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BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 1 BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 2 Universidade Federal de Viçosa Luiz Cláudio Costa - Reitor Nilda de Fátima Ferreira Soares - Vice-Reitora CEAD - Coodenadoria de Educação Aberta e a Distância Frederico Vieira Passos - Diretor GUEDES, R. N. - PROTEÇÃO DE PLANTAS: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas. Viçosa, 2010. Layout: José Timóteo Júnior Edição de imagens e capa: José Timóteo Júnior e Sávio Lopes Editoração Eletrônica: Diogo Rodrigues, Hamilton Henrique Teixeira Reis; José Timó- teo Júnior; Marcelo dos Santos Teixeira; Rômulo Siqueira Santos. Revisão Final: João Batista Mota CEAD - Prédio CEE, Avenida PH Rolfs s/n Campus Universitário, 36570-000, Viçosa/MG Telefone: (31) 3899 2858 | Fax: (31) 3899 3352 BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 3 Sumário 1 - introdução...................................................................................................................04 2 - EScopo.........................................................................................................................06 3 - toxicidadE dE inSEticidaS...............................................................................................07 4 - avaliação toxicológica................................................................................................08 5 - FormulaçõES................................................................................................................12 6 - claSSiFicação E caractEríSticaS dE inSEticidaS E acaricidaS.......................................14 7 - inSEticidaS no indivíduo (toxicocinética)......................................................................26 8 - inSEticidaS no indivíduo: tranSlocação Em planta......................................................30 9 - inSEticidaS no indivíduo (toxicodinâmica).....................................................................32 10 - litEratura rEcomEndada.............................................................................................48 BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 4 1 Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas Introdução Toxicologia de Inseticidas é a ciência dedicada ao estudo dos efei- tos adversos de inseticidas em sistemas biológicos. Apesar da rele- vância dessa área de estudos e do crescente uso de inseticidas no Brasil, a Toxicologia de Inseticidas permanece relegada a plano secundário no país em termos de investimentos financeiros e humanos. Tal fato pode ser ilustrado pelas próprias sociedades e publicações científicas do país, que normalmente tratam estudos de Toxicologia de Inseticidas como “Controle Químico” ou “Proteção de Plantas”. Congressos científicos nacionais da área de entomologia sempre cometem o mesmo equívoco. Toxicologia de Inseticidas deve ser a base de decisões relativas ao controle químico, mas este não é sequer uma área da ciência. Essa postura que permeia o meio acadêmico e científico brasileiro compromete a formação de massa crítica habilitada na área e traz sérios inconvenientes legislativos para o posicionamento frente a viabilização ou não de uso de pesticidas no Brasil. A seguir será apresentada uma breve introdução ao assunto, mostrando seus conceitos básicos, escopo, avaliação toxicológica, grupos inseticidas, modos de ação deles num contexto de fisiologia de insetos e suas limita- ções. 1) Definições Áreas da toxicologia: Toxicologia descritiva: baseada em testes de quão tóxico é um com- posto, provendo informações para avaliações de segurança e requerimen- tos regulatórios. Toxicologia regulatória: responsabilidade de tomada de decisão com base em dados gerados por toxicologia descritiva estudos mecanísticos. Toxicologia de desenvolvimento: estuda os efeitos adversos no de- senvolvimento do organismo (desde fase pré-natal). Toxicologia reprodutiva: estuda os efeitos adversos nos sistemas re- Raul Narciso Guedes Toxicologia é ciência que se dedica ao estudo dos efei- tos adversos de compostos químicos em organismos vivosAtenção BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 5 produtores masculino e feminino, como resultado de exposição a agentes químicos. Toxicologia forense: une os conhecimentos de química analítica e to- xicologia geral em aspectos médico-legais do efeito adverso de compostos químicos no homem e animais. Toxicologia ambiental: área da toxicologia que se concentra nos es- tudos do impacto de compostos químicos em organismos vivos e no am- biente. Níveis de estudo: Ecotoxicologia: termo cunhado por Truhaut em 1969 (ver Truhaut, 1977, Ecotoxicology and Environemtal Satefy 1: 151-173), derivado das palavras “toxicologia” e “ecologia”. Este ramo da toxicologia ambiental en- foca os efeitos adversos de compostos químicos (toxicologia) no contexto da ecologia. Enquanto a toxicologia enfoca o indivíduo, a ecotoxicologia ex- plora níveis organizacionais superiores, abordando o impacto de compos- tos químicos na dinâmica de populações num ecossistema. A ecotoxicolo- gia representa assim uma nova visão: “de moléculas para ecossistema”, explorando escalas variadas de trabalho, como populações e comunida- des, normalmente não consideradas na toxicologia tradicional. Esse tipo de preocupação foi muito alavancado pelas preocupações com o uso de pesticidas, particularmente inseticidas, a partir da década de 1960 e muito bem ilustrada pelo livro de Rachel Carson, “Silent Spring” (1962, Houghton Mifflin, Boston), um dos marcos do período. A ecotoxicologia se insere no contexto da Toxicologia Ambiental. Toxicologia bioquímica e molecular: enfoca interações entre subs- tâncias tóxicas e organismos vivos em nível bioquímico e molecular. BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 6 Toxicologia de inseticidas: estuda os efeitos dos inseticidas nos dife- rentes organismos vivos (≠ toxicologia de insetos). Não inclui diagnose e tratamento de intoxicações. Toxicidade: refere-se à capacidade inata de um composto ser vene- noso (i.e., tóxico) sob condições experimentais. Determinada a partir de ensaios de dose-resposta. Nesses ensaios, organismos de uma população sob estudo são expostos a doses crescentes do composto e a resposta a eles é avaliada. O modelo de curva esperado é de uma sigmóide (curva em formato de S, tendendo a infinito para respostas em 0 e 100% da popu- lação). Tal modelo permite a estimativa de parâmetros toxicológicos como DL50 (dose letal para 50% da população) e NOEL (dose sem efeito obser- vado, também referida como NNE etc.) (Figura 1). Toxicidade x risco & risco x percepção de risco: O risco é normalmente superestimado pelo público leigo e minimizado por profissionais que manuseiam compostos químicos. Razões: - Incompreensão do uso e importância; - Publicidade negativa; - Familiaridade (ou falta dela). 2 Escopo Figura 1: Curva dose-resposta hipotética com representação de concentração letal para 50% da população (LC50), con- centração sem efeito observado (NOEC) e de pequeno efeito observado (LOEC). [Fonte: Walker et al., 1996] BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 7 “Todas substâncias são venenos; não há nenhuma que não seja. A dose correta diferencia o veneno do remédio” (Paracelsus) . Interações tóxicas entre produto químico e organismo se relacionam à dose; . Modos de expressão DL50 (p.ex. mg/Kg), CL50 (mg/ml, mg/cm2), TL50 (horas), DK50 ou KT50 (mg/Kg ou h), CE50 (mg/ml) etc. Determinação: - Aguda (exposição única e curta duração). - Subaguda (exposição múltipla, mas por curto intervalo de tempo – poucos dias). - Subcrônica (exposição múltipla por período mais longo de tempo – até por poucos meses). - Crônica (exposição contínuo por muito tempo – até anos). - Fundamental para classificações toxicológicas:• Toxicidade aguda e crônica (DL50 etc) • Reações alérgicas • Irritação (pele e olhos) • Sensibilização (pele) • Testes crônicos e subcrônicos para estabelecimento de NOEL (ou NNE, NOAEL, LOAEL) Várias instituições têm importância nestas determinações, tanto para homem quanto ambientais. Exemplos: • FAO, WHO (OMS) (ambas agências da Organização das Nações Unidas – ONU). • ANVISA, IBAMA, Ministério da Saúde e Ministério da Agricultura. • Environmental Protection Agency (EUA). • Environment Canada (Canadá). • National Institutes of Environmental Sciences (Japão). • Central Science Laboratory (Reino Unido), Federal Biological Re- search Center (Alemanha) e outras instituições européias análogas; • Society of Environmental Toxicology and Chemistry. 3 Toxicidade de Inseticidas BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 8 Ponto central da toxicologia e ecotoxicologia: Relação entre quantidade do composto ao qual o organismo é exposto e o efeito tóxico desencadeado por ele. Relação dose-resposta provê a base para avaliações de risco apre- sentadas por poluentes. Permite extrapolação de efeito em indivíduo para efeito em população. Esses testes são baseados na administração de doses crescentes do composto a grupos de animais experimentais e na subsequente avaliação do efeito tóxico dessas doses. Outros testes podem também ser úteis caso o mecanismo de ação seja conhecido, ou para auxiliar no reconhecimento de efeitos específicos (exemplo: carcinogenicidade pelo teste de Ames). Estudos de interrelação entre efeito tóxico e estrutura dos compostos são chamados QSAR – relação quantitativa entre estrutura e atividade (“quantitative structure-activity relationships”). A dose pode ser administrada de forma única ou contínua (por exemplo, animais terrestres podem ter ambos, mas para aquáticos a exposição é contínua). A variação entre grupos de indivíduos de mesma espécie ou entre es- pécies diferentes (sujeitas a mesmo ensaio e condições deste) pode ser evidenciada por determinação de razão de seletividade (RS) ou índice de seletividade diferencial (ISE): RS (=ISD) = DL50 espécie A DL50 espécie B Determinações de toxicidade são normalmente extrapoladas de uma espécie para outra, o que pode levar a erros grosseiros devido às várias diferenças físicas e fisiológicas entre as espécies. Testes de toxicidade variam com: • Formulação do composto • Forma de exposição • Regime alimentar • Estado de saúde etc. 4 Avaliação Toxicológica Toxicidade pode ser avaliada de diversas maneiras, mas a medida final mais comum é mortalidade. Os testes de to- xicidade provêm uma estimativa da dose (ou concentração) que deve causar resposta tóxica em 50% da população de animais expostos (DL50, CL50, TL50, CE50 ou DE50; para dose, concentração, tempo; letal ou efetiva). Também é possível determinar as doses ou concentra- ções máximas que não causam efeito tóxico – nível de não efeito (NNE), dose sem efeito observado (DOED), concen- tração sem efeito observado (NOEC) ou mesmo nível sem efeito observado (NOEL). Atenção BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 9 Interpretações de testes de toxicidade requerem cuidado, pois as de- terminações são feitas em condições padronizadas, que podem diferir sub- stancialmente do ambiente natural; ou a reprodução dos resultados é muito difícil com mudanças das condições experimentais. Pressuposição dos testes: podem ser ajustados numa distribuição que foge da normal, em valores próximos de 0 e 100%. Isso é corrigido por transformações (dose para log dose e mortalidade para unidades de desvio padrão [probit ou similar]. 4.1) Testes de Toxicidade Invertebrados: • Minhoca (OECD; terra artificial com poluente e observa mortali- dade, crescimento populacional, reprodução [formação de casulos] e bioconcentração. • Collembola (reprodução e mortalidade; em desenvolvimento). • Barata de madeira ou tatuzinho (lento, avaliação alimentação). • Abelhas (teste para organismos benéficos). Vertebrados: mamíferos, aves e outros. Estima-se DL50 aguda ou crônica e NOED. Plantas: vários métodos e pode-se observar sobrevivência, produção de biomassa, crescimento de raiz ou parte aérea, produção de sementes, etc. 4.2) Testes de Toxicidade de Múltiplas Espécies Testes de desenvolvimento recentes e mais interessantes sobre os aspectos ambientais (pois simulam melhor o que acontece em ambiente natural). Modalidades: • Microcosmo: geralmente ensaios laboratoriais, mas com várias es- pécies, integrando unidade experimental. • Mesocosmo: com múltiplas espécies, em ambiente externo contro- lado (exemplo: açudes padronizados para determinações em ambi- ente aquático). • Campo: condições naturais. Espécies são amostradas. 4.3) Avaliação de Risco Dados de toxicidade são usados para análises de perigo ou risco (às vezes consideradas distintas): - Perigo: potencial de causar dano. - Risco: probabilidade de ocorrência de dano. Avaliação de risco depende de duas coisas a serem comparadas: 1. Toxicidade de um composto expressa em concentração (exemplo: LD50, CL50). 2. Antecipação da exposição de um organismo ao mesmo composto. 4.4) Hormese Efeito benéfico ocasionado por substâncias tóxicas em baixas doses. É caracterizada por distorcer curvas dose- resposta em baixas doses, levando a curvas em forma de U ou J (Figura 2) Atenção BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 10 Conceito derivado de nutrientes essências (exemplo: alguns metais), que em altas concentrações são tóxicos, mas em baixas concentrações são essenciais ao organismo vivo. Fenômeno inicialmente marginalizado, mas amplamente reconhecido nos dias de hoje. Sua validação acarreta implicações muito sérias, que dificultam sua adoção como pressuposto para ações da área ambiental e de saúde pública: • Função do governo no estabelecimento de padrões. • Temor de que substâncias tóxicas possam ter efeitos benéficos que eventualmente estimulem seu uso indevido. • Crença de que parâmetros toxicológicos em uso são plenamente aceitos e estejam bem solidificados. • Hormese é fenômeno de visualização mais difícil (demanda maior faixa de concentração e mais animais experimentais) • Causa incrementos modestos de resposta (normalmente entre 30 e 60%). Figura 2: Representações esquemáticas de hormese. (a) Forma geral de curva dose-res- posta tipo U, com região de melhora aparente de desempenho. (b) Recíproca da mesma cur- va, mostrando região de melhoria aparente e região de efeito adverso. [Fonte: Calabrese & Baldwin, 2003] Hormoligose: é um conceito que foi mais usado em en- tomologia aplicada no passado, mas trata-se de um caso de hormese em que o efeito benéfico do composto químico ocorre quando o organismo encontra-se em condições de estresse devido a outro agente ou condição ambiental. Atenção 4.5) Testes e Parâmetros a) Identidade Físico-Química de Inseticidas Importância: • Produtos de degradação e/ou metabolismo. • Produtos de composição variada (exemplo: BHC, toxafeno). • Impurezas (exemplo: isomalatiom). b) Testes Toxicológicos BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 11 b.1. estudos básicos: - bioquímicos e farmacológicos: modo de ação sobre enzimas (proteínas) - metabolismo: sinergismo, indução enzimática, degradação no corpo b.2. estudos de curto prazo: - menor que metade da vida média do animal - permite escolha de doses para testes a longo prazo b.3. estudos a longo prazo: - maior que metade da vida média do animal b.4. estudos de carcinogênese, mutagênese e teratogênese b.5. estudos diversos de alergia, irritação, sensibilização etc c) Parâmetros Toxicológicos c.1. Nível de não efeito (NNE) ou de não efeito observável (NOEL): dose inócua que pode ser ingeridacontinuamente (mg subs./Kg peso vivo). c.2. Fator de segurança (FS): entre 100 e 1000 ao extrapolar para o homem. c.3. Ingestão diária aceitável (IDA): quantidade do produto químico que parece poder ser ingerida diariamente sem riscos apreciáveis (mg subs./Kg peso vivo): IDA = NNE/FS. c.4. IDA provisória: estabelecida por tempo limitado à espera de dados complementares (usa-se maior FS). c.5. Limite máximo de resíduo (LMR): resíduo de inseticida remanes- cente em produto a ser comercializado, após emprego de boas práticas agrí- colas, comparado a IDA e dieta usual da população. c.6. Período de carência ou intervalo de segurança: tempo decorrido en- tre a última aplicação ou tratamento com inseticidas e à colheita ou coleta. c.7. Dieta alimentar: alimentos consumidos usualmente pela população (importante para o estabelecimento do LMR). A interrelação entre esses parâmetros é sintetizada na Figura 3: Estudos toxicológicos mg i.a./Kg ração Ingestão diáriaIngestão diária aceitávelaceitável (IDAIDA) (mg i.a./kg peso/dia) Boa prática agrícola Estudos de resíduo Resíduo (mg i.a./Kgproduto) Dieta usual Máxima ingestãoMáxima ingestão potencialpotencial (MIPMIP) (mg i.a./kg peso/dia)IDA IDA >> MIPMIP IDA IDA << MIPMIP Possibilidades:Possibilidades: OKOK Problema; para solucionarProblema; para solucionar pode alterar prática agrícola:pode alterar prática agrícola: -- diminuir dose;diminuir dose; -- aumentar aumentar período de carênciaperíodo de carência XX Estudos toxicológicos mg i.a./Kg ração Ingestão diáriaIngestão diária aceitávelaceitável (IDAIDA) (mg i.a./kg peso/dia) Boa prática agrícola Estudos de resíduo Resíduo (mg i.a./Kgproduto) Dieta usual Máxima ingestãoMáxima ingestão potencialpotencial (MIPMIP) (mg i.a./kg peso/dia)IDA IDA >> MIPMIP IDA IDA << MIPMIP Possibilidades:Possibilidades: OKOK Problema; para solucionarProblema; para solucionar pode alterar prática agrícola:pode alterar prática agrícola: -- diminuir dose;diminuir dose; -- aumentar aumentar período de carênciaperíodo de carência XX Figura 3: Interrelação entre parâmetros obtidos de estudos toxicológicos e boas prá- ticas agrícolas na avaliação de potencial de risco ao homem. BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 12 Importante: tecnologia de aplicação é estreitamente dependente da formulação a ser usada. Tipos de formulação: - pré-mistura (geralmente diluída em água) - pronto uso 5.1) Pó Seco (P): sólido, pronto uso - Material adsorvente (mineral de argila) impregnado com inseticida + material inerte. - Partículas menores que 30 m com 1% a 2% de princípio ou ingredi- ente ativo (p.a. ou i.a. = inseticida propriamente dito). 5.2) Grânulo (G): sólido, pronto uso - Partículas sólidas (silicatos, argila, gesso, resíduos vegetais, plásticos etc.) impregnados com inseticida. - Tamanho grande (iscas) ou bem pequenos (microencapsulado). - Todas as partículas contém p.a. (2,5 a 5%). 5.3) Pó Molhável (PM): líquida, pré-mistura - Material de argila (com i.a. adsorvido) + adjuvantes (i.e., agente mol- hante, dispersante, antiespumante, estabilizante etc). - Forma suspensão (necessário manter sob agitação). - Desgasta bicos. - Necessária preparação de pré-mistura. - Barato, mas em desuso (sendo substituído por suspensão concen- trada). 5.4) Pó Solúvel (PS): sólido, pré-mistura - i.a. solúvel em água (solução homogênea) 5.5) Concentrado Emulsionável (CE): líquido, pré-mistura - (i.a. + solvente) + adjuvante (agente emulsionante, estabilizadores etc.) - emulsão leitosa - cara (> PM) 5.6) Solução Aquosa Concentrada (SAqC): líquido, pré-mistura - i.a. (na forma salina) dissolvido em água até próximo ao limite de satu- ração - pouco comum Formular: preparar componentes ativos na concentra- ção adequada, adicionando substâncias coadjuvantes, ten- do em vista que o produto final possa ser disperso em de- terminadas condições técnicas de aplicação, para cumprir eficazmente sua finalidade biológica, mantendo essas con- dições durante o armazenamento e transporte. Atenção 5 Formulações BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 13 5.7) Suspensão Concentrada (SC, BR): antigo flowable; líquida, pré-mistura - PM suspenso em água + adjuvante para aumentar estabilidade. - No armazenamento pode sedimentar e não ressuspender mais. - Melhorou muito e está se popularizando. 5.8) Ultra Baixo Volume (UBV): líquido, pronto uso - i.a. + solvente - solvente: - baixa volatilidade; - alta capacidade de dissolução do i.a.; - baixa viscosidade; - não fitotóxico; - compatível com i.a. - abaixo de 5 l/ha(1 a 2 l/ha); - volatilidade é crítica. 5.9) Outras Formulações - Comprimido (CP; p.ex. fosfina); - Tablete (TB, p.ex. fosfina); - Pastilha (PA); - Pasta (PT); - Aerosóis; - Grânulo disperso em água (GDA), etc. BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 14 I. Organossintéticos: compostos orgânicos (C) na molécula sintetiza- dos em laboratório. 6.1) Organoclorados Características gerais: - Produtos sintéticos que possuem C, Cl e H em sua estrutura química. - Pouco solúveis em água, mas alta solubilidade em tecido gorduroso (lipofílicos). - Moderada a alta toxicidade para mamíferos. - Baixo custo de síntese. - Muito persistentes devido a: • Baixa reatividade; • Baixa pressão de vapor; • Baixa solubilidade em água. - Amplo espectro de ação (i.e., tóxico a várias espécies) - Não são sistêmicos - Neurotóxicos - Mutagênicos Grupos de inseticidas (organo)clorados: a) DDT & Análogos - Histórico: Othmar Zeidler & Paul Müller - DDT (dicloro difenil tricloroetano): • Sintetizado em 1874 (por Othmar Zeidler na Universidade de Estras- burgo, França) • Atividade inseticida descoberta em 1939 (Paul Müller, Cia. Geigy, Suiça) • Uso inseticida introduzido em 1942, sendo largamente utilizado • Importância médica e agrícola como inseticida • Banido mundialmente, mas ainda extremamente importante no con- trole de vetores • Outros exemplos dentro deste grupo: DDD, dicofol, clorobenzilato, metoxicloro. b) HCH (Hexaclorociclohexano) ou BHC (Hexacloreto de Benzeno) - Propriedades inseticidas descobertas na Ale- manha e na França, em 1942. - HCH teoricamente pode existir em oito diferen- tes formas estereoisoméricas, das quais cinco são encontradas no produto cru, sendo o isôme- ro (gama) o mais ativo (ca. 12% na mistura). - Lindano é o nome comercial dado ao isômero 6 Classificação e Características de Inseticidas e Acaricidas BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 15 gama purificado. - Não mais usado. c) Ciclodienos - Compostos deste grupo são caracterizados por duas ligações dup- las (dienos; são organoclorados dienos), havendo uma ponte de endo- metileno. - Propriedades inseticidas do clordane (primeiro com propriedades in- seticidas evidenciadas) aconteceu em 1945. - Alta toxicidade aguda para mamíferos (superior ao dos outros grupos). Clorados ainda em uso no Brasil: - Acaricidas clorados: dicofol. - Fomicida para reflorestamento: aldrim. - DDT: no controle de mosquitos e algumas áreas e sob responsabili- dade do Governo Federal (Ministério da Saúde) até meados da década de 1990. - Endossulfam (Thiodan): importante no cafeeiro e ainda recomendado em outras grandes culturas, como algodão e soja. 6.2) Fosforados ou Organofosforados Características gerais: - Representavam 35.5% do mercado mundial de inseticidas em 1995; - Ésteres do ácido fosfórico (e derivados); - Pouco solúveis em água, mas solubilidade mais elevada que a de clorados. - Toxicidade variável de baixa a alta para ani- mais superiores. - Alguns compostos necessitam de ativação para expressar seu po- tencial tóxico (normalmente por monoxigenases dependentes decito- cromo P450; exemplo: paratiom passa a paraoxon). - Alguns possuem atividade sistêmica em plantas (exemplo: forato) ou animais (p.ex. triclorfom). - Compostos bem reativos quimicamente e, portanto, têm baixa per- sistência no ambiente (alguns dias; para sistêmicos pode chegar a se- manas ou poucos meses); facilmente degradados por enzimas e fa- tores químicos (exemplo: esterases, alto pH etc.). - Espectro de ação variável (i.e., tóxico a várias espécies). - Neurotóxicos; à semelhança de carbamatos, são também venenos BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 16 sinápticos (inibidores da acetilcolinesterase). - Foram desenvolvidos a partir de trabalho pioneiro desenvolvido pela equipe do Dr. Gerard Schrader, na Bayer (Alemanha), em meados dos anos 30 (inseticida TEPP). Estrutura geral: - Derivados do ácido fosfórico (e análogos) - Ésteres do ácido fosfórico e diferentes álcoois - Formam uma ampla e diversa família de inseticidas contendo diferen- tes combinações de O, C, S e N e diferentes identidades (partindo do ácido que a integra, ou do álcool) - Fosforados são divididos em três subgrupos de acordo com grupo migrante (porção alcoólica mais complexa da molécula que se alinha com sítio aniônico da acetilcolinesterase; demais porções alcoólicas com grupo metil ou etil, sendo o último normalmente mais tóxico a mamíferos): a) Derivados alifáticos: grupo migrante constituído por cadeia carbôni- ca linear. b) Derivados fenílicos: grupo migrante constituído por anel aromático (benzeno). c) Derivados heterocíclicos: possuem anéis de 3, 5 ou 6 carbonos, com ao menos um deles substituído por elemento distinto (N, O ou S). Estrutura geral de fosforados: R = um grupo migrante (alifático, fenílico ou het- erocíclico) R’= metil (-CH3) ou etil (-CH2CH3) a) Derivados alifáticos: BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 17 b) Derivados fenílicos: c) Derivados heterocíclicos: Exemplos de utilização agrícola de fosforados: - Proteção de grãos armazenados: • Fenitrotiom (Sumithion, Sumigram) • Pirimifós-metílico (Actellic) - Acaricidas não sistêmicos: • Diazinom (Diazinom) • Etiom (Ethiom) - Cochonilhicidas: • Diazinom (Diazinom) • Malatiom (Malathion, Malatol etc.) • Metidatiomn (Supracid) - Granulados sistêmicos (i.e., granulados que translocam na planta): • Forato (Granutox) • Dissulfotom (Disyston) - Curto efeito residual: • Acefato (Orthene) • Naled (Naled) - Sistêmico em animais (i.e., que movimentam no corpo do animal): • Triclorfom (Neguvom) - Uso domissanitário: • Clorpirifós (Dursban) 6.3) Carbamatos Características gerais: - Toxicidade variável com composto; - Maior pressão de vapor que clorados; - Não são bioacumulados; - Menor lipofilicidade (baixa solubilidade em água, mas superior a de clorados); - Menor persistência (degradação mais rápida – são ésteres); - Alguns compostos são sistêmicos em plantas e alguns são nematici- Fenitrotion BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 18 das (p.ex. Aldicarbe); - Veneno sináptico (inibidores da acetilcolinesterase). - Desenvolvidos a partir da estrutura do alcalóide (bases que contém N) fisostigmina, encontrado nos feijões de Calabar. Estrutura geral: - Derivados do ácido carbâmico: Ácido Carbâmico Carbamatos R = um grupo aril (p.ex. fenil, naftil ou heterocíclico) R’= H (para N-metil carbamatos) ou metil (para N,N-dimetil carbamatos) Exemplos de inseticidas carbamatos: • Carbaril • Carbofuram • Carbossulfam • Aldicarbe • Propoxur Exemplos de uso de carbamatos: - Nematicidas: aldicarbe (Temik) e carbofuram (Furadam) - Tratamento de sementes: carbofuram (Furadam), carbosulfam (Mar- shal) e thiodicarbe (Semevin, Larvin) - Sistêmicos: aldicarbe (Temik), carbofuram (Furadam) e carbosulfam (Marshal) - Aficida específico: pirimicarbe (Pirimor) - Uso diverso: carbaril (Carvin, Sevim) 6.4) Piretróides Características gerais: - Representavam 21% do mercado mundial de inseticidas em 1995 - Inseticidas sintéticos derivados das piretrinas naturais - Inseticidas não persistentes de ação por contato - Pouco voláteis e altamente lipofílicos - Ação de repelência contra algumas pragas e às vezes causam alergia no homem - Muito tóxico (potente) contra insetos, mas baixa toxicidade para mamíferos - Fraca ação acaricida, exceto alguns compostos recentes (exemplos: fempropatrina e bifentrina) - Fotoestáveis, mas degradavéis rapidamente no solo (persistência de algumas horas) - Custo de síntese relativamente elevado, compensado pela alta potên- cia para insetos - Espectro de ação variável (i.e., tóxico a várias espécies e normal- mente pouco seletivo a inimigos naturais) - Neurotóxicos; venenos axônicos com modo de ação semelhante ao DDT HO C NH2 O RO C N CH3 R' O BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 19 - Alguns piretróides (mais antigos) são tóxicos para peixes e alguns favore- cem desenvolvimento de ácaros. - O primeiro piretróide sintetizado foi a aletrina, pelo grupo do Dr. M.S. Schech- ter (1949). O grupo do Dr. M. Elliot sintetizou a resmetrina em 1957. Os piretróides fotoestáveis só apareceram na década de 70 graças ao trabalho pioneiro do Dr. M. Elliott da Rothamsted Exp. Station (Inglaterra) e a companhia Sumitomo (Japão). Posteriormente o grupo do Dr. J. Casida, University of California – Berkeley, tam- bém possibilitou grandes avanços no desenvolvimento deste grupo de inseticidas. Estrutura geral: - Grupo vinil, anel de três carbonos e grupo carboxílico identificam os piretróides (ésteres) - Ésteres derivados do ácido crisantêmico (= ácido monocarboxílico) e ácido pirétrico (= ácido dicarboxílico) - Primeiro piretróide: aletrina (fotoinstável) - Síntese da resmetrina (bioresmetrina): fotoinstável, mas mais tóxica para insetos e menos tóxica para mamíferos Tipos de piretróides quanto à estrutura: a) Tipo I: não possuem o grupo ciano (CN) na porção alcoólica da molécula (p.ex., resmetrina, aletrina). b) Tipo II: possuem a porção -cianofenoxibenzil em suas moléculas (p.ex., cipermetrina, deltametrina). O O O O O O Piretrina I (natural) Aletrina O O O H2 C Resmetrina BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 20 Exemplos de utilização agrícola de piretróides: - Proteção de grãos armazenados: • Deltametrina (K-Obiol) • Permetrina (Ambush) • Bifentrina (ProStore) - Baixa toxicidade a peixes: • Etofemprox - Acaricidas: • Fempropatrina (Daninem) • Bifentrina (Talstar); • Lambdacialotrina (KARATE) - Carrapaticida: • Flumetrina • Cialotrina • Cipermetrina • Deltametrina • Fenvalerato - Uso domissanitário: • Aletrina • Cipermetrina • Deltametrina • Permetrina • Resmetrina • Etofemprox, etc. - Uso agrícola: • Cipermetrina • Deltametrina • Permetrina • Lambdacialotrina • Fempropatrina • Bifentrina • Etofemprox, etc. BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 21 6.5) Neonicotinóides Imidaclopride - Derivados melhorados da nico- tina. - Desenvolvimento recente (1990) por Bayer japonesa e Nip- pon Soda. - Primeiro composto viabilizado comercialmente: imidaclopride; outros compostos são acetamipride, thiaclopride e thiametoxam. - Sistêmico bem seletivo e eficiente contra sugadores, que também faz controle de lagartas. - Modo de ação: compostos neurotóxicos que agem agonisticamente nos receptores nicotínicos da acetilcolina (sistema nervoso central em insetos). 6.6) Organossulforados Possuem dois anéis fenílicos (ou derivados) ligados por um S central à molécula. - Acaricidas específicos bem eficien- tes que agem sobre todas as fases de desenvolvimento de ácaros (i.e., ovo a adulto).- Inibidores da síntese de ATP. - Exemplos: tetradifom (Tedion) e propargite. 6.7) Organoestânicos Grupo de acaricidas com ação fungicida introdu- zidos em 1967. - Apresentam estanho (Sn) centralmente à molécula - Exemplos: azociclotina, cihexatina e óxido de fenbutatina - Atuam no metabolismo respiratório. 6.8) Formamidinas Compostos inseticidas/acaricidas neu- rotóxicos com forte ação comporta- mental; - Atuam sobre os receptores de ami- nas biogênicas (exemplo: octopamina) em sinapses aminérgicas de insetos. - Alguns, como o clordimeforme, foram colocados sob suspeita de ação carcinogênica. - Exemplos: clordimeforme e amitraz. 6.9) Carbamatos Derivados da Nereistoxina Nereistoxina é uma toxina do verme marinho Lumbriconeris heteropoda; - Grupo surgiu em 1964 e o cartape, usado contra minadores de folha (exemplo: traça-do-tomateiro) é o principal exemplo do grupo - Ao que se sabe, cartape demanda ativação no organismo para ex- NCl N NH N NO2 (CH3)3C O OS O Propargite SnOH Cyhexatina Cl CH3 N C H N(CH3)2 Clordimeforme BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 22 pressão de seu efeito tóxico (pré ou pró-inseticida); - Compostos neurotóxicos que atuam nos receptores de acetilcolina; 6.10) Oxadiazinas O exemplo que se tem é o composto indoxacarbe, lançado no Brasil em 2001 - Composto neurotóxico que demanda ativação no organismo para ex- pressão de seu potencial tóxico. 6.11) Fenilpirazóis Aminas aromáticas ou heterocíclicas. - Inseticida fipronil é o representante em uso atualmente. - Grupo surgiu em 1992. - Composto neurotóxico que vem mostrando possibilidade diversificada de uso (agrícola e contra inseto sociais, como formigas cortadeiras). 6.12) Sulfonamidas Fluorinadas - Sulfluramida é o representante do grupo atualmente em uso. - Importante em iscas formicidas para formigas cortadeiras. - Atua no metabolismo respiratório de insetos (desacoplador da fosfo- rilação oxidativa). 6.13) Clorfenapir - Composto de natureza ácida que atua desacoplando a fosforilação oxidativa e assim interferindo com metabolismo respiratório de inse- tos. Atua de forma semelhante aos antigos dinitrofenóis, inseticidas que eram muito tóxicos a mamíferos, ao contrário do clofenapir. 6.14) Tiouréias Seu representante no mercado é o diafentiurom. - Pró-inseticida ativado no organismo ou pela luz. - Atua inibindo cadeia de transporte de elétrons. - Outros inibidores da cadeia de transporte de elétrons (pertencentes a outros grupos inseticidas distintos) - Acaricidas METI (p.ex. fempiroximato, pirimidifem, piridabem, tebu- fempirade). - Dicofol e hidrametilnom; acetoquinocil e fluacripirim. 6.15) Pirimidinas Azometídeo - Pimetrozina é o composto atualmente em uso; - Descoberta em 1989; - Forte ação fagoinibitória em insetos sugadores (ação insetistática). S S N H3C H3C H3C N H3C SCONH2 SCONH2 CartapNereistoxina BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 23 6.16) Ácidos Tetrônicos Espirocíclicos - Acaricidas de desenvolvimento recente - Atuam inibindo síntese de lipídeos - Exemplos: spirodiclofem e spiromesifem 6.17) Juvenóides - Fotoestáveis só re- centemente foram desen- volvidos (fenoxicarbe e piriproxifem, que são ju- venóides não-terpenoides mais recentes e de mais sucesso de uso agrícola; metopreno e quinopreno são exemplos mais antigos). - Análogos sintéticos de hormônio juvenil. - Vem tendo sucesso agrícola só recentemente. - Boa eficiência contra sugadores como mosca-branca. 6.18) Bisacilhidrazinas (Diacilhidrazinas) - Agonistas de ecdisteróides desenvolvidos no final da década de 80. - Exemplos: tebufenozide, metoxifenozide e halofenozide 6.19) Aciluréias - Chamados ainda benzoilfenil uréias ou uréias substituídas; - Desenvolvidas a partir do final da década de 70 (1978); - Exemplos: diflubenzurom, triflumuron, flufenoxirum, lefumuron etc. - Em plena expansão e uso vem aumentando; - Inibidores da formação de cutícula; - Outros inseticidas que intereferem na formação de cutícula: • buprofezina • ciromazina 6.20) Sinergistas Compostos que, em doses subletais, aumentam a letalidade dos inseti- cidas; - principal grupo: metilenodioxifenóis (exemplo: butóxido de piperonila); Inseticidas Naturais 6.21) Origem Vegetal a) Nicotina: Alcalóide (composto heterocíclico contendo N) extraído de plantas de fumo (1-8% nas folhas e raízes). - DL50 (ratos,oral) = 50-60 mg/Kg b) Rotenona: Obtida de raízes de leguminosas dos gêneros Derris e Lonchocarpus. - Muito tóxico para peixes e insetos, principalmente lagartas; - DL50 (ratos,oral) = 132-1500 mg/Kg O O N H O O Fenoxicarbe N H O N O Tebufenozide BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 24 c) Sabadilha: extraída de uma liliácea; - DL50 (ratos,oral) = > 5000 mg/Kg (um dos menos tóxicos para mamíferos dentro dos inseticidas de origem vegetal). d) Azadiractina: principal princípio tóxico da planta indiana neem, ou nim (Azadirachta indica). - Interfere com o processo de muda nos insetos (parece interferir com síntese e metabolismo de ecdisona) e tem ação fagoinibitória. e) Rianodina: alcalóide extraído das raízes de arbustos do gênero Ry- ania - DL50 (ratos,oral) = 750 mg/Kg f) Linoleno: extraído da casca de Citrus, virtualmente atóxico para mamíferos g) Piretrum e Piretrinas: piretrinas são as constituintes de piretrum extraído das flores de Chrysanthemum cinerafolis (cinerariae = Tanace- tum cin) e C. coccineum (= roseum = carenum). - Seis piretrinas: Piretrina I e II, Cinerina I e II e Jasmolina I e II. - Fotoinstáveis e eficientes inseticidas que serviram de base para sín- tese dos piretróides. h) Juvenóides e anti-HJ: - Produtos análogos ou derivados do hormônio juvenil (i.e., juvenóides) encontrados em insetos e que interferem com a muda destes para a fase adulta, gerando estádios imaturos anômalos (p.ex. juvabiona ou fator papel). - Anti-HJ são produtos que antagonizam a ação do hormônio juvenil, causando metamorfose precoceno em insetos (p.ex., precoceno I e II). 6.22) Origem Animal Venenos de artrópodes: tem sido testada a inclusão de genes de produção de toxinas de artrópodes (vespas, aranhas e escorpiões) para acelerar a ação de viroses como o Baculovírus. 6.23) Origem Microbiana a) Produtos de fermentação de actinomicetes de solo: - Lactonas macrocíclicas: dois grupos principais, avermectinas e milbe- minicas. - Milbemicinas são obtidas em produtos de fermentação de Streptomy- ces hygroscopicus e avermectinas são obtidas de Streptomyces aver- mitilis. - Avermectinas tem tido maior potencial de utilização, com abamectina sendo a de uso mais amplo, além de invermectina (seu dihidro deriva- do, usado como carrapaticida) e emamectina (registro mais recente). - Spinosinas: produtos de fermentação do actinomiceto de solo Sac- charopolyspora spinosae. Spinosinas A e D são as mais ativas e de uso mais amplo na agricultura. São compostos neurotóxicos à semelhança das avermectinas. b) Produtos de origem bacteriana: - Principais são os produtos derivados de Bacillus, especialmente de Bacillus thuringiensis. - Cristais protéicos tóxicos (-endotoxina, família Cry; e mais recente- mente uma exotoxina, Vip, sendo usada em transgenia de plantas). BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 25 c) Inseticidas virais: Principalmente da família Baculoviridae, onde estão sendo tentadas in- serções com venenos de artrópodes para acelerar ação do vírus. 6.24) Inorgânicos a) Enxofre: acaricida ainda muito usado. c) Fosfina (PH3): fumigante de amplo uso atualmente. Disponibilizado no estado sólido, a partir do qual a fosfina é gerada mediante reação com a umidade do ar. BAN 501: Toxicologiade Inseticidas e Acaricidas 26 7.1) Introdução • Áreas relevantes à toxicologia de inseticidas Toxicocinética: engloba os processos de penetração, distribuição e metabolismo de xenobióticos. Análogo à farmacodinâmica de drogas. São os processos toxicocinéticos que determinam quando o composto tóxico atinge seu sítio de ação. Seus modelos são de grande valor pred- itivo quanto ao destino de xenobióticos no organismo. Toxicodinâmica: engloba as interações moleculares do xenobiótico com seus sítios de ação. A natureza e o grau de interação entre o com- posto tóxico e seu sítio de ação vão determinar a resposta tóxica a ser produzida. Análogo à farmacodinâmica de drogas. Observação: A toxicocinética será a ênfase das próximas aulas e a toxicodinâmica será discutida quando abordarmos efeitos de poluentes em indivíduos. 7.2) Destino de Poluentes em Indivíduos Representado por modelo geral que, após penetração, reconhece quatro tipos de sítios de ligação do poluente no organismo vivo (Figura 4). São eles: a) Sítios de penetração: onde o inseticida penetra no organismo. b) Sítios de ação (tóxica): onde o xenobiótico interage com uma molécula, desencadeando manifestações tóxicas no organismo. c) Sítios de metabolismo: são enzimas que metabolizam xenobióti- cos. Normalmente causam destoxificação, mas podem possibilitar ati- vação (organismo age sobre o químico). d) Sítios de armazenamento: onde o xenobiótico existe em uma forma toxicologicamente inerte. e) Sítios de excreção: excreção do compostos original ou seu produto de biotransformação (metabólito ou conjugado). 7 Inseticidas no Indivíduo (Toxicocinética) Xenobióticos: compostos estranhos a determinado or- ganismo, não fazendo parte de seus processos bioquímicos normais. Inseticidas são frequentemente referidos como xe- nobióticos quando dentro de um organismo vivo. Atenção BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 27 Integumento Ligação ou estocagem em tecidos indiferenciadas Sítio de ação Excreção Tecidos metabólicos Conteúdo livre no fluido circulatório Composto Original Metabólitos Lipoproteínas e outras Barreiras à penetração Penetração Conteúdo ligado no fluido circulatório Integumento Ligação ou estocagem em tecidos indiferenciadas Sítio de ação Excreção Tecidos metabólicos Conteúdo livre no fluido circulatório Composto Original Metabólitos Lipoproteínas e outras Barreiras à penetração Penetração Conteúdo ligado no fluido circulatório Figura 4: Biodinâmica de inseticidas no inseto Transporte por compartimentos no corpo de organismos: - Difusão através de barreiras membranosas; • Kow (coeficiente de partição entre água e octanol) importante (ca. 1) • Peso molecular (menor que 800) • Composição e temperatura da barreira • Carga do composto (barreiras não permeáveis a íons) Transporte por lipídios (compostos muito lipofílicos) Processos de Penetração Consequência geral de difusão através de barreiras naturais (função de Kow). Lipídios podem ser absorvidos no intestino em associação com gorduras. Penetração em diferentes organismos: - Vertebrados e invertebrados terrestres: penetração pelo tegumento (para invertebrados é ainda mais importante) ou canal alimentar. Inala- ção é importante em algumas circunstâncias. - Vertebrados e invertebrados aquáticos: penetração por superfície res- piratória ou pele. Penetração via alimentar também pode ser relevante, particularmente no caso de predadores do topo de cadeias alimentares marinhas. Obs: no caso de mamíferos, há possibilidade de transferência placen- tária via leite (mamíferos) ou via lipídios no desenvolvimento embrion- ário. - Plantas: absorção através de cutícula ou raízes. BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 28 Via de penetração: a) pela cutícula (insetos): - modos de entrada: - transporte lateral: via sistema traqueal; - difusão através do integumento: similar a mamíferos; - fatores determinantes da taxa de penetração cuticular: • solvente • polaridade do inseticida (estrutura cero-aquosa) • composição cuticular (varia de acordo com espécie, população e dieta) b) pelo intestino: - importante via se for feita ação por ingestão ou sistêmicos - menos estudos sobre o caso - geralmente alta polaridade favorece penetração (exemplo: para- tiom > aldrim) - correlação baixa ou inexistente entre taxas de penetração via oral e dérmica em mamíferos c) por membranas: - estrutura de membranas: modelo do mosaico fluido de Singer & Nicholson - coeficiente de particição (Kow): boa correlação com taxa de penet- ração - ionização: membranas pouco permeáveis a íons; ionização função de pKa (log negativo da constatnte ácida de dissociação) e pH do meio. Grau de ionização é dado pela equação de Henderson-Hasselbalch: Ácidos: log {[forma não ionizada]/[forma ionizada]} = pKa - pH Bases: log {[forma ionizada]/[forma não ionizada]} = pKa – pH Exemplo: ácido benzóico (ácido fraco, pKa = 4) em pH 8: log [não ionizada]/[ionizada] = 4-8 ; [não ionizada]/[ionizada] = 10-4 = 0.0001 (forma ionizada é 1000x maior que não ionizada para condição acima descrita); Cinética de penetração cuticular (insetos): - Determinação experimental da taxa de penetração: • Tempo médio de penetração (T1/2): tempo necessário para que 50% do composto tenha penetrado no organismo; • Relação entre T1/2 e taxa constante de penetração (k): T1/2 = ln 2 /k = 0.693/k - Tipos de modelo de penetração cuticular: • Monofásica: taxa de penetração constante com o tempo • Bifásica: duas taxas diferenciadas, uma mais rápida e uma mais lenta • Multifásica: perfil curvilíneo com o tempo, tornando inadequado o cálculo de T1/2 Processos de Distribuição Vertebrados: - Via corrente sanguínea, o líquido linfático e distribuição vai depender de solubilidade de xenobiótico. Absorção vai acontecer no intestino e muito do composto vai ser retido no fígado (ao contrário que ocorre com inalação): Compostos muito lipofílicos (alto Kow) ficam associados a lipoproteínas BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 29 e membrana de células sanguíneas (baixa tendência de se dissolver em água) Compostos polares (baixo Kow) tendem a se dissolver na água e ficam menos associados a lipoproteínas e membranas de células sanguíneas. Invertebrados: - Distribuição via hemolinfa. Caso contrário acontece de forma similar a mamíferos Plantas: - Via floema (transporte simplástico) - Via xilema (transporte apoplástico) 7.3) Armazenamento Xenobióticos podem ser alocados a posições em que não são capazes de interagir com seus sítios de ação e não são sujeitos a metabolismo. Ambientes lipofílicos (especialmente gorduras, mas também micelas li- poprotéicas e membranas celulares) não possuem sítios de ação ou enzimas para interagir com xenobióticos. Mobilização rápida de gor- dura, contudo, pode possibilitar a liberação de xenobióticos no sangue. Isso possibilita a ação tóxica e degradação destes (exemplo: inseticidas clorados do grupo do DDT e análogos). BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 30 8.1) Estrutura das Plantas Cutícula: natureza lipídica. Células: com parede celular e protoplasma envolvido por plasmalema; vacúolo correspondendo a 90% da célula (envolvido por tonoplasto). Sistemas vasculares: - Espaços extra-protoplásmicos (via apoplasto): • Espaços inter-celulares. • Vasos xilemáticos (sucção-transpiração; estrias de Caspari). - Espaços protoplásmicos (via simplasto): • Por plasmodesmata. • Vasos floemáticos (teoria de Münch: açúcar entra ativamente nas células e água entra por gradiente osmótico gerando pressão hidro- stática; com a remoção do açúcar em algumas regiões há a criação de um fluxo de águae açúcares). 8.2) Propriedades Físico-Químicas dos Inseticidas Lipofilicidade: obtida a partir do coeficiente de partição água-octanol (Kow). Kow = [inseticida em octanol]/[inseticida em água]. Kow < 1, mais afim à água. - Normalmente usa-se log Kow para reduzir variação (em geral fica entre –2 e 7) - Funções tio-éter (R1-S-R2) são normalmente oxidadas no solo e plan- tas resultando em formas sulfóxido (R1-SO-R2) e sulfona (R1-SO2-R2) de maior atividade inseticida e menos lipofílicas; - Kow pode ser estimado a partir da solubilidade do composto em água: log WS = - log Kow – 0,01 (Tm – 25) Onde: WS = solubilidade em água (moles/L). Tm = temperatura do ponto de fusão do composto em oC. Ionização (importante para ácidos fracos como herbicidas): depende da Constante de ionização (Ka). 8.3) Absorção de Inseticidas pelas Raízes Mais lipofílico, mais absorvido 8 Inseticidas no Indivíduo:Translocação em Plantas Inseticida sistêmico: inseticida capaz de se translocar na planta. Importância: controle eficiente de insetos a menores do- ses e usando sistema mais seletivo de aplicação. Atenção BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 31 8.4) Translocação de Inseticidas Via Xilema (para Folhas) Função de Kow: - log Kow < - 0,5: inseticida não é absorvido por raízes. - log Kow > 4,0: não atravessam membranas (muito lipofílicos). - log Kow 2,0: membranas permeáveis e absorvido por raízes (em solos com matéria orgânica, log Kow entre 1 e 1,5 propicia melhor trans- locação). 8.5) Penetração de Inseticidas pela Folha Polares penetram bem ao contrário do que se imaginava (por micropo- ros e estômatos). Arranjo da cutícula de plantas: - Microporos: podem facilitar penetração de compostos polares • Polaridade (log Kow 1,0; entre – 0,5 e 2,5): rápida penetração, en- quanto compostos com log Kow > 2,5 são retidos. • Peso molecular acima de 250 possuem baixa capacidade de pen- etração. - Estômatos: muito discutido • Parece ser importante para penetração de compostos polares (câ- maras estomatais não possuem cera). 8.6) Translocação de Inseticidas no Floema (para Raízes) - Importância: controle mais eficiente de pragas do sistema radicular Boa translocação: - Compostos ionizáveis: penetram no floema na forma não ionizada e se ionizam nele, não saindo dos vasos. - Compostos não ionizáveis: polares (log Kow < - 0,5): penetram em va- sos, mas só os com baixa permeação por membranas ficam retidos nos vasos e chegam às raízes. - Compostos lipofílicos com log Kow 2,0: escapam do floema para o xilema, não sendo eficientemente translocados via floema. - Compostos lipofílicos com log Kow > 2,0: aderem-se às constituintes dos tecidos vegetais, portanto não sendo translocados. ~~ ~~ BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 32 9.1) Introdução à Neurofisiologia Agregações de corpos celulares de neurônios são denominados gân- glios. Agregação e interconexão de gân- glios formam o sistema nervoso cen- tral de insetos; o remanescente do sistema nervoso é chamado sistema nervoso periférico, tendo-se ainda o sistema nervoso visceral; A função do sistema nervoso é trans- mitir informações ao corpo e integrá- las por meio de impulsos elétricos; Organização: - Sistema nervoso central: cérebro e cordão nervoso ventral. - Sistema nervoso periférico: formado por células nervosas senso- riais (ou receptoras) e motoras. - Sistema nervoso visceral: consiste de uma série de pequenos gân- glios distintos conectados ao sistema nervoso central e órgãos ou glân- dulas internas. - Sistema nervoso central é o centro de integração do sistema nervoso, sendo composto por milhares de neurônios interconectados (gânglios). - Sistema periférico de insetos não possui gânglios e é somático (reage 9 Inseticidas no Indivíduo(Toxicodinâmica) O sistema nervoso dos insetos é composto por células nervosas ou neurônios, que são formados por uma região chamada corpo celular, que possui terminações ramificadas chamadas dendritos (onde é recebido o estímulo nervoso), e uma região alongada chamada axônio, que possui arbo- rizações terminais por onde são transmitidos os estímulos nervosos (Figura 5). Atenção Figura 5: Tipos de neurônios [Fon- te: Chapman, 1998] Figura 6: Esquema representativo do sistema nervoso de inse- tos [Fonte: Nation, 2002]. BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 33 a estímulos ambientais através de respostas musculares – a rota de recepção do estímulo é chamada aferente e a de resposta a ele é cha- mada eferente). A parte autônoma do sistema nervoso (visceral) parece ser controlada principalmente por hormônios produzidos em nível de sistema nervoso central. Eventos axônicos e condução do estímulo excitatório - Membrana do axônio no estado de repouso é permeável ao K+ e im- permeável ao Na+, o primeiro mantendo-se em alta concentração no interior da célula e o segundo no exterior. - Membrana permanece polarizada no estado de repouso e o potencial da membrana em repouso é próximo ao potencial de equilíbrio do K+ (-50 a –70 mV), pois a membrana é permeável quase que exclusiva- mente a este íon no estado de repouso. - Mediante estímulo, os canais de K+ da membrana se fecham e os de Na+ se abrem permitindo um fluxo de Na+ para o interior da célula, despolarizando-a até atingir um pico positivo próximo ao potencial de equilíbrio do Na+ - Atingindo-se o pico deste “potencial de ação” desencadeado por um estímulo, os canais de Na+ se fecham e os de K+ vão se abrindo lenta- mente, até ser restabelecido o potencial elétrico de repouso (membrana polarizada). - A bomba de Na+-K+ transporta o excesso de Na+ do interior para o exterior do axônio, e K+ para o interior do mesmo, restabelecendo o equilíbrio químico da célula na fase de repouso. - O impulso se propaga ao longo do axônio até atingir a extremidade do mesmo, onde a transmissão passa de elétrica para química na sinapse. Eventos axônicos Eventos axônicos Eventos sinápticos Eventos axônicos Eventos axônicos Eventos sinápticos Figura 7: Esquema de condução de estímulo nervoso. Figura 8: Esquema de eventos axônicos na condução do estímu- lo excitatório, indicando o poten- cial de ação (a) e a propagação do mesmo ao longo do axônio (b) [Fonte: Chapman, 1998]. BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 34 Eventos sinápticos na condução do estímulo excitatório - Sinapse é a fenda que separa duas células nervosas. - A transmissão do impulso nervoso deve atravessá-la para que se pro- pague, o que é conseguido através da liberação de neurotransmissores na membrana pós-sináptica. - Estes neurotransmissores migram pela fenda e atingem receptores específicos na membrana pós-sináptica, onde desencadeiam novos po- tenciais de ação. - Canais de Ca++ na membrana pré-sináptica modulam a liberação das vesículas com neurotransmissores na sinapse. Neurotransmissores: - Acetilcolina: excitatório, presente no sistema nervoso central. - Glutamato: excitatório, presente em junções neuromusculares. - Octopamina: excitatório, associado a neurônio dorsal mediano despa- reado. - GABA: inibitório, presente no sistema nervoso central de insetos e junções neuromusculares. Estímulo inibitório - Estímulo inibitório leva a uma hiperpolarização da membrana do axô- nio através do fluxo de íons Cl- para o interior da membrana via canais de Cl. - Efeito inibitório bloqueia o excitatório. - Neurotransmissor envolvido em sinapses inibitórias é o ácido -aimnobutírico (GABA). Figura 9: Esquema ilustrativo da condução de estímulo nervoso na sinapse. Representação genérica [Fonte: Nation, 2002]. Figura 10: Síntese geral da condução de estímulos nervosos. [Fonte: Eto, 1990] BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas35 9.2) Inseticidas Neurotóxicos: Que Agem nos Canais de Sódio Mecanismos de Ação do DDT e Piretróides Potenciais de ação repetitivos são desencadeados quando a despola- rização atinge um limite. Os insetos eventualmente morrem devido à hiperexcitação. Observação: este é o sítio principal de ação de DDT e piretróides que, no entanto, também agem em outros sítios (secundários) como o siste- ma GABA, receptores de Ach ativados por Ca++ e ainda interferem com a função reguladora do Ca++. Diferenças entre a ação de DDT e piretróides - DDT e análogos comportam-se como piretróides tipo I, apesar de possuírem estruturas bem distintas. A ação deles tem se correlacionado bem com a toxicidade dos mesmos e à existência do mecanismo de resistência a inseticidas comumente referido como KDR. DDT e análogos e os piretróides (tipo I e II) parecem se ligar a um dos sítios (S2, 3, 5 ou 6) da subunidade , modi- ficando individualmente os canais de Na+ e mantendo-os abertos por período mais longo de tempo. Aumento do perí- odo de abertura dos canais de Na+ levam a um aumento do fluxo de Na+ para o interior da membrana e a prolongação da fase de despolarização após o pico do potencial de ação que é atingido normalmente (Figura 11) Atenção Figura 11: Modificação de potencial de ação frente a ação de DDT. Piretróides Tipo I Piretróides Tipo II Sem grupo cianofenoxibenzil Com grupo cianofenoxibenzil Ex: alletrina, tetrametrina e resmetrina Ex: deltametrina, cipermetrina e fenvalerato Sintomatologia de envenenamento: inquietação => descoordenação => protração => paralisia nos sintomas de insetos e indução de descargas elétricas repetitivas no cordão nervoso (quando cerca de 10% dos canais de Na+ são modificados pelo inseticida) Sintomatologia de envenenamento: ataxia (falta de coordenação) => aces- sos (ataques) => intensa hiperativida- de => bloqueio da produção do poten- cial de ação sem indução de descargas repetitivas BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 36 A sintomatologia do DDT e análogos é a mesma de piretróides tipo I e ambos apresentam coeficiente negativo de temperatura (o que nem sempre acontece com piretróides tipo II). Piretróides tipo II apresentam sintomatologia distinta, mas o mecanismo de ação é o mesmo. A diferença se baseia apenas no fato dos piretrói- des tipo II serem mais potentes, forçando a manutenção dos canais de Na+ abertos por mais tempo e levando ao bloqueio da produção do potencial de ação sem induzir descargas elétricas repetitivas. São estereoespecíficos. Mecanismos de toxicidade seletiva de piretróides a mamíferos e insetos a) coeficiente negativo de temperatura: • mamíferos (homeotérmicos) diferentes de insetos (pecilotérmicos). b) taxa metabólica (global): 2-3 vezes maior em mamíferos. c) diferenças nos canais de Na+: de insetos são mais sensíveis. d) taxa de recuperação: é mais rápida em mamíferos após lavagem. e) tamanho: mamíferos são maiores, mais tempo para destoxificação até atingir sítio de ação. Mecanismo de Ação de Oxadiazinas - Inseticidas derivados das pirazolinas (ou dihidropirazóis) sintetizadas na década de 80 pela Rohm and Haas Company. - Modo de ação distinto de piretróides e DDT, porém atuando no mesmo alvo (i.e., canais de Na+). - Grupo de compostos ainda em desenvolvimento, com apenas um re- presentante comercial (indoxacarb). A oxadiazina indoxacarbe demanda ativação no organis- mo para sua ação tóxica. Após esta bioativação (uma des- carbometoxilação; perda de grupo CO2CH3), o composto ativado mostra potente atividade bloqueadora de canais de Na+. O bloqueio de potências de ação por esse composto é dependente de voltagem (Figura 12) Atenção Figura 12: Registro de potencial de ação mediante ação de indoxacarbe. [Fonte: Wing et al., 1998] BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 37 9.3) Inseticidas Neurotóxicos: que Agem nos Receptores Sinápti- cos a) Inseticidas que Agem nos Receptores de Acetilcolina Mecanismo de ação da nicotinóides e neonicotinóides Estes inseticidas imitam o neurotransmissor ACh e competem com ele por seus receptores (são agonistas da ACh, ou seja, imitam sua ação ape- sar de possuírem fórmulas estruturais bem distintas do composto original) (Fig. 13). Contudo, ao contrário da ACh, nem nicotina e nem os neonicoti- nóides são susceptíveis à hidrólise enzimática pela acetilcolinesterase. As- sim, a interação entre eles continua e os AChR levam à hiperexcitação do sistema nervoso, causando perda da coordenação muscular, convulsões e, finalmente, à morte por falha respiratória (no caso de vertebrados). Em insetos, ao contrário de vertebrados, esses inseticidas agem em gânglios do sistema nervoso central, pois não há AChR no sistema nervoso perifé- rico desses animais. Mecanismo de ação de spinosinas São chamados moduladores dos receptores (nicotínicos) da ACh por também levarem à abertura de canais iônicos na membrana pós-sináptica e à condução do estímulo nervoso. Contudo, seu sítio de ligação nos re- ceptores da ACh parece ser diferente do de nicotinóides e neonicotinóides. Spinosinas também parecem agir sobre receptores GABA de neurônios pequenos no sistema nervoso central de insetos, comprometendo o funcio- namento destes. Mecanismo de ação de nereistoxina e derivados Cartape, bensultape e thiociclam são os inseticidas derivados de ne- reistoxina, que aparentemente demandam bioativação para expressão de efeito tóxico, atualmente em uso que, aliás, tem declinado com o cresci- mento dos neonicotinóides. A ação da nereistoxina e derivados é também nos AChR. Eles, ao con- trário dos nicotinóides, agem como antagonistas (parciais) da ACh, compe- tindo com ela por seus receptores e inibindo os mecanismos de aumento da condutância dos íons Na+ e K+ na membrana pós-sináptica. Esses in- seticidas paralisam os insetos, sem excitação, e bloqueiam a transmissão sináptica. Figura 13: Ilustração do acoplamento alternativo de nicotina em substituição à acetilcolina frente ao receptor desta em sinapses excitatórias. BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 38 b) Inseticidas que Agem nos Receptores de Octopamina Octopamina é um neurotransmissor excitatório de ocorrência pontual no sistema nervoso central e periférico de insetos. Receptores de octopa- mina foram subdivididos em três grupos em termos de suas características farmacológicas: OA1, OA2A e OA2B. Receptores de octopamina parecem ser os sítios primários de ação das formamidinas (p.ex., clordimeforme e amitraz). Parece que esses compos- tos agem como agonistas da octopamina ligando-se a seus receptores e aumentando o estado de excitação do organismo-alvo. Esses inseticidas têm ainda importante ação como disruptores comportamentais, caracterís- tica importante no controle de lagartas, ácaros e carrapatos. c) Inseticidas que Agem nos Receptores de GABA Mecanismo de ação do BHC (= HCH), ciclodienos e fenilpirazóis (fipronil) BHC e ciclodienos ligam-se ao sítio de ligação dos receptores/canais GABA individuais, induzindo uma rápida mudança conformacional do canal para o estado dessensibilizado, suprimindo o fluxo de Cl- para o interior da membrana e levando os insetos à eventual morte por hiperexcitação. Os sítios exatos de ligação do BHC e ciclodienos ainda não são conhecidos. Mecanismo de ação das avermectinas e milbemicinas Ambos grupos são agonistas do GABA e ligam -se aos receptores dele, estimulando o fluxo de Cl- para o interior da membrana. Essa ação acaba por levar a um bloqueio na transmissão do estímulo nervoso, imobilização e paralisia, seguidas por eventual morte do organismo. O sítio exato de ação desses inseticidas ainda não é conhecido, mas eles também parecem agir diretamente sobre os canais de Cl-, aumentando o fluxo desse íon parao interior da membrana. 9.4) Inseticidas Reguladores de Crescimento de Insetos a) Controle hormonal da metamorfose e ecdise de insetos Figura 14: Esquema do controle hormonal da muda em insetos [Fonte: Gullan & Cranston, 1994] BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 39 Hormônio protoraxicotrópico (PTTH, referido no passado como hormô- nio cerebral) é provavelmente um peptídeo pequeno produzido pelas célu- las neurosecretoras do cérebro e armazenada nos corpora cardiaca. Ecdisona (ou hormônio de muda) é liberado da glândula protoráxica em resposta ao PTTH. Esse é um pro-hormônio que posteriormente é me- tabolizado à sua forma ativa (2-hidroxiecdisona) no corpo gorduroso dos insetos. Hormônio juvenil (HJ) é produzido nos corpora allata mediante ativação por PTTH. HJ, bem como ecdisona e PTTH, são vitais para o processo de cresci- mento e desenvolvimento de insetos. Reguladores de crescimento de insetos (RCI) são compostos que inter- ferem com o crescimento e desenvolvimento normal de insetos. Grupos principais de RCI: - Inibidores da formação de cutícula. - Substâncias que alteram a ação de hormônios reguladores de cresci- mento. b) Inibidores da Formação de Cutícula Quitina e sua biossíntese: A quitina é um polissacarídeo formado por unidades de N-acetil gluco- samina (com algumas D-glucosaminas) ligadas por ligações glicosídicas do tipo -1,4. A biossíntese de quitina envolve um processo de polimerização catali- sado pela enzima quitina sintetase. Inseticidas inibidores da formação de cutícula a) Uréias substituídas (aciluérias ou benzoilfeniluréias): “texto-desta- que” estudos difíceis, mas hipótese mais provável é de que estes compos- tos atuem interrompendo a síntese e/ou transporte de proteínas específi- cas requeridas para agrupamento de monômeros de N-acetil glucosamina no polímero de quitina. Outros sítios de ação podem também estar envolvidos, como: - Inibição da quitina sintetaze no último passo da biossíntese de quitina. - Ativação de quitinase, enzima presente no fluido de muda responsável pela quebra da cutícula antiga para que seja (parcialmente) reabsorvida. - Aumento da atividade de fenoloxidase, enzima envolvida no endureci- mento e escurecimento da exocutícula. Figura 15: Pupal normal (esquer- da) e pupa mal-formada devido à exposição ao inibidor da formação de cutícula. [Fonte: Pedigo, 1989] BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 40 Exemplos: diflubenzurom, flufenoxurom, pemflurom e triflumurom; efe- tivos contra Lepidoptera. b) buprofezina: interfere na deposição de cutícula e afeta metabolismo de ecdisteróides. Mecanismo ainda não conhecido. Efetivo contra sugado- res. c) nikkomicina e DU 19111: bloqueiam síntese de quitina (parecem agir na quitina sintetase). d) ciromazina: Afeta o metabolismo de epiderme, parece afetar esclero- tização. Efetivo contra Diptera. c) Substâncias que Afetam a Ação de Hormônios Reguladores de Cres- cimento: Juvenóides: São análogos dos HJs. Uso como inseticida especulado em 1956 por Williams, e em 1965 a ação do primeiro análogo foi reportada (juvabiona ou fator papel, por Sláma). Efeitos fisiológicos dos análogos do HJ: - Efeito deles normalmente não diferenciado dos de HJ. - Efeito principal durante muda de larva à pupa. - Afetam sistema endócrino e podem levar à morfogênese anormal (p.ex., metopreno inibe liberação de PTTH do cérebro, inibe atividade da glândula protoráxica no início do último instar larval, mas a estimula antes da pupação). - Afetam reprodução, interferindo na deposição de vitelogenina nos ovó- citos. - Afetam embriogênese, bloqueando o desenvolvimento do embrião (efeito ovicida). Atuam como agonistas de HJ, interferindo com sua ação modulatória sobre ecdisona. Afeta transcrição durante o período de muda e parecem se ligar a receptores distintos do HJ, mas com efeito semelhante. A expressão gênica alterada compromete o desenvolvimento e funcionamento do orga- nismo, levando à sua morte. Afetam também o remodelamento do sistema nervoso na muda para adulto. Figura 16: Foto de abdomem de percevejo onde foi aplicado juvenóide no formato das letras do fisiolo- gista inglês Prof. Vincent B. Wigglesworth. [Fonte: Nijout, 1994]. BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 41 Exemplos: - Juvenóides estruturalmente mais semelhantes estruturalmente ao HJ: metopreno, hidropreno, quinopreno (mais usados contra Diptera) - Compostos mais recentes (+ potentes, + estáveis sob luz solar e com uso agrícola): fenoxicarbe e piriproxifem. Compostos desenvolvidos baseando-se no princípio da ação antagônica; Primeiro princípio ativo deste tipo foi re- portado por Bowers em 1976 (extrato de Ageratum housto- nianum – precoceno I e II). Ação principalmente em hemime- tábolos e alguns coleópteros. Atenção Grupos de compostos anti-HJ quanto ao modo de ação: a) Competem por receptores dos corpora allata: allatostatina e gonado- tropina. b) Injúria dos corpora allata: precoceno I e II. c) Interferem na síntese de HJ: 1. Nos passos iniciais (principal): fluoromevanolato, compactina, imi- dazoles ETB. 2. Nos passos finais: butóxido de piperonila. Agonistas de Ecdisona Disacilhidrazinas (= bisacilhidrazinas) são agonistas não-esteroidais da 20-hidroxiecdisona que exibem sua ação inseticida via interação com as proteínas receptoras da ecdisona em insetos (complexo receptor EcR/ USP). Seus efeitos em insetos são devidos a esta interação com o complexo receptor EcR/USP e sua persistência nos tecidos do inseto, persistência essa que possibilita a expressão de genes e eventos comportamentais de- pendentes de sua presença, como: - Bloqueio da expressão de DOPA-descarboxilase para esclerotização. - Prevenção do desencadeamento do comportamento de eclosão. Esses compostos foram obtidos a partir de 1983 pela Rohm and Haas e os compostos do grupo atualmente disponíveis são: • Tebufenozide • Halofenozide • Metoxifenozide • Cromafenozide 9.5) Inseticidas que Interferem no Metabolismo Energético Inseticidas que inibem o metabolismo energético podem ser classificados em quatro tipos: 1) bloqueadores do ciclo dos ácidos tricarboxílicos (ciclo de Krebs), 2) inibidores da cadeia de transporte de elétrons, 3) desacopladores da fos- forilação oxidativa, e 4) inibidores da síntese de ATP. Atenção BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 42 a) Bloquadores do Ciclo dos Ác. Tricarboxílicos (TCA ou Krebs) O ciclo TCA constitui parte importante do processo respiratório. Ele uti- liza as substâncias de reserva acumuladas no organismo para a produção de energia para a síntese de componentes celulares, assim como gás car- bônico e água. É na matriz (interior) mitocondrial que ocorrem as reações do ciclo TCA. Compostos fluorados O principal grupo de compostos bolqueadores do ciclo TCA são os in- seticidas fluorados (organofluorados, como fluoroacetamida, e fluoro de- rivados de fitoesteróis, como o 29-fluorostigamsterol). Esses compostos são hidrolizados no organismo pela enzima amidase, que libera ácido flu- oroacético, metabolicamente convertido em ácido fluorocítrico – princípio tóxico que inibe a enzima aconitase no cilco TCA. A inibição dessa enzima leva ao acúmulo de citrato no organismo. A conitase de insetos hidroliza fluoroacetamida mais eficientemente que em mamíferos, podendo ser este um aspecto de seletividade desse grupo de compostos sem utilização co- mercial no momento. b) Inibidores da cadeia de Transporte de Elétrons No ciclo TCA são produzidos nucleotídeos reduzidos (NADH e FADH2) que, nas cristas mitocondriais, passam pela cadeia transportadora de elé- trons, liberando energia no processo (a ser usada síntese de ATP), e água (formada pela liberação dos prótons H+ e oxigênio). Elétrons são transfe-ridos de NADH a O2 através de uma cadeia de três grandes complexos protéicos chamados: - NADH-Q redutase (complexo I) - Citocromo redutase (complexo II) - Citocromo oxidase (complexo III) Elétrons são carreados do comple- xo I para o II pela forma reduzida da ubiquinona (= coenzima Q), que tam- bém carreia elétrons do FADH2 para o citocromo redutase (complexo II). Cito- cromo c, uma pequena proteína, trans- fere elétrons do complexo II para o III, o componente final da cadeia. Figura 17: Esquema geral do metabolismo energético aeróbico. Sítio I Sítio II Sítio III Sítio I Sítio II Sítio III Figura 18: Cadeia de transporte de elétrons indicando os três sítios que a constituem. BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 43 Inseticidas inibidores do complexo I: - Rotenona e piericidinas (naturais; piericidida é produto de fermenta- ção de Streptomyces mobaraensis). Acaricidas METI (“mitochondrial electron transport inhibition”): - Femproximato, fenazaquina, piridabem, pirimidifem, tebufempirade, tolfempirade. - Compostos inibidores da NADH: ubiquinona oxidoredutase. - Principal sítio de inibição da cadeia de transporte de elétrons. Inseticidas inibidores do complexo II: - Hidrametilnom: inseticida usado contra baratas e formigas. - Dicofol: acaricida análogo do DDT, mas modo primário de ação é como inibidor do complexo II da cadeia de transporte de elétrons (que é sítio se- cundário de ação do DDT). Inseticidas inibidores do complexo III O fluacripirim foi o primeiro acaricida, derivado de um grupo de fungici- das, que atua inibindo o complexo III da cadeia de transporte de elétrons A dificuldade inicial no desenvolvimento de compostos que atuam neste sítio era a alta toxicidade a mamíferos normalmente associada a eles, que se conseguiu reduzir com o fluacripirim. O acequinocil é um pro-acaricida muito lipofílico, cujo metabólito desa- cilado com seu grupo hidroxila livre é um potente inibidor do complexo III da cadeia de transporte de elétrons. A fosfina também parece atuar na citocromo oxidase, inibindo essa en- zima, mas tal mecanismo ainda não está bem elucidado. Isso pode aconte- cer via formação de formas reativas de oxigênio (i.e., radicais livres). Inibidores da fosforilação oxidativa O diafentiuron e acaricidas organoestânicos (azociclotina, cihexatina e óxido de fembutatina) são inibidores da fosforilação oxidativa que interrom- pem a formação de ATP. Contudo, o sítio de inibição destes compostos não é ainda conhecido. c) Desacopladores da Fosforilação Oxidativa Normalmente esses desacopladores são compostos acídicos com a habilidade de destruir o gradiente de prótons da membrana mitocondrial, permitindo a passagem de prótons através dela. Como o gradiente de pró- tons é necessário para a produção de ATP (teriam de penetrar na matrix mitocondrial através da aporção Fo da ATPase-H+ para a síntese de ATP), estes compostos desacoplam a fosforilação oxidativa da cadeia de trans- porte de elétrons. Os antigos dinitrofenóis eram compostos de atividade tóxica geral que atuam desta forma. Contudo, recentemente desacopladores seletivos vêm sendo desenvolvidos. Exemplos: - Clorfenapir: pró-inseticida ativo contra lagartas e sugadores. - Acaricida DNOC (4,5-dinitro-o¬-cresol) e pro-pesticidas dinocap e di- nocton. - Sulfonamidas fluorinadas: sulffluramida é principal exemplo (uso em isca formicida no Brasil). BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 44 e) Inibidores da Formação de ATP O sistema respiratório possui numerosos carreadores de elétrons, como os citocromos. A transferência passo a passo de elétrons do NADH ou FADH2 para O2 através destes carreadores leva ao bombeamento de prótons para fora da matriz mitocondrial. Com isso, uma força movida a prótons é gerada consistindo de um gradiente de pH e o potencial elétrico transmembrânico. ATP é sintetizado quando os prótons migram de volta à matriz mitocondrial através de um complexo enzimático formado pela enzi- ma ATPase F1F0 dependente de Mg+2. Figura 19: Esquema de uma mi- tocôndria indicando a ocorrência de protonação ao longo de sua membra- na pela ação da cadeia de transporte de elétrons e extrusão de prótons pela ATPase F1F0, possibilitando formação de ATP. 9.6) Inseticidas que Atuam no Intestino e Outros a) Inseticidas que Atuam no Intestino O sistema digestivo e o processo de digestão são alvos de inseticidas biorracionais, ou mesmo biopesticidas, como referidos por alguns. Dois grupos de proteínas tóxicas se destacam a esse respeito: - Toxinas de Bacillus thuringiensis - Inibidores de protease Toxinas de Bacillus thuringiensis Bacillus thunringiensis é uma bactéria aeróbica, gram-positiva, forma- dora de esporos que é comumente encontrada no ambiente. Produz uma série de toxinas inseticidas, sendo a principal a -endotoxina, cristal protéi- co produzido durante esporulação. O uso desta bactéria teve início na dé- cada de 50 e formulações comerciais da mesma ainda persistem no mer- cado para controle de mosquitos e lagartas. Contudo, na década de 80, seu potencial de uso foi expandido graças à manipulação genética. As -endotoxinas constituem-se numa família de proteínas (aparente- mente glicoproteínas) sintetizadas como moléculas grandes cristalizadas como inclusão parasporal. Três faixas de tamanho (massa molecular) são reconhecidas e ligadas a diferentes famílias: - 125-138 kda: famílias codificadas como cryI (eficaz contra Lepidopte- ra) e cryIV (eficaz contra Diptera). - 65-75 kda: famílias cryII (p/ Diptera e Lepidoptera), cryIII (p/ Coleopte- ra) e cryIV (p/ Diptera). Compostos naturais como a oligomicina (produzindo pelo actinomiceto Streptomyces diastachromogenes) inibem a ATPase, interagindo com uma proteína hidrofóbica de sua porção F0, o que causa a inibição do fluxo de prótons e tam- bém uma alteração na conformação da ATPase-F1. O acaricida organossulforado propagite também atua inibindo a ATPase. Atenção BAN 501: Toxicologia de Inseticidas e Acaricidas 45 - 25-28 kda: cyt (p/Diptera). As toxinas cry têm origem comum e são empacotadas em inclusões visíveis em microscópio de luz. Normalmente as inclusões contêm mais de uma proteína. Cyt normalmente agrega-se como trímero ou tetrâmero, aparentemente por pontes dissulfeto; Modo de ação: As inclusões cristalizadas são dissolvidas no intestino (médio) do in- seto, liberando as protoxinas, que são proteoliticamente convertidas (i.e., ativadas por proteases) a peptídeos tóxicos de menor tamanho (pH alcalino parece importante). Os fragmentos ativos são de tamanho variado (27 kda para cyt, até 60-70 kda para cry). O modo de ação da toxina ativada está ligado à sua estrutura tridimensional. O fragmento ativo constitui-se de uma porção tóxica (formadora de poro na membrana) e uma porção de ligação à célula. Baseado em estudos de cristalografia conduzidos com cryIIIA (ativa contra Coleoptera), a toxina ativada possui três porções funcionais. A por- ção carboxílica constitui-se de um sanduíche de duas folhas- antiparale- las (- sanduíche; porção III). Esta porção é mais variável e parece estar envolvida na seletividade da toxina, assim como a porção II. A porção II, intermediária entre as porções I e III, é formada por três folhas-. É a porção II que se liga aos receptores (aparentemente de natureza glicoproteica, mas ainda pouco conhecidos) da membrana do epitélio intestinal. Tal ligação leva a uma mudança de con- formação na porção III e à inserção da porção I (formada por um grupo de seis -hélices hidrofóbicas e anfipáticas) na membrana lipídica das células intestinais. A inserção da porção III causa mudanças estruturais no poro, possibilitando penetração de moléculas cada vez maiores, até a eventual lise da célula. A morte acontece
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