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Doutrina Vitimologia LÚCIO RONALDO PEREIRA RIBEIRO Advogado no Rio de Janeiro. SUMÁRIO:1. Conceito;2. Vítima;3. Perigosidade vitimal;4. Personalidade vitimógena;5. Classificações;6. Histórico;7. Objeto;8. Autonomia da vitimologia? Bibliografia. O estudo da vítima revitalizou a Criminologia, apontandolhe novos rumos. A Vitimologia é um fundamental instrumento de políticas de governo, visto que permite traçar estratégias governamentais preventivas para evitar a vitimização, a ocorrência do dano (ELIAS, 1986). Por outro lado, pode possibilitar que a vítima, consciente desses processos e de sua etiologia, adote comportamentos, na sua rotina, por sua conta, também para evitar o dano, ampliando a proteção dos bens. É mister, todavia, que a vítima tenha aprendido e apreendido este conhecimento, transcendendo às situações casuísticas do cotidiano, potencializando sua percepção da realidade para perceber as causas próximas e remotas do seu atuar, mormente sobre as conseqüências daí advindas (ELIAS, 1986). O estudo da vítima é também uma nova etapa do humanismo no Direito, em especial no direito penal, pois que, focado na vítima, objetiva estudála em suas múltiplas dimensões, social, psicológica, moral, filosófica, empregando, para tanto, igualmente diversos e ecléticos métodos (FILIZZOLA et al., 1995; e tb. PELAÉZ, 1975). A seguir trataremos do conceito, histórico, objeto e principais classificações adotadas pela doutrina sobre o tema. 1. CONCEITO Vitimologia (vítima + logia) é o estudo da vítima em seus diversos planos. Estudase a vítima sob o aspecto global, integral: psicológico, social, econômico, jurídico, consoante define EDUARDO MAYR, in verbis: "Vitimologia é o estudo da vítima no que se refere à sua personalidade, quer do ponto de vista biológico, psicológico e social, quer o de sua proteção social e jurídica, bem como dos meios de vitimização, sua interrelação com o vitimizador e aspectos interdisciplinares e comparativos" (p. 18). Ao que podemos acrescentar também o estudo dos aspectos ecológicos ambientais, como contribuição das teorias ecológicas da Criminologia (MOLINA, passim). RDP Nº 7 AbrMaio/2001 DOUTRINA 31 Desde a Escola Clássica impulsionada por BECCARIA e FEUERBACH à Escola Eclética de IMPALOMENI e ALIMENA, passando antes pela Escola Positiva de LOMBROSO e GAROFALO, o Direito Penal praticamente teve como meta a tríade delitodelinqüentepena. O outro componente do contexto criminal, a vítima, jamais foi levado em consideração. Isto apenas passou a ocorrer quando outras ciências, e principalmente a Criminologia, tiveram que vir em auxílio do direito penal para análise aprofundada do crime, do criminoso e da pena (MOLINA; LIRA, 1974; INGENIEROS, 1934; GAROFALO, 1997; FARIAS JR., 1993; MEZGER, 1934, passim). "As primeiras manifestações formais sobre a vítima" como observam NEWTON e VALTER FERNANDES (p. 455, 1995), sua tragédia e a desdita de seus dependentes ou familiares foram levantadas por ETIENE DE GREEF e WILHELM SAVER. Todavia, um estudo sistemático da vítima somente começou com o advogado israelense BENIAMIM MENDELSOHN em 1945, criando a Vitimologia, no entanto, anteriormente, outros autores já haviam realizado estudos sobre o tema. Em 1948, HANS VON HENTIG publicou O criminoso e sua vítima. Posteriormente, outros cientistas sociais se interessaram pelo tema. No exterior trataram da Vitimologia: PAASCH, SHULTZ, MORRIS, QUINNEY, SAND, SILVERMAN, MARVIN, WOLFGAN, THOMAS QUINCEY, LUIS JIMÉNEZ DE ASÚA, OCTÁVIO ITURBE e ANTOUN FAHMY ABDOU ELLEMBERGER, SUTHERLAND, LOPEZREY (PAPALEO, passim). No Brasil, entre outros, EDGARD DE MOURA BITTENCOURT, ALVES DE MENEZES, OLYMPIO PEREIRA DA SILVA, CELSO CÉSAR PAPALEO, LAÉRCIO PELEGRINO, EDMUNDO OLIVEIRA, JOAQUIM CIRINO DOS SANTOS, FERNANDO WHITAKER, EDUARDO MAYR, HEITOR PIEDADE JR., ESTER KOSOVSKI, SELMA ARAGÃO. MENDOLSOHN foi o primeiro autor a empregar o termo "vitimologia" em The origins of the doctrine of victimolog (p. 3 e 4, MAYR et al., 1990). Todavia, devemos registrar que há certa polêmica acerca de quem seria o verdadeiro fundador da Vitimologia, como informa EDGARD BITTENCOURT (passim). Alguns atribuem a HENTIG, outros ao próprio a MENDELSOHN e ainda outros atribuem simultaneamente aos dois. 2. VÍTIMA O termo vítima vem do latim victimia e victus, vencido, cominado, refere se a animal oferecido em sacrifício aos deuses no paganismo, ou sacrificado, morto, abatido, ferido, por outro. Posteriormente, o conceito de vítima foi sendo ampliado, para caracterizar todo ser humano que é prejudicado de alguma forma. 32 RDP Nº 7 AbrMaio/2001 DOUTRINA STANCIOU (Portão, 1982, p. 33) faz esta distinção: "La victime est, dans un sens large, l'être qui souffre d'une maniére injuste (le mót est d'origine latine; 'victima' signifiait créature offerte cri sacrifíce aux dieux). Les deux traits caracteristiques de la victimes sont dont la soffrance et l'injustice, injuste et pas nécessairement illégale". O conceito de vítima tornouse polêmico. A primeira polêmica é acerca do alcance do conceito, o que tem implicações sobre o próprio objeto da Vitimologia. Um primeiro conceito considera que vítima é aquela definida na lei. Um segundo considera que são também os prejudicados. Um terceiro considera que os grupos tais como a família, o Estado também devem ser considerados vítimas. Podemos também classificar em conceito restrito e amplo. O conceito amplo sustenta que vítima não é apenas aquela que é sujeito passivo e, ou prejudicado por delito, mas toda pessoa que padece de um sofrimento, o qual pode ter sido causado por fato humano ou natural. Como reverso da vítima há o vitimizador, que é aquele que impinge o sofrimento. Assim é que toda pessoa é vítima e vitimizador de uma forma ou de outra. Dentro desta conceituação ampla adotada pela Vitimologia, a vítima pode ser também vitimizador de si mesmo, sendo ao mesmo tempo vítima e vitimizador. A dinâmica de vitimização ocorreria também em outras áreas do direito e da vida humana, tais como direito civil e administração. Todavia, outros estudiosos o questionaram, observando que a ampliação do conceito poderia descaracterizar o objeto de estudo. No Brasil, no entanto, pelo menos, os seguidores mais ativos da Vitimologia representados por HEITOR PIEDADE JÚNIOR, ESTER KOSOVSKI, SELMA ARAGÃO, dentre outros integrantes da chamada Sociedade Brasileira de Vitimologia parecem adotar uma perspectivaampla do conceito de vítima e, conseqüentemente, da Vitimologia. 3. PERIGOSIDADE VITIMAL Perigosidade vitimal é um estado psíquico e comportamental em que a vítima se coloca estimulando a sua vitimização, v.g., a mulher que usa roupas provocantes, estimulando a libido do estuprador no crime de estupro. HEBER SOARES VARGAS (MAYR, VARGAS et al., p. 60) assim define perigosidade vitimal: "É qualidade e quantidade de constantes estímulos agressivos que a vítima projeta objetiva e subjetivamente sobre si ou sobre outrem, favorecendo ou estimulando nesses conduta violenta, impulsiva e agressiva capaz de provocar danos e sofrimentos em si próprio". Sua apreciação sempre encerra um julgamento de valor (VARGAS, p. 80). Em muitos casos o principal municiador deste estado é o inconsciente. Temos então as vítimas inconscientes e as conscientes. RDP Nº 7 AbrMaio/2001 DOUTRINA 33 Nesse estado, a vítima projeta estímulos objetivos e subjetivos que causam suavitimização pelo agente. Há estímulos que têm uma maior atuação no agente, como, por exemplo, em temas que a sociedade, em geral, considera como provocantes; e há ainda outros estímulos que dependem muito mais da interpretação do agente, do que de uma importância particular, específica para o agente. 4. PERSONALIDADE VITIMÓGENA Personalidade é o conjunto de fatores emocionais e intelectuais, ora herdados, ora adquiridos. Para FREUD a personalidade tinha três funções básicas: o Ego, o Id e o Superego. O primeiro corresponderia ao núcleo da personalidade, o segundo aos elementos instintivos e o terceiro à função de censura social introjetada. A personalidade da vítima caracterizase por quatro fatores de risco, basicamente: a ansiedade, a agressividade, o sentimento de culpa, o masoquismo. Estes quatro elementos gravitam em torno de um elemento central: um ego frágil, interagindo com o meio ambiente em dependência objetiva e subjetiva da causação vítimoimpelente (MAYR et al., passim). ROSS (p. 36, 1996), propondo estratégias psíquicas e comportamentais para evitar a vitimação, destaca dos elementos sentimento de culpa, vulnerabilidade e perda/falta de confiança. 5. CLASSIFICAÇÕES Há várias classificações acerca da vítima, tais como as de LOLA ANYAR DE CASTRO, JIMÉNEZ DE ASÚA, MENDELSOHN (p. 6, MAYR et al.). 1ª) Classificação de MENDELSOHN: Mecanismos situacionais e mecanismos relacionais Mecanismos situacionais Do ponto de vista moral e jurídico a) vítima que colabora; b) vítima que não colabora; c) vítima por ignorância; d) vítima que pratica o crime. Mecanismos situacionais Do ponto de vista psicossocial a) vítima em cuja conduta está a origem do delito; 34 RDP Nº 7 AbrMaio/2001 DOUTRINA b) vítima que resulta de consenso; c) vítima que resulta de uma coincidência. Mecanismos relacionais Relações psicobiológicas neuróticas e geno biológicas a) vítima de crimes; b) vítima de si mesma, suicídio, autoacusações, autopunições (PIEDADE JR., p. 100, e tb. PAPALEO, p. 65). 2ª) Classificação de JIMÉNEZ DE ASÚA a) vítima indiferente (o assaltante que ataca qualquer um); b) vítima ex crime determinante passional por ciúmes (vítima resistente) (obstaculiza); c) vítima coadjuvante (ajuda o criminoso) (PIEDADE JR., p. 100). 3ª) Classificação de LOLA ANYAR DE CASTRO a) vítima coletiva e singular; b) vítima de crimes alheios e de si mesma; c) vítima por tendência, reincidente, habitual e profissional; d) vítima que age com culpa inconsciente, consciente, com dolo. 4ª) Classificação de FATTAH ABDEL EZZAU (PIEDADE JR., p. 102, Vítimologia) Vítimas não responsáveis: a) vítimas desejosas ou suplicantes: cuida de um tipo de vítima que ora deseja ser vitimizada, ora faz tudo a seu alcance para possibilitar ao vitimário realizar o processo vitimizador que virá alcançála; b) vítimas que consentem livremente; c) vítimas que mesmo não consentindo "não podem deixar de ser responsabilizadas, uma vez que, de certa forma, favorecem, propiciando o resultado". SEPAROVIO classifica em vítima específica (pessoa física ou moral) e não específica (entre abstrato, v.g., ordem pública, religião). Vítimas de crimes e vítimas de acidentes. Vítimas de fato e em potencial. Conhecidas e desconhecidas. Que simulam, vítimas de tentativa, as covítimas (p. 70, PAPALEO) A partir das normas do CP, ESTER KOSOVSKI, organiza a seguinte classificação: 1. Relativo a agravantes: a) vítima reduzida a impossibilidade de defesa; b) vítima menor de quatorze anos nos crimes contra os costumes (presunção de violência); c) vítima idosa, enferma, com vínculos de parentesco ou coabitação, ascendência, descendência, irmão ou cônjuge; d) meio cruel que faz vítima sofrer; RDP Nº 7 AbrMaio/2001 DOUTRINA 35 e) por ocasião de desgraça particular do ofendido. 2. Relacionada às atenuantes: a) vítima que provoca injustamente o delito; b) retorsão da vítima; c) vítima por motivos nobres ou motivo de relevante valor social ou moral; d) prestação de socorro à vítima; e) as diretrizes do art. 59 para a aplicação da pena. A mulher como vítima sujeito passivo de aborto (não consentido), estupro, sedução, rapto não consensual (p. 7 e 8). ELLEMBERGER, psiquiatra e criminólogo belga, classificava da seguinte forma: vítima latente: criminoso vítima e relação específica criminoso vítima. Pretendia, com isso, caracterizar o binômio autorvítima. Distingue ainda os aspectos que contribuem para a vitimização: criminoso que é vítima. traços biológicos e morais; características socioculturais; relações eventuais como criminoso; papel e contribuição delitógenos (PAPALEO, p. 62). CALEWAERT, jurista belga, estudando o estelionato e suas vítimas, classifica em: vítima por necessidade afetiva, quando atua com boafé e sem culpa; vítima por desonestidade (PAPALEO, p. 66). GULOTA: vítimas falsas e reais (PAPALEO, p. 68). Ainda outras classificações podem ser pensadas, tais como: vítima consciente e inconsciente. A propósito, EDUARDO MAYR (p. 20) destacou a importância de identificar os aspectos não objetiváveis do processo de vitimização a fim de ampliar a esfera de atuação e, conseqüentemente, de proteção da vítima. Como exemplo de vítima inconsciente e subconsciente MAYR cita o do "afloramento velado da libido reprimida". 6. HISTÓRICO A Vitimologia surgiu como estudo científico na metade deste século através do advogado israelense BENIAMIM MENDELSOHN. A partir de então, gradativamente, expandiuse pelo mundo. No Brasil, temos como seu introdutor HEBER SOARES VARGAS. LAÉRCIO PELEGRINO (p. 30) aduz que já em 1909, na obra As três escolas penais, MONIZ SODRÉ tratou da vítima no que tange à compensação pelos danos sofridos. Modernamente, temos como expoentes da Vitimologia nacional CÉSAR CELSO PAPALEO, HEITOR PIEDADE JÚNIOR, SELMA ARAGÃO, EDUARDO MAYR, EDGARD MOURA BITTENCOURT, dentre outros. Em 1902, HANS GROS destaca a conduta da vítima de fraude (p. 11, MAYR). Em 1936 e 1939, ROESNER publicou dois trabalhos sobre homicidas e suas relações com as vítimas (MAYR, p. 12). 36 RDP Nº 7 AbrMaio/2001 DOUTRINA O estudo da vítima, principalmente seu aspecto etiológico relativo à origem do crime a partir da vítima , ganha cada vez mais relevância, pois que o conhecimento apenas do aspecto dogmático não é suficiente diante de uma realidade crescentemente complexa e dinâmica. É imprescindível o conhecimento das causas próxima e remotas do evento. Assim é que EDGARD BITTENCOURT (p. 66) aduz que, in verbis: "O grau de inocência da vítima em confronto com o grau de culpa do autor compõem precisamente os aspectos que têm sido negligenciados e que podem contribuir para a explicação de numerosos casos. O conhecimento apenas dos pontos que se referem ao criminoso é suficiente." "A nova doutrina, entre outras proposições, entrosadas em diversos ramos do conhecimento humano, sugere que na fixação em espécie da relação criminal (infrator e vítima) não se abandone o estudo, com o mais puro objetivismo, do papel de cada um dos sujeitos, ativo e passivo, do delito. Por essa forma se estabelecerá a contribuição de cada qual, não na causa e no resultado, dogmaticamente apurados, senão nas suas causas próximas ou remotas, mas adequadas, da ocorrência prevista na lei penal." (p. 63) LAÉRCIO PELEGRINO é da mesma opinião, in verbis: "Nos dias atuais, o julgamento, ou o encaminhamento de um processocriminal estuda a vítima apenas como vítima, sem dar o devido destaque ao seu papel no crime. A Vitimologia se propôs a reformular esse conceito, estudando também a colaboração do ofendido e sua conseqüente responsabilidade." (p. 10, PELEGRINO) Consoante conclui EDGARD BITTENCOURT (p. 223), a importância do papel da vítima decorre principalmente da Política Criminal, da aplicação da pena e da prevenção do delito. Como exemplo de pesquisa empírica vitimológica, podemos citar a pesquisa realizada pelos mestrandos em Direito da UERJ, sob a orientação do professor JOÃO MARCELLO, para verificar a vitimização entre os estudantes desta mesma universidade. O universo da pesquisa foram os alunos de Direito da Graduação desta universidade. Disto foram geradas três conclusões básicas: os estudantes de Direito da UERJ não confiam na Justiça Penal; estão inseguros com relação à sua paz social, "o que importa em rebaixamento do nível de qualidade de vida com reflexos negativos em seus estudos" (p. 250, ARAÚJO JR.); "existe a possibilidade de uma grande internalização da violência, pois um grupo muito jovem de indivíduos sofreu um número muito grande de crimes, em pequeno intervalo de tempo" (p. 250 e 251). Modernamente, têm surgido diversos estudos vitimológicos. Exemplificativamente podemos citar os seguintes: HEITOR PIEDADE JR. e SÉRGIO ADORNO acerca da violência, criminalidade e Administração da Justiça. EDWARD ROSS (1996), no estabelecimento de estratégias e técnicas para evitar a vitimização. RDP Nº 7 AbrMaio/2001 DOUTRINA 37 FATTAH (1989), no estudo da vitimização de determinadas camadas da sociedade, como dos idosos. MCCULLOUGH (1995), propondo medidas psicoterapêuticas. BRIGGS (1995), demonstrando a etiologia da vitimação sexual, que torna a vítima um potencial ofensor no futuro. 7.OBJETO O objeto da Vitimologia é o estudo da vítima em seus diversos aspectos. Este estudo requer, assim, uma grande interdisciplinaridade de métodos das diversas formas de conhecimento. A vitimologia é, portanto, um estudo multidisciplinar (BITTENCOURT, passim). A professora LOLA ANYAR DE CASTRO, renomada criminóloga venezuelana, em sua obra Vitimologia tese de doutorado publicada em 1969, citando MENDELSOHN, sintetiza o objeto da Vitimologia nos seguintes itens: 1º) estudo da personalidade da vítima, tanto vítima de delinqüente, ou vítima de outros fatores, como conseqüência de suas inclinações subconscientes; 2º) o descobrimento dos elementos psíquicos do "complexo criminógeno" existente na "dupla penal", que determina a aproximação entre a vítima e o criminoso, quer dizer: "o potencial de receptividade vitimal"; 3º) a análise da personalidade das vítimas sem intervenção de um terceiro estudo que tem mais alcance do que o feito pela Criminologia, pois abrange assuntos tão diferentes como os suicídios e os acidentes de trabalho; 4º) estudo dos meios de identificação dos indivíduos com tendência a se tornarem vítimas. Seria possível a investigação estatística de tabelas de previsão, como as que foram feitas com os delinqüentes pelo casal Glueck, o que permitiria incluir os métodos psicoeducativos necessários para organizar a sua própria defesa; 5º) a importantíssima busca dos meios de tratamento curativo, a fim de prevenir a recidiva da vítima (p. 6, KOSOVSKI). Podemos sintetizar, concluindo, que os objetivos finais da Vitimologia são: evidenciar a importância da vítima; explicar a conduta da vítima; medidas para reduzir a ocorrência do dano (no âmbito de políticas públicas e de comportamento individual); assistência às vítimas. Notese que, com a difusão de uma crença na cidadania, tem crescido o número de entidades da sociedade civil que têm por objetivo a assistência às vítimas. O fenômeno é mundial(GOHN, passim). 8. AUTONOMIA DA VITIMOLOGIA? A Vitimologia é um apêndice da Criminologia ou já pode ser considerada uma ciência autônoma, segundo a maioria dos seus estudiosos. Pelo menos, atualmente, ainda deve ser considerada apenas uma parte da Criminologia. MENDELSOHN, no entanto, pontuou que, através da sistematização dos seus conceitos, ela pode se tornar no futuro uma Ciência; alguns autores, no entanto, entenderam que MENDELSOHN teria sustentado que no tempo presente a Vitimologia já seria uma Ciência, o que foi objeto de polêmica. 38 RDP Nº 7 AbrMaio/2001 DOUTRINA BIBLIOGRAFIA ABRAHAMSEN, David. Delito y psique. Versión de Teodoro Ortiz. México: Fondo de Cultura Económica, 1946. ARAÚJO JR., João Marcello de. "Vitimização entre estudantes de Direito da UERJ: um estudo de criminografia". In Revista Brasileira de Ciências Criminais, nº 16, out./dez. 1996. BITTENCOURT, Edgard. Vítima. São Paulo: Universitária de Direito, 1971. BRIGGS, Freda. From victim to offender: how child sexual abuse victims become offenders. Australia: Alem & Unwin, 1995. CASTRO, Lola Anyar de. Criminologia da reação social. Trad. de Ester Kosovski. Rio de Janeiro: Forense, 1983. 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