Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
"StrIAKÊSPEARE IN THË BUSH" - HISTCIRIA Ë TRADUçAO l-.t i: iili lti: í.r Este kabâlho é ullrta proposta de trarlução paÌa úm texto ampla- mente conhecido, escrito por urna antropóloga na década de 1960, que naÍra sua experiência junto à tribo dos Tiv, na Áftica Ociden- taÌ. "Shrkespeare in the bush', de Laura Boharmar, é urrL "suces- so" entue educadores e pesquisadores, que o julgam muito útiÌ como ilustação de diferenças culturais e de nossa incapacidade de ÌealÍnente consideÍar outras formas de organização social e cultu- ral. Pelo que sei urna tradução do texto paÌa o português ainda não foi publicada, e essa é a prilneiÌa razão paÌa o tuabalho. Uma segunda razão é a história do texto - quardo e em que ciÍcuns- tâncias e1e Íoi escrito - que revela na autora unna anhopóloga que estava, de ceÌta forma, à ÍTente de seu tempo. Pâlavrâs-Chave: tradução, Laura Bohannan, "Shakespeare no meio do mato", diferenças culturais. ,rr!li_ìì-fìt4:j ï Tfus paper proposes a translation for a widely known text, written by an antfuopologist in úe 60's ald narrating her experience with the Tiv tribe, in West ÂÍ.ica. Laura Bohamar's "Shakespeare in the bush" is a "hit" among researchers and instructors, who deem it very usefuI as an illustration of cultural differences and of our iÍÌçapacity to consideÌ to a full extent oúer ways of sociaÌ ancì cul- hral organization. As far as I know, a tratslation of úe text into Portuguese has not yet been published, and this is the first reason for the paper. A second reason is tÌìe text's story - wher, and un- deÍ what circumstances it tvas written - which reveals in the au- thor an arrtlropologist who was, in a ceÌtain way, úead of her time. Keywords: translation, Laura Bohannan, "Shakespeare in the Bush", cultural diferences 135 ;,,',1 ;-i. lr,,,ii,:;ii.1., A narrativa "Shakespeare in the b'sh", da anhopóloga americana Laura Boha'nan, é um texto bastante difundido e estimado por educadores nas áreas de leitura, interpre- tação, tÍadução, literatura e outras disciplinas - talvez a maioria das discipliaas de Humanidades - que, de um modo ou de ouho, lidam com a questão da aÌteridade. Numa nanativa leve e ágil, a aÍÌhopóloga nos contade sua experiência ao tentar rela- tar o drama de Hamlet para uma tribo da África Ocidental. Toda a delícia da história está no fato de pessoas de contextos tão diÍercntes, apesar cle não se entenderem perfeitamente, suporem que ,'as pessoas no murLdo são iguais", e que, apesar de diferenças pontuais, as grandes questões são sempre a_s mes- mas para a humanidade. No entanto, essa concordância nasce de uma cegueir4 de uma ìncapacidadu d" K_g o:99 c9q.,o, o.g"q9. euando o chefe nativo não concorda com a narrativa da antropóloga, por exemplo, ele diz a ela que vá se bformar melhor, porque ela não aprendeu direito a lição. Questões que nos pâÍecem óbvias, por exempÌo, a indignação do jovem Ha_ mlet diante do precipitado casamenlo de sua mãe com o cur'Ì'-arlo, não são óbrrias par.a a tribo. Para eÌes, o caminho mds naturaÌ seria a viúva se casar com o irmão do faleci- do, e o mais depressa possível, caso contrário ela não teÍia quem cuidasse de suas plar_ tações. Também há problemas conceituais: quando a aÍÌhopóloga conta que o pai morto de Hamlet rondava o castelo, os nativos a intenompem dizendo que os mortos não podem aldar nem falar. Quando ela diz que ele era um espectïo, a coisa se com_ plica; os nativos não concebem a idéia de espectro, e dizem que com certeza ali se tra- tava de um presságio enviado por uma bruxa. Enfim, a história é inegavelmente deli_ ciosa, e é uma ótima maneira de ensinar a al'.os de Ciências Humanas (que ienharn um mínimo conhecimento de Hamlet) sobre diÍerenças culturais e os lirnites da comu- nicabilidade. Depois de utilizar muitas vezes o texto em inglês, e deixar de utilizá_lo quan_ dc a classe nãc era prcÉciente nessa lhgua, d.;er.-.os a idéia de traCuzir c texto. Cada um de nós fez a sua hadução, e decidimos negociá-las, no sentido dado por Venuti (2004) a esse termo, paÍa chegarrnos, únal, a uma tÍadução, que apíesentamos neste trabalho. A idéia prìncipaÌ é disponibiÌizar o texto em português, para que possa ser u_ tilizado mais amplamente ainda do que já é. Contudo, ao longo do trabalho de tradu- TraduÈo e Comunicação - Reüsta BrãsiÌeira de ÍÍadutores. Nô_ 17, Ano 2008. p. í35-159 rurL .v6,rrdrus-filnrK/\u!en 137 ção/ com a inevitável leitura m.ais detalhada que cssa tareÍa exige, íoram surgindo al- gumas interrogações que nos pÌoporcionaÍam, na tentaüva de saná-Ìas, o acesso a uma visão mais ampla do contexto em que a história foì escrita e divulgada, e também da autoÌa. :Ì. ;r:;:'rl,l;.,i"J Cç) ,iti -i=],..:iiçi:tp,ì;iiiiìi:: :-ial; iÂiì,i\i.l illi iri:i!,ii LrJ fii,ill.i) Antes então de apresentar nossa proposta de tradução para "shakespeare in the bush,', tecemos algumas coÌlsideraçòes e apresentàmos aÌgumas inÍormações que pu,ìe los colher de várias fontes sobre a composição desse texto. Depois de várias leituras, uma pergunta se coÌocou entre nós, tradutores, a respeito dos pressupostos da antropóloga. No início da narrativa, ela faÌa de uma pres- suposição sua: a de que ,,Shakespeare é o mesmo em todo o mundo,,. É certo que Bo_ hannan diz isso em resposta a um inglês que havia dito que os americaaos jarnais en- tenderiam Shakespeare plenamente, e a autora havia argumentado dizendo que ,,pelo menos o enredo geral e a moüvação das grandes tragédias seriam sempre eviclentes _ em qualquer lugar,,. Contudo, vinda de uma antropóloga, num texto publicado nos anos 1960, a afirmação soa ingênua demais. Então, não são os antropólogos que sabem mais do que ninguém da necessidade de considerar um relativismo cultural? Não são esses profissionais que sabem, por experiência de campo própria, que os horizontes de nossa cultura são muito mais rec{uziCos do que julgamos, e que verclades por nós con- sideradas universais são sempÍe contingentes e localizadas? Então, como ela poderia dizer que alguma coisa em Shakespeare _ nem que fosse apenas o .,enredo geraÌ e a motivação" - seÍia sempÍe eviílente e ,,a mesma,,? Uma resposta - bastante desabonadora para a altropóìoga _ é a de que, na_ quele momento inÍormal, quando ela disse ,,em qualquer lugar,,, elaestava querendo dizer "em qualquer lugar de nossa cultura ocicìental, fruto de uma longâ dominação européia" será mesmo? será que uma profissionar que rearizou vários tralralhos sobre os Tiv, hibo da Nigéria, seria capaz de um deslize desses, esquecenclo-se momentane_ amente de que cxistem outros tipos de culfuras muito diferentes? Concedendo a ela o beneficio cla dúvida, poderíamos pensar que esse texto não é um texto antropológico no sentido estrito da palavra. poderia ser um texto de di, vulgação científica, feito para que leigos tivessem uma idéia <1a dimensão das diÍeren- ças entre duas culfuras distantes e não Íelacionadas. Confudo, quando vamos procurat TÉdução e Comunicação - Reúsia Brasileha de Tradltore.. N.. tZl* ZOO8ip. t:-S,tSe referências sobÍe a publicação clo texto, obtemos sempre a mesma irúormação. Na In_ tenìet, onde o texto circula e tem uma ocorrência bastante expressiva, Íicamos sabendo que ele foi reproduzido na rede a partir da pubÌicação na Íevista Naturaì History. Ao buscarmos a revista, encontramos que esse texto foi pubÌicado emJ966 (e agora está disponível online em uma seção qte se chama pick front the past, algocomo um ,,mo- mento nostálgico,, traziclo pela revista, e que mostra, de certa forma, que o texio airrda mantém seus afrativos). Além disso, o texto Íoi reimpresso peÌo menos mais uma vez em,,971, no liwo Conformity nnd Conflict: Readings in Culturnl Anthropology, orgarúzaclo por spradley e McCurcry. Mas vale a pena mergulhar um pouco mais fundo na história desse texto, que se misfura com a interessaÍÌte trajetória profissionalde Bohaman. No site Shaksper - the globnt electrnníc Shakespenre Conference(www shaksper'net), encontramos estas iÍúormações: o colaborador Robin Hamiltonr, não sem antes díz,er que é a última vez que se pronuncia sobre o assunto, começa â ex_pÌica' que Boha.nan foi uma ame-ricana que, juntamente com o marido (rroltaremos a esse detalhe a seguir) pauÌ Boharmary havia realizado estudos anhopológicos junto aos Tiv entre 1g4g e'l'g53 Desse trabalho, continua Ham'Ìon, resurtou um esfudo em co- autoria, publicado em 1953, intitulado Ttrc Tia of Central Nigeria. Além desse, o casaÌ publicou apenas mais um estudo, intitulado Tia Economy,e datado de 196g. Laura Bo- ha'nary ao conkáïio de seu marido, não parece ter pubricado muitos ouhos trabarhos "científicos", seja sobre os llo ou sobre quaJquer outro assunto. No entanto, de certa maneira, ficou muito mais conhecida que paul, jusiamen_ te poÍ causa de Shakespeare in the bush. A revista Nahral History,embora Hamilton a classifique como ,,an eminently respectable academic journal,,, é uma publicação _ aoque tudo indica - dedicada ao público em geral, e aborda assuntos de Ciência e Histó_ ria Nafural (sernelhante, por exemplo, à National Geographic).Então, do ponto de vista estritamente acadêmico, na primeìra vez em que foi publicado, ,,Shakespeare in thebush" apareceu em uma revista de cunJro mais popular. Mas o mais curioso é que a primeira versão desse texto foi uma entrevista "semi-humorÍstica,, (nas palavras de Hamilton) que Bohannan concedera, por volta de 1955, à rádio BBÇ em um prograÌna na forma de documentario, de nome Trte Thìrd Progrnm. Quando esse progïama foi gravado, seu titulo era Micring Mallecho, Tlnt Me_ ans WiÍchcraft, e nele Bohanaan assumia a postura de uma cientista; enti,etanto, a en_ tÍevista tem um tom brincalhão. Bohannal clta os Tiu,e conta sua experiêncìa de an- Tradução e comunicãção " R"ulí" em tÌopóloga tentando narrar-lhes a histór.ia de l{amlet. O programa tetr um efeito humo- rístico, e afasta-se do que seria considerado científico. Ouha Íevelação surpreendente feita por Hamilton é a de que aÌtes da entre- vista pala a BBC, Bohannan havia publicado um "romance antropológico,, sob um pseudônimo (Elenore Smith Bowen), em 1955. Ao que tudo indica e como sugere Ha- rniÌtory Bohannan valeu-se do pseudônimo porque o gênero ,,romance anhopológico,, não seria bem aceito no meio acadêmico. Retunt to Laughter (assim se chamava o ro- mance) narra a sua experiência como artropóloga em meio a uma tribo aíricana, qte ela não nomeì.:. i'Jo prefácio à segunda edição do livro,lançada em 1964, Elenore Smith Borven revela ser, na verdade, Laura Boharman, que assüme o caÍáter fictício de tudo o que é narrado ali, embora de forma não tão convincente. NoLa da Autora ïODOS OS PERSONACENS deste livro, à exceção de [Ìim mesma, são Íicticios no sentido mais cosrpleto da pâÌavÌa. Conìeci pessoas do üpo descrito aqui; os incidentes do livÍo 6ã0 de um gêneÌo que eu mesma vivi na ÁÍrica. Entretanto, i.s_ so tudo é ficção. Sou uma antÌopóloga. A kibo que descrevi aqui existe. Este livÌo é a história do modo como Ìealizei meu habalho de campo enfre eÌes. O conlexto etnográfico oÍerecido aqú é pÍecijo, mas não é nem completo nem técnico. Aqui, escrevi simplesmente como üln scr hunrarlo, e a vetdade que tentei con!âÌ ãiz Ìespeito à mudança Édical pela qual uma pessoa passa qüando mergulha em uma cültuÌa difeiente e selvagemz- Laura Bohamaa Em outÍas palavras, a narrativa ê hcïicia, mas tem um ,,fundo de verdade,,, e Bowen é Bohanlan, embora não seja possível saber, apenas pela leitura desse livro, se a autora está falando dos Tiv- Boharuran parece indecisa enh.e sua postura de "antJ.o- póloga" e uma posição simplesmente de ,,ser humano,,, que lhe parece ser mais confor_ tável. Se, num prirneiro momento, a anhopóloga se escondeu atrás de um pseudônimo para narrâr um romance antropológico, num segundo momento ela se revela, mas ne_ ga - peÌo menos em parte - o caÍáter cienúÍico do texto. i:.i.. irl, l.:i,'ri..ir,:i:r'r';,r'l f, ,l:1 lr,:r 'li,ì i'|.,:fiilr lìíÌ lirl:!,'j 'al Essa confusa rede de textos e idenüc{ades pode sugerir muita coisa. Mas o que parece ganhar evidência é o fato de que Bohannan preÍeria se afastar de uma antropologia or_ r As inÍoÌmações a scguü Íorârn retüadas do sitc www.shaksper.neL mãjs precisamenre do Ìinkhttp://Ìv14 w'shâkipeí. net/arcÍ,tt,es/ 2002/r963.hrm1, de üma enrraíta data,ra;e 200i. z Áuthor's Note ALL THr CHARACTERS in rhis book, except mys€rJ, are ficlirioüs in rhe turest meaning of rhat woÌd. I knew peopre of the tlTre I hâve descrìbed heÌei úe incidents of the book are of rhe genre Ì myselÍ experiencecl in AÍrica. Nevertie-Ìess, so mrch is fiction l am arì anthÌopologist. The tribe I have descrìËed here ãoes etit. This book is ihe story of the rvay I dicl fìeld work among tÌrem. The ethnographic background given iÌere is accurats but ìt is neìúer compíete nor TÉd!çáo e Comunicação - Reüsia Brasl{ei€ de Tradutores. No. 17, Ano 200g . p. 135-159 i todoxa. Nem o Íato de teÍ estado enhe os Tlz, juniâmente com o marido (um dado an- tropológico não desprezíveÌ, já que paul também era um ,,cie.tista entre nâtivos,,) é mencionado em Shakespeare in the bush, e a omissão desse ,,detalhe,, acrescenta mais sabor à história da ankopóloga que se viu forçada a decidir entre ,,entrar na festa ou me isolar em minln cabana com meus üvros", como declara no texto que aqui tradu_ zimos. Hamilton nos leva nessa mesma direção _ da preferência de Bohannan pela narrativa, em detrimento do texto ,,estritamente científico,, _ quando diz: R€hrm to Laughter [o romaace ankopológico] deixa de ser, na década de 195O algo que um anhopólogo ,,respeitávei,, nio ousaria admitir, paÌa tomar_Ee hojeúÌr dos textos clássicos geÌalmente usados para documentaÌ uma importante mudaÌÇa na autodefinição da antropologia... e ,,Mching Malecho,, [texto quedeu origem a ,,Shakespeate in the buìh,,1 começa sua yomada na direçào clo sìa-tus de texto canônico nos cuÌsos de Estudos CrÍdcos e éultulajs.,. Em vez de pensar em Bohannan como uma antropóloga ingênua ou confusa, taÌvez seja mais adequado enxergá-lâ como uma estudiosa que não estava muito satis- feita com o modo de fazer ciência em sua época e que, à suâ maneira, fez seu plotesto. O resultado é um texto que beiÍa a ficção, mas tem ,,um fundo de verdade,. e ajuda_nos a entender as diferenças entre culfuras distantes. Dìferenças que acabam por desafiar também os tradutores, a começar pelo tom do tíhllo a traduzir: ,,ShaÌ<espeare in the bu, sh", Shakespeare na floresta, em plena selva, nos arbustos, ou no meio do mato. Embo- ra não se possa negar, como afirma Venuti (2004), que a comunicação seja a primeira função buscada numa tradução, a verdade é que o tradutor precisa negociar tanto as diferenças ÌingüÍsticas quanto as culturais. Enfim, o próprio fato de escolhermos um texto que tem servido de (pre)texto para discutir as diferenças culturais - insinuando que elas já se mostrariam na diÍeren- ça de leituras entre um americano e um inglês - e, de certa forma, expondo uma ,,inge_ nuidade" no mínimo criticável da autora antropóloga, coloca em jogo nosso plóprio trabalho de "nos darmos o trabalho,, de kaduzi_lo. eue leis de hospitaliclade poderiam ser invocadas, como sugere Derrida (2000), no encontro de uma anericana com os mo_ radores de uma tribo aÍricana? Essa traclução de HamÌet seria ou não ,,reievante,,? Mas aí começa uma outra história, em que o trabalho do tradutor derridia'o concentra_se no Metcador de Veneza, ouh.a peça, outro Shakespeare... Esta históÍia tem sua,,rele_ vância" determinada por outros contextos, e convidanos os leitores para compartilhá_ Ìa. tcrÌmical Here t have wÌirren simprv às a human bein& and the truth I have tricd to terÌ concenú ihc sea úã'.'e ìnoneselí thaL com* hom inìm.rrion in dnolheÍ a.a "r,,i" cìrtru,..ÌÍadução e Comunicaqão, Revisia BÍâsileha de TradutoÍes . N". lZ,,qno 2ìú . olãì Sg Slakeepeare no meio do mato Lau-ra Boharuran Tradução de Lenita Rimoü Esteves e Frarcis HerLrik Aubert Um pouco antes de partú de Oxford ru- mo à tribo dos Tiv, na Áfrìca Ocidental, partici- pei de uma conversa sobre a temporada em StÌaÉord. - Vocês americalos - diçse um arnigo - freqúentemente têm diÍicrrldades com Sha- kespeare. Afinal de contas, ele eÌa urn poetâ ti- picamente ingÌês, e é Íácil inteÌpretaÍ o univer- sal de forma equivocada por rmra íalta de en- tendiÌrÌento do que é particular. IÌotestei que a natuÌeza humana é prati- carnente a mesma em todo o muado; pelo me- nos o eÌìÌedo geraÌ e a motivação das grandes tragédias seriam sempre eúdentes - em qual- quer Ìugar - emboÌa alguns cletalhes de cos- tumes talvez precisassem ser expücados e dÍi- culdades de hadução pudessem produzir ou- tÍas pequenas mudanças. Para pôr fÌm a una discussão que não corueguíamos concluiJ, meu arrrigo me deu um exemplar de HarrleÍ para que eu o estudasse qualdo estivesse na Áfric4 no meio do mato; ele espeÌava que a leituÍa elevas- se n1iÍúÌa mente, distanciaado-a de seu ambien- te primitivo, e que erç por meio de prolongada meditação, atingisse a graça da interpretação correta. Era milrha segulda viagem de carLpo pa- ra aquela tribo aÍricana, e eu me consideÌava pronta paÌa molar ern uJna de suas paÌtes mais remotas - urrta área dúcil cle atravessar, mes- mo a pé. Finalmente me acornodei na colina de um velho muito sábio, cheÍe de uma aldeia de cerca de 140 moradoles, todos seus paÌentes próxiÍros ou fi1hos e esposas desses paÌentes. Shakespeare in the Bush By Laura Boharrnan Just before I left Oxford Íor the Tiv in West Afric4 conversation tunÌed to úe season at StÌa{oÌd. "You Americaru," said a íriend, "often have diÍficulty wiú Shakespeate. He was, aÍter aÌI, a very English poel and one can easiÌy mis- interpret the universal by misurderstandúg the paÌticular." I protested that human nature is pretty much úe sarrle tìe whole world over; at Ìeast the general pÌot and moúvation of the greateÌ tragedies would aÌways be clear - everywhere - aÌthough some detaiÌs of custom might have to be expiained and difficu-lties ol hanslation might produce other süght changes. To end al argr.rment we could not conclude, my friend gave me a copy ol Ha Llet to study in the Africarr bush: it wouÌd, he hoped, lift my nrind above its primjtive suroundings, and possibÌy I might by prolonged meditation, achieve the grace of correct interpretation. Ìt was my second field tÌip to that Afri- can tdbe, and I thought myself ready to live in one of its remote sectiorÌs - an area difficult to cÍoss even on foot. Ì eventuaüy settled on the hillock of a very knowledgeable old man, the head of a homestead of some hurlclred and ÍorÇ people, all of whom were either his close relaüves or thefu wives and children, Iike the Traduçao e Comunicaqâo - Revisla B€sileiÍa d€ Ìrãdutores . N" 17, Ano 2008 . p. 1 35-159 Como os oukos anciãos da Ìedondeza, o velho passava a maior parte de seu tempo realizando cerimônias que na época eram raramente vistas nas regiões mais acessiveis da tribo. Eu estava deliciada. Logo haveria três rneses de isolaren- to forçado e tempo liwe, enhe a colheita, que acontecia logo antes da cheia dos pântanos, e a Íormação de novas roças, quando a água baüa- va. Nesse período, pensava eu, elcs terialat ain- da mais tempo para tealizaÌ cerimônìas e expÌì- cá-las para mim. Eu estava müto enganada. A maioria das cedmônias exigia a presença de anciãos de vá- rias aldeias. À medida que subia:r as águas, os velhos encontravam diÍiculdade para camirüar de uma aldeia para outra, e as cerimônias fotam cessando gradualmente. Quando as águas subi- ram ainda mais, todas as atiüdades foram in- terrorLpidas, exceto urrta. As muÌheres faziam cerveja a partir de milho e sorgo, Homens, mu- lheres e cúanças ficavail sentados em suas co- liaas bebendo a ceweja. As pessoas começavam a beber ao nascer do sol. Pelo meio da manÌÌã, toda a aldeia esta- va cantando, dançando e tocando tambores; quardo choúa, as pessoas tinham que ficar dentro de suas cabanas: ali bebiam e cantavatn ou bebìalTì e contavam histórias. De qualquer forma, por volta de meio-dia ou até antes, eu ti- n}ta ou de entrar na Íesta ou me isolar em mi- nÏa cabana corrr meus livros. - Não é possíveÌ discuú assuntos sérios quando tem cerveja, Venha, beba conosco, Como eu não tirúa a capacidade deles para beber aquela espessa cerveja natva, eu passava cacla vez majs tempo com Hamlet. An' tes do final do segundo mês, fui atingida pela graça. Eu tirrha certeza de qrJe Hamlet tjrrlta a- other elders of the ücinity, tlÌe old marr spent most of his time perforÍÌing ceÍemonies seldom seen these days ú the ulore accessibÌe parts of the tribe. I was delighted. Soon there would be tlEee montlu of eníorced isolation and Ìeisurg between tìe harvest that takes place just before the rising of úe swamps and the cÌearing of new faÍÌÌìs when tÌìe wateÌ goes dowrl Therç I drought, lhe;' woufd have even moÌe tirle to perform ceremonies artd explair them to me. I was quite mistaken- Most of t}Ìe cere- monies demalded the presence oÍ elders from several homesteads. As the swamps rose, tÌre olcl men Íound it too difficuÌt to walk from one homeslead to the next, and the ceremonjes gradually ceased. As the swamps rose even higher. aÌl activities but oÌÌe came to an end. The women brewed beer from maüe and mil- let. Men, womerç and children sat on úeir hiÌI- ocks and drank it. People began to ddnk at dawn. By mid- moming lhe whole homestead was singing, dancing, and drumming. ÌÁ/hen it rained, peo- ple had to sit inside their huts: úere they drank and sang or they drank and told stories. Ìn arÌy case, by noon or before, Ì either had to join the party or retiÌe to my own hut and my boofts. "One does not discuss serious matteÌs when there is beer. Come, drirú< with us." Shce I lacked their capacity for the thick native beer, I spent m.ore and more time with Hqmlet. BeÍorc úe end of the second montÌç grace descended on me. I was quite sure that Hamlet had only one possible interpretatiorç Tíadução e Comunicaçao - Revista BEsileira de Tradutores. N'. 17, Ano 2008. p.135í59 peÌìas lrl1Ìa interpÌetação possÍvel, e essa inteÌ- and that one universallv obüoÌrs pretação eÍa universalnoente óbvìa. ' Todo dia de maltrã bem cedo, na espe- rança de travar aÌgurla conversa séria antes da cervejada, eu costumava visitan o velho em sua cabana de visitas - um círcuÌo de e$tacas sus- tentando üÍì telhado de sapé sobre um muro de barro baüo que ser-via como proteção contra o vento e a chuva. Um dia ahavessei a entrâda baixa meio agachada e encontrei a maioria dos homens da aldeia agasalhados em seus trapos e sentados em bancos, troncos de iârvore e espre- guìçadeiras, aquecendo-se contra o frio da chu- va ao redor de u:rla fogueira fumarenta. No centro havia tÏês potes de cervEa. A festa haüa começado. O velho me cumprimentou cordialmente. - Sente-se e beba. Eu aceitei uma cabaça grarÌ_ de cheia de cerveja, despejei unr pouco nrrrr-tíì pequena cuia, e tomei numa taÌagada. Em se- guida despejei mais Ìrm pouco na mesma cuja para o homem que só não era mais velho que meu anfitrião, antes de entoegar a cabaça a um iovem para que os outÌos se seÍvissem. pessoas importantes não deveriam elas mesmas servir cerveia. - Melhor assim - disse o velho, olhan_ do-me com aprovação e retirando a palha que estava pÌesa ao meu cabeÌo. _ Você deveria sentaÌ e beber conosco mais vezes. Seus empre_ gados me dizem que, quando você não está co_ nosco, fica sentada em sua cabala olhando paÌa um papel. O velho conhecia quatro tipos de ,,pa,péis": recibos de impostos, recibos de pagarlen_ tos de noivas, recibos cìe custas iudicìais e caÌ_ ,tas. O mensageiÌo que lhe trazia as cartas do chefe usava-as apenas como un emblema de Early every morning in the hope of hav- ing some serious taÌk before tÌre beer paÍty, I used to call on tìe old mart at his reception hut-a ciÌcÌe of posts supporting a thatúed roof above a Iow mud waÌl to keep out wind and rain. One day Ì crawled tfuough úe low doorway and found most of úe men of the homestead sifting huddled in their ragged cloths on stools, low plank beds, and recÌining chairs, warming themselves against the chiÌl of the rain around a smoky fire. In the center were tfuee pots ofbeer. The party had started. The oÌd mar greeted me cordiaÌly. ,,Sit down and drink." I accepted a large caìabash fuÌl of beer, poured some into a small dÌinking gourd, arìd tossed it down. Then I pouted some moÌe into úe saÌrle gourd for the man second in seniority to my host before I handed my cala_ bash over to a young Ìnan for furúer distribu_ tion. Important peopie shouldn,t ladle beer themseÌves- "It is better üke this,,, the old man saìd, looking at me approvingly arrd plucking at the tlìatch that had caught in my haiÌ- ,,you should sit and drink with us more often. youÌ servants tell me that when you aÍe not with us, you sit inside your hut looking at a paper. ,, The old man was acquainted with four kinds oÍ "papers": tax rec+ts, bride price re_ ceipts, court fee receipts, and letters. The mes_ senger who brought him ÌetteÌs írom the chief used them mairúy as a badge of office, for he TÍaduçâo e Comlnicação, Revista BrasiteÍa de ïEduiores. N,. tZ, nno ZO0g . p. 135159 seu caÌgo/ poÍque ele senÌpÍe sabia o conteúdo deìas e o ÍelaLòv"ì .ìo velho. CaÌtJs pessoais pa{a o5 poucos que tiLrìam parentes no governo ou nos postos das [Ìissões eram guardadas até que alguém fosse a um mercado grande onde haüa um escritor e leitor de caÌtas. Desde mìnha che- gada, as cartas e.am tÌaádas paÌa que eu a,s lesse. Alguns homens tarrrbém me traáam reci- bos de paganento de noivas, em paÌticu_lar/ com pedidos para que eu alterasse os vaÌores para unla quantia mais alta. Eu constatei que de nada vaÌjam aÌgrmentog morais, iá que os pa- ÌenLes por afinidade não eram levados a sério, e era djÍíciÌ expücar para pessoas analfabetas os Íiscos técnicos da fatificação. Eu não queria que eles aúassem que eu eïa tola o súiciente para examinar u:rr daqueles papéis inÍindavel_ mente, e logo expliquei que o meu ,,papel,, ti_ nha a ver com "coisas múto antigas,, da minha teüa. - Ah - disse o velho - conte paÌa nós. Protestei dizendo que não era contadora de histórias. Contar histórias eÌa uma arte refi_ nada entre eles; seus padrões eram altos e a pla_ téia era críüca - e verbalizava suas críticas. Protestei em vão. Naquela maihã eles queriam ouvjr uma história enquanto bebiam. Eles ame_ açara[r não me contaÌ mais suas histórias até que eu Ìhes contasse uÌ1a das min}tas. por fim, o velho prometeu que nhguém critícaria meu estiÌo, pois todos sabiam que eu estava ,,lutando com a língua deles". - Mas - acrescentou um dos aaciãos _ você precisa explicar o que nós não entender_ mos, como Íazemos quando contamos nossas histórias. Percebendo que ali estava una oportuÌai_ dade de mosbar que Hartlef era universaLnente always kneÌa' what was in tiern and told the old man. Personal letters Íor the Íew who had rela_ tives i:r the governmeÌÌt oÌ mis,sion staúons wele kept rntil someone went to a large market wheÌe there was a letter writer ard readet. Since my arrival, letteÌs weÌe bÍought to rate to be read. A few men also brought me bride price receipts, privately, y/ith Ìequests to chaige the figtres to a higher suur. I forrnd moraÌ argu- ments were of no avail, since in-laws are fair game, ard Ìhe techrrical hazards of forgery dif- ficult to explairÌ to ân illiter.ate people- I did not wish úem to think me siÌìy enough to look at any such papers for days on end, artd I hastily expìairred that my "paper" was one of the " tÌr-ings of long ago" of my country. "4h," said the oÌd man. ,,Tell us.., I protested that Ì was not a storyteÌler. Storytelling È a skilled aÌt among úem; their standards aÌe higlL arrd the audiences cÍitical_ and vocal in their criticism. I protested in vain. This morning they wanted to hear a story while they drank. They tireatened to tell me no more stories untiÌ Ì told them one oÍ mine. Finally, the old man promised tiat no one would criticüe rny style, "for we know you ate strugglirrg with oru language." "But " put in one oÍ úe elders, ,,you must explain what we do not understand, as we dô when we telÌ you our stories.,, Realizing that here was my chance to prove Hamlet universatly intelÌigible, I agÌeed. Tradução e Coínunicação Reústa Brasiteira de Trêdutor"" . N". 12, Anol0Oãlp. 1:íìõ inteüEiível, eu concordei. O velho me deu mais cerveja para me a- judar a começar a lútória. Os homens enche- ram seus longos cachimbos de madeira e pega- rarrr brasas da fogueira para colocar nos forni- lhos; depois, baforando satisfeitos, acomoda- Ìam-se em seu6 assentos para escutar. Comecei no esti.lo adequado. - Não ontem, não ontem, mâs muito tempo atrás, aconteceu uma coisa. Certa noite, tÌês homens estavam montaldo guâÌda fora da aldeia do grantle chefe, quando de repente vi- ram o artigo chefe se aproximardo deles. - Por que ele não eía mais o chefe? - Ele estava morto - expliquei - é por isso que eles ficaran perturbados e amedronta- dos quando o viran. - Impossível * começou usr dos anci- ãos, passando o cachirnbo para seu vizinho, que interrompeu: - Claro que não era o chefe morto. Era um presságio enviado por urna bruxa. Continu- e. Ligei.ramente abalada, continuei: -Um desses três era unÌ homem que sa- bia coisas - a b-aduçáo mais próxima que en- contrei paÍa "erudito", mas hÍelizmente isso tanbém significava "brrxo" , O segurdo ancião olhou triurúante para o primeko. - Então ele se dirigiu ao chefe morto di- zendo, "Diga o que devemos fazer para que volte ao seu himuÌo", mas o cheíe morto não tespondeu. Ele sumiu, eles não o vüam mais. Então, o homem que sabia coisas (seu nome era Horácio) disse que o acontecido era assulto do fi1ho do cheÍe morto, Harrrlet. Em todo o círculo, cabeças se agitando demonstraran a indignação cÌa platéia. The old rnal Iunded me soúle ÌlÌore beer' to help me on widr my 6torytelÌiÌl9. Men filÌed úeir long wooclen pipes and knocked coals from the fire to place in the pipe bowls; then, puffing contentedly, they sat back to listen. I began in the proper style. "Not yesterday, not yesterday, but long a;o, a thing occuÌÍed. One night tlì.ree men were keeping watch outside the homestead of úe great chieí when sudderüy tley saw the former chief approach úem." "Why was he no longer their chief?" "He was dead," I explained. "That is why they were troubled and aÍraid when tìey saw him." "lmpossible," begar one of the elders, handing his pipe on to his neighbor, who inter- rupted: "Of course it wasít the dead chieÍ. It was an omen sent by a witch. Go on." Süghdy shaÌen, I continued: "C)ne oÍ these tl-rree was a mal who knew things" - the closesl trarìsìation for scholar, but unfortunateÌy it also meant witch. The second elder looked triuurphandy at the first. "So he spoke to the dead chief saying, 'TelÌ us what we must do so you may rest in your grave,' but úe dead chief did not answer. He vanished, and they couJd see him no more. Then úe mal who knew things -his n.Lme wds Horatio-said this event was úe aÍfak of the dead chieís so4 Harnlet." There was a general shaking oí heads rourd the circÌe. TÍadução e Comunica€o - Reüsta Brasileirâ de TÍaduÌores. N0 17, Ano 2008.p. 135'159 -O cheíe moÍto não tiÌ{ìa irmãos vivos? Ou o filho dele era o chefe? -Não - respondi - quer düer, ele ü- nha um irmão üvo que se tornou chefe quardo o irmão mais velho morreu. Os ancjãos resmungaÌam: esse$ pressÁ- gio,s eÌam assuÌ,rto de cheíes e anciãos, não de iovens) não eÍa boa coisa agiÍ pelas costas do cheÍe; com certeza Horácio não era urn homem que sabia coisas. - Era siEl - hsisti, espantando uma ga- linla que rondava rninha cerweja. -Em nossa lerra, o fiÌho substihri o p-ai. O irmão mais novo do cheÍe morto tirúa se tornado o grande chefe. Ele também tirrlra se casado com a úúva do ir- mão mais velho apenas um mês após o funeral. * Fez bem! - o velho sorriu e anurciou aos outros. -Eu disse a vocês que se soubésse- mos mais sobre os europeus, acabaríamos a- chando que eles são bem paÌecidos conosco. Ternbém em nossa terra - acrescentou eÌe diri- gindo-se a mim - o ümào mais ngvo se casa com a viúva do imao mais velho e se torna pai de seus filhos. Agora, se seu tio, que se casou com sua mãe viúva, é plenamente irmão de seu pai, enÍão ele ser; um veÌdadeiÌo pai para vocè. O p;ri e o tio de Harlet tinham a mesma mãe? A pergunta dele mal penehou minha mente; eu estava pertwbada e desconcertada 1 dernais porque um dos elementos mais ìmpor-IÍ tantes de Hamlel havia sido elinirado da cena. Titubeando, eu disse que achava que eÌes ti- nham a mesma mãe, mas não ürha certeza - a hi5tória nào diâa. O velho me dìsse com gravi- dacle que esses detalhes genea.lógicos faziaÌn toda a dÍerença e que quando eu chegasse em casa deveria perguntar aos anciãos sobre isso. Ele gritou na direção da porta para que uma de "FIad the dead chief no üvirg broihers? Or was dú son the cldef?" "No," I repÌied. "That is, he had one liv- iag brother who became the chief when the eÌder brother died." The o1d men mutteÌed: such omens weÌe nìatteÌs for chiefs and elders, not for young- steÍs; no good could come oÍ going behind a chieís bacÇ clearÌy Floratio was not a man who knew things. "Yes, he was," I insisted, shooing a chicken away from my beer. "In our countuy the son is next to the faúer. The dead chieís younger brother had become the great chief. He had also married his elder brotÌre1s widorv orüy about a month after the furreral." "He did well," tÌre old man beamecl and aÍìnolrnced to tlÌe others, "Ì told you that iÍ we knew more about EuÌopeans, we would find úey really Ìvere very like us. ln olu county also," he added to me, "the yourrger brother marries the elder bÌother's widow aÍÌd becomes the fatÌrer of his chiÌdren. Now, iÍ your uncle, who rrLarried your widowed mother, È your fa- úer's fr:ÌÌ brother, then he wiÌl be a real father to you. Did Harrüeís Íather arrd lilcle have one mother?" }Iis question barely penetrated my mind; Ì ü/as too úpset and tfuown too Íar off-balance by having one of the most impoÌtant elements oÍ Hamlet krocked straight out of the picture. Rather rjÌìcertainÌy I said that Ì thought they had the same mother, bui I wasn't sure-the 6tory didn't say. The oÌd man told me severely úat tlese geneaÌogical details made all úe dÍ- ference and tiat when Ì got hone I must ask tÌre eldeÍs about it. He shouted out the dooÌ to one of his younger wives to bring his goaLskin bag. Ìradução e Comunicação ' Reüsla Brasileira de ïradutores. N0. 17, Ano 2008 . p. 135-159 suas esposas mais jovens Ìhe trouxesse sua bol- sa de peìe de cabra. Determilada a salvar o que pudesse do tema da mãe, respiÌei fundo e cqmecei de novo. - O filho Harrüet estava muilo histe porque sua mãe haüa se casado de novo de- pressa demais. Ela não precisava fazer isso, e pelo nosso costËme uma viúva não se casa de novo até ter guardado dois anos de luto. - Dois anos é tempo demais - obietou a esposa, que tbha aparecido com a surrada bol- sa de pele de cabra do vclho. * Quem vai capi- nar as roças para você enquanto você não tem marido? - Hamlet - retoÍqú sem pensar - eÌa adulto o suficiente para capinar as roças da mãe ele mesmo. Ela não precisava casar de novo. Ninguém parecia convencido. Eu desisti. - Sua mãe e o grande chefe disseram a HanrÌet que não ficasse triste, porque o própÌio grande chefe seria o pai de Hanlet. AJém disso, HaÍÌìlet seria o próximo chefe; portanto, ele de- veria ficar para aprender as coisas de um cheÍe. Harüet concordou em ficar, e todas outras Pes- soas sairam para tQmaÌ ceweja. Enquanto eu fazia uma pausa e pensava perplexa em como traÌìsmitir o entediado soli- 1óquio de Hamlet para urara platéia convencida de que Cláudio e Gertrudes tinham se compor- tado da melhor maneira possível, uer dos ho- mens mai,s jovens me perguÌÌtou quem se casaÌa com as outras esposas clo chefe morto. - Ele não tinìa outras esposas - disse- lhe eu. - Mas um clrefe precisa ter muitas esPo- saçl Como eotáo ele pode Íazer cervejd e pÍepa- raÌ comida para todos os seus convidados? Determined to save what I could of the mother motif, I took a deep breath and began agairÌ- "The son HamÌet rvas very sad because his mother had married again so quickly. There was no need for her to do so, and it is ouÍ cus- tom for a wiclow not to go to her next husband until she has mourned for two yeaÌs." "Two years is too long," obiected the wÍe, who had appeared with úe oÌd man's bat- tered goatskin bag. "\44ro will hoe your farms Íor you whiÌe you have no husband?" "Hanìet" I retorted, without thinkin& "was old enough to Ìroe his mother's Íanns himself. There was no need íor her to rematry. " No one looked convi-nced. I gave up. "FIis mother a]1d tìe great chief told Fïarrúet not to be sad, for dre gteat chief himselÍ would be a íather to Harrúet. Furthermore, Ha;r,ret would be the next chief: thereÍore he must stay to learn the things of a chief. Harüet agreed to remain, and all the rest went off to drink beer." \44rile I paused, perplexed at how to ren- der Hamlet's disgusted soliÌoquy to an audi- ence convinced that Clauclius alrd Gertrucle had behaved in the best possible marurer, one of the yoìrngeÍ men asked me who had married tÌre other wives of the dead chief. "Ì-Ie had no other wives," I told hìm. "But a chief must have many l\Iives! How else calr he brew beer ancì prepare food for all his guests?" Traduçao e comunicação - Reüsta BÍasileìÍa deÍÍadutorcs. N" Í7, Ano2008 ' p 135159 Eu djsse com fumeza que em nossâ terra até rnesmo os chefes ttúam apenas uÍÌa espo- sa, que eles tinhan empregados pata Íazet o trabalho, e que thes pagavam com diÌüÌeiÍo de ilÌtpostos. Seria melhor, responderam eles, que urr chefe tivesse mütas esposas e fi1hos que o aju- dassem a capinar suas roças e aÌimentat sua gente; erìtão todos amariam o chefe que dava muito e não tomava nada - os impostos eÌam ul]rÌa coisa roim. Concordei com o último comentário, mas quanto ao Ìesto me vali do modo preferido de- 1es de descartar minhas perguntas: - É assim que se faz; então é assin que nós Íazemos- Decidi pular o solilóqúo. Mesmo se eles consideÍassem que Cláudio estava muito certo em se casar com a viúva do irmâo, peÌmànecia o tema do enyenenamento/ e eu sabia que eles desaprovariam o fratricídio. Corr esperança re- novada, retomei a história. - Naquela noite Harúet montou guarda com os Eês que tirÌham vjsto seu pai morto. O cheÍe morto reapareceu, e embora os outÍos es- tivessem com medo, HainJet seguiu o pai morto até um canto. Quando ficaÍam sós, o pai morto de Harlet falou. - Presságios não Íalan - o velho foi enÍático. - O pai morto de HarnJet não era um presságio, Vêlo pode ter sido un pÍesságio, mas ele não era. Havia a mesma confusão no Ìostg da pla- téia e na milha voz. * Ele ara o pai morto de I{anlet.Era o que chamamos de "espectro" -. Eu tive que usar uma palavra na minha Ìíngua porque, difeÍentemente das muitas tr:ibos vizi- 1úas, esse povo não acreditava que nenhÌnna I said firnrly that in oÌrÌ couÌÌtry even chiefs had orúy one 'vr.iïe, that they had servarts to do theiÌ work, and that they paid úem from tax money. It was better, they rehrmed, for a clLieÍ to have marry wives and sons who would help him hoe his farms and Íeed his people; úen everyone loved the chief who gave much and took nothirg- taxes were a bad thing. I agreed widr the last cornment, but Íor the rest felÌ back on theü favorite way oÍ fob- bing off my questions: "That is the way it is done, so that is how we do it." I decided to skip the soliloquy. Even iÍ Claudius was here thought qúte right to maÌry his brothels widow, tlere remained úe poison motif, and I knew they wouÌd disapprove oÍ Íratricide. More hopefuJÌy I resumed. "That night Hanúet kept watch wiú the tÌLree who had seen his dead father. The dead chieÍ again appeared, and aÌihough the oihers were aÍraid, Harüet foÌlowed his dead Íaúer off to one side. When they were alone, Flarüeís dead father spoke." "Omens car't taÌk!" The old man was emphatic. "Harúeís dead father wasnlt an omen. Seeing him might have been an omerL but he was ÌÌot." My audience looked as coúused as I souaded. "It was Hanrleís dead ÍatÌ.rer. Ìt was a thing we call a 'ghost."' I had to use the Éngüsh word, Íor uÍüike many of the neighboring h-ibes, these people didn t beÌieve in the sur- úva.Ì after death oÍ any individuating part of TÍaduÉo e Coínunicaçao - Revista BrasiÌeim de TÍadutores. No. 17, Ano 2006 . p. 135-159 parte da personaüdade individual pudesse vi- ver aÌém da rlorte. - O que é um "espectro"? Um pressá- gio? - Não, urn "espectro" é alguém que morÍeu mas alda por aí e pode fa1ar, e pessoas podem ouvi-lo e vê-lo, mas não podem tocá-lo. Eles o$etaran: * Os zurrbis podem ser tocados. - Não, não! Não ela ulÍÌ corPo morto que as bruxas tinham animado para sacrificâÌ e comer. NenÌrurra outfa pessoa Íez o pai morto de Harrüet andar. Ele Íez isso sozinho- - Os mortos não aldam - protestou rLinha platéia, em uníssono. Eu estava disposta a traÍìsigir. - Um "especho" é a sombra de um homem morto. Mas eles o$etararn mais uma vez. - Os mortos não têm sombra. - Na minha terra eles têm - respondi seco. O velho aplacou o rumor de descrença que imediatamente se instalou e me disse com aquele tom condescendente, insiïÌcero mas cor- tês, que as pessoas dispensasr às fantasias dos iovens, dos ignorantes e dos supersticiosos: - Sem dúvida, na sua terra os mortos tarlrbém conseguem andar sem serem zumbis. Das profuadezas de sua bolsa ele tirou ul fragmento murcho de noz de co1a, mordeu ulÌÌa ponta paia me mostlaÍ que não e,stava en- venenada, e me entÌegou o reotg como oferenda de paz. - De qr.ralquer forma - refomei - o pai morto de Hanlet disse que seu próprio irmão, que tinìa se tornado chefe, o haüa envenenado. Ele queria que Ha:rrlet o vingasse. Harnlet acre- ditou piamer.rte nisso. pois não gostava do iï- the personaliiy. "What is a 'ghost?' An omen?" "No, a 'ghosí is someone who is dead but who walks around artd can talk, and people can hear hirrr ard see him but not touch him." They objected. "One can touch zombis." "No, nol It was not a dead body úe witches had arrimated to sacÌifice and eat. No one else made Hamlet's dead father waÌk. He did it himselÍ." "Dead men can't walk " protested my audience as one man. I was quite wìIling to compromise. "A 'ghosí is the dead man's shadow." But again they o$ected. "Dead men cast no shadows." "They do in my couÌÌtry," I snapPed. The old man quelled the babble of disbe- Iief úat arose innediately and told me wÌth that insinceÍe, but cou.rteous, agfeement one ex- tends to the fancies of the young, ignoÍant, and superstitious: "No doubt in your country the dead can also walk without being zombis." From the depths oí his bag he produced a withered fÌagment oÍ kola nul, bit oÍf one end to shov/ it wasrft poisone{ and handed me the rest as a peace offering- " Anyhow," I resurored, "Harrúet's dead father saÌd that his own brotÌÌer, úe one who became chieÍ, had poisoned hirn. He wanted Hamlet to avenge him- Hamlet búeved this in his heart, for he did not liÌe his faúer's Ìradução e Comunicáção - Revista BGsileiÍa de Íradutores. N0. 17, A,ro 2008 . p. 135i59 mão do pai. Tonei qutro gole de cerveja. - Na terra do grande chefe, vivendo na mesma aldeia, que era muito graade, haüa urrr importaÍÌte ancião que estava sempre ao lado do chefe para aconselhá-lo e ajudá-lo. Seu nome era PoÌônio. Hanìlet estava namorando sua fi_ lha, mas o pai e o irmào dela pusquei apressa_ damente algrrma aaalogia tribal] a advertiram a não dej-rar Hamlet visitá-la quando ela estives_ se sozirúa em suas roças, porque ele iria ser urlr grande chefe e poÌtaÍÌto não poderia se casat com eÌa. - Por que não? - perguntou a esposa, que tinha se acomodado na beirada da cadeira do velho. Ele armou uma carranca por ela ter feito uma peÌgunta esúpida e resn1ungou: * Eles moÍavam na mesma aldeia. -Não eÍa esse o motivo _ irúormei a e_ Ìes. - Polônio era um estranlÌo que üüa na al_ deia porque ajudava o chefe, não poÌque era paÌente. - Então poÍ que Hamlet não podia se casar com ela? - Ele poderia - expliquei _ mas polô_ nio achava que ele não se casaria. Afinal de con_ tas, Haraüet era urn homem de grande impor_ tância que deveria se casaÍ com a filha de um chefe, pois na terra dele um homem só podia ter uma esposa. Polônio tirüra medo de que Ha.uúet fizesse amor com a filha dele e depois ninguóm quereria pagar um alto preço por ela. - Ìsso pocle ser verdade _ observou uur dos anciãos mais sagazes - mas o filho de um chefe daria ao pai da amante muitos presentes e vantagerÌs paÌa compensar a perda. polônio me parece u]lì toìo. brother." Ì took aloÍÌrer swaÌlow of beer. "In úe courtry of the great chieí üving in the same homestead, for it was a very large o1Ìe/ was an important elder who lyas often with tìre chieÍ to advise arrd hetp him. His name was Polonius. HarÌìlet was courting his daugh_ ter, but her father and her brother , . . [I cast hastily about for some tribal analogy] warned her not to let HalÌ et visit her when she was alone on her farm, for he wouÌd be a great chief and so could not oar{.' her.,' "\Afhy not?" asked the wÍe, who had set_ ded dowrr on the edge oÍ the old mar,s chair. He frowaed at her Íor asking stupid questioru and growled, ,,They Iived in t}re same homestead." "That was not the ÌeasoÍL,, I Ìrúormecl tÌrem. "Polonius was a stranger who lived in the homestead because he helped the chief, not be_ cause he was a relative.., "Then why couÌdn,t HaÌrúet marry her?,, "He could have,,' I explaine4 ,,but polo_ nius didn't th.ink he would. AfteÌ aÌI, Hanúet was a man oÍ gÌeat importance who ought to marry a chieís daughter, for in his country a man could have orüy one wife. polonius was aÍraid that if Hamlet made love to hÈ daughter, then no one else I,ould give a high price Íor her." "That might be true,,, remarked one oÍ the shrewder elders,,,but a chieís son would give his rnistress's Íather enough presents and patÍonage to moïe tharr make up the difference. Polonius sourcls like a fool to me.,, kadução e cor Lnic?ç,o Reu,sta B,a=;rei,a de T,jffilfifllfpf,l!f,lll5-fu - Muitas pessoas pensam que eìe era - concordei. - Enquanto isso, Po1ônio enviou seu fi- lho Laertes para Paris para aprender coisas da- quela terra, pois aü morava um chefe muito importante. Como ele tirúa medo qte Laertes tastasse muito dbheüo com cerveja, mulherese jogo, ou que se metesse em brigas, ele man- dou um de seus empregados secretamente a Pa_ ris, para que ele espionasse o que Laertes estava íazendo Um diâ HaÌrüet encontrou-se com a fi- lha de Polônio, OÍéüa. Ele se comportou de forma tão eshanha que a aìnedrontou. Na vet- dade - procru'ava palavras que pudessem ex- pressar a dubiedatle da loucura de Harrúet - o cheÍe e muitos outÍos tarnbém haviam notaclo que quarcìo Hamlet falava era possível enten- der as palavras, mas não o seu significado. Mui- tas pessoas pensavaqÌ que ele tinha erüouque- cido. De repente, mhha platéia ficou múto mais atenta. -O grande chefe queria sabei o que ha- ria de errado com Hanììet, e por isso enúou dois comparheúos da idade de HamÌet ["cole- gas de escola" teria exigido uma longa expüca- ção] paÌa conversar com elc e descobrir o que perturbava seu coração. Hamlel percebendo que eles haviam sido subornados pelo chefe pa- ra tÌaí-lo, não thes disse nada. Polônio, enhe- tanto, insistia que Hamlet estava Ìouco porque havia sido proibido de ver Ofólia, a quern ele amava, - Por quê? - perguntou uma voz peÌ- plexa. - Alguém enfeitiçaria Haaúet por causa clisso? - Enfeitiçaria llamlet? - É, só um feitiço pode erüouquecer al- "Many people úrink he was," I agreed. "Meanwhile Polonius sent his son Laertes off to Par:is to learn the things of tÏat countly, for it was tìe homestead of a very great chief indeed. Because he was aÍraid that Laertes might waste a lot of money on beer ald women ard gambling, or get into rrouble by fighting, he sent one oÍ his servants to Paris secÌedy, to spy out what Laertes r.r.as doìng. One C :y Hamlet came upon Polonius's daughter OpheÌia. He behaved so oddly he frightened her. Indeed" -I rvas fumbling for woÌds to express the dubious qualiiy of Hauúet's madness - " the chief arrd many others had also nqticed that when Harüet talked one could urderstald the words but not what they meant. Mary people thought that he had become mad." My audience sudderúy became much more aftentive. "The great chief wanted to know what was wÍong with Ha.uúet, so he sent for two of Handeís age mates [school friends wou]d have taken a loÌÌg explanationl to talk to HaÍrúet and Íind out what troubled his heart. Hamlet, seeing that they had been bribed by the chief to beuay him, told them nothing. Polonius, however, in- sistecÌ that Hamlel was mad because he had been forbidden to see Ophelia, whom he ìoved-" "WÌry," inquired a bewildered voice, "shouÌd anyone bewitch Hairúet on úat ac- count?" "Bewitch him?" "Yes, orúy witchcraÍt caÌÌ male anyoÌ1e Íradução e Cornunicação - Reüsia BrasÌlêira de ïradutores. N". 17, Ano 2008 . p. 135159 guém. A não ser, é claro, que a pessoa veja os seres que espreitam na floresta. Abanclonei meu postq de conladora de histórias, peguei meu bloco de anotações e pedi que eles nìe contassem mais sobre aquelas duas causas de loucura. Enquanto eles falavam e eu tomava notas, eu tentava calcular o efeito desse novo Íator no enredo. Hanrlet não tirüa sido exposto aos sêres que espreitam na floÌesta. Apenas seus parentes da lirúragem masculina poderiam enfeitiçá-lo- Exceto os parentes não mencionados por Shakespeare, tinha de ser Cláudio quem estava tentando íazer mal a eÌe. E, é claro, era eÌe mesmo. Naquele momento, eu evitei pergurÌtas cìizendo que o glande chefe tafibém se recusou a acredit que Hamlet estava louco peÌo amor de OÍélia e nada mais. * EÌe tinha certeza de que aÌgo muito mais importante perturbava o coÌação de HaÍrüet. - Os comparheiros de idade de Ham]et - continuei - thïa]Íì trazido consigo um grande contador de histórias. Haillet decidiu pedir que esse homem contasse para o chefe e todas as pessoas de sua aldeia uma história so- bre um homem que haüa sido envenenado por seu irmão porque desejava a esposa dele e que- ria ser o chefe. Hamlet tilúa certeza de que o grande chefe não conseguiÌia ou./iÌ a história sem dar rrm sinal de que era realmente culpado, e então ele descobriria que seu pai morto lhe havia dito a verdade. O welho iaterrompeu, com grande asú- cia: - Por que um pai mentiria paÌa o fiÌho? Eu me resgrardei: - Hamlet não tirrha certeza de que era realmente o pai dele. Era impossívr,l dizer alguma coisa, ììa- mad, unless, of couÌse, one sees tìe beings tÌrat Ìurk in the Íorest." Ì stopped being a storyteller and took out my notebook and derrLanded to be told more about drese two causes of rnadless. Even while they spoke and I jotted notes, I tried to calculate the effect of thÈ new Íactor on tïe plot. FlanrÌet had not been e>?osed to the beings that lurk in úre forests. Orúy his relatives in the male line could bewitch him. Barring Ìelatives not men- tioned by Shakespeare, it had to be Clauclius who was attempting to harm fum. And, of couÌse, it was. For the moment Ì staved off questions by sayiÍìg tÌìat úe great chief aÌso refused Ìo be- lieve that Hamlet was mad for the love of Ophelia and nothing eÌse. "He was sure that something much more importaÍrt was houbling Hamleís heart." "Now Hairüe/s age mates," I continued, "had braught with úem a Íamous storyteller. Hanìet decided to have this man tell tlre chief and all his homestead a story about a man who had poisoned his brother because he desfted his brother's wife and wished to be chief himselÍ- Harnlet was sure úe great cÌrief could not hear the story without maling a sign iÍ he Ìvas irÌ- deed guìIty, and tìen he would discover whether his dead father had told him the truth." The old man iÌìterrupted, with deep cün- nirg, "lVhy should a fatÌrer lie to his son?" he asked. I hedged: "Hamlet wasn t sure tlÌat it really was his dead father." Ìt was impossible to say anyliing, in that Traduçâo e Comunicação- Reústa BÍasileía de Tradutores. N".17, Ano 2008. p. 135159 _ Lefi(, Hfi 0!rtrsleves, I ralì cìs llgrrìk ired 't53 quela ÌírÌ8ua, 6obre visões iÌìspiradas pelo de- language, about devil*in,spiÌed visions. mônio. - Você quer dizer - disse ele _ que na verdade ele era um presságio. e que ele sabia que as bruxas algu:rras vezes n-t.a.rdam pressá_ gìos falsos. Ilamlet foi um tolo por não consul- tar logo de partida alguém eryeriente na leitura de presságios e adivinÌ.ração da verdade. Um homem-que-vê-a-verdade poderia ter dito a ele cc)rÌìo o pai havìa morriclo, se ele realmente ti_ nha sido envenenado, e se havia feitiço em tudo isso; depois, Hamìet poderia ter chamado os arciàos para resolveÍem a quesl;o. O ancião sagaz atriscou discordar. _ Como o irmão do pai dele era urn grande chefe, alguém-que-vê-a-verdade poderia ter meclo de dizer a verdade. Acho que foi por causa disso que um amigo do pai de Han:úet _ bruxo e an- cião - enviou un1 presságio para que o alTligo cle seu filho ficasse sabendo. O presságio era verdadeiro? - Era - disse eu/ abandonando os es_ pectros e o demônio; teda de ser mesmo uÌn presságio enviado poÌ um bruxo. _ Ele era verdadefuo, poi,s quando o contador de histórias estava fazendo a naÌrativa diante de todo o gmpo, o grande chefe levantou-se amedÌoÌrtã- do. Com medo de que Hanlet soubesse de seu segledo, planejou matá-lo. A próxima cena apresentava algumas di_ Íiculdades de tradução. Comecei com cuidado: * O grande cheÍe disse à mãe de Haüúet que aÍr.ÌÌìcasse do filho o que ele sabia. Mas como, no coracão de uma mãe, o filho sempre vem em primeüo lugdr, elc mardou que o importante ancião Po1ônio se escondesse aíás de um pano que pendia da parede da cabana de dorrnir da mãe de Haanlet. Hamlet começou a repreender "You mean,,, he said, ,,it achrally ta/as an onìen, and he knew witches sometines send false ones. FÍarrlet was a fool not to go to one skilled in reading omeru and divining the trutÌr in theÍirst place. A man-who-sees_the_truth could have totd him how his father died, if he really had been poìsoned, ald iÍ there was witchcraft in i! then Hanìet could have called the elders to seftle the matter.,, The sÌuewd elder ventured to dÈagree. "Because his fathet's brother was a great chieÍ, one-who-sees-the-truú mìght tlerefore have been afraid to tel.l it. I thirk it was for úat rea_ son that a ftiend of Hairúet,s father_a witch ard an elder-sent an omen so hi,: friend,s son wouÌd know. Was the omen fue?,, "'1es," I sal.d,, abandoning ghosts alrd the devi.L a witch-sent omen ii wcÌ d have to be. ,,Ìt was true, for when the stotyteiÌer was teltjng his tale before all úe homestead, the great clúef rose in Íear. Afraid that Harrtlet knew his seqet he plarned to have him killed.,, The stage set oÍ the next bit pÌesentcd some diÍficuities of translation_ Ì began cau_ üousÌy, "The gÌeat chief told Ha:rrleíe motÌrer to find out from her son what he knew. But be_ cause a womal's chiÌdren are always first in her heart, he had the important elder polonius hide behind a cloth that hung agairut the wall of Hamleís mother's sleeping hut. Harnlet started to scoÌd his mother for what she had done.,, Tradução e Com0nicêÉo, R€üsta BÍasiteiÍa de Ìradutores. N". 12, Ano Z0ìí. oìit Sg sua mãe pelo que ela havia feíto. Todos se mostraram chocados. Urn ho_ mcm nurca devetia repreendcr sua mãe. - Ela gritou amedrontada e polônio se Os aÌÌciãos se entreoÌharam com ar de ex- trema desaprovação. - Esse polônio era reaÌ- mente utÍt tolo e um homem que não sabia de nada! Que criança não gritaÌia, ,,Sou eu!,,? Aflita, lembÍei que aquele povo era de Eu rÌÌe apressei em salvar a reputação de PoÌônio. - Polônio falou. Haraúet o ouviu. Mas ele pensou que era o chefe e queria matá-lo pa- ra vingaÌ o pai. Ele havia tentado matá_lo antes naquela noite... Interrompi o que dizia, incapaz de des- crever àqueles pagãos, que não acÍeditavam na vida após a morte, a dÍerença enbe morrer du- Ìante as pteceo e morrer ,,sem óleos, confissão nem sacramentos,,. Mordìsquei milha noz de coÌa, um pouco perplexa, e depois observei que, afinaÌ de corÌ_ There was a shocked murmu{ from eve_ ryone- A mal should never scold Ìú mother. "She called out in fear; alrd polonius The old men Ìooked at each other ìn su_ preme disgust. "That polonius truÌy was a fool and a man who knew nothing! Ìl/hat chíd would not know enough to shout, ,Jt,s me!, " With a pang, I remembered tìat these I rushed iÍÌ to 6ave polonius,s reputation. "Polonius did speak. HaÌnÌet heaÍd hiüÌ. But he thought it Ì.vas the chief and wjshed to kill him to avenge his father. He had meant to kiÌ1 him eaÍlier that eyening...,, I broke down, unable to describe to these pagaru, who had no belief in indivìdual after- ÌÍe, úe diÍíerence between dying at one,s prayers artd dying,,urúouselÌ,d disappointed, ulaleled." I nibbled at my koÌa nut in some perplex_ ity, then pointed out thât aÍter alÌ úe man had mexeu aLÌás do pano. Gritando ,,uDÌ rato!,,, moved behìnd the cÌoú. Shouting, ,A rat!, Flanrlet pegou seu facão e golpeou o pano. Hamlet took his machete and slashed through the cloth.,, Fiz uma pausa para obter um eÍeito dra- Ì paused for dra_n-raüc eÍfect. ,,He had mático: - Ele matou polônio. killed polonius.,, enhrsiasmados caçadores, sernpre com arco, fìe_ people are aÌdent huÌÌters, aÌways armed with cha e facão em pwúoi ao mais Ìeve Íarfalhar do bow, arrow, and machetei at tlìe fust Íustle in capim, ulrta flecha iá é colocada a postos, e o ca_ the grass art arrow is aimed and ready, and the çador grita "caça!". Se nenhumâ voz humana hunter shouls ,,Game!,, If no human voice an-Ìesponde imediatamente, a flecha é dispatada. swers iÍrurediatel, the arrow speeds on itsComo um bom caçador, Hamlet gritara, ,,um way. Like a good hunter, Harrúet had shouted,Ìato!" .,A rat!,, Dessa vez eu tinla chocado gÌavemenfe This time I had shocked my audience se_ rnirrlÌa platéia. - Um homern eÌgueÍ a mão riously. ,,For a mar to raise hÌs hand agairrst hiscontra o irmão de seu pai, que se toÌÌÌou seu father,s broúer and the one who has becomepai, isso é teÌrível. Os anciãos deveriam pemìi_ his father_ that ìs a teryible thing. The elderstir que um homem assim Íosse enÍeìtiçado. ought to let such a man be bewìtched.,, Traduçào e comunicaÊão - R"ui tu e,rril"iãd" t udrtoo"ìi j z, Ã* 2ooB-ììíG tas, o homeltì matara o pai de fÌaÌÌì]et. - Não - serÌtenciou o velho, falando menos paÌa mìm do que pard os iovens que es- tavaÍÌ sentados ahás dos anciãos. * Se o irmão de seu pai matou seu pai, você deve apeÌar para os comparúreiros cÌe idade de seu pai; eles po- deur vingáìo. Nenhum homem pode fazer uso de üolência contra seus parentes mais velhos * . Outuo pensamento o assaÌtou. -Mas se o ir- mão de seu pai Íosse de Íato sufisientemente maldoso para enfeitiçar Hamlet e enlouquecê- lo, a fustória seria realmente boa, porque seria culpa dele o fato de Hamlet, tendo erúouqueci- clo, ter perdiclo .ompÌetamente a razão e estar pronto pàra matar o irmio de seu pai. Houve um murmúrio de aprovação, ËÌa- rtLlet eta de novo rÌma boa história paÍa eles, mas não parecia mais a mesma história para milr. Pensando nas complìcações de enredo e tema que viÍiam, perdi a coragem e decidi pas- sdr rapidamente por cima do lerreno perigoso. - O grarde chefe - continuei - não fi- cou tri.le porque HaÍúet matou Polônio, Isso llÌe de ú nÌotivo paÍa mandar Hanrlet embora, com seus dois traiçoeiÌos compaÌheúos de ida- de, com cartas para o chefe de uma te1Ía distan- te, dizendo que HaÍüet deveria seÌ assassinado. Mas Harúet mudou a escrita dos papéis, de modo que o chefe matou seus companheiros de idade e não ele. Deparei com um olhar cheio de reprova- ção que partia de r]m dos homens a quem eu haüa dito que ÍalsiÍicação não detectável não era apenas ìmoral, mas estava além da capaci- dade humana. Desviei os olhos. - Antes que Haliet pudesse retornar, LâeÍt--s voltou para o funeral do pai. O grande cheÍe lhe disse que Hanrlet havia matado Polô- killeiÌ FlamÌet's Íaüer. "No," pronourtced the old març speaking less to me tharÌ to the youìÌg lÌten sitting behind úe elders. "IÍ your Íather's broúrer has kiÌled your father, you must appeal to your faúer's age mates: llrey may avenge him. No man may use violence against his senior relatives." An- other úought struck hi:n. "But iÍ Ìris father's brotìer had indeed been wicked enough to be- witch Ì I.: rúet ald make him mad that would be a good story indeed, for it would be his Íault that Ha-rrúet, being mad, no longer had any sense and thus was ready to kill his father's brodrer." There was a murÍl1lÌ of applause. Ham- let was agajn a good story to tlem, but it no longer seemed quite the same story to me. As I tÌrought over the coming complicatioru of plot and motive, I lost courage and decided to skim over dangerous ground quickty. "The great chieí" I went or1 "was not sony that HamÌet had kiÌÌed Polonius. It gave him a reason to send Ha[úet away, with his two tneacherous age mates, with ÌetteÌs to a chief o{ a faÌ country, saying that HaÍúet should be küed. But Hanìlet changed the writ- ing on their papers, so that the chief kíÌed his age mates instead." I encourtered a reproacháí glare Ë-om one of the men whom I had totd undetectable forgery was not merely irrruroraì but beyond human skül. Ì looked the other way. "Before Hamlet could returrl Laertes came back for his father's funeral. The great chief told him Harúet had killed Polonius Ìadução e Comunicáçáo - Revìsia Brasileira de ÌraduioÍes . N0. 17, Ano 2008 ' p. 135159 rüo. LaeÌtes jurou matar HaÌ]ìlet por causa clis- so, e porque sua iÍmã, OÍélia, ouvindo que seu pai hayia sido moÌto pelo homem que eÌa ama- va, erúouqueceue se afogou no r_io. - Você já 5e esqueceu do que the faÌa- mos? O velho faÌava com uÌr tom de desapro- vação. - Ninguérn pode se vingar de uao lou- co; Harúet matou Polônio em sua loucura. Quanto à garota, ela não apenas enlouqueceu, mas foi aÍogada. Apenas as bruxas podem fazer âs pessoas se aÍogarem. A água, por si sí não pode machucar ninguém. É simplesmente aÌgo que as pessoas bebem e em que se baúam. Comecei a ficar zangada: - Se vocês não gostam da história, eu vou paÌaÍ. O veÌho fez sinal para que os outros se agúetassem e colocou mais cerveja pata mim. - Você conta bem a história, e nós esta- mos ouvindo. Mas está claro que os anciãos de sua terra nunca lhe contaÍalaÌ o que a históÌia ÌeaÌmente significa. Não, não interrompa! A- qeditamos em você quando você fala que seus lÌábìtos de casamento são diÍerentes, ou que são dÍerentes suas roupas e armas. Mas as pessoas são as mesmas em todos os lugaÌes; poÍtanto, sempre exjstem bruxas e somos nós, os anciãos, que sabemos como as bruxas atuam. Nós lhe fa- lamos que era o grande chefe que queria mata, Hanrlet, e agora suas próprias palavras provam que estávamos cerlos. Quem eÍa'rn os parentes homens de Oféüa? - Eìa só tirúa o pai e o irmão. Estava claro que eu perdera o controle de HanleL - CeÍtanÌente havia ouhos, mujtos ou- ,,There must have been many more; this tros; isso também você deve perguntar aos seus also yo,: must ask of youl elders when you get Laertes swore to kill FlaurÌet because of ttüs, and because his sister Ophelia, hearìng her fa- ther had been kilÌed by the man she loved, went mad and drowned in the river." "Have you alÌeady forgotten what we told you?" The old man was reproachful. "One cal- not take vengeance on a madlÍrani FIajÌ.Ìlet killed Polonius irr his madress. As for the girl, she not orüy went mad, she was drowned. Orúy witches can make people drown. Water itselÍ can't huÌt anything. It is merely somet]ÌirÌg one drinks alrd bathes ir." I began to get cÌoss- "If you don't üke the story, Ì'll stop." The old man made soothing noises and himself poured me some more beer. "You teìÌ the story welì' arrd we are Ìjs- tening, Bui it is clear that the elders of your. country have neveÌ told you what the story really meaÌ,s. No, don t interrupt! We believe you when you say youa marÌiage customs are different, or your clotÌres and weapons. But people are úte same ever}rwhere; therefore, tìere are always witches and it is we, the elders, who know how witches work. We told you it was the great chief who wished to kill HamÌe! ald now your own words have proved us dght. I44ro were Ophelia's male relatives?', "1here were orúy her father and her brother." Hamlet was cÌearÌy out of my hands. Traduçáo e Comunicaçao - Revista BrasileiÍã de Ìradutores. N". í7, Ano 2008 . p. j35-159 ãr-Ìciãos quando você voltar para sua terla. pelo back to your coÌ]ntry. lrom what you teu us,que você nos conta, como polônio estava molto, since polonius was clead, it rnust have beendeve ter sido Laertes quem matou Ofélia, em_ Laertes who küed Opheüa, aÌthoLrgh I clo notbora eu não veja motivo par4 is5e. see gÌe reason foÍ it.,, Nós tínhamos esvaáado um jarro de cer_ veja, e os veÌhos discutiam a questão com urn irìteÌesse ügeiramente embriagado. - O que o empregado de polônio disse quando voÌtou? Com dificuldade, recordei de Reinaldo e de sua missão. - Acho que ele não voltou antes de Polônio ter sido morto. - Escute _ disse o a1ìcião _ e vou lhê dizer como aconteceu e como sua históÌia vâi contiauar, e então você poderá me dizer se es_ tou ceÌto. Polônio sabia que o fiIho se envolve_ ria em problemas, e ele fez isso mesmo. Ele ú- nha mütas multas a pagar por brigas, dívidas e jogo. Mas ele só tinìa duas maneüas de conse_ guir dirüreiro rapidamente. Uma era casar a ir_ mã imediatamente, mas é dúcil enconkaÌ um homem que esteja disposto a casar com urna muÌher que é desejada pelo fiÌho de um chefe. Pois, se o herdeüo do chefe cometer aduÌtério com sua esposa, o que você pode fazer? Apenas um tolo cria um caso com um homem que atgum dia 5erá seu iuiz. poÌtanto, Laertes pÍecisou totnar o segunclo caminio: ma_ tou a irmã por meio de Íeitiçaria, afogando_a, para poder vender o corpo dela secÌeta.mente para as bruxas. Levantei uma objeçãol _ EÌes encontra_ ram o corpo dela e o enterraram. Na verdade, Laertes pulou denho da cova para ver a irmã mais uma vez... De forma que vocês podem ver que o corpo estava tealÌnente lá. Hamlet, que acabara de voltar, pr_rjou ab-ás deÌe. - Que foi que eu lhes disse? _ O ancião We had emptied one pot of beer, and úe old men argued úe point with slightly tipsy in- terest. Filally one of them demanded of me. "What did the servarrt of polonius sav on his retur:n?" Wiú difíicuÌty Ì recollected Reynaldo and his rnission. ,,1 don,t úinl< he did retum be- fore Polonius was kiÌled.,, "Listen," said the elder, ,,and I wiÌl teil you how it üÌas and how your story wilÌ go, then you may tell me if I am right. polonius knew his son would get into trouble, ard so he did. FÌe had many fines to pay for fighting, arld debts Írom garnbling. But he had only two ways of getting money quickÌy. One was ta maÍry oÍÍ hi,s sister at once, but it is difficuìt to find a man who wilÌ marry a woman desired by the son oÍ a chìef. For Í the chiefs he.ir commits adultery wiú yo'rr wúe, what can you do? Orúy a fool caÌÌs a case against a man who will someday be his judge. Therefore Laertes had to take the second way: he kilìedÌú sister by witchqaft, drowrLing her so he couÌd secredy selÌ her body to the rvitches.,, I raised art objection. ,,They fould her body arrd buried it. Indced Laertes jumped into thc grave to see hìs sisteÌ once r]1ore_so, vou see, the body was truly there. Hantet, nho had jusl come back, jumped irr aÍer hin.,, "IMhat did Ì telÌ vou?,, The elder ap_ Ìradução e Comunicação - Ruvbb gru@ apelou paÌa os oubos - LaeÌtes não pretendia boa coisa corn o corpo da iÍlÌÌã. FÌanrlet o impe_ dir, porque o herdeiro do chefe, como o chefe, não quer que qualquer outro homem fique rico e poderoso. Laertes ficaria furioso, porque teria matado a irmã sem obter neniurn benefício. Ern nos6a tera ele tentaria matar Fïarrúet poÍ causa disso. Não foi is6o o que aconteceu? Mais ou menos - admiti. _ euando o grande chefe descobriu que HamÌet ainda esta_ va üvo, encorajou Laertes a mataÌ Haoüet e matcou uma briga de facões enhe eles. Na luta os dois jovens foram feridos de morte. A ÍÌãe de Harüet bebeu a cerveja envenenada que o chefe havia preparado para ele caso ele ganhas_ se a Ìuta. Quando ele viu sua mãe morrer enve_ nenada, HarnÌeL morrendo, conseguiu matar o irmão do pai com seu facão. - Es1ão vendo, eu estava ceÌto _ excla- mou o ancião. - Essa história foi müto boa _ acres_ centou o velho - e você a contou com muit ì poucos erros. Houve apenas rnais um ero, bem no final. O veneno que a mãe de HanÌet bebeu deslinava-se obviamente ao vencedoÌ da luta, quem quer que fosse ele. Se Laertes tivesse ga_ nhado, o grarÌde cheÍe o teria envenenado, paÌa que ninguém soubesse que eÌe tinia tuamado a moÌte de Harrìlet. Assim, tarlrbém, ele não pre_ cisaria temer o Íeitiço de Laertes; é preciso ter uur coração íotte para matar a única innã por meio de rlm Íeitiço. - Algum dia - concluiu o velho, ajei, tdndo a to6d eslarrapada * vocé prçcj5a n65 contaÌ mais histórias da sua terÍa. Nós, anciãos, vamos irstruí-la sobre o verdadeiro significado delas, para que, qualdo vocô voltar para sua pealed to the others. ,,Laertes was up to no good with his siste/s body. FÌanlet prevented him, because the chieís heir, like a chief, does not wish any odrer man to grow rich arÌd pow_ erful. Laertes wouÌd be aÌìgry, because he would have killed hissister without benefit to hirnself. In ouÌ country he woutd try to kjÌÌ Hamlet for that Ìeason. Is tlú not what hap_ pened?" "More or less,', I admittecl. ,,li/hen the great chief found Harüet was stiÌl aüve, he en_ couÌaged Laertes to hy to kiÌÌ HamÌet and ar- ranged a Éght with maúetes between them. In the fight both the young men were wounded to death. Hamleís mother drark tÌre poisoned beer that the chieÍ meant for Harrúet in case he won the fight. l44ren he saw his mother die of poisorL HaÍúet, dying managed to kiÌl his Ía- ther's brother wiú his machete.', "You see, Ì was rightl,, excìairLed the eldeÌ. "That was a very good story,,, added úe oÌd InaÌÌ, "ard you told it with very few mis_ takes." There was iust one moÍe error, at the very end. The poison Hamleís motler drank was obviously meant for the surüvor oÍ the fight, whichever it was. Ìf Laertes had won, the great chief would have poisoned him, for no one would krrow that he arrarged Hamleís death. Then, too, he need not ÍeaÌ Laertes, witchcraff it takes a shong heart to kill one,s orúy sister by witchcraft. "Sometime," concluded úe old man, gathering his ragged toga about hìm, ,,you must tell us some moÌe stories of your coultry. We, who are elders, will instruct you in tÌreir true meaning, so that when you rehrrn to your owÌì TÍadução e CcmunicaFo- Revista BGsÌleÍÍa deÌradutores. N".12, eno 2008.ìlãiG têrra, Êeus anciãos corìstatem que você nãg fi- cou sentada no meio do malo, mas siÍn no meio de geote que sabe coisâs e que ,he crÌsinou sa- bedoria. L: i . - l.' i land your elders wiÌl see drat you have notbeen sibting in the bush, but arrrong tÌrose who know tlrhgs arrd who have taught you wisdom." BOHANNAN, L. Shakespeare in the bush. In: NatuÌat History, ago. / set.7966. Disponível em: <htÇ://nhmag.com,/search.html?keys=bohaman&sitenbr=157877211"&bgcolor="/"23C78080>. Acesso em: 29 maio 2008. DERRIDA, J. O que é uma tradução "teleoante"? Trad. àe OIíüa Niemeyer dos Santos. In: Alfa, 5ão Paulo: UNESP, 44, 2000, p. "1344. FÌAMILTON, R. Bushmen dodt understand Shakespeare, conferência onlin e 24 set.1992.In: Shaksper - the global electronic Shakespeare conference. Disponível em: <http://www.shakspeÍ.net/archives/2002/1963.htmÌ>. Acesso em: 29 maio 2008. SPRADLEY, J. P.; MCCURDY, D. W. (eds.) Conformity and ConÍlice Readings in Cultural Anthropology. Boston: Litde Brown and Company, 10. ed-, 1999. VENUTI, L. TranslatiorL conmunity, utopia. In: VENUTÌ, L (ed.) The translation studies reader. New York-London: Roudedge,2004, p. 482-502. Tradução e Comunicação - Revista Brusilêira de Tradulores. N". 17, Ano 2003 . p. 135-159
Compartilhar