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DOENÇAS METABÓLICAS ACIDOSE Ana Lucia Schild ETIOLOGIA E PATOGENIA Acidose é uma enfermidade associada à ingestão de dietas com excesso de carboidratos, que são alimentos altamente fermentáveis como: açúcares diversos; alimentos ricos em amido (grãos de cereais, trigo, aveia, milho e sorgo); e ricos em ácido láctico (silagens em geral). Ocorre, principalmente, em criações intensivas de bovinos de corte ou leite. A doença é tipicamente aguda, mas, ocasionalmente, pode ocorrer de forma crônica (1). A doença ocorre em conseqüência do acúmulo de ácido láctico no rúmen, devido ao incremento súbito na quantidade de carboidratos administrados aos animais e/ou trocas bruscas de rações com baixo valor energético para concentrados com alto valor energético, acompanhados de pouca ou nenhuma fibra bruta e sem uma adaptação prévia dos animais a estes tipos de alimentos. Imediatamente após a ingestão de quantidades tóxicas de carboidratos, pela rápida fermentação, ocorre o aumento dos ácidos graxos voláteis e o pH do rúmen começa a cair. Os protozoários e as bactérias Gram-negativas, que degradam a celulose e predominam na flora ruminal normal, morrem quando o pH do rúmen está em torno de 5 e, a partir daí, há rápida proliferação de Streptococcus bovis que produz ácido láctico baixando ainda mais o pH ruminal. Posteriormente, há proliferação de Lactobacillus que continuam a produção de ácido láctico e o pH ruminal continua a cair, podendo nos casos fatais chegar a 4,5 ou 4 (1). EPIDEMIOLOGIA A enfermidade é observada em bovinos de todas as idades que são submetidos a dietas com excesso de carboidratos. Dependendo da palatabilidade do concentrado, da experiência prévia dos animais em consumir este tipo de alimento ou da rapidez com que os animais Acidose 2 aprendem a consumi-lo, a morbidade pode ser de 10%-50% e a mortalidade pode chegar a 22% (2). Os surtos de acidose ocorrem em animais a campo suplementados, em conseqüência da escassez de forragem, com rações concentradas, silagens de milho ou sorgo ou farelos, ou em novilhos e vacas adquiridos para o engorde em confinamento durante o inverno, principalmente, se esses animais passam, sem adaptação prévia, a serem alimentados com esse tipo de alimento. A enfermidade ocorre, também, em animais que têm o hábito de alimentar-se com concentrados, porém têm, subitamente, acesso a grandes quantidades do alimento. Essas quantidades podem ser variáveis de acordo com a capacidade de adaptação da flora ruminal de cada animal e da velocidade de fermentação do concentrado oferecido. O milho, por exemplo, é mais rapidamente fermentável que o sorgo, sendo portanto mais perigoso. Nos últimos anos tem se observado aumento no número de surtos de acidose, em conseqüência do aumento na prática de confinar animais para a engorda, principalmente durante o inverno quando há escassez de forragem. A doença ocorre, geralmente, no primeiro ano de implantação dos confinamentos, quando, por inexperiência dos proprietários, animais criados a campo passam, sem adaptação prévia, a serem alimentados com rações contendo farelo de arroz ou de soja, milho, quirera ou silagens de milho ou sorgo (2). SINAIS CLÍNICOS A observação de sinais clínicos ocorre poucas horas após a ingestão de quantidades tóxicas de carboidratos, que podem variar dependendo da rapidez de fermentação do alimento oferecido, da capacidade de adaptação da microflora ruminal e do comportamento do animal frente ao excesso desse alimento. A enfermidade aguda pode manifestar-se com anorexia, estase ruminal, queda na produção leiteira e fezes pastosas com coloração acinzentada ou amarelada. Neste momento, se a alimentação é imediatamente retirada e os animais são colocados em pastagens há a recuperação total em 3-4 dias. Esses sinais clínicos são, freqüentemente, observados em animais que estão aprendendo a alimentar-se com rações concentradas. Pode observar-se, ainda, um quadro clínico mais variado e grave, principalmente, em animais que já tem o hábito de ingerir alimentos concentrados e que, repentinamente, tem acesso a grandes quantidades do alimento. As mucosas apresentam-se pálidas, há hipertermia e respiração acelerada Acidose 3 e superficial; o conteúdo ruminal pode variar de pastoso a líquido e há desidratação. Posteriormente, observa-se diarréia profusa, intensa desidratação, olhar fixo e brilhante, andar cambaleante, decúbito permanente, coma e morte que pode ocorrer em 12-48 horas após o início dos sinais clínicos (1). A doença pode apresentar-se, também, de forma crônica, podendo observar-se timpanismo irregular recidivante, fezes de coloração acinzentada ou amarelada e mais moles que o normal. Os animais apresentam sobrecarga ruminal após a alimentação e não há o ganho de peso esperado. Os animais podem apresentar, ainda, um quadro de laminite, com crescimento anormal dos cascos e sintomatologia de claudicação. Os sinais clínicos observados nos surtos no Rio Grande do Sul caracterizam-se, de modo geral, pelo quadro agudo da doença com estase ruminal, diarréia, tremores musculares, elevação da freqüência respiratória e depressão, e as mortes ocorrem 12-48 horas após o início dos sinais clínicos (2). PATOLOGIA Na necropsia observam-se conteúdo ruminal líquido e amarelado e sangue escuro. As altas concentrações de ácido láctico no rúmen podem levar a rumenite química aguda, que macroscopicamente caracteriza-se por pequenas manchas azuladas e pouco definidas observadas no saco ventral do rúmen, retículo e omaso. Histologicamente, observa-se aumento das papilas ruminais e vacuolização do citoplasma das células epiteliais, freqüentemente formando vesículas; há infiltrado inflamatório de neutrófilos na mucosa e submucosa e áreas focais de erosão e ulceração. Quando o curso clínico é mais prolongado essas lesões podem complicar-se pela infecção por Fusobacterium necrophorus, que é um habitante anaeróbio do ambiente ruminal, ou por fungos. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é feito, principalmente, pelos dados epidemiológicos, sinais clínicos e alterações macroscópicas. A determinação do pH do conteúdo ruminal é, também, um método de diagnóstico e pode ser feita no animal vivo, retirando-se líquido ruminal por sonda ou paracentese, ou imediatamente após a morte do animal. A observação do líquido ruminal no microscópio demonstra a ausência dos protozoários. As lesões histológicas do epitélio ruminal Acidose 4 são características e podem, também, auxiliar no diagnóstico. Deve ser feito o diagnóstico diferencial de outras enfermidades do sistema digestivo como indigestão ruminal simples ou por sobrecarga, em que ocorre atonia ruminal em conseqüência da administração de alimentos alterados (por exemplo congelados), ou pelo excesso de alimentos pouco fermentáveis; com a enterotoxemia em bovinos jovens, cuja evolução é mais rápida e ocorre apenas nesta categoria, e com a acetonemia, que afeta apenas vacas de alta produção ou no terço final da gestação. A intoxicação por Baccharis coridifolia pode apresentar, também, sinais clínicos e lesões histológicas no rúmen similares aos observados na acidose. CONTROLE E PROFILAXIA Para evitar-se a ocorrência de surtos não deve iniciar-se a alimentação com grãos ou subprodutos de grãos, em quantidade diária maior do que 0,3% do peso corporal dos animais, por um período de 2-4 dias. A partir daí, aumenta-se gradativamente a quantidade, podendo chegar até 1%, que pode ser atingido em um período de 21 dias. Ao primeiro sinal de ocorrência da enfermidade o alimento administrado deveser suspenso. Em casos de acidose grave o conteúdo ruminal deve ser retirado por laparotomia ou sonda, administrando-se água e retirando-a repetidamente por 15-20 vezes. Após o esvaziamento do rúmen administram-se 5-20 litros de líquido ruminal proveniente de animais sadios. Deve realizar-se, também, tratamento endovenoso com solução de bicarbonato de sódio a 5% (5 litros para cada 450kg de peso). Esta medicação pode ser continuada por 6-12 horas com uma solução de eletrólitos ou bicarbonato de sódio a 1,3% em solução salina. Em casos menos severos, quando os animais ainda estão em pé e alerta, e o pH do líquido ruminal é igual ou maior que 5, não é necessário esvaziar o rúmen, podendo ser administrado 500g de hidróxido de magnésio, diluído em água morna, por cada 450kg de peso, ou 0,5-1g/kg de bicarbonato de sódio. Pode ser administrado, também, penicilina ou tetraciclina para controlar a proliferação da flora acidófila aumentada pelo baixo pH ruminal (1). REFERÊNCIAS 1. Radostits O.M., Blood D.C., Gay C.C. 1994. Veterinary Medicine. 8 th ed. Baillière Tindall, W.B. Saunders, London, 1763 p.. Acidose 5 2. Schild A.L., Riet-Correa F., Ruas J.L., Riet-Correa G., Fernandes C.G., Motta A., Méndez M.C., Soares M.P. 1996. Doenças diagnosticadas pelo Laboratório Regional de Diagnóstico no ano de 1995. Boletim do Laboratório Regional de Diagnóstico, Pelotas, n.16, p. 9-34. ________________ CETOSE Ana Lucia Schild ETIOLOGIA E PATOGENIA Cetose é uma enfermidade metabólica dos ruminantes que ocorre em conseqüência de uma desordem no metabolismo energético dos ácidos graxos durante períodos de aumento de sua utilização hepática. Bioquimicamente, caracteriza-se por cetonemia (acúmulo de acetoacetato e hidroxibutirato e seus produtos de descarboxilação, acetona e isopropanol, no sangue), cetonúria, hipoglicemia e baixos níveis de glicogênio hepático (1). Clinicamente, a doença em bovinos (acetonemia) e em ovinos (toxemia da prenhez) ocorre em períodos diferentes do ciclo gestação- lactação, porém o distúrbio bioquímico que desencadeia a enfermidade é o mesmo e ocorre em condições similares de manejo que levam ao estado de balanço nutricional negativo. A enfermidade ocorre pelo aumento das necessidades de glicose no organismo ou pela diminuição brusca da ingestão de carboidratos. Os carboidratos ingeridos são convertidos no rúmen em 2 grupos de ácidos: acético e butírico que são potencialmente cetogênicos; e propiônico que é glicogênico. Quando a demanda de glicose é adequada os corpos cetônicos (ácido acetoacético, acetona e betahidroxibutirato) formados no fígado, a partir da oxidação dos ácidos graxos, são distribuídos para os tecidos para a produção de energia, sendo metabolizados em presença de oxaloacetato. O ácido propiônico é convertido em oxaloacetato e passa a glicose. Quando há falta de glicose no organismo pela diminuição do aporte de carboidratos outras vias de produção de energia são acionadas e a Cetose 6 concentração de oxalacetato, nestes casos, tende a ser baixa, já que está sendo utilizado para a produção de glicose. Os corpos cetônicos produzidos no fígado se acumulam no sangue desencadeando a doença, uma vez que há falta de oxalacetato para sua utilização pelos tecidos (1). EPIDEMIOLOGIA A doença ocorre em vacas de alta produção leiteira, geralmente, no primeiro mês após o parto, em ovinos com gestação gemelar e, no Rio Grande do Sul, em novilhas e vacas de corte no terço final da gestação, principalmente no último mês (2). Em bovinos de alta produtividade leiteira a doença ocorre quando os animais estão em ótimas condições corporais e são alimentados com rações de boa qualidade, existindo uma predisposição individual, que reflete a variação na capacidade digestiva ou eficiência metabólica de cada animal e que pode ou não ser hereditária. É mais freqüente em animais que ficam estabulados durante o inverno e primavera e, raramente, é observada em bovinos em pastagens. Em bovinos de corte a doença ocorre entre os meses de junho e setembro, no terço final da gestação, em novilhas e vacas falhadas, que por não terem tido cria no ano anterior, apresentam-se em ótimo estado nutricional no início do inverno. A enfermidade é desencadeada pela súbita restrição alimentar a que são submetidos os animais, pela escassez de forragem que, normalmente, ocorre na região durante o inverno e/ou pelo manejo inadequado quando são colocados em áreas com baixa disponibilidade de forragem. A morbidade pode chegar a 13% e a mortalidade varia entre 0,7%-8,0% (2,3). Em bovinos a doença é auto-limitante e os animais podem recuperar-se com tratamento. Em ovinos a toxemia da prenhez ocorre, fundamentalmente, em sistemas de criação intensivo, usualmente no último mês da gestação, geralmente gemelar ou, ocasionalmente, de um único cordeiro muito desenvolvido. Neste caso a enfermidade ocorre, também, em conseqüência de curtos e súbitos períodos de restrição alimentar a que são submetidas, principalmente por erros de manejo, ovelhas prenhes previamente bem alimentadas e em boas condições nutricionais. A troca de alimentação no final da gestação, mesmo que de boa qualidade, pode desencadear surtos porque os animais deixam de se alimentar em conseqüência da falta de costume com o novo tipo de alimento. A exposição ao mau tempo pode, também, aumentar a incidência da doença, uma vez que os animais tendem a ficar mais Cetose 7 tempo a procura de abrigo do que se alimentando. Fatores que levam ao estresse como tosquia, dosificações, transporte, mudanças no ambiente e confinamento de animais não acostumados, realizados no final da gestação podem, também, induzir o aparecimento da enfermidade (1). A enfermidade nessa espécie é altamente fatal, com letalidade próxima de 100%. SINAIS CLÍNICOS Em vacas de corte prenhes os sinais clínicos caracterizam-se, inicialmente, por hiperexitabilidade, agressividade e atitude de alerta; observam-se, também, tremores musculares e incoordenação com ataxia dos membros posteriores. Pode ser observado, ainda, ptialismo, dispnéia, corrimento nasal seroso, diminuição dos movimentos ruminais e constipação, com presença de fezes de consistência aumentada. Alguns animais podem apresentar temperatura de 40º- 40,5ºC. Um a 4 dias após o início dos primeiros sinais os animais ficam em decúbito esternal permanente e a morte ocorre 3-7 dias após o início da enfermidade (2). A maioria dos animais tratados antes de apresentarem decúbito permanente recuperam-se. Em vacas de alta produção leiteira a doença pode ocorrer como uma síndrome debilitante com gradual e moderada perda de apetite e queda na produção de leite, em um período de 2-4 dias. Os animais perdem peso rapidamente e apresentam-se deprimidos. Poucos animais morrem, mas se não tratados, embora se recuperem espontaneamente, a produção de leite não retorna aos padrões anteriores. Podem ocorrer sinais clínicos da forma nervosa, que aparecem subitamente e são semelhantes aos que ocorrem em vacas de corte (1). Em ovelhas os sinais clínicos são da forma nervosa da enfermidade. Geralmente, os surtos prolongam-se por algumas semanas, adoecendo poucos animais a cada dia. Inicialmente, as ovelhas separam-se do restante do rebanho e aparentam cegueira, permanecendo alerta, porém sem se movimentar. Se são forçadas a andar, batem-se em obstáculos ou pressionam a cabeça contra os mesmos; apresentam constipação e fezes secas. Em estágios mais avançados, apresentam tremores musculares, principalmente da cabeça, salivação, contrações clônicas dos músculoscervicais, causando dorsoflexão ou desvio lateral da cabeça e andar em círculos. Os tremores musculares se estendem ao corpo todo, levando ao decúbito e convulsões tônico-clônicas. Os animais permanecem deitados após as convulsões podendo levantar-se posteriormente, Cetose 8 assumindo uma posição característica de olhar as estrelas. Quando tentam andar apresentam incoordenação e tornam a cair. Os animais afetados ficam em decúbito permanente 3-4 dias após o início dos sinais clínicos e permanecem em profunda depressão até a morte. O curso clínico pode variar entre 2-7 dias, sendo rápido nos animais muito gordos (1). PATOLOGIA Na necropsia o fígado apresenta-se amarelado e as lesões histológicas caracterizam-se por marcada degeneração gordurosa dos hepatócitos. Nos demais órgãos não são observadas lesões de significado patológico. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é realizado pela epidemiologia, sinais clínicos e pela determinação de corpos cetônicos na urina ou no soro. Em bovinos deve ser feito o diagnóstico diferencial com outras enfermidades que cursam com sinais clínicos nervosos como raiva, listeriose, tristeza parasitária, intoxicação por Senecio spp. e intoxicação por Claviceps paspali, que são enfermidades que ocorrem em várias categorias de animais e não somente em vacas prenhes. Em ovinos deve ser feito o diagnóstico diferencial, além de raiva e de listeriose, também, de lesões do sistema nervoso central por Coenurus cerebralis. Deve diferenciar-se, também, de hipocalcemia, que pode ocorrer, igualmente, em condições de estresse, afeta um grande número de animais ao mesmo tempo e tem um curso clínico mais rápido, sendo que os animais respondem rapidamente ao tratamento com soluções de sais de cálcio. No caso de vacas de alta produção leiteira, quando a enfermidade apresenta-se inicialmente como uma síndrome debilitante, deve ser feito o diagnóstico diferencial de outras enfermidades que cursam com perda do apetite e emagrecimento progressivo e que podem, secundariamente, produzir cetose como indigestões e retículo-pericardite traumática. CONTROLE E PROFILAXIA Vacas e vaquilhonas que estão na primeira fase da doença podem recuperar-se quando são transferidas para pastagens ou suplementadas com feno e melaço. O uso de medicamentos que Cetose 9 aumentem a glicemia e restabeleçam o apetite e a ingestão de alimentos, pode ser eficiente na recuperação dos animais (2). A administração endovenosa de 500ml de solução de glicose a 50% pode recuperar rapidamente os animais pela hiperglicemia imediata que ocorre, porém em muitos casos a medicação deve ser repetida várias vezes. O uso de glicerina ou propileno glicol na dose de 225g duas vezes ao dia durante 2 dias, seguido de 110g diariamente por mais 2 dias, por via oral ou misturado ao alimento e precedido de injeção de glicose é, também, eficiente no tratamento da enfermidade. A administração de 10mg de dexametasona produz estado hiperglicêmico por 4-6 dias em animais doentes. Insulina associada a glicose ou glicocorticóides na dose de 200-300 UI por animal, repetida em 24-48 horas, é eficiente, principalmente no início dos sinais clínicos. Anabolizantes têm sido recomendados com sucesso no tratamento da enfermidade. Em bovinos de alta produção leiteira os tratamentos mencionados anteriormente são eficientes e poucos animais morrem em conseqüência da enfermidade (1). Em ovinos a enfermidade é altamente fatal e as ovelhas só respondem ao tratamento se for realizado no início dos sinais clínicos. O tratamento endovenoso com 5-7g de glicose deve ser acompanhado de solução isotônica de bicarbonato de sódio ou solução de Ringer com lactato. Em animais de alto valor a remoção do cordeiro por cesariana ou a indução hormonal do parto podem dar bons resultados se realizados no início dos sinais clínicos, já que nos estágios mais avançados, em geral, a condição é irreversível (1). A doença em vacas de corte, que é mais comum no Rio Grande do Sul, pode ser prevenida evitando-se colocar animais no final da gestação e que estão em boas condições nutricionais, em áreas com pouca disponibilidade de forragem. Em vacas de alta produção leiteira a profilaxia da doença está diretamente relacionada a uma nutrição adequada durante o período de lactação e o período seco. Em ovinos a prevenção da enfermidade segue as mesmas recomendações para a enfermidade nos bovinos. A melhora do plano nutricional dos animais deve ser feita na metade final da gestação, mesmo que isto signifique restringir a alimentação no período anterior. O estresse por manejo constante, tosquia, dosificações e transporte, bem como mudanças no tipo de alimentação, devem ser evitados no terço final da gestação; alimentação extra e abrigos nos potreiros onde os animais permanecem durante a parição devem ser oferecidos durante invernos muito rigorosos (1). Cetose 10 REFERÊNCIAS 1. Radostits O.M., Blood D.C., Gay C.C. 1994. Veterinary Medicine. 8 th ed. Baillière Tindall, W.B. Saunders, London, 1763 p.. 2. Riet-Correa F, Schild A.L., Méndez, M.C., 1990. Cetose em vacas de corte em gestação. Pesq. Vet. Bras. 10: 43-45. 3. Schild A.L., Riet-Correa F., Méndez M.C., Ferreira J.L., Brod C.S. 1989. Laboratório Regional de Diagnóstico. Doenças diagnosticadas no ano 1988. Editora Universitária, Pelotas, 59 p. ________________ OSTEODISTROFIA FIBROSA Maria del Carmen Méndez ETIOLOGIA E PATOGENIA Osteodistrofia fibrosa nutricional é uma doença metabólica do osso que ocorre em conseqüência da ingestão de dietas com baixo teor de cálcio e relativamente altas concentrações de fósforo. Caracteriza- se por hiperparatireoidismo, aumento generalizado da reabsorção óssea e substituição por tecido fibroso. Os eqüinos requerem uma relação cálcio-fósforo de aproximadamente 1:1. Relação de 1:3 ou menores, podem levar à osteodistrofia fibrosa. O desequilíbrio nutricional ocorre com dietas com níveis baixos de cálcio, dietas com excesso de fósforo mas com níveis normais ou deficientes de cálcio, e dietas com quantidades inadequadas de vitamina D. O desequilíbrio pode ocorrer, também, em conseqüência da ingestão de pastagens que contêm cristais de oxalato de cálcio. Neste caso, a ingestão de Ca e P e sua relação podem estar normais, mas o Ca não está disponível para absorção, levando a uma deficiência de cálcio e hiperparatireoidismo. Em conseqüência do desequilíbrio na relação Ca:P da dieta, geralmente devido a ingestão de rações com altos níveis de fósforo, há hiperfosfatemia e estímulo das paratireóides (hiperparatireoidismo nutricional) com aumento da secreção do paratormônio, causando reabsorção óssea para elevar a calcemia. Osteodistrofia fibrosa 11 EPIDEMIOLOGIA A osteodistrofia fibrosa é uma doença principalmente de cavalos e outros eqüídeos, que são alimentados com dietas altas em fósforo e com níveis baixos de cálcio. Os eqüinos são muito sensíveis aos efeitos de rações com altas concentrações de fósforo. A doença ocorre com maior freqüência em animais jovens e em fase de rápido crescimento, principalmente em animais confinados, alimentados com cereais, milho e subprodutos de cereais e que não recebem uma suplementação adequada de cálcio. No Rio Grande do Sul, a doença é freqüentemente observada em cavalos utilizados para serviços na cidade, mas tem sido observada, também, em haras de Puro Sangue Inglês (2,3). A enfermidade é descrita, também, em pôneis no Estado de Minas Gerais (4). No Rio Grande do Sul, descreve-se um surto em cabras (1). A doença pode ocorrer, também, em forma enzoótica,em conseqüência da ingestão de pastagens. Neste caso, a ingestão de Ca e P e sua relação estão normais, mas a doença ocorre devido à ingestão contínua de oxalatos. Os cristais de oxalato de cálcio presentes nas pastagens não são digeridos no trato alimentar do cavalo, até que alcançam o intestino grosso. Como o sítio de absorção do cálcio é no duodeno, o cálcio não está disponível para absorção, acarretando a deficiência e hiperparatireoidismo. Pastagens perigosas contêm, geralmente, mais de 0,5% de oxalatos totais na matéria seca. Dentre as pastagens tropicais que podem produzir este quadro estão Setaria anceps, Cenchrus ciliaris, Panicum maximum var. trichoglume, Pennisetum clandestinum e Brachiaria mutica (6). Nas áreas de cerrado do Brasil Central a doença ocorre em eqüinos mantidos em pastagens de Bachiaria humidicola, as quais contêm elevados níveis de oxalato e baixos níveis de cálcio (5). No estado do Mato Grosso do Sul a doença é observada em pastagens de Bachiaria spp. (Ricardo Lemos, 1997. Comunicação pessoal). SINAIS CLÍNICOS É uma doença de evolução crônica. O quadro clínico clássico é denominado “cara inchada”. Caracteriza-se por abaulamento dos ossos da face, devido a tumefação e amolecimento, com aumento bilateral e simétrico dos ossos faciais, que causam interferência na respiração e dispnéia. Relatam-se casos com evolução de 20-30 dias Osteodistrofia fibrosa 12 (2) e de 2-3 meses (6), desde a observação dos sinais clínicos, por parte do produtor, até a morte ou o sacrifício dos animais. Outros sinais clínicos que podem ser observados são incoordenação do trem posterior; dificuldade para caminhar e para levantar-se; dificuldade de deglutição, caindo da boca parte do alimento; corrimento ocular; depressão e anorexia. Em alguns casos, pode-se evidenciar, além desses sinais, assimetria dos músculos dos membros posteriores, levando o animal a dar passos curtos com esses membros e fazer o apoio nas pinças. Esses sinais observam-se, principalmente, em cavalos de corrida, com lesões graves de osteodistrofia fibrosa em todo o esqueleto, sem que se observem deformações nos ossos da face (cara inchada). Fraturas e desprendimento de ligamentos podem ocorrer durante o trabalho. Nas etapas finais da doença verifica-se emaciação e anemia. Membros anteriores arqueados, não oclusão normal da boca, mantendo a língua exposta, tumefação da mandíbula e dentes frouxos são alterações descritas em cabras (1). PATOLOGIA Na necropsia observa-se severa fragilidade óssea e porosidade a nível de todo o esqueleto, principalmente dos ossos da cabeça. O osso da mandíbula, maxilar e ossos nasais estão substituídos por tecido fibroso assim como, também, a medula óssea vermelha está substituída pelo mesmo tecido fibroso. Histologicamente, observa-se severa osteopenia, caracterizada pela presença de poucas e finas trabéculas ósseas, ao redor das quais observam-se osteoblastos agrupados, numerosos osteoclastos e lacunas de Howship. No espaço entre as trabéculas, há abundante tecido fibroso e, também, osteoclastos agrupados, indicando uma intensa reabsorção óssea. DIAGNÓSTICO O diagnóstico se faz baseado nos sinais clínicos e dados epidemiológicos. É importante conhecer o tipo de alimentação que os animais recebem, avaliando-se, principalmente, as concentrações e a relação de Ca e P presentes no alimento. Pode não haver alterações significativas nos níveis séricos de Ca e P; no entanto, os níveis de cálcio tendem a ser mais baixos que o normal, e os valores séricos do fósforo inorgânico e a atividade da fosfatase alcalina mais elevados. Osteodistrofia fibrosa 13 As lesões observadas na necropsia e na histologia são características da doença. CONTROLE E PROFILAXIA Animais alimentados com dietas com cereais, milho ou farelo de arroz ou trigo, que são ricas em fósforo e baixas em cálcio, devem ser suplementados com níveis adequados de cálcio. Uma ração adequadamente balanceada, com uma relação aproximada de Ca e P de 1:1, e não mais ampla do que 1:1,4 é preventiva para cavalos; e, animais afetados podem ser tratados através da correção do desequilíbrio desses elementos. Lesões severas podem desaparecer com o tratamento adequado. Animais alimentados com feno ou rações de cereais podem ser suplementados com alfafa, feno de leguminosas ou carbonato de cálcio. Os suplementos como fosfato de cálcio ou farinha do osso não são tão eficientes, devido a seu conteúdo adicional de fósforo. REFERÊNCIAS 1. Driemeier D., Oliveira R.T., Colodel E.M., Schmitt A.C., Reischak D., Germer M., Tejera C.R.D. 1997. Descrição de um caso de osteodistrofia fibrosa em cabras. Anais. Encontro Nacional de Patologia Veterinária, 8, Pirassununga, SP. PA-27. 2. Ferreira J.L.M., Riet-Correa F., Schild A.L., Méndez M.C., Delgado L.E. 1991. Laboratório Regional de Diagnóstico. Doenças diagnosticadas no ano 1990. Editora Universitária, Pelotas, RS, n. 11, p. 27-28. 3. Guimarães E.B., Nunes V.A., Chquiloff M.A.G., Souza J.C.A. 1984. Osteodistrofia fibrosa generalizada em pôneis no Estado de Minas Gerais. Arq. Bras. Med. Vet. Zoot. 36: 265-274. 4. Nunes S.G., Silva J.M., Schenk J.A.P. 1990. Problemas com cavalos em pastagens de humidicola. Comunicado Técnico Nº 37, CNPGC, EMBRAPA, Campo Grande, MS. p. 1-14. 5. Radostits O.M., Blood D.C., Gay C.C. 1994. Veterinary Medicine. Baillière Tindall, London, England. p. 1439-1440. 6. Schild A.L., Schuch L.F., Riet-Correa F., Motta A.C., Ferreira J.L.M., Raposo J.B., Pereira D.I.B., Rivero G.R., Fernandes C.G., Ruas J.L. 1997. Doenças diagnosticadas pelo Laboratório Regional de Diagnóstico no ano 1996. Boletim do Laboratório Regional de Diagnóstico. Pelotas, n 17, p. 24-26. Osteodistrofia fibrosa 14
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