado para 0θ = , tal que θ é o ângulo em radianos formado entre r e o eixo x . FIGURA 13 64 Um erro comum é pensarmos que a espiral logarítmica está inscrita no retângulo áureo. A verdade é que ela é aproximadamente igual à espiral formada pela sequência de retângulos áureos (FIG.11), pelo fato de estarmos admitindo arcos circulares como uma aproximação da curva real. Segue então o exemplo abaixo: Construção 7.1. Construção aproximada da espiral logarítmica, dado o retângulo áureo. Traçamos no retângulo ABCD dado, uma circunferência de centro em F e raio FD , determinando o arco DE .Em seguida, com centro em H e raio HE , traçamos uma circunferência determinando o arco EG, e assim sucessivamente. Construímos, então, a espiral logarítmica. FIGURA 14 Existem, também, outros tipos de espirais como a espiral áurea triangular, (FIG.15), que é formada pela uma sequência de triângulos áureos. 65 FIGURA 15 Essa espiral possui várias propriedades. Citaremos duas: I) Dado o triângulo áureoFGH , se começarmos com o segmento HG tal que 1HG = , verificamos que os lados dos triângulos áureos formam a sequência áurea vista anteriormente, ou seja: 1 1 1 2 1 3 2 5 3 8 5 GF FE ED DC CB BA φ φ φ φ φ φ = = + = + = + = + = + II) Se traçarmos em cada triângulo áureo a mediana relativa ao vértice que contém o ângulo 72°, então os comprimentos dessas medianas formarão uma seqüência com as mesmas propriedades da sequência áurea. 66 CAPITULO 8 8 - Onde podemos encontrar a Razão Áurea? Buscamos essa resposta em Lívio (2007, p.79-145). As folhas, ao longo do galho de uma planta, ou os talos, ao longo de um ramo, tendem a crescer em posições que otimizariam sua exposição ao sol, à chuva e ao ar. À medida que um talo vertical cresce, ele produz folhas em pontos com espaçamento bem regular. A passagem de uma folha para a seguinte (ou de um talo para o seguinte ao longo dos ramos) é caracterizada por espaçamentos do tipo parafuso em volta do ramo. Arranjos semelhantes de unidades que se repetem podem ser encontrados nas camadas de uma pinha ou nas sementes de um girassol. Esse fenômeno é chamado de phyllotaxis - em grego, arranjos de folhas. Também podemos encontrar um conjunto de linhas espirais - conhecido como parastichies - em algumas plantas, como nas camadas de uma pinha ou de um abacaxi. Através de pesquisas, o botânico Karl Friedric Schimper e o seu amigo Alexander Braun, e o cristalógrafo Auguste Bravais e seu irmão botâncio Louis, descobriram a regra geral de que os quocientes filotáxicos poderiam ser expressos por razões de termos da série de Fibonacci (como 2 5 , duas voltas completas para passar por cinco ramos; ou 3 8 , três voltas completas para passar por oito ramos). Notaram, também, a aparição de números de Fibonacci consecutivos nos parastichies de pinha e de abacaxis (a maioria dos abacaxis tem cinco, oito, treze ou vinte e uma espirais de inclinação crescente na sua superfíce). Outro exemplo é o náutilo, que cresce dentro de uma concha. Ele constrói câmaras cada vez maiores, fechando as menores, que não são mais usadas. Cada aumento no comprimento da concha é acompanhado de um crescimento proporcional no raio, de modo que a forma permanece inalterada. Assim como a forma da espiral logarítma. O biólogo Vance A. Tucker da Universidade de Duke, na Carolina do Norte, EUA descobriu que os falcões mantêm a cabeça em linha reta e seguem uma espiral logarítma. Devido à propriedade eqüiangular da espiral, esse caminho lhes permite manter seu alvo à vista enquanto maximiza a velocidade. Esse padrão espiral também pode ser percebido em galáxias. Muitos pintores também utilizavam ou utilizam a razão áurea em suas pinturas. Podemos destacar: Salvador Domingo Felipe Jacinto Dalí i Domènech - 1º Marquês de Púbol, conhecido como Salvador Dali, Piero della Francesca, Leornardo da Vinci e o alemão 67 Albrecht Dürer. O matemático mais ativo deste trio ilustre foi Piero della Francesca, que teve três trabalhos preservados: De Prospectiva pingendi (Sobre a perspectiva na pintura), Libellus de Quinque Corporibus Regularibus (Livro curto sobre os cinco sólidos regulares), e Trattato d’Abaco (Tratado sobre o ábaco). De Prospectiva pingendi - escrito em meados da década de 1470 até meados da década de 1480 - contém numerosas referências aos Elementos e à Óptica de Euclides, pois ele estava decidido a demonstrar que a técnica para se obter a perspectiva em uma pintura recaía firmemente na base científica da percepção visual. Já nos outros dois trabalhos, Piero apresenta uma vasta gama de problemas (e suas soluções) que envolvem o petágono e os cinco sólidos platônicos. Ele calcula os comprimentos dos lados e das diagonais, além de áreas e volumes. Muitas das soluções envolvem a Razão Áurea e algumas das técnicas representam um pensamento inovador e original. Considerações finais No momento em que nos propusemos conhecer um pouco mais sobre a razão áurea, não sabíamos, exatamente, o tamanho do desafio. Tampouco tínhamos noção que esse era um assunto não muito abordado. Mas, embora não tenhamos encontrado um vasto material teórico, o que encontramos deu-nos a oportunidade de uma pesquisa interessante, ainda que limitada. Pudemos perceber, no decorrer deste trabalho, que a razão áurea tem a característica de aparecer em lugares inesperados, talvez pelo fato de possuir propriedades únicas. Também é um assunto capaz de despertar nas pessoas um entusiasmo muito grande. Percebemos, ainda, que essa razão não é somente uma forma de relacionar a matemática ao mundo real, mas também é a representação da vida através de um número. O certo é que estudiosos, não sendo apenas de matemática, dedicaram-se durante muito tempo a desvendar os mistérios da razão áurea. Fica-nos a convicção de que este trabalho apenas demonstra uma pequena parte de tudo que realmente a razão áurea é capaz de expor para os verdadeiros apreciadores do mistério matemático. Ela é capaz de quantificar e qualificar a beleza. 68 Referências [1] BOYER, Carl Benjamin. História da Matemática. São Paulo: Edgard Blucher, 1996. [2] HUNTLEY, H.E. A divina proporção: um ensaio sobre a beleza na Matemática. Tradução de Luís Carlos Ascêncio Nunes. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1985. Título original: The divine proportion: A study in mathematical beauty. [3] LIVIO, Mario. Razão Áurea: A história de Fi, um número surpreendente. 2.ed. Rio de Janeiro: Record, 2007. [4] WAGNER, Eduardo. Construções Geométricas. 6.ed. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Matemática, 2007. Introdução 1- Conceitos Básicos 2- Razão Áurea 3- Construções 4 - Razão Áurea e Aplicações 4.1 - Leonardo Fibonacci 5 - Retângulo Áureo 7 - A Espiral Logarítmica 8 - Onde podemos encontrar a Razão Áurea?
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