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o massacre da candelária trabalho pronto

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Autor e contexto histórico 
	Geraldo Lopes foi um jornalista, mais especificamente um repórter policial, de muita experiência e prática. Trabalhou em grandes veículos da comunicação brasileira como a Última hora, O Globo, Revista Manchete e entre outros. Ganhador do prêmio Jabuti 2001 por escrever o livro “O Sistema”, Geraldo também se destacou por escrever outros livros e um deles foi o romance-reportagem “O massacre da candelária”. 
	Entre os motivos que moveram o jornalista a escrever o romance, está a pretensão de quebrar a visão maniqueísta que a sociedade via os garotos de rua e fazer com que o leitor conhecesse, de fato, os dois lados da história da chacina. Embora sabe-se que a realidade dos moradores de rua também sucede das más políticas e desigualdades do país, o autor revela a frieza e a falta de inocência dos meninos, mostrando que além de perseguidos eles também são perseguidores. Além disso, por ser um repórter criminal experiente, Geraldo é movido por esse extinto e escreve sobre manobras e corrupção dentro da polícia, desmascarando a forma com a qual os PMs “cuidavam” das ruas da cidade do Rio de Janeiro. 
	O Brasil de 1993 e 1994 passava por um dos momentos mais turbulentos de sua história, ao iniciar pelas consequências do impeachment do ex-presidente Fenando Collor de Melo acusado de corrupção e que deixou uma hiperinflação e crise no país. Além desse escândalo, uma série de outros casos de corrupção foram revelados, envergonhando e decepcionando muitos brasileiros. Entretanto, no mesmo ano realizou-se um Plebiscito sobre a forma e o sistema de governo, mas manteve-se a república presidencialista. Mais tarde Fernando Henrique Cardoso elaborou o plano real, o que o ajudou a chegar à presidência. Ademais, outros casos de violência e morte também chocaram o país. Foi nesse contexto histórico que Geraldo Lopes escreveu a obra.
O caso Candelária e a situação do jovem de rua 
	Há 25 anos, na madrugada do dia 23 de julho de 1993, mais de 40 crianças e adolescentes ocupavam as escadarias da igreja da Candelária, no Centro do Rio de Janeiro. Foi quando cinco homens armados desceram de dois carros e atiraram à queima-roupa. “Um crime bárbaro choca o país e repercute no exterior. Sete meninos de rua são executados friamente no centro da cidade”, anunciou o apresentador Cid Moreira, à noite, no Jornal Nacional. 
	Em um documentário da oficina de comunicação da Universidade Veiga de Almeida, relata-se que foram mortos seis menores de 18 anos, quatro morreram a tiros nas escadarias da igreja, um foi assassinado ao tentar escapar, outro morreu dias depois por conta de ferimentos e dois foram levados de carro até o Aterro do Flamengo, aonde foram executados.v
Foto página Vila Cruzeiro - Rj
As vítimas:
	No total, foram oito vítimas de um grupo de crianças e adolescentes. Na lista dos mortos, fornecida pelo site G1, encontrou-se os nomes de Paulo Roberto de Oliveira (11 anos), Anderson de Oliveira Pereira (13 anos), Marcelo Cândido de Jesus (14 anos), Valdevino Miguel de Almeida (14 anos) "Gambazinho" (17 anos), Leandro Santos da Conceição (17 anos), Paulo José da Silva (18 anos) e Marcos Antônio Alves da Silva (19 anos). 
	Seriam nove vítimas, se Wagner dos Santos não tivesse sobrevivido. Ele tinha 21 anos e era guardador de carros do local. O jovem foi acordado e obrigado a entrar num carro, onde foi baleado quatro vezes. Seu corpo e de outros dois jovens foi abandonado em local próximo ao Museu de Arte Moderna (MAM). Foi o relato de Wagner que garantiu a identificação e prisão de quatro envolvidos no crime, três deles policiais militares.
	Oito anos depois, estima-se que 39 das 72 crianças que moravam na candelária, na época do massacre, morreram por causas violentas. Um deles, inclusive, se chamava Sandro do Nascimento que 7 anos depois, fez o sequestro ao ônibus da linha 174 e foi morto por asfixia dentro de um carro da PM. Muitos também vieram a óbito por doenças decorrentes da Aids e outros, cumprem pena em presídios.
 
O possível motivo do massacre:
	Em uma reportagem do Domingo Espetacular, da Record, relata-se que na época, adolescentes acusados de furto, viviam em confronto com os policiais que patrulhavam a região.
	Além disso, aconteceu um fato que teria sido o motivo do ocorrido, contado por Yvonne Bezerra de Mello, defensora dos direitos humanos e primeira pessoa a chegar ao local após o massacre. A professora, que na época dava aula para 250 meninos sem lar, diz que no dia existia uma manifestação e o local estava cheio. Um menino se aproximou de um grupo de crianças que ocupavam o local e ofereceu drogas. Esse adolescente foi levado para o carro da PM e os outros que estavam no local reagiram e atiraram pedras, que quebraram um vidro da viatura. Nesse momento, policiais juraram vingança.
Os acusados:
	No artigo de Leonardo Sakamoto, sobre os 20 anos da Chacina, encontram-se informações de que quatro pessoas foram acusadas após o massacre: Marcus Vinícius Emmanuel, Cláudio dos Santos, Marcelo Cortes, policial que teve o vidro do carro quebrado pela pedra jogada pelas crianças e o serralheiro Jurandir Gomes de França. 
Anos depois, um dos sobreviventes, Wagner dos Santos sofreu outro atentado quando ia para um show no centro da cidade e levou mais quatro tiros. Com esse novo atentado, na época, as autoridades começam a desconfiar que os verdadeiros culpados estivessem soltos. 
	Em 10 de dezembro de 1996, o Tenente Cortes, o soldado Claudio e o serralheiro Jurandir foram absolvidos. Nelson Cunha confessou sua participação no crime e acusou seus colegas policiais Marco Aurélio Alcântara, Arlindo Lisboa Afonso Júnior e Maurício da Conceição, assassinado em 1994. Desses, Emmanuel, Alcântara e Cunha, foram condenados a penas que chegaram a 300 anos de reclusão, respectivamente. Mas, hoje, estão em liberdade, indultados ou em condicional.
A polícia acredita que há, pelo menos, seis envolvidos que não foram identificados.
 
Passado assustador e sobrevivência:
 	Wagner dos Santos, logo após sofrer o outro atentado, foi mandado para fora do país, por meio de um programa de proteção de testemunhas. Em outubro de 1995, o sobrevivente pediu proteção ao presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, para prestar novos depoimentos sobre o caso. Depois disso, se mudou para Suíça e vinha ao Brasil para participar dos julgamentos dos acusados. Em entrevista ao G1, a irmã Patrícia de Oliveira da Silva, conta que o irmão é cego de uma vista e surdo por conta dos tiros levados e que continua morando na Europa, mas até hoje não conseguiu se livrar das lembranças do passado no Rio de Janeiro.
	As emissoras Record e Globo reviveram o caso, 25 anos após o Massacre e fizeram entrevistas com alguns sobreviventes. Para o jornal O Globo, o sobrevivente Adilson Dias, atualmente com 38 anos, conta que foi parar nas ruas por uma questão de sobrevivência. Engraxava sapatos na Central do Brasil e esteve pela Candelária entre 1991 e 1992. Anos depois, trabalhava em uma padaria e assistiu pela TV, a morte de alguns amigos seus no massacre. 
	Elias Alves Amador, de 33 anos, casado e com duas filhas, também foi um dos sobreviventes. Hoje em dia, coordena um projeto de música para crianças. Na turma, também pode-se encontrar crianças de rua com 9, 11 e 12 anos de idade. 
	José Luiz dos Santos, foi abandonado pela mãe com 5 anos, nas dependências do Juizado de menores. Era conhecido na época, como “Escorrego” e tinha acabado de fazer 15 anos quando ocorreu o massacre. No momento, ele conta que tinha ido até a Central do Brasil, roubar um carrinho de cachorro quente. Assim como Wagner do Santos, “Escorrego” também foi mandado para fora do Brasil e ficou por um tempo morando na Europa. Atualmente, tem uma família aqui no Brasil, que o adotou. Se casou, tem dois filhos e trabalha como motorista autônomo. 
	Érica, era conhecida como “Bolinha” e morava na comunidade do Complexo da Maré. Aos 9 anos, fugiu de casa para viver ao redor da Igreja. Passou três vezes pelo sistemade furtos e no momento do ocorrido, estava na porta de outra igreja, a Catedral da Lapa, que servia café da manhã pra moradores de rua. Sobrevivente do massacre, ficava na adolescência entre a rua, favelas e abrigos. Anos depois, arrumou um emprego, virou empresária e transformou sua casa em uma escola de barbearia. Hoje, é casada e mãe de dois meninos.
“A professora das crianças perdidas”
	Dificilmente fala-se sobre o ocorrido sem citar Yvonne Bezerra de Mello, que ficou conhecida após a chacina. A mulher, que até hoje dedica sua vida ao ensino de crianças mais pobres, foi a primeira pessoa que as crianças pediram ajuda após o massacre. A primeira a ver os oito corpos massacrados. A primeira a chamar a atenção sobre a barbárie. Em entrevista para o jornal El País, Yvonne conta inclusive, que já foi sequestrada por policiais para que não testemunhasse. 
Foto Jornal O Globo
	A ligação da professora com as crianças era tanta que em 2000, seu nome voltou a circular quando Sandro Nascimento, sobrevivente da chacina e sequestrador do ônibus da linha 174, foi encurralado por policiais e gritava: “Chama a Tia Yvonne!”. Yvonne conta que só foi saber em 2002, graças ao documentário Ônibus 174, de José Padilha, que se aprofundou nos detalhes do caso.
Há mais de 20 anos, que ela dedica sua vida a educação de crianças necessitadas. Em 98, levou seu método de ensino ao complexo de favelas da Maré e fundou a Escola Uerê, por onde agora passam mais de 400 crianças de seis a 17 anos por curso.
“Candelaria nunca mais!”
Foto site diário do porto 
	Após os assassinatos, surgiu um movimento chamado “Candelária nunca mais!”, formado por várias instituições e segmentos da sociedade civil organizada comprometidos com a defesa dos direitos humanos de crianças e adolescentes. 
	Atualmente, 22 organizações já fazem parte e se unem na “Caminhada em defesa da vida”, que é um movimento não só de mobilização pela vida, paz, liberdade, respeito e igualdade; mas também de denúncia e repúdio a toda e qualquer forma de violência, intolerância, discriminação, crueldade e opressão, sem distinção de raça, classe, gênero ou credo.
Dados atuais
 Quantos jovens até 18 anos vivem nas ruas do Rio de Janeiro janeiro?
	De acordo com o último levantamento da Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos (SMASDH), realizado em julho de 2015, existem 513 crianças e adolescentes vivendo nas ruas do Rio. Desse número, 252 são crianças de até 11 anos, e 261 são adolescentes. Do total, os meninos são a maioria (384).
Quais os fatores levam à situação de rua?
	Uma Pesquisa Nacional sobre População em Situação de Rua foi realizada pelo Ministério do Desenvolvimento Social quanto aos motivos que levam as pessoas a morar nas ruas, os maiores são: alcoolismo e/ou uso de drogas (35,5%), perda de emprego (29,8%) e conflitos familiares (29,1%). Das pessoas entrevistadas, 71,3% citaram ao menos um dos três motivos e muitas vezes os relatos citam motivos que se correlacionam dentro da perda de emprego, uso de drogas e conflitos familiares.
Quais leis os protegem?
- Lei 3326/01 | Lei nº 3326 de 12 de dezembro de 2001
- Art. 1º Fica criado o Programa Intersetorial de Atendimento à População de Rua, no âmbito do município do Rio de Janeiro, nos termos desta Lei.
- Art. 2º O Programa Intersetorial de Atendimento à População de Rua, objeto desta Lei tem como objetivo o atendimento pleno das necessidades da população de "moradores de rua", de modo a promover a sua inclusão social, referenciando-se para tanto no grupo familiar.
- Direitos consagrados no ECA PROTEÇÃO INTEGRAL
	Devem ser dadas, aos menores de 18 anos, “todas as oportunidades e facilidades” para que tenham a chance de desenvolvimento “físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade”.
- ABSOLUTA PRIORIDADE
	 Crianças e adolescentes devem ter prioridade na hora de receber “proteção e socorro em quaisquer circunstâncias”, no atendimento público e na hora da definição de políticas públicas, como no serviço de saúde.
- DIREITOS FUNDAMENTAIS O ECA
	Reitera que as crianças e adolescentes têm os mesmos direitos fundamentais assegurados pela Constituição a todos os brasileiros, como direito à vida, à saúde, ao lazer, à dignidade, à cultura e à liberdade.
- REGISTRO CIVIL
	 O registro de crianças, por meio da certidão de nascimento, é gratuito, sem sanções ou multas para casos de atraso. Também é gratuito, a qualquer tempo, o reconhecimento de paternidade.
- ADOÇÃO Com o ECA
	Um filho adotado passou a ter os mesmos direitos e deveres de filhos biológicos. Eventuais conflitos no processo de adoção dão preferência aos interesses e ao bem-estar do adotando.
- PUNIÇÕES DIFERENTES DE ADULTOS
	Adolescentes não estão sujeitos ao direito penal comum. Caso cometam algum crime, aqui chamado de ato infracional, podem ser aplicadas medidas socioeducativas, dentre as quais a mais severa é a internação, em unidades exclusivas para adolescentes.
- PROTEÇÃO SEXUAL
 	A lei estabelece quais são as violações sexuais contra crianças e adolescentes, que não podem ser envolvidos em cenas pornográficas ou de sexo explícito, com penas de prisão para os responsáveis pelo conteúdo de teor sexual.
- EDUCAÇÃO
	Os pais são obrigados a matricular os filhos no sistema de ensino e zelar pela frequência regular. As crianças e adolescentes têm direito à educação pública gratuita. As escolas devem reportar casos de evasão escolar ou casos em que identifiquem maus-tratos envolvendo os alunos, além de dever respeitar “os valores culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da criança e do adolescente”. Outras garantias da lei incluem: proibição de criança ou adolescente viajar para o exterior sem autorização de ambos os pais ou outros responsáveis pela guarda; atendimento pré-natal gratuito a gestantes; e proibição de qualquer tipo de trabalho a pessoas com menos de 14 anos.
Análise da obra
Personagens:
Russo (Marcos Antônio): Líder do grupo da Candelária, protetor, inteligente;
Fuinha: Quieto, calado;
Gamela: Ama ler, detestava violência;
Turiba: Cabeça-quente, impulsivo, agitado;
Malandrinho: Galanteador, esperto;
Samira: Difícil de ser conquistada, orgulhosa;
Saracura: Cuida de todos;
Nilza: Sonhadora, preocupada 
Pezão: Gosta de tênis, namorador;
Rato: Malandro, estava sempre por dentro dos furtos;
Seu Roberto: Ajudava no que podia, dono da banca;
Dona Conceição: Mãe de Fuinha, batalhadora;
Olho de boi: Líder de outro grupo no Centro
Enredo: Trajetória dos meninos da Candelária e como são suas relações até o momento da chacina.
Espaço: Atópico, ou seja, está em constante conflito.
Tempo: linear, tem começo, meio e fim e a história é contada de acordo com a ordem dos fatos; psicológico, sendo o tempo que você mesmo faz, com aparição de flashbacks, é o tempo de acordo com os seus comportamentos.
Narrador: Pressuposto, pois a história é contada em 3 pessoa, ele conhece tudo sobre os personagens e sobre o enredo, sabe do íntimo e do pensamento e emoções de cada um deles; onisciente intruso, narra ao mesmo tempo que critica e julga os personagens.
	O romance traz toda uma nova perspectiva sobre os acontecimentos envolvendo os jovens da Candelária, enquanto reportagens e textos buscam apenas informar sobre a chacina e seus detalhes. O romance se aprofunda, nos apresenta os envolvidos que presenciaram o acontecimento, suas perdas e sua trajetória, sozinhos e em grupo, até a madrugada do dia 23 de julho. As reportagens contam o após, toda a mobilização que ocorreu por causa da tragédia, a investigação, o choque que o mundo inteiro levou quando soube da notícia. Ainda assim, com o romance podemos conhecer não só os personagens, mas também como o motivo dos acontecimentos, criando uma empatia e uma aproximação com os jovens da Candelária. Tal aproximação é feita pelo autor a partir de seus recursos linguísticos, como o uso da linguagem extremamente informal, com gírias, a descrição fiel dos envolvidos e desuas personalidades e ele conta suas histórias, de perdas e vitórias, para o leitor como se fosse um amigo pessoal. Mas enquanto os textos apontavam a reação do mundo com a chacina, o romance focava nos que presenciaram de perto e como isso impactou cada um deles. Alguns apenas mudaram sua rua de moradia, outros cresceram muito e seguiram um rumo com casa e emprego fixo, outros pioraram e seguiram um caminho mais perigoso no mundo do crime. E não importa para onde cada um foi, nunca esqueceriam do que viveram juntos, aqueles que perderam.
Apresentação do produto como crítica social
	“Eu só quero arrumar uma família. Que todo mundo arrume uma família e vá pra sua casa!” Dizia a menina, que na Candelária vivia, ao repórter que a questionava aquilo que o telespectador ia querer ver e ser comover, por intermédio da telinha, com as crianças de rua do Rio de Janeiro. As brincadeiras repletas de sorrisos e gargalhadas compunham o cenário ao fundo da matéria muito bem elaborada, junto com pessoas que buscavam tornar o dia daquelas crianças um pouco melhor.
	“Pobre criança! Não merecia esse destino. Se eu pudesse faria alguma coisa para ajudar, pode ter certeza que sim!” dizia uma dona de casa, moradora de Ipanema, aos seus filhos que jantavam ao assistir a matéria com as crianças da Candelária ser transmitida pelo jornal. A mesma mulher misericordiosa, que carregava seu terço para onde quer que fosse, negou e chamou de abusada a menina remendada e descalça que lhe suplicou um pouco de comida, para dividir com seus irmãos de bando. A dona de casa que tinha como mantra “fora da caridade não há salvação”, que preferiu jogar fora roupas que não serviam em suas crianças, ao doar para aquelas que tinham o céu como seu teto e a rua como seu abrigo. Aquelas crianças que ao cruzarem seu caminho ela mudava de direção, com o olhar torto e pavoroso, diante a uma preocupação com assaltos.
	Acabada a gravação toda a equipe da emissora foi embora. Os protagonistas desse filme de ação nem se importavam, se sentiam importantes quando esses “bacanas” vinham pedir pra gravar “a onda” deles. “Queria um dia era ser atriz. Sonho, tu sabe assim?” a voz da menina de 13 anos, repleta de desejo, ecoava junto as buzinas de automóveis que passavam pela Candelária. “Que sonho que nada! Tu acha que vai ser atriz? Atriz tem que ter roupa, tem que ter corpo. Tu parece uma lagartixa!” a garotada começou a rir da fala de um menino mais velho que também era da família. “Eu queria era ser que nem o ‘tio’ que meteu o pé. Imagina que louco ser ‘reporto’? Ia ter maior estilo!” falou o mais novo dali, enquanto cheirava um pouco de cola. Todo mundo começou a rir e a gritar “Iala, ‘reporto’!! É repórter! Vai ser burro assim, hein?”. Perto dali passava um grupo de empresários, os engravatados, que saíam para almoçar e olhando aquilo cochichavam entre si comentários sobre aquilo ser “repugnante” ou “eles estragam a paisagem da nossa cidade com essa imundice e gritaria”, acompanhado de reviradas de olhos e dedos, discretos, apontados para as crianças eufóricas e risonhas, que se abrigavam uma nos braços das outras. Uma criança cuidando de outra.
	Apesar do frio e da fome que assolava a molecada, a maioria ou já nasceu na rua, ou não lembra da família, ou não tem família. Quando não são essas as causas normalmente elas são envoltas a um passado dolorido, repleto de abusos e de violência, com isso a preferência de uma pseudo independência no asfalto era atrativa. A galera era unida, se divertiam com o pouco que tinham como as crianças que, de fato, eram. Um se apoiava no outro e confiava no outro. Não tinha a hipocrisia que muitas vezes permeiam as relações familiares, quando se força uma barra porque “ah, mas ela é parente. Tenho que ir!” sendo que, na realidade, há incontáveis desavenças nessa relação. Conflitos mal resolvidos não era com eles! Viver nas ruas é algo muito sério, você precisa estar unido, você precisa ser forte! Pintou problema? Não tem estresse, chega num canto e ‘bate uma real’, e de noite já ficou tudo bem, sinceramente, sem falsidades para sustentar ‘status de relacionamento’! Até porque a noite é o perigo. E é nela que os meninos precisam virar homens, para ficar atentos a qualquer 'rasteira’ que essa traiçoeira possa querer dar.
	Domingo de sol no Rio de Janeiro é certo que a praia vai ficar lotada. Copacabana e seu calçadão trazia ambulantes, banhistas, artistas, pessoas que caminham com seus filhos ou sozinhas. Na areia guarda-sóis, cangas, futebol, música, risadas e cadeiras, isso tudo no meio de várias pessoas. Uma menina de 6 anos brincava de bola com o irmão de 9, sua mãe viu uma família que estava ao seu lado, também com crianças e disse “Vão crianças, chamem eles pra brincar!” dito e feito. Os irmãos chamaram mais dois meninos que estavam na barraca ao lado, tomando refrigerante e comendo biscoito, e eles foram. A mãe loira e bronzeada conversava com a mãe dos dois meninos ao lado, sobre como as crianças eram puras e brincavam umas com as outras sem ao menos conhecer, porque isso não era importante! O ‘barato’ era se divertir pra valer!! “Doce inocência, não é?” uma dizia a outra enquanto passavam bronzeadores na pele. Distraídas com o papo se desligaram dos filhos, no entanto quando voltaram a olhar pra frente observaram os meninos jogarem bola com mais três meninos que estavam sujos, arranhados e com as blusas rasgadas. Ambas levantaram na mesma hora, puxando os respectivos filhos pelos braços. “Não pode brincar com ele. Veja só, você nem o conhece!” dizia a mãe loira, enquanto a outra gritava “E se ele te machucasse? E se alguém visse você brincando com eles, pensariam que sou uma mãe desnaturada!”. Os três meninos se entreolharam e continuaram a andar pelas areias da Zona Sul, até que viram um copo de refresco vazio no chão e começaram a se divertir chutando o mesmo. Essa era a verdadeira pelada.
	“Esses pivetes ainda vão me pagar!!” disse o senhor que acabara de ter o relógio furtado nas ruas da Zona Norte. “Calma pai, não é assim. Eles não tem instrução, passam fome, não tem pai e mãe..” cortando a filha com um grito “Não me interessa! Eles só sabem roubar, matar, eles gostam é dessa vida mole. Cheirar, ficar drogado e partir pra cima. Não é por falta de opção não!” A filha, morena e baixinha, tentava consolar o pai, mas sabia que não ia conseguir fazer muito a cabeça dele. Ela atuava na organização de trabalhos voluntários, no ímpeto de resgatar esses meninos da rua, mostrando que eles tinham habilidades, talentos e aquela realidade podia sim ser alterada! Ela acreditava no potencial deles e estar ali a preenchia de uma maneira única. A maioria se envolvia com ela e com os projetos, diziam que queriam sair dali e “ser alguém de verdade”, mas muitos discordavam também. Era dito até que virariam traficantes, porque o destino deles era ser filho da rua mesmo. Quando ela relatava isso a família durante o jantar, eles riam e diziam “desista, minha filha! Pau que nasce torto nunca se endireita! A vida deles é feita disso. O moleque que te disse isso, que é o destino dele, tem mais juízo que você.” A jovem estudante de Direito só se calava e continuava a comer.
	Assaltos são anunciados todos os dias pelos jornais, mas pouco interessa ao receptor saber quem era o criminoso. “Mais um. Esse mundo está perdido! Tenho pânico de sair na rua com esses bichos a solta”, foi dito por aí. Deprimente a situação do nosso mundo, em que um garoto rouba uma laranja entra no reformatório e sai pior. Em que um indivíduo vai preso em cárcere lotado, por ter fraudado algo pequeno, e sai chefe da ‘boca’ de algum bairro que dá um lucro alto. O mundo está perdido quando a solução encontrada é fuzilar pelas costas a inocência do que é nostálgico para os adultos.
	A situação é comovente de longe, entretanto quando se aproxima do nosso carro o vidro é levantado e a pressa para que o sinal abra é evidente. Na televisão e nos livros dói e dá vontade de chorar, abraçando cada um e dizendo que existe sim alguém que ama todos eles,a realidade é outra. É ver um massacre desses e perpetuar na mesma condição hipócrita. É negar um almoço. É levantar o vidro. É andar mais rápido. É evitar conversar ou até mesmo dar bom dia. É valorar a televisão quando faz busca aos jovens e crianças que viveram a chacina, mas não tomar a iniciativa de mudar seu cenário. Mudar o mundo é árduo trabalhando sozinho, porém atuar ao que está ao seu alcance é benéfico e útil.
	O massacre da Candelária foi um marco na realidade carioca, sangrento e doloroso. Em que a vida de crianças foram tiradas pela ausência de amparo honesto de organizações e, igualmente, da sociedade. Tratar com repulsa, nojo e medo a todo momento só perpetua a ideologia de distanciamento para com essas crianças carentes. O grupo era mais concreto que muitos grupos socialmente aceitáveis, que permeiam nossa conjuntura. Todas as crianças eram lar de todas. O que habitava dentro delas era um sentimento de parceria, com o objetivo de proteger a vida.
	Assim como a vida dos que os ignoram, a vida dos sobreviventes ao massacre seguiu. Uns conseguiram sair das ruas, outros permaneceram ali, no entanto a essência e vontade de evitar a tragédia ocorrida é algo presente em todos. A culpa não foi deles. As mãos do poder provocaram sangue. As mãos da sociedade pode provocar esperança aos que ainda se enrolam no mesmo cobertor nas calçadas.
Referências
http://lessa27.blogspot.com/2006/07/geraldo-lopes-jornalista-talvez-voc-no.html 
https://www.infoescola.com/historia/governo-de-itamar-franco/ 
http://memoria.bn.br/pdf/030015/per030015_1994_00134.pdf 
https://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/em-1993-os-brasileiros-viveram-auge-da-hiperinflacao-que-alcancou-2500-11263960 
http://contandohistoria1977.blogspot.com/2013/08/o-brasil-e-o-mundo-em-1993-cpi-revela.html

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