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A teoria da ação no processo civil

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LEONARDO GRECO
O aktratísmo do dirøito de açúo, gcralmenta acolhldo
pela doutrina brasílaira, é revísto n6ste liyro à luz das
gardntias eonstitucionaís do proca$eo o do eompromisso
do Estado contenporânøo e;orn , tutcla jurísdìciõnal
efetiva de todas as posiçóes suöJatívas de vantagem.
Os limites da tearía da su&tancíaçåa da c*uea da
pedir e do jura novit curia sâo tdmtÉm analioados
soô e**a perspectíva.
A TE0RIA DA AÇA0
NO PROCESSO CIVIL
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A TEoRTA DA AÇ40
NO PROCESSO CIVIL
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LEO NARDO G RECO
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A TEORIA DA AÇ40
NO PROCESSO CIVIL
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@ by Leonardo Greco
|Fl@l é marca reg¡strada de
Oliveira Rocha - Comércio e Serviços Ltda
Todos os direitos desta edição reservados
Oliveira Rocha - Comércio e Serviços Ltda.
Rua Sena Madureira, 34
cEÉ 04021-000 - são Paulo - sP
e- m ai ! : atendi mento@dia letica.co m.b r
Fone/fax (0xx1 1 ) 5084-4544
www.dialetica.com.br
ISBN nq 85-7500-077-2
Na capa, reproduz-se, em destaque,
obra de Marola Omartem.
Revisão de texto: Debora silvestre Missias e Viviam silva Moreira
Projeto (miolo)/Editoração Eletrônica: Mars
Fotolito da capa: Duble ExPress
Dados lnternacionais de Catalogação na Publicação (ClP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Indice
Introdução
Capítulo I - Ação: um Só ou Vários Direitos?..
1.1. Ação ûomo direito cívico
I.2. Açáo de direito material
1.3. Ação romo direito ao processo justo.....
1.4. Ação como demanda
1.5. Ação romo direito à jurisdição
1.6. Importância atual do conceito de ação..
Capítulo II - Condições daAção ...........
O que são as condições da ação
Têm alguma utilidade as condições da ação?
Aferição das condições da açáo in statu assertionis ...
Teorias concretas e teorias abstratas daaçáo
Possibilidade jurídica
Interesse de agir......
7
9
9
10
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2.1
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47
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53
55
51
63
10
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75
2.7 .Legitimidade
2.8. Outras condições?
Capítulo III - Elementos da Ação
3.1. Elementos da demanda....
3.2.Partes
3.3. Pedido
3.4. Causa de pedir
3.5. Jura novit curia
3.6. Os fatos e o direito identificadores da demanda
3.7 . A identidade da açáo e o efeito preclusivo da coisa jul-
gada .......-
Conclusão
Greco, Leonardo
A teoria da açáo no processo civil i Leonardo
Greco. 
- 
São Paulo : Dialética, 2003.
1. Processo civil 2.Teoria da ação l. Título'
cDU-347.922.00102-5870
índices para catálogo sistemático: Bibliografia
7
'!î
I
.l
I
¿
Introdução
Comemoramos, neste ano de 2003, o centenário da famosa
preleção de CutoveNDA na Universidade de Bolonha a respeito da
ação no sistema dos direitos.
Ponto de partida do abandono da escola exegética e da aces-
soriedade do processo em relação ao direito materialrpara o encon-
tro, meio século depois, entre as teorias emancipadoras do processo
germinadas naAlemanha na segunda metade do século XIX e o hu-
manismo do processo justo do final do século XX, a pregação chio-
vendiana lançou as bases conceituais da moderna teoria geral do pro-
cesso, ao mesmo tempo em que repudiou o juiz burocrata e inerte,
preocupado com a democratização do acesso à Justiça e com a ins-
tauração de uma relação processual impregnada de compromissos do
juiz para com as duas partes2.
Na primeira metade do século XX, foi atribulada a trajetória
do direito de ação, pois, se a auto-suficiência do direito processual e
o seu desprendimento do direito material poderiam parecer progres-
sos científicos, na verdade o exagero abstratista tornou o acesso à
Justiça fácil instrumento da opressão do mais forte sobre o mais fra-
co e da utili zaçáo da via judicial não para atutela do direito, mas para
retardar indefinidamente ou impedir o reconhecimento do direito
alheio.
Coube a LEsNleN3 , jâ de volta à Itália depois do final da 2"
Guerra, tentar recolher os destroços do direito de ação e recompor as
suas bases científicas, despindo-o de preconceitos ideológicos. Mas
nessa altura, jâ erarn muito diferentes as preocupações da ciência
processual, questionada em SeuS fundamentos e em sua funcionali-
dade pelas exigências da tutela jurisdicional efetiva impostas pelo
novo Estado Democrático de Direito.
Alberto Scerbo, Tecnica e Politíca del Dirixo nella Teoria del Processo, Rubbenino,
Catanzaro, 2000, p- 106.
Giuseppe chiovend4 Principii di Diritto Processuale civile,3" ed., Jovene, Napoli, 1923,
p. 91-
Ènrico Tullio Liebman, "L'Azione nella Teoria del Processo Civile", Problemi di Dirit-
to Processuale Civile, Morano, Napoli, 1962.
a
I A Teont¡ on AÇÁo ¡ro PRocesso Ctvtl
a Juan Montero Arocu Los principios políticos de la Nue¡-a Ley de Eniuiciamíento 
civiL'
Capítulo I - Ação: um Só ou Vários Direitos?
Embora aparentemente intuitivo, porque utilizado na cotidia-
na linguagem forense sem divergências, o direito de ação é um dos
conceitcs mais equívocos do Direito Processual científico.
A que direito estamos nos referindo quando tratamos do direito
de ação?
Penso que muitas das divergências a respeito da teoria daação,
que ainda se observam entre nós, decorrem dos diferentes sentidos
em que a palavra ação é utthzada. Com isso não quero dizer que as
controvérsias se reduzam apenas a uma questão terminológica, mas
apontar para a existência de vários direitos de diferentes conteúdos,
a que igualmente denominamos de direito de ação e, à luz dessas
diferenças, tentar compreender os requisitos da sua existência, os
elementos que o identificam e os limites a que está sujeito como di-
reito fundamental assegurador da eficâcia concreta de todos os de-
mais direitos.
Já GeeRIeI- ¡s RszENps FrHo5 acentuava que de ação se fala em
diferentes sentidos: como defesa do direito, complexo de atos cons-
titutivos do juízo, pretensão, demanda ott jus quod sibi debeatur ju-
dicio pe.sequendi. O Código de 1939 empregava apalavra como si-
nônimo de causa, processo, feito, Iide, demanda, pleito e litígio.
L.1. Ação como Direito Cívico
Num primeiro sentido, falamos de ação como um direíto cívi-
co, o direito de acesso aos órgãosjurisdicionais6, conferido indistin-
tamente a todos os sujeitos de direito de obter um pronunciamento
do Poder Judiciário a respeito de qualquer postulação. Esse é um di-
reito absolutamente incondicionado, conferido a qualquer pessoa
independentemente do conteúdo da sua postulação. A esse direito
corresponde o dever irrecusável de resposta do Estado-juiz. Esse di-
Gabriel José Rodrigues de Rezende Filho, C¿¿rso de Direito ProcessuaL Civil, vol.1,3
ed., Sa¡aiva, São Paulo, 1952.
Luigi lvlontesano e Giovanni Anet4 Díritto Processuale Civile, vol- I, 2' ed., G- Giappi-
chelli, Torino, 1996, p. 137.
Enquanto a doutrina processual e as reformas legislativas se
voltaram para anova realidäde, impulsionadas pela necessidade de
enfrentar o custo e a morosidade dã justiça, de equacionar a sobre-
.urgu ¿o aparelho judiciário pelo excesso de demandas' de dar con-
sistência teórica a novos institutos como as ações coletivas e o 
pro-
cesso objetivo, de rever todo o substrato teórico à luz das garantias
fundamentais do processo justo, ficaram na penumbra' como se es-
tivessem definitivamente åquacionadas' as questões básicas 
deli-
neadoras do direito de açáo,-que somente voltam à tona topicamente
naanálisedeumoooorrou'p""todessanovarealidade'ouquando
a edição de um novo Código, como ocoffeu recentemente na Espa-
nttu, å^ig" que sejam reafñmadas as bases teóricas de todo o siste-
ma nroceffie, 
todavia, que se continuamos aspirando a ter.'m
sistema processual consistenie do ponto de vista científico e eficien-
tecomoinstrumentoderealízaçáodosideaisdeJustiçaquesãoine-
rentes ànatutezahumana,é preciso retomar a reflexão sobre 
as suas
bases teóricas, não p*un"g*o que até aqui foi elaborado esedimen-
tado através da obia de tintos expoentes' mas para reavaliar a sua
adequação às novas exigências da sociedade contemporânea e de 
uma
JustiçaLm crise, na teñtativa de contribuir pa'ra o progresso do pro-
cesso como saber científico e não apenas como técnica circunstan-
cial de solução de litígios e de atuação do Direito'
Nessa p"rrp"",iu desenvolve-se o presente estudo sobre o di-
reito de ação.
*¡
$'i
iì
Tirant Io Blanch, Valencia,200l
10 TeoR¡n o¡ AÇÁo r'¡o PRocesso Clvtt-A
L¡o¡.nRoo GReco 11
titular do direito material. Entretanto, como garantiadaeficâcia con-
creta do direito material, a açáo é ela própria um direito fundamen-
tal sem o qual nenhum valor teriam todos os demais, que restariam
meras proclamações vazias e sem conseqüências práticas nas decla-
rações de direitoslo.
1.3. Ação como Direito ao Processo Justo
Aaçáo também é mencionada como o direito ao processo jus-
/o, o direito ao meio através do qual se exercerá a jurisdição, o direi-
to de pcstular o exercício da jurisdição por meio de um processo re-
vestido de todas as garantias, no qual possa o autor apresentar todas
as alegações e provas necessárias à demonstração da procedência do
seu pedido. Mas o direito ao meio (o processo justo), embora seja
pressuposto da adequada proteção do direito material, ou do adequa-
do exercício da jurisdição sobre o direito material, não é o próprio
direito à tutela jurisdicional do direito material. Neste terceiro senti-
do, seria mais correto falar-se em direito ao processo do que em di-
reito de ação. Mesmo que o processo seja extinto sem julgamento do
mérito, ainda que afinal a prestação jurisdicional não seja entregue
ou ainda que o direito material não seja futelado, a iniciativa do au-
tor terá desencadeado a instauração da relação processual que deve
ter observado todos os requisitos de formação e desenvolvimento
válido e regular, através da sua subordinação aos pressupostos pro-
cessuais, que têm por escopo assegurar a marcha ordenada do pro-
cesso em direção ao seu fim, com o pleno respeito de todas as garan-
tias fundamentais do processo, como o contraditório, a ampla defe-
sa, a imparcialidade do juiz, entre outras.
Nesse sentido, a ação é direito tanto do autor quanto do réu,
pois também este deve ter plenamente assegurados a ampla defesa,
o contraditório, a paridade de armas, o adequado exame de suas ale-
gações e provas etc.Iâ LtssN4aN observava que o ordenamento pro-
cessual reconhece a ambas as partes, independentemente de saber
qual delas sairá vencedora, um igual direito de conteúdo meramente
processlal, autônomo e diverso do direito substancial, que é o direi-
to de serem ouvidas pelo juiz e dele obterem uma decisão conforme
à leit'.
r0 Enrico Tullio Liebman, ob. cit., p. 38; Italo Andolina e Giuseppe Vignera, II ModeLIo
Costitazionale d.el Processo Civile ltaliano, G. Giappichelli, Torino, t988, p. 86.
rr Enrico Tullio Liebman, ob. e loc. cits.
reito nada mais é do que o direito de petição aplicado aos órgãos 1u-
risdicionaisi.
Como observava LIEBMAN8, aaçáo,nesse primeiro sentido' tem
relevância apenas no direito constitucional' mas sua extrema abstra-
çào e ina"terminação a toma inútil do ponro de vista estritamente
processual, porque ela não obriga o juiz, como seu destinatário' a
ã*"r"", o poa"r.¡urisdicional 
'obt" 
t'*u determinada relação de di-
reito material. Eise direito não tem particulares elementos individua-
lirudor"r, nem requisitos que condicionem a sua existência ou o seu
exercício, apresentando-se sempre com o mesmo conteúdo em todos
os casos.
O dever do Estado como destinatá'rro de uma pretensão de
qualquer pessoa é apenas o de respondê-la de acordo com a lei e com
aUsoiuta ìeutralidade, revelando as razões da sua resposta' como
conseqüência dos princípios da legalidade' da impessoalidade e da
fundaåentação dai decisões, inscritos nos artigos 37 e 93-IX da
Constituição.
\.2. A,çáo de Direito Material
'l{t* 
,"gundo sentido, ressurge a açáo como pretensão à tute-
la juúdica do ãireito material (Rechtsschtúzanspruch)' como direito
concreto, como garantia, a também chamada ação de direito mate-
riaLs. Nateoria dos direitos fundamentais, a tutela jurisdicional efe-
tivadodireitomaterialembenefíciodoseutitularéuminstrumento
inOirp"nraueldaprópriaeftcâ,'ciadessedireito'e'portanto'um-direito
[o" int"gru o patãmãnio jurídico de quem possui o direito subjetivo
material.Renasceodogmacivilistadequeatododireitocoffespon-
de uma ação que o urr"grrru (Código Civil, artigo 75)' ou melhor' de
[u" o titt t* O" qrratqo"î direito pod".inuo"ar a sua proteção jurisdi-
cional como um atributo do próprio direito material'
Nesse segundo sentidõ, iaçao integra o direito à jurisdição'
mas não o esgota, porque este é igualmente conferido a quem não é
7 José Frederico Marques, Instituições de Direiro Pfticessual Civil, vol- II, 3'ed'' Fo¡ense'
Rio de Janeiro ' 1966, p' 27:Luigi Paolo Comoglio' La Garanzia 
Costituz'ionale
dell'Azione ed il Processio CiviLe, Cedam' Padova' 1970' p' 53'
s Enrico Tullio Liebman, i'L'Arion" nella Teoria del Processo Civlle", Probletni di Dititto
Processuale Civile, Motato, Napoli, i962' p' 4i '
e V. sobre a ação de dit-eito nzarcì-ial José Ma¡ia Rosa Tesheiner, Eflcdcia da Sentença e
Coisa Julgaáa no Processo Civil, RT, São Paulo' 2001' p' 13i'
12 A Teonl¡ oe Aç¡o ¡ro PRocesso Ctvtt-
LeoNeRoo Gneco IJ
é todo aquele que postula em juîzo, que propõe uma demanda, que
pratíca o ato inicial de impulso processual, que exerce os direitos,
deveres e ônus de um processo justo, que se apresenta como titular
desse direito de ação e que, portanto, poderá exigir do Estado o exer-
cício da jurisdição sobre o seu direito ao bem da vida pleiteado. As
condições da açao vão determinar a possibilidade de alcançar esse
resultado.
A ação como direito à jurisdição não se confunde com o di-
reito de petição, porque este é o direito a qualquer resposta, enquan-
to aquela é o direito a uma prestação incidente sobre o mérito, sobre
arclaçáojurídica de direito material. Tampouco se confunde com a
açáo de direito material, porque a esta tem direito apenas quem seja
titular do direito material ao bem da vida pleiteado, enquanto aquela
cabe a quem simplesmente alegue ser titular do direito material,
mesmo que afinal não o seja, porque é o direito à jurisdição sobre o
direito material, tanto em benefício como em prejuízo do autor, que
nasce da afirmação de uma situação fático-jurídica hipoteticamente
agasalhada pelo ordenamento jurídicot5. É direito que o autor com-
partilha com o réu, embora cada um objetive alcançar um resultado
prático diverso.
A açáo, como direito à jurisdição, também encontra funda-
mento constitucional, na guantia da tutela jurisdicional efetiva (ar-
tigo 5", inciso XXXV da Constituição brasileira), porque é através
dela que o titular do direito tem acesso à proteção do seu direito
material, embora nem sempre em conseqüência da sua própria ini-
ciativa.
Como o resultado do exercício da jurisdição pode ser tanto
favorável quanto desfavorável ao postulante originário, pode-se di-
zer que mais do que um meio de tutela de um direito subjetivo, aaçáo
como direito à jurisdição serve ao interesse público de dar a cada um
o que é seu, e assim asseguÍaÍ a convivência pacífica e harmoniosa
dos cidadãos no pleno gozo dos direitos que lhes são conferidos pela
ordem jurídica'6.
r5 Donaldo Armelin, Legitirnidade para agir no Dit"eíto Processual Civil Brasileiro, RT, São
Paulo, i979, p. 35; Italo Andolina e Giuseppe Vignera, ob. cit., p. 275; Alexandre Frei-
tas Câma¡a, ob. cit., pp. 55 e 66.
ró En¡ico Tullio Liebman, ob. cit-, p. 31.
1.4. Ação como Demanda
Háum quarto sentido muito importante para odireito de ação'
o a" uçáo 
"orÅo dr*onda, 
como conjunto de elementos propostos
;"b ffi que delimitam o objeto litigioso' a.res.ín iud.i'!Y!:d:::?
ianto objetiva quanto subjetivamente' Não há jurisdição sem açao'
Cabe ao autor fixar quem são as partes' qual é o pedido- e qual 
é a
causa de pedir, enfim, sobre que questOes-da relação 
jurídica de di-
reito matårial incidirá o provimento jurisdicional'^- 
ó princípio da demanda, ou seja' de que cabe ao autor fixar os
limites objetivos 
" 
,ot¡"tiuot áus q"ãsto"s iobre as quais deverá in-
.i¿i, 
":"titdição, 
¿ fruto do liberalismo políticoi2' que impede-que o
Judiciário intervenha nas relações jurídicas privadas e nas relações
;;" ; próprio gsta¿o e os cidädaos' salvo a requerimento de algum
interessado e nos limites por este propostos' É o princípio da con-
gruência ou da adstriçao Ño¡ sistemas que adotam a tríplice identi-
dadecomoelementosindividualizadoresdaaçáo,taiselementosem
reaiidade identificam a demandar3'^--- 
A própria palavra demanda é freqüentemenfe usadaro-sentr-
do de ató inicial de impulso do processo' tomando-se o contlnente
pelo conteúdora.
1.5. Ação como Direito à Jurisdição
Em quinto t"n,i¿", uC* ê' i d¡reito à prestação jurisdicíonal
sobre o direito material ou, num conceito mais completo, o 
direito
subjetivo público, autônomo e abstrato' de exigir do Estado a pres-
tação jurisdicional ,obt" 
"*a 
demanda de direito material' A exis-
tência da açáo 
"omo 
dir"ito à jurisdição nasce da afirmaçáo de um
direito material qrr" pr""n"fta äs chamadas condições da ação' Não
Ì2 Girolamo Monteleone (Diritto Processuale Ctvile' 2'ed'' Cedam' Padova' 2000' p' 187)
ressalta que quando o ;;;;rpi" aa a91a1a1j suprimido e o processo civil é govemado
por um sistema puUriti"iito-inquisitório similar ao processo 
penal' ou reduzido à catego-
ria de um pro."oi*"ntã-ã" ¡u.iraiçao voiuntária, "essu 
d" existir o Estado livre de direi-
to, substituído p"' 
"* "'¿""o*"nio 
despótico de polícia' Suprimir ou rebaixa¡ o princí-
pio da demanda no p'*""o civil corresponde a suprimir o indivíduo como sujeito de
,, li:;:"r;"","sano e Giova¡ni Ariera, Dit'ítto processuate civile, vol' I, 
2" ed" G' Giappi-
chelli, Torino, 1996, P' 1a5'
Ia Montesano e Arieta, åU' ti'', p' 137; Alexandre Freitas Câmar4 "Teorias 
sobre a Ação:
uma Proposta ¿" s"p"'"c1";''rt 
"¡tio' 
¿' Direito Ptocessual' Lumen Juris' Rio de Janei-
ro,2001, P. 57.
l
A TEonr¡ on AçÃo no Pnocesso Ctvtt-
Leoru¡noo Gneco l5
çáo náo se torne para quem fem razáo um meio de suprimir ou hml-
ør o pleno gozo dos seus direitosis.
Parece-me que aí está delineada a importância do conceito de
açáo no quinto sentido acima exposto (item 1.5), como direito à ju-
risdição sobre uma pretensão de direito material, e, ao mesmo tem-
po, como freio às demandas inviáveis, estabelecendo o necessário
equilíbrio entre o direito de amplo acesso à justiça e a garantia da
eficâciaconcreta dos direitos dos cidadãos. Com base neste concei-
to, que adotarei doravante, parece possível compreender, do ponto de
vista das garantias fundamentais do processo, as diversas questões
submetidas à apreciação do juiz, as diferenças entre pressupostos
processuais, condições de açáo e mérito, ao mesmo tempo em que
permite observar que essas categorias não são tão radicalmente di-
ferentes como pode parecer, havendo entre elas zonas limítrofes em
que a mesma questão pode ser observada como geradora da falta de
um pressuposto processual e também de uma condição da ação, ou
relativa a uma destas e também ao mérito.
O processo é o meio, o instrumento de exercício da jurisdição.
Como qualquer funcionário público no exercício das suas funções,
ojuiz deve velar pela validade e regularidade do processo desde a sua
formação até o final, porque delas vai resultar a legalidade ou vali-
dade da própria atividade-fim, que é o exercício da jurisdição.
Há, portanto, uma prioridade lógica e, também normalmente,
uma anlerioridade cronológica no exame dos pressupostos proces-
suais, antes das condições da ação e do méritore. Como pressupos-
i3 Em sentido contriírio, Luigi Paolo Comoglio (ob. cit., p. 47L)" pæa quem, se o di¡eito de
ação tem suporte na Constituição, no plano processual não se reveia nenhuma necessida-
de resilual de recorrer à figura dogmática da ação como algo autônomo e tecnicarnente
distinto do poder de propor em juízo a demanda. E mais adiante, o mesmo autor (p. 489)
diz que, onde existam, como existem na ltália, garantìas individuais que assegurem aos
particulares o acesso àrs cortes, ou o direìto incondicionado de provocar os órgãos juris-
dicionais, não há mais sentido algum em postular e defender a autonomia da ação (ou,
ainda mais, das ações tipificadas pela tradição civilística). Os únicos problemas que no
processo mantêm uma relevância fundamental são os relativos à efetividade e à dutilida-
de va¡iável das formas de tutela (ou, se se prefere, dos tipos de remédiosjurisdicionais),
que podem ser concedidos, a pedido, pelo juiz provocado. No mesmo sentido, o mesmo
Comoglio (lz Luigi Paolo Comoglio, Conado Ferri e Michele Ta¡uffo, Leziotti sul Pro-
cesso Civile,2" ed., Il Mulino, Bologna, i998, p. 235).
'e V. José Ca¡1os Ba¡bosa Moreira, "Aspectos da 'Extinção do Processo' conforme o rut'.329
do CPC", Revista de Processo, n" 57, ano 15, RT, São Pau1o, janeiro-março de 1990, p.
203.
14
1..6. Importância Atual do Conceito de Ação
Também de açlo falamos, mas já em sentido impróprio' 
como
procedimento, rito 
"" 
á"t"t-*ada postulação fundada na classifica-
;;;;" ;g"m dos elementos da demanda: ações.reais' 
uç:-":^p:tt"t-
sórias, ações inibitO'i"' 
"t"' 
Essa é uma forrna absoluømente inade-
quada de compree"d"' o direito de ação' Seja qual for 
o conceito
adotado, em nenhum deles o rito processual 
ou a espécie de bem ou
a naïrrez^do direitoî'uitao påra atribuir ou retirar o 
direito de
açáot1 ' 
ainda mais' de teorias que
Essa multiplicidade de concertos e'
os sustentam podem gerar afalsa impressão de 
que seja inútii defi-
nir um conceito a" 
"fro ou 
tentar encontrar Ùma tazáo de ser para a
ação, que não seja uma simples conseqüência do 
direito subjetivo à
tuteladodireito'n*'iutoudodireitoaoprocessojustoegarantís-
tico. 
ocorre que o processo civil ainda não foi capazde 
pacificar
as incontáv"is opiniåes divergentes em torno 
da extensão do direito
à jurisdição, mais amplo ou mais restrito em funçáo do 
rol e do con-
teúdo dos pr"rrupo'ïãs processuait :. d3t condições 
da açáo'
Se o direito ã" u"""o à jurisdição fosse um direito subjetivo
absoluto, náo deveria sofrer qrrulq.t"r limitação 
à guila de pressupos-
tos processuais ou 
"ãnaiçO"s 
da åção Se' ao contrário' fosse apenas
um poder ¿" ¿"r"r.uå"ur rr*u atividade estatal no 
interesse público'
a lei poderia impor-lhe díscricionariamente limitações' 
Mas se ele é
um direito fundamental de um cidadão a que 
se contrapõe o direito
igualmente ft ,t¿u'n""tul do adversário de não 
ser molestado por um
processo inviável, fo'q"9 isto reduz 9u dificulta o 
pleno gozo do seu
direito materiar, qo" o Estado de Direito se comprometeu 
a tornar
efetivo, entáo é p'""i* O"f*ir com clarezaas limitações a esse 
di-
reito impostas pela necessidade de conciliá-lo 
com os direitos fun-
damentais do seu adversário' de tal modo 
que' sem cercear o amplo
acesso à Justiça em benefício daquele que afirma 
ser' tituiar de uma
situação ¡,rriAi"u*"nt" f'o"glau 
-" 
du pa' social' o direito à jurisdi-
r? Enrico Tuliio Liebman, ob. cit', p' 36; Luigi Paolo 
Comogiio' "Note Riepiiogative su
Azione e Forme di iîä", r"if'ónica della po*-Ju Giudiilatg" 
Rivista di Dit'irto Pro-
,"srro|' Cedam' Padova' 1993' P' 472"
to A Teontn on ¡¡o PRocesso 
Ctvlt-
tosde vaiidade e regularidade da relação processuai (urisdição' com-
netência e imparcialiãu¿" ¿o juiz' cápacidade das partes' inexistên-
ä;;il;-irip"ái,*"s e subtrdinação do procedimento às normas
legais), af.altade qualquer deles acarretaráã nulidade ou irregulari-
ãd" á; ;t""".ro. No iaso d" nulidade' se o vício for insanável ou
ficar insanado, o processo deverá ser extinto ou anulado' 
e' em con-
seqüência,ojuiznao"t'"ga'aaapreciaraexistênciadodireitoàju-
risdição, o direito de ação-, nem muito menos se esta poderá 
resultar
*r.tlutgu*"nto favorável ou desfavorável ao autor' 
-^:
Ultrapassados positivamente os pressupostos processu¿is' 
de-
verá o juiz apreciar se o autor tem ou não o direito de exigir do Esta-
d;;;;;""i*"n,o.¡*isai"ionut sobre o direito material' ou seja' se
ele se apres"rrru 
"orrio 't*l; do direito de 
açáo' isto é' titular do di-
reito à jurisdição. Esse exame o juiz procederá através da verifica-
ã;l; ¿"""orren"i u ã^ "nu*u¿ut "ondiçõ"t da açáo, para 
depois se
debruçar sobre o mérito'
Capítulo II - Condições da Ação
2.1. O que são as Condições da Ação
Na doutrina italiana e em todos os sistemas processuais que
sofreram a sua influência, fala-se de condições da ação, embora em
sentidos bastante diversos. No Direito alemão, essas condiÇões são
tratadas como pressupostos processuais relativos ao objeto litigioso2o.
Para os concretistas, que subordinam a existência do direito de
açáo à própria existência do direito material através dela pleiteado,
elas são condições do acolhimento da demanda, que devem verificar-
se no momento da decisão, distinguindo-se dos pressupostos proces-
suais, que independem do conteúdo futuro da sentença, devendo con-
coffer desde o início do processo2l. CuIove¡loe delas trata como "con-
dições gerais da sentença positiva de acolhimento"22.
Já, para a maioria dos abstratistas, que reconhecem a existên-
cia do direito de ação independentemente da existência do direito
material, elas são condições da existência da açáo como direito à
prestação jurisdicional sobre o direito material23. Entre estes, há os
que preferem considerá-las condições do exercício e não da existên-
cia do direito de açáo2a, como K¡zuo WereNese, que as entende "con-
dições da açáo exercida, cuja carência não afeta o direito subjetivo
público de ação"25. Estes últimos, seguramente, tentam por essa via
:0 StefanL¿ible,ProcesoCivilAlenuín,BibliotecaJurídicaDike,Medellín,Colômbia, 1999'
p. 160.
21 Cirolam¡ Monteleone, ob- cit., p. 174.
22 Giuseppe Chiovenda, Prin cipii di Dírítto Processuale Civile, 3 ed., Jovene' Napoli, i923,
pp. 149 e ss. No mesmo sentido, Marco Tullio Zanzucchi, Diritto Processuale Civile, vol.
I, 6" ed., 1964, Giuffrè, Milano, p. 67; Sålvatore Satta e Carmine Punzi, Di¡"itto Proces-
suak Civile,12" ed., Cedam, Padova, 1996, p. 161.
?3 José Frederico Marques, ob. cit., p. 38; Enrico Tullio Liebman, Manuale di Dit'îtto Pro-
cessuale Civile, vol.I, 4" ed., Giuffrè, Milano, 1980, p. 135; J. E- Carreira Alvim, EIe'
nxentos de Teoria Geral do Processo, T' ed., Forense, Rio de Janeiro, 1991 
' 
p. 120; Cri-
santo Mandrioli. Diritto Processuale Ci,-ile, vol- I, i3'ed-, G- Giappichelli, Torino, 2000,
p.49.
:{ Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamar-
co, Teoria Geral do Processo, 12' ed., Malheiros, São Paulo, 1996' p.259-
25 Kazuo Watanabe, Da Cogniçao no Processo Cívil, 2'ed., Bookseller, Campinas' 2000'
p. 77. No mesmo sentido, José Ca¡ios Ba¡bosa Moreira as denomina requisitos do regu'
lar exer¿icio da ação. (o Novo Processo civil Brasileiro, i9" ed., Forense, Rio de Janei-
ro, 1998, p.24)
j
'{
18 A Teon¡n oa AçÁo NO PROCESSO CIVIL
LeoNeRoo Gneco 19
Distinguem-se dos pressupostos processuais porque estes são
requisitas de validade e regularidade do processo, ou seja, requisitos
darelaçáojurídico-processual através da qual será exercida ajuris-
díçáo.
Os pressupostos dizem respeito ao processo como um todo ou
a determinados atos em particular. As condições da ação não dizem
respeito à validade do meio, mas à possibilidade de atingir o f,tm do
processo, que é o exercício dajurisdição.
Entretanto, embora me pareça claraa distinção, há casos em
que o legislador erige a requisitos de validade do processo fatos que,
ao mesmo tempo, excluem o direito ao exercício dajurisdição, como
a litispendência ou a coisa julgada. DoNet po ARvsLn¡ observa3r que
há uma zonacinzenta entre as condições da ação e os chamados pres-
supostos processuais negativos (litispendência, coisa julgada, pe-
rempção e prejudicialidade temporâna).
Nessas hipóteses, tenho entendido que o juiz deve decidir a
questão e título de falta de pressupostos processuais, pela prioridade
lógicaque possuem estes em relação às condições da ação. Todo ór-
gão público, antes de exercer a sua atividade-fim, deve controlar a
legalidade e a validade da sua própria aîtaçáo, do meio de exercício
daquela atividade. Assim, é por falta do pressuposto processual ob-
jetivo da inexistência de fatos impeditivos que o juiz extinguirá o
processo na ocorrência de coisajulgada, e não pela falta da condição
da açáo do interesse de agir, embora também ocoffa esse defeito'
As condições da ação não levam a um julgamento de mérito,
porque delas não resulta qualquer pronunciamento conclusivo sobre
a existência do direito material, mas apenas a constatação da viabi-
lidade, da admissibilidade, da possibilidade desse julgamento. O
mérito da causa é o conjunto de questões de direito material que o
juiz deve apreciar conclusivamente para acolher ou rejeitar o pedido
ou para proferir um pronunciamento que produza efeitos de direito
material. É verdade que, ao examinar as condições da ação, o juiz está
examinando questões de direito material, mas de um direito material
apenas afirmado ou hipoteticamente possível, sem nenhuma conclu-
são definitiva sobre a sua procedência, sem a produção de qualquer
eficácia no plano do direito material e, conseqüentemente, sem a for-
conciliar a ação como direito cívico, cuja existência é totalmente
incondiciona.da,comaaçõocomodireitoàjurisdição.-
Tambémmajoritariamente,osabstratistasconsideramascon-
dições daaçáocomo freliminares estranhT u? mérito Aa c,1111,cuja
falta acaneta a carência da ação e a extrnção do processo sem 
julga-
mento do mérito e, conseqüentemente, sem formação da coisa 
julga-
da material26.
Entretanto, outros as incluem no mérito' Assim' para Cotuto-
GLtoil,as condições àa açao são requisitos intrínsecos da demanda'
"ãnaiçO"t 
de aámissibiiiäade da demanda' condições de concessão
datutela. São mérito em sentido lato, podendofazet coisa 
julgada'
Se faltam no momento 
"1.n 
qt'" a demanda é proposta' podem vali-
damente surgir no curso do processo' devendo subsistir pelo menos
no momenro da sentença. sáo condições de admissibilidade da 
pro-
núnciasobreorn¿ntoemsentidoestrito2s'ETesHetNenasconsidera
ã f*""tu do mérito imune à coisa julgada2e'
Para MennoNl e AReNsARr, a sentença que afirma a improprie-
dade da via escolhida pelo autor impede a propositura da mesma 
ação
", 
p"t,*r", faz coisalulgada, permitindò que 9^ autor volte a iúzo
.o*"nr" no caso deuítbiagãro d" u*u nova via30'
Penso que as *naiçO"t daaçáo são requisitos-da existência do
direito ao exercício da função juriidicionat sobre determinada pre-
tensão de direito material' Sem elas, as partes não devem ter direito
à jurisdição, a um provimento jurisdicional que possa vir a assenho-
reá-las do bem ¿u uulu postulädo' À sua fa\ta' a movimentação da
máquinajud tciâtiaseriaãbusiva e ilícita' pois são 9fa¡ gue justificam
efundamentamanecessidadedaintervençãojudicialnasrelações
ilãi;;; entre particulares ou entre estes e o Estado'
]óEnricoTuilioLiebman,..L,AzionenellaTeoriadelProcessoCivile',,ProblenlidiDil.ittoprocessuale c¡v¡te, w.orlano,Ñopoli, 1962, p-46; Donaldo Armelin' ob' cit'' p' 46; Al-
fredo Buzaid, A eçao ú'n':otaria no Direito Brasileiro' 2" ed'' Saraiva' São Paulo' 
1986;
p.269;ArrudaAlvim'ManualdeDireítoProcessualCivil'vol'i'5"ed''RT'SãoPaulo'
iSSO, pp, 3631365; Crisanto Ma¡drioii' ob' cit'' p' 58'
?7 Luigi paolo comoglio,'ð'"."J" r"- e Michele Taruffo, Lezioni sul Processo 
CiviLe' 2"
ed., 11 Mulino, Bologna, 1998, P' 244'
?8 Ob. cit., P- 245.
?e José Ma¡ia Rosa Tesheiner, ob' cit'' p' 32'
30 LuizGuilherme vr-r*"i 
" 
sérgio c'ruz Arenha¡t, Manual do Processo de conhecinen-
¡o, RT, São Paulo,2001, P' 49'
3r Ob. cit., pp. 4I/42.
A Teontn or AçÃo
33 Ob. e loc. cits.ia Kazuo Watanabe" ob. cit', P' 80'
15 Ob. cit., pp. 46147.
NO PROCESSO CIVIL
LeoruaRoo GREco 21
princípios de técnica e economia processuais, para impedir que pro-
ó"ssos se formem e se prolonguem sem qualquer possibilidade de
êxito, com manifesto prejuízo para todos, partes e órgãos jurisdicio-
nais.
Tâmbém em razões éticas e econômicas se louva CÂNolno DI-
NAMARco36, ressaltando que a tendência à universalização da tutela
jurisdicional é contida pela conveniência legítima de impedir a for-
maçáo de processos sem a mínima condição de produzir algum re-
sultado útil ou, desde logo, predestinados a resultados que contraria-
riam regras fundamentais da Constituição e das leis. Ao adversário
não seria legítimo, dos pontos de vista ético e econômico, impor vín-
culos jurídicos, despesas e constrangimentos, quando a tutela pleitea-
da pelo autor se afigura de antemão inalcançável'
Igualmente MoNreno ARocn3T sustenta a inadmissibilidade de
demandas absurdas, quando é evidente a inexistência do direito ale-
gado, como pedir que o Chefe do Governo cumpra as promessas da
campanha eleitoral.
Creio que a necessidade das condições da ação resulta, destar-
te, das garantias fundamentais do Estado de Direito, que se impõe o
dever de assegurar aeficâciaconcreta dos direitos dos cidadãos. Essa
eficâcia estará completamente comprometida se o titular do direito
puder ser molestado, sem qualquer limite, no seu pleno gozo, por
ações temerárias ou manifestamente infundadas contra ele propostas.
Essa necessidade transparece com mais vigor, se se considera que na
sociedade moderna existem relações de força, e que a litigiosidade
de muitos direitos e a sua perpetuação, decorrente da morosidade da
justiça, certamente favorecem aqueles sujeitos de direito que têm
mais condições de suportá-las, impondo aos mais fracos a subordi-
nação à sua vontade ou a aceitaçáo de acordos iníquos, sob pena de
nunca gÐzarem em plenitude desses direitos.
O abstratismo extremado leva ao fenômeno da autolegitima-
ção, ou seja, de aaçáo transformar-se num direito conferido não pelo
ordenamento jurídico, mas pelo próprio acionante. Basta que ele se
afirme tinrlar de uma situação jurídica protegida pelo direito, para que
tenha a iaculdade de tornar o direito alheio litigioso.
ró Cândido Rangel Dinamarco, Ittstítuições de Direito ProcessuaL Civil, vol. II, Malheiros,
São Paulo, 2001. p. 295.
r7 Juan Montero Aroc4 Los Príncipíos PoLíticos de Ia Nue,-a Ley de Enjuiciamiento Ci,-iL,
Ti¡a¡rt lo Blanch, Valenciu 2001, p. 99.
tn
maçáoda coisa julgada. Se a questão de direito material exigir uma
"åg*Cã" 
prorunaa 
" 
definitivamente conclusiva' então o jurz tetát
ultrapassado o plano do exame da concorrência de simples condições
;;-ör;,p*a fãrmuta¡ um juízo de mérito' com a força da coisa jul-
;;ü t; 
.fo, 
o 
"uro. 
se a questão de. direito material tiver de ser re-
solvida através de uma cágnição, ainda que sumá¡ia e incompleta'
;*; g";* efeitos de direiio material' -"t*o sem a autoridade 
da
coisa julgada, como nu io'"tu da urgência' cautelar ou antecipatória'
também de mérito ,"iã u decisão ¡uãiciat' Quando o objeto da 
juris-
dição é uma pretensão exclusivamente processual' como 
em muitas
medidascautelares,oméritodacausaéodireitoàmedidapleiteada'
2.Z.TêmAlguma Utilidade as Condições daAção' ,- ^^
A meio caminho entre os pressupostos processuals e as ques-
tões de mérito, será que a teoria processual náo pode prescindir 
de
instituto tão fluido e impreciso como as condições da ação? Será 
que
os alemães não estão 
"o* 
u razáo deincluí-las entre os pressupostos
pio""rrouir? Ou será que em alguns casos não deveriam elas ser tra-
tadas como questoes å" *etitolara todos os efeitos' inclusive o de
formação daioisa jul gada matenal?
JosÉ IcNÁcIo g;"'"o oe Mesqutra32 argumenta que' se o fato
de o autor poder movimentar a máquina judicial' me-smo sem ter o
ãlr"iro matårial afirmado na inicial' é suficiente para demonstrar 
que
;;çã"r,ao d"pende 'da existência desse direito' o fato de 
o autor po-
dermovimentaramesmíssimamáquina,semserpartetregítima'se-
ria suficiente para demonstrar que a ação independe também 
das
chamadas condições da açáo'
M.A,RtNoNt e Anexn¡'nr entendem33 que não.deY"t1?1 exlstr
condições Oa açao. Ñ"sse caso' o Código não precisaria distinguir a
;;;";ç" ¿e car-cnciã da açáo daquela que jutga o pedido procedente
ou improced:t'"' 
-,, --.--i4 ^^ ^^-,{; -emba-Para K¡zuo Wet'qN¡'se3a, as condições da ação se lmpo
sicamente por razões de economia processual' E DoNal-po 
ARur'l-tN
sustenta35 ç" u, condições daaçáo se justificam com fundamento em
32 José Ignácio Botelho de Mesquita, Da Açao cjvil' RT' são Paulo' 1915' p' 44-
22 A Teonrn on AÇÃo ¡to PRocrsso Clvtr
Examinando isoladamente a garantia do mais amplo acesso à
tutela jurisdicional, autores conceituados, como Ir¿¿o ANnoLINA e
Grussppe VlcNeR¿ naltâIia, ou Ju¿,N Mol¡reRo Anoce na Espanha,
consideram incompatíveis corn o ordenamento constitucional as nor-
mas que subordinem a admissibilidade de uma certa demanda judi-
cial a uma prévia delibação da sua não manifestafalta de consistên-
cia3s, ou de a pretensão ter ou não possibilidade de êxito3e-
O direito fundamental de acesso à tutela jurisdicional por parte
do autor encontra limite, entretanto, no direito igualmente fundamen-
tal do réu de exigir do Estado que the assegure o pleno gozo do seu
direito e, conseqüentemente, de não ser molestado por uma deman-
da manifestamente infundada, cabendo às condições da ação o papel
de fiel da balança entre esses dois direitos igualmente relevantes.
Num ou noutro caso, de um dos lados da balança pode estar
em jogo um direito que tenha indiscutivelmente maior relevância, ou
um sujeito que mereça do Estado especial proteção, como um inca-
paz, cabendo ao direito processual, através das condições da ação,
tornar mais ou menos exigente, conforme o caso, a sua postulação ou
a sua defesa, ficando sempre sujeita a escolha do legislador ou do
próprio juiz ao controle da adeqtaçáo desse juízo de proporcionali-
dade pelas instâncias recursais ou de controle de constitucionalida-
de.
O que não é possível, e aí me parece que ANool-t¡¡e e VtcrueRe
têm absolutarazão, é generalizar a subordinação de qualquer deman-
da a um prévio juîzo de acentuada probabilidade do seu acolhimen-
to, como remédio para descongestionar a atividade dos juízes de
mérito4o.
Não resta dúvida, entretanto, de que a ampliação ou restrição
do campo de aplicação das condições da açáo poderá restringir ou
ampliar o dos juízos de mérito, o que terá reflexos inevitáveis sobre
a coisa julgada e a possibilidade de reiteração de demandas.
3e Infondatezza é a palavra empregada por Andolina e Vigner4 in Il ModeLIo Costituziona-
Ie del Processo Civile ltaliano, G. Giappichelli, Torino, 1988, p- 87-
3e Juan Montero Aroca, ob. cit., pp. 98/99, apesar de categórico, admite esse juízo de ad-
missibilidade em casos excepcionais, como os de pedido de cumprimento da promessa
de matrimônio ou da cobrança de dívida dejogo, vedados pela lei, bem assim nos de de-
mandas absurdas, como no exemplodas promessas eleitorais.
ro Ob. e loc. cits.
Leo¡.¡¡Roo Gneco a2
2.3. Aferição das Condições da Ãçã.o ín Statu Assertionis
A concorrência das condições da ação é umjuízo de fundada
possibilidade de que o autor veja acolhida a sua pretensão de tutela
do direito material alegado, juízo esse formado através do exame da
relaçáo jurídica de direito material.
A possibilidade de acolhimento é aferida a pafiir dos fatos afir-
mados pelo autor, in statu assertionis, porque se desses fatos catego-
ricamente não puder vir a resultar o acolhimento do pedido, o autor
deverá serjulgado carecedor daaçáo, não tendo ele direito ao exer-
cício dajurisdição sobre o caso concreto.
Já expliqueì que esse juízo náo é um juízo de mérito. É um
juízo sobre questões de direito material, mas não de mérito, que par-
te da situação fâtica concreta relatada pelo autor para fundamentar a
sua pretensãoar e do qual decorre, em caso positivo, amera admissi-
bilidade do julgamento do direito material.
MecHeoo GuruenÃesa2, citando LtEettaeN, acentuava que a
existência do interesse e da legitimação deveria ser resolvida admi-
tindo-se, provisória e hipoteticamente, que as afirmações do autor
fossem verdadeiras. Tornando-se a questão controvertida, seria ne-
cessário proceder à instrução, passando o problema a ser matéria
de mérito.
Mnnozuolfs também ressalta que a demanda deve apresentar-
se com acolhibilidade hipotética, cabendo ao autor afirmar que existe
um direito que necessita de tutela.
DoNer-noAnlreuNa lecionaque as condições da ação esgarçam
a sua abstratividade, vinculando-a a certa realidade fático-jurídica
resultan:e da afirmaçáo constante da inicial.
E K,czuo WetR¡¡nseas vincula o exame das condições da ação
à situação fático-jurídica descrita pelo autor, com abstração das pos-
sibilidades que, no juízo de mérito, terá o julgador de enfrentar. Elas
conduzem a uma técnica de julgamento antecipado, imposta por ra-
zões de economia processual.
ar José Frederico Marques, ob. cit., p. 39.
a2 Luiz Machado Guimarães, "Ca¡ência de Ação", Estudos de Direito Processual Civil, Ju-
rídica e Universitíria, Rio de Janeiro, 1969,p.107.4i Ob. cit., p. 47.
* Ob. cit., p.35; ibidem, p. 1Q0.
a5 Ob. cit.. pp. 80 e 96.
tl A Teonn oa AçÃo no PnocEsso CIvtt- LEorueRoo GReco 25
O juiz deve vigiar a existência das condições desde o despa-
cho da petição inicial (art.295), para não sujeitar o réu a um proces-
so injusto. Mas não há nulidade na formação e no desenvolvimento
do processo sem que concolTam essas condições. Haverá apenas nu-
lidade da sentença de mérito, porque sem as condições da ação o
autor não tem direito à jurisdição sobre o direito material.
No momento da entrega da prestação jurisdicional, que no pro-
cesso de conhecimento é a sentença, no de execução é a satisfação
do credor e no cautelar é normalmente o do deferimento da medida,
necessariamente devem concorrer as condições da ação. Se elas se
verificaram depois do ajuizamento da demanda, mas existem no
momento da entrega da prestação jurisdicional, o juiz deve exercer
a jurisdição sobre o direito material. Se elas existiam no momento do
ajtizamento, mas desapareceram antes do exercício da jurisdição,
como, por exemplo, se ocorrer um fato extintivo superveniente, o juiz
deve decretar o autor carecedor da ação. Nesse caso, segundo JosÉ
RocÉruo Cnuz e Tuccl, a sucumbência deve ser imposta ao réu, que
deu causa ao processoae. No processo de execução, se o fato extinti-
vo for o pagamento ou a renúncia ao direito por parte do autor, o pro-
cesso extinguir-se-á normalmente com a satisfação do credor, inde-
pendentemente de sentença. Se for algum outro fato, extinguir-se-á
o processo sem julgamento do mérito, recaindo sobre o réu os encar-
gos da sucumbência.
2.4. Teorias Concretas e Teorias Abstratas daAção
Cer-en¡euonEl, no seu célebre estudo sobre a relatividade do
conceito de ação50, ressalta que, desde as primeiras polêmicas sobre
o problema da açáo, travadas pelos juristas alemães no século XIX,
sempre osteve em jogo uma questão política envolvendo as diversas
concepções das relações entre o cidadão e o Estado, e que nenhuma
das diversas teorias propostas pode ser considerada absolutamente
verdadeira, nem absolutamente falsa5t.
ae José Rogério Cruz e Tucci, A Causa Petendi no Processo Ci,"il, 2^ ed., RT, São Paulo,
2001, pp. 179.
50 Piero Calamandrei, "Relatività del Concetto d'Azione", Opere Giuridicå¿, vol. 1", Mo-
rano, Napoii, i965, pp. 426 e ss.5' Luigi lrfontesano e Giovanni Arieta (ob. cit., p. 136) entendem que no ordenamentojuú-
dico iteliano atual coexistem normas que pressupõem a ação em sentido abstrato e em
sentido concreto.
Discordam da teoria da asserção os concretistas, porque o di-
reito à sentença favorável náo resulta apenas da afirmação do autor'
mas do acoihimento final do pedido. O processo, não a ação' é que
pode levar a uma sentença de qualquer conteúdo, de acolhimento ou
ãe rejeição, ou até de exiinção s"m¡olgam"nto do méritoa6'
Mas mesmo entre os ãbsffatistas há os que rejeitam a teoria da
asserção, como GÂNOTDO DTNAMARCO4T e JosÉ M¡nle TESHEINERaS, res-
salvando este último apenas a hipótese de legitimação ordinária, que
decorreria apenas da afirmação do autor'
Se as condições da açáo fossem totalmente estranhas ao direito
material, poderia å¿-itit-rá a opinião destes últimos. Mas a sua afe-
iiçao 
"* 
þace de determinados fatos originadores do próprio direito
mæerial postulado, como ocoffe indiscutivelmente com a possibili-
dade juríãica e com a legitimação ordinária ou extraordinária, leva-
ria ao absurdo de, após eiaustiva instrução e cognição a respeito des-
ses fatos, resultar o processo numa frustrante sentença de carência de
ação, sem coisa julgada.
Entretanto,asimplesasserçãonãopodeserconsideradasufi-
ciente para conferir ao äutor o dirãito de ação, sob pena de autolegi-
timaçãä. A afirmação de situação fático-jurídica apta hipoteticamente
ao acolhimento do pedido formulado deve estar acompanhada de um
mínimo de verossiirilhança e de provas cap)azes de evidenciar a pos-
sibilidade concreta desse acolhimento e de que a iniciativa do autor
não submete o réu a um ônus de plano manifestamente abusivo de
defender-se de uma demanda inviável.
As condições da ação se aferem apartk da asserção' pois são
um juízo de mera possibilidade de acolhimento do pedido, concre-
ãmãnte fundamentada na logicidade da verdade relatada e das suas
conseqtiências jurídicas e na sua sustentação em provas' ainda que
mínimäs. ou seja, não basta a simples asserção. se esta for.ab.surda
ou vier desacompanhada de qualquer indício da sua verossimilhan-
ça, deverá o autor ser julgado carecedor-daaçáo,pannáo submeter
å réu ao ilegal constrangìmento de ter de defender-se e de perder o
pleno gozo ão r"o direito decorrente da litigiosidade, sem uma cau-
salidaãe adequada. E não haverâcoisa julgada. Volte o autor, se qui-
ser, com outra postulação satisfatoriamente fundamentada'
a6 Girolamo Monteleone, ob- cit-, p- 174'
a7 Ob. cit., p. 313.
*8 Ob. cit., pP. 19 e 29.
zo A TEonrn DA AçÃo ¡to PRocesso Ctvtt-
Concretista como era conhecido, o mestre de Florença via no
direito abstrato de agir a expressão típica de uma concepção autori-
târia dajustiça civil, que busca no processo apenas arealizaçáo de
um fim público e que afasta radicalmente qualquer relação entre a
açáo e o direito substancial52.
Para Colr¿ocllo53, na sua evolução histórica, a utilidade e a re-
levância dogmática do conceito de ação vão se reduzindo cada vez
mais. O conceito abstrato é muito genérico; para assegurar uma tu-
tela plena a quem a merece deve permitir também a quem não a me-
Íece a faculdade de demandá-la em juízo. O concreto é trrazoâvel e
insuficiente, pois tem como conseqüência afirmar a posteriori atle-
gitimidade da iniciativa do autor, todavezemque a sua demanda não
for acolhidasa. No processo vivo podem ser vistas ocasionalmente
quase todas as concepções de açáo, o que ressalta a sua relatividade.
O importante é que o ordenamento jurídico acolha as garantias cons-
tirucionais do processo justo.
Mas é o próprio C¡lnlreNoREI que aponta a função ptáttrca da
ação no direito positivo: delimitar o exercício da jurisdição. A ação
é "o poder de preparar parao juiz a matéria e o programa do seu pro-
vimento"55, porque a onipotência do Estado não pode destruir a ne-
cessidade lógica e psicológica de conferir a dois órgãos diversos a
proposição de um problema e a sua solução- O juiz não é posto em
contato com a lide, mas com a ação, ou seja, o jtljznáo equaciona a
relação social in natura, mas examina apenas se merece ser acolhi-
da, em relação a uma fatispécie previamente enquadrada pelo agen-
5'? ob. cit., p. 440.
5r Luigi paolo Comoglio, "Note Riepilogative su Azione e Forme di Tutela, nell'Ottica de-
lla Domanda Giudiziale", Ri,-ista di Dirixo Processuale, cedarn, Padova, 1993, pp. a65
e ss.; Luigi Paolo comoglio, corrado Ferri e Michele Taruffo, Leziotti sul Processo cï
vile,2^ ed.,Il Mulino, Bologn4 1998, pp- 227/235.
5a Liebman (''L'Azione nella Teoria del Processo Civlle", Problemi di Dirixo Processuale
civile, Morano, Napoli, 1962, p. 5l) já havia acentuado que, ao algumento dos concre-
tistas de que é absurda a figura de um direito de não ter razão, que decorreria da teoria
abstrata, corresponde a não menos absurda de um direito aref rîzáo. Na verdade, para
Chiovenda, se o auto¡ não tinha razão, o fato de ter agido teria feito nascer o di¡eito de
açãO do réu, tendente a um resultado favOrável a este, como conseqüência do acertamen-
tó negativo do direito pretendido pelo autor. (Giuseppe Chiovenda, "Rappono Giurìdico
Proceìsuale e Litispendenza 
" 
R it¡ista dí Dirbto Processuale Civile, Cedam, Padova, i 93 i,
recordado por Aiberto Scerbo, ob. cit.' p. 132)
s5 Ob. cit., p.432.
Leorunnoo GnEco 27
te em determinado esquema jurídico, a proposta de provimento que
por este the é apresentada.
As teorias abstratas tiveram o mérito de desvincular o direito
de ação da existência do direito material, determinando que as con-
dições da açáo, na qualidade de pressupostos da ação como direito à
jurisdição, fossem examinadas através de uma cognição superficial,
num juízo a priori do julgamento do direito material. Qualquer in-
dagação mais profunda sobre a existência dessas condições poderia
vir a constituir um obstáculo ilegítimo ao acesso à tutela jurisdicio-
nal sobre o próprio direito material, constitucionalmente assegurado.
Mas os concretistas criticam nas teorias abstratas a autolegi-
timação que decorre da verificação das condições da açáo in statu
assertionis56. O direito de ação nasce das próprias afirmações do au-
tor, ainda que totalmente inverídicas ou até absurdas.
MR¡lnRroLrsT, respondendo à crítica de MoNrer-soNr, esclarece
que essa verificação da legitimidade com base apenas na afirmação
do autor se impõe justamente para evitar a confusão entre o momen-
to inicial e o momento final do processo, que subsiste quando se faz
depender a legitimidade de um dado (a titularidade do direito) que
não se percebe no início do processo, momento em que o juiz dispõe
apenas dos termos da sua própria demanda, das suas afirmações. Por
isso, a ação deve ser um direito abstrato, cuja existência não pode
depender da existência do direito material. De outra parte, o direito
de ação não prescinde totalmente do direito material, pois depende
da sua afirmação na demanda.
LrennaeN, em posição às vezes chamada de ecléticas8, leciona
que a ação não é concreta, pois sempre traz em si um elemento de
risco. A sua abstração não pode ser entendida no sentido mais co-
mum. Ela não cabe a qualquer um e não tem conteúdo genérico. Ao
contrário, se refere a uma fatispécie determinada e exatamente indi-
viduada. Ela é condicionada a alguns requisitos que devem verificar-
se caso a caso em via preliminar, comumente de modo implícito:
interesse de agir, legitimação para agir e possibilidade jurídica.
Em verdade, se a ação como direito à jurisdição existe inde-
pendentemente da existência do direito material, ele não é criado pela
56 V. Girolamo Monteleone, ob. cit., pp. 174 e ss.
s7 Crisanto Ma¡drioli, ob. cit., pp. 54 e ss.
58 Liebmar, "L'Azione... ", p. 46.
F
A TEonrn on AçÃo ¡ro PRocesso Ctvrr
vontade unilateral e arbitrárta do autor que se autolegitima e toma a
iniciativa de instaurar o processo, O próprio LteslaeN ressalta que a
açáo é um direito preexistente ao processo5e.
A asserção é necessária, porque o Estado-juiz somente tem o
dever de prestar a jurisdição a quem se afirme titular do direito a obtê-
la. Mas náo é a asserção que cria o direito à jurisdição. Não basta a
asserção. É preciso que objetivamente da situação fática exposta re-
sulte a concorrência das condições da ação que, conforme aponta a
maioria da doutrina, são a possibilidade jurídica, o interesse e a le-
gitimidade.
Na definição dessas condições, é preciso ter sempre em conta
que a qualquer cidadão a Constituição assegura o acesso à jurisdição,
ou seja, que as condições da açáo não podem opor obstáculos inde-
vidos a esse acesso. Por outro lado, também cumpre observar que a
Constituição assegura a todos a eficâcia concreta dos seus direitos
subjetivos (art. 5o, $ 1') e que, assim, o acesso à jurisdição não pode
impedir ou limitar o pleno gozo do direito por quem evidentemente
é o seu titular, a não ser emrazáo de algum motivo justo devidamente
comprovado . A efrcâciaconcreta dos direitos do cidadão exige a sua
proteção contra lides temerárias e contra o abuso do direito de de-
mandar.
As condições da ação são o filtro mínimo por que deve passar
o postulante da tutela jurisdicionalpara assegurar-lhe o mais amplo
acesso a essa tutela, com todas as suas conseqüências, inclusive a
coisa julgada se for o caso, e, ao mesmo tempo, evitar que o adver-
sário seja submetido a um processo manifestamente temerário ou
injusto, que lhe retira ou limita o pleno gozo dos seus direitos e ain-
da pode causar-lhe prejuízos irreparáveis.
2.5. Possibilidade Jurídica
Para os concretistas, como CuIovervoR, a possibilidade jurídi-
ca consiste na existência de uma vontade legal que gaÍanla o bem
pleiteado pelo autor60, condição, portanto, de uma sentença a este
favorável.
5e Liebma¡, "L'Azione...", p. 42.
ó0 Giuseppe Chiovenda, Principii-.., p. I49; Girolamo Monteleone, Compendio dí Dit'itto
Processuale Ci,-iLe, Cedam, Padova, 2001, p.73.
Leoru¡Roo GReco 29
Entre os abstratistas, especialmente os nacionais, há muitas
opiniões divergentes.
. Muitos se referem à possibilidade jurídica como admissibili-
dade em abstrato do provimento pleiteado pelo ordenamento jurídi-
co, comc a vinculá-la apenas à licitude do pedido imediato ou media-
to. Assim, LEsN4eN6r a qualifica como a admissibilidade em abstrato
do provimento requerido, segundo as normas vigentes na ordem ju-
rídica nacional. JosÉ Fnepsnrco Manques62 se refere à providência
admissível pelo direito objetivo. Para Mecnano Gun¿naÃrs63, possi-
bilidade jurídica é a possibilidade para o juiz, na ordem jurídica à
qual pertence, de pronunciar a espécie de decisão pedida pelo autor.
CeRRsrRe ALvn¡6a sustenta que a possibilidade jurídica exige que a
pretensão do autor seja em abstrato amparada pelo ordenamento ju-
rídico, ou seja, que a ordemjurídica não vede expressamente o pro-
vimento pleiteado, e não que a ampare. E An¡ú¡o CINrRe, Aon Gzu-
NovER e CÂNor¡o Dmeu¿.Rco65 consideram juridicamente impossível
o pedido já excluído a priori pelo ordenamento jurídico sem qualquer
consideração das peculiaridades do caso concreto.
Todavia alguns desses autores, com freqüência, ao formularem
exemplos, se referem à cobrança de dívida de jogo66, em queo pedi-
do (pagamento de prestação pecuniária) não é ilícito, sendo ilícito ou
inadmissível a invocação do direito (obrigação natural) como seu
fundamerto (causa de pedir).
Ta|vez por isso outros autores prefiram claramente estender
essa condiçáo daaçáo à licinrde do pedido e da causa de pedir6T ou
de qualquer outro elemento da demanda6s.
ó' Liebma¡, "L'Azione..."', p. 46.
6r Ob. cit., p. 39.
63 Ob. cit., p. 101.
6a Ob. cit., p. i23.
65 Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamar-
co, Teorn Geral do Processo, I 2" ed., Malheiros, São Paulo, 1996, p. 259 .
6ó V. José Frede¡ico Marques, ob. e loc, cìts; Antonio Ca¡los de Araújo Cintra, Ada Pelle-
grini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco, ob. e loc. cits.
ó7 Donaldo Armelin, ob. cit., p. 51 ; Luigì Paolo Como-slio. Corrado Fer¡i e Michele Ta¡uffo,
Lez.ioni sul Processo Civile,2" ed., I1 Mulino, Bologna, 1998, p. 245; Crisanto Mand¡io-
fi" ob. ci|., p.47.
6s Cândido Rangel Dinamarco, htstituições de Di¡"eito ProcessuaL Civil, vol. II, Malheiros,
São Pauio,2001, p.298.
tF!.,
:,,
30 A Teonrn on AçÁo r.lo Pqocesso Crvr-
Quando Llenueru, na 3 ediçáo do seu Manuale, suprimru a
possibilidade jurídica do pedido do rol das condições da ação, hou-
ve os que a consideraram absorvida pelo interesse de agir, quanto à
adequação legal do provimento para satisfazer o interesse material,
como Kezuo WeteNesg6e.
Dox¡r-oo ARIr¡¡I-IN entende que a possibilidade jurídica do pe-
dido ou é, mat&ia de mérito ou pode ser reduzida ao interesse e à le-
gitimidadeiO- Como improcedência prima facie a qru.alifica Ca¡-¡'loN
os PRssosTr.
A primeira questão a resolver é se a ilicitude de algum elemen-
to da demanda deve ser ou não uma condição da açáo, deve figurar
ou não entre as condições da existência do direito de açáo, porque,
dizendo respeito à relação jurídica de direito material, parece que essa
matêriadeva ser decidida no juízo de mérito, ou seja, como uma das
questões que podem conduzir à procedência ou improcedência do
pedido.
Se ojuiz, ao despachar a petição inicial, se convence de que o
pedido não tem amparo no ordenamento jurídico ou o seu fundamen-
to é ilícito, deve ele indeferir a petição inicial, extinguindo o proces-
so sem julgamento do mérito, ou deve julgar improcedente o pedi-
do? Na primeira hipótese, a mesma demanda poderá ser renovada em
outro processo (art. 268). Na segunda, ojuiz não poderá proferir tal
decisão logo no despacho inicial, porque somente a decadência e a
prescrição de direitos não patrimoniais são matérias de mérito que
podem ser apreciadas conclusivamente pelo juiz sem contraditório
prévio (CPC, art. 295-IY).
Se as condições da ação decorrem de um juízo de admissibi-
lidade hipotética, em face das afirmações do autor e dos elementos
de convicção por ele inicialmente apresentados, a manifesta ilicitu-
de da pretensão de direito material deve ser repudiada de plano pelo
lurz náo como questão de mérito, mas como questão preliminar. O
mérito não é apenas o direito material, mas aquele que o juiz está
preparado para solucionar conclusivamente ou com alguma eftcâcía
no plano do direito materiai.
6e V. Kazuo Watanabe, ob. cit., p. 76.
70 Ob. cit., p. 40.
7I José Joaquim Calmon de Passos, Conzenláríos ao Código de Processo Civil, vol. III, Fo-
rense, Rio de Janeiro, 1974, p.204.
Leoru¡Roo GReco 37
Ao despachar a petição inicial, o juiz não estabeleceu o con-
traditório e não facultou ao próprio autor todas as oportunidades para
demonstrar a licitude e a procedência da sua pretensão. Se a ilicitu-
de transparece manifesta, o juiz não deve permitir que se instaure
contra o iéu um processo que se afigura injusto, mas tampouco pode
suprimir desde logo o direito do autor de, em outro processo, atra-
vés de uma postulação formulada com mais consistência, provocar
validamente o exercício da jurisdição sobre aquela mesma pretensão
anteriormente repudiada. Somente nos casos previstos em lei (deca-
dência e prescrição), que se justificam pela simplicidade fático-jurí-
dica, poCe o juiz proferir sentença de mérito sem submeter a causa
ao regular contraditório.
Segunda questão a equacionar é a respeito do campo de abran-
gência da ilicitude que pode ensejar a decretação da carência daaçáo
por impossibilidade jurídica do pedido.
Ap.eú¡o CrNrne, A¡e GnINoven e CÂNnno Dmertenco consta-
tam a existência de uma tendência contemporânea à universalização
da jurisdição, como conseqüência dos movimentos pelo acesso à jus-
tiça, conduzindo a uma redução dos casos de impossibilidade jurídi-
ca do pedido7z.
Com efeito, o direito de ação constitucionalmente assegurado
inclui o direito à prestação jurisdicional sobre o direito material, ou
seja, a um provimento conclusivo sobre o mérito. Se o juiz, a partir
de qualquer juízo de ilicitude da pretensão do autor, puder decretar
a carência daaçáo, ou seja, deixar de prestar ajurisdição, estará aque-
le abusivamente privado desse direito fundamental. E se isso ocor-
rer depois do prazo de resposta do réu, também este estará privado
do mesmo direito a um julgamento conclusivo sobre o mérito73.
Daí decorre que a impossibilidade jurídica do pedido, como
causa de carência daaçáo, deve ficar reservada para casos de extre-
ma gravidade e absoluta clareza da ilicitude da pretensão, ou seja,
apenas para aquelas hipóteses de flagrante ilicitude do próprio pedi-
do, imediato ou mediato.
72 Ob. e loc. cits.
73 Ainda no Brasil não se admite recurso do réu contra a sentença que extingue o processo
sem julgamento do mérito, por suposta falta de sucumbência, apesar de a lei reconhecer
o seu inÞresse no julgamento do mérito (CPC, art. 26'7, S 4").
32 A TEonn oe AÇÁo trlo PRocesso C¡vlt-
Reproduzo aqui o que já escrevi no meu livro sobre o proces-
so de execução7a:
"A possibilidade jurídica é' a conformidade do pedido ao
ordenamento jurídico positivo. Ninguém pode pedir ao júz
o que a lei proíbe. O pedido deve estar em conformidade
com a lei, porque, na partilha constitucional dos poderes do
Estado, ao Judiciário não cabe cnar alei nem julgá-la, mas
antes aplicá-la e observá-la, dando cabal proteção aos in-
teresses por ela acolhidos.
O pedido contrário à lei pretende dojuiz que atue com ex-
cesso de poder, sobrepondo a sentença à lei e invadindo
esfera de competência de outro Poder. O autor não tem di-
reito ao exercício da jurisdição sobre pedido ilícito porque
o juiz não detém poder jurisdicional para realizat ativida-
de vedada pela lei, para se sobrepor à lei.
A possíbitidade jurídíca, como condição da ação, refere-se
apenas ao pedido, imediato ou mediato, não à legalidade da
causa de pedir, mas estende-se, quanto àqueles, também à
impossibilidade material.
A ilicitude da causa de pedir, ou seja, o pedido fundado em
negócio ilícito, não priva o autor do direito de obter o exer-
cício da jurisdição. Se se tratar de ação de conhecimento,
a ilicitude do fundamento jurídico do pedido conduzírâ a
uma sentença de mérito de improcedência, porque o autor
não tem direito ao bemjurídico com base no negócio por
ele invocado, e o juiz não está privado do poder de decla-
rar a inexistência desse direito, porque o ato de vontade do
Estado constante da sentença, que não pode exorbitar dos
limites do poder jurisdicional, se encontra no dispositivo da
decisão, e não na sua fundamentaçáo."
Aliás, com inteira razio leciona CÂNoloo DtNeuencott q.t"
objeto do processo é exclusivamente o pedido formulado pelo de-
mandante. Os fundamentos de fato e de direito têm o objetivo de
construir o raciocínio lógico-jurídico que conduz ao direito afirma-
7a Leonardo Greco, o Processo de Execução, vol- I, Renovar, Rio de Janeiro, T999, pp.
32U322.
75 Cândido Rangel Dinamarc o, Instituições de Dit"eito Processual Civil, vol. II, Malheiros,
São Paulo,200l. P. 184.
Leo¡¡nnooGReco 33
do, mas nenhuma vantagem prâtica recebe o autor ou o réu, em sua
vida externa ao processo, só pelo acolhimento ou rejeição da causa
de pedir.
Carência de ação náo é apenas falta do direito à prestação ju-
risdicional. É também falta de poderjurisdicional. E esse poder o juiz
exerce exclusivamente em relação ao pedido.
A e>;tensão além do pedido dos casos de impossibilidade jurí-
dica, entre outros inconvenientes, tem o de permitir que o juiz dis-
cricionariamente denegue o exercício da jurisdição toda vez em que
tiver opinião jurídica contrátria à pretensão do autor, mesmo que essa
convicção ¡enha resultado de amplo debate e exaustiva cognição. Ora,
a jurisdição é indeclinável.
A luz dessas conclusões, examino as quatro hipóteses de im-
possibilidade jurídica do pedido formuladas por JosÉ Mnzue Tesnel-
NER76, a saber:
1) vedação constitucional de exame do mérito (atos insti-
tucionais);
2) pedido verdadeiramente impossível do ponto de vista ju-
rídico: pedido de prisão por dívida cambial;
3) afirmação da impossibilidade jurídica, para deixar cla-
ro que se admitirá a renovação da açáo: rejeição de pedido
ce despejo por falta de notificação premonitória;
4) rejeiçáo liminar do pedido, por motivo de mérito, sem
que se chegue a citar o réu.
Segundo o autor, nas três últimas hipóteses destaca-se do mé-
rito uma parcela, a que se atribui denominação diferente (carência de
ação) e tratamento jurídico diferenciado (ausência de coisa julgada).
Parece-me que a primeira hipótese está corretamente qualifi-
cada comc de impossibilidade jurídica do pedido, pois o Judiciário,
à época dos governos militares, teve suprimido o poder jurisdicional
de exercer o controle dos atos administrativos do Poder Executivo
praticados com base nos atos institucionais.
Também a segunda hipótese caracteriza a impossibilidade ju-
rídica do pedido. A prisão por dívidas é vedada em nosso ordenamen-
to jurídicc, salvo nas hipóteses excepcionais previstas na própria
Constituição.
76 José Maria Rosa Tesheiner, ob. cit., p. 22.
A Teonre o¡ ruo PRocEsso Crvr
Jâaterceirahipótese não é de impossibilidade jurídica do pe-
dido. O pedido é o despejo, perfeitamente lícito. A notificação pre-
monitória é um pressuposto processual objetivo (inexistência de fa-
tos impeditivos), cuja falta impede a formação de um processo váli-
do. O processo deve ser extinto sem julgamento do mérito (CPC, art.
267-IV), mas não por carência de ação.
A quarta hipótese somente pode ocorrer nos casos de decadên-
cia e prescrição de direitos não patrimoniais, por expressa disposi-
ção de lei (CPC, art.295-IV), resultante da simplicidade fático-jurí-
dica da questão, que permite a sua apreciação liminar em cognição
completa, embora não exaustiva. Täl decisão fará coisa julgada. Aliás,
se até no processo cautelar, nesses casos, haverâ excepcionalmente
coisa julgada (CPC, art. 810), não pode ser diferente no processo de
conhecimento ou de execução. Por qualquer outro fundamento de
direito material, o juiz não pode rejeitar liminarmente o pedido, por-
que não se trata de falta de condição daação77.
2.6. Interesse de agir
Para um concretista como MovrELEoNE, o interesse processual,
como utilidade concreta do processo e do provimento nele reclama-
do, é o próprio interesse substancial, salvo nas ações meramente de-
claratórias, em que é preciso estabelecer se existe verdadeiramente
uma ameaça a um direitoT8.
Jâpara os abstratistas, como LEaueN, o "interesse processual
existe quando hâpan o autor utilidade e necessidade de conseguir o
recebimento do seu pedido, para obter, por esse meio, a satisfação do
interesse material que ficou insatisfeito pela atitude de outra pes-
soa"7e. É um interesse de 2" grau-
O interesse processual resultaria, destarte, apenas da lide e da
necessidade de equacionát-lapara alcançar o bem jurídico, da neces-
sidade de removê-la através do exercício da jurisdição. Na jurisdição
voluntária, a serem cabíveis as condições da ação, como me parece,
77 Embo¡a não me entusiasme a interpretação lite¡al, observe-se que no parágrafo único do
artigo 295, que trata da inépcia e conseqüente indeferimento da petição inicial, o CPC não
menciona, como no inciso VI do artigo 267, genericamente a possíbilidade jurídica, mas
especificamente a possibiLidade jurídica do pedido.
78 Girolamo Monteleone, ob. cit., p. 185.
7e Enrico Tullio Liebman, "O Despacho Saneador e o Julgamento do Mérito", Estudos so-
bre o Processo Civil Brasíleiro, Saraiva, São Paulo, 1941, p. 140.
Leorunnoo Gneco 35
o interesse de agir decorreria normalmente da própria lei que subor-
dina a validade ou a eficácia de um ato da vida privada ao conheci-
mento, à homologaçáo, autorização ou aprovação judicial, impedin-
do que o requerente alcance o objetivo jurídico almejado sem a con-
corrência da cognição ou da vontade estatal manifestadas através do
órgão jurisdicional.
Em outro texto, o mesmo LEsN4,{N80 leciona que o interesse de
agir, freqüentemente subestimado, libera aaçáo da necessidade de vir
referida a um direito subjetivo ou a uma sanção típica, bastando, ao
contrário. para tomá-la admissível, a existência de um interesse do
autor a obter o provimento demandado, assim como indicado no ato
introdutivo, e em relação às pessoas chamadas a júzo.
Entre nós, MecHnoo GuItul¡nÃes8r pontuava que o interesse de
agir é o interesse instrumental de conseguir pelos órgãos da Justiça
e através de sua atividade a satisfação do interesse material.
Nessa concepção puramente abstrata do interesse de agir, que
o faziadecorrer simplesmente da causa de pedir remota82, não cabe-
ria cogitar de nele incluir a aptidão do provimento ou do procedimen-
to, matérias circunscritas aos pressupostos de validade do processo,
porque havendo a necessidade da atuação do juiz haveria interesse
como condição da açáo, ainda que impróprios o provimento ou o
procedimento83.
De longa data se observam na doutrina opiniões no sentido de
ampliar a compreensão do interesse processuai.
Já Fneoenlco Me,nquessa sustentava que somente há interesse
quando se pede uma providência jurisdicional adequada "a sifuação
concreta a ser decidida".
E LlesNrexss, em trabalho mais recente, explica que o interes-
se de agir é arelaçáo de utilidade conente entre a lesão de um direi-
to, que fc,i afirmada, e o provimento de tutela jurisdicional que é de-
mandado.
80 Enrico Tullio Liebman, "L'Azione nella Teoria del Processo civ1le", Problemi di Dit"itto
Processuale Civile, Morano, Napoli, 1962, p. 37.
8r Luiz Ma¿hado Guimarães, ob. cit., p. 101.
8? José Rogério Cruz e Tucci, ob. cit., p. 173-
33 V. o meu O Processo de Execução, cit., p.324.
s José Frederico Marques, ob. cit., p. 41.
85 Enrico Tullio Liebman, Manuale dì Dit'itto Processuale Civile, vol- l, 4 ed', Giuffrè,
Milano, 1980, p. 138.
f
JO A Tponn oa AçÁo r.¡o PRocesso Crvtt-
Também para CoMocLIos6 o interesse de agir não é o interesse
substancial, mas é o interesse instrumental de obter o tipo de provi-
mento ou a forma de tutela que aspira quem propôs a demanda; é
índice da necessidade de tutela jurisdicional, com o qual se medem
o grau de necessidade e de idoneidade técnica da intervenção dojuiz;
exprime uma relação adequada de utilidade entre o tipo de lesão ao
direito e o tipo de provimento jurisdicional que especificamente se
exige para a sua tutela.
A idoneidade do meio é também ressaltada por MoNrese,No e
ARreresT que ressaltam ser preciso demonstrar que o resultado do
processo perseguido pelo autor é o meio necessário para obter um
bem que é, matéùa do direito subjetivo.
Na nossa doutrina recente a adequação do provimento e do
procedimento para caracterizar o interesse de agir é exigida, entre
outros, por DoNeI-oo ARIr¡gLlN88, CÂNoIno Dw¿,nlanco8e, LIMR FngIRse0
e TpsgeneRel-
Para analisar esta questão, parece-me necessáriorecordar o
que são as condições da ação e qual é a sua função no Direito Pro-
cessual Civil.
Já vimos que para chegar ao julgamento do mérito, é preciso
em primeiro lugar que o processo se forme validamente, através da
concorrência dos pressupostos processuais; em seguida, deve o juiz
verificar se o autor tem ou não o direito de exigir do Estado um pro-
vimento jurisdicional sobre o direito material, através da verificação
das condições da ação (item 1.6 supra).
Se o autor escolhe procedimento inadequado para a obtenção
da tutela jurisdicional necessária ao equacionamento da situação fá-
tico-jurídica descrita na inicial, isto não significa que o autor não te-
nha direito a essa tutela jurisdicional, mas simplesmente que o meio
adotado é impróprio, não pode levar o juiz a validamente exercer a
3ó Luigi Paolo Comoglio, Corrado Ferri e Michele Taruffo, Lez.ioni sul Processo Civile,2^
ed., 11 Mulino, Bologna, 1998, p.245.
87 Luigi Montesano e Giovanni Arieta, ob. cit., p. 140.
s8 Ob. cit., p. 59.
3e Cândido Rangel Dinamarco, Instituições de Direito Processual Civil, vol. II, Malheiros,
São Paulo, 200i, pp. 301/302, quanto ao provimento.
eo Rodrigo da Cunha Lima Freire, Condições da Açao - Enþque sobre o Interesse de agir
no Processo Civil Brasileit'o, RT, São Paulo, 2000, p. 99.
er Ob. cit., p. 23, quanto ao provimento; com exclusão expressa do procedimento (p. 25).
Leorunnoo GRpco 37
jurisdição sobre o caso concreto. Estamos no plano do exame da con-
corrência dos pressupostos processuais.
Se o autor pleiteia provimento inadequado, ou seja, pedido
imediato incompatível com aquela situação fático-jurídica, em mui-
tos casos o juiz poderá suprir essa inadequação, seja no processo
cautelar (CPC, art. 805), sejano processo de execução (art.620), em
que a demanda se identifica apenas pelo pedido mediato, pelo bem
da vida, pcdendo o juiz variar a providência cautelar ou o meio exe-
cutório. Quando o juiz não puder suprir esse defeito, estaremos ain-
da no plano da impropriedade do meio escolhido, ou seja, da valida-
de do processo, e não da inexistência do direito àjurisdição.
Aliás, essa impossibilidade de correção de rumos no curso do
processo, para dirigi-lo para o procedimento adequado, é um forma-
lismo do nosso sistema processual, que já pode ser remediado em
certos cascs, como os de emenda da inicial (CPC, art.295-V) e con-
versão do procedimento sumiirio em ordinário (277, $$ 4'e 5").
Quanto à inadequação do provimento pleiteado, em sistemas
processuais de preclusões menos rígidas, pode ser corrigida no cur-
so do processo. Aliás, entre nós, desde que o réu concorde, isso tam-
bém é possível até o saneador (CPC, art..264).
Essas possibilidades a meu ver são suficientes para demons-
trar que a inadequação do procedimento ou do provimento não im-
plica na ausência do direito de exigir do Estado o provimento juris-
dicional que equacione a situação fático-jurídica, mas em obstáculo
mais ou menos rígido imposto em cada sistema processual, referen-
te aos pressupostos de validade do próprio processo, como ativida-
de-meio da jurisdição.É alei processual que estabelece essas restri-
ções, cuja legitimidade em face do direito de amplo acesso à nrtelajurisdicional pode até ser questionada, mas que em nada afeta a exis-
tência do direito à jurisdição.
Aliás, se as condições da ação se aferem no plano da admissi-
bilidade hipotética de um provimento favorável, quando a inadequa-
ção do procedimento ou do provimento somente viesse a verificar-
se após exaustiva cognição ter-se-ia ultrapassado o plano das simples
condições da ação e adentrado no julgamento do próprio mérito, o
que evidentemente não ocorre. Terá, de qualquer modo, o juiz de
extinguir o processo sem julgamento do mérito, com fundamento no
inciso VI do artrgo 267 .
38 A TEoRTA DA AÇÃo No PRocESso Ctv¡L
Mas o interesse de agir não confere ao autor, diante da lide ou
da situação antijurídica por ele denunciada, o direito de propor qual-
quer ação. Ele tem um limite intransponível que é a proibição de fa-
zer uso do processo com o intuito exclusivo de molestar o adversá-
rio, prejudicando o pleno gozo do seu direito ou obrigando-o a de-
fender-se de uma demanda temerária.
ANroNro N¿.sre2 observa que no fundo daidéiado interesse de
agi¡ como meio necessário à reahzaçáo do direito, está a de que o
único limite ao exercício daaçáo civil seja a proibição de usar o pro-
cesso com o escopo único de emulação.
No mesmo sentido é. aliçáo de DoNn¡-oo ARr',rELrNe3, para quem
não haverâ interesse de agir no processo simulado (CPC, 129), quan-
do o autor iniciar o processo meramente pelo animus jocandi ou por
propósitos ilícitos, quando o autor usar da ação como arma de coa-
ção ou para outros fins, em manifesto abuso de direito.
E Lnae FnerReea também destaca que as ações ajuizadas com
abuso de direito, fins subalternos ou ilícitos não produzirão um re-
sultado útil da jurisdição, especialmente sob a ótica do Estado.
A ótica do Estado em evitar demandas infundadas é um inte-
resse mais remoto em assegurar a paz social, a convivência harmo-
niosa entre os cidadãos, mas antes desse interesse se apresenta como
prioritário o cumprimento do dever do Estado de garantir ao réu a
eficácia concreta dos seus direitos e, conseqtientemente de impedir
que ele seja molestado por pretensões manifestamente abusivas.
Sem esse limite, o adversário e o próprio juiz ficariam muitas
vezes à mercê do espírito emulativo do improbus litigator Figurem-
se, por exemplo, ações de bloqueio, como os embargos do devedor,
a argüição de falsidade, e até mesmo incidentes sobre questões pro-
cessuais que suspendem o processo, como as exceções de suspeição
ou de incompetência e o conflito positivo de competência, que não
podem atar as mãos do juiz quando manifestamente infundados ou
desacompanhados de qualquer prova que sustente a possibilidade de
acolhimento.
e? Antonio Nasi, "Interesse ad agire", Enciclopedia del Diritto, vol. XXII, Giuffrè, Milano,
1972, p.35.
e3 Ob. cit., p. 59.
s Ob. cit., p. 102.
LEo¡rnRoo Gneco 39
Para respeitar esse limite na aferição do interesse de agir, o juiz
não pode contentar-se com as simples afirmações do autor, sejam elas
quais forem. Essas afirmações devem ser verossímeis e virem acorn-
panhadas das provas pré-constituídas de que o autor desde logo dis-
ponha (CPC, arts. 283 e396)es, cuja dispensa deve ser justificada' A
juntada inicial dos documentos não visa simplesmente a resguardar
o princípic da eventualidade, mas a possibilitar o exame das condi-
ções da ação, particularmente do interesse de agite5-
- 
Nunca foi tão atual a lição de JosÉ Our¡plo ne Cnsrno F[-FIoe7
que, após a exortação da teoria do abuso de direito como instrumen-
tò de proteção da vítima do abuso, ressalta que' se há um direito ou
faculdade incontestável de demandar e contestal, coexiste também
uma obrigação, frente à parte contrária, de não molestar outrem com
o processo. Afinal, é o próprio LrcsNaeN que reconhece que o exercí-
cio do direito de postular e defender-se pode considerar-se um ato
ilícito, se alcançar os extremos da lide temeráriae8-
Fala-se, algumas vezes, em interesse-utilidade (não necessida-
de) para jr:5tificar a propositura de ações em que o autor não depen-
de da jurisdiçáo paraexercer o seu direito material ou pode alcançat
o mesmo objetivo por outro meio não jurisdicional- Assim, por exem-
plo, nas ações meramente declaratórias, na notificação judicial que
pode muitas vezes ser suprida por notificação ex.trajudicial e nas
ações possessórias propostas pela Administração Pública em casos
de invasão de terras públicasee.
A meu ver as situações são diferentes. Nas ações meramente
declaratórias há um interesse na certezaiurídica, abaladapor dúvida
fundada oujusto receio de que o direito seja negado. A dúvida ou o
receio devem

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