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F u n d a m e n to s d a E d u c a ç ã o I n fa n ti l Luciana de Luca Dalla Valle 1Capa.indd 1 8/7/2010 10:44:56 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 08/07/2010 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________ Fund_Educ_Infantil.indd 4 6/7/2010 13:52:07 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 4 of 100 Fundamentos da Educação Infantil Curitiba 2010 Luciana Rocha de Luca Dalla Valle Fund_Educ_Infantil.indd 1 6/7/2010 13:52:07 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 1 of 100 FAEL Diretor Acadêmico Osíris Manne Bastos Diretor Administrativo-Financeiro Cássio da Silveira Carneiro Coordenadora do Núcleo de Educação a Distância Vívian de Camargo Bastos Coordenadora do Curso de Pedagogia EaD Ana Cristina Gipiela Pienta Secretária Geral Dirlei Werle Fávaro SiStEmA EDuCACioNAL EADCoN Diretor Executivo Julián Rizo Diretores Administrativo-Financeiros Armando Sakata Júlio César Algeri Diretora de operações Cristiane Andrea Strenske Diretor de ti Juarez Poletto Coordenadora Geral Dinamara Pereira Machado EDitorA FAEL Coordenador Editorial William Marlos da Costa Edição Silvia Milena Bernsdorf Projeto Gráfico e Capa Denise Pires Pierin ilustração da Capa Cristian Crescencio Diagramação Denise Pires Pierin Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cleide Cavalcanti Albuquerque CRB9/1424 Valle, Luciana Rocha de Luca Dalla L931f Fundamentos da educação infantil / Luciana Rocha de Luca Dalla Valle. – Curitiba: Editora Fael, 2010. 98 p.: il. Nota: conforme Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. 1. Educação de crianças. I. Título. CDD 372 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. Fund_Educ_Infantil.indd 2 6/7/2010 13:52:07 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 2 of 100 Agradeço aos meus primeiros tempos de professora de Educação Infantil e aos alunos dessa época, pelas tardes maravilhosas de aprendizado mútuo. Agradecimentos Fund_Educ_Infantil.indd 3 6/7/2010 13:52:07 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 3 of 100 Fund_Educ_Infantil.indd 4 6/7/2010 13:52:07 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 4 of 100 apresentação Para ser um educador infantil é preciso tornar-se um profissional com múltiplas possibilidades e sólida formação, que tenha como base a docência em seu sentido amplo. Assim, adquire-se as capacidades de discernimento, de senso de justiça, de organização, de relações humanas e pedagógicas, de postura investigativa, de planejamento, de astúcia e visão de futuro, de validar atitudes e experiências e de encarar seu papel como um articulador ou catalizador das ideias construídas pelo coletivo. O completo e abrangente conteúdo deste livro representa o resultado da longa experiência de Luciana de Luca como educadora e pesquisadora da Educação Infantil. Por isso, constitui-se, sem dúvidas, em um instrumen- to importantíssimo nas mãos de educadores. Após realizar um panorama sobre os primeiros caminhos da Educação Infantil, a autora estabelece um paralelo entre a infância de ontem e de hoje, com destaque para suas impli- cações educacionais. Além disso, procura delinear a história e a legislação, buscando articular concepções da infância, suas teorias e práticas. Certa- mente, essa é a parte mais rica do trabalho, sobretudo por estar impregna- da pela prática profissional extremamente bem-sucedida da autora. No livro, também são tecidas tendências em relação ao trabalho do professor de Educação Infantil. Levando em conta tais reflexões perti- nentes, mencionando diretrizes e parâmetros educacionais e repensando o processo de avaliação, as considerações da autora fornecem subsídios importantes para viabilizar a ação docente. A Educação Infantil, sendo a prática mais humana e fundamental da es- pécie, acaba muitas vezes sendo mais vivenciada do que pensada. No entanto, longe disso, Fundamentos da Educação Infantil nos convida ao pensamento. Ana Maria Baroni Rezende* * Pedagoga com especialização em Educação Infantil e Psicopedagogia (UEMG). Educa- dora infantil há 16 anos, atualmente é diretora pedagógica de uma escola particular de Curitiba e dá palestras para educadores, dentro da perspectiva “Educando para educar”. apresentação Fund_Educ_Infantil.indd 5 6/7/2010 13:52:07 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 5 of 100 Fund_Educ_Infantil.indd 6 6/7/2010 13:52:07 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 6 of 100 Prefácio........................................................................................ 9 1 Os primeiros caminhos da Educação Infantil ........................... 13 2 Os caminhos da Educação Infantil no Brasil: história e legislação .................................................................. 23 3 Concepção de infância: inter-relações da sociedade com a criança ............................................................................ 37 4. Documentos da Educação Infantil............................................. 51 5 Propostas metodológicas para a Educação Infantil ................. 63 6 Reflexões sobre a formação do professor da Educação Infantil ....................................................................... 73 7 Parceria e avaliação na Educação Infantil ................................ 83 Referências................................................................................ 91 sumário sumário Fund_Educ_Infantil.indd 7 6/7/2010 13:52:07 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 7 of 100 Fund_Educ_Infantil.indd 8 6/7/2010 13:52:07 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 8 of 100 9 prefácio prefácio No início de 1990, fui aceita como professora de uma sala de aula de pré-escola (a terminologia “Educação Infantil” surgiu de- pois), em uma grande rede de escolas de Curitiba, capital paranaense. Estava em vias de me formar em Pedagogia e essa oportunidade de trabalho era a chance que precisava para que os conteúdos teóricos fresquinhos que havia adquirido na graduação se tornassem práticos. Dessa forma, frente àqueles 15 pequenos alunos, nascia uma pro- fessora idealista, sonhadora e que rapidamente percebeu que tinha muito mais perguntas – como ensinar, o que as crianças sabem, o que devem saber, e tantas outras – do que respostas. Ao mesmo tempo, percebi que a “culpa” pela falta de respostas não era dos meus cursos ou dos poucos estudos. A questão que se apresentava (sobre a qual ainda reside minha busca diária) é que as dúvidas surgiam na medida em que o relacionamento com as crianças ia progredindo. Portanto, as respostas não estão prontas em um grande livro; elas são construí- das a cada dia, em um ritmo dialético estritamente ligado à vivência da práxis. A busca, portanto, era, e ainda é ininterrupta. A inquietude da busca dessas respostas me fez estudar cada vez mais, e quanto mais estudava, mais desejava aprender. Aos poucos, fui aprofundando-me no tema do ensino de crianças pequenas: havia muito a saber e minha vontade não tinha fim. Como professora, vivi dias maravilhosos, com experiências que são bem mais fáceis de serem sentidas do que explicadas. Também como professora, ouvi de outros profissionais que eu deveria me dedi- car a outros temas da Educação que não fossem tão “simples” quanto a educação dos pequenos. Fico feliz de não ter desistido. Fund_Educ_Infantil.indd 9 6/7/2010 13:52:07 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 9 of 100 10 A deliciosa experiência do meu primeiro ano como professora e pesquisadora do temam, e dos muitos anos seguintes, fizeram-me perceber o quão rico é o trabalho com essa faixa etária e quantodessa riqueza cabe ao professor, destacando a dedicação e competência que esse profissional precisa ter. Quando as crianças deixaram de fazer parte do meu dia a dia como alunos, meu caminho, então, enveredou por uma estrada diferente: decidi dividir, com outros professores de crianças pequenas, os conhecimentos que acumulei nesses anos todos de trabalho. Costumo dizer que a melhor parte de ser professor é realmente ser professor. É viver a realidade da escola, buscar as res- postas através dos referenciais teóricos necessários para fundamentar sua prática. Como professores, estamos sempre convidados a obter o conhe- cimento. É isso que faço aqui: este livro é um convite para se co- nhecer os fundamentos que alicerçam a Educação Infantil, com des- taques para a importância do conhecimento dos fundamentos, não em detrimento das práticas, mas como sustentação para as atividades que executamos diariamente. Muitas vezes, vi professores solicitando exemplos de práticas educativas (que são fundamentais para um bom desenvolvimento da ação pedagógica), mas que se esqueciam de es- tudar a teoria, o nascimento das ideias, o fundamento que sustenta a práxis. Não há prática educativa sem o embasamento de uma teoria. Assim, neste livro, o leitor encontrará a história da Educação Infantil, desde as formas de atendimento destinadas às crianças pe- quenas ao longo da história da humanidade, com uma retrospectiva das concepções sobre a educação de crianças pequenas na Idade Mé- dia, passando pelas Idades Moderna e Contemporânea, e chegando prefácio prefácio Fund_Educ_Infantil.indd 10 6/7/2010 13:52:07 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 10 of 100 11 prefácio prefácio aos dias atuais. Conhecerá, também, alguns precursores da Educação Infantil e suas importantes contribuições para a metodologia de edu- car as crianças pequenas e, finalmente, irá compreender melhor os conceitos que compõem a Educação Infantil, abrangendo tanto as ideias pedagógicas, quanto a legislação. Esta obra pretende, através de sua leitura, oportunizar momentos de reflexão sobre como as sociedades atenderam e educaram as crian- ças de suas épocas, e que reflexos esses estudos têm na forma como educamos nossas crianças atualmente. Isso nos fará compreender as tendências pedagógicas, as concepções de infância e metodologias de ensino destinadas à Educação Infantil. Portanto, ao abordar o tema Educação Infantil neste livro, pro- pus-me explicitar seus fundamentos, dando destaque ao fato de que uma Educação Infantil de qualidade passa, seguramente, pela forma- ção adequada e bem fundamentada de seus professores. Sendo assim, aceitem o convite e sejam bem-vindos ao mundo dos Fundamentos da Educação Infantil. Uma boa construção de sa- beres a todos! A autora.* * Luciana Rocha de Luca Dalla Valle é Pedagoga com especializações em Educação In- fantil e Psicopedagogia (PUC), Mestre em Engenharia da Produção com Ênfase em Mídia e Conhecimento (UFSC). É pesquisadora da Educação Infantil e profere várias palestras sobre o tema, bem como cursos de extensão universitária. É autora de temas relaciona- dos à Educação Infantil, e professora do curso de Pedagogia da Fael. Fund_Educ_Infantil.indd 11 6/7/2010 13:52:07 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 11 of 100 Fund_Educ_Infantil.indd 12 6/7/2010 13:52:07 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 12 of 100 13 Para fazermos um recorte histórico da Educação Infantil, ini- ciaremos este capítulo tecendo um panorama da Educação Infantil a partir da Idade Média, procurando demonstrar as formas encontradas pelas sociedades, ao longo dos anos, para educar as crianças peque- nas. Ao final, serão apresentados os precursores da Educação Infantil, autores cujos trabalhos beneficiaram – e continuam beneficiando – o atendimento e a educação das crianças. A infância na Idade Média Ao longo dos séculos, as sociedades foram construindo formas de educar suas crianças. Na Idade Média, a Educação Infantil sempre foi entendida como um papel das famílias, sobretudo das mulheres. Sendo assim, desde o nascimento até os primeiros meses de vida, a criança era cuidada pelas mulheres da família. Porém, logo após de desmamar e conseguir independência motora, a criança passava a ajudar os adultos, sendo tratada como tal, já que podia realizar as tarefas cotidianas, pois se acreditava que, apenas no contexto das atividades familiares, a crian- ça se desenvolveria (OLIVEIRA, 2002). ReflitaReflita Sobre esse período histórico, que durou do século V ao século XV no continente europeu, é importante considerar que era uma época agrária, na qual os donos da terra (feudo), os chamados senhores feu- dais, dominavam a riqueza, enquanto os vassalos trabalhavam para manter a hierárquica condição, em uma relação de servidão para com Os primeiros caminhos da Educação Infantil 1 Fund_Educ_Infantil.indd 13 6/7/2010 13:52:08 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 13 of 100 Fundamentos da Educação Infantil FAEL 14. o senhor feudal. É também nessa época que a Igreja detinha um gran- de poder sobre as pessoas, influenciando as decisões. ReflitaReflita É importante destacar que, nessa época, em função das precárias condições de higiene e saúde, era muito elevado o índice de mortalidade infantil, a ponto de a morte de crianças ser considerada um fenômeno natural. Nesse contexto, uma prática comum era a de separar as crianças de aproximadamente sete anos de seus pais e entregá-las aos cuidados de outras famílias, evitando o estabelecimento de laços emocionais com a família genitora. Além disso, acreditava-se, na época, que estar com outra família faria com que essas crianças aprendessem ofícios e viven- ciassem as situações do mundo adulto do qual já faziam parte. Dessa forma, a criança era considerada uma miniatura de adulto, tanto nas ações, quanto em seu desenvolvimento socioemocional. Isso refletia-se inclusive na forma de se vestir de cada gênero: mulheres e meninas vestiam saias e lon- gos vestidos, homens e meninos, calças compri- das e camisas. Observando as pinturas da época, como a obra Las meninas, de Diego Velázquez, percebe-se nitidamente que as crianças aparecem como pequenos adultos, e suas vestimentas anun- ciavam que elas deveriam se comportar como tal, não havendo lugar para a infância nesse contexto. É importante salientar que, mesmo sem haver uma distinção entre os trajes usados por crianças e adultos, havia uma diferenciação de roupas entre as classes sociais. Obviamente, não era apenas nos trajes que as pessoas das classes sociais se diferenciavam. Outro exemplo disso é que, mesmo com a ideia de que a família era a grande responsável pelo atendimento das crianças pequenas, as crianças oriundas da classe dos vassalos tiveram seu atendimento realizado de formas diferenciadas ao longo do tem- po. Como exemplos, podemos considerar desde o uso de parentescos nas sociedades primitivas (em que, normalmente, uma mãe cuidava de Las Meninas, de Diego Velásquez. M us eo d el P ra do Fund_Educ_Infantil.indd 14 6/7/2010 13:52:09 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 14 of 100 Capítulo 1 Fundamentos da Educação Infantil 15 todas as crianças da comunidade), de amas, também chamadas de mães mercenárias (em que se pagava uma mãe ou pessoa do sexo feminino para a realização do cuidado das crianças), de lares substitutivos (em que as crianças iam morar com outras famílias), até o uso da conhecida, na Idade Média e Moderna, roda dos enjeitados, ou roda dos expostos. “A roda dos enjeitados era uma espécie de cilindro giratório de madeira, construído em muros de igrejas e hospitais de caridade. Ela permitia que bebês fossem deixados nesses locais sem que a identidade de quemos levasse fosse declarada.” (OLIVEIRA, 2002, p. 59). O recolhimento das crianças ficava sob a responsabilidade de insti- tuições religiosas, que assumiam a função de fazer com que o enjeitado tivesse um ofício quando crescesse. A infância na Idade Moderna A partir do século XVI, com o final da Idade Média e o início da Idade Moderna, as concepções sobre como educar as crianças fo- ram redimensionadas, principalmente em decorrência das transforma- ções econômicas e políticas, e do surgimento da sociedade capitalista. Com a Idade Moderna, houve uma profunda transformação do que se conhecia como sociedade originalmente agrária para a capitalista. Dois movimentos, o Renascimento e o Iluminismo, tiveram extrema influencia nesse cenário. O Renascimento (ou Renascença) começou no século XIV, na Itá- lia, e difundiu-se pela Europa no decorrer dos séculos XV e XVI. Foi um período na história do mundo Ocidental – com um movimento cultural marcante na Europa – considerado como um marco do final da Idade Média e do início da Idade Moderna. Além de atingir a filo- sofia, as artes e as ciências, o Renascimento fez parte de uma gama de transformações culturais, sociais, econômicas, políticas e religiosas que caracterizaram a transição do Feudalismo para o Capitalismo. Trata-se de uma volta deliberada, que propunha a ressurreição consciente (o renascimento) do passado, considerado, agora, como fonte de inspira- ção e modelo de civilização. Em um sentido amplo, esse ideal pode ser entendido como a valorização do homem (Humanismo) e da natureza, em oposição ao divino e ao sobrenatural, conceitos que haviam impreg- nado a cultura da Idade Média (RENASCIMENTO, 2010). Fund_Educ_Infantil.indd 15 6/7/2010 13:52:09 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 15 of 100 Fundamentos da Educação Infantil FAEL 16 O Iluminismo foi um movimento intelectual, surgido na segunda metade do século XVIII (o chamado “século das luzes”), que enfatizava a razão e a ciência como formas de explicar o universo. Foi um dos movimentos impulsionadores do capitalismo e da sociedade moderna. Seu nome se deve aos filósofos da época, os quais acreditavam iluminar as mentes das pessoas. É, de certo modo, um pensamento herdeiro da tradição do Renascimento e do Humanismo, pois defendia a valori- zação do Homem e da Razão. Os iluministas colocavam-se contra a fé, acreditando que a Razão seria a explicação para todas as coisas no universo (OCULTURA, 2010). Na Idade Moderna, diferentemente do que ocorria no Período Feu- dal, o capitalismo ansiava por maiores ganhos na produção de mercado- rias, buscando alternativas para melhorá-la. Por isso, a educação desempenhou um importante papel na formação de profissio- nais técnicos de diversas espe- cialidades, visando suprir essa demanda criada pelo mercado de trabalho moderno, devido à construção de muitas indústrias. Com o advento da chamada Revolução Industrial, que transfor- mou definitivamente a vida em sociedade ao inserir a manufatura, estabeleceu-se um conflito que teve como centro as crianças com idade entre 0 e 6 anos. Como as fábricas recém-construídas necessitavam de trabalhadores, pais e mães (elas em um segundo momento e em escala menor) abandonavam seus filhos para poder trabalhar, deixando-os sob o cuidado de terceiros ou à própria sorte. Nesse momento em especial, houve a necessidade de repensar qual destino se daria às crianças, filhos dos operários, pois estavam sofrendo maus tratos e abandono, enquanto os filhos de pais burgueses frequen- tavam a escola. Aos poucos, para o atendimento dessas crianças abandonadas, fo- ram sendo criadas instituições formais, que não tinham propostas pe- dagógicas. A maioria das atividades realizadas nesses estabelecimentos eram voltadas para a obtenção de bons hábitos de comportamento, internalização de regras morais e de valores religiosos. A Revolução Industrial consistiu em um con- junto de mudanças tecnológicas com profundo impacto no processo produtivo, nos níveis econômico e social. Iniciada na Inglaterra, em meados do século XVIII, expandiu-se pelo mundo a partir do século XIX (REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, 2010). Saiba mais Fund_Educ_Infantil.indd 16 6/7/2010 13:52:09 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 16 of 100 Capítulo 1 Fundamentos da Educação Infantil 17 Nesse período, com o ideal destacado nos movimentos religiosos da época, foram organizadas escolas para pequenos na Inglaterra (petty schools), na França (écoles petites) e em outros países europeus, nas quais a escrita e a leitura eram ensinadas às crianças a partir dos seis anos de idade, embora o objetivo maior fosse o ensino religioso. Mais tarde, nos séculos XVII e XVIII, crianças de dois ou três anos já eram incluídas nas charity schools ou dame schools, então criadas na Europa Ocidental. Esse foi o início do atendimento formal à criança por parte de uma instituição educativa. Alguns precursores da Educação Infantil Jan Amos Komenský Nos séculos XVI e XVII, o pensamento pedagógico moderno começou a ganhar outra dimensão, tendo como primeiro estudioso Jan Amos Komenský (1592-1670) – em português conhecido como Comênius ou Comênio – nascido na atual República Tcheca. Comênius combateu os métodos educacionais usados na época medieval, sendo o primeiro filósofo do qual se tem notícia que consi- derou os sentimentos das crianças. Comênius costumava reagir à ideia de que a educação deveria ser autoritária usando a expressão: “Por que não se pode aprender brincando?” e é criador do conceito de que po- demos e devemos ensinar tudo a todos, considerando, dessa forma, que todos os homens têm direito de conhecer e aprender sobre o mundo em que vivem. Essas considerações eram importantes, pois esboçavam uma possível educação para crianças pequenas, em um tempo em que suas especificidades ainda não eram respeitadas. Sua obra mais famosa é a Didática magna, livro em que preconiza a ideia de um método universal que pudesse ensinar tudo a todos e que já destacava a importância da metodologia de ensino dos professores em relação ao aprendizado das crianças. O autor afirma que a didática (aqui, referindo-se a seu ao Didática magna) pode interessar: Aos professores, a maior parte dos quais ignorava comple- tamente a arte de ensinar; e por isso, querendo cumprir o seu dever, gastavam-se e, à força de trabalhar diligentemen- te, esgotavam as forças; ou então mudavam de método, Fund_Educ_Infantil.indd 17 6/7/2010 13:52:09 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 17 of 100 Fundamentos da Educação Infantil FAEL 18 tentando, ora com este ora com aquele, obter um bom su- cesso, não sem um enfadonho dispêndio de tempo e de fa- diga (COMENIUS, 2010, [s. p.]). Como se pode perceber, Comênius já destacava a importante ne- cessidade de o professor adequar sua metodologia de trabalho ao que ele chamava de “arte de ensinar”, de forma a não empreender esforços inúteis em sua tarefa. No livro A escola da infância, publicado em 1628, Comênius en- focou a ideia de educar crianças menores de seis anos e de diferen- tes condições sociais. O autor propunha que o acesso à edu- cação dessas crianças fosse feito em um nível inicial de ensino que era como o “colo da mãe” (mother’s lap). Ressaltava, tam- bém, a necessidade da formação do professor das crianças peque- nas, uma vez que considerava a infância como um período im- portante do desenvolvimento humano. Comênius acreditava que o processo de aprendizagem iniciava-se pelas sensações e, por isso, as crianças deveriam expe- rimentar o manuseio de objetos para internalizar conhecimentos que, futuramente, seriam inter- pretados pela razão. Disso vem sua defesa de que a educação de crian- ças pequenas deveria utilizar-se de materiais eatividades diversificados de acordo com suas idades, como passeios, quadros, modelos e obje- tos reais, auxiliando-as, no futuro, a realizar aprendizagens abstratas (GADOTTI, 2004). Jean Jacques Rousseau A educação das crianças pequenas teve muitos benefícios com os estudos e propostas de Jean Jacques Rousseau (1712-1778), pensador suíço nascido em Genebra. Você pode conhecer o famoso livro de Comênius, Didatica Magna, na sua versão di- gital acessando o seguinte endereço eletrôni- co: <http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/ didaticamagna.html>. Além disso, você pode saber mais sobre Comênius, importante personagem da história da Educação Infantil, acessando os seguintes endereços: <http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/ comeniusdw.html>. <http://revistaescola.abril.com.br/historia/ pratica-pedagogica/pai-didatica-moderna- 423273.shtml>. Saiba mais Fund_Educ_Infantil.indd 18 6/7/2010 13:52:09 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 18 of 100 Capítulo 1 Fundamentos da Educação Infantil 19 Contrário à ideia de que a educação de crianças deveria ter como referência os interesses dos adultos, Rousseau propôs que, em uma edu- cação apropriada à faixa etária, as crianças deveriam ser incentivadas desde cedo a experimentar situações variáveis, de acordo com o ritmo de maturação. Dessa forma, chamou a atenção para as necessidades da criança em seus diferentes estágios de desenvolvimento. Os estudos de Rosseau reti- raram as crianças da posição de miniadulto, defendida na Idade Média, e trouxeram à tona a ideia de que elas tinham carac- terísticas próprias e que neces- sitavam de uma educação que respeitasse suas fases de desen- volvimento, com professores ca- pacitados para tal entendimento. As propostas de Rousseau eram muito diferentes das praticadas pelas sociedades da época, nas quais o uso da memória e a rígida disciplina eram concebidos como educação. Nesse sentido, propôs trabalhar com a criança alguns elementos, como: brin- quedo, esporte, agricultura, uso de instrumentos de variados ofícios, linguagem, canto, aritmética e geometria (GADOTTI, 2004). Johann Heinrich Pestalozzi Suíço, nascido em Zurique, este famoso pensador contribuiu mui- to para o desenvolvimento da Educação Infantil como a concebemos hoje: Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827). Segundo ele, o principal objetivo do ensino era levar as crianças a desenvolver suas habilidades naturais e inatas, ressaltando que todas tinham direito absoluto à educa- ção, para que pudessem desenvolver os poderes dado a elas por Deus. As ideias desse pensador eram contrárias àquelas vigentes na sua época, em que as escolas eram controladas, em sua maioria, pela Igreja, a qual não se preocupava com a melhoria da qualidade do ensino e das condições físicas das crianças, o que se refletia na falta de habilidade dos professores e no pequeno número de escolas existentes. Os trabalhos de Pestalozzi trouxeram inovação ao ambiente edu- cacional quando propuseram um método de ensino diferente do que Para conhecer mais sobre esse importante pensador, acesse o site: <http://revistaescola.abril.com.br/historia/ pratica-pedagogica/filosofo-liberdade- como-valor-supremo-423134.shtml>. Saiba mais Fund_Educ_Infantil.indd 19 6/7/2010 13:52:09 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 19 of 100 Fundamentos da Educação Infantil FAEL 20 se praticava. Centrado nos princípios de tranquilidade, amor, segu- rança e afeto, de forma que se assemelhasse ao ambiente familiar, o ambiente escolar era considerado por ele como um ambiente ideal para a aprendizagem. As influências de Pestalozzi alcançaram, também, a formação dos professores, pois ele formalizou procedimentos de treinamento para os mestres, levando em conta suas preocupações: a educação pelos sentidos e as atividades diversi- ficadas, como artes, música, so- letração, geografia, aritmética, linguagem oral e contato com a natureza (GADOTTI, 2004). Friedrich Fröebel Considerado o pai da pré-escola, este autor alemão, nascido em Oberweibach, estudou com Pestalozzi e foi por ele influenciado. Fröbel (1782-1852), entretanto, desenvolveu sua própria teoria edu- cacional voltada às crianças pequenas, independentemente das ideias de seu mestre. Para Fröebel, as crianças eram como plantinhas em desenvolvi- mento, e o professor, o jardineiro que as fazia desabrochar. Para esse desenvolvimento, criou um espaço especial, a primeira instituição com caráter educacional para crianças de Educação Infantil, chama- da por ele de kindergarten (jardim de infância, em alemão). Em sua escola, criada em 1837, as crian- ças eram atendidas do primeiro ao sexto ano de idade, e, como princípio pedagógico, defendia a ideia de que elas se desenvolviam por meio de uma relação entre a imaginação e a ação. O que torna os estudos de Friedrich Fröebel tão relevantes para a Educação Infantil é o fato de que ele sempre priorizou o conhecimento sobre crianças como uma forma de detectar suas características e neces- sidades, para adequar seu modo de educação a essa realidade infantil. Outras informações sobre esse autor podem ser obtidas no site: <http://revistaescola.abril. com.br/formacao/formacao-inicial/teorico- incorporou-afeto-sala-aula-423096.shtml>. Saiba mais Conheça mais sobre Fröebel no site: <http:// revistaescola.abril.com.br/educacao-infantil/ 4-a-6-anos/formador-criancas-pequenas- 422947.shtml>. Saiba mais Fund_Educ_Infantil.indd 20 6/7/2010 13:52:09 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 20 of 100 Capítulo 1 Fundamentos da Educação Infantil 21 Muitas das técnicas utilizadas atualmente nas salas de aula de Educação Infantil devem a Fröebel o seu surgimento, uma vez que a proposta pedagógica desse autor apresentava dois pontos fortes: as ati- vidades de cooperação e os jogo livres. Sendo assim, como homenagem por seus préstimos, Fröebel carrega até hoje o título de “pedagogo do jardim de infância” (FERRARI, 2008b). Maria Montessori Primeira mulher a se formar como médica na Itália, Maria Montessori (1870-1952) iniciou seus trabalhos como psiquiatra de um hospital de crianças especiais, chamadas, na época, de crianças com retardo mental. Para essas crianças, criou materiais coloridos, facilmente manipu- láveis, pois defendia a ideia de que elas deveriam construir suas apren- dizagens a partir do que existia em seus ambientes. Com o sucesso des- ses materiais, Maria Montessori abriu um precedente para a utilização deles na educação de crianças com desenvolvimento normal. O sucesso foi imediato e, desde então, deve-se a Montessori esta importante con- tribuição, que é amplamente utilizada, até hoje, na Educação Infantil: a percepção de que as crianças, com materiais adequados e interessantes, respondem aos estímulos com rapidez e entusiasmo, ao mesmo tem- po em que podem exercitar suas habilidades e autonomia. Com isso, contrariou as práticas educacionais que privilegiavam a repetição e a memorização em detrimento do desafio e da construção de conceitos. Maria Montessori criou sua teoria de educação com base em três princípios: individualidade, atividade e liberdade do aluno, de forma que, em cada estágio de seu desenvolvimento, o estudante recebesse um atendimento especializado, que vinha ao encontro das suas possibilida- des e interesses. A prioridade dos estudos dessa autora foram os anos iniciais do desenvolvimento infantil, o que a torna fundamental para a faixa etária de 0 a 6 anos. Para colocar em prática sua teoria, Montessori fundou sua primeira escola, na periferia de Roma, chamada Casa dei Bambini (Casa das Crianças). O sucesso foi imediato, e outras casas a seguiram, de forma que até hoje existam escolas, no mundo todo, que seguem suas orientações. Há,aproximadamente, cem instituições no Brasil trabalhando com o chamado Método Maria Montessori. Fund_Educ_Infantil.indd 21 6/7/2010 13:52:10 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 21 of 100 Fundamentos da Educação Infantil FAEL 22 Analisando, então, suas formas de origem na Europa, pode-se afirmar que as instituições de Educação Infantil nasceram como uma resposta à situação de abandono e maus tratos a que as crianças eram submetidas. A educação da primeira infância foi criada em um concei- to de assistencialismo, visto que era destinada às famílias de clas- ses desfavorecidas, que necessi- tavam trabalhar e não podiam cuidar de suas crianças. Porém, com o passar dos anos, os ideais e propostas pedagógicas, criados originalmente para os filhos das camadas menos favorecidas, fo- ram reelaborados e oferecidos a outras faixas sociais, prevalecen- do, na maioria das vezes, para as classes desfavorecidas, uma edu- cação assistencialista. Síntese Neste capítulo, conhecemos as primeiras concepções sobre a edu- cação da primeira infância, desde seu início, na Idade Média, quando a criança era considerada um miniadulto, passando pelas ideias da Ida- de Moderna. Os precursores da Educação Infantil e suas contribuições para o desenvolvimento dos estudos sobre essa faixa etária também fo- ram abordados, de modo a compor as primeiras noções sobre o atendi- mento e a educação das crianças pequenas. Para conhecer mais sobre essa precursora, visite o site: <http://educarparacrescer.abril.com.br/ aprendizagem/maria-montessori-307444.shtml>. O método proposto por Maria Montessori é composto de muitas particularidades. Se você acessar o seguinte site, vai conhecer algumas escolas que trabalham com o método montes- soriano, no Brasil. Disponível em: <http://www. omb.org.br/>. Saiba mais Fund_Educ_Infantil.indd 22 6/7/2010 13:52:10 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 22 of 100 23 A valorização infantil e a concepção de infância como é consi- derada na atualidade foram construídas através dos tempos. No pano- rama histórico que será abordado neste capitulo, será possível conhecer como eram as formas de tratamento das crianças pequenas, tanto no âmbito social, incluindo o contexto familiar e o escolar, quanto no le- gislativo. Continua-se, portanto, com reflexões a respeito da trajetória histórica da Educação Infantil, desta vez nos contextos da educação e da legislação brasileira. Assim, será possível conhecer as formas de atendimento destinadas às crianças pequenas, desde o início da história da educação no Brasil até o século XX, e de como as leis foram contem- plando a educação das crianças de 0 a 5 anos. Panorama histórico da Educação Infantil no Brasil até o século XX No Brasil, tradicionalmente e financeiramente, o contexto mais aceito era o de que a criança deveria ser atendida pela mãe, ou outros familiares, em um ambiente doméstico. A educação de crianças pequenas começou com caráter assisten- cialista, na metade do século XIX, em decorrência do capitalismo, que também nascia no país. Com as recém-criadas fábricas, cria-se uma demanda até então inexistente: as mães da classe operária precisavam de lugares para deixar seus filhos pequenos durante a jornada de traba- lho, pois as crianças ainda eram muito novas para irem à escola. Além disso, o Brasil vivia o período da abolição da escravatura e acentuada migração para as zonas urbanas. Portanto, o aumento da população Os caminhos da Educação Infantil no Brasil: história e legislação 2 Fund_Educ_Infantil.indd 23 6/7/2010 13:52:10 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 23 of 100 Fundamentos da Educação Infantil FAEL 24. nesses locais e o desenvolvimento das fábricas, que buscavam mão de obra especializada, são dois fatores influentes quando se começou a dar atenção para as crianças da primeira infância. Até o começo desse século, não havia distinção entre o atendi- mento a crianças realizado na creche e o feito em asilos e internatos. Preconizava-se a ideia de que o atendimento institucional às crianças era um favor, feito como caridade para mães solteiras ou que não ti- nham condições de ficar com seus filhos. Essa demanda mobilizava organizações sociais e filantrópicas, do- nos de indústrias e senhoras da alta sociedade, na construção de um aparato que pudesse atender bem ao filho da mãe operária, para que ela pudesse produzir mais. Dessa forma, seguindo as referências europeias, surgiu no Brasil o atendimento para crianças pequenas, que foi dividi- do em duas partes: as chamadas creches ou asilos da primeira infância, que se ● propunham a atender crianças de 0 a 2 anos; as chamadas salas de asilo para a segunda infância, poste- ● riormente denominadas de escolas maternais, que atendiam crianças de 3 a 6 anos. Uma diferenciação merece destaque. Na realidade brasileira, as instituições pré-escolares foram chamadas de jardins de infância. As instituições privadas, que atendiam às crianças ricas, receberam o nome de asilo, e as que atendiam às crianças pobres receberam o nome de creche, reforçando a ideia de que creche é uma entidade assistencialista, destinada a combater a pobreza. Com o desenvolvimento acelerado da medicina, a área da pediatria despontava como necessária, cabendo aos médicos dessa área ensinar as mães a cuidar de seus filhos, no intuito de diminuir a mortalidade infantil na época. No contexto brasileiro, ainda havia as mães de alu- guel (também chamadas de mães de criação, ou, ainda, de criadeiras), que eram pagas para cuidar das crianças pequenas, em detrimento das creches. Nesse sentido, os pediatras alertavam com veemência para o perigo de as crianças serem criadas em moradias inadequadas, com fal- ta de luz, de higiene e hábitos inadequados. Porém, mesmo com esse alerta, a situação não mudava muito, pois as criadeiras atendiam, em Fund_Educ_Infantil.indd 24 6/7/2010 13:52:10 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 24 of 100 Capítulo 2 Fundamentos da Educação Infantil 25 grande parte, os filhos das mulheres que eram discriminadas pela so- ciedade: prostitutas, mães solteiras e empregadas domésticas. Como se pode observar, o discurso dos médicos sobre o atendimento às crianças pequenas atribuía culpa à família pela situação de seus filhos. Aliás, esta era uma visão da época: como as famílias eram culpadas pela pobreza, o atendimento a essas crianças seria feito no sentido de acalmar esse mal, principalmente nas classes trabalhadoras (OLIVEIRA, 2002). Assim, historicamente, o desenvolvimento da Educação Infantil no Brasil passou pela defesa de uma concepção de atendimento em cre- ches e jardins de infância mais assistencialista do que educativa sendo sempre atrelada à classe social das crianças. Devido às precárias condições de moradia das crianças, a creche acabou se tornando o espaço onde eram proporcionadas as condições de higiene de saúde que não eram ofertadas em casa; assim, o aspecto de formação e de edu- cação era substituído pelo assis- tencial, em que o importante era a alimentação e o cuidado com a saúde. Por isso, dentro da creche, o atendimento ainda era somente assistencial, como que para “aparar as arestas” de um mal necessário (o trabalho) que separava as mães de seus filhos por um tempo e por condições que aumentariam o desenvolvimento do país. No entanto, o formato do atendimento praticado nas creches deixava clara a ideia de que ela era destinada à população pobre e que as crianças de família nobre deve- riam ser criadas em casa por suas mães. No Brasil, com essa concepção de atendimento à classe traba- lhadora, foram criados diversos jardins de infância particulares, em Castro, cidade do Paraná, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Foram criados, também,jardins de infância públicos, que eram destinados às crianças abandonadas. A chegada de muitos imigrantes europeus, no final do sécu- lo XIX, e sua rápida absorção ao mercado de trabalho, no início do É atribuído à Emília Faria de Albuquerque Erichsen o mérito de ter fundado o primeiro jardim de infância do Brasil, na cidade de Castro, estado do Paraná. Para conhecer mais sobre a história dessa pernambucana que utili- zou os métodos pedagógicos de Fröebel, aces- se o site: <http://www.faced.ufu.br/colubhe06/ anais/arquivos/151RonieCardosoFilho.pdf>. Saiba mais Fund_Educ_Infantil.indd 25 6/7/2010 13:52:10 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 25 of 100 Fundamentos da Educação Infantil FAEL 26 século XX, originou alguns protestos e reivindicações por melhores condições de trabalho e por creches para o atendimento dos filhos desses trabalhadores. Porém, somente na década de 20 do século XX, o governo estimulou o atendimento às crianças pequenas da classe ope- rária, limitando-se, entretanto, a fornecer somente professores, mate- riais pedagógicos e mobília, deixando a cargo da sociedade a realização desse serviço. Após 1930, em virtude dessa situação, pensadores brasileiros (Fer- nando de Azevedo, Anísio Teixeira e Lourenço Filho) divulgaram a educação progressiva da chamada Escola Nova e suscitaram algumas reformas educacionais que cul- minaram no Manifesto dos Pio- neiros da Educação Nova. Em 1932, mesmo redigido por Fer- nando Azevedo, este manifesto foi subscrito por muitos outros educadores e intelectuais. O manifesto pedia, urgentemente, medidas educacionais dentro de um programa próprio, com itens que faziam referência à educação pré-escolar, no que diz respeito à criação de instituições específicas para esse fim, e enfatizavam a necessidade de uma organização escolar unifi- cada, da pré-escola à universidade, respectivamente. Na década de 40 do século XX, aumentou a quantidade de atitudes governamentais em direção ao assistencialismo, principalmente na área de saúde, e, na década seguinte, as creches que eram mantidas por enti- dades filantrópicas e religiosas passaram a receber ajuda do governo. O trabalho realizado nessas instituições tinha como preocupação a questão da alimentação, da higiene e da segurança física, e, como sobreviviam de doações, nem sempre podiam contar com esses quesitos básicos. Em 1943, Getúlio Vargas criou a Consolidação das Leis de Tra- balho (CLT), que, entre outras coisas, tornava obrigatória a criação de creches e berçários para os filhos dos funcionários. Por falta de fiscaliza- ção do governo, isso não foi consolidado na prática, e o número dessas instituições, criadas nesse período, fosse pouco significativo. Cada vez mais, a mulher participava do mercado de trabalho e mi- grava para os grandes centros urbanos; por isso, tinha problemas para Você pode conhecer, na íntegra, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, no endereço eletrônico: <http://www.pedagogiaemfoco. pro.br/heb07a.htm>. Saiba mais Fund_Educ_Infantil.indd 26 6/7/2010 13:52:10 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 26 of 100 Capítulo 2 Fundamentos da Educação Infantil 27 conciliar o trabalho com o atendimento de seus filhos. Mudava-se a épo- ca, mas o problema permanecia igual, enraizado na crença de que eram as mães que deveriam tomar conta de seus filhos ou arrumar alguém que pudesse, temporariamente, oferecer um atendimento similar. Como não havia preocupação do governo em tomar atitudes que pudessem resultar em medidas práticas, cada mãe resolvia os problemas a seu modo. Encon- tra-se, assim, além da dificuldade de atendimento, a “culpa” sentida por essas mães, que precisavam deixar os filhos sob o cuidado de outros. Quando a marginalização de crianças e jovens apresentou-se em um patamar muito alto, a creche foi defendida como uma possível re- dutora desse problema. Observe que a ideia de marginalidade crescia, muitas vezes, originada no fato de a criança ficar sozinha em casa e/ou ficar sob os cuidados de seus irmãos mais velhos, enquanto a mãe tra- balhava para manter o lar. Acidentes domésticos aconteciam em grande escala, pois o que se impunha às crianças maiores era uma responsabili- dade de cuidado que ainda não podiam carregar. Desse modo, não raro, descarregavam suas angústias e frustrações na marginalidade. A creche, portanto, não atenderia somente à criança pequena, mas a toda uma estrutura que se ruía em torno dela (na relação do atendi- mento precário que as famílias tentavam organizar). Mais uma vez, a instituição era colocada como um favor que servia para proporcionar a essas crianças um espaço que não teriam em casa. Não havia, contudo, uma preocupação com a amplitude do pro- blema que levava as mães a deixarem seus filhos sozinhos em casa, nem com a relação de sua necessidade de trabalho, nem com a questão da marginalidade de jovens. Na situação que se apresentava, a creche era considerada apenas como um remédio a esses males. Sendo assim, é possível afirmar que as creches foram, por muito tempo, uma estratégia dos governos para combater a pobreza e resolver problemas ligados à sobrevivência das crianças, o que justificou por mui- tos anos a existência dessas instituições no Brasil (KRAMER, 1993). Na outra metade do século XX, mesmo com a maioria da popu- lação ainda não tendo acesso a condições ideais de vida, as instituições de atendimento a crianças de 0 a 5 anos passaram a ser cada vez mais requisitadas, não só pela chamada classe operária, mas também pelas mulheres que trabalhavam no comércio e no funcionalismo público. Fund_Educ_Infantil.indd 27 6/7/2010 13:52:10 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 27 of 100 Fundamentos da Educação Infantil FAEL 28 Fundamentos legais da Educação Infantil Vamos fazer uma retrospec- tiva histórica da legislação sobre Educação Infantil, no intuito de conhecermos como ela se articu- lou no nosso país. No projeto de reforma de Leôncio Carvalho, em 1878, durante o Período Imperial, encontra-se a primeira referên- cia oficial à pré-escola no Brasil. Nessa época, Rui Barbosa, par- lamentar, emitiu dois pareceres a respeito da reforma de Leôncio de Carvalho. Esses dois documentos contêm uma apreciação sobre a metodo- logia dos jardins de infância (chamados assim por Rui Barbosa, em uma tradução literal da expressão kindergarten, de Fröebel). Neles, Rui Barbosa empregou expressões utilizadas até hoje, como “atividade livre da criança” e “espontaneidade de ação”. Mesmo com as contribuições de Rui Barbosa para esta etapa de en- sino, o precursor da Educação Infantil, no Brasil, foi Joaquim Teixeira de Macedo, defensor de ideias de nacionalidade pregadas por Rosseau, Pestalozzi e Fröebel. Com grande admiração pela educação alemã, defendia a ideia de que havia a necessidade de uma educação que fortalecesse o espírito de na- cionalidade do povo brasileiro, sendo essa educação a solução para o período agitado que era vivido – consequência do desen- volvimento econômico do país (KRAMER, 1993). Em 26 de novembro de 1947, sob o número 17.698, sur- Leôncio de Carvalho nasceu em 18 de junho de 1847, em Iguaçu, na província do Rio de Janeiro. Advogado, foi convidado para ocupar a pasta dos Negócios do Império em 15 de janeiro de 1878 e, por meio do Decreto de 19 de abril de 1879, reformou a instrução pública primária e secundária no Município da Corte e o Ensino Superior em todo o Império, o que deu origem aos pareceres/projetos de Rui Barbosa. Para saber mais sobre Leôncio de Carvalho, acesse o site: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/ texto.asp?id=7865>. Saiba mais 1. Para compreender os caminhos percorridos para se chegar à Educação Infantil conhecida atualmente é importanteconhecermos um pouco mais sobre esse assunto. Disponível em: <http://www.projetomemoria.art.br/Rui Barbosa/glossario/r/reforma-ensino.htm>. 2. Acompanhe uma interessante relação entre as ideias de Rui Barbosa e a questão da brinca- deira infantil no site: <http://www.alb.com.br/ anais16/sem13pdf/sm13ss11_05.pdf>. Saiba mais Fund_Educ_Infantil.indd 28 6/7/2010 13:52:10 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 28 of 100 Capítulo 2 Fundamentos da Educação Infantil 29 giu o primeiro decreto relativo à Educação Infantil, chamado de Consolidação das Leis de Ensi- no e que tratava especificamente das escolas maternais e dos jar- dins de infância. Segundo ele, a função das escolas maternais oficiais deveria ser a de receber os filhos de operários, oferecen- do a eles um desenvolvimento harmônico, em um ambiente similar ao do lar (SÃO PAULO, 1947). Já os jardins de infân- cia deveriam dar oportunidade para que os alunos praticassem a autodireção e o autocontrole, desenvolvendo a iniciativa e a invenção e aprendendo a coor- denar esforços e interesses de seus companheiros. Esse decre- to orientou o ensino pré-escolar até 1961, quando surgiram as Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1961) e a educação de crianças pequenas A primeira LDB foi publicada em 20 de dezembro de 1961, sob número 4.024, no governo do presidente João Goulart, após ter sido designada pela Constituição de 1934. Assim, quase trinta anos depois de ter sido prevista e 13 anos depois de seu primeiro projeto ter sido en- caminhado ao Poder Legislativo, finalmente nasceu o texto da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (SALOMÃO, 2010). Com uma estrutura de 120 artigos, a LDB n. 4.024/1961 trata- va da educação das crianças chamadas pré-escolares no Título VI (Da Educação de Grau Primário), assim dividido: Para melhor compreensão do tema deste capí- tulo, é interessante que você conheça as legis- lações brasileiras. Ao conhecer as três Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, (Lei n. 4.024/61, Lei n. 5.692/71 e Lei n. 9.394/96, que está atualmente em vigência) você terá muito mais subsídios para acompanhar os estu- dos específicos sobre os caminhos históricos e legislativos percorridos pela Educação Infantil. LDB n. 4.024/61• : disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/ L4024.htm>. LDB n. 5.692/71• : disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/Ccivil_03/LEIS/ L5692.htm>. LDB n. 9.394/96• : disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/ L9394.htm>. Saiba mais Fund_Educ_Infantil.indd 29 6/7/2010 13:52:10 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 29 of 100 Fundamentos da Educação Infantil FAEL 30 Capítulo I – Da Educação Pré-Primária ● Capítulo II – Do Ensino Primário ● No capítulo que trata da chamada educação pré-primária, que diz respeito às crianças pequenas, a LDB n. 4.024/1961 traz o se- guinte texto: Art. 23. A educação pré-primária destina-se aos menores até sete anos e será ministrada em escolas maternais ou jardins de infância. Art. 24. As empresas que tenham a seu serviço mães de me- nores de sete anos serão estimuladas a organizar e manter, por iniciativa própria ou em cooperação com os poderes públicos, instituições de educação pré-primária (BRASIL, 1961, [s. p.]). Nessa época, o Brasil vivia um contexto de crescimento, com grande demanda de urbanização e industrialização e, dessa forma, mais mulhe- res iam aos campos de trabalho, necessitando deixar seus filhos em locais de atendimento. No entanto, ainda não havia o compromisso formal dos governantes em assumir as obrigatoriedades desse nível de ensino. A partir de 1964, com a época dos governos militares, foram cria- dos órgãos que continuaram a defender a ideia de que a creche era como um favor à criança e à sua família. Por meio da Legião Brasileira de Assistência (LBA) e da Fundação Nacional do Bem-estar do Menor (Funabem), o governo oferecia ajuda às entidades filantrópicas, na ten- tativa de atenuar o problema da marginalização ainda existente. Sem alterar as condições sociais e econômicas das famílias, o go- verno dava à creche a função de compensar e superar o deficit cultural apresentado pelas crianças menos favorecidas. A tônica desse trabalho era, portanto pautada em uma visão que estigmatizava a população de baixa renda. Nas décadas de 60 e 70 do século XX, essa ideia ainda era vigente e, em função disso, algumas creches e pré-escolas particulares (que se tornavam cada vez mais numerosas) basearam suas propostas de traba- lho em um patamar em que se encontravam a estimulação cognitiva e o preparo para a alfabetização. Com isso, era grande a diferença entre a educação oferecida às crian- ças de famílias mais abastadas e a oferecida às de família com renda menor. Fund_Educ_Infantil.indd 30 6/7/2010 13:52:10 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 30 of 100 Capítulo 2 Fundamentos da Educação Infantil 31 Enquanto a primeira baseava-se em estudos que ressaltavam a importância do período de 0 a 5 anos para o desenvolvimento infantil (como os estu- dos de Jean Piaget) e que se propunham a realizar um trabalho que ressal- tasse a criatividade e a sociabilidade, a segunda era somente um tentativa de “tapar buracos” causados por problemas econômicos e pelas diferenças culturais e permeados pelas políticas governamentais. Segunda Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1971) e a educação de crianças pequenas A LDB n. 5.692 foi publicada em 11 de agosto de 1971, trazendo textos relativos à Educação Infantil, chamada, na época, de educação pré-escolar. De acordo com o parágrafo segundo do artigo 19 dessa lei, “Os sistemas de ensino velarão para que as crianças de idade inferior a sete anos recebam conveniente educação em escolas maternais, jardins de infância e instituições equivalentes” (BRASIL, 1971, [s. p.]). Percebe-se que, ao mesmo tempo em que se abriu a possibilidade para que cada sistema de ensino decidisse sobre a matrícula de crianças menores, havia a recomendação de que as crianças com idade inferior a sete anos fossem atendidas em escolas maternais, jardins de infância e instituições equivalentes, sem, contudo, especificar quem ficaria a car- go dessa responsabilidade educacional. A partir da segunda metade da década de 70 do século XX, a cre- che tornou-se um direito do trabalhador, sendo efetivado na prática das grandes empresas. Porém, em virtude do crescimento dos centros industriais, as creches das empresas não conseguiam mais atender à demanda criada, e o governo passou a incentivar e ajudar as já exis- tentes “creches domiciliares” (nas quais uma mãe tomava conta dos filhos de outras, mediante pagamento). Essa modalidade alternativa de atendimento à criança pequena, assim como as creches empresariais, funciona até hoje em nosso país. Além delas, existem as creches des- vinculadas do governo ou de empresas, sendo geridas pelos próprios usuários (OLIVEIRA, 2002). Pode-se considerar que a Lei n. 5.692/71, ao sugerir que os esta- belecimentos de ensino “velassem” pelas crianças pequenas, recomen- dando que os menores de sete anos recebessem educação em escolas e/ ou instituições equivalentes, teve pouca atuação efetiva no campo da Fund_Educ_Infantil.indd 31 6/7/2010 13:52:10 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 31 of 100 Fundamentos da Educação Infantil FAEL 32 educação das crianças pequenas. Somente em 1974 o Ministério da Educação criou uma coordenação para tratar dos assuntos relacionados à educação das crianças em idade pré-escolar. Foi nesse ano, também, que o Conselho Federal da Educação começou a receber pronuncia- mentos que destacavama importância da educação pré-escolar. Alguns exemplos são a Indicação n. 45/75 e o Parecer n. 2.018/74, brevemente descritos a seguir (SOUZA; SILVA, 2002). Indicação n. 45/75 – Conselho Federal de Educação – Conselheiro Eurides Brito da Silva: importância da educação pré-escolar na formação do homem • brasileiro; a educação pré-escolar não é uma fase preparatória.• Parecer Conselho Federal da Educação n. 2.018/74 – Paulo Nathanael Pereira de Souza: encara a educação pré-escolar como estágio probatório;• por causa das reprovações ocorridas no primeiro grau, a ideia • de educação compensatória se fortalece; reduz a pré-escola apenas à faixa etária de 5 e 6 anos quando • fala de prontidão. Percebe-se, nessa indicação, uma característica que se atribuía à educação pré-escolar da época: a questão da defasagem cultural. A criança era considerada como culturalmente defasada, e a educação pré-escolar funcionaria como solução para isso. Sendo assim, o trecho desse documento enfatiza a ideia da pré-escola como elemento para a superação da defasagem cultural. Estudos e pesquisas realizados em vários países do mundo de- monstram que os cuidados dispensados ao pré-escolar contribuem para a prevenção do retardo escolar e de outros distúrbios (oriundos de ca- rências nutricionais e afetivas) e para a promoção do desenvolvimento Fund_Educ_Infantil.indd 32 6/7/2010 13:52:10 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 32 of 100 Capítulo 2 Fundamentos da Educação Infantil 33 da criança, com pleno aproveitamento de todas as suas potencialida- des. Segundo numerosos psicólogos e pedagogos, a ação do meio social é tamanha, desde o nascimento à entrada na escola primária, que as crianças iguais se acham desiguais sobre os bancos da escola. Para supe- rar essa desigualdade, é durante o período que vai de 3 a 6 anos que é preciso agir (BRASIL, 1974). Por muitos anos, a visão sobre a educação de crianças relatada nes- ses pareceres e em outros documentos foi a que prevaleceu em nosso país: defasagem cultural, educação compensatória e preparação para o primeiro grau. Os documentos oficiais retratam a visão que se tinha acerca da função das instituições educativas destinadas a crianças de 0 a 5 anos. As leis, frutos de suas épocas, transmitem muitas vezes o descaso com que o tema era tratado pelos governos: algumas vezes com desatenção, outras com ignorância (no sentido de não ser considerada). Os enfo- ques assistencialistas foram marcas fortes na Educação Infantil desse tempo e, em alguns lugares do país, permanecem até hoje. Terceira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) e a educação de crianças pequenas A Constituição promulgada em 1988 lançou uma visão diferente da que havia acerca do atendimento a crianças pequenas: opondo-se à visão tradicional de favor prestado às classes menos favorecidas e de período preparatório, a creche passou a ser reconhecida como uma ins- tituição educativa, “um direito da família e um dever do Estado”. A Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, trouxe a primeira grande atenção em relação à diferença da ideia de atendimento ofereci- do às crianças pequenas. Um exemplo disso pode ser conferido no livro Creches: crianças, faz de conta & cia, no qual se faz uma importante reflexão sobre o papel da creche na realidade educativa brasileira, que foi sensivelmente alterado pela LDB n. 9.394/96. Nesse livro, ainda, é destacada a função educativa da creche, que exige o planejamento de um currículo de atividades, o qual deverá considerar tanto o grau de de- senvolvimento da criança, quanto os conhecimentos culturais básicos a serem por ela apropriados. Fund_Educ_Infantil.indd 33 6/7/2010 13:52:10 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 33 of 100 Fundamentos da Educação Infantil FAEL 34. Por essa e por tantas outras literaturas, nesse sentido, e pelas práti- cas educativas que estão se modificando em direção a ações educativas, percebe-se que está nascendo uma nova concepção acerca da Educação Infantil, que altera fundamentalmente a visão que se tinha antes sobre o atendi- mento a crianças pequenas. Se, em épocas anteriores, as crianças eram tratadas como adultos em miniatura, a atual lei reconhece-as por meio de suas necessidades e es- pecificidades, destacando, ainda, a importância de práticas pedagógicas adequadas à faixa etária de 0 a 5 anos (ABREU, 2004). Na LDB n. 9.394/96, um dos fatores que merece destaque é o fato de a Educação Infantil ser considerada parte da educação básica, o que demonstra uma preocupação em valorizar a primeira infância como etapa necessária à educação. Acompanhe o que o texto da lei diz acerca dos níveis e modalidades de educação (BRASIL, 1996, [s. p.]): Art. 21. A educação escolar compõe-se de: I – educação básica, formada pela Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio; II – Educação Superior. Como se pode verificar, a Educação Infantil, pela primeira vez na história brasileira, passou a ser concebida como parte da educação bá- sica. Se antes as escolas de Educação Infantil iniciavam suas atividades com um caráter assistencialista, hoje o que se defende sobre a educação de crianças pequenas é o fato de esse assunto pertencer à esfera educa- cional. A referida lei, no âmbito específico da Educação Infantil, traz o seguinte texto: Art. 29. A Educação Infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicoló- gico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. Art. 30. A Educação Infantil será oferecida em: I – creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade; O livro Creches: crianças faz de conta & Cia., de Zilma de Moraes Oliveira et al., publicado pela Editora Vozes, é um material que deve ser conhecido, pois trata de assuntos muito perti- nentes à Educação Infantil brasileira. Saiba mais Fund_Educ_Infantil.indd 34 6/7/2010 13:52:11 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 34 of 100 Capítulo 2 Fundamentos da Educação Infantil 35 II – pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de idade. Art. 31. Na Educação Infantil, a avaliação far-se-á mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao Ensino Fun- damental (BRASIL, 1996, [s. p.]). Além do que destacamos anteriormente, a Seção II da LDB n. 9.394/96, retratada acima, ressalta que o desenvolvimento da crian- ça deve ser integral e determina que a educação dessas crianças seja feita em creches e pré-escolas, de acordo com a faixa etária. Embora a LDB n. 9.394/96 determine que a educação dessas crianças seja feita em creches e pré-escolas, existe a liberdade de escolha de nomenclatura dessas instituições. Por isso, é possível encontrar, no Brasil, diferentes nomes correspondendo às salas de aula de Educação Infantil, como berçário, maternal, mini- maternal, jardim 2 ou pré 2. Diante dessa nova proposta para a educação de crianças pequenas, o Ministério da Educação e do Desporto (MEC) propôs um Referencial Curricular para a Educação Infantil, cujo objetivo é conferir a esse nível de ensino uma intencionalidade educativa, em continuidade com os vários níveis do Ensino Fundamental. Nesse sentido, visa socializar e difundir o debate acerca da Educação Infantil, destacando sua impor- tância para a Educação Básica. Outras legislações são de suma importância no contexto da Educa- ção Infantil. Acompanhe, a seguir, o teor de cada uma delas: Lei n. 11.114, de 16 de maio de 2005 – altera os artigos 6º, ● 30, 32 e 87 da LDB n. 9.394/96, com o objetivo de tornar obrigatório o início do Ensino Fundamental aos seis anos deidade. Leia a lei na íntegra em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11114.htm>. Lei n. 11.274, de 06 de fevereiro de 2006 – altera a redação ● dos artigos 29, 30, 32 e 87 da LDB n. 9.394/96, dispondo Você pode saber mais sobre as legislações que alteraram o Ensino Fundamental de nosso país de oito para nove anos e que, de alguma for- ma, estão relacionadas à Educação Infantil. Acesse o site: <http://portal.mec.gov.br/seb/ arquivos/pdf/Ensfund/noveanorienger.pdf>. Saiba mais Fund_Educ_Infantil.indd 35 6/7/2010 13:52:11 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 35 of 100 Fundamentos da Educação Infantil FAEL 36 sobre a duração de nove anos para o Ensino Fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos seis anos de idade. Leia a lei na íntegra em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ Ato2004-2006/2006/Lei/L11274.htm>. Dessa forma, mesmo sem a mudança no texto da LDB n. 9.394/96, em seu Art. 29, que trata da faixa etária da Educação Infantil, essa mo- dalidade de educação teve sua faixa etária de atendimento alterada, em decorrência da expansão do Ensino Fundamental de oito para nove anos de estudos, atendendo, atualmente, crianças de 0 a 5 anos. ReflitaReflita Modificar o vínculo da Educação Infantil de assistencial para “educa- tivo” significa colocar em pauta várias questões que vão muito além dos aspectos de legislação. É necessário que se refaçam conceitos so- bre a infância, como acompanhamos em nossos estudos anteriores, sobre as relações entre as classes sociais, sobre as responsabilidades da sociedade frente às crianças pequenas e, principalmente, sobre as especificidades da Educação Infantil. Sobre esse assunto, leia o texto A política de Assistência Social no contexto da Educação Infantil: possibilida- des e desafios para um trabalho socioeducativo, de Selma Frossard Costa, disponível em: <http://www.ssrevista.uel.br/c_v6n2_selma.htm>. ReflitaReflita Síntese Os temas presentes neste capítulo referem-se à história da legislação brasileira sobre a educação de crianças pequenas, fornecendo informa- ções importantes acerca das concepções sobre as formas de atendimen- to a essas crianças. Pode-se conhecer as três Leis de Diretrizes e Bases e analisar o que cada uma delas oferece sobre a Educação Infantil, com especial destaque à LDB n. 9.394/96, que reposicionou essa modalida- de de ensino, colocando-a na esfera básica da educação nacional. Fund_Educ_Infantil.indd 36 6/7/2010 13:52:11 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 36 of 100 37 Este capítulo aborda um tema de grande valia para a forma como as sociedades tratam as crianças pequenas, pois explica a relação das concepções que se têm a respeito da infância com as tendências pe- dagógicas percebidas nas práticas educativas. Sem pretender esgotar o assunto, mas, sim, teorizar a discussão, apresentam-se, ainda, as impor- tantes contribuições dos autores cujas pesquisas sobre desenvolvimento humano mapearam o desenvolvimento infantil, oferecendo alternativas teóricas para práticas educativas condizentes. A Educação Infantil sob a perspectiva da escola A história da Educação Infantil mistura-se com a própria história da infância, uma vez que, ao longo dos tempos, as sociedades alteraram as formas de atendimento às crianças pequenas, em grande parte por também alterarem a forma de pensar sobre a infância. Dessa forma, o tratamento dado a essas crianças, com caráter assistencial ou não, foi reflexo das ideias correntes que existiam sobre os direitos e deveres das crianças pequenas, sobre o desenvolvimento infantil, sobre o pensa- mento e as capacidades de aprendizagens, bem como sobre as necessi- dades específicas desse grupo etário. Nessa perspectiva, passamos do atendimento de crianças como parte exclusiva da família, em uma concepção que as via como seme- lhantes a um adulto, continuamos nosso caminho na ação da escola (creche), como substituta da família no atendimento à criança, e, por fim, passamos pela necessidade de trabalho dos entes da família e pela concepção da escola de Educação Infantil (pré-escola) como aquela que prepara a criança para o Ensino Fundamental. Concepção de infância: inter-relações da sociedade com a criança 3 Fund_Educ_Infantil.indd 37 6/7/2010 13:52:11 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 37 of 100 Fundamentos da Educação Infantil FAEL 38 É importante relembrar que a primeira função da pré-escola foi a de “guardar crianças”, e só no século XIX nasceu uma pro- posta mais voltada à ideia de educação do que à ideia de assis- tência. Mesmo assim, a educação destinada a crianças pequenas teve um caráter de compensação, como se a escola devesse (e pu- desse) superar as carências e de- ficiências culturais, linguísticas e afetivas que haviam sido criadas pelas situações da Segunda Guer- ra Mundial e, com isso, resolver o problema do fracasso escolar dos anos seguintes. Essa abordagem de compensação social justificou, por muitos anos, a estadia das crianças de até seis anos na escola. No Brasil, em 1970, a pré-escola foi utilizada exatamente como preparação para as séries posteriores, especialmente para a primeira sé- rie, e também para tentar reverter o fracasso escolar, sendo reconhecida facilmente por um caráter assistencialista. Kramer (1993, p. 35) res- salta: “a pré-escola dentro desta visão (compensatória-assistencialista) serviria para prever estes problemas (carências culturais, nutricionais, afetivas) proporcionando a partir daí a igualdade de chances a todas as crianças, garantindo seu bom desenvolvimento.” Como se percebeu mais tarde, não foi possível garantir esse desen- volvimento, pois se partia da ideia de que todas as crianças poderiam ser “igualadas” em seu desenvolvimento. As carências culturais, nutri- cionais e afetivas não podem ser sanadas pela escola, porque são proble- mas que ultrapassam a fronteira dos bancos escolares. Uma nova concepção de infância Para que se possa compreender a Educação Infantil da atualidade, comprometida com a educação do século XXI, é preciso repensar a forma pela qual a sociedade contemporânea conceitua e concebe a infância. Observe com atenção: o termo pré-escola, da forma como é escrito, não sugere que é uma etapa que vem “antes” da escola? Sobre isso, sugere-se a leitura do livro A pré-escola é não é escola, de Maria Lucia Machado, uma impor- tante autora da área de Educação Infantil que oferece muitos referenciais para pensarmos na pré-escola como um espaço de educação, com ideias próprias e que não está a serviço das séries seguintes, mas somente do desenvolvi- mento infantil. MACHADO, M. L. A pré-escola é não é escola: a busca de um caminho. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991. Saiba mais Fund_Educ_Infantil.indd 38 6/7/2010 13:52:11 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 38 of 100 Capítulo 3 Fundamentos da Educação Infantil 39 Segundo Oliveira (2002), a principal concepção a ser repensada diz respeito ao conceito de infância utilizado. Na etimologia da palavra, infância (in-fans) significa “não fala”. Observe que o sentido de não fala, aqui, não é o de ausência, mas, sim, o de não validade. Dessa forma, a concepção da infância como um espaço de silêncio afirma que mesmo que a criança pequena fale (e, obviamente, ela fala), suas falas ou suas ideias não devem ser levadas em conta, pois não são importantes e não mantém a mesma lógica do padrão da linguagem adulta. Infelizmente, a concepção de que não são importantes a fala das crianças, suas vontades, seus valores e as lógicas que utilizam para re- solver seus conflitos está presente em muitos ambientes educacionais. Ainda existem escolas que desenvolvem suas ações como se a criança fosse um ser frágil e indefeso,sem poder de decisão, sem opinião e incapaz de justificar suas atitudes e preferências. O questionamento a essa perspectiva apoia-se no fato de que o adulto precisa, independente de sua função para com a criança (pai, responsável ou professor), repensar o que espera e quais as possibilida- des de aprendizagem dessa criança. Precisa repensar a forma como age com ela, de modo a dar mais autonomia, o que, em absoluto, significa permissividade total. Urgentemente, a concepção de infância como um espaço de silên- cio precisa ser repensada, uma vez que esse período deve ser compreen- dido como um tempo de privilegiada comunicação, mesmo quando a criança ainda não fala utilizando a linguagem oral, mas usa outras lin- guagens para estabelecer comunicação, como sorrisos, choros e demais expressões. Por isso, de certa forma, pode-se dizer que as crianças com menos de um ano de idade também “falam”, pois se comunicam, à sua maneira, com as pessoas a sua volta. Ocorre que, para que pais e professores possam aumentar suas ex- pectativas em relação ao desenvolvimento infantil, é preciso que te- nham algum conhecimento científico sobre o tema. Somente baseadas no senso comum, as pessoas acabam por classificar a criança dentro de um patamar de dependência do adulto e de fragilidade. Para aprofundar esse tema, serão abordados, a seguir, três pes- quisadores que contribuíram com teorias que destacam o desenvolvi- mento humano, auxiliando os adultos a compreender como ocorre, Fund_Educ_Infantil.indd 39 6/7/2010 13:52:11 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 39 of 100 Fundamentos da Educação Infantil FAEL 4.0 nas crianças, o fenômeno de aquisição de conhecimento e quais são os aspectos relevantes para o seu desenvolvimento. Jean Piaget, Lev Semenovich Vygotsky e Henry Wallon, cada um sob sua ótica de es- tudos e pesquisas, mostraram muito acerca do desenvolvimento da criança e de suas possibilidades de aprender. Jean Piaget (1896-1980) Para Jean Piaget, o conhecimento se constrói por meio da inte- ração da pessoa com objeto. Segundo ele, a atividade intelectual não pode ser separada do funcionamento total do organismo. Dessa forma, a interação com os objetos de estudo funciona como uma grande mola propulsora da aprendizagem, em que corpo e mente funcionam de for- ma indissociável. Embora tenha escrito uma teoria de desenvolvimento humano não propriamente relacionada ao ambiente escolar, as ideias desse psicólogo suíço influenciaram a educação de muitos países, inclusive o Brasil (LA TAILLE, 1992). Foi Piaget quem mapeou as etapas de desenvolvimen- to infantil, de 0 a 11 anos – aqui descritas segundo Ângela Biaggio (1976) –, conforme será visto a seguir. Estágio sensório motor ● : mais ou menos de 0 a 2 anos – a ati- vidade intelectual da criança é de natureza sensorial e motora. A principal característica dessa idade é a não representação mental dos objetos, sendo direta a ação da criança sobre eles. Essas atividades serão o fundamento da atividade intelectual futura. A estimulação ambiental interferirá na passagem de um estágio para o outro. Estágio pré-operatório ● : mais ou menos de 2 a 6 anos – nessa etapa, a criança já não depende tanto de seu movimento e sen- sações, como no estágio anterior, e já distingue um significa- dor (imagem, palavra ou símbolo) daquilo que ele significa (o objeto ausente), o significado. Para a educação, é importante ressaltar o caráter lúdico do pensamento simbólico. Nessa ida- de, a criança tem um pensamento egocêntrico, uma vez que ainda não consegue colocar-se no lugar do outro. Estágio operatório concreto ● : mais ou menos dos 7 aos 11 anos – é capaz de ver a totalidade dos fatos por meio de Fund_Educ_Infantil.indd 40 6/7/2010 13:52:11 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 40 of 100 Capítulo 3 Fundamentos da Educação Infantil 4.1 diferentes ângulos. Conclui e consolida as conservações do número, da substância e do peso. Apesar de ainda trabalhar com objetos, agora representados, sua flexibilidade de pen- samento permite inúmeras possibilidades de aprendizagens. Estágio operatório formal ● : mais ou menos dos 12 anos em diante – ocorre o desenvolvimento das operações de raciocínio abstrato. É importante salientar que, nesse nível, as pessoas tornam-se capazes de raciocinar corretamente sobre proposi- ções em que não acreditam ou em que ainda não acreditam, que consideram puras hipóteses. Como se pode verificar, a referência às faixas etárias das etapas de desenvolvimento descritas por Piaget foi feita com a expressão “mais ou menos”. Isso foi intencional para chamar a atenção do leitor para o fato de que as idades não são um limite para cada eta- pa. Piaget não determinou exatamente cada idade/fase, e não há, realmente, como fazer isso, pois outros fatores influenciam: meio e estímulos, por exemplo. O que se deve ter em mente é que todas as pessoas passam por todas essas fases em uma sequência. Portanto, nenhuma criança vai “pular de fase”, mas pode demorar mais ou menos tempo em cada uma dela, dependendo dos estímulos e desa- fios a que for submetida. O aspecto “estímulo” é fundamental na teoria de Piaget, sendo situado como algo que é oferecido à criança com a função de agu- çar sua curiosidade, de forçar suas justificativas e de impulsioná-la em direção ao conhecimento por meio de sua própria descoberta. Dessa forma, não basta que sejam oferecidos às crianças da Educação Infantil objetos físicos para a interação, é preciso, ainda, que o adulto funcione como elemento de desafio, seja para propor variações nos estímulos, com graus de dificuldade, seja para, com sua linguagem, fazer com que o outro reflita (BIAGGIO, 1976). A teoria de Piaget pode ser incorporada facilmente às práticas educativas. Como o autor defende a interação da criança com os objetos para uma apren- dizagem real, propõe-se, aqui, que sejam oferecidos às crianças de aproxi- madamente três anos vários objetos de formatos diferentes (que podem ser adquiridos em lojas especializadas ou ser provenientes de sucata, mas nesse Fund_Educ_Infantil.indd 41 6/7/2010 13:52:11 02 CONVALIDAÇÃO - 2 PROVA - 07/06/2010 - Page 41 of 100 Fundamentos da Educação Infantil FAEL 4.2 caso é fundamental a higienização correta dos materiais, visto que nessa faixa etária as crianças, muitas vezes, levam à boca os objetos a elas oferecidos). De posse dos materiais, a criança deve ser estimulada a experimentar diver- sas formas de montar uma torre. Não é óbvio para ela que alguns formatos, como os cilíndricos e circulares, não serão fáceis de serem encaixados e, por diversas vezes, sua torre das vai cair. Nesse momento, cabe ao professor funcionar como um estimulador e compreender que, para a criança, fazer, derrubar e refazer a torre é uma grande forma de aprendizagem em que ela está em interação com os objetos. Mapear as etapas de de- senvolvimento intelectual das pessoas auxiliou muito as es- colas a comporem currículos e proporem atividades que pos- sam auxiliar verdadeiramente os alunos a se desenvolverem. Como destacado, mesmo não tendo feito esse mapeamento com intenção educativa, é inegável a for- te influência desse pensador nas ideias pedagógicas mundiais e princi- palmente brasileiras. Lev Semenovith Vygotsky (1896-1934) Psicólogo russo, Vygotsky foi defensor da ideia de que a constru- ção do pensamento é um processo cultural e não uma formação natural e universal da espécie humana. Dessa forma, seus estudos possibilita- ram reflexões acerca da importância da linguagem e de sua influência no desenvolvimento das pessoas. Há, em toda sua obra, destaque para as necessidades socias das pessoas (como conversar, dividir experiências, partilhar conhecimen- tos, etc.) e especialmente das crianças. Defendeu a sociabilização
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