Buscar

shakespeare_no_meio_do_mato

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 25 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 25 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 25 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

"StrIAKÊSPEARE IN THË BUSH" - HISTCIRIA Ë
TRADUçAO
l-.t i: iili lti: í.r
Este kabâlho é ullrta proposta de trarlução paÌa úm texto ampla-
mente conhecido, escrito por urna antropóloga na década de 1960,
que naÍra sua experiência junto à tribo dos Tiv, na Áftica Ociden-
taÌ. "Shrkespeare in the bush', de Laura Boharmar, é urrL "suces-
so" entue educadores e pesquisadores, que o julgam muito útiÌ
como ilustação de diferenças culturais e de nossa incapacidade de
ÌealÍnente consideÍar outras formas de organização social e cultu-
ral. Pelo que sei urna tradução do texto paÌa o português ainda
não foi publicada, e essa é a prilneiÌa razão paÌa o tuabalho. Uma
segunda razão é a história do texto 
- 
quardo e em que ciÍcuns-
tâncias e1e Íoi escrito 
- 
que revela na autora unna anhopóloga que
estava, de ceÌta forma, à ÍTente de seu tempo.
Pâlavrâs-Chave: tradução, Laura Bohannan, "Shakespeare no meio do
mato", diferenças culturais.
,rr!li_ìì-fìt4:j ï
Tfus paper proposes a translation for a widely known text, written
by an antfuopologist in úe 60's ald narrating her experience with
the Tiv tribe, in West ÂÍ.ica. Laura Bohamar's "Shakespeare in
the bush" is a "hit" among researchers and instructors, who deem
it very usefuI as an illustration of cultural differences and of our
iÍÌçapacity to consideÌ to a full extent oúer ways of sociaÌ ancì cul-
hral organization. As far as I know, a tratslation of úe text into
Portuguese has not yet been published, and this is the first reason
for the paper. A second reason is tÌìe text's story 
- 
wher, and un-
deÍ what circumstances it tvas written 
- 
which reveals in the au-
thor an arrtlropologist who was, in a ceÌtain way, úead of her
time.
Keywords: translation, Laura Bohannan, "Shakespeare in the Bush",
cultural diferences
135
;,,',1 ;-i. lr,,,ii,:;ii.1.,
A narrativa "Shakespeare in the b'sh", da anhopóloga americana Laura Boha'nan, é
um texto bastante difundido e estimado por educadores nas áreas de leitura, interpre-
tação, tÍadução, literatura e outras disciplinas 
- talvez a maioria das discipliaas de
Humanidades 
- que, de um modo ou de ouho, lidam com a questão da aÌteridade.
Numa nanativa leve e ágil, a aÍÌhopóloga nos contade sua experiência ao tentar rela-
tar o drama de Hamlet para uma tribo da África Ocidental.
Toda a delícia da história está no fato de pessoas de contextos tão diÍercntes,
apesar cle não se entenderem perfeitamente, suporem que ,'as pessoas no murLdo são
iguais", e que, apesar de diferenças pontuais, as grandes questões são sempre a_s mes-
mas para a humanidade. No entanto, essa concordância nasce de uma cegueir4 de
uma ìncapacidadu d" K_g o:99 c9q.,o, o.g"q9. euando o chefe nativo não concorda
com a narrativa da antropóloga, por exemplo, ele diz a ela que vá se bformar melhor,
porque ela não aprendeu direito a lição.
Questões que nos pâÍecem óbvias, por exempÌo, a indignação do jovem Ha_
mlet diante do precipitado casamenlo de sua mãe com o cur'Ì'-arlo, não são óbrrias par.a
a tribo. Para eÌes, o caminho mds naturaÌ seria a viúva se casar com o irmão do faleci-
do, e o mais depressa possível, caso contrário ela não teÍia quem cuidasse de suas plar_
tações.
Também há problemas conceituais: quando a aÍÌhopóloga conta que o pai
morto de Hamlet rondava o castelo, os nativos a intenompem dizendo que os mortos
não podem aldar nem falar. Quando ela diz que ele era um espectïo, a coisa se com_
plica; os nativos não concebem a idéia de espectro, e dizem que com certeza ali se tra-
tava de um presságio enviado por uma bruxa. Enfim, a história é inegavelmente deli_
ciosa, e é uma ótima maneira de ensinar a al'.os de Ciências Humanas (que ienharn
um mínimo conhecimento de Hamlet) sobre diÍerenças culturais e os lirnites da comu-
nicabilidade.
Depois de utilizar muitas vezes o texto em inglês, e deixar de utilizá_lo quan_
dc a classe nãc era prcÉciente nessa lhgua, d.;er.-.os a idéia de traCuzir c texto. Cada
um de nós fez a sua hadução, e decidimos negociá-las, no sentido dado por Venuti
(2004) a esse termo, paÍa chegarrnos, únal, a uma tÍadução, que apíesentamos neste
trabalho. A idéia prìncipaÌ é disponibiÌizar o texto em português, para que possa ser u_
tilizado mais amplamente ainda do que já é. Contudo, ao longo do trabalho de tradu-
TraduÈo e Comunicação - Reüsta BrãsiÌeira de ÍÍadutores. Nô_ 17, Ano 2008. p. í35-159
rurL .v6,rrdrus-filnrK/\u!en 137
ção/ com a inevitável leitura m.ais detalhada que cssa tareÍa exige, íoram surgindo al-
gumas interrogações que nos pÌoporcionaÍam, na tentaüva de saná-Ìas, o acesso a uma
visão mais ampla do contexto em que a história foì escrita e divulgada, e também da
autoÌa.
:Ì. ;r:;:'rl,l;.,i"J Cç) ,iti -i=],..:iiçi:tp,ì;iiiiìi:: :-ial; iÂiì,i\i.l illi iri:i!,ii LrJ fii,ill.i)
Antes então de apresentar nossa proposta de tradução para "shakespeare in the bush,',
tecemos algumas coÌlsideraçòes e apresentàmos aÌgumas inÍormações que pu,ìe los
colher de várias fontes sobre a composição desse texto.
Depois de várias leituras, uma pergunta se coÌocou entre nós, tradutores, a
respeito dos pressupostos da antropóloga. No início da narrativa, ela faÌa de uma pres-
suposição sua: a de que ,,Shakespeare é o mesmo em todo o mundo,,. É certo que Bo_
hannan diz isso em resposta a um inglês que havia dito que os americaaos jarnais en-
tenderiam Shakespeare plenamente, e a autora havia argumentado dizendo que ,,pelo
menos o enredo geral e a moüvação das grandes tragédias seriam sempre eviclentes _
em qualquer lugar,,. Contudo, vinda de uma antropóloga, num texto publicado nos
anos 1960, a afirmação soa ingênua demais. Então, não são os antropólogos que sabem
mais do que ninguém da necessidade de considerar um relativismo cultural? Não são
esses profissionais que sabem, por experiência de campo própria, que os horizontes de
nossa cultura são muito mais rec{uziCos do que julgamos, e que verclades por nós con-
sideradas universais são sempÍe contingentes e localizadas? Então, como ela poderia
dizer que alguma coisa em Shakespeare _ nem que fosse apenas o .,enredo geraÌ e a
motivação" 
- 
seÍia sempÍe eviílente e ,,a mesma,,?
Uma resposta 
- 
bastante desabonadora para a altropóìoga _ é a de que, na_
quele momento inÍormal, quando ela disse ,,em qualquer lugar,,, elaestava querendo
dizer "em qualquer lugar de nossa cultura ocicìental, fruto de uma longâ dominação
européia" será mesmo? será que uma profissionar que rearizou vários tralralhos sobre
os Tiv, hibo da Nigéria, seria capaz de um deslize desses, esquecenclo-se momentane_
amente de que cxistem outros tipos de culfuras muito diferentes?
Concedendo a ela o beneficio cla dúvida, poderíamos pensar que esse texto
não é um texto antropológico no sentido estrito da palavra. poderia ser um texto de di,
vulgação científica, feito para que leigos tivessem uma idéia <1a dimensão das diÍeren-
ças entre duas culfuras distantes e não Íelacionadas. Confudo, quando vamos procurat
TÉdução e Comunicação - Reúsia Brasileha de Tradltore.. N.. tZl* ZOO8ip. t:-S,tSe
referências sobÍe a publicação clo texto, obtemos sempre a mesma irúormação. Na In_
tenìet, onde o texto circula e tem uma ocorrência bastante expressiva, Íicamos sabendo
que ele foi reproduzido na rede a partir da pubÌicação na Íevista Naturaì History. Ao
buscarmos a revista, encontramos que esse texto foi pubÌicado emJ966 (e agora está
disponível online em uma seção qte se chama pick front the past, algocomo um ,,mo-
mento nostálgico,, traziclo pela revista, e que mostra, de certa forma, que o texio airrda
mantém seus afrativos). Além disso, o texto Íoi reimpresso peÌo menos mais uma vez
em,,971, no liwo Conformity nnd Conflict: Readings in Culturnl Anthropology, orgarúzaclo
por spradley e McCurcry. Mas vale a pena mergulhar um pouco mais fundo na história
desse texto, que se misfura com a interessaÍÌte trajetória profissionalde Bohaman.
No site Shaksper 
- the globnt electrnníc Shakespenre Conference(www shaksper'net), encontramos estas iÍúormações: o colaborador Robin Hamiltonr,
não sem antes díz,er que é a última vez que se pronuncia sobre o assunto, começa â ex_pÌica' que Boha.nan foi uma ame-ricana que, juntamente com o marido (rroltaremos a
esse detalhe a seguir) pauÌ Boharmary havia realizado estudos anhopológicos junto aos
Tiv entre 1g4g e'l'g53 Desse trabalho, continua Ham'Ìon, resurtou um esfudo em co-
autoria, publicado em 1953, intitulado Ttrc Tia of Central Nigeria. Além desse, o casaÌ
publicou apenas mais um estudo, intitulado Tia Economy,e datado de 196g. Laura Bo-
ha'nary ao conkáïio de seu marido, não parece ter pubricado muitos ouhos trabarhos
"científicos", seja sobre os llo ou sobre quaJquer outro assunto.
No entanto, de certa maneira, ficou muito mais conhecida que paul, jusiamen_
te poÍ causa de Shakespeare in the bush. A revista Nahral History,embora Hamilton a
classifique como ,,an eminently respectable academic journal,,, é uma publicação _ aoque tudo indica 
- dedicada ao público em geral, e aborda assuntos de Ciência e Histó_
ria Nafural (sernelhante, por exemplo, à National Geographic).Então, do ponto de vista
estritamente acadêmico, na primeìra vez em que foi publicado, ,,Shakespeare in thebush" apareceu em uma revista de cunJro mais popular.
Mas o mais curioso é que a primeira versão desse texto foi uma entrevista
"semi-humorÍstica,, (nas palavras de Hamilton) que Bohannan concedera, por volta de
1955, à rádio BBÇ em um prograÌna na forma de documentario, de nome Trte Thìrd
Progrnm. Quando esse progïama foi gravado, seu titulo era Micring Mallecho, Tlnt Me_
ans WiÍchcraft, e nele Bohanaan assumia a postura de uma cientista; enti,etanto, a en_
tÍevista tem um tom brincalhão. Bohannal clta os Tiu,e conta sua experiêncìa de an-
Tradução e comunicãção 
" R"ulí" em
tÌopóloga tentando narrar-lhes a histór.ia de l{amlet. O programa tetr um efeito humo-
rístico, e afasta-se do que seria considerado científico.
Ouha Íevelação surpreendente feita por Hamilton é a de que aÌtes da entre-
vista pala a BBC, Bohannan havia publicado um "romance antropológico,, sob um
pseudônimo (Elenore Smith Bowen), em 1955. Ao que tudo indica e como sugere Ha-
rniÌtory Bohannan valeu-se do pseudônimo porque o gênero ,,romance anhopológico,,
não seria bem aceito no meio acadêmico. Retunt to Laughter (assim se chamava o ro-
mance) narra a sua experiência como artropóloga em meio a uma tribo aíricana, qte
ela não nomeì.:. i'Jo prefácio à segunda edição do livro,lançada em 1964, Elenore Smith
Borven revela ser, na verdade, Laura Boharman, que assüme o caÍáter fictício de tudo o
que é narrado ali, embora de forma não tão convincente.
NoLa da Autora
ïODOS OS PERSONACENS deste livro, à exceção de [Ìim mesma, são Íicticios
no sentido mais cosrpleto da pâÌavÌa. Conìeci pessoas do üpo descrito aqui; os
incidentes do livÍo 6ã0 de um gêneÌo que eu mesma vivi na ÁÍrica. Entretanto, i.s_
so tudo é ficção. Sou uma antÌopóloga. A kibo que descrevi aqui existe. Este livÌo
é a história do modo como Ìealizei meu habalho de campo enfre eÌes. O conlexto
etnográfico oÍerecido aqú é pÍecijo, mas não é nem completo nem técnico. Aqui,
escrevi simplesmente como üln scr hunrarlo, e a vetdade que tentei con!âÌ ãiz
Ìespeito à mudança Édical pela qual uma pessoa passa qüando mergulha em
uma cültuÌa difeiente e selvagemz-
Laura Bohamaa
Em outÍas palavras, a narrativa ê hcïicia, mas tem um ,,fundo de verdade,,, e
Bowen é Bohanlan, embora não seja possível saber, apenas pela leitura desse livro, se
a autora está falando dos Tiv- Boharuran parece indecisa enh.e sua postura de "antJ.o-
póloga" e uma posição simplesmente de ,,ser humano,,, que lhe parece ser mais confor_
tável. Se, num prirneiro momento, a anhopóloga se escondeu atrás de um pseudônimo
para narrâr um romance antropológico, num segundo momento ela se revela, mas ne_
ga 
- 
peÌo menos em parte 
- 
o caÍáter cienúÍico do texto.
i:.i.. irl, l.:i,'ri..ir,:i:r'r';,r'l f, ,l:1 lr,:r 
'li,ì i'|.,:fiilr lìíÌ lirl:!,'j 'al
Essa confusa rede de textos e idenüc{ades pode sugerir muita coisa. Mas o que parece
ganhar evidência é o fato de que Bohannan preÍeria se afastar de uma antropologia or_
r As inÍoÌmações a scguü Íorârn retüadas do sitc www.shaksper.neL mãjs precisamenre do Ìinkhttp://Ìv14 w'shâkipeí. net/arcÍ,tt,es/ 2002/r963.hrm1, de üma enrraíta data,ra;e 200i.
z Áuthor's Note
ALL THr CHARACTERS in rhis book, except mys€rJ, are ficlirioüs in rhe turest meaning of rhat woÌd. I knew peopre
of the tlTre I hâve descrìbed heÌei úe incidents of the book are of rhe genre Ì myselÍ experiencecl in AÍrica. Nevertie-Ìess, so mrch is fiction l am arì anthÌopologist. The tribe I have descrìËed here ãoes etit. This book is ihe story of the
rvay I dicl fìeld work among tÌrem. The ethnographic background given iÌere is accurats but ìt is neìúer compíete nor
TÉd!çáo e Comunicação - Reüsia Brasl{ei€ de Tradutores. No. 17, Ano 200g . p. 135-159
i
todoxa. Nem o Íato de teÍ estado enhe os Tlz, juniâmente com o marido (um dado an-
tropológico não desprezíveÌ, já que paul também era um ,,cie.tista entre nâtivos,,) é
mencionado em Shakespeare in the bush, e a omissão desse ,,detalhe,, acrescenta mais
sabor à história da ankopóloga que se viu forçada a decidir entre ,,entrar na festa ou
me isolar em minln cabana com meus üvros", como declara no texto que aqui tradu_
zimos.
Hamilton nos leva nessa mesma direção _ da preferência de Bohannan pela
narrativa, em detrimento do texto ,,estritamente científico,, _ quando diz:
R€hrm to Laughter [o romaace ankopológico] deixa de ser, na década de 195O
algo que um anhopólogo ,,respeitávei,, nio ousaria admitir, paÌa tomar_Ee hojeúÌr dos textos clássicos geÌalmente usados para documentaÌ uma importante
mudaÌÇa na autodefinição da antropologia... e ,,Mching Malecho,, [texto quedeu origem a ,,Shakespeate in the buìh,,1 começa sua yomada na direçào clo sìa-tus de texto canônico nos cuÌsos de Estudos CrÍdcos e éultulajs.,.
Em vez de pensar em Bohannan como uma antropóloga ingênua ou confusa,
taÌvez seja mais adequado enxergá-lâ como uma estudiosa que não estava muito satis-
feita com o modo de fazer ciência em sua época e que, à suâ maneira, fez seu plotesto.
O resultado é um texto que beiÍa a ficção, mas tem ,,um fundo de verdade,. e ajuda_nos
a entender as diferenças entre culfuras distantes. Dìferenças que acabam por desafiar
também os tradutores, a começar pelo tom do tíhllo a traduzir: ,,ShaÌ<espeare in the bu,
sh", Shakespeare na floresta, em plena selva, nos arbustos, ou no meio do mato. Embo-
ra não se possa negar, como afirma Venuti (2004), que a comunicação seja a primeira
função buscada numa tradução, a verdade é que o tradutor precisa negociar tanto as
diferenças ÌingüÍsticas quanto as culturais.
Enfim, o próprio fato de escolhermos um texto que tem servido de (pre)texto
para discutir as diferenças culturais 
- 
insinuando que elas já se mostrariam na diÍeren-
ça de leituras entre um americano e um inglês 
- e, de certa forma, expondo uma ,,inge_
nuidade" no mínimo criticável da autora antropóloga, coloca em jogo nosso plóprio
trabalho de "nos darmos o trabalho,, de kaduzi_lo. eue leis de hospitaliclade poderiam
ser invocadas, como sugere Derrida (2000), no encontro de uma anericana com os mo_
radores de uma tribo aÍricana? Essa traclução de HamÌet seria ou não ,,reievante,,? Mas
aí começa uma outra história, em que o trabalho do tradutor derridia'o concentra_se
no Metcador de Veneza, ouh.a peça, outro Shakespeare... Esta históÍia tem sua,,rele_
vância" determinada por outros contextos, e convidanos os leitores para compartilhá_
Ìa.
tcrÌmical Here t have wÌirren simprv às a human bein& and the truth I have tricd to terÌ concenú ihc sea úã'.'e ìnoneselí thaL com* hom inìm.rrion in dnolheÍ a.a 
"r,,i" cìrtru,..ÌÍadução e Comunicaqão, Revisia BÍâsileha de TradutoÍes . N". lZ,,qno 2ìú . olãì Sg
Slakeepeare no meio do mato
Lau-ra Boharuran
Tradução de Lenita Rimoü Esteves e
Frarcis HerLrik Aubert
Um pouco antes de partú de Oxford ru-
mo à tribo dos Tiv, na Áfrìca Ocidental, partici-
pei de uma conversa sobre a temporada em
StÌaÉord.
- Vocês americalos 
- 
diçse um arnigo
- 
freqúentemente têm diÍicrrldades com Sha-
kespeare. Afinal de contas, ele eÌa urn poetâ ti-
picamente ingÌês, e é Íácil inteÌpretaÍ o univer-
sal de forma equivocada por rmra íalta de en-
tendiÌrÌento do que é particular.
IÌotestei que a natuÌeza humana é prati-
carnente a mesma em todo o muado; pelo me-
nos o eÌìÌedo geraÌ e a motivação das grandes
tragédias seriam sempre eúdentes 
- 
em qual-
quer Ìugar 
- 
emboÌa alguns cletalhes de cos-
tumes talvez precisassem ser expücados e dÍi-
culdades de hadução pudessem produzir ou-
tÍas pequenas mudanças. Para pôr fÌm a una
discussão que não corueguíamos concluiJ, meu
arrrigo me deu um exemplar de HarrleÍ para que
eu o estudasse qualdo estivesse na Áfric4 no
meio do mato; ele espeÌava que a leituÍa elevas-
se n1iÍúÌa mente, distanciaado-a de seu ambien-
te primitivo, e que erç por meio de prolongada
meditação, atingisse a graça da interpretação
correta.
Era milrha segulda viagem de carLpo pa-
ra aquela tribo aÍricana, e eu me consideÌava
pronta paÌa molar ern uJna de suas paÌtes mais
remotas 
- 
urrta área dúcil cle atravessar, mes-
mo a pé. Finalmente me acornodei na colina de
um velho muito sábio, cheÍe de uma aldeia de
cerca de 140 moradoles, todos seus paÌentes
próxiÍros ou fi1hos e esposas desses paÌentes.
Shakespeare in the Bush
By Laura Boharrnan
Just before I left Oxford Íor the Tiv in
West Afric4 conversation tunÌed to úe season
at StÌa{oÌd.
"You Americaru," said a íriend, "often
have diÍficulty wiú Shakespeate. He was, aÍter
aÌI, a very English poel and one can easiÌy mis-
interpret the universal by misurderstandúg the
paÌticular."
I protested that human nature is pretty
much úe sarrle tìe whole world over; at Ìeast
the general pÌot and moúvation of the greateÌ
tragedies would aÌways be clear 
-
everywhere 
- 
aÌthough some detaiÌs of custom
might have to be expiained and difficu-lties ol
hanslation might produce other süght changes.
To end al argr.rment we could not conclude, my
friend gave me a copy ol Ha Llet to study in the
Africarr bush: it wouÌd, he hoped, lift my nrind
above its primjtive suroundings, and possibÌy I
might by prolonged meditation, achieve the
grace of correct interpretation.
Ìt was my second field tÌip to that Afri-
can tdbe, and I thought myself ready to live in
one of its remote sectiorÌs 
- 
an area difficult to
cÍoss even on foot. Ì eventuaüy settled on the
hillock of a very knowledgeable old man, the
head of a homestead of some hurlclred and
ÍorÇ people, all of whom were either his close
relaüves or thefu wives and children, Iike the
Traduçao e Comunicaqâo - Revisla B€sileiÍa d€ Ìrãdutores . N" 17, Ano 2008 . p. 1 35-159
Como os oukos anciãos da Ìedondeza, o velho
passava a maior parte de seu tempo realizando
cerimônias que na época eram raramente vistas
nas regiões mais acessiveis da tribo. Eu estava
deliciada. Logo haveria três rneses de isolaren-
to forçado e tempo liwe, enhe a colheita, que
acontecia logo antes da cheia dos pântanos, e a
Íormação de novas roças, quando a água baüa-
va. Nesse período, pensava eu, elcs terialat ain-
da mais tempo para tealizaÌ cerimônìas e expÌì-
cá-las para mim.
Eu estava müto enganada. A maioria das
cedmônias exigia a presença de anciãos de vá-
rias aldeias. À medida que subia:r as águas, os
velhos encontravam diÍiculdade para camirüar
de uma aldeia para outra, e as cerimônias fotam
cessando gradualmente. Quando as águas subi-
ram ainda mais, todas as atiüdades foram in-
terrorLpidas, exceto urrta. As muÌheres faziam
cerveja a partir de milho e sorgo, Homens, mu-
lheres e cúanças ficavail sentados em suas co-
liaas bebendo a ceweja.
As pessoas começavam a beber ao nascer
do sol. Pelo meio da manÌÌã, toda a aldeia esta-
va cantando, dançando e tocando tambores;
quardo choúa, as pessoas tinham que ficar
dentro de suas cabanas: ali bebiam e cantavatn
ou bebìalTì e contavam histórias. De qualquer
forma, por volta de meio-dia ou até antes, eu ti-
n}ta ou de entrar na Íesta ou me isolar em mi-
nÏa cabana corrr meus livros.
- 
Não é possíveÌ discuú assuntos sérios
quando tem cerveja, Venha, beba conosco,
Como eu não tirúa a capacidade deles
para beber aquela espessa cerveja natva, eu
passava cacla vez majs tempo com Hamlet. An'
tes do final do segundo mês, fui atingida pela
graça. Eu tirrha certeza de qrJe Hamlet tjrrlta a-
other elders of the ücinity, tlÌe old marr spent
most of his time perforÍÌing ceÍemonies seldom
seen these days ú the ulore accessibÌe parts of
the tribe. I was delighted. Soon there would be
tlEee montlu of eníorced isolation and Ìeisurg
between tìe harvest that takes place just before
the rising of úe swamps and the cÌearing of
new faÍÌÌìs when tÌìe wateÌ goes dowrl Therç I
drought, lhe;' woufd have even moÌe tirle to
perform ceremonies artd explair them to me.
I was quite mistaken- Most of t}Ìe cere-
monies demalded the presence oÍ elders from
several homesteads. As the swamps rose, tÌre
olcl men Íound it too difficuÌt to walk from one
homeslead to the next, and the ceremonjes
gradually ceased. As the swamps rose even
higher. aÌl activities but oÌÌe came to an end.
The women brewed beer from maüe and mil-
let. Men, womerç and children sat on úeir hiÌI-
ocks and drank it.
People began to ddnk at dawn. By mid-
moming lhe whole homestead was singing,
dancing, and drumming. ÌÁ/hen it rained, peo-
ple had to sit inside their huts: úere they drank
and sang or they drank and told stories. Ìn arÌy
case, by noon or before, Ì either had to join the
party or retiÌe to my own hut and my boofts.
"One does not discuss serious matteÌs
when there is beer. Come, drirú< with us."
Shce I lacked their capacity for the thick
native beer, I spent m.ore and more time with
Hqmlet. BeÍorc úe end of the second montÌç
grace descended on me. I was quite sure that
Hamlet had only one possible interpretatiorç
Tíadução e Comunicaçao - Revista BEsileira de Tradutores. N'. 17, Ano 2008. p.135í59
peÌìas lrl1Ìa interpÌetação possÍvel, e essa inteÌ- and that one universallv obüoÌrs
pretação eÍa universalnoente óbvìa.
' Todo dia de maltrã bem cedo, na espe-
rança de travar aÌgurla conversa séria antes da
cervejada, eu costumava visitan o velho em sua
cabana de visitas 
- 
um círcuÌo de e$tacas sus-
tentando üÍì telhado de sapé sobre um muro de
barro baüo que ser-via como proteção contra o
vento e a chuva. Um dia ahavessei a entrâda
baixa meio agachada e encontrei a maioria dos
homens da aldeia agasalhados em seus trapos e
sentados em bancos, troncos de iârvore e espre-
guìçadeiras, aquecendo-se contra o frio da chu-
va ao redor de u:rla fogueira fumarenta. No
centro havia tÏês potes de cervEa. A festa haüa
começado.
O velho me cumprimentou cordialmente.
- 
Sente-se e beba. Eu aceitei uma cabaça grarÌ_
de cheia de cerveja, despejei unr pouco nrrrr-tíì
pequena cuia, e tomei numa taÌagada. Em se-
guida despejei mais Ìrm pouco na mesma cuja
para o homem que só não era mais velho que
meu anfitrião, antes de entoegar a cabaça a um
iovem para que os outÌos se seÍvissem. pessoas
importantes não deveriam elas mesmas servir
cerveia.
- 
Melhor assim 
- 
disse o velho, olhan_
do-me com aprovação e retirando a palha que
estava pÌesa ao meu cabeÌo. _ Você deveria
sentaÌ e beber conosco mais vezes. Seus empre_
gados me dizem que, quando você não está co_
nosco, fica sentada em sua cabala olhando paÌa
um papel.
O velho conhecia quatro tipos de ,,pa,péis": recibos de impostos, recibos de pagarlen_
tos de noivas, recibos cìe custas iudicìais e caÌ_
,tas. O mensageiÌo que lhe trazia as cartas do
chefe usava-as apenas como un emblema de
Early every morning in the hope of hav-
ing some serious taÌk before tÌre beer paÍty, I
used to call on tìe old mart at his reception
hut-a ciÌcÌe of posts supporting a thatúed
roof above a Iow mud waÌl to keep out wind
and rain. One day Ì crawled tfuough úe low
doorway and found most of úe men of the
homestead sifting huddled in their ragged
cloths on stools, low plank beds, and recÌining
chairs, warming themselves against the chiÌl of
the rain around a smoky fire. In the center were
tfuee pots ofbeer. The party had started.
The oÌd mar greeted me cordiaÌly. ,,Sit
down and drink." I accepted a large caìabash
fuÌl of beer, poured some into a small dÌinking
gourd, arìd tossed it down. Then I pouted some
moÌe into úe saÌrle gourd for the man second in
seniority to my host before I handed my cala_
bash over to a young Ìnan for furúer distribu_
tion. Important peopie shouldn,t ladle beer
themseÌves-
"It is better üke this,,, the old man saìd,
looking at me approvingly arrd plucking at the
tlìatch that had caught in my haiÌ- ,,you should
sit and drink with us more often. youÌ servants
tell me that when you aÍe not with us, you sit
inside your hut looking at a paper. ,,
The old man was acquainted with four
kinds oÍ "papers": tax rec+ts, bride price re_
ceipts, court fee receipts, and letters. The mes_
senger who brought him ÌetteÌs írom the chief
used them mairúy as a badge of office, for he
TÍaduçâo e Comlnicação, Revista BrasiteÍa de ïEduiores. N,. tZ, nno ZO0g . p. 135159
seu caÌgo/ poÍque ele senÌpÍe sabia o conteúdo
deìas e o ÍelaLòv"ì .ìo velho. CaÌtJs pessoais pa{a
o5 poucos que tiLrìam parentes no governo ou
nos postos das [Ìissões eram guardadas até que
alguém fosse a um mercado grande onde haüa
um escritor e leitor de caÌtas. Desde mìnha che-
gada, as cartas e.am tÌaádas paÌa que eu a,s
lesse. Alguns homens tarrrbém me traáam reci-
bos de paganento de noivas, em paÌticu_lar/
com pedidos para que eu alterasse os vaÌores
para unla quantia mais alta. Eu constatei que de
nada vaÌjam aÌgrmentog morais, iá que os pa-
ÌenLes por afinidade não eram levados a sério, e
era djÍíciÌ expücar para pessoas analfabetas os
Íiscos técnicos da fatificação. Eu não queria
que eles aúassem que eu eïa tola o súiciente
para examinar u:rr daqueles papéis inÍindavel_
mente, e logo expliquei que o meu ,,papel,, ti_
nha a ver com "coisas múto antigas,, da minha
teüa.
- 
Ah 
- 
disse o velho 
- 
conte paÌa nós.
Protestei dizendo que não era contadora
de histórias. Contar histórias eÌa uma arte refi_
nada entre eles; seus padrões eram altos e a pla_
téia era críüca 
- 
e verbalizava suas críticas.
Protestei em vão. Naquela maihã eles queriam
ouvjr uma história enquanto bebiam. Eles ame_
açara[r não me contaÌ mais suas histórias até
que eu Ìhes contasse uÌ1a das min}tas. por fim,
o velho prometeu que nhguém critícaria meu
estiÌo, pois todos sabiam que eu estava ,,lutando
com a língua deles".
- 
Mas 
- 
acrescentou um dos aaciãos _
você precisa explicar o que nós não entender_
mos, como Íazemos quando contamos nossas
histórias.
Percebendo que ali estava una oportuÌai_
dade de mosbar que Hartlef era universaLnente
always kneÌa' what was in tiern and told the old
man. Personal letters Íor the Íew who had rela_
tives i:r the governmeÌÌt oÌ mis,sion staúons
wele kept rntil someone went to a large market
wheÌe there was a letter writer ard readet.
Since my arrival, letteÌs weÌe bÍought to rate to
be read. A few men also brought me bride price
receipts, privately, y/ith Ìequests to chaige the
figtres to a higher suur. I forrnd moraÌ argu-
ments were of no avail, since in-laws are fair
game, ard Ìhe techrrical hazards of forgery dif-
ficult to explairÌ to ân illiter.ate people- I did not
wish úem to think me siÌìy enough to look at
any such papers for days on end, artd I hastily
expìairred that my "paper" was one of the
" tÌr-ings of long ago" of my country.
"4h," said the oÌd man. ,,Tell us..,
I protested that Ì was not a storyteÌler.
Storytelling È a skilled aÌt among úem; their
standards aÌe higlL arrd the audiences cÍitical_
and vocal in their criticism. I protested in vain.
This morning they wanted to hear a story while
they drank. They tireatened to tell me no more
stories untiÌ Ì told them one oÍ mine. Finally, the
old man promised tiat no one would criticüe
rny style, "for we know you ate strugglirrg with
oru language."
"But " put in one oÍ úe elders, ,,you must
explain what we do not understand, as we dô
when we telÌ you our stories.,,
Realizing that here was my chance to
prove Hamlet universatly intelÌigible, I agÌeed.
Tradução e Coínunicação Reústa Brasiteira de Trêdutor"" . N". 12, Anol0Oãlp. 1:íìõ
inteüEiível, eu concordei.
O velho me deu mais cerveja para me a-
judar a começar a lútória. Os homens enche-
ram seus longos cachimbos de madeira e pega-
rarrr brasas da fogueira para colocar nos forni-
lhos; depois, baforando satisfeitos, acomoda-
Ìam-se em seu6 assentos para escutar. Comecei
no esti.lo adequado.
- 
Não ontem, não ontem, mâs muito
tempo atrás, aconteceu uma coisa. Certa noite,
tÌês homens estavam montaldo guâÌda fora da
aldeia do grantle chefe, quando de repente vi-
ram o artigo chefe se aproximardo deles.
- 
Por que ele não eía mais o chefe?
- 
Ele estava morto 
- 
expliquei 
- 
é por
isso que eles ficaran perturbados e amedronta-
dos quando o viran.
- 
Impossível * começou usr dos anci-
ãos, passando o cachirnbo para seu vizinho, que
interrompeu:
- 
Claro que não era o chefe morto. Era
um presságio enviado por urna bruxa. Continu-
e.
Ligei.ramente abalada, continuei:
-Um desses três era unÌ homem que sa-
bia coisas 
- 
a b-aduçáo mais próxima que en-
contrei paÍa "erudito", mas hÍelizmente isso
tanbém significava "brrxo" , O segurdo ancião
olhou triurúante para o primeko.
- 
Então ele se dirigiu ao chefe morto di-
zendo, "Diga o que devemos fazer para que
volte ao seu himuÌo", mas o cheíe morto não
tespondeu. Ele sumiu, eles não o vüam mais.
Então, o homem que sabia coisas (seu nome era
Horácio) disse que o acontecido era assulto do
fi1ho do cheÍe morto, Harrrlet.
Em todo o círculo, cabeças se agitando
demonstraran a indignação cÌa platéia.
The old rnal Iunded me soúle ÌlÌore beer'
to help me on widr my 6torytelÌiÌl9. Men filÌed
úeir long wooclen pipes and knocked coals
from the fire to place in the pipe bowls; then,
puffing contentedly, they sat back to listen. I
began in the proper style.
"Not yesterday, not yesterday, but long
a;o, a thing occuÌÍed. One night tlì.ree men
were keeping watch outside the homestead of
úe great chieí when sudderüy tley saw the
former chief approach úem."
"Why was he no longer their chief?"
"He was dead," I explained. "That is why
they were troubled and aÍraid when tìey saw
him."
"lmpossible," begar one of the elders,
handing his pipe on to his neighbor, who inter-
rupted:
"Of course it wasít the dead chieÍ. It
was an omen sent by a witch. Go on."
Süghdy shaÌen, I continued:
"C)ne oÍ these tl-rree was a mal who knew
things" 
- 
the closesl trarìsìation for scholar, but
unfortunateÌy it also meant witch. The second
elder looked triuurphandy at the first.
"So he spoke to the dead chief saying,
'TelÌ us what we must do so you may rest in
your grave,' but úe dead chief did not answer.
He vanished, and they couJd see him no more.
Then úe mal who knew things 
-his n.Lme wds
Horatio-said this event was úe aÍfak of the
dead chieís so4 Harnlet."
There was a general shaking oí heads
rourd the circÌe.
TÍadução e Comunica€o - Reüsta Brasileirâ de TÍaduÌores. N0 17, Ano 2008.p. 135'159
-O cheíe moÍto não tiÌ{ìa irmãos vivos?
Ou o filho dele era o chefe?
-Não - respondi - quer düer, ele ü-
nha um irmão üvo que se tornou chefe quardo
o irmão mais velho morreu.
Os ancjãos resmungaÌam: esse$ pressÁ-
gio,s eÌam assuÌ,rto de cheíes e anciãos, não de
iovens) não eÍa boa coisa agiÍ pelas costas do
cheÍe; com certeza Horácio não era urn homem
que sabia coisas.
- 
Era siEl 
- 
hsisti, espantando uma ga-
linla que rondava rninha cerweja. 
-Em nossa
lerra, o fiÌho substihri o p-ai. O irmão mais novo
do cheÍe morto tirúa se tornado o grande chefe.
Ele também tirrlra se casado com a úúva do ir-
mão mais velho apenas um mês após o funeral.
* Fez bem! 
- 
o velho sorriu e anurciou
aos outros. 
-Eu disse a vocês que se soubésse-
mos mais sobre os europeus, acabaríamos a-
chando que eles são bem paÌecidos conosco.
Ternbém em nossa terra 
- 
acrescentou eÌe diri-
gindo-se a mim 
- 
o ümào mais ngvo se casa
com a viúva do imao mais velho e se torna pai
de seus filhos. Agora, se seu tio, que se casou
com sua mãe viúva, é plenamente irmão de seu
pai, enÍão ele ser; um veÌdadeiÌo pai para vocè.
O p;ri e o tio de Harlet tinham a mesma mãe?
A pergunta dele mal penehou minha
mente; eu estava pertwbada e desconcertada
1 dernais porque um dos elementos mais ìmpor-IÍ tantes de Hamlel havia sido elinirado da cena.
Titubeando, eu disse que achava que eÌes ti-
nham a mesma mãe, mas não ürha certeza 
- 
a
hi5tória nào diâa. O velho me dìsse com gravi-
dacle que esses detalhes genea.lógicos faziaÌn
toda a dÍerença e que quando eu chegasse em
casa deveria perguntar aos anciãos sobre isso.
Ele gritou na direção da porta para que uma de
"FIad the dead chief no üvirg broihers?
Or was dú son the cldef?"
"No," I repÌied. "That is, he had one liv-
iag brother who became the chief when the
eÌder brother died."
The o1d men mutteÌed: such omens weÌe
nìatteÌs for chiefs and elders, not for young-
steÍs; no good could come oÍ going behind a
chieís bacÇ clearÌy Floratio was not a man who
knew things.
"Yes, he was," I insisted, shooing a
chicken away from my beer. "In our countuy
the son is next to the faúer. The dead chieís
younger brother had become the great chief. He
had also married his elder brotÌre1s widorv
orüy about a month after the furreral."
"He did well," tÌre old man beamecl and
aÍìnolrnced to tlÌe others, "Ì told you that iÍ we
knew more about EuÌopeans, we would find
úey really Ìvere very like us. ln olu county
also," he added to me, "the yourrger brother
marries the elder bÌother's widow aÍÌd becomes
the fatÌrer of his chiÌdren. Now, iÍ your uncle,
who rrLarried your widowed mother, È your fa-
úer's fr:ÌÌ brother, then he wiÌl be a real father
to you. Did Harrüeís Íather arrd lilcle have one
mother?"
}Iis question barely penetrated my mind;
Ì ü/as too úpset and tfuown too Íar off-balance
by having one of the most impoÌtant elements
oÍ Hamlet krocked straight out of the picture.
Rather rjÌìcertainÌy I said that Ì thought they
had the same mother, bui I wasn't sure-the
6tory didn't say. The oÌd man told me severely
úat tlese geneaÌogical details made all úe dÍ-
ference and tiat when Ì got hone I must ask tÌre
eldeÍs about it. He shouted out the dooÌ to one
of his younger wives to bring his goaLskin bag.
Ìradução e Comunicação ' Reüsla Brasileira de ïradutores. N0. 17, Ano 2008 . p. 135-159
suas esposas mais jovens Ìhe trouxesse sua bol-
sa de peìe de cabra.
Determilada a salvar o que pudesse do
tema da mãe, respiÌei fundo e cqmecei de novo.
- 
O filho Harrüet estava muilo histe
porque sua mãe haüa se casado de novo de-
pressa demais. Ela não precisava fazer isso, e
pelo nosso costËme uma viúva não se casa de
novo até ter guardado dois anos de luto.
- 
Dois anos é tempo demais 
- 
obietou a
esposa, que tbha aparecido com a surrada bol-
sa de pele de cabra do vclho. * Quem vai capi-
nar as roças para você enquanto você não tem
marido?
- 
Hamlet 
- 
retoÍqú sem pensar 
- 
eÌa
adulto o suficiente para capinar as roças da mãe
ele mesmo. Ela não precisava casar de novo.
Ninguém parecia convencido. Eu desisti.
- 
Sua mãe e o grande chefe disseram a
HanrÌet que não ficasse triste, porque o própÌio
grande chefe seria o pai de Hanlet. AJém disso,
HaÍÌìlet seria o próximo chefe; portanto, ele de-
veria ficar para aprender as coisas de um cheÍe.
Harüet concordou em ficar, e todas outras Pes-
soas sairam para tQmaÌ ceweja.
Enquanto eu fazia uma pausa e pensava
perplexa em como traÌìsmitir o entediado soli-
1óquio de Hamlet para urara platéia convencida
de que Cláudio e Gertrudes tinham se compor-
tado da melhor maneira possível, uer dos ho-
mens mai,s jovens me perguÌÌtou quem se casaÌa
com as outras esposas clo chefe morto.
- 
Ele não tinìa outras esposas 
- 
disse-
lhe eu.
- 
Mas um clrefe precisa ter muitas esPo-
saçl Como eotáo ele pode Íazer cervejd e pÍepa-
raÌ comida para todos os seus convidados?
Determined to save what I could of the
mother motif, I took a deep breath and began
agairÌ-
"The son HamÌet rvas very sad because
his mother had married again so quickly. There
was no need for her to do so, and it is ouÍ cus-
tom for a wiclow not to go to her next husband
until she has mourned for two yeaÌs."
"Two years is too long," obiected the
wÍe, who had appeared with úe oÌd man's bat-
tered goatskin bag. "\44ro will hoe your farms
Íor you whiÌe you have no husband?"
"Hanìet" I retorted, without thinkin&
"was old enough to Ìroe his mother's Íanns
himself. There was no need íor her to rematry.
" No one looked convi-nced. I gave up.
"FIis mother a]1d tìe great chief told
Fïarrúet not to be sad, for dre gteat chief himselÍ
would be a íather to Harrúet. Furthermore,
Ha;r,ret would be the next chief: thereÍore he
must stay to learn the things of a chief. Harüet
agreed to remain, and all the rest went off to
drink beer."
\44rile I paused, perplexed at how to ren-
der Hamlet's disgusted soliÌoquy to an audi-
ence convinced that Clauclius alrd Gertrucle had
behaved in the best possible marurer, one of the
yoìrngeÍ men asked me who had married tÌre
other wives of the dead chief.
"Ì-Ie had no other wives," I told hìm.
"But a chief must have many l\Iives! How
else calr he brew beer ancì prepare food for all
his guests?"
Traduçao e comunicação - Reüsta BÍasileìÍa deÍÍadutorcs. N" Í7, Ano2008 ' p 135159
Eu djsse com fumeza que em nossâ terra
até rnesmo os chefes ttúam apenas uÍÌa espo-
sa, que eles tinhan empregados pata Íazet o
trabalho, e que thes pagavam com diÌüÌeiÍo de
ilÌtpostos.
Seria melhor, responderam eles, que urr
chefe tivesse mütas esposas e fi1hos que o aju-
dassem a capinar suas roças e aÌimentat sua
gente; erìtão todos amariam o chefe que dava
muito e não tomava nada 
- 
os impostos eÌam
ul]rÌa coisa roim.
Concordei com o último comentário, mas
quanto ao Ìesto me vali do modo preferido de-
1es de descartar minhas perguntas: 
- 
É assim
que se faz; então é assin que nós Íazemos-
Decidi pular o solilóqúo. Mesmo se eles
consideÍassem que Cláudio estava muito certo
em se casar com a viúva do irmâo, peÌmànecia
o tema do enyenenamento/ e eu sabia que eles
desaprovariam o fratricídio. Corr esperança re-
novada, retomei a história.
- 
Naquela noite Harúet montou guarda
com os Eês que tirÌham vjsto seu pai morto. O
cheÍe morto reapareceu, e embora os outÍos es-
tivessem com medo, HainJet seguiu o pai morto
até um canto. Quando ficaÍam sós, o pai morto
de Harlet falou.
- 
Presságios não Íalan 
- 
o velho foi
enÍático.
- 
O pai morto de HarnJet não era um
presságio, Vêlo pode ter sido un pÍesságio,
mas ele não era.
Havia a mesma confusão no Ìostg da pla-
téia e na milha voz. * Ele ara o pai morto de
I{anlet.Era o que chamamos de "espectro" 
-.
Eu tive que usar uma palavra na minha Ìíngua
porque, difeÍentemente das muitas tr:ibos vizi-
1úas, esse povo não acreditava que nenhÌnna
I said firnrly that in oÌrÌ couÌÌtry even
chiefs had orúy one 'vr.iïe, that they had servarts
to do theiÌ work, and that they paid úem from
tax money.
It was better, they rehrmed, for a clLieÍ to
have marry wives and sons who would help
him hoe his farms and Íeed his people; úen
everyone loved the chief who gave much and
took nothirg- taxes were a bad thing.
I agreed widr the last cornment, but Íor
the rest felÌ back on theü favorite way oÍ fob-
bing off my questions: "That is the way it is
done, so that is how we do it."
I decided to skip the soliloquy. Even iÍ
Claudius was here thought qúte right to maÌry
his brothels widow, tlere remained úe poison
motif, and I knew they wouÌd disapprove oÍ
Íratricide. More hopefuJÌy I resumed.
"That night Hanúet kept watch wiú the
tÌLree who had seen his dead father. The dead
chieÍ again appeared, and aÌihough the oihers
were aÍraid, Harüet foÌlowed his dead Íaúer
off to one side. When they were alone, Flarüeís
dead father spoke."
"Omens car't taÌk!" The old man was
emphatic.
"Harúeís dead father wasnlt an omen.
Seeing him might have been an omerL but he
was ÌÌot."
My audience looked as coúused as I
souaded. "It was Hanrleís dead ÍatÌ.rer. Ìt was a
thing we call a 'ghost."' I had to use the Éngüsh
word, Íor uÍüike many of the neighboring
h-ibes, these people didn t beÌieve in the sur-
úva.Ì after death oÍ any individuating part of
TÍaduÉo e Coínunicaçao - Revista BrasiÌeim de TÍadutores. No. 17, Ano 2006 . p. 135-159
parte da personaüdade individual pudesse vi-
ver aÌém da rlorte.
- 
O que é um "espectro"? Um pressá-
gio?
- 
Não, urn "espectro" é alguém que
morÍeu mas alda por aí e pode fa1ar, e pessoas
podem ouvi-lo e vê-lo, mas não podem tocá-lo.
Eles o$etaran:
* Os zurrbis podem ser tocados.
- 
Não, não! Não ela ulÍÌ corPo morto
que as bruxas tinham animado para sacrificâÌ e
comer. NenÌrurra outfa pessoa Íez o pai morto
de Harrüet andar. Ele Íez isso sozinho-
- 
Os mortos não aldam 
- 
protestou
rLinha platéia, em uníssono.
Eu estava disposta a traÍìsigir. 
- 
Um
"especho" é a sombra de um homem morto.
Mas eles o$etararn mais uma vez. 
- 
Os
mortos não têm sombra.
- 
Na minha terra eles têm 
- 
respondi
seco.
O velho aplacou o rumor de descrença
que imediatamente se instalou e me disse com
aquele tom condescendente, insiïÌcero mas cor-
tês, que as pessoas dispensasr às fantasias dos
iovens, dos ignorantes e dos supersticiosos:
- 
Sem dúvida, na sua terra os mortos
tarlrbém conseguem andar sem serem zumbis.
Das profuadezas de sua bolsa ele tirou
ul fragmento murcho de noz de co1a, mordeu
ulÌÌa ponta paia me mostlaÍ que não e,stava en-
venenada, e me entÌegou o reotg como oferenda
de paz.
- 
De qr.ralquer forma 
- 
refomei 
- 
o pai
morto de Hanlet disse que seu próprio irmão,
que tinìa se tornado chefe, o haüa envenenado.
Ele queria que Ha:rrlet o vingasse. Harnlet acre-
ditou piamer.rte nisso. pois não gostava do iï-
the personaliiy.
"What is a 'ghost?' An omen?"
"No, a 'ghosí is someone who is dead
but who walks around artd can talk, and people
can hear hirrr ard see him but not touch him."
They objected.
"One can touch zombis."
"No, nol It was not a dead body úe
witches had arrimated to sacÌifice and eat. No
one else made Hamlet's dead father waÌk. He
did it himselÍ."
"Dead men can't walk " protested my
audience as one man.
I was quite wìIling to compromise. "A
'ghosí is the dead man's shadow."
But again they o$ected. "Dead men cast
no shadows."
"They do in my couÌÌtry," I snapPed.
The old man quelled the babble of disbe-
Iief úat arose innediately and told me wÌth
that insinceÍe, but cou.rteous, agfeement one ex-
tends to the fancies of the young, ignoÍant, and
superstitious:
"No doubt in your country the dead can
also walk without being zombis."
From the depths oí his bag he produced a
withered fÌagment oÍ kola nul, bit oÍf one end
to shov/ it wasrft poisone{ and handed me the
rest as a peace offering-
" Anyhow," I resurored, "Harrúet's dead
father saÌd that his own brotÌÌer, úe one who
became chieÍ, had poisoned hirn. He wanted
Hamlet to avenge him- Hamlet búeved this in
his heart, for he did not liÌe his faúer's
Ìradução e Comunicáção - Revista BGsileiÍa de Íradutores. N0. 17, A,ro 2008 . p. 135i59
mão do pai.
Tonei qutro gole de cerveja.
- 
Na terra do grande chefe, vivendo na
mesma aldeia, que era muito graade, haüa urrr
importaÍÌte ancião que estava sempre ao lado
do chefe para aconselhá-lo e ajudá-lo. Seu nome
era PoÌônio. Hanìlet estava namorando sua fi_
lha, mas o pai e o irmào dela pusquei apressa_
damente algrrma aaalogia tribal] a advertiram a
não dej-rar Hamlet visitá-la quando ela estives_
se sozirúa em suas roças, porque ele iria ser urlr
grande chefe e poÌtaÍÌto não poderia se casat
com eÌa.
- 
Por que não? 
- 
perguntou a esposa,
que tinha se acomodado na beirada da cadeira
do velho.
Ele armou uma carranca por ela ter feito
uma peÌgunta esúpida e resn1ungou: * Eles
moÍavam na mesma aldeia.
-Não eÍa esse o motivo _ irúormei a e_
Ìes. 
- 
Polônio era um estranlÌo que üüa na al_
deia porque ajudava o chefe, não poÌque era
paÌente.
- 
Então poÍ que Hamlet não podia se
casar com ela?
- 
Ele poderia 
- 
expliquei _ mas polô_
nio achava que ele não se casaria. Afinal de con_
tas, Haraüet era urn homem de grande impor_
tância que deveria se casaÍ com a filha de um
chefe, pois na terra dele um homem só podia ter
uma esposa. Polônio tirüra medo de que Ha.uúet
fizesse amor com a filha dele e depois ninguóm
quereria pagar um alto preço por ela.
- 
Ìsso pocle ser verdade _ observou uur
dos anciãos mais sagazes 
- 
mas o filho de um
chefe daria ao pai da amante muitos presentes e
vantagerÌs paÌa compensar a perda. polônio me
parece u]lì toìo.
brother."
Ì took aloÍÌrer swaÌlow of beer.
"In úe courtry of the great chieí üving
in the same homestead, for it was a very large
o1Ìe/ was an important elder who lyas often
with tìre chieÍ to advise arrd hetp him. His name
was Polonius. HarÌìlet was courting his daugh_
ter, but her father and her brother , . . [I cast
hastily about for some tribal analogy] warned
her not to let HalÌ et visit her when she was
alone on her farm, for he wouÌd be a great chief
and so could not oar{.' her.,'
"\Afhy not?" asked the wÍe, who had set_
ded dowrr on the edge oÍ the old mar,s chair.
He frowaed at her Íor asking stupid
questioru and growled, ,,They Iived in t}re same
homestead."
"That was not the ÌeasoÍL,, I Ìrúormecl
tÌrem. "Polonius was a stranger who lived in the
homestead because he helped the chief, not be_
cause he was a relative..,
"Then why couÌdn,t HaÌrúet marry her?,,
"He could have,,' I explaine4 ,,but polo_
nius didn't th.ink he would. AfteÌ aÌI, Hanúet
was a man oÍ gÌeat importance who ought to
marry a chieís daughter, for in his country a
man could have orüy one wife. polonius was
aÍraid that if Hamlet made love to hÈ daughter,
then no one else I,ould give a high price Íor
her."
"That might be true,,, remarked one oÍ
the shrewder elders,,,but a chieís son would
give his rnistress's Íather enough presents and
patÍonage to moïe tharr make up the difference.
Polonius sourcls like a fool to me.,,
kadução e cor Lnic?ç,o Reu,sta B,a=;rei,a de T,jffilfifllfpf,l!f,lll5-fu
- 
Muitas pessoas pensam que eìe era 
-
concordei.
- 
Enquanto isso, Po1ônio enviou seu fi-
lho Laertes para Paris para aprender coisas da-
quela terra, pois aü morava um chefe muito
importante. Como ele tirúa medo qte Laertes
tastasse muito dbheüo com cerveja, mulherese jogo, ou que se metesse em brigas, ele man-
dou um de seus empregados secretamente a Pa_
ris, para que ele espionasse o que Laertes estava
íazendo Um diâ HaÌrüet encontrou-se com a fi-
lha de Polônio, OÍéüa. Ele se comportou de
forma tão eshanha que a aìnedrontou. Na vet-
dade 
- 
procru'ava palavras que pudessem ex-
pressar a dubiedatle da loucura de Harrúet 
- 
o
cheÍe e muitos outÍos tarnbém haviam notaclo
que quarcìo Hamlet falava era possível enten-
der as palavras, mas não o seu significado. Mui-
tas pessoas pensavaqÌ que ele tinha erüouque-
cido.
De repente, mhha platéia ficou múto
mais atenta.
-O grande chefe queria sabei o que ha-
ria de errado com Hanììet, e por isso enúou
dois comparheúos da idade de HamÌet ["cole-
gas de escola" teria exigido uma longa expüca-
ção] paÌa conversar com elc e descobrir o que
perturbava seu coração. Hamlel percebendo
que eles haviam sido subornados pelo chefe pa-
ra tÌaí-lo, não thes disse nada. Polônio, enhe-
tanto, insistia que Hamlet estava Ìouco porque
havia sido proibido de ver Ofólia, a quern ele
amava,
- 
Por quê? 
- 
perguntou uma voz peÌ-
plexa. 
- 
Alguém enfeitiçaria Haaúet por causa
clisso?
- 
Enfeitiçaria llamlet?
- 
É, só um feitiço pode erüouquecer al-
"Many people úrink he was," I agreed.
"Meanwhile Polonius sent his son Laertes
off to Par:is to learn the things of tÏat countly,
for it was tìe homestead of a very great chief
indeed. Because he was aÍraid that Laertes
might waste a lot of money on beer ald women
ard gambling, or get into rrouble by fighting, he
sent one oÍ his servants to Paris secÌedy, to spy
out what Laertes r.r.as doìng. One C :y Hamlet
came upon Polonius's daughter OpheÌia. He
behaved so oddly he frightened her. Indeed" 
-I
rvas fumbling for woÌds to express the dubious
qualiiy of Hauúet's madness 
- 
" the chief arrd
many others had also nqticed that when Harüet
talked one could urderstald the words but not
what they meant. Mary people thought that he
had become mad."
My audience sudderúy became much
more aftentive.
"The great chief wanted to know what
was wÍong with Ha.uúet, so he sent for two of
Handeís age mates [school friends wou]d have
taken a loÌÌg explanationl to talk to HaÍrúet and
Íind out what troubled his heart. Hamlet, seeing
that they had been bribed by the chief to beuay
him, told them nothing. Polonius, however, in-
sistecÌ that Hamlel was mad because he had
been forbidden to see Ophelia, whom he
ìoved-"
"WÌry," inquired a bewildered voice,
"shouÌd anyone bewitch Hairúet on úat ac-
count?"
"Bewitch him?"
"Yes, orúy witchcraÍt caÌÌ male anyoÌ1e
Íradução e Cornunicação - Reüsia BrasÌlêira de ïradutores. N". 17, Ano 2008 . p. 135159
guém. A não ser, é claro, que a pessoa veja os
seres que espreitam na floresta.
Abanclonei meu postq de conladora de
histórias, peguei meu bloco de anotações e pedi
que eles nìe contassem mais sobre aquelas duas
causas de loucura. Enquanto eles falavam e eu
tomava notas, eu tentava calcular o efeito desse
novo Íator no enredo. Hanrlet não tirüa sido
exposto aos sêres que espreitam na floÌesta.
Apenas seus parentes da lirúragem masculina
poderiam enfeitiçá-lo- Exceto os parentes não
mencionados por Shakespeare, tinha de ser
Cláudio quem estava tentando íazer mal a eÌe.
E, é claro, era eÌe mesmo.
Naquele momento, eu evitei pergurÌtas
cìizendo que o glande chefe tafibém se recusou
a acredit que Hamlet estava louco peÌo amor
de OÍélia e nada mais. * EÌe tinha certeza de
que aÌgo muito mais importante perturbava o
coÌação de HaÍrüet.
- 
Os comparheiros de idade de Ham]et
- 
continuei 
- 
thïa]Íì trazido consigo um
grande contador de histórias. Haillet decidiu
pedir que esse homem contasse para o chefe e
todas as pessoas de sua aldeia uma história so-
bre um homem que haüa sido envenenado por
seu irmão porque desejava a esposa dele e que-
ria ser o chefe. Hamlet tilúa certeza de que o
grande chefe não conseguiÌia ou./iÌ a história
sem dar rrm sinal de que era realmente culpado,
e então ele descobriria que seu pai morto lhe
havia dito a verdade.
O welho iaterrompeu, com grande asú-
cia: 
- 
Por que um pai mentiria paÌa o fiÌho?
Eu me resgrardei: 
- 
Hamlet não tirrha
certeza de que era realmente o pai dele.
Era impossívr,l dizer alguma coisa, ììa-
mad, unless, of couÌse, one sees tìe beings tÌrat
Ìurk in the Íorest."
Ì stopped being a storyteller and took out
my notebook and derrLanded to be told more
about drese two causes of rnadless. Even while
they spoke and I jotted notes, I tried to calculate
the effect of thÈ new Íactor on tïe plot. FlanrÌet
had not been e>?osed to the beings that lurk in
úre forests. Orúy his relatives in the male line
could bewitch him. Barring Ìelatives not men-
tioned by Shakespeare, it had to be Clauclius
who was attempting to harm fum. And, of
couÌse, it was.
For the moment Ì staved off questions by
sayiÍìg tÌìat úe great chief aÌso refused Ìo be-
lieve that Hamlet was mad for the love of
Ophelia and nothing eÌse. "He was sure that
something much more importaÍrt was houbling
Hamleís heart."
"Now Hairüe/s age mates," I continued,
"had braught with úem a Íamous storyteller.
Hanìet decided to have this man tell tlre chief
and all his homestead a story about a man who
had poisoned his brother because he desfted his
brother's wife and wished to be chief himselÍ-
Harnlet was sure úe great cÌrief could not hear
the story without maling a sign iÍ he Ìvas irÌ-
deed guìIty, and tìen he would discover
whether his dead father had told him the
truth."
The old man iÌìterrupted, with deep cün-
nirg, "lVhy should a fatÌrer lie to his son?" he
asked.
I hedged: "Hamlet wasn t sure tlÌat it
really was his dead father."
Ìt was impossible to say anyliing, in that
Traduçâo e Comunicação- Reústa BÍasileía de Tradutores. N".17, Ano 2008. p. 135159
_ 
Lefi(, Hfi 0!rtrsleves, I ralì cìs llgrrìk ired 't53
quela ÌírÌ8ua, 6obre visões iÌìspiradas pelo de- language, about devil*in,spiÌed visions.
mônio.
- 
Você quer dizer 
- 
disse ele _ que na
verdade ele era um presságio. e que ele sabia
que as bruxas algu:rras vezes n-t.a.rdam pressá_
gìos falsos. Ilamlet foi um tolo por não consul-
tar logo de partida alguém eryeriente na leitura
de presságios e adivinÌ.ração da verdade. Um
homem-que-vê-a-verdade poderia ter dito a ele
cc)rÌìo o pai havìa morriclo, se ele realmente ti_
nha sido envenenado, e se havia feitiço em tudo
isso; depois, Hamìet poderia ter chamado os
arciàos para resolveÍem a quesl;o.
O ancião sagaz atriscou discordar. _
Como o irmão do pai dele era urn grande chefe,
alguém-que-vê-a-verdade poderia ter meclo de
dizer a verdade. Acho que foi por causa disso
que um amigo do pai de Han:úet _ bruxo e an-
cião 
- 
enviou un1 presságio para que o alTligo
cle seu filho ficasse sabendo. O presságio era
verdadeiro?
- 
Era 
- 
disse eu/ abandonando os es_
pectros e o demônio; teda de ser mesmo uÌn
presságio enviado poÌ um bruxo. _ Ele era
verdadefuo, poi,s quando o contador de histórias
estava fazendo a naÌrativa diante de todo o
gmpo, o grande chefe levantou-se amedÌoÌrtã-
do. Com medo de que Hanlet soubesse de seu
segledo, planejou matá-lo.
A próxima cena apresentava algumas di_
Íiculdades de tradução. Comecei com cuidado:
* O grande cheÍe disse à mãe de Haüúet que
aÍr.ÌÌìcasse do filho o que ele sabia. Mas como,
no coracão de uma mãe, o filho sempre vem em
primeüo lugdr, elc mardou que o importante
ancião Po1ônio se escondesse aíás de um pano
que pendia da parede da cabana de dorrnir da
mãe de Haanlet. Hamlet começou a repreender
"You mean,,, he said, ,,it achrally ta/as an
onìen, and he knew witches sometines send
false ones. FÍarrlet was a fool not to go to one
skilled in reading omeru and divining the trutÌr
in theÍirst place. A man-who-sees_the_truth
could have totd him how his father died, if he
really had been poìsoned, ald iÍ there was
witchcraft in i! then Hanìet could have called
the elders to seftle the matter.,,
The sÌuewd elder ventured to dÈagree.
"Because his fathet's brother was a great chieÍ,
one-who-sees-the-truú mìght tlerefore have
been afraid to tel.l it. I thirk it was for úat rea_
son that a ftiend of Hairúet,s father_a witch
ard an elder-sent an omen so hi,: friend,s son
wouÌd know. Was the omen fue?,,
"'1es," I sal.d,, abandoning ghosts alrd the
devi.L a witch-sent omen ii wcÌ d have to be. ,,Ìt
was true, for when the stotyteiÌer was teltjng his
tale before all úe homestead, the great clúef
rose in Íear. Afraid that Harrtlet knew his seqet
he plarned to have him killed.,,
The stage set oÍ the next bit pÌesentcd
some diÍficuities of translation_ Ì began cau_
üousÌy, "The gÌeat chief told Ha:rrleíe motÌrer
to find out from her son what he knew. But be_
cause a womal's chiÌdren are always first in her
heart, he had the important elder polonius hide
behind a cloth that hung agairut the wall of
Hamleís mother's sleeping hut. Harnlet started
to scoÌd his mother for what she had done.,,
Tradução e Com0nicêÉo, R€üsta BÍasiteiÍa de Ìradutores. N". 12, Ano Z0ìí. oìit Sg
sua mãe pelo que ela havia feíto.
Todos se mostraram chocados. Urn ho_
mcm nurca devetia repreendcr sua mãe.
- 
Ela gritou amedrontada e polônio se
Os aÌÌciãos se entreoÌharam com ar de ex-
trema desaprovação. 
- 
Esse polônio era reaÌ-
mente utÍt tolo e um homem que não sabia de
nada! Que criança não gritaÌia, ,,Sou eu!,,?
Aflita, lembÍei que aquele povo era de
Eu rÌÌe apressei em salvar a reputação de
PoÌônio. 
- 
Polônio falou. Haraúet o ouviu. Mas
ele pensou que era o chefe e queria matá-lo pa-
ra vingaÌ o pai. Ele havia tentado matá_lo antes
naquela noite...
Interrompi o que dizia, incapaz de des-
crever àqueles pagãos, que não acÍeditavam na
vida após a morte, a dÍerença enbe morrer du-
Ìante as pteceo e morrer ,,sem óleos, confissão
nem sacramentos,,.
Mordìsquei milha noz de coÌa, um pouco
perplexa, e depois observei que, afinaÌ de corÌ_
There was a shocked murmu{ from eve_
ryone- A mal should never scold Ìú mother.
"She called out in fear; alrd polonius
The old men Ìooked at each other ìn su_
preme disgust. "That polonius truÌy was a fool
and a man who knew nothing! Ìl/hat chíd
would not know enough to shout, ,Jt,s me!,
" With a pang, I remembered tìat these
I rushed iÍÌ to 6ave polonius,s reputation.
"Polonius did speak. HaÌnÌet heaÍd hiüÌ. But he
thought it Ì.vas the chief and wjshed to kill him
to avenge his father. He had meant to kiÌ1 him
eaÍlier that eyening...,,
I broke down, unable to describe to these
pagaru, who had no belief in indivìdual after-
ÌÍe, úe diÍíerence between dying at one,s
prayers artd dying,,urúouselÌ,d disappointed,
ulaleled."
I nibbled at my koÌa nut in some perplex_
ity, then pointed out thât aÍter alÌ úe man had
mexeu aLÌás do pano. Gritando ,,uDÌ rato!,,, moved behìnd the cÌoú. Shouting, ,A rat!,
Flanrlet pegou seu facão e golpeou o pano. Hamlet took his machete and slashed through
the cloth.,,
Fiz uma pausa para obter um eÍeito dra- Ì paused for dra_n-raüc eÍfect. ,,He had
mático: 
- 
Ele matou polônio. killed polonius.,,
enhrsiasmados caçadores, sernpre com arco, fìe_ people are aÌdent huÌÌters, aÌways armed with
cha e facão em pwúoi ao mais Ìeve Íarfalhar do bow, arrow, and machetei at tlìe fust Íustle in
capim, ulrta flecha iá é colocada a postos, e o ca_ the grass art arrow is aimed and ready, and the
çador grita "caça!". Se nenhumâ voz humana hunter shouls ,,Game!,, If no human voice an-Ìesponde imediatamente, a flecha é dispatada. swers iÍrurediatel, the arrow speeds on itsComo um bom caçador, Hamlet gritara, ,,um way. Like a good hunter, Harrúet had shouted,Ìato!" 
.,A 
rat!,,
Dessa vez eu tinla chocado gÌavemenfe This time I had shocked my audience se_
rnirrlÌa platéia. 
- 
Um homern eÌgueÍ a mão riously. ,,For a mar to raise hÌs hand agairrst hiscontra o irmão de seu pai, que se toÌÌÌou seu father,s broúer and the one who has becomepai, isso é teÌrível. Os anciãos deveriam pemìi_ his father_ that ìs a teryible thing. The elderstir que um homem assim Íosse enÍeìtiçado. ought to let such a man be bewìtched.,,
Traduçào e comunicaÊão - R"ui tu e,rril"iãd" t udrtoo"ìi j z, Ã* 2ooB-ììíG
tas, o homeltì matara o pai de fÌaÌÌì]et.
- 
Não 
- 
serÌtenciou o velho, falando
menos paÌa mìm do que pard os iovens que es-
tavaÍÌ sentados ahás dos anciãos. * Se o irmão
de seu pai matou seu pai, você deve apeÌar para
os comparúreiros cÌe idade de seu pai; eles po-
deur vingáìo. Nenhum homem pode fazer uso
de üolência contra seus parentes mais velhos *
. Outuo pensamento o assaÌtou. 
-Mas se o ir-
mão de seu pai Íosse de Íato sufisientemente
maldoso para enfeitiçar Hamlet e enlouquecê-
lo, a fustória seria realmente boa, porque seria
culpa dele o fato de Hamlet, tendo erúouqueci-
clo, ter perdiclo .ompÌetamente a razão e estar
pronto pàra matar o irmio de seu pai.
Houve um murmúrio de aprovação, ËÌa-
rtLlet eta de novo rÌma boa história paÍa eles,
mas não parecia mais a mesma história para
milr. Pensando nas complìcações de enredo e
tema que viÍiam, perdi a coragem e decidi pas-
sdr rapidamente por cima do lerreno perigoso.
- 
O grarde chefe 
- 
continuei 
- 
não fi-
cou tri.le porque HaÍúet matou Polônio, Isso
llÌe de ú nÌotivo paÍa mandar Hanrlet embora,
com seus dois traiçoeiÌos compaÌheúos de ida-
de, com cartas para o chefe de uma te1Ía distan-
te, dizendo que HaÍüet deveria seÌ assassinado.
Mas Harúet mudou a escrita dos papéis, de
modo que o chefe matou seus companheiros de
idade e não ele.
Deparei com um olhar cheio de reprova-
ção que partia de r]m dos homens a quem eu
haüa dito que ÍalsiÍicação não detectável não
era apenas ìmoral, mas estava além da capaci-
dade humana. Desviei os olhos.
- 
Antes que Haliet pudesse retornar,
LâeÍt--s voltou para o funeral do pai. O grande
cheÍe lhe disse que Hanrlet havia matado Polô-
killeiÌ FlamÌet's Íaüer.
"No," pronourtced the old març speaking
less to me tharÌ to the youìÌg lÌten sitting behind
úe elders. "IÍ your Íather's broúrer has kiÌled
your father, you must appeal to your faúer's
age mates: llrey may avenge him. No man may
use violence against his senior relatives." An-
other úought struck hi:n. "But iÍ Ìris father's
brotìer had indeed been wicked enough to be-
witch Ì I.: rúet ald make him mad that would be
a good story indeed, for it would be his Íault
that Ha-rrúet, being mad, no longer had any
sense and thus was ready to kill his father's
brodrer."
There was a murÍl1lÌ of applause. Ham-
let was agajn a good story to tlem, but it no
longer seemed quite the same story to me. As I
tÌrought over the coming complicatioru of plot
and motive, I lost courage and decided to skim
over dangerous ground quickty.
"The great chieí" I went or1 "was not
sony that HamÌet had kiÌÌed Polonius. It gave
him a reason to send Ha[úet away, with his
two tneacherous age mates, with ÌetteÌs to a
chief o{ a faÌ country, saying that HaÍúet
should be küed. But Hanìlet changed the writ-
ing on their papers, so that the chief kíÌed his
age mates instead."
I encourtered a reproacháí glare Ë-om
one of the men whom I had totd undetectable
forgery was not merely irrruroraì but beyond
human skül. Ì looked the other way.
"Before Hamlet could returrl Laertes
came back for his father's funeral. The great
chief told him Harúet had killed Polonius
Ìadução e Comunicáçáo - Revìsia Brasileira de ÌraduioÍes . N0. 17, Ano 2008 
' 
p. 135159
rüo. LaeÌtes jurou matar HaÌ]ìlet por causa clis-
so, e porque sua iÍmã, OÍélia, ouvindo que seu
pai hayia sido moÌto pelo homem que eÌa ama-
va, erúouqueceue se afogou no r_io.
- 
Você já 5e esqueceu do que the faÌa-
mos?
O velho faÌava com uÌr tom de desapro-
vação. 
- 
Ninguérn pode se vingar de uao lou-
co; Harúet matou Polônio em sua loucura.
Quanto à garota, ela não apenas enlouqueceu,
mas foi aÍogada. Apenas as bruxas podem fazer
âs pessoas se aÍogarem. A água, por si sí não
pode machucar ninguém. É simplesmente aÌgo
que as pessoas bebem e em que se baúam.
Comecei a ficar zangada: 
- 
Se vocês não
gostam da história, eu vou paÌaÍ.
O veÌho fez sinal para que os outros se
agúetassem e colocou mais cerveja pata mim.
- 
Você conta bem a história, e nós esta-
mos ouvindo. Mas está claro que os anciãos de
sua terra nunca lhe contaÍalaÌ o que a históÌia
ÌeaÌmente significa. Não, não interrompa! A-
qeditamos em você quando você fala que seus
lÌábìtos de casamento são diÍerentes, ou que são
dÍerentes suas roupas e armas. Mas as pessoas
são as mesmas em todos os lugaÌes; poÍtanto,
sempre exjstem bruxas e somos nós, os anciãos,
que sabemos como as bruxas atuam. Nós lhe fa-
lamos que era o grande chefe que queria mata,
Hanrlet, e agora suas próprias palavras provam
que estávamos cerlos. Quem eÍa'rn os parentes
homens de Oféüa?
- 
Eìa só tirúa o pai e o irmão.
Estava claro que eu perdera o controle de
HanleL
- 
CeÍtanÌente havia ouhos, mujtos ou- ,,There must have been many more; this
tros; isso também você deve perguntar aos seus also yo,: must ask of youl elders when you get
Laertes swore to kill FlaurÌet because of ttüs,
and because his sister Ophelia, hearìng her fa-
ther had been kilÌed by the man she loved, went
mad and drowned in the river."
"Have you alÌeady forgotten what we
told you?"
The old man was reproachful. "One cal-
not take vengeance on a madlÍrani FIajÌ.Ìlet
killed Polonius irr his madress. As for the girl,
she not orüy went mad, she was drowned. Orúy
witches can make people drown. Water itselÍ
can't huÌt anything. It is merely somet]ÌirÌg one
drinks alrd bathes ir."
I began to get cÌoss- "If you don't üke the
story, Ì'll stop."
The old man made soothing noises and
himself poured me some more beer.
"You teìÌ the story welì' arrd we are Ìjs-
tening, Bui it is clear that the elders of your.
country have neveÌ told you what the story
really meaÌ,s. No, don t interrupt! We believe
you when you say youa marÌiage customs are
different, or your clotÌres and weapons. But
people are úte same ever}rwhere; therefore,
tìere are always witches and it is we, the elders,
who know how witches work. We told you it
was the great chief who wished to kill HamÌe!
ald now your own words have proved us dght.
I44ro were Ophelia's male relatives?',
"1here were orúy her father and her
brother."
Hamlet was cÌearÌy out of my hands.
Traduçáo e Comunicaçao - Revista BrasileiÍã de Ìradutores. N". í7, Ano 2008 . p. j35-159
ãr-Ìciãos quando você voltar para sua terla. pelo back to your coÌ]ntry. lrom what you teu us,que você nos conta, como polônio estava molto, since polonius was clead, it rnust have beendeve ter sido Laertes quem matou Ofélia, em_ Laertes who küed Opheüa, aÌthoLrgh I clo notbora eu não veja motivo par4 is5e. see gÌe reason foÍ it.,,
Nós tínhamos esvaáado um jarro de cer_
veja, e os veÌhos discutiam a questão com urn
irìteÌesse ügeiramente embriagado.
- 
O que o empregado de polônio disse
quando voÌtou?
Com dificuldade, recordei de Reinaldo e
de sua missão. 
- 
Acho que ele não voltou antes
de Polônio ter sido morto.
- 
Escute _ disse o a1ìcião _ e vou lhê
dizer como aconteceu e como sua históÌia vâi
contiauar, e então você poderá me dizer se es_
tou ceÌto. Polônio sabia que o fiIho se envolve_
ria em problemas, e ele fez isso mesmo. Ele ú-
nha mütas multas a pagar por brigas, dívidas e
jogo. Mas ele só tinìa duas maneüas de conse_
guir dirüreiro rapidamente. Uma era casar a ir_
mã imediatamente, mas é dúcil enconkaÌ um
homem que esteja disposto a casar com urna
muÌher que é desejada pelo fiÌho de um chefe.
Pois, se o herdeüo do chefe cometer aduÌtério
com sua esposa, o que você pode fazer?
Apenas um tolo cria um caso com um
homem que atgum dia 5erá seu iuiz. poÌtanto,
Laertes pÍecisou totnar o segunclo caminio: ma_
tou a irmã por meio de Íeitiçaria, afogando_a,
para poder vender o corpo dela secÌeta.mente
para as bruxas.
Levantei uma objeçãol _ EÌes encontra_
ram o corpo dela e o enterraram. Na verdade,
Laertes pulou denho da cova para ver a irmã
mais uma vez... De forma que vocês podem ver
que o corpo estava tealÌnente lá. Hamlet, que
acabara de voltar, pr_rjou ab-ás deÌe.
- 
Que foi que eu lhes disse? _ O ancião
We had emptied one pot of beer, and úe
old men argued úe point with slightly tipsy in-
terest. Filally one of them demanded of me.
"What did the servarrt of polonius sav on
his retur:n?"
Wiú difíicuÌty Ì recollected Reynaldo
and his rnission. ,,1 don,t úinl< he did retum be-
fore Polonius was kiÌled.,,
"Listen," said the elder, ,,and I wiÌl teil
you how it üÌas and how your story wilÌ go,
then you may tell me if I am right. polonius
knew his son would get into trouble, ard so he
did. FÌe had many fines to pay for fighting, arld
debts Írom garnbling. But he had only two ways
of getting money quickÌy. One was ta maÍry oÍÍ
hi,s sister at once, but it is difficuìt to find a man
who wilÌ marry a woman desired by the son oÍ
a chìef. For Í the chiefs he.ir commits adultery
wiú yo'rr wúe, what can you do?
Orúy a fool caÌÌs a case against a man
who will someday be his judge. Therefore
Laertes had to take the second way: he kilìedÌú sister by witchqaft, drowrLing her so he
couÌd secredy selÌ her body to the rvitches.,,
I raised art objection. ,,They fould her
body arrd buried it. Indced Laertes jumped into
thc grave to see hìs sisteÌ once r]1ore_so, vou
see, the body was truly there. Hantet, nho had
jusl come back, jumped irr aÍer hin.,,
"IMhat did Ì telÌ vou?,, The elder ap_
Ìradução e Comunicação - Ruvbb gru@
apelou paÌa os oubos 
- 
LaeÌtes não pretendia
boa coisa corn o corpo da iÍlÌÌã. FÌanrlet o impe_
dir, porque o herdeiro do chefe, como o chefe,
não quer que qualquer outro homem fique rico
e poderoso. Laertes ficaria furioso, porque teria
matado a irmã sem obter neniurn benefício. Ern
nos6a tera ele tentaria matar Fïarrúet poÍ causa
disso. Não foi is6o o que aconteceu?
Mais ou menos 
- 
admiti. _ euando o
grande chefe descobriu que HamÌet ainda esta_
va üvo, encorajou Laertes a mataÌ Haoüet e
matcou uma briga de facões enhe eles. Na luta
os dois jovens foram feridos de morte. A ÍÌãe
de Harüet bebeu a cerveja envenenada que o
chefe havia preparado para ele caso ele ganhas_
se a Ìuta. Quando ele viu sua mãe morrer enve_
nenada, HarnÌeL morrendo, conseguiu matar o
irmão do pai com seu facão.
- 
Es1ão vendo, eu estava ceÌto _ excla-
mou o ancião.
- 
Essa história foi müto boa _ acres_
centou o velho 
- 
e você a contou com muit ì
poucos erros. Houve apenas rnais um ero, bem
no final. O veneno que a mãe de HanÌet bebeu
deslinava-se obviamente ao vencedoÌ da luta,
quem quer que fosse ele. Se Laertes tivesse ga_
nhado, o grarÌde cheÍe o teria envenenado, paÌa
que ninguém soubesse que eÌe tinia tuamado a
moÌte de Harrìlet. Assim, tarlrbém, ele não pre_
cisaria temer o Íeitiço de Laertes; é preciso ter
uur coração íotte para matar a única innã por
meio de rlm Íeitiço.
- 
Algum dia 
- 
concluiu o velho, ajei,
tdndo a to6d eslarrapada * vocé prçcj5a n65
contaÌ mais histórias da sua terÍa. Nós, anciãos,
vamos irstruí-la sobre o verdadeiro significado
delas, para que, qualdo vocô voltar para sua
pealed to the others. ,,Laertes was up to no
good with his siste/s body. FÌanlet prevented
him, because the chieís heir, like a chief, does
not wish any odrer man to grow rich arÌd pow_
erful. Laertes wouÌd be aÌìgry, because he
would have killed hissister without benefit to
hirnself. In ouÌ country he woutd try to kjÌÌ
Hamlet for that Ìeason. Is tlú not what hap_
pened?"
"More or less,', I admittecl. ,,li/hen the
great chief found Harüet was stiÌl aüve, he en_
couÌaged Laertes to hy to kiÌÌ HamÌet and ar-
ranged a Éght with maúetes between them. In
the fight both the young men were wounded to
death. Hamleís mother drark tÌre poisoned
beer that the chieÍ meant for Harrúet in case he
won the fight. l44ren he saw his mother die of
poisorL HaÍúet, dying managed to kiÌl his Ía-
ther's brother wiú his machete.',
"You see, Ì was rightl,, excìairLed the
eldeÌ.
"That was a very good story,,, added úe
oÌd InaÌÌ, "ard you told it with very few mis_
takes." There was iust one moÍe error, at the
very end. The poison Hamleís motler drank
was obviously meant for the surüvor oÍ the
fight, whichever it was. Ìf Laertes had won, the
great chief would have poisoned him, for no
one would krrow that he arrarged Hamleís
death. Then, too, he need not ÍeaÌ Laertes,
witchcraff it takes a shong heart to kill one,s
orúy sister by witchcraft.
"Sometime," concluded úe old man,
gathering his ragged toga about hìm, ,,you must
tell us some moÌe stories of your coultry. We,
who are elders, will instruct you in tÌreir true
meaning, so that when you rehrrn to your owÌì
TÍadução e CcmunicaFo- Revista BGsÌleÍÍa deÌradutores. N".12, eno 2008.ìlãiG
têrra, Êeus anciãos corìstatem que você nãg fi-
cou sentada no meio do malo, mas siÍn no meio
de geote que sabe coisâs e que ,he crÌsinou sa-
bedoria.
L: i . - l.'
i
land your elders wiÌl see drat you have notbeen
sibting in the bush, but arrrong tÌrose who know
tlrhgs arrd who have taught you wisdom."
BOHANNAN, L. Shakespeare in the bush. In: NatuÌat History, ago. / set.7966. Disponível em:
<htÇ://nhmag.com,/search.html?keys=bohaman&sitenbr=157877211"&bgcolor="/"23C78080>.
Acesso em: 29 maio 2008.
DERRIDA, J. O que é uma tradução "teleoante"? Trad. àe OIíüa Niemeyer dos Santos. In: Alfa,
5ão Paulo: UNESP, 44, 2000, p. "1344.
FÌAMILTON, R. Bushmen dodt understand Shakespeare, conferência onlin e 24 set.1992.In:
Shaksper 
- 
the global electronic Shakespeare conference. Disponível em:
<http://www.shakspeÍ.net/archives/2002/1963.htmÌ>. Acesso em: 29 maio 2008.
SPRADLEY, J. P.; MCCURDY, D. W. (eds.) Conformity and ConÍlice Readings in Cultural
Anthropology. Boston: Litde Brown and Company, 10. ed-, 1999.
VENUTI, L. TranslatiorL conmunity, utopia. In: VENUTÌ, L (ed.) The translation studies
reader. New York-London: Roudedge,2004, p. 482-502.
Tradução e Comunicação - Revista Brusilêira de Tradulores. N". 17, Ano 2003 . p. 135-159

Continue navegando