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CUMARINAS CROMONAS E XANTONAS

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CAPÍTULO 21
CUMARINAS, CROMONAS E XANTONAS
SUMÁRIO DO CAPÍTULO
1. Introdução
2. Terminologia e classificação
3. Biogênese
4. Ocorrência e distribuição
5. Propriedades, extração e caracterização
6. Usos e propriedades farmacológicas
7. Furanocumarinas e fototoxicidade
8. Drogas vegetais clássicas
1. INTRODUÇÃO
As cumarinas são amplamente distribuídas nos vegetais, mas também podem ser encontradas em fungos e bactérias. Estruturalmente, são lactonas do ácido o-hidróxi-cinâmico (2H-1-benzopiran-2-onas), sendo o representante mais simples a cumarina (1,2-benzopirona), palavra originada do caribenho cumaru, nome popular de Dipteryx odorata (Aubl.) Willd., Fabaceae. O cumaru, também conhecido por fava-tonka, é encontrado no norte do Brasil e suas sementes contem grande quantidade de cumarina (1 a 3%). Cerca de 13000 cumarinas já foram isoladas de fontes naturais. Suas propriedades farmacológicas, bioquímicas e aplicações terapêutica dependem de seus padrões de substituição.
As cromonas (5H-1-benzopiran-5-onas) representam um pequeno grupo de substâncias naturais, cujas estruturas são isômeros de cumarinas. As furanocromonas dos frutos de Ammi visnaga (L.) Lam. (Apiaceae), planta encontrada nos países do Mediterrâneo, são as mais conhecidas do ponto de vista medicinal, sendo a quelina o seu principal representante, pelas suas ações vasodilatadora e broncodilatadora. Esta cromona foi incluída nas farmacopeias da França, Rússia, Alemanha, Egito e Áustria e faz parte da composição de alguns medicamentos, comercializados em países europeus, com indicações em angina pectoris e em asma brônquica.
As xantonas são metabólitos secundários derivados da dibenzo-γ-pirona. Seu nome é proveniente do grego xanthos que significa amarelo, decorrente de sua coloração característica. As xantonas de plantas superiores são formadas pela combinação das vias do chiquimato e do acetato. A numeração de seus carbonos é baseada na sua origem biossintética Os carbonos assinalados de 1 a 4 são derivados da via metabólica do acetato e formam o anel A. Os carbonos assinalados de 5 a 8 são derivados do chiquimato e formam o anel B.
2. TERMINOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO
Excetuando-se a 1,2-benzopirona, todas as cumarinas são substituídas por um grupo hidroxila na posição 7. A 7-hidróxi-cumarina, também conhecida como umbeliferona, é a precursora das cumarinas 6,7-di-hidroxiladas e 6,7,8-tri-hidroxiladas. Esses grupos hidroxilas podem ser metilados ou glicosilados. Além disso, é também comum a prenilação em várias posições do esqueleto cumarínico, o que em alguns casos, como na prenilação em C-6 ou C-8, origina as pirano- ou furanocumarinas lineares e angulares, respectivamente.
3. BIOGÊNESE
As cumarinas são derivadas do metabolismo da fenilalanina, sendo um dos seus primeiros precursores o ácido p-hidróxi-cinâmico (ácido p-cumarínico), que é hidroxilado na posição C-2´(orto-hidroxilação). O derivado orto-hidroxilado sofre isomerização fotocatalizada da ligação dupla (E→Z). O isômero Z lactoniza-se espontaneamente, produzindo a umbeliferona. A prenilação do anel benzênico nas posições 6 ou 8 do derivado 7-hidróxi-cumarina é o passo inicial na biogênese das furano- e piranocumarinas. A ciclização dos derivados 6- ou 8-isoprenilcumarina ocorre por ataque nucleofílico do grupo hidroxila em C7- ao epóxido formado pela oxidação da ligação dupla do resíduo isopentenila. Dependendo da orientação do ataque nucleofílico, o produto será hidróxi-isopropil-di-hidrofuranocumarina ou será o hidróxi-dimetil-di-hidropiranocumarina. A maioria das cumarinas são derivadas biogeneticamente da via do ácido chiquímico, mas um número significativo delas parece derivas de uma via mista (ácido chiquímico e acetato) como as 4-fenilcumarinas. As 4-n-propilcumarinas, por exemplo, derivam totalmente da via do acetato. As cromonas, embora isoméricas com cumarinas, não são derivados da fenilalanina; origem biogenética provável é a via dos policetídeos.
A biogênese de cumarinas pode ser induzida em resposta a um estresse biótico e abiótico, por uma deficiência nutricional, por mensageiros químicos como os hormônios vegetais e por outros metabólitos externos. As cumarinas escopoletina e aiapina, por exemplo, encontradas no girassol (Helianthus annuus L.), acumulam-se nos tecidos da planta após ter sofrido lesão mecânica, ataque por insetos ou inoculação com fungos. Tem sido mostrado que variedades de girassol com altos níveis dessas cumarinas são resistentes ao ataque de insetos.
As agliconas xantônicas e seus O-glicosídeos correspondentes possuem um intermediário biossintético do tipo benzofenômico, que é formado por uma unidade C6-C1, obtida pela eliminação de dois carbonos de um precursor C6-C3, formado, por sua vez, por três unidades de acetato (3 unidades de malonilCoa), que serão posteriormente ciclizadas, formando o anel xantônico. Já as xantonas C-glicosiladas são formadas por uma via biossintética próxima da via de formação dos flavonoides C-glicosilados, o que explica sua maior distribuição no reino vegetal. Diferentemente das agliconas xantônicas e seus derivados O-glicosilados, as xantonas C-glicosiladas são formadas pela incirporação de uma unidade C6-C3 com duas unidades de acetato (2 unidades de malonilCoa). A benzofenona assim formada é em seguida C-glicosilada. O anel xantônico é finalmente formado pela ciclização oxidativa do intermediário benzofenônico. 
4. OCORRÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO
As cumarinas encontram-se distribuídas predominantemente em angiospermas, sendo as estruturas mais simples as mais encontradas. Furanocumarinas e piranocumarinas lineares e angulares, lignocumarinas, cumarinas diméricas e triméricas são encontradas somente em certas famílias, notadamente as mais primitivas. As famílias mais citadas na literatura pelo conteúdo em cumarinas são: Apiaceae, Rutaceae, Asteraceae, Fabaceae, Oleaceae, Moraceae e Thymeleaceae. Especificamente, com relação às furanocumarinas, estas já foram isoladas e identificadas nas seguintes famílias: Amaranthaceae, Asteraceae, Cyperaceae, Dipsacaceae, Goodeniaceae, Guttiferae, Leguminosae, Moraceae, Pittosporaceae, Rosaceae, Rutaceae, Samydaceae, Solanaceae e Apiaceae.
As agliconas xantônicas se distribuem no reino vegetal de forma significativa, principalmente nas plantas das famílias Guttiferae e Gentianaceae. São encontradas ainda nas famílias Moraceae e Polygalaceae, ou ainda, em número reduzido, nas famílias Leguminosae, Loganiaceae, Lythraceae e Rhamnaceae. Seus derivados O-glicosilados se encontram unicamente nas famílias Gentianaceae e Polygalaceae. No entanto, seus derivados C-glicosilados apresentam ampla distribuição, podendo ser encontrados não somente em angiospermas, como também em fungos e liquens. Essa distribuição seletiva transforma as xantonas em marcadores sistemáticos, apresentando, assim, uma grande importância taxonômica.
A família Guttiferae se destaca e apresenta um número de xantonas comparáveis com o da família Gentianaceae. Mais da metade das agliconas isoladas de Guttiferae são substituídos por isoprenóides ou geranóides, que podem estar ciclizados ou não. Esse tipo de substituição não é encontrado na família Gentianaceae. A família Moraceae contém xantonas mais próximas daquelas encontradas na família Guttiferae. Plantas da família Polygalaceae apresentam xantonas simples, substituídas por grupos hidroxilas ou metoxilas, como as da família Gentianaceae e também xantonas substituídas por grupos dioximetilêlicos e mesmo dímeros. As outras famílias raramente apresentam xantonas e, por isso, não apresentam um grande interesse taxonômico. As xantonas C-glicosiladas, contrariamente às demais, são amplamente distribuídas e são encontradas em angiospermas monocotiledôneas e dicotiledônias e até mesmo em pteridófitas.
5. PROPRIEDADES, EXTRAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO
As cumarinas podem ser encontradas em todas as partes de uma planta, frequentemente como misturas. O fato de possuírem um anel lactônico pode ser, em alguns casos, vantajoso em processos de extração,visto que, em meio alcalino, ocorre abertura deste anel, proporcionando a obtenção das substâncias na forma de sais solúveis em água. A relactonização ocorre por acidificação do meio aquoso, recuperando-se as cumarinas por extração com solventes orgânicos. Entretanto, muitas cumarinas são sensíveis à ácidos e bases, o que impede o uso deste procedimento. Na verdade, com o avanço dos métodos de extração e isolamento, é hoje, na maioria das vezes, desnecessário submeter extratos vegetais a tratamentos químicos preliminares. O desenvolvimento de fases estacionárias diversas para a cromatografia em coluna e camada delgada, tais como géis de sílica com fase quimicamente ligada, Sephadex LH-20 e outras, contribuiu para a separação de misturas de cumarinas sensíveis a adsorventes como gel de sílica de fase normal e alumina. Além disso, técnicas cromatográficas mais rápidas como cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE), cromatografia líquida de média (CLMP) e baixa pressão (CLBP) e cromatografia a vácuo possibilitam separações em menos tempo e com resoluções superiores aos métodos convencionais em coluna aberta.
As cumarinas possuem um espectro ultravioleta (UV) característico, o qual é fortemente influenciado pela natureza e posição dos grupos substituintes. Desse modo, elas são facilmente visualizadas por cromatografia em camada delgada. As manchas do cromatograma, sob ação da luz UV, aparecem em cores diversas, como azul, amarela e roxa, as quais podem ser realçadas após exposição ao vapor de amônia. A utilização de um cromatógrafo líquido de alta eficiência acoplado a um detector ultravioleta do tipo fotodiodo (CLAE/UV) possibilita detectar em pouco tempo a presença de tipos diferentes de cumarinas em extratos vegetais, sem a necessidade de isolamento prévio. Essa técnica fornece o espectro ultravioleta de cada substância eluída. A quantificação de cumarinas em drogas vegetais é comumente realizada por métodos cromatográficos, como cromatografia gasosa em colunas capilares e cromatografia líquida de alta eficiência, utilizando padrões internos ou externos de escolha.
As xantonas podem ser extraídas do material vegetal com solventes, de acordo com sua polaridade. Quimicamente, são diferentes dos flavonoides, mas são muito similares em suas reações de coloração e em sua mobilidade cromatográfica. Sua presença pode ser detectada por cromatografia em camada delgada pela sua coloração sob luz UV, com ou sem adição de amoníaco, ou quando reveladas com KOH a 5% em MeOH, ou então quando se utilizam reveladores gerais para substâncias fenólicas. Para seu isolamento, são frequentemente utilizadas técnicas cromatográficas, tais como a filtração em Sephadex LH-20, cromatografia de partição centrífuga (CPC), cromatografia em camada fina centrífuga (CTLC), cromatografia em contracorrente por gotejamento (DCCC), cromatografia líquida a vácuo (VLC) utilizando gel de sílica com adsorvente, cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) com colunas em fase reversa C18 ou com colunas “Diol”, cromatografia líquida de baixa pressão “Lobar” (LPLC), cromatografia líquida de média pressão (MPLC) utilizando coluna em fase reversa C18 ou coluna RP-8, entre outras técnicas.
Diversas técnicas espectroscópicas podem ser utilizadas para a determinação estrutural das xantonas. Os espectros obtidos na região do infravermelho, assim como aqueles de RMN-H e RMN- C apresentam sinais característicos paras essas substâncias.
Os espectros de UV das xantonas se distinguem geralmente daqueles apresentados por outros polifenóis, como as flavonas, pela presença de quatro bandas de absorção, frequentemente de intensidade decrescente. O máximo de absorção dessas quatro bandas situam-se, respectivamente, nos seguintes comprimentos de onda: 225 a 245 nm (banda I), 245 a 270 nm (banda II), 300 a 345 nm (banda III) e 335 a 410 nm (banda IV). De acordo com o esquema de oxidação do anel xantônico, pode aparecer uma banda de absorção suplementar (banda II´), que é observado na região próxima a 275 nm.
A absorção da luz visível na região de 400 nm é responsável pela coloração amarela das xantonas. Vários trabalhos sobre a aplicação da espectroscopia de UV das xantonas, bem como da utilização de reagentes de deslocamento para os polifenóis já foram publicados. Esses estudos, embora menos aprofundados do que aqueles realizados com flavonoides; permitem obter informações estruturais sobre a posição das hidroxilas livres no anel xantônico, através dos reagentes de deslocamento como NaOH, NaOAc, NaOAc/H3BO3, AlCl3, AlCl3/HLl, conforme descrito na literatura acima citada.
6. USOS E PROPRIEDADES FARMCOLÓGICAS
Muitas cumarinas simples possuem odor característico, destacando-se a cumarina, que foi amplamente utilizada como aromatizante em alimentos industrializados. No entanto, com base em dados sobre toxicidade hepática verificada em ratos, a agência americana Food and Drug Administration (FDA) a classificou como substância tóxica, passando a considerar sua adição em alimentos como adulteração; posteriormente, tal uso foi também banido na Europa. Por outro lado, a cumarina, pelas vantagens decorrentes do seu odor acentuado, estabilidade e baixo custo, continua a ser amplamente utilizada nas indústrias de produtos de limpeza e cosméticos.
Na área de medicamentos destacam-se os derivados de 4-hidróxi-cumarina, descobertos durante a investigação de uma doença hemorrágica no gado alimentado com trevo-de-cheiro-amarelo fermentado; o que levou à descoberta da ação anticoagulante do dicumarol. Esse foi o primeiro fármaco com essa ação por via oral e constituiu o modelo para o desenvolvimento de uma classe de anticoagulantes com o núcleo básico da 4-hidróxi-cumarina, do qual derivam importantes fármacos como a varfarina, entre outros.
A procura por medicamentos de origem vegetal tem conduzido a um renovado interesse farmacêutico em cumarinas, cromonas e xantonas, pelo fato dessas substâncias mostrarem atividades farmacológicas potentes e relevantes e serem de baixa toxicidade para mamíferos.
Para a escoparona 6 (6,7-dimetóxi-cumarina) isolada da planta chinesa Artemisia scoparia (Asteraceae), foram apontadas atividades imunossupressora, relaxante vascular, hipolipidêmica e hipotensora. O ostol 7 (7-metóxi-8-[3-metilpent-2-enil]cumarina) é uma das substâncias ativas isolada de Angelica pubescens Maxim. (Apiaceae), cujos extratos provocaram, em cães, uma resposta hipotensora de curta duração após injeção intravenosa. Ainda, a substância 7 inibiu a agregação plaquetária e demonstrou atividade relaxante das musculaturas lisa e cardíaca, possivelmente devido à inibição das enzimas cAMP-e cGMP-fosfodiesterases e do influxo de cálcio. A atividade antiespasmódica de alguns extratos vegetais de espécies de Viburnum (Caprifoliaceae) tem sido atribuída ao teor de escopoletina 8 e outras cumarinas. Do mesmo modo, diversas di-hidrofurano- e di-hidropiranocumarinas, isoladas de plantas da família Apiaceae, mostraram atividades vasodilatdora, espasmolítica e antitrombótica. Propriedades semelhantes foram também relatadas para uma cumarina sintética denominada cloricromeno 9.
Cumarinas contendo grupos di-hidroxilados em posição orto como a fraxetina 10 (7,8-di-hidróxi-6-metóxi-cumarin), esculetina 11 (6,7-di-hidróxi-cumarina e 4-metilesculetina 12 (6,7-di-hidróxi-4-metilcumarina) são poderosos inibidores da peroxidação lipídica, além de eliminarem o ânion radical superóxido e quelarem íons ferro. Essas propriedades as tornam substâncias de interesse como antioxidantes, de possível aplicação na prevenção de doenças causadas por radicais livres.
Recentemente, algumas cumarinas com atividade anti-HIV foram identificadas a partir de fontes vegetais. Como exemplo, cita-se os calanolídeos A 13 e B 14, isolados das folhas de uma árvore de floresta tropical, Calophyllum lanigenum Miq. Var. austrocoriaceum, família Guttiferae, encontrada na Malásia. Essas substâncias inibiram a replicação in vitro do HIV-1, provavelmente por inibição da atividade enzimática da DNA-polimerasedependente de DNA e da DNA-polimerase dependente de RNA presentes no vírus.
Cumarinas, devido a sua atividade vasodilatadora, podem ser utilizadas no tratamento da impotência masculina. Para ocorrer ereção, as artérias do pênis precisam dilatar para aumentar o fluxo de sangue. As cumarinas osthol, imperatorina, xantotoxina e isopimpinelina em conjunto exibiram propriedades relaxadoras em corpus cavernosum de coelhos com endotélio intacto. Essas substâncias foram isoladas de frutos de Cnidium monnieri (L.) Cusson, uma planta chinesa usada na impotência masculina.
Vários trabalhos científicos já foram realizados evidenciando as importantes atividades farmacológicas apresentadas pelas xantonas. De todas as atividades atribuídas às xantonas, talvez a mais interessante seja a ação inibitória da enzima monoamino-oxidase (MAO), atividade relacionada com o tratamento de estados depressivos. Existem duas formas de MAO: tipo A e tipo B. A MAO A inibe a degradação da serotonina e da noradrenalina e a MAO B inibe a degradação da dopamina. De maneira geral, o estado depressivo pode estar relacionado com uma concentração sináptica muito baixa de neurotransmissores. Esse estado poderia ser alterado pela utilização de um inibidor específico da MAO A, o que aumentaria a concentração sináptica apenas de serotonina e noradrenalina, sem apresentar os efeitos colaterais da inibição da MAO B. As xantonas tem apresentado um grande potencial de utilização na terapêutica para tratamento de estados depressivos por terem demonstrado atividade inibitória potente, seletiva e reversível da MAO A. Um estudo visando avaliar a atividade IMAO de 29 xantonas naturais e sintéticas foi realizado em uma tentativa de relacionar a estrutura química das xantonas com essa atividade. As xantonas mostraram ser responsáveis, em grande parte, pela atividade IMAO apresentada pelos extratos de Hypericum brasiliense Choisy, Guttiferae, o que justificaria a sua potencial utilização na terapêutica como antidepressivo. A atividade de inibição seletiva da MAO-A foi inicialmente descrita para uma outra espécie desse gênero, o Hypericum perforatum L., atividade essa que foi inicialmente atribuída à naftodiantrona hipericina. Estudos posteriores, no entanto, não confirmaram essa atividade para a hipericina. Mais recentemente, uma série de trabalhos publicados em um número especial da revista Pharmacopsychiatry indicou o acilfloroglucinol hiperforina como componente determinante da atividade antidepressiva. Essa substância, entretanto, mostrou ser responsável por uma indesejável interação com outros medicamentos co-administrados, por aumentar a atividade de enzimas envolvidas na metabolização de drogas. Por essa razão, pacientes que utilizam extratos de Hypericum perforatum L. devem utilizar com bastante precaução outros medicamentos co-administrados, principalmente aqueles metabolizados pelo CYP3A4.
Diversos trabalhos tem apresentado as xantonas como potenciais substâncias para o tratamento de câncer. Xantonas e Garcinia hamburyi Hook. f. também apresentaram interessante atividade antineoplásica. Xantonas isoladas de Psorospermum febrifugum Spach mostraram ser responsáveis por uma atividade antileucêmica importante. A xantona que mostrou ser responsável por essa atividade foi isolada (psorospermina) e o mecanismo de ação de sua atividade antileucêmica foi também determinado.
Algumas xantonas (naturais e sintéticas) apresentaram ainda atividade antimicrobiana, inclusive contra Mycobacterium tuberculosis. Xantonas presentes em extratos de Garcinia mangostana L. apresentaram atividade inibitória do crescimento de Staphylococcus aureus. A calozeloxantona isolada de Calophyllum lankaensisA.J.G.H. Kostermans mostrou inibir o crescimento de Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA). Diversos trabalhos demonstrando a atividade antifúngica de xantonas foram também realizados. Estudos recentes atribuíram às xantonas uma interessante atividade antimalárica. 
Diversas outras atividades foram ainda atribuídas às xantonas tais como ação antioxidante, inibição da agregação plaquetária, ações hepatoprotetora, anti-inflamatória e antagonista do PAF, e hipoglicêmica; e anticonvulsivante entre outras. Por outro lado, a toxicidade das xantonas ainda é pouco estudada, e esse é um dos passos limitantes ao seu emprego terapêutico.
7. FURANOCUMARINAS E FOTOTOXICIDADE
As furanocumarinas são utilizadas desde épocas remotas para o tratamento de doenças da pele, tais como psoríase, hanseníase, vitiligo, leucoderma, micoses, dermatite e eczemas. Entretanto, o uso terapêutico dessas substâncias está relacionado à incidência crescente de câncer de pele, o que lhes confere toxicidade. Por isso, sua utilização necessita de uma avaliação risco-benefício rigorosa.
7.1. Toxicidade de furanocumarinas
As furanocumarinas, como a maioria das cumarinas, são substâncias que absorvem fortemente energia na região do ultravioleta (UV) e, por isso, são altamente reativas sob a incidência da luz. A faixa de comprimento de onda para essa fotorreatividade situa-se entre 300 e 400 nm (UVA). Após absorver um fóton, as furanocumarinas formam um estado triplete excitado, que pode reagir com moléculas, tais como as bases pirimídicas ou com o oxigênio no estado fundamental. Disso resulta a formação de oxigênio singlete ou oxiradicais tóxicos como os radicais superóxido e hidróxi. Essas moléculas podem reagir com DNA, RNA, proteínas e lipídios, ocasionando injúria das células que os contém. As furanocumarinas ligam-se às bases pirimídicas do DNA causando mutações citoplasmáticas. Essa capacidade das furanocumarinas de reagirem, quando fotoativadas, com os blocos construtores do organismo vivo, constitui a base para a compreensão de sua toxicidade para mamíferos, insetos, vírus, bactérias, fungos e até mesmo para outras plantas.
A manifestação mais comum da toxicidade das furanocumarinas em mamíferos é a fitofotodermatite, uma reação epidérmica caracterizada por erupções bolhosas, hiperpigmentação, eritema e formação de vesículas. Elas alcançam a pele por contato direto com vegetais que as contém (frutas cítricas, por exemplo) ou por ingestão. A reação de fototoxicidade depende da concentração dos compostos cumarínicos existentes no vegetal em questão e, também, da hipersensibilidade individual.
7.2 Fotoquimioterapia
A ação de furanocumarinas sobre a pele, quando esta é submetida à ação de raios ultravioleta, pode ser utilizada para o tratamento de enfermidades cutâneas; o uso tópico ou oral é acompanhado por uma exposição controlada à radiação ultravioleta como forma de induzir a repigmentação da pele. A terapia PUVA foi introduzida para o tratamento de várias dermatoses como psoríase, micoses, urticária, eczemas e outras. A furanocumarina mais utilizada é o metoxsaleno (8-metóxi-psoraleno), embora o trioxisaleno (trimetilpsoraleno) seja também empregado. A terapia consiste na ingestão da furanocumarina na dose única de 20 a 40 mg, seguida da irradiação da pele com luz UVA (320 a 380 nm) ou luz solar após 2 horas. A exposição à luz UVA pode ser inicialmente rápida (10 a 15 minutos) e progressivamente prolongada. Os resultados esperados são geralmente obtidos após 20 sessões. O tratamento localizado é possível, entretanto tem de ser conduzido com muita precaução e acompanhado por especialistas, devido ao reconhecido potencial carcinogênico da terapia e considerando os potenciais efeitos adverso, tais como catarata e degeneração actínica da pele. A grande desvantagem da fotoquimioterapia são os inúmeros efeitos colaterais produzidos, tais como eritema, formação de bolhas, náuseas, prurido, dor de cabeça e depressão, o que provoca a descontinuação do tratamento. A terapia PUVA é contra-indicada para mulheres grávidas e crianças, em casos de desordens cutâneas agravadas pela luz, e em casos de insuficiência renal e cardíaca.
8. DROGAS VEGETAIS CLÁSSICAS
ÂMIO
Nome científico: Ammi visnaga (L.) Lam.
Família botânica: Apiaceae
Parte usada: frutos
Monografias farmacopéicas: DAB8
A droga consiste dos frutos deste vegetal, que cresce nos países do Mediterrâneo. O uso tradicional na Europa tem sido para aliviar as dores em casos de cólicas renais e outros distúrbios do trato urinário. No entanto, a Comissão E da Alemanha, após uma avaliação inicial positiva em 1986, em que foi considerada apropriada para o tratamento de distúrbios cardiovasculares e do trato urinário em 1994 passou a não recomendar o seu uso terapêutico, considerando a eficácia não comprovada e os possíveis riscos de sua utilização, tendo em vista relatos de toxicidade hepática e reações pseudoalérgicas.
Os constituintes característicos da droga são as furanocromonas: quelina, visnagina, quelol e quelinol e as piranocumarinas angulares: visnadina, samidina e di-hidrosamidina. Os frutos imaturos possuem teores mais elevados de quelina e visnagina. A cromatografia líquida de alta eficiência tem sido utilizada para a determinação quantitativa das cumarinas e cromonas farmacologicamente importantes nos frutos desta planta e em formulações farmacêuticas. Frutos de outra espécie de Ammi denominada Ammi majus L. são utilizadaos como fonte de furanocumarinas, principalmente de xantotoxina (8-metóxi-psoraleno), substância utilizada para o tratamento do vitiligo e da psoríase.
ANGÉLICA
Nome científico: Angelica archangelica L.
Família botânica: Apiaceae
Parte usada: raízes e rizomas secos
Monografias farmacopéicas: Ph. Bras. I
Radix Angelicae é uma droga clássica, do tipo amargo-aromático, obtida por cultivo da variedade Angelica archangelica L. var. archangelica. O uso tradicional é como estomáquico: como estimulante do apetite e carminativo, recomendado em desconforte gástrico como flatulência e sensação de plenitude.
Componentes característicos da droga são o óleo volátil (0,3 a 0,6%, como predominância de hidrocarbonetos monoterpênicos), cumarinas simples e furanocumarinas lineares e angulares, além de lactonas macrocíclicas, ácido fenólicos, flavonoides e esteroides. As cumarinas encontradas em espécies de angélica apresentaram vários efeitos farmacológicos, destacando-se os efeitos como vasodilatadores coronarianos e antagonistas do cálcio.
Devido à presença de furanocumarinas, que podem determinar reações de fotossensibilidade, a utilização terapêutica dessa droga não apresenta relação risco-benefício aceitável.
TREVO
Nome científico: Melitotus officinalis Lam. E ou Melilotus altissimus Thuill.
Família botânica: Fabaceae
Parte usada: folhas e sumidades floridas
Monografias farmacopéicas: Ph. Fr. X
A droga é utilizada tradicionalmente no tratamento de desordens provocadas por insuficiência venosa crônica. Algumas espécies são ainda importantes do ponto de vista agronômico, destacando-se o trevo-de-cheiro-branco (Melilotus albus Medik.), trevo-de-cheiro-amarelo (Melilotus officinalis Lam.) e o trevo-azedo (Melilotus indicus (L.) All.), todos usados como pastagem, adubo, forragem e silagem. Todas as espécies de Melilotus contem, principalmente nas folhas jovens, o melilotosídeo (glicosídeo do ácido 2´-hidróxi-cinâmico), que se hidrolisa facilmente e, por lactonização, forma a cumarina. Além disso, contem ácido o-cumárico e flavonódes. O dicumarol, um potente anticoagulante, pode ser obtido a partir do ácido o-hidróxi-cinâmico, e é também encontrado nas folhas impropriamente fermentadas e nas inflorescências de Melilotus officinalis. Sob certas condições, tal como a acumulação de mofo nas forragens, a cumarina é convertida no dicumarol, que interfere no mecanismo de coagulação sanguínea, conduzindo assim, a processos hemorrágicos. Os sintomas de envenenamento dos animais que comeram essa pastagem fermentada estão relacionados com a perda demasiada de sangue, surgindo edemas sob a pele, devido à acumulação de sangue e hemorragias internas, seguidas de choque e óbito.
CITROS
Nome científico: Citrus aurantium L. e Citrus medica L.
Família botânica: Rutaceae
Parte usada: frutos imaturos
Monografias farmacopéicas: Ph. Bras. I, F. Bras. II
O gênero Citrus (Rutaceae) compreende árvores frutíferas de origem oriental e é onde se encontra grande número de citações sobre as propriedades terapêuticas destas plantas. De uma maneira geral, elas são utilizadas em problemas de baço e estômago, manifestações na forma de distensão abdominal e epigástrica, náusea, vômito e perda de apetite. Os constituintes químicos predominantes desses vegetais são flavonoides, cumarinas e terpenos. A indústria farmacêutica os utiliza como fonte de flavonoides (diosmina e rutina), utilizados no tratamento da insuficiência venosa e como flavorizante. O sumo e as cascas dos frutos cítricos contem furanocumarinas que, em contato com a pele, podem causa lesões de cor escura devido à fototoxicidade destas substâncias.
REFERÊNCIAS
SIMÕES, Claudia M. O. Farmacognosia: da planta ao medicamento. 6ª ed. Florianópolis: UFSC, 2007.

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