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Revista Psique A mãe invisível

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Tiane Lima

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editorial
Ser mãe é vivenciar 
contrações e contradições
Gláucia Viola, editora
3ER�MÎE�NÎO�Ï�UMA�PROlSSÎO�� 
NÎO�Ï�NEM�MESMO�UM�DEVER��Ï�APENAS�UM�
DIREITO�ENTRE�TANTOS�OUTROS�
Oriana Fallaci
A 
maternidade é, sem dúvida, a construção de um novo papel na vida da mulher. Acredito que 
mesmo já tendo passado por esse momento mais de uma vez, cada gravidez tem a sua particu-
laridade de sentimentos e emoções. 
O fato é que a idealização da maternidade faz parte da nossa cultura. Ela já começa antes da 
gestação, com um movimento punitivo e de muito julgamento às mulheres que defendem o seu direito de 
NÎO�QUERER�SER�MÎE��¡�DIFÓCIL�A�SOCIEDADE�ENTENDER�O�DESEJO�DE�NÎO�TER�lLHOS��/�CONCEITO�DE�SER�COMPLETO�POR�
meio da maternidade manifesta-se ainda durante a infância através das brincadeiras de boneca. 
/�MITO�DE�QUE�ESSE�Ï�O�PERÓODO�MAIS�LINDO�DA�VIDA�DE�UMA�MULHER�PERMANECE��PELO�MENOS�ATÏ�O�lNAL�DA�
INFÊNCIA�E�A�ENTRADA�DA�ADOLESCÐNCIA�DO�lLHO��.OS�PRIMEIROS�ANOS��TUDO�Ï�UMA�NOVA�DESCOBERTA��O�ANDAR��
O�FALAR��O�COME¥O�DA�ESCRITA��ENTRE�OUTROS�ENCANTAMENTOS��/�FOCO�Ï�SEMPRE�A�CRIAN¥A��-AS�ONDE�lCA�A�MÎE�
nesse processo? Seus medos, suas inseguranças, suas dúvidas? Permanece tudo pra-
ticamente invisível, diluído em meio aos cuidados do bebê e na luta emocional de 
conciliar maternidade, carreira, vida afetiva e individualidade. Sim, porque a perda da 
identidade da mulher diante da vivência materna é um fenômeno aceito socialmente. 
Frente a esse cenário, esta edição da Psique Ciência & Vida, convidou a psicóloga 
perinatal Raquel Jandozza para debater esse paradoxo que envolve intensa felicidade 
EM�SER�MÎE�E�OS�CONmITOS�GERADOS�PELA�hINVISIBILIDADEv�DA�PRØPRIA�IDENTIDADE�A�PARTIR�DAÓ��
h!O�ENGRAVIDAR�� A�MULHER� SE�VÐ�DIANTE�DE�MUDAN¥AS� FÓSICAS�E�BIOLØGICAS�COMUNS��
contudo, ao mesmo tempo, passa a ocupar um papel social investido de uma série de 
VALORES�E�CONCEP¥ÜES�QUE�A�ENGESSAM�EM�UM�hMODELOv�NO�QUAL�SØ�LHE�RESTA�SE�ADE-
QUARv��EXPLICA�2AQUEL�NO�ARTIGO�DA�PÉGINA����
Essa adequação, porém, é custosa em muitos sentidos e possui questões muito sub-
jetivas da mulher. É por essa razão que a maternidade passou a ser estudada e com-
PREENDIDA�POR�DIFERENTES�CAMPOS�DO�SABER��INCLUSIVE�PELA�0SICOLOGIA��.ESSE�SENTIDO��O�
texto apresenta também a discussão sobre o modelo obstétrico tradicional e a imple-
mentação de alternativas como o Parto Humanizado. Para a psicóloga, esse procedi-
mento oferece à mulher a possibilidade de retomar seu lugar de protagonista ativa tanto na sua gravidez, no 
parto diferenciado e, consequentemente, no exercício materno. 
Que esse artigo contribua para que as contrações e as contradições da maternidade sejam vividas em 
equilíbrio aos outros aspectos também importantes da vida. 
Boa leitura! 
Gláucia Viola
WWW�FACEBOOK�COM�0ORTAL%SPACODO3ABER
12
3R
F
CAPA
sumário
07/03/2017 13:17:5
9
MATÉRIAS
ENTREVISTA
Para Cristiana Facchinetti, 
a Psicanálise precisa descobrir 
novos caminhos para enfrentar 
alterações profundas nas 
subjetividades humanas
SEÇÕES
06 EM CAMPO
16 IN FOCO 
18 PSICOPOSITIVA
20 PSICOPEDAGOGIA
22 UTILIDADE PÚBLICA 
30 PERFIL 
32 COACHING
34 LIVROS
48 NEUROCIÊNCIA
50 RECURSOS HUMANOS
52 CIBERPSICOLOGIA 
54 SEXUALIDADE 
64 DIVÃ LITERÁRIO
66 CINEMA
80 EM CONTATO
82 PSIQUIATRIA FORENSE
Dislexia em pauta 
Não se trata de um problema 
comportamental ou educacional, 
AINDA�QUE�ESSES�POSSAM�DIlCULTAR�A�
IDENTIlCA¥ÎO�E�MELHORA
08
Afetividade rompida 
!�DIFÓCIL�ACEITA¥ÎO�DO�lM�DA�RELA¥ÎO�
ESBARRA�EM�CONmITOS�PSICOLØGICOS�
COMO�O�AMOR�PRØPRIO�E�O�RESGATE�
de quem somos como indivíduos 
Diagnósticos incerto 
Equívocos sobre a Dislexia ainda 
a relacionam às questões de 
hereditariedade e à possível maior 
incidência em meninos
24
74
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Combate à invisibilidade
/�MERGULHO�NO�UNIVERSO�
MATERNO�DA�GRAVIDEZ� 
e na criação de um 
lLHO�FAZ�COM�QUE�A� 
mãe vivencie a perda 
da identidade de mulher 
Dossiê: NOVOS 
MECANISMOS DE 
APRENDIZAGEM
Habilidades socioemocionais 
SÎO�FERRAMENTAS�DE�APRENDIZADO�
E�DEVEM�SER�ALVO�ESTRATÏGICO�DA�
atenção de educadores e familiares 
www.portalciencia
evida.com.br
psique ciência&vid
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ia
 
Pesquisadores 
como Jean Piag
et 
dedicaram sua 
obra 
para compreen
der 
e explicar o mu
ndo 
da criança e o 
seu 
desenvolvimen
to 
emocional, além
 
do tanto que e
sses 
fatores influenc
iam 
no processo de
 
aprendizado
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O universo da 
COGNIÇÃO
e o ato de 
aprender
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23/02/2017 12:50:32
35
70
56
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 5www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 5
CONSCIÊNCIA FEMININA
REVISTA FILOSOFIA – EDIÇÃO 124
giro escala
Em artigo da edição 124 da 
revista Filosofia Ciência&Vida , 
Isaque Trevisam Braga, mestre em 
Filosof ia pela Pontif ícia Universi-
dade Católica de São Paulo e espe-
cialista em Filosof ia Clínica pelo 
Instituto Interseção de São Paulo, 
destaca como a Filosof ia tem o ob-
jetivo de liberar o homem daquilo 
que é denominado imprevisível, 
além de indicar os limites de qual-
quer classif icação, acabando por 
oferecer ao homem a liberdade 
que, em uma situação de ordena-
mento total, coincide com a indi-
cação do espaço do possível.
Para ele, em consonância com 
ESSE� PAPEL� ATRIBUÓDO� Ì� &ILOSOlA�� A�
&ILOSOlA� 0RÉTICA� COMO� ACONSELHA-
MENTO� lLOSØlCO� SURGE� COMO� UMA�
atividade bastante conhecida na 
%UROPA� E� NO�MUNDO�� NA� QUAL� O� l-
lósofo, com seu olhar através da 
&ILOSOlA�� PROPORCIONA� A� ASCENSÎO�
às dimensões de mundo e do eu, 
introduzindo a procura por um dis-
cernimento daquilo que se subtrai, 
daquilo que não é, mas poderia ser, 
lembrando seu papel fundamental 
de orientar o outro com a investi-
GA¥ÎO�DO�lLOSOFAR� COMO�UMA�CHA-
ma que acende improvisadamen-
te na alma. Não perca esse ótimo 
conteúdo presente na edição 124 
da revista &ILOSOlA, além de arti-
gos sobre política, ética, socieda-
de, comportamento e economia, 
todos elaborados por especialistas 
e desenvolvidos com base em uma 
AMPLA�VISÎO�lLOSØlCA�E�ACADÐMICA�
O LEGADO DE BAUMAN
REVISTA SOCIOLOGIA – EDIÇÃO 68
No início do mês de janeiro, o 
mundo perdeu um de seus prin-
cipais intelectuais do século XX 
e XXI. Aos 91 anos, o sociólogo 
polonês Zygmunt Bauman mor-
reu em Leeds, na Inglaterra, cida-
de onde vivia desde a década de 
1970. Bauman deixou uma exten-
sa e relevante obra, sendo mun-
dialmente reconhecido pelo con-
ceito de modernidade líquida. A 
importância e a peculiaridade de 
seus pensamentos despertaram, 
no início dos anos 2000, o inte-
resse de Dennis de Oliveira, pro-
fessor associado da Universidade 
de São Paulo, jornalista e doutor 
em Ciências da Comunicação.
Para Dennis de Oliveira, Bau-
man discutia estruturas sociais, 
analisando os impactos nas rela-
ções entre as pessoas como con-
sequências dos ordenamentos 
sociais contemporâneos. O pro-
fessor acompanhou toda a trajetó-
RIA� LITERÉRIA�DO� SOCIØLOGO�POLONÐS�
e tem ideias consolidadas a res-
peito do legado deixado por ele. 
Destaca que a teoria crítica e o 
marxismo apresentam referências 
importantes para se compreenderO� MUNDO� ATUAL�� AO� CONTRÉRIO� DE�
muitos que acham que essas teo-
rias morreram. Em entrevista ao 
número 68 da revista Sociologia, 
/LIVEIRA� ABORDA� VÉRIAS� QUESTÜES�
que diziam respeito ao universo 
e às ideias de Zygmunt Bauman 
e fala sobre o legado deixado por 
sua extensa e rica obra.
 TON MARAR
A sinergia entre as várias disciplinas do 
saber para a exposição da matemática
REFLEXÃO E PRÁTICA: Ética e julgamento sobre o prisma da escolha
A filosofia prática como um importante 
exercício terapêutico na contemporaneidade 
ÓDIO A 
PRIMEIRA VISTA
A correspondência 
entre afeto e razão 
na construção da 
tolerância
BELEZA PURA?
Em meio aos padrões, 
como pensar 
sobre questões de 
autenticidade
ANO X No 124 – www.portalespacodosaber.com.br
EQUILÍBRIO 
CONSTANTE
�(',d­2�������35(d2�5�������
RENATO JANINE RIBEIRO
A dura realidade da supressão 
do ensino das matérias humanas
O LEGADO NADA LÍQUIDO DE BAUMAN, POR DENNIS DE OLIVEIRA, DA ECA
www.portalespacodosaber.com.br
O VERDADEIRO 
DESENVOLVIMENTO
Em Sala de Aula: Discuta o trabalhismo e seus desdobramentos atuais
Os aspectos que o infl uenciam e como o Estado 
pode promovê-lo, na teoria e na prática
Mundo 
na era Trump
Ações do 
novo presidente 
dos EUA podem 
TF�DPOm�HVSBS�
enormes 
paradoxos, 
B�TVSQSFFOEFS��
os reacionários 
F�B�FTRVFSEB�
Quem é 
o novo
intelectual?
Pensadores 
precisam rever 
TFV�QBQFM�
frente aos 
novos cenários 
sociopolíticos 
Política na 
modernidade
3FHSBT
�
JOTUJUVJªFT�F�
atores políticos 
DPOTBHSBEPT�
não mais 
respondem 
isoladamente 
às demandas na 
BUVBMJEBEF
6 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
em campo 
EDUCAÇÃO EMOCIONAL
Competências socioemocionais são a 
aposta de iniciativa mundial na educação 
com vistas a uma formação diferencial 
no novo milênio. A Organização para 
a Cooperação e Desenvolvimento 
Econômico (OCDE) encabeça a 
construção de instrumentos que meçam 
tais competências no ensino público, 
e quem auxilia nesse trabalho é uma 
entidade brasileira, o Instituto Ayrton 
Senna. Resiliência, autocontrole, 
perseverança, protagonismo, entre outras 
características já são conteúdo ensinado 
na escola estadual Chico Anysio, no Rio 
de Janeiro, referência em competências 
emocionais. A instituição continua, pelo 
terceiro ano executivo, sendo indicada 
como colégio de excelência na rede 
pública nacional, apresentando excelentes 
resultados acadêmicos e na gestão de 
vida de seus alunos.
EMPRESAS POSITIVAS
Pelo menos três grande empresas 
brasileiras perceberam que bem-estar 
e produtividade caminham juntas e 
aplicaram conhecimentos da Psicologia 
Positiva em seus treinamentos e gestão. 
Natura, Elektro e 3M já colhem excelentes 
resultados, que extrapolam as suas 
instalações e contribuem na gestão pessoal 
de vida de seus funcionários. A taxa de 
retorno do investimento nesse tipo de 
iniciativa é sempre positiva, segundo 
estudos do especialista norte-americano 
em Psicologia Positiva Shawn Archor. No 
Brasil não tem sido diferente e a aplicação 
da abordagem nas companhias tende a 
ser um novo paradigma na condução dos 
por Jussara Goyano
FORMA X CONTEÚDO
ANATOMIA DO CÉREBRO ESTÁ ASSOCIADA 
A PERSONALIDADE E DOENÇAS PSIQUIÁTRICAS, 
DIZ ESTUDO
#ADA�VEZ�MAIS�ACHADOS�DEMONSTRAM�COMO�A�ANATOMIA�E�A�lSIOLOGIA�DO�CÏREBRO�
determinam nossos comportamentos. Altos níveis de neuroticismo, que predispõem 
as pessoas a distúrbios neuro-psiquiátricos, por exemplo, foram associados com o 
aumento da espessura e à área reduzida em algumas regiões do córtex, como pré-
-frontal e temporal. Por outro lado, uma personalidade mais aberta, ligada à curiosi-
dade, à criatividade e ao gosto por novidade, foi associada com o padrão oposto: re-
duzida espessura e um aumento na área do córtex pré-frontal. Um estudo a respeito, 
CONDUZIDO�PELA�5NIVERSIDADE�DO�%STADO�DA�&LØRIDA��FOI�PUBLICADO�NA�REVISTA�CIENTÓlCA�
Social Cognitive and Affective Neuroscience. 
A pesquisa baseou-se em neuroimagens de mais de 500 indivíduos, disponíveis 
através do Human Connectome Project, uma iniciativa dos Institutos Nacionais de Saú-
de dos EUA para mapear vias neurais de funcionamento do cérebro humano. 
O arquivo do projeto contém imagens de indivíduos saudáveis entre 22 e 36 anos 
de idade, sem histórico de graves problemas médicos neuro-psiquiátricos ou outros. 
Os pesquisadores explicam que a relação entre a estrutura do cérebro e traços de 
personalidade em pessoas jovens e saudáveis pode mudar à medida que as pessoas 
envelhecem, como indicado em estudos anteriores conduzidos pela mesma equipe, 
incluindo a colaboração de especialistas da Universidade de Cambridge.
PARA SABER MAIS:
Roberta Riccelli, Nicola Toschi, Salvatore Nigro, Antonio Terracciano, Luca Passa-
monti. 3URFACE
BASED�MORPHOMETRY�REVEALS�THE�NEUROANATOMICAL�BASIS�OF�THE�lVE-
-factor model of personality. Social Cognitive and Affective Neuroscience, 2017; nsw175 
DOI: 10.1093/scan/nsw175
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 7
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S:
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23
RF
EXERCÍCIO 
E VISÃO
ATIVIDADE FÍSICA 
PODE INTERFERIR NO 
PROCESSAMENTO VISUAL
Bom para a depressão e o coração, determi-
nante da longevidade, excelente para a memória: o 
exercício f ísico é remédio e terapia para uma série 
de distúrbios e parece interferir, também, em nossa 
visão, embora ainda não seja possível determinar, 
com precisão, em que nível ele é capaz de aumentar 
nossa acuidade visual.
Estudos anteriores já haviam determinado re-
lação entre a ativação dos mecanismos de proces-
samento visual de ratos e a atividade f ísica, em 
nível cerebral e, agora, pesquisadores da Univer-
sidade de Santa Barbara trataram de verif icar se 
o mesmo acontece no cérebro humano, quando 
praticamos esporte.
Um experimento baseado em neuroimagem e 
testes comportamentais, envolvendo também ati-
vidade f ísica, resultou na descoberta de que exer-
cícios de baixa intensidade impulsionam a ativação 
do córtex visual e podem mudar a forma como a 
informação visual é processada. O estudo foi publi-
cado no Journal of Cognitive Neuroscience.
PARA SABER MAIS:
Tom Bullock, James C. Elliott, John T. Serences, 
Barry Giesbrecht. Acute Exercise Modulates 
Feature-selective Responses in Human Cortex. 
Journal of Cognitive Neuroscience, 2016; 1 DOI: 10.1162/
jocn_a_01082
AR
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Jussara Goyano é jornalista e coach certificada 
pelo Instituto de Psicologia Positiva (IPPC). 
Atua com foco em performance e bem-estar. Estudou 
Medicina Comportamental na UNIFESP.
COGNIÇÃO 
NA DEPRESSÃO
ESTUDO IDENTIFICA PROTEÍNAS 
POSSIVELMENTE RELACIONADAS 
AOS PROBLEMAS DE MEMÓRIA 
E CONCENTRAÇÃO EM QUADROS 
DA DOENÇA
Quase 7% da população mundial (apro-
ximadamente 400 milhões de pessoas) 
é afetada pela depressão, considerada 
pela Organização Mundial de Saúde 
a doença mais incapacitante da 
atualidade. Tristeza, fadiga e 
pensamentos obsessivamen-
te negativos fazem parte 
do quadro, que também 
engloba disfunções cogni-
TIVAS��$IlCULDADE�DE�CONCEN-
tração, de memória e tomada de 
decisões são sintomas que tendem a se 
arrastar até mesmo quando os outros sintomas desaparecem, o 
que carateriza o potencial incapacitante da doença. O pesqui-
sador Marco A. Riva e seus colegas determinaram, por meio de 
pesquisa em animais, como a depressão cerebral pode afetar a 
COGNI¥ÎO�EM�UM�NÓVEL�MOLECULAR��IDENTIlCANDO�SUBSTÊNCIAS�QUE�
sinalizam as mudanças ocasionadas pelo distúrbio.
Certas proteínas foram encontradas em maior quantidade 
nogrupo de ratos de controle em resposta a um teste cognitivo 
normal, de reconhecimento de objetos, e em menor frequência 
no grupo de ratos com sintomas característicos de depressão 
humana. Outros estudos recentes sugeriram que essas proteí-
nas (oligophrenin-1 e Bmal1) desempenham funções nos pro-
cessos cognitivos. A descoberta servirá de base para futuras 
pesquisas sobre tratamentos para depressão maior e transtor-
nos relacionados ao estresse, que também ocasiona as mesmas 
disfunções cognitivas.
PARA SABER MAIS:
Francesca Calabrese, Paola Brivio, Piotr Gruca, Magdalena 
Lason-Tyburkiewicz, Mariusz Papp, Marco A. Riva. Chronic 
Mild Stress-Induced Alterations of Local Protein Synthesis: 
A Role for Cognitive Impairment. ACS Chemical Neuroscience, 
2017; DOI: 10.1021/acschemneuro.6b00392
8 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
CRISTIANA FACCHINETTI
CR
ÉD
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ÇÃ
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Cristiana acredita que os 
conceitos permanecem, mas 
ela não concorda com a ideia 
de comparar as diversas linhas 
existentes da Psicanálise
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 9
Lucas Vasques é jornalista e escreve nesta publicação.
Na opinião de Cristiana Facchinetti, por isso mesmo 
a Psicanálise deve se repensar para lidar com esse novo cenário 
contemporâneo, com as subjetividades adquirindo formas 
muito distintas daquelas produzidas desde o século XVII
E N T R E V I S T A
O 
documentário Hestórias da Psicanáli-
se – Leitores de Freud discorre sobre 
a apropriação brasileira da obra de 
Sigmund Freud e da Psicanálise e 
foi elaborado a partir de entrevistas com leito-
res de Freud espalhados por cidades brasileiras e 
europeias. O f ilme toca em temas como história, 
tradução, cultura, linguagem e, principalmen-
te, Freud. A partir da obra do diretor e também 
psicanalista Francisco Capoulade, a psicóloga e 
psicanalista Cristiana Facchinetti, uma das con-
vidadas a participar do documentário, fala sobre 
esses e outros temas.
Cristiana possui graduação em Psicologia 
(1993) e mestrado (1996) e doutorado (2001) em 
Teoria Psicanalítica, todos pela Universidade Fe-
deral do Rio de Janeiro (UFRJ). Tem um estágio 
de pós-doutoramento em História das Ciências e 
da Saúde (2006) pela Fiocruz. Atualmente é pes-
quisadora do Departamento de Pesquisa e pro-
fessora do Programa de Pós-Graduação em His-
tória das Ciências e da Saúde, ambos da Casa de 
Oswaldo Cruz (Fiocruz), além de professora do 
Programa de Mestrado Prof issional em Atenção 
Psicossocial do IPUB (UFRJ) e coordenadora da 
Rede Iberoamericana de Investigadores em His-
tória da Psicologia. É especializada nas áreas de 
Psicanálise e de História, atuando como orienta-
dora principalmente nos seguintes temas: Brasil, 
Psicanálise, Psiquiatria e Psicologia. 
ESTAMOS VIVENDO 
UM MOMENTO DE 
MUDANÇAS NAS 
SUBJETIVIDADES
Por Lucas Vasques
10 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
mento é construído com os instrumen-
tos dados pela língua, pela cultura e pela 
história social e familiar que antecedem 
o sujeito, de onde ele surge, como efei-
to dos discursos que o atravessam. Se os 
sujeitos não têm imanência e não ante-
cedem os discursos, mas são produzidos 
por eles, o que dizer dos objetos? Pode-
mos dizer que há um referente externo? 
Não é o que parece. Eles são tão variáveis 
quanto é variável a compreensão sobre 
eles. Por isso, usos e leituras dos objetos é 
que determinam seu sentido. E tal leitu-
ra, que é psíquica, é também limitada por 
uma determinada Weltanschauung.
ATUALMENTE, COM TANTAS COMPLEXI-
DADES QUE NORTEIAM O COMPORTAMEN-
TO HUMANO, O MÉTODO DE FREUD AIN-
DA É INDICADO PARA OS MESMOS CASOS 
DE SUA ÉPOCA? EM CASO POSITIVO, POR 
QUAIS RAZÕES?
CRISTIANA: Mais uma pergunta difícil. 
As complexidades do comportamento 
humano sempre existiram; sempre exis-
tirão. A questão é que o que é patológico 
ou anormal em um período pode deixar 
de ser em outro. Mais do que biológica, 
então, a questão do comportamento é 
uma questão cultural. Por exemplo, até 
algumas décadas atrás a homossexuali-
dade era considerada patologia (inver-
são sexual) pela Medicina mental. Hoje 
não mais, graças ao movimento social 
e político que lutou pela capitulação da 
Medicina nesse caso. Desde o século 
XIX, muitos indivíduos, especialmente 
mulheres com crises histéricas graves, 
adentravam os asilos e os consultórios 
médicos. Além disso, mulheres que não 
QUERIAM� CASAR�� QUE� NÎO� QUERIAM�lLHOS��
que estudavam muito etc. foram toma-
das como alienadas. Mas essas moças, 
frequentemente diagnosticadas como 
histéricas, desapareceram dos prontuá-
rios ainda na primeira metade do século 
XX, dando lugar no asilo para a psicose 
maníaco-depressiva e para a degenera-
ção. Mudou a cultura, mudou o tempo. 
Com a entrada da Psicanálise no discur-
so da Psiquiatria dinâmica, em meados 
DO�SÏCULO�88��MUDOU�O�PERlL�DOS�SUJEI-
tos internados, mapeados nos prontuá-
rios como neuróticos ou psicóticos. Essa 
FORMA�DE�IDENTIlCAR�O�SOFRIMENTO�PSÓQUI-
co ganhou a opinião pública, as artes, os 
jornais, gerando em muitos lugares aqui-
lo que se concebeu como cultura psica-
nalítica. A partir do DSM-III (Diagnostic 
and Statistical Manual of Mental Disorders) 
e com o crescimento da Psiquiatria dita 
biológica, certamente diminuiu o núme-
ro de mulheres que chegam ao consul-
tório do analista se intitulando como 
histérica. Por outro lado, o DSM ganhou 
circulação social: os pacientes que nos 
chegam ao consultório hoje já nos che-
gam frequentemente anunciando serem 
portadores de síndromes e transtornos, 
lidos nas revistas femininas ou obtidos 
através de questionários para medica-
mentos, ou mesmo dados pelo ginecolo-
gista, ou clínico geral... às vezes até pelo 
psiquiatra (rs.). Os diagnósticos, por sua 
vez, criam – eles próprios – uma identi-
dade de doente para o paciente. Então, 
sem dúvida, a Psicanálise precisa hoje 
lidar com os novos sujeitos advindos das 
condições da cultura do nosso tempo; e 
também com a nova/velha maneira de 
perceber o sujeito e seu sofrimento psí-
quico como resultado de uma disfunção IMA
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BASICAMENTE, SOBRE O QUE FOI SEU DE-
POIMENTO NO DOCUMENTÁRIO HESTÓRIAS 
DA PSICANÁLISE?
CRISTIANA: Tratamos de diversos as-
suntos. A minha entrevista foi feita em 
diálogo com Sérgio Paulo Rouanet. 
Então, falamos bastante de literatura, 
romantismo, iluminismo e Psicanálise. 
Mas eu diria que o que mais apareceu 
DA�MINHA�FALA�NO�lLME�FOI�A�DIMENSÎO�DA�
Hestória da Psicanálise, tanto no sentido 
das apropriações singulares – a história 
pessoal de encontro com esse Estranho 
mundo do Inconsciente e as apropria-
ções sociais – quanto no sentido das 
condições locais de apropriação. Quem 
SABE�NA�CONTINUA¥ÎO�DO�lLME�A�DIMEN-
são estética e cultural por nós dois assi-
nalada seja mais sublinhada.
A PSICANÁLISE ESTÁ SEMPRE EM EVOLU-
ÇÃO. MESMO ASSIM, VOCÊ CONSIDERA QUE 
AS IDEIAS DE FREUD AINDA SÃO ATUAIS? 
COMO ADAPTAR OS PRINCIPAIS CONCEITOS 
FREUDIANOS PARA OS DIAS DE HOJE?
CRISTIANA: Vamos começar pela ideia de 
evolução, que eu considero equivocada, 
porque remete a progresso, melhoria. Eu 
não acho que a Psicanálise esteja sempre 
em evolução. Eu acho que ela é sempre 
apropriada de acordo com os contextos 
– temporais, sociais, culturais – e que 
o referente “Psicanálise”, isto é, aquilo 
que Freud realmente pensou ao escre-
ver seu trabalho, seu sentido último, está 
para sempre perdido; a escritura é sem-
pre apropriada e reapropriada de modo 
particular, incessantemente. No capítulo 
sete da Interpretação dos Sonhos (1900), 
&REUD� AlRMA�QUE� AS�MARCAS�MNÐMICAS�
sempre tendem a seguir as mesmas Bah-
nungen, facilitadas que são, mas que, ao 
mesmo tempo, sempre se produz um 
diferencial, mesmo quando se trata de 
repetir o idêntico. Assim, ainda que se 
pense que os conceitos são universais e 
atemporais, como alguns o propõem, a 
Psicanálise também se faz marcar pelo 
contingente e pela historicidade. Só é 
possível compreender aquilo que passa 
pelo aparelho psíquico. Esse entendi-
Ainda que se pense 
que os conceitos são 
universais e atemporais, 
como alguns o propõem, 
a Psicanálise também 
se faz marcar pelo 
contingente e pela 
historicidade. Só é 
possível compreender 
aquilo que passa pelo 
aparelho psíquico
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te, não se trata de necessidade de atuali-
zações, mas da existência de circulação e 
apropriações diferenciadas.
EXISTEM NOVAS PESQUISAS SENDO DESEN-
VOLVIDAS HOJE EM DIA A RESPEITO DA EFI-
CÁCIA DO MÉTODO FREUDIANO, E SE EXIS-
TEM, COM QUAIS OBJETIVOS?
CRISTIANA: A pesquisa em Psicanálise 
que se realiza atualmente traz a marca de 
sua historicidade. De fato, desde Freud 
se questiona sobre o estatuto da Psica-
nálise. Sua Interpretação dos Sonhos (1900) 
foi muitas vezes considerada como ad-
VINDA�DO� CAMPO�DA�lC¥ÎO�� ASSIM� COMO�
sua Metapsicologia (Strachey, 1975; 
Ellenberger, 1976). Já Legrand (1973) a 
contrapôs à ciência empírica, propondo 
a Psicanálise como uma terceira via de 
conhecimento. Tais debates sobre o esta-
tuto da Psicanálise ganharam particular 
interesse primeiro na França e depois no 
Brasil, especialmente a partir da década 
de 1990, quando passaram a ser sistema-
tizados nas universidades – em particu-
lar nas pós-graduações. De lá para cá, 
um número muito grande de pesquisas 
vem sendo desenvolvido no campo. Nes-
sa tradição, fazer pesquisa em Psicaná-
LISE��RECONHECER�SUAS�ESPECIlCIDADES��O�
legado da clínica e a centralidade do su-
jeito do Inconsciente, para começar; sua 
metodologia; e o retorno aos textos que 
formulam suas teorias para a construção 
de novas perguntas, a partir de interes-
ses particulares de pesquisas e dos novos 
contextos históricos e culturais. Já com 
RELA¥ÎO�Ì�ElCÉCIA��ALGUNS�OUTROS�ESTUDOS�
– em sua maioria advindos de uma tra-
dição anglo saxã – buscam estabelecer e 
comprovar os resultados positivos da te-
rapia psicanalítica, como indica Wallers-
tein (2001). Entretanto, é bom chamar 
atenção que tais investigações parecem 
estar mais preocupadas com dados para 
a assistência e para os planos de saúde, 
assim como com bons argumentos para 
os consumidores, do que propriamente 
com a singularidade do sujeito do In-
consciente, pesquisa essa que não pode 
SER�QUANTIlCADA��#OMO�J�APONTOU�,ACAN�
neuronal, hormonal etc. Mas enquanto 
houver esse sujeito moderno – dividi-
DO�� EM� CONmITO��MARCADO�PELO� RECALQUE�
e pelo inconsciente, mas também pela 
liberdade –, a Psicanálise também conti-
nuará a existir.
COMO PESQUISADORA DA HISTÓRIA DA 
PSICANÁLISE, VOCÊ ACREDITA QUE É POS-
SÍVEL COMPARAR AS DIVERSAS LINHAS DE 
FREUD, LACAN, WINICOTT, MADALAINE 
ETC., EM TERMOS DE CONCEITOS E PRÁTI-
CAS CLÍNICAS?
CRISTIANA: Alguns conceitos permane-
cem, mas não compreendo a ideia de 
comparação; são apropriações diversas, 
que valorizam determinadas partes da 
teoria freudiana sob a luz de interesses e 
entendimentos locais e particulares.
LACAN, APESAR DE ADEPTO DE FREUD, 
DESENVOLVEU ALGUMAS RELEITURAS E 
REFORMULOU TEORIAS QUE SÃO MUITO 
CONCEITUADAS HOJE. ISSO NÃO SIGNIFICA 
QUE AS IDEIAS DE FREUD PRECISAM SER 
ATUALIZADAS?
CRISTIANA: Considero que Lacan, ao se 
dizer freudiano, ao propor um retorno 
a Freud, o faz dando plena legitimidade 
PARA� AQUILO� QUE� OUTROS� lZERAM�� TALVEZ�
sem perceber: ele reconhece essa apro-
priação e faz dela sua própria escritura. 
E é justamente o reconhecimento dessa 
apropriação personalíssima – marca da 
circulação da Psicanálise na França de 
seu tempo e de seus círculos intelectuais 
– que faz a obra dele ganhar a originali-
dade e a dimensão que possui. E por ou-
tro lado, é por isso também que ele pode 
AlRMAR�SUA�LEITURA�COMO�FREUDIANA��SEM�
hesitar. Assim, como disse anteriormen-
Se os sujeitos não 
têm imanência e não 
antecedem os discursos, 
mas são produzidos 
por eles, o que dizer dos 
objetos? Podemos dizer 
que há um referente 
externo? Não é o que 
parece. Eles são tão 
variáveis quanto é 
variável a compreensão 
sobre eles
Cristiana cita que, até 
algumas décadas atrás, 
a homossexualidade era 
considerada patologia. 
Hoje não mais, graças, 
principalmente, ao 
movimento social e político
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As complexidades do comportamento humano 
sempre existiram; sempre existirão. A questão é 
que o que é patológico em um período pode deixar 
de ser em outro. Mais do que biológica, então, a 
questão do comportamento é uma questão cultural
(1998), tal preocupação com o sucesso 
pode levar à tentativa de vender a Psica-
nálise dentro de um regime de exigência 
de felicidade, o que seria mesmo uma to-
tal renegação da Psicanálise.
QUAIS OS IMPACTOS DO LEGADO DE FREUD 
PARA OS PROFISSIONAIS DA PSICANÁLISE E 
POR QUE HÁ TANTOS ESPECIALISTAS QUE 
DIVERGEM DE SUAS IDEIAS?
CRISTIANA: Freud reabriu a ferida narcí-
sica que a Medicina positiva e tecnológi-
ca, apoiada na promessa de cura, sempre 
insistiu em fechar. O legado de Freud é 
justamente essa insistência de se apontar 
para o mal-estar estrutural do sujeito na 
cultura. É esse chamado mal-estar, que 
não é sempre o mesmo, ainda que pos-
tulemos e saibamos de sua insistência 
permanente, assim como esse método 
OBSCURO��QUE�ESCAPAM�Ì�QUANTIlCA¥ÎO�E�
à objetivação e que atraem as críticas. Os 
especialistas desejam um modelo experi-
mental de observação e teste, para ade-
quar o saber psicanalítico à ciência po-
sitiva. Como se o humano coubesse em 
uma expressão matemática. Ou numa 
estatística. Não cabe. E isso incomoda. 
Como Freud mesmo observou, isso fez 
– e faz – com que a Psicanálise perca “a 
simpatia de todos os amigos do pensa-
MENTO� CIENTÓlCOv� �&REUD�� ������ P�� ��	��
Além disso, suas teorias sobre a sexua-
lidade ganham até hoje certa resistência.
HÁ UMA PSICANÁLISE BRASILEIRA? E HÁ 
UMA PREVALÊNCIA DA PSICANÁLISE NO 
BRASIL FRENTE A OUTROS PAÍSES?
CRISTIANA: No caso da primeira resposta, 
PODEMOS�AlRMAR�QUE�OS�CONCEITOS�DE�CIR-
culação e apropriação implicam sempre 
em considerar a existência de estilos pró-
prios e preferências, dependendo de con-
textos culturais e estilos pessoais, como 
disse anteriormente. No caso da segunda 
hipótese, a Psicanálise é hoje muito cen-
tralizada nos países latinos: França, Ar-
gentina, Brasil são centrais não apenas 
no uso do método, mas na circulação de 
uma cultura psicanalítica, difundida por 
grande parte da sociedade letrada. Por 
OUTRO�LADO��DIlCILMENTE�PODERÓAMOS�FALAR�
do método de Freud hoje sem estar atra-
vessado pelos discursos pós-freudianos, 
como o de Lacan, por exemplo.
QUAIS SÃO AS PERSPECTIVAS FUTURAS DAS 
TÉCNICAS DA METODOLOGIA FREUDIANA?
CRISTIANA: Creio que estamos vivendo 
um momento de muitas mudanças nas 
subjetividades. Alguns apostam que, 
nessa modernidade tardia, os sujeitos 
vêm exacerbando determinadas carac-
terísticas modernas, e que se desdobram 
no aumento do individualismo, numa 
cultura da imagem, no abuso de substân-
cias psicoativas. Nesse sentido, a Psica-
nálise deve se repensar para lidar com as 
subjetividades contemporâneas. Outros, 
ENTRETANTO��APOSTAM�NO�lM�DA�MODERNI-
dade. No cenário da pós-modernidade, 
as subjetividades podem adquirir formas 
muito distintas daquelas produzidas des-
de o séculoXVII. Para estes, o processo 
de interiorização que caracterizou o su-
jeito moderno pode estar acabando, com 
a construção desses sujeitos em rede, na 
SUPERFÓCIE��SEM�TANTA�DElNI¥ÎO�ENTRE�O�IN-
terior e o exterior, assim como uma apos-
TA�NO�lM�DA�SEPARA¥ÎO�ENTRE�O�PÞBLICO�E�
o privado, como já discutiu Joel Birman 
(2000) ao tratar do lugar da Psicanálise 
nesse imbróglio. Nesse caso, as marcas 
na pele pelas tatuagens viriam substituir 
as marcas simbólicas. As redes sociais 
SUBSTITUIRIAM�A�REmEXÎO�SISTEMÉTICA����EN-
lM��ESSAS�E�TANTAS�OUTRAS�MUDAN¥AS�VÐM�
colocando em questão a manutenção 
do sujeito como o conhecemos.... nesse 
futuro, a Psicanálise poderia funcionar 
como resistência... e insistência, me pa-
rece. Ou, como querem alguns, poderia 
desaparecer. Espero que não. Falar do 
Na visão de Cristiana, Lacan, ao propor um 
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�����G��I�������������I����hG����G�G������Gh��
e faça dela sua escritura
Segundo a psicanalista, Freud reabriu a ferida narcísica 
que a Medicina positiva e tecnológica, apoiada na 
promessa de cura, sempre insistiu em fechar
Joel Birman, ao tratar do lugar da Psicanálise, 
discutiu a separação entre público e privado, 
ou seja, as marcas na pele pelas tatuagens 
substituem as marcas simbólicas
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A Psicanálise precisa 
hoje lidar com os novos 
sujeitos advindos das 
condições da cultura do 
nosso tempo; e também 
com a nova/velha 
maneira de perceber o 
sujeito e seu sofrimento 
psíquico como resultado 
de uma disfunção 
neuronal, hormonal etc.
lM� DO� SUJEITO�MODERNO� PODE� SIGNIlCAR�
O�lM�DO�SUJEITO�LIVRE��DETERMINADO�PELO�
cérebro e pela hereditariedade.
QUAL A SUA AVALIAÇÃO SOBRE A RELAÇÃO 
ENTRE PSICANÁLISE E CULTURA? É POSSÍ-
VEL TRAÇAR UM PARALELO ENTRE TEORIA 
E VERDADE A PARTIR DESSE TEMA?
CRISTIANA: Lacan dizia que “o incons-
ciente é o social”. Por quê? Desde a desco-
berta do inconsciente, suas implicações 
para a reformulação social e seu impacto 
na constituição das subjetividades têm 
convocado a Psicanálise a pensar seu 
lugar na cultura. Com a circunscrição 
do conceito de recalque como parte dos 
traços de moralidade existentes em uma 
dada cultura, não é possível pensar no 
sujeito do inconsciente sem pensar na-
quilo que o circunda e que, nessa fricção, 
produz e é produzido. Assim, o analista, 
ao ocupar-se de questões clínicas e dos 
regimes de verdade que se estabelecem 
de maneira singular nesse processo, não 
precisa produzir qualquer ruptura fren-
te a um pensamento mais amplo e que 
abarca o campo sociocultural ou abrir 
MÎO�DAS�FERRAMENTAS�DA�&ILOSOlA�
A RELAÇÃO ENTRE PSICANÁLISE E CUL-
TURA PODE SER UMA TRADUÇÃO DA DU-
ALIDADE RECEPÇÃO X APROPRIAÇÃO E, 
TAMBÉM, SOBRE A CIRCULAÇÃO TRANSNA-
CIONAL DOS SABERES?
CRISTIANA: A relação da Psicanálise com 
a cultura é completamente íntima, já que 
o sujeito é efeito dela, dos poderes e sa-
beres que a conformam. Por outro lado, 
os indivíduos são capazes de seleção e 
de dar sentido próprio àquilo que rece-
bem, se apropriando do conhecimento e 
criando a partir dele também.
EM SUA OPINIÃO, DO PONTO DE VISTA DA 
PSICANÁLISE, EXISTE, DE FATO, UM POVO 
BRASILEIRO, OBSERVANDO OS ASPECTOS 
CULTURAIS PRÓPRIOS? EM CIMA DISSO, 
QUAL O VALOR QUE O POVO ATRIBUI, POIS 
O BRASILEIRO É CONHECIDO COMO UMA 
NAÇÃO QUE NÃO DÁ O REAL VALOR PARA A 
SUA CULTURA?
CRISTIANA: A Psicanálise – tal como pen-
sada hoje – se difere da Sociologia ou 
Antropologia. Não está voltada para dis-
cutir valores sociais comuns ou buscar 
uma marca identitária única nem forjar 
uma entidade psíquica permanente que 
nos reúna como povo. Ao contrário, a 
0SICANÉLISE�CHAMA�ATEN¥ÎO�DA�lC¥ÎO�QUE�
constitui a identidade. Trata-se muito 
MAIS�DE�DESCONSTRUIR�A�lC¥ÎO��PERMITIN-
do novos arranjos do sujeito em análise. 
PODE EXPLICAR, EM LINHAS GERAIS, A 
AFIRMAÇÃO DE QUE A PSICANÁLISE ESTÁ 
SEMPRE IMERSA NA CULTURA NA QUAL SE 
INSERE E QUE GUARDA MARCAS DESSE CON-
TEXTO LOCAL, COLOCANDO EM QUESTÃO A 
UNIVERSALIDADE E A NEUTRALIDADE COS-
TUMEIRAS E CONSIDERANDO AS APROPRIA-
ÇÕES ATIVAS COMO POSSIBILIDADES LEGÍTI-
MAS, AINDA QUE NEM SEMPRE NA DIREÇÃO 
DO NOSSO DESEJO?
CRISTIANA: Não existe a possibilidade 
de efetuarmos o uso da Psicanálise de 
maneira asséptica, neutra e objetiva. Ela 
sempre é lida e compreendida a partir de 
um psiquismo (no caso individual) e de 
UM�CONTEXTO�ESPECÓlCO��0OR�OUTRO� LADO��
isso não implica numa recepção passiva: 
a apropriação desse saber é ativa, e os 
indivíduos se apropriam da Psicanálise a 
partir de seus referenciais, problemas de 
pesquisa e interesses.
COMO A PSICANÁLISE PENETRA HOJE NA 
SOCIEDADE, SENDO APROPRIADA POR COLU-
NAS SENTIMENTAIS, NOVELAS, PROPAGAN-
DAS ETC.?
CRISTIANA: É possível notar que além de 
um modelo de escuta, leitura do mundo 
e tratamento, a Psicanálise se articulou 
a um processo de “psicologização” da 
sociedade. Esse conceito foi utilizado 
por um grupo de antropólogos do Mu-
seu Nacional (UFRJ), quando buscaram 
analisar cidades urbanas brasileiras. O 
grupo, iniciado por Gilberto Velho, pro-
duziu diversas análises, nas décadas de 
1970 e 1980, que investigaram a amplia-
ção dos discursos psi por toda a socie-
dade. Nessa linha de análise, Jane Russo 
(2002), por exemplo, utiliza o conceito 
quando trata do boom psicanalítico entre 
as classes médias urbanas da década de 
1970. Embora a sociedade brasileira te-
nha sofrido essa expansão vertiginosa 
da Psicanálise na década de 1970, a cir-
culação social da Psicanálise começou a 
ocorrer a partir dos anos 30, em revistas 
femininas e manuais de educação, alcan-
çando certo espaço simbólico no sistema 
de valores, noções e práticas sociais das 
cidades urbanas.
EM SUA AVALIAÇÃO, MANIFESTAÇÕES COMO 
O CINEMA PODEM SER CONSIDERADAS ARTE 
OU COMUNICAÇÃO? ELE DEVE SER UM FIM 
EM SI MESMO, EXPLORANDO SUA PRÓPRIA 
LINGUAGEM PARA FORNECER UMA VISÃO 
DE MUNDO, OU USAR A POPULARIDADE DO 
MEIO PARA TRANSMITIR UMA MENSAGEM 
ÚTIL À SOCIEDADE?
CRISTIANA: A arte transmite mensagens, 
ainda que não necessariamente voltadas 
para a utilidade. O cinema é hoje, talvez, 
aquilo que a literatura representou nos sé-
culos XIX/XX: é a possibilidade de nos 
experimentarmos no outro como outro, 
ampliando, assim, nossas possibilidades 
de nos aproximarmos da alteridade. Não 
acho que a arte deva estar a serviço do so-
cial, embora seja sempre social/cultural. IM
AG
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14 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
O QUE SÃO TEORIAS BIODETERMINISTAS E 
O QUE VOCÊ QUER DIZER QUANDO FALA 
QUE HOJE EXISTEM EMBATES ENTRE A PSI-
CANÁLISE E ESSAS TEORIAS?
CRISTIANA: !�0SIQUIATRIA�SURGIU�EM�lNS�DO�
século XVIII, com o emblemático gesto 
de Philippe Pinel (1745-1826). Com ela, 
organizou-se o asilo como instrumento de 
cura e nele a clínica psiquiátrica foi mar-
cada pelo tratamento moral. Assim, desde 
esse momento, a Psiquiatria se constituiu 
como disciplina médica sem, entretan-
to, jamais ter se enquadrado plenamente 
em sua metodologia, permanecendo em 
constante diálogo com saberes do cam-
po biomédico e, ao mesmo tempo, com 
o campo moral, ou das humanidades. Até 
os dias de hoje, podemos observar essa 
oscilação: ora busca em cada (psico)pato-
logia o mecanismo biopatológico carac-
terístico e curso da doença que permitam 
a construção de categorias diagnósticas 
generalizáveis, ora emoldura o sofrimen-
to humano a partir das mais diversas in-
mUÐNCIAS��QUE�NECESSARIAMENTE�INCLUEM�AS�
dimensões psíquicas, sociais e culturais 
para o adoecimento. Tal oscilação pode 
ser acompanhada ao longo dahistória 
DESSA�DISCIPLINA��NO�lNAL�DO� SÏCULO�8)8��
as explicações de cunho moral perderam 
a hegemonia, dando espaço para teorias 
organicistas, que passaram a explicar a 
loucura exclusivamente a partir de fatores 
biológicos – o que, nesse contexto, impli-
cava necessariamente considerar fatores 
hereditários e degenerativos. Já a partir 
do segundo pós-guerra, quando as teorias 
eugênicas e a Psicologia dos povos pas-
saram a ser consideradas como um erro, 
após o massacre do holocausto, ganharam 
novamente destaque as teorias de cunho 
psicológico e/ou humanista, como a Psi-
canálise ou o existencialismo, por exem-
plo. Nesse período, conceitos como os de 
neurose, recalque, édipo, inconsciente, perver-
sidade polimorfa, entre outros, passaram a 
circular não apenas no campo mesmo da 
Psiquiatria, mas foram sendo difundidos 
pelo corpo social, sendo apropriados pela 
educação, pela literatura e por diversos 
outros setores da sociedade, construindo 
paulatinamente a cultura psicanalítica de 
QUE�TRATAMOS�ACIMA��%NTRETANTO��AO�lNAL�
do século XX, as matrizes biológicas da 
Medicina mental voltaram a ser privile-
giadas. Como consequência, a sociedade 
passou também a utilizar tais referenciais 
para pensar as relações humanas e inter-
vir nessas relações. Apesar de podermos 
AlRMAR�QUE�NO�"RASIL�H�UMA�DISPUTA�EN-
tre os dois modos de pensar o sujeito e a 
sociedade, não é possível negar que hou-
ve, a partir desse período, a ascensão das 
teorias biomédicas nas ciências neuropsi-
quiátricas assim como na opinião pública. 
Vale lembrar, a retomada do viés biológi-
co ganhou ímpeto principalmente a partir 
do surgimento da vertente da Psiquiatria 
biológica norte-americana, consolidada 
internacionalmente a partir da publicação 
do DSM-III, em 1980. 
UMA DE SUAS ÁREAS DE ESTUDO É A HIS-
TÓRIA DA CIÊNCIA PSIQUIÁTRICA, DE SUAS 
PRÁTICAS E TECNOLOGIAS. COMO VOCÊ 
OBSERVA A INFLUÊNCIA NA TECNOLOGIA E 
SEUS AVANÇOS QUASE DIÁRIOS NO PROCESSO 
DE FORMAÇÃO DO INDIVÍDUO?
CRISTIANA: Bem, cada época tem a sua 
tecnologia psiquiátrica. Mas o movimen-
to para a retomada de um referencial 
exclusivamente biológico ou organicista 
das doenças mentais articula os desen-
volvimentos de pesquisas realizadas (e 
lNANCIADASå	� NO� CAMPO� DA� "IOQUÓMICA��
com a tentativa de enquadramento da 
Psiquiatria dentro do campo médico 
mais geral, além, é claro, do surgimen-
to dos psicofármacos, a partir dos anos 
50, e o fortalecimento dessa indústria 
farmacêutica, que passou a estimular e 
lNANCIAR� PESQUISAS� QUE� VIABILIZASSEM�
diagnósticos que pudessem ser associa-
dos a medicamentos. Em consequência 
de tais estímulos e investimentos, essa 
abordagem começou a ser difundida 
também na opinião pública, e tal circula-
ção passou a produzir e responder a uma 
demanda dos próprios sujeitos na busca 
de dar um sentido (mais) “objetivo”, mais 
médico e menos psicológico “mais real 
E�MENOS�IMAGINADOv�PARA�SEUS�CONmITOS�
e sofrimentos. Segundo George Weisz 
(2005), essa aproximação da Psiquiatria 
das ciências de laboratório corresponde-
ria ao objetivo de dar maior autoridade à 
Medicina mental, aliando seus resultados 
a tecnologias a partir das quais dados es-
tatísticos poderiam ser recombinados 
em múltiplas formas de pesquisa, dando 
maior visibilidade ao seu conteúdo, cons-
truindo regimes de verdade, marcados 
PELAS�IMAGENS�NEUROCIENTÓlCAS�E�POR�SEUS�
dados quantitativos, bem de acordo com 
A� IDEOLOGIA� DA�-EDICINA� CIENTÓlCA� CON-
temporânea, que considera as ciências 
básicas como a principal fonte de inova-
ção em Medicina (Löwy, 1994). 
UMA DE SUAS PESQUISAS MAIS RECENTES É 
SOBRE A APROPRIAÇÃO, INTERNALIZAÇÃO E 
NEGOCIAÇÃO DOS SABERES MÉDICO-MEN-
TAIS NOS MODOS DE SER, SENTIR E FAZER 
DOS INDIVÍDUOS EM UM DADO CONTEXTO 
HISTÓRICO-CULTURAL. A QUE CONCLU-
SÕES VOCÊ CHEGOU?
CRISTIANA: Atualmente estou coordenan-
do uma pesquisa bem grande a partir de 
documentos clínicos do antigo Hospício 
Nacional (apoio: Proep, CNPq/Fiocruz). 
Essa pesquisa a que você alude, e que ob-
teve apoio da Faperj, já terminou. Para 
a investigação, utilizei como fonte cartas 
de leitores e de conselheiros em revistas 
de grande circulação. A ideia era justa-
mente avaliar até que ponto e de que for-
ma os saberes psi eram apropriados pe-
las pessoas comuns na capital brasileira 
na Era Vargas (1930-1945). O resultado 
Enquanto houver 
esse sujeito moderno – 
DIVIDIDO��EM�CONmITO��
marcado pelo recalque 
e pelo inconsciente, mas 
também pela liberdade –, 
a Psicanálise também 
continuará a existir
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permitiu acessar formas de apropriação 
das novas ideias psi que circulavam pe-
las revistas e o modo como impactaram 
DE�MANEIRA�DIVERSIlCADA�A�PRODU¥ÎO�DOS�
sujeitos concretos e da cultura urbana 
DO� PERÓODO�� 0UDE� IDENTIlCAR� DISPUTAS� E�
negociações pela hegemonia discursiva 
na construção do ideal de mulher e de 
homem modernos, em que o processo 
DE�APROPRIA¥ÎO�DOS�SABERES�CIENTÓlCOS�SE�
mostra sempre relativo e parcial nos dis-
cursos do público leitor leigo, permitindo 
refutar a ideia de um controle biopolítico 
ABSOLUTO�NO�PROCESSO�DE�REDElNI¥ÎO�DOS�
papéis sociais. 
VOCÊ É UMA ESTUDIOSA ESPECIALISTA NA 
HISTÓRIA DA PSICANÁLISE. EM LINHAS 
GERAIS, O QUE MUDOU EM TERMOS DE 
CONCEITOS E PRÁTICAS PSICANALÍTICAS AO 
LONGO DOS ANOS?
CRISTIANA: Não trabalho com a episte-
mologia da Psicanálise, mas com a his-
tória social da Psicanálise. Nesse sentido, 
faço parte de um grupo de autores que, 
nos últimos anos, vem chamando aten-
ção para a importância de se considerar 
a Psicanálise como um fenômeno social, 
cultural e político, seja como saber, mo-
vimento internacional ou epifenômeno 
mesmo da modernidade, sua crítica. Isso 
implica alertar para os efeitos que a Psi-
canálise adquire em cada contexto. No 
caso da América Latina, de passado co-
lonial (de fato e cultural), a discussão ga-
nha novos contornos. Trata-se, aqui, de 
considerar também as discussões mais 
amplas acerca das ciências instituídas no 
mundo europeu, principalmente francês, 
germânico ou anglo-saxão, e sua recep-
ção em países tradicionalmente conside-
rados na periferia da modernidade. Esse 
interesse é movido pela compreensão de 
que o campo intelectual tem apenas cer-
ta autonomia frente aos determinantes 
sociais particulares, como busquei desta-
car ao longo dessa entrevista. Por meio 
DESSA�CHAVE�DE�LEITURA�Ï�POSSÓVEL�VERIlCAR�
QUE� PAUTAS� POLÓTICAS� ESPECÓlCAS�� ASSIM�
como contextos sociais, impactam na 
apropriação de um saber. 
ESPECIFICAMENTE NO QUE SE REFERE À 
PRÁTICA CLÍNICA DAS DOENÇAS MENTAIS, 
QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS AVANÇOS?
CRISTIANA: O desenvolvimento das Neu-
rociências e de suas tecnologias possibili-
tou a aproximação da Psiquiatria da Me-
dicina somática geral, sonho acalentado 
desde Pinel, que já sonhava com o dia em 
QUE� SE� CHEGARIA� � CAUSALIDADE� lSICALISTA�
das perturbações psíquicas. Nesse diapa-
são, o funcionamento psíquico se aproxi-
ma cada vez mais da idealização de uma 
subjetividade reduzida ao cérebro e aos 
seus neurotransmissores. Em resposta, no 
campo das terapêuticas, os psicotrópicos 
se tornaram o centro do tratamento, ao 
passo que as psicoterapias foram relega-
das a segundo plano, ou mesmo recu-
sadas como importantes. A Psicanálise 
PERDEU�ESPA¥O�SIGNIlCATIVO�NO�CAMPO�DA�
Psiquiatria, portanto. Se entre as décadas 
de 1950 e 1970 ela era o discurso teórico 
central da Psiquiatria, após o DSM-III e 
seu paradigma biológico o processo de 
autonomização da Psiquiatria frente à 
Psicanálise se radicalizou. De acordo com 
alguns autores, como Birman (2005), teria 
ocorrido uma inversão de planos: a Psica-
nálise estaria enfrentandoum processo de 
medicalização, passando a ser atravessa-
da por discursos advindos das Neurociên-
cias e do cognitivismo. Além disso, teria 
passado a ocupar um plano secundário no 
campo da intervenção terapêutica. Inves-
tigar tais acontecimentos históricos, não 
como avanços ou evoluções, mas como 
essa luta de forças em que o somático e 
o psíquico se tensionam (no sentido de 
tensão mesmo), e entender os contextos 
que os fazem mover-se é o interesse do 
historiador dos saberes psi. Compreender 
por que a Psicanálise permanece resistin-
do em alguns contextos culturais é outro 
DESAlO��4EMOS�MUITO�O�QUE�ESTUDAR�
A pesquisa em 
Psicanálise que se 
realiza atualmente 
traz a marca de sua 
historicidade. De 
fato, desde Freud 
se questiona sobre o 
estatuto da Psicanálise. 
Sua Interpretação 
dos Sonhos foi muitas 
vezes considerada como 
ADVINDA�DA�lC¥ÎO
O cinema é o que a literatura foi nos séculos XIX/XX, a chance de experimentar no outro como outro, 
ampliando as chances de aproximação da alteridade
16 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
in foco por Michele Müller
DESAFIOS da 
comunicação
O PAPEL DA LINGUAGEM INFLUENCIA NA FORMA COMO 
NOS RELACIONAMOS E ENXERGAMOS O MUNDO, E O SEU 
EXERCÍCIO ENVOLVE CAPACIDADES QUE NÃO SÃO ESQUECIDAS
A LINGUAGEM PODE 
NÃO NOS SALVAR DA 
CONDIÇÃO SOLITÁRIA 
DE PERCEBER O 
MUNDO DE UMA 
PERSPECTIVA ÚNICA. 
MAS NOS OFERECE 
O ALÍVIO DE 
COMPREENDER E SER 
COMPREENDIDO 
pensamentos e sentimentos continu-
am desordenados, incomunicáveis e, 
muitas vezes, indecifráveis. Outros são 
desf igurados por uma comunicação 
não apenas incompleta, mas suscetível 
a inúmeras falhas, sendo que muitas 
delas estão fora do nosso controle e ja-
mais serão esclarecidas. 
A linguagem pode não nos salvar da 
condição solitária de perceber o mun-
do de uma perspectiva única. Mas nos 
oferece o alívio de compreender e ser 
compreendido em um nível que, mesmo 
dando acesso à beirada do mar de per-
cepções da nossa mente, favorece cone-
xões profundas e signif icativas.
Além disso, ao tornar mais nítido 
aquilo que percebemos e sentimos, nos 
permite ter um maior domínio sobre 
as emoções e ações. Sobre esse poder 
das palavras, a psicóloga e escritora 
americana Tara Brach, uma das mais 
populares professoras de mindfulness 
no Ocidente, ensina, em uma de suas 
meditações guiadas: “Aquilo que você 
nomeia passa a ter menos controle so-
bre você. Nomeie um medo e será mais 
forte que ele. Dê nome a uma ref lexão 
e você sairá do meio da nuvem de pen-
samento e estará aberto a algo maior”.
Ao ganharmos familiaridade com 
determinados conceitos, eles passam 
a fazer parte da forma como opera-
mos. Se integram aos pensamentos, 
sidade vital de conexão, é um dos aspec-
tos mais fundamentais daquilo que nos 
faz humanos. A linguagem, assim como 
a capacidade de interpretar a mente do 
outro, partindo dos mais sutis e incons-
cientes sinais, é uma derivação da nossa 
interdependência, da busca pelo amor, 
aceitação e aprovação. 
A comunicação representa a busca 
fundamental pelo conforto de termos 
testemunhas da nossa experiência nes-
se mundo. Mas mesmo com toda a sua 
complexidade, transforma apenas uma 
pequena parte desse f ilme mental ca-
ótico e subjetivo em informações que 
podem ser compartilhadas e que façam 
sentido aos outros. Muitos dos nossos 
N
ão foi a necessidade de apren-
der sofisticadas fórmulas mate-
máticas ou de construir espa-
çonaves que obrigou a evolução 
a nos privilegiar com um cérebro tão 
complexo. Foi a necessidade de conviver 
e de interagir com tantas mentes dife-
rentes da nossa. A natureza sabiamente 
poupou espécies mais individualistas 
ou que vivem em grupos pequenos de 
carregar o peso de um cérebro volumo-
so e que consome tanta energia. E nos 
diferenciou com um equipamento bio-
lógico que permite criar vínculos e re-
solver conf litos, ao custo de incontáveis 
desaf ios psicológicos, como ansiedade, 
solidão, perdas afetivas e rejeição.
Com a ajuda de uma nova tecnologia, 
conhecida como agent based modeling, foi 
f inalmente possível comprovar que espé-
cies que vivem em grupos precisam de 
cérebros maiores e as que vivem em gru-
pos muito grandes e complexos precisam 
de um que comporte recursos altamente 
sofisticados, como a linguagem. A in-
vestigação foi feita por pesquisadores da 
Universidade de Oxford para avaliar a 
demanda cognitiva das decisões sociais, 
simuladas por uma ferramenta que re-
produz situações com muitas variáveis 
e que não podem ser explicadas com a 
precisão de uma fórmula.
Nossa extraordinária habilidade de 
comunicação, resultado de uma neces-
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oferecem novas formas de interpretar 
o mundo e modif icam ou formam os 
padrões de expectativas que temos em 
relação aos outros e a nós mesmos. 
Somam-se à nossa própria essência, 
que a f luidez da língua tem o poder 
de remodelar. “(...) as palavras têm por 
característica fundamental serem um 
ref lexo generalizado do mundo. Este 
aspecto da palavra conduz-nos ao li-
miar de um tema muito mais profundo 
e mais vasto – problema geral da cons-
ciência. As palavras desempenham 
um papel fundamental, não só no de-
senvolvimento do pensamento mas 
também no desenvolvimento histórico 
da consciência como um todo. Cada 
palavra é um microcosmos da cons-
ciência humana”, coloca Vygotsky em 
Linguagem e Pensamento.
Passamos a enxergar injustiças e 
desigualdades, a identif icar melhor 
sentimentos como mágoa e remorso e 
a entender comportamentos movidos 
pelo orgulho ou ganância depois que 
esses conceitos são incorporados ao 
nosso vocabulário. Essa compreensão 
não ocorre de uma forma restrita e den-
tro de um tempo limitado. Depende de 
conhecimentos dominados em níveis 
variados – mesmo dentro de uma mes-
ma faixa etária e contexto cultural – e 
aprimorados no decorrer de toda a vida, 
nas diversif icadas formas de interação 
social e troca de informações. E por não 
se reduzirem a um conjunto de regras 
que podem ser transmitidas por meio de 
métodos sistemáticos, com resultados 
facilmente medidos, acabam trabalha-
dos no meio acadêmico apenas de for-
ma indireta e não planejada.
A educação formal, em geral, es-
pera que estudantes ganhem natural-
mente a capacidade de compreensão 
necessária para assimilar uma quan-
tidade de informações crescente em 
volume e complexidade. Desconsidera 
que a comunicação, com suas possibi-
lidades ilimitadas, representa um desa-
f io para muitos e envolve capacidades 
que podem ser exercitadas no ambiente 
escolar. Práticas que estimulam o de-
senvolvimento das habilidades verbais 
são fundamentais na superação de di-
f iculdades acadêmicas. Mais que isso, 
ajudam na formação do pensamento 
crítico e da consciência da intenção 
por trás dos discursos. E, mesmo en-
tre aqueles que não se intimidam com 
a f lexibilidade que a linguagem exige, 
exercem um grande impacto na forma 
como se relacionam com o mundo.
Michele Müller é especialista em Neurociências e Neuropsicologia da 
Educação. Pesquisa e cria ferramentas para o desenvolvimento da 
linguagem. É autora do blog www.leituraesentido.blogspot.com
18 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
psicopositiva por Lilian Graziano
Mas vejamos até onde consegue ir 
a nossa incoerência. E para isso, per-
mita-me, leitor, recorrer novamente 
( já o f iz na coluna anterior) à f igura 
de Jesus. Observe que não o faço aqui 
(como não of iz anteriormente) a 
partir de uma perspectiva religiosa, 
nem mesmo espiritual. Recorro aqui 
à imagem de Jesus como elemento 
cultural e f igura importante da 
cultura ocidental. Nesse sentido, é 
inegável que a f igura de Jesus Cris-
to seja vista como ícone de bondade 
e de humildade. Na coluna anterior 
falei sobre a bondade, razão pela 
Sendo assim, vamos direto ao 
ponto. Imagine a seguinte situação: 
você está conversando com uma pes-
soa em uma festa e, dentro de um 
determinado e pertinente contex-
to dessa conversa, a pessoa lhe diz: 
“Eu sou muito inteligente”. Seja sin-
cero(a): você diria que essa pessoa é 
humilde? Muito provavelmente não. 
E, pior, diria tratar-se de alguém ar-
rogante, não é mesmo? Pois saiba que 
você pode estar errado, sendo def ini-
tivamente vítima de uma cultura po-
pular que absolutamente desconhece 
o signif icado da palavra “humilde”.
As FORÇAS 
incompreendidas (parte II)
DE TODAS AS FORÇAS PESSOAIS 
ELA É A MAIS INCOMPREENDIDA. 
E VOCÊ, SABE O QUE SIGNIFICA 
HUMILDADE?
É 
realmente incrível. Apesar de 
sua signif icativa importância 
para a Psicologia Positiva, 
algumas das forças pessoais 
ainda são bastante incompreendi-
das, seja por parte do público leigo 
quanto, pasmem, dos prof issionais. 
Nesse sentido, demos início, na 
edição passada, a uma série de três 
textos que têm por objetivo discu-
tir sobre o que chamamos de as três 
forças mais incompreendidas da Psi-
cologia Positiva: a bondade (sobre a 
qual falamos na coluna passada), a 
humildade e a perspectiva.
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 19
Lilian Graziano é psicóloga e doutora em Psicologia pela USP, com curso de extensão 
em Virtudes e Forças Pessoais pelo VIA Institute on Character, EUA. É professora 
universitária e diretora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento, 
onde oferece atendimento clínico, consultoria empresarial e cursos na área. 
graziano@psicologiapositiva.com.br
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qual f icaremos apenas com a humil-
dade. Jesus é símbolo de humildade. 
Não obstante isso, disse, de acordo 
com a Bíblia: “Eu sou o caminho, a 
verdade e a vida”. Se utilizarmos os 
mesmos padrões de julgamento que 
utilizamos naquela festa hipotética 
do parágrafo anterior, a conclusão 
seria inevitável: Jesus era um tremen-
do arrogante!
Por que então essa incoerência? 
Por que Jesus permanece há milê-
nios como símbolo de humildade 
enquanto nós não podemos sequer 
reconhecer publicamente nossas 
qualidades sem que sejamos julga-
dos como arrogantes? 
Porque ao longo dos séculos, e mui-
to provavelmente pela própria ação 
das religiões, o conceito de humilda-
de foi sendo distorcido até chegarmos 
nos dias de hoje, quando confundimos 
humildade com insegurança, com falta 
de assertividade e, por vezes, com au-
sência de autoestima.
Eu o desaf io, leitor, a relacionar 
as pessoas do seu círculo social que 
você costumeiramente classif icaria 
como humildes. Você poderia af ir-
mar com toda certeza não se tratar 
de sujeitos inseguros? Pois é, essa 
distorção talvez tenha feito de nós 
uma sociedade pouco humilde. Não 
admiramos os humildes. Temos pena 
deles. Isso porque, def initivamente, 
não sabemos o que é humildade.
Para a Psicologia Positiva, humil-
AO LONGO DOS SÉCULOS O CONCEITO 
DE HUMILDADE FOI SENDO DISTORCIDO 
ATÉ CHEGARMOS NOS DIAS DE HOJE, 
QUANDO CONFUNDIMOS HUMILDADE COM 
INSEGURANÇA E FALTA DE ASSERTIVIDADE
dade corresponde à característica 
daquele que deixa que as suas rea-
lizações falem por si, sem procurar 
estar o tempo todo em evidência. 
Trata-se do sujeito despretensioso, 
que não se considera mais especial 
que os demais, e, o mais importante, 
alguém que possui uma percepção 
correta – e não aquém – de si mesmo.
Confesso, com um pouco de 
constrangimento, que demorei mais 
de 40 anos para entender precisa-
mente o conceito de humildade. E 
como a vida acontece para além dos 
estereótipos, quem me ensinou sobre 
isso foi um CEO de uma grande em-
presa, rico e com MBA em Harvard. 
Ele era meu último paciente da noi-
te, razão pela qual o estacionamen-
to do meu prédio estava sempre fe-
chado. Nunca reclamou por ter que 
parar seu carro na rua, nem sobre 
as confusões que o guarda da noite 
fazia, tentando substituir o porteiro 
do meu prédio. “Isso acontece com 
todo mundo. Por que não acontece-
ria comigo?”, dizia. Eu sorvia essas e 
outras manifestações de humildade 
com a avidez de uma aluna dedica-
da. Mas senti que a lição estava com-
pleta no dia em que, durante uma 
sessão, eu disse a ele: “...Mas você 
é muito inteligente!”; ao que ele me 
respondeu com f irmeza: “Eu sei”. 
Sim, ele sabia. Mas não precisava 
f ingir. Porque a verdadeira humilda-
de não precisa de falsa modéstia. 
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20 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
psicopedagogia por Maria Irene Maluf
Desenvolvimento 
INFANTIL 
OS MARCOS IMPORTANTES DE CADA FASE 
NUNCA DEVEM SER NEGLIGENCIADOS, 
POIS OS SINAIS DE QUE HÁ ALGO ERRADO 
APARECEM SEMPRE NO DIA A DIA E NÃO 
APENAS NO CONSULTÓRIO MÉDICO 
cer sozinha uma escada, chutar uma bola 
com objetivo, assim como aos 36 meses 
completos deve copiar um círculo dese-
nhado em um papel e andar de triciclo. 
Não ser capaz de copiar uma cruz ao 
completar 4 anos, e um quadrado aos 5, 
assim como abotoar seu casaco, amarrar 
os cadarços do tênis, usar talheres para 
comer, não desenhar como esperado 
para essa idade levantam a suspeita de 
um problema de coordenação motora. 
Existem pequenas variáveis no tempo 
dessas aquisições, devido às oportunida-
des de treino, mas a avaliação da gravi-
dade em atrasos de mais de 6 meses deve 
SER�FEITA�POR�PROlSSIONAIS�
No 5º aniversário, a criança é capaz 
de armar um quebra-cabeça de 4 peças 
em até 20 segundos, pode abotoar seis 
botões em até 70 segundos, pula com os 
pés juntos uma corda, e aos 6 anos avança 
em linha reta com os olhos abertos, colo-
cando alternadamente o calcanhar do pé 
que avança contra a ponta do que apoia. 
Nessa idade também pula bem corda, se 
equilibra em um pé só por 15 segundos, 
distingue direita e esquerda e recorta cor-
retamente com a tesoura.
Outra aquisição muito importante 
é a da linguagem. Bebês muito quietos, 
que não vocalizem antes dos 12 meses e 
À 
parte o amor que temos pelos 
lLHOS��HÉ�TAMBÏM�UMA�GRANDE�
responsabilidade por seu de-
senvolvimento sadio. Assim, 
o acompanhamento pediátrico é muito 
importante, mas o olhar diário da famí-
lia é imprescindível.
Para além de problemas emocionais 
e comportamentais, inclusive aqueles 
que merecem atenção redobrada, há 
uma pergunta que os pais sempre se fa-
zem: essa aquisição está de acordo com 
a faixa adequada de desenvolvimento ou 
existe um atraso?
Algumas áreas podem ser de im-
portância vital no amadurecimento da 
criança e alguns sinais estão presentes 
desde os primeiros meses de vida. São 
alertas que podem ajudar famílias a pro-
CURAREM� PROlSSIONAIS� E� ASSIM� IMPEDIR�
DANOS�MAIORES�AOS�lLHOS��ANTES�DA�ENTRA-
da no ensino fundamental.
A primeira aquisição que exige aten-
ção diz respeito ao desenvolvimento 
motor dos bebês. Segurar a cabeça, o 
TRONCO��SENTAR
SE�E�AlNAL�INICIAR�O�ANDAR�
são etapas esperadas do crescimento 
que acontecem sucessivamente antes 
dos 12 ou até 15 meses de idade.
Ao entrar na pré-escola, aos 2 anos, 
a criança deve ser capaz de subir e des-
só falem mamãe e papai no seu segundo 
aniversário, ou que cheguem aos 3 anos e 
não formem frases com linguagem com-
preensível pela maioria das pessoas, de-
vem serlevados para uma avaliação, pois 
esses atrasos repercutem de modo decisi-
vo na aquisição da alfabetização.
O próprio desenvolvimento cognitivo 
pode ser avaliado, em parte, pela riqueza 
e tipo de linguagem que a criança utiliza 
e também por seus desenhos, mas entre 3 
e 4 anos espera-se que já domine algumas 
FORMAS�E��NO�lNAL�DESSE�PERÓODO��SEU�DE-
senho tenha intenção clara de reproduzir 
um ser humano reconhecível, com ca-
beça, pernas, braços e tronco. Estimular 
essas formas de linguagem é muito im-
portante também para o incremento de 
novas habilidades indispensáveis para a 
escolarização.
Por volta dos 6 anos, a criança já re-
corda uma historinha, sabe explicar um 
fato ocorrido, fala articulando muito bem 
todos os sons, ordena objetos de acordo 
com determinada qualidade (grossura, 
cor, tamanho). Reconhece os números 
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 21
Maria Irene Maluf é especialista em Psicopedagogia, Educação Especial e 
Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Associação Brasileira de 
Psicopedagogia – ABPp (gestão 2005/07). É autora de artigos em 
publicações nacionais e internacionais. Coordena curso de 
especialização em Neuroaprendizagem. irenemaluf@uol.com.br
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VO
 
de 1 a 10 associando-os com as quanti-
dades que representam e faz somas sim-
ples. Distingue palavras escritas singelas 
como seu nome, mamãe e papai.
Até completar 7 anos, é capaz de ex-
plicar o porquê de um raciocínio seu, e as 
diferenças principais entre um homem e 
um cachorro, por exemplo. Faz analogias 
(por exemplo: um irmão é um menino, 
uma irmã é...), conta moedas fracionárias 
e notas de dinheiro, mostra rápida pro-
gressão do pensamento. É um ser curio-
so, de lógica concreta e pronto para a al-
FABETIZA¥ÎO�E�OS�DESAlOS�ESCOLARES�
Voltando à fase de bebê, ressalto a im-
portância do aspecto social. Aos 3 meses 
a criança de desenvolvimento adequado 
mostra interesse pelo rosto das pessoas 
que cuidam dela, por objetos em movi-
mento, e até os 6 meses deve reconhecer 
a mãe de modo especial, demostra curio-
sidade por coisas, e aos 9 meses mostra 
sentir angústia perto de estranhos en-
quanto em seu rosto já se percebem ex-
pressões variadas de acordo com a situa-
ção vivenciada.
Ao assoprar a primeira velinha, uma 
de suas brincadeiras favoritas consiste 
em brincar de se esconder com sua mãe, 
mostra preferência por um ou outro brin-
quedo, enquanto engatinha ou anda ex-
plora o espaço a sua volta. Perto dos 2 
anos, a criança estabelece contato visual 
O PRÓPRIO 
DESENVOLVIMENTO 
COGNITIVO PODE SER 
AVALIADO, EM PARTE, 
PELA RIQUEZA E 
TIPO DE LINGUAGEM 
QUE A CRIANÇA 
UTILIZA E TAMBÉM 
POR SEUS DESENHOS
mais continuado, sorri quando alguém 
sorri para ela, responde ao ser chamada, 
imita ações e compartilha interesses. Aos 
3 anos já brinca em grupo de crianças e 
procura se enturmar. Por volta dos 6 anos 
é esperado que tenha um melhor amigo 
E�PRElRA�BRINCAR�SOZINHA�OU�COM�DOIS�OU�
três companheiros da mesma idade do 
que em grupos numerosos.
É conhecendo nossas crianças e ob-
servando seu desenvolvimento que as 
TORNAMOS� APTAS� AOS� PRIMEIROS� DESAlOS�
da vida. Qualquer atraso no desenvolvi-
mento até essa fase é de suma importân-
CIA�� DEVE� SER� AVALIADO�POR�PROlSSIONAIS��
pois vai atuar de modo a prejudicar todo 
o aproveitamento pessoal e acadêmico 
subsequente, além de diminuir sua auto-
estima e ter repercussão na sua seguran-
ça emocional.
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23
RF
A NEUROCIÊNCIA 
TEM SE POSICIONADO 
COMO O PRINCIPAL 
ADVOGADO DE 
DEFESA DOS GAMES. 
PESQUISAS RECENTES 
MOSTRAM OS 
EFEITOS POSITIVOS 
DOS JOGOS SOBRE AS 
FUNÇÕES COGNITIVAS
utilidade pública Por Tiago J. B. Eugênio
O APRENDIZADO ENVOLVE A REPETIÇÃO POR UM PERÍODO DE 
TEMPO E FAZER ISSO NOS GAMES LEVA O CÉREBRO A CRIAR 
NOVAS CONEXÕES NERVOSAS LIGADAS À ATIVIDADE CEREBRAL
22 psique ciência&vida
Estímulo à 
perseverança
nejamento, a inibição comportamental e 
o raciocínio abstrato. Estudos anteriores 
mostraram que essa área desempenha 
um papel importante na forma como pro-
cessamos decisões complexas, tais como 
aquelas que envolvem opções que incluem 
a realização de objetivos de curto prazo 
com implicações a longo prazo. O FEF é 
responsável pela elaboração de julgamen-
tos sobre como lidar com os estímulos ex-
ternos. Também é importante na tomada 
de decisão, uma vez que permite ao cére-
bro atentar ao tipo de reação mais adequa-
DA�FRENTE�A�UM�ESTÓMULO�ESPECÓlCO��
Juntos, DLPFC e FEF são cruciais no 
sistema de tomada de decisão executivo 
do nosso cérebro. Maior espessura nessas 
áreas do cérebro (em outras palavras, mais 
conexões entre as células cerebrais) indica 
maior capacidade de lidar com diversas 
variáveis e as implicações dessas de for-
ma imediata e a longo prazo. Resultados 
de estudos como esse podem representar 
a base biológica e os efeitos da sociedade 
gamer sobre nossos cérebros. É como se 
estivéssemos descobrindo uma nova aca-
demia e encarando o cérebro como um 
novo músculo que precisa ser exercitado e 
DESAlADO��!SSIM�SENDO��SE�HOJE�O�personal 
trainer��O�PROlSSIONAL�MAIS�ADEQUADO�PARA�
elaborar exercícios para o corpo, pode ser 
que no futuro o designer de games seja o 
PROlSSIONAL� MAIS� ADEQUADO� PARA� ELABO-
rar exercícios para nossos cérebros. As 
gião mostrou perda da espessura cortical 
em associação com o uso dos jogos. 
O DLPFC é uma das áreas do cór-
tex pré-frontal mais recentes do cérebro 
primata, que sofre mudanças estruturais 
e funcionais por um longo período – até 
o início da vida adulta. Relaciona-se às 
funções executivas, como a memória de 
TRABALHO�� mEXIBILIDADE� COGNITIVA�� O� PLA-
J
ogos de videogame são feitos de de-
SAlOS��/�SUCESSO��MEDIDO�QUASE�QUE�
totalmente pela destreza do jogador, 
sobretudo a coordenação. 
Se alguém acredita que jogar videoga-
me é uma atividade passiva, pode ser que 
desconheça ou subestime o poder ativo 
do cérebro necessário para integrar todas 
AS�A¥ÜES�E�CONlGURAR�A�VITØRIA�DO�JOGADOR�
SOBRE� OS� DESAlOS� CRIADOS� PELO� DESIGNER�
do game. Acredite, jogar videogames é a 
nova academia para nossos cérebros. 
A Neurociência tem se posicionan-
do como o principal advogado de defesa 
dos games. Pesquisas recentes mostram 
um efeito positivo dos jogos sobre as fun-
¥ÜES�COGNITIVAS��%SSA�INmUÐNCIA�TEM�SIDO�
relacionada a mudanças de massa cin-
zenta dos jogadores, especialmente no 
córtex pré-frontal. Em estudo publicado 
na revista PLoS ONE, 152 adolescentes 
foram submetidos à ressonância mag-
nética enquanto jogavam videogame. O 
experimento estimou a espessura corti-
cal e relacionou com o tempo (horas) de 
jogatina dos participantes por semana. 
Os cientistas observaram uma correla-
ção positiva entre a espessura cortical 
e o tempo em contato com os jogos no 
córtex pré-frontal dorsolateral esquerdo 
(DLPFC, sigla em inglês para dorsolateral 
prefrontal cortex) e o campo visual do lobo 
frontal esquerdo (FEF, sigla em inglês 
para LEFT� FRONTAL� EYE� lELDS	. Nenhuma re-
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 23
escolas devem ser as próximas instituições 
A�ABSORVEREM�ESSE�NOVO�PERlL�PROlSSIONAL�
capaz de criar um ambiente de aprendiza-
GEM�MAIS�ElCAZ�E�DIVERTIDO��
Porém, segundo um artigo publica-
do na revista Neurology Now, o contato 
excessivo com jogos causa mudanças 
no comportamento dos adolescentes. 
%SSA�MODIlCA¥ÎO�SE�DEVE�AO�EXCESSO�DE�
produção de dopamina pelo cérebro, 
neurotransmissor relacionado à depen-
dência em jogos, inclusiveos eletrônicos. 
A estrutura de recompensa dos games é 
similar ao de máquinas de um cassino. O 
jogador insiste em bater um recorde, a 
solucionar um quebra-cabeça, matar um 
inimigo, coletar um item raro, conquistar 
mais territórios, passar aquela fase difícil. 
A vitória e a conquista fazem o cérebro 
produzir dopamina enquanto joga. A 
produção de dopamina aumenta quando 
o jogador vê a possibilidade de conquistar 
UM�DESAlO�MAIOR�AINDA��.ÎO�Ï�Ì�TOA�QUE�
o level design dos jogos segue uma lógica 
UNIVERSAL�� AUMENTO�GRADATIVO�DA�DIlCUL-
25 e 30 anos, esse tipo de problema é ain-
da mais preocupante nos jovens. 
-ESMO� DIANTE� DESSE� DESAlO�� NÎO� Ï�
a melhor estratégia proibir os jovens de 
jogar videogames. Isso porque eles tam-
bém trazem benefícios. Jogos são uma 
ótima ferramenta de aprendizado e de 
estímulo à perseverança.
Tiago J. B. Eugênio é coordenador do curso de pós-graduação em Games 
e Tecnologias da Inteligência aplicados à Educação da Capacitar. Mestre em 
Psicobiologia pela UFRN e licenciatura e bacharelado em Ciências Biológicas 
pela UNESP. Possui formação em Game-Based Learning na Quest to Learn (NY 
- EUA) É professor STEAM e de projetos relacionados a produção de jogos e 
ciências forenses do Colégio Bandeirantes. tiagoeugenio20@gmail.com 
DADE��.OSSO�CÏREBRO�ADORA�SER�DESAlADO�
e a resposta neuroquímica será mais efe-
tiva quando as tarefas tendem a se tornar 
mais difíceis com a progressão do jogo. 
Como o cérebro gosta de dopamina, não 
é difícil compreender a preferência das 
pessoas pelos bons games que exigem 
mais do jogador paulatinamente. 
O córtex pré-frontal é um dos princi-
pais alvo da dopamina. No entanto, em 
excesso, pode desativá-lo. Como essa re-
gião é ligada à tomada de decisões, jul-
gamentos e autocontrole, o aumento de 
dopamina no pré-frontal faz com que os 
jogadores percam a noção de tempo, de-
DICANDO
SE�HORAS�A�lO�AO�GAME�E�DEIXAN-
do de lado outras tarefas. Ainda, como 
essa região do cérebro completa sua for-
mação apenas quando a pessoa tem entre 
REFERÊNCIAS 
KÜHN, S.; LORENZ, R.; BANASCHEWSKI, 
T.; BARKER, G. J.; BÜCHEL, C.; CONROD, P. 
J.; HEINZ, A. Positive association of video 
game playing with left frontal cortical 
thickness in adolescents. PLoS ONE, v. 9, n. 
3, p. 1-6., doi:10.1371/journal.pone.0091506
PATUREL, A. Game theory: how do video 
games affect the developing brains of 
children and teens? Neurology Now, v. 10, n. 
3, doi: 10.1097/01.NNN.0000451325.82915.1d
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RELACIONAMENTO
Andreia Calçada é psicóloga, psicoterapeuta com formação em Gestalt, psicoterapia breve, terapia 
cognitivo-comportamental, hipnose ericksoniana, pós-graduada em Psicopedagogia, especialista 
em Psicologia Clínica e Psicopedagogia Clínica. Professora de cursos sobre avaliação psicológica 
e experiência de 10 anos em Psicologia Jurídica, como assistente técnica ou perita. Autora dos 
livros Falsas Acusações de Abuso Sexual – o Outro Lado da História. Coautora do livro Guarda 
Compartilhada – Aspectos Psicológicos e Jurídicos. 
Por Andrea Calçada
12
3R
F
COMO ACEITAR
 O 
O ser humano ainda encontra muitas 
dificuldades no sentido de saber lidar com 
alguns desafios afetivos, como, por exemplo, 
como amar ou ser amado ou como enfrentar 
questões relacionadas ao amor-próprio
Este é um tema univer-sal! Entra ano e sai ano e apenas muda de tom em suas abordagens e apresenta novas roupa-
gens; seja ele com enfoque presencial 
ou virtual, entre adolescentes, jovens 
adultos ou na maturidade. Hetero, 
homo ou bissexual. É sobre o amor 
enquanto este existe e sua felicidade. 
Sobre o amor quando finaliza e suas 
dores! Das depressões advindas des-
sas rupturas aos crimes passionais 
que nos impressionam.
A ideia desse artigo é abordar 
através da pesquisa de alguns autores, 
bem como da experiência psicológica 
clínica, as diferentes formas como as 
pessoas lidam com o rompimento afe-
tivo nos relacionamentos amorosos, 
bem como esclarecer essas dinâmicas, 
a fim de explorar formas mais equili-
bradas para lidar com esse tipo de si-
tuação. Quem dera se pudesse sempre 
lidar com perdas conforme o poema 
de Fernando Pessoa.
FIM
 Dificilmente encontra-se alguém 
que não tenha tido tal tipo de vivência. 
Os consultórios psicológicos e psiqui-
átricos estão cheios de pacientes que 
os procuram após um rompimento, 
seja para lidar melhor com o luto, seja 
para controlar uma crise mais grave 
que foi disparada. 
Bielski e Zordan (2014) definem 
que “o relacionamento amoroso é com-
preendido como um fenômeno afetivo 
social que abrange os sentimentos e os 
processos de comunicação na dinâmi-
ca das relações amorosas. Abrange o 
cotidiano e os hábitos dos relaciona-
mentos, o processo histórico de cons-
trução dos papéis na conjugalidade e 
sua dimensão jurídica, a consciência 
do valor atribuído aos vínculos nas re-
lações afetivas, como também os senti-
mentos e os processos de comunicação 
envolvidos na dinâmica das relações 
amorosas” (Cruz; Maciel, 2012). 
Ainda segundo os autores: “O 
desejo pessoal de encontrar o par-
ceiro ideal corresponde à principal 
característica das relações amorosas. 
Atualmente, esse desejo convive com 
a facilidade em desistir da relação 
frustrada e seguir buscando uma nova 
relação prazerosa, o que é estimulado 
por fatores externos, tais como mídia, 
novas tecnologias e artes em geral, 
que enfatizam a busca de uma grande 
paixão. Todos são influenciados des-
de o nascimento com a informação 
de que, se não encontramos no outro 
a felicidade, deixamos de vivenciar o 
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Eu amo tudo o que foi 
Tudo o que já não é 
A dor que já me não dói 
A antiga e errônea fé 
O ontem que a dor deixou, 
O que deixou alegria 
Só porque foi, e voou 
E hoje é já outro dia
(Fernando Pessoa)
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RELACIONAMENTO
Dificilmente 
encontra-se alguém 
que não tenha tido 
tal tipo de vivência. 
Os consultórios 
estão cheios de 
pacientes que os 
procuram após um 
rompimento, seja 
para lidar melhor 
com o luto ou para 
controlar uma crise 
mais grave que foi 
disparada
desejado bem-estar subjetivo” (Silva 
Neto; Mosmann; Lomando, 2009).
Assinalam que, de acordo com a 
literatura, o luto é uma resposta natu-
ral ao rompimento de um vínculo sig-
nificativo para o indivíduo, e quanto 
mais dependente e intenso for o vín-
culo, e a dependência, mais difícil po-
derá ser o processo de luto. Durante e 
após esse processo a pessoa precisará 
se reorganizar. 
A pesquisa desses autores buscou 
identificar os sentimentos predomi-
nantes em adultos jovens após o tér-
mino de relacionamentos amorosos. 
Nesse estudo, constatou-se o seguin-
te: após o fim do relacionamento amo-
roso, houve uma predominância de 
sentimentos positivos tanto para ho-
mens como para as mulheres, embora 
em intensidades diferentes, pois o ní-
vel de sentimentos positivos para eles 
foi superior ao delas. Além disso, as 
mulheres atingiram níveis mais eleva-
dos de sentimentos negativos quando 
comparadas aos homens, o que indica 
um maior sofrimento por parte delas. 
Esses achados podem estar relaciona-
dos a aspectos culturais que caracteri-
zam a diferenciação de gênero, pelos 
quais as mulheres ainda são educadas 
com uma maior valorização do rela-
cionamento amoroso, estimuladas a 
encontrarem um parceiro, enquanto 
os homens são educados com maior 
ênfase no aspecto predominantemen-
te profissional, preponderando a ex-
pectativa de que eles devam exercer 
maior autocontrole, não se envolven-
do tanto nos relacionamentosamoro-
sos e, também, não expressando sofri-
mento quando dessas rupturas. 
Para eles, o fato de prevalecerem 
os sentimentos positivos e não os ne-
gativos, como era esperado em outros 
tempos, pode estar relacionado aos 
novos valores que regem a sociedade 
contemporânea, dentre eles a repulsa 
ao sofrimento, o consumismo, o hedo-
nismo, a descartabilidade e a efemeri-
dade. Ao mesmo tempo, a sociedade 
está mais permissiva, aceitando, com 
maior naturalidade, a troca de parcei-
ros e a vivência de relacionamentos 
amorosos seriais.
Na visão de Marcondes, Trierwei-
ler e Cruz (2006), a ruptura é a quebra 
de vínculos, de laços emotivos, sexu-
ais e afetivos, criados tanto pelo amor 
como pelo ódio, pelas brigas e pelas 
reconciliações. Embora seja uma vi-
vência dolorosa para ambos, geral-
mente sofre mais aquele que se perce-
be como preterido (Gikovate, 2008). 
Essa dor é, com frequência, sentida 
fisicamente. São comuns dores no pei-
to, sensação de sufocamento, falta de 
ar, disfunção sexual, incapacidade de 
trabalhar efetivamente, alterações no 
peso, insônia e outros transtornos do 
sono (Pereira et al., 2012). 
Esses autores investigaram os sen-
timentos que predominam após o rom-
pimento de relacionamentos amorosos 
e as diferenças de intensidade quanto 
ao gênero, iniciativa de término e du-
ração do relacionamento em pessoas 
entre 17 e 44 anos, ampliando a amos-
tra do estudo citado anteriormente. De 
um modo geral, a separação provoca 
abalo emotivo tanto em homens como 
em mulheres, nas diferentes situações.
Conclusões
Dessa forma, segundo os resulta-dos obtidos com a pesquisa, o 
sofrimento causado pelo término de 
um relacionamento amoroso indepen-
de do tempo de duração deste. Além 
Existem diferentes maneiras de se lidar com o rompimento afetivo nas relações amorosas, e o 
objetivo é descobrir formas mais equilibradas para isso
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 27
Pesquisas investigaram os sentimentos 
que predominam após o término de 
relacionamentos e as diferenças de intensidade 
quanto ao gênero, iniciativa de término 
e duração em pessoas entre 17 e 44 anos, 
ampliando a amostra do estudo
disso, há uma predominância de atitu-
des negativas tanto para homens como 
para mulheres, embora em intensida-
des diferentes. Nesse ponto, as mulhe-
res atingiram níveis maiores quando 
comparadas aos homens, mas, quan-
do analisadas as atitudes positivas nas 
mesmas situações, os níveis foram se-
melhantes para ambos. Com relação à 
diferença na intensidade de sofrimento 
entre homens e mulheres, é interessan-
te considerar o contexto sociocultural 
em que essas pessoas estão inseridas, 
já que este pode estar interferindo nas 
respostas dos sujeitos.
Levy e Gomes, no artigo “Rela-
ções amorosas: rupturas e elabora-
ções”, fazem uma reflexão sobre os 
sentimentos que eclodem quando do 
rompimento de uma relação amorosa. 
para a superação das dores de amor e 
de uma separação conjugal e aspectos 
que a inviabilizam. Freud, em Luto e 
Melancolia ([1917] 1969), indica a ne-
cessidade de um tempo determinado 
para o trabalho de luto ser concluído e 
o ego se ver novamente livre e desini-
bido para novas investidas libidinais. 
O desinvestimento amoroso sobre o 
ex-parceiro se faz concomitantemen-
te com a recuperação das partes de si 
que foram projetadas no outro; e isso 
só pode vir acompanhado por uma 
possibilidade de integração egoica de 
cada um dos envolvidos, o que sig-
nifica quebrar com a idealização do 
modelo fusional de relacionamento 
(sem diferenciação e limites entre os 
parceiros). Com isso, a energia poderá 
ser canalizada para outras áreas ou re-
lacionamentos.
A capacidade de reorganização in-
terna está intimamente ligada com a 
forma como foi estruturada a persona-
lidade das pessoas envolvidas em um 
relacionamento e sobre a percepção de 
si mesmo: dependente/independente, 
capaz/incapaz, ser uma pessoa capaz 
de ser amada ou não. Enfim, como foi 
estruturada a autoestima. 
Œ�Luto e Melancolia Œ
Na obra Luto e Melancolia, Sigmund Freud 
procura desenvolver considerações sobre a 
natureza da melancolia, traçando um parale-
lo com o afeto normal do luto e buscando 
discutir suas manifestações de origem psi-
cogênica. A correlação utilizada por Freud 
entre luto e melancolia se justifica pela 
semelhança no cenário geral dos dois ele-
mentos. O luto se caracteriza pela reação 
normal à perda de um ente querido e a me-
lancolia hoje atinge boa parte da população 
mundial, sob o nome de depressão.
IM
AG
EN
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 1
23
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MEDEIA, UMA HISTÓRIA DE AMOR E ÓDIO
 PARA SABER MAIS 
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edeia é uma das personagens mais fascinantes da mitologia grega. Diz a 
lenda que ela foi uma feiticeira que ajudou Jasão, o líder dos argonautas, a 
conquistar o velocino de ouro (a lã de ouro do carneiro alado Crisómalo), que 
pertencia a seu pai, Aetes, rei da Cólquida. Neta do Sol, Medeia se apaixonou 
por Jasão e movida pelo amor traiu seu pai. Fugiu de sua terra com o grupo 
do amado para Iolcos, na Tessália. Depois de dez anos de casamento, Jasão se 
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um manto mágico, que se incendiou ao ser vestido, matando Gláucia. O destino 
de Jasão é incerto. Depois disso, Medeia se casou com o rei Egeu, pai de Teseu, 
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�G�Medeia, de Eurípedes.
Abordam principalmente os efeitos da 
perda do amor para a mulher no lugar 
que ocupa como mãe e nas exigências 
feitas ao parceiro nessa reflexão. Enfo-
cam que muitas vezes, nesses casos, a 
paixão se torna perversão do amor e 
a perda do objeto amado assemelha-
-se à perda de partes de si, impedindo 
a superação da dor. Se a mulher pre-
cisa ser amada para “ser”, a falta de 
amor do parceiro e o rompimento da 
relação provocam reações de intensa 
carga destrutiva. A personificação de 
Medeia em crimes passionais e em 
processos tramitando em Varas de Fa-
mília ilustra seu “enlouquecimento” 
diante da perda do amor.
Em seguida, as autoras abordam 
algumas contribuições teóricas que 
nos ajudam a compreender o caminho 
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RELACIONAMENTO
Neurociência afetiva
Maria Tereza Maldonado, na apre-sentação do livro Labirinto de 
Espelhos, aponta que os conhecimen-
tos recentes da Neurociência afetiva e 
as pesquisas sobre as origens da cons-
trução do vínculo entre mãe e filho 
desde a gravidez mostram a possibili-
dade de desenvolver, desde os primei-
ros anos de vida, as sementes do amor, 
da empatia e da capacidade de cuidar. 
Criando, assim, condições para que 
desenvolvam habilidades e competên-
cias a partir da construção de uma base 
sólida de boa autoestima. Essa base só-
lida permite percorrer, de modo mais 
seguro, os labirintos da vida, com suas 
dificuldades e possibilidades, surge 
como alicerce de força de vida. Acredi-
tar em si mesmo, em sua força, em suas 
possibilidades de ser bem-sucedido é 
ingrediente básico da autoestima, que 
influencia o grau de autodeterminação. 
A formação da boa autoestima depen-
de profundamente do olhar amoroso 
de apreciação, do ser visto como pes-
soa de valor, com competência, no mí-
nimo por uma pessoa significativa nos 
círculos de convivência.Quando esse 
olhar estruturantefalha, a pessoa tenta 
alicerçar-se externamente no parceiro, 
procurando nele a segurança (e a auto-
da estrutura de personalidade de cada 
um, a reação será mais ou menos agres-
siva, mais ou menos depressiva, e a di-
ficuldade em responsabilizar-se pelo 
término, culpabilizando o outro, se im-
põe. Muitas vezes o ódio se manifesta 
pela ferida aberta e o estrago é feito na 
vida de quem está em volta. Do ex-par-
ceiro (a), dos filhos, enfim chegando a 
tragédias como vemos estampadas em 
jornais do nosso país e do mundo. 
Interessante pensar a partir dos 
resultados das pesquisas apresentadas 
anteriormente: em adultos jovens há 
a predominância de sentimentos po-
sitivos tanto para homens como para 
as mulheres, embora em intensidades 
diferentes, pois o nível de sentimentos 
positivos para eles foi superior ao de-
las. Além disso, as mulheres atingiram 
níveis mais elevados de sentimentos 
negativos quando comparadas aos ho-
mens, o que indica um maior sofrimen-
to por parte delas.
Constata-se que as mulheres ainda 
possuem a maior dificuldade em fazer 
o luto, bem como lidar com a separa-
ção, principalmente quando do lugar 
de mãe e as exigências feitas ao ex-
-parceiro. Como já relatei neste arqui-
vo sobre a imagem das Medeias, Levy 
e Gomes levantam a questão das que 
“matam” seus filhos nas Varas de Famí-
lia após separações. Embora não seja 
este o objetivo do artigo, é importante 
vincular aqui a questão da alienação 
parental, ensejando a morte psicológi-
ca dos filhos envolvidos nesses litígios. 
A necessidade, porém, de uma análise 
histórico-cultural se faz imprescindí-
vel para que se entenda que essa não é 
uma questão de gênero, mas da contex-
tualização da mulher no mundo e nas 
relações e seus vínculos com o poder. 
O quanto a questão das relações 
vinculares significativas e seu olhar de 
valorização e respeito sobre a crian-
ça são fundamentais na estruturação 
da autoestima e da personalidade. O 
quanto a desvalorização da mulher por 
séculos ainda pesa na estruturação de 
O sofrimento 
causado pelo 
término de um 
relacionamento 
amoroso independe 
do tempo de 
duração deste. 
Além disso, há uma 
predominância de 
atitudes negativas 
tanto para homens 
como para 
mulheres, embora 
em intensidades 
diferentes
As mulheres alcançaram 
níveis mais elevados de 
sentimentos negativos 
se comparadas 
aos homens, o que 
mostra maior sofrimento 
por parte delas
estima) que lhe falta. Quando, então, 
o rompimento se dá a insegurança e 
as instabilidades internas surgem à 
tona, além do luto esperado para a fi-
nalização de um relacionamento. Estas 
estavam apenas tamponadas pelo rela-
cionamento. Dependendo do tamanho 
da insegurança e da instabilidade, além 
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 29
REFERÊNCIAS 
ALMEIDA, Thiago de. Relacionamentos 
Amorosos: o Antes, o Durante... e o Depois, v. 
2. São Paulo: Polo Books, 2014. 
ASSIS, S. G. de; AVANCI, J. Q. Labirinto de 
Espelhos: Formação da Autoestima na 
Infância e na Adolescência. Coleção Fiocruz 
Criança Mulher e Saúde. Rio de Janeiro: Editora 
Fiocruz,
BIELSKI, D. C.; ZORDAN, E. P. Sentimentos 
Predominantes, após o Término do 
Relacionamento Amoroso, no Início 
da Adultez Jovem, v. 38, n.144, p. 17-24, 
dezembro/2014, Perspectiva, Erechim. 
LEVY, L.; GOMES, I. C. Relações 
amorosas: rupturas e elaborações. Tempo 
Psicanalítico, v. 43, n.1, jun. 2011, seção 
temática, Rio de Janeiro. 
MARCONDES, M. V., TRIERWEILER, M.; CRUZ, 
R. M. Sentimentos predominantes após o 
término de um relacionamento amoroso. 
Artigo 94 da Psicologia: Ciência e Profissão, 
v. 26, n. 1, p. 94-105, 2006.
Com relação à diferença na intensidade 
de sofrimento entre homens e mulheres, 
é interessante considerar o contexto 
sociocultural em que essas pessoas estão 
inseridas, já que este pode estar 
interferindo nas respostas dos sujeitos
IM
AG
EN
S:
 1
23
RF
sua autoestima. Quanto mais bem es-
truturadas encontram-se a autoestima 
e a personalidade, maior a flexibilidade 
e melhor a forma como cada um vai li-
dar com os rompimentos de relaciona-
mentos amorosos.
(�
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Percebem-se mudanças contempo-râneas quando se analisa o resul-
tado da pesquisa com adultos jovens 
que demonstram reações positivas às 
separações, diferentemente do que era 
esperado anteriormente. Segundo os 
autores, podendo estar relacionado aos 
novos valores que regem a sociedade 
contemporânea, dentre eles a repulsa ao 
sofrimento, o consumismo, o hedonis-
mo, a descartabilidade e a efemeridade. 
À dificuldade em fazer contato e viven-
ciar emoções mais negativas, bem como 
lidar com as frustrações e a realidade do 
cotidiano de um relacionamento mais 
duradouro. Ao mesmo tempo, a socie-
dade está mais permissiva, aceitando, 
com maior naturalidade, a troca de par-
ceiros com maior frequência.
Sobre formas melhores de lidar 
com rompimentos não foram encontra-
dos textos de cunho acadêmico que fa-
lem sobre o assunto diretamente, como 
diversos sites o fazem. Tais dicas vão 
desde “deixar fluir” as emoções e fazer o 
luto até encontrar hobbies, estar com fa-
miliares e amigos. A internet e as redes 
sociais devem ser evitadas bem como 
ambientes que fazem lembrar-se do ex-
-parceiro. Apesar dessas dicas (que por 
vezes soam como parte de livros de au-
toajuda) que são importantes, necessá-
rio se faz um mergulho interno de cada 
um em busca do resgate de partes de si 
que se perderam no relacionamento e 
projetadas no ex-parceiro, das necessi-
dades que foram procuradas externa-
mente ao invés de serem desenvolvidas 
internamente. Da busca de autonomia 
interrompida, que deverá ser resgatada, 
que ajudará cada um a não se sentir tão 
frágil e vulnerável frente a uma separa-
ção. A autonomia e autoconfiança que 
impedirão que medos infantis, senti-
mentos de rejeição e abandono surjam 
em uma regressão devastadora. Que 
dos rompimentos venham a tristeza, 
o luto e a saudade. A experiência agre-
gada que fará buscar novas experiên-
cias evitando repetições prejudiciais 
ao crescimento individual. E também 
à monotonia de um casamento falido, 
bem como aprendendo a lidar com as 
frustrações normais a um relaciona-
mento. Enfim, quem se encontra não 
se perderá frente a um rompimento. 
Inúmeras vezes o ódio se 
impõe pela ferida aberta e o 
estrago é feito na vida de quem 
���P��������G9�I�������‚����9�
chegando a tragédias sociais 
relativamente comuns
30 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
Era extremamente católica e dedicava grande 
respeito e veneração pela memória de seu pai
PERlL Por Anderson Zenidarci
A TRAJETÓRIA DA RAINHA DE PORTUGAL, D. MARIA I, 
MOSTRA UM GOVERNO COM GRANDES FEITOS, MAS OS 
CAPÍTULOS DE DESAGREGAÇÃO PSÍQUICA COM DELÍRIOS 
PARANOIDES TAMBÉM MARCAM SUA HISTÓRIA
De GENEROSA a LOUCA 
mias dos vários países onde estiveram. 
!O� CHEGAREM� � TERRA� NATAL� ENCONTRAM�
NO� PODER�� NOMEADO� PELA� RAINHA�� UM�
HOMEM�QUE�� PELA� SUA� LONGA� RESIDÐNCIA�
EM� ,ONDRES�� ADQUIRIRA� O� GOSTO� PELOS�
MELHORAMENTOS� E� PELO� PROGRESSO� INTE-
LECTUAL��,UÓS�0INTO�DE�3OUSA�#OUTINHO��
A estes homens se devem os méritos 
que honram o reinado de D. Maria I, 
FUNDA¥ÜES� DE� ESTABELECIMENTOS� DE� CI-
ência e instrução, como a Academia 
2EAL�DAS�#IÐNCIAS��A�!CADEMIA�DE�-A-
RINHA�� A� !CADEMIA� DE� &ORTIlCA¥ÎO�� A�
#ASA� 0IA�� A�"IBLIOTECA� 0ÞBLICA� ETC��%LA�
apoiava e propiciava a criação desses 
ESTABELECIMENTOS�� SOBRETUDO� QUANDO�
ENVOLVIAM��TAMBÏM��lNS�DE�CARIDADE�E�
AJUDA�Ì�POPULA¥ÎO��ERA�CONHECIDA�COMO�
MUITO�BONDOSA��/�SEU�ESPÓRITO�RELIGIOSO�
A� FEZ� CONSTRUIR� MAGNÓlCAS� EDIlCA¥ÜES�
RELIGIOSAS� E� MONUMENTOS� QUE� HOJE� VI-
SITAMOS�ENCANTADOS��0ORTUGAL�RESSURGIU�COM�RENOVA¥ÜES�E�MELHORIAS��
#OMO� MUITO� RELIGIOSA�� TINHA� UM�
CONFESSOR�PESSOAL��DURANTE�DÏCADAS�FOI�O�
ARCEBISPO�DE�4ESSALØNICA��HOMEM�POUCO�
ILUSTRADO��MAS� DE� UM� CARÉTER� CORRETO� E�
de bom senso, que não usava o fato de 
SER�CONFESSOR�DA�RAINHA�PARA�INmUENCIÉ-
LA� POLITICAMENTE� OU� MANIPULÉ
LA� POR�
MEIO�DA�RELIGIÎO��3UA�INmUÐNCIA�ERA�PARA�
ACALMAR� A� CONSCIÐNCIA� ENFRAQUECIDA� DE�
$��-ARIA� E� LHE� SERENAR� OS� CONmITOS� DE�
CONSCIÐNCIA� PELA� CULPA� DE� hTER� TRAÓDO� O�
reinado de seu pai”. Foi um choque para 
ELA�SABER�DE�SUA�MORTE��
D. 
Maria I nasceu em Lisboa 
EM�������lLHA�DO�REI�$��*OS�)�
e da rainha consorte D. Ma-
riana. Em 1777, com a morte 
DO�PAI��FOI�A�PRIMEIRA�RAINHA�DE�0ORTUGAL��
Por não haver príncipe varão, e por não 
EXISTIR�EM�0ORTUGAL�A�,EI�3ÉLICA��QUE�AFAS-
TAVA�AS�MULHERES�DO�GOVERNO�DO�ESTADO	��
foi coroada e empunhou o cetro, carre-
gando um governo de extrema respon-
SABILIDADE��!TÏ�ENTÎO�TODAS�AS�hRAINHASv�
tinham conquistado esse posto por meio 
de casamento com o rei, portanto não 
POSSUÓAM�ESSE�PRIVILÏGIO��4AMBÏM�O�TÓ-
TULO�DE�PRINCESA�DO�"RASIL�PASSOU�A� SER�
DELA��$EVIA��POR�PROTOCOLO��SE�CASAR�COM�
um príncipe português. Apesar da gran-
de diferença de idade, casou-se com o 
tio D. Pedro, irmão do pai. Mesmo sendo 
um casamento de interesses, afeiçoou-
SE�AO�MARIDO��E�ELE�A�ELA	�� TORNANDO
SE�
AMIGOS� E� PRØXIMOS�� TIVERAM� SETE� lLHOS�
�TRÐS�HOMENS�E�QUATRO�MULHERES	��QUATRO�
MORRERAM� ANTES� DE� COMPLETAR� UM� ANO��
Dos três que sobreviveram: o príncipe 
HERDEIRO�$��*OS��FALECEU�COM����ANOS�DE�
VARÓOLA��$��*OÎO��QUE�PASSA�A�SER�O�HERDEI-
ro, é mais tarde coroado como João VI, e 
A�INFANTA�$��-ARIANA�6ITØRIA��QUE�CASOU�
COM�O�INFANTE�DE�%SPANHA�$��'ABRIEL��
!� RAINHA� ERA� EXTREMAMENTE� CATØLI-
ca e dedicava grande respeito e vene-
RA¥ÎO�PELA�MEMØRIA�DE� SEU�PAI��%NTROU�
EM�CONmITO�COM�O�-ARQUÐS�DE�0OMBAL��
poderoso grande ministro no reinado 
do pai, mas tinha mais interesses pesso-
AIS�DO�QUE�PELO�REINO��%LE�EXILOU�VÉRIOS�
duques, marqueses, pensadores que de 
forma direta ou não se opunham ao seu 
COMANDO��%XPULSOU�OS�JESUÓTAS�DO�PAÓS�E�
tomou seus bens. Fosse porque D. Maria 
TIVESSE�ANTIPATIA�PELO�-ARQUÐS�DE�0OM-
BAL� QUE� O� SEU� ESPÓRITO� DEVOTO� HAVIA� DE�
sentir contra o perseguidor dos jesuítas 
ou porque juntasse o rancor motivado 
PELO�CONHECIMENTO�DE�SEUS�PLANOS��O�DE-
mitiu oito dias depois de subir ao trono, 
TRAZENDO�DE�VOLTA�OS�JESUÓTAS�E�OS�OUTROS��
A partir daí ocorre uma mudança 
RADICAL�NO�PODER�E�NAS�CABE¥AS�PENSAN-
TES��OS�EXILADOS�VOLTAM�TRAZENDO�NOVAS�
IDEIAS� E� INFORMA¥ÜES�DAS�POLÓTICAS�� HÉ-
BITOS��NOVIDADES� TECNOLØGICAS�E�ECONO-
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 31
Lidava com uma 
tristeza profunda pelas 
perdas do marido, 
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lutos desorganizaram 
seu estado emocional 
totalmente
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DIÁRIAS, SEMPRE 
MONITORADAS 
POR DAMAS DE 
COMPANHIA, 
DEVIDO AO ESTADO 
ALTERADO DE 
CONSCIÊNCIA, 
APRESENTAVA-SE 
ALIENADA DE TUDO 
AO REDOR, DAÍ VEM 
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COM AS OUTRAS”
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SEM��SEM�OPOSI¥ÎO��ALIENADA�DE� TUDO�AO�
REDOR��DA�VEM�A�FRASE��h-ARIA�VAI�COM�AS�
OUTRASv��-ORREU�EM�������NO�#ONVENTO�DO�
Carmo, no Rio de Janeiro, aos 81 anos de 
IDADE��%M������SEUS�RESTOS�MORTAIS�FORAM�
TRANSLADADOS�PARA�,ISBOA�E�SEPULTADOS�NO�
MAUSOLÏU�DA�"ASÓLICA�DA�%STRELA��UMA�DAS�
igrejas que mandou erguer.
respeito à mãe, a conservou até a morte 
COM�O� TÓTULO�DE� RAINHA��-ARIA� VIVEU�NO�
"RASIL� POR� OITO� ANOS�� SEMPRE� EM� ESTADO�
ALTERADO�DE�CONSCIÐNCIA�E�DEMONSTRANDO�
PROFUNDA�PERTURBA¥ÎO�DELIRANTE��.AS�SUAS�
caminhadas diárias, sempre monitoradas 
POR�DAMAS�DE�COMPANHIA��ELA�SE�SEGURAVA�
NELAS��QUE�A�CONDUZIAM�PARA�ONDE�QUISES-
)NCLUIU�ESSA�TRISTEZA�ÌS�OUTRAS�PERDAS��
DO�MARIDO�� DA�MÎE� E� DO�lLHO�HERDEIRO�
$�� *OS��/S� LUTOS� A� DESORGANIZARAM� TO-
TALMENTE�� 3EU� CONFESSOR� PASSOU� A� SER� O�
BISPO� DO�!LGARVE�� UM� FANÉTICO� E� DESTI-
tuído de bom senso, que não fazia senão 
AGRAVAR�O�ESTADO�DE�DESEQUILÓBRIO�DA�RAI-
NHA��MOSTRANDO
LHE�OS�PECADOS�E�CRIMES�
QUE�COMETIA��5SAVA�SUA�FRAGILIDADE�PARA�
lNS�PRØPRIOS�E�DE�SEUS�PROTEGIDOS��!�LUTA�
QUE�TRAVAVA�NO�SEU�EMOCIONAL�ENLUTADO��
OS�MEDOS�RELIGIOSOS�DE�PUNI¥ÎO�ETERNA�E�
AS�PRESSÜES�POLÓTICAS�CADA�VEZ�MAIS�ACIR-
radas produziram uma desagregação 
PSÓQUICA�COM�DELÓRIOS�PARANOIDES�E�ALUCI-
NA¥ÜES�COM�FATOS�OCORRIDOS�EM�PÞBLICO��
$E� h2AINHA� 'ENEROSAv�� PASSOU� AOS�
58 anos de idade, quase duas décadas de 
REINADO�� A� SER� DESIGNADA� COMO� h!�,OU-
ca”. Não mais recuperou a capacidade 
de governar. Em 1807 embarcou fugida 
COM�TODA�A�FAMÓLIA�REAL�PARA�O�"RASIL��POR�
ocasião da invasão dos franceses em Por-
TUGAL��&OI�LEVADA�Ì�FOR¥A�PARA�BORDO�E�PELO�
caminho gritava de dentro da carruagem 
QUE�A�QUERIAM�LEVAR�AO�SUPLÓCIO��AO�INFER-
no, que eram demônios que vieram rou-
BÉ
LA��%SSE� COMOVENTE� EPISØDIO�OCORREU�
depois de quinze anos da manifestação 
do transtorno esquizofrênico severo, o 
QUE�OBRIGOU�SEU�lLHO��O�PRÓNCIPE�$��*OÎO��
A�ASSUMIR�A�REGÐNCIA�DO�REINO��O�QUAL��POR�
32 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
coaching por Eduardo Shinyashiki
A VIDA É FEITA DE NOVAS EXPERIÊNCIAS, SEJA NA ÁREA 
PROFISSIONAL OU PESSOAL E, DESDE AS SITUAÇÕES SIMPLES 
ÀS COMPLEXAS, É IMPRESCINDÍVEL QUE POSSAMOS 
NOS MARAVILHAR COM AS NOVIDADES CONSTANTEMENTE. 
ESSE JÁ É UM APRENDIZADO 
Aprenda a APRENDER
H
á sempre mais para ser ex-
plorado! Esse talvez seja 
o pensamento que deve-
ríamos ter ao menos uma 
vez por dia, para colocar sempre em 
pauta a necessidade de olharmos por 
cima do muro do cotidiano e encon-
trar possibilidades onde antes acre-
ditávamos existir apenas o trivial. 
Vamos a um exemplo prático? 
Imagine que está escrevendo uma 
carta sobre a sua vida para um ami-
go que não vê há muito tempo. Logo 
num primeiro momento, não lhe vêm 
à cabeça apenas as coisas que já são 
conhecidas, ou seja, o que já realizou 
e faz no presente? Dif icilmente a pri-
meira ideia a apresentar nessa carta 
será o seu planejamento para o futuro 
e as descobertas que tem feito ao lon-
go dos dias. Por uma característica 
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 33
de “sedentarismo mental”, buscamos 
sempre o estado de equilíbrio ba-
seado nos fatos e nas situações que 
já nos são familiares e confortáveis, 
ainda que dentro desse cenário exis-
tam situações desagradáveis. 
Ref letindo sobre essa questão, é 
imprescindível que a gente possa se 
maravilhar com as novidades da vida 
constantemente. Deixe de lado, ain-
da que por alguns instantes no dia, 
todas as certezas e busque as pergun-
tas em vez de respostas. Lembre-se 
de que na história da humanidade ti-
vemos a queda de grandes verdades, 
entre as quais o pensamento de que a 
Terra era plana. Bem, se a curiosida-
de – e o empenho em saná-la – nos 
fez evoluir nesse caso, por que não 
utilizá-la a nosso favor também nas 
demandas de nossa existência? Fe-
lizmente, não temos a capacidade de 
aprender algo a ponto de dominá-lo, 
o que exige uma renovação periódica 
do que acreditamos conhecer.
Contudo, quando deixamos de in-
vestir energia e tempo na tarefa de 
redescobrir, corremos o riscode cair 
no mar do “conhecimento ignoran-
te”. Essa é a situação vivenciada pe-
los prof issionais que viajam o mun-
do todo a trabalho sem se darem a 
oportunidade de explorar de forma 
concreta as regiões por onde passam. 
Após algum tempo, eles até pode-
rão ter muitas histórias interessantes 
para contar sobre suas idas e vindas, 
mas poucas terão realmente algo de 
original, pois é bem provável que não 
saibam falar sobre a experiência da 
culinária local ou de como o povo se 
comporta. 
Quantas vezes na semana você 
faz uma parada para pensar como es-
tão se relacionando os fatos ligados 
a diferentes dimensões da sua vida? 
Por exemplo, a sua última promoção 
no trabalho se deu em um momen-
to positivo no âmbito familiar? Além 
disso, como seu comportamento com 
amigos e pessoas queridas é modif i-IMA
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Eduardo Shinyashiki é palestrante, consultor organizacional, especialista em 
Desenvolvimento das Competências de Liderança e Preparação de Equipes. 
É presidente do Instituto Eduardo Shinyashiki e também escritor e autor de 
importantes livros como Transforme seus Sonhos em Vida (Editora Gente), sua 
publicação mais recente. www.edushin.com.br
cado quando algo não está bem no 
escritório? Essas questões podem 
parecer simples, mas escondem algo 
importante: a existência do plano 
macro, ou seja, de uma forma de 
visualizar o mundo que está direta-
mente relacionada à sua totalidade e 
às conexões que se fazem presentes 
por trás dos fatos. 
Como sempre, é necessário um 
bom planejamento, e essa visão ma-
cro o auxilia nesse processo. Estabe-
leça seus objetivos e pontue as metas 
sem deixar de lado os efeitos que elas 
terão no plano geral. Para isso, uma 
boa dica é ouvir a sua intuição. O que 
muitos chamam de “aquela voz que 
fala comigo mesmo” pode ser, quan-
do estimulada da forma correta, uma 
potente ferramenta para as tomadas 
de decisão. Em outras palavras, de-
vemos conf iar em nossa intuição, 
deixando que ela nos guie e, à me-
dida que essa relação se tornar mais 
contínua, os insights serão mais preci-
sos e constantes.
Quando ouve a sua própria voz, 
você vê o que mais ninguém pode ver. 
Se o caminho para o sucesso pudesse 
ser escrito de forma simples, encon-
traríamos a sua síntese ao dizer que 
ele chega para os que enxergam o que 
ninguém viu, ainda que olhando para 
um mesmo referencial. Inovações 
tecnológicas, novas formas de com-
portamento e tendências no mercado 
surgem dessa forma. É fácil compro-
var essa situação. Há poucos anos, 
ninguém precisava de um telefone 
celular para dar conta de sua existên-
cia. Atualmente, ninguém mais sai de 
casa sem seu aparelho pessoal, nem 
mesmo para ir até a padaria. Para os 
QUE�ESTÎO�PENSANDO��OK��ISSO�JÉ�NÎO�Ï�
mais uma novidade”, f ica o convite: 
qual será o próximo meio de comu-
nicação da humanidade? Vislumbre 
essa resposta e você pode ser a mais 
nova personalidade do mundo. 
Aprenda a aprender! “Viver e não 
ter a vergonha de ser feliz. Cantar e 
cantar e cantar a beleza de ser um 
eterno aprendiz.” Eternizada na voz 
de tantos talentos da nossa música, 
a canção de Gonzaguinha é o resu-
mo do que há por trás de pessoas 
que unem sonho e vontade de fazer 
a diferença. Por isso, deixo aqui um 
pedido: crie um ambiente bem acon-
chegante em sua casa para realizar o 
café da manhã do aprendizado, deixe 
essa canção de fundo e escreva tudo o 
que você deve reaprender, abordando 
tópicos complexos ou simples, como 
“aproveitar o amanhecer em um dia 
de folga”. O importante é que você se 
reconecte com o espírito da boa des-
conf iança e aprenda o novo, mesmo 
que ele já seja muito conhecido pelo 
hábito. Há sempre algo de novo para 
conhecer e enxergar! Fazer diferente 
para fazer a diferença! 
SE O CAMINHO PARA O SUCESSO 
PUDESSE SER ESCRITO DE FORMA SIMPLES, 
ENCONTRARÍAMOS A SUA SÍNTESE AO 
DIZER QUE ELE CHEGA PARA OS QUE 
ENXERGAM O QUE NINGUÉM VIU, AINDA QUE 
OLHANDO PARA UM MESMO REFERENCIAL
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Por Lucas Vasques
Atuação do psicólogo jurídico (comunicação entre Psicologia e Direito) 
No livro Psicologia Jurídica no Processo Civil Brasileiro, a autora, Denise Maria Perissini da Silva, psicólo-
ga clínica e jurídica, atualiza o panorama geral da atuação do psicólogo jurídico nas ações de Família e 
)NFÊNCIA��TRAZENDO�NOVAS�JURISPRUDÐNCIAS��REVISÎO�BIBLIOGRÉlCA�E�AS�INOVA¥ÜES�DAS�LEGISLA¥ÜES�REFERENTES�
à Guarda Compartilhada e novo Código de Processo Civil. A perícia psicológica será enfocada quanto 
AOS�ASPECTOS�LEGAIS�E�lNALÓSTICOS��RESSALTANDO
SE�A�IMPORTÊNCIA�DAS�IMPLICA¥ÜES�ÏTICAS�NO�EXERCÓCIO�PRO-
lSSIONAL�DO�PSICØLOGO��BEM�COMO�A�ATUA¥ÎO�DO�PSICØLOGO�JUDICIÉRIO�NAS�6ARAS�DA�&AMÓLIA�E�NAS�6ARAS�
DA�)NFÊNCIA��$ISCUTE�TAMBÏM�A�COMUNICA¥ÎO�ENTRE�A�0SICOLOGIA�E�O�$IREITO��QUESTIONANDO�A�lGURA�DO�
juiz e a imagem do Judiciário frente à sociedade, e analisando a contribuição de ambos para a compre-
ensão do ser humano, a busca do ideal de Justiça e a construção da cidadania. 
Psicologia Jurídica no Processo Civil Brasileiro
Autora: Denise Maria Perissini da Silva 
Editora: Forense
Número de páginas: 592 
O que é hipnoterapia? (técnica traz benefícios)
%SSE�PEQUENO�GUIA�ENSINA�NÎO�SØ�O�QUE�Ï�A�HIPNOSE��MAS�TAMBÏM�PARA�QUE�SERVE�E�SEU�USO�NAS�VÉRIAS�
ESPECIALIDADES��PRINCIPALMENTE�COMO�FERRAMENTA�NAS�TERAPIAS�ALTERNATIVAS��6OC�SABE�O�QUE��SER�HIP-
notizado? E para que serve a hipnose nos tratamentos em Psicoterapia, Medicina e Odontologia? A 
PSIQUIATRA�E�PSICANALISTA�3OlA�"AUER��AUTORA�DO�LIVRO�Para Entender a Hipnoterapia, EXPLICA�O�CONCEITO�
E�COMO�ELA�Ï�FEITA��#LARIlCA�TAMBÏM�DOIS�PONTOS�IMPORTANTES��QUANDO�USAR�E�COM�QUEM��!�DOUTORA�
POSSUI����ANOS�DE�EXPERIÐNCIA�NO�USO�DA�HIPNOTERAPIA�NAS�SESSÜES�E�O�LIVRO�FOI�UMA�MANEIRA�DE�LEVAR�AO�
público o conhecimento dessa alternativa que vem acumulando ótimos resultados em seus pacientes. 
/�GUIA�TAMBÏM�ABORDA�OS�MITOS�SOBRE�A�HIPNOSE��AS�DIFEREN¥AS�ENTRE�HIPNOSE�DE�PALCO�versus hipno-
TERAPIA��A�HISTØRIA�DA�FAMOSA�HIPNOTERAPIA�ERICKSONIANA��FALA�SOBRE�A�AUTO
HIPNOSE�E�TRAZ�TÏCNICAS�EM�
hipnose. Um material rico e completo para quem quer entender a hipnoterapia. 
Para Entender a Hipnoterapia 
�����Gd�-�‚G��G���� 
Editora: Wak 
Número de páginas: 124 
Compulsão precoce (comportamento na infância)
Estudos revelam que o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) afeta cerca de 2% a 3% 
da população geral; em cifras, estima-se que mais de 100 milhões de pessoas no mundo 
INTEIRO�SEJAM�PORTADORAS�DA�DOEN¥A��QUE�TAMBÏM�ACOMETE�O�PÞBLICO� INFANTIL��/�TEMA�
Ï�O�FOCO�CENTRAL�DO�LIVRO�TOC: Aprendendo sobre os Pensamentos Desagradáveis e os Com-
portamentos Repetitivos. Escrito pelas especialistas em terapia cognitivo-comportamental 
*ULIANA�"RAGA�'OMES�E�#RISTIANE�&LÙRES�"ORTONCELLO��A�OBRA�ABORDA��DE�MANEIRA�LÞDICA��O�
transtorno que, muitas vezes, inicia na infância ou adolescência e tende a se manter ao 
LONGO�DA�VIDA�SE�NÎO�TRATADO��TRAZENDO�PREJUÓZOS�SIGNIlCATIVOS�NA�QUALIDADE�DE�VIDA��/�
LIVRO�TEM�COMO�OBJETIVO�AUXILIAR�NA�PSICOEDUCA¥ÎO�DO�TRANSTORNO�E�NO�TRATAMENTO��APRE-
sentando os principais tipos de sintomas que podem surgir na infância ou adolescência. 
TOC: Aprendendo sobre os Pensamentos Desagradáveis e os Comportamentos Repetitivos
Editora: Sinopsys
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Número de páginas: 32 
livros
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Pesquisadores 
como Jean Piaget 
dedicaram sua obra 
para compreender 
e explicar o mundo 
da criança e o seu 
desenvolvimento 
emocional, além 
do tanto que esses 
fatoresinfluenciam 
no processo de 
aprendizado
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O universo da 
COGNIÇÃO 
e o ato de 
aprender
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36 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
A regulação das emoções constitui uma habilidade fundamental para a intera-ção social, influenciando 
diretamente na expressão de senti-
mentos e no comportamento de cada 
pessoa. A regulação das emoções tem 
sido definida como estratégia cons-
ciente ou inconsciente dirigida a man-
ter, aumentar ou diminuir um ou mais 
componentes dos comportamentos e 
respostas fisiológicas que constroem 
as emoções (Mauss; Evers; Wilhelm; 
Gross, 2006), em cada indivíduo. 
As diferenças individuais resultam 
em dimensões de traços pessoais, de ní-
veis de ansiedade e de tendências com-
portamentais, assim como se alteram 
as ativações cerebrais que influenciam 
a capacidade de regular as emoções ou 
que resultam no surgimento de patolo-
gias mentais, como no caso do estres-
se, que pode se desdobrar em diversos 
comprometimentos psicofisiológicos.
Como a aprendizagem ocorre a 
partir de processamentos cognitivos, a 
regulação das emoções que atuam nos 
comportamentos é alvo de interesse 
dos estudos, sendo importante que se 
voltem para essa questão que, tradi-
cionalmente, não se liga aos currículos 
escolares, nem ocupa a preocupação 
com o bom desempenho do aluno, 
embora esteja presente em cada mo-
mento do aprendizado. Considera-se, 
portanto, que a cognição e as habilida-
des socioemocionais sejam ferramen-
tas de aprendizagem e devem ser alvo 
de atenção de educadores e familiares. 
Cognição e emoção
Nos anos 80, o encontro entre a Psicologia e as Neurociências 
proporcionou um canal de comunica-
ção e pesquisas em conjunto. Desde 
então, a parceria denominada neurop-
sicologia cognitiva tem incrementado 
a demanda de produções a partir da 
troca de informações, material teórico 
e experiência clínica (Andrade et al., 
2004, p. 6). 
A terapia cognitivo-comporta-
mental (TCC) baseia-se numa postura 
construtivista de que nossas represen-
tações de eventos internos e externos 
determinam nossas respostas emocio-
nais e comportamentais. Nossas cog-
nições ou interpretações sobre os fatos 
refletem formas de processar informa-
ção. Assim, um objeto qualquer tem 
um significado diferente para cada 
pessoa: ir à escola pode ser uma aven-
tura de descobertas ou pode ser uma 
tortura de cobranças, especialmente, 
se existe uma dificuldade particular 
em atingir as expectativas avaliativas. 
Por isso, uma das técnicas iniciais da 
terapia cognitiva consiste em iden-
tificar e corrigir as conceituações 
distorcidas e crenças disfuncionais, 
substituindo-as por outras crenças e 
ideias que possibilitem ao indivíduo 
experimentar novos comportamen-
tos e emoções menos prejudiciais a 
ele mesmo e, como consequência, aos 
outros (Valle, 2015).A partir do apro-
fundamento dos pensamentos auto-
máticos, é possível chegar às crenças 
centrais do indivíduo, que são as ideias 
mais fixas e enraizadas, oriundas do 
processo de desenvolvimento, das ex-
periências e da formação do indivíduo 
desde a infância, aceitas por eles como 
verdades absolutas. Pensamentos já 
definidos, independentemente dos 
acontecimentos situacionais, que con-
cluem simplesmente: “eu sou assim”, 
“eu não consigo”, “eu tenho que”, “eu 
Cognição e habilidades socioemocionais são 
importantes mecanismos de auxílio no que se refere 
ao aprendizado das pessoas e, por isso, devem ser 
alvo estratégico da atenção de educadores e familiares 
FERRAMENTAS 
de aprendizagem
Por Luiza Elena L. Ribeiro do Valle
Luiza Elena L. Ribeiro do Valle é psicóloga, mestre em Psicologia Escolar e Educacional, 
com especialização em Psicopedagogia e Psicologia Clínica. É autora do livro Cérebro e 
Aprendizagem – um Jeito Diferente de Viver (Wak Editora). 
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não gosto” e assim por diante, podem 
resultar em comportamentos que ini-
bem a iniciativa de tentar, caracterís-
tica de uma constante capacidade de 
“vencer” limites que caracteriza o ser 
humano. Essas conclusões pessoais se 
referem a pensamentos automáticos, 
que definem resultados de processos 
cognitivos e se aplicam de forma ge-
neralizada a todas as outras situações. 
Por exemplo, a partir de não ter bons 
resultados em uma prova, o indivíduo 
pode ficar convencido de que isso sig-
nifica que ele é assim, que não conse-
gue e não vai gostar da experiência etc. 
O comportamento consequente será 
rejeitar tentativas que possam mudar 
a posição, fortalecendo aqueles pen-
samentos e, em vez de modificá-los, 
essas experiências passam a ter uma 
função limitadora.A pesquisa de Al-
bert Bandura (2008) sobre modelos 
de processamento de informações e 
aprendizagem, e as evidências empí-
ricas na área do desenvolvimento da 
linguagem, suscitou questões sobre 
o modelo comportamental tradicio-
nal disponível até então, e apontou as 
limitações de uma abordagem com-
portamental não mediacional para 
explicar o comportamento humano. 
O modelo baseado nos reforçadores 
de respostas com premiação e punição 
propôs uma compreensão da aprendi-
zagem sem tentativa, conhecida como 
“modelação”, que ocorre pela observa-
ção de um modelo, sem a necessária 
reprodução do comportamento, com 
reforços automáticos. Michael Maho-
ney (1946-2006) foi um importante 
precursor do movimento cognitivista. 
Em uma publicação intitulada Cogni-
tion and Behavior Modification (Maho-
ney, 1974), ele enfatiza a importância 
do processamento cognitivo. Os con-
ceitos cognitivos foram estudados in-
tensamente por diferentes correntes, 
como autores russos, com destaque 
para Lev Semenovich Vygotsky (1896-
1934), que verificou que crianças eram 
bem-sucedidas na aprendizagem de 
regras gramaticais, independente-
mente de reforço (Vygotsky, 1962; 
1991). O papel do mediador se dife-
rencia nas questões de inteligência, 
porque orienta, sem executar os cami-
nhos da aprendizagem, uma vez que 123
RF
A habilidade imprescindível para a interação social se chama regulação das emoções, que interfere diretamente na expressão de sentimentos e no comportamento
d o s s i
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38 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
propôs o raciocínio teórico subjacente 
da terapia cognitiva de que o afeto e o 
comportamento de um indivíduo são 
amplamente determinados pelo modo 
como ele olha o mundo (cognições/
pensamentos). Embora vindo de uma 
tradição psicanalítica, Albert Ellis 
(1913-2007) também revelou insatis-
fações com os resultados práticos do 
trabalho psicanalítico (Ellis, 1997). 
Segundo Jacobson (1987), a incorpo-
ração das teorias e terapias cognitivas 
à terapia comportamental foi assumi-
da por diversos terapeutas e teóricos 
comportamentais. Uma “revolução 
cognitiva” começou a emergir, embora 
os primeiros textos centrais sobre mo-
dificação cognitiva tenham aparecido 
somente na década de 1970. 
A memória operacional susten-
ta o processo de cognição por tempo 
suficiente para que as informações 
sejam retidas pela memória de longa 
duração, ao mesmo tempo que oferece 
subsídios para o gerenciamento de ati-
vidades correntes de cognição, entre 
elas a atenção e suas diferentes formas.
Psicofisiologia do estresse 
O organismo, ao receber um es-tímulo, desencadeia uma res-
posta, uma preparação para fuga ou 
reação de enfrentamento da situação. 
Conforme a vulnerabilidade indivi-
dual e abrangendo a esfera física e psi-
cossocial ocorrem alterações orgânicas 
e mentais, de uma maneira ampla e 
diversificada (Albert; Ururahy, 1997).
A reação do estresse decorreda 
ativação de uma série de eventos, ini-
ciando na estrutura do sistema nervo-
so central (SNC), interagindo com o 
sistema nervoso autônomo (SNA) e o 
sistema límbico, desencadeando uma 
cadeia de reações e com ativação do 
eixo hipotálamo-hipófise, liberando 
o hormônio adreno-corticotrópico 
(ACTH) na corrente sanguínea, esti-
mulando as glândulas supra-adrenais, 
que vão produzir, principalmente, 
a adrenalina e os corticosteroides, 
Como a aprendizagem ocorre a partir 
de processamentos cognitivos, a regulação 
das emoções do comportamento é alvo de 
interesse dos estudos, sendo importante que se 
voltem para essa questão que, tradicionalmente, 
não se liga aos currículos escolares
aprender é uma mudança cognitiva 
que independe do outro. 
Outro nome significativo em 
seus achados teóricos foi Jean Piaget 
(1978), um os principais representan-
tes da Psicologia Cognitiva, porque 
construiu uma teoria do desenvolvi-
mento mental humano. Segundo Pia-
get, a aprendizagem é entendida como 
mudanças que ocorrem na estrutura 
do cérebro e só acontece quando as es-
truturas cerebrais se modificam (o que 
se comprova, hoje, em exames neuro-
lógicos). Em outras palavras, para que 
alguém aprenda, ocorrem mudanças 
no cérebro com reconfiguração da 
estrutura cognitiva (através de esque-
mas de assimilação e acomodação) do 
indivíduo, resultando em novos esque-
mas de adaptação, para seu equilíbrio.
Foi Beck (1967), no entanto, quem 
Œ�Fundamentos da aprendizagem Œ
O psicólogo canadense Albert Bandura 
é dono de uma extensa lista de contri-
buições nas áreas de Psicologia Social, 
Cognitiva, psicoterapia e pedagogia. Em 
1968, aos 48 anos, foi eleito o presiden-
te mais jovem da Associação America-
na de Psicologia (APA). A fase inicial de 
uma de suas principais pesquisas anali-
sou os fundamentos da aprendizagem 
de crianças e adultos, particularmente, 
em imitar o comportamento observa-
do em outros, especialmente compor-
tamentos agressivos.
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psicológicos, como no caso do estresse
www.portalcienciaevida.com.br
Educação e Psicologia 
 PARA SABER MAIS 
PROCESSO PSICOFISIOLÓGICO
O encontro entre 
a Psicologia e as 
Neurociências 
proporcionou 
comunicação e 
pesquisas em 
conjunto. Desde então, 
a parceria denominada 
neuropsicologia 
cognitiva tem 
incrementado a 
demanda de produções 
a partir da troca 
de informações
levando o indivíduo ao estado de aler-
ta, pronto para lutar ou fugir, uma ma-
nifestação instintiva (veja quadro Pro-
cesso psicofisiológico).
No hipotálamo estão vários con-
glomerados de neurônios, respon-
sáveis por tarefas diversas, regulan-
do processos fisiológicos contínuos 
como respiração, pressão sanguínea, 
digestão e equilíbrio entre as diversas 
IM
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ED
IA
funções orgânicas. É o núcleo para-
ventricular que libera a corticotropina 
(CRH), estimulante que desencadeia 
a reação ao agente de estresse. 
O estímulo do hipotálamo sobre o 
sistema nervoso simpático, via suprar-
renal, libera o hormônio adrenocorti-
cotrópico (ACTH), que, por sua vez, 
ativa as glândulas adrenais para liberar 
hormônios glicocorticoides no san-
gue. Os níveis de glicocorticoides, nor-
malmente, seguem um ritmo diário: 
alto no começo da manhã e baixo no 
fim do dia, porque uma de suas prin-
cipais tarefas é aumentar a glicose no 
sangue para fornecer energia aos mús-
culos e nervos.A regulação de diversas 
funções do organismo são controladas 
pelos hormônios por um mecanismo 
de feedback ao hipotálamo, que pode 
acertar o sistema de produção de adre-
nalina e noradrenalina. A adrenalina 
aumenta o suprimento de sangue para 
o coração, músculos e cérebro; dilata 
as coronárias e aumenta a frequência 
cardíaca. Já a noradrenalina causa va-
soconstrição e aumenta a pressão arte-
rial (veja quadro Hormônios: mecanis-
mo de feedback ao hipotálamo)
A liberação hormonal no sangue 
atua em vários órgãos e sistemas, regi-
ões distantes do seu local de origem, 
ocorrendo uma redistribuição sanguí-
nea, com menor fluxo sanguíneo para 
pele e vísceras e maior para os músculos 
e cérebro (Goldstein, 1995). As altera-
ções se fazem sentir em todo o organis-
mo, interferindo nos diversos sistemas. 
São eles: 
Sistema cardiorrespiratório – No sistema respiratório ocorrem o au-
mento da frequência da respiração e a 
dilatação dos brônquios para facilitar 
maior captação de oxigênio pelo orga-
nismo. O organismo, com excesso de 
Córtex
Sistema límbico
Sistema reticular
Hipófise
Glândulas
Fonte: França e Rodrigues (1999:, p. 29)
Hipotálamo
Sistema nervoso vegetativo
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ser uma aventura de descobertas ou uma tortura de cobranças
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40 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
adrenalina, pode desencadear, no sis-
tema cardiovascular, manifestações de 
crise hipertensiva, palpitações, infarto 
do miocárdio, arritmias; no cérebro, 
arteriosclerose, acidente vascular cere-
bral (AVC); nos pulmões, a dilatação 
crônica dos brônquios e predisposição 
à infecção por vírus, fungos, bactérias, 
bacilos e outros micro-organismos. 
As manifestações cardiorrespiratórias 
consistem na elevação da pressão ar-
terial, palpitações, respiração ansiosa, 
acompanhadas de extremidades frias 
e suadas. Nos olhos, há aumento da 
pressão intraocular e dilatação nas 
pupilas, preparando uma resposta fi-
siológica de adaptação do corpo.
Se as circunstâncias externas 
estimulam o sistema que provoca o 
estresse repetidamente, conforme a 
suscetibilidade pessoal e a intensidade 
das mudanças, a tensão crônica pode-
rá tornar o sistema vulnerável a danos, 
causando o adoecimento. Se ocorrer 
a persistência do agente e/ou ambien-
te agressor, o organismo poderá ser 
sobrecarregado, resultando no apa-
recimento de inúmeras repercussões 
psicofisiológicas, por sobrecarga de 
adrenalina e cortisol.
A liberação excessiva de cortisol 
acarreta alterações metabólicas, com 
aumento da destruição das proteínas, 
diminuição de massa muscular e, em 
relação aos carboidratos, haverá au-
mento da produção de glicose, dimi-
nuição dos receptores de insulina, me-
nor utilização da glicose pelos tecidos 
e, no metabolismo dos lipídeos, au-
mento da lípase e lipídeos na corrente 
sanguínea e redistribuição da gordura 
corporal (Goldstein, 1995).
 O sistema cardiovascular sofre o 
efeito potencializador do corticoide 
com a adrenalina, com o aumento da 
hipercoagulabilidade sanguínea, favo-
recendo o infarto do miocárdio (Al-
bert; Ururahy, 1997). 
Sistema imunológico – Nesse 
sistema, há diminuição da defesa do 
organismo, pela diminuição dos gló-
bulos brancos e menor síntese de an-
ticorpos, observando uma involução 
A TCC baseia-se numa 
postura construtivista 
de que nossas 
representações de 
eventos internos e 
externos determinam 
respostas emocionais 
e comportamentais. 
As cognições ou 
interpretações sobre 
os fatos refletem 
formas de processar 
informação
 PARA SABER MAIS 
A regulação cognitiva da emoção é muito usada na terapia cognitivo-com-portamental (TCC), que pressupõe uma relação entre pensamento, emoção 
e comportamento (Rangé, 1998). De acordo com essa abordagem terapêutica, 
as emoções são, em grande parte, determinadas pela forma como cada um 
interpreta as situações, e as interpretações dos fatos e situações estão direta-
mente relacionadas às crenças do indivíduo acerca de si mesmo, do mundo e 
do futuro. Uma das estratégias comumente empregadas é a da reestruturação 
cognitiva, que visa ajudar o pacientea interpretar as situações de modo mais 
adaptativo. A regulação emocional focalizada na resposta comportamental ou 
supressão emocional considera que, após a emoção já ter sido instalada, é 
possível inibir as respostas emocionais, de maneira que as outras pessoas não 
percebam o que se está sentindo (Gross, 2001). Tal inibição aconteceria sobre 
os sinais de saída das emoções, de modo que o indivíduo não expressasse o 
que está sentindo (Butler et al., 2003; Gross, 2001;).
TCC USA A REGULAÇÃO 
COGNITIVA COM FREQUÊNCIA
Para Piaget, a aprendizagem é entendida como mudanças que acontecem na estrutura do cérebro e 
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Œ�Mudanças de paradigmas Œ
Nascido em Neuchâtel, na Suíça, Jean 
Piaget (1896-1980) foi um dos mais 
relevantes pesquisadores de educa-
ção e pedagogia. Especializou-se em 
Psicologia Evolutiva e no estudo de 
epistemologia genética. Seus traba-
lhos sobre pedagogia revolucionaram 
a educação, pois alterou paradigmas 
e teorias tradicionais referentes à 
aprendizagem. As ideias de Piaget es-
tão presentes em inúmeros colégios 
no mundo todo e suas teorias procu-
ram implantar uma metodologia ino-
vadora, que busca formar cidadãos 
criativos e críticos.
Uma das técnicas iniciais da terapia 
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conceituações distorcidas e crenças disfuncionais, 
substituindo-as por outras crenças e ideias 
que possibilitem ao indivíduo experimentar 
novos comportamentos e emoções
do timo. As repercussões no SNC, 
por destruição de proteínas e glicose, 
levam a alterações psíquicas e compor-
tamentais; no sistema musculoesque-
lético, ocorrência de atrofias e astenias 
musculares; no tecido ósseo, a com-
petição do cortisol com a vitamina D, 
impedindo a absorção de cálcio, levan-
do à osteoporose. Ao nível hepático, 
ocorre maior liberação de glicose na 
corrente sanguínea a partir do glicogê-
nio, para o fornecimento de mais fonte 
energética para os músculos. Paralela-
mente, o baço sofre contração e libera 
mais glóbulos sanguíneos para facili-
tar a captação de oxigênio, e há, ainda, 
um aumento de números de linfócitos 
para reparar possíveis danos nos teci-
dos (Goldstein, 1995). Possibilidade 
de aparecimento de obesidade, de dia-
betes mellitus, de câncer (diminuição 
do sistema imunológico).
Sistema gastrointestinal e repro-
dutivo – O sistema gastrointestinal 
apresenta aumento do ácido clorídrico 
e pepsinogênio, com diminuição do 
muco protetor intestinal. Os ovários 
e os testículos diminuem a produção, 
respectivamente, da progesterona e 
testosterona, interferindo no sistema 
reprodutivo (Albert; Ururahy, 1997). 
No sistema gastrointestinal, as pertur-
bações interferem tanto na má digestão 
como no surgimento de gastrite, úlcera, 
colite, até diarreia crônica, e, na pele, 
com a erupção de micose e psoríase. In-
cide, também, no envelhecimento dos 
órgãos sexuais, levando à impotência 
e à frigidez. O estresse provoca tensão 
física e psicológica, queda de capacida-
de intelectual, perturbações do sono, 
levando à fadiga (Goldstein, 1995).
Em síntese, o estresse ocorre em 
resposta psicobiológica ao agente es-
tressor interno ou externo, por meio 
da ação integrada dos sistemas nervo-
so, endócrino e imunológico, em um 
processo de alteração e recuperação 
do equilíbrio homeostático.
REFERÊNCIAS 
BECK, J. S. Terapia Cognitiva. Teoria e Prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
LURIA, A.; VYGOSTKY, L. S.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem. São 
Paulo: Ícone, 2001.
MAHONEY, M. J. ����������G�
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1974.
VYGOTSKY, L. S. Thought and language. Cambridge: M.I.T, 1962.
A liberação hormonal no sangue atua em vários sistemas, provocando redistribuição sanguínea, com 
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Jean Piaget revolucionou a edu-cação. Uma de suas maiores re-alizações dentro da abordagem 
da aprendizagem foi a realiza-
ção de testes avaliativos em crianças, 
um processo que possibilita a exis-
tência de experiências significativas 
para quem as vivencia. Piaget teve 
princípios epistemológicos comuns 
com Vygotsky e Wallon e elaborou a 
epistemologia genética, observando 
o processo da criança ao estabelecer 
relações da parte com o todo dos ob-
jetos e situações envolvidos. 
A partir daí iniciou o estudo do 
processo do conhecimento. Algumas 
fases de desenvolvimento infantil são 
descritas por Piaget como pré-opera-
tório, operatório concreto e operató-
rio formal. Já Vigotsky tem sua ideia 
centrada em algumas teorias, como 
zona de desenvolvimento proximal, 
que se refere ao desenvolvimento 
atual da criança (nível de desenvolvi-
mento efetivo ou real) e o desenvol-
vimento que poderá atingir (nível de 
desenvolvimento potencial).
Para Vigotski, o ser humano 
precisa ser interdependente nesse 
processo. Ele questiona se as divi-
sões entre as dimensões cognitivas 
e afetivas do desenvolvimento psi-
cológico, para Wallon, são genéticas 
e organicamente sociais. A estrutu-
ra orgânica do ser humano supõe 
a intervenção da cultura para uma 
atualização. Assim, a teoria do de-
senvolvimento cognitivo de Wallon 
tem como foco a psicogênese da 
pessoa completa.
Os estágios de desenvolvimento 
do ser humano (impulsivo-emocio-
nal, sensório-motor e projetivo, per-
sonalismo, categorial e adolescência), 
apresentados por Wallon, sucedem-se 
em fases com predominância afetiva 
e cognitiva. A reflexão pedagógica 
sobre um homem dotado de razão, 
afetividade, inteligência, corpo e de-
sejo possibilitará a criação de um es-
paço educativo, que será o lugar de 
construção dos saberes, por meio de 
diálogo, de reflexão, de pesquisa e da 
troca entre os pares de maneira críti-
ca e politizada. 
Jean Piaget formou-se em Biolo-
gia e procurou utilizar os princípios 
biológicos na compreensão dos pro-
blemas epistemológicos. No desen-
volvimento cognitivo, ele ressaltou 
Esquemas cognitivos do adulto são derivados dos 
esquemas sensório-motores da criança e os processos 
responsáveis pelas mudanças são assimilação e acomodação
que, no desenvolvimento biológico, 
a inteligência é construída sobre um 
equipamento biológico inato e se 
desenvolve numa sequência prede-
terminada. É um processo ativo e 
interativo, construído pelo sujeito 
em interação contínua com o meio. 
Descreveu estágios de desenvolvi-
mento cognitivo – a inteligência vai 
mudando profundamente ao longo 
do desenvolvimento; o sujeito passa 
por períodos de reorganização pro-
funda, seguidos de períodos de inte-
gração, durante os quais um novo es-
tágio é alcançado e as mudanças são 
assimiladas. A cada estágio de desen-
volvimento corresponde um sistema 
cognitivo específico, que determina 
todo o funcionamento do sujeito, ou 
seja, cada estágio resulta do anterior e 
prepara o seguinte.
Suas contribuições foram incon-
táveis: a construção do conhecimen-
to ocorre quando acontecem ações 
físicas ou mentais sobre objetos que, 
provocando o desequilíbrio, resultam 
em assimilação ou acomodação e as-
similação dessas ações e, assim, em 
construção de esquemas ou conhe-
cimento. Em outras palavras, uma 
vez que a criança não consegue assi-
milar o estímulo, ela tenta fazer uma 
acomodação e, após a assimilação, o 
equilíbrio é, então, alcançado.
Aprendizagem 
cognitiva PERCEPTIVA
Por Yago Felipe Hennrich
Yago Felipe Hennrich elaborou este artigocomo Trabalho de Processos Psicológicos Básicos 2, 
apresentado no curso de Psicologia das Faculdades Integradas do Vale do Iguaçu – Uniguaçu, como 
requisito parcial para obtenção de nota do 1º bimestre do 2º período. Sua professora foi Darciele Mibach
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Josiane Lopes (revista Nova Esco-
la, ano XI, n. 95) cita que para quando 
o equilíbrio se rompe, o indivíduo age 
sobre o que o afetou, buscando se re-
equilibrar. E para Piaget, isso é feito 
por adaptação e por organização.
Teorias 
Alguns autores sugerem que ima-ginemos um arquivo de dados 
na cabeça. Os esquemas são análo-
gos às fichas desse arquivo, ou seja, 
são as estruturas mentais ou cogni-
tivas pelas quais os indivíduos inte-
lectualmente organizam o meio. São 
estruturas que se modificam com o 
desenvolvimento mental e que se 
tornam cada vez mais refinadas, à 
medida que a criança se torna mais 
apta a generalizar os estímulos. Por 
esse motivo, os esquemas cognitivos 
do adulto são derivados dos esque-
mas sensório-motores da criança, e 
os processos responsáveis por essas 
mudanças nas estruturas cognitivas 
são assimilação e acomodação.
Assimilação é o processo cog-
nitivo de colocar (classificar) novos 
eventos em esquemas existentes. É a 
incorporação de elementos do meio 
externo (objeto, acontecimento etc.) 
a um esquema ou estrutura do sujei-
to. Em outras palavras, é o processo 
pelo qual o indivíduo cognitivamente 
capta o ambiente e o organiza, possi-
bilitando, assim, a ampliação de seus 
esquemas. Na assimilação o indiví-
duo usa as estruturas que já possui.
Já a acomodação é a modificação 
de um esquema ou de uma estrutu-
ra, em função das particularidades 
do objeto a ser assimilado. Pode ser 
de duas formas, visto que se podem 
ter duas alternativas: criar um novo 
esquema, no qual se possa encaixar 
o novo estímulo, ou modificar um já 
existente, de modo que o estímulo 
possa ser incluído nele.
Após ter havido a acomodação, 
a criança tenta novamente encaixar 
o estímulo no esquema e aí ocorre 
a assimilação. Por isso, a acomoda-
ção não é determinada pelo objeto, 
e sim pela atividade do sujeito sobre 
este, para tentar assimilá-lo. O balan-
ço entre assimilação e acomodação 
é chamado de adaptação. Em outras 
palavras, é o processo pelo qual o in-
divíduo cognitivamente capta o am-
biente e o organiza, possibilitando, 
assim, a ampliação de seus esquemas. 
Na assimilação, o indivíduo usa as es-
truturas que já possui.
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As contribuições 
de Piaget foram 
incontáveis, como, 
por exemplo, uma 
vez que a criança 
não consegue 
assimilar o estímulo, 
ela tenta fazer uma 
acomodação e, 
depois da assimilação, 
o equilíbrio é, 
então, alcançado
A equilibração, por sua vez, é o 
processo da passagem de uma situa-
ção de menor equilíbrio para uma de 
maior equilíbrio. Uma fonte de de-
sequilíbrio ocorre quando se espera 
que uma situação ocorra de determi-
nada maneira, e esta não acontece.
Segundo Matui (1995), para res-
ponder como se dá a construção do 
conhecimento no adulto, partindo 
da biologia do bebê, Piaget elabo-
rou a epistemologia genética, uma 
teoria evolutiva do conhecimento. 
Elaborando testes de inteligência 
para crianças francesas, Piaget ob-
servou o processo da criança em 
estabelecer relações da parte com o 
todo dos objetos e situações envol-
vidos. A partir daí, iniciou o estudo 
da construção do conhecimento, 
observando que, na interação com o 
meio externo, o indivíduo busca sua 
melhor sobrevivência, visando uma 
constante equilibração.
De acordo com Coll, Marchessi, 
Palacios; Cols (2004), para Piaget a 
meta sempre é a adaptação. A adapta-
ção leva o indivíduo a procurar uma 
resposta adequada aos problemas que 
encontra em cada momento. 
No entanto, segundo Piaget in 
Pozo (1998), a aprendizagem seria 
ORGANIZAÇÃO INTELECTUAL
 PARA SABER MAIS 
Piaget descreve o desenvolvimento como um processo de estágios suces-sivos. Se a criança explica em parte o adulto, pode-se dizer também que 
cada período do desenvolvimento anuncia em parte os períodos.
a característica de um objeto, é ne-
cessário modificar o esquema prévio 
para restaurar o equilíbrio (veja qua-
dro Organização intelectual).
Piaget tem algumas outras con-
tribuições, como: a organização e a 
adaptação, os esquemas, a assimila-
ção e acomodação, a teoria da equili-
bração. A organização e a adaptação 
se justificam. Jean Piaget, para expli-
car o desenvolvimento intelectual, 
partiu da ideia de que os atos bioló-
gicos são atos de adaptação ao meio 
físico e organizações do meio am-
biente, sempre procurando manter 
um equilíbrio. Assim, ele entende 
que o desenvolvimento intelectual 
opera do mesmo modo que o desen-
volvimento biológico (Wadsworth, 
1996). Para Piaget, a atividade in-
telectual não pode ser separada do 
funcionamento “total” do organis-
mo (1952, p. 7).
Do ponto de vista biológico, or-
ganização é inseparável da adaptação. 
São dois processos complementares 
de um único mecanismo, sendo que 
o primeiro é o aspecto interno do ci-
clo, do qual a adaptação constitui o 
aspecto externo.
Ainda segundo Piaget (Pulaski, 
1986), a  adaptação  é a essência do 
funcionamento intelectual, assim 
como a essência do funcionamento 
biológico. É uma das tendências bá-
produzida quando houvesse um dese-
quilíbrio ou conflito cognitivo entre 
dois processos complementares: a as-
similação e acomodação. Piaget define 
a acomodação como qualquer modifi-
cação de um esquema assimilador ou 
de uma estrutura. “Esquema é aquilo 
que é generalizável numa determinada 
ação” Piaget in Matui (1995, p. 122).
Se há um desequilíbrio, ou seja, 
um esquema não correspondente, 
Œ Desenvolvimento 
intelectual das crianças Œ
Psicólogo renomado, o bielo-russo 
Lev Semenovich Vygotsky (1896-
1934) foi descoberto nos meios aca-
dêmicos ocidentais somente após sua 
morte, aos 38 anos. O intelectual foi 
pioneiro na ideia de que o desenvol-
vimento intelectual das crianças acon-
tece em consequência das interações 
sociais e condições de vida. Segundo 
conceito de Vygotsky, a evolução 
mental da criança é um processo con-
tínuo de aquisição de controle ativo 
sobre funções inicialmente passivas.
Fonte: Piaget e Inhelder (2003, p. 11). 
Período Faixas etárias aproximadamente
Sensório-motor Nascimento até 1 1/2 a 2 anos
Pré-operatório 2 a 6-7 anos
Operatório-concreto 6-7 anos a 11-12 anos
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LIMITAÇÃO DO PENSAMENTO 
 PARA SABER MAIS 
Piaget descreve o desenvolvimento como um processo de estágios suces-sivos. Se a criança explica em parte o adulto, pode-se dizer também que 
cada período do desenvolvimento anuncia em parte os períodos.
Após ter havido a 
acomodação, a criança 
tenta novamente 
encaixar o estímulo no 
esquema e aí ocorre a 
assimilação. Por isso, 
a acomodação não 
é determinada pelo 
objeto e, sim, pela 
atividade do sujeito 
sobre este, para 
tentar assimilá-lo
sicas inerentes a todas as espécies. A 
outra tendência é a organização, que 
constitui a habilidade de integrar as 
estruturas físicas e psicológicas em 
sistemas coerentes. Ainda de acordo 
com o autor, a adaptação acontece 
através da organização, e assim o or-
ganismo discrimina entre a miría-
de de estímulos e sensações com os 
quais é bombardeado e as organiza 
em alguma formade estrutura. Esse 
processo de adaptação é, então, reali-
zado sob duas operações, a assimila-
ção e a acomodação.
Desenvolvimento
No desenvolvimento sensório--motor (0 a 2 anos), Piaget 
chamou de inteligência sensório-
-motora um tipo de inteligência 
baseada na percepção da realidade 
e na ação motora sobre ela. Nes-
sa etapa, a criança faz uso de per-
cepções sensoriais (por exemplo, a 
sucção) para explorar o mundo que 
a rodeia e suas ações são práticas: 
pegar, jogar, morder.
pessoas ou objetos na ausência deles. 
Nesse estágio, a criança elabora uma 
estrutura cognitiva para que possa 
dar a ela um suporte a futuras cons-
truções e atitudes que irá cometer, 
construções perceptivas e intelectu-
ais. O mesmo se dá sobre a afetivida-
de subsequente, que é determinada 
por certo número de reações afetivas 
elementares. No desenvolvimento 
Para Piaget e Inhelder (2003), na 
falta de função simbólica, o bebê ain-
da não apresenta pensamento, nem 
afetividade ligada a representações 
que permitam fazer evocações de 
Fonte: Coll; Marchesi; Palacios e Cols (2004, p. 144)
Aparência perceptiva / 
traços não observáveis:
Centração / descentração
 
Estados / transformações
 
Irreversibilidade / 
reversibilidade
Raciocínio transdutivo / 
pensamento lógico
A criança não realiza inferências a partir de 
propriedades não observáveis diretamente
O foco está em um só ponto de vista (o próprio), 
evitando outras possíveis dimensões
Não faz relação dos estados iniciais e finais de um 
processo
Não refaz mentalmente o processo seguido até 
voltar ao estágio inicial
Faz associações imediatas entre as coisas 
raciocinando do particular ao particular
Durante o 
desenvolvimento 
sensório-motor, a criança 
faz uso de percepções 
sensoriais, como a 
sucção, para explorar o 
mundo que a cerca
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O balanço entre 
assimilação e 
acomodação é a 
adaptação. É o processo 
pelo qual o indivíduo 
cognitivamente 
capta o ambiente e o 
organiza, possibilitando 
a ampliação de 
seus esquemas. Na 
assimilação, o indivíduo 
usa as estruturas 
que já possui
dade não presente. A linguagem para 
a criança é enriquecida rapidamente 
e as respostas adequadas já serão ra-
ciocínios. São desarticulados e ainda 
precisam de lógica, porque a criança 
só consegue ver o mundo a partir dela 
mesma. Para Coll, Marchesi, Palacios 
e Cols (2004), nesse período, o pen-
samento infantil é descrito por Piaget 
como um período de espera das nove 
grandes transformações operatórias, 
que acontecerão nas próximas etapas. 
Por isso, ressaltou as limitações da 
criança nessa fase (veja quadro Limi-
tação do pensamento). 
Estágio lógico formal
Esse período é onde o pensamen-to lógico alcança sua expressão 
máxima e é aplicado de forma coe-
rente e sistemática. A representação 
agora permite a abstração total. A 
criança não se limita mais à repre-
Œ Psicologia do desenvolvimento Œ
Henri Paul Hyacinthe Wallon (1879-1962) 
foi um psicólogo, filósofo, médico e 
político francês que se tornou muito 
conhecido em função de seu intenso 
trabalho científico a respeito da Psico-
logia do desenvolvimento, direcionada, 
principalmente, à infância, na qual assume 
uma postura interacionista. A obra de 
Wallon é caracterizada pela ideia de que 
o processo de aprendizagem é dialético, 
ou seja, não é aconselhável afirmar ver-
dades absolutas. O caminho correto é 
revitalizar perspectivas e possibilidades.
pré-operatório (2 a 7 anos), estágio 
também chamado de inteligência ver-
bal ou intuitiva, a criança se vê envol-
ta em uma realidade existencial, que 
é um mundo interior de representa-
ções. A função simbólica da criança 
permite a ela a formação de símbolos 
mentais, que representam objetos, 
pessoas ou acontecimentos ausentes. 
Desse modo, a criança pode antecipar 
um resultado, utilizando represen-
tações (signos, símbolos, imagens e 
conceitos) como substitutas da reali-
sentação imediata, nem somente às 
relações previamente existentes, mas 
é capaz de pensar em todas as rela-
ções possíveis, logicamente buscan-
do soluções a partir de hipóteses e 
não apenas pela observação da rea-
lidade. Em outras palavras, as estru-
turas cognitivas da criança alcançam 
seu nível mais elevado de desenvol-
vimento e tornam-se aptas a aplicar 
o raciocínio lógico a todas as classes 
de problemas.
Um exemplo: Se pedem para a 
criança analisar um provérbio, como 
“de grão em grão a galinha enche o 
papo”, ela trabalha com a lógica da 
ideia (metáfora) e não com a imagem 
de uma galinha comendo grãos.
REFERÊNCIAS 
COLL, César; MARCHESI, Álvaro; PALACIOS, Jésus e colaboradores. Desenvolvimento Psicológico 
e Educação – Psicologia Evolutiva, v. 1. Porto Alegre: Artmed, 2004. 
MATUI, Jiron. Construtivismo – Teoria Construtivista Sócio-histórica Aplicada ao Ensino. São 
Paulo: Moderna, 1995.
PIAGET, Jean; INHELDER, Bärbel. A Psicologia da Criança. Rio de Janeiro: Difel, 2003.
PULASKI, Mary Ann Spencer. Compreendendo Piaget. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e 
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WADSWORTH, Barry. Inteligência e Afetividade da Criança. 4. ed. São Paulo: Enio Matheus 
Guazzelli, 1996.
PRINCÍPIOS DA TEORIA COGNITIVA
 PARA SABER MAIS 
A 
teoria cognitiva foi desenvolvida pelo suíço Jean Piaget e os princípios 
que foram base para o seu trabalho são conhecidos como o conceito 
da adaptação biológica, portanto não foram ideias originais. Piaget tomou 
esse conceito preexistente e o aplicou sabiamente ao desenvolvimento da 
inteligência dos indivíduos, à medida que amadurecem, da infância até a vida 
adulta, baseado em sua própria conclusão de que a atividade intelectual não 
pode ser separada do funcionamento “total” do organismo. A teoria de Piaget 
sobre o desenvolvimento cognitivo classifica o desenvolvimento em quatro 
etapas, e comprova que os seres humanos passam por uma série de mudan-
ças previsíveis e ordenadas. Ou seja, geralmente todos os indivíduos viven-
ciam todos os estágios na mesma sequência. Porém, o início e o término de 
cada estágio sofrem variações, dadas as diferenças individuais de natureza 
biológica ou do meio ambiente em que o indivíduo está inserido.
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Bíblia do Churrasco
Caixa box com quatro livros
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É o mais completo guia para quem quer 
preparar e saborear o melhor da carne as-
sada na brasa. A coleção traz quatro livros 
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acompanhamentos e formas de servir um 
saboroso churrasco com pleno domínio.
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entre os cortes mais magros do boi e são 
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PDFLD��H�SRGHP�VHU�SUHSDUDGRV�QD�JUHOKD�RX�
no espeto.
Picanha – Sinônimo de churrasco para 
RV�EUDVLOHLURV��WHP�XPD�FREHUWXUD�JHQHURVD�
de gordura e textura marmorizada e pode 
ser preparada inteira ou em cortes. Neste li-
vro selecionamos receitas incríveis para você 
preparar um delicioso churrasco de picanha 
com um sabor bem brasileiro.
Cortes Especiais – Os cortes da região 
GR�FRQWUDÀOp�RIHUHFHP�XPD�YDULHGDGH�GH�VD-
bores nobres e texturas que são garantia de 
sucesso no churrasco.
Costela & Cia – A costela e os cortes 
dianteiros são extremamente suculentos e 
muito apreciados. Precisam de muitas horas 
QD�FKXUUDVTXHLUD��SRU�LVVR�D�FRFomR�QR�EDIR�
RX�HQYROWD�HP�SDSHO�DOXPtQLR�RX�FHORIDQH�p�
usada para acelerar o processo.
saboroso churrasco com pleno domínio.
BOX - COLEÇÃO
48 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.brneurociência por Marco Callegaro
A EMPATIA SOMENTE 
PODE LEVAR A 
CONSEQUÊNCIAS 
INDESEJADAS 
COMO AGRESSÃO 
E CRUELDADE, 
EXAUSTÃO EMOCIONAL 
E BURNOUT. 
PRECISAMOS DE MAIS 
COMPAIXÃO 
NO MUNDO EM 
QUE VIVEMOS
Empatia ou compaixão?
A EMPATIA ENVOLVE A EXPERIÊNCIA DE SENTIR 
O QUE PENSAMOS QUE A OUTRA PESSOA ESTÁ 
SENTINDO E TEM SIDO APONTADA COMO CRUCIAL 
PARA MOVER O COMPORTAMENTO MORAL
#OMO�EXISTEM�VÉRIAS�DElNI¥ÜES�DE�EM-
patia, torna-se necessário um breve exame 
DE� SEUS� PRINCIPAIS� SIGNIlCADOS��5MA� DAS�
DElNI¥ÜES�SE�REFERE�Ì�EMPATIA�COGNITIVA��A�
capacidade de imaginar o que se passa na 
mente do outro, a “teoria da mente” como 
se designa em Psicologia cognitiva. Esse 
tipo de empatia pode levar um psicopata 
A�PLANEJAR�SUAS�MANIPULA¥ÜES�E�CRUELDADES�
COM�GRANDE�ElCÉCIA��PORTANTO�NÎO�Ï�EXATA-
mente aquilo que mais precisamos na so-
ciedade. Outro sentido da palavra empatia 
�O�QUE�PODEMOS�CHAMAR�DE�EMPATIA�hAFE-
tiva”, quando sentimos o que a outra pes-
soa está sentindo, ou, pelo menos, aquilo 
QUE� INFERIMOS� QUE� A� PESSOA� SENTE�� &INAL-
mente, temos um conceito de empatia que 
SE�FUNDE�COM�O�SIGNIlCADO�DE�COMPAIXÎO��
ternura ou gentileza. Nesse caso, a empa-
TIA� ENVOLVE� SENTIMENTOS� POSITIVOS� FRENTE�
aos outros. Nesse sentido, desejo que um 
AMIGO�ANSIOSO�lQUE�MELHOR�E�CALMO��MAS�
NÎO�ME�SINTO�ANSIOSO�JUNTO�COM�ELE��COMO�
ACONTECE�NA�EMPATIA�AFETIVA��2ESERVAREI�O�
TERMO� hCOMPAIXÎOv� PARA� DESCREVER� ESSA�
ATITUDE��ENQUANTO�MANTEMOS�A�DESIGNA¥ÎO�
de “empatia” para a ressonância emocio-
nal com o outro.
!� EMPATIA� AFETIVA� OU� EMOCIONAL� EST�
LIGADA� Ì� ATIVA¥ÎO� DOS� CIRCUITOS� CEREBRAIS�
da dor na pessoa que empatiza com quem 
EST�SOFRENDO��5M�EXPERIMENTO�COM�NEU-
roimagem examinou os circuitos cerebrais 
DO�CØRTEX�ANTERIOR�CINGULADO��REGIÎO�QUE�SE�
ativa com a experiência de dor. Os parti-
CIPANTES�FORAM�EXPOSTOS�A�VÓDEOS�EXIBINDO�
PESSOAS�SOFRENDO�COM�!IDS��E�VERIlCOU
SE�
que sentiam mais empatia e apresentavam 
MAIOR�ATIVA¥ÎO�NO�CØRTEX�CINGULADO�ANTE-
rior quando se descrevia que as pessoas 
TINHAM�CONTRAÓDO�A�SÓNDROME�POR�MEIO�DE�
TRANSFUSÎO� DE� SANGUE�� BEM� MAIS� DO� QUE�
quando a narrativa era de contágio pelo 
USO�DE�INJE¥ÜES�INTRAVENOSAS�COM�DROGAS�
A empatia está sujeita a vieses morais, 
COMO�FOI�DEMONSTRADO�NO�ESTUDO�EUROPEU�
EM�QUE�TORCEDORES�DE�UM�TIME�DE�FUTEBOL�
RECEBIAM�UM�CHOQUE�NA�MÎO�E�ASSISTIAM�
A� OUTRO� HOMEM� RECEBER� O� MESMO� CHO-
QUE��1UANDO�O�OUTRO�HOMEM�ERA�DESCRITO�
como sendo do mesmo time, acontecia 
muito mais resposta neural empática de 
dor do que quando era do time concor-
RENTE��.ÎO�Ï�DIFÓCIL�IMAGINAR�QUE�A�EMPA-
E
M�������EM�UMA�FALA�MUITO�CITA-
DA��O�ENTÎO�SENADOR�"ARACK�/BA-
MA�AlRMOU�QUE�TEMOS�UM�DÏlCIT�
em empatia, reivindicando um 
SENSO�DE�EMPATIA�PARA�INSPIRAR�A�POLÓTICA�
e a sociedade. Segundo esse movimen-
TO��QUANTO�MAIS�EMPATIA��MELHOR� SER�O�
MUNDO�� E� O� FOCO� � PROMOVER� INTERVEN-
¥ÜES� VOLTADAS� PARA� AUMENTAR� A� EMPATIA�
EM�INDIVÓDUOS�E�COMUNIDADES��4AMBÏM�
EXISTE�PREOCUPA¥ÎO�COM�PESSOAS�QUE�TÐM�
FALTA�DE�EMPATIA�E�COM�SITUA¥ÜES�QUE�PO-
DEM�ENFRAQUECÐ
LA��
%MBORA�SEJA�UM�GRANDE�AVAN¥O�CON-
SIDERAR�A� IMPORTÊNCIA�DA�EMPATIA��Ï�NE-
CESSÉRIO� ENTENDER� EM� MAIS� DETALHES� A�
RELA¥ÎO�QUE�EXISTE�ENTRE�COMPORTAMENTO�
MORAL�E�EMPATIA��POIS�NÎO�Ï�ALGO�TÎO�SIM-
ples como parece. Considere as recen-
tes pesquisas mostrando que a empatia 
PODE�MOVER�A�AGRESSÎO��3E�EMPATIZAMOS�
com uma pessoa ou grupo, o comporta-
MENTO� AGRESSIVO� FRENTE� A� OUTRAS� PESSO-
as ou grupos por ser turbinado quando 
“tomamos as dores” dos outros. Ao in-
mUENCIAR�NOSSAS�EMO¥ÜES�� A�EXPERIÐNCIA�
empática pode nos levar a vieses morais 
e comportamento cruel para aqueles que 
supostamente merecem ser punidos. Po-
DEMOS�PONDERAR�TAMBÏM�QUE�A�EMPATIA�
PODE�ACARRETAR�EXAUSTÎO�EMOCIONAL�E�ES-
TRESSE�� E� OS� PROlSSIONAIS� QUE� TRABALHAM�
COM�SOFRIMENTO�HUMANO�COMO�MÏDICOS��
PSICØLOGOS�E�ENFERMEIROS�FREQUENTEMENTE�
DESENVOLVEM�A�SÓNDROME�DE�"URNOUT�EM�
SEU�TRABALHO�DEVIDO��EMPATIA�
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 49
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Marco Callegaro é psicólogo, mestre em Neurociências e Comportamento, 
diretor do Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (ICTC) e do Instituto 
Paranaense de Terapia Cognitiva (IPTC). Autor do livro premiado O Novo 
Inconsciente: Como a Terapia Cognitiva e as Neurociências Revolucionaram o 
Modelo do Processamento Mental (Artmed, 2011).
Referências: 
Bloom, P. Against Empathy: The Case for Rational Compassion. Nova York: Ecco Press, 2016.
Vachon, D. D. et al. The (non)relation between empathy and aggression: surprising results from a 
meta-analysis. Psychological Bulletin, v. 140, p. 751, 2014. 
TIA�COM�AQUELES�QUE�SÎO�DE�NOSSO�GRUPO�
PODE�MOVER�A�CRUELDADE�E�ATÏ�O�GENOCÓDIO�
COM�AQUELES�QUE�SÎO�DE�OUTRO�GRUPO��%SSE�
PONTO� TEM� IMPORTANTES� IMPLICA¥ÜES� NO�
mundo atual, onde aumentam a migra-
¥ÎO� E� O� NÞMERO� DE� REFUGIADOS�� LEVANDO�
Ì� NECESSIDADE�DE� INCLUSÎO�DE� GRUPOS� DE�
estrangeiros na sociedade. 
0ODEMOS�PENSAR�QUE�A�FALTA�DE�EMPATIA�
LEVA�Ì�AGRESSÎO��E�QUE�SE�ESTIMULARMOS�A�
empatia reduziremos os problemas em um 
mundo violento. No entanto, uma análise 
DOS� ESTUDOS� QUE� RELACIONAM� AGRESSÎO� E�
FALTA� DE� EMPATIA� DESCOBRIU� QUE� SOMENTE�
���DA�VARIA¥ÎO�EM�AGRESSIVIDADE�PODERIA�
SER�ATRIBUÓDA�Ì�FALTA�DE�EMPATIA��2ESULTADO�
surpreendente, em um estudo que con-
SIDEROU� AGRESSÎO� VERBAL�� SEXUAL� E� FÓSICA��
CONCLUINDO�QUE�OUTRAS�EMO¥ÜES�E�FATORES�
eram mais importantes. Outra pista vem 
DOS�AUTISTAS��QUE�SABEMOS�TER�FORTES�DÏlCITS�
EM�EMPATIA��/S�PORTADORES�DE� SÓNDROME�
DE�!SPERGER��UMA�ESPÏCIE�DE�AUTISMO�LEVE��
NÎO�APRESENTAM�NENHUMA�PROPENSÎO�PARA�
AGRESSÎO�OU�EXPLORA¥ÎO��E�SÎO�CONHECIDOS�
POR�SEGUIREM�PRINCÓPIOS�MORAIS�RÓGIDOS��
!� EMPATIA� ENVOLVE� EMO¥ÜES�� E� ESTAS�
podem nos desviar de julgamentos mo-
RAIS�PONDERADOS��LEVANDO�A�DECISÜES�IMO-
rais. Uma alternativa mais razoável para 
A�EMPATIA�Ï�A�COMPAIXÎO��QUE�PODE�NOS�
MOVER� A� FAZER� O� BEM� E� AUXILIAR� AS� PES-
soas sem as desvantagens da empatia. 
-ESMO�A�COMPAIXÎO�NÎO�SUBSTITUI�A�RE-
mEXÎO� CONSCIENTE� E� DELIBERADA� SOBRE� OS�
DIREITOS�E�DEVERES�ENVOLVIDOS�NA�SITUA¥ÎO��
E�A�APLICA¥ÎO�DE�UMA�ESCALA�DE�VALORES�NO�
JULGAMENTO�MORAL��BEM�COMO�PRINCÓPIOS�
DE�MORALIDADE��.ÎO�PODEMOS�DELEGAR�DE-
CISÜES�MORAIS�QUE�AFETAM�A�VIDA�DAS�PES-
soas unicamente aos sentimentos empáti-
COS��5MA�PONDERA¥ÎO�QUE�USE�PRINCÓPIOS�
morais pode ser mais justa e equilibrada 
COMO�GUIA�PARA�NOSSAS�A¥ÜES��AINDA�MAIS�
SE�ENDOSSADA�PELA�COMPAIXÎO�
50 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
recursos humanos por João Oliveira
Relações 
PRODUTIVAS
A
s relações institucionais es-
tão cheias de valorações que, 
na maioria das vezes, é mais 
de ordem subjetiva do que 
realmente material. Toda instituição 
mantém uma relação de troca com 
seus clientes, seja no próprio mercado 
interno (corpo laboral e fornecedores 
principalmente) e no mercado externo 
(clientes e concorrentes principalmen-
te), e os resultados positivos só são al-
cançados quando essa relação de va-
lores está adequada aos interesses das 
partes envolvidas no processo.
Dessa forma, sempre que ocorre a 
aquisição de um produto ou serviço, 
existe um valor simbólico que é agre-
GADO� AO� lNANCEIRO�� 5MA� PESSOA�� POR�
exemplo, pode comprar uma roupa 
5-�02/#%33/�).34)45#)/.!,�
0/335)�5-�3)'.)&)#!$/�-!)/2�$/�
15%�3)-0,%3-%.4%�/�.·-%2/�
!02%3%.4!$/�.!�0,!.),(!�$%�6%.$!3��
15!.$/�%33%�6!,/2�!42)"5°$/�¡�
#/-02%%.$)$/�%�2%,!#)/.!$/�±�
.%'/#)!—§/��/�!4%.$)-%.4/�¡�%&)#!:
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida51
 João Oliveira é Doutor em Saúde Pública, psicólogo e diretor de Cursos do Instituto de 
Psicologia Ser e Crescer (www.isec.psc.br). Entre seus livros estão: Relacionamento em 
Crise: Perceba Quando os Problemas Começam. Tenha as Soluções!; Jogos para Gestão 
de Pessoas: Maratona para o Desenvolvimento Organizacional; Mente Humana: Entenda 
Melhor a Psicologia da Vida; e Saiba Quem Está à sua Frente – Análise Comportamental 
pelas Expressões Faciais e Corporais (Wak Editora).
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PARA� SE� SENTIR� MAIS� BONITA�� PARA� lCAR�
MAIS� AUTOCONlANTE� EM� BUSCA� DE� UMA�
promoção no trabalho, ou para um 
encontro com uma pessoa especial. 
%SSE�VALOR�NÎO�ESTÉ�NA�ROUPA�EM�SI��ELE�
pertence ao consumidor que possui 
mUÐNCIAS� EMOCIONAIS� RELACIONADAS� AO�
UNIVERSO�EM�QUE�VIVE��5M�CASAL�PODE�
ir a um restaurante não pela comida ou 
pelo menor preço, mas porque aquele 
foi o restaurante onde se encontraram 
pela primeira vez e, para eles, isso tem 
UM� SIGNIlCADO� MUITO� ESPECIAL�� 5M�
funcionário pode obedecer uma ordem 
dada por um gestor sem sequer anali-
sar seu conteúdo e resultados apenas 
porque esse gestor criou laços de com-
prometimento que geram segurança à 
equipe de trabalho.
0ENSANDO�ASSIM��TODO�ELEMENTO�NA�
INSTITUI¥ÎO�SE�TRANSFORMA�EM�PROlSSIO-
nal de atendimento, pois sempre que se 
comunica está na posição de uma pes-
soa que atende outra pessoa, buscando 
acolher uma determinada necessidade 
E�SOLUCIONANDO�UMA�DEMANDA��/�ATEN-
dimento, portanto, torna-se sinônimo 
DE�COMUNICA¥ÎO�CLARIlCADA�QUE�DÉ�VA-
lor ao que está sendo negociado. 
3ÎO� ALGUMAS� CARACTERÓSTICAS� BÉSI-
cas que devem receber investimento 
para que essa valoração dos processos 
possa ocorrer de forma natural entre 
o elemento que apresenta a situação 
(comunicação, produto ou serviço) e 
o cliente (qualquer pessoa dentro ou 
FORA� DA� EMPRESA	�� 3ÎO� ELAS�� �	�$ESEN-
volver um bom relacionamento e con-
lAN¥A�� COM�O� TEMPO��O�OUTRO�PASSA� A�
dar respostas mais rápidas por saber 
COM�QUEM�EST�LIDANDO���	�!TENDER�AS�
NECESSIDADES� DOS� CLIENTES�� SOLUCIONAR�
DEMANDAS� EXISTENTES�� lNALIZANDO� OS�
PROCESSOS� ABERTOS�� �	� 3UPERAR� AS� EX-
PECTATIVAS��IR�ALÏM�DO�ESPERADO�SEMPRE�
ofertando algo que surpreende positi-
VAMENTE�O�OUTRO���	�3ER�EMPÉTICO��SER�
capaz de prever as necessidades que 
O�OUTRO� PODE� TER� DIlCULDADE� DE� APRE-
SENTAR�� �	� 3ER� SIMPÉTICO�� A� ATEN¥ÎO�
dedicada ao outro está mais ligada à 
MENOS�IMPORTANTE��.OSSO�PAÓS�GUARDA�
muitos preconceitos que estão enraiza-
dos na cultura e passam, muitas vezes, 
ocultos ou aceitáveis pela maior parte 
DA�POPULA¥ÎO��&A¥A�DIFERENTE�SENDO�ÏTI-
co e correto com todos, independente-
MENTE� DO� PERlL� QUE� APRESENTE�� SENDO�
PRESTATIVO�E�PROATIVO����	�'ERENCIAR�AS�
EMO¥ÜES�E� TER� INTELIGÐNCIA�EMOCIONAL��
SE�FOR�O�CASO�DE�SENTIR�DIlCULDADE�NESSE�
ASPECTO��PROCURE�UM�PROlSSIONAL�TERA-
peuta ou coach que possa auxiliá-lo no 
processo de alinhamento emocional; 
��	�3ER�COMPROMETIDO�COM�A�EMPRESA��
com seu trabalho e com a satisfação do 
OUTRO��UM�BOM�CAMINHO�PARA�A�FUTURA�
VALORA¥ÎO�POSITIVA�Ï�O�INÓCIO�DO�CAMI-
NHO��/�BÉSICO�JAMAIS�DEVE�SER�ESQUECI-
DO����	�3ABER�SEPARAR�O�PESSOAL�DO�PRO-
lSSIONAL��MANTENDO�O�PROlSSIONALISMO��
PROVAVELMENTE� O� DETALHE� MAIS� DIFÓCIL�
de todas as dicas aqui apresentadas. 
-UITOS�ACREDITAM�QUE�SEREMOS�NA�VIDA�
PROlSSIONAL�UM�ESPELHO�DO�QUE�SOMOS�
NA�VIDA�PESSOAL��0OR�OUTRO�LADO��OUTROS�
confundem os processos e misturam a 
VIDA�PESSOAL�COM�A�PROlSSIONAL��GERAN-
do problemas de ordem emocional ou 
invés de ter um bom relacionamento 
interpessoal com todos à sua volta; 15) 
6ESTIR
SE� DE� MODO� CONDIZENTE� COM� O�
LOCAL�DE�TRABALHO��POR�ÞLTIMO�MAS�NÎO�
MENOS�IMPORTANTE��AlNAL�A�EMBALAGEM�
DIZ�MUITO�SOBRE�O�PRODUTO��%STAR�ADE-
quadamente vestida com o padrão da 
instituição coloca a pessoa mais próxi-
ma de adquirir uma boa credibilidade 
com o outro.
0ORTANTO�� PARA� TER� RELA¥ÜES� PRODU-
tivas é necessário um investimento 
constante em vários e pequenos deta-
lhes que, com o tempo, podem fazer 
uma grande diferença no resultado das 
ações de uma pessoa ou instituição.
LINGUAGEM�NÎO�VERBAL���	�3ER�ASSERTIVO��
buscar ser objetivo nas colocações sem 
aprofundamentos e detalhes desneces-
SÉRIOS���	�3ER�ORGANIZADO��ADMINISTRA-
ção do tempo e informações relevantes 
são os elementos-chave de qualquer 
pessoa que deseje passar uma imagem 
de organização ao outro; 8) Transmitir 
segurança sobre a informação passa-
DA��O�CONHECIMENTO�DO�TEMA��IMPRES-
CINDÓVEL��3E�NÎO� TEM�DOMÓNIO� SOBRE�O�
assunto, delegue a quem tem para a 
condução do processo comunicacional 
DA�NEGOCIA¥ÎO���	�3ER�CONlÉVEL��NUNCA�
prometa o que não tem certeza de po-
DER�CUMPRIR�NO�FUTURO��.ÎO�HÉ�ESPA¥O�
para possibilidades e, se essa for a úni-
ca opção de comprometimento, deixe 
isso claro para o outro; 10) Demons-
TRAR� SENSIBILIDADE� E� RESPEITO�� ENTENDER�
claramente as questões que os clientes 
APRESENTAM��3AIBA�OUVIR� E�NO� CASO�DE�
dúvida pergunte para que o entendi-
MENTO�SEJA�PLENO����	�3ABER� LIDAR�COM�
DIFERENTES�TIPOS�DE�PESSOAS��NINGUÏM�Ï�
5-�"/-�#!-).(/�
0!2!�!�&5452!�
6!,/2!—§/�
0/3)4)6!�¡�/�).°#)/�
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#/-�/�42!"!,(/� 
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52 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
ciberpsicologia Por Igor Lins Lemos
A ERA DA BUSCA 
PELO HEDONISMO, 
FREQUENTEMENTE, DO 
NARCISISMO NAS REDES 
SOCIAIS E DA DEPENDÊNCIA 
PELA TECNOLOGIA TRAZ 
UMA PERCEPÇÃO DE 
FELICIDADE BASEADA 
NA AVALIAÇÃO DE 
TERCEIROS SOBRE NÓS. 
QUE FELICIDADE É ESSA?
Espelho, espelho MEU...
T
rago este mês provocações ancoradas em uma série te-
levisiva que tem íntima relação com esta coluna. Mui-
tos devem estar familiarizados com o nome Black Mir-
ror. Para os que não conhecem, trata-se de uma série 
que traz a temática tecnológica e suas reverberações, em alguns 
momentos, trágicas. O nome Black Mirror, traduzido livremente 
como “espelho negro”, pode ser compreendido, no sentido literal, 
como a forma que enxergamos o nosso aparelho celular, televisor, 
computador, ou seja, uma tela que está em stand-by. São esses 
milhões de espelhos que estão ao nosso redor e, como debatido 
em diversos outros textos nesta coluna, permitimos que eles se 
tornassem papel central nos lares, nos locais de trabalhos, nas es-
colas, nas faculdades, nas ruas, nos ambientes culturais, nos mo-
mentos de lazer, no trânsito e em diversas outras circunstâncias. 
A temática de Black Mirror se refere a uma sociedade que 
utiliza amplamente os recursos eletrônicos, com diversas 
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 53
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DIVERSOS 
APLICATIVOS GERAM 
NOTA PARA OS 
USUÁRIOS, DESDE 
OS DE TRANSPORTE 
ATÉ OS DE PAQUERA. 
O NÚMERO DE 
CURTIDAS EM UMA 
FOTO TAMBÉM 
RETRATA, DE 
FORMA INDIRETA, 
A NECESSIDADE DE 
ESTARMOS SENDO 
SEMPRE VISTOS 
E VALIDADOS
outros tópicos igualmente importantes se 
referem à busca do prazer, de ser avaliado 
positivamente pelo próximo, e a relação 
com nossos traços narcisistas. Imagine-
mos que você alcance um número absur-
damente alto de curtidas em sua foto. O 
que ocorre após? Manter o número alto 
de curtidas o tempo inteiro o torna natu-
ral ou será que vai precisar adaptar suas 
fotos e mensagens para que elas sejam 
divulgadas no molde que a sociedade as 
valida? A dependência tecnológica, tema 
que enfatizo em diversos momentos, não 
será discutida nesse momento, mas sim 
em um último ponto: a felicidade. Cer-
tamente avaliamos e interpretamos con-
ceitos sobre o que é felicidade de forma 
distinta.Mas tentemos nos aproximar de 
uma interseção: qual a relação da felici-
dade com o uso de tecnologia? Se sente 
feliz, realizado(a), acolhido(a) nas redes 
SOCIAIS��!� FELICIDADE�� EM� DElNITIVO�� NÎO�
está nas redes sociais. Ela se relaciona a 
realizações pessoais muito mais nobres e 
subjetivas que, mesmo variando de sujei-
to para sujeito, sabemos que é alcança-
da apenas de forma momentânea. Nos-
sa sorte é exatamente essa, a busca pela 
felicidade permanente (e encontrada na 
internet) na verdade nos tornaria mortos-
-vivos-digitais acomodados diante des-
sa tela, que, quando olham diretamente 
para ela, a única coisa que enxergam é 
O� SEU� REmEXO�MORTO��/S� ELETRÙNICOS� SÎO�
fantásticos, mas eles são apenas um dos 
diversos recursos que existem em nossa 
vida. Momento de sair do piloto automá-
TICO��$ESAlO�ACEITO�
Igor Lins Lemos é doutor em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento 
pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e especialista em Terapia 
Cognitivo-Comportamental Avançada pela Universidade de Pernambuco (UPE). 
É psicoterapeuta cognitivo-comportamental, palestrante e pesquisador das 
dependências tecnológicas. E-mail: igorlemos87@hotmail.com
que essa mídia não nos traz felicidade. 
Em relação ao primeiro ponto: quantas 
vezes você percebe que está no looping 
“Whatsapp-Facebook-Instagram”? O meca-
nismo é simples: visualizamos quais reca-
dos chegaram no Whatsapp, os responde-
mos, entramos no Facebook para ler o feed 
de notícias, aguardamos as mensagens do 
Whatsapp fazendo hora no Instagram e en-
tão voltamos ao primeiro aplicativo (isso 
não é novidade alguma, concorda?). Esse 
tipo de sistema é descrito apenas para 
três redes sociais, porém atendo pacientes 
que usam entre 12 e 16 redes no mesmo 
celular. Precisamos estar on-line o tempo 
todo? Se sim, por qual motivo? Se não, en-
tão o uso se refere a quê? Escapismo? Dois 
Referências: 
ROSE, S.; DHANDAYUDHAM, A. Towards an understanding of internet-based problem shopping 
behaviour: the concept of online shopping addiction and its proposed predictors. Journal of 
Behavioral Addictions, v. 2, 2014.
TAVARES, H.; LOBO, D. S. S.; FUENTES, D.; BLACK, D. W. Compras compulsivas: uma revisão e um 
relato de caso. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 30, 2008.
.	*.4& 9�+:e�-.�	�& 9�&:e�(›'' 	9��:e��	�)�9�(:�+G�������IG��H�������������G��G����I�‚I���������
internet addiction: a model-based experimental investigation. PLoS One, v. 10, 2015.
temáticas: uso de mídia, tecnologia na 
força militar, realidade virtual, crimes 
virtuais etc. A série é rica na abertura de 
possibilidade de debates no campo da 
Psicologia, porém irei me deter apenas 
no primeiro capítulo da terceira tempo-
rada, intitulado “Nosedive”. Nesse mun-
do futurístico (será que tão distante de 
nós?), as pessoas avaliam qualquer outra 
pessoa (do funcionário de uma loja de 
sorvete até o colega de trabalho) por 
meio de um aparelho que se assemelha 
a um celular. Mas o que isso realmen-
te implica no cotidiano? Em tudo. As 
nossas estrelas, assim como no conhe-
cido Uber, que compreende uma escala 
de um a cinco, servem como referên-
cia para que possamos ser convidados 
a postos maiores de trabalho, viajar de 
avião com melhores possibilidades de 
horários e conforto, alugar um carro, 
comprar uma casa mais bonita, entre 
diversas outras situações que são avalia-
das pelo aparelho. Pensemos: se é por 
meio da avaliação digital de terceiros e 
com essa nota que obtemos deles, quais 
serão os comportamentos que desenvol-
veríamos para sempre alcançarmos altas 
notas? Será que seríamos transparentes 
ou iríamos vestir diversas máscaras so-
ciais para que possamos estar sempre 
no topo? Infelizmente isso já está sendo 
feito – há um bom tempo! A reação de 
alguns alunos ao assistir a esse capítulo 
é de que esse futuro não irá ocorrer, que 
não iremos permitir que simples avalia-
ções guiem nossa vida. Porém, será que 
não devemos nos preocupar? Diversos 
aplicativos geram nota para os usuários, 
desde os de transporte até os de paque-
ra. O número de curtidas em uma foto 
também não retrata, de forma indireta, 
a necessidade de estarmos sendo sem-
pre vistos e validados? 
Temas que são discutidos neste capí-
tulo são: a necessidade de estarmos em 
redes sociais virtuais constantemente; a 
avaliação de terceiros sobre nossos hábi-
tos, corpo e gostos; a busca pelo hedo-
nismo frequentemente; o narcisismo; a 
DEPENDÐNCIA� E�� POR� lM�� A�PERCEP¥ÎO�DE�
54 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
sexualidade Por Giancarlo Spizzirri e Carla Pereira
A PRESENÇA DE DOR DURANTE 
AS RELAÇÕES SEXUAIS É MAIS COMUM 
NAS MULHERES, PORÉM, COM MENOR 
FREQUÊNCIA, TAMBÉM É REFERIDA 
POR ALGUNS HOMENS
Dispareunia
masculina
prepúcio não pode ser retraído, surge a 
dor ao tentar a penetração ou também 
durante a masturbação; 2) Língua presa: 
o frênulo do pênis é a pequena dobra de 
tecido que liga o prepúcio à cabeça da 
glande; em alguns homens essa dobra é 
menor, de modo que pode ocorrer uma 
lSSURA�DURANTE�A�PENETRA¥ÎO�� CAUSANDO�
queimação intensa, dor e às vezes san-
gramento. 3) Doença de Peyronie: é a 
curvatura anormal do pênis durante a 
ereção. Esse processo ocorre por for-
mação de cicatrizes no revestimento do 
corpo cavernoso do pênis. 4) Assoalho 
pélvico espástico: hipertonia da mus-
culatura do assoalho pélvico, prejudi-
cando a função dessa região e levando 
A�UMA�DIlCULDADE�DE�CONTRAIR�E�RELAXAR�
esse grupo de músculos.
Outros fatores que levam à dispareu-
NIA� EM� HOMENS� SÎO� OS� PROCESSOS� INmA-
matórios como, por exemplo, a prostatite 
�INmAMA¥ÎO�DA� PRØSTATA	�� URETRITE� �INmA-
mação da uretra), epididimite (edema do 
epidídimo – via pela qual as secreções 
dos testículos para os canais deferentes e 
dutos ejaculatórios são despejados), con-
diloma (infecção viral que causa verru-
gas na mucosa da glande), herpes (lesão 
da mucosa que gera dor intensa), proces-
sos alérgicos ocasionadas por produtos 
D
ispareunia é o termo técnico 
utilizado para a dor antes, du-
rante ou após a relação sexual 
e, em alguns casos, presente 
na masturbação.
$E� ACORDO� COM� A�#LASSIlCA¥ÎO�%S-
tatística Internacional de Doenças e 
Problemas Relacionados à Saúde, 1993 
(CID-10), a dispareunia é uma dor inten-
sa durante o intercurso sexual, podendo 
ocorrer em homens e mulheres, tendo 
como causa uma condição patológica 
local ou uma causa emocional.
A dispareunia ocorre, aproximada-
mente, em 15% a 20% das mulheres e 
na população masculina não excede 5%; 
ainda assim, essa não é uma situação 
que deva ser ignorada pelos homens, 
uma vez que há tratamento praticamen-
te para todos os casos.
 É importante observarmos que as 
relações sexuais dolorosas não são uma 
doença, mas sim um sintoma que pode 
estar associado a alterações anatômicas, 
PSICOLØGICAS��INFECCIOSAS�OU�INmAMATØRIAS�
Entre as causas anatômicas e/ou 
mecânicas podemos destacar: 1) Fimo-
SE�� � A� DIlCULDADE� E�OU� INCAPACIDADE�
de se expor a glande, a parte terminal 
do pênis, pois a pele que a recobre não 
APRESENTA� ABERTURA� SUlCIENTE�� #OMO� O�
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 55
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Giancarlo Spizzirri é psiquiatra doutor pelo Instituto de Psiquiatria (IPq) 
da Faculdade de Medicina da USP, médico do Programa de Estudos em 
Sexualidade (ProSex) do IPq e professor do curso de especialização em 
Sexualidade Humana da USP.
�G��G�+�����G�\�‚������G����G9�
�����G�
G�������������G�!GI��
G
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�����I�G��
Médicas da Santa Casa de São Paulo. Especialização em SexualidadeHumana 
(FMUSP); Fisioterapia em Gerontologia e Oncologia. Fisioterapeuta do Serviço 
de Fisioterapia Pélvica (Santa Casa de SP). 
	�����I�G�d�
ABDO, C. H. N. Descobrimento Sexual do 
��G���d�para Curiosos e Estudiosos. São 
Paulo: Summus, 2004.
DISPAREUNIA É UMA DOR INTENSA DURANTE 
O INTERCURSO SEXUAL, PODENDO OCORRER 
EM HOMENS E MULHERES. NOS HOMENS AS 
DORES PODEM OCORRER NOS GENITAIS, 
PÊNIS OU TESTÍCULOS, TENDO COMO 
CAUSA UMA CONDIÇÃO PATOLÓGICA 
LOCAL, ALTERAÇÃO MUSCULOESQUELÉTICA 
OU UMA CAUSA EMOCIONAL
experiências sexuais podem ser dolo-
rosas, produzindo evitação de aproxi-
mações sexuais na sequência, e sempre 
estão associadas a outras condições psi-
cológicas relacionadas à falta de asser-
TIVIDADE��DIlCULDADE�EM�EXPRESSIVIDADE�
emocional e de relacionamento social, 
com poucas habilidades sociais e de re-
lacionamento afetivo.
O tratamento da dispareunia mas-
culina depende da causa, uma vez que 
pode ser física, orgânica ou emocional. 
Dessa forma, o tratamento poderá ser 
farmacológico, cirúrgico, psicoterapêu-
TICO� E�lSIOTERÉPICO� E�� EM�ALGUNS� CASOS��
uma intervenção interdisciplinar.
Para o sucesso do tratamento é im-
portante que o homem quebre para-
digmas, tabus e preconceitos e, quan-
do apresentar dor na relação sexual e/
ou na masturbação, peça ajuda para o 
seu médico, o qual poderá investigar 
e direcionar a melhor opção de trata-
mento, visando sempre a cura e o bem-
-estar do indivíduo.
DE�HIGIENE�CORPORAL�� LUBRIlCANTES�OU� LÉ-
tex, doenças fúngicas e doenças sexual-
mente transmissíveis (DSTs).
Com relação às causas emocionais, 
essas podem estar relacionadas a causas 
PSICOLØGICAS�� DECORRENTES� DOS� CONmITOS�
inconscientes que provocam esse tipo 
de dor. Embora menos comum em ho-
mens do que nas mulheres, podemos ci-
tar como fonte de certos problemas re-
ceber uma educação familiar repressiva, 
responsável pela transferência de tabus, 
preconceitos e sentimentos negativos. 
Histórico de abuso ou violência sexual, 
que ocorrem geralmente na infância, 
TAMBÏM� PODE� � GERAR� CONmITO� INTENSO�
e negação do prazer. É importante in-
vestigar e analisar a dinâmica do casal, 
UMA�VEZ�QUE�CONmITOS�CONJUGAIS�PODEM�
agravar / despertar a dor durante a re-
lação sexual.
Observa-se que os aspectos psico-
lógicos chegam a representar, como 
causa, aproximadamente 50% dos ca-
sos. Em muitos casos, a dor pode estar 
presente em homens que tiveram pouca 
atividade sexual até a terceira década de 
idade. Não se masturbavam, não têm 
muitas experiências de namoro e de in-
timidades físicas. Assim, as primeiras 
56 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
GRAVIDEZ
INVISIBILIDADE
SH
UT
TE
RS
TO
CK
GRAVIDEZ
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 57
Raquel Jandozza é psicóloga perinatal formada pela 
Universidade Presbiteriana Mackenzie, especializada 
em Psicanálise Lacaniana pela PUC-SP; doula e 
coach ontológica
MATERNA
Por Raquel Jandozza
Além da intensa felicidade 
proporcionada pela maternidade, 
a missão de ser mãe traz 
como consequência aspectos 
biopsicossociais envolvidos na perda 
da identidade da mulher após o 
nascimento do bebê
MATERNA
pppppppppppppppprrrrrrrrrrrrrrroooooooooooopppppppppppppppooooooooooooooorrrrrrrrrrrrrrrcccccccccccciiiiiiiiiiiiooooooooooooonnnnnnnnnnnnnnnaaaaaaaaaaaaaaaadddddddddddddddddaaaaaaaaaaaaaa pppppppppppppppeeeeeeeeeeeeeeeeelllllllllllllllaaaaaaaaaaaaaa mmmmmmmmmmmmmmmmaaaaaaaaaaaaaaaattttttttttttttttteeeeeeeeeeeeeeerrrrrrrrrrrrrrnnnnnnnnnnnnniiiiiiiiiiiiiiiddddddddddddddddaaaaaaaaaaaaaaadddddddddddddddddeeeeeeeeeeeeeeee,,,,,,, 
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AAAAAAAAAAAAAAAAAlllllllllllléééééééééééééééémmmmmmmmmmmmm ddddddddddddddddaaaaaaaaaaaaaa iiiiiiiiiinnnnnnnnnnnntttttttttttttttteeeeeeeeeeeeeennnnnnnnnnnnnsssssssssssssaaaaaaaaaaaaaa fffffffffffffffffeeeeeeeeeeeeellllllllllllllliiiiiiiiiiiccccccccccccciiiiiiiiiiidddddddddddddddaaaaaaaaaaaaaadddddddddddddddddeeeeeeeeeeeeeee Além da intensa felicidade 
proporcionada pela maternidade, 
a missão de ser mãe traz 
como consequência aspectos 
biopsicossociais envolvidos na perda 
da identidade da mulher após o 
nascimento do bebê
Por Raquel JandozzaPor Raquel JandozzaPPPPPPPPPPPPPPPPoooooooooooooorrrrrrrrrrrrrrrr RRRRRRRRRRRRRRRRaaaaaaaaaaaaqqqqqqqqqqqqqqqquuuuuuuuuuuuuuueeeeeeeeeeeeeeellllllllllllll JJJJJJJJJJJJJJaaaaaaaaaaannnnnnnnnnnnndddddddddddddddddooooooooooooozzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzaaaaaaaaaaPPPPPPPPPPPPooooooooorrrrrrrrrrr RRRRRRRRRRRRaaaaaaaaaaqqqqqqqqqqquuuuuuuuuuuueeeeeeeeeeeellllllllllll JJJJJJJJJJaaaaaaaaaannnnnnnnnndddddddddddddoooooooooozzzzzzzzzzzzzzzzzzzzaaaaaaaaaPPPPPPPoooooorrrrrrr RRRRRRRRaaaaaaqqqqqqquuuuuuuueeeeeeeellllllll JJJJJJaaaaaannnnnnddddddddooooooozzzzzzzzzzzzzaaaaaaPPPPPPPoooooorrrrrrr RRRRRRRRaaaaaaqqqqqqquuuuuuuueeeeeeeellllllll JJJJJJaaaaaannnnnnddddddddooooooozzzzzzzzzzzzzaaaaaaPor Raquel Jandozza
58 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
GRAVIDEZ
po, essa mesma mulher passa a ocupar 
um papel social investido de uma série 
de valores e concepções que a engessam 
em um “modelo” no qual só lhe resta se 
adequar. Essa adequação, porém, é cus-
tosa em muitos sentidos, uma vez que o 
social pode, em certa medida, ser o pano 
de fundo da vivência materna; entretan-
to, no campo subjetivo e emocional, cada 
mulher vai vivenciá-la de modo singular.
A gravidez, portanto, deixou de per-
tencer somente ao campo do orgânico e a 
maternidade passou a ser compreendida 
por diferentes campos do saber, inclusi-
ve pela Psicologia, que tem buscado o 
entendimento acerca dos principais fe-
nômenos psíquicos correlacionados ao 
ciclo gravídico-puerperal. Dentre os fe-
nômenos psicossociais observáveis nesse 
ciclo, destacamos um – a “invisibilidade 
e perda da identidade materna”.
Padecimento
A “invisibilidade e perda de identida-de” das mulheres diante da vivên-
cia materna se trata de um fenômeno a 
ser compreendido sob um prisma tam-
bém social. Consideram-se aspectos in-
dividuais da mulher nesse processo de 
apagamento. Contudo, não recai sobre 
ela a total responsabilidadepelo fato. 
Pelo contrário, por vezes as mães sequer 
reconhecem tal padecimento. Frequen-
temente, ouve-se das mães a menção de 
alguns chavões, reclamações e queixas 
de sintomas físicos e emocionais que, 
muitas vezes, caem em descrédito por 
serem já tão comuns à ideia que se tem 
da figura materna e, por isso, passam a 
ser naturalizados ou, pior, banalizados.
A crescente valorização da infância, 
Há anos, acredita-se que a “maternidade” é um dom inato à mulher. Que há uma imensi-dão de afeto na relação 
materna, não se pode negar. Contudo, 
sócio-historicamente, sabe-se que nem 
sempre essa relação se deu dessa forma. 
A partir de uma compreensão sociológi-
ca, pode-se dizer que “amor materno” é 
conquistado e construído.
Dois grandes autores e historiadores, 
Elizabeth Badinter e Philippe Ariès, vão 
apresentar em suas obras, Um Amor Con-
quistado: o Mito do Amor Materno (1985) 
e História Social da Criança e da Família 
(1981), respectivamente, a concepção de 
que o amor materno não é inato e que a 
infância é uma construção recente. Para 
ambos, o “sentimento de infância” surge 
em meados do século XVIII, momento 
em que a criança passa a ser incluída na 
cena e convívio familiar e seus cuidados 
– antes delegados a amas de leite – tor-
nam-se função da família, mais direta-
mente da mãe. Para Ariès, as famílias não 
se apegavam afetivamente às crianças 
e tampouco lhes dispensavam maiores 
cuidados, uma vez que o índice de mor-
talidade infantil era muito alto. Já para 
Badinter, a mortalidade infantil seria jus-
tamente reflexo desse distanciamento e 
ausência de cuidados familiares efetivos.
Um dos objetivos principais desses 
O sentimento de infância surge em 
meados do século XVIII, momento em 
que a criança passa a ser incluída na cena 
e convívio familiar e seus cuidados – antes 
delegados a amas de leite – tornam-se função 
da família, mais diretamente da mãe
estudos é apontar que naturalizamos 
algo que foi socialmente construído 
– infância e maternidade. Quais os re-
flexos dessa concepção para as mães na 
atualidade? Ora, vejamos: a concepção 
de amor materno, inclusive propagado 
como “instintivo”, lança na maternidade 
uma enorme expectativa do exercício de 
funções e características balizadas por 
um ideal social e cultural.
Dentre as transformações sociais, 
não se pode esquecer os avanços tecno-
lógicos e medicinais que propiciaram à 
mãe e ao bebê receber tratamentos res-
ponsáveis por diminuir os riscos e mor-
tes materno-fetais. Sendo assim, se antes 
gravidez e parto significavam também 
possibilidade de risco e morte, um novo 
cenário obstétrico e neonatal trouxe um 
oposto positivo de vida, mas não menos 
complexo e por vezes ainda doloroso.
Ao engravidar, a mulher se vê diante 
de mudanças físicas e biológicas comuns 
às mamíferas, contudo, ao mesmo tem-
Houve mudanças em 
relação ao entendi-
mento do processo da 
“maternidade”, pois hoje 
existe uma compreensão 
sociológica de que “amor 
materno” é construído
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 59
como explicitado nos estudos de Àries 
(1981), também contribui de modo com-
plexo na dinâmica de esmaecimento da 
mulher e, nesse caso, dentre as persona-
gens da cena da vida materna, o bebê é 
quem ganha maior destaque e importân-
cia social. Sendo assim, uma vez grávida, 
a mulher perde seu status individual – ela 
não só deixa de falar em nome próprio 
como tampouco é ouvida como um in-
divíduo para além da sua condição gra-
vídica. Em geral, quando a sociedade se 
preocupa com essa mulher é para obter 
acesso e informações acerca do bebê em 
detrimento do indivíduo que o carrega.
Tomando isso como premissa, a 
ideia não é desqualificar os cuidados ne-
onatais, mas agregar a compreensão de 
que, sendo essencial a presença da mãe 
tanto para os cuidados físicos como para 
o acolhimento e estabelecimento da saú-
de emocional do bebê, uma vez que ela 
“desapareça”, a quem ou a que recorre 
esse bebê?IMAG
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Antes das transformações sociais, 
a gravidez e o parto significavam também 
possibilidade de risco e morte, mas um novo 
cenário obstétrico e neonatal trouxe um 
oposto positivo de vida, mas não menos 
complexo e por vezes ainda doloroso
partir da idealização estética feminina, 
não desaparece somente o “belo corpo 
feminino”, com a tal concepção se esvai 
também a autoestima da mulher.
É no parto em que, atualmente, mais 
pode ser visto o “desaparecimento” da 
mulher. Com os avanços da Medicina 
obstétrica, as mulheres têm sido subme-
tidas a procedimentos que antes eram 
delegados ao corpo que naturalmente 
cumpria sua função durante o trabalho 
de parto, como, por exemplo, as “cesáreas 
eletivas”. A cirurgia cesárea – que, segun-
do a História, foi praticada pela primeira 
vez no ano de 1500 por um homem sim-
ples que, em um ato de coragem, salvou 
mãe e bebê durante um trabalho de parto 
complicado, cortando a barriga da mãe 
com uma lâmina de barbeiro – teve sua 
prática ampliada e exclusiva ao uso médi-
co obstétrico somente no século XVIII. 
Entretanto, só se tornou rotineira no sé-
culo XX. Anteriormente, o procedimen-
to apresentava altíssimas taxas de morta-
lidade materno-fetal e só era considerado 
quando realmente todas as alternativas 
para um parto normal vaginal não tives-
sem obtido sucesso.
A cirurgia cesárea salva vidas de mu-
lheres e bebês e quando bem sugerida 
Œ�Manobra de Kristeller Œ
O procedimento obstétrico chamado ma-
nobra de Kristeller consiste na aplicação de 
pressão na parte superior do útero, com o 
intuito de facilitar a saída do bebê. O pro-
fissional junta as mãos no fundo do útero, 
sobre a parede abdominal, com os polegares 
voltados para frente, tracionando o fundo do 
útero em direção à pelve, no momento em 
que ocorre uma contração uterina durante o 
parto natural ou cesárea. A técnica traz riscos 
para mãe e filho e é desaconselhada pela Or-
ganização Mundial da Saúde.
Ao engravidar, a mulher se vê diante de mudanças físicas e biológicas, mas passa a ocupar um papel 
investido de valores e concepções que a engessam em um “modelo”
E como as mães desaparecem? Há 
um preditivo? Ela recebe algum tipo de 
ameaça de um “rapto” social e identitá-
rio? Ela sequer deixa um bilhete de so-
corro ou de volto logo? Não!
Toda a cena materna tem se investi-
do de um primado de beleza. Ao longo 
da gravidez, a mulher “tem que” ganhar 
cada vez menos peso e curvas e, quando 
inevitavelmente a barriga ganha con-
torno e total expansividade, “coitada” 
da mulher que ganhar as linhas das 
temíveis estrias. Se, ainda assim, com 
sobrepeso, ela não “desaparecer”, que 
ao menos esconda as estrias. O mesmo 
vale para a recuperação do peso e forma 
física no pós-parto. “Fique linda para 
seu parceiro e seu bebê, afinal quem vai 
querer uma esposa ou uma mãe toda 
largada?” Muitas mulheres ouviram 
isso, internalizaram e acreditam ser de-
las mesmas essa cobrança estética – e, 
claro que é delas, mas para atingir um 
padrão e expectativa que a precede! A 
60 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
GRAVIDEZ
A gravidez deixou de pertencer 
só ao campo do orgânico e a maternidade 
passou a ser compreendida por diferentes 
campos, como a Psicologia, que busca o 
entendimento dos fenômenos psíquicos 
correlacionados ao ciclo gravídico-puerperal
evita danos e traumas maiores para to-
dos. Contudo, o cenário atual apresenta 
uma realidade no mínimo alarmante. 
Em julho de 2016, a ANS (Agência Na-
cional de Saúde Suplementar) publicou 
dados do Mapa Assistencial e constatou 
que o Brasil apresenta taxas de cesaria-
nas três vezes superior à média de países 
como EUA, Espanha, Alemanha, Fran-
ça, entre outros que compõem a OCDE 
(Organização paraa Cooperação e De-
senvolvimento Econômico). Segundo 
esses dados, a cada 100 nascimentos no 
Brasil 84,6 foram de partos cesáreos. Em 
contrapartida, a taxa média dentre os 34 
países que compõem a OCDE foi de 27,6.
Realidade alarmante
Com toda certeza, as mulheres no Brasil não são anatomicamen-
te diferentes das outras mulheres do 
mundo. Então, o que realmente acon-
tece, para que as cesáreas no Brasil 
sejam a primeira alternativa de parto 
para médicos e mulheres?
Uma das hipóteses, inclusive que 
baseou novas medidas por parte da 
ANS, era de que o parto normal, por 
sua imprevisibilidade e longa duração, 
tornava-se desvantajoso economica-
mente para os médicos. Como uma 
das medidas para diminuir o número 
de cesáreas previamente agendadas, 
baseadas nesses motivos, a ANS, des-
de 2015, determinou que os médicos 
recebessem três vezes mais pelo aten-
dimento ao parto normal.
É curioso que, mesmo nesse texto, 
ao se falar de parto, logo se faz alusão à 
cena médica hospitalar, taxas, modelos 
de parto, esforço e, por último, fala-se 
da escolha da mulher. Diniz e Duarte 
(2004) observaram em seus estudos, a 
partir de evidências científicas a respei-
to do modelo médico intervencionis-
ta nos partos no Brasil, que as equipes 
médicas e hospitalares passaram a ter 
domínio sobre o corpo da mulher, que, 
por sua vez, deixou de ser protagonista 
ativa no momento do parto e passou a 
ser “paciente” dependente das escolhas 
e condutas médicas.
“Nesse modelo tradicional conside-
ra-se o corpo feminino sempre depen-
dente da tecnologia, frágil e potencial-
mente perigoso para o bebê. Isso é o que 
muitos pesquisadores chamam de viés 
de gênero, um olhar preconcebido sobre 
a mulher, em que seu corpo é por defini-
ção imperfeito e ameaçador, e não poten-
cialmente adequado e saudável” (Diniz; 
Duarte, 2004, p. 19).
Muitas mulheres sequer arriscam 
entrar em trabalho de parto. Temem a 
dor e possivelmente uma nova frustração 
ou constatação de uma “fraqueza”, pois 
infelizmente é essa a cultura que come-
ça a permear o cenário do parto. Muitas 
mulheres que conseguiram ter seus par-
tos normal, natural e humanizado, por 
vezes, passam a desqualificar as que não 
tiveram e as provocações do lado oposto 
também acontecem. Lamentavelmente, 
dos dois lados, quem acaba perdendo é 
a mulher que, informada ou não, empo-
derada ou não, fez ou foi induzida a uma 
escolha. E não esqueçamos as mulheres 
que nem escolhas tiveram ou, pior, que 
sofreram diversas violências obstétricas.
Humanização
Contrapondo tais cenários é que uma rede de profissionais se uniu em 
1993 em prol da humanização do parto 
e nascimento. A ReHuNa concentra pro-
fissionais de diferentes partes do Brasil 
e busca disseminar conhecimento ba-
seado em evidências científicas e, dessa 
forma, promover impacto e mudanças 
no modelo obstétrico tradicional, imple-
mentando o que hoje já nomeia-se como 
“parto humanizado”. Esse movimento 
de “humanização” busca promover os 
cuidados à mulher e ao bebê, respeitando 
o protagonismo feminino em seus aspec-
tos emocionais, sociais, naturais e fisioló-
gicos, diminuindo, assim, a quantidade 
de intervenções médicas, já comprova-
das cientificamente desnecessárias e por 
vezes danosas e letais para mãe e bebê, 
como é o caso da manobra de Kristeller, 
Inúmeras mulheres, quando ficam grávidas, perdem o “rumo profissional”, pois frequentemente a licença 
maternidade não é bem-vista no mundo corporativo
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 61
hoje totalmente desaconselhada no par-
to, mas ainda muito utilizada no Brasil 
(Diniz; Duarte, 2004). 
Com o parto humanizado, a mulher 
tem a possibilidade de retomar seu lugar 
de protagonismo ativo tanto na sua gravi-
dez como parto e, consequentemente, no 
exercício da maternidade. As informa-
ções e acompanhamento que a mulher 
deve receber no modelo humanizado 
priorizam as evidências científicas em 
detrimento da opinião médica, que, por 
vezes, poderia ser enviesada (ReHuNa, 
2016; Diniz; Duarte, 2004). Em conjun-
to, equipe e a mulher podem discutir o 
“plano de parto” dela e, juntas, optarem 
pelas melhores alternativas. Desse modo, 
o médico, com toda sua expertise, fica a 
serviço da mulher e não o contrário.
Contudo, não é somente pelo parto 
que a mulher vai travar batalhas para 
impedir seu “desaparecimento”, pois 
são diversas as situações que facilitam 
que o mesmo aconteça ao longo da gra-
videz, puerpério e maternidade. Um dos 
raptos mais recorrentes é o da dignida-
de e independência financeira. Muitas 
mulheres, ao se verem grávidas, perdem 
o “rumo profissional”, pois comumente 
a licença maternidade não é bem-vista 
no mundo corporativo. Se empreender 
ou administrar a própria empresa, a 
mulher irá se desdobrar mais uma vez 
para dar conta da maternidade, renda e 
finanças de seu negócio. Por isso, mui-
tas mulheres não conseguem conceber 
trabalho e maternidade em um mesmo 
plano de vida e carreira.
Desigualdade
Não se pode esquecer, inclusive, que o mercado de trabalho já é desfa-
vorável para as brasileiras. Como é possí-
vel constatar em pesquisas mais recentes 
do IBGE (outubro, 2015), as mulheres 
foram as mais afetadas pelo aumento 
do desemprego no Brasil. De acordo 
com a Pesquisa Nacional de Domicí-
lios (Pnad/IBGE 2015), 4,6 milhões de 
brasileiras estão desempregadas, o que 
representa 52% do total de desocupados 
no país e, dentre os que estão emprega-
dos, a mulher recebe um salário médio 
inferior ao salário médio de homens 
ocupando a mesma função e cargo (Mu-
lheres - R$ 1.567 e Homens - R$ 2.058). 
Ao perder a colocação no mercado 
de trabalho, ou mesmo ao receber um 
salário inferior, a mulher deixa de ter po-
tência financeira e, para algumas famí-
lias, isso significa a perda de uma renda 
fundamental. A estabilidade financeira 
ameaçada pode deflagrar situações de es-
tresse não só para mulher, mas para todo 
conjunto familiar.
Então, em algum momento a mu-
lher se depara com uma temida decisão: 
retornar ao mercado formal ou informal 
de trabalho. Contudo, essa escolha pres-
supõe perdas, pois, se optar por estar 
mais próxima do filho, perde a possibili-
dade de renda e, optando por ter renda 
e trabalhar, terá que delegar os cuidados 
do filho a terceiros. Feita uma das esco-
lhas, a mulher poderia seguir cuidando 
a seu modo da sua própria vida e filho. 
Mas não. Mediante as cobranças sociais, 
a mãe não pode sentir que fez a escolha 
certa em nenhuma das hipóteses. Se per-
manecer em casa, não tem ambição sufi-
ciente para um crescimento profissional 
e financeiro; o que fica nas entrelinhas é 
que “nasceu para ser dona de casa”, en-
tendendo tal atividade de modo depre-
ciativo. Caso ela reassuma o cargo, “fez o 
 PARA SABER MAIS 
S
egundo Plon e Roudinesco (1998), o complexo de Édipo é uma noção central na 
Psicanálise. Seu inventor, Sigmund Freud, teorizou o dito complexo a partir de um 
personagem da tragédia grega de Sófocles, a saber, o jovem Édipo. O complexo 
de Édipo seria para Freud (1909) a representação inconsciente do “desejo sexual” da 
criança pelo genitor do sexo oposto e sua rivalidade e hostilidade com o genitor do 
mesmo sexo. Para Freud, esse complexo ocorreria entre os três e cinco anos de idade 
da criança e sua resolução se daria após a puberdade, na concretização de uma nova 
escolha de objeto amoroso. “O complexo de Édipo desempenha papel fundamental na 
estruturação da personalidade e na orientação do desejo humano. Para os psicanalistas, 
ele é o principal eixo de referência da psicopatologia” (Laplanche; Pontalis, p. 77).
COMPLEXO DE ÉDIPO TEVE 
INSPIRAÇÃO EM TRAGÉDIA GREGA
Um dos dilemas da mulher 
é que se ela permanecer 
em casa, cuidando do filho, 
pode dar a impressão 
de que não temambição suficiente para 
um crescimento 
profissional 
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GRAVIDEZ
Grávida, a mulher perde seu status 
individual – ela não só deixa de falar em 
nome próprio. Em geral, quando a sociedade 
se preocupa com essa mulher é para obter 
acesso e informações acerca do bebê em 
detrimento do indivíduo que o carrega
NAS BANCAS!
filho para os outros ou o governo criar”. 
A essa altura, o “desaparecimento” já 
passa a ser considerado boa alternativa.
O cenário apresentado, acrescido 
de um cinismo ao final, resulta da jun-
ção inclusive de diferentes momentos e 
construções históricas. O apego e a im-
portância da função materna na estru-
turação psíquica do sujeito passaram a 
ser mais amplamente estudados no final 
do século XIX com Freud teorizando o 
Complexo de Édipo. 
Estrutura psíquica
As teorias freudianas, embora desen-volvidas em conformidade com as 
características fundamentais da família 
burguesa, ainda ressoam suas constata-
ções para a compreensão da maternida-
de contemporânea que, em muitos mo-
mentos, refletem os aspectos tipicamente 
burgueses. Sendo assim, é preciso com-
parar e contrastar também os valores 
atuais com os da sociedade vitoriana na 
qual Freud teorizou. Se antes a mulher 
apenas cuidava dos filhos, hoje ela está 
no mercado de trabalho e acumula 
funções. Se por um lado ela é cobrada 
para competir de igual para igual com 
os homens, profissionalmente falan-
do, por outro, ela segue ganhando 
menos e ainda tendo funções extras 
– ditas como próprias “da mulher” 
(tarefas domésticas, cuidado com os fi-
lhos etc.). As mulheres da época de Freud 
eram responsáveis principais pela edu-
cação e criação dos filhos. No entanto, 
se atualmente, como já mencionado, as 
funções e papéis da mulher na sociedade 
mudaram, nem por isso a teoria freudia-
na deixou de ter sua importância para a 
compreensão da psique humana.
Alguns autores pós-freudianos, 
como Lacan, também vão teorizar sobre 
a mulher e a maternidade e sua impor-
tância na constituição psíquica do su-
jeito. Lacan (1969), em seu texto “Nota 
sobre a criança”, vai ressaltar a importân-
cia da função materna, relacionando tal 
função aos cuidados marcados por um 
interesse particularizado da mãe pelo 
bebê, dando a ele um lugar específico 
em seu desejo e interesse. Para além de 
todos os cuidados físicos essenciais para 
a sobrevivência do bebê, como alimen-
tação, higiene etc., a mãe terá que prover 
outras necessidades de ordem psíquica, 
para que o bebê possa advir como sujeito. 
Tais necessidades devem ser ao 
mesmo tempo articuladas ao campo 
simbólico, o campo da linguagem. Para 
Lacan (1960), é por meio da linguagem 
Ao decodificar o 
choro do bebê, a 
mãe ocupa o lugar 
de interlocutor 
desse bebê, e é 
nesse sentido que 
Lacan refere-se à 
mãe como o 
Outro primordial
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REFERÊNCIAS 
ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar, 2016. In: http://www.ans.gov.br/aans/noticias-ans/
numeros-do-setor/3402-ans-publica-dados-sobre-assistencia-prestada-pelos-planos-de-saude-2 
ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1981.
BADINTER, Elisabeth. Um Amor Conquistado: o Mito do Amor Materno. Rio de Janeiro: Editora Nova 
Fronteira, 1985.
DINIZ, Simone Grilo; DUARTE, Ana Cristina. Parto Normal ou Cesárea? O que Toda Mulher Deve Saber (e 
Todo Homem Também). São Paulo: Editora Unesp, 2004.
FARIA, Michele Roman. Constituição do Sujeito e Estrutura Familiar. O Complexo de Édipo de Freud a 
Lacan. Taubaté: Editora e Livraria Universitária, 2010.
FREUD, Sigmund. Análise de uma fobia em um menino de cinco anos. In: FREUD, S. Edição standard 
brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v. 10, p. 11-133, tradução J. Salomão. Rio 
de Janeiro: Imago, (Trabalho original publicado em 1909.) 
. Carta 71. In: FREUD, S. Edição standard brasileira das Obras Psicológicas Completas de 
Sigmund Freud, v., tradução J. Salomão. Rio de Janeiro: Imago, (Trabalho original publicado em 1897.)
LACAN, Jacques (1969). Nota sobre a criança. In: Outros Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. 
LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
PNAD e IBGE 2015. In: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/pesquisas/pesquisa_resultados.php?id_
pesquisa=40
REHUNA – Rede pela Humanização do Parto e do Nascimento. In: http://www.rehuna.org.br/ 
ROUDINESCO, Elisabeth; PLON, Michel. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
que o grito da criança pode adquirir um 
significado, isso através da significação 
dada pela mãe para esse grito. Ao deco-
dificar o choro do bebê, por exemplo, a 
mãe vai ocupar o lugar de interlocutor 
ou intérprete desse bebê, e é nesse sen-
tido que Lacan refere-se à mãe como o 
Outro primordial. Esse “‘banho de lin-
guagem” (Faria, 2010) impõe à criança 
uma condição de assujeitamento, ou 
seja, para ter suas necessidades atendi-
das, a criança totalmente dependente 
precisa que seus gritos, balbucios e cho-
ros sejam interpretados por esse Outro 
materno. A função materna não termina 
aqui, mas já é possível perceber, a partir 
dessa pequena explanação, a tamanha 
importância e implicação psíquica de 
uma mãe diante do desenvolvimento 
físico e emocional de seu bebê.
Os recortes históricos, sociais e 
psicológicos feitos para este artigo bus-
caram dar visibilidade à importância e 
complexidade que recaem sobre a mu-
lher que figura a maternidade contem-
porânea. O termo “figurar” foi proposi-
talmente escolhido, pois, de fato, pouco 
se sabe dessa mulher, já que, uma vez 
“mãe”, ela só agregou para si mais fun-
ções, estereótipos, demandas e expec-
tativas internas e externas a que vemos 
sucumbir seus desejos, necessidades e 
essência, que não deixaram de existir, 
mas podem estar timidamente ou sufo-
cadamente pedindo por socorro. Resga-
temos essas mulheres!
Œ�ReHuNa Œ
A Rede pela Humanização do Parto e Nas-
cimento (ReHuNa) é uma organização da 
sociedade civil que atua em todo o Brasil. 
O objetivo é a divulgação de cuidados peri-
natais, com base em evidências científicas. A 
rede tem um papel relevante na estruturação 
de um movimento denominado humanização 
do parto/nascimento. Pretende diminuir as 
intervenções desnecessárias e promover um 
cuidado em relação ao processo de gravidez/
parto/nascimento/amamentação, com base 
na compreensão do processo fisiológico.
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divã literário por Carlos São Paulo
A segurança da 
LOUCURA
LER O CONTO O HORLA 
E TORNAR-SE A TERCEIRA 
PESSOA QUE PODE 
DISTINGUIR O EXERCÍCIO 
DA PRÓPRIA RAZÃO, 
COMO AFIRMA FOUCAULT, 
É A FORMA DE PERCEBER 
QUE O LOUCO NÃO PODE 
SER LOUCO PARA SI MESMO
G
uy de Maupassant, contista francês, no curso de sua do-
EN¥A�MENTAL�PROVOCADA�PELA�SÓlLIS��ESCREVEU�UMA�SEGUNDA�
versão do seu conto “O Horla”, acentuando a verossimi-
lhança e, como em um diário, contando o seu estado de 
enlouquecimento. O escritor nasceu em 1850 e, ao terminar esse 
conto, tentou suicídio, foi internado num hospício e veio a falecer 
aos 43 anos, um ano depois do seu internamento.
h/�(ORLAv�� LINGUISTICAMENTE�� SIGNIlCA�PRESENTE��MAS�NÎO� AQUI��
ONDE�TEM�O�SEGUINTE�SIGNIlCADO��O�QUE�NÎO�ESTÉ�EM�MIM�NÎO�SOU�
EU��.ARRADO�NA�PRIMEIRA�PESSOA��O�CONTO�TRAZ�COMO�PERSONAGEM�UM�
cidadão que convive com a presença de uma entidade invisível. Ele 
inicia suahistória escrevendo a data como em um diário, admiran-
DO�O�DIA�E�MOSTRANDO�O�QUANTO�GOSTA�DA�CASA�ONDE�CRESCEU��6AI�AOS�
POUCOS�MOSTRANDO�UM�ESTADO�PROGRESSIVO�DE�DILUI¥ÎO�DA�FRONTEIRA�
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entre o que ele é e as formas pelas quais 
ele se representa. 
/�NARRADOR�CONVIVE�ANGUSTIADO�COM�
os limites dos sentidos humanos. Diz no 
SEU�RELATO��h.ÎO�PODEMOS�ENXERGAR�NEM�
os habitantes de uma estrela e nem os 
HABITANTES�DE�UMA�GOTA�D�ÉGUA��%�NOS-
SOS�OUVIDOS�QUE�NOS�ENGANAM��POIS�NOS�
transmitem as vibrações do ar em notas 
SONORASv�� %M� SEGUIDA�� VIAJA� PARA� OUTRA�
cidade e lá presencia a prima submeten-
DO
SE�Ì�SUGESTÎO�HIPNØTICA��
!� SUGESTÎO� HIPNØTICA�� APLICADA� A�
essa prima rica, a faz precisar tomar-
-lhe um empréstimo e, com isso, ne-
NHUM� ARGUMENTO� LØGICO� FAZ� SENTIDO�
para ela. Convencida dessa necessidade, 
ela suplica-lhe, sem saber que atende a 
um comando hipnótico do qual não tem 
consciência, enquanto ele, que assistiu 
ao transe hipnótico, sabia que não havia 
NENHUMA� LØGICA�PARA�ESSE�PEDIDO��%SSA�
EXPERIÐNCIA�FAZ�O�NARRADOR�ASSOCIAR�TUDO�
que viu à criatura Horla.
No século XIX, época em que viveu 
Maupassant, a Medicina passou a admi-
TIR� A� AMEA¥A� INVISÓVEL� DOS�MICRORGANIS-
mos causadores de doenças. Medicina e 
0SICOLOGIA�JUNTAS�COME¥AVAM�A�CONSIDE-
rar o invisível. 
Sabemos que há muitas coisas em nós 
E�NO�MUNDO�EM�NOSSA�VOLTA�QUE�INEXISTEM�
PARA�NØS�MESMOS��!�0SICOLOGIA�CHAMA�DE�
COMPLEXos essas subpersonalidades que, 
assim como na demonstração hipnótica, 
nos fazem viver sem compreender muitas 
das decisões que tomamos. Mas à luz da 
ANÉLISE�� ALGUÏM� PODE� COMPREENDER� POR�
que sua vida afetiva é sofrida e não repe-
tir o erro em casamentos sucessivos. Ou 
pode resistir a mudar uma vida sofrida por 
entender que, como um torturado habitu-
ADO�A�DETERMINADO�TORTURADOR��lCAR�COM�
Bola de Sebo 
(conto “O Horla”) 
Autor: Guy de 
Maupassant
Editora: Artes e Ofícios
Número de páginas: 96
Ano de edição: 2011
medo se lhe aparecer um torturador novo, 
POIS�O�ANTIGO�LHE�DÉ�MAIS�SEGURAN¥A�
Para nos darmos conta do nosso 
próprio eu, precisamos ter um funciona-
MENTO� SAUDÉVEL� DE� NOSSO� EGO��!� SÓlLIS��
COM�OS�SEUS�AGENTES�MICROSCØPICOS�� FOI�
capaz de produzir uma disfunção no 
EGO�DE�-AUPASSANT�A�PONTO�DE�DEIXÉ
LO�
em condições de maltratar a si mesmo 
e buscar saída na tentativa de suicídio. 
%M� SUA� DESCRI¥ÎO�� DIZ� O� PERSONAGEM��
h6IVER�COM�A�LOUCURA��COMO�SENTIR�QUE�
o monstro invisível, como um vampiro, 
S�SE�SACIA�DEPOIS�QUE�SUGA�A�VIDA�QUE�H�
EM�MIM�E�ME�DEIXA�SEM�ENERGIA�E�ENFRA-
quecido”, ou similarmente diz na voz do 
COCHEIRO��h!S�NOITES�ME�COMEM�OS�DIASv�
4OMANDO� A� MITOLOGIA� PARA� MELHOR�
ENTENDERMOS�A�LOUCURA��DESTACO�QUE�EXIS-
tia para os romanos o deus Baco (Dio-
NÓSIO�PARA�OS�GREGOS	��QUE�REPRESENTAVA�A�
intensidade emocional capaz de dissolver 
os limites do eu. Ele era descrito como 
um eterno adolescente, devorado pelas 
emoções e que, por essa razão, vivia em 
BUSCA�DE�SEXO�OU�DROGAS��3ABEMOS�QUE�AO�
cérebro adolescente, ainda incompleto, 
Carlos São Paulo é médico e psicoterapeuta junguiano. 
É diretor e fundador do Instituto Junguiano da Bahia.
carlos@ijba.com.br / www.ijba.com.br
FALTA�O�DESENVOLVIMENTO�PLENO�DO�CØRTEX�
pré-frontal para lhe permitir encontrar 
OBJETIVIDADE� EM� MEIO� ÌS� SUAS� PAIXÜES��
Assim, os seus pais precisam fazer o pa-
PEL� DESSE� CØRTEX� PRÏ
FRONTAL�� %RASMO� DE�
Rotterdam, em Elogio da Loucura��NOS�DIZ��
h3�A�LOUCURA�TEM�A�VIRTUDE�DE�PROLONGAR�
A�JUVENTUDE��EMBORA�FUGACÓSSIMA��E�DE�RE-
tardar bastante a malfadada velhice […]. 
Baco tem sempre, como um rapazinho, o 
ROSTO�RUBICUNDO�E�A�LONGA�CABELEIRA�LOU-
ra? É porque passa a vida fora de si, em-
BRIAGADO� NOS� BANQUETES�� NOS� BAILES�� NAS�
FESTAS��NOS�FOLGUEDOS��RECUSANDO�QUALQUER�
relação com Minerva”.
Outro mito que descreve a loucura 
é o mito de Cassandra. Apolo, cativo à 
JOVEM�#ASSANDRA��LHE�DEU�O�DOM�DE�AN-
TEVER�TRAGÏDIAS�E�FAZER�PREVISÜES��.O�EN-
TANTO��A�BELA�JOVEM�SE�NEGOU�A�DEITAR
SE�
com o deus. Como punição, Apolo fez 
com que as pessoas não acreditassem 
na previsão de Cassandra e esta passou 
a ser vista como louca. Ai de quem for 
PREPARADO� PARA� ENXERGAR� MAIS� LONGE�
quando as demais pessoas ainda não 
CONSEGUEM�ACOMPANHÉ
LO��POIS�TAMBÏM�
será um louco. Somos loucos quando in-
tuímos uma escolha e insistimos nela 
enquanto os outros em nossa volta nos 
FOR¥AM�A�SEGUIR�OUTRO�CAMINHO��
4ODOS� OS� DIAS�� NESSE� MUNDO� GLOBA-
lizado, nos deparamos com notícias e 
PROGNØSTICOS� E� NÎO� SABEMOS� O� QUANTO�
Cassandra nos amedronta com sua lou-
CURA��.INGUÏM�OUVIU�#ASSANDRA�QUANDO�
ela previu uma crise econômica, moral, 
ética e institucional nessas dimensões 
NO�"RASIL�� !GORA� QUE� J� ACONTECEU�� PRE-
CISAMOS�CONTEMPLAR�SEM�PAIXÎO�O�NOSSO�
modo de ver os candidatos liderarem a 
nação e evitar sentirmo-nos impoten-
TES�DIANTE�DE�UM�"RASIL�AINDA�NO�ESTÉGIO�
h"ACOv��O�QUAL�NÎO�SE�DÉ�CONTA�DE�QUE�JÉ�
é hora de sair da adolescência e enfrentar 
Minerva, a deusa da sabedoria. 
NO SÉCULO XIX, 
ÉPOCA EM QUE 
6)6%5�-!50!33!.4��
A MEDICINA PASSOU 
A ADMITIR A AMEAÇA 
).6)3°6%,�$/3�
MICRORGANISMOS 
CAUSADORES DE 
DOENÇAS. MEDICINA 
E PSICOLOGIA 
*5.4!3�#/-%—!6!-�
A CONSIDERAR 
/�).6)3°6%,
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O 
SERIADO�NACIONAL�DE�PRODU¥ÎO�DA�.ETmIX�E�"OUTIQUE�
Filmes estreou recentemente e vem a calhar de for-
ma assustadora com o momento social. O “piloto” 
lLMADO�EM������INSPIROU
SE�NA�PRØPRIA�VIVÐNCIA�DE�
seus criadores como jovens em um mundo altamente compe-
TITIVO�E�EXCLUDENTE�E�QUE��INCLUSIVE��EM�UM�PRIMEIRO�MOMENTO�
disse não para a produção.
#HEGA�AO�ESPECTADOR�EM�UMA�ÏPOCA�NACIONAL�EM�QUE�A�JUVEN-
TUDE�LUTA�MAIS�DO�QUE�OS�BRAVOS����DO�ROTEIRO�E�CONTRA�PERIGOS�TÎO�
REAIS�E�hCONTROLADOSv�QUANTO��-OMENTO�NO�QUAL�O�MUNDO�DISCUTE��
ABISMADO��DADOS�QUE�APONTAM�PARA�UM�PERCENTUAL�MUITO�PEQUENO�
DE�INDIVÓDUOS�QUE�DETÐM�A�GRANDE�MAIORIA�DOS�RECURSOS�MONETÉRIOS�
DO�PLANETA�E�QUE��PORTANTO��TÐM�UM�MODO�DE�VIDA�MUITO�PRIVILEGIA-
DO�COM�ACESSO�A�BENS�E�CUIDADOS��MAS�A�MAIORIA�DA�POPULA¥ÎO�NÎO�
TEM�ESSE�DIREITO�ASSEGURADO��.ADA�MUITO�LONGE�DO�QUE�VEREMOS�NES-
SA�INTERESSANTE�PRODU¥ÎO��A�PRIMEIRA�BRASILEIRA�DA�.ETmIX��QUE�PARECE�
TER�CONTADO�COM�UM�OR¥AMENTO�PRØXIMO�AOS�2�����MILHÜES��O�QUE�
Ï�COMPATÓVEL�COM�AS�PRODU¥ÜES�NACIONAIS��MAS�BEM�MENOS�POLPUDO�
PERTO�DE�OUTRAS�PRODU¥ÜES�BANCADAS�PELA�.ETmIX��
-¡2)4/3�).%'£6%)3
%MBORA�NÎO�TRAGA�UMA�GRANDE�NOVIDADE��UM�MISTO�DE�FRANQUIAS�
como Jogos Vorazes e Divergente�� ENTRE� OUTRAS�MENOS� CONHECIDAS��
APRESENTA�MÏRITOS�INEGÉVEIS��!LGUMAS�CRÓTICAS�POSSÓVEIS�NO�SENTIDO�
APENAS�DE�ALCAN¥AR�MAIS�QUALIDADE��PRINCIPALMENTE�DE�DIRE¥ÎO��ELEN-
CO�E�DUBLAGEM��/� ROTEIRO�ORIGINAL� FOI� CRIADO�EM������POR�0EDRO�
!GUILERA� COM�A�PARCERIA�DE�$AINA�'IANNECCHINI��$ANI�,IBARDI� E�
*OTAGÉ�#REMA��E�QUE�PARA�A�SÏRIE�CONTA��ALÏM�DE�!GUILERA��COM�OS�
ROTEIROS�DE�#ÉSSIO�+OSHIKUMO����������E��	�E�*OTAGÉ�#REMA��TODOS	��
%SSA�PRIMEIRA�TEMPORADA�FOI�DIRIGIDA�PELO�URUGUAIO�#ESAR�#HARLONE��
/�3%2)!$/�.!#)/.!,�3%�¡� 
$%3#2)4/�0%,/�)$%!,):!$/2�%�
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5-!�$)34/0)!��-!3�./3�&!:�0%.3!2�
3%�%34!-/3�4§/�,/.'%�!33)-�$!�
2%!,)$!$%�15%�!02%3%.4!
cinema Por Dr. Eduardo J. S. Honorato e Denise Deschamps
A era da 
“pós-verdade”
WWW�PORTALCIENCIAEVIDA�COM�BR PSIQUE�CIÐNCIA�VIDA���������
INDICADO� AO� /SCAR� DE� MELHOR� FOTOGRAlA�
emCidade de Deus��/�PRODUTOR�EXECUTIVO��
4IAGO�-ELO��QUE�ACREDITOU�NO�PROJETO�
/UTRO� FATOR�QUE�CATIVA�NA� SÏRIE�Ï� TER�
sua trilha sonora composta por uma va-
RIEDADE�DA�NOSSA�MÞSICA��CADA�UMA�DELAS�
MUITO�BEM�ESCOLHIDA�PARA�AS�SEQUÐNCIAS��
em alguns momentos comovem tanto 
QUANTO��OU�AT�MAIS��QUE�A�CENA��COMO�OU-
VIR� EM�DETERMINADO� TRECHO�%LZA� 3OARES�
cantando A Mulher do Fim do Mundo��ESSA�
MULHER�QUE�POR�TANTOS�ANOS�TEM�MARCADO�
a cena nacional por sua ousadia e fortes 
POSICIONAMENTOS� COMO�� POR� EXEMPLO��
QUANDO� CANTA� PARA� O� PÞBLICO� A Carne 
(Negra)�� .AS� SEQUÐNCIAS� PODEMOS� TAM-
BÏM�OUVIR�A�BELA�INTERPRETA¥ÎO�DE�-ONI-
CA�3ALMASO�E�!NDRÏ�-EHMARI�DA�MÞSICA�
Último Desejo� DO� MESTRE� .OEL�� ALÏM� DO�
BELO�CANTO�DE�ABERTURA�DE�-ARCELO�0RET-
TO��3ÎO�MOMENTOS�MARCANTES�
3ER� QUE� ACREDITAR� EM� UMA� SUPOSTA�
MERITOCRACIA� Ï� ALGO� RAZOÉVEL�� -AIS� DO�
QUE�NUNCA�A�ATUALIDADE�PEDE�QUE�SE�PEN-
SE�NISSO��SOB�O�RISCO�DE�ENTERRARMOS�QUAL-
QUER�POSSIBILIDADE�DE�UM�PAÓS�OU�MESMO�
DE�UM�MUNDO�MAIS�JUSTO��!�PAISAGEM�DE�
FAVELA� ONDE� VIVEM�OS� ����DA� POPULA¥ÎO�
contrasta com o mundo futurístico dos 
SELECIONADOS� PARA� PARTIREM� PARA� O� -A-
Eduardo J. S. Honorato é psicólogo e psicanalista, doutor em Saúde 
da Criança e da Mulher. Denise Deschamps é psicóloga e psicanalista. 
Autores do livro �����G���G��Gd� ����
��
�����ƒ����: Participam de 
palestras, cursos e workshops em empresas e universidades sobre 
este tema. Coordenam o site www.cinematerapia.psc.br
RALTO� ONDE� HABITAM�� DISTANTES� DA� PLEBE��
OS�SUPOSTAMENTE�MAIS�CAPAZES�QUE�COM-
PÜEM�OS�����%SSE�ESQUEMA�SUPOSTAMENTE�
perfeito como modelo de sociedade foi 
FUNDADO�POR�UM�CASAL�QUE��CULTUADO�POR�
TODOS�QUASE�COMO�DIVINDADES��PORÏM�HÉ�O�
GRUPO�QUE�TENTA�ROMPER�COM�ESSE�MODE-
LO�APARENTEMENTE�AVAN¥ADO��MAS�QUE�NÎO�
PASSA�DE�UMA�NOVA�FORMA�DE�SE�ORGANIZAR�
EM�CASTAS��/S�QUE�PARTICIPAM�DESSE�MO-
VIMENTO�DE�RESISTÐNCIA�SE�NOMEIAM�COMO�
h!�#AUSAv��%�NA�EDI¥ÎO�DE�SELE¥ÎO�QUE�O�
ROTEIRO� ABORDA�� O�MOVIMENTO� TENTA� INlL-
TRAR�UM�DE�SEUS�MEMBROS��A�BRAVA�-ICHELE�
�"IANCA�#OMPARATO	��PARA�FAZER�COM�QUE�
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seja aprovada e assim começar a operar o 
movimento contra esse modelo social de 
DENTRO�DAQUILO�QUE�SE�QUER�DERRUBAR��
.).(/�$%�6%30!3�
h6OCÐ�Ï�O�CRIADOR�DO�SEU�PRØPRIO�MÏ-
RITOv�� REPETE� EM� TOM� CONDESCENDENTE� O�
COORDENADOR�DO�0ROCESSO��%ZEQUIEL��*OÎO�
-IGUEL	��QUE�CONHECEREMOS�O�DRAMA�ÓNTI-
MO�QUE�VIVE�AO�LONGO�DA�PRIMEIRA�TEMPO-
RADA��SEU�PRØPRIO�CONmITO�ALIMENTARÉ�A�INS-
TABILIDADE�DAQUILO�QUE�UM�MODELO�QUE�SE�
pretende perfeito defende como a melhor 
VIA��/�GRUPO�QUE�CONDUZ�A�PARTE�PRINCIPAL�
DA� TRAMA��ALÏM�DE�-ICHELE�E�%ZEQUIEL��Ï�
/�$%"!4%�¡�3/"2%�/�0%2#%.45!,�0%15%./�
$%�).$)6°$5/3�15%�$%4º-�!�-!)/2)!�$/3�
2%#523/3�-/.%4£2)/3�$/�0,!.%4!�%�15%�
0/335)�5-�-/$/�$%�6)$!�-5)4/�02)6),%')!$/�
#/-�!#%33/�!�"%.3�%�#5)$!$/3��-!3�!�
0/05,!—§/�.§/�4%-�%33%�$)2%)4/�!33%'52!$/
A série apresenta um mundo 
pós-apocalíptico e devastado 
em que faltam água, comida, 
energia e outros recursos. Aos 
20 anos, todo cidadão pode 
participar do Processo, uma 
seleção para passar para o 
Maralto, onde há oportunidades 
de uma vida digna
���������PSIQUE�CIÐNCIA�VIDA www.portalcienciaevida.com.br����������� ��� PSPSPPSPSPSP IQUIQUIQUIQUIQUQ E�CE�CCCCIÐNIÐNIÐNIÐIÐNIÐNCIACIACIAIAACCC ��V�VI�VI�V�VI�VI��VI�VIDDDDDDADDADADA wwwwwwwwwwwwwwwwwwwww popopopopopo.po.po trtartarrrtartartartalcil ilcilcilciilcilcilciencencencencncencencenciaeiaeiaeiiaeiaeiaeiaeiaeeia idvidvidvididvidvidvidda ca ca ca cca ccaa.ca.comomomommommmom.omom brbrbrbrbrbrrbrbr
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0!°3�/5�-%3-/�$%�5-�
-5.$/�-!)3�*534/
A meritocracia é a questão principal da série e explorada com uma crítica interessante. A premissa 
de 3% é muito atual. Nesse contexto, o sucesso é uma bússola cruel
COMPOSTO�POR�&ERNANDO��-ICHEL�'OMES	��
2AFAEL� �2ODOLFO� 6ALENTE	�� *OANA� �6ANEZA�
/LIVEIRA	�� -ARCO� �2AFAEL� ,OZANO	�� !LICE�
�6IVIANE� 0ORTO	�� -ATHEUS� �3ÏRGIO� -AM-
BERTI	�E�.AIR��:EZ�-OTA	�
!� .ETmIX� J� DIVULGOU� NOTAS� SOBRE� O�
COMPROMISSO� DE� PRODUZIR� UMA� SEGUNDA�
TEMPORADA�� NOTÓCIA� QUE� AGRADOU� A� QUEM�
apreciou a primeira e provocou surpresa 
EM�QUEM�NÎO�CONSEGUIU�VER�MUITOS�MÏRI-
TOS�NELA��/�FATO�Ï�QUE�PARA�UMA�SÏRIE�INI-
CIANTE�A�CRÓTICA�n�E�TEXTOS�EM�BLOGS�n�FOI��
EM�MUITOS�CASOS��BASTANTE�DURA��ALGUMAS�
VEZES�POLÓTICA�MESMO�� REmETINDO�ASSIM�O�
VERDADEIRO�NINHO�DE�VESPAS�QUE�A�QUESTÎO�
CENTRAL�DO�ROTEIRO�ABORDA��%M�UM�PAÓS�QUE�
SE�RECUSA�A�PASSAR�A�LIMPO�SEUS�ERROS�HISTØ-
RICOS�E�QUE�SUSTENTA�A�DESIGUALDADE�SOCIAL�
COMO�UMA�QUESTÎO�DE�MÏRITO��A�SÏRIE�PODE�
MESMO�SE�CONSTITUIR�EM�UMA�ElCIENTE�BO-
fetada e em um palco de acirradas dispu-
TAS�IDEOLØGICAS��
!� JUVENTUDE� REBELA
SE� MUNDO� AFORA��
PERDIDA�EM�PERSPECTIVAS�NADA�FAVORÉVEIS��
O mundo atravessa um momento de pro-
FUNDAS� MUDAN¥AS� QUANTO� AO� MODO� DE�
PRODU¥ÎO��FALA
SE�J�NO�QUE�SERIA�NOMEA-
DO�DE�UMA��Š�2EVOLU¥ÎO�)NDUSTRIAL��&ATO�
Ï� QUE� COM� A� AUTOMA¥ÎO� CADA� VEZ�MAIS�
RÉPIDA�E� FRENTE�A�UMA�POPULA¥ÎO�QUE�SØ�
AUMENTA��E�O�NÞMERO�DE�VAGAS�DE�EMPRE-
GO� DIMINUI� CONSIDERAVELMENTE�� LEVANDO�
com elas a esperança de uma vida dig-
NA� DE� AMOR� E� TRABALHO�� OS� VÓNCULOS� VÎO�
se formando com um quantum a mais de 
competitividade e de uma impulsão inve-
JOSA��/�SUCESSO�Ï�UMA�BÞSSOLA�CRUEL��AIN-
DA�MAIS�QUANDO�PERDE�DE�VISTA�O�SENTIDO�
DE�BEM
ESTAR�E�PASSA�SEU�NORTE�PARA�UMA�
orientação consumista em um mundo 
QUE�SE�DElNE�CADA�VEZ�MAIS�PELO�DESCAR-
TÉVEL�� PELA� OBSOLESCÐNCIA� PROGRAMADA��
5M�lLME�MUITO�EMOCIONADO�QUE�TOCA�NO�
EMBATE�ENTRE�O�MUNDO�DE�ANTES�E�O�QUE�
J�SE�ANTECIPA��O�As Neves do Kilimanjaro 
�Les Neiges du Kilimandjaro�����	��DE�2O-
BERT�'UÏDIGUIAN��O�QUAL� RECOMENDAMOS�
COM�VEEMÐNCIA��
'!4),(/3�$%�$)3#533§/
/�GRUPO�DE�JOVENS�QUE�CONDUZ�A�TRA-
ma da série representa de certo modo 
algumas das principais formas de posi-
cionar-se frente a esse mundo altamente 
EXCLUDENTE��3UAS�VIDAS�DIRECIONADAS�A�UM�
OBJETIVO� QUE� CUMPREM� COMO� UM� RITUAL��
ALGUMAS�VEZES�ATÏ�MACABRO��A�RESOLU¥ÎO�
do resto de seus dias. Cada um leva para a 
COMPETI¥ÎO�TRA¥OS�DE�SUA�HISTØRIA�AFETIVA��
DO�ABANDONO�POR�PAIS�QUE�SAÓRAM�PARA�O�
0ROCESSO�INDO�PARA�O�-ARALTO�E�MORRENDO�
NELE��AOS�QUE�VIRAM�SEUS�PAIS�RETORNAREM��
agora tomados pela fatalidade da falta 
DE�ESPERAN¥A�E�DO�CONFORMISMO��OUTROS��
COMO�O�PAI�DE�&ERNANDO�� SUBLIMANDO�O�
desamparo em uma espécie de fanatismo 
QUANTO�AO�0ROCESSO��!S�NUANCES�QUE�VE-
mos na série são muito interessantes se 
OBSERVADAS��PARTE��PODEM�SER�BONS�GATI-
LHOS�DE�DISCUSSÎO�QUE�DARÎO�VOZ�A�MUITAS�
DAS�ANGÞSTIAS�QUE�HOJE�ATRAVESSAM�PRINCI-
PALMENTE�NOSSOS�JOVENS��MAS�TAMBÏM�ÌS�
GERA¥ÜES�PASSADAS��QUE�FORAM�VENDO�SEUS�
SONHOS�CAPTURADOS�E�ESTERILIZADOS��
.A�HORA�DO�CLÓMAX�DA�SÏRIE�PODEMOS�
VER�AS�TESES�DE�,E�"ON�TÎO�BEM�ESTUDADAS�
POR�3IGMUND�&REUD��Psicologia das Massas 
e Análise do Eu�� ����	�� SOBRE� SUGESTÎO� E�
CONTÉGIO�� OPERANDO� DE� FORMA� MARCANTE�
QUANDO�UM�GRUPO�PERDE�SUA�CARACTERÓSTICA�
de coletivo e se entrega a um movimento 
DE�MULTIDÎO�BRUTALIZADA��%M�OUTROS�MO-
mentos podemos ver operando muito do 
QUE�UM�DOS�GRANDES�TEØRICOS�SOBRE�GRU-
POS��7ILFRED� "ION�� NOMEOU� COMO� PRES-
SUPOSTOS� BÉSICOS�� QUE� FUNCIONAM� COMO�
MOMENTOS� lXOS� QUE� GRUPOS� COSTUMAM�
ATRAVESSAR�� DEPENDÐNCIA�� ACASALAMENTO��
LUTA� E� FUGA��!�APROXIMA¥ÎO�AMOROSA�DE�
-ICHELE�E�&ERNANDO�E�A�CATEGØRICA�CREN¥A�
QUE�LHES�Ï�LAN¥ADA�COMO�MALDI¥ÎO�DE�QUE�
NAMOROS�QUE�SURGEM�DURANTE�O�0ROCESSO�
NÎO�PERMANECEM�NA�VIDA�NO�-ARALTO��/�
COLETIVO�QUE�SE�DESMANCHA�EM�MULTIDÎO�
CEGA�E�EMBURRECIDA�DEVE�SER�UMA�QUESTÎO�www.portalcienciaevida.com.brwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwwww popopopopoppo.po.portartartartartartartart lcilcilclcilcilciiclciencenncencencencenciaeiaeiaeiaeiaeiaeiaevidvidvidvidvidvidvidvida caaa ca cca.ca.commoomomomom.om.brbbrbrbrbbrbrbr
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$!�0/05,!—§/�#/.42!34!�#/-�/�-5.$/�
&5452°34)#/�$/3�3%,%#)/.!$/3�0!2!�
0!24)2%-�0!2!�/�-!2!,4/�n�/.$%�(!")4!-��
$)34!.4%3�$!�0,%"%��/3�350/34!-%.4%�-!)3�
#!0!:%3�15%�#/-0š%-�/3���
>Ú: Criado por Cesar Charlone, Pedro Aguilera. Ano de produção - 2016. 
���GhÔ��¢�?B��������:�"È�����¢���G�G9�!�IhÔ��I����^‚IG9�-�������:�+G^��
��
origem - Brasil 
A�SER�MUITO�DEBATIDA�DAQUI�POR�DIANTE�SE�
QUISERMOS�ENCONTRAR�ALGUMA�SAÓDA�SAUDÉ-
vel para nossos impasses. 
.AS� GRANDES� LIDERAN¥AS� QUE� AQUELE�
TIPO� DE� ORGANIZA¥ÎO� POSSUI� HÉ� UM� BELO�
TOQUE� TAMBÏM�A�RESPEITO�DAS�MAIS�ANTI-
GAS�FORMAS�DE�PODER�E�AS�NOVAS�QUE�SUR-
GEM� COM� %ZEQUIEL� E� !LINE�� BEM� MAIS�
AGRESSIVOS� QUE� .AIR� E� -ATHEUS�� DOS� LÓ-
deres acolhedores e incentivadores indo 
DIRETO� AOS�QUE�MOTIVAM�A� AGRESSIVIDADE�
como o tom para alcançar o mais alto 
DESEMPENHO�DA�COMPETITIVIDADE�E�DA�El-
CÉCIA��6EREMOS�O�MODELO�DE�MUNDO�QUE�
AS�ÞLTIMAS�GERA¥ÜES� FORAM� TENDO�QUE� LI-
DAR��QUANTO�MAIS�VELHOS�MAIS�DIFÓCIL�LIDAR�
com essa nova aceleração e pragmatismo 
QUE�SE�INSEREM�NO�ATO�MAIS�BANAL�LIGADO�
Ì�VIDA�E�QUE��RECONHE¥AMOS��ACABAM�POR�
TAMBÏM�IMPRIMIR�OUTRO�RITMO�AOS�VÓNCU-
LOS��CADA�VEZ�MAIS�OBJETIlCADOS�EM�METAS�
E�CAPACIDADE�INTRÓNSECA�DE�UTILIZA¥ÎO�
6!,%
45$/�
Nossos concorrentes entendem em al-
GUM�MOMENTO�QUE�GRUPOS�DENTRO�DO�CO-
letivo são uma forma de aumentarem suas 
CHANCES��E�SER�ASSIM�QUE�O�ENREDO�REUNIR�
OS�PERSONAGENS�PRINCIPAIS�EM�BUSCA�DE�SEU�
LUGAR� NOS� DESEJADOS� ���� %STAR� VALENDO�
�QUASE	� TUDO�PARA� ALCAN¥AR� ESSE�OBJETIVO��
OS�AMORES��OS�LA¥OS�COLABORATIVOS��A�ÏTICA��
ATÏ�MESMO�A�MORAL�PODERÎO�SER�hmEXIBILI-
ZADOSv� EM�NOME�DO� INTERESSE�MAIOR��UM�
VALE
TUDO�ONDE�A�ARTE�IRONIZA�A�VIDA�EM�SEU�
MUNDO�DE�NEGØCIOS�NA�ATUALIDADE��
-AIS� AO� lNAL� lCAREMOS� SABENDO�QUE�
como último degrau de comprometimen-
TO� PARA� ENTRAREM�� OU� SEJA�� IREM� PARA� O�
-ARALTO��SERÉ�NECESSÉRIO�ABRIR�MÎO�DE�SUA�
CAPACIDADE� REPRODUTIVA� n� NÎO� HÉ� CRIAN-
¥AS�ENTRE�OS�HABITANTES�DO�LADO�DE�LÉ��/S�
����QUE�VIVEM�NA�ESCASSEZ� SÎO� TAMBÏM�
RESPONSÉVEIS�PELA�PRODU¥ÎO�DE�NOVOS� IN-
DIVÓDUOS� QUE� TERÎO�� DESDE� O� NASCIMENTO��
A�META�DE�ALCAN¥AREM�AOS����ANOS�A� IDA�
PARA�O�GRUPO�DOS�MAIS�APTOS��-UITAS�DES-
SAS�CRIAN¥AS�ABANDONADAS�Ì�PRØPRIA�SORTE��
UMA� VEZ� QUE� SEUS� JOVENS� PAIS� SUMIRAM�
ENGOLIDOS�PELO�0ROCESSO��POR�ÐXITO�OU�FRA-
CASSO�NELE��#OMO�ÞLTIMO�OBSTÉCULO�A�SER�
superado encontra-se a capacidade do 
aprovado nas etapas anteriores de aceitar 
O� PROCESSO� DE� ESTERILIZA¥ÎO� OBRIGATØRIO�
PARA�A�PASSAGEM�PARA�O�-ARALTO��4ALVEZ�
a infância não possa ser tolerada com seu 
caos criativo em uma sociedade cuja as-
SEPSIA� DE� CREN¥AS� NÎO� INCLUI� EMO¥ÜES� E�
EXPERIÐNCIAS�IMPULSIVAS��REPLETAS�DE�CHORO�
E�GARGALHADAS��DE�AMOR�E� FÞRIA��0OR�AQUI�
ANDAMOS�A�MEDICÉ
LA�EM�EXCESSO��
#OMO�ALERTAVA�,AO�4S��S�A�mEXIBI-
LIDADE�FALA�DE�VIDA��O�QUE�Ï�RÓGIDO�FALA�DE�
MORTE��E�ESSA�SÏRIE�VEM�SUBLINHAR�ISSO�DE�
FORMA�BEM�ASSINADA��DEVEMOS�REJEITAR�SI-
MULACROS� DE�MOBILIDADE� COMO�PRETENDE�
UM�MODELO� DE�MUNDO� TÎO� BEM� CARICA-
TURADO�PELO�ROTEIRO��3ERIA�MAIS�PRUDENTE�
ABRA¥ARMOS�A�mEXIBILIDADE�QUE�DAN¥A�NOS�
corpos vivos e saciados de algo muito 
MAIOR�QUE�A�MERA�SOBREVIVÐNCIA��NENHUM�
DOS�LADOS�DEVE�PERDER�ESSA�DIMENSÎO�QUE�
PODE�ATÏ�SER�VISTA�PARA�ALÏM�DA�ESTÏTICA��
DE� UMA� ÏTICA��#OMO�DIZ� UMA� FRASE� QUE�
roda sem autor determinado em bytes 
DAS�REDES�SOCIAIS��h%M�TEMPOS�DE�ØDIO�Ï�
PRECISO�ANDAR�AMADOv��-ICHELE�E�&ERNAN-
DO�TRAZEM�A�FOR¥A�DESSA�QUESTÎO��h¡�QUE�
A�FOR¥A�E�A�RIGIDEZ�SÎO�COMPANHEIRAS�DA�
MORTE��%�A�DOCILIDADE�E�A�mEXIBILIDADE�SÎO�
AMIGAS�DA�VIDA�v&ATO��QUE�NESTA�ERA�� J�
IRONICAMENTE�APELIDADA�DE�hPØS
VERDADEv��
NÎO� Ï� MAIS� TÎO� FÉCIL� LOCALIZARMOS� ONDE�
CADA� FOR¥A� SE� ENCONTRA�� OS� DISFARCES� DE�
uma sociedade perversa são múltiplos e 
VÐM�SEMPRE�EM�VOZ�DOCE�E�PLENA�DE�PRO-
MESSAS��%�SE�H�ALGO�QUE�%ZEQUIEL�PERSO-
NIlCA�BEM��A�VERDADE�IMPRECISA��DA�QUAL�
até ele mesmo duvida. 
-�������>�
���
candidatos são 
aprovados no 
Processo, que 
testa os limites 
dos participantes 
em provas físicas 
e psicológicas e 
os coloca diante 
de dilemas morais
70 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
DISTÚRBIO
Renata Mousinho é professora associada, mestre, doutora e pós-doutora em Psicologia, todas pela UFRJ. 
Coordenadora do Projeto ELO: escrita, leitura e oralidade (UFRJ). Autora do livro Dislexia: Novos Temas, 
Novas Perspectivas, ao lado de Luciana Mendonça Alves e Simone Capellini (Wak Editora).
Um transtorno específico de leitura, que traz dificuldades 
na aprendizagem ou desenvolvimento dessa habilidade. 
Não se trata de um problema comportamental ou educacional, 
ainda que esses possam dificultar a identificação e melhora
O QUE HÁ POR 
TRÁS DA DISLEXIA?
Por Renata Mousinho
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Dislexia é um transtorno específico de leitura, e disortografia um trans-torno específico de escrita. A dislexia vem 
acompanhada da disortografia, mas essa 
última pode vir sozinha (ou seja, pro-
blema de escrita, mas com leitura ade-
quada). Não se trata de uma dificuldade 
comportamental, apesar de ser possível 
que coexista ou apareça em consequên-
cia de suas dificuldades escolares. É im-
portante também destacar que, para ser 
considerado dislexia, o nível de leitura 
não pode ser compatível nem com o ní-
vel de leitura de seus colegas que tiveram 
as mesmas oportunidades educacionais 
nem com o nível do seu próprio desen-
volvimento em outras áreas, como po-
tencial cognitivo, por exemplo. Não cus-
ta reforçar que não se trata de um déficit 
intelectual. O potencial para aprender 
está totalmente intacto.
As pessoas com dislexia têm consci-
ência das dificuldades que apresentam, 
mas não necessariamente do diagnós-
tico. E sofrem muito por isso. A dúvida 
do que têm, do porquê dessa aparente 
limitação, fora as pressões externas, que 
fazem com que ele próprio questione 
suas possibilidades, impacta muito sua 
autoestima. Não é incomum serem cha-
mados de pouco inteligentes ou pouco 
esforçados, o que se reflete diretamente 
na motivação e em sua autoimagem. 
Talvez por essa razão existam vários 
estudos internacionais mostrando que 
a população com transtornos de apren-
dizagem que não tem apoio terapêutico, 
familiar e/ou educacional torna-se mais 
vulnerável à criminalidade, provavel-
mente pela saída mais precoce do siste-
ma escolar ou pela menor possibilidade 
de emprego. Em compensação, aqueles 
bem estimulados, com ambiente favorá-
vel e/ou resilientes, apresentam todas as 
possibilidades de desenvolvimento e su-
cesso, apesar de um certo esforço inicial.
A questão passa a ser a seguinte: se é 
um déficit específico, por que esses estu-
dantes apresentam outras dificuldades? 
A leitura, há anos, vem sendo a base do 
ensino formal. Ela é boa parte do aces-
so à informação, e sua limitação pode 
atrapalhar o rendimento em outras 
matérias. Vale lembrar que não há uma 
dificuldade para aprender. O problema 
é que se o único caminho para o conte-
údo for a leitura, ela pode servir como 
um gargalo ou funil, limitando o acesso. 
Além disso, o erro na leitura de enuncia-
dos pode provocar respostas aparente-
mente sem nexo, o que não aconteceria 
na linguagem oral. Outro exemplo são 
os problemas matemáticos, que podem 
ser um grande desafio, mesmo quando 
não há dificuldade em cálculo, pois é 
necessário ler e interpretar a questão. A 
escrita também pode ser um limitador, 
visto que nem tudo oque pensa, o que 
é elaborado mentalmente, consegue ser 
explicitado através desse instrumento. 
Como se fala no dia a dia: fica difícil co-
locar as ideias no papel. 
Déficit linguístico
A dislexia, definitivamente, não tem origem na má qualidade da educa-
ção. Mesmo em países em que a educa-
ção apresenta altos índices de sucesso 
a dislexia existe, e apresenta a mesma 
porcentagem de países onde estes não 
são uma realidade. Trata-se de um déficit 
linguístico, fortemente associado a uma 
tendência familiar. O processamento 
fonológico está prejudicado, bem como 
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 71
seguinte: estratégias na escola para que 
todas as crianças consigam aprender (ca-
mada 1), estimulações em pequenos gru-
pos para aquelas que estão apresentando 
dificuldades (camada 2). Então, será 
possível observar dois grupos: aquele das 
crianças que superaram as dificuldades 
iniciais (podem ser descartados diagnós-
ticos como dislexia) e aquele com difi-
culdades persistentes, o que pode se con-
firmar como dislexia, e deve seguir para 
atendimento especializado (Veja quadro 
esquema simplificado de RTI). 
Confirmação
Para confirmar a presença da disle-xia ou dificuldades similares são 
necessárias avaliações clínicas, mas é 
possível desconfiar através de alguns 
sinais. Tanto na leitura quanto na es-
crita há impasses que fazem parte do 
processo. Mas a persistência deles 
pode indicar dificuldade.
No caso da leitura, por exemplo, 
ler sob esforço no início é comum, mas 
manter um ritmo muito devagar por 
um tempo prolongado não é esperado. 
Exatamente por essa razão, os manu-
ais diagnósticos mais modernos, como 
o DSM-5, propõem que, para um diag-
nóstico seguro de dislexia, haja um teste 
terapêutico ou proposta de resposta à in-
tervenção (RTI). O que, em um país de 
tanta diversidade como o nosso, torna-se 
ainda mais importante. A proposta é a 
sua relação com o processamento visual. 
Mas é claro que uma má qualidade da 
educação prejudica. Ela pode ou poten-
cializar as dificuldades dos disléxicos ou 
causar dificuldades de aprendizagem de 
outra ordem (que podem até parecer em 
um primeiro momento, mas não são ca-
sos de dislexia realmente).
Os manuais 
diagnósticos 
mais modernos 
propõem que, para 
um diagnóstico 
seguro de dislexia, 
haja um teste 
terapêutico 
ou proposta 
de resposta à 
intervenção (RTI). O 
que, em um país de 
tanta diversidade 
como o nosso, 
torna-se ainda 
mais importante
72 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
DISTÚRBIO
tal vocabulário mental que foi explicado 
acima, o léxico. Mas continuar errando 
ao longo da escolaridade, sem que isso 
nem cause ao menos alguma estranhe-
za, pode ser um sinal. 
Além das questões ortográficas, 
sempre considerando que apenas a per-
sistência em padrões anteriores é pro-
blemática, podem existir falhas no nível 
da frase, truncadas, sem pontuação ou 
sem letra maiúscula iniciando, ou ainda 
no nível do texto, que parece restrito se 
compararmos com o potencial de lingua-
gem oral e tempo de escolarização.
A seguir é possível observar um tex-
to, na versão digitada, de uma menina 
de 10 anos, filha de professores. É rele-
vante lembrar que o perfil pode ser bas-
tante heterogêneo, portanto nem todos 
apresentarão exatamente os mesmos 
tipos de erros:
“Mamãe agetou (ajeitou) a cossi-
nha (cozinha) e o cão pagunsol (ba-
gunçou) A a mamãe gegou (chegou) 
na cosinha (cozinha) e viu duto (tudo) 
Bagusado (bagunçado) e viu o cão ali 
Bagusado (bagunçando) a mamãe não 
codou (acordou) e Pegol (pegou) o cão 
E pretel (prendeu) o cão mais (mas) o 
cão coziquil (conseguiu) fugir e vodo 
(voltou) Para a cossinha (cozinha) 
mais (mas) como a mamãe esdava (es-
tava) na cozinha ele não gozegel (con-
seguiu) fim”.
Crianças sem dificuldade vão ganhan-
do fluência progressivamente, o que não 
acontece com quem tem dislexia. O es-
talo, ou o clique, como alguns chamam, 
não acontece sem uma ajuda adicional. 
E tem mais: a leitura laboriosa prejudica 
secundariamente a compreensão do tex-
to lido, mesmo que a compreensão oral 
seja boa. Isso acontece porque a criança 
lê em pedaços, segmentando muito, e no 
final não consegue mais lembrar do que 
leu. É possível imaginar melhor vendo o 
quadro Diferença de leitura. 
Escrita
Na escrita há algumas trocas que, mesmo precocemente, são sinais 
de alerta. Não que indiquem 100% uma 
dislexia ou disortografia, mas, em alta 
porcentagem, sim. E são trocas raras 
para a maior parte dos escolares. Como 
exemplo há a substituição entre letras 
que representam os fonemas homorgâ-
nicos, como P/B, T/D, K/G, F/V, S/Z, 
X/J. Mesmo em palavras regulares, ou 
seja, que se escrevem exatamente como 
se fala, as primeiras a serem dominadas, 
os erros se mantêm. As inversões nas se-
quências das letras também são comuns, 
especialmente em sílabas mais longas 
(cravo para carvo, por exemplo).
As regras ortográficas, que são do-
minadas progressivamente por todos os 
escolares, tornam-se um grande desafio 
para quem tem dislexia. Para ilustrar, é 
possível falar de M antes de P e B, S–SS 
ou R–RR entre duas vogais ou G e C an-
tes de A, O e U, que têm som diferente 
de quando colocado antes de E e I. A di-
ficuldade do disléxico não é entender as 
regras, e sim aplicá-las, pois é necessário 
prever o som que vem depois, antes de 
optar pelo que vem antes. Então, ele 
consegue completar lacunas para com-
pletar M ou N antes das consoantes, já 
que as visualiza e conhece a regra. Mas 
na hora de escrever ele deve recuperar 
a letra que vem depois, para optar pela 
que vai colocar antes.
Já fazer opções que explicitam di-
ficuldades ortográficas do português, 
sem nenhuma regra que explique (um 
som com várias possibilidades de gra-
fia), como X ou CH, por exemplo, de-
manda um tempo ainda maior. Essa 
demora se dá, pois é necessária experi-
ência de leitura para que se estruture o 
CARACTERÍSTICAS
ESQUEMA SIMPLIFICADO DE RTI
Intervenção escolar
Pequenos grupos de estimulação 
I���I��G�hG��I���
�‚I��
G
��
Somente aqueles 
escolares com 
dificuldades 
persistentes
 PARA SABER MAIS 
 PARA SABER MAIS 
s, ou 
omo 
adas, 
as se-
muns, 
ngas 
o do-
os os 
safio 
rar, é 
S–SS
C an-
In
P
I
S
e
d
p
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 73
Para confirmar a 
presença da dislexia 
são necessárias 
avaliações clínicas, 
mas é possível 
perceber alguns 
sinais. Tanto na leitura 
quanto na escrita há 
impasses que fazem 
parte do processo
Providências
Valorizar os pontos fortes do aluno com dislexia (raciocínio científico, 
habilidade matemática ou dom artísti-
co, por exemplo) e evitar colocá-lo em 
evidência em suas fragilidades, como 
ler alto diante do grupo ou colocar sua 
produção de texto em um mural, são 
orientações que parecem ser de senso 
comum. Mas, além disso, há condutas 
importantes tanto no que se trata do sis-
tema de avaliação quanto das estratégias 
para favorecer a aprendizagem na escola. 
Em sala de aula muitos são os recursos 
que o professor pode lançar mão. A re-
12
3R
F
tendo em vista que sua leitura é mais len-
ta. Depois, apenas um prazo mais flexí-
vel de prova pode ser suficiente. No que 
diz respeito à escrita, deve-se considerar 
o que é o mais importante para aquela 
avaliação específica: o conteúdo ou a 
forma. Não parece justo um aluno com 
dislexia, que acerte uma resposta, perder 
pontos superiores ao valor de uma ques-
tão, que acertou, por conta de falhas na 
ortografia. Às vezes, a prova oral pode 
ser mais eficiente como forma de medir 
a aprendizagem de alguns, em determi-
nadas disciplinas. Ou seja, por mais que 
existam orientações gerais, essasadap-
tações são sob medida. Elas não servem 
para favorecer um escolar com dislexia, 
mas para lhe dar as mesmas oportunida-
des de seu colega em determinada fase 
do seu desenvolvimento.
Por definição, ledor é aquele que gosta de ler. 
No entanto, é muito mais do que isso. Ledor é 
aquele que empresta aos cegos, deficientes 
visuais e outras pessoas com problemas de 
leitura, por meio de sua voz, a possibilidade 
de leitura de diferentes textos, especialmen-
te em avaliações, concursos e vestibulares. 
A função ganha cada vez mais importância 
no cenário educacional, em consequência do 
movimento inclusivo na educação. Esse pro-
fissional é fundamental para assegurar acessi-
bilidade aos conteúdos escolares.
Œ�Ledor Œ
alização de gráficos ou organogramas 
para auxiliar na compreensão de textos 
ou na organização da informação, o uso 
frequente de recursos visuais, o acesso à 
informação para além da leitura. Recur-
sos que a família também pode usar em 
casa. Além desses, os horários fora da es-
cola podem ser aproveitados para visita 
a museus, para assistir a filmes e docu-
mentários, além de animações sobre os 
assuntos tratados na escola.
Adaptações das avaliações escolares 
devem ser consideradas, e minimizadas, 
à medida que a criança vai evoluindo. Por 
exemplo, em um primeiro momento, um 
ledor (alguém que leia a prova para ele) 
é útil. Mais à frente, ela já poderá ler sua 
própria prova (se ouvindo, de preferên-
cia), pedindo auxílio quando necessário, 
e com mais tempo para sua realização, 
DIFERENÇA DE LEITURA
 PARA SABER MAIS 
A mesma frase pode ser lida de forma diferente por dois escolares. No primeiro caso a criança tem que recuperar sete informações, sendo várias delas pala-
��G��I��������‚IG
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G9����I����G�G���-
da, tem que tentar lembrar quase do dobro, sendo que esses 13 segmentos não 
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la de curto prazo, mas que é indispensável para o sucesso de algumas tarefas. 
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elas passam a entender o que leem quando ouvem, pois o canal auditivo ainda é 
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direto ao léxico, nosso dicionário mental. É quando conseguimos ler de forma 
G����P��IG9���I����I��
�����HG�������G���G�G��G����I���G�:
REFERÊNCIAS 
MOUSINHO, R.; ALVES, L.; CAPELLINI, S. Dislexia: Novos Temas, Novas Perspectivas III. Rio de Janeiro: 
Wak Editora, 2015.
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders9�!�‚���
Edition (DSM-V). Arlington: American Psychiatric Publishing, 2013.
KETTERLIN-GELLER, L. R. Knowing what all students know: procedures for developing Universal Design 
for Assessment. The Journal of Technology, Learning and Assessment, v. 4, n. 2, nov. 2005.
MARCHESAN, I.; SILVA, H.; TOMÉ, M. Tratado das Especialidades em Fonoaudiologia. São Paulo: Book 
Toy, 2014.
TALBOT, J. Experiences of the criminal justice system by prisoners with learning disabilities and 
��‚I������:�Prison Reform Trust, 2008.
74 psique ciência&vida
DISTÚRBIO
DESVENDANDO 
DISTÚRBIO
DISL 
DESVENDANDO 
DISL 
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 75
Lou de Olivier é multiterapeuta, psicopedagoga, psicoterapeuta, especialista em Medicina Comportamental, 
bacharel em Artes Cênicas e Artes Visuais. Portadora do distúrbio da dislexia adquirida, é precursora da 
multiterapia e criadora do método terapia do equilíbrio total/universal. É também dramaturga e escritora. 
Recentemente participou como oradora on-line do Congresso de Psicólogos Clínicos Globais, na Malásia, 
abordando dislexia adquirida e multiterapia. Site oficial dislexia adquirida: http://dislexiaadquirida.com
Existem muitos equívocos a respeito 
desse distúrbio, mas os mais comuns são 
questões relacionadas à hereditariedade, 
à troca de letras e à possível maior 
incidência em meninos, em função do 
excesso de testosterona da mãe
 MITOS SOBRE
Por Lou de Olivier
12
3R
F
EXIA
 MITOS SOBRE
EXIA
EEEEEEEEEExxxxxxxxxxxxxiiiiiiissssssssstttttttttttteeeeeeeeeeemmmmmmmmmmm mmmmmmmmmmmuuuuuuuuuuiiiiiiiittttttttttttoooooooosssssssss eeeeeeeeeeeqqqqqqqqqquuuuuuuuuuííííííííívvvvvvvvvvvvooooooooccccccccccoooooooosssssssss aaaaaaaaaa rrrrrrrrrreeeeeeeeeeessssssssspppppppppppeeeeeeeeeeeeiiiiiiiittttttttttttoooooooo 
ddddddddddeeeeeeeeeeesssssssssssssssssseeeeeeeeeee dddddddddddiiiiiiiiissssssssstttttttttttúúúúúúúúúrrrrrrrrrrbbbbbbbbbbbiiiiiiiiioooooooo,,,,,, mmmmmmmmmmaaaaaaaaaasssssssss oooooooosssssssss mmmmmmmmmmaaaaaaaaaaaiiiiiiiisssssssss ccccccccoooooooommmmmmmmmmuuuuuuuuuunnnnnnnnnnsssssssss sssssssssãããããããããããoooooooooooo 
qqqqqqqqqquuuuuuuuueeeeeeeeeeesssssssssstttttttttttõõõõõõõõõõõeeeeeeeeeeesssssssss rrrrrrrrrrreeeeeeeeeeellllllllaaaaaaaaaacccccccccciiiiiiooooooooonnnnnnnnnnaaaaaaaaaaddddddddddaaaaaaaaaasssssssss àààààààààà hhhhhhhhhhheeeeeeeeeeerrrrrrrrrrreeeeeeeeeeeddddddddddiiiiiiiiittttttttttttaaaaaaaaaarrrrrrrrrrriiiiiiieeeeeeeeeeedddddddddddaaaaaaaaaaddddddddddeeeeeeeeeee,,,,, 
àààààààààà ttttttttttttrrrrrrrrrrrooooooooccccccccccaaaaaaaaaaa dddddddddddeeeeeeeeeee lllllleeeeeeeeeeettttttttttttrrrrrrrrrrraaaaaaaaaasssssssss eeeeeeeeeee àààààààààà pppppppppppooooooooossssssssssssssssssíííííííívvvvvvvvvvveeeeeeeeeeelllllllll mmmmmmmmmmmaaaaaaaaaaiiiiiiiioooooooorrrrrrrrrrr 
iiiiinnnnnnnnnnccccccccciiiiiidddddddddddêêêêêêêêêêênnnnnnnnnnccccccccciiiiiiiaaaaaaaaaa eeeeeeeeeeemmmmmmmmmm mmmmmmmmmmeeeeeeeeeeennnnnnnnnniiiiiiiinnnnnnnnnnooooooooosssssssss,,,,,,, eeeeeeeeeeemmmmmmmmmmm fffffffffffuuuuuuuuuunnnnnnnnnnççççççççççãããããããããããooooooooooo ddddddddddooooooooo 
eeeeeeeeeeexxxxxxxxxxxxcccccccceeeeeeeeeeesssssssssssssssssssooooooooo ddddddddddeeeeeeeeeee ttttttttttteeeeeeeeeeesssssssssstttttttttttoooooooosssssssssttttttttttteeeeeeeeeeerrrrrrrrrrroooooooonnnnnnnnnnaaaaaaaaaa ddddddddddaaaaaaaaaaa mmmmmmmmmmmãããããããããããeeeeeeeeeee
Existem muitos equívocos a respeito 
desse distúrbio, mas os mais comuns são 
questões relacionadas à hereditariedade, 
à troca de letras e à possível maior 
incidência em meninos, em função do 
excesso de testosterona da mãe
PPPPPPPPPPPPPPooooooooooooorrrrrrrrrrrrrr LLLLLLLLLLLLLoooooooooooouuuuuuuuuuuuuu ddddddddddddddeeeeeeeeeeeeee OOOOOOOOOOOOOllllllllllliiiiiiiiiiiivvvvvvvvvvvvvvviiiiiiiiieeeeeeeeeeeeeerrrrrrrrrrrrrrPor Lou de Olivier
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76 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
DISTÚRBIO
A identificação da dislexia ocorreu pela 
primeira vez em 1881, pelo médico alemão 
Oswald Berkhn. O termo dislexia foi 
oficialmente utilizado por um oftalmologista, 
também alemão, Rudolf Berlin, em 1887
te reconhecida pela Ciência da Saúde, 
a partir de 2011/2012. Lamentável 
que esse tipo de desconhecimento ou 
omissão ainda exista. 
Já em relação à troca de letras, tra-
ta-se de outro equívoco que tem sido 
amplamente difundido, classificando 
o problema como sendo supostamen-
te característica da dislexia. Baseado 
em pesquisas, posso afirmar que o 
distúrbio não provoca troca de letras. 
O que ocorre com o cérebro do dislé-
xico é uma dificuldade de entender os 
sinais das letras, ele não identifica o 
que é letra, ele apenas não distingue 
uma letra de outra e acaba não conse-
guindo ser alfabetizado ou perdendo a 
capacidade de leitura, no caso da dis-
lexia adquirida.
Isso é muito diferente de trocar “p” 
por “b” ou “d” por “q”, ou seja lá qual 
for a troca. Quando uma criança faz 
essas trocas de letras, o mais provável 
é que tenha uma dificuldade auditiva 
Há anos tem sido di-vulgada uma série de equívocos sobre dis-lexiae isso torna não só o entendimento 
falho como confunde os leigos e até 
os profissionais que tratam o distúr-
bio. São três os principais mitos, que 
precisam ser explicados a respeito do 
transtorno: hereditariedade, troca de 
letras e a questão da testosterona. Há 
alguns meses um programa de TV en-
trevistou supostos especialistas abor-
dando dislexia. Na sequência, muitos 
outros veículos de comunicação pas-
saram a abordar o tema e os vídeos na 
internet viralizaram. Isso continua 
repercutindo de forma negativa pelos 
diversos erros que foram veiculados. 
Daí a necessidade de esclarecimento.
A questão da hereditariedade/
genética tem sido amplamente difun-
dida. Não se pode negar que exista 
um tipo de dislexia possivelmente 
hereditária/genética, que faz com que 
algumas famílias sejam propensas ao 
distúrbio, ou seja, se o pai ou a mãe 
tem dislexia, os filhos têm mais proba-
bilidade de apresentarem o problema. 
Mas é preciso frisar que este é apenas 
um dos tipos de dislexia. Há outras 
Como o termo já diz, dislexia: dificuldade 
ou ausência da aquisição do conjunto de 
palavras de um determinado idioma. De 
forma simplista pode-se dizer que seja di-
ficuldade na aquisição da leitura. Ou a per-
da da capacidade de leitura, em casos de 
acidentes que causem dislexia adquirida. 
Entre tantos dicionários e livros que pre-
tendem definir a dislexia, a definição mais 
precisa e simples é a de Gutenberg: “di-
ficuldade de ler e compreender a escrita”.
Œ�Conceito Œ
classificações que dependem, inclusi-
ve, da linha de pesquisa adotada pela 
Neuropsicologia, pela psicopedago-
gia, pela multiterapia e outras linhas 
de pesquisa que classificam os diver-
sos tipos de dislexia.
De todos os tipos, o que gera mais 
confusão tem sido o causado por 
trauma, ou seja, a dislexia adquirida. 
Essa dislexia quase sempre é renega-
da e, quando citada, geralmente é de 
forma equivocada. Em certo debate 
televisivo, um médico citou fatores 
que podem causar dislexia adquirida, 
mas omitiu o principal que é anoxia 
perinatal/hipoxia neonatal. Em 1998, 
diversos sites de Saúde e/ou Educação 
e também meu portal publicaram essa 
pesquisa na íntegra, tanto no Brasil 
quanto na Europa, onde se comprova 
a aquisição de distúrbios, especifica-
mente dislexia e disgrafia, por anoxia. 
Inúmeras pesquisas fizeram com que 
a dislexia adquirida fosse oficialmen-
A questão da hereditariedade/genética se faz presente em alguns casos de dislexia, mas é importante 
ressaltar que existem vários outros tipos do transtorno
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 77
Apesar da 
descoberta e do 
termo ser citado 
na Alemanha desde 
1881, demorou 
a ser usado em 
outros países, 
especialmente no 
Brasil, onde, 
até algumas 
décadas atrás, 
ainda se intitulava 
“cegueira verbal”
e, ao passar por ditado, escute errado 
e, na sequência, escreva errado. Pode 
também ser uma dificuldade visual, 
que a faz inverter letras ou enxergá-las 
de forma espelhada. Nessa forma de es-
crita espelhada, deve-se citar também 
que é comum a quase todas as crianças 
em fase de alfabetização inverterem le-
tras e, com a continuidade dos estudos, 
passarem a escrever de forma normal. 
Portanto, trocar letras não pode ser 
classificado como “dislexia”. 
Mais polêmica
Outro ponto polêmico é no que se refere à possível maior incidência 
em meninos, em função do excesso de 
testosterona da mãe durante a gestação, 
o que já há tempos se descartou. Essa 
linha de raciocínio iniciou-se em 1982, 
com a publicação de The Testosterone 
Hypothesis: Assessment since Geschwind 
and Behan, de Albert M. Galaburda. O 
resumo dessa publicação é o seguinte: 
“A hipótese de Geschwind propõe uma 
interação causal entre imparcialidade 
não direita, doenças imunológicas e de-
ficiência, inclusive dislexia, através da 
ação intra-uterina do hormônio mascu-
lino (testosterona). Alguns estudos epi-
demiológicos têm apoiado, pelo menos, 
uma associação estatística entre os três 
traços; outros não têm. As associações 
entre distúrbios de aprendizagem e do-
ença imune e entre os transtornos de 
aprendizagem e lateralidade direita não 
parecem ser mais bem apoiadas do que IMAG
EN
S:
 1
23
RF
tar que não havia nenhum dado con-
clusivo e considerar o fator genético 
isentando as características da mãe, 
esses estudos americanos foram feitos 
em autópsias de humanos disléxicos 
e em animais e, além da crueldade a 
que se expunham animais que sequer 
têm o mesmo organismo e reações hu-
manas, as pesquisas “mais avançadas” 
nessa época (1982) eram feitas em cé-
rebros de disléxicos mortos. Enquan-
to isso, países como a Alemanha já 
estudavam casos de pacientes.
A teoria do excesso de testoste-
rona seguiu até que, em 2007, ou-
tro estudo – “No relation between 
2D : 4D fetal testosterone marker and 
entre doenças imunológicas e imparcia-
lidade não direita. No entanto, nenhum 
dos dados acumulados até o momento 
é conclusivo, porque não é claro que 
as amostras estudadas foram verdadei-
ramente representativas. A evidência 
neuropatológica, tanto em estudos de 
autópsia em disléxicos humanos e em 
modelos animais de anormalidades cor-
ticais de desenvolvimento, é coerente, 
mas não um diagnóstico de patologia 
imunológica. Mecanismos são discuti-
dos porque um sistema imunitário anor-
mal poderia, assim, ferir o cérebro em 
desenvolvimento, com ênfase nas intera-
ções materno-fetais anormais, incluindo 
doença autoimune materno e incompa-
tibilidade materno-fetal. Uma origem 
genética também possível em que o pa-
pel materno é menos significativo”.
O que precisa ser frisado e enten-
dido é que, além do próprio autor ci-
MULTITERAPIA
 PARA SABER MAIS 
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A possível maior incidência de dislexia em meninos, em função do excesso de testosterona da mãe 
durante a gestação, já foi descartada por especialistas
78 psique ciência&vida
DISTÚRBIO
as intervenções educacionais que 
formaram a base do ensino multissen-
sorial, que, até hoje, são usadas para 
ensinar crianças disléxicas.
Já em 1951, G. Mahec fez experi-
mentos em que percebeu que crianças 
sem dislexia leram da esquerda para a 
direita mais facilmente e crianças dis-
léxicas leram na mesma velocidade, 
independentemente do sentido, e 10% 
dos disléxicos leram melhor da direi-
ta para a esquerda. Isso deu início à 
ideia do hemisfério direito ser maior 
nos portadores de dislexia. Essa ideia 
seguiria por muitos anos, mas, na ver-
dade, após muitos anos de pesquisas 
teóricas e práticas, consegui compro-
var que o que ocorria com o cérebro 
dos disléxicos (assim como de outros 
distúrbios) era uma maior excitação no 
hemisfério direito e maior inibição no 
hemisfério esquerdo. E isso nada tinha 
a ver com o tamanho dos hemisférios. 
Nos anos 70, enfim, entendeu-se 
a importância da consciência fonoló-
gica na dislexia. Como portadora de 
dislexia adquirida, a partir de um afo-
gamento, eu mesma defendia a tese do 
surgimento do distúrbio por meio de 
um acidente em que ocorra diminuiçãoou ausência de oxigênio no cérebro, o 
que inclui AVC, anoxia por afogamen-
to, por enforcamento, entre outros.
+G��I�9��G�����\
São diversos os distúrbios que se assemelham, mas não são disle-
xia. Os mais confundidos são: dis-
grafia – desordem de integração 
visual-motora. De origem grega, dys 
= dificuldade; difícil, e graphos = gra-
fia, entende-se que é a dificuldade ou 
ausência na aquisição da escrita. Ge-
ralmente, o portador de disgrafia é 
desatento, pode tornar-se hiperativo e 
o principal é que a dificuldade se es-
tende a todas as formas de escrita (le-
tras, sinais e até desenhos). Por essas 
características, é comum diagnosticar 
crianças como disléxicas, sendo que 
seu distúrbio é, na verdade, disgrafia. 
Uma das formas 
eficientes de se 
tratar a dislexia 
é a multiterapia. 
Engloba as 
áreas de 
psicopedagogia, 
Medicina 
Comportamental, 
Neuropsicologia, 
entre outras 
técnicas de 
Psicanálise, além 
de arteterapia, 
musicoterapia, 
biodança e 
psicodrama IMAGE
NS
: 1
23
RF
dyslexia – Boets, Barta b”, de Smedt, 
Berta; Wouters, Janb; Lemay, Katrie-
na; Ghesquière, Pola (Neuroreport, v. 
18, n. 14, p. 1487-1491, 17 September, 
2007) – publicou o seguinte: “Tem 
sido sugerido que os níveis elevados 
de exposição pré-natal à testostero-
na estão implicados na etiologia da 
dislexia e seus frequentes problemas 
sensoriais. Este estudo examinou 2D: 
4D relação dígitos (um marcador de 
exposição à testosterona fetal) em 
crianças disléxicas e normais de leitu-
ra. Foram observadas 4D: há diferen-
ças entre os grupos em 2D. Mas não 
mostraram a relação postulada com 
leitura, escrita, habilidade fonológica, 
a percepção da fala, processamento 
auditivo e processamento visual. Es-
ses resultados desafiam a validade das 
teorias que atribuem um papel proe-
minente à exposição à testosterona 
fetal na etiologia da dislexia e suas de-
ficiências sensoriais.
*�����
A identificação da dislexia ocorreu pela primeira vez em 1881, pelo 
médico alemão Oswald Berkhn. O 
termo dislexia foi oficialmente uti-
lizado por um oftalmologista, tam-
bém alemão, Rudolf Berlin, em 1887. 
Apesar da descoberta e do termo ser 
citado na Alemanha desde 1881, de-
morou a ser usado em outros países, 
especialmente no Brasil, onde, até 
algumas décadas atrás, ainda se inti-
tulava “cegueira verbal” e até hoje há 
quem defenda apenas a causa heredi-
tária/genética, negando-se a aceitar 
a evolução das pesquisas de diversos 
profissionais e pesquisadores de disle-
xias no mundo todo.
O termo “cegueira verbal” surgiu 
em 1896, com W. Pringle Morgan, 
que descreveu a “cegueira de palavra 
congenital”, publicado em British Me-
dical Journal. De 1890 a 1900, James 
Hinshelwood publicou vários artigos 
sobre dislexia e sugeriu que o maior 
problema no distúrbio era a deficiência 
na memória visual de palavras e letras.
Lesão cerebral era outra causa 
muito estudada, mas, em 1925, Sa-
muel T. Orton escreveu que a dislexia 
não dependia de lesão ou dano cere-
bral. Orton, em parceria com a psicó-
loga Anna Gillingham, desenvolveu 
Quando dois ou mais distúrbios se mani-
festam no mesmo indivíduo chama-se de 
comorbidade. Geralmente, há um distúrbio 
principal e outro(s) que se desenvolve(m) 
em paralelo. É preciso prestar atenção, 
pois muitas das comorbidades acabam se 
manifestando após algum tempo de trata-
mento, o que pode representar um proce-
dimento errado ou ineficaz.
Œ�Comorbidades Œ
www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 79
As crianças que reproduzem letras, si-
nais e desenhos, mas não reconhecem 
ou conseguem ler o que escreveram, 
podem ser consideradas disléxicas. Já 
as que não conseguem nem ler nem 
escrever devem ser consideradas dis-
léxicas e disgráficas. 
Outro caso passível de confusão é 
a disortografia – dificuldade na expres-
são da linguagem escrita. A ortografia 
é a parte da gramática que ensina a es-
crever palavras corretamente, portanto 
a disortografia é o escrever incorreta-
mente. Esse é um distúrbio específico 
na aquisição e reprodução de letras (es-
crita de um idioma) e diferencia-se da 
disgrafia, que é generalizada.
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A síndrome de Irlen (S.I.), por sua vez, é uma alteração visuopercep-
tual, causada por um desequilíbrio da 
capacidade de adaptação à luz, que pro-
duz alterações no córtex visual e déficits 
na leitura. A síndrome tem caráter here-
ditário e se manifesta sob maior deman-
da de atenção visual.
samente verificada, devem entender 
que, de suas publicações, surgem re-
publicações, fundamento de teses, 
dissertações, TCCs e tudo isso pode 
perpetuar um equívoco, como tem 
sido por tantos anos a troca de letras 
e outros nessa linha. Cabe também 
aos profissionais clínicos buscarem 
boas informações, livros e palestras 
de qualidade, sempre questionando as 
informações que chegam, de forma a 
entender em profundidade os distúr-
bios e suas características. Aos pais e 
professores cabe a responsabilidade 
de conversar com seus filhos/alunos, 
percebendo alterações no comporta-
mento e/ou na aprendizagem, reco-
nhecendo o momento de encaminhar 
o indivíduo a um tratamento adequa-
do às suas necessidades.
Descrita em 1983 pela psicóloga 
Helen Irlen, a síndrome tem como 
manifestações, além da fotofobia, 
problemas na resolução visiospacial, 
dificuldades na manutenção do foco, 
estresse visual, alteração na percep-
ção de profundidade e cefaleias.
Durante a leitura, segundo pa-
cientes, o brilho ou reflexo do papel 
branco contra o texto causam irrita-
bilidade, assim como a luz natural ou 
fluorescente. Eles possuem ainda sen-
sação de movimentação das letras que 
“pulsam, tremem, vibram, confluem 
ou desaparecem”, e a leitura passa a 
ser fragmentada. Além disso, queixam 
de insegurança ao dirigir, estacionar, 
com esportes com bola ou em outros 
movimentos, como descer e subir es-
cadas rolantes.
A questão da dislexia necessita ur-
gentemente de uma nova abordagem. 
Os profissionais tanto pesquisadores 
quanto clínicos devem ter mais aten-
ção ao que se publica. Em especial, 
os pesquisadores devem perceber a 
importância da informação minucio-
Existem algumas indicações de como se 
deve agir em relação às pessoas disléxi-
cas: não forçar a alfabetização; encaminhar 
a pessoa ao psicopedagogo; incentivar sua 
criatividade; o acompanhamento neurológi-
co também é fundamental; e havendo co-
morbidades, outros profissionais devem fa-
zer parte da equipe de atendimento, como 
psiquiatra, psicólogo, fonoaudiólogo etc.
Œ�Como agir Œ
REFERÊNCIAS 
Vídeo de Lou de Olivier, abordando os três 
principais equívocos sobre dislexia: https://
youtu.be/326yylCXxDQ
Vídeo de Lou de Olivier, abordando a dislexia 
adquirida: https://youtu.be/mdsj7e7-1nU
OLIVIER, Lou de. R (ebook). São Paulo: e, 2015.
OLIVIER, Lou de. Distúrbios de Aprendizagem 
e de Comportamento. Rio de Janeiro: Editora 
Wak.
. Transtornos de Comportamento 
e Distúrbios de Aprendizagem. Rio de 
Janeiro: Editora Wak.
Outro caso passível de 
confusão é a dificuldade 
na expressão da 
linguagem escrita. A 
ortografiaé a parte da 
gramática que ensina 
a escrever palavras 
corretamente, portanto
a disortografia é o 
escrever incorretamente
80 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
em contato
O EXAGERO NA MIRA
A Psicologia é mesmo surpreendente. Na edição 132, um dos artigos mostra uma relação direta 
entre algumas características comportamentais, que, comumente, são chamadas apenas de vícios. 
Então, dependência química, jogo patológico, dependência da internet, o comprar compulsivo e 
ATÏ�MESMO�O�SEXO�EXAGERADO�SÎO�CLASSIlCADOS�COMO�TRANSTORNOS�DO�EXAGERO��%SSE�Ï�UM�CAMPO�QUE�
PROPÜE�UM�DESAlO�IMPORTANTE�PARA�OS�PROlSSIONAIS�ESPECIALIZADOS��4ODOS�ESSES�QUADROS�COMPRE-ENDEM�UM�TIPO�DE�CONmITO�ENTRE�O�PRAZER�NA�REALIZA¥ÎO�DA�A¥ÎO�EXAGERADA�E�O�PREJUÓZO�QUE�CAUSA�
EM�FUN¥ÎO�DE�SEU�DESCONTROLE��%�Ï�POSSÓVEL�IDENTIlCAR�NA�SOCIEDADE�VÉRIAS�PESSOAS�QUE�SE�ENQUA-
DRAM�NO�PROBLEMA��0ARA�SE�TER�UMA�IDEIA��POR�OBSERVA¥ÎO��POSSO�DIZER�QUE�Ï�DIFÓCIL�ENCONTRAR�UMA�
pessoa que não conheça alguém próximo que sofra de uma das formas desse transtorno.
Leandro Quadros, por e-mail
4%-�15%�#/22%2
E não é que a ciência vem provando, ao 
longo dos anos, que a saúde do cérebro 
também depende do exercício físico? A 
CORRIDA�� ESPECIlCAMENTE�� VEM� MOLDANDO�
a evolução do ser humano ao longo dos 
anos. O texto que saiu no número 132 da 
Psique mostra bem que, em dado momen-
to da evolução humana, a própria seleção 
natural favoreceu a capacidade das pessoas 
em aguentar longos períodos de estresse 
cardiovascular. Não no que se refere à po-
TÐNCIA�OU� RAPIDEZ��MAS�� SIM�� Ì� RESISTÐNCIA��
Historicamente, estudiosos defendem a 
tese de que os humanos evoluíram em con-
sequência da necessidade de correr longas 
distâncias em busca de alimentos, o que 
ACABOU�ADAPTANDO�A�ANATOMIA�E�A�lSIOLOGIA��
%M�RESUMO��O�MOVIMENTO�FOI�RESPONSÉVEL�
por determinar a estrutura e a função ce-
rebrais. Portanto, a inatividade e o sedenta-
rismo tornam os humanos doentes física e 
mentalmente. Parabéns!
Sérgio Ricardo Andrade, por e-mail
#/-/—§/�.!#)/.!,
Mais uma personagem interessante foi es-
colhida para a entrevista da revista Psique. 
.A�VERDADE��DESSA�VEZ��NA�EDI¥ÎO������NÎO�
foi uma personagem, mas duas. As especia-
LISTAS�!NA�0AULA�2EIS�DA�#OSTA�E�-ANOELA�
-ICHELLI� ESCLARECERAM� VÉRIOS� ASPECTOS� A�
respeito de um tema bem difícil de se lidar: 
o luto. Descobri, por exemplo, que frente ao 
primeiro impacto de uma tragédia, como 
a que ocorreu com o voo da delegação 
DO� TIME� DE� FUTEBOL� DA� #HAPECOENSE�� QUE�
MATOU� DEZENAS� DE� PESSOAS�� A� SOCIEDADE��
em geral, se relaciona mais com o medo, 
a constatação do sentimento de fragilidade 
da vida, a impotência e a revolta. Acredito, 
inclusive, que são sentimentos que surgem 
mesmo em pessoas que não têm nenhuma 
relação direta com as vítimas. Além disso, 
também creio que um tipo de curiosidade 
MØRBIDA��INERENTE�ÌS�PESSOAS��FAZ�COM�QUE�
acidentes com essa magnitude ganhem 
muita repercussão na mídia. 
Selena de Alencar, por e-mail
O LADO BOM DA VIDA
*�TINHA�OUVIDO�FALAR�DA�0SICOLOGIA�0OSITI-
VA��MAS�APENAS�SUPERlCIALMENTE��0OR�ISSO��
gostei muito do material publicado no nú-
mero 132 da revista, que explicou, de for-
ma mais aprofundada, as características 
DESSA� LINHA� DE� PENSAMENTO�� 4RATA
SE� DE�
UM�MOVIMENTO�CIENTÓlCO��QUE�ESTUDA�FELI-
cidade e bem-estar, além de mostrar como 
implementar esses elementos no cotidia-
NO�DAS�PESSOAS��5M�MÏTODO�QUE�PRETENDE�
ISSO�S�PODE�SER�INTERESSANTE�E�FAZER�O�BEM��
!�0SICOLOGIA�0OSITIVA�FAZ�COM�QUE�O�LADO�
SAUDÉVEL� E� BOM�DO� INDIVÓDUO� SEJA� LEVADO�
a sério, sempre, é claro, com os parâme-
TROS�QUE�A�CIÐNCIA�TRAZ��%�HOJE�ME�PARECE�
QUE�HÉ�UM�CENÉRIO�BEM�PROPÓCIO�PARA�SUA�
A¥ÎO��POIS�COM�OS�AVAN¥OS�TECNOLØGICOS�HÉ�
uma sociedade, especialmente as crian-
¥AS��NAS�MÎOS�DAS�CHAMADAS�NOVAS�BABÉS��
como tablets, smartphones e videogames. 
A consequência é um empobrecimento de 
relações sociais positivas.
#AROLINA�#ASTRO��POR�e-mail
"%.%&°#)/3�$/�2)3/
A revista Psique provou, na edição 132, 
QUE�A�FRASE�hRIR�FAZ�BEM�PARA�A�SAÞDEv�NÎO�
Ï� UMA� lGURA� RETØRICA�� 0ODE� SER�� INCLUSI-
ve, uma forma de terapia para combater 
inúmeros problemas físicos e emocionais. 
%XISTEM� DIVERSAS� EXPLICA¥ÜES� CIENTÓlCAS�
PARA�ESSES�BENEFÓCIOS��5MA�DELAS�DIZ�QUE�
a sensação provocada pelo bom humor 
AJUDA�NO�TRATAMENTO�DE�DOENTES��POIS�FAZ�
AUMENTAR� A� SECRE¥ÎO� DE� ENDORlNA�� QUE�
é uma substância que relaxa as artérias, 
MELHORA�A�CIRCULA¥ÎO�E�BENElCIA�E�REA¥ÎO�
imunológica. Em contrapartida, “pessoas 
mal-humoradas, impacientes, irritadas, 
CONTRARIADAS�� RÓGIDAS�E�AUTORITÉRIAS�ESTÎO�
mergulhadas num processo de tensão, 
que promove uma grande descarga de 
adrenalina, o que aumenta a predisposi-
¥ÎO�PARA�ACIDENTES�VASCULARESv��EXPLICA�O�
texto. Então, o remédio é sorrir sempre e 
procurar olhar o lado bom da vida. Sem 
DÞVIDA��FAZ�BEM�PARA�A�SAÞDE�
!NA�#ÏLIA�#ORRÐA��POR�e-mail
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CONSELHO EDITORIAL
AICIL FRANCO é psicóloga, mestre e doutora em Psicologia 
#LÓNICA�PELA�530��0ROFESSORA�NO�)*"!�E�NA�%SCOLA�"AHIANA�
de Medicina e Saúde Pública, Savador, BA.
ANA MARIA FEIJOO é doutora em Psicologia pela 
5NIVERSIDADE�&EDERAL�DO�2IO�DE�*ANEIRO��AUTORA�DE�
LIVROS�E�ARTIGOS�CIENTÓlCOS��PARECERISTA�DE�DIVERSAS�
REVISTAS�E�RESPONSÉVEL�TÏCNICA�DO�)NSTITUTO�DE�0SICOLOGIA�
Fenomenológico-Existencial do RJ.
ANA MARIA SERRA é PhD em Psicologia e terapeuta 
COGNITIVA�PELO�)NSTITUTE�OF�0SYCHIATRY��5NIVERSIDADE�DE�
,ONDRES��$IRETORA�DO�)NSTITUTO�DE�4ERAPIA�#OGNITIVA��)4#	��
ATUA�EM�CLÓNICA��FAZ�TREINAMENTO��CONSULTORIA�E�PESQUISA��
0RESIDENTE�HONORÉRIA��EX
PRESIDENTE�E�FUNDADORA�DA�!"0#��
ANDRÉ FRAZÃO HELENE é biólogo, mestre e doutor 
EM�#IÐNCIAS�NA�ÉREA�DE�.EUROlSIOLOGIA�DA�-EMØRIA 
E�!TEN¥ÎO�PELA�5NIVERSIDADE�DE�3ÎO�0AULO� 
onde também é professor no curso de Biociência e 
COORDENA�O�,ABORATØRIO�DE�#IÐNCIAS�DA�#OGNI¥ÎO�NO�
Instituto de Biociências. 
CLÁUDIO VITAL DE LIMA FERREIRA é psicólogo, 
DOUTOR�EM�3AÞDE�-ENTAL�PELA�5NICAMP��PØS
DOUTORADO�EM�
3AÞDE�-ENTAL�PELA�5NIVERSIDADE�DE�"ARCELONA
%SPANHA��
PROFESSOR�ASSOCIADO�DE�0SICOLOGIA�DA�5NIVERSIDADE�&EDERAL�
DE�5BERLÊNDIA��!UTOR�DE�Aids e exclusão social.
DENISE TARDELI, graduação em Psicologia e Pedagogia. 
Mestrado em Educação e doutorado em Psicologia 
%SCOLAR�E�DO�$ESENVOLVIMENTO�(UMANO��AMBOS�PELA�530��
0ESQUISADORA�NA�ÉREA�DA�0SICOLOGIA�-ORAL�E�%VOLUTIVA��
0ROFESSORA�UNIVERSITÉRIA�
DENISE GIMENEZ RAMOS é coordenadora do Programa 
DE�%STUDOS�0ØS
'RADUADOS�DA�05#
30�E�MEMBRO�DA�
Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica. 
KARIN DE PAULA��PSICANALISTA��DOUTORA�PELA�05#
30��
PROFESSORA�E�SUPERVISORA�CLÓNICA�UNIVERSITÉRIA�E�DO�#%0��
autora do livro $em? Sobre a inclusão e o manejo do dinheiro 
numa psicanálise��E�DE�VÉRIOS�OUTROS�ARTIGOS�PUBLICADOS�
LILIAN GRAZIANO é psicóloga e doutora em Psicologia 
PELA�530��COM�PØS
GRADUA¥ÎO�EM�0SICOTERAPIA�#OGNITIVA�
#ONSTRUTIVISTA��¡�PROFESSORA�UNIVERSITÉRIA�E�DIRETORA�DO�
)NSTITUTO�DE�0SICOLOGIA�0OSITIVA�E�#OMPORTAMENTO��!TUA�
em clínica e consultoria. 
LILIANA LIVIANO WAHBA, psicóloga, PhD, professora da 
05#
30��0RESIDENTE�DA�3OCIEDADE�"RASILEIRA�DE�0SICOLOGIA�
!NALÓTICA��#OEDITORA�DA�revista Junguiana. Diretora de 
0SICOLOGIA�DA�3ER�EM�#ENA�
�4EATRO�PARA�!FÉSICOS�
MARISTELA VENDRAMEL FERREIRA é doutora em Audiologia 
PELA�5NIVERSITY�OF�3OUTHAMPTON�n�)NGLATERRA��MESTRE�EM�
$ISTÞRBIOS�DA�#OMUNICA¥ÎO�PELA�05#
30��ESPECIALISTA�EM�
0SICOTERAPIA�0SICANALÓTICA�PELO�)NSTITUTO�DE�0SICOLOGIA�DA�530�
MÔNICA GIACOMINI, presidente da Sociedade Brasileira de 
0SICOLOGIA�(OSPITALAR�n�BIÐNIO����������%SPECIALISTA�EM�
Psicologia Hospitalar, psicóloga clínica junguiana, psicóloga 
DO�)NSTITUTO�DE�/RTOPEDIA�E�4RAUMATOLOGIA�DO�(#&-530�
e supervisora titular do Aprimoramento em Psicologia 
Hospitalar em Ortopedia.
PAULA MANTOVANI é graduada em Psicologia pela 
5NIVERSIDADE�0AULISTA��PSICANALISTA��CONSULTORA�EDITORIAL�
DO�PROGRAMA�DE�ENTREVISTAS�DA�&.!#�E�MEMBRO�
CORRESPONDENTE�DO�%SPA¥O�-OEBIUS�DE�0SICANÉLISE�DE�
3ALVADOR��"!	�
PEDRO F. BENDASSOLLI é editor da GV Executivo, psicólogo 
GRADUADO�PELA�5NIVERSIDADE�%STADUAL�0AULISTA��5NESP	�E�
DOUTOR�EM�0SICOLOGIA�3OCIAL�PELA�530��¡�TAMBÏM�PROFESSOR�
da Fundação Getúlio Vargas e da ESPM.
LINHA DIRETA
IM
AG
EN
S:
 1
23
RF
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UI
VO
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 E
 V
ID
A
CANAL FACEBOOK
A revista Psique� TRAZ� MUITAS� INFORMA¥ÜES� INTERESSANTES� TAMBÏM� NAS� REDES� SOCIAIS��
!CESSE�A�&ANPAGE��WWW�FACEBOOK�COM�2EVISTA0SIQUE#IENCIAE6IDAAo longo da história, a loucura vem 
GANHANDO� CADA� VEZ� MAIS� ESPA¥O� NO�
ambiente de discussões acadêmicas e 
CIENTÓlCAS�� %XISTEM� ALGUMAS� IDEIAS� QUE�
passam de geração a geração e, apesar 
de serem desmascaradas com o tempo, 
SEGUEM�POVOANDO�O�IMAGINÉRIO�POPULAR��
5M�DOS�MITOS��REFOR¥ADO�AINDA�HOJE�POR�
algumas crenças religiosas, que segue 
com muitas de suas características ori-
ginais é o mito da possessão demonía-
ca, que surgiu na Idade Média. Pessoas 
AINDA� FAZEM� PRECES�� SE� BENZEM� DIANTE�
de pessoas em crises psicóticas e até 
MESMO� NOS� MEIOS� DE� COMUNICA¥ÎO� HÉ�
rituais de exorcismo aplicados em quem 
ESTÉ�SOB�SOFRIMENTO�PSÓQUICO��0ARA�ESSAS�
pessoas, em seus mitos, a loucura não se 
distingue do mal. Ela é o mal, a fonte 
do pecado, o próprio demônio. Maté-
RIA� COMPLETA� DA� EDI¥ÎO� ���� ESTÉ� NO� SITE�
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COLABORARAM NESTA EDIÇÃO: Andreia Calçada; Lou de Olivier; 
Lucas Vasques Peña; Luiza Elena L. Ribeiro do Valle; Raquel Jandozza; 
Renata Mousinho; Tiago J B Eugênio; Yago Felipe Hennrich. Revisão: 
Jussara Lopes. COLUNISTAS: Anderson Zenidarci; Carla Pereira; 
Carlos São Paulo; Denise Deschamps; Eduardo J. S. Honorato; 
Eduardo Shinyashiki; Giancarlo Spizzirri; Guido Arturo Palomba; 
Igor Lins Lemos; João Oliveira; Jussara Goyano; Lilian Graziano; 
Marco Callegaro; Maria Inere Maluf; Michele Muller. O Conselho 
editorial e a Redação não se responsabilizam pelos artigos e 
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Ano 11 - Edição 133
Março/2017
Ethel Santaella
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PEQUENAS AGÊNCIAS E DIRETOS
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psiquiatria forense por Guido Arturo Palomba 
Guido Arturo Palomba é psiquiatra forense e membro 
emérito da Academia de Medicina de São Paulo.
A PATOLOGIA DUAL JÁ CONTA 
COM INÚMEROS ADERENTES 
AQUI NO BRASIL E EM 
OUTROS PAÍSES, A SERVIÇO DA 
INDÚSTRIA FARMACÊUTICA
não se ignora que a maioria dos dependentes de maconha é 
portadora de disritmia cerebral e usa essa substância empiri-
camente para acalmar as manifestações da doença. São maus 
calmantes? Sim, são, mas ainda assim são calmantes. E se tra-
tada a causa, o efeito termina. Em outras palavras, dominada a 
disritmia cerebral o vício em maconha arrefece. E assim ocorre 
com os outros transtornos mentais. Dominada a ansiedade e 
a obsessão-compulsão, com certeza os comportamentos dela 
decorrentes amenizam. Não existe patologia dual, mais uma 
invenção da decadente Psiquiatria contemporânea, em que os 
ataques aos princípios fundamentais da especialidade ocorrem 
por todos os lados, lembrando que já “mataram” a psicopatolo-
gia, substituída pelos infantis inventários e protocolos, os quais 
alargam os diagnósticos, a permitir que cada vez mais pessoas 
tenham algum transtorno mental e, consequentemente, a justi-
lCAR�MAIS�RECEITAS�E�MAIOR�VENDA�DE�REMÏDIOS��/�ATUAL�ACINTE�Ì�
nosologia vai no mesmo sentido: agora, em vez de um transtor-
no psiquiátrico, dois.
AR
QU
IV
O 
PE
SS
OA
L/
SH
UT
TE
RS
TO
CK
N
O�lNAL�DA�DÏCADA�PASSADA�NASCEU�NA�%SPANHA�E�EM�0OR-
tugal a curiosa ideia de que um paciente pode ter dois 
diagnósticos principais ao mesmo tempo, por exemplo, 
esquizofrenia e toxicomania, epilepsia e alcoolismo, 
transtorno depressivo e vício em jogos de azar, transtorno ob-
sessivo-compulsivo e dependência de tabaco, café, comida e daí 
por diante. A isso deram o nome de patologia dual. E hoje já é 
POSSÓVEL�IDENTIlCAR�SOCIEDADES�E�ASSOCIA¥ÜES�PROMOVENDO�VÉRIOS�
eventos em diversos países sobre o assunto. Para se ter uma ideia, 
em março de 2017 ocorrerá o primeiro congresso mundial na 
Espanha sobre esse tema. Os inventores dessa concepção mos-
tram-se, com todo o respeito, totalmente leigos em nosologia, 
que é uma ciência com regras, preceitos e leis, nascida da neces-
sidade de organizar racionalmente os sinais e sintomas clínicos 
de uma doença, disciplinando a massa caótica e desorganizada 
das inúmeras moléstias e manifestações patológicas existentes. 
Em outras palavras, a nosologia é uma forma sintética para con-
centrar e nominar a essência da moléstia, cujo conceito começou 
com Carlo Lineu (1707-1778, pai da taxonomia moderna) e foi se 
lapidando no correr dos séculos.
A proposta da patologia dual é fracionar a doença, e isso 
BATE� DE� FRENTE� COM�O� PRIMORDIAL� PRINCÓPIO� DAS� CLASSIlCA¥ÜES��
segundo o qual é preciso colocar o máximo possível de sinais 
e sintomas clínicos em uma única entidade nosológica e não 
SUBDIVIDI
LOS��0ARA�EXEMPLIlCAR��NO�SARAMPO�OBSERVA
SE�INFEC-
ção pulmonar, coriza, tosse com catarro, anorexia, conjuntivite 
e as características lesões maculopapulares eritematosas. Se o 
sarampo passasse pela avaliação dos “médicos duais”, certa-
mente uns diriam que o paciente tem transtorno pulmonar e 
dermatopatia, enquantooutros acrescentariam transtorno do 
apetite e conjuntivite também.
É preciso recordar que muitas doenças e perturbações men-
tais podem apresentar-se com adições de todo o gênero. Hoje 
DIAGNÓSTICO 
partido em dois
100 projetos incríveis, 
com metragens e estilos dos mais 
variados para você se inspirar.
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